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ARTIGOS

Processo decisório:
análise fílmica com base no filme Treze dias que abalaram o mundo

Fabrício Simplício Maia1


Daiane Messer2
Eduarda Paiz3
Simone Seganfredo4

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do filme “Treze dias que abalaram
o mundo” em contraponto com os pressupostos teóricos do tema processo decisórios,
demonstrando como a análise fílmica aliada à teoria traz a lume a aprendizagem e discussão.
Através de seu método de linguagem metafórica, a análise fílmica condiciona um olhar
analítico a medida em que determinadas partes do filme são correlacionadas a teorias
existentes, além de produzir uma linguagem interpretativa. O estudo caracteriza-se como
qualitativo, assumindo perfil descritivo e bibliográfico. Para obter os resultados, realizou-se
uma revisão da literatura, permitindo a coleta de dados secundários e que deram suporte à
realização do estudo. A etapa correspondente à análise fílmica permitiu uma comparação
entre as etapas do processo decisório e sua aplicação percebida no filme 13 Dias que
Abalaram o Mundo. Por fim, foi possível identificar, no decorrer do processo decisório do
filme, a existência de conflitos e também como as experiências pessoais influenciam na
tomada de decisão e na aplicação da estratégia estabelecida.

PALAVRAS-CHAVE: Processo decisório. Análise fílmica. Aprendizagem.

1
Professor Doutor do curso de Administração da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó-SC.
E-mail: fabricio.maia@uffs.edu.br.
2
Administradora pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó-SC. E-mail:
daiamesser@hotmail.com.
3
Administradora pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó-SC. E-mail:
eduardapaiz@hotmail.com.
4
Administradora pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó-SC. E-mail:
simone_seganfredo@hotmail.com.

V.12, nº1, p.45-62, nov./fev. 2019. 45


Revista FOCO. ISSN: 1981-223X

Decision-making:
film analysis based on the film thirteen days

ABSTRACT

The present paper aims to analyze the movie "Thirteen Days" against the theoretical
assumptions of decision-making, showcasing how the film analysis jointed to the theory
spotlights the learning and the discussions. Through the metaphorical language method, the
film analysis sets up an analytical view to the extent in which relations are established
between film parts and existing theories, and an interpretative language. The research is
classified as qualitative, assuming a descriptive and bibliographic profile. To obtain the
results, a literature review was conducted, allowing for secondary data collection supporting
the execution of the research. The step corresponding to the film analysis allowed a
comparison between the phases of decision-making and their perceived application in the film
Thirteen Days. Finally, it was possible to identify, along the decision-making process in the
film, the existence of conflicts, and how personal experiences influence the decision-making
and the established strategy's application.

KEYWORDS: Decision-Making. Film analysis. Learning.

INTRODUÇÃO

O ato de decidir sempre esteve presente na vida do ser humano e se caracteriza por ser
um processo que se baseia na análise de determinadas situações já presenciadas ou ainda
desconhecidas, para que se possa realizar uma escolha final.
Quando um indivíduo se depara com um problema que apresenta mais do que uma
solução, será necessário que opte por aquilo que de acordo com sua análise, considere
adequado e oportuno à sua situação, visto que toda decisão possui um resultado. No caso das
organizações este processo não difere, situações são analisadas de modo que se averigue
aquela qual proporcionará retornos satisfatórios à realidade empresarial.
Destarte, a decisão é o ato de optar entre alternativas ou possibilidades e, portanto, são
efetuadas no sentido de solucionar problemas ou mesmo beneficiar-se de oportunidades
(BAZERMAN, 2015). Para que o processo de tomada de decisão possa apresentar os
resultados esperados, a obtenção de dados que auxiliem nesta análise é fundamental, pois com
o processamento das informações obtidas é possível atribuir um significado a elas. Neste
sentido, uma análise de alternativas envolve a utilização de ferramentas que sejam capazes de
atribuir maior qualidade ao processo decisório, sendo que quanto maior sua complexidade,
maior a necessidade de utilização de mecanismos de apoio à tomada de decisão.
Então, a qualidade das decisões é diretamente influenciada pela qualidade das
informações obtidas e, em virtude disso, ambas atuam como um processo integrado e

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sistêmico, afetando o comportamento organizacional no que compete a sua eficiência e


eficácia (PREVÉ; MORITZ; PEREIRA, 2010).
Contudo, em alguns casos há a preferência por obter conhecimento não apenas sobre a
melhor decisão, mas sobre todas as demais alternativas, analisando de forma estratégica as
opções dispostas. As decisões são tomadas diante de diferentes circunstâncias e, para que o
processo decisório tenha sustentação, é pertinente que uma organização realize a aplicação de
ferramentas que provenham auxílio à tomada de decisão.
Considerando estas perspectivas, ao realizar uma análise fílmica este artigo permite
visualizar na prática os meios de tomada de decisão, onde os dados são estruturados e
transformados em informação para que posteriormente sejam verificadas quais as melhores
alternativas a serem escolhidas. Neste sentido, este estudo tem como objetivo realizar uma
análise do filme “Treze dias que abalaram o mundo” em contraponto com os pressupostos
teóricos relativos ao tema processo decisório, demonstrando como a análise fílmica contribui
para a aprendizagem e discussão nesta área de estudo da Administração.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

Considerando o objetivo proposto para este trabalho, nesta seção serão expostas
características históricas e conceituais relativas aos temas processo decisório e análise fílmica,
as quais servirão de base para a elaboração dos resultados deste artigo. As informações
relatadas são embasadas em obras de autores renomados nas referidas aéreas de estudo.

1.1 PROCESSO DECISÓRIO

Conforme exposto por Gomes e Gomes (2014, p. 1) “a palavra decisão é formada por
de (que em latim significa parar, extrair, interromper) que se antepõe à palavra caedere (que
significa cindir, cortar)”. Assim, de acordo com o exposto pelos autores, a palavra decisão
tem sentido de “parar de cortar” ou “deixar fluir”.
Neste direcionamento, “decisão é o processo de análise e escolha entre as alternativas
disponíveis de cursos de ação que a pessoa deverá seguir” (MARCH; SIMON, 1958).
Em seu princípio, o processo de decisão tinha como base apenas a relação
custo/benefício. Isso se devia ao fato de que a ciência administrativa surgiu entre o final do
século XIX e início do século XX, com valores funcionais e mecanicistas, assumindo nas
organizações o papel de um instrumento técnico para a maximização dos resultados. Logo,

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Préve, Moritz e Pereira (2010) apontam que o processo decisório vem evoluindo desde
1940. A Teoria das Decisões teve início no trabalho de Herbert Simon, que entende a
organização como um sistema de decisões, no qual as pessoas decidem a respeito de quais
alternativas ofereceriam mais garantia de maximização dos retornos a serem obtidos tendo
como base critérios racionais.
Outrossim, todas as atividades de planejamento envolvem um processo de tomada de
decisão. As decisões em um ambiente organizacional envolvem o processo de coleta de
dados, identificação de alternativas, negociações e a avaliação de alternativas de ação. A
decisão pode ser definida como uma escolha entre as alternativas que envolvem os
questionamentos de “o que”, “quando”, “quem”, “por que” e “como” que surgem durante o
processo (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010).
Paganotti (2015), enfatiza que o processo decisório permite que a organização escolha
o caminho correto, de acordo com a situação atual, levando em consideração fatores que
podem influenciar na formação de alternativas, tais como o mercado, a concorrência, a
política, e a economia. “As organizações devem ser capazes de montar estratégias eficientes
tomando a decisão mais acertada para superar seus concorrentes no mercado” (PAGANOTTI,
2015, p.3).
De acordo com Préve, Moritz e Pereira (2010) na maioria das organizações o processo
de decisório envolve os seguintes passos:
a) Formulação do problema;
b) Estruturação do problema a fim de relacionar suas partes na forma de um modelo;
c) Montagem técnica de um modelo;
d) Simulação do modelo e das suas possíveis soluções;
e) Definição dos controles sobre a situação e a sua delimitação; e
f) Implementação da solução na organização.
Em uma outra proposição, Uris (1989) apresenta um modelo de processo de decisão
com as seis etapas e condizentes particularidades abordadas a seguir:
a) Análise e identificação da situação e do problema: através do levantamento de
informações, a situação e ambiente onde o problema está inserido devem ser seguramente
identificados para que se tome uma decisão precisa;
b) Desenvolvimento de alternativas: os profissionais encarregados de tomar a decisão devem
usufruir de sua experiência e dos dados coletados para levantar alternativas para solucionar o
problema;

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c) Comparação entre alternativas: relacionar as vantagens e desvantagens de cada alternativa,


assim como seus custos e benefícios;
d) Classificação dos riscos de cada alternativa: mensurar o grau de incerteza, ambiguidade e
imprecisão de cada alternativa, assim como o grau de complexidade envolvido. Deve ser
escolhida a alternativa com menor risco envolvido e que melhor se enquadra no objetivo a ser
alcançado;
e) Escolha da melhor alternativa: após identificar e mensurar todas as alternativas, o decisor
deve ser capaz de escolher aquela que melhor solucione o problema, definindo metas e prazos
para alcançá-las, a fim de realizar avaliações futuras; e
f) Execução e avaliação: a alternativa escolhida deve ser implantada e os resultados
alcançados devem ser comparados às previsões para identificar erros e possíveis adequações.
Ademais, novas visões a respeito do processo decisório vêm sendo apontadas por
pesquisadores de diversas áreas, como a psicologia, sociologia e antropologia. Bazerman
(2015) argumenta que a tomada de decisão é a principal característica de um administrador ao
tentar garantir que toda a organização tome decisões efetivas.
Assim sendo, em muitos casos o administrador deverá tomar decisões complexas que
irão definir o rumo da organização e de todas as partes envolvidas. Então, dois aspectos
podem ser destacados na tomada de decisão: a dificuldade de prever o futuro, as decisões são
tomadas em um ambiente de incerteza e a dificuldade de reverter uma decisão malsucedida
(PAGANOTTI, 2015).
Além disso, a decisão tomada por um indivíduo normalmente é resultado da interação
com um grupo e como consequência, juntamente com o responsável pela decisão se
encontram todos os stakeholders que sofrerão as consequências da mesma.
Independentemente do fato de a decisão ser tomada por um indivíduo ou um colegiado, é
exigida competência analítica, rapidez na ação e foco na solução do problema.
Então, de maneira a contribuir com o processo decisório, Préve, Moritz e Pereira
(2010), apresentam resumidamente quatro modelos dos procedimentos característicos da
tomada de decisão. O modelo clássico ou burocrático tem seu procedimento lógico-formal
firmado na suposição econômica, que analisa primeiro os fins para depois estudar os meios
pelos quais atingi-los, embasando a eficácia do processo decisório na escolha da decisão mais
adequada para os fins.
No que compete ao modelo administrativo ou de Carnige, este o é condizente com
teoria de Herbert Simon e descreve como o administrador toma decisões em situações

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complexas. Reconhece as limitações humanas e ambientais (racionalidade limitada) que


afetam a escolha de um processo racional de tomada de decisão. Concomitantemente, o
modelo comportamentalista acentua o comportamento do indivíduo na organização e os
gestores procuram prevê-lo nas decisões para evitar situações desagradáveis, enquanto
conforme o modelo normativo – aquele dos grupos técnicos-profissionais – a preocupação
central reside em como deve ser feito o processo decisório (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA,
2010).
Ademais, em conformidade com Paganotti (2015); Gomes e Gomes (2014) a tomada
de decisão é o processo de identificar problemas e oportunidades e escolher uma das
alternativas disponíveis. As decisões podem ser programadas (estruturadas) e não
programadas (não estruturadas). As decisões programadas condizem aos problemas
estruturados que já são rotineiros e bem compreendidos, onde tais problemas dispendem de
procedimentos e regras sistemáticos, como processos lógicos. Já as decisões não programadas
condizem aos problemas não estruturados, que são desconhecidos e/ou complexos e não se
enquadram em procedimentos sistêmicos. É uma decisão feita sob condições de incerteza,
contando com as habilidades analíticas dos gestores.
Para alcançar as metas, as decisões também são tomadas em diferentes níveis. Neste
sentido, Bazerman (2015) corrobora, a denominação de Peter Drucker de que as decisões
podem ser táticas e estratégicas. Conforme ambos, sendo as decisões táticas são mais simples,
sendo possível confiar na capacidade intuitiva do decisor, enquanto as decisões estratégicas
são mais difíceis e envolvem um processo de solução de um problema desconhecido.
Assim, é no nível mais alto da organização, o nível estratégico, que são tomadas as
decisões estratégicas que determinam os objetivos, os propósitos e a direção da organização,
além de determinar a forma como irá se relacionar com o ambiente externo. As políticas e
metas não podem ser muito especificas pois precisam ser aplicadas em todos os níveis da
organização. As decisões táticas são tomadas pela gerência intermediária e envolvem o
desenvolvimento de táticas para atingir as metas estratégicas definidas pela alta
administração. São mais específicas, concretas e voltadas para a ação. As decisões
operacionais são tomadas no nível mais baixo, de supervisão ou operacional e determinam a
maneira mais eficiente e eficaz que as operações devem ser conduzidas, baseando-se nas
decisões táticas (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010).

1.2 ANÁLISE FÍLMICA

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Penafria (2009) apresenta que a análise de filmes ocorre nos mais diversos discursos
acerca de filmes, os quais podem assumir um caráter mais publicitário, serem apenas
comentários ou se tratarem de um estudo acadêmico. Afirma a autora que quando
compreendida erroneamente, a análise fílmica pode aparentar ser uma atividade banal, que
pode ser realizada por qualquer indivíduo, sem a necessidade de um enfoque ou metodologia.
Podendo ser encontrada em revistas especializadas, publicações de associações de
críticos e na produção universitária, a análise fílmica difere das resenhas e comentários
publicados nos jornais pois “tem como objetivo um exame mais profundo da obra, de suas
características poéticas e estéticas e da forma como ela se inscreve na tradição e história
cinematográfica, mantendo com estas um diálogo” (FRANÇA, 2002, p. 60, 61).
Neste direcionamento, é relevante a concepção exposta por Aumont e Marie (2004) de
que o olhar por meio do qual um filme é percebido se torna analítico a partir do momento em
que se decide dissociar certos elementos do filme, dedicando assim, maior interesse a
determinadas imagens, momentos ou situações.
Compreendidas as particularidades competentes à análise fílmica, Alvarenga et al.
(2017) ressalta a importância de abordar os tipos de análise sobre os quais se possui
conhecimento: textual, de conteúdo e poética. Conforme a autora, a análise textual é aquela
que considera o filme como um texto e tem como objetivo decompô-lo conforme sua
estrutura, atribuindo importância aos códigos presentes em cada filme. Estes códigos podem
ser três: perceptivos (capacidade do espectador reconhecer objetos na tela), culturais
(capacidade do espectador interpretar o que vê na tela recorrendo à sua cultura) e específicos
(capacidade do espectador interpretar o que vê na tela a partir dos recursos cinematográficos)
(PENAFRIA, 2009).
Já a análise de conteúdo considera o filme como um relato e se atenta para o tema do
mesmo. De modo a aplicá-la, primeiro se identifica o tema do filme, depois se faz um resumo
da história e a decomposição do filme, considerando o que o filme expõe a respeito do tema.
Por fim, no que compete à análise poética, a mesma percebe o filme como uma
programação/criação de efeitos, pressupondo como metodologia a identificação das sensações
produzidas por um filme quando assistido, seguida pela realização do percurso inverso da
criação da obra para perceber o modo como esse efeito foi construído (PENAFRIA, 2009; DE
FREITAS; LEITE, 2015).
Aumont e Marie (2004) e Leite, De Freitas e Tavares (2015) estabelecem no que
compete a uma definição da análise do filme, podem ser mencionados os seguintes princípios:

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a) Não existe um método universal para analisar filmes;


b) A análise de um filme é interminável, pois seja qual for o grau de precisão e extensão que
alcancemos, num filme sempre sobra algo de analisável;
c) É necessário conhecer a história do cinema e a história dos discursos que o filme escolhido
suscitou para não os repetir; devemos primeiramente nos perguntar que tipo de leitura
desejamos praticar (AUMONT; MARIE, 2004, p. 39)
Guimarães (2010) apresenta a existência de duas formas pelas quais pode ser realizada
a análise de um filme: o olhar interno e o olhar externo. Segundo o autor, o olhar interno
corresponde à maneira de analisar filmes por meio da qual se busca descrever e explicar o
funcionamento da obra a partir dela mesma, da sua forma e dos seus elementos internos.
Em contrapartida, é por meio do olhar externo que se busca compreender a forma ou o
sentido de uma obra cinematográfica, fazendo uso de ferramentas pertencentes a ciências ou
áreas do conhecimento já estabelecidas anteriormente ao estudo de questões como as poéticas
e estéticas de um filme. Neste caso, são aplicados conhecimentos oriundos de áreas distintas
ao cinema no intuito de compreender a constituição temática do filme de modo a construir
uma interpretação relacionada ao seu conteúdo e não sua forma (GUIMARÃES, 2010).
Concomitantemente, de acordo com Alvarenga et al (2017), a análise fílmica pode
fazer uso de principalmente três instrumentos: os descritivos, os citacionais e os documentais.
Os instrumentos descritivos buscam atenuar a dificuldade de compreensão e memorização do
filme, podendo descrever desde unidades narrativas a determinadas características da imagem
ou da banda sonora por meio de instrumentos como a decomposição plano a plano, a
segmentação, a descrição de imagens do filme ou quadros, gráficos e esquemas.
Quanto aos instrumentos citacionais, estes buscam realizar um estado intermediário
entre o filme e sua análise minuciosa através de mecanismos como o excerto de filme, o
fotograma ou outros meios de citação. Por fim, os instrumentos documentais, contrariamente
aos citados anteriormente, não descrevem ou citam o filme, mas sim juntam ao seu tema
informações provenientes de fontes exteriores a ele como orçamentos, fotografias de cena e
diários de rodagem, por exemplo (AUMONT; MARIE, 2004).

2 METODOLOGIA

Para proporcionar uma visão mais ampla do cenário do problema e uma melhor
compreensão do fenômeno pesquisado, esta pesquisa possui uma abordagem qualitativa. De
acordo com Grubits e Noriega (2004) a pesquisa qualitativa busca compreender os

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significados do fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas que vivem aquela
realidade.
Outrossim, considera-se para este estudo a tipologia proposta por Vergara (2006),
onde são relacionados dois critérios para a realização da pesquisa: quantos aos fins e quanto
aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa também é de natureza descritiva, sendo que de acordo
com Gil (2010), podem ser pesquisas descritivas aquelas que têm como objetivo descrever as
características de um grupo, aquelas que visam levantar as opiniões, crenças e atitudes de uma
população e também aquelas que buscam descobrir a existência de associações entre
variáveis.
Quanto aos meios, o estudo tem caráter de pesquisa bibliográfica. Segundo Severino
(2007), a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de registros disponíveis em livros, artigos,
teses, etc. que disponibilizam dados já trabalhados por outros pesquisadores e que contribuem
para o estudo. Gil (2010) acrescenta ainda, que a vantagem da pesquisa bibliográfica está em
o pesquisador ter acesso a uma gama de informações que não poderia obter diretamente. No
entanto, a coleta de dados secundários exige uma análise profunda das fontes e do seu
conteúdo, para descobrir possíveis incoerências ou contradições evitando reproduzir erros.
Foi definido com estratégia de coleta dos dados o estudo observacional, indireto e não
participante, em análise fílmica (COOPER; SCHINDLER, 2003). Adotou-se um protocolo de
observação destinado à orientação dos pesquisadores ao fazerem a coleta que de acordo com
Yin (2010), trata de uma tática importante para aumentar a confiabilidade do estudo.
A análise dos dados se deu por meio da técnica de análise de conteúdo, utilizando o
relato da história e do tema exposto no filme. Ainda, a análise do filme procedeu pelo olhar
externo, buscando compreender o sentido da obra através do uso de ferramentas analíticas que
expõe o processo decisório, oriundo da área de conhecimento das ciências sociais aplicadas
em administração.
As categorias utilizadas para análise foram: as etapas do processo decisório descritas
em Uris (1989) (análise e identificação da situação e do problema, desenvolvimento de
alternativas, comparação entre alternativas, classificação dos riscos de cada alternativa,
escolha da melhor alternativa e execução e avaliação); e erros que podem causar o insucesso
no processo decisório descritos em Russo; Schoemaker; Russo (1989) (precipitar-se, falta de
controle estrutural, excesso de confiança em seu julgamento, fracasso em grupo, deixar de
conferir o processo de decisão, colher poucos dados, não aprender com a realimentação e/ou
experiência).

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Os conhecimentos aplicados são de uma área distinta ao cinema no intuito de


compreender o tema do filme, construindo uma interpretação relacionada ao seu conteúdo.
Quanto aos procedimentos de análise fílmica, optou-se pelos citacionais que por meio de
quadros, partes do filme e citações, busca realizar uma análise minuciosa do conteúdo do
filme.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Apresentados a revisão teórica e a metodologia deste trabalho, esta seção está


destinada a análise dos resultados obtidos por intermédio da análise fílmica da obra “Treze
dias que abalaram o mundo”. Em decorrência disto, primeiramente é apresentada no Quadro
01 uma ficha técnica que contém maiores informações relativas ao filme, assim como um
sumário dos eventos ocorridos ao longo da obra.

Quadro 01 - Ficha técnica do filme Treze dias que abalaram o mundo


Ficha técnica:

Treze dias que abalaram o mundo


(Thirteen Days), 145’, 2000, EUA.
Tagline: You'll never believe how close we came
Direção de Roger Donaldson
Roteiro de David Self
Elenco:
Bruce Greenwood (John F. Kennedy),
Kevin Costner (Kenny O’Donnell),
Steven Culp (Robert F. Kennedy),
Michael Fairman (Adlai Stevenson).
Sumário da obra:

O filme corresponde a uma dramatização dos esforços despendidos pelo governo de John Fitzgerald
Kennedy durante a Crise dos Mísseis em outubro de 1962. Referida crise teve início quando um
avião de reconhecimento norte-americano tirou fotos de uma instalação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS) para a montagem de mísseis de médio alcance localizada em Cuba.
Com acesso a estas informações o governo americano selecionou uma equipe de militares e
membros da administração para compor um grupo que analisaria a situação e identificaria as
alternativas que poderiam ser empregadas. Após inúmeras discussões o grupo desenvolveu três
estratégias militares – preferidas pela maioria do grupo a princípio – e uma que envolvia apenas
pressão política.
Com mencionadas opções a seu dispor, Kenedy decidiu adotar o curso de ação pacífico por
intermédio de uma quarentena naval à Cuba, por meio da qual se revistariam as embarcações com
destino ao país em busca de armas, barrando passagem àquelas que as portassem.
Concomitantemente ao emprego deste bloqueio, seria realizada uma pressão política
internacionalmente para que a URSS fizesse a retirada de seus mísseis em solo cubano.
A opção pacifica foi escolhida devido as consequências que poderiam ser provocadas pelas demais
opções, que poderia ser uma III Guerra Mundial e um conflito com armamento nuclear que poderia
Continua...
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prejudicar severamente a vida no planeta Terra.
Apesar de percalços resultantes da insubordinação de alguns membros de seu gabinete, falha na
comunicação entre às nações e manobras que beiravam atos de guerra ou golpes de Estado, EUA e
URRS finalmente chegaram a um compromisso treze dias após o início do conflito. Isto ocorreu por
meio de um acordo segundo o qual em troca da retirada dos mísseis soviéticos da nação cubana os
EUA se comprometiam a nunca invadir Cuba ou auxiliar qualquer país com referida intenção e
retirar seus mísseis localizados na Turquia em um prazo de seis meses.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017)

Então, com maiores informações acerca do filme selecionado e ponderando os


conceitos de processos decisórios e análise fílmica abordados na revisão teórica, é realizado
por intermédio de Quadro 02 uma comparação entre as etapas do processo decisório propostas
por Uris (1989) e sua aplicação percebida no filme “Treze dias que abalaram o mundo”.

Quadro 02 - As etapas do processo decisório no filme Treze dias que abalaram o mundo.

Etapas do Processo Decisório Filme: 13 dias que abalaram o mundo


Análise e identificação da Em 14 de outubro de 1962 um avião norte-americano que sobrevoava
situação e do problema: Cuba tirou fotos que indicavam a construção de uma base na qual
identificar a situação e o estavam sendo preparados 40 mísseis de médio alcance. Esses
ambiente onde o problema está mísseis seriam capazes de atacar grande parte do Sul e o Leste dos
inserido por meio do EUA, podendo matar até 80 milhões de americanos.
levantamento de informações
seguras, para chegar a uma
decisão precisa.
Tomando conhecimento da situação, o presidente John F. Kennedy,
seu assistente e seu irmão formam um grupo no intuito de discutir os
Desenvolvimento de possíveis cursos de ação. A partir das discussões, este grupo
alternativas: com base nos apresenta três alternativas para consideração do presidente:
dados coletados e através da 1ª opção: realização de um ataque aéreo cirúrgico nos mísseis;
experiência dos profissionais 2ª opção: um ataque aéreo em maior escala, contra os mísseis e
que irão realizar a análise, contra as defesas aéreas de Cuba;
identificar possíveis 3ª opção: um ataque aéreo contra os mísseis, seguindo por uma
alternativas para a resolução invasão em um prazo de oito dias.
do problema. Contudo, devido as consequências que seriam resultantes da adoção
de qualquer uma dessas opções, o presidente, seu assistente e o
procurador geral levantaram uma 4ª opção: pressão política.
1ª opção: menor necessidade de recursos humanos e armamentos,
maior rapidez para ser colocada em prática, mas com maiores riscos
no que compete a instalação de novos mísseis.
Comparação entre 2ª opção: tida como uma opção de maior confiança por parte dos
alternativas: relacionar as militares, porém era considerada uma solução de curto prazo, visto
vantagens e desvantagem de que o secretaria geral do partido comunista da URSS poderia mandar
cada alternativa, assim como novos mísseis em um futuro próximo. Requereria uma quantidade
os custos e benefícios maior de armamento e pessoal e não resolveria o problema
envolvidos. permanentemente.
3ª opção: solução para os problemas encontrados na segunda opção,
seria seguir o ataque aéreo com o plano detalhado de invasão a Cuba,
elaborado pelo pentágono. Com esse plano, removeriam todos os
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mísseis e ao mesmo tempo, por meio da invasão, seriam capazes de
remover Fidel Castro do poder, evitando instalações soviéticas
semelhantes em Cuba no futuro.
Além disso, desvantagem referente às três primeiras alternativas é
que em caso de ataque militar, era extremamente provável que a
URSS retaliasse, talvez atacando Berlim, o que demandaria uma
resposta dos EUA que poderia resultar em uma terceira guerra
mundial e no uso de armas nucleares.
4ª opção: esta não envolveria ataque aéreo aos mísseis, apenas
realizada uma pressão política sobre Cuba e a URSS na esperança de
que eles retirassem os mísseis por conta própria. Não oferece
proteção efetiva contra os mísseis, mas não requer pessoal extra das
forças armadas. Ademais, era percebida como lenta, com
desvantagens e uma solução covarde.
A primeira é a de mais fácil coordenação, considerando que envolve
apenas um ataque aéreo para destruir os mísseis. Em contrapartida, é
uma solução temporária visto que a URSS pode enviar novos mísseis
no futuro e retalhar o ataque, possuindo o grau mais elevado de
incerteza das três opções militares.
A segunda opção seria um pouco mais difícil de organizar, visto que
ela atacaria os mísseis e as defesas aéreas de Cuba; demandaria mais
Classificação dos riscos de pessoal e armamento. Ademais, possui um grau mediano de incerteza
cada alternativa: mensurar o no que compete às opções militares no que compete à eliminação das
grau de incerteza, imprecisão e ameaças dos mísseis.
ambiguidade de todas as A terceira opção, em adição ao proposto pela segunda, colocaria e
alternativas, assim como prática o plano CINCLANT OPLAN 316-62 o que demandaria mais
verificar o nível de recursos financeiros, humanos e equipamentos. Estimava-se também
complexidade envolvido. As um período de duração de 18 dias após a invasão por terra para que a
decisões sempre envolvem resistência fosse sobrepujada, além da morte de pelo menos mil
risco e por isso deve-se levar nortes de americanos por dia, durante os 15 primeiros dias de
em consideração o grau de invasão. Esta era a opção com menor grau de incerteza no que
risco que há em cada compete a destruição dos mísseis sob poder do governo cubano, mas
alternativa e os benefícios e em compensação levaria um período maior até sua compleição.
escolher a que envolve o A quarta opção é a opção mais arriscada de todas visto que não
menor grau de risco e que trará destruiria os mísseis deixando os EUA a sua mercê, faria o governo
os benefícios maiores. americano parecer fraco e teria boas chances de não funcionar visto
que seria dependente da boa vontade de membros do governo
soviético. Em compensação teria menos custos e se funcionasse, teria
menos casualidades.
Considerando uma perspectiva dos riscos oferecidos pelas opções
quanto a um conflito armado global entre os EUA e a URSS, as
opções com maior grau de risco, em ordem crescente são as
seguintes: 4, 1, 2 e 3.
Escolha da melhor Após maiores discussões, análise das vantagens e dos riscos, o grupo
alternativa: após analisadas as formando pelo presidente chega a um acordo que vai de encontro a
vantagens, desvantagens e quarta opção, que seria a realização de um bloqueio naval em Cuba.
riscos, o decisor deve escolher A meta que busca ser atingida por meio desta opção é evitar a entrada
a alternativa que melhor de novos armamentos em solo cubano, evitar o conflito armado e
solucione o problema. Além de pressionar a URSS a retirar os mísseis antes que se tornem
definir meta com tempo operacionais. O prazo equivalia a 13 dias, equivalentes ao período de
estimado para alcança-las, tempo necessários para que os misseis estivessem prontos para
afim que realizar avaliações lançamento.
futuras.
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O bloqueio foi aprovado por 19 votos pela Organização dos Estados
Americanos e colocado em execução em 24 de outubro de 1962.
Haviam 26 navios em curso para Cuba, e a marinha americana
possuia ordens para abordá-los, inspecionar a existência de armas a
bordo e bloquear sua passagem se esse fosse o caso. No percurso
notou-se a proximidade dos primeiros navios e a presença de um
Execução e avaliação: a
submarino, confrontando o bloqueio. Kennedy recomendou que a
alternativa escolhida deve ser
marinha dos EUA obrigasse o submarino emergir o que fez com que
implantada com segurança,
os navios desviassem do percurso. Ademais, durante a execução
dominando a situação. Os
houveram outros conflitos resultantes da insubordinação de alguns
resultados devem ser
membros do governo, que advogavam em prol dos ataques aéreos.
analisados e comparados com
O governo URSS e o governo dos EUA negociaram várias propostas
as previsões, para identificar
de acordos, sendo que após muita pressão em ambos os lados, ficou
erros e possíveis adequações.
decidido que a URSS removeria os mísseis de Cuba enquanto os
EUA prometeria nunca invadir Cuba novamente ou auxiliaria países
que tentassem faze-lo, além de retirar em segredo os mísseis
americanos sitiados na Turquia em um prazo de seis meses.
Considerando o resultado obtido, dentre as opções suscitadas pelo
grupo formado por Kennedy, a decisão tomada foi a mais assertiva.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017) baseado em Uris (1989).

Portanto, conforme o exposto por meio do Quadro 02, ficou nítida a presença das
etapas do processo decisório durante a Crise dos Mísseis de 1962 retratada no filme “Treze
dias que abalaram o mundo”. Além disso, o filme corroborou a importância da seleção de
profissionais com capacidades, percepção analítica e experiências para compor um grupo que
participa do levantamento de alternativas para a solução de um problema, neste caso com
elevada complexidade e com resultados que poderiam afetar o destino de toda a humanidade.
É perceptível que o problema encontrado não era estruturado e exigia uma decisão não
programada, para o qual não existia um processo lógico e bem estruturado para ser adotado.
Para a tomada de decisão foi preciso contar com a intuição e experiências dos profissionais
convocados para formar o grupo que levantaria as alternativas, tal grupo era composto por
políticos e membros das forças armadas dos EUA, como a marinha e a força aérea americana.
A decisão precisava ser feita sob condições de incerteza e por isso, contava com a capacidade
analítica de todos os envolvidos no processo decisório. Outrossim, no decorrer do processo
decisório houveram inúmeros conflitos e opiniões divergentes advindas das experiências
pessoais que influenciaram na tomada de decisão e na execução da estratégia adotada.
Por conseguinte, no quadro 03 podemos identificar erros que ocasionariam percalços
no processo decisório adotado no filme durante a chamada Crise dos Mísseis, os relacionando
com a concepção de Ju et al., (2007 apud Gomes e Gomes, 2014). Também são apontados os
erros que não foram cometidos ao longo do processo decisório ao longo da Crise e as razões
pelas quais foram evitados.

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Quadro 03 – Erros que podem causar o insucesso no processo decisório


Tipos de erros que causam Os erros encontrados no processo decisório do filme 13
insucesso no processo decisório dias que abalaram o mundo
Esta era uma atitude que partia dos militares envolvidos nos
diálogos, visto que os mesmos sugeriam como melhor curso
Precipitar-se: chegar a conclusões de ação o emprego de um ataque aéreo, sem que
sem analisar os aspectos importantes analisassem detalhadamente as consequências provocadas
para compreender qual decisão deve por este. Neste caso, tais consequências competiam a uma
ser tomada possível retaliação por parte da URSS, instigando uma
possível III Guerra Mundial e o emprego de armas
nucleares.
Pelo que se pode perceber, este erro não é cometido ao
longo do filme pois governo americano possuía um grande
número de informações, que manteve atualizadas ao longo
do tempo com o envio de novos aviões para o
reconhecimento da situação em Cuba. Além disto, no que
Falta de controle estrutural: não
compete às causas do problema (mísseis soviéticos em
definir o problema de forma
Cuba) o governo Kennedy tinha conhecimento da
consistente, por não conseguir
importância estratégica para a URSS em possuir referido
diferenciar as causas, do problema
armamento com alcance de ataque no hemisfério ocidental
propriamente dito.
em plena Guerra Fria. Outras causas mencionadas
correspondem à instalação de mísseis americanos na
Turquia em junho de 1961 e uma tentativa mal sucedida de
invadir o sul de Cuba em abril de 1961 conhecida como a
invasão da Baía dos Porcos.
Após ter sido decretado o bloqueio naval à Cuba, John F.
Kennedy decretou que os navios de guerra americanos não
possuíam permissão para disparar nenhum tipo de arma
contra os navios que estavam se aproximando sem sua
expressa permissão. Contudo, em 26 de outubro um navio
chamado Grozny que havia sumido dos radares já havia
furado a linha de quarentena, suscitando por parte do
almirante da marinha a emissão de uma ordem para que o
capitão do navio no bloqueio disparasse sinalizadores sobre
o navio inimigo. Esta ordem contradizia a ordem do
presidente de não disparar nada sem seu prévio
Excesso de confiança em seu
consentimento, pois tais disparos poderiam ser interpretados
julgamento: sentir-se muito seguro
como atos de guerra, incitando um conflito.
com relação as hipóteses e deixar de
Outra circunstância em que o erro de excesso de confiança
buscar informações importantes.
ocorreu durante os treze dias foi quando o presidente e o
procurador geral que era seu irmão, decidiram por conta
própria vazar para a imprensa a possibilidade de negociar
com a URSS, retirando os mísseis americanos da Turquia
em troca da retirada dos mísseis soviéticos de Cuba. Isso
gerou manifestações públicas e foi contra a opinião dos
especialistas que já haviam descartado esta hipótese
anteriormente por ser considerada um sinal de fraqueza,
demonstrando que os EUA estavam dispostos a abandonar
um de seus aliados – Turquia – em prol de sua própria
segurança.
Fracasso em grupo: não gerenciar o Este erro também não foi cometido por que apesar de o
processo de tomada de decisão presidente haver comissionado um grupo formado por
acreditando que as escolhas serão especialistas para analisarem a situação em Cuba, o mesmo
Continua...
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corretas por conta dos profissionais não cedeu à pressão exercida pelos generais no que compete
envolvidos ao início de uma guerra. Assim, o comandante americano
considerou as opiniões de seus colegas, mas as checou em
comparação com os possíveis efeitos de modo a concluir
com base nas informações que tinha disponível a melhor
decisão, sem confiar cegamente no julgamento de seus
camaradas.
Este erro também não foi cometido visto que todos os
Deixar de conferir o processo de membros do governo envolvidos com a Crise dos Mísseis
decisão: não elaborar uma realizaram inúmeras reuniões de modo a discutir
abordagem organizada para detalhadamente as alternativas que tinham disponíveis, seus
compreender a decisão custos, benefícios e consequências para organizar e
compreender a melhor decisão.
Outro erro que não foi cometido durante o período de treze
dias foi o de colher poucos dados uma vez que realizaram a
checagem das informações com outras fontes, estruturando
Colher poucos dados: não buscar
as decisões considerando as consequências e benefícios
todos os dados recomendados para
relativos a estas. Devido a falta de confiabilidade nas
analisar os problemas e fazer análises
informações providas por alguns membros do alto escalão
incorretas, gerando falsas
que pretendiam adotar outras medidas, estas foram
informações.
checadas com outras fontes, além de serem buscadas todas
as informações disponíveis da maneira mais atualizada
possível.
Neste caso, o erro não foi cometido em razão do extenso
número de reuniões, da consideração de opiniões alheias –
Não aprender com a realimentação
principalmente em situações onde haviam ocorrido
e/ou experiência: é preciso saber
contratempos – de modo a ordenar as decisões futuras de
ouvir a equipe e analisar as opiniões,
forma a alcançar os melhores resultados possíveis. Um
realizar melhorias no processo tendo
exemplo é a escolha de Adlai Stevensn para convencer os
como meta a decisão correta.
demais países da verdadeira existência dos mísseis de modo
a conseguir suporte internacional.
Fonte: Elaborado pelos autores (2017) baseado em Russo, Schoemaker; Russo (1989).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atendendo ao pressuposto deste estudo, ao propor uma maneira de assimilar a teoria


com uma linguagem metafórica, a análise fílmica condiciona além de uma análise – entre
conceito e prática - a discussão a respeito da temática proposta. Assim, foi possível alcançar o
objetivo proposto por meio da realização deste trabalho.
Considerando o âmbito gerencial, o ato de decidir envolve não apenas o fato de
escolher alternativa mais fácil ou àquela que, aos olhos, pareça a mais adequada, mas, sim
uma análise detalhada e que também possa contar com instrumentos que facilitem o processo
de tomada de decisão. O filme, ao abordar uma análise minuciosa acerca da decisão a ser
tomada, devido a magnitude de suas consequências, demonstrou que diferentemente de uma
decisão informal, houve a necessidade de participação de diversos indivíduos e também o
estudo das possíveis situações decorrentes de sua escolha.

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Ao se deparar com decisões de maior amplitude e de grande complexidade é comum


que gestores e, no caso do filme, o presidente, necessitem o envolvimento de pessoas aptas a
analisar estas incertezas e riscos. O desenrolar da discussão que perdurou durante o período de
treze dias demonstra a lógica da procura pela melhor solução. Neste sentido, a solução é
decorrente da existência de um problema a ser resolvido e que necessita de uma análise acerca
de suas variadas escolhas para que se tome a decisão mais adequada às circunstâncias
existentes. A partir disso, executa-se aquilo que foi investigado originando uma nova situação
que, em circunstâncias distintas, representa a que demonstrou ser a mais apropriada.
A partir das etapas do processo decisório foi possível identificar o atendimento de
todas estas no decorrer do filme. Marcado pela Crise dos Mísseis de 1962, a situação
problema se caracterizava como de grande magnitude e dependendo da decisão tomada
alcançaria proporções avassaladoras. A partir disso, a discussão dos possíveis cursos de ação
levou em consideração os dados coletados com registro do local onde estavam instalados os
mísseis e demais informações das quais os militares tinham domínio. Ademais, através da
experiência dos indivíduos que compunham o grupo decisor e das informações obtidas
comparou-se as alternativas e o risco de cada uma delas, sendo que a decisão realizada se
apresentou como a mais propícia ao contexto dos países, resultando no bloqueio naval em
Cuba.
Outra característica relevante percebida por meio da análise fílmica efetuada neste
trabalho foi a presença de alguns dos erros comuns em processo decisório em um dos
momentos mais importantes no que compete à história dos conflitos mundiais. Assim como
em situações corriqueiras nas organizações, a ocorrências destes erros – como excesso de
confiança, por exemplo – acabaram tendo efeitos negativos e complicadores em uma situação
que já era bastante complexa por conta própria. Assim, fica evidente a necessidade de um
processo decisório adequado e com o menor número de erros possível para que os problemas
identificados pelas organizações possam ser solucionados e as oportunidades aproveitadas.
Assim sendo, a partir dos resultados obtidos por intermédio deste trabalho, foi possível
identificar a correlação existente entre a temática em estudo, processo decisório, e o filme “13
dias que abalaram o mundo”. A elucidação acerca desta conexão condicionou a percepção de
fatores analíticos que contribuem a um processo decisório mais eficiente e eficaz. Além disso,
através de uma análise minuciosa e da verificação dos dados e informações gerou-se o
conhecimento a respeito da decisão que atendesse aos pressupostos de não promover a
terceira guerra mundial. Isso posto, o estudo por intermédio da análise fílmica é uma

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importante ferramenta observacional que permite a codificação de linguagens metafóricas,


sendo um campo propício ao desenvolvimento de novos conhecimentos.

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Recebido em: 20 de ago. 2018


Aceito em: 19 de nov. 2018
DOI: http://doi.org/10.28950/1981-223x_revistafocoadm/2019.v12i1.632

Como citar:
MAIA, Fabrício Simplício et al.. Processo decisório: análise fílmica com base no filme Treze dias que
abalaram o mundo. Revista FOCO, v. 12, n. 1, p. 45-62, nov./fev. 2019. Disponível em: <
http://revistafocoadm.org/index.php/foco/article/view/632>.

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