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FACULDADE DE BELAS-ARTES
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Índice
1. Introdução 4
2. Desenvolvimento 5
3. Conclusão 11
4. Referências bibliográficas 12
5. Anexos 13
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1. Introdução
Roland Barthes, em seu ensaio Cy Twombly ou non multa sed multum1, irá
servir-nos de referência para a elaboração deste trabalho. O autor francês apresenta uma
série de referências ou caminhos possíveis de leitura para a obra de Twombly, tais
como: desenho, infantil, grafismos (expressões que ele não considera suficientemente
adequadas), ambígua (porque é literal e metafórica), escritura, gesto, cultura, corpo e
traço inimitável. A partir disso, este trabalho procurará desenvolver uma contribuição
para a relação entre a arte pictórica e a escritura.
1
A expressão latina significa: muitos, mas não muito.
4
2. Desenvolvimento
Isso torna-se bem evidente quando olhamos para uma pintura como Sperlonga
Drawing, de 1959, feita em esmalte e giz de cera sobre papel (reproduzida abaixo).
Somos tentados a associar naturalmente essa obra aos desenhos infantis feitos em
paredes de casas ou em papéis, porém, há algo que os diferencia deles, mesmo que isso
não seja plenamente evidente para o observador. É a esse aspecto que Barthes se refere
quando fala que a pintura de TW é ambígua. Sabemos que não se trata de um desenho
infantil e pressentimos que há algo nela que a afasta radicalmente disso, embora guarde
uma certa semelhança.
2
Barthes, Roland (1990).
3
Idem.
5
Barthes acrescenta que a pintura de TW é escritura, tem relação com a caligrafia,
mas não como imitação ou inspiração. Ela encontra-se em um campo alusivo4. Também
é alusiva quando nos remete à cultura greco-romana ao utilizar palavras como Virgil,
Apollo, Venus5, etc., mas não para que permaneçamos no sentido que essas palavras
evocam, e sim para nos conduzir a um outro lugar, longe da escritura formada. Segundo
Barthes, TW nos diz que:
“(...) a essência da escritura não é nem uma forma nem um uso, mas
apenas um gesto, o gesto que a produz, deixando-a correr: um rabisco,
quase uma mancha, uma negligência.”6
As letras em suas telas são letras sem capricho, afastadas do esforço infantil que
tenta dominar custosamente o código da linguagem adulta. TW parece escrever “com a
ponta dos dedos”, através de uma fantasia que evoca a lembrança de uma cultura morta.
Sua escrita é vã (no sentido de ser vaga), o que quer dizer que ela é decifrável, mas não
interpretável. Esse aspecto vago é o que exclui a ideia de ser uma pintura enigmática, já
que as coisas vagas são aquelas que, mesmo remotamente, remetem-nos a algo e não
permanecem obscuras e fechadas como os enigmas.
Dessa escritura, TW retém o gesto, não o seu produto. Gesto deve ser entendido
aqui como o complemento de um ato. Um trecho essencial do ensaio de Barthes diz-
nos:
4
Alusão é a figura de retórica que consiste em dizer uma coisa com a intenção de fazer com que o
receptor compreenda outra coisa.
5
Ver figs.1, 2 e 3 nos Anexos.
6
Barthes, Roland (1990).
6
derramados, que lhe escaparam, que voltam a ele e provocam, então,
modificações, desvios, leveza do traço. No gesto é, assim, abolida a
distinção entre a causa e o efeito, a motivação e o objetivo, a expressão e
a persuasão.”7
É nesse ponto que Barthes parece esclarecer de modo bastante preciso qual a
importância do gesto na pintura de TW. É através dele que sua prática pictórica é
estabelecida, a partir desses efeitos que não são obrigatoriamente intencionais, que são
quase acidentais, como coisas que escaparam e que deixaram um leve vestígio em traços
leves. O autor francês dirá que essa prática possui algumas semelhanças com o satori
dos zen budistas. Essa afirmação é, porém, um tanto delicada, pois, como diz-nos um
dos grandes estudiosos do zen budismo, D.T.Suzuki: “(...) quando o satori se torna um
conceito, deixa de ser ele mesmo; e não existirá mais uma experiência zen”8. O satori
pode ser entendido como uma espécie de ruptura na cadeia lógica dos pensamentos,
como um corte abrupto no processo intelectivo, mas isso ainda é insuficiente porque
caímos novamente no campo das definições, algo que é rejeitado profundamente pela
postura zen. De certo modo, talvez o gesto de TW possa ser realizado sob a influência
dessa ruptura, mas isso não significa que sua atitude enquanto pintor tenha qualquer
relação com o estado de satori do zen budismo.
Nas telas de TW não há nada escrito enquanto código de leitura gramatical. Elas
são como o “receptáculo do escrito”, como se a escrita tivesse brotado da própria
superfície trazendo consigo todas as texturas: aspereza, descontinuidade, acidentes, o
grão do papel, manchas, etc. Para Barthes, isso irá retirar o caráter de violência da
escrita centrada no discurso, já que é a própria textura gráfica que irá se impor enquanto
obra. Levada ao seu extremo, como um “prurido gráfico”9, torna-se uma espécie de
livro. Um livro antigo, repleto de anotações em suas margens. Mas o que significam
exatamente essas margens repletas de palavras? Por vezes uma única citação, como na
obra Virgil10, repetida, leva-nos a todo um universo da Antiguidade, como se TW
trouxesse a cultura em suas pinturas através de uma lembrança. Suas palavras acabam se
7
Barthes, Roland (1990).
8
Suzuki, D.T.(2017).
9
Barthes, Roland (1990)
10
Ver fig.1 nos Anexos.
7
tornando verdadeiras alusões carregadas pelo peso histórico que o tempo lhes atribuiu.
Por outro lado, em um artigo escrito por Phway Aye, esta considera:
A partir desse ponto de vista, pode ser uma via alternativa considerar que as
obras de TW sejam ausentes de significação, que na verdade elas se insurgem
contra qualquer tentativa de produzir significados. De algum modo, elas seriam
mesmo “incompletas” sem as impressões dos espectadores, ou melhor, seriam como
que “completadas” pelos espectadores a partir de suas interpretações e respostas
emocionais. Apresento isso como contraponto ao texto de Barthes, centrado
majoritariamente na semiologia, deixando por vezes pouco espaço para um caráter
assignificante.
11
Aye, Phway (2017).
12
Do francês, significa: esquerda.
13
Barthes, Roland (1990)
8
natureza que escondia o gesto do pintor. Ora, o que TW faz é justamente mostrar a
trajetória desse gesto, exatamente como a escrita mais arcaica, isto é, a escrita manual.
É nessa expressão cor-lápis, a meu ver, que Barthes atinge uma expressão
sintética dos gestos de TW. A inversão entre o instrumento e o que ele provoca,
colocando o próprio efeito antes da causa, ou melhor, colocando-os em um único
substantivo como se fossem inseparáveis, mas mantendo ainda a primazia da cor é,
talvez, uma síntese do que se encontra na escritura de TW.
A relação disso com o tempo (daí a aproximação com Proust) torna-se mais
evidente quando pensamos nos apagamentos presentes em diversas obras, como em
Coronation of Sesostris (part iii)15. O que TW faz através do gesto de escrever e apagar
é criar a possibilidade de lermos o apagar. A isso Barthes chamou de “verdadeira
filosofia do tempo”16. Não no sentido cronológico, mas em um único lance, deixar
diante de nós o nascimento e a morte, a infância e a cultura, a vida e morte.
14
Idem.
15
Ver fig.4 do Anexo.
16
Barthes, Roland (1990).
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irredutível. Diante de suas pinturas a sentença: “meu corpo nunca será o teu” impõe-se.
Sabemos de antemão da impossibilidade de qualquer imitação de sua escritura.
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3. Conclusão
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4. Referências bibliográficas
BARTHES, Roland – O óbvio e o obtuso: Ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira S.A., 1990.
RIVKIN, Joshua – Chalk: The Art and Erasure of Cy Twombly. Nova Iorque: Melville
House, 2018.
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5. Anexos
(fig.2) Apollo and the Artist, óleo, giz de cera, grafite e colagem sobre papel,
142 x 128 cm, 1975.
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(fig.3) Vênus + Adônis, óleo, pastel a óleo e grafite sobre papel, 44.5 x 46.9 cm, 1978.
(fig.4) Coronation of Sesostris (part iii), acrílica, pastel a óleo e grafite sobre tela,
206.1 x 136.5 cm, 2000.
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