Este é um trabalho do missionário Gunter Kroemer que visa abranger o “conjunto da
sociedade” abordando um conjunto no qual “unidades sociais são unidade econômicas, políticas e religiosas”(intro)
PARTE I
No capítulo 1 “O meio ambiente e os índios Zuruhá” é abordado a situação
ecológica do habitat zuruahá, situado na planície fluvial do rio Purus(Oaha), entre rios Riozinho(Hahabiri) e Coxodoá(Haxinawa), ambos afluente do rio Cuniuá que junto com o Tapauá descem em direção ao Leste. Neste capítulo é tratado o ecossistema, dividindo em temas como solo e clima, ambiente vegetal(floresta tropical densa), recursos alimentícios(baixa fertilidade do solo, deficiência de vitaminas e sais minerais, limitado valor proteico, dieta de produtos cultivados combinados com caça, pesca e frutos coletados) e também tenta mostrar como os índios conseguem tirar de forma inteligente e racional o máximo desse ambiente hostil a vida humana
No capítulo 2 “ A maloca” chama-se a atenção para a importância simbólica da
maloca: desde os ancestrais nos mitos já morava-se em uma maloca, os cantos da maloca sendo um fator relevante a vida do povo e a importante relação entre as matérias-primas usadas na construção da maloca estabelecida com espíritos dos frutos silvestres e animais em uma relação cosmológica, posicionando a maloca como centro do universo. Todos os subgrupos construíram desde sempre a mesma maloca que ainda hoje é a habitação.
No capítulo 3 “Estrutura Social” são abordados alguns temas que remetem a
estrutura social. Primeiramente o tema é a ocupação da maloca, chamada oda, que em geral os Zuruaha são abrigados em uma única casa e distribuem as famílias nucleares em repartições chamadas kahu, que oferece um pequeno espaço triangular ao redor e/ou no centro da maloca. Posteriormente é tratada a família, categorizando a família nuclear(F,M,S,D-não casados) em que os filhos têm descendência legítima de ambos os cônjuges, as categorias de idade, o sistema e termos de parentesco(dravidiano), as relações de afinidade e o sistema de atitudes.
No capítulo 4 “Vida social da comunidade” trata de quatro temas: primeiramente as
características físicas do Zuruaha, que se consideram diferentes de outros povos indígenas e brancos pelo vestuário, perfuração da orelha e narina e principalmente corte de cabelo. Depois a rotina na maloca, em que descreve as atividades cotidianas como caça, coletas e alimentação, desde que se acorda até o fim do dia. Depois trata do ciclo vital: a concepção(onde e como), a gravidez, o parto, o infanticídio(crianças sem pai são inferiorizadas, mulheres devem ser mortas e homens são inferiores até a maturidade sexual), a amamentação, o desenvolvimento sexual, o casamento(uxorilocalidade), a velhice(muitos são os que sobreviveram a tentativas de suicídio, considerados infelizes e marginalizados) e a sepultura(a morte de uma pessoa leva os parentes a derrubar uma árvore, identificando a morte com a queda de uma árvore). Depois trata da personalidade zuruaha em 4 partes: a autoconsciência - “é a percepção primorosa do que se passa no povo(...) se manifesta sobretudo frente aos jara, fazendo com que eles considerem sua cultura única, verdadeira e superior”(pág 74-75); a auto-afirmação - a confiança em si mesmo; o espírito competitivo - se manifesta nos trabalhos cooperativos(?); a auto suficiência - que “dá sentido ao termo anidawa, usado para designar dono de alguma coisa(...) o dono da maloca, por exemplo, criador ideal e construtor responsável pela acomodação das famílias, recebe certa conotação de líder enquanto a maloca está ocupada. A auto suficiência é também responsável pelo grande respeito às propriedades alheias, pois cada um aprende a confeccionar os artigos de uso pessoal, não havendo necessidade de mexer com as coisas dos outros. A transgressão dessa norma pode ser motivo para alguém recorrer ao suicídio(...) o anidawa que convoca um mutirão é apenas respeitado como líder temporário para executar determinada tarefa”(pág 76). Neste capítulo ainda se fala das mudanças de maloca(gamunhyru) onde a liderança é conferida a um anidawa que é o dono responsável por aquela maloca, e do “mecanismo de autodestruição” que seria o suicídio, que seria um colapso psicológico causado pela nova situação histórica, um etno-trauma.
No capítulo 5 “Formação e conteúdos etnocientíficos” é tratado os conhecimentos
Zuruaha, falando primeiramente da formação do indivíduo recebida através da ambientação à vida na maloca, na roça e floresta, ou quando levado a pescarias e caçadas familiares, uma fase importante pois “cria um ambiente de confiança nas relações corpo/mãe e corpo/floresta”(pág 85). Depois é tratado os “conhecimentos científicos” mais propriamente ditos: seu calendários, deslocamento do sol, o cosmos(sagrado, dividido em três níveis-terra, mundo abaixo e mundo acima - e todos igarapés e rios desembocam na “mãe d'água”); os aspectos etnobiológicos e seus sistemas de classificação(zamat3m3ru - terrestres-, egiaty-pássaros e que vivem nas árvores-, aba-seres da água-, aha-a flora plantada, hadara hosa-espécies não plantadas-) que destrincham com detalhes os animais e plantas e suas partes; aspectos etno-farmacêutico das plantas medicinais e suas aplicações; e por fim o conhecimento sobre a relação plantas/animais, que não são explicitadas o tipo de relação, apenas que esse conhecimento ajuda os jovens a entender as relações nos diversos ambientes da floresta.
No capítulo 6 “Organização econômica” trata-se de colocar em evidência os
aspectos econômicos da vida Zuruaha. Começa tratando da caça, pesca e coleta de matérias primas e frutos silvestres(agabudi), desde as caçadas individuais, e as caçadas coletivas(zawada e kasaby, e as pescas chamadas kunahã e bakemã), traz uma extensa lista de animais, frutos silvestres e plantas(matérias primas) identificados pelos nativos. Depois trata do cultivo da terra e seus recursos, trazendo uma lista de plantas cultivadas, e detalhando o processo de cultivo da terra: primeiro a roçada quando os igarapés secam, depois a derrubada, depois a queimada(festejada com rituais e cantos que se referem aos espíritos criadores e protetores), o plantio(logo depois da festa kuwaijumari) e por fim a colheita que é feita pelo anidawa, sua esposa e filhos, e parentes próximos. Depois trata da divisão do trabalho entre homens e mulheres (com um esquema que lista as atividades e os gêneros que participam) e da distribuição dos produtos, que “pode ser entendida como recompensa pela participação na produção, direta ou indiretamente”(119).Por fim ele trata da “ideologia de produção” que estaria ligada ao campo etno-religioso, pois todo sistema de produção e distribuição é sublimado pelo sagrado, como no caso da construção da maloca, que toda matéria prima é cuidadosamente escolhida segundo a relação que determinada madeira tem com os espíritos dos frutos silvestres, cada espécie de madeira deve ser de uma árvore que possa servir frutos de alimentos aos bichos e todas as demais matérias primas empregadas devem apresentar a mesma relação “fruto/animal”.
No capítulo 7 “Organização política” é examinada a organização política em 5
partes. Na primeira é traçada aspectos da etno-história e territoriais, em que é afirmado que cerca de 100 anos atrás os vários grupos étnicos viviam numa espécie de “solidariedade confederativa” numa grande extensão territorial(entre os rios Coxodoa e Riozinho, afluentes do Cuniuá). A estrutura política consistia em uma unidade intergrupal “na qual os diversos subgrupos eram autônomos, sem autoridade superior ou central”(pág 127) e que confluiam por ocasião de grandes festas para o centro da floresta no igarapé Pretão(Jukihi). Cada unidade tinha seus pajés(inua hixa) e os chefes das respectivas malocas, os anidawa. O grupo mais influente era os índios Masanidawa, que eram tidos como bons navegadores e mantinham boas relações com os Katukina. O segundo subgrupo, Kuribidawa tem características físicas muito diferente dos demais e se assemelham a outros povos como os Katukina, os Mamori e os Paumari; reduzidos por doenças, se uniram aos Masanidawa e ainda hoje lembram os principais chefes de família e algumas mulheres. O terceiro grupo chama-se Jokihidawa “os donos do igarapé Pretão” e que se tornou um refúgio do demais subgrupos. O quarto grupo chama-se Sarokwaudawa e mantinham seu habitat ao longo do rio Coxodoá. O quinto eram os Nakaidawa, com habitat no igarapé dos índios, denominado makuha. Os outros subgrupos eram os Adamidawa, “os donos da terra firme” que habitavam o igarapé Jahkubaku(afluente do Riozinho) e os Tabisyrudawa que habitavam Wahtanahã(afluente do Pretão) Na segunda parte é tratada a política defensiva, tanto contra outros povos como os Juna do rio Cuniuá(tios como gigantes), os Zamade, que até hoje causam medo e os Mahidawa, que chegavam pelo Pretão e deixavam baixas entre os Zuruaha, como também as invasões dos não índios da frente extrativista, que chegava principalmente pelos igarapés Jokihi e Makuha e que eram combatidos quando pegos de surpresa, desarmados e tratados com violência. Na terceira parte trata da liderança política, que é atribuída primariamente aos chefes de famílias nucleares cujo a autoridade se limita sobre a família extensa, “os chefes atualmente conduzem o processo político de aproximação ao mundo não zuruaha(...) por outro lado, todos os chefes são investidos de autoridade ritual e são chamados de inua(...) outros líderes políticos são os anidawa, o dono da maloca, que às vezes, assume o papel de porta voz(...) ou que se investe uma certa autoridade moral enquanto o grupo todo habita em sua maloca”(135). E nas duas últimas partes são tratados temas de “ação de justiça e sanções” e “direito” sem grandes informações.
No capítulo 8 “Aspectos etno-religiosos” é analisado o mundo sagrado Zuruahá em
cinco partes. Na primeira é tratada a concepção cosmológica do universo em três níveis: o mundo abaixo da terra adabuhadaha; o céu zamzama kanihimeri e povoado pelos espíritos kurimia; e a terra povoada pelos homens, denominada adaha. Na segunda parte mostra-se que o canto relata a relação de um determinado espírito com plantas e animais, além de descrever as festas( kawaijumari - antes do plantio e após caçadas e pescarias-, karinhyru - da colheita-, os ritos de passagem do kahamy) e os poucos conhecimentos sobre os inua hixa. Na terceira parte são descritos os dois caminhos dos mortos, o kunahã agi, caminho dos que morrem por envenenamento e juntam-se aos Kunahã Made na casa de Bai onde viverão sua existência imortal, e o mazaruru agi, caminho dos que morrem naturalmente e vão para casa de Tiwiju. Na quarta parte é descrito o mito de criação, o mito do incêndio(e incêndio das águas) e o mito do assassinato do criador. Na quinta parte é postulado o relevante significado que a maloca representa na vida dos Zuruaha, que simbolizaria o centro do universo, sua importância na vida econômica(é o lugar por excelência de confecção de artigos e mantém uma relação direta com a roça) e vida ritual. Na PARTE II(pág 161-192) são descritos os objetos da tecnologia Zuruahá com detalhamentos de suas características físicas(imagens, medidas e matérias primas) e em menor parte seus usos “técnico-religiosos” no cotidiano. ->(masi, masany)