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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA SUL-RIO-GRANDENSE

CÂMPUS SAPUCAIA DO SUL

RAFAEL BASSO XAVIER

MAIS EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DOS ALUNOS


PARTICIPANTES NO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA DO SUL

SAPUCAIA DO SUL

2016
RAFAEL BASSO XAVIER

MAIS EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DOS ALUNOS


PARTICIPANTES NO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA DO SUL

Trabalho apresentado como requisito parcial para


a conclusão do Curso Técnico em Eventos, pelo
IFSul – Campus Sapucaia do Sul.
Área de concentração: Educação
Profa. Orientadora: Ma. Carla Giane Fonseca do
Amaral
Profa. Coorientadora: Dra. Fani Conceição
Adorne

SAPUCAIA DO SUL

2016
RAFAEL BASSO XAVIER

MAIS EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DOS ALUNOS


PARTICIPANTES NO MUNICÍPIO DE SAPUCAIA DO SUL

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito (parcial) à obtenção do título de Técnico
em Eventos do Curso de Eventos do IFSul Campus
Sapucaia do Sul. Área de concentração:
Educação/Eventos Orientador(a): Profa.° Ma Carla
Giane Fonseca do Amaral.

Aprovada pela banca examinadora em _____/_____/______

___________________________________

Profa.Ma. Carla Giane Fonseca do Amaral – Instituto Federal Sul-rio-grandense(IFSul)

_____________________________________

Profa. Dra. Camila Xavier Nunes –Universidade Federal da Bahia (UFBA)

_____________________________________

Prof. Dr. Leonardo Renner Koppe – Instituto Federal Sul-rio-grandense(IFSul)


“O conhecimento serve para encantar as pessoas, não para humilhá-las...”
Mario Sergio Cortella

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo investigar como os eventos do Programa Mais
Educação, desenvolvido pelo Ministério da Educação, têm contribuído para a formação
de estudantes da rede municipal de Sapucaia do Sul. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa baseada em um estudo de caso. Os dados foram obtidos por meio de
entrevistas semiestruturadas. Nosso interesse é saber se este programa tem produzido
efeitos na formação dos alunos participantes. Esses efeitos são percebidos de que forma
na fala dos participantes? Os objetivos específicos do trabalho são identificar a relação
entre a percepção de professores e alunos participantes dos eventos e o desempenho
escolar dos alunos, bem como investigar os métodos utilizados na aplicação do
programa. Também pretende-se verificar que outros efeitos podem aparecer na
formação dos participantes em decorrência dos eventos do programa. O trabalho se
justifica pela necessidade de desenvolvermos um olhar mais amplo sobre a educação,
considerando os vários aspectos formativos envolvidos nesse processo. Essa concepção
está de acordo com a perspectiva contemporânea sobre educação, que não contempla
somente a educação acadêmica, mas todos os aspectos de formação do ser. O trabalho
também possibilita uma abertura para os rumos que o Mais Educação toma na cidade de
Sapucaia do Sul. A pesquisa também busca contribuir para ampliar a visão do que seria
um evento, trazendo exemplos de vários eventos que não possuem o mesmo olhar de
outros tipos conhecidos, como festas e cerimônias de casamento, por exemplo. Como
resultados da pesquisa foram encontrados uma série de efeitos tais como mudança de
comportamento, atitudes pró-ativas e de desempenho entre outros. Esse trabalho conta
com os aportes teóricos e metodológicos de Hermann (2009, 2008), Favaretto (2010),
Santos et al (2010), Pereira (2011), Flick (2004) e Silverman (2009).

Palavras-chave: Formação. Mais Educação. Eventos. Alunos.


ABSTRACT

The objective of this term paper is to investigate how the events of


ProgramaMaisEducação – developed by the Ministério da Educação – have contributed
to the formation of students from the city Sapucaia do Sul. This is a qualitative research
based on a case study. The data is obtained through semi-structured interviews.Our
interest is whether this program has produced effects in the formation of students. How
are these effects perceived in participants’ speech? The specific objectives of the study
are identifying the relations between the perception of teachers and students that take
part in the events and also the academic performance of those students; moreover,
investigating the methods used in the implementation of the program. It also intends to
verify if other effects can appear in the formation of the participants as a result of the
events of the program. The academic work is justified by the need of developing a more
comprehensive look over education, considering the various formative aspects involved
in this process. This conception is in accordance with the contemporary perspective on
education, which does not contemplate only the academic education, but all formation
aspects of the being. The term paper also provides an opening over the track followed
by the MaisEducação in the city of Sapucaia do Sul. The research also seeks to
contribute to enlarge the vision of what would be an event, bringing examples of
various events that do not have the same look of other known types, such as parties and
ceremonies of marriage, for example.As the results of the research were found a wide
range of effects such as changes in behavior, attitudes pro active and of performance
among others. This term paper has the theoretical and methodological aspects of
Hermann (2009, 2008), Favaretto (2010), Santos et al (2010), Pereira (2011), Flick
(2004) and Silverman (2009).

Keywords: Training. MaisEducação. Events. Students.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................8

1.1 O QUE É O MAIS EDUCAÇÃO?........................................................................8

2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................12

3 METODOLOGIA..................................................................................................14

4 EFEITOS FORMATIVOS RELACIONADOS À ROTINA ESCOLAR.........19

5 ABERTURA PARA NOVOS LAÇOS DE AMIZADES...................................21

6 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES COM RELAÇÃO AOS ALUNOS..23


7 PROFESSORES E COORDENADORES COMO FUNÇÕES
INDISSOCIÁVEIS................................................................................................... 25
8 CONCLUSÃO....................................................................................................... 28
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................29
10 ANEXOS...............................................................................................................30
8

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa foca-se na temática dos efeitos formativos que o programa Mais
Educação pode trazer para seus alunos. O interesse em realizar a pesquisa começou com
a vontade prévia do pesquisador em trabalhar e entender mais sobre educação, pois
experiências anteriores com a explicação de conteúdos para seus colegas despertaram o
interesse por entender um pouco mais sobre o assunto. Assim, foi-se à procura de uma
educação que não ocorresse, unicamente, dentro da sala de aula. O motivo dessa procura
se deu pela participação do pesquisador na monitoria de Introdução a Eventos, no ano
de 2014, quandoauxiliava os alunos com os conteúdos da disciplina. Outra questão que
foi relevante para procurar visualizar uma educação extraclasse foi a percepção do
pesquisador de que, em diversos momentos, os alunos se auxiliam mutuamente no
entendimento e compreensão de conteúdos que, por motivo ou outro, não se consegue
entender em sua totalidade dentro da sala. O pesquisador percebeu que muitas vezes o
ambiente externo à escola acaba ensinando conteúdos e esclarecendo conceitos das
disciplinas. Isso é condizente com a ideia de formação integral do homem, em que os
ambientes formativos vão além da sala de aula, numa dimensão de diálogo com o outro,
com o próximo eessa troca pode ser evidenciada pela ajuda de um grupo ou uma pessoa
no entendimento de um conteúdo. (HERMANN, 2008; TONET, 2006).

1.1 O QUE É O MAIS EDUCAÇÃO?


O Mais educação é um programa criado pelo governo federal brasileiro em 2007
pela portaria interministerial de número 17 (ANEXO E), que “[...] institui o Programa
Mais Educação, que visa fomentar a educação integral de crianças, adolescentes e
jovens, por meio do apoio a atividades socioeducativas no contraturno escolar.”
(BRASIL, p. 01, 2007). O programa visa aumentar a jornada escolar na perspectiva da
educação integral. Para isso, são ofertadas oficinas para os alunos participantes no
contraturno. Essas oficinas compreendem várias atividades, sempre com conteúdo de
diferentes áreas, estudados em sala de aula.Exemplo disso são as oficinas de teatro,
xadrez e música.
9

A seleção das instituições participantes é efetuada a partir da nota da escola no


IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Quanto mais baixo for o IDEB
de uma escola, mais provável que ela seja contemplada. Quando uma escola é
contemplada, existem certas regras a seguir para que o programa aconteça dentro da
legalidade. A primeira exigência é que se tenha a oficina de letramento que também é
conhecida por apoio pedagógico, oficina de leitura ou estudos e leitura. O nome da
oficina muda de acordo com o ano, mas grande parte possui o mesmo conteúdo
programático em Sapucaia do Sul1. O segundo critério é ter o mínimo de 100 alunos
para que o programapossa ser executado. O aluno deve ser selecionado de acordo com
os critérios de vulnerabilidade social, indisciplina, defasagem escolar² ou família em
situação de risco econômico.

O Mais Educação ocorreu em Sapucaia do Sul, no ano de 2016, ano de


realização dessa pesquisa, em um total de 8 escolas.Em virtude do pouco tempo para
realização da pesquisa, duasescolas foram escolhidas para esta pesquisa. O programa
conta, para realização de suas oficinas, com oficineiros que ganham bolsas de auxílio
para ministrar tais atividades. Para ser um oficineiro do programa, existem dois
critérios. São eles: estar cursando ensino superior na temática da oficina ou ter grande
experiência na área³.

Cada escola tem um professor coordenador que é indicado e convidado pela


direção e fica responsável pelo programa dentro dessa escola. Dele deve partir a ação de
inscrever e incentivar que alunos se inscrevam, também dele deve partir o comunicado
aos professores para que indiquem alunos que se encaixem nos critérios do Mais
Educação citados acima. Outro método que tem sido bastante comum em Sapucaia é a
entrada de alunos por vontade própria, ou seja, participam das atividades do programa
por indicação de colegas que já participam ou simplesmente por curiosidade e
instigação, visto que é enfatizada pelos professores a importância do programa.

Considerando essas informações, desenvolve-se essa pesquisa para tentar


compreender os efeitos formativos que o Mais Educação pode trazer aos alunos que
1
Informação constatada durante a produção de dados da pesquisa, a ser aprofundado nos próximos
capítulos deste trabalho.
² Estar em uma série menor que o estabelecido para a idade.
³ Ter vários anos de atuação como dançarino para trabalhar em oficina de dança, por exemplo.
10

dele participam. A busca por essa compreensão utiliza como método de pesquisa a
análise da percepção dos alunos, professores e coordenadores do Programa. A ideia a
partir disso é explicitar esses efeitos e por que eles ocorrem.

A primeira estratégia de pesquisa foi a ida à SMED (Secretaria Municipal de


Educação de Sapucaia do Sul). Na leitura de referenciais para a metodologia, refletiu-se
sobre a escolha de conceitos sensibilizantes, tomando-se a decisão sobre a
”perdafriccional”nessa pesquisa. De acordo com Flick:

O pesquisador enfrenta o problema relativo a quais aspectos incluir (os


essenciais, os controláveis, a perspectiva relevante, etc.) e quais excluir (os
secundários, os menos relevantes, etc.). Quais deveriam ser os moldes dessa
decisão para a garantia da menor “perda friccional” possível, ou seja, a
garantia de que a perda da autenticidade continue sendo limitada e
justificável através de (um grau de) negligência aceitável de certos aspectos?
(FLICK, p. 65, 2007).

A perda friccional pode ser entendida como o estreitamento e escolhas para a


realização da pesquisa, sendo ela feita, de acordo com Flick, de maneira a se perder
menos na abordagem desse estreitamento.

A partir disso, foi se estabelecendo as perspectivas para a pesquisa e o


arredondamento das questões de acordo com o excerto acima, e construiu-se a seguinte
questão de pesquisa: Como os eventos do Programa Mais Educação têm contribuído
para a formação de estudantes da rede municipal de educação de Sapucaia do Sul?

Como questionamentos paralelos, pretende-se investigar quais as percepções de


estudantes e professores da rede municipal de educação de Sapucaia do Sul sobre os
eventos extraclasse realizados pelo programa Mais Educação. Esse tipo de ação cumpre
seu objetivo junto ao público ao qual se destina?

A pesquisa pretende investigar os efeitos formativos do Mais Educação em


Sapucaia do Sul e também abrir possibilidade de pensamento a partir de um
entendimento contemporâneo de Educação, na qual não somente a formação acadêmica
é contemplada, mas também são levadas em conta as diferentes experiências formativas
e transformações que podem ser vividas no ambiente escolar (FAVARETTO, 2010).
11

Entre as finalidades desta pesquisa, destaca-se como principalanalisar a


percepção dos alunos, professores e coordenadores para o entendimento de como os
eventos do Programa Mais Educação têm efeitos sobre a formação dos alunos
participantes, bem como identificar a possível relação da percepção de professores e
alunos participantes em relação ao desempenho escolar. Contudo, ao iniciar este
trabalho e definindo o Mais Educação como objeto de estudo, mostrou-se indispensável
conhecer os métodos de aplicação em Sapucaia do Sul foi para que se pudesse efetuar a
pesquisa. Sendo assim, os dados relativos a esses aspectos também estão elencados
como objetivos dessa pesquisa.
12

2 JUSTIFICATIVA

O Mais Educação é um programa do Governo Federal que tem por objetivo


ampliar a jornada escolar, colaborando na perspectiva da Educação Integral. Nos
últimos anos, esse programa tem desenvolvido ações extraclasse, muitas delas
caracterizadas por periodicidade, com o objetivo de melhorar o desempenho escolar
(BRASIL, 2016).

Diante disso, o programa Mais educação se insere dentro da perspectiva do


incentivo à educação integral no Brasil:

[...] o programa tem como foco a ampliação da jornada escolar e


reorganização curricular, visando uma educação integral, com um processo
pedagógico que conecta áreas do saber à cidadania, ao meio ambiente,
direitos humanos, cultura, artes, saúde e educação econômica (MELO, 2016,
p. 1).

De acordo com essas informações, o objetivo do programa é a ampliação da


jornada escolar na perspectiva de uma educação integral. Assim, torna-se relevante
estudar o programa para verificar, em Sapucaia do Sul, se os eventos relacionados estão
atingindo seus objetivos, ou caso isso não esteja ocorrendo, quais os fatores que o
impedem. Entende-se, nessa pesquisa, que as atividades do programa Mais Educação
podem ser entendidas como evento, pois:

[...] partindo-se do ponto de vista do significado das palavras evento e


eventual, que denominam respectivamente o produto e a periodicidade em
que este é fornecido, ou seja, o que está sendo realizado e o intervalo de
tempo de sua realização [...] (SANTOS; ROCHA; CHEHADE, 2010, p. 2).

A partir desses teóricos, entende-se como evento algo que seja fornecido a
algum público com certa periodicidade. Partindo dessa premissa, pode-se entender o
programa Mais educação como um evento, pela sua periodicidade, que é oferecido aos
seus participantes. Segundo Santos et al. (2010):

Põe-se o fato de que o profissional envolvido na confecção e execução do


projeto de evento deve saber fazê-lo de maneira a alcançar os objetivos de tal
projeto, de maneira a realizar todas as etapas para que o evento seja um sucesso
e que isso gere impactos positivos à comunidade a qual está inserido”
(SANTOS et al., 2010, p. 1).
13

Pode-se entender evento, também, como uma atividade que possui organização
prévia e uma execução marcada (SANTOS, 2010).

Assim, a pesquisa procura investigar como os eventos do programa Mais


Educação têm contribuído para a formação de estudantes da rede municipal de Sapucaia
do Sul, sendo essa a questão problema que rege esse trabalho.

Nesta pesquisa, entende-se o conceito de formação de forma ampla, conforme


trazido pela autora Nadja Hermann (2008), pois está de acordo com a perspectiva
contemporânea de educação, que não mais privilegia apenas a formação racional, mas
busca uma formação integral do educando (HERMANN, 2008).É importante visualizar
a preocupação em entender os aspectos universais das experiências de uma pessoa, não
somente o que é tido dentro da sala de aula ou da escola, buscando entender e
contemplar outros momentos, numa visão integral de formação. Hermann diz que:
“Formação é um trabalho de si mesmo, numa abertura dialética entre a experiência no
mundo e um projeto de mundo. Nesse trabalho de si, há uma dimensão estética como
uma livre criação de si” (HERMANN, p.18. 2008).

Entende-se então, a formação como diálogo entre a experiência e o que se espera


do mundo, trazendo consigo expectativas. Há também o diálogo com o outro, pois
nunca nos formamos sozinhos, ou seja, na formação de alguém ocorre junto a formação
do outro, pois esse outro que tem efeitos na formação de alguém também está nesse
mesmo processo de diálogo.

A formação pode ser entendida, nessa abordagem, como um processo


educacional, ou também a educação ser entendida como um processo formativo na
medida em que nos formamos a partir das experiências dialéticas entre todos e os
processos da experiência do ambiente escolar são parte da educação dos sujeitos nestes
espaços (FAVARETTO, 2010). Assim, podemos entender o Programa Mais Educação
como processo formativo.

A ideia de formação trazida por Hermann, vista como uma abertura de diálogo,
deve ser entendida como toda e qualquer experiência nas nossas vidas. Experiências
essas de diálogo, ou mediação na vida do outro, que acabam por gerar um resultado para
14

ambos. Essas mudanças, mesmo que mínimas, são vistas como muitas vezes educativas,
pois formam integralmente o homem, em sua totalidade (TONET, 2006).
15

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa foi desenvolvida durante o último ano do curso Técnico em


Eventos do IFSul Campus Sapucaia do Sul para investigar os efeitos formativos do
Programa Mais Educação em Sapucaia do Sul.

A primeira estratégia investigativa foi a ida à SMED de Sapucaia do Sul, em


busca de informações referentes às possíveis atividades extraclasse nas escolas do
município. Obteve-se lá a informação de que, em Sapucaia do Sul, oito escolas têm em
funcionamento o Programa Mais Educação.

A partir daí, o próximo passo foi a visita às 8 escolas para uma produção de
dados inicial nas escolas visitadas. Foi encontrada a mesma estrutura de organização do
programa, que é sugerida em seu manual, iniciando as oficinas pelo horário das 9h e
terminando ao meio dia, horário de recesso em que os coordenadores programam
atividades como leitura de histórias e filmes para os alunos. Normalmente, essas
atividades são efetuadas nos dois turnos, pois o turno da manhã curricular termina às
12h. No turno da tarde, as atividades do Programa iniciam às 13h ou 13h30min,
dependendo da escola, pois há o momento de descanso depois do almoço.

Os alunos matriculados no turno da tarde devem chegar à escola às 9h para


tomarem café no refeitório. Logo após, os estudantes começam suas respectivas oficinas
referentes aos dias da semana. Em cada dia, são desenvolvidas diferentes oficinas. Ao
sair de sua aula, ao meio dia, os alunos da manhã almoçam na escola e têm um breve
momento de descanso que também é oferecido aos da tarde. Esse é um momento em
que todos os alunos participantes do Mais Educação dividem o mesmo espaço e
normalmente as coordenadoras do Programa na instituição pensam em atividades que
possam ser realizadas em conjunto, como a apreciação de um filme ou ouvir uma
história.

Dentre as escolas que foram visitadas, além de sua organização estrutural, se viu
a proximidade de conteúdos e práticas nas oficinas oferecidas e os espaços em que são
realizadas. Em algumas escolas, as oficinas são realizadas dentro da quadra ou dentro de
uma sala que “está sobrando”, como dito pelas coordenadoras. Apenas uma escola
relatou que tem uma sala especial para o Mais Educação, adaptada para isso. Nas outras
16

7 escolas municipais de Sapucaia do Sul, são usadas salas emprestadas de disciplinas


que no momento estão vagas. Durante uma primeira visita às escolas, as coordenadoras
relataram também que não é repassada verba do governo federal desde o segundo
semestre de 2014.

Em virtude do exíguo tempo para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se por


escolher apenas duas escolas para realização da investigação, para, assim, poder
concluir todos os processos metodológicos que se pretendia.Os nomes não serão
revelados por motivos de ética na pesquisa e serão referenciadas usando os termos
escola A e escola B. A escolha dessas escolas se deu pela diversidade das atividades
desenvolvidas, como oficinas de educação física, capoeira, inglês, desenho, taekwondo
e música. As oficinas ocorrem todas de mesma forma em Sapucaia, pois esse método de
aplicação é dado pela SMED visando respeitar a intencionalidade de contraturno do
Programa. Os dados acima são válidos para todas as escolas municipais que possuem o
Mais Educação em Sapucaia do Sul. Não é possível oferecer uma resposta empírica a
respeito da escolas estaduais de Sapucaia do Sul, pois só se teve conhecimento da
existência do Programa Mais Educação nas escolas estaduais durante a produção de
dados.

Sendo assim, compreende-se que há necessidade de uma pesquisa futura para


aprofundamento dessas análises, com maior tempo para a realização, o que não foi
possível durante esse trabalho de conclusão de curso.

A pesquisa trata de um estudo de caso qualitativo, devido à relevância específica


da pesquisa qualitativa para o estudo das relações sociais em virtude da pluralização das
esferas de vida, que ela possibilita.

Essa abordagem refere-se à combinação de perspectivas e métodos apropriados


de um problema quanto possível. Um exemplo disso seria a combinação de
tentativas na compreensão do ponto de vista de uma pessoa, com tentativas de
descrição da esfera de vida na qual ela atua (FLICK, 2009, p. 65).

De acordo com Flick, a pesquisa qualitativa se torna necessária para estudo


dessas relações e dessas narrativas próprias de cada pessoa, na qual se aloca este
trabalho. Como a pesquisa se estrutura na compreensão do Programa Mais Educação
17

para a formação dos alunos de Sapucaia do Sul, viu-se a importância das narrativas de
vida e das relações sociais implícitas no campo de pesquisa deste trabalho.

Entendendo a formação como uma experiência única entre os diálogos possíveis


dentro de cada realidade, fazendo ela parte da educação de cada pessoa de maneira
diversa (HERMANN, 2008; FAVARETTO, 2010), pode-se se entender a pesquisa
qualitativa, como a de estudo de caso, como uma opção viável para análises mais
coerentes. Assim como diz Silverman:

Por exemplo, se você quer descobrir como as pessoas pretendem votar, então
um método quantitativo, como um levantamento social, pode parecer a
escolha mais adequada. Por outro lado, se está preocupado em explorar as
histórias de vida ou o comportamento cotidiano das pessoas, então podem ser
preferíveis os métodos qualitativos (SILVERMAN, 2009, p. 42).

Para produção de dados com alunos, professores e coordenadores desta pesquisa,


foram utilizadas entrevistas semiestruturadas com o aporte teórico de Flick (2009) e
Silverman (2009). No início, se decidiu por trabalhar com entrevistas estruturadas e
semiestruturadas (ANEXO A, B e C), mas o questionário se adaptava melhor às
entrevistas semiestruturadas, poisessas davam uma maior amplitude de possibilidade de
respostas ao entrevistado. De acordo com Flick:

O não-direcionamento é conseguido através de diversas formas de questões.


A primeira consiste nas questões não-estruturadas (“O que é que mais
impressionou você nesse filme?). Na segunda forma, questões semi-
estruturadas, opta-se ou pela definição do assunto concreto (por exemplo,
uma determinada cena de um filme), deixando-se a resposta em aberto
(“Como você se sentiu em relação à parte que descreve Jo sendo afastado do
exército como um psiconeurótico?); ou pela definição da reação, deixando-se
o assunto concreto em aberto (“Que novas informações esse panfleto trouxe a
você”) (FLICK, 2009, p. 90).

Por esses motivos e para obtenção de respostas não direcionadas, o guia


semiestruturado se mostrou mais viável e com possibilidades de valorização da
liberdade de fala de cada entrevistado.

Outro ponto apresentado é a ambientação dessa pesquisa com a análise das


narrativas de cada aluno, professor e coordenador, já que cada um tem experiências
diferentes com o Mais Educação, podendo-se, neste trabalho, utilizar isso como um
dado. Conforme Flick (2009), “Uma outra alternativa para a abordagem de mundos
18

individuais de experiências através da abertura permitida pelas entrevistas


semiestruturadas é aproveitar, “[...], das narrativasque os entrevistados produzem [...].”
(FLICK, 2009, p. 109).

As entrevistas com guia semiestruturado foram realizadas com alunos


participantes do programa, professores desses alunos de diversas disciplinas e as
coordenadoras do Programa, em cada uma das duas escolas que foram selecionadas para
esta pesquisa.

Foram entrevistados para essa pesquisa 10 professores, 7 alunos e as duas


coordenadoras das duas escolas, já que cada escola possui apenas uma. A escolha dos
professores foi por terem uma maior quantidade de alunos participantes do programa.
Em especial, a professora de inglês da escola A foi escolhida para entrevista, porque, ao
se realizar as entrevistas com alguns alunos daquele instituto, percebeu-se, pela fala dos
estudantes, que eles sentiam diferença nas suas aulas em relação às oficinas do Mais
Educação. A escolha dos alunos se deu em função do tempo frequentando as atividades
do Mais Educação. Tanto aqueles que tinham bastante tempo no Mais Educação quanto
aqueles que tinham um pouco menos. A Escola B não tinha o programa há muito tempo.
Mas todos contribuíram para a produção de dados. As entrevistas com as coordenadoras
eram feitas primeiro, pois elas me recebiam na escola e auxiliaram no contato, tanto
com os alunos quanto com os professores.

Para a análise dos dados da pesquisa, buscaram-se categorias semelhantes nas


falas dos entrevistados, e estabeleceram-se grupos de dados,os quais foram organizados
nos próximos capítulos deste trabalho. Com base nos dados, perceberam-se
coincidências entre os discursos e também foi observada a estrutura dos ambientes.
Outro ponto foi a preocupação demonstrada por alguns entrevistados com a perspectiva
e os rumos que o Mais Educação vem tomando atualmente.
19

4 EFEITOS FORMATIVOS RELACIONADOS À ROTINA

ESCOLAR

Quando se analisou os dados da pesquisa em busca das mudanças formativas


que ocorrem com os alunos, obtiveram-se os mais diversos resultados, mas alguns se
destacaram. Um deles é a diferença de comportamento dos alunos, entendendo isso
como várias mudanças e de várias formas, não apenas o comportamento disciplinar.

Uma mudança destacada, já nas primeiras entrevistas e que sempre apareceu


como primeira resposta às perguntas referentes às mudanças dos alunos, foi a questão
dos cadernos: professores relataram que desde a entrada dos alunos no Mais Educação,
eles apresentam caderno mais completo ou mesmo com linha do tempo possível de
acompanhar. Como mostra o depoimento a seguir:

Sim, eu percebo uma diferença que eles ficam, mais na escola e eles têm algumas
atividades que envolvem raciocínio no horário que eles ficam no turno inverso.
Fazem também temas que foram dados em sala de aula, então eles tão sempre
com o caderno em dia e também alguns professores dão reforço pra eles. Tem
oficinas de reforço e o pedagógico que ajuda eles, também tem as atividades com
jogos que ajuda bastante, por exemplo: a ter percepção e ter mais rapidez no
raciocínio (Pessoa A, Professora da escola A).

A questão do reforço apresentada mostra as atividades da oficina de apoio


pedagógico, em que os alunos possuem um momento acompanhado de alguma
professora da escola para uma atenção mais centrada às atividades escolares, seja
caderno, trabalhos atrasados ou por fazer, como o depoimento a seguir reforça.

Eu acho que meu caderno melhorou um pouco. (Pessoa H, aluna da escola A)

As atividades de incentivo do programa são tidas, pelos alunos, como as


atividades responsáveis por uma maior organização de rotina e de caderno, como o
exemplo acima, o motivo seria um período de acompanhamento pelos professores das
dificuldades e tarefas do turno de aula curricular, desenvolvida na oficina de apoio
pedagógico.

Essas oficinas oferecem o momento de um olhar atento para o aprendizado que o


aluno com dificuldades escolares ou com defasagem vem tendo, algo que não ficou
20

suficientemente claro dentro da sala de aula. Esses momentos auxiliam e têm efeitos que
são perceptíveis, como mostra o exemplo a seguir.

Tranco em Português sempre. E esse ano tá bastante tranquilo até(Pessoa X,


Aluno da escola B).

Nesse depoimento, nota-se a melhora ocasionada pela oficina de Apoio


Pedagógico para os alunos que possuem dificuldades de aprendizado ou mesmo alguma
dificuldade cognitiva, como relatou o estudante. Essas atividades ajudam a corrigir a
defasagem escolar dos alunos, contribuindo para uma ascensão de série por meio de um
acompanhamento pedagógico atento às suas dificuldades, o que é um dos objetivos do
programa: “Considera-se o objetivo de diminuir as desigualdades educacionais por meio
da jornada escolar” (Brasil, 2011, p. 14).

As atuações do programa têm tido efeitos formativos nesse sentido, pois têm
ajudado muitos alunos com dificuldade e até mesmo melhorado seu desempenho em
sala de aula, como apontam também os próximos capítulos deste trabalho.
21

5 ABERTURA PARA NOVOS LAÇOS DE AMIZADES

Outra categoria que se tornou um ponto interessante de análise para a pesquisa


foi as falas dos alunos e professores em relação à abertura para novos relacionamentos.
Alunos relataram que os momentos proporcionados pelo Mais Educação, sejam os das
atividades ou mesmo a hora do almoço, impulsionaram novas amizades com outros
alunos, de diferentes idades, séries e turmas. Podemos entender essa abertura como uma
potencialidade e parte do processo formativo identificado na pesquisa, pois entendendo
que a formação sempre tem a participação de diálogo com o outro, essas aberturas
possibilitam outras experiências formativas para os participantes. Não somente o foco
nas oficinas praticadas pelos estudantes no programa, mas como algo a mais, algo que
evidencia a possibilidade de novos diálogos e experiências dentro do ambiente escolar
que formam integralmente as pessoas (TONET, 2006; FAVARETTO, 2010). Como
evidencia a fala a seguir:

A oficina de apoio pedagógico porque tem bastante jogos e eu interajo bastante


com os pequenos também, eu consegui ensinar eles a jogar uns jogos que eles não
sabem, eu gosto bastante por causa disso(Pessoal G, aluno da escola A).

Essas falas evidenciam também o contentamento dos participantes em ter esses


momentos de aprendizado e troca de experiências, o que também é parte do processo
formativo de todos os envolvidos.

Outro ponto que pode ser ressaltado dentro dessas aberturas de relações são os
alunos que chegaram há pouco em uma escola, seja por transferência ou por qualquer
outro motivo. Os alunos mostram que o programa Mais Educação tem contribuído para
a sua ambientação na escola nova, com novos colegas, com diz a aluna:

Tá me ajudando, eu tenho 3h a mais pra fazer amizades… (Pessoa F, aluna da


escola A).

Essa entrevistada havia chegado há 30 dias na escola, sendo esse tempo muito
recente, os professores a puseram no Mais Educação como um suporte, o que acabou
por resultar em um maior envolvimento da participante com os colegas, colaborando
para uma maior integração no ambiente escolar. Este ponto deve ser salientado, pois não
22

é unicamente uma questão de desempenho escolar, mas, sim, uma questão de formação
integral, na mesma abertura de diálogo com outros, influindo na formação do ser, com
esse tipo de adaptação auxiliados pela participação Mais Educação.

Pode se discutir, a partir daqui, a possibilidade do Mais Educação ser


recomendado para os alunos não só para o desenvolvimento do desempenho escolar,
mas também para sua maior integração dentro do ambiente escolar, como um auxílio
para o desenvolvimento interpessoal dos estudantes. Isso está de acordo com a
concepção de educação trazida por Rodrigues: “[..]A concepção de que a Educação é o
processo integral de formação humana” (RODRIGUES, 2001. p. 1).

Podemos perceber essa faceta do programa, além dos conteúdos programáticos


das oficinas, como possibilidades educativas para os estudantes, tendo em vista uma
abertura ampla para os efeitos formativos do Mais Educação nesse sentido. Uma maior
possibilidade interativa com colegas e com os demais tocao estudante de uma outra
forma em suas relações sociais. Outro aspecto relevante é que alguns alunos passam a se
abrir e ser extrovertidos com seus colegas de classe, o que é percebido até mesmo pelos
professores. Alunos mais interativos acabam por questionar mais quando estão com
dúvidas em sala de aula, isso oportuniza novos caminhos formativos e novos
aprendizados dos estudantes. O depoimento a seguir enfatiza isso.

Não, acho que gostam e muitos já se dão, eu vi que formaram parcerias, os que
estão na sala de aula são os mesmos que ficam no turno inverso. Por exemplo, se
estou mais próxima do beltraninho, então ele fica comigo no Mais Educação, já
fazem os trabalhos juntos, tem até uma aproximação melhor até no social,
entendeu? Eles se formam em grupos de afinidades, se tornam amigos, parcerias
assim... Enquanto na rua poderia estar com uma má influência, pelo menos aqui
estar com uma parceria legal, eu acho válido isso também. (Pessoa A, professora
de alunos da escola A).

Isso demonstra que os professores têm ciência desse movimento formativo que
ocorre com os alunos. Talvez isso se torne visível, como disse a professora acima, nas
relações de seus estudantes dentro da sala de aula, mas sabendo que essa relação não se
desenvolveu dentro e sim fora, nos espaços oportunizados pelo Mais Educação.
23

6 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES COM RELAÇÃO AOS


ALUNOS

Ao longo da produção de dados, de uma maneira geral, os professores notam


diferenças em seus alunos do Mais Educação, sejam elas cognitivas ou não, muitas
vezes pelas atitudes dentro da sala de aula ou por relato dos pais aos professores num
momento de entrega de boletins, como no exemplo da fala abaixo:

Com certeza, um aluno que vem no turno inverso na escola, que não fica à mercê,
muitos deles sem um adulto cuidador no turno inverso da escola, com certeza eles
terão mais oportunidades que os demais alunos que não participam de um
programa como esse, com esse alcance(Pessoa M, Professora de aluno da escola
B).

Um dos principais fatores citados pelos professores como um benefício para os


alunos que estão dentro do programa é que os alunos estão ganhando com o
acompanhamento que se faz com eles dentro da escola. Quando perguntados se isso
poderia trazer um ganho para a vida desses alunos, todos afirmaram que sim. Na sua
visão, o aluno dentro da sala de aula acaba por estar menos exposto a violências
diversas nas ruas ou muitas vezes levantando a dúvida: se os alunos não estão na escola,
onde estão? O depoimento a seguir ressalta esse ponto.

E eu acho assim ó: já que vai ficar na rua e se a mãe não educa, trabalha o dia
todo e chega em casa e não dedica o tempo pro filho, pelo menos aqui ele vai ter
uma orientação também. Tanto de pedagógico e orientado mesmo na educação,
aqui ele vai ver que a postura não é a mesma(Pessoa A, professora de alunos da
escola A).

Muitas vezes, a resposta da questão acima é que o aluno fica nas ruas. Alguns
professores também percebem diferenças em relação ao comportamento e à atitude dos
alunos dentro da sala de aula, mais especificamente na compreensão da matéria ou até
por conseguirem estar mais centrados em suas atividades, benefício atribuído sempre ao
Mais Educação.
24

Assim se pode notar as diferenças formativas na análise das entrevistas dos


professores. Embora o programa não se limite a isso, essa é uma parte interessante de
um programa que busca mudar a vida dos alunos e assim o alcança. Em alguns casos,
essas mudanças fogem à percepção dos alunos, mas não à dos professores, e em outros
casos ocorre o contrário. A percepção das mudanças internas ocorridas nos alunos nem
sempre se externaliza, o que se externaliza acaba passando a visão dos professores que
os acompanham, como fica visível no depoimento abaixo.

Dos 7º anos eu percebo muito pouca diferença mas nos 9º anos eu percebo
bastante... Eu percebo neles o querer ajudar, “ai, vai carregar um livro de uma
sala pra outra, eles estão sempre dispostos a ajudar isso sim, com esses 2 do 9 ano
(Pessoa K, professora da escola A).

No excerto acima, podemos verificar que a professora nota uma mudança em um


aluno quanto à disposição, a professora associa, em sua visão, as mudanças ao Mais
Educação, pois os alunos que participam são os mesmos que estão desenvolvendo essas
atitudes. Os professores acreditarem que a responsabilidade de participar do Programa
faz com que eles “amadureçam”. Essas diferenças formativas são notadas pelos
próprios alunos muitas vezes.

Um exemplo que os alunos notam essas mudanças são as relações de amizade


que se estendem para além da sala de aula, para os espaços de convivência deles no
Mais Educação e fora deles. Esses espaços por diversas vezes acabam por formar laços
de amizade que perduram em muitos outros ambientes: “Para isso a liberdade é a
condição primeira e indispensável. Mas esta liberdade deve estar associada a uma
multiplicidade de situações” (HERMANN, 2008, p.18).

Outro ponto interessante que se descobriu, na análise de dados, foi o início do


interesse dos estudantes em comparecer à escola, ou seja, eles despertam o interesse de
ir assiduamente à escola, mesmo em casos de turmas matutinas, para os alunos
matriculados na escola no turno da manhã, como apresenta a fala abaixo.

A sora me deu o papel e eu disse que não, porque, ia ser ruim acordar cedo. Daí
eu depois eu falei com o pai e eu resolvi vir um dia, daí eu vim (Pessoa Z, aluno da
escola B).
25

A fala ilustra o ponto em que o aluno deixa de considerar o fato de acordar em


um horário mais cedo para frequentar o Mais Educação como um problema. Isso pode
revelar a possibilidade do Programa de diminuir a evasão escolar, pois o aluno terá
acompanhamento e as horas a mais dentro da escola o deixaria menos exposto a
possíveis violências fora da escola em seu período vago.
26

7 PROFESSORES E COORDENADORES COMO FUNÇÕES


INDISSOCIÁVEIS

Durante a produção de dados dessa pesquisa, percebeu-se que os coordenadores


de cada escola poderiam ser percebidos como professores em uma posição especial no
Mais Educação, pois eram professores que estavam na coordenação do Programa
naquela escola. Tais coordenadoras perceberam e evidenciaram nas suas falas a
percepção dos efeitos formativos, como fica demonstrado na fala a seguir.

A longo prazo tu vê, até ano passado, a gente já sentiu diferença, não vou te dizer
que era muito, mas a gente via. Às vezes tu tá no dia a dia tu não vê, mas a pessoa
que tá fora vê, o professor, a coordenação. Daí eu anunciei o programa que ia
começar em abril e eu praticamente fiz uma seleção, por aquilo que o programa
exige e o restante das vagas pelos outros. Mas muito bem aceito o programa
assim”(Pessoa O, coordenadora da escola B).

Esta sensação de diferença entre os alunos que participam e aqueles que não
participam do programa evidencia as percepções delas, primeiramente como
professoras, e, posteriormente, como coordenadoras do programa. Por mais que a
coordenação do programa aguce a visão para essas mudanças, elas as destacam não só
na condição de coordenadoras.

Estar no ambiente, interagir e coordenar o programa Mais Educação nas escolas


faz com que elas percebam, com uma certa propriedade, essas mudanças. Essa
percepção advém do fato de que os coordenadores também notam os efeitos causados
pelo programa naquele ambiente, nas relações com os pais, relatadas nas entrevistas,
pois também são professores, como se observa na fala abaixo:

Inclusive ontem uma mãe relatou que como achava interessante que o aluno não
gostava de vir pra escola e agora ele gosta de vir pra escola e ela disse que não
precisa mandar ele abrir o caderno, ele abre pra fazer os temas, entendeu? Tu cria
hábitos, daí tu faz aquilo mesmo tu não gostando ou estando a fim (Pessoa O -
coordenadora da escola B).
27

No transcorrer da entrevista, se entendeu que a coordenadora conversou com a


mãe citada acima pois ela era, antes de tudo, professora que participa das entregas de
boletins das turmas, quando muitos pais compareceram para buscar o boletim de seus
filhos. Posto isso, procurou-se ter um olhar para os coordenadores entrevistados não só
como pessoas que conhecem com maior propriedade o Programa e suas funcionalidades
na escola, mas sim como professores com atenção para os passos formativos desses
estudantes dentro do Mais Educação. O entendimento deles também foi levado em
questão ao analisar os dados de suas entrevistas.

Outro ponto que se percebeu nas falas dos professores foi a preocupação deles
quanto ao ambiente de trabalho, onde as oficinas seriam executadas, se o espaço era
adequado para a sua realização e se a didática utilizada pelos monitores era correta,
como mostra a fala a seguir.

Espaços físicos, em todas as escolas que eu trabalho ou em que eu já trabalhei, o


grande problema para que o programa atinja uma nova etapa é a questão do
espaço físico, que ele é na maior parte das vezes improvisado, “é o que tem” “é a
sala que sobrou” “é o espaço que sobrou” “é a paróquia que emprestou o salão,
então assim, enquanto tiver esse tipo de tratamento por parte dos governos, que
não há investimento por parte dos governos para que os profissionais atuem de
forma adequada e melhor(Pessoa L, professora da Escola A).

Percebe-se, pela fala da entrevistada, o olhar para os ambientes em que são


desenvolvidas as atividades do Mais Educação. Ao conversar com a coordenadora, ela
relatou que a escola não recebe verba, que é designada semestralmente, desde o segundo
semestre de 2014. Essa verba é destinada a usos e investimentos com o Programa na
escola. Isso evidencia a carência e a necessidade de recursos para a composição de um
ambiente adequado para a realização das oficinas. Outro ponto que essa fala evidencia
é a preocupação dos professores com a estrutura não só da escola mas também de seus
eventos. Ao longo do processo de produção de dados desta pesquisa, essas observações
dos professores se tornaram bem destacadas, o fato de não ter um espaço adequado
causa a preocupação nos professores a ponto de muitos enfatizarem em suas falas e
relatos que o espaço físico da escola é feito para suprir o básico, como salas de aula,
banheiros e etc. As potencialidades de um programa como o Mais Educação acabam por
se adequar ao espaço que existe na escola, ou se restringem a eles.
28

A adequação do Mais Educação aos espaços das escolas municipais de Sapucaia


do Sul não é simplesmente passiva. Os professores se sentem provocados a pensar a
respeito do Mais Educação nas reuniões que acontecem nas escolas sobre suas práticas e
decisões a serem tomadas. Os eventos desenvolvidos no Mais Educação despertam uma
certa relação com a aula, essa relação passa a ser mais evidente quando observamos a
seguinte fala:

No, início foi meio conturbado assim, porque assim a escola não contempla pela
estrutura. Aqui nós temos uma sala disponível no turno da tarde e de manhã eles
se dispersaram pelo pátio e outros locais. Ali no refeitório as gurias tinham feito
uma sala, mas é provisória depois do ano passado e depois se estendeu assim. E
sempre é visto com maus olhos na escola porque é sempre aqueles alunos que
digamos que não estão funcionando ou que não estão tendo tão bons resultados. A
maioria dos que a gente põe é nessa perspectiva de não está dando certo na sala de
aula. Pra que lá ele consiga, com uma orientação, dar um resultado melhor. Só
que às vezes a gente pensa que vai dar certo, mas os pais não colaboram, nem
querem que o aluno vá né. Acham que vai lá pra ficar brincando, então fica em
casa dormindo. Ou às vezes acham que aqui é puxado, por que tem rotina, e eles
interpretam de outra forma “ah tô indo lá, é um saco, porque tem que fazer isso
tem que fazer aquilo” e em casa é mais “light” porque vai dormir, vai pro
cinema(Pessoa A, Professora de alunos da escola A).

Muitas vezes, o fato dos alunos se dispersarem pela escola causa problemas nas
aulas, como relatado acima, além de ser mais difícil de manter o foco na atividade
proposta. Esse excerto relata a visão de como a falta de estrutura das escolas pode ter
efeito nas atividades tanto do Mais Educação quanto nas atividades corriqueiras das
escolas.

Essa falta de estrutura não deve ser entendida aqui como um problema intrínseco
do programa, mas sim como uma consequência devido à falta de espaços nas escolas,
seja pela verba que não está em dia ou por outras questões como a construção das
escolas sem considerar as atividades fora da sala de aula e que possam gerar sons mais
altos ou outros tipos de movimento no espaço pedagógico.
29

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa iniciou-se com o objetivo de entender como os eventos do


Programa Mais Educação vinham contribuindo para a formação dos estudantes da rede
municipal de educação de Sapucaia do Sul. Além disso, também se proponha a
encontrar respostas para alguns questionamentos paralelos sobre a funcionalidade do
programa, seus métodos de aplicação, cumprimento de seus objetivos junto ao seu
público em Sapucaia do Sul e saber que outros efeitos na formação se poderia notar a
partir das análises.

Conclui-se que, em relação à primeira questão, sobre os efeitos formativos,


percebeu-se, durante esta pesquisa, que os alunos acabam por ter diferentes
modificações em sua formação como a mudança de comportamento de diversas formas,
o aluno que passa a se concentrar, mais nas aulas e nos momentos em sala de aula, um
exemplo que pode ser dado é o caderno que passa a estar mais completo. Também o
interesse deles em ir até à escola para participar do Mais Educação. Além dos efeitos
evidenciados na análise, se notou a abertura dos alunos para novas amizades em função
do convívio proporcionado pelo Mais Educação com pessoas de idades próximas que
não são colegas de uma mesma turma, efetuando-se, assim, uma abertura para novas
convivências. Isso mostra que o Mais Educação pode ser indicado não somente em
casos de vulnerabilidade social e desigualdade escolar, mas também nos casos de
estudantes introvertidos que não apresentam sociabilidade mínima nas atividades
desenvolvidas pelos professores, como uma possibilidade de abertura para o outro. É
um outro espaço para fazer amizades, se relacionar com os demais e conhecer pessoas
de diversas idades. Outro ponto que merece destaque dentro da análise é o
comportamento de alguns alunos em passam a desempenhar um papel mais responsável,
ao cuidar dos alunos menores e a se prontificar para ajudar os professores em
eventualidades dentro da sala de aula. Atitude essa que os professores atribuem aos
eventos do Mais Educação ao designar responsabilidades aos alunos mais velhos, que
em certos momentos precisam cuidar ou mesmo zelar pelos menores ou por
determinados eventos dos quais participam.
30

Entende-se que aqui, no contexto desta pesquisa, que o Mais Educação e seus
eventos também atingem seus objetivos junto ao público-alvo, pois podemos observar
ao longo da pesquisa que os estudantes auxiliados pelas oficinas de suporte pedagógico
acabam tendo um melhor desempenho e também em sala de aula como um todo, o que
contribuir para diminuir a defasagem escolar e aumentar a aprendizagem das escolas em
que o Programa foi implantado. Há também a diminuição de tempo de ócio de um aluno
que ficaria em casa ou exposto apossíveis violências nas ruas.

A questão da estrutura das escolas pesquisadas acaba por influir nas oficinas e
nos impactos dela no ambiente escolar. A falta de repasse de verba pode acabar
limitando as atividades do Mais Educação a um período do ano nas escolas em Sapucaia
inicialmente pesquisadas. Alguns professores sentem essa falta de estrutura e
identificam a falta de um olhar que valorize o programa.

Por tudo isso, entende-se que o Mais Educação possui efeitos formativos no seu
público-alvo, os estudantes. Os efeitos são variados, como apresentados acima e durante
todo o trabalho. O Mais Educação é um primeiro pensamento e prática do Estado
Brasileiro sobre educação integral em nível nacional que apresenta, em Sapucaia do Sul,
mais exatamente nas escolas investigadas, alguns efeitos coerentes com os objetivos
traçados pelo Programa e também efeitos que,mesmo não sendo o alvo principal,
também ocorrem, como demonstra a pesquisa.

Todavia, para o aprofundamento do tema seria necessário maior tempo de


investigação, algo que pode ser realizado em pesquisas e análises futuras.
31

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Diário Oficial da União (DOU). Portaria Normativa Interministerial nº-


17, de 24 de abril de 2007. 2007. v.1, p.1-5.
____. Ministério da Educação (MEC). Passo a Passo do Programa Mais Educação.
2011. v.1, p. 1-36.
FAVARETTO, Celso. Arte contemporânea e Educação.Universidade de São Paulo,
Brasil, v.1, Revista Iberoamericana de Educación, n.º 53 (2010), p. 225-235, 16 de abril
de 2010.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Bookman. 2007. 157 p.
HERMANN, Najda. À Procura de Vestígios da Formação. Passo Fundo: Ed.
Universidade de Passo Fundo, 2009. 11 p.
____. Ética: a aprendizagem da arte de viver. Campinas: Educ. Soc. 2008. 18 p.
MELO, D. Mais Educação. In: Centro de referências em Educação Integral. Disponível
em: <http://educacaointegral.org.br/glossario/mais-educacao/>. Acesso em: 5 mai.
2016.
PEREIRA, Marcos Villela. Contribuições paraentender a experiênciaestética,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Brasil, v.1, Revista
Lusófona de Educação, Nº 18, p. 111-123, 2011.
RODRIGUES, Neidson. Educação: da formação humana à construção do sujeito
ético. Educação e Sociedade, 2001. 26 p.
SANTOS, Rodrigo Amado dos. et al. A importância da compreensão do conceito de
eventos à execução do planejamento, perante as etapas pré, durante e pós-evento.
Revista científica eletrônica de Turismo, 2010. 5 p.
SILVERMAN, David. Introdução de dados qualitativos: métodos para análise de
entrevistas, textos e interações. TRAD. Magda França Lopes. Porto Alegre: Artmed,
2009.
TONET, Ivo. Educação e Formação Humana. Universidade Federal de Alagoas
(UFA). Brasil. v.1. 12 p. 2006.
32

10 ANEXO A– GUIA DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA


PARA OS COORDENADORES

Quanto tempo tu tens coordenado o Programa Mais Educação?

Quantos alunos tu tens participando do Mais Educação?

Como tu poderias me explicar o funcionamento do programa aqui na escola. As rotinas


dos alunos e de toda escola como são afetadas pelo programa?

Dos alunos que participam, tu percebes alguma mudança neles em sala de aula ou nas
notas?

Se sim, quais?

Além da sala de aula, que outras mudanças tu podes notar em teus alunos que
participam do programa?

Como tu vês os efeitos do programa para a escola?

Em tua percepção, esse programa tem feito diferença na formação dos alunos?
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ANEXO B - GUIA DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADO PARA


OS ALUNOS

Há quanto tempo tu participa do programa?

Quais oficinas tu participa?

Tu gostadas oficinas que tu faz?

Qual tu mais gosta?

Por quê tu gosta?

Se parar de ocorrer as oficinas, que tu vai pensar, que vai ser?

Por que tu acha que tu está dentro do programa?

Tu acha que passou a te comportar melhor depois que entrou no mais educação?

Tuas notas melhoraram depois que tu começou a participar do programa?

Mais alguma coisa mudou depois que tu começou a participar do programa?


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ANEXO C– GUIA DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA PARA


PROFESSORES DOS ALUNOS

Tu percebes alguma diferença entre os alunos que participam e que não participam do
Mais Educação?

Qual a principal diferença que tu notas nos alunos que participam e que não participam
do programa nas tuas turmas?

Em termos de desempenho dos teus alunos, tu achas que o programa tem algum efeito?

Além do desempenho, há alguma outra coisa que tu podes ver nos teus alunos que te
parece influência do programa?

Tu achas o programa importante para a escola? E para teus alunos? Por quê?

Tu gostarias de ter mais alunos teus dentro do Mais Educação?

Por quê?
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ANEXO D– TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO PARA


ENTREVISTAS
Termo de Consentimento Informado

Este trabalho tem por objetivo investigar como os eventos do Programa Mais Educação,
desenvolvido pelo Ministério da Educação, têm contribuído para a formação de estudantes da rede
municipal de Sapucaia do Sul. Trata-se de uma pesquisa qualitativa baseada em um estudo de caso. Os
dados serão obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas. Nosso interesse é saber se este programa
tem produzido efeitos na formação dos alunos participantes. Esses efeitos são percebidos de que forma na
fala dos participantes? Os objetivos específicos do trabalho são identificar a relação entre a percepção de
professores e alunos participantes dos eventos e o desempenho escolar dos alunos, bem como investigar
os métodos utilizados na aplicação do programa. Também pretende-se verificar que outros efeitos podem
aparecer na formação dos participantes em decorrência dos eventos do programa. O trabalho se justifica
pela necessidade de desenvolvermos um olhar mais amplo sobre a educação, considerando os vários
aspectos formativos envolvidos nesse processo. Essa concepção está de acordo com a perspectiva
contemporânea sobre educação, que não contempla somente a educação acadêmica, mas todos os
aspectos de formação do ser. O trabalho também possibilita uma abertura para os rumos que o Mais
Educação toma na cidade de Sapucaia do Sul. A pesquisa também busca contribuir para ampliar a visão
do que seria um evento, trazendo exemplos de vários eventos que não possuem o mesmo olhar de outros
tipos conhecidos, como festas e cerimônias de casamento, por exemplo.

Todos os registros realizados durante a entrevista subsidiarão as análises da pesquisa. Os dados e


resultados individuais dessa investigação estarão sempre sob sigilo ético, não sendo mencionados os
nomes dos participantes em nenhuma apresentação oral ou trabalho escrito que venha a ser publicado. A
colaboração nessa pesquisa não oferece nenhum tipo de risco ou prejuízo ao participante, sendo que é
garantida a oportunidade de desistência do colaborador em qualquer fase da pesquisa.

O pesquisador responsável por essa pesquisa é Rafael Basso Xavier, aluno do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense Campus Sapucaia do Sul. Ele se compromete a
esclarecer devida e adequadamente qualquer dúvida que eventualmente o participante venha a ter, neste
momento ou posteriormente, através do telefone (51) 8218.6251 ou pelo e-mail
rafaelbassoxavier@gmail.com.

Após ter sido informado de todos os aspectos sobre o desenvolvimento da pesquisa e de ter
esclarecido minhas dúvidas, eu _________________________________________ concordo em
participar dessa pesquisa.

_______________________________________________

Assinatura do participante

_______________________________________________

Assinatura do pesquisador

Sapucaia do Sul, _____ de ___________________ de 2016.


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ANEXO E – PORTARIA QUE INSTITUI O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO


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