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BRASILEIRA
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
CARREIRAS OCULTAS: A ELITE DO PODER NA MAÇONARIA
BRASILEIRA
INTRODUÇÃO
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Universidade Federal do Paraná. E-mail: tiagovalenciano@gmail.com. Doutorando em
Sociologia, Mestre e Graduado em Ciências Sociais pela UEM.
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A partir do posicionamento da maçonaria em ocupar postos estratégicos nos
segmentos político, econômico, social, militar e religioso é que optamos por estudar a
temática. Nossa motivação é verificar em qual medida a maçonaria interfere nas
decisões do país, ou seja, será que a maçonaria de hoje tem o mesmo poder de eleger
integrantes e direcionar os rumos do Brasil (por intermédio dos seus membros) como na
Proclamação da República, por exemplo? E, neste aspecto, indagamos: até que ponto
um grão-mestre, uma espécie de presidente nacional pode aferir nas decisões ou
influenciar de alguma forma os rumos políticos do país? Será que o prestígio
socioprofissional é um indicador na escolha de um grão-mestre? E mais: existe uma
“receita”, composta por ingredientes específicos para que um cidadão seja eleito grão-
mestre?
Neste sentido, o presente trabalho busca responder a seguinte questão: quais são
os atributos para que um integrante da maçonaria seja eleito presidente nacional? A
análise será feita a partir da relação existente entre: a) as carreiras daqueles que
ocuparam o cargo de presidente da Confederação Maçônica do Brasil (COMAB), uma
das três principais segmentações maçônicas do país, desde o ano de sua fundação
(1973); b) e os debates sobre o elitismo, relativamente às questões de recrutamento e
seleção dos candidatos – neste caso específico dos maçons que integram esta pesquisa.
Em um primeiro momento, levantamos as razões da constituição da COMAB
após a dissidência com o Grande Oriente do Brasil (GOB), o que causou uma divisão do
poder na maçonaria brasileira até hoje (atualmente, além das duas instituições citadas,
há a Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – CMSB, formando o trio dos
principais segmentos que comandam as ações dos seus integrantes). Para tal, dividimos
a história da instituição em duas fases: 1) fundação e denominação de Colégio de Grão-
Mestres da Maçonaria Brasileira, que durou até 1991; 2) e a formação da Confederação
Maçônica do Brasil, de 1991 até o presente.
Em segundo lugar, utilizamos o método posicional enquanto marco teórico, no
sentido de delimitar o grupo pesquisado, bem como os diálogos estabelecidos com o
referencial teórico sobre o elitismo – em especial a origem social e o recrutamento dos
maçons. Neste sentido, buscou-se estabelecer uma conexão entre a teoria, o método e as
carreiras em estudo, com o objetivo de auxiliar a compreensão dos dados.
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No último momento, recorremos ao portal da COMAB e a outras fontes
correlatas, para então delinearmos o perfil de cada presidente da instituição – o qual é
eleito entre vinte e um Estados do Brasil, formando assim uma espécie de federação
maçônica. Trinta e oito mandatos ocorreram de 1973 até o presente, sendo que cada
mandato tem a duração de um biênio.
A partir do apontamento destes perfis, pretendemos diagnosticar quais são as
carreiras de cada presidente, delineando os principais atributos para exercício da função
– profissão, escolaridade, carreira na instituição e segmentos de atuação dentro da
própria maçonaria, ou seja, se há atuação legislativa ou executiva na própria
organização interna ou se há uma inclinação para atividades filosóficas, por exemplo.
Por fim, salientamos que os resultados indicam a elitização da instituição e a
dedicação de longas carreiras até a eleição, o que colabora para elucidar o problema do
presente trabalho. Em geral, analisamos a dinâmica das eleições no colégio dos grão-
mestres e as escolhas profissionais, econômicas e sociais, indagando se o processo de
escolha de um presidente da COMAB interfere ou não na composição da elite da
maçonaria do Brasil – aqui atribuída ao cargo máximo que um integrante da maçonaria
pode alcançar neste sistema de federação de Estados pesquisado.
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compreender se o comportamento das elites tem alguma relação com a origem social de
seus membros.
Neste contexto, a preocupação em responder a questão motriz do trabalho (se há
ou não um itinerário para ser eleito presidente da COMAB) perpassa pela carreira
prévia de um maçom na instituição. Antes mesmo de ser eleito Grão-Mestre Estadual, o
candidato a maçom é sondado por integrantes de alguma loja e a condição profissional
exercida reflete o interesse de um integrante convidar uma pessoa para participar da
instituição. Portanto, o interesse na origem social é evidente desde o momento do
convite, passando pelas esferas na carreira maçônica até atingir o posto de presidente
nacional, algo que investigamos nesta pesquisa.
Diante das três etapas do estudo desta “representação subjetiva de classe”,
Codato e Perissinotto argumentam que:
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presidentes da COMAB, ressaltando que, posicionalmente, a instituição compactua com
as premissas de pertencimento ao elitismo, seja pelo próprio perfil de seus membros,
seja pelas ações históricas no campo político, econômico, militar e, em nosso caso,
sócio-institucional.
Procuramos, dessa forma, avaliar uma subdivisão do campo de estudo das elites,
denominado como “elites sócio-institucionais”, isto é, as elites que por um lado são
formadas no interior de instituições e se tornam elites dentro da própria instituição que,
por outro lado, tem posição social elitista, contemplada nesse trabalho sobre a
maçonaria e seus membros.
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Optamos, deste modo, pela definição do que é maçonaria dada pelo Grande
Oriente do Brasil (GOB), a instituição maçônica mais antiga do país, fundada em 18222,
disponível em seu portal na internet:
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Para maiores informações sobre a história do Grande Oriente do Brasil, consultar o livro José Castellani
e William Almeida de Carvalho, “História do Grande Oriente do Brasil – A Maçonaria na história do
Brasil”, São Paulo: Madras, 2009.
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estruturantes da condição maçônica, pelos quais a doutrina institucional é repassada aos
integrantes.
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estaduais funciona desde 1927 e, tal marco histórico de 1966 serve apenas para
formalizar a união nacional em torno desta organização.
A paz entre o poder central (GOB) com os organismos estaduais permaneceu até
1972, quando o maçom Athos Vieira de Andrade foi candidato a grão-mestre nacional
do Grande Oriente do Brasil, perdendo a eleição para Osmane Vieira de Resende. Tal
eleição novamente contou com indícios de fraudes na apuração (CASTELLANI &
CARVALHO, 2009, p. 265), com alguns votos sendo anulados. A segunda cisão
relevante na história do GOB ocorreu em 27 de maio de 1973, com a separação dos
Grandes Orientes Estaduais do organismo nacional e a posterior fundação do Colégio de
Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira.
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Disponível em: < http://www.comab.org.br/?sec=institucional&page=historia> Acesso em: 20 Junho
2013.
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dos anos, necessitando de reorganização estrutural a partir de então. Na figura abaixo
visualizamos as rupturas do Grande Oriente do Brasil:
Organismos Estaduais
Confederação da Maçonaria
independentes, mas
Simbólica do Brasil (1927)
harmônicos
Organismos Estaduais
Grande Oriente do Brasil Confederação Maçônica do
independentes, mas
(1822) Brasil (1973)
harmônicos
Organismos Estaduais,
subordinados diretamente
ao GOB, reorganizados em
1927 e 1973
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2013
completa quarenta anos de fundação. Reúne vinte e um orientes estaduais independentes
e estima-se que 35 mil maçons participam das lojas dos respectivos orientes.
Atualmente, a instituição é presidida por Lázaro Emanuel Franco Salles, que é Grão-
Mestre do Grande Oriente de Minas Gerais. Vale ressaltar que todos os membros da
diretoria da COMAB são Grão-Mestres estaduais, ou seja, só é permitida a participação
dos respectivos presidentes na diretoria da entidade.
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presidir a COMAB e quando o maçom a preside ocorre com o mandato de grão-mestre
estadual, dividindo as preocupações com a administração de duas instituições.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA FILHO, José Carlos de Araújo. O Ensino Jurídico, a Elite dos Bacharéis
e a Maçonaria do Séc. XIX. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade
Gama Filho, 2005.
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a Ação da Maçonaria Brasileira
(1870-1910). Campinas: Ed.Unicamp, 1999.
_________, Alexandre Mansur. Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada e Independência
(Brasil, 1790-1822). Dissertação de Doutorado. Campinas: Unicamp, 2002.
BELLINI, Moyses. Grande Oriente do Brasil – Paraná : uma síntese de sua
história. Ponta Grossa: Gráfica Planeta, 2002.
CASTELLANI, José. CARVALHO, William Almeida de. História do Grande
Oriente do Brasil: a Maçonaria na História do Brasil. São Paulo: Madras/GOB,
2009.
COLUSSI, Eliane Lucia. A Maçonaria gaúcha no século XIX. 3 ed. Passo Fundo:
UPF, 2003.
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Site do Grande Oriente do Brasil - GOB.
Disponível em: < http://www.gob.org.br> Acesso em: 10 junho 2013.
ZUCOLI, Hiran. Museu Maçônico Paranaense. Disponível em: <
http://www.museumaconicoparanaense.com> Acesso em: 10 Maio 2013.
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