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Introdução
Desenvolvimento
grandes consequências. A dominação legal, portanto, seria aquela sancionada com base em
qualquer estatuto segundo a forma. O dominante é eleito e ocupa cargos mais altos. O
dominado obedece ao dominante de acordo com as regras, regulamentos e estatutos. É
extremamente importante a existência de um quadro administrativo para a submissão dos
dominados.
Na dominação legal, o melhor exemplo é o Estado, com a sua burocracia em seu
estado puro. Também é encontrado em uma empresa capitalista privada ou organização que
funcione com um quadro administrativo hierarquicamente organizado. O sistema opera com a
participação em associações mais amplas. As competências são fundamentadas em regras
estatuídas e obedecidas, o direito de dominação deve ser coincidente com o tipo de
administração. A dominação racional caracteriza o Estado e a sociedade moderna com suas
inúmeras instituições, e sua forma é a burocracia. Existe um direito formal que regulamenta
todas as ações nesse tipo de relação.
A segunda dominação, a tradicional, se trata de uma sólida formação de uma
crença numa santidade que se estabelece pela via da tradição, justificado e legitimado pelos
costumes. A autoridade por isso não depende da escolha dos dominados, que é mais
conhecido como súdito, que obedece as ordens emanadas do seu senhor, fixadas pela tradição.
É impossível criar uma nova ordem ou modificar os conteúdos fixados pela tradição. Se o
senhor viola as regras pré-estabelecidas pela tradição e pelos costumes, ele põe em risco sua
legitimidade e seu poder perante os súditos.
Essa dominação tem igualmente um quadro administrativo, formado pelos
dependentes pessoais do senhor, os familiares, os parentes, os funcionários domésticos, os
amigos particulares, as pessoas tidas com alta estima e os indivíduos que são conhecidos pela
fidelidade. O que rege essa relação é a fidelidade de todos eles ao senhor, radicada num
extremo da educação e do hábito.
Do mesmo modo é chamada a dominação patriarcal, ou ainda uma administração
heterocéfala ou heterônoma, em que não existe o direito próprio do administrador, seleção
profissional ou honra estamental, tudo sendo aplicado em nome do senhor e por sua conta. A
verdade é que, segundo Weber, todos os despotismos tiveram esse caráter de dominação,
porque é tratado como direito concorrente do senhor.
Existe ainda outro tipo de dominação tradicional que recebe o nome de estrutura
estamental, na qual os servidores são aqueles que possuem posição social ou recebem um
cargo próprio em virtude de um negócio jurídico. A administração adquire caráter autocéfalo
ou autônomo. Ela exerce as funções por conta própria e não por conta de um senhor. Prioriza
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a competição por títulos de cargos por conta da situação política e econômica, não por mérito,
como acontece na burocracia. Na estrutura estamental, o critério financeiro e de posição social
substitui a competência e a aptidão.
Nela, simplesmente falta disciplina. As relações são regulamentadas pela tradição,
o privilégio, fidelidades feudais ou patrimoniais, a honra estamental ou pela boa vontade. Está
longe dos regulamentos, direitos e disciplina jurídica da dominação racional.
O terceiro e último tipo de dominação é o carismático, baseada em uma devoção e
afeto nos dotes sobrenaturais de uma pessoa. Os dotes sobrenaturais podem ser dons mágicos,
atitudes heroicas, intelectualidade e boa oratória, pertencentes a profeta, príncipes guerreiros,
políticos demagogos e carismáticos. Vale o sempre novo, o inaudito e o arrebatamento. Tudo
isso passa a ser a devoção pessoal ao senhor, que tem caráter autoritário e imperativo.
A relação que se estabelece é entre o dominante, conhecido como líder, marcado
por qualidades excepcionais, e o dominado, conhecido como apóstolo. A relação se funda nas
qualidades excepcionais do líder, que estabelece uma obediência entre ele e os dominados,
sem se relacionar a estatutos, normas nem com as tradições. A obediência acontece enquanto
se se acreditar em seu carisma, que se diminuir ou acabar põe fim também à relação.
Segundo Weber (1999), a composição do quadro administrativo é feita com base
nas características carismáticas e vocações pessoais. não se fala em qualificação pessoal, ou
sua posição social e dependência pessoal no quadro doméstico. Não se fixa um conceito de
competência, porque só se leva em conta o carisma da pessoa. Nesse sentido, o caráter de
escolha é irracional. Numa tomada de decisão, o senhor forma e enuncia sua sentença e a
comunidade é obrigada a aceitá-la. A sentença tem caráter obrigatório. Tem-se, portanto, que
a confiança que a comunidade deposita em seu senhor é crucial para o funcionamento da
administração das coisas. O cumprimento de qualquer ordem ou ação depende disto. Por outro
lado, nada há que assegure a perpetuação da devoção afetiva do apóstolo para com o líder,
devido à instabilidade da confiança.
Barreto (2014) estabelece como regra o que Weber pensava em termos de vontade
e intencionalidade para que haja dominação. A crença na legitimidade da ordem recebida tem
base nas origens das regras racionalmente instituídas, seja por pacto, seja por concessão. As
três formas de dominação são típicas e ideais. A estrutura de dominação e seu
desenvolvimento que dão forma ao agir comum, reportando-o para um fim e para um
objetivo.
Das três dominações, a burocrática, da dominação legal e racional, é a que
progride e se perpetua com sucesso. Ela sempre foi superior pelos seus quesitos puramente
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técnicos, com funções administrativas especializadas. Ela tem precisão, velocidade, certeza,
conhecimento de arquivos, continuidade, direção, subordinação escrita, redução de
desacordos e de custos materiais e de pessoal. Atingem um grande nível na administração
burocrática, diferente das outras duas formas de dominação.
Tem ainda o caráter de desumanizar a burocracia, fornecendo a possibilidade de
calcular os resultados, em base técnica e econômica, eliminando aspectos pessoais, irracionais
e emocionais do funcionário. Isso foge das perspectivas anteriores da dependência patrimonial
e das dependências carismáticas do apóstolo e do senhor. a dominação burocrática, portanto, é
o tipo mais puro. Segundo ela, qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um
estatuto corretamente sancionado segundo a forma.
Em relação à carismática, Gomes Filho (2014) insiste em afirmar que não se tem
uma interpretação clara sobre o que significa carisma. Por mais que lideranças pessoais ou
institucionais ajam sob esse efeito, pesquisadores sentem dificuldades na hora de definir o que
quer dizer carisma. A palavra gera diversas interpretações. A natureza desse evento, a
substância que o proporciona, o elemento que torna um ser humano diferenciado de outros
continuam obscuros, mesmo diante de algumas teorias apresentadas.
Na história, entretanto, sempre estudiosos e filósofos apontam pessoas que de
alguma maneira revolucionaram os acontecimentos, gerando novos rumos para a história, o
caráter diferenciado de homens que guiados pela paixão, eram chamados de líderes especiais
ou carismáticos.
Weber, em vez de procurar o sentido da palavra em sua substância ou conceito,
preferiu analisá-las em termos de seus efeitos e dominação. Partiu de um ponto de vista mais
sociológico e histórico do que filosófico. Buscou analisar a relação entre dominador e
dominado. O que existe é uma relação de dominação, ou na forma de relacionamento. A
existência do carisma se realizava a partir do reconhecimento de um seguidor e da
comunidade existente em seu redor. Trata-se de um enviado do qual os seguidores
reconhecem uma missão. Enquanto reconhecerem isso, ele é seu senhor, mediante provas.
O carisma, portanto, deve ser despertado na relação entre seguidores e um líder no
qual reconhecem, sem qualquer eleição, características inauditas. Significa que esse líder
possui um dom, presente em determinadas pessoas por motivos ocultos, que, segundo Weber,
é posto à prova através do reconhecimento por parte de uma comunidade a que deve pertence
exatamente por causa desses dons especiais.
A legitimidade do líder carismático, dominante ou dominador na relação de poder,
seja ele profeta, mago, herói revolucionário, inventor, realizador na área computacional,
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deriva não da tradição de cargos ou da autoridade pré-estabelecida da posição social que ele
ocupa. Ele é um portador de dons carismáticos que ainda não se rotinizaram em forma de
instituição ou por parte do cotidiano. Ele é sempre o novo, o futuro, o oculto, que tem por
fama descobrir o que ainda a humanidade precisa saber. Por outro lado, precisa a todo
momento provar sua missão como algo extraordinário, transcendente ou divino.
Steve Jobs é um desses líderes, logo a dominação que exercia na comunidade à
qual pertencia era a da dominação carismática, segundo a divisão dos tipos weberianos. Dele
se esperava sempre uma invenção, uma descoberta, uma ação sobre a qual se depositava a
área do futuro, a de programa de computadores e a digital. Ele se notabilizou por revolucionar
as indústrias de computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e
publicações digitais. Ele morreu em outubro de 2011 aos 56 anos de idade. A morte prematura
apenas relevou esse dom carismático que exercia.
A administração da qual decorria seus negócios era a de grandes descobertas
contínuas e inovação, de que a comunidade a qual pertencia recorria como o grande líder, sem
a determinação da certeza burocrática (da qual era o inverso, em virtude do espanto e ações
surpreendentes) ou das posições sociais ou estamentais. Numa propaganda da Apple, empresa
que fundou e dirigia, dizia que as pessoas que são loucas o suficiente por achar que podem
mudar o mundo são aquelas que o mudam. Essa expressão tem um significado de profeta,
próprio da dominação carismática. Em sua biografia, são comuns termos e expressões como
“o escolhido”, Prometeu desacorrentado e outras frases de efeito que ajudam a fortalecer o
mito (ISAACSON, 2011).
Conclusão
REFERÊNCIAS