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questões brasileiras
PROCURA-SE UM PRESIDENTE
Dependência virtual e extremismo de Bolsonaro precipitam
corrida política no campo da direita
MIGUEL LAGO
Nos primeiros meses de governo ficou claro que a lógica do perfil nas
redes sociais está vencendo de goleada. Não à toa, pois ela explica o
bolsonarismo em todos os seus aspectos: o tipo de base social, os formatos
de mobilização, a formação ideológica, o perfil social de seus aliados.
Tudo isso está condicionado pelas novas formas de interação das redes
sociais. Manter o perfil ativo é fundamental para manter a base fiel
conectada e motivada. Como explica Marcos Nobre, em artigo publicado
nesta revista (“A revolta conservadora”, piauí_147, dezembro), o capitão
reformado precisa do caos para poder governar, pois sua estratégia é
governar para “uma base social e eleitoral que não é maioria, mas é grande
o suficiente para sustentar um governo. Algo entre 30% e 40% do
eleitorado. Tornar essa base fiel é fundamental para manter o poder”.
Com isso, tudo se tornou opinião e se confunde com ela, numa arena em
que não existem hierarquias. A análise política de um especialista equivale
à opinião de qualquer pessoa que nunca abriu um livro sobre política.
Trata-se de uma perversão do direito à liberdade de expressão: muito
embora cada um tenha o direito de opinar sobre o que quiser, e uma
opinião não se sobreponha à outra, nem tudo é da ordem da opinião.
Análises, pesquisas e evidências são de outra esfera. Não se questiona o
resultado de uma pesquisa científica dizendo simplesmente que não se
concorda com ela, mas analisando sua metodologia ou apresentando uma
pesquisa sobre o mesmo tema que possa colocar em xeque as conclusões.
MIGUEL LAGO
Miguel Lago é cientista político, cofundador da rede Meu Rio e diretor da ONG Nossas