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“Uma Perspectiva Luterana sobre o Chamado Interior para o Ministério”

“A Lutheran Perspective on the Inward Call to the Ministry”

David J. Peter[i]

Concordia Journal 12/4 (Julho 1986): 121-129

Um ministro que é verdadeiramente apostólico em sua fé, ensino, espírito e trabalho,


experimentou e diariamente experimenta a graça salvífica e renovadora de Deus. Ele
experimentou o chamado interno de Deus. Ele reconheceu o chamado oficial de
Deus. Ele está movido pelo amor de Cristo e incendiado com o amor pelas almas. Ele
conhece a alegria do ganhar almas e edificá-las. Ele não trocaria esta alegria nem
por grande quantidade de ouro ou pela coroa de um rei.[1]

Assim inicia um livro sobre preparo para o ministério, escrito por um pastor luterano.
Pode-se ficar impressionado com o poder e sentimento desta descrição do ministro
cristão. Alguém poderia acenar com a cabeça, concordando com as características
do ministério pastoral, assim como descrito nesta passagem. Há, no entanto, uma
afirmação apresentada no texto, que convida a uma investigação. O que se quer
dizer com experimentar o “chamado interno de Deus”? É este um conceito válido
teologicamente? A Bíblia fala de um tal chamado interior? A Igreja reconhece sua
legitimidade e necessidade?

Não poucos responderiam afirmativamente a estas perguntas. Frequentemente


alunos de Seminários, preparando-se para o ministério, dizem ter sido “chamados”.
Algumas Igrejas exigem que o candidato ao ministério descreva seu chamado divino
interior, antes que possa ser ordenado. Frequentemente um grande peso é colocado
sobre este chamado, assim que ele acaba formando o fundamento para a
qualificação inquestionável de um indivíduo para ocupar o ofício do ministério. Carrol
Rockey, o pastor luterano citado acima, continua sua insistência na necessidade do
chamado interno:

Pois o homem que entra no ministério deve fazê-lo a partir de uma força interna. ...
Deve haver um chamado interno para o ministério. Para outras profissões podem
existir inclinações e tendências; estas também podem atuar diante da entrada no
ministério; mas a estas tendências e inclinações, precisa ser acrescentado o
sentimento que o homem precisa, deve e até mesmo tem a obrigação de ter. Ele
precisa ter isto, por causa da fé; ele deve, porque a fé acrescentará o impulso de
Paulo, “o amor de Cristo nos constrange”; ele tem a obrigação de ter o sentimento,
quando chega o período quando as torturas de consciência não lhe darão nenhum
descanso nem paz, dia e noite, e ele exclamará com Paulo, “Ai de mim se não pregar
o evangelho.”[2]

Que esta visão está bastante difundida dentro da igreja cristã é evidente no fato de
que dentro de certos círculos evangélicos, o candidato à ordenação é regularmente
questionado por um grupo de averiguação, acerca de seu chamado interior para o
ministério.[3] Não é raro encontrar denominações que oficialmente exigem um tal
chamado. Por exemplo, A Constituição da Igreja Evangélica Reformada (parte III,
artigo 16) declara: “Um ministro é chamado por Cristo para o ministério da palavra. ...”.
Seu Regimento (parte III, artigo 21) explica a natureza de um tal chamado: “Um
estudante para o ministério é um membro de uma congregação da igreja, que crê ser
ele divinamente chamado e entra no estudo para preparar-se para o ministério.”[4]
Há diversos outros exemplos de denominações que requerem o chamado interior do
Espírito, como exigência para entrada no ministério.

Há estatísticas que foram realizadas, para mostrar o predomínio e impacto do


chamado interno sobre estudantes ministeriais americanos. Por exemplo, o estudo
de R. A. Felton, com 1978 estudantes de vinte denominações protestantes e
cinquenta e sete faculdades de teologia demonstrou que a maioria dos entrevistados
considerou um chamado interior como tendo uma contribuição significativa na sua
decisão de preparar-se para o ministério.[5] Outro pesquisador, Otto Strunk, analisou
cerca de cem autobiografias escritas por seminaristas protestantes, que tratavam do
assunto, “Motivações para o ministério”. Strunk relata que o chamado interior é
reconhecido explicitamente por cerca de metade dos estudantes como sendo
responsável pela sua entrada no ministério. “O conceito do chamado”, ele observa, “...
tem um papel crucial na vida da maior parte dos jovens ministros.”[6]

Estudantes luteranos, mesmo aqueles que estudam em Seminários do Sínodo de


Missouri, parecem não se desviar deste consenso nacional com respeito ao chamado
interior. Alunos do primeiro e quarto anos, nos Seminários da LCMS tanto em St.
Louis como em Fort Wayne, devem fazer um teste psicológico (TSI – “Theological
School Inventory”) que fornece dados para que se possa saber a motivação do
estudante para ir ao Seminário e para prever que partes do preparo ministerial mais o
atrairão. A seção II deste teste fornece estimativas da força da motivação existente,
mas apenas em termos relativos à amostra total. Os escores nacionais de medida de
motivação em termos de Liderança Especial (LE) estão por volta de 50. O comitê do
TSI define esta dimensão como “A descrição de que Deus chama especificamente
pessoas para o ministério profissional da igreja e que frequentemente estas pessoas
podem experimentar certa resistência prolongada ao chamado, antes que finalmente
se comprometam com o ministério.”[7]

A turma do primeiro ano do Concordia Seminary, em 1983, ficou aproximadamente


na média na escala de LE. A média nacional para 1983 foi de 49,10, enquanto a
média no Concordia Seminary foi de 48,09.[8] Apesar de que esta média é
ligeiramente inferior à média nacional, a diferença não é estatisticamente significativa.
Assim, os alunos do Concordia Seminary pouco diferem da média nacional. Allen
Nauss relatou em 1972 que a média do Concordia Seminary estava perto de 50, que
era comparável a outros Seminários luteranos, mas significativamente inferior à
média de três Seminários Batistas do sul, que estava por volta de 56.[9] O comitê do
TSI observa que as notas para a LE tendem a diminuir entre a entrada no Seminário
e a formatura.[10]
É possível que se possa forçar exageradamente o uso de tais estatísticas. Mas o que
fica claro é que a experiência perceptível de um chamado de Deus, direto, especial e
interior, para o ministério, é algo disseminado mesmo entre seminaristas da LCMS.
Antes de seguir em frente, porém, é necessário tentar uma definição deste chamado.
Aqueles que investigam a natureza do chamado interior normalmente reconhecem
que é difícil fazer uma definição precisa. Há quase tantas definições diferentes
quanto há de pessoas definindo. Assim será melhor iniciarmos por estabelecer um
solo firme, descobrindo o entendimento bíblico de “chamado”, antes de entrarmos no
mundo ambíguo das definições atuais.

Definição e História do Chamado Interior

O Novo Testamento conhece cinco usos teológicos da palavra “chamar” (verbo


kale,w, substantivo klh/sij, adjetivo klhto,j) em que Deus é aquele que chama e o
homem é chamado. Estes usos são: 1 - o dar nome a alguém (Lc 1.13; Jo 1.42); 2 -
chamado de descrentes ao arrependimento (Mt 9.13; 22.2-14; Mc 2.17; Lc 14.16-24);
3 - o chamado no qual Deus chama e justifica homens através de Cristo (Rm 8.28-30;
9.11; 1 Co 1.9; 7.17-24; Gl 1.6,15; 2 Ts 2.13,14; 2 Tm 1.9; 1 Pe 2.9); 4 - o chamado
para os cristãos viverem uma vida santificada (1 Co 7.15; Ef 4.1; Fp 3.14; Cl 3.15); 5 -
o chamado para uma função ou ofício especial na Igreja.[11] É este último sentido
que é pertinente a nossa discussão. Neste uso, o termo é só aplicado aos doze
discípulos chamados pessoalmente por Jesus (Mt 4.21; Mc 1.20) e a Paulo e
Barnabé, os primeiros missionários da Igreja (At 13.2; 16.9,10; Rm 1.1; 1 Co 1.1). É
significativo que estes dois são os únicos para quem o termo “chamado” é aplicado
em relação a um ofício ou função específicos; este fato deve ser levado em conta
para consideração posterior.

O entendimento do Novo Testamento acerca do chamado é direto e simples. Este


não é o caso quando se chega no uso contemporâneo popular do termo. Como já
observamos, é difícil para as pessoas articularem uma definição precisa. Orlo Strunk
observa o seguinte: “Que é um conceito ambíguo e complexo, fica evidente nas
autobiografias, mas há pouca dúvida acerca de sua importância crucial.”[12]
Descrições do chamado interior são normalmente expressas com termos como
“compulsão interna”, “escolha sobrenatural”, “uma voz suave”, ou ainda, “um forte
sentimento interno”. J.C. Pipes, um defensor do conceito do chamado interior,
define-o como “uma convicção permanente do chamado individual de Deus para
pregar este evangelho.”[13] Pela sua própria natureza, este chamado é uma
experiência subjetiva envolvendo o indivíduo. Ele é distinto porque é extraordinário.
“Sua qualidade maior”, diz Paul Irion, “é sua natureza especial, fora do campo
ordinário da experiência humana.”[14] No chamado interior, Deus atua
imediatamente e diretamente na vida da pessoa, através de uma escolha divina
daqueles que deverão entrar no ministério. Deus tem um plano individual para a vida
daquela pessoa. H. Richard Niebuhr define este “chamado secreto” como “a
persuasão ou experiência interior pela qual a pessoa sente-se diretamente chamada
ou convidada por Deus a tomar parte na obra do ministério”.[15]

Um tal entendimento do chamado interior não é encontrado em qualquer escrito


sobre o ministério em Lutero, nem nos primeiros dogmáticos luteranos. O único
chamado para o ministério que eles reconhecem como ordinário é o chamado
externo e mediato – a ação da congregação local ao eleger ou aceitar um homem
como seu ministro.[16] Foi João Calvino que introduziu o chamado interior no
Protestantismo histórico. “O chamado secreto”, disse ele, “é o testemunho honesto
de nosso coração de que aceitamos o ofício que nos é oferecido, não por ambição ou
avareza, ou por qualquer outro motivo mau, mas a partir de um sincero temor de
Deus e ardente zelo pela edificação da igreja.”[17] No pensamento de Calvino, porém,
o chamado interior sempre esteve subordinado e subsequente ao chamado externo.
Ele insistiu que “ninguém podia ser contado como verdadeiro ministro da igreja”, a
menos que “ele fosse regularmente chamado para tal”, referindo-se ao “chamado
externo que pertence à ordem pública da igreja.” Assim ele reconheceu que ele
estava “tolerando o chamado secreto, do qual todo ministro estaria consciente diante
de Deus, mas que não é conhecido pela igreja.”[18]
O Protestantismo americano mais antigo continuou com o ponto de vista de Calvino.
O Cambridge Platform afirmou: “Ninguém pode tomar para si a honra de ser um
ministro da igreja, mas somente aquele que foi chamado por Deus, assim como
Aarão.”[19] O Platform entendeu este chamado como sendo “mediato, através da
igreja”, visto que o chamado imediato de Deus terminou com os apóstolos e
profetas.[20] No entanto, os Congregacionalistas e Batistas reconheceram ser
necessário um chamado interior, que a princípio entenderam assim como Calvino o
havia entendido. No entanto, começaram a enfatizar a manifestação do chamado
secreto através de “dons” e “virtudes” exteriores que deveriam ser “testadas” e
“aprovadas”.[21]

A partir deste momento, aconteceu no Protestantismo americano uma inversão da


primazia do chamado exterior para o chamado interior. Winthrop Hudson observa:

Apesar de que a iniciativa com respeito à decisão de uma pessoa de entrar no


ministério teoricamente pertencia à igreja, na prática a iniciativa era normalmente do
indivíduo, que se apresentava à igreja como candidato ao ministério. Em última
análise, em grande parte do Protestantismo a iniciativa do indivíduo deveria receber
suporte teológico estrutural, devido a uma crescente insistência de que um chamado
interior direto e imediato deveria ser a primeira etapa no caminho de levar alguém ao
ministério. Ao invés de um chamado exterior ser confirmado através de uma resposta
interior, o caminho foi revertido, de modo que o chamado exterior tornou-se um
reconhecimento e confirmação do chamado interior.[22]

Esta priorização do chamado interior sobre o exterior prevalece em grande parte do


Protestantismo hoje, como fica evidente nos estudos feitos sobre motivação para o
ministério e nos requisitos oficiais para a ordenação em certas denominações. Além
disso, como já foi demonstrado, o conceito do chamado interior apareceu mesmo
entre alguns luteranos, apesar de que nem Lutero, nem os dogmáticos luteranos
ortodoxos, adotaram este desenvolvimento. Deve-se, portanto, assumir que o
conceito do chamado interior seja teologicamente legítimo, mas que tenha sido
negligenciado pelos luteranos do século XVI? Para responder a esta questão, é
preciso entender que o luteranismo ortodoxo consistentemente esperou de Deus
apenas um chamado externo porque apenas aceitou um chamado mediato. Assim,
voltaremos nossa atenção agora para uma discussão a respeito dos chamados
imediato e mediato.

O Entendimento Bíblico e Confessional dos Chamados Imediato e Mediato

Quando alguém defende o chamado interior, está também defendendo o chamado


imediato. Isto é assim porque, como foi demonstrado em nossa tentativa de definir o
chamado interior, aquele chamado é caracteristicamente entendido como sendo a
operação direta de Deus nos corações daqueles que ele escolhe para o ofício do
ministério. Frequentemente se argumenta que o chamado interior não é imediato,
visto que ele não envolve uma teofania, nem luzes brilhantes ou uma voz audível do
céu (ainda que alguns indivíduos falariam disso). Mas mesmo uma “compulsão
interna”, ou “escolha sobrenatural”, ou “uma voz suave”, ou “um forte sentimento
interno”, ou ainda “uma convicção permanente de um chamado individual de Deus” é
comunicação direta – e, portanto, revelação direta – da parte de Deus, não importa
como você o expresse. Uma “voz suave” é uma voz, não importa o quão suave ela
seja.

Já vimos como o Novo Testamento fala de um chamado imediato para uma função
ou ofício específicos. Um tal chamado foi feito para Paulo e Barnabé. Poder-se-ia
também entender a escolha direta de Deus, em tempos bíblicos, de outros indivíduos
para a missão, como sendo um “chamado”, apesar da palavra não ser usada
especificamente naquelas situações. Estes são todos chamados imediatos. Mas não
devemos assumir que sejam paradigmas para hoje. Na verdade, mesmo na Escritura,
eles são a exceção, não a regra. Charles Smith observa:

Uma das causas mais frequentes de confusão, no que se refere à vontade de Deus, é
o erro comum de não perceber o aspecto único da maneira como Deus tratava com
aqueles e através daqueles que ele escolheu para revelar-se nas Escrituras. Você
não é um Moisés! Você também não é nenhum Josué, Abraão, Ezequiel, Daniel,
Mateus, João ou Paulo! Você não deve esperar o tipo de revelação que eles
receberam. O método de Deus tratar com eles não foi o método normal de tratar com
os crentes em qualquer época.[23]

É importante reconhecer que nos exemplos históricos do guiar direto de Deus,


estavam envolvidas intervenção e revelação sobrenaturais (visão revelatória, voz
audível, mensageiro angelical ou declaração profética; ver, por exemplo: Ex 3-4; 1
Sm 3.4-10; Is 6.1-8; Jr 1.4-10; At 13.1,2; 16.9,10; 26.14-20). Estes exemplos não
ilustram um guiar interior. Na verdade, não há exemplos na Escritura de um guiar
direto, comunicado através de uma impressão interna. Ainda mais importante é o fato
de que um chamado interior não é nem prometido, nem exigido, em qualquer lugar
das Escrituras, para aqueles que servem como ministros públicos da igreja. Seria
uma presunção nossa insistir nele.

É com esta base bíblica que o luteranismo ortodoxo rejeita o chamado interior como
normativo. O chamado interior é negado, porque ele é um chamado imediato e o
chamado imediato não deve ser esperado hoje. Lutero insistiu que todo aquele que
ministra publicamente deve ter um chamado próprio, seja imediatamente da parte de
Deus (em cujo caso, o chamado deveria ser autenticado por sinais e milagres), ou
mediatamente, através do pedido da igreja.[24] Os teólogos luteranos ortodoxos
afirmaram que, apesar de os patriarcas, profetas e apóstolos terem recebido
chamados imediatos da parte de Deus, não se deve esperar que Deus chame seus
ministros de forma imediata. Ao invés disso, Deus chama mediatamente, através de
uma terceira parte, a assembleia cristã. O chamado mediato é, portanto, o ´método
ordinário e usual pelo qual Deus provê a igreja pós-apostólica com ministros.[25]
Martin Chemnitz escreve:

Não queremos, nem devemos, prescrever qualquer coisa à vontade livre de Deus e
seu infinito poder. Mas visto que no Novo Testamento não temos nem promessa de
que após os apóstolos, Deus queira enviar trabalhadores para sua seara através de
um chamado imediato, nem há qualquer ordem de que devêssemos esperar até que
ministros fossem escolhidos por um chamado imediato, seguimos e devemos seguir,
por isso, a forma que os apóstolos prescreveram para nós pelo Espírito Santo, ou
seja, que Deus neste tempo quer chamar e enviar ministros para sua igreja através
de um chamado mediato e meios regulares.[26]

O chamado mediato, conforme os dogmáticos, é tão divino quanto o imediato.[27]


Visto que ambos têm sua fonte em Deus (avpo. kuri,ou), eles são igualmente
autoritativos.

Apesar de que o Novo Testamento em nenhum lugar se refira à escolha de pastores


e bispos através da igreja como um “chamado”, este termo tem sido corretamente
aplicado a este procedimento, a fim de indicar sua continuidade com o chamado
apostólico. O chamado mediato pode ser considerado como um chamado divino
devido a sua origem apostólica. Chemnitz demonstrou extensivamente a base bíblica
para a autoridade do chamado mediato.[28] John Quenstedt observa que tanto o
chamado imediato como o mediato vêm de Deus, e que o chamado mediato, não
menos que o imediato, é sustentado pela Escritura (At 14.23; 2 Tm 1.6; 2.2; Tt
1.5).[29] A autoridade última de um chamado estendido por uma assembleia de
crentes deriva não daquela assembleia, mas de Deus. Por causa disso, os luteranos
têm consistentemente insistido na necessidade do chamado ao ministério público
através da congregação de crentes. Nenhum outro chamado é ordinariamente válido,
mesmo chamados mediatos feitos através de outras agências humanas.[30]

Lutero citou 1 Co 14.39,40 como a base para o poder da congregação cristã “pregar,
permitir a pregação e chamar”.[31] Ele insistiu na necessidade do chamado mediato,
em oposição a Esmer, que permitia leigos se tornarem bispos sem um chamado; a
Karlstadt, que se conduzia como pastor em Orlamunde, sem um chamado regular; e
principalmente aos anabatistas, que tiravam de forma subversiva a autoridade de
pastores regularmente chamados.[32] A Confissão de Augsburgo afirma: “Da ordem
eclesiástica se ensina que sem chamado regular ninguém deve publicamente ensinar
ou pregar ou administrar os sacramentos na igreja.”[33] Os teólogos luteranos
ortodoxos dos séculos XVI e XVII afirmaram a uma voz que somente o chamado
mediato deve ser esperado nos tempos pós-apostólicos.[34] Até mesmo Spener
considerou apenas o chamado mediato como sendo regular, apesar de que alguns
de seus sucessores pietistas se desviaram desta regra.[35] A Igreja Luterana –
Sínodo de Missouri – reafirmou esta posição luterana histórica ao aprovar em 1851
dez “Teses sobre o Ministério”, preparadas por C. F. W. Walther. Walther escreve: “...
é igualmente a congregação - e somente pode ser a congregação – pela qual, ou seja,
pela sua eleição, chamado e comissão, o ministério da pregação, que administra
publicamente o ofício das chaves e todos os ofícios sacerdotais na congregação, é
conferido a certas pessoas qualificadas para isto.”[36]

Devido a esta orientação, nem Lutero, nem as Confissões Luteranas, ou dogmáticos


luteranos, ou Walther, nem mesmo qualquer literatura luterana confessional atual têm
gastado muito tempo e tinta tratando especificamente do chamado interior para o
ministério. De fato, um tal conceito é estranho à teologia luterana histórica, pois seu
lar é a tradição calvinista, particularmente seu desenvolvimento nos Estados Unidos.
No entanto, o conceito do “chamado secreto” continua vivo entre alguns estudantes
pré-ministeriais e ministeriais, bem como entre alguns de seu clero.

Podemos aplicar os princípios da teologia luterana para analisarmos o chamado


interior. Primeiro, fica claro que um tal tipo de chamado está na categoria do
chamado imediato. Mas a Bíblia não promete nem exige um chamado direto de Deus
para a entrada no ministério. De fato, a Bíblia parece indicar que o chamado imediato
de Deus para seu serviço terminou com o fim da era apostólica. O Novo Testamento
descreve os líderes da igreja, que sucederam os apóstolos, como tendo sido
chamados mediatamente, não de forma imediata. A Bíblia, porém, sustenta a prática
de estender um chamado indireto através da comunidade cristã para aqueles que
entram no ministério público. Faremos bem, portanto, em não falar de um chamado
interno, mas apenas de um chamado externo, o chamado através da igreja.

Perigos inerentes ao conceito do Chamado Interior


Algumas pessoas podem concordar com a tese básica de que o chamado interior é
uma expectativa inválida do ponto de vista bíblico e teológico e, no entanto, achar
que o assunto não é tão importante para se ficar preocupado. Falando de forma
prática, eles pensam, isto não causa mal nenhum. Na verdade, de alguma forma a
percepção de que a pessoa tem um chamado interior para o ministério pode até ser
benéfico, pois motiva homens a entrarem nos seminários e futuramente no ofício
pastoral. Estas pessoas sustentam que o melhor é deixar o assunto assim mesmo e
não torná-lo um problema diante de um chamado interior percebido por um
estudante.

Apesar da boa intenção de uma idéia assim, uma atitude permissiva como a referida
acima ignora os perigos, tanto de ordem teológica como prática, envolvidos no
conceito do chamado secreto. Antes de mais nada, a pessoa estará fundamentando
o ofício do ministério em um terreno bastante subjetivo e, portanto, incerto. Pois
enquanto o chamado mediato externo pode ser substanciado por uma fonte objetiva
de verdade (o convite de uma congregação para servi-la), o chamado interior não o
pode. A falta de clareza e a ambiguidade evidentes nas tentativas de definir o
chamado interior indicam sua natureza extremamente subjetiva. Winthrop Hudson
observa: “mesmo aqueles que têm sido mais insistentes na necessidade de um
chamado ‘interior’, e mais confiantes de que a realidade daquele chamado poderia
ser ‘testada’ e ‘aprovada’, sempre reconheceram que alguma incerteza permanece e
que aquilo que a pessoa sinceramente pensa ser o guiar do Espírito, poderia ser
nada mais do que auto-ilusão.” [37] Alguém pode falar de uma “fraca voz” ou de uma
voz interior, mas a Bíblia não dá critério para um caso como este, para distinguir entre
a voz de Deus e alguma outra voz potencial. Como Garry Friesen observa:

Impressões interiores não são uma forma de revelação. Desta maneira, a Bíblia não
investe de autoridade impressões interiores como indicadores de orientação divina.
Impressões são verdadeiras; os crentes as experimentam. Mas elas não são
autoritativas. Impressões são impressões. Chame-as de “espirituais”, ou as atribua
ao Espírito Santo, mas elas continuarão sendo o mesmo – apenas impressões.
Impressões com qualquer outro nome confundem o assunto e confundem o crente no
processo de tomar decisões.[38]

Os impulsos interiores ou a compulsão interna, dos quais o chamado interior consiste,


simplesmente não podem ser objetivamente verificados. Tais impressões podem ser
confundidas com obra do Espírito Santo quando não o são, e serem consideradas
como divinamente autoritativas. O resultado é que a pessoa que teve uma tal
experiência sente-se compelida a procurar um caminho que pode não ser
necessariamente do melhor interesse para a própria pessoa e a igreja.

De fato, a própria terminologia de “impulso”, “compulsão”, “impressão” e “pressão”,


tão frequentemente empregada para expressar o chamado interior é linguagem da lei,
não do evangelho. Lembre que o pastor luterano citado no início deste trabalho
descreveu o chamado interior como um assunto que envolve “precisar, dever, ter
obrigação”, onde “as torturas de consciência não lhe darão nenhum descanso nem
paz, dia e noite”.[39] Quando uma declaração assim é vista à luz do que disse C. F.
W. Walther, que “misturar lei e evangelho traz intranquilidade de consciência”,[40] o
problema se torna evidente. Luteranos serão especialmente hesitantes em usar uma
tal linguagem de lei para a obra do Espírito Santo na vida do cristão. A liberdade
inerente ao evangelho de maneira nenhuma envolve compulsão. Na verdade, os dois
são mutuamente exclusivos. A própria linguagem empregada para descrever o
chamado interior não distingue propriamente a lei do evangelho.

Com uma orientação assim, no âmbito da lei, não é de se surpreender que culpa,
ansiedade e uma sensação de carga acompanhe a experiência do chamado interior.
Paul Southern associa o conceito do chamado interior com os problemas de um bom
número de ministros e estudantes de teologia com quem ele tem trabalhado.
“Relatórios clínicos”, ele relata, “falam de inúmeros homens que experimentam um
‘chamado para o ministério’, para depois da aceitação serem atribulados por dúvida e
incerteza.”[41] Sem dúvida, muitos estão carregados de culpa, porque sentem que
receberam o chamado interior para o ministério, mas não o obedeceram. Assim,
apesar de estarem em outras atividades também agradáveis a Deus, eles pensam
sempre que estão “fugindo de Deus” e, assim, também estariam fora de sua vontade.

Por outro lado, há também aqueles homens qualificados, que desejavam seguir o
ofício pastoral, mas não o fizeram porque não experimentaram o chamado interior.
Eles têm o desejo e são capazes para servir a Deus no ministério público, mas estão
convencidos de que Deus primeiro precisa dar sua “luz verde”, através de uma
experiência extraordinária. Quando uma tal experiência não vem, a pessoa sente-se
impedida de preparar-se para o ministério, e a igreja é quem mais perde com isto.
Finalmente, quantos ministros já abandonaram seu ofício, exatamente porque o
sentimento interior de seu chamado secreto eventualmente diminuiu? Toda esta
indecisão e ansiedade contrastam fortemente com a certeza objetiva do chamado
mediato pela igreja, afirmada por Chemnitz nestas palavras:

A certeza de um chamado divino move os ministros da palavra, assim que cada um,
em seu lugar, no temor de Deus, realiza suas funções com grande diligência, fé e
zelo, sem enfado. E ele não se deixa ser carregado para fora de seu ofício por medo
de qualquer perigo ou perseguição, visto estar certo de que é chamado por Deus e
que aquele ofício foi confiado divinamente a ele.[42]

Em tais condições, portanto, o conceito do chamado interior pode ser prejudicial ao


indivíduo. Desnecessária culpa e ansiedade, bem como um sentimento indesejável
de obrigação, frequentemente aborrecem a pessoa, visto que pensa ter um tal
chamado. Da mesma forma, “uma pessoa com necessidades psicológicas não
realizadas pode inconscientemente refugiar-se em esconderijos emocionais tais
como: ‘ai de mim se não pregar o evangelho’; ‘estou compelido a pregar’; ‘a suave
voz de Deus me ordenou que eu pregasse’.”[43] Nada disso é benéfico para o
bem-estar psicológico e espiritual do indivíduo. Mas não é apenas o indivíduo que
fica ferido por causa deste conceito. A assembleia de crentes, a igreja, também fica
ferida. E isto porque o ofício do ministério acaba sendo um serviço para o indivíduo e
não para a igreja.
A priorização do chamado interior acima do exterior, que tem ocorrido em grande
parte do Protestantismo americano, realmente usurpa a autoridade da congregação.
É significativo que mesmo o chamado especial de Paulo e Barnabé no Novo
Testamento tenha ocorrido no contexto da Congregação (At 13.1-4; cf. 1.21-26;
6.1-6). Mas hoje muitos pensam que o chamado da congregação é uma mera
validação secundária para um chamado interior, principal, que a pessoa
experimentou. Paul Irion toca no coração do assunto quando escreve:

A questão deve ser confrontada teologicamente com base na doutrina da igreja.


Deve-se perguntar ... ‘A mudança de relacionamento entre a primazia do chamado
externo e do interno durante a história do Protestantismo é uma tendência
teologicamente sadia?’ Esta não é uma pergunta referente à ordem na igreja ou à
psicologia da religião, mas é uma pergunta teológica básica envolvendo o significado
da doutrina da igreja. Esta mudança tende a levar às seguintes direções: não dá
pleno reconhecimento ao fato do ministério da igreja ao mundo e a derivação de
todos outros serviços a partir dele. Ela parece elevar o ministério do indivíduo acima
da missão da igreja. Ela tende a isolar o ministério de uma relação essencial com o
sacerdócio universal de todos os crentes. Se estes elementos da doutrina da igreja
são dignos de serem mantidos, haverá boa razão para restaurar a concepção original
protestante a respeito do chamado.[44]

De fato, estes elementos da doutrina da igreja são dignos de serem mantidos, e


assim há muito boa razão de restaurar o conceito original protestante do chamado –
o conceito luterano. Este conceito reconhece que a Escritura promete apenas o
chamado mediato, como meio pelo qual indivíduos são trazidos para dentro do
ministério público da igreja.

O principal problema eclesiástico do chamado interno é que sua orientação é interior,


para o indivíduo, e não exterior, para a Igreja. Ele é, portanto, antropocêntrico, ao
invés de eclesiocêntrico (e eclesiocêntrico significa, em última análise, teocêntrico).
Mas dentro da doutrina luterana, uma tal ênfase antropocêntrica é inaceitável. A
Confissão de Augsburgo entende propriamente que a igreja está onde acontecem “o
ensino do evangelho e a administração dos sacramentos” em nome e com
responsabilidade diante da congregação de crentes (“publicamente”).[45] Devemos
lembrar que a igreja é chamada a ministrar, não são indivíduos em si. Lutero diz:
“Não seria correto que qualquer pessoa coloque a si próprio adiante e se aproprie
como seu aquilo que pertence a todos.”[46] Lutero realmente não podia conceber um
ministério antropocêntrico. Para o reformador, quem exerce o ofício do ministério é de
importância secundária. Principal é a função do ministério que é executada pela
igreja.[47]

Obviamente, há muitos perigos inerentes ao conceito do chamado interior. Ele faz


daquilo que é subjetivo a base principal para o ministério. Ele usa linguagem de lei
para a obra do Espírito Santo na vida do cristão. Ele frequentemente resulta em peso
psicológico e espiritual de culpa e ansiedade. Ele mina os aspectos eclesiocêntrico e
teocêntrico do ministério. Tais problemas reforçam o argumento teológico
apresentado acima, que não coloca nenhuma expectativa sobre o chamado interior,
mas reconhece apenas o chamado mediato como ordinário. No entanto, se não se
deve esperar pelo chamado secreto, como deveríamos entender propriamente a
motivação para o ofício ministerial? A Escritura oferece dois fatores complementares
que definem uma motivação apropriada e válida para a preparação ao ministério.

O Entendimento Bíblico da Motivação para o Ministério

A Bíblia nunca promete, nem exige um chamado interior a fim de determinar quem
serão os pastores. Mas ela oferece diretrizes para selecionar aqueles que servirão
neste ofício. Podem-se legitimamente citar passagens descritivas da Escritura para
demonstrar estas diretrizes; mas estaremos sobre solo muito mais sólido quando
consultarmos passagens prescritivas. Estas podem ser encontradas em 1 Tm 3.1-7;
Tt 1.5-9 e 1 Pe 5.1-4. Muito pode ser dito acerca destes textos, mas nos
contentaremos com os dois requisitos básicos contidos nos textos, que constituem
motivação válida para o ministério.
Primeiro, deve existir o desejo de servir no ofício pastoral. Paulo inicia suas
orientações a Timóteo com respeito à escolha dos líderes espirituais, com estas
palavras: “Fiel é a palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja”
(1 Tm 3.1). Obviamente este desejo deve ser motivado corretamente, pois a Escritura
condena enfaticamente aqueles que buscam o ofício por vaidade ou interesses
egoístas, ou por “sórdida ganância” (2 Tm 4.3,4; Tt 1.11; 1 Pe 5.2). Este desejo deve
derivar de motivação do evangelho, não da lei. Pedro insiste que aquele que exerce
supervisão sobre o rebanho de Deus deve fazê-lo “não por constrangidos, mas
espontaneamente ... de boa vontade” (1 Pe 5.2). Observe como as instruções de
Pedro contradizem a noção inerente ao chamado secreto, que fala de compulsão
interna, constrangimento, pressão, impulso, etc.

Este desejo de servir como pastor do rebanho de Deus é estimulado pela valorização
da graça de Deus e reconhecimento das necessidades da igreja. “Ao invés de
esperar por algum tipo de voz interior,” escreve Garry Friesen, “o homem tem de
cultivar uma resposta interior ao desafio de servir a Deus da maneira mais plena
possível.”[48] A maneira mais plena de servir a Deus é servir sua igreja e o desejo de
fazer isto é uma motivação apropriada para buscar o ofício de pastor. Tal motivação é
teocêntrica e eclesiocêntrica. Assim, ao invés de falar de um chamado interior,
faríamos melhor em falar como o faz o Novo Testamento, a respeito de uma
“aspiração”, ou “desejo” de ocupar o ofício do episcopado na igreja.

Um segundo fator mais importante que define uma motivação apropriada para
preparar-se para o ministério, é o reconhecimento de que a pessoa está em
conformidade com as qualificações listadas por Paulo em 1 Tm 3 e em Tt 1. Os
teólogos luteranos têm tradicionalmente enfatizado estas qualificações como
essenciais tanto para ministros como para estudantes ministeriais. Lutero diz: “Que
qualificações os bispos, ou pastores, a serem escolhidos pelo povo devem ter, Paulo
ensina suficientemente em Tt 1.5ss e 1 Tm 3.2ss.”[49] Com base em 1 Tm 5.22 (“A
ninguém imponhas precipitadamente as mãos”), Francis Pieper argumenta que é
necessário escolher pastores “conforme os atributos enumerados como requisitos
para este ofício,” citando 1 Tm 3 e Tt 1.[50] O relatório da CTRE (Comissão de
Teologia e Relações Eclesiais da Lutheran Church – Missouri Synod), The Ministry:
Offices, Procedures, and Nomenclature, afirma: “Para ser elegível para ser chamado
ao ofício do ministério público, um homem precisa ser considerado como tendo os
requisitos colocados por Deus, listados em 1 Tm 3 e Tt 1.”[51]

Desta forma, o homem deveria estar livre para buscar o ofício de pastor se suas
habilidades, personalidade e atitudes se conformam às qualificações escriturísticas
para o ofício. Seus motivos serão válidos, se ele deseja propriamente esta posição do
ministério na igreja e se, ou já possui ou é capaz de desenvolver as atitudes e
habilidades exigidas para aquela posição. Martin Chemnitz une os fatores de desejo
e qualificações, ao discutir a motivação para o ofício do episcopado:

Desejar o ofício de bispo não é colocar-se em funções eclesiásticas sem um


chamado legítimo; mas se ele aprendeu e entende os fundamentos da doutrina cristã
e é relativamente capacitado com o dom de ensinar – quando ele oferece seu serviço
a Deus e à igreja, ele assim procura nada mais que Deus declare, através de um
chamado legítimo, regular, se Ele quer usar seu serviço na Sua igreja. E ele deve
estar disposto a, se um chamado não vem como é de seu desejo, ele então não agirá
maliciosamente para obtê-lo.[52]

Estas duas prescrições – desejo e qualificação – certamente dão o quadro bíblico


completo para uma motivação válida. Mas um outro fator bíblico, apesar de ser
apenas descritivo, também é digno de consideração.

Como já vimos, o ministério não é centrado no indivíduo, mas na igreja. Segue a isto
que a igreja estará envolvida em todos os aspectos do ofício do ministério, incluindo o
campo motivacional. Um terceiro fator útil para definir a motivação para o pastorado é
o encorajamento que vem da comunidade cristã. Paulo instruiu Tito a “constituir
presbíteros” (Tt 1.5), e “o que de minha parte ouviste, através de muitas
testemunhas”, ele encorajou Timóteo a transmitir “a homens fiéis e idôneos para
instruir a outros” (1 Tm 2.2). Eles deveriam fazer esta constituição e transmissão
assim como Paulo havia previamente lhes orientado, isto é, através da igreja (Tt 1.5;
Rm 10.15; 1 Tm 4.14). Obviamente, então, é a igreja que reconhece as duas
prescrições de um ministério válido em um indivíduo e então o encoraja a continuar a
cultivar seu desejo e habilidades.

Também hoje a comunidade cristã deveria encorajar aqueles homens qualificados


que têm a aspiração para se tornarem pastores, a que busquem cumprir esta
aspiração. A congregação pode deliberadamente escolher alguns dentre os seus
jovens mais adequados para tanto. “É iniciativa da igreja”, mostra Paul Irion,
“reconhecer dons espirituais nos seus membros, ser sensitiva para com eles,
encorajá-los e treiná-los.”[53] Da mesma forma, um jovem que está pensando no
estudo ministerial deveria buscar conselho de outros dentro do corpo de Cristo, para
analisarem suas habilidades e qualificações tendo em vista o ofício pastoral. Ele
assim receberá uma avaliação mais equilibrada e objetiva de seu potencial. Pois “da
soberba só resulta a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria”
(Pv 13.10).

Conclusão

O conceito do chamado interior para o ministério está vivo e ativo no Protestantismo


americano. A pesquisa indica que ele tem um papel importante na motivação de
indivíduos de diversos contextos denominacionais para buscarem o estudo
ministerial. Os luteranos não são exceção neste padrão, pois as experiências
motivacionais dos seminaristas luteranos não diferem significativamente da média
dos estudantes teológicos protestantes americanos. Entretanto em nenhum lugar a
Bíblia promete, nem requer a experiência do chamado interior como meio que Deus
empregue para motivar indivíduos a buscarem o ofício de pastor. Além do mais, o
conceito do chamado secreto é estranho ao pensamento do luteranismo histórico,
visto ter se originado na tradição calvinista e ter se desenvolvido no evangelicalismo
americano. O chamado interior é, na verdade, nada mais que o chamado imediato de
Deus, e tanto a Escritura como o luteranismo ortodoxo ensinam que Deus não mais
chama ordinariamente homens ao ofício pastoral, a não ser através da mediação da
sua igreja.
A expectativa quanto ao chamado interior deveria ser abandonada, não apenas
porque lhe falta base bíblica e teológica, mas porque tem implicações perigosas para
o indivíduo e para a comunidade cristã. Fundamentar a instituição do ministério sobre
algo tão subjetivo é minar sua estabilidade e segurança. A percepção do chamado
interior frequentemente envolve confusão entre lei e evangelho e consequentemente
resulta em frustração, culpa, ansiedade e desespero. A priorização do chamado
interior usurpa a autoridade da igreja, ao elevar o ministério do indivíduo acima da
missão da igreja. O ministério se torna antropocêntrico, ao invés de eclesiocêntrico e
teocêntrico.

Apesar de que a Bíblia não promete o chamado secreto interior, ela não nos deixa
sem instruções a respeito de uma motivação válida para alguém buscar o ofício do
episcopado. Esta motivação deve derivar de um desejo correto de servir a Deus e ao
seu povo, e do reconhecimento que a pessoa possui as qualificações para o ofício,
assim como descritas na Escritura. Estas prescrições são, ainda, reforçadas pelo
encorajamento e conselho da congregação local. Quando tais diretrizes bíblicas são
seguidas, a pessoa pode preparar-se para o ministério com a confiança da
aprovação de Deus e poderá futuramente receber seu chamado legítimo, mediado
através da igreja.

Traduzido por Gerson Luis Linden

[1] ROCKEY, Carrol J. Fishing for Fishers of Men, Philadelphia: The United Lutheran
Publication House, 1924, p. 13.

[2] ROCKEY, p. 62.

[3] Garry Friesen, Decision Making and the Will of God, Portland: Multnomach Press,
1980, pp. 314-315.
[4] Citado em MILLER, Allen O. Discussion of Winthrop S. Hudson’s Paper.
Conference on Motivation for the Ministry, Louisville: Southern Baptist Theological
Seminary, 1959, pp. 47-48.

[5] FELTON, R. A. New Ministers: A Study of 1978 Ministerial Studentes to Determine


the Factors which Influence Men to Enter the Ministry. Madison: Drew Theological
Seminary, 1949.

[6] STRUNK Jr, Orlo. Men, Motives, and the Ministry. Religious Education, v. 54, n. 5,
set.- out. 1959, p. 433.

[7] HUNT, Richard A., CARDWELL, Sue W., DITTES, James E. Theological School
Inventory Manual. Dallas: Ministry Studies Board, 1976. p. 17.

[8] Esta informação foi providenciada pelo pastor Richard Benke, Diretor de
Recrutamento Ministerial do Concordia Seminary, de St. Louis, em 21 de janeiro de
1985.

[9] NAUSS, Allen H. Current Emphases and Trends in Ministerial Motivation.


Concordia Seminary Studies, Springfield, v. 72, n. 2, mar. 1972. pp. 46,47,49.

[10] HUNT, CARDWELL, DITTES, p. 53.

[11] COENEN, L. Call. The New International Dictionary of New Testament Theology.
Grand Rapids: Zondervan, 1975. v. 1, 273-276.

[12] STRUNK, p. 430.

[13] PIPES, J. C. Motivation for Entering the Ministry Among Mountain Preachers.
Conference on Motivation for the Ministry, p. 19.

[14] IRION, Paul E. Theological Perspectives of Motivations for the Ministry.


Conference on Motivation for the Ministry, p. 126.

[15] NIEBUHR, H. Richard. The Purpose of the Church and its Ministry. New York:
Harper & Brothers, 1956. p. 64.

[16] Ver discussão a respeito abaixo.

[17] CALVINO, João. Citado em NIEBUHR, H. Richard, WILLIAMS, David N., eds.
The Ministry in Historical Perspectives. New York: Harper & Brothers, 1956, p. 139.
[18] CALVINO. The Ministry in Historical Perspectives, p. 139.

[19] WALKER, Willinston. The Creeds and Platforms of Congregationalism. New York:
1983, p. 214.

[20] WALKER, p. 214.

[21] HUDSON, Winthrop S. The Protestant Concept of Motivation for the Ministry.
Conference on the Motivation for the Ministry, p. 34.

[22] HUDSON, p. 34.

[23] SMITH, Charles R. Can You Know God’s Will for Your Life? Winona Lake: M. M.
H. Books, 1977, p. 2.

[24] Luther’s Works, Philadelphia, St. Louis: Fortress, Concordia, 1958, v. 40, pp.
384-393 (citado daqui para a frente como LW).

[25] GERHARD, John. Loci Theologici, traduzido por Richard J. Dinda. St. Louis:
Concordia – microficha, XXIII, parágrafo 76, pp. 48-49. HUTTER, Leonard. Compend
of Lutheran Theology, traduzido por H. E. Jacobs e G. F. Spieker. Philadelphia: The
Lutheran Book Store, 1868, p. 143. QUENSTEDT, John Andrew. Theologicia
Didactio-Polemica. Wittenberg: Haeredes, 1985, IV, 395. BAIER, John W.
Compendium Theologiae Positivae, C. F. W. Walther, ed. St. Louis: Concordia, 1879,
III, b, 689.

[26] CHEMNITZ, Martin. Ministry, Word, and Sacraments: An Enchiridion, traduzido


por Luther Poellot. St. Louis: Concordia, 1981, p. 31.

[27] GERHARD. XXIII, parágrafo 83, pp. 52-54; QUENSTEDT, IV, 395.

[28] CHEMNITZ, pp. 31-34. Uma abordagem sobre a base bíblica do chamado
mediato pode ser encontrada em: BRUEGGEMANN, H. G. The Public Ministry in the
Apostolic Age. Concordia Theological Monthly, v. 22, n. 2, 1951, pp. 81-109.

[29] QUENSTEDT, IV, 395.

[30] Dizemos que nenhum outro chamado é ordinariamente válido, porque, assim
como Chemnitz afirmou acima, não determinamos qualquer coisa que seja à livre
vontade de Deus e seu poder infinito. Da mesma forma, Lutero reconheceu que se
ocorresse uma situação onde não houvesse uma comunidade cristã para administrar
um chamado, a pessoa poderia propriamente assumir os deveres por si mesmo; ver:
LW, v. 11, p. 415 e v. 40, p. 34.

[31] LW, v. 39, p. 311.

[32] LW, v. 39, pp. 174, 383-384; v. 40, p. 111.

[33] CA XIV.

[34] PRAGMAN, James H. Traditions of Ministry. St. Louis: Concordia, 1983, pp.
65-70. Pragman resume o posicionamento dos dogmáticos luteranos.

[35] SPENER, Philip. Kurtze Catechismus-Predigten. Frankfurt: J. D. Zunnern


Buchhandlern, 1689, p. 692.

[36] WALTHER, C. F. W. The Theses on the Ministry, Tese VI. Walther and the
Church. DALLMANN, William, ENGELDER, Theodore, eds. St. Louis: Concordia,
1938, p 75.

[37] HUDSON, p. 36.

[38] FRIESEN, p. 131.

[39] ROCKEY, p. 62.

[40] WALTHER, C. F. W. The Proper Distinction between Law and Gospel. Traduzido
por W. H. T. Dau. St. Louis: Concordia, 1929, p. 41.

[41] SOUTHERN, Paul. Discussion of J. C. Pipe’s Paper.” Conference on Motivation


for the Ministry, p. 27.

[42] CHEMNITZ, p. 30.

[43] SOUTHERN, p. 29.

[44] IRION, p. 133.

[45] CA VII e XIV.

[46] LUTERO, citado por PIEPER, Francis. Christian Dogmatics. v. 3, St. Louis:
Concordia, 1953, p. 450.

[47] BLOMENBERG, Ralph. Ministers are Made, Not Born: Luther’s Doctrine of the
Ministry. Concordia Student Journal, v. 2, n. 2, 1979, p. 14.
[48] FRIESEN, p. 316.

[49] Lutero citado por PIEPER, p. 441.

[50] PIEPER, p. 441.

[51] The Ministry, Documento da CTRE, p. 26.

[52] CHEMNITZ, p. 48.

[53] IRION, p. 133.

[i] O autor, na época estagiário de Teologia pelo Concordia Seminary, em St. Louis,
hoje é professor naquela Faculdade. No início do trabalho, o editor da revista
(Concordia Journal) faz a seguinte observação:

O termo “chamado interior” pode conter alguma ambiguidade, no sentido de que


algumas pessoas podem usá-lo não no sentido calvinista tradicional, mas apenas
para descreverem sua convicção de que Deus, através de seu desenvolvimento
espiritual, resultante do uso apropriado dos meios da graça, levou-os a desejarem
servir no ofício pastoral e que Deus lhes deu as qualificações para aquele ofício. O
autor corretamente adverte contra forçar exageradamente as estatísticas do TSI,
devido à amplitude no entendimento e uso do termo “chamado interior”, sem estar
sendo identificado com o “chamado imediato”.

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