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2003
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SUMÁRIO
Prefácio ................................................................................................................07
Apresentação .....................................................................................................09
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3.3 Socied ad es e d esenvolvim ento tecnocientífico: tip ologias ..........91
3.4 A m u d ança social: algu m as interp retações ....................................103
3.5 A articu lação d em ocrática d o social com o cond ição p ara a
p articip ação ativa nas d ecisões tecnocientíficas ...........................110
3.6 Conclu são .................................................................................................116
3.7 Bibliografia ..............................................................................................117
Glossário ..........................................................................................................157
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PREFÁCIO
Dentre os países iberoam ericanos, som ente Brasil e Portugal falam o id iom a
português. Se esta é um a d iferença que ajud a a assinalar um a id entid ad e, por
outro lad o ela também d ific ulta o livre trânsito d e informações e d e saberes
entre tod as estas nações. Alguns d os d emais países d este bloco são pród igos em
p u blicações em várias áreas, notad am ente naqu elas qu e evid enciam u m a certa
tentativa d e hu m anização d as técnicas. Perd em , com isso, Brasil e Portu gal,
além d e d iversas ou tras nações qu e conosco com u ngam a m esm a língu a. Isto
porqu e as necessárias trad u ções d ificu ltam , qu and o não obstacu lizam , a leitu ra
que pod erá abrir espaço para reflexões sobre temas que d e outra forma
ad orm ecem nos escaninhos d a história.
Os estu d os CTS, qu e já há m u itos anos vêm ganhand o form a nos EUA e em
alguns países europeus, pouco a pouco vêm, em vários lugares, d espertand o
interesse renovad o, especialmente no Brasil. Apesar d isso – ou talvez
justamente pelo grau d e novid ad e nele aind a presente –, pou ca bibliografia
específica – talvez efetivamente nenhuma – há no país neste novo campo d e
estudos.
A Organização d e Estad os Iberoam ericanos (OEI) tem sid o atuante nesta
área, na qual tem sistematicamente publica d o textos que esclarecem, d ifund em,
inovam , renovam e fazem avançar os estu d os CTS. A id éia d este texto su rge a
partir d a iniciativa d e m em bros d a própria OEI d e am pliar u m pou co a
extensão d os fru tos d esse trabalho, até agora d isponíveis em essência apena s
para versad os na língua espanhola. Com esta trad ução d os originais – Ciencia,
Tecnología y Sociedade: una aproximación conceptual –, levad a a cabo por três
professores d a UFSC – componentes do N EPET 1 , (http://w w w .nepet.u fsc.br ),
objetiva -se, portanto, levar também para o Brasil e para Portugal – e, é claro,
para os d emais interessad os que tenham o português como língua materna, ou
que a d ominem –, algumas id éias acerca d as relações entre ciência, tecnologia e
1
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET), Departamento de Engenharia
Mecânica, Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil.
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socied ad e, tão bem expostas no texto base. Ficam assim reu nid os, nu m ú nico
livro em portu gu ês, tem as básicos d e d iversas origens d isciplinares, d e conexão
com p lexa, e qu e bu scam estabelecer relações com as qu estões CTS.
Ju ntam ente com esta trad u ção – que são em algu m as p assagens m ais livre –
, este texto aind a traz algu m as contribu ições no qu e d iz resp eito à bibliografia,
procu rand o listar o qu e existe d e conteú d os – m esm o qu e não esp ecíficos na
área – que possam am pliar e aprofund ar os estud os CTS no id iom a por tu gu ês.
Alguns livros, artigos e sites inclu sive pod em já constar d a bibliografia original
em espanhol. Isto não será uma superposição porque o fato d e também estar em
português pod erá auxiliar o entend im ento d os assuntos pertinentes. Para que a
fonte d e consu lta seja a m ais am p la p ossível, m antivem os a bibliografia
exatamente como na ed ição original espanhola, optand o por colocar a d e língua
portuguesa – d e acord o com as norm as brasileiras d a ABN T – nu m ap ênd ice
próprio para consulta.
O glossário, qu e serve d e su p orte p ara o entend im ento d e algu m as
passagens d o texto por parte d e leitor, não foi acrescid o d e nenhum novo
termo, tend o sofrid o apenas sua ad aptação para o id ioma português.
Ao longo d o texto, é importante que se saliente, pela mud ança d e
significad o qu e algu m a expressão possa sofrer, resolvem os ad aptar algu ns
termos d e mod o que o entend imento ficasse compatível com o contexto d o
leitor. Em função d isso, algum as explicações e d ad os ad icionais foram
introd uzid os d e acord o com a realid ad e brasileira, já qu e os exem p los citad os
ao longo d o texto base quase sem pre se referiam a países d a Europa ou aos
EUA.
Com tod as estas ad aptações – qu e não alteram em nenhu m m om ento o teor
d o texto –, esperam os estar oferecend o u m m aterial im portante no id iom a
portug u ês para o entend im ento e a d issem inação d este cam po d e conhecim ento
– CTS –, que julgam os ser fund am ental para proporcionar um a m ud ança d e
postura na ed ucação para a cid ad ania.
As inevitáveis falhas e as opções conscientes por m od os d e trad u ção qu e
possam gerar algum d esconforto ou d iscord ância por parte d e especialistas em
algum assunto específico aqui tratad o d evem ser d ebitad as na conta d os
trad utores.
Desejam os a tod os u m a boa leitu ra, ao m esm o tem po em qu e incitam os às
reflexões acerca d e assunto tão premente no mund o atual, quanto o são as
relações entre ciência, tecnologia e socied ad e.
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APRESENTA ÇÃO
Pou cos conceitos evocam com tanta clareza as incertezas d a cond ição
humana nesta mu d ança d e milênio quanto os d e ciência, tecnologia e socied ad e.
A p rod u ção d e conhecim entos teve nas ú ltim as d écad as u m a aceleração d e tal
m agnitu d e qu e, para caracterizar a ciência, é m enos significativa su a longa
trajetória d e séculos que o lugar privilegiad o que ocupa no pr esente e as
incertezas qu e su scita ao se p ensar no fu tu ro. Por su a vez, a tecnologia tem sid o
sempre elemento d efinid or d o ser humano, inclusive muito mais que o próprio
conhecim ento científico, ao id entificar-se o surgimento d o técnico com a própria
origem d o hu m ano. N o entanto, nesta mud ança d e século, a prevalência d a
tecnologia na d efinição d as cond ições d a vid a hum ana parece ter alcançad o a
essência ilim itad a qu e Ortega y Gasset prognosticava em sua célebre Meditação
da técnica. Desta form a, o próprio conceito d e socied ad e só pod e ser
ad equad am ente d efinid o quand o se o contextualiza no m arco d as m ud anças
tecnocientíficas d o presente. Fen ôm enos com o globalização, nova econom ia,
socied ad e d e risco e a p róp ria relação d a h uman id ad e com o entorno natu ral só
se entend em qu and o forem p ostos em relação com as atu ais cond ições d o
processo tecnocientífico e com os m arcos d e pod eres, interesses e valores em
que se desenvolvem.
Por isso os estud os sobre ciência, tecnologia e socied ad e – habitu alm ente
id entificad os pela sigla CTS –, não são só relevantes d esd e os âmbitos
acad êm icos em qu e trad icionalm ente se têm d esenvolvid o as investigações
históricas ou filosóficas sobre a ciência e a tecnologia. Ao colocar o processo
tecnocientífico no contexto social e d efend er a necessid ad e d a participação
d emocrática na orientação d o seu d esenvolvimento, os estud os CTS ad quirem
u m a relevância pú blica d e prim eira m agnitu d e. H oje, as qu estões relativas a
ciência e a tecnologia e sua im portância na d efinição d as cond ições d a vid a
humana saem d o âmbito acad êmico para converter-se em centro d e atenção e
interesse d o conjunto d a socied ad e.
N otícias esp etacu lares relacionad as com as biotecnologias ou as tecnologias
d a com unicação suscitam o interesse públic o e abrem d ebates sociais que
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u ltrap assam a com preensão trad icional acerca d as relações entre ciência,
tecnologia e socied ad e. Antes a ciência era consid erad a como o mod o d e
d esentranhar os aspectos essenciais d a realid ad e, d e d esvelar as leis qu e a
governam em cad a parcela d o mund o natural ou d o mund o social. Com o
conhecim ento d essas leis seria p ossível a transform ação d a realid ad e com o
concurso d os proced imentos d as tecnologias, que não seriam outra coisa senão
ciências aplicad as à prod u ção d e artefatos. N essa consid eração clássica, a
ciência e a tecnologia estariam afastad as d e interesses, opiniões ou valores
sociais, d eixand o seu s resu ltad os a serviço d a socied ad e para qu e esta d ecid isse
o qu e fazer com eles. Salvo interferências d istantes, a ciência e a tecnologia
promoveriam, portanto, o bem -estar social ao d esenvolver os instrumentos
cognoscitivos e práticos para propiciar uma vid a humana sempre melhor. N o
entanto, hoje sabem os que esta consid eração linear acerca d as relações entre
ciência, tecnologia e socied ad e é excessivam ente ingênu a. As fronteiras precisas
entre estes três conceitos se d issipam à med id a que elas são analisad as com
d etalhes e contextualizad as no presente.
Ciência, tecnologia e socied ad e configuram um a tríad e conceitual m ais
com p lexa d o que uma simples série sucessiva. Em primeiro lugar, o
rom p im ento entre conhecim entos científicos e artefatos tecnológicos não é
m u ito ad equ ad o, já qu e na p róp ria configu ração d aqu eles é necessário contar
com estes. O conhecim ento científico d a realidad e e sua transform ação
tecn ológica não são processos ind epend entes e sucessivos, já que se encontram
entrelaçad os em u m a tram a em qu e constantem ente se confu nd em teorias e
d ad os em píricos com proced im entos técnicos e artefatos. Entretanto, por ou tro
lado, o tecid o tecnocientífico não existe à m argem d o próprio contexto social em
qu e os conhecim entos e os artefatos resu ltam relevantes e adqu irem valor. A
tram a tecnocientífica se d esenvolve m istu rand o -se na tram a d e um a socied ad e
em que ciência e tecnologia d esempenham um papel d ecisivo em sua própria
configuração. Portanto, o entrelaçam ento entre ciência, tecnologia e socied ad e
obriga a analisar suas relações recíprocas com mais atenção d o que implicaria a
ingênua aplicação d a clássica relação linear entre elas.
Os capítulos d este livro pretend em elucid ar os conceitos que perm item
um a aproxim ação crítica e plural d as relações entre estes três conceitos. Optou-
se por fazer um tratamento sub stantivo d e cad a u m d eles, tentand o resp ond er
sucessivamente a perguntas form ulad as nos três prim eiros capítulos (O que é a
ciência?, O que é a tecnologia?, O que é socied ad e?). Apesar d e se ter optad o
por m anter u m a apresentação separad a e nu m a ord em clássica d e cad a u m
d estes três conceitos, ao longo d os cap ítu los corresp ond entes vão-se colocand o
suas relações recíp rocas. De algu m m od o, em cad a u m d os três p rim eiros
capítu los são realizad as análises separad as d os fios que vão tecend o as
entrelaçad as relações CTS, que serão abord ad as d iretam ente no quarto capítulo
(O que é ciência, tecnologia e socied ad e?). N ele se d esenham estas qu estões
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relativas à interação entre estes três conceitos qu e foram send o su scitad os nos
anteriores, até o ponto em que se oferece um panorama geral sobre o
significad o e os temas próprios d as chamad a s perspectivas CTS.
N as páginas qu e se segu em pretend e-se abord ar um a visão geral sobre o
estado da questão em relação com os três conceitos que d ão o título a esta obra.
N o entanto, o tratamento d e cad a um d e tais conceitos não pretend e red uzir -se
a u m a introd u ção filosófica ou histórica d a ciência ou d a tecnologia ou aos
tópicos d a sociologia. O critério d e seleção d os temas tratad os em cad a um d os
três prim eiros capítu los é o d a su a relevância para u m a ad equ ad a com pr eensão
d as relações recíprocas entre estes três conceitos. São, portanto, três abord agens
sucessivas acerca d a ciência, d a tecnologia e d a socied ad e d esd e a perspectiva
d os próprios estud os CTS, ad otand o o enfoqu e crítico e interd isciplinar. Entre
os asp ectos m ais relevantes qu e ap arecem reinterad am ente nos qu atro cap ítu los
está a d imensão ed ucativa d as questões tecnocientíficas. A importância d e uma
alfabetização tecnocientífica com o cond ição necessária para tornar possível a
participação pú blica nestes tem as aparece em d iversos lu gares. De certo m od o,
a ed u cação para a cid ad ania seria o su porte im prescind ível para tornar possível
a d em ocratização d as d ecisões socialm ente relevantes em relação ao
d esenvolvim ento d a ciência e d a tecnologia.
Esta relevância d a d imensão ed ucativa está presente também na p róp ria
organização d e cad a capítulo, ond e se com binam o d esenvolvim ento d o texto
p rincip al com ou tros qu e am pliam as possibilid ad es d e estu d os, ao se
introd u zir u m a seleção d e leitu ras com p lem entares. Tam bém se inclu i ao final
d o livro u m breve glossário. Pretend e-se, assim , am pliar a u tilid ad e d este texto
para os d iver sos pú blicos qu e pod em ter interesse nestes tem as e, m ais
especificamente, para o professorad o que possa e queira participar nos
processos d e alfabetização tecnocientíficas visand o à cid ad ania, à capacitação
para uma participação d emocrática nas questões d e d esenvolvimento e d e
controle público d a ciência e tecnologia. Com esta finalid ad e, a Organização d os
Estad os Ibero-am ericanos p ara a ed u cação, a ciência e a cu ltu ra (OEI) tem
empreend id o a preparação d e d iversos mat eriais d e fund am entação teórica e
d esenvolvim ento d id ático p ara a ed u cação em CTS. Tais m at eriais form am
parte d e um curso virtual sobre CTS para cuja d ocumentação será também
utilizad a esta publicação.
Prom over a cooperação ibero-am ericana no âm bito d a ed u cação CTS é u m
p rop ósito p róp rio d a p rogram ação d e ativid ad es d a OEI, d entro d o qu al se
insere este livro. O d esejo d e contr ibu ir d e algu m m od o p ara tal p rop ósito é o
que tem animad o seus autores, d esejo que esperam compartilhar com os
leitores.
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1 - O QUE É CIÊNC IA ?
1.1 Introdução
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àqueles aspectos que tornem possível um a com preensão social d o
conhecim ento científico contem p orâneo e, d e m aneira esp ecial, su a articu lação
com o plano ed ucativo através d a concepção CTS.
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restringid o por algu m as virtud es cognitivas que lhe garantissem coerência,
continu id ad e e u m a particu lar cred ibilid ad e no m u nd o da exp eriência.
O d esenvolvim ento científico é concebid o d este m od o com o u m
processo regu lad o por u m rígid o cód igo d e racionalid ad e au tônom o, alheio a
cond icionantes externos (sociais, polític os, p sicológicos…). Em situações d e
incertezas, por exemplo, d iante d a alternativa de dois d esenvolvim entos
teóricos igu alm ente aceitáveis em u m d ad o m om ento (basead o na evid ência
em pírica), tal au tonom ia seria preservad a, apeland o-se para algu m critério
m etacientífico igu alm ente objetivo. Virtu d es cognitivas qu ase sem pre invocad as
em tais casos são as d a sim plicid ad e, d o pod er pred itivo, d a fertilid ad e teórica e
d o p od er exp licat ivo.
Dentro d a trad ição d o empirismo clássico, casos d e Francis Bacon e
John Stuart Mill, o métod o científico era entend id o basicamente como um
métod o ind utivo para o d escobrimento d e leis e fenômenos. Tratava -se,
portanto, d e um proced im ento ou algoritm o para a ind ução genética, quer
dizer, um conjunto de regras que ordenavam o processo de inferência ind u tiva
e legitimavam seus resultad os. O mét od o p erm itiria, assim , constru ir
enunciad os gerais e hipotéticos acerca d essa evid ência em pírica, a partir d e um
conjunto lim itad o d e evid ências em píricas constituíd as por enunciad os
particu lares d e observação.
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justificação post hoc e não d e gênese ou d escobrimento. Tal proced imento d e
ju stificação consiste em aplicar o m étod o hipotét ico-d ed u tivo (H-D) p ara o
d esenvolvim ento d a ciência, ond e o apoio d a experiência às h ip óteses gerais
continua send o d e caráter ind utivo, porém se trata d e uma ind ução ex post ou
ind u ção confirm atória. Em ou tras palavras, o m étod o consistiria d e u m apoio
que as hipót eses recebem d e m aneira ind ireta a p artir d a constatação d a
exp eriência basead a nas implicações contrastantes qu e d erivam d ed u tivam ente
d essas hipót eses.
Com esse novo esqu em a d e m étod o científico, m ais d e acord o com a
história d a ciência, são originad os ao longo d o século 20 d iversos critérios d e
aceitabilid ad e d e id éias em ciência, apresentad os habitu alm ente com o critérios
de cientificidade. Estes critérios tratam em geral d e operacionalizar o m étod o H-
D, fazend o d este não só um instrumento d e d emarcação para a ciência, mas
tam bém u m a ferram enta para o trabalho histórico qu e le va à reconstru ção d a
razão científica. Entre tais critérios d estaca-se o d e verificabilid ad e d e
enu nciad os, d efend id o nos p rim eiros tem p os d o Em p irism o Lógico ou
Positivismo Lóg ico, e posteriorm ente o d a cham ad a exigência d a
confirmabilid ad e crescente (p. ex. Carnap). Ou tro critério é o conhecid o com o
falseabilid ad e d e hipóteses ou teorias, proposto por Karl Popper, assim com o a
extensão que d ele faz Imri Lakatos em sua metod ologia d e program as d e
investig ação.
Para Popper, uma hipótese ou teoria só é científica se ela for falseável. Deste
m od o, em p resta-se à falseabilidade o poder de avaliação crítica, substituindo
o interesse filosófico trad icional centrad o na confirmação pelo estatuto d a
corroboração, que não resulta d a confirmação d a acumulação d e instâncias
positivas d e uma hipótese, mas sim d o fato d e ela ter sobrevivid o com êxito a
numerosas e d iversas tentativas d e se provar a sua falseabilid ad e (López
Cerezo, Sanmartín e González, 1994).
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teoria cinética d os gases etc. Fala -se aqu i d e teorias d e conju ntos d e enu nciad os,
ond e os enunciad os propriam ente científicos pod em pertencer a um a
linguagem teórica ou a uma linguagem observacional, ou aind a con stitu ir
enu nciad os-p onte qu e, com term os p ertencentes a am bos vocabu lários,
conectem os d ois níveis lingü ísticos. De outra parte, a estrutura geral d as teorias
científicas era entend id a como um sistema axiomático, no qual existiria uma
conexão d ed utiva d esd e os enu nciad os m ais gerais até os m ais específicos. Mais
aind a, a ciência m esm a, com su a d iversid ad e d e d iscip linas, era contem p lad a
com o u m grand e sistem a axiom ático cujos conceitos e postulad os básicos eram
os d a física m atem ática. A cham ad a lógica d e pred icad os d e prim eira ord em
com id entid ad e se supunha pod er oferecer o instrumental requerid o para
formalizar tais sistemas, ou melhor, para fund amentá-los e proporcionar uma
com preensão rigorosa d os m esm os. Finalm ente, o d esenvolvim ento tem poral
dest e corpo d e conhecim ento era visto com o u m avanço linear e cu m u lativo,
com o p arad igm a d e p rogresso hu m ano. Frente a tal situ ação, a reação
antipositivista d os anos 60, com argum entos com o o d a infrad eterm inação ou o
caráter teórico d a observação, p rod u ziu o aband ono d este lugar comum sobre
as teorias d a filosofia d a ciência.
Leituras complementares
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Paul Feyerabend , N . R. H anson, S. Toulm in ou W. Quine. A reação
antipositivista veio m arcad a pela d enúncia filosófica d e um a série d e problem as
qu e tornavam realm ente com p licad o m anter os pressu postos raciona listas
trad icionais. Vam os analisar brevemente alguns d esses problemas.
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Dentro d a p róp ria filosofia tend e-se recentem ente a consolid ar u m
m aior interesse p elo contexto. Frente às trad icionais visões intelectu alistas d a
ciência como saber ou como métod o, no atual estud o filosófico d a ciência existe
u m crescente interesse pela análise d esta com o prática, com o coleção d e
d estrezas com um suporte instrumental e teórico.
Produz-se assim u m a m u d ança d e ênfase nos d etalhes d as p ráticas
científicas p articu lares, ressaltand o a heterogeneid ad e d as culturas científicas
em contraposição ao trad icional projeto red u cionista d o Positivism o Lógico.
Deste m od o, com o afirm a I. H acking (em su a contribu ição a Pickering, 1992),
u m a teoria científica m ad u ra d o tip o referid o anteriorm ente (a teoria cinética
d os gases), consistiria nu m aju ste m ú tu o d e d iversos tipos d e elem entos (d ad os,
equipe, teorias) até estabilizar-se em um “sistem a sim biótico” d e m útua
interd ep en d ência. Dad o que os aparatos e instrumentos d esempenham um
p ap el cru cial em tal estabilização, e d ad o tam bém o caráter d íspar e contingente
deste matériel (nos term os d e H acking, 1983), d ificilm ente p od e-se propor um
algoritm o que resum a isso que cham am os “fazer ciências”.
N . Shaffer (1996) propõe falar d e “heurística” científica m ais d o que d e
um critério unificad o d e ciência, entend end o por tal um conjunto heterogêneo
d e métod os subótimos para alcançar fins particulares sobre circunstâncias
d istantes d e serem id eais, incluind o entre estas as limitações impostas pelo
tem po ou pelo d inheiro, o conhecim ento teórico assim ilad o, as técnicas
experim entais, os instrum entos d isponíveis etc.
Leituras complementares
LATOUR, B.: “Dad m e un laboratório y levantaré el m und o”, <h ttp ://w w w .cam p u s-
oei.org/cts/latou r.htm >.
FULLER, S.: “La epistem ología socializad a”, <h ttp ://w w w .cam p u s-
oei.org/cts/fu ller.htm >.
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p rática “d os p rocessos”, com om issão d os conteú d os.
• Visão rígida. Ap resen ta-se o “Métod o Científico” com o u m conju nto d e etap as qu e
se d eve segu ir m ecan icam en te. N o en sin o se ressalta o qu e se su p õe ser u m
tratam ento qu antitativo, u m controle rigoroso etc., esqu ecend o – ou inclu sive
rechaçand o – tu d o o qu e im p lica invenção, criativid ad e, d ú vid a… N o p ólo
op osto d esta visão rígid a e d ogm ática d a ciência com o d escobrid ora d a “verd ad e
contid a nos fatos”, se ap resenta u m relativism o extrem o, tanto m etod ológico
(“tu d o vale”, não existem estratégias esp ecíficas no trabalho científico), com o
con ceitu al (n ão h á u m a realid ad e objetiva qu e p erm ita contrastar a valid ad e d as
constru ções científicas: a ú nica base na qu al se ap óia o conhecim ento é o consenso
d a com u n id ad e d e p esqu isad ores n esse cam p o).
• Visão aproblemática e aistórica . Transm item -se conhecim entos já elaborad os, sem
m ostrar qu ais foram os p roblem as qu e geraram su a constru ção, qu al foi su a
evolu ção, as d ificu ld ad es etc., e m enos aind a as lim itações d o conhecim ento atu al
ou as p ersp ectivas fu t u ras.
• Visão exclusivamente analítica. Ressalta a n ecessária p arcialização d os estu d os, seu
car áter sim p lificativo, e esqu ece os esforços p osteriores d e u nificação e d e
constru ção d e corp os coerentes d e conhecim entos cad a vez m ais am p los, o
tratam ento d e p roblem as d e fronteira entre d istintos d om ínios qu e p od em chegar
a u nir-se, etc. Contra essa visão p arcializad a têm sid o elaborad as p rop ostas d e
ed u cação integrad a d as ciências, qu e tom am a u nid ad e d a m atéria com o p onto d e
p artid a, esqu ecend o qu e o estabelecim ento d e tal u nid ad e constitu i u m a
conqu ista r ecente e nad a fácil d a ciên cia.
• Visão acumulativa linear. Os conhecim entos ap arecem com o fru tos d e u m
conhecim ento linear, ignorand o as crises, as rem od elações p rofu nd as. Ignora-se,
em p articu lar, a d escontinu id ad e rad ical entre o tratam ento científico d os
p roblem as e o p en sam en to ordin ário.
• Visão individualista. Os conhecim entos científicos ap arecem com o obras d e gênios
isolad os, d esconhecend o-se o p ap el d o trabalho coletivo, d os intercâm bios entre
equ ip es… Esta visão ind ivid u alista se ap resenta associad a, algu m as vezes, a
concep ções elitistas.
• Visão “velada”, elitista. Ap resen ta-se o trabalho científico com o u m d om ínio
reservad o a m inorias esp ecialm ente d otad as, transm itind o exp ectativas negativas
p ara a m aioria d os alu nos, com claras d iscrim inações d e natu reza social e sex ual
(a ciência é ap resentad a com o u m a ativ id ad e em inentem ente “m ascu lina”).
Con tribu i-se p ara este elitism o escond end o a significação d os conhecim entos
ap ós o ap arato m atem ático. N ão são realizad os esforços p ara tornar a ciên cia
acessível (com eçan d o com tratam entos qu alitativos, significativos), nem p or
m ostr ar seu caráter d e constru ção hu m ana, no qu e não faltam confu sões nem
erros, com o os erros d os p róp r ios alu nos.
• Visão de “sentido comum” . Os conhecim entos são ap resentad os com o claros,
óbvios, “d e sen tid o com u m ” esqu ecend o-se qu e a constru ção científica p arte,
p recisam ente, d o qu estion am ento sistem ático d o óbvio.
• Visão descontextualizada, socialmente neutra . São esqu ecid as as com p lexas relações
CTS e são p rop orcionad as im agens d os cientistas com o se fossem seres “acim a d o
bem e d o m al”, enclau su rad os em torres d e m arfim e d istantes d as necessárias
tom ad as d e d ecisão. Com o reação p od e-se cair em u m a visão excessivam ente
sociológica d a ciência qu e d ilu i p or com p leto su a esp ecificid ad e (com base em
Vilches; Fu rió, h ttp ://w w w .cam p u s-oei.org/cts/ctsed u cacion.htm ).
20
1.3 A dinâmica da ciência
21
com novos olhos os problemas d o conhecimento aos quais se referia tal ciência.
Um a vez estabilizad o o parad igm a científico, a ciência tend e a converter -se
outra vez em ciência normal, para iniciar novamente o curso d e acum ulação d e
conhecim entos e d e problem as que encerra o d esenvolvim ento d o pensam ento
científico.
22
PÉREZ RAN SAN Z, A.R. (1999): Kuhn y el cambio científico. México, FCE.
23
ad equad amente as peculiarid ad es d o mund o científico. De fato, o êxito d o
Program a Forte significa u m a clara am eaça p ara a reflexão ep istem ológica
trad icional (veja, por exem plo, as irad as reações d e filósofos com o Bunge, 1983,
e, em g eral, as cham ad as “gu erras d a ciência”, em Fu ller, 1999).
Os esforços d os sociólogos d o conhecim ento científico foram
encam inhad os, então (d esd e a segund a m etad e d a d écad a d e 1970), para pôr em
prática o Program a Forte aplicand o-lhe a reconstrução sociológica d e
numerosos episód ios d a história d a ciên cia: o d esenvolvimento d a estatística, a
inteligência artificial, a controvérsia H obbes-Boyle, a investigação d os quarks, o
registro d as ond as gravitacionais, a origem d a mecânica quâ n tica etc.
O program a teórico em sociologia d o conhecim ento científico,
enunciad o por Bloor, foi posteriormente d esenvolvid o por um programa mais
concreto postulad o p or H arry Collins na Universid ad e d e Bath nos p rincíp ios
d os anos 1980: o EPOR (Empirical Programme of Relativism – Program a Em pírico
d o Relativism o), centrad o no estu d o em p írico d e con trovérsias científicas. A
controvérsia na ciência reflete a flexib ilid ad e interp retativa d a realid ad e e d os
p roblem as abord ad os p elos conhecim entos científicos, d esveland o a
im portância d os processos d e interação social na percepção e com preensão
desta realidade ou na solução d estes problem as. O EPOR constitu i a m elhor
interpretação d o enfoque no estud o d a ciência d enom inad o “construt ivism o
social”.
24
Bruno Latour e Steve Woolgar, em sua obra A vida no laboratório
(1979/1986), defend em que o estud ioso d a ciência se converta em um
antropólogo, e, como tal, que entre no laboratório, com o faria em um a tribo
primitiva totalmente d istante d e sua realid ad e soc ial, para d escrever d o mod o
m ais p u ro p ossível a ativid ad e qu e os cientistas e tecnólogos d esenvolvem ali.
Em conseqüência, o imperat ivo d a investigação consiste em abrir a “caixa-
preta” d o conhecim ento e d escrever o que há lá d entro. As palavras d e Latour e
Woolgar constituem a melhor ilustração d esta tese:
25
exem plo, qu and o na atu alid ad e algu m a ad m inistração elabora u m a
determ inad a p olítica social, u tiliza o conhecim ento científico p rod u zid o p ela
sociologia e ec onom ia. Mais tard e a avaliação d e tal política se realiza
u tilizand o tam bém conhecim entos científicos. Pod e-se afirm ar d e form a geral
que praticamente não existe nenhuma área no âmbito d as políticas públicas em
que o conhecimento científico não seja relevante.
O conhecim ento científico não é somente um d os fatores que influem na
geração e resgate d e tecnologias, é tam bém u m d os recu rsos com qu e contam as
socied ad es contem porâneas para controlar os efeitos não d esejad os d o
d esenvolvim ento tecnológico e reorientá -lo. A ativid ad e científica
com pletam ente orientad a a fornecer conhecim entos para assessorar na
form u lação d e políticas é conhecid a com o ciência reguladora. Um a p arte d o
trabalho d este tipo d e ciência está relacionad a com a regulação d a tecnologia.
As análises d e impacto ambiental, a avaliação d e tecnologias, as análises d e
riscos etc. são exemplos d e ciência regu lad ora.
O estu d o acad êm ico d a ciência raram ente tem se ocu pad o d a análise d a
ciência regu la d ora. Este tip o d e ativid ad e científica ap resenta, no entanto,
p roblem as filosóficos m uito interessantes. A relevância d os com prom issos
m etod ológicos para o conteúd o d as afirm ações d e conhecimento e a interação
entre ativid ad es epistêm icas não-epistêmicas são dois exemplos.
Uma questão sumamente importante é a que tem a ver com a
respon sabilid ad e d os cientistas na hora d e resolver conflitos qu e su rgem a
partir d a interação entre ciência e socied ad e. Geralm ente, su p õe-se qu e aqu eles
temas d os quais o conhecimento científico se utiliza para a resolução d e
problem as políticos (constru ir ou não um transporte supersônico, realizar ou
não uma viagem à Lua) pod em d ivid ir-se claramente em d ois âmbitos: o
científico e o político. O primeiro trata d e d estacar quais são os fatos (por
exem plo se é física e tecnicam ente possível realizar a viagem até a Lua), o
político d eve assinalar que d ireção tem d e tom ar a socied ad e (com o pod e ser a
pertinência d e subvencionar ou não tal projeto lunar).
N o entanto, esta forma d e analisar o binômio ciência -sociedade é
excessivam ente sim ples e incapaz de recolher tod a a com p lexid ad e d as relações
entre a ciência e a socied ad e. Inclu sive naqu elas situ ações nas qu ais é possível
reconhecer respostas claram ente científicas a qu estões envolvid as em assu ntos
políticos, a possibilid ad e d e estabelecer uma d istinção brusca ent re o âmbito
científico e o âmbito político é realmente complicad a tanto quanto é muito
d ifícil separar os fins d os meios. O que se consid era que é um fim político ou
social term ina por ter num erosas repercussões nas análises d o que d everia estar
sob a ju risd ição d a ciência, e cad a u m a d essas repercu ssões têm d e ser avaliad as
em termos políticos e morais.
26
1.4.1 Transciência
27
trasnscientífica que, aind a que se possa colocar em term os estritam ente
científicos, é pouco prová vel que a ciência possa oferecer alguma resposta
d efinitiva.
A segund a razão se refere à impossibilid ad e d e extrapolar o
comportamento d os pr otótipos para o com portam ento d os sistem as em escala
real sem uma perd a d e precisão. Segu n do Weinberg, a engenharia é um cam po
qu e se d esenvolve tão rapid am ente qu e habit ualm ente requ er qu e sejam
tom ad as d ecisões basead as em d ad os incom pletos. Os engenheiros trabalham
su bm etid os à d u reza d e ap ertad as agend as e rígid os orçam entos, e p or isso não
se pod em perm itir ao lu xo d e exam inar cad a u m a d as qu estões ao nível qu e o
rigor científico exige. H á ocasiões em que um projeto tem d e esperar os
resultad os d e investig ações científicas futuras. N o entanto, o cientista precisa
tomar as d ecisões sobre uma base incom p leta d os d ad os d e qu e d isp õe. Isto é, a
incerteza é inerente à engenharia (Weinberg, 1972, p .6). Os engenheiros se
movem em contextos d e incertezas sempre que se vêem envo lvid os trabalhand o
com protótipos. Quand o se trabalha com protótipos sem pr e ap arece o risco d a
perd a d e precisão na hora d e extrapolar os d ad os a situ ações reais. Qu and o se
trata d e d ispositivos relativam ente pequenos, por exem plo o d esenvolvim ento
d e um avião, é possível construir protótipos em escala real, d e m od o que a
perda d e precisão pod e ser consid erad a quase nula. Porém , quand o se trabalha
com grand es d ispositivos ou grand es construções, como por exemplo uma
grand e represa, não se pod em elaborar protótipos em escala real, e isto se
trad u z nu m consid erável au m ento d a incerteza com respeito às repercu ssões d e
tais d isp ositivos ou construções.
As questões d e valor são relativas. Por exem plo: d e que tipo d e
problema deveria oc u par-se a ciência? Destas qu estões se ocu pa, segu nd o
Weinberg, a axiologia d a ciência, que d e m aneira geral abord a qu estões sobre as
p riorid ad es d a ciência. Tratam -se d e problem as qu e se d iscu tem sob a rótu lo
d os critérios d e escolha. Então, com o as qu estões d e valor não pod em ser
trabalhad as com o questões d e fato, elas transcend em claram ente à ciência. Isto
é, segu nd o Weinberg, existem três âm bitos nos qu ais as qu estões transcend em à
ciência. N o p rim eiro, a u tilização exclu siva d a ciência é inad equ ad a p orqu e as
respostas são muito custosas e exigem tempo d emasiad o. Em segund o, a
u tilização exclu siva d a ciência é inad equ ad a porqu e a m atéria qu e estu d a é
d em asiad am ente variável e não d ispõe d e tod os os d ad os. E, em terceiro, a
utilização exclusiva d a ciência é inad equad a porque ela trata d e questões que
implicam juízos éticos, políticos e estéticos.
N o âm bito d a ciência, somente os cientistas pod em participar na gestão
interna d a ciência. Agora, qu and o nos m ovem os em u m contexto em qu e a
ciência se m istu ra com as d ecisões políticas em torno d e qu estões qu e afetam
d iretamente a socied ad e, estas questões não po d em ser estabelecid as somente
por cientistas. O público, seja m ed iante a participação d ireta ou através d e
28
representantes, d eve envolver-se no d ebate p orqu e se trata d e qu estões qu e
afetam a tod os, e não som ente aos cientistas. Para referir-se a esta situa ção,
Weinberg introd uz a expressão d a “república d a transciência”. Segund o ele, tal
república tem elementos d a “república política”, por um lad o, e d a “república
d a ciência”, por ou tro, m otivo p elo qu al a estru tu ra d a “rep ú blica d a
transciência” tem d e refletir, em grand e m ed id a, a estrutura política d a
socied ad e em que opera (Weinberg, 1972, p.14).
29
d a participação d e cientistas não governam entais e d e outros agentes sociais
nos processos regulad ores m elhorará não só a qualid ad e, m as tam bém a
objetivid ad e d os processos científicos, d e m od o que a ciência possa utilizar
proced im entos m ais sensíveis às incertezas e ind eterminações próprias d a
ciência regu lad ora (Ja sanoff, 1995, p. 280).
30
1.5 Conclusão
1.6 Bibliografia
31
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33
222. Citad o por la versión WEIN BERG, A. M. (1992): Nuclear reactions: science
and transcience. N ueva York, The American Institute of Physics.
34
2 - O QUE É A TECNOLOGIA?
2.1 Introdução
35
especificid ad e d e seus próprios d iscursos até a form ação integral que se alm eja
para crianças, jovens e, em geral, para a socied ad e.
A com preensão d esse fenôm eno tem sid o d enom inad a com freqü ência
com o alfabetização científico-tecnológica. Em tod o caso, bu sca-se exp lorar a
influ ência d as forças sociais, políticas e cu ltu rais na ciência e na tecnologia, e
examinar o impacto que as tecnologias e as id éias científicas p od em ocasionar à
vida das pessoas.
A alfabetização im p lica u m a reflexão exp lícita acerca d os valores
tecnológicos, a form a com o eles são gerad os e com o circulam nos d iferentes
contextos d a socied ad e, assim como nas d istintas práticas e saberes. Para isso
são necessárias análises interd isciplinares, m ais especialm ente o d ebate
organizad o, entend id o esse último como o d esenvolvimento d e processos d e
d iscu ssão qu e im p liqu em colocar em cena os d iferentes atores e p ressu p ostos
argum entativos que buscam legitim ar um a ou outra posição valorativa.
N a seqü ência é apresentad a u m a conceitu ação su cinta d a tecnologia,
com base em seus com ponentes epistem ológicos e sociais, e, por conseguinte,
sua articulação com a natureza hum ana, com a técnica e com a ciência.
Ad icionalm ente, a d istinção entre tecnologia, conhecim ento tecnológico,
m u d anças tecnológicas e avaliação d e tecnologias p erm itirá com p lem entar a
visão d e conjunto que se espera oferecer neste capítulo.
36
coletores teve qu e estar acom p anhad a necessariam ente p elo d esenvolvim ento
d e um a capacid ad e com unicativa incom paravelm ente superior a d e qualquer
outro m am ífero. Mas nem a com plexid ad e d a organização social, nem o
consegu inte d esenvolvim ento lingü ístico, teriam resu ltad o em u m a esp écie cu ja
ad aptação ao seu entorno estivesse limitad a pelas cond ições físicas d e sua
anatom ia. O fato d e u m m acaco arborícola se d eslocar para terrenos abertos e se
converter em um temível pred ad or não teria sid o possível se suas mãos não
tivessem em punhad o habilm ente ped ras para lançar em suas pr esas ou pau s e
ossos para matá-las. Assim , esses instru m entos ru d im entares, convertid os em
tochas, lanças e punhais, foram as prim eiras ferram entas técnicas que
su bstitu íram as garras d e ou tros p red ad ores m ais bem d otad os
anatomicamente.
Esse foi, d e acordo com a evolucionista, somente o princípio. Os
hominíd eos e seus d escend entes foram d esenvolvend o formas d e vid a nas
qu ais a incid ência d a seleção natu ral nas variações anatôm icas características d a
evolução d e tod os os seres vivos d eixou d e afetá-los porqu e as próteses técnicas
corresp ond entes a cad a situ ação term inaram p or su bstitu ir a evolu ção natu ral.
Essa nova evolu ção, neste caso, d e natu reza cu ltu ral, consistiria p recisam ente
na multiplicação e d iversificação d os instrumentos e atos técnicos para a
ad aptação a qualquer entorno.
O d om ínio d o fogo, o cozim ento d os alim entos, a d om esticação d os
anim ais, a agricultura, o tear, a cerâm ica, a constru ção d e m orad ias, a fu nd ição
d e m etais… são som ente alguns d os elem entos significativos d a longa cad eia d e
atos técnicos qu e têm caracterizad o a evolu ção cu ltu ral d os hu m anos. Por tu d o
isso, é amplamente aceito que o ser humano é antes d e tud o um homo faber, e
m ais (e talvez antes qu e), u m homo sapiens. Inclu sive cabe estabelecer qu e a
própria racionalid ad e humana seja, ela mesma, uma conseqüência d o
d esenvolvimento técnico.
O fenômeno técnico pod e ser analisad o, em suas origens, como prod uto
da evolução biológica. E a evolução humana pode ser interpretada, com base
numa tecnicid ad e orgânica, como fenômeno evolutivo, entendida como a
organização funcional que implica a coord enação entre órgãos relacionad os
que asseguram ao ser vivo informações vitais, órgãos e membros preênseis
que asseguram que ele conquiste seus alimentos e dispositivos de locomoção
que permitem a exploração do meio exterior. Neste contexto, será a evolução
d o campo anterior nos animais a característica mais importante d esd e o ponto
de vista das conseqüências para o desenvolvimento da tecnicidade. O campo
anterior compreend e d ois pólos: um facial e outro manual, os quais atuam em
estreita cooperação nas operações técnicas mais elaborad as nos d iferentes
grupos d e organismos. Por exemplo, os carnívoros, os insetívoros ou os
roed ores utilizam a ativid ad e manual para and ar na terra ou em árvores tanto
quanto para a ativid ad e preênsil. No homem, o campo anterior terá
importantes conseqüências para o posterior d esenvolvimento técnico-
37
econôm ico da organização social, pois a tecnicidade manual responde à
liberação técnica d os órgãos faciais, os quais ficam d isponíveis para a fala, tão
logo a evolução permita que os órgãos da fala e o olfato não precisem mais ser
utilizad os para a d etecção e captura d e alimentos. A uma maior liberação d a
mão correspond e um cérebro maior, pois liberação manual e red ução d os
limites d a abóbad a craniana são d ois termos d e uma mesma equação. Para
cad a espécie fica d eterminad o um ciclo entre seus meios técnicos, ou melhor,
seu corpo e seus meios d e organização, ou seja, seu cérebro. N esta interação
d inâmica surgiu a ferramenta, incorporada às estruturas biológicas do
hom em .
A técnica tem perm itid o a transform ação d o m eio ond e os hum anos
vêm d esenvolvend o sua vid a, uma vez que eles próprios têm provocad o a sua
transformação. Isto porque a vid a humana, d iferentemente d a d os d emais
anim ais, não está d eterm inad a e lim itad a pelas cond ições am bientais às qu ais
cad a esp écie tem se ad ap tad o. Parece ser p róp rio d a esp écie hu m ana a contínu a
ad aptação a qu alqu er cond ição am biental m ed iante a constru ção técnica d e
artefatos e prod utos que permit em que sua vid a seja possível em tod os os
lugares d o planeta, e inclusive fora d ele.
A técnica cria obras que têm a pretensão d e perd urar; inclusive a
técnica perm ite prolongar a vid a hum ana m uito além d os d esígnios d o acaso
natural ou d o d estino d ivino. A técnica tem p erm itid o m elhorar a vid a hu m ana,
aind a que também haja técnicas capazes d e piorá-la, porque, para o bem ou
para o m al, tem recriad o as cond ições d essa existência. Por últim o, o
conhecimento e a investigação não são possíveis sem o d omínio prévio d e certas
técnicas.
Em certo sentid o, a existência hum ana é um prod uto técnico tanto com o
os próprios artefatos qu e a fazem possível. N ão se pod e pensar, portanto, em
separar a técnica d a essência d o ser hum ano. Seguram ente a técnica é um a d as
p rod u ções mais características d o homem, mas também é certo que os seres
humanos são, ao que parece, o prod uto mais singular d a técnica.
Leituras complementares
38
2.3 O significado da tecnologia
2
Dicionário Aurélio Eletrônico, Editora Nova Fronteira, V.2.0, julho de 1996.
39
conhecim ento científico. O term o “tecnologia” seria utilizad o, então, para
referir -se àqu eles sistem as d esenvolvid os levand o em conta esse conhecim ento
científico.
Os proced im entos trad icionais utilizad os para fazer iogurte, queijo,
vinho ou cerveja seriam técnicas, enquanto a m elhoria d estes proced im entos, a
partir d a obra d e Pasteur e d o d esenvolvim ento d a m icrobiologia ind ustrial,
seriam tecnologias. O m esm o pod er-se-ia d izer d a seleção artificial trad icional
(d esd e a revolu ção neolítica), e a m elhoria genética que consid era as leis d a
herança form u lad as por Mend el. A tecnologia d o DN A recom binad o seria u m
passo posterior basead o na biologia m olecular.
O tem a d a tecnologia em sua relação com a ciência tem sid o consid erad o
através d e d iferentes pontos d e vista, d os quais N iniluoto (1997) nos
oferece uma classificação:
Trad icionalm ente, no âm bito acad êm ico era habitu al d efinir tecnologia
com o ciência aplicad a. Com base nessa perspectiva, a tecnologia era analisad a
com o conhecim ento prático qu e d erivava d iretam ente d a ciência (conhecim ento
teórico). Um a im p ortante trad ição acad êm ica resp ald a esta im agem da
tecnologia: o Positivism o Lógico. Para os positivistas, as teorias científicas eram
40
sobretu d o conju ntos d e enu nciad os qu e tratariam d e explicar o m u nd o natu ral
d e um mod o objetivo, racional e livre d e qualquer valor externo à própria
ciência. O conhecim ento científico, p ara qu em segu e essa lógica filosófica, é
visto com o u m processo progressivo e acu m u lativo, articu lad o através d e
teorias cad a vez mais amplas e precisas que iam subsumind o e substituind o a
ciência d o p assad o. Em algu ns casos, as teorias científicas – sob a lógica d o
p ositivism o – p od eriam ser ap licad as gerand o d esse m od o tecnologias. N ão
obstante, a ciência pura em princípio não tinha nad a a ver com a tecnologia,
posto qu e as teorias científicas eram u m alvo anterior à qu alqu er tecnologia. Por
este motivo não pod er-se-ia d izer que existe uma d eterminad a tecnologia sem
u m a teoria científica qu e a resp ald e. Porém , p od eriam existir teorias científicas
sem contar com tecnologias. N a literatura especializad a, essa forma d e ver a
tecnologia é d enom inad a d e “im agem intelectualista d a tecnologia”.
A p artir d essa im agem intelectu alista, d ep reend e-se qu e as teorias
científicas são valorativam ente neutras, ninguém pod e exigir responsabilid ad es
d os cientistas a respeito d e su as aplicações, qu and o são postas em p rática. Em
tod o caso, se tivesse qu e existir algu m tipo d e responsabilid ad e, esta d everia
recair sobre aqueles que fazem uso d a ciência aplicad a, isto é, d a tecnologia. As
tecnologias, com o form as d e conhecim ento científico, são valorativam ente
neutras.
Em su a análise d a historiografia d a tecnologia, John M. Stau nd enm aier
(1985) argu m enta qu e a tese d a tecnologia com o ciência ap licad a tem sid o
atacad a em d iferentes frentes. Seus principais argumentos são os seguintes:
41
• A especificidade do conhecimento tecnológico. Aind a que existam fortes
p aralelism os entre as teorias científicas e as tecnológicas, os
pressupostos subjacentes são d iferentes. Segund o Layton, a
tecnologia, por su a p róp ria natu reza, é m enos abstrata e id ealizad a
que a ciência.
• A dependência da tecnologia das habilidades técnicas. A d istinção entre a
técnica e a tecnologia se realiza em função d a conexão d esta última
com a ciência (tanto em relação com o conhecim ento com o com a
metodologia, o uso d e ferramentas teóricas, etc.). Esta d istinção não
im plica qu e na tecnologia atu al não d esem penhem nenhu m papel as
habilid ad es técnicas.
Estas qu atro linhas d e argu m entação id entificad as por Stau d enm aier
não negam necessariam ente qu e exista relação entre a ciência e a tecnologia; o
que negam é que esta relação seja exclusivamente a que se expressa na
com preensão d a tecnologia com o ciência aplicad a.
Aind a qu e a conceitu ação d a tecnologia com o ciência aplicad a tenha
sid o historicam ente m u ito im portante, hoje em d ia é d ifícil d e d efend ê-la.
Shru m (1986) assinala qu e parece existir u m consenso no entend im ento d a
ciência e d a tecnologia com o d u as su bcu ltu ras sim etricam ente
interd epend entes. Mas por d ebaixo d este aparente consenso existem d ois
pontos d e vista d iferentes. Um d efend e a d istinção d os m étod os em pregad os,
d os prod utos obtid os, d os objetivos estabelecid os etc. O outro d efend e a
id entid ad e entre ciência e tecnologia.
Pelo que se percebe, a imagem d a tecnologia como ciência aplicad a
contribu íd o para qu e trad icionalm ente se d ê pou ca im portância à análise d a
tecnologia. De fato, quand o se sustenta que a tecnologia não é m ais d o que
ciência aplicad a, é suficiente a análise d a ciência, já que isto nos d ará as chaves
para entend er também a tecnolog ia (Agazzi, 1980). Se a ciência é
valorativam ente neu tra, então os artefatos, prod u tos d e su a aplicação, tam bém
o serão; ou aind a, será bom o uso que se faça d eles, pois não geram problemas
éticos, p olíticos e sociais. Dad a esta tese sobre a neu tralid ad e da ciência e d a
tecnologia, não é estranho que se tenha favorecid o, a partir d e posições
trad icionais, um a im agem d a evolução d a tecnologia que d efend a a d istinção
entre “eficácia interna” e “interferência externa”, pretend end o converter a
eficácia no ú nico gu ia d o d esenvolvim ento tecnológico (González García, Lóp ez
Cerezo e Luján, 1996, pp. 127-132).
42
au tonom ia d a tecnologia, já qu e esta se encontra fora d e controle, e
então o que se d eve fazer é d estruí-la para voltar a um a socied ad e
m enos tecnológica e m ais hu m anizad a. O tecnootim ista tem u m a
posição contrária. É precisam ente essa au sência d e controle, seu caráter
autônomo, o que assegura a eficácia d a tecnologia, e, por conseguinte,
sua ação benéfica frente a qualquer perturbação que ela pod e gerar. N o
m om ento pod e-se assinalar qu e a id éia d e u m a investigação científica
objetiva, neutra, prévia e ind epend ente d e suas possíveis aplicações
práticas pela tecnologia é uma ficção id eológica que não tem
correspond ência com a ativid ad e real d os projetos d e pesqu isa nos
quais os componentes científicos teóricos e tecnológicos p ráticos
resu ltam qu ase sem p re ind issociáveis d o contexto social (González
García, López Cerezo e Luján, 1996, p. 133).
Leituras complementares
43
d epend em, d e alguma maneira, d a visão que se tenha sobre a natureza d a
tecnologia. Para abord ar este problem a é fu nd am ental d istingu ir com precisão o
que é a tecnologia e o que é o conhecimento que a faz possível (Qu intanilla e
Bravo, 1997; Qu intanilla, 1998). Esta d istinção é básica para pod er-se analisar o
processo d e m ud ança tecnológica e para caracterizar o conhecim ento
tecnológico como tal.
De m aneira m ais precisa, pod em os d efinir tentativam ente a tecnologia
como uma coleção d e sistemas projetad os para realizar alguma função. Fala -se
então d e tecnologia com o sistema e não som ente com o artefato, para inclu ir tanto
instru m entos m ateriais com o tecnologias d e caráter organizativo (sistem as
im positivos, d e saúd e ou ed ucativos, que pod em estar fund amentad os no
conhecim ento científico).
44
segu ros, pu blicid ad e, regu lam entos, gu ar d as d e trânsito etc. N ão é
p ossível entend er u m a tecnologia sem ter em conta a tram a
sociotécnica d a qual faz parte. Os enfoques para o estud o d a
mud ança tecnológica d esenvolvid os por H ughes, Latour, Rip e
Callon enfatizam esta característica.
45
O conceito d e prática tecnológica “… vem a ser a aplicação do conhecimento
científico ou organizado nas tarefas práticas por meio de sistemas ordenados
que incluem as pessoas, as organizações, os organismos vivos e as máquinas”
(Pacey, 1983, p. 21).
Leitura complementar
46
2.4.2 O conhecimento tecnológico
47
d a d inâm ica d e flu id os, no caso d as su bstantivas, e a teoria d a
d ecisão e a pesquisa operacional, nas teorias operativas. N estas
últimas, não se trata d e aplicação d a ciência e sim d o métod o d a
ciência, pelo fato d e serem teorias d a ação.
48
2.5 Filosofia da tecnologia
3
Preferimos manter a grafia “engenheiril”, no lugar, por exemplo, de “engenheira”, por considerarmo s
ser esta forma já bastante aceita e compreendida, além de ser compacta, portando já significado próprio
em português.
49
linguagem, estad o) como progressiva projeção d os órgãos d o corpo humano.
Em uma seção d a fenomenologia d o espírito, H egel analisa a d inâmica
d o que consid era uma d as relações sociais fund amentais: a que se prod uz entre
o amo e o servo. Segund o H egel, o am o arriscou na luta seu ser físico e, por
conseguinte, ao vencer se transformou em amo. O servo teve med o d a morte e,
na d errota, com o intuito d e salvar sua vid a física, aceitou a cond ição d e servo, e
se converteu em um ser d epend ente d o amo. A partir d este momento, o amo
utilizou o servo, o fez trabalhar para ele, lim itand o-se a gozar d as coisas qu e o
servo construía. N este tipo d e relação se levou a cabo um movimento d ialético,
que acabaria por provocar uma inversão d e papéis. De fa to, o amo terminaria
por tornar-se d epend ente d as coisas, d eixaria d e ser ind epend ente, porque já
não saberia fazer o que fazia o servo, enquanto este, ao fazer as coisas, acabaria
por tornar-se ind epend ente d elas. Quer d izer, o servo, através d e seu trabalho
técnico, alcançaria sua própria d ignid ad e, ind epend entem ente d a opressão d e
outros seres humanos. Para H egel, med iante essa tarefa, o servo era capaz d e
transform ar o m u nd o, qu e d esse m od o era m u ito m enos nobre qu e ele m esm o.
Do trabalho d o servo surgiu o d esejo pelo d esenvolvimento tecnológico, o qual
seria capaz d e libertá-lo d o entorno físico, o que possibilitaria o nascim ento d a
id éia d e uma nova socied ad e livre e igualitária.
Ernst Kapp resgata essa tese d a reflexão hegeliana para form ular sua
filosofia d a tecnologia. Para Kapp, as ferram entas e artefatos d evem entend er -se
como d iferentes classes d e projeções dos órgãos humanos. É um a id éia presente já
nos escritos d e Aristóteles; no entanto, foi Kapp quem lhe d eu uma elaboração
d etalhad a e sistemática.
Assim, a ferrovia é d efinid a como uma exteriorização d o sistema
circulatório, e o telégrafo como uma extensão d o sistema nervoso. Contud o, a
filosofia d e Kapp não se red uz a elaborar uma analogia d os instrumentos e d os
órgãos hum anos, send o que um d os pontos centrais d e sua filosofia é a
aplicação d e sua teoria a d iferentes form as d e organização social, estabelecend o,
por exemplo, que o Estad o é uma extensão d a vid a mental.
50
unicam ente d e “instrum entos”. N ão cabe um a d istinção precisa entre o
“órgão d a fisiologia” e o “instrum ento d a técnica”. Do mesmo mod o
que na d ivisão interna d o corpo d enominamos órgãos aquelas
form ações qu e se ocu pam d e proporcionar nu trição e su stento, assim
também àqueles sensores que med eiam as passagens entre exterior e
interior na percepção d as coisas correspond e a d enom inação d e órgãos
d a estru tu ra externa, d as extrem id ad es (Kapp, 1877, p. 111).
51
converte ocasionalmente em homem d e Estad o. N o entanto, o tecnólogo
tem que perm anecer sem pre com o tecnólogo […].
Esta ampliação d a profissão técnica parece ser não somente bem -vind a,
mas também um a conseqü ência necessária d o enorm e crescim ento
econômico d a socied ad e mod erna, e é um bom sinal d e sua futura
evolução.
A pergu nta su rge em torno d e se o tecnólogo m od erno está preparad o
para respond er às novas d emand as. Tal pergunta parece d ifícil d e ser
respond id a afirmativamente, porque não somente inclui o manejo d e
nossa especialização no sentid o d e tecnologia prática, com o tam bém faz
alusão a uma visão d e grand e alcance: as interações entre tecnologia e
socied ad e (Engelmeier, Allgemeine fragen d er technick, Dinglers
Polytechnisches Jou rnal, 31’1, n.2, 14 d e janeiro d e 1899, p . 21; citad o
por Mitcham , 1989a, pp. 32-33).
52
Com o assinala Mitcham (1994), p od e-se resumir a filosofia da
tecnologia d e Dessauer através d a comparação d e sua obra com a d os filósofos
d a ciência, qu e se ocu p avam d e analisar a m etod ologia d o conhecim ento
científico ou d iscutiam as im plicações d e d eterm inad as teorias para a
antrop ologia e a cosm ologia. Segu nd o Dessau er, am bos enfoqu es estavam
equ ivocad os ao não reconhecer o pod er d o conhecim ento técnico, qu e se havia
transform ad o, no m u nd o m od erno, em u m a nova form a d e existir p ara os seres
humanos.
Em 1926, Dessa uer publicou seu livro Philosophie der Technik, que teve
u m a grand e d ifu são até qu e foi proibid o pelo regim e nacional-socialista. Em
1956, ed ita um novo livro – Streit um die Technik (Discussão sobre a Técnica).
N ão obstante, no prólogo d o m esm o assinala q u e, na realid ad e, trata -se d e u m a
reed ição d o livro d e 1926. Este livro se apresenta como uma d efesa d a técnica
em um m om ento em que se m ultiplicam os ataques contra ela.
O objetivo fund am ental d e Dessauer era oferecer um a análise kantiana
d as p recond ições transcend entais d o pod er tecnológico, assim com o refletir
sobre as im plicações éticas d e su a aplicação. Dessau er d efend ia qu e teria qu e
incluir um a quarta, nas três críticas Kantianas d o conhecim ento, d a m oral e d a
estética: a crítica d a prod ução tecnológ ica (Mitcham , 1989a, p. 46). N a Crítica da
razão pura, Kant tratava d e buscar as cond ições d o conhecim ento, e d efend ia
qu e este está necessariam ente lim itad o ao m u nd o d os sentid os, ao m u nd o d os
fenôm enos, d e form a qu e o conhecim ento nu nca pod e chegar a con hecer as
coisas-em -si-m esm as. A Crítica da razão prática e a Crítica do juízo m antêm a
existência d e um a realid ad e transcend ental d os fenôm enos com o um a
precond ição para o exercício d o d ever m oral e d o sentid o d a beleza. Tom and o
como marco d e referência estas teses kantianas, Dessau er d efend e qu e a
prod ução, em especial sob a forma d e invenção tecnológica, proporciona um
contato positivo com as coisas-em -si-m esm as. A essência d a tecnologia não se
encontra nem na manufatura ind ustrial (que simplesmente d á lu gar à p rod u ção
em massa d e artefatos) nem nos prod utos (que somente são consumid os por
usuários), mas sim no ato d e criação d a prod ução tecnológica (Mitcham, 1994,
p. 31). Dessauer id entifica a inspiração criativa d o técnico e d o artista com o
objetivo d e relacionar a engenharia com as hu m anid ad es.
53
Para Dessau er, a prim eira característica d os objetos técnicos é su a
vinculação com as leis naturais. Um m icroscópio, um avião etc., funcionam
sempre d e maneira causal e med iante um processo que se baseia nas leis da
natureza. H á uma harmonia entre a criação tecnológica e as leis d a natureza. Ou
m elhor, segu nd o Dessau er, a natu reza e os p rop ósitos hu m anos são cond ições
necessárias porém não suficientes para a existência d a tecnologia.
Diferentemente d os processos natu rais, na prod u ção técnica a finalid ad e é
marcad a pela imagem d o objeto imaginad a por seu criad or humano. N este
sentido, o trabalho interior do técnico põe o inventor em contato com um a quarta
realid ad e, a d as solu ções p reestabelecid as p ara os p roblem as técnicos. Para
Dessauer, está claro que o que não existe não pod e ser d escoberto. Os inventos
técnicos são, pois, realizações d as potencialid ad es ou d os entes possíveis, não
criações d o nad a absoluto. Por tal m otivo, o trabalho interior d o engenheiro
im p lica o contato com as coisas-em -si-m esm as transcend entais d os objetos
técnicos. Para Dessauer, no processo d e invenção d e um artefato há d ois fatos
fund am entais: que a invenção, com o artefato, não é algo que se encontre
previam ente no m u nd o d a aparência, e qu e, qu and o esta faz su a aparição
através d o trabalho d o engenheiro, o ap arato realm ente fu nciona. Portanto, a
invenção com o tal não é som ente u m sonho, m as su rge a p artir d e u m encontro
cognitivo com a esfera d as solu ções preestabelecid as aos problem as técnicos.
O hom em , com o ser qu e não acaba na natu reza, constrói seu m eio
ambiente, sua esfera d e percepção e d e atuação por si mesmo. A
natu reza virgem oferece ao corpo hu m ano o m esm o qu e aos anim ais,
porém o homem amplia sem cessar seu meio ambiente em “percep ção”
e em “ação”, constru ind o tu d o aqu ilo qu e corresp ond e às cap acid ad es e
necessid ad es d e su a alm a, e qu e d esignam os com o term o genérico d e
civilização. Civilização é o que está m ais além d a natureza, superand o o
físico, o vegetal e o animal, e que proced e d o cu id ad o hu m ano
(Dessau er, 1956, p. 185).
54
natu ralista rom ântica norte-am ericana, que se estend e d esd e Ralph Ald o
Emerson até John Dew ey. Esta trad ição é mund ana enquanto se preocupa pela
ecologia ambiental, pela harmonia d a vid a urbana, pela preservação d a
natureza e pela sensibilid ad e para as formas orgânicas. E é romântica porque
defend e que a natureza m aterial não é o ponto final d a explicação d a ativid ad e
orgânica, ao m enos em sua form a hum ana. Para estes autores, a base d a ação
hu m ana é a m ente e a asp iração d e au to-realização criativa (Mitcham , 1994, p .
40).
Em 1930, Mu m ford p u blicou u m breve artigo ond e d efend ia qu e as
m áqu inas d everiam ser analisad as em term os d e su as origens psicológicas e
práticas, e avaliad as tanto em função d e sua valid ad e ética e estética como
tecnológica (Mitcham, 1989a, p. 53). Em 1934, é ed itad o seu livr o clássico Técnica
e civilização, ond e trilha p elas m u d anças qu e a m áqu ina introd u ziu nas form as
d a civilização ocid ental, e trata d e explicar as origens psicológicas e culturais d a
tecnologia. Segund o Mum ford , o d esenvolvim ento d a m áqu ina foi prod u zid o
em três ond as su cessivas, qu e vão d esd e os prim eiros aparatos qu e se serviam
d o vento e d a águ a (fase eotécnica), passand o pelas m áqu inas qu e em pregavam
o carvão e o aço, entre 1750 e 1900 (fase p aleotécnica), p ara term inar com as
elétricas, com postas d e d iferentes ligas m etálicas a partir d e 1900 (fase
neotécnica).
Mu m ford pensa qu e as m áqu inas im põem u m a série d e lim itações aos
homens fruto d os acid entes que têm acompanhad o sua evolução, que surgem
d a rejeição d o orgânico e d o vivo. Portanto, se a máquina é uma projeção d os
órgãos hu m anos, com o d efend em algu ns filósofos na trad ição engenheiril, é
som ente entend id a com o lim itação.
Em su a obra O mito da máquina, Mumford tem como objetivo explicar as
forças que têm d eterm inad o a tecnologia d esd e os tem pos pré-h istóricos, e
como estas configuraram o homem mod erno. Mumford não se limita a uma
análise d a socied ad e m od erna, m as vai às origens d a cultura hum ana. Assim ,
por exem plo, rechaça a id éia d o progresso hu m ano com o conseqü ência d o
controle d e ferramentas e d o d om ínio d a natureza. Dem onstra com o as
ferram entas, em si m esm as, não pod em d esenvolver-se à m argem d a
linguagem, d a cultura e d a organização social. Para Mumford , há d e se
consid erar o homem não homo faber, mas homo sapiens. A base d a humanid ad e
não é a manipulação, m as o pensam ento, não são os instrum entos, m as as
m entes. Ou m elhor, p ara Mu m ford , a essência d a hu m anid ad e não é a
manipulação, mas a interpretação e o pensamento.
55
u m grand e nú m ero d e novas invenções m ecânicas, su prim ind o os
processos e institu ições antigas, e m od ificand o a concep ção trad icional
tanto d as lim itações hum anas com o d as possibilid ad es técnicas
(Mumford , 1967, p. 4).
56
encontram no que Mumford d efine como a “megamáquina”: o
d esenvolvim ento d e um a organização social rígid a e hierárquica. Os prim eiros
exemplos d e megamáquinas pod em ser encontrad os nos grand es exércitos d a
antigüid ad e ou nos grupos d e trabalhad ores d as pirâmid es d o Egito ou d a
Grand e Mu ralha d a China. Certam ente, a m egam áqu ina p od e oferecer
im p ortantes benefícios, m as sem p re com o cu sto d e d esu m anizar e lim itar as
aspirações e d esejos d os seres hum anos. Com a chegad a d a Revolução
Ind u strial, a m egam áqu ina tornou -se algo cotid iano. A conseqü ência foi o mito
da máquina, ou a noção d e que a megatecnologia é necessária e sempre benéfica
(ver Mumford , 1970, cap. 10).
Ou tro au tor d estacad o nesta trad ição é José Ortega y Gasset. Ortega
integra seus estud os d a técnica d entro d a corrente que ele mesmo d efinia como
“raciovitalism o”, qu e, com o p rogram a d e investigação ontológica, nos p erm ite
aced er a um marco d e interpretação no qual os caracteres essenciais d o
fenômeno estud ad o – neste caso, a técnica – se expressa através d e sua
vinculação com a vid a hum ana. O objetivo d e Ortega é uma investigação d e
índ ole “transcend ental”, qu e bu sca estabelecer as características d a técnica
d esd e um a priori raciovital: o hom em é um ser técnico, e o que se trata é d e
averigu ar p or qu e ele o é, atend end o p ara isso não a cond ições em p ír icas m as
sim “históricovitais” (Martín Serrano, 1989, p. 119).
Através d esse program a d e investigação Ortega elabora u m a
p ersp ectiva ontológica sobre a técnica, qu e com p lem enta ou tros p ontos d e vista
a partir d os quais tal fenômeno pod e ser consid erad o. Esta visão ontológica é,
sem d úvid a, pioneira como mod elo d e ind agação que, junto a id éias d e
H eid egger em torno d este mesmo tema, tem d e ser tomad o sem a ilusão como
ponto d e referência inevitável d e tod a especulação sobre o sentid o d a técnica e
seu papel na vid a humana.
Ortega concebe a técnica como uma série d e atos específicos d o homem
realizad os com o objetivo d e satisfazer suas necessid ad es, mod ificand o ou
reform and o a natureza, e fazend o com que haja nela algo que não havia. A
técnica é vista como uma ad aptação d o sujeito ao m eio. Ortega baseia sua
filosofia d a tecnologia na id éia d e que a vid a humana está intimamente
relacionad a com as circunstâncias. Ou melhor, não se trata d e uma relação
passiva, m as sim d e um a resposta ativa: o hom em cria essas m esm as
circunstâncias.
Com o assinala Mitcham (1994, p. 46), nesse processo d e criativid ad e
existem d uas etapas. A primeira é a imaginação criativa d e um projeto d o
m und o que o ser hum ano d eseja conseguir, e a segund a é a realização m aterial
d esse projeto. Ou m elhor, u m a vez qu e a pessoa tenha im aginad o e
d esenvolvid o criativam ente qu al é o seu p rojeto, existem certos requ isitos
técnicos necessários para su a realização. Em fu nção d esta tese, Ortega d efend e
que há tantas classes d e técnicas quanto projetos humanos. Ortega d efine os
57
seres humanos como homo faber. N o entanto, tem d e precisar que aqui faber não
se red u z à fabricação m aterial, m as inclu i tam bém a criativid ad e espiritu al.
Ortega d ivid e a história d a técnica em três etap as: as técnicas do acaso, a s
técnicas do artesão e as técnicas dos engenheiros. O m od o com o d escobre os m eios
que consid era oportunos para a realização d e seu projeto pessoal se apresenta
como o elemento d iferenciad or entre estes três tipos d e técnicas. Assim, na
p rim eira etap a Ortega d efend e que o acaso é o técnico, p osto qu e é ele qu e
proporciona o invento. N ela os atos técnicos quase não se d iferenciam d o
conjunto d os atos naturais. Para o ser primitivo, fazer fogo é praticamente o
m esm o qu e and ar, nad ar, golp ear etc. N a segu nd a etap a, o repertório d os atos
técnicos d esenvolveu -se consid eravelm ente, send o então necessário qu e
d eterminad os homens se encarreguem d eles e lhes d ed iquem sua vid a: os
artesãos. Som ente na terceira etapa, com o estabelecim ento d o m od o analítico
associad o ao nasc imento d a ciência mod erna, é que surge a técnica ou
tecnologia d o engenheiro, e é precisam ente nesse m om ento quand o se pod e
falar propriam ente d e tecnologia (ver o capítu lo “O qu e é Socied ad e?”).
N o meu entend er, um princípio rad ical para period izar a evolução d a
técnica é atend er a relação existente entre o hom em e sua técnica ou,
d ito d e outro mod o, a id éia que o homem foi tend o d e sua técnica, não
d esta ou d aquela d eterm inad a, m as sim d a função técnica em geral […].
Partind o d este princípio pod em os d ist inguir três enorm es estágios na
evolução d a técnica:
a) a técnica do acaso;
b) a técnica d o artesão;
c) a técnica d o técnico.
A técnica que chamo d o acaso, porque o acaso é nela o técnico, o que
proporciona o invento, é a técnica primitiva d o homem pré e prot o-
histórico e d o atual selvagem 4 […].
Passemos ao segund o estágio: a técnica d o artesão. É a técnica d a velha
Grécia, é a técnica d a Roma pré-imperial e d a Id ad e Méd ia […].
Já assinalam os algu ns d os caracteres d o terceiro estágio. A este
d enominamos “a téc nica d o técnico”. O hom em ad qu ire a consciência
su ficientem ente clara d e qu e possu i u m a certa capacid ad e
com pletam ente d istinta d as rígid as, im utáveis, que integram sua porção
natural ou animal. Vê que a técnica não é um acaso, como no estágio
p rim itivo, nem u m certo tip o d ad o e lim itad o d o hom em – o artesão
(Ortega y Gasset, 1982, pp. 75 e ss.).
4
Esses escritos de Ortega y Gasset remontam à década de 1930, de modo que a idéia de “selvagem” deve
ser tomada com o devido cuidado.
58
A ap arição d a tecnologia na terceira etap a leva inevitavelm ente,
segu nd o Ortega, ao d esvanecim ento d a facu ld ad e im aginativa. N a antigü id ad e,
as p essoas eram totalm ente conscientes d as coisas qu e eram capazes d e fazer,
d e su as lim itações e restrições. Assim , d epois d e haver im aginad o u m
d eterm inad o projeto, u m a pessoa d evia passar vários anos tentand o resolver,
por exemplo, os problemas técnicos necessários para a realização d esse projeto.
N a atualid ad e, segund o Ortega, as ilimitad as possibilid ad es que a tecnologia
abre d iante nós e a facilid ad e d e sua realização anulam o d esafio d os projetos
humanos e apagam o brilho d a vontad e ind ivid ual (Mitcham, 1994, p. 48).
Outro tratam ento filosófico clássico na trad ição hum anística é o
realizad o p elo filósofo alem ão Martin H eid egger. H eid egger se p rop õe u m a
reflexão sobre a tecnologia em um sentid o geral, com o objetivo d e alcançar
u m a com p reensão acerca d a tecnologia m od erna. Com o Ortega, H eid egger
abord a o tema d a tecnologia d esd e a perspectiva d a ontologia. H eid egger
d elineia a reflexão sobre a tecnologia em estreita relação com a questão d o ser.
H eid egger pensa, inclu sive, qu e a reflexão sobre a tecnologia pod e aju d ar a
com preend er a questão fund amental d o ser.
H eid egger faz u m a reflexão sobre a tecnologia em d iferentes obras, m as
sobretud o na que leva por título A pergunta pela técnica (1954). N ela, H eid egger
coloca a questão: o que é a técnica? Duas são as respostas comuns: a técnica é
u m m eio p ara certos fins, e a técnica é u m qu efazer d o hom em . H eid egger
afirm a qu e, se estas d efinições são corretas, não d ão conta d o m ais característico
d a técnica. Estas d efinições não m ostram a essência d a técnica e, precisam ente, a
ele interessa a pergunta pela essência d o que é a tecnologia. A tecnologia é um
d esocu ltar, u m trazer à lu z, u m prod u zir com características particu lares. A
tecnologia é u m a classe d e revelação qu e transform a e d esafia a natu reza p ara
gerar u m a classe d e energia qu e p od e ser arm azenad a d e form a ind ep end ente e
ser transmitid a posteriormente.
Isto não acontecia com a técnica antiga. Por exemplo, as pás d o moinho
d e vento estavam aband onad as ao movimento d este e d esenvolviam um
trabalho m as não abriam as energias da corrente d e ar para armazená -las. O
trabalho d o camponês não agred ia o campo, ao contrário, ele o cultivava e
cuid ava d ele, esperand o que crescesse o trigo e prod uzisse o grão. Segund o
H eid egger, hoje em d ia se provoca o ar para que proporcione nitrogênio; o
cultivo d o campo converteu -se em ind ústria alimentícia; o solo é provocad o
para que forneça mineral, por exemplo urânio; e este é provocad o, por sua vez,
para que proporcione energia atômica que pod e ser usad a para a d estruição ou
p ara u tilid ad es e fins p acíficos. Qu er d izer, na técnica m od erna se d á u m
constante solicitar, u m provocar. A tecnologia m od erna d esafia a natu reza.
Enquanto que o moinho d e vento se mantém em uma estreita e respeitosa
relação com o meio ambiente (por exemplo, d epend e d a terra d e um m od o que
a tecnologia m od erna não necessita; os m oinhos som ente transm item energia
59
através d o movimento, d e forma que se o vento não sopra não se pod e fazer
nad a), a central elétrica poucas vezes se ajusta ou complementa a natureza (não
só contam ina o m eio am biente m as tam bém sua localização vem d eterm inad a
pelas necessid ad es urbanas e não pelas características d a paisagem, como no
caso d os m oinhos trad icionais). Além d isso, as tecnologias m od ernas têm u m a
forma interna que é refém d e cálculos estruturais, d e form a que exibem sem pre
o mesmo caráter seja qual for o lugar ond e se instalem, à margem d as
características d a paisagem .
Um último autor que vamos mencionar brevemente nesta trad ição é o
filósofo francês Jacqu es Ellu l. Para Ellu l, a tecnologia é o fenôm eno m ais
importante d o mund o mod erno. Assim, d efend e que o capital já não é o motor
d a socied ad e tal com o su ced ia no p assad o; agora é a tecnologia a força m otriz
d a socied ad e, que d efine com o a totalid ad e d os m étod os aos quais a
racionalid ad e cheg ou e a eficácia absoluta em tod os os campos d a ativid ad e
humana. O objetivo d e Ellul em sua obra clássica d e 1954 – La Technique – é
estud ar a tecnologia d o m esm o m od o que Marx estud ou o capitalism o um
século antes.
Ellul d istingue entre o que d enomina operações tecnológicas e fenômeno
tecnológico. As op erações tecnológicas são m ú ltip las, trad icionais e
d eterm inad as p elos asp ectos contextu ais. O fenôm eno tecnológico (ou a
tecnologia) é ú nico e d efine o m arco qu e d eterm ina o m od o exclu sivo d e fazer e
utilizar os artefatos, d e form a que estes sejam capazes d e d om inar outras
form as d a ativid ad e hu m ana. A d istinção entre operações tecnológicas e
fenôm eno tecnológico é sim ilar à d istinção m u m ford iana entre as tecnologias
biotécnicas e as m onotécnicas. Do m esm o m od o, resgata a classificação d e
Ortega na m ed id a em que as tecnologias d o acaso e as tecnologias d o artesão
são, d e certo m od o, operações tecnológicas.
60
promover o prestígio d a tecnologia. Assim, por exemplo, em 1909, criou um
boletim informativo que, d epois d e vários títulos, foi d enominad o Técnica e
Cultura. Tal boletim nasceu com a tarefa d e refletir acerca d a d imensão cu ltu ral
d a tecnologia. A VDI d eixou d e pu blicar o boletim d u rante o regim e nacional-
socialista, d ep ois qu e este tentou em vão ap roxim ar a associação d os seu s
pontos de vista.
Depois d a Segund a Guerra Mund ial, a trad ição engenheiril d a filosofia
d a tecnologia experim entou um im portante crescim ento, d evid o em grand e
p arte ao sentim ento d e resp onsabilid ad e p elo p ap el qu e os engenheiros haviam
d esem penhad o d u rante a gu erra. Com o resu m e o engenheiro Albert Speer em
sua memória, Dentro do Terceiro Reich:
61
aproxim ação d os políticos e d o público ao trabalho d os engenheiros através d a
explicação d esse tipo d e ativid ad e. A filosofia d a tecnologia d evia propor
tam bém m ed id as éticas para a evolu ção d a própria tecnologia. Finalm ente,
com o assinala I. H ronzsky, a filosofia d a tecnologia d evia cond u zir a u m a
alfabetização tecnológica d o público, e a um impulso d a d imensão ética d a
tecnologia para prom over certa consciência ética acerca d o d esenvolvim ento
tecnológico (H ronzsky, 1998, p. 101). Em sua obra Para uma filosofia da tecnologia
interdisciplinar e pragmática: A tecnologia como o centro de uma reflexão
interdisciplinar e uma investigação sistemática, H ans Lenk e Günter Rop ohl (1979)
sustentavam que os problem as d o m und o tecnológico, d ad o seu caráter
m u ltid im ensional, só pod em ser abord ad os com algu m a possibilid ad e d e êxito
partind o d o pressuposto d e um a participação ativa d os generalistas d as ciências
sociais e dos universalistas d a filosofia; e resolvid os d e forma ad equad a
contand o com a contribuição d os especialistas em engenharia. Para estes
autores se faz necessária uma cooperação efetiva entre engenheiros e filósofos
que se estend a pelos obsoletos d epartamentos e rom p a com as fronteiras
acadêmicas.
Um d os p rojetos iniciais d o com itê “H u m anid ad e e Tecnologia” foi a
avaliação crítica d as d iferentes interpretações d a tecnologia. Este trabalho
analítico gerou uma série d e artigos publicad os em sua VDI-Nachrichten (seu
p eriód ico sem anal), com pilad os nos volum es anuais d a Associação. Durante os
anos sessenta, a Associação realizou seu trabalho através d e subcomitês e
m ed iante inform es ocasionais; entretanto, a partir d e 1967, instituiu o “d ia d os
engenheiros”: um congresso bianual em que se d iscutiam temas relevantes. Em
1970, organizou um congresso em Lud w igshafen sobre as conseqüências
econôm icas e sociais d o progresso tecnológico, que recebeu um a extensa
cobertu ra por parte d os m eios d e com u nicação (Mitcham , 1994, p. 71).
Durante os anos setenta e oitenta, a ética engenheiril, e em especial os
cód igos éticos d os engenheiros, converteram -se em temas centrais para a VDI.
Desd e p rincíp ios d a d écad a d e setenta, a Associação realizou u m consid erável
esforço para alcançar uma com preensão ad equad a d o que é e com o se d everia
realizar a avaliação d e tecnologias e a ética d os engenheiros. Um grupo d e
trabalho d a VDI, entre cujos m em bros se d estacam Lenk, Ropohl, H uning e
Rapp, elaborou o Guia da VDI, ond e se form u la u m cód igo com p osto d e oito
valores qu e tratam d e conciliar p rincíp ios engenheiris, econôm icos e éticos, e
ond e se recomend a aos engenheiros que se orientem por eles.
Leitura complementar
62
2.6 Avaliação de tecnologias
63
âmbito importante d e inovação nas política s públicas sobre ciência e tecnologia
concerne à gestão d as mesmas e a abertura d os proced imentos d e tomad a d e
d ecisões sob o escrutínio social e a participação pública (ver a este respeito o
capítulo “O que é CTS?”).
64
Impactos indiretos
Uma d as questões mais d elicad as e importantes d a análise d e impactos na AT
é a identificação d e impactos ind iretos d e enésima ord em. Um exemplo
clássico interessante d e J. Coates (1971), sobre as conseqüências d a televisão,
pod e mostrar a importância desta questão.
• Primeira ordem: nova fonte de entretenimento e diversão nos lares.
• Segund a ord em: mais tempo em casa, d eixa-se de ir a cafés e bares onde se
viam os amigos.
• Terceira ord em: os resid entes d e uma comunid ad e já não se encontram
com tanta freqüência e d eixa-se de depender dos demais para o tempo de
lazer.
• Quarta ord em: os membros d e uma comunid ad e começam a ser estranhos
entre si; aparecem dificuldades para tratar os problemas comuns; as
pessoas começam a sentir maior solidão.
• Quinta ord em: isolad os d os vizinhos, os membros d as famílias começam a
d epend er mais uns d os outros para a satisfação de suas necessidades
psicológicas.
• Sexta ordem : As fortes demandas psicológicas dos companheiros geram
frustrações quando não se cumprem as expectativas; a separação e o
d ivórcio crescem .
65
e justiça. Essa política permite d espojar as minorias d e seus d ireitos
para servir ao bem d a maioria, à utilid ad e geral.
• Violação da igualdade de direitos. As crianças estariam p agand o m u ito
m ais que as d em ais pessoas os efeitos d o d esenvolvim ento
tecnológico d a energia nuclear, já que é mais grave a exposição d e
crianças a pequenas quantid ad es d e rad iação (por cad a rad de
rad iação há uma probabilid ad e três a seis vezes maior d e que as
crianças contraiam câncer).
• Confusão entre o que é normal e o que é moral. Está na su p osição d e qu e
tu d o o qu e é norm al, p or exem p lo a m orte p or rad iação, é m oral,
confund ind o que tod o o norm al, que não é nem bom nem ruim por
si mesmo, nem sempre é moral.
• Os produtores de usinas nucleares devem ser os responsáveis por seu
controle. Essa prática viola evid entem ente os princípios d e jogo
lim po e d e d esinteresse. Tam bém este princípio facilitou que a
sanção e a com pensação d epend am que se prove qu e tais acid entes
não foram “intencionais”, e que prod uziram efeitos observáveis
para a saúd e; não se pod e esquecer que os cânceres ind uzid os por
rad iação pod em ter u m períod o d e latência até m esm o d e qu arenta
anos; portanto, é improvável que sejam observáveis im ed iatam ente.
Leitura complementar
SAN MARTÍN , J., et al (ed s.) (1992): Estudios sobre sociedad y tecnología. Barcelona,
Anthropos.
66
2.6.2 Modelos gerais de avaliação de tecnologias
67
2.6.3 O modelo de Avaliação Construtiva de Tecnologias (ACT)
68
Com relação às iniciativas p ráticas p ara levar a cabo u m a ACT, e p ara
fazer frente às hipóteses antes m encionad as, d estacam-se a organização d e
conferências estratégicas nos Países Baixos e os congressos análogos na
Dinam arca e ou tros p aíses (González García, Lóp ez Cerezo e Lu ján, 1996). O
m od elo holand ês serviu d e base para algum as propostas e experiências d e
avaliação construtiva d e impacto ambiental na Espanha. As fases d estas
experiências, norm alm ente focalizad as em conflitos sociais relacionad os com a
inovação tecnológica ou a intervenção am biental, são norm alm ente as
seguintes:
69
• a aprend izagem d a avaliação tecnológica através d e sim u lações
ed ucativas d ispõe aos cid ad ãos os instrumentos para id entificar e
antecipar as conseqü ências sociais, cu ltu rais, am bientais e políticas d as
inovações tecnológicas reais;
• é óbvio qu e o m elhor cenário para a aprend izagem social, no qu e d iz
respeito às conseqüências d as tecnologias, d eve ser o ed ucacional,
porqu e é este qu e perm ite ad qu irir hábitos d a participação pú blica em
seu controle antes que tal participação já não seja possível.
Por isso, as sim ulações ed u cacionais d e situ ações nas qu ais a inovação
tecnológica leva a im plicações sociais controversas são solid árias com um a id éia
d e ed ucação (e d a ed ucação tecnocientífica) que não se limite à aquisição d e
rotinas ou esqu em as rígid os d e caráter pred om inantem ente conceitu al. Tais
sim ulações pod eriam consistir no estabelecim ento d e controvérsias públicas no
entorno im ed iato d a escola, qu e teriam su a origem na im plantação ou
d esenvolvim ento d e algum processo tecnológico que gere incertezas acerca d as
su as im p licações sociais. Estabelecid a a natu reza d o p roblem a d e inovação
tecnológica que afeta este entorno social, cabe sim ular a articulação d a red e d e
atores que protagonizariam a controvérsia e que se confrontariam com
interesses valorativos d iversos. Cad a u m d os atores sociais recorreria aos d ad os
tecnocientíficos para legitim ar su a postu ra, e apresentaria su a prospectiva sobre
as im plicações sociais d o d esenvolvim ento tecnológico que teria estabelecid o.
Os alu nos pod eriam sim u lar por equ ipes as posições d os ator es e
estabelecer a “avaliação tecnológica” d esd e o ponto d e vista d os interesses d e
cad a protagonista d a controvérsia. Assim, pod er -se-iam configu rar p osições
que previsivelmente existiriam se a polêmica fosse real, e que seguramente
estariam resum id as nos qu atro tipos d e atores ind icad os (aind a qu e
seguram ente o papel d os “especialistas” acabasse d esd obrand o-se em
d iferentes coletivos tecnocientíficos, qu e ap ortariam inform ações legitim ad oras
d as d em ais postu ras na controvérsia).
70
3) especialistas tecnocientíficos d os quais se d emand a assessoramento para a
avaliação dessa tecnologia (instituições de pesquisa ou avaliação sobre o
tema…);
4) mediadores com capacidade para o seguimento e a ampliação pública da
controvérsia (m eios d e com unicação) ou instâncias com responsabilid ad e
pública na tomada de decisões sobre a implantação dessa tecnologia
(ad ministração, conselho escolar…).
Em seu livro Rebeldes contra o futuro, Kilpatrick Sale (1996) d efend e que
há m uito o que aprend er d o m ovim ento lud ita d o século 19 sobre oposição à
m u d ança tecnológica. Segu nd o Sale, pod em os aprend er m u ito d os lu d itas,
aind a qu e sejam tão d istantes e tão d iferentes d e nós, com o tam bém d istante e
d iferente era sua época d a nossa. N ossa socied ad e está enraizad a no
d esenvolvim ento d a Revolução Ind ustrial, a qual os lud itas se opuseram tão
energicamente. N este sentid o, mud aram as máquinas, mas a base para o
surgim ento d e qualquer tipo d e m áquina (seus teares e nossos com p u tad ores,
seus trens a vapor e nossos trens d e alta velocid ad e), isto é, o sistem a ind ustrial,
não mud ou excessivamente.
O m ovim ento lu d ita, qu e operou entre 1811 e 1816, foi u m m ovim ento
cuid ad osam ente organizad o e d isciplinad o, o que lhe proporcionou uma alta
efetivid ad e em seus ataques, causand o importantes d anos. Tratava -se de um
m ovim ento com suficiente apoio popular, d e form a que os lud itas pud eram
atuar no anonim ato, apesar d as am eaças oficiais e d as grand es recom pensas
oferecid as a tod o aqu ele que d esse informação sobre eles. Tud o isso nos permite
entrever que os lud itas eram unicam ente a parte visível d e um a insurreição
mais ampla. Entre 1811 e 1816, ergueu-se um am plo apoio aos trabalhad ores
qu e se ressentiam am argam ente d as novas red u ções salariais, d a exploração
infantil, d a supressão d as leis e costumes que em uma época haviam protegid o
os trabalhad ores qualificad os. Seu d escontentam ento se expressou m ed iante a
d estruição d e m áquinas, a m aioria d a ind ústria têxtil. Desd e então, o term o
“lud ita” passou a significar um a oposição rad ical à tecnologia.
Concretam ente, Sale sustenta que há algum as lições que pod em os
aprend er d o movimento lud ita d o século 19:
71
• As tecnologias não são neutras e, ainda que algumas sejam benéficas,
também há outras prejudiciais. N a opinião d e Sale, os lud itas nos
ensinaram que as máquinas não são neutras: são construíd as, na
m aioria d os casos, valorizand o som ente fatores d e caráter econôm ico
que correspond em aos interesses d e uns poucos, enquanto costum am
ser m arginalizad os, p or serem consid erad os irrelevantes, os asp ectos
sociais, cu ltu rais e d o m eio am biente. Portanto, a tecnologia não é
neutra, com o sustentam m uitos tecnófilos. De fato, não pod em os ver
as tecnologias com o um conjunto d e ferram entas ou d ispositivos, d e
m aior ou menor complexid ad e, que pod em ser utilizad os para o bem
ou para o m al. Mu ito pelo contrário, as tecnologias expressam valores
e id eologias d as socied ad es e d os gru p os qu e as geram . Assim , u m a
cu ltu ra triu nfalista e violenta é a base p ara p rod u zir ferram entas
triu nfalistas e violentas. Por exem p lo, qu and o o ind u strialism o
am ericano transform ou a agricu ltu ra d epois d a Segu nd a Gu erra
Mu nd ial, o fez com tu d o aqu ilo qu e havia ap rend id o no cam p o d e
batalha: u tilizand o tratores projetad os tom and o com o base os tanqu es
d e gu erra; p u lverizad ores aéreos u tilizand o os aviões d e gu erra;
pesticid as e herbicid as d esenvolvid os a partir d as bom bas quím icas…
72
na cultura.
73
resistência à tecnologia em nossos d ias é precisam ente gerar esse
d ebate d e que careceu o m ovim ento lud ita d o século 19; um d ebate
basead o na p articip ação e na gestão d em ocrática d a ciência e d a
tecnologia, em qu e tod os os envolvid os, inclu íd os os cid ad ãos
com u ns qu e sofrem as conseqü ências d o d esenvolvim ento científico-
tecnológico, possam em itir suas opiniões sem pre sob a garantia d e
uma ad equad a formação e informação.
74
Com o apontávam os anteriorm ente, não som ente as vítim as d iretas d a
tecnologia pertencem a esses gru pos, m as tam bém aqu eles cid ad ãos
especialmente preocupad os e sensibilizad os, como são os participantes em
campanhas contra resíd uos tóxicos, o uso d e pesticid as, o corte d esmed id o d e
árvores, a exp erim entação com anim ais… Um d os gru p os d e m aior êxito foi o
d os ativistas antinu cleares nos Estad os Unid os, qu e se op u seram às arm as
nucleares e às centrais nucleares, send o capazes d e evitar a construção d e novas
centrais em tod os os estad os d esd e 1978. Su a oposição inclu iu tod o tipo d e
ativid ad es: m anifestações, m archas, concertos e inclusive sabotagens.
N a d écad a d e oitenta se d esenvolveu o qu e se conhece com o o
“ecotage”. Trata-se d e uma forma d e protesto iniciad a pelo grupo ecologista
Earth First, um a organização rad ical cujo lem a era “nenhum a concessão na
d efesa d a terra”. Sua estratégia consistia em parar as intrusões e ataques ao
m eio valend o-se tanto d e m eios legais com o d e outros tipos d e ativid ad es, tais
com o fu rar pneu s d as m áqu inas u tilizad as para cortar lenha, bloqu ear as
estrad as para im p ed ir qu e cam inhões ingressassem nos bosqu es, introd u zir
pregos nas árvores para evitar que fossem cortad as com serras d e corrente, etc.
O objetivo fu nd am ental d e tal gru po, com o se assinalou em su as pu blicações
gratuitas, é d esm antelar o sistem a ind ustrial atual. Como d isse um d e seus
m em bros antes d e ser d etid o por d errubar um a torre d e alta tensão: “não
som ente proteger a natu reza, m as tam bém atravessar u m a barra na rod a d a
máquina que é o sistema ind ustrial”.
N a atualid ad e, há múltiplos grupos que empreg am a técnica d o
ecotage; um claro exemplo conhecid o por tod os constitui muitas d as ações d e
Greenpeace. Tam bém abu nd am gru p os centrad os na p roteção d os d ireitos d os
anim ais (lançam tinta nos casacos d e pele, d estroem laboratórios em qu e se
fazem experim entos com anim ais e os liberam …).
Em algumas passagens d o livro d e Robert Pirsig, Zen e a arte de
manutenção de motocicletas, o protagonista, Chris, pergunta-se com o é possível
que acerca d e um a questão tão sim ples com o é o cuid ad o d e suas m otocicletas
pudesse existir uma atitud e tão d iferente entre ele e seu amigo John.
75
que tive em mente o desempenho da moto e esta se introduz na
conversação, cessa a boa marcha d o d iálogo. A conversação d eixa d e
progred ir. H á um silêncio […]. Pud e chegar a crer que esta era,
m eram ente, um a peculiar atitud e sua com respeito às m otocicletas;
p orém , m ais tard e d escobri qu e se estend ia a ou tras coisas […]
Enqu anto esperava por ele u m a m anhã em su a cozinha, antes d e
realizar a viagem , notei qu e a torneira gotejava e record ei qu e já
gotejava d a última vez que estive ali […]. Isto me obrigou a perguntar -
me se influiria em seu s nervos aqu ele d rip-d rip-d rip semana após
semana, um ano após outro […]. N ão se trata d a manutenção d a moto,
nem d a torneira. É tod a a tecnologia que o aborrece. […] John se evad e
cad a vez que surge o tema d a reparação d a moto, inclusive quand o é
evid ente que esta o faz pad ecer. É tecnologia. Se vai d e moto é para
afastar-se d a tecnologia através d a cam pina, sob o sol e o ar fresco.
Quand o eu o d evolvo precisamente ao ponto e ao lugar d os que crê
haver finalm ente escapad o, isso não faz senão causar-lhe um a
d esagrad ável sensação glacial. Por esta razão, a conversação sem pre se
interrompe e se congela quand o traz à tona esse tema (Pirsig, 1994).
Possivelm ente a m aioria d e nós já exp erim entou u m a sensação sim ilar à
d e John: tratamos d e escapar d a tecnologia, porém para isso precisam os fazer
u so d a p róp ria tecnologia. Certam ente, esse é u m d os p arad oxos enfrentad os
pelos neolud itas: tratam d e term inar com a tecnologia, porém para isso utilizam
as últimas tecnologias, como por exemplo a internet
(http://w w w .d f.lth.se/~m icke/w holem anifiesto.htm l). Este m esm o p arad oxo é o
que nos há d e colocar em guard a, tanto quanto reflete uma socied ad e presa d a
tecnologia, ou, o que é o mesmo, reflete um a socied ad e na qual a tecnologia
d eixou d e ser um meio para converter -se em um fim em si mesma. Este é
p recisam ente o m otivo qu e nos levou a nos fixarm os no m ovim ento neolu d ita
para extrair e d estacar aqu eles aspectos positivos e críticos d e tal m ovim ento
em sua reflexão sobre a tecnologia.
2.8 Conclusão
76
técnicas). Por sua vez, o conhecim ento cod ificad o é form ad o por conhecim ento
científico, por conhecim ento tecnológico relacionad o com a ciência (conteú d o e
m étod o), p or conhecim ento d esenvolvid o na p róp ria ativid ad e tecnológica e
por conhecimento técnico.
N um a visão m ais com preensiva, d uas trad ições filosóficas, a
engenheiril e a hu m anística, teorizaram d e m od os d istintos a natu reza d a
tecnologia e sua relação com o ser humano; d uas trad ições que, como mostra a
reflexão gerad a pela VDI alem ã, necessitam com plem entar -se mutuamente para
oferecer u m a visão ad equ ad a d o fenôm eno tecnológico. A tecnologia é uma
p rojeção d o ser hu m ano no seu entorno, m as ante a qu al convém m anter u m a
atitud e crítica, pois nem sempre ela tem oferecid o os efeitos d esejad os,
voltando-se freqü entem ente contra nós com o o m onstro qu e se voltou contra
Victor Frankestein.
Trata -se, em ú ltim a instância, d e d esenvolver form as d e convivência
com a tecnologia no m und o atual que nos perm itam corrigir os erros d o
passad o – expressos tão eloqü entem ente pelo m ovim ento lu d ita – e ad ap tar as
m áquinas às necessid ad es e aspirações d o ser humano.
2.9 Bibliografia
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80
3 - O QUE É SOCIE DA DE?
3.1 Introdução
81
N o caso d o conceito d e socied ad e, o problema que se apresenta ao se
abord ar seu tratamento é que as consid erações acerca da definição de
socied ad e, seu s tip os, seu fu nd am ento e sobre qu al seja a m elhor form a d e
organização social, têm m uito m ais vigor que as existentes acerca d os conceitos
sobre ciência e tecnologia. N ão são d esconsid eráveis, por exem plo, as reflexões
sobre a socied ad e qu e foram feitas na Grécia há m ais d e vinte e cinco sécu los.
Por sua vez, costuma -se consid erar que o grand e d esenvolvim ento
tecnocientífico d o últim o século prod uziu m ud anças sociais com o não se havia
conhecid o até agora e, inclu sive a p arte mais cham ativa d os d iscu rsos, qu e
pod eríamos qualificar tanto d e tecnófobos quanto d e tecnófilos tem a ver com
as conseqüências sociais que im plicam o d esenvolvim ento tecnocientífico, e não
só recentem ente m as já na literatura d e ficção m ais clássica.
Assim , pois, como tratar a questão sem nos perd ermos em uma d ensa
trajetória histórica? Pod er-se-ia colocar, qu em sabe, u m p onto d e vista m ais
“científico”, quer d izer, pod eríamos nos limitar ao que a sociologia d iz ser a
socied ad e, a realizar um repasse d o conceito d e socied ad e d esd e os “pais” d a
d isciplina até agora. Porém seria parad oxal que recorrêssem os ao d iscurso
“especialista” d e uma d as d isciplinas que se ocupa d a socied ad e, pois, entre
ou tras coisas, o enfoqu e d os estu d os CTS coloca ju stam ente em qu est ão o p ap el
privilegiad o d os especialistas. Além d o m ais, esta proposta resultaria um a
resp osta excessivam ente extensa. Sem ignorar algu ns d esses enfoqu es, nossa
exposição será necessariam ente m ais breve e m enos “d isciplinar”.
Em p rim eiro lu gar, abord arem os certas qu estões gerais sobre o conceito
d e socied ad e. Com entarem os a segu ir algu m as tip ologias sobre a socied ad e,
atend end o especialm ente as m ais relacionad as com elem entos tecnocientíficos.
Passaremos em seguid a a comentar algo acerca d as d iferentes persp ectivas no
m om ento d e explicar as m u d anças sociais, e term inarem os com algu m as
consid erações sobre a articulação d em ocrática d o social, que entend em os ser
necessário d efend er d esd e a perspectiva CTS.
82
socied ad e a partir d a teoria d e sistem as. Luhm ann consid era a socied ad e com o
mais um entre d iferentes tipos d e sistemas. Os sistemas pod em ser máqu inas,
organism os, sistem as psíqu icos e sistem as sociais. Dentro d estes encontram os
as interações, as organizações e as socied ad es. Desse m od o, u m a socied ad e é
um tipo d e sistema social. E o que é um sistema social? Segund o Luhman:
83
hom ens, o qu e já na Grécia antiga levou Jenófanes a ver essas socied ad es
divina s com o u m reflexo, a seu m od o d e ver bastante ind ecente, d as socied ad es
hum anas. As outras socied ad es não-hum anas são as socied ad es anim ais. Desd e
a Antigü id ad e essas socied ad es não-hu m anas foram tom ad as com freqü ência
com o exem p lo d o qu e d everiam ser as socied ad es hu m anas. A laboriosid ad e
d as form igas, ou a cap acid ad e d e sacrifício d as abelhas, são m otivos recorrentes
em mitos e fábulas. Curiosamente, e apesar d o conhecimento d essas socied ad es
animais, Aristóteles d irá que os humanos que não vivem em sociedade são
d euses ou bestas, não seres humanos:
84
afastad o d a lei e d a ju stiça, é o pior d e tod os (Aristóteles, Política, 1253a
e ss.).
85
Alguns etólogos inclusive não se limitam em falar d e “culturas”
animais em seus estud os sobre primatas, mas têm d efend id o a existência d e
estru tu ras e com p ortam entos qu e não hesitam em qu alificar d e “p olítica”. Frans
d e Waal (d e Waal, 1982), em seu estud o sobre os chimpanzés que viviam em
um amplo parque holand ês, analisou as d iferentes estratégias seguid as pelos
m achos para conseguir d om inar o grupo, as alianças, o papel d esem penhad o
pelas fêmeas – cuja hierarquia tam bém se estabelece “politicam ente” –, as
m u d anças naqu elas alianças basead as não ap enas na força m as em com p licad os
jogos d e estratégia que pod em levar a mud anças na “chefia” d o grupo, etc. Com
tu d o isso, o qu e qu erem os ap ontar é p recisam ente qu e aqu ela id éia d e
Aristóteles tem u m am plo respaldo atual por uma diversidade de fontes.
Não só se trata d e que o fund amento d a sociabilid ad e seja natural, mas
que a história d o com portam ento social hum ano é necessariam ente evolutiva,
no sentid o d e que tod a nova forma d e sociabilid ad e d esenvolveu -se a partir d e
form as prévias, aind a que certam ente isto não suponha nenhum a concepção
finalista d essa evolução. Sem o trabalho cooperativo, a evolução hum ana teria
sid o m u ito d iferente ou não teria sid o, trabalho cooperativo este qu e esteve
sem pre m ed iad o pela lingu agem com o instru m ento sim bólico. O ser hu m ano é
o ú nico anim al qu e não p recisa se ad ap tar ao m eio p orqu e é cap az d e fazer com
que esse meio se ad apte a ele. É capaz d e transformar, med iante a técnica, esse
meio.
Tem os, ad em ais, ou tras p istas qu e nos perm item esclarecer a qu estão
d a relação entre socied ad e e natu reza. Estas pistas são as qu e se referem aos
casos d os “meninos-lobo”. Os m eninos-lobo são um prod uto d a socied ad e pré-
ind ustrial, d a socied ad e que não alcançou um d esenvolvimento urbano tão
forte com o o nosso. Atu alm ente não há m eninos-lobo, seguram ente porque a
floresta d eixou d e ser o espaço d o selvagem , d o aterrorizante e d o
d esconhecid o 5 . Parad oxalm ente, o espaço d o não-civilizad o é ocupad o
atu alm ente p ela cid ad e. Em nosso m u nd o os m eninos são aband onad os nas
latas d e lixo ou passam a ser “meninos d e rua”, possivelmente a versão urbana
d os “m eninos-lobo”.
São conhecid os muitos casos d e “meninos-lobo”: Vector d e l’Aveyron,
Kaspar H auser, as meninas encontrad as na Índ ia por volta d e 1920 e muitos
outros.
5
O contexto original deste livro é europeu, de modo que o conceito de floresta é bastante diferente do
brasileiro. Da mesma forma, não considera os mitos amazônicos, por exemplo.
86
ou menos rigorosa em sótãos, porões, cubículos, etc. Kaspar Hauser seria o
exemplo mais conhecido, junto com Anna da Pensilvânia, EUA.
87
com param os os anim ais com os hum anos, não terem os ou tra
alternativa senão concluir à primeira vista que naqueles prevalece o
instinto e, nos segu nd os, a ap rend izagem . […] [Porém ao] d izer qu e u m
homo sapiens é um ser d e cultura, que é antes d e tud o um ser social,
um zoon politikon, se esquece que é um ser social por natureza. Quer
dizer, a evolução o preparou para ser social, de modo que sua
sociabilid ad e inata não é u m d ad o antinatu ral ou contra-natu ral, m as
exatamente o contrário, o prod uto d e uma longa evolução biológica que
substituiu prog ressivam ente o instinto com o resposta herd ad a pelo
hábito com o resposta aprend id a. […] (Lam o d e Espinosa, 1996, p. 16).
88
Cabe tam bém im aginar que o d esenvolvim ento d a com plexid ad e social
em socied ad es vizinhas que praticam a caça m ajoritária leva a
d elim itações d e território, cooperação m ú tu a e troca d e serviços, assim
com o relações am istosas. A exogam ia d eve ter aparecid o sob tais
cond ições d e pré-aliança e d e intercâmbios pré-econôm icos com o u m
sistema d e regras que institucionalizam um intercâmbio d e mulheres, e
d e alianças perm anentes entre gru pos. De cara, a exogam ia converte em
orgânica a vinculação entre grupos e se converte no m od elo, na
arm ação d e um novo sistema d e conexão e d e articulação, através d o
qual se d esenvolveram os intercâmbios d e bens, informações e acord os
d e tod o tipo. A exogamia se apresenta, pois, como a chave organizativa
d a abertura sociológica e d os vínculos confed erativos entre d uas ou
m ais socied ad es (Morin, 1973).
89
esteja suficientemente d esacred itad o a ponto d e não pod er ser mantid o com
seried ad e, ou tra form a d e natu ralização, m ais su til, se assim se d eseja, é a qu e
atualiza algum a form a d e d arw inism o social p ara ju stificar a ord em qu e
m antém am plas cam ad as d a popu lação exclu íd as d o pod er, e inclu sive fora d os
p arâm etros m ínim os d e bem -estar social, e o privilégio d e uns poucos até
extremos escand alosos.
À margem d isso, está claro que as normas sociais, as leis, ou quaisquer
ou tras constrições sociais, são d e natu reza convencional; por m ais antigas ou
assentad as que possam parecer, não são como os fenômenos meteorológicos ou
a gravid ad e; tam p ou co foram d itad as p or algu m d eu s. Fom os nós, os seres
hu m anos, qu e as inventamos e as reinventamos cad a vez que as aceitamos
conscientem ente. Certam ente, que sejam convencionais não significa que sejam
o prod uto d e um capricho ou que possam ser facilmente substituíveis ou
intercambiáveis, já que seu impacto sobre nossas vidas é decisivo.
Fernand o Savater expõe claram ente este caráter ao m esm o tem po
natural e convencional d a socied ad e e suas formas d e organização:
90
Com eçam os este item pergu ntand o-nos o que é a socied ad e. Tratamos
d e expor algumas reflexões sobre o assunto a partir d a consid eração d o social
com o um prod uto d a natureza hum ana que vai além d essa natureza e a
m od ifica até o extrem o d e macular o próprio termo “natureza humana”.
Trataremos d e ver agora algumas tipologias que foram utilizad as para
classificar as socied ad es ou a socied ad e.
Leituras complementares
91
d a técnica, aqui com entarem os suas percepções d as d iferentes socied ad es que
d eram lugar aos d istintos estad os d o d esenvolvimento técnico.
6
O termo primitivo deve ser lido com cautela. Neste caso, foi escrito de acordo com o contexto e
interpretação de Gasset na época.
92
enorm em ente, em bora a técnica não tivesse se transform ad o na ú nica e absolu ta
base d e sustentação d as socied ad es. A base sobre a qual estas socied ad es se
apoiaram foi a natureza, ou ao menos assim pensaram seus membros. Aparece
uma d ivisão técnica d o trabalho, uma nova figura: o artesão. Pod e ser que
nessas socied ad es não se tivesse m uita consciência d a existência d a “técnica”,
m as certam ente tinham consciência d a existência d os técnicos, os artesãos;
artesão cu jo ap rend izad o d essas técnicas não é pú blico, m as fechad o e
hered itário ou controlad o pelas agremiações, e que não d istinguiam o inventor
do executor da invenção.
O terceiro tipo d e socied ad e é a socied ad e atual, ond e a relação entre o
homem e sua técnica mud ou novamente. Esse tipo de sociedade seria
impossível sem a técnica, e os membros d a mesma são conscientes d isso. N essa
socied ad e a técnica, como d iz Ortega, constituiu -se numa sobrenatureza, d a
qual já não se pod e prescind ir. Aqui surge e estend e seu d omínio a máquina,
frente ao instrumento que pred ominava no tipo anterior d e socied ad e. Já não é
o utensílio que auxilia o hom em m as o contrário (Ortega y Gasset, 1939, p. 87).
Trata -se d a “técnica d o técnico”, na expressão d e Ortega. N ela o técnico e o
operário se separam e ap arece u m a nova figu ra: o engenheiro. N essa nossa
socied ad e d a “técnica d o técnico”:
93
3.3.2 O desenvolvimento da máquina e sua interação com a sociedade em
Lewis Mumford
94
med iante as lentes em óculos, telescópios e microscópios, e foi um fator
essencial no d esenvolvim ento d a quím ica e no aperfeiçoam ento d os espelhos,
segund o Mum ford (Mum ford , 1934, p. 147).
São muitos os inventos característicos d a socied ad e eotécnica. Talvez o
m ais im portante seja o m étod o experim ental d a ciência, que Mum ford
consid era a m aior realização na fase eotécnica (Mu m ford , 1934, p . 150). A
principal inovação mecânica d essa época é o relógio mecânico, seguid o, aind a
que talvez não em im portância, pela im prensa acom panhad a pelo papel, a cuja
prod u ção se aplicou a m aqu inaria m ovid a por energia m ecânica. Mu m ford
refere-se tam bém a “invenções sociais” d essa civilização, com o a u niversid ad e e
a fábrica (Mumford , 1934, p . 155).
Mumford mostra também d ebilid ad es e problemas d essa socied ad e.
Segund o ele, a principal d ebilid ad e não se encontrava na ineficiência e menos
aind a na carência d e energia, m as na sua irregularid ad e (Mum ford , 1934, p.
159), posto qu e, com o assinalam os, as fontes d e energia eram a água e o vento.
Também havia “d ebilid ad es sociais” d entro d o regime eotécnico. A primeira
era qu e as novas ind ú strias se encontravam fora d o controle d a antiga ord em . A
fábrica d e vid ro, a mineração e o trabalho d o ferro, a im prensa e inclusive as
ind ústrias têxteis d eslocavam -se para o campo, fora d o controle d as
m unicipalid ad es e d os regulam entos d as agrem iações. Mum ford conclui d isso
que os “aperfeiçoam entos m ecânicos floresceram às expensas d os
m elhoram entos hu m anos qu e tão vigorosam ente haviam sid o introd uzid os
pelas agrem iações artesanais, e estas últim as por sua vez iam perd end o
continuam ente força d evid o ao crescim ento d os m onopólios capitalistas que
abriam um fosso cad a vez mais largo entre os senhores e os trabalhad ores. A
máquina tinha um viés anti-social; tend ia, em razão d e seu caráter progressivo,
às mais d escarad as formas d e exploração hum ana” (Mum ford , 1934, p. 160).
95
Em torno d e 1780, cristaliza-se o mod elo paleotécnico, que se pod e ver
em uma série d e inventos e artefatos técnicos: o carro a vapor d e Murd ock, o
forno d e reverbero d e Cort, o barco d e ferro d e Wilkinson, o tear m ecânico d e
Cartw right e os barcos a vapor d e Jou ffroy e d e Fitch. Realizações típicas d a
socied ad e paleotécnica são a ponte e o barco d e ferro. A construção d e
estruturas d e ferro, com o o Crystal Palace, os prim eiros arranha-céu s, a torre
Eiffel etc. converteram o ferro em m aterial u niversal. A ind ú stria m ilitar fez u m
am plo u so d ele. É tam bém u m períod o em qu e a socied ad e se d ed ica a u m a
sistem ática d estruição d o m eio am biente. É a socied ad e d a poluição d o ar e d a
contaminação d as águas.
Assim como a paisagem sofreu uma d egrad ação importante, os seres
hu m anos foram tratad os com a m esm a bru talid ad e. A esperança d e vid a d os
trabalhad ores d a época era muito inferior à d as classes méd ias e seu bem -estar
social, praticamente inexistente. Tud o isso em nome d a prod ução d e mais
benefícios.
Que panoram a social apresenta Mum ford com o característico d a época
paleotécnica? Mumford é bastante crítico com o tipo d e socied ad e que surgiu
aqui. Afirma que a humanid ad e viu-se contagiada por uma espécie de febre de
exploração motivad a pela chegad a repentina d as jazid as d e carvão. O mod o d e
exploração d e minas se tornou mod elo d e outras formas subord inad as d a
ind ústria e inclusive d a agricultura.
96
Era uma socied ad e inclinad a à realização d e benefícios, antes que à
prod ução d o necessário para a vid a. Essa escassez d o necessário era
particularm ente sentid a pelos trabalhad ores que não encontravam casas e se
viam obriga d os a am ontoar-se em barracas com péssimas cond ições higiênicas.
Era tal a d egrad ação que, em mead os d o século 19, tratou -se d e corrigir a
situação med iante uma série d e med id as legislativas. N essa nova socied ad e, a
lu ta d os trabalhad ores pela sobrevivência é constante e feroz.
H á que se d izer que houve resistências a tud o isso não só ind ivid uais
(Ru skin, N ietzsche, Melville…), m as tam bém coletivas, com o as qu e se p rop ôs o
movimento lud ista – sobre os lud itas veja-se o capítulo “O que é tecnologia?” e
Noble, 1995. A introd ução d a m áquina nessa fase teve outra im portante
conseqüência social: a d ivisão d o m und o em zonas d e prod ução d e m áquinas e
zonas d e p rod u ção d e alim entos e m atérias-p rim as, o qu e, segu nd o Mu m ford ,
trou xe conseqüências nefastas qu e serviram d e m otivo p ara a Gu erra Civil
Americana, ao provocar a qued a no consumo d e algod ão, que red uziu os
habitantes d e Lancashire à extrem a pobreza.
Mumford consid era que na socied ad e d essa época há uma ruptura com
o períod o paleotécnico e, em certo sentid o, u m a volta a algu m as características
d a socied ad e eotécnica. É d ifícil d efini-la como um períod o d eterminad o posto
que aind a estamos imersos nela. Tampouco foi prod uzid a uma ruptura com o
períod o paleotécnico, com o a qu e este realizou com relação ao eotécnico.
Mum ford fixa os com eços d a fase neotécnica no m om ento em que os
gerad ores d e energia tornam -se m ais eficientes, por volta d e 1832. Em 1850,
grand e parte d as d escobertas fund am entais d essa nova fase já haviam sid o
prod uzid as: a pilha elétrica, a bateria, o d ínamo, o motor, a lâmpad a elétrica, o
espectroscópio, a teoria d a conservação d a energia. Entre 1875 e 1900 já se
estavam aplicad os esses inventos aos proced im entos ind u striais: a central
elétrica, o telefone. Ou tras invenções características d o p eríod o foram esboçad as
ou com p letad as até 1900: o fonógrafo, o cinem atógrafo, o m otor a gasolina, a
turbina a vapor, o avião…
A fase neotécnica esteve marcad a d esd e o começo por uma nova forma
d e energia, a elétrica. A eletricid ad e qu e, d iferentem ente d o carvão, pod ia
proced er d e várias fontes – o próprio carvão, a correnteza d e um rio, as qued as
d ’águ a, as m arés –, m u d ou tam bém a d istribu ição possível d a ind ú stria
mod erna no mund o, posto que essa ind ústria já não tinha porque situar-se na
Europa ou nos Estad os Unid os, potências d ominantes por seu controle d o
carvão e d o ferro. A eletricid ad e, ao contrário d o carvão, é m uito fácil d e ser
97
transferid a sem grand es perd as d e energia e sem custos excessivos. Ad emais, é
facilm ente convertível d e várias maneiras: com o motor pod e-se realizar um
trabalho m ecânico, com a lâm pad a, ilum inar, com o rad iad or 7 , aquecer etc. O
uso d a eletricid ad e permitiu a sobrevivência d as pequenas oficinas frente às
grand es fábricas características d a socied ad e p aleotécnica. N ão obstante, isso
não im ped iu a concentração d e em presas, qu e é m ais u m fenôm eno qu e
respond e a interesses d os empresários ou ao setor financeiro que a puros
cond icionantes técnicos.
Os m ateriais característicos d esse p eríod o são as novas ligas, as terras
raras e os m etais mais leves – cobre, alu m ínio. Aparecem tam bém novos
m ateriais sintéticos: celu lose, vu lcanite, baquelite e resinas sintéticas.
A socied ad e neotécnica com eça a transform ar rad icalm ente seu s
sistem as d e com u nicação, o qu e constitu i u m a característica d estacad a d o
períod o. O telégrafo, o telefone e a televisão – record em os o que Mum ford
escrevia em 1934 – provocaram contatos m ais num erosos, “instantâneos” e a
longas d istâncias. N ão obstante, Mu m ford era bastante crítico com esses
artefatos:
Apesar d essa visão, qu e algu ns pod eriam consid erar excessivam ente
pessim ista, Mum ford vê na socied ad e neotécnica um a m ud ança com respeito à
atitud e que a socied ad e paleotécnica tinha sobre o entorno, sobre o m eio
am biente. N a fase neotécnica há u m a m aior p reocu p ação com a conservação d o
ambient e natural. Darw in e outros haviam posto a d escoberto a inter -relação
existente no m eio natural entre geologia, clim a, solo, plantas, anim ais, bactérias
etc. Mu m ford cita com o exem p lo a obra d e George Perkins Marsh, qu e já em
1866 havia alertad o sobre os perigos d a d estruição d e morros e d o solo em sua
obra O homem e a natureza.
7
Aqui com o sentido de calefação de ambientes. Sinônimos para este sentido são, por exemplo,
aquecedor e trocador de calor.
98
George Perkins Marsh nasceu em 15 d e m arço d e 1801 nos EUA e m orreu em
23 d e julho d e 1882 na Itália. Foi um d iplomata erud ito e conservacionista cuja
obra m ais im portante – Man and Nature, 1864 (O Homem e a Natureza) –
constituiu um d os avanços mais significativos em geografia, ecologia e gestão
d e recursos naturais d urante o século 19. Marsh d esenvolveu uma exitosa
carreira na prática d o d ireito, porém sua amplitud e d e interesses o levou
também ao estud o d a literatura clássica, d as línguas e d as ciências aplicad as
d a silvicultura e d a conservação d o solo. Após sua passagem pelo Congresso,
foi nomead o Secretário para a Turquia, ond e aproveitou para estud ar
geografia e as práticas agrícolas d o Oriente Méd io e d o Med iterrâneo. Foi
professor d e filologia e etimologia inglesas na Universid ad e d e Columbia e no
Lowell Institute. Quando Abraham Lincoln o nomeou embaixador para a
Itália, aproveitou esse períod o para resumir sua experiência e conhecimentos
em Man and N ature, or Physical Geography as Mod ified by H uman Action,
em 1864. Marsh foi o primeiro a tratar as pessoas como “agentes geológicos
ativos”, que podiam “construir ou degradar”, mas que, de uma maneira ou
outra, eram agentes pertur badores que alteravam a harmonia da natureza e a
estabilid ad e d as ord ens e ad aptações existentes, extinguind o espécies animais
e vegetais nativas, introduzindo variedades estrangeiras e restringindo o
crescimento espontâneo. Marsh estava preocupad o com a destruição d a
camada florestal. Porém o desflorestamento não era senão um exemplo das
muitas maneiras com as quais os norte-americanos, em “o simples ato de
colher todas as partes habitáveis da terra”, haviam “utilizado
sistematicamente mal nossas possessões”.
99
entre “a m áqu ina” e a socied ad e, Carl Mitcham (1989b) exp õe exp licitam ente as
relações entre tecnologia e socied ad e estabelecend o uma tipologia social. A
partir d a obra d e Martin H eid egger, Mitcham fala d e três form as d e ser-com -a
tecnologia. N ão fala d e socied ad es e sim d e épocas histórico-filosóficas, aind a
que não seja d ifícil consid erar essas épocas com o outros tantos tipos d e
sociedade.
Segund o Mitcham, havia um primeiro tipo caracterizad o pela atitu d e
d e suspeita em relação à tecnologia; é o que se chama “ceticismo antigo”. N esta
socied ad e a tecnologia é consid erad a com o algo que nos afasta d e Deus ou d os
d eu ses. Qu anto às su as rep ercu ssões éticas, consid era-se qu e a tecnologia
solapa a virtud e ind ivid ual e, d esd e o ponto d e vista político, a tecnologia é
vista com o um elem ento que atenta contra a estabilid ad e social. A técnica é
d esp rezad a com o fonte ou form a d e conhecim ento, e su as criações, os artefatos,
são consid erad os com o m enos reais qu e os objetos naturais e precisam d e um
guia externo.
O segu nd o tip o d e socied ad e se caracteriza p elo qu e Mitcham cham a
“otim ism o ilustrad o”, um a atitud e d e prom oção d a tecnologia. Aqui se
consid era que a tecnologia é ord enad a por Deus ou pela natureza.
100
técnico. Finalm ente, consid era-se que os artefatos expand em os processos d a
vida e revelam o sublime.
101
recintos com interior, fronteira e exterior e, por outro lad o, com métricas, pois
há um a grand e d epend ência d a vizinhança e d a proxim id ad e, tanto esp acial
quanto temporal.
102
com u nicações estão ind u zind o no m u nd o sejam pensad as com o ou tros
tantos passos para a construção d e um a cid ad e planetária, não d e um a
nação e nem d e um Estad o mund ial (Echeverría, 1999, p. 158).
As socied ad es, qualquer que seja seu grau d e complexid ad e, não são só
u m sistem a estático, m as tam bém m u d am , aind a qu e seu s m em bros pod em não
ser conscientes – ou não sejam no m esm o grau – d essas mud anças.
Existem d iferentes teorias que tratam d e explicar a d inâm ica social.
Vam os repassar as m ais d estacad as segu ind o em parte a obra d e Sztom pka
(Sztompka, 1994). A evolução histórica tem sid o vista em algumas ocasiões
d esd e u m a perspectiva organicista, entend end o qu e a socied ad e é uma espécie
d e organism o em evolução. Outra interpretação é a que explica as m ud anças a
partir d a teoria (ou teorias) d os ciclos históricos.
Como foram entend id os e se entend em, por sua vez, os mecanismos
pelos quais as socied ad es mud am? Em alguns casos foi consid erad o qu e são as
id éias qu e atu am com o m otor d a m u d ança, com o forças históricas. Ou tro p onto
d e vista assinala a importância d o normativo na estrutura social. H á
perspectivas que acentuam a im portância d os grand es ind ivíd uos – heróis –
com o agentes d e m u d ança. Por ú ltim o, consid era-se qu e as forças d e m u d ança
são os m ovim entos sociais, cu ja cu lm inação seriam as revolu ções. Vam os ver
103
cad a uma d estas teorias um pouco mais d etalhad amente.
104
3.4.1.2 A teoria dos ciclos históricos
105
Formas de produção e
Classes Sociais Conflitos
propriedade
• Prop ried ad e
com u n itária d o
território • A p rod u ção agrícola
au m en ta a p op u lação
• A fam ília com o • N ão h á classes, só
Sociedade tribal gerand o-se u m a
u nid ad e social relações d e p arentesco
p rod u ção esp ecializad a
• Casa, p esca, rebanho e qu e d á lu gar a coações
agricu ltu ra com o
ativid ad es econôm icas
• Prod u ção
• Ap arecem os
Sociedade esp ecializad a com os
• Escravos e cid ad ãos p rim eiros conflitos
escravagista escravos com o p arte
entre classes
d os m eios d e p rod u ção
• Prod u ção agrícola em
p equ ena escala com o • Excesso d e p rod u ção
ativid ad e in d ivid u al ou sobre o con su m o
fam iliar • Prod u ção d irigid a
• Servo e senhor
Sociedade feudal • Prop ried ad e m ais ao intercam bio d o
• Grêm ios artesãos
ind ivid u al d a terra e qu e à satisfação d as
d os m eios d e p rod u ção necessid ad es
com p atível com u m a ind ivid u ais
hierarqu ia d e d om ínio
• A tend ência ao
• Meios d e p rod u ção
in crem en to d a m ais
sociais m as d e
Sociedade • Cap italistas e valia au m en ta as
p rop ried ad e p rivad a
capitalista p roletários ten sões en tre as classes,
• Divisão d e trabalho
o qu e a bre u m p eríod o
altam en te organ izad a
revolu cionário
• Ap ós a p ré-história, na
qu al vigorou a
• Meios d e p rod u ção
Sociedade exp loração d o hom em
sociais e d e p rop ried ad e • N ão há classes
comunista p elo hom em , com eça a
com u m
verd ad eira história d a
h u m an id ad e
106
explicar a mud ança social são as crenças, os valores, as motivações, as
aspirações… Os fatores explicativos últim os estão localizad os no reino d as
id éias, d as crenças categóricas e d as crenças norm ativas su stentad os pelas
pessoas. O representante d estacad o d esta concepção é Max Weber. Weber se
p ergu nta com o su rgiu o cap italism o. Resp ond e: foi o resu ltad o d a ap arição d e
u m novo tip o d e em p resários e u m novo tip o d e trabalhad ores. O qu e d istingu e
estes novos tipos? Um ethos ou mentalid ad e específica, o “espírito d o
capitalismo”. Weber vai mais ad iante e consid era que esse “espírito d o
capitalismo” está d iretamente relacionad o com o protestantismo. O que tem o
cred o protestante que possa levar ao pré-capitalismo? A id éia d e vocação: a
satisfação d e um d ever nos assuntos m und anos com o form a m ais alta d e
ativid ad e moral e a id éia d e pred estinação: a obtenção d a graça e d a salvação
em ou tro m u nd o com o conseqü ência d e d ecisões com p letam ente soberanas e
livres d e Deu s, qu e se m anifestaria através d o êxito em em p resas m u nd anas. Se
se é ocioso e se desperdiça o tempo no prazer e no consumo, isto é sinal de
cond enação. Esta tese d e Weber e sua mensagem central, d e que os
d eterm inantes im portantes d os m acro processos históricos se encontram no
micro d om ínio d as m otivações, crenças e atitu d es, foi m u ito influ ente na
sociologia.
107
norm as funcionam com o m otor d a m ud ança é m ed iante a acum ulação d e
inovações normativas. Isto pod e ser exemplificad o com uma ruptura inovad ora
ou d escobrid ora na estru tu ra d e u m a tecnologia p red om inante, com a figu ra d o
profeta religioso ou a autorid ad e que d ita uma nova d efinição d e bond ad e ou
d e justiça etc. Segund o este esquema, iniciad a a mud ança social – em uma
mudança de normas por parte de um indivíduo ou um grupo deles –, a
mud ança é filtrad a por d iferentes agentes sociais – há alguns especialistas em
“filtragem ”, com o os sensores, os avaliad ores d e artigos e livros, os conselhos
d e red ação etc. – e, após a filtragem, prod uz -se a d ifusão d a mud ança que
finalm ente será legitim ad a, se chegar a sobreviver.
108
o que existe nela são conseqüências d e ações ind ivid uais, voluntárias, p od em os
citar Thom as Calyle, que sustenta que “a história universal, a história d o
consegu id o pelos hom ens nesse m u nd o é, em ú ltim a instância, a história d os
grand es hom ens que aqui trabalharam ”. Essa grand eza se m anifesta no pod er
intelectual para compr eend er a realid ad e e na habilid ad e para atuar
ad equad amente.
Consid era-se aqui que o ator principal d as mud anças sociais são os
m ovim entos sociais. Estes m ovim entos são talvez as forças d e m u d ança m ais
p otentes na socied ad e atu al. Aind a qu e os m ovim entos sociais se caracterizem
em geral por u m a série d e aspectos – coletivid ad e d e p essoas atu and o d e form a
conjunta, o fim que se com partilha é algum a m ud ança na socied ad e d efinid a d e
forma similar pelos participantes, a coletivid ad e possui um baixo nível d e
organização form al, as ações tem u m alto nível relativo d e espontaneid ad e –, foi
a partir d o materialismo histórico ou d o marxismo em geral ond e se d estacou a
im portância d os m ovim entos sociais com o agent es d a m u d ança nas socied ad es.
Para o m arxism o, o crescim ento sem p reced entes d as d esigu ald ad es sociais,
com grand es hierarqu ias d e riqu eza, pod er e prestígio qu e acom panham a
m od erna econom ia capitalista leva à percepção d a exploração, à opressão, à
injust iça e à privação. Tud o isso gera hostilid ad es e conflitos d e grupo. As
pessoas cujos interesses estão em perigo estão d ispostas a lutar contra aqueles
que os ameaçam.
N a d inâmica interna d e tod o movimento social pod em -se d istingu ir
quatro estágios:
• Origens. Os m ovim entos sociais se originam em cond ições sociais
historicam ente específicas. Surgem d entro d e um a estrutura histórica
d ad a. O movimento articula os pontos d e vista herd ad os, trad icionais,
os escolhe e seleciona, enfatizand o algumas partes, mas nu nca prod uz
um sistema id eológico d o nad a. A estrutura preexistente d e
d esiguald ad es sociais, as hierarquias estabelecid as d e riqueza, pod er e
p restígio, com as contrad ições e conflitos resultantes entre seg m entos
d a população – classes, cam ad as, gru p os d e interesse… –, é consid erad a
como o fator essencial nas mobilizações. As pessoas afetad as pelas
tensões estruturais d evem d esenvolver certa consciência d e sua
cond ição, algu m a d efinição d os fatores ou d os agentes responsáveis
pela mesma, alguma imagem d e um a possível situação melhor ou
algum proveito para escapar d a realid ad e atual. As formas particulares
d estas pod em variar muito, d esd e os mitos d as socied ad es primitivas
até as d istintas formas d e id eologia d a socied ad e mod erna – id eologia
m oral, religiosa, juríd ica, política etc. N esta primeira fase, muitas vezes
109
um sucesso relativam ente insignificante d esem penha o papel d e fator
precipitad or, iniciand o d e fato a “corrid a” d o m ovim ento.
• Mobilização. N u m prim eiro m om ento são recru tad os aqu eles qu e estão
m ais afetad os p elas cond ições contra as qu ais se levanta o m ovim ento,
que são mais conscientes e estão mais sensibilizad os com respeito aos
problemas centrais d o movimento. Tais pessoas se somam por
convicção e consid eram o movimento um instrumento para consegu ir
as mud anças sociais d esejad as. Em uma segund a ond a d e
recrutam ento, um a vez que o m ovim ento tenha com eçad o sua m archa,
o número d e membros cresce, pod end o aparecer os oportunistas que se
som am com a esperança d e obter benefícios tangíveis – cargos
lucrativos. É im portante para a m obilização a figu ra d os líd eres
carismáticos.
• Elaboração estrutural. Pouco a pouco vão emergind o novas id éias,
crenças, cred os. Logo aparecem novas norm as e valores. Seguid am ente
su rge u m a nova estru tu ra organizativa interna: novas interações,
relações, laços etc. entre os m em bros. Por ú ltim o, em ergem novas
estru tu ras d e oportunid ad e, novas hierarquias d e d epend ência,
d ominação, lid erança, influência e pod er d entro d o movimento.
• Terminação. H á d u as p ossibilid ad es: o m ovim ento vence e portanto
perd e sua razão d e ser, d esmobilizand o-se e d issolvend o-se. Se não
vence, então é suprimid o e d errotad o, esgotand o seu potencial d e
entusiasm o, d ecaind o grad ualm ente sem alcançar a vitória.
110
novas form as sociais estão basead as na ciência. Se em princípio a ciência
aplicou seu saber na prod ução, hoje se aplicam as estratégias prod utivas à
p róp ria ciência. O ú ltim o sécu lo foi “o sécu lo d a ciência” (Sánchez Ron, 2000);
nos ú ltim os cinqü enta anos viveram m ais cientistas qu e em tod a a história
anterior, igual ao que suced e com a própria população humana; e a prod ução
d e artigos e revistas científicas au m entou , e continu a crescend o
exponencialm ente. Se no princípio a d istinção entre ciência básica e ciência
aplicad a – tecnologia – tinha algu m sentid o, hoje parece ter d esaparecid o: d esd e
mead os d o século 19, a d istância entre um conhecimento básico e sua aplicação
prática foi red uzid a até quase d esaparecer e tornar pouco opera tiva aqu ela
d istinção. Vivem os em socied ad es ond e, com o com eçou a entrever Mu m ford e
afirm a Echeverría, os principais flu xos já não são d e energia, e sim d e
informação. É tal esse fluxo que a informação como tal tem perd id o valor.
Talvez o que se necessita agora p ara ter p od er é saber com o u tilizar e m anejar
essa torrente d e informações, às vezes contrad itórias e sempre complexas.
A socied ad e atual é, como foi apontad o antes, uma socied ad e
m u nd ializad a na qu al as novas tecnologias d a com u nicação têm contrib u íd o
p ara u m a d esterritorialização, p ara a p erd a d e im p ortância d as fronteiras
geográficas ou políticas trad icionais; um a socied ad e em que, por exem plo, a
evolução d a bolsa d o extremo oriente pod e ter repercussões catastróficas nas
econom ias d os países d o Cone Su l am ericano. Em m u itos casos isto tem sid o
acom panhad o d e um d esinteresse pelo vizinho: o que acontece no vizinho pod e
parecer m u ito m ais d istante d o qu e o qu e ocorre no ou tro extrem o d o m u nd o,
tal é pod er d os meios d e comunicação.
Esta nova socieda d e tem colocad o a mud ança como novo fetiche,
d epreciand o a estabilid ad e. Tud o d eve encontrar -se em estad o d e mud ança
perm anente. Progresso e avanço são valores ind iscutíveis que passaram d o
mund o tecnológico ao social e o impregnam absolutamente: as vangua rd as
artísticas supuseram o transporte d estes valores d esd e o m und o tecnocientífico
ao artístico.
N esta nova realid ad e globalizad a são poucos os atores que pod em
influenciar na marcha d a realid ad e sociopolítica, só certos países, algumas
grand es m ultinacio nais ou algu ns organism os internacionais. Esta d istância d os
centros d e d ecisão, esta impossibilid ad e d os cid ad ãos d e intervir d e maneira
efetiva sobre seu entorno mais próximo tem d uas conseqüências: a primeira é o
aparecim ento d e id eologias “trad icionais” que preconizam um retorno –
sem p re artificial – a su p ostas essencialid ad es d o p assad o, sejam elas religiosas
ou politicam ente trad icionalistas. Um a segund a conseqüência é prod uto não só
d esse d istanciamento d os espaços d e d ecisão política mas também imprim e
maior d istância entre o que as tecnologias pod em fazer e a valoração d o que se
pod e fazer. Quer d izer, a valoração moral ou ética fica muito aquém d o que
tecnicam ente é possível realizar. A m aior parte d os avanços tecnocientíficos se
111
encontra fora d e um marco ético ou normativo – os exemplos que vêm à mente
estão m u ito p róxim os: clonagem , em briões congelad os, m anip u lação
genética…, p ara citar os m ais evid entes. Isto faz com qu e, p arad oxalm ente, a
ética seja u m “tem a d a m od a”. Dad o qu e “o político” se afasta cad a vez m ais d e
nós, d á a sensação d e que a única maneira d e abord ar as questões
tecnocientíficas por parte d os cid ad ãos é ética: abord á -la politicam ente parece
im p ossível p or ser o p olítico u m território tam bém reservad o a “esp ecialistas”.
Voltarem os a atenção em seguid a para este ponto e exporem os alguns enfoques
éticos da questão.
Assim, pois, é neste tipo d e socied ad e inextricavelmente unid a à
tecnociência, p ensável com o socied ad e m u nd ial – na qual é possível pela
primeira vez na história a interação em nível m und ial e na qual d esem penham
um papel essencial a ciência e a tecnologia, que contribuem para configurá-la e
para d efinir os problem as qu e se estabelecem na m esm a –, qu e algu ns au tores
situ am o protagonism o tecnocientífico d as técnicas d e reprod u ção, d e
m anipulação genética, d e clonagem etc. Sobre estas tecnologias biológicas
aparecem uma vez mais os d ebates entre tecnófilos e tecnófobos: os primeiros
vêm nelas uma oportunid ad e única d e correção d os males d a “natureza
hum ana”, ou d e tod a um a série d e problem as alim entares relacionad os com a
superpopulação. (Recentem ente foi prod uzid o um áspero d ebate na Alem anha,
p rotagonizad o p or Peter Sloterd ijk e su a obra O zoo humano, ond e u m a d as
propostas que realizava o autor se entend ia como uma aplicação d a engenharia
genética na “m elhoria hum ana” após o fracasso d o projeto ed ucativo ilustrad o.
H abermas interveio na polêmica, por via interposta, acusand o Sloterd ijk d e
estar qu ase ressu scitand o os p lanos d e eu genia d o nazism o). Para ou tros, o
prim azia tecnológico em nossa socied ad e carrega as tecnologias d a inform ação,
razão pela qual não se fala só d e “socied ad e d a informação”, mas d e “era d a
informação” (Castells, 1997). São cad a vez mais numerosos os que vêm nestas
tecnologias u m a oportu nid ad e para a “d emocracia total”, uma espécie d e volta
ao id eal ateniense segund o o qual cad a cid ad ão d a nova com unid ad e global
pod eria participar d e tod as e d e cad a uma d as d ecisões tomad as pelos políticos
profissionais em nossos sistem as d em ocráticos representativos; mas, p or ou tro
lad o, tam bém se ad verte d o perigo que estes sistem as d e com unicação e d e
inform ação pod eriam representar para as liberd ad es se, confund ind o o que
segu nd o algu ns é a essência d a d em ocracia (o d iálogo, a busca d e consenso ...)
com a sim p les em issão d e um voto através d e uma red e, houvesse quem
u tilizasse aqu eles sistem as p ara a m anip u lação, a d em agogia, a exclu são, a
elim inação d as id éias contrárias etc.
Ao mesmo tempo, nesta socied ad e nos d eparamos cad a vez mais com
um crescente d esprestígio d a “política” ou d o “político”, que em m uitas
ocasiões e d esd e certas id eologias p retend e-se que seja uma mostra d e
maturid ad e social ou política, e inclusive um id eal a perseguir. Quanto mais
112
pessoas se d esinteressarem d a coisa pública e se ocuparem d o que é seu – cad a
um que cuid e d e si –, m elhor, posto qu e, d iz -se nessas id eologias, esse é o
objetivo d e uma socied ad e avançad a.
Em muitos casos este d esprestígio d o político pretend e ser d isfarçad o
ou su bstitu íd o por u m protagonism o d o “técnico”, avançand o assim na
d espolitização social: se as d ecisões que se hão d e tomar são técnicas, isto
significa que a m aioria d a população não tem a capacid ad e nem os recursos
para d ed icar-se a elas, razão pela qual haverá d e se d elegá-las aos especialistas.
Trata -se d a atualização d a velha d isputa que já inaugurara Platão no Protágoras.
É certo que nas últim as d écad as a d em ocracia se estend eu à m aioria d os
países. E a m aior parte d os cid ad ãos d esses países, percebem o m u nd o por u m a
ótica d em ocrática. Ou seja, situações que em outros tempos se consid eravam
situ ações “natu rais”, com o a pobreza d e grand es cam ad as d a popu lação ou a
su bm issão absolu ta d a im ensa m aioria a u m a m inoria pod erosa, hoje são
consid erad as com o problem as que pod em e d evem ter um a solução. N as
palavras de Salvad or Giner:
Leituras complementares
113
MATTELART, A. (1999): Historia de la utopía planetaria: de la ciudad profética a la
sociedad global. Barcelona, Paid ós, 2000.
114
externas. O sistem a científico-tecnológico é u m su bsistem a ad aptativo e aberto,
qu e atu a pod erosam ente sobre o ambiente em que está imerso, mas que
tam bém recebe suas influências. Por outro lad o, para o autor, a m oral tam bém é
u m sistem a, o sistem a encarregad o d e proporcionar os pontos d e referência
“externos” necessários para m antê-lo sob controle. Para Agazzi, d ad o qu e o
cientificismo impregna nossa cultura, as éticas que permitem esse controle
externo d o com p lexo científico-tecnológico não p od em ser aqu elas qu e se
encontram m ais próxim as d o m esm o em seu s proced im entos, isto é, a ética
analítica ou as éticas na turalistas e d eterministas. Frente a tais éticas o autor
propõe que esse controle externo se exerça d esd e uma visão sistêmica d a ética.
H á várias cond ições para que a ética possa d esempenhar este papel.
Um a é a exigência d e revalorizar plenam ente a existência e o alcance d e
autênticos e específicos valores morais que se d ão na experiência d e tod os os
homens, e que são, por exemplo, o justo, o bem, a leald ad e, a benevolência, o
resp eito, a d ignid ad e d a p essoa ou a resp onsabilid ad e (Agazzi, 1992, p . 361).
Outra é qu e o sistem a científico-tecnológico regu le seu fu ncionam ento d e tal
form a qu e possa correspond er ao respeito d os critérios d e valor e d e d ever
expressos no sistem a m oral. E aqui é ond e Agazzi parece passar d o terreno
m oral ao político, posto que afirma que é preciso que esta regulação seja
objetivad a med iante relações funcionais ou explícitas, ou seja, através d e
norm as d e com p ortam ento p ú blicas e objetivad as em algu m a m ed id a, a m aior
parte d as qu ais estand o aind a por elaborar em su a totalid ad e (Agazzi, 1992, p .
362). Um a terceira cond ição se refere à eficiência d e funcionam ento d o próprio
sistema moral, que não pod e funcionar como um sistema fechad o. Agazzi
propõe que o funcionam ento d a m oral d eve procurar buscar um a otim ização d e
tod os os valores em jogo d entro d a situ ação d eterm inad a (Agazzi, 1992, p . 362).
Isto significa qu e nenhu m valor d eve ser totalm ente sacrificad o, ou
d emasiad amente sacrificad o, e que a maximização d e cad a um d eles venha
limitad a justamente pelo compromisso d e não prejud icar a ad equ ad a satisfação
d e outros valores, o que afasta a proposta d e Agazzi d e uma ética d e tipo
utilitarista. Também segue-se d aí que não há um único critério para optar por
uns ou outros valores; os valores inferiores têm d ireito a um respeito d esd e o
p onto d e vista d a otimização comentad a. Além d isso, não existem valores ou
d everes absolutos, a ad m issão d e norm as ou valores absolutos cond uz a
conflitos insolúveis, salvo que se aceite como solução um único valor absoluto.
Com o se estabelece a otim ização d os valores? Trata-se d e instaurar um a
confrontação d ialética entre as d iversas opções d isponíveis para julgar
d esapaixonad a e racionalm ente d e que m aneira, na situação efetiva, se prod uz a
recíproca relação entre valores e d everes, atend o-se à cond u ta qu e assegu re a
otimização, e permanecend o sabed ores d e que nenhum valor será satisfeito
com p letam ente e qu e algu ns serão m ais sacrificad os qu e ou tros, m as qu e em
conjunto a solução escolhid a será a “m elhor possível” (Agazzi, 1992, p. 362).
115
Leituras complementar es
3.6 Conclusão
116
3.7 Bibliografia
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WAAL, F. d e (1982): La política de los chimpancés. Mad rid , Alianza Ed itorial,
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118
4 - O QUE É CIÊNC IA ,
TECNOLOGIA E SOC IEDA DE?
4.1 Introdução
119
4.2 A imagem tradicional da ciência e da tecnologia
120
N esta visão clássica a ciência só pod e contribu ir para o m aior bem -estar
social esqu ecend o a socied ad e, para d ed icar-se a bu scar exclu sivam ente a
verd ad e. A ciência, então, só pod e avançar persegu ind o o fim qu e lhe é próprio,
a d escoberta d e verd ad es e interesses sobre a natu reza, se se m antiver livre d a
interferência d e valores sociais mesmo que estes sejam benéficos.
Analogam ente, só é possível que a tecnologia possa atuar com o cad eia
transm issora na m elhoria social se a su a au tonom ia for inteiram ente resp eitad a,
se a socied ad e for preterid a para o atend im ento d e um critério interno d e
eficácia técnica. Ciência e tecnologia são ap resentad as com o form as au tônom as
d a cultura, com o ativid ad es valorativam ente neutras, com o u m a aliança heróica
d e conquista cognitiva e m aterial d a natureza.
Leituras complementares
121
(Ciência: a fronteira inalcançável) traça as linhas m estras d a futura política
tecnológica nort e-am ericana, reforçand o o m od elo linear d e d esenvolvim ento: o
bem -estar nacional d epend e d o financiam ento d a ciência básica e d o
d esenvolvim ento sem interferência d a tecnologia, assim com o d a necessid ad e
d e m anter a au tonom ia d a ciência p ara qu e o m od elo fu ncione. O crescim ento
econôm ico e o progresso social viriam por conseqüência. Essa im agem foi send o
corroíd a d esd e o início d a segund a metad e d o século 20, e acontecimentos como
os d e 11 d e setem bro d e 2001 p arecem agir com o u m a lu z d e alerta com relação
a estas visões, planos e conceitos qu e, fatalm ente, em fu nção d este qu e está
send o consid erad o um ponto d e inflexão histórico, d everão sofrer mod ificações.
N o rastro d a história é preciso mencionar que o exemplo d os Estad os
Unid os será segu id o pelo resto dos países ind ustrializad os ocid entais d urante a
Guerra Fria, que se envolveram ativamente no financiamento d a ciência para a
prod ução d e arm am entos para as guerras d a Coréia e d o Vietnã. Por exem plo,
em 1954, é criad o na Su íça o Centro Eu rop eu d e Investigação N u clear (CERN ,
Centre Européen de lá Recherche Nucleaire), com o resp osta eu rop éia à corrid a
internacional na pesquisa nuclear.
Leituras complementares
BARN ES, B. (1985): Sobre ciencia. Barcelona, Labor, 1987.
SALOMON , J. J., et al. (eds.) (1994): Una búsqueda incierta: ciencia, tecnología y
122
desarrollo. México, FCE/Ed . Univ. N aciones Unid as, 1996.
SAN CH EZ RON , J. M.(1992): El poder de la ciencia. Madrid, Alianza.
123
BREVE CRONOLOGIA DE UM FRACASSO
(GONZÁLEZ GARCIA, E OUTROS, 1996)
A União Soviética lança o Sputnik I, o primeiro satélite artificial ao redor da Terra.
Causou uma convulsão social, política e educativa nos Estados Unidos e em outros
países ocidentais.
1957
humanística e científico-técnica.
Desenvolvimento d o movimento contra-cultural, onde a luta política contra o sistema
Anos 60
Afunda o submarino nuclear USS Thresher, seguido pelo USS Scorpion (1968), assim
com o pelo menos três submarinos nucleares soviéticos (1970,1983, 1986).
Cai um B-52 com quatro bombas de hidrogênio perto de Palomares, Almería,
contaminando uma ampla área com radioatividad e.
1966
124
4.3 Os estudos CTS
125
caracterização social d os fatores resp onsáveis p ela m u d ança científica. Prop õe-
se em geral entend er a ciência -tecnologia não com o um processo ou ativid ad e
autônoma que segue uma lógica interna d e d esenvolvimento em seu
funcionamento ótimo (resultante d a aplicação d e um métod o cognitivo e um
cód igo d e cond uta), mas sim com o u m processo ou prod u to inerentem ente
social ond e os elem entos não-epistêm icos ou técnicos (por exem plo: valores
m orais, convicções religiosas, interesses profissionais, pressões econôm icas etc.)
d esem penham um papel d ecisivo na gênese e na consolid ação d as id éias
científicas e d os artefatos tecnológicos.
Aquiles e a Tartaruga
126
Os estud os e program as CTS vêm se d esenvolven do desde o seu início
em três grand es d ireções:
• no campo d a pesquisa, os estud os CTS têm sid o colocad os como
um a alternativa à reflexão acad êm ica trad icional sobre a ciência e a
tecnologia, promovend o uma nova visão não essencialista e
socialm ente contextualizad a d a ativid ad e científica;
• no cam po d a política pú blica, os estu d os CTS têm d efend id o a
regu lação social d a ciência e d a tecnologia, prom ovend o a criação
d e d iversos m ecanism os d em ocráticos qu e facilitem a abertu ra d e
processos d e tomad a d e d ecisão em qu estões concernentes a
p olíticas científico-tecnológicas;
• no campo d a ed ucação, esta nova imagem d a ciência e d a tecnologia
na socied ad e tem cristalizad o a aparição d e program as e m ateriais
CTS no ensino secund ário e universitário em numerosos países.
127
Garcia, López Cerezo e Luján, 1996).
Leituras complementares
ALON SO, A.; AYESTARÁN , I., y URSÚA, N . (ed s.) (1996): Para comprender
ciencia, tecnología y sociedad. Estella, EVD.
MEDIN A, M., y SAN MARTÍN , J. (ed s.) (1990): Ciencia, tecnología y sociedad:
estudios interdisciplinares en la universidad, en la educación y en la gestión pública.
Barcelona, Anthr opos.
N UÑ ÉZ JOVER, J., y LÓPEZ CEREZO, J. A.“Ciencia, tecnología y socied ad en
Cuba”. <h ttp ://cam p u s-oei.org/cts/cu ba/htm >.
GON ZÁLEZ GARCÍA, M. I., LÓPEZ CEREZO, J. A., y LUJÁN , J. L. (ed s.)
(1997): Ciencia, tecnología y sociedad: lecturas seleccionadas. Barcelona, Ariel.
RODRÍGUEZ ALCÁZAR F. J., y otros (1997): Ciencia, tecnología y sociedad.
Granad a: Eirene.
Bibliografias CTS
LÓPEZ CEREZO, J. A.: “Bibliografía básica sobre CTS”, <http ://w w w .cam p u s-
oei.org/cts/bibliografía.htm >.
GON ZÁLEZ GARCÍA, M. I.: “Bibliografía sobre género y ciencia”.
<http ://w w w .cam p u s-oei.org/cts/genero.htm >.
SAN TAN DER GAN A, M.: Ciencia, tecnología, “N aturaleza y socied ad . Base d e
d atos bibliográfica”. <http://w w w .cam pus-oei.org/cts/santand er.htm >.
EN LACES EN IN TERN ET CTS: Organism os p ú blicos d e Ciencia y Tecnología;
Foros; Programas y Red es Internacionales; Asociaciones. Búsq uese a partir d el
enlace: <http://w w w .oei.es/ctsenla.htm >.
128
4.3.1 A tradição européia dos estudos CTS
129
Consid era-se que a configuração d a tecnologia que tem tid o êxito não é
a ú nica p ossível e, p ortanto, esse êxito é o explanundum, não o explanans. O
SCOT elabora m od elos m u ltid irecionais nos qu ais trata d e exp licar p orqu e
u m as variantes sobrevivem e ou tras perecem . Para realizar isto avaliam -se os
problem as que cad a variante soluciona e, posteriorm ente, d eterm ina-se para
que grupos sociais se estabelecem estes problem as. O processo de seleção de
variantes aparece assim com o um processo claram ente social, superand o a
concep ção linear d e p rogresso científico-tecnológico. Isto é, este enfoque
investiga como se constroem os artefatos tecnológicos por meio d e processos
sociais. Um artefato técnico, por exem plo a bicicleta, não se “inventa” sem qu e
se d esenvolva através d e u m p rocesso social no qu al gru p os sociais d e u su ários
influenciam o posterior d esenvolvim ento d os protótipos. Cad a artefato
estabelece certos problem as a seus usuários, e a solução a esses problem as cria
u m novo artefato m ais ad aptad o às su as necessid ad es. Um d os principais
m éritos d o enfoqu e SCOT é su a crítica ao d eterm inism o tecnológico im plícito
na concepção trad icional d o d esenvolvim ento tecnológico.
130
d isso era, em princípio, algo d ad o: eram, precisamente, ao contrário,
algum as d as coisas que se ventilavam nesse processo d e negociação
social, um processo que tem lugar no último quarto d o século 19 e que
implica uma série d e grupos sociais que tratam d e fazer valer sua
própria visão d o problem a. Entre esses grupos encontram os alguns
nitid amente d efinid os, como os engenheiros e fabricant es d e bicicletas,
e outros mais d ifusos, como os ciclistas, os anticiclistas ou as mulheres.
O im p ortante é qu e cad a gru po representa u m a particu lar versão d o
que seja uma boa bicicleta, em função d e seus interesses e d e suas
necessid ad es. A bicicleta atua l não é nad a m ais qu e o resu ltad o
contingente d este processo d e negociação social entre esses atores ou
grupos sociais.
Por exem p lo, u m elem ento técnico tão sim p les com o u m a câm ara d e ar
não constituía claram ente uma melhoria para tod os os atores
envolvid os. Para as mulheres era uma melhoria, pois implicava uma
d iminuição d as vibrações. Obviamente o era também para Dunlop e
outros fabricantes d e câmaras. N o entanto, não era melhoria para os
ciclistas, p ois além d e não reconhecer em absolu to a vibração com o
problema, consid eravam em princípio mais rápid os os pneus sólid os
(m ais tard e m u d aram d e op inião com a introd u ção d e bicicletas com
câm aras nas com petições). De nenhu m m od o era u m a boa inovação
para os engenheiros, qu e consid eravam a câm ara com o u m a
m onstruosid ad e, um a inovação problem ática que pod ia ser substituíd a
p or inovações m ais sim p les e ap rop riad as. Com o está claro, cad a gru p o
atribuía um significad o d iferente à câmara, entend ia d e um mod o
d istinto a p alavra “eficácia” ou “boa bicicleta”. Ou tro tanto p od eríam os
d izer d as rod as assim étricas, d o tam anho relativo d a rod a d ianteira, d o
sistema d e frenagem, d a localização e d esenho d o selim, d o sistema d e
tração etc.
131
“m ecanism os d e fecham ento”). Com o resu ltad o d a interação entre d istintos
atores se prod uzirá o fechamento e seleção final d e um d eterminad o projeto. O
passo seguinte na mod ificação temporal d este projeto reprod uzirá um novo
ciclo em tal esquema d e variação e seleção. O êxito, concluind o, não explica
porque temos a tecnologia que temos, posto que existem d istintas formas d e
entend er o êxito e, portanto, d evemos falar d e pod er e d e negociação na hora d e
explicar que tecnologia vam os d esenvolver e que problem as tratam os d e
resolver m ed iante a m esm a.
O enfoqu e constru tivista, tal com o foi elaborad o por Pinch e Bijker
(1984), prod uz a seguinte m etod ologia. O objetivo é analisar a variabilid ad e d a
interpretação nos d a d os no caso d a ciência, ou a variabilid ad e na interpretação
d os projetos tecnológicos no caso d a tecnologia. Para isso se estud am as
controvérsias científicas ou tecnológicas analisand o as d iferentes opções d os
grupos sociais relevantes. N a seqüência, são analisad os os m ecanism os p elos
quais se red uz a variabilid ad e interpretativa, d e form a que se chega a um a
interpretação d e que o fechamento é possível.
132
na opinião pú blica e nas agend as políticas. N ão é, portanto, u m a su rpresa qu e a
participação pública nessas políticas sejam percebid as hoje em d ia não só por
autores CTS, mas também por numerosos governos e por muitos cid ad ãos,
com o um importante assunto para a socied ad e d emocrática. A reunião d e
Bud apeste d e 1999 é um testemunho d esta inquietação.
Diferentes au tores, afortu nad am ente cad a vez m enos, argu m entam qu e
é m elhor d eixar com os esp ecialistas as d ecisões com relação à gestão d o risco
gerad o pela aplicação d o conhecimento científico e pela utilização d os artefatos
tecnológicos. Esta afirm ação reflete a id éia -chave d o argu m ento tecnocrático: o
público nunca há de envolver -se em tud o que tenha a ver com a ciência e a
tecnologia; a ciência é u m a institu ição au tônom a e objetiva. Dad a a
com plexid ad e d as questões e as rápid as m ud anças na d efinição d os problem as
e su as soluções, o público perd e tem po quand o trata d e form ar parte d a solução
d os problem as técnicos. As elites, argum entam os tecnocratas, tom arão as
d ecisões m ais racionais e ad equ ad as. N o entanto, frente a este argu m ento
tecnocrático, há u m bom nú m ero d e pod erosas razões para d efend er a
participação d o público na gestão d as mud anças científico-tecnológicas. Assim ,
p or exem p lo, Carl Mitcham (1997) d estaca a existência d e oito argumentos:
133
as d ecisões que afetam suas vid as são realizad as por outros.
• argumento instrumental,
• argu m ento norm ativo, e
• argumento substantivo.
134
substantivo, os juízos d os leigos são tão válid os quanto os d os especialistas. Os
leigos, esp ecialm ente aqu eles qu e p ossu em u m conhecim ento fam iliar d o
entorno em que vivem , objeto d e intervenção, vislumbram problemas, questões
e soluções que os especialistas esquecem , d esconhecem ou d esconsid eram com o
realid ad e local. Estu d os sobre os ju ízos d os leigos com relação aos riscos
tecnológicos revelam um a sensibilid ad e aos valores sociais e políticos que os
m od elos teóricos d os especialistas não reconhecem .
O nú cleo d a qu estão não é im p or lim ites a priori ao d esenvolvim ento d a
ciência e d a tecnologia nem estabelecer algu m a classe d e controle político ou
social d o que fazem os cientistas e engenheiros, m as sim renegociar as relações
entre ciência e socied ad e: estabelecer quem d everia d eterminar objetivos
políticos em ciência e tecnologia e quem d everia supervisionar seu
cu m p rim ento. Os lem as d esta renegociação são bem conhecid os: “particip ação
popu lar”, “ciência para o povo”, “tecnologia na d em ocracia” etc. A trad icional
p restação d e contas a cad a qu atro ou cinco anos p or p arte d e governos e
parlam entos nas socied ad es d em ocráticas tem d em onstrad o ser, d esd e esse
p onto d e vista, u m a form a ind ireta d e controle social d em asiad am ente d ébil
ante u m a transform ação científico-tecnológica cad a vez m ais vertiginosa e qu e
traz problemas cad a vez mais prementes.
Contud o, com o assinala por exem plo Dorothy N elkin (1984), a
id entificação d e atores sociais e a coord enação d e seus interesses na
participação pública é uma tarefa que está longe d e ser simples d evid o à
d isparid ad e d e pontos d e vista, d e graus d e inform ação, d e nível d e consciência
e de poder de cada um.
Com base no reconhecim ento d essa diversid ad e d e segmentos sociais,
com relação a tipos d e cid ad ãos e tam bém d e gru pos sociais, a literatu ra sobre a
p articip ação p ú blica assinala habitu alm ente u m conju nto d e critérios qu e
perm ite avaliar o caráter d em ocrático d e iniciativas d e gestão pública em
p olítica científico-tecnológica (ver, por exem plo, Fiorino, 1980; Laird , 1993):
135
• Caráter efetivo. Deve trad uzir-se em um influxo real sobre as d ecisões
ad otad as. Para isso é necessário que se prod uza uma d elegação d a
autorid ad e ou um acesso efetivo para aqueles que a d etêm.
• Caráter ativo. Deve permitir ao público participante envolver-se
ativamente na d efinição d os problemas e no d ebate d os seus
principais parâm etros, e não consid erar som ente reativam ente sua
op inião no terreno d as soluções. Trata-se d e fom entar u m a
participação integral ond e não existam portas fechad as d e antemão.
136
pertencer a tantos gru pos qu antos qu eiram . As d em ocracias plu ralistas pod em
funcionar d e forma correta somente se os grupos pod em funcionar
corretam ente. Por outro lad o, a participação d ireta insiste na autorid ad e d os
ind ivíd u os. Este requ isito tem sérias implicações sobre o que se entend e por
participação. N ão é suficiente unir-se a um grupo. As pessoas d evem participar
d iretamente como ind ivíd uos. As d uas teorias também d iferem acerca d o que
enfatizam . O pluralism o acentua o resultad o, com o se d istribu em os benefícios
e os riscos na socied ad e. Por su a vez, a participação d ireta acentu a d ois
elem entos: os resultad os e os efeitos ed ucativos e psicológicos sobre os
participantes. Esta d iferença estabelece im portantes d ivergências sobre com o as
pessoas vêem as teorias e os efeitos d a ativid ad e política sobre elas. Os
pluralistas estabelecem a necessid ad e d e certas precond ições sociais para que o
sistem a d em ocrático funcione corretam ente.
Deste mod o, d esd e a teoria d a participação d ireta, os atores que d evem
participar são:
• grupos de cidadãos;
• organizações não governam entais (ON Gs);
• associações d e cientistas.
137
Revisem os agora, com base nas cond ições anteriores, algu m as d as
principa is opções d e participação pública que têm sid o ensaiad as em d iversos
países, especialm ente Austrália, Estad os Unid os, Países Baixos, Reino Unid o e
Suécia, possivelmente os mais d inâmicos neste sentid o (Mend ez Sanz e López
Cerezo, 1996; García Palacios, 1998).
138
no principal proced imento que os cid ad ãos têm para restringir e
d irigir a mud ança tecnológica.
139
âm bito form ativo na d ireção d e articular um a opinião pública crítica, inform ad a
e responsável. O objetivo é otimizar esses mecanismos d e particip ação, qu er
d izer, que o público possa manifestar sua opinião, que exerça seu d ireito ao
voto ou , sim plesm ente, qu e possa com prar sabend o o qu e faz em fu nção d as
opções d isponíveis. N este objetivo, a ed ucação CTS é uma peça fund amental.
Leituras complementares
ALON SO, A.; AYESTARÁN , I., y URSÚA, N . (ed s.) (1996): Para comprender
ciencia, tecnología y sociedad. Estella, EVD.
GON ZÁLEZ GARCÍA, M.; LÓPEZ CEREZO, J. A., LUJÁN , J. L. (ed s.) (1997):
Ciencia, tecnología y sociedad: lecturas seleccionadas. Barcelona, Ariel.
SAN MARTÍN , J., y otros (ed s.) (1992): Estudios sobre sociedad y tecnología.
Barcelona, Anthropos.
VV.AA.: “Estu d ios sobre tecnología, ecología y filosofía”, <http ://w w w .cam p u s-
oei.org/ct s/tef00.htm >.
140
nenhum a aplicação prática. É certo que H ard y escreveu essas palavras no m eio
d e u m a gu erra, u m a gu erra ond e se d esenvolviam inovações com o o rad ar ou
os com pu tad ores eletrônicos. N o entanto, se nos d etiverm os a refletir sobre a
ciência e a tecnologia d a segund a metad e d o século 20, suas palavras, como
assinala Freem an Dyson (um cientista pioneiro na aplicação d a energia nuclear
em m ed icina), têm p or d esgraça u m a m aior atu alid ad e d o qu e aqu ela qu e
provavelm ente gostaríam os d e conhecer (Dyson, 1997).
A ciência e a tecnologia atuais seguram ente não atuam precisam ente
como agentes nivelad ores, d o mesmo mod o que outras inovações d o passad o
com o o rád io ou os antibióticos, e sim tend em a fazer os ricos cad a vez m ais
ricos e os pobres cad a vez m ais pobres, acentuand o a d esigual d istribuição d a
riqu eza entre as classes sociais e entre nações. Som ente u m a p equ ena p arte d a
humanid ad e pod e se permitir ao luxo d e um telefone celular ou d e um
computad or conectad o à internet. Isso, quand o essa ciência e essa tecnologia
não destroem de um modo mais direto a vida humana ou a natureza, como
ocorre com tantos exem plos fam iliares. As tecnologias arm am entistas
continu am send o tão rentáveis com o nos tem p os d a Gu erra Fria. A ciência e a
tecnologia atuais são, sem d úvid a, muito eficazes. O problema é se seus
objetivos são socialmente valiosos.
O qu e ocorre com a ciência e a tecnologia atu ais? O qu e aconteceu nos
últim os 40 anos? N esse tem po, assinala Dyson (1997), os m aiores esforços em
p esqu isa básica se concentraram em cam pos m u ito esotéricos, com pletam ente
d istantes d os problem as sociais cotid ianos. Ciências com o a física d e partículas
e a astronomia extragaláctica perd eram d e vista as necessid ad es sociais e se
converteram em ativid ad es esotéricas que só prod uzem bem -estar social aos
próprios cientistas. Trata-se, entretanto, d e linhas d e investigação qu e, pela
infra-estru tu ra m aterial ou p elas grand es equ ip es hu m anas requ erid as,
consomem uma enormid ad e d e recursos públicos.
Por sua vez, a ciência aplicad a e a tecnologia atu al estão em geral
d emasiad amente vinculad as ao benefício imed iato, a serviço d os ricos e d os
governos pod erosos, para d izer d e u m a form a bem clara. Som ente u m a
pequena porção d a humanid ad e pod e usufruir d e seus serviços e inovações.
Pod emos nos perguntar d e que m od o coisas com o aviões supersônicos,
cibernética, televisão d e alta d efinição, ou fertilização in vitro, vão ajud ar a
resolver os grand es problem as sociais qu e a hu m anid ad e tem estabelecid o:
com id a fácil d e p rod u zir, casas baratas, atend im ento m éd ico e ed u cação
acessível.
N ão se pod e esqu ecer, para com pletar este som brio panoram a, qu e
cam p os científico-tecnológicos tão problem áticos com o a energia nu clear ou a
biotecnologia, d enunciad os não só por sua aplicação m ilitar m as tam bém por
sua periculosid ad e social e am biental, am eaçam não só não resolver os grand es
problemas sociais, como também criar mais e novos problemas.
141
O problem a d e base, com o assinala Freem an Dyson (1997), é qu e as
comissões ond e se tomam as d ecisões d e política científica ou tecnológica são
constituíd as som ente por cientistas ou hom ens d e negócios. Uns apóiam os
cam p os d e m od a, cad a vez m ais d istantes d o qu e pod em os ver, tocar ou com er;
ou tros, com o era d e se esp erar, ap óiam a rentabilid ad e econôm ica. Em tem p o,
mobilizam-se os recu rsos d a d ivu lgação trad icional d a ciência em periód icos,
m useus e escolas, para d ifund ir um a im agem essencialista e benem érita d a
ciência, uma ciência que somente funcionará otimamente se se mantiver seu
financiamento e autonomia frente à socied ad e.
A qu estão não consiste, p ortanto, em entrar nos laboratórios e d izer aos
cientistas o que eles têm d e fazer, e sim em vê-los e assu m i-los tal com o são,
como seres humanos com razões e interesses, para abrir então para a socied ad e
as salas e laboratórios on d e se d iscutem e d ecid em os problem as e priorid ad es
de pesquisa e ond e se estabelece a localização d e recu rsos. O d esafio d e nosso
tem po é abrir esses locais herm éticos, essas com issões à com preensão e à
participação pública. Abrir, em suma, a ciência à luz pública e à ética.
Este é o novo contrato social que se reclama em fóruns como o d o
Congresso d e Bud apeste, o objeto d a renegociação d as relações entre ciência e
socied ad e: ajustar a ciência e a tecnologia aos pad rões éticos que já governam
ou tras atividad es sociais, isto é, d emocratizá-las, para estar então em cond ições
d e influ ir em su as p riorid ad es e objetivos, reorientand o-os p ara as au tênticas
necessid ad es sociais, ou melhor, aquelas necessid ad es que emanem d e um
d ebate público sobre o tema.
142
artificialmente as notícias relacionad as com a ciência e a tecnologia pod e
gerar u m a certa desconfiança e receio junto à opinião pública. Quando se
anuncia com grand e estard alhaço a d escoberta d a fusão a frio, com a
conseqüente chuva d e milhões para os protagonistas e instituições nas quais
trabalham, para d esmoronar pouco d epois entre acusações d e fraud e e auto-
engano; quando o presidente dos EUA (W. Clinton) anuncia a descoberta de
vida extraterrestre em um meteorito supostamente de origem marciana, em
um momento d elicad o para o financiamento d a N ASA, red uzind o a
importância pouco d epois entre provas circunstanciais e evid ência ind ireta;
quand o a cad a d ia aparece um novo gene responsável por quase qualquer
coisa, consolid and o um grupo d e trabalho ou as ações d e uma companhia
farmacêutica, e se arma uma pequena agitação pública da qual pouco mais
tard e não se volta a ter notícia; quand o suced em estas coisas o público
inteligente com eça a alterar o juízo e pod e chegar a ver a ciência com
d esconfiança.
Para isso necessitam os fom entar tam bém um a revisão epistem ológica
da natureza da ciência e da tecnologia: abrir a caixa -preta d a ciência ao
conhecim ento pú blico, d esm itificand o su a trad icional im agem essencialista e
filantrópica, e questionand o tam bém o cham ad o “m ito d a m áquina” (nas
palavras d e Lew is Mu m ford ), ou m elhor, a interessad a crença d e q ue a
tecnologia é inevitável e benfeitora em última instância. Pois, como coloca
Dyson (1997, p. 48), fazend o eco d e H ald ane e Einstein, o progresso ético (e
tam bém ep istem ológico, d evem os acrescentar) é, em ú ltim a instância, a ú nica
solução para os problem as causad os pelo progresso científico e tecnológ ico.
A conferência d e Bud apeste pod e ser consid erad a um êxito, pois, aind a
que sem com prom issos concretos d e caráter legal ou econôm ico, conseguiu
p rod u zir u m consenso m u nd ial sobre o texto d a Declaração e sobre o perfil que
d everia ad otar este novo contrato social p ara a ciência; u m consenso ond e as
questões éticas e a participação pública ad quirem um lugar proeminente. Os
estud os CTS pod em constituir um a valiosa ferram enta para este fim e para
manter na ag end a d os governos a tem ática d e Bu da peste.
143
Leituras complementares
GON ZÁLEZ ÁVILA, M.: “La evaluación en las instituciones d emocráticas sobre
la ciencia y la ética de sus proced imientos”, <http ://w w w .cam p u s-
oei.org/cts/m gonzalez2.htm>.
ACEVEDO PIN EDA, E.: “La form ación hu m ana integral: Una ap roxim ación
entre las hu m anid ad es y la ciencia”, <http ://w w w .cam p u s-
oei.org/cts/elsa1.htm >.
MARTIN ÉZ ÁLVAREZ, F.: “H acia una visión social integral d e la ciencia y la
tecnología”, <http ://w w w .cam p u s-oei.org/cts/vision.htm>.
144
4) ação ind ivid ual e social responsável, orientad a a levar para a prática
o processo d e estud os e tom ad as d e d ecisão, geralm ente em
colaboração com gru pos com u nitários (por exem plo, “oficinas d e
ciência”, gru p os ecologistas etc.); 5) generalização a consid erações m ais
am plas d e teoria e princípio, inclu ind o a natu reza “sistêm ica” d a
tecnologia e seus impactos sociais e ambientais, a formulação d e
políticas nas d emocracias tecnológicas m od ernas, e os princípios éticos
que possam guiar o estilo d e vid a e as d ecisões políticas sobre o
d esenvolvim ento tecnológico. Por outro lad o, pod em os cham ar essas
fases progressivas d e “Ciclo d e Responsabilid ad e” (Waks, 1990).
Desd e m ead os d o sécu lo 20, a ten d ên cia n o en sin o d as ciên cias esteve cen trad a n os
conteú d os, com u m forte enfoqu e red u cionista, técnico e u niversal (N ovak, 1998).
Sabe-se qu e o conhecim ento científico é esqu ecid o rap id am ente p or qu em ap rend eu
na escola, o qu e p erm ite qu estionar as form as d e instru ção trad icional qu e se levam a
cabo nos centros acad êm icos. E, o qu e é m ais grave, a ed u cação científica não confere
com p etência p ara os p lanos p rofissional e p essoal. Em ou tras p alavras, o
enciclop ed ism o característico d as escolas não form a p ara tom ar d ecisões essenciais
com esp írito crítico (Giord an et alii, 1994).
145
sejam oferecid os com o especialização d e pós-grad u ação (cu rsos, m estrad o) 8 ou
com o com plem ento curricular para estud antes d e d iversas proced ências9:
Leituras complementares
8
- Alguns cursos proliferam pelo Brasil. Pode-se citar como exemplo o mais recentemente implantado na
UFSC com o nome de Programa de Pós-graduação em Educação Científica e Tecnológica. (ver página do
NEPET http://www.nepet.ufsc.br)
9
- Os núcleos de estudos com enfoques nesta direção podem ser boas soluções. O NEPET, por exemplo,
tem por finalidade, além de difundir o assunto em diversos fóruns do Brasil, formar pessoal para começar
a atuar nessa área.
146
<http ://w w w .cam p u s-oei.org/cts/ctsi/ed u tec.htm >.
147
ciência e d a tecnologia. Exem plos d essa linha d e trabalho são o
projeto SATIS e o H arvard Project Physics, nos Estad os Unid os. O
projeto SATIS consiste em pequenas unid ad es CTS, elaborad as por
d ocentes, que d esd e 1984 pu blicou m ais d e cem d estas unid ad es,
cuja utilid ad e principal é com plem entar os cu rsos d e ciências.
Algu ns títu los são: o u so d a rad ioativid ad e, os bebês d e proveta, a
reciclagem d o alum ínio, a chuva ácid a e a AIDS.
Algumas das virtudes dos cursos de ciências através de CTS são as seguintes
(Waks, 1990): 1) os alunos com problemas nas disciplinas de ciências
aprendem conceitos científicos e tecnológicos úteis a partir desse tipo de curso;
2) a aprendizagem é mais fácil devido ao fato de que o conteúdo está situado
num contexto de questões familiares e está relacionado com experiências extra-
escolares dos alunos; 3) o trabalho acadêmico está relacionado diretamente com
o futuro papel dos estudantes como cidadãos.
148
chegou a um a certa situação problem ática no presente.
CTS puro pode cumprir certas funções. Se não se conta no currículo com
outros elementos CTS, tal versão pode ser útil para tentar remediar esta
situação na medida do possível. Porém, sobretudo pode ser de grande ajuda nos
cursos e disciplinas de humanidades e ciências sociais que, em geral, não têm
intenção de ocupar-se das questões sociais, políticas ou morais relacionadas
com a ciência e a tecnologia (González Garcia, López Cerezo e Luján,
1996).
149
Leituras complementares
4.6 Conclusão
Como pod emos ver, em tod os os enfoques na trad ição européia existe
u m a d iversid ad e d e aproxim ações qu e, aind a qu e coincid ind o em ressaltar os
asp ectos sociais d a ciência e d a tecnologia, ap resenta algu m as d iferenças no qu e
d iz respeito ao seu d istanciamento d a visão mais trad icional d a ciência e d a
tecnologia. Em geral, e com exceção d e algu ns rad icalism os, m u itos au tores
atuais d os estud os CTS aceitam a concorrência d e u m a d iversid ad e d e fatores,
ep istêm icos e não-epistêm icos, nos processos d e gênese e consolid ação d e
afirm ações d e conhecim entos científicos e artefatos tecnológicos. Aind a qu e
tam bém seja necessário fazer notar qu e em nenhu m caso se trata de
d esqu alificar a ciência e a tecnologia, m as d e d esm itificá -las no sentid o d e
mod ificar uma imagem d istorcid a d e ciência -tecnologia qu e vem cau sand o
m ais inconvenientes d o qu e vantagens. Em particu lar, o propósito d a sociologia
d o conhecim ento científico d os anos 1970 não era realizar u m a crítica rad ical d a
ciência, e sim o d e fazer uma ciência d a ciência, ou melhor, fazer d o
conhecimento científico também um objeto d e estud os d as ciências sociais
(Fu ller, 1995).
A trad ição americana d e estud os CTS, por sua vez, centrad a nas
conseqüências sociais e am bientais relacionad as com o d esenvolvim ento
científico-tecnológico, procurou d efinir e prom over novas regras d e jogo em
torno d a regulação social d a ciência e d a tecnologia, a partir d a participação d e
d iversos atores sociais (afetad os, interessad os, governo, esp ecialistas,
organizações não-governam entais, entre ou tros) em cond ições éticas, d e
iguald ad e, representação e efetivid ad e em tod o o processo.
Finalm ente, tem -se visto como os estud os CTS têm lograd o permear os
processos ed u cativos, tanto no ensino su perior com o no secu nd ário, e
crescentem ente nas esferas d e d ivulgação científica. A d iversid ad e d e
estratégias, tanto com o as experiências d id áticas ensaiad as, fazem d o tem a u m
campo promissor para a sua promoção nos sistem as ed ucativos d a
iberoam érica, aproxim and o a ciência d a socied ad e e tam bém esta d aquela.
150
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155
156
Glossário
10
No Brasil, o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) constitui uma importante forma de avaliação de
tecnologias.
157
grau s d e confirm abilid ad e: A é confirm ad o por B; A é apoiad a por B; B
p rop orciona u m a prova positiva d e A. Tam bém se pod em d ar valores
numéricos aos graus d e confirmação nestes exemplos.
Contracultura (ou m ovim ento contracu ltu ral). Am p lo m ovim ento social
contrário ao establishment ou cultura oficial. Desenvolveu-se fund amentalmente
nos anos sessenta e setenta d o século 20 em nações ind ustrializad as ocid entais,
cu lm inand o com o m ovim ento estu d antil francês d e m aio d e 68 e as revoltas
nos Estad os Unid os contra a Gu erra d o Vietnã no final d os anos sessenta.
Trad icionalm ente, a tecnologia e o Estad o tecnocrático foram tam bém alvo d e
seus protestos.
158
d enom inaram “socied ad e d a inform ação”, “ciberespaço”, etc. O próprio
Echeverría referiu-se também a esta nova socied ad e com o telepolis.
159
este princípio, a sociologia d o conhecim ento científico d eve pod er oferecer um a
explicação sociológica d e seus próprios resultad os. N este sentid o, autores como
os anteriores d esenvolvem u m a antrop ologia reflexiva d a rep resentação
sociológica d a mud ança científica (e tecnológ ica). Esta linha d e trabalho foi
acu sad a, m esm o no interior d os estu d os CTS, d e excessivam ente relativista e
“d esconstrutiva”.
Guerras da ciência. Disputa entre d ois grupos acad êm icos, corresp ond entes às
d u as cu ltu ras d e C.P. Snow acerca d a natu reza d o conhecim ento científico e, em
geral, às relações ciência -socied ad e. Por um lad o encontramos os sociólogos d o
conhecim ento científico e ou tros au tores CTS, assim com o teóricos d os estu d os
cultu rais e d o feminismo, d efend end o o caráter social d a ciência e a
d em ocratização d as políticas públicas em ciência e tecnologia; e, por outro, os
cientistas (basicam ente físicos) e filósofos racionalistas d efend end o a im agem
clássica, essencialista e benfeitora d o conhecim ento científico e d a au tonom ia
política d a ciência. Alguns momentos-chave d esse enfrentamento foram o veto,
pelo Congresso d os Estad os Unid os, d a construção d e um superacelerad or no
Texas, em 1993, com a “caça às bru xas qu e segu iu ao episód io; e a publicação
em 1996 d e u m artigo d e Alan Sokal, u m físico novaiorqu ino, na revista Social
Text (u m a revista d e estu d os cu ltu rais d a ciência), em qu e ele consegu iu
enganar os ed itores e publicar um a absurd a relativização d a teoria quântica.
História das ciências. É um relato ou d iscurso sobre um objeto que mud a, que
se mod ifica, como é o caso d a ciência. A concepção que se tenha sobre a ciência
e sua d inâmica influi na história d a ciência. Se, por exemplo, assimilamos a
história d as ciências com o história d as id éias, o objeto p referencial d e estu d o
será o d as teorias científicas, que se submete a uma análise filosófica e lógica. A
evolução d as ciências consiste, a partir d esta perspectiva, na elaboração d e
teorias mais ou menos aperfeiçoad as, quer d iz er, capazes d e unificar um
número crescente d e fenômenos e d e d ar conta d eles. Esta evolução é presid id a
por um a lógica interna, na qual não entram as circunstâncias exteriores. A
ciência é concebid a como uma encarnação d a razão, ou seja, como um conjunto
d e regras que são válid as para tod os os sujeitos pensantes, e o entorno social,
nesta perspectiva, tem somente um interesse secund ário. A partir d os trabalhos
d e Merton, John Bernal e sobretud o d e Kuhn, o conceito d e ciência se mod ifica,
pois as cond ições sociais ad quirem relevância d entro d a prod ução d o
conhecimento científico. N este sentid o, a história d as ciências ad quire um novo
estatuto, e seu interesse vai girar em torno não somente d as id éias científicas,
160
com o tam bém d as institu ições, d as acad em ias e, em geral, d os interesses d os
sociólogos. Por último, com a renovação d os estud os sociais d a ciência, a
história d as ciências ad quire interesse por outros objetos trad icionalmente não
p rivilegiad os na análise histórica, tais com o as p ráticas, o saber-fazer d os
cientistas, as formas d e fechamento d os d ebates e os fatores não epistêmicos
qu e intervêm na constru ção d a ciência. É esta constru ção, com o p rocesso
histórico, o que se constrói com o relato d a nova história d as ciências.
161
Mudança tecnológica. Um avanço na tecnologia, um incremento no
conhecim ento técnico ou na própria tecnologia. Im plica m u d ança d entro d as
relações técnicas d e prod ução, um processo estreitam ente relacionad o com a
pesqu isa tecnológica. É u m fenôm eno com plexo e seletivo, qu e proced e por
trajetórias interrom pid as por im portantes d escontinu id ad es associad as p elo
surgimento d e novos parad igmas tecnológicos.
Político, envolvimento. N a socied ad e atu al tend e-se a prod uzir uma crescente
perd a d e interesse e u m d istanciam ento d a política por parte d os cid ad ãos. Este
fenôm eno, propiciad o em grand e m ed id a pelos m ecanism os d e d espolitização
que utilizam as estruturas trad icionais d e pod er, aliou-se com a visão
cientificista para contribu ir no d istanciam ento qu e com entam os. Os estu d os
CTS estabelecem em certo mod o uma recuperação d a política e uma extensão
d a participação cid ad ã até as esferas d e d ecisão trad icionalm ente m ais
d istanciad as d o público: o d as questões tecnocientíficas.
162
N esta concepção nega -se trad icionalm ente a relevância explicativa d os fatores
não-epistêmicos para o avanço em ciência.
Programas de pesquisa. Esta teoria, proposta por Lakatos como mod elo d e
avaliação d e trad ições teóricas nas ciências, p arte d e u m exam e crítico d e várias
tend ências na filosofia d a ciência, tanto d e d iversas versões d o ind utivism o
com o d o falseabilism o popperiano. Um program a d e pesqu isa consiste em u m a
série d e teorias estreitam ente relacionad as com o evolução tem poral d e um
“m arco teórico”, uma série ligad a por regras metod ológicas, algumas d as quais
163
ind icam que caminhos têm -se qu e segu ir (heu rística positiva) e ou tras qu e
caminhos tem-se que evitar (heurística negativa). A história d as ciências mostra
os mod os como se estabeleceram, progred iram e regeneraram os programas d e
pesquisa. Lakatos examinou em d etalhe as d istintas esferas que constituem os
programas d e pesquisa, o caráter flexível d a heurística positiva, o papel d as
anom alias e d o progresso “em um oceano d e anom alias”, assim com o as
d iferentes interp retações qu e se p od em d ar às confirm ações, refu tações, ataqu es
ou desafios.
Rede de atores, teoria da. Diversos au tores, na p esqu isa acad êm ica CTS,
esp ecialm ente Bru no Latou r e Michel Callon, d esenvolveram u m a linha d e
trabalho basead a no terceiro p rincíp io d o “Program a Forte”, a sim etria. Para
estes au tores, u m a exp licação realm ente sim étrica d e teorias científicas ou d e
artefatos tecnológicos requer outorgar a m esm a categoria explicativa a atores
humanos (“o social”) e a atores não humanos (“o natural” ou “o ma terial”).
Segund o este enfoque, utilizar o social para d ar conta d o natural ou d o material,
com o faz a sociologia d o conhecim ento científico, é assu m ir u m a posição tão
insatisfatória cientificam ente quanto a inversa d a assum id a pela filosofia d a
ciência trad icional. Para estes au tores franceses tod os os atores, hu m anos e não
hu m anos, interagem e evolu em ju ntos, form and o os nós d a red e qu e constitu i a
“tecnociência”.
Sistema P&D. Sistem a d e pesqu isa e d esenvolvim ento, qu e inclu i a pesqu isa
básica e o d esenvolvimento d e aplicações a partir d ela. H oje em d ia, ante a
estreita vinculação d a ciência e d a tecnologia e a crescente circulação d estas com
164
os sistemas prod utivos, tend e-se a falar em “sistemas d e inovação” ao invés d e
P&D. Excluem -se ativid ad es científico-tecnológicas relacionad as com a
formação e o assessoramento.
Sistema social. A teoria geral d e sistem as foi aplicad a na sociologia, aind a que
com p recau ções, d evid o a d iferenças entre as estru tu ras sociais e os m od elos
cibernéticos. Mesm o qu e u m d os prim eiros intentos para aplicar esta teoria na
socied ad e tenha sid o o d e Walter Buckley, na atualid ad e os d esenvolvimentos
m ais interessantes são os qu e N iklas Lu hm ann levou a cabo. N a teoria d este
autor, a socied ad e não é composta d e seres humanos, mas sim d e
com u nicações. Os seres hu m anos são o entorno d a socied ad e, não com ponentes
d a mesma. Esta socied ad e, composta d e comunicações, d iferencia -se
internamente segund o seu grau d e d esenvolvimento em d iferentes subsistemas
sociais. Cad a su bsistem a é au top oiético12 , isto é, pod e criar sua própria
estru tu ra e os elem entos d e qu e se com põe, e é tam bém au to-referente: é u m
sistema fechad o em si mesmo mas, segund o Luhmann, não isolad o d o entorno.
Os sistemas – subsistemas – sociais m ais relevantes são o d ireito, a econom ia, a
política, a religião, a ed ucação e a ciência.
Sociedade mundializada. A socied ad e atual pod e ser consid erad a como uma
socied ad e “m u nd ializad a”, ou tam bém “globalizad a”. O term o “globalização”
converteu-se em um tópic o d os m eios d e com unicação d e m assas. Marshall
McLuhan pôs em circulação o term o “ald eia global”, em 1962, para referir -se à
nova socied ad e qu e estava nascend o. McLu han, qu e se converteu ao
catolicism o com vinte e cinco anos d e id ad e, sustentava em um a entrevista com
o religioso Pierre Babin qu e “tu d o está no evangelho: há qu e se sintonizar a boa
freqüência”. As conotações religiosas d a socied ad e global voltam a fazer -se
presentes se tiverm os em conta que o teólogo Pierre Teilhard d e Chard in já
falava em 1938 d e “planetização” ou “hu m anid ad e concebid a com o m assa”, e
12
Ver autopoiese em Maturana e Varella.
165
d e N oosfera com o novo envolvente esp iritu al d a hu m anid ad e. H oje a
globalização é um fenômeno fund amentalmente empresarial ou comercial,
med iad o pelas novas tecnologias d e transporte e d a comunicação.
166
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