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092 | ESPECIAL NOVO CONSUMIDOR

Classe
alta A nova
nova(íssima)
classe média
22 %

A reportagem da Móbile Lojista conversou com


economistas, antropólogos, sociólogos, varejistas
e fabricantes para decifrar quem é o tão cobiçado
consumidor que ascendeu à classe C nos últimos anos

Classe N a última
década,
o Brasil
se chama de "nova classe média" ou
"novo consumidor" foco de marcas e
empresas que enxergam nesse grupo,
média experimentou, ávido por consumir, oportunidades

54% em de negócios.
consequência O ministro interino da Secretaria
de anos seguidos de Assuntos Estatégicos (SAE) da
de crescimento Presidência da República, Marcelo
econômico, uma forte Neri, que também é presidente do
transformação social que Ipea, revelou em entrevista exclusiva
se reflete diretamente no à Móbile Lojista (confira na página
poder de consumo de uma 108 desse especial) que, entre entre
parcela da população e na 2003 e 2013, 54 milhões de pessoas
transformação da pirâmide de subiram de classe: das D e E para a C
estratificação social. e da C para as B e A.
Segundo dados do Data Popular O aumento foi muito significativo
de fevereiro de 2014, atualmente ‒ de 67 milhões para 121 milhões
a classe C é composta por cerca de pessoas na classe média, de
de 108 milhões de pessoas que acordo com dados do Ipea. Notando
gastaram mais de R$ 1,17 trilhão que esse volume de pessoas que
em 2013 e que movimentaram ascenderam formaríam o 23º país
58% do crédito no Brasil. Estima-se mais populoso do mundo, "trata-se
que mais de 37 milhões de pessoas de uma transformação gigantesca",
saíram da pobreza e entraram diz o ministro.
para a classe média ‒ segundo O conceito de nova classe média
dados de agosto do ano passado do não é exatamente novo. A expressão
Instituto de Pesquisa Econômica foi cunhada por Neri, quando este
Aplicada (Ipea). fazia parte do Centro de Políticas
ARTE: IARA AMARAL / CRIAÇÃO MÓBILE | FONTE: DATA POPULAR

Esse movimento, causado Sociais da Fundação Getulio Vargas


principalmente pelo aumento de (FGV), em 2008, na pesquisa "A Nova
renda e do acesso a crédito e a bens Classe Média"; e ganhou força com
Classe de consumo que, anteriormente, eram o lançamento do livro "A nova classe
restritos às classes A e B, tais como média: O lado brilhante dos pobres",
baixa planos de saúde, escolas particulares em 2010.
24% e previdência privada, tornou o que O lado brilhante dessa parcela
da população, segundo o ministro,
seria "o fato surpreendente de ela ser
O Brasil tem passado por uma das mais profundas
mais sustentável, pois boa parte do
mudanças de sua história, e a "pirâmide" de
classes econômicas se transformou em losango crescimento da renda do brasileiro se
com o crescimento da classe média deu por renda do trabalho", salienta.

Março 2014 | Móbile Lojista


094 | especial novo consumidor

Divulgação/anjos
Popular, possuem mais escolaridade –
% Evolução das ClassEs cerca de 68% estudaram mais que os
ECoNômICas – data PoPular pais. Com mais acesso à informação,
o que aumenta o nível de exigência,
2003 2013 2023 (projeção) pesquisam mais antes da compra
Total: 176 milhões Total: 201 milhões Total: 216 milhões
e ainda estão muito próximos da
tecnologia", afirma.
13% 9%
22%
Para o profissional, as mulheres
24%
33% são outro grupo que ajuda a
49%
38%
58% impulsionar esta classe, "pois
54%
ocupam seus lugares no mercado de
trabalho; elas têm muito mais acesso
Classe Baixa Classe Média Classe Alta
a produtos de beleza, estão muito
Fonte: Data PoPular reFerente a 2013 | Divulgação Fev.2014 mais ligadas à moda e tendências, o
que influencia muito na decisão da
Segundo o Data Popular, hoje compra", complementa.
a classe média representa 54% da O diretor da Anjos Colchões, Claudinei dos Anjos, da Anjos: "É um
público exigente. Ele quer novidade,
população do País e vem crescendo empresa paranaense de Capitão
qualidade, atendimento, ele quer
a cada ano, com previsão de que Leônidas Marques, Claudinei dos tudo. Não basta lançar o produto,
chegue a 58% em 2023, ou seja, Anjos, também tem essa percepção tem que ser bom, tem que estar
125 milhões de pessoas. Segundo o da juventude desse grupo que dentro de um preço justo"
instituto de pesquisa, essa fatia da adentrou à classe média. "Eu diria
sociedade seria composta hoje por que é um público novo que entrou em três categorias: baixa, média e alta
cerca de 108 milhões de brasileiros, nessa era digital, exigente e que – sendo parte da classe C famílias com
número menor do que o apresentado busca qualidade, é mais criterioso, renda per capita (por pessoa) entre
pelo Ipea. Desse montante, destaca o toma decisões rápidas e tem mais R$ 291 e R$ 1.019 por mês.
gerente de projetos do Data Popular, escolaridade, características diferentes O Data Popular, em sua última
Márcio Falcão, "apenas 12 milhões de da classe média mais antiga", fala. pesquisa Vozes da Classe Média,
pessoas moram em favelas no Brasil Ele percebe que o grau de cosiderou que classe C são as famílias
todo. Ou seja, essa classe média de exigência está relacionado ao fato de cuja renda mensal per capita varia
que falamos é muito mais do que terem se tornado classe média "por de R$ 320 a R$ 1.120 – valores
aqueles que ascenderam de classe nas mérito próprio, não por causa dos inflacionados pelo INPC de julho de
comunidades", explica. pais ou avós, mas pelo seu trabalho", 2013. A Fundação Getúlio Vargas,
Na visão do designer Alexandre explica o diretor. "Eles querem algo por outro lado, apresenta outra faixa
Teixeira, da DJ Móveis, empresa de diferente do que tinham na casas dos de renda familiar per capita para a
Arapongas (PR), a classe média hoje pais", completa. classe média, que vai de R$ 1.734 a
está “mais jovem”. "Segundo o Data Impasses de classificação | Mas R$ 7.475.
afinal, a critério classificatório, quem Diferente ainda, o Instituto
é a classe média? Como visto, até em Brasileiro de Geografia e Estatística
relação ao real volume há algumas (IBGE) divide a sociedade de acordo
CoNCENtração da ClassE médIa
diferenças – como o apresentado com o número de salários mínimos
pelo Ipea e pelo Data Popular. A recebidos e não adota o conceito
resposta a essa pergunta pode ser de classe social. Se for feita a
Norte
Nordeste bem complexa e, na realidade, vai comparação com o modelo de classe
8% 26% depender do objetivo de quem analisa média, esta será representada pelas
esses indicadores. Essa escolha famílias que recebem entre dois e
é importante para estabelecer o dez salários, com redimentos entre
perfil e poder de compra do público R$ 1.356 e R$ 6.780.
consumidor, especialmente no Novo Critério Brasil | Como
mercado de móveis e decoração escolher? Estabelecer a renda como
– onde a compra das famílias da único parâmetro para definição da
Centro-Oeste classe C significa muitas vezes gastos classe média não é adequado, na
8% Sudeste "planejados à ponta do lápis". avaliação do professor da Faculdade
Em primeiro lugar, os conceitos de Economia, Administração e
43% de estratificação referem-se às Contabilidade da Universidade de
Sul
famílias e não aos indíviduos. O São Paulo (FEA-USP), José Afonso
15% modelo utilizado pela Secretaria Mazzon. Para ele, o critério da SAE,
de Assuntos Estratégicos (SAE) do que considera como variável a renda
Fonte: Data PoPular reFerente a 2013 | Divulgação Fev.2014 governo federal divide a sociedade em corrente declarada per capita, possui

Março 2014 | Móbile Lojista


096 | especial novo consumidor

DivulgAção/CAemmum

Arquivo pessoAl
abordagem para o Critério Brasil,
utilizado pela Associação Brasileira
de Empresas de Pesquisa (Abep), e
que já abordava a questão de classes
sociais conforme o número de bens
e a formação do chefe de família, por
meio de pontuação. "Nosso modelo
foi uma resposta científica adequada
à questão de como está estruturada
a sociedade brasileira em termos de
estratos socioeconômicos, com o foco
de potencialidade para aquisição de
bens e serviços calcada no conceito de
renda permanente", explica Mazzon.
O conceito de renda permanente,
que é um indicador não mensurado José Afonso Mazzon: "Há décadas
diretamente, mas, sim, de forma se discute no Brasil a respeito de
classificação socioeconômica e a respeito
A Caemmum uma variável importante para a indireta, tem base em 35 variáveis
de problemas não atendidos pelo critério
oferece o Combo definição de classe social, mas não (quantidade possuída de bens existente. No entanto, pouco se fez em
Facility, “único é e nem pode ser a única. "Além duráveis; anos de estudo; acesso a termos de propostas concretas"
produto 2 em
disso, utiliza-se o mesmo critério serviços públicos de qualidade de
1, com painel e
bancada na mesma em qualquer local do País e para vida; tipo e condições de moradia; estratificação socioeconômica
embalagem, qualquer tipo de composição familiar, renda corrente familiar per capita). realizada. Isso permite às empresas
agregando a independentemente das condições e Segundo Mazzon, o modelo lançar produtos especificamente
praticidade que poder aquisitivo locais", critica. considerou uma amostra probabilística dirigidos para as classes
consumidores
Para o professor, não há na enorme, representativa de todo o intermediárias e até mesmo para as
"empreendedores"
exigem, segundo a literatura definição precisa do que é Brasil, inclusive de áreas rurais, classes socioeconômicas mais baixas,
empresa “classe média”. Sabe-se apenas que ela tomando por base dados comprovados e não competir apenas nas classes de
necessariamente deve, em termos de e não dados apenas declarados. "Por maior nível socioeconômico.
condição ou status socioeconômicos, exemplo, o respondente precisa O novo critério tinha previsão
apresentar nível (definido pelas comprovar sua renda, a propriedade de ser adotado esse ano, mas, em
variáveis que constituem cada critério) de veículos, a existência das TVs, e comunicado oficial, a Abep decidiu
abaixo de classes superiores e acima não apenas declarar ao pesquisador adiar para janeiro de 2015 a
de classes inferiores. "A questão crítica que tem tal renda, que tem veículos, implantação do Novo Critério de
é definir a partir de onde começa TVs, etc.", revela. Classificação Econômica Brasil. No
a classe média e onde ela termina. Para o professor, o modelo texto, a associação afirmava que
Não há na literatura um critério que possibilitou mostrar para fabricantes "embora a adoção do novo parâmetro
responda a essa questão", alerta. e distribuidores de produtos que, estivesse prevista para janeiro de
O professor, juntamente com o em termos de 21 macrocategorias 2014, a análise dos resultados
também brasileiro Wagner Kamakura, de bens e serviços, há um enorme dos grandes estudos contínuos do
que atua na Duke University, nos mercado de consumo constituído mercado mostrou a necessidade
Estados Unidos, propôs uma nova pelas classes intermediárias da de ajustes pontuais no modelo que
passará a ser seguido", diz. Segundo
Mazzon, por outro lado, algumas
empresas já começaram a adotar a
ABEP – Critério BrAsil 2014 ABEP – Critério BrAsil 2015
nova metodologia.
Renda familiaR média (R$/mês) ClassifiCação Renda familiaR média (R$/mês) ClassifiCação Mais que poder de consumo |
R$ 776,00 D/E R$ 854,00 7 (E) Para ser considerado um indivíduo
R$ 1.147,00 C2 R$ 1.113,00 6 (D)
de classe média, outros fatores além
da renda e da ascensão econômica
R$ 1.685,00 C1 R$ 1.484,00 5 (C2)
precisam ser levados em conta,
R$ 2.654,00 B2 R$ 2.674,00 4 (C1)
segundo a visão de profissionais
R$ 5.241,00 B1 R$ 4.681,00 3 (B2)
como a antropóloga do consumo e
R$ 9.263,0 A R$ 9.897,00 2 (B1)
professora da ESPM, Hilaine Yaccoub.
– – R$ 17.434,00 1 (A) “Na antropologia, chamamos
Critério vigente até 31/12/2014 Critério vigente a partir de 01/01/2015 esse grupo [a nova classe média]
de camadas populares emergentes,
O antigo Critério Brasil continua vigente. O novo começará a valer partir de 2015, com os sete estratos classes populares em ascensão, ou
socioeconômicos, de 1 a 7, sendo a 1 o mais alto
novos consumidores. É outro tipo de

Março 2014 | Móbile Lojista


098 | especial novo consumidor

DivulgAção/DJ Móveis

Arquivo pessoAl
Não sou contra os planos sociais do
governo, como o Bolsa Família. Só
acredito que isso é o início para poder
avançar em alguma coisa e dizer
que nós somos um País de classe
média", justifica.
Para Hilaine, essa parte da
população não se sente confortável
com a nomenclatura de nova
classe média, pois ainda vivem em
comunidades ou bairros afastados,
Hilaine Yaccoub: "Ser pobre não é
tendo que conviver com falta de um problema e ser pobre que compra
estrutura e com a violência, diferente também não é um problema. Os
Uma aposta da nomenclatura porque é um grupo da classe média que conhecem. pobres sempre compraram e não é
DJ Móveis para o que tem bolso de classe média “Você vai olhar os índices do Fundo preciso ter uma nova nomenclatura
consumidor que dizendo que ele é uma outra coisa"
e cabeça de classe operária. As Nacional de Desenvolvimento da
subiu de classe é
escolhas de consumo, muitas vezes, Educação (Fundeb) ou do Ministério
o Home Berlin, que
conta com apelo estão atreladas a outros valores que da Saúde e existem vários analfabetos consegue ter as coisas na sua casa”,
de novas cores, no não pertencem às camadas médias funcionais, muita gente tendo complementa Eliana, da Consumoteca
caso Nogueira TX e urbanas”, teoriza Hilaine. problemas por falta de saneamento e alerta: "mas essas pessoas não têm o
Grigio TX, e atende Para ela, seriam necessários ainda básico. Que país é esse de classe mesmo hábito da faixa intermediária
às necessidades
investimentos em educação, turismo, média?”, questiona. da população; elas têm costumes
do usuário que
procura soluções entretenimento e artes para que Eliana completa que se deve populares e consomem coisas de
para dimensão e houvesse essa “equiparação”. “Classe compreender que há, sim, uma classe classe média", pondera, sobre como
qualidade média implica em capital social e econômica que está emergindo da as marcas devem se relacionar com
cultural que, provavelmente, os filhos linha de pobreza e passou a consumir. essas pessoas.
dessas pessoas terão em um futuro No entanto, uma classe social não é Hilaine fala em diferentes perfis
próximo. Eles terão condições de o mesmo que uma classe econômica. nesse grupo emergente no que diz
pensar de forma diferente sem forçar "Numa classe social você precisa respeito ao consumo. “O que eles
o pertencimento ao grupo”, pondera. avaliar valores imateriais e simbólicos, têm em comum é o crédito facilitado,
A antropóloga da Consumoteca que essa classe não tem e só vai a economia aquecida, mas a forma
e especialista em Classes Populares, conquistar com autoestima, quando como eles vão gastar muda de grupo
Eliana Vicente, ataca que "não é tiver todos os direitos de cidadão para grupo. Há os que valorizam a
porque em 2008 o Marcelo Neri falou respeitados", complementa. educação e vão investir no inglês e em
que tínhamos uma nova classe média, O consumo | O consumo em esporte para os filhos, possibilitar que
que passaram cinco anos e agora geral é visto como um “direito eles vão ao teatro e ao cinema; outros
A Gazin está essas pessoas realmente o são". Para adquirido”. “Os bens são a vão optar pelo conforto material,
lançando produtos a pesquisadora, "levam-se gerações objetificação do sucesso que levou comprar um carro muito bom ou
pensando
para obter hábitos, atitudes e valores à ascensão econômica”, diz Hilaine. fazer uma viagem sem grande apelo
nesse público
que ascendeu de classe média". "O que nós temos “É um sentimento muito mais para cultural, mas com foco em compras;
economicamente. é uma camada grande da população mostrar para si mesmo que é digno, um terceiro grupo vai investir nos
Um deles é que cresceu junto com a economia. que, por meio do próprio trabalho, bens duráveis, ser o provedor do lar
Conjunto Box e proporcionar à família tudo aquilo
Daniel 30 anos
que não teve”, enumera.
DivulgAção/gAzin

– desenvolvido
com materiais O sociólogo e fundador do
que aliam Observatório de Sinais, Dario Caldas,
qualidade e preços concorda que é complicado tratar a
acessíveis, com classe C de maneira uniforme. “São
molas ensacadas
várias camadas dentro dessa enorme
individualmente
e revestimento massa brasileira contemporânea.
em malha Digamos que os estratos superiores
já estavam mais inseridos nesse
universo do consumo: de pedir
mais e melhor. Mas, se pegarmos
os inferiores, sobretudo os que
migraram das classes D e E, aí sim
vemos fenômenos novos, pessoas que
estavam acostumadas a ter aquilo
que lhes era oferecido sem muita

Março 2014 | Móbile Lojista


100 | especial novo consumidor

“De uns cinco anos para cá, esse menores com novas formas e novos

Divulgação/grappa
público está aprendendo a se designs”, diz.
endividar menos, pagar à vista e O gerente regional de vendas
controlar o orçamento”, indica. da Grappa Móveis, de Arapongas
Móveis e eletrodomésticos | Os (PR), Vitor Hugo Ribeiro, destaca
problemas sociais na comunidade que "a metade da população mora
onde as pessoas estão inseridas em espaços de no máximo 200 m2,
acabam se tornando uma forma de portanto os espaços oferecidos para
estimular a compra de bens duráveis adequarem seus bens é crucial. O
mais caros, na visão de Hilaine. “A poder de decisão de compra inclina
violência e a falta de mobilidade para produtos que atendam suas
urbana fazem com que as casas escolhas, nem que para isso eles
virem grandes centros de lazer. As precisem recorrer a marceneiros.
televisões estão cada vez maiores, No caso da nossa indústria, que
compra-se o home theater, a máquina fabrica móveis em série, buscamos
de fazer pipoca, o micro-ondas, priorizar no design do produto,
as churrasqueiras. Os quartos das espaços que acomodem os aparelhos
crianças também viraram centros que compõem a sala de TV, que
de lazer infantil. As pessoas pensam fazem parte da lista de desejos do
contestação. As marcas têm que nesses equipamentos e em mobiliar a consumidor da classe média", garante.
A bancada Roma entender que é necessário oferecer casa para receber bem os parentes e Também de Arapongas, a DJ
e o painel Madri, cada vez mais qualidade e preço amigos”, exemplifica. Móveis já vem há algum tempo
da Grappa, justo”, resume. Caldas vê a compra dos móveis acompanhado o perfil desta classe e
revelam o desafio
Qualquer que seja o perfil, a e o aparelhamento da casa como volta seus produtos para atendê-los,
apresentado pela
classe média: professora Hilaine lembra que há uma forma de reforçar a identidade, priorizando lançamento de cores
ter produtos que dois campos a serem considerados um “consumo emocional”, no sentido novas, dimensões que atendam aos
chamem a atenção nos comportamentos de consumo – de buscar bem-estar e qualidade novos espaços de casas. "Apostamos
e a possibilidade de vida porque o espelho do seu muito em produtos exclusivos,
o do custo-benefício e o simbólico,
de variadas
que leva em conta as motivações, progresso está dentro e não fora trabalhamos o design como
dimensões
pensando nas valores e crenças do sujeito. “Esse de casa. “As pessoas estão curtindo ferramenta de venda", ressalta o
moradias cada grupo tem necessidades simbólicas demais seus espaços, querem tudo designer Alexandre Teixeira.
vez menores diferentes das minhas, das suas, dos bonito, novo e organizado, por Ao contrário do que pode
empresários, daí a necessidade de se menores que sejam os espaços. indicar o senso comum, não há tanto
fazer estudos mais qualitativos, além A velha imagem de ambientes conservadorismo nos gostos da classe
dos números”, aconselha. entulhados, bagunçados ou com C quando se fala na compra dos
No que se refere ao custo, objetos usados não faz mais sentido”, móveis para casa, comenta Caldas.
Caldas analisa que há uma diferença registra e adverte as empresas em Daí a necessidade de as empresas
na forma de lidar com dinheiro, relação à miniaturização dos móveis, começarem a levar o design tão
principalmente entre os “veteranos” que, segundo ele, não cumprem a sério quanto a qualidade, um
da classe C, que estão sendo mais sua função. “É preciso investir em investimento com retorno garantido,
criteriosos e fazendo uma relação inovação e tecnologia para produção segundo pesquisa realizada pelo
custo-benefício mais bem pensada. de móveis funcionais para espaços pesquisador da USP, Carlos Passos,
e que você pode ler na página 112
deste especial.
Divulgação/Kappesberg

O diretor da Kappesberg, de
Tupandi (RS), Carlos Sost, sente que
as constantes inovações em processos
de produção são o maior desafio de
quem atende esse público. "A cada
lançamento de coleção, precisamos
implementar novidades em nossas

Para a Kappesberg, é essencial levar a


esse consumidor produtos que apresentem
as inovações que ele busca e exige –
que vão desde os diferentes tipos de
acabamento como pintura em alto brilho
e BP até a escolha dos acessórios ideais
para cada módulo

Março 2014 | Móbile Lojista


102 | especial novo consumidor

Divulgação/anjoS
Em 2014, a classE méDia
O colchão Anjos prEtEnDE comprar
Star Premium, da
Anjos: empresa 7,8 milhões de móveis para a casa
tem como objetivo 6,7 milhões de aparelhos de TV
além de levar
comodidade, 4,8 mihões de geladeiras
encantar os clientes 3,9 milhões de máquinas de lavas
com tendências
e elementos 2,5 milhões de casas ou apartamentos
diferenciados, Fonte: Data PoPular | Divulgação Fev.2014
como as molas
pocket ensacadas
comportamentais e de crédito. “São
individualmente e o
pillow com espuma diferentes classes C dentro desse
viscoelástica grupo”, reforça o gerente de produtos
do Data Popular, Márcio Falcão.
linhas de produção. Essa busca perfis variados, que auxiliam no E ter o conhecimento sobre
constante pelo inédito implica em desenvolvimento de novos produtos, essas diferenças pode ajudar a
todo o processo, desde a escolha dos segundo o diretor, Claudinei dos vender e a se comunicar melhor com
novos traços que definiram as linhas Anjos. "Trabalhamos com integrantes esse grupo que ganha importância
do design dos novos produtos até a da classe média dentro deste grupo, como consumidor. “Você tende a ter
escolha pelo equipamento e forma de pessoas de várias idades, para avaliar uma relação mais eficiente quando
produzir esses móveis", reconhece. as características dos lançamentos, se torna mais relevante. Oferece
“Em consumo, [o indivíduo da precificação, entre outros atributos. aquilo que as pessoas têm desejo
classe C] está aberto para o novo, Desde que começamos, tivemos mais de comprar ou usa uma linguagem
para as tendências, porque hoje basta acertos do que erros", revela. mais aproximada com a deles,
um clique, todo mundo sabe o que Diversificado | Um estudo encurtando a distância”, observa
está acontecendo; de que cor é, deixa divulgado recentemente pelo Data o gerente de produtos da Serasa
de ser e qual o formato de móvel que Popular e o Serasa Experian, teve Experian, Marcelo Pincherle.
está em evidência. As pessoas querem o intuito de mostrar a importância Entre as semelhanças, pondera,
ter acesso a isso, e na ausência dessa de realmente estudar esse grupo e além da renda, está a intenção de
Segundo Márcio oferta, pode haver uma frustração. revelar o teor mais heterogênio da consumo de algumas categorias
Falcão, do Vamos ver como esse consumidor classe C, compreendendo que há de produtos. “Em maior ou menor
Data Popular, é vai reagir, quando ele for comprar diferentes perfis em relação ao modo intensidade entre os grupos, a classe
preciso cuidar ao os móveis e não encontrar ofertas de vida e ao consumo. média pretende adquirir móveis para
afirmar "a que
ligadas a esse discurso moderno, De acordo com a pesquisa, há casa em 2014”, exemplifica.
custo" acontece
o consumo da antenado com as tendências, quatro grandes grupos a serem Entre os chamados Promissores,
classe média: “a acessíveis via internet, redes sociais e considerados – os Promissores, Pincherle lembra que são
inadimplência não smartphones”, desafia Caldas. Batalhadores, Experientes e profissionais jovens prestes a
está alta, apesar A solução da Anjos Colchões, Empreendedores. A divisão foi ingressar no mercado de trabalho,
do endividamento
nessa necessidade de uma feita com base em 400 variáveis, com acesso à internet e bom nível de
relativamente
alto. São coisas contrapartida da indústria, foi criar considerando informações instrução, que podem estar montando
diferentes” uma comissão de profissionais com geográficas, demográficas, a sua primeira casa, impulsionando,
de alguma forma, o consumo de
móveis. Já os Batalhadores, para ele,
Divulgação/SeraSa exPerian
Divulgação/Data PoPular

levam em consideração garantir o


conforto da família. “É a faixa mais
básica do grupo, com muitas pessoas
que ascenderam das classes D e E e
estão reequipando as casas com visão
de família”, revela.
No grupo dos Experientes
encontram-se pessoas com a média

“Não identificamos nada no


estudo que possa desabonar esse
crescimento da classe média”, diz
Marcio Pincherle da Serasa Experian
sobre a segmentação da classe média

Março 2014 | Móbile Lojista


104 | especial novo consumidor

de idade de 65 anos, já aposentadas às expectativas deste mercado.


Conheça os perfis traçados pelo e com objetivos diferentes no que “Sempre buscamos antecipar
data popular e serasa experian se refere à compra de móveis. a necessidade do público. Esta
“Nesse caso, talvez exista a ideia de velocidade de mudança e o crescente
Promissores proporcionar conforto suficiente fluxo de troca de informações são um
19% da classe média para o período maior de tempo que desafio constante à área industrial,
14,7 milhões de pessoas eles vão passar dentro de casa”, mas ao mesmo tempo motivo de
Idade média 22,2 anos
sugere Pincherle. No topo estão crescimento”, replica.
95% solteiros os Empreendedores que pensam As empresas também levam em
59% ensino médio completo em comprar imóveis maiores e consideração o regionalismo e as
57% emprego com carteira assinada melhores, buscando não apenas diferenças entre os consumidores
Consumo anual de r$ 230,8 bilhões mais conforto, mas também mais em um País de dimensões
Características: jovens conectados que já passaram por situações status, na opinião do gerente de continentais, como é o Brasil, para
de endividamento devido ao acesso facilitado ao crédito e a falta de
controle financeiro.
produtos da Serasa. o desenvolvimento dos produtos.
Gastos: beleza, veículos, educação, entretenimento, itens para casa
Atenta a esses perfis, a Caemmun, "Seja no tom ou no acabamento
e tecnologia. indústria de móveis de Arapongas da superfície, precisamos ter
o que querem em 2014: academia de ginástica, faculdade, curso (PR), tem uma linha destinada aos essa diversificação para ter
profissionalizante, móveis para casa, notebook, smartphone, carro e
Promissores, segundo a gerente opção para todos consumidores
moto.
de marketing da marca, Gláucia da classe média brasileira",
Batalhadores Cavallini. “Além de poderem ser sublinha o designer da DJ Móveis,
39% da nova classe média comprados pela internet [em sites de Alexandre Teixeira.
30,3 milhões de pessoas lojas de varejo], nossos novos painéis Falcão, do Data Popular,
Idade média 40,4 anos
e módulos suspensos atendem a acrescenta que essas pessoas têm
48% têm ensino fundamental completo este público, que mora em casas ou em comum serem um público que
49% têm registro profissional apartamentos cada vez menores e ascendeu em relação ao poder de
Consumo anual de r$ 388,93 bilhões precisam de versatilidade”, comenta. consumo e que estão inseridas
Características: acreditam que o emprego é o caminho para Para os Empreendedores, hoje no mercado. "Há uma série de
estabilidade e conquista da casa própria e o estudo, oportunidade
para ascensão social. segundo a visão da gestora, perfil produtos que não possuem e desejam
Gastos: destinados ao bem-estar da família – turismo nacional,
que valoriza marcas e é adepto adquirir; eles ainda têm um potencial
veículos, eletroeletrônicos, imóveis, móveis, eletrodomésticos e do “faça você mesmo”, a empresa grande devido à carteira assinada e ao
seguros estão entre as despesas. paranaense oferece o Combo acesso ao crédito", fala.
o que querem em 2014: viagens de avião para destinos nacionais, Facility, “único produto 2 em 1, Ao que Carlos Sost, diretor da
móveis para casa, máquina de lavar, TV (Plasma, LCD e LED), imóvel
e carro
com painel e bancada na mesma Kappesberg, acrescenta "ele quer
embalagem, agregando a praticidade ter aquilo que sempre sonhou, mas
exPerientes que eles precisam”, explica. não quer perder a chance de levar
26% da nova classe média Gláucia reforça que a empresa
20,5 milhões de pessoas vê essa diversidade de perfis
Idade média de 65,8 anos A leitura do varejo é de que os clientes
como oportunidade e busca, por
59% com ensino fundamental e 31% sem instrução da classe média estão mais exigentes e
meio de pesquisas, conhecer
dispostos a gastar para satisfazer seus
Consumo anual é de r$ 274 bilhões
essas características para poder desejos e expectativas, porém importante
Características: chegam ao momento pós-aposentadoria tentando se desenvolver produtos que atendam para eles, ainda, é o atendimento
manter no mercado de trabalho para garantir o padrão de consumo.
Gastos: está relacionado à turismo nacional, eletroeletrônicos, Divulgação/grupo MM
serviços de saúde, móveis e eletrodomésticos.
o que querem em 2014: viagens de avião para lugares nacionais, móveis
para casa, geladeira, máquina de lavar e TV (Plasma, LCD ou LED).

emPreendedores
16% da nova classe média
11,6 milhões de pessoas
42% estão cursando ou já concluíram o ensino médio e 19% o
ensino superior
43% têm registro profissional
Consumo anual de r$ 276 bilhões
Características: são os que mais têm acesso a internet e que
apresentam a maior renda per capita.
Gastos: educação, eletroeletrônicos, turismo internacional,
tecnologia, veículos e entretenimento.
o que querem em 2014: os produtos e serviços desejados para esse
ano são curso profissionalizante, viagem de avião ao exterior, móveis
para casa, notebook, tablet, TV (Plasma/LCD/LED) e carro.

Março 2014 | Móbile Lojista


106 | especial novo consumidor

Divulgação/lojas ColoMbo
receber informações que deem
Em qual tipo dE loja segurança para fechar o negócio
rEalizou a última é o diretor superintendente da
compra dE móvEis Lojas Colombo, Rodrigo Piazer.
"É importante entendermos essas
Grandes Magazines – 85%
necessidades e traduzi-las em
Lojas de Móveis (apenas móveis) – 12%
produtos para que estes clientes
Hipermercados – 3%
exigentes sintam-se bem, confiantes
Fonte: Data popular e felizes por terem feito o melhor
negócio", fala.
pra casa sempre um algo a mais. E Um dos elementos que merecem
no momento de decidir sobre o que atenção, para o diretor geral do
vai levar, acaba mesclando com o Grupo MM, Emílio Glinski, nesse
seu gosto e estilo pessoal, o que é novo consumidor, é seu poder maior
tendência e inovação nos produtos de compra, o que o que permite
que está escolhendo", completa. pensar em um mix diferenciado de
transformação no varejo | As produtos, principalmente na linha
mudanças no perfil da classe média de eletro e tecnologia. "Nossas "Produtos de qualidade, que sejam
mudaram, também, a relação com o lojas dispõem de todo incremento práticos e reflitam a identidade deste
varejo. Para o gerente de marketing para a nova classe média, que vai consumidor, bem como sua ascensão social
da Gazin Colchões, Jesner Cobucci, desde fogões e geladeiras em inox, são o foco. Este público valoriza muito a
estética e, cada vez mais, a relevância
credibilidade e informação é o tablets, notebooks, smartphones e
e reconhecimento da marca que está
que mais faz diferença na hora de TVs Smart com tela ampliada e com adquirindo", afirma o diretor superintende
trabalhar para esse público. O grupo alta capacidade tecnológica, o que da Lojas Colombo, Rodrigo Piazer
Gazin, que também atua no varejo, permite absorver também as demais
treina a equipe para fazer com que classes", diz. compararmos 2013 a 2012. Além
o consumidor consiga enxergar tudo Ele também observa que a nova disso, vale destacar que o cliente
o que os produtos podem oferecer. classe média procura produtos que já chega informado sobre o tipo de
"O cliente quer saber cada vez mais tenham um melhor acabamento com tecido do acabamento, pergunta se
detalhes e características do que ele diversas atratividades em cores, as molas são ensacadas ou não, se a
está comprando e os vendedores design, qualidade e com um bom espuma é certificada pelo Inmetro.
precisam estar capacitados para custo-benefício. "Temos incluído Há dois anos o produto mais vendido
atendê-los. Falta de conhecimento do no nosso portfólio móveis com dessa categoria era mais simples e
processo, matérias-primas, sistemas elementos diferentes como fecho- custava aproximadamente R$ 499.
de molas e absorção de impacto toques, corrediças telescópicas, Hoje o mais vendido varia entre
podem comprometer uma venda gavetas com acabamento interno, R$ 999 e R$ 1.299 devido à sua
certa", considera. portas e detalhes com muito brilho, sofisticação", destacam os dados
Quem também confirma essa como laca e espelhos, características enviados à reportagem.
leitura sobre a necessidade desse antes presentes apenas em produtos Outro ponto de atenção seria
Diretor do grupo público de poder tirar dúvidas e de valor agregado elevado. Portas "a diminuição entre o tempo de
MM, Emílio Glinski: de correr têm sido muito utilizadas lançamento global de um produto e
"é necessário um em roupeiros devido à economia de o lançamento deste mesmo item aqui
Divul Divulgação/ grupo MM gação

bom conhecimento
espaço, por exemplo", acrescenta no Brasil. Hoje, ocorrem quase que
sobre o produto
desde a fabricação Piazer, da Colombo. simultaneamente e o consumidor tem
até a montagem, Segundo informações fornecidas mais acesso ao novo e aos produtos
pois os detalhes pela assessoria da ViaVarejo, as lojas da moda", constata a assessoria.
que o vendedor do grupo (Casas Bahia e PontoFrio) O presidente da rede Berlanda,
fornece durante
percebem um movimento interessante Nilso Berlanda, também percebe essa
o ato da compra
cativam o cliente no segmento de móveis, como, por mudança. "Nós estamos melhorando
e lhe dão a exemplo, na procura pela cama tipo os móveis a cada dia que passa.
segurança da box que cresceu, nos últimos anos, em Aquele guarda-roupa de R$ 199 já
compra" relação à cama padrão. Além disso, os não é mais bem aceito; o consumidor
clientes estariam escolhendo modelos já está procurando aquele de R$ 499
mais sofisticados em relação a design, ou R$ 599, maiores e mais altos. O
tecidos e composições estruturais cliente já não procura pelo produto
diferentes. mais barato, mas, sim, por uma
"O crescimento nas vendas melhor qualidade", conclui. n
deste modelo de cama é de Por Marina Gallucci e Frances Baras, com
aproximadamente 50%, ao colaboração de Sandra Solda e Thiago Rodrigo

Março 2014 | Móbile Lojista


108 | especial novo consumidor | enTrevisTa

Segundo Neri, logo vai se falar


SAulo CRuz/SAE

em recém-chegados às classes
AB, sobre pessoas que não se
encontravam nesses segmentos e
demandarão novos desafios

que é o desenvolvimento com redução


de desigualdade. A característica
desse período é ter essa continuidade
e ser essa combinação. E também,
principalmente, de crescimento da
renda das pessoas, e da renda do
trabalho até mesmo mais do que o
Produto Interno Bruto (PIB).

Lojista | Então você considera a


renda um grande fator para ascensão
dessas pessoas?
Neri | A média de renda é uma
maneira de ver [essa transformação]:
de 2003 a 2012, o PIB cresceu 27,8%,
a renda média da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad)
cresceu 52% e a renda mediana [que
desconsidera extremos que podem
alterar o resultado], que seria uma
MARCELO NERI espécie de começo da classe média,

Rumo a uma
cresceu 78%. Esse crescimento
não apenas na média tem uma
contribuição importante em relação
à desigualdade. O principal símbolo

nova classe alta?


desse grupo é a geração de carteira
de trabalho, do emprego formal – até
mais que cartão de crédito e acesso a
bens de consumo, e é isso que torna
essa classe média mais consistente.
Cunhador do termo “nova classe média”, o ministro interino Depois de dez anos, é importante dizer
da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência que, nos últimos três, embora o PIB
da República e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica tenha crescido relativamente pouco,
Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, levanta a bandeira sobre um outro essa nova classe média continua
momento no processo de mobilidade social brasileiro subindo. Ela passou por um bom teste
de amortecedor. Mas, por outro lado,
em termos de consumo e aspirações,
Móbile Lojista | Há alguns anos que and-go”, de flutuações. depois deste período, eu acho que há
se fala em nova classe média e nesse Mas, quando falamos nessa nova mudanças. Esse grupo em ascensão
processo de ascensão. Esse conceito classe média, abordamos um coloca pressão pela melhoria da
se transformou e evoluiu junto com período relativamente contínuo, de infraestrutura pública, sejam estradas,
essa classe média? Ainda falamos do crescimento ano após ano, depois do ruas e aeroportos. Eu coloco como
mesmo grupo? fim da recessão de 2003. A partir de um dos grandes desafios à frente:
Marcelo Neri | Essa classe média já uma combinação, que é relativamente a qualidade da infraestrutura e dos
não é tão nova. Vivemos um processo rara no mundo e particular do Brasil, serviços públicos. No entanto, há uma
contínuo ao longo do tempo. Se dicotomia, uma tensão, pois, muitas
observarmos a história brasileira, vezes, esses serviços são prestados
tivemos vários momentos de pelo setor privado: como plano de
“Não estou falando de uma classe
crescimento: o primeiro salto foi com saúde, escola e previdência privadas.
média que tem dois carros e dois
o milagre econômico, depois outro
cachorros, mas de pessoas que
salto de incorporação de pessoas ao Lojista | A classe média continua
estão subindo e superaram a
mercado com o plano real. O Brasil ascendendo e mais pessoas vão entrar
mediana do Brasil e do mundo”
viveu um período de muitos “stop- nesse grupo em 2014?

Março 2014 | Móbile Lojista


110 | especial novo consumidor | enTrevisTa

Saulo Cruz/Sae
Neri | Sim, porém vai acontecer o
seguinte: se mapearmos isso ao longo
do tempo, vemos, por exemplo, que
no começo a classe D até aumentou.
Muita gente saiu da E para a D, depois
a D começou a cair e a C crescer. Nos
últimos anos, se abrirmos a classe
média em C1 e C2, vamos perceber
que esta última está aumentando e a
C1 está caindo. O que está crescendo,
e vai continuar crescendo mais ainda,
é classe B e a classe A. Como é um
processo contínuo de ascensão com
redução de desigualdade, ela vai,
vamos dizer, migrando ao longo dos
estratos. Há uma onda ao longo da
Neri: “Há várias considerações que você pode fazer sobre essa nova classe
distribuição de renda e chegando a
média, mas o fato é que ela transformou o Brasil. Se pegarmos de 2003 até
níveis mais altos, dessa forma acho 2013, cerca de 54 milhões ascenderam às classes ABC: é mais do que a
que atualmente falamos mais de uma população da Espanha. É uma grande mudança, e ela implica em grandes
classe B do que uma classe C. desafios que vão continuar mesmo com o PIB já tendo crescido menos em 2013”

Lojista | Classe econômica é diferente média sustentável. Nos últimos mundo. Não estou falando de uma
da classe social, mas há uma crítica anos, propiciamos o surgimento dos classe média que tem dois carros e
dessa avaliação usualmente aplicada mercados consumidores dessa nova dois cachorros, mas de pessoas que
pela SAE, de que só o aumento do classe média, mas ainda falta dar mais estão subindo e superaram a mediana
consumo e de renda não implica em mercado e estado a essas pessoas no do Brasil e do mundo.
uma melhora da qualidade de vida, sentido delas serem protagonistas de
que isso não é efetivamente sinal suas vidas. Talvez não no nível que Lojista | Além do fator emprego,
de que essas pessoas se tornaram gostaríamos, mas é um processo que há outros pontos que podem afetar
classe média. Como você analisa está em progresso. essa ascensão?
isso? As pessoas estão evoluindo em O que acontece é que muitas vezes Neri | Esse [o emprego] é um desafio
outros aspectos? as pessoas não conseguem enxergar importante, avançamos bastante
Neri | Eu acho que sim, estão isso, olhando os dados. Por exemplo, nessa frente. Hoje temos de fato
evoluindo desde níveis muito baixos: a mulher brasileira em 1970 tinha um problema de maior dificuldade,
com mais educação, mais cursos 5,8 filhos, agora tem 1,9. Esses filhos que é a produtividade, tornar cada
técnicos, etc. De fato, existe uma visão começaram a ir em maior proporção trabalhador mais produtivo.
mais econômica e uma visão mais para a escola. Em 1990, 16% das Na SAE, por exemplo, temos, além
sociológica. Deixamos bem claro que crianças estavam fora da escola, da agenda sobre produtividade,
é classe econômica, mas, na nossa agora são menos que 2%. Essas outra sobre inclusão financeira
classificação, olhamos também para crianças chegaram na juventude em geral, principalmente em
os ativos por trás dessa renda: se as e conseguiram um emprego com relação à poupança – para dar
pessoas analisadas têm educação, carteira e fizeram um curso técnico. mais sustentabilidade a essa classe
ativos produtivos – de computadores, Logo, há vários elementos estruturais média. Temos também a questão
celulares até um pequeno negócio e nesse processo que são um tanto que de cursos técnicos, a questão de
carteira de trabalho, que significam subestimados no debate. inclusão digital, políticas voltadas
um acesso ao trabalho e de uma certa para a juventude – que vai ser a
forma ao capital. Lojista | Dessa forma, o que é nova classe média e que a permitirá
É uma importante transformação que importante para entender a classe continuar crescendo –, lembrando
não se resume só a renda e consumo e média brasileira? que os jovens têm aspirações
nem acho que essa é a parte principal, Neri | Quando vamos aos dados, diferentes em relação a seus pais e
é coadjuvante. A parte importante vemos uma transformação. Mas o resto da população. À medida em
é o trabalho, que torna essa classe sem dúvida não é uma classe média que o processo vai acontecendo, as
americana ou europeia. Estamos políticas públicas e as próprias ações
falando de uma classe média privadas precisam se transformar. As
brasileira, pessoas que subiram e que, empresas demoraram para acordar
“É uma importante mudança, que aconteceu
em um certo sentido, acabam sendo o para o crescimento da classe média
e continua a acontecer, e que não se resume
retrato de uma classe média mundial, e, depois que acordaram, viram as
só a isso: renda e consumo. E nem acho que
porque no fundo a distribuição de mudanças que isso gerou. n
essa é a parte principal, é coadjuvante”
renda brasileira é parecida com a do Por Marina Gallucci

Março 2014 | Móbile Lojista


112 | especial novo consumidor

Maior rentabilidade para

ArqUivo PESSoAl
quem investe na Classe C
Pesquisador da FEA-USP relacionou eficiência dos moveleiros
que investiram no mercado de bens populares de 2001 a 2012
e a importância da alta tecnologia nesse segmento

I ndústrias de móveis que direcionam


a produção aos consumidores de
menor renda tiveram melhor eficiência
Os anos, segundo o pesquisador,
foram 2005, 2007, 2009 e 2012.
Nos demais, “não houve diferença
Carlos Passos: “o consumidor de
baixa renda gosta de novidades, não
financeira que as empresas que focaram estatística nas médias amostrais entre quer só um produto barato; deseja
sua produção ao público de maior as indústrias dos dois segmentos de qualidade, design e tecnologia”
rendimento, é o que revela um estudo da mercado”. As empresas mais eficientes
Faculdade de Economia, Administração da amostra em quase todos os anos inversa: em toda redução na taxa de
e Contabilidade (FEA) da Universidade apresentaram em média 12% a mais juros, há o aumento da participação
de São Paulo (USP), conduzido pelo de participação no mercado popular dessas empresas no mercado
pesquisador Carlos Augusto Passos e em relação às menos eficientes. popular. Isso porque o efeito dos
apresentado em 2013. Com exceção do indicador juros no mercado de móveis favorece
O estudo analisou a eficiência de margem bruta, que revela o o financiamento de produtos e o
financeira – tendo como base análises de resultado após a dedução dos consumidor passa a ter mais dinheiro
balanços patrimoniais e questionários custos dos produtos vendidos, os e pode comprometer um pouco mais
respondidos por empresários – de demais indicadores de margens do seu orçamento com parcelas que
uma amostra de 84 empresas do foram superiores nas indústrias de cabem no seu bolso”, esclarece.
segmento industrial moveleiro entre móveis populares. “Os custos nessas Mais investimentos | A diferença de
2001 e 2012, nos Estados do RS, PR, empresas são proporcionalmente desempenho pode ser explicada por
SP, SC, MG, ES e GO. “Estatisticamente, mais altos em relação à receita, o aspectos estratégicos de produção
em quatro anos constatamos, com que é compensado posteriormente voltada para a demanda das classes
comprovação científica, que foram por melhor adequação de despesas C, D e E, que exige aplicações em
mais eficientes as empresas que operacionais e financeiras”, afirma. tecnologia para reduzir custos
atuaram para baixa renda. Mas, em O pesquisador observa que entre operacionais e propiciar produtos
todos os anos, com exceção de 2003, os fatores de causalidade do aumento de qualidade mais acessíveis aos
essas médias de empresas que atuam de participação das empresas no consumidores, ressalta Passos. “As
para baixa renda também foram mercado de bens populares está a indústrias voltadas para o mercado
melhores”, explica Passos. taxa de juros. “Existe uma relação popular procuram a liderança
tecnológica, porque o público é ávido
por novidades. Ele quer encontrar as
mesmas coisas que a alta renda tem,
Mercado de bens populares
mas com um preço mais acessível”, diz.
ParticiPação média anual, nesse nicho, das indústria de móveis mais e menos eficientes
O pesquisador ressalta que isso
25% 24,2% acaba gerando um dilema, pois para
obter produto diferenciado, é preciso
Participação Média no Mercado Popular

ter uma tecnologia diferenciada.


20% 19,0% 19,1%
17,5%
“Elas costumam fazer investimentos
16,2%
15,6% em gestão de custos e em artigo
15% produtivo, além de se apresentarem
12,5% 12,1% 12,2%
11,7% operacionalmente melhores, com
10,3%
9,7% um atendimento de requisitos
10% 9,3%
8,8%
7,7% 7,6% básicos e distribuição mais rápida”,
5,7% 5,9% 5,9%
6,5%
5,8% diz. Ele completa que atender esse
4,5%
5% 4,3% público é um desafio. “As margens
3,1%
são bastante estreitas, os preços são
baixos e os volumes elevados; para
0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 atuar nesse mercado precisa ter
Juros Inflação Melhores empresas Piores empresas competência”, finaliza. n
Por Marina Gallucci e Frances Baras
FontE: EStUdo SobrE SEtor dE móvEiS / cArloS PASSoS

Março 2014 | Móbile Lojista

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