Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Nosso objeto de estudo será verificar até que ponto, a Instituição consegue conciliar
esses objetivos aparentemente antípodas nos marcos do capitalismo, a saber:
1. a conciliação de uma escola unitária politécnica com a inserção do educando no mundo
produtivo, o que quase sempre, senão sempre, implica na adaptação à sociedade de classes e
na reprodução da mesma;
2. a contribuição da educação politécnica para a transformação da estrutura econômica e
ideológica da sociedade de classes.
Ao propor uma educação pública, gratuita, obrigatória e única para todos os jovens
educandos, de forma a romper com o quase monopólio por parte da burguesia da cultura e do
conhecimento, o PPP do IFRN/Mossoró acredita na possibilidade dessa educação como
instrumento de mudança social. No âmbito dessa proposição, a questão que precisa ser
respondida é esta: até que ponto, e em que circunstância, isso é possível nos marcos do
capitalismo?
A politecnia, ao propor a combinação da educação com o trabalho, com o propósito de
superar o hiato historicamente existente entre trabalho manual (execução, técnica) e trabalho
intelectual (concepção, ciência), busca a superação das condições reais que forjam tal
sociedade e que ancoram tal modelo educativo.
5
JUSTIFICATIVA
O Projeto Político Pedagógico do IFRN propõe a formação omnilateral (multilateral,
integral) do educando, de forma a tornar o ser humano capaz de produzir e fruir o
conhecimento, a ciência, a produção da riqueza social (isto é, dos bens e serviços necessários
à vida em sociedade) da arte e da técnica. Ao propor uma integração recíproca da escola à
sociedade, com o propósito de superar a alienação e a separação entre as práticas educativas e
o mundo do trabalho, o PPP do IFRN visa à construção de uma sociedade menos injusta na
qual a educação possa ser um instrumento de transformação social (mesmo que nos marcos do
capitalismo – e a história já mostrou - tal transformação seja sempre modesta).
A nomenclatura utilizada pelo documento é claramente de defesa de uma escola e uma
educação politécnica que conjuga mundo acadêmico e mundo do trabalho na perspectiva de
“uma formação humana integral” que permita ao educando ser um agente de mudança social,
em contraposição a função tradicional da escola que é a de adaptação social, com vistas à
conservação do status quo, do establishment. Resta saber, através de estudos qualitativos e
empíricos, até que ponto, e em quais circunstâncias, o mundo do trabalho propicia (retarde ou
mesmo impeça) a possibilidade de tal formação educativa.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Em nossa fundamentação teórica, procuraremos trabalhar com autores brasileiros e
estrangeiros que utilizam o materialismo histórico e dialético, sobretudo em suas versões
brasileiras da pedagogia histórica-crítica dos conteúdos e da pedagogia libertadora.
Utilizaremos esse aporte teórico em nossos estudos e pesquisas acerca da realidade política,
econômica e social, sobretudo aqueles que estudam a relação e a interação da educação com o
mundo do trabalho. Dentre estes autores, destacamos alguns como indispensáveis, a saber:
Antunes (2011); Ciavatta (2005); Frigoto (1999, 2006, 2015); Marx (2014); Meszáros (2005);
Moura (2015); Savianni (2008), dentre outros.
A escolha dos autores supracitados mostra claramente nossa opção por uma concepção
de mundo (Weltchauung) na qual o homem é um sujeito político e social que interage com a
natureza e com outros sujeitos na produção de sua vida material e espiritual. Ao
estabelecerem estas relações entre si e com a natureza, através do trabalho, ao longo da
história, criam divisões de classe. Isso claramente se reflete nas ideias políticas, jurídicas e
religiosas que os homens produzem para explicarem e justificarem a divisão e a opressão de
classes que preside a vida econômica da qual fazem parte e na qual estão inseridos. No
6
capitalismo, esta relação se apresenta sob a forma de uma relação social específica, o capital,
na qual alguns poucos são detentores dos meios de produção e a grande maioria dispõe apenas
de sua força de trabalho, seja física ou intelectual.
Uma escola que integre a formação humanística e propedêutica à formação técnica e
profissional, (dita também de integrada, unitária, politécnica, omnilateral) tem que partir da
definição clara dos conceitos e das categorias de trabalho e educação, entendidas em suas
múltiplas relações.
Em Marx, o trabalho é primeiramente o que diferencia o homem dos outros animais; é
a transformação do mundo natural em mundo social e humano. É através do trabalho, da
interação dos homens entre si e com a natureza, que ocorre a humanização do homem
enquanto ser genérico (ontológico). É que, ao transformar a natureza, o homem também se
transforma.
Assim, é nosso interesse formular propostas e medidas que, a partir dos resultados
obtidos nessa pesquisa, apontem para uma nova situação que articule melhor a formação geral
à educação profissional, no âmbito de um currículo politécnico, voltado para a modalidade da
Educação de Jovens e Adultos.
METODOLOGIA
Em nossa metodologia julgamos oportuno e necessário realizarmos uma pesquisa por
amostragem, com perguntas fechadas e abertas, depois da qual realizaremos uma triangulação
de dados entre o que está proposto no Projeto Pedagógico do Curso do curso de
Edificações/EJA no IFRN/Mossoró, o que os docentes e discentes dizem sobre o curso em
suas experiências profissionais e de vida. Essa triangulação das respostas obtidas nos dará
uma visão do que acontece no âmbito do curso de Edificações/EJA no IFRN/Mossoró, além
de abrir possibilidades para futuras pesquisas que aclarem melhor essa problemática.
Para tanto, coletaremos os dados da pesquisa através de entrevistas devidamente
gravadas com docentes e discentes, inserindo também, nessa pesquisa, os alunos egressos. Em
nosso trabalho, as discussões desta pesquisa estão embasadas na teoria histórico-crítica e
dialética (materialismo histórico e dialético), que reconhece na práxis toda e qualquer
possibilidade de emancipação subjetiva e objetiva do ser humano.
A incógnita a que queremos responder, através de pesquisa qualitativa e empírica, é a
de saber quais relações de fato existem (e se existem) entre o currículo do curso de
Edificações/EJA (aí incluídas as proposições curriculares do PPC do curso, as práticas do
“chão de sala de aula” de docentes e discentes) e as necessidades do mundo do trabalho, mais
especificamente da área objeto do curso, a indústria da construção civil.
CRONOGRAMA DE TRABALHO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as mertamofoses e a centralidade do
mundo do trabalho. 15ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.
BRASIL. Lei Federal No. 9.424/96, de 24 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
– FUNDEF. Brasília, Congresso Nacional, 1996.
CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva, artigo a artigo. 17. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
MARX, KARL. O capital: crítica da economia política. Trad. Rubens Enderle. Rio de
Janeiro: Boitempo, 2014.
MÉSZÁROS, István. Educação para além do capital. Trad. Isa Tavares. São Paulo:
Boitempo, 2005.
SAVIANI, Dermeval. O choque teórico da Politecnia. Trab. educ. saúde [online]. 2003,
vol.1, n.1, pp.131-152.