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História A 10ºAno

Fernando Alves

1. A Geografia cultural europeia de Quatrocentos e Quinhentos.


1.1. Principais centros culturais de produção e difusão de sínteses e inovações.
1.1.1. As Condições da expansão cultural
Europa recupera das fomes, das pestes e das guerras, arrancando a Época Moderna,
assistindo-se um notável dinamismo civilizacional do Ocidente.
São os povos Ibéricos que “abrem o mundo” com a descoberta das Rotas do Cabo e das
Américas. Encontram-se então novas civilizações.
Entretanto:
* População aumenta;
* Cidades reanimam;
* Elites burguesas e aristocráticas faziam fortunas;
* Príncipes e monarcas recuperam rédea do poder, exercendo-o com desdém, sem
olharem a meios.
Os inventos sucediam-se:
» Navegação transoceânica suscitava a revolução das técnicas náuticas e os progressos da
cartografia;
» Uso da pólvora e de armas de fogo ditava supremacia dos Europeus;
» Imprensa difunde-se pela Europa e pelo Mundo; torna-se veículo de expansão cultural, de
intercâmbio de ideias e de difusão de notícias;
Os séculos XV e XVI foram um tempo de façanhas mecânicas, em que o génio inventivo dos
engenheiros se manifestou.

 O Renascimento eclosão e difusão


É no contexto anterior que o Renascimento eclode e se expande: das letras às artes e às
ciências esteve-se perante uma renovação cultural.
Descobriu-se o Homem como criatura boa, livre e responsável, feita de todas as coisas: ele
foi o protagonista do movimento humanista.
A Antiguidade Clássica foi mestra na arte; os seus temas e estilos, os seus padrões, até o
nu, foram retomados pelos artistas, que os souberam fundir com tradições locais.
A intervenção cultural do Homem renascentista refletiu-se na investigação científica.
Neste campo os clássicos já não influenciam tantos os humanistas; as suas verdades foram
revistas, e o seu espírito crítico e racional orientou os Renascentistas na pesquiza e na
descoberta da Natureza e do Universo.

 A Itália
Em Itália – herdeira direta de Roma e vizinha de Bizâncio, onde as tradições helénicas se
conservaram – localizou-se o berço do Renascimento. Assumiu-se como “farol” da nova
cultura renascida. Albergou estudiosos da língua grega e da filosofia platónica; autores cujas
obras se baseavam na perspetiva com harmonia, na simetria e na beleza…
Roma foi o terceiro dos grandes centros culturais da Itália renascentista, onde a contratação
de prestigiados artistas permitiu a monumentalidade da capital da Cristandade.
Veneza usufruía de uma notável prosperidade económica e política e distinguiu-se pela escola
de pintura, e pelas cerca de 150 oficinas tipográficas.

 O resto da Europa
Desde finais do século XV, toda a Europa fervilhava culturalmente, deixando-se contagiar
por Itália. Tal como na Península Itálica, na restante Europa do Renascimento os centros
culturais deveram a sua vitalidade ao dinamismo das cortes regias e principescas, dos círculos
aristocráticos e burgueses, das oficinas de imprensa, dos colégios e universidades renovadas.
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Países Baixos: (duques de Borgonha) pintura atingiu um elevado grau de aperfeiçoamento
técnico. Erasmo de Roterdão foi um notável filósofo e moralista holandês.
França: (Francisco I) impulsionou os estudos humanistas e favoreceu a aplicação de uma
decoração classicizante.
Alemanha: importante polo de estudos matemáticos, astronómicos e cartográficos; pintores
conjugavam nos retratos o pormenor descritivo e a perceção psicológica, de tradição nórdica,
com a técnica italiana.

Pesem embora a atração pelas novidades italianas e a paixão pelos clássicos, o Renascimento
apresenta, na Europa, diversidades regionais. O pendor mais racional e controlado do
Humanismo e da arte da Itália fundem-se, por toda a parte, com a criatividade e as tradições
locais, com as diversas intenções ideológicas, dando origem a curiosas sínteses e
reinterpretações.

O Cosmopolitismo das Cidades Hispânicas


A participação da Península ibérica na Europa do Renascimento reveste-se de características
bem específicas. Sem desdenharem a cultura clássica foi pelo afluxo das mercadorias
ultramarinas, pelos conhecimentos geográficos e pelo saber técnico forjado na experiencia dos
mares que os reinos ibéricos se projetaram.

 Lisboa
O prosseguimento metódico e sistemático das navegações portuguesas fez deslocar o
ponto mais importante da economia europeia do Mediterrâneo para o Atlântico. Lisboa
transformou-se na metrópole comercial do Mundo. O porto de Lisboa espantava pela
concentração de navios que continuamente o visitavam. Nele se cruzavam as tripulações das
armadas, soldados, missionários, mercadores e aventureiros que partiam ou chegavam das
ilhas, os funcionários, os mercadores estrangeiros, entre eles feitores dos estabelecimentos
mercantis e bancários europeus, os humildes carregadores, muitos dos quais escravos negros.
Certamente pairava no ar o cheiro da canela e da pimenta. As especiarias exerciam um
fascínio nos mercadores e curioso que visitavam Lisboa.
Mas a riqueza fabulosa de Lisboa não era apenas feita de mercadorias exóticas ou de ouro
e prata; dela faziam parte outros tesouros bastante apreciados. Referimo-nos ao infindável rol
de informações geográficas, astronómicas e cartográficas que a Casa da Índia cuidadosamente
guardava. Na altura em que o conhecimento do Mundo proporcionava poder sobre terras e
povos, os mapas portugueses, constantemente atualizados, estiveram na origem de curiosos
episódios de espionagem.
Metrópole comercial e porta aberta para o Mundo, Lisboa assumia o lugar de metrópole
política. Nela se instalara a alta administração do reino e Ultramar e permanecia, por períodos
cada vez mais longos, o rei e a sua comitiva.
Testemunho da grandeza da capital do reino foi o seu dinamismo demográfico. Lisboa
passou de uns 70 000 residentes para uns 100 000, número que se elevou a 165 000 ao
terminar o primeiro quartel de Seiscentos. Nela convergiam os contingentes de escravos, que
emprestavam exotismo às ruas; mas também os fluxos migratórios que despovoavam o
interior.
No reino nenhuma outra cidade se comparava a Lisboa. Era, no dizer do historiador Oliveira
Marques, uma “cidade monstruosa, cabeça demasiado grande para corpo tão diminuto”. E, na
Europa, era também das maiores e mais populosas urbes.

 Sevilha
Em vez de chegar à Índia, Cristóvão Colombo conduziu a Espanha à descoberta de um
continente por todos ignorado – América. Com tal proeza, Colombo não deu à Espanha as
cobiçadas especiarias mas trouxe-lhe grandes quantidades de ouro e prata.
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A articulação entre a Espanha e os territórios americanos efetuou-se pelas Antilhas. A
Sevilha coube o papel da capital económica da Espanha disputando, juntamente com Lisboa, o
domínio mundial das rotas oceânicas.
Sevilha contava com cerca de 40 000 habitantes; Havia gente em Sevilha para apetrechar
as armadas de marinheiros e soldados, e comerciantes também não faltavam.
Rica em homens, em tradições culturais e comerciais que lhe forneciam uma vivência
cosmopolita ímpar e importantes conhecimentos científico-técnicos, Sevilha oferecia
alimentos e segurança aos navios da Carreira das Índias.
A Casa da Contratação era um centro de investigação e de conhecimento náutico-
geográfico. Lá era possível ver os pilotos, que frequentavam exigentes cursos e faziam o seu
exame; também era possível encontrar notáveis cosmógrafos, matemáticos e cartógrafos.
Era no Consulado do Comércio que os grandes financiadores da política naval da Coroa
faziam ouvir a sua voz e salvaguardavam os seus interesses.

2. O Alargamento do conhecimento do mundo


O Contributo Português
Nos séculos XV e XVI, os descobrimentos marítimos proporcionavam a Portugal avultados
saberes técnicos e científicos. Foi pela inovação nas técnicas náuticas e pela representação
cartográfica da Terra, bem como pela observação e descrição da Natureza, que Portugal
contribuiu para o alargamento do conhecimento do Mundo.

 A inovação nas técnicas náuticas


Quando os Portugueses iniciaram a sua empresa expansionista, beneficiavam já de uma
herança de invenções nas técnicas de navegação. O pioneirismo português não foi fruto do
acaso: teve nas suas origens os conhecimentos divulgados por Árabes e Judeus e testados na
bacia mediterrânea. (Leme, bússola, astrolábio e quadrante)
Graças aos avanços da navegação portuguesa no Atlântico, as técnicas náuticas evoluíram.
Nas viagens de regresso da Guiné, os marinheiros defrontavam-se com os ventos alísios, que
sopravam para sudoeste, e com as correntes de norte e nordeste, que dificultavam a
navegação costeira.
A necessidade de navegar à bolina (contra ventos contrários) motivou mudanças
estruturais na construção naval. Surgiram as caravelas, as naus e o galeão.
A navegação com ventos contrários esteve ainda na origem de outra grande mudança:
Abandonou-se a navegação costeira e começou a praticar-se a chamada volta pelo largo: era
uma navegação no alto mar sem qualquer referência terrestre. A navegação por rumo e estima
revela-se insuficiente e só a observação da altura meridiana dos astros permitiria a localização
da posição do navio.
Ocorreu a revolução da navegação astronómica em que os Portugueses se distinguiram.
Simplificaram o astrolábio e o quadrante e inventaram a balestilha: com eles mediam a altura
dos astros. Todos os estudos eram anotados em tábuas de declinação solar, e posteriormente
reunidos em Guias Náuticos e Roteiros.

 A nova representação cartográfica da Terra


Se excluirmos a precisão que as cartas-portulano da bacia mediterrânea atingiram nos
séculos XIV-XV, a cartografia medieval era incipiente e simplista.
A representação cartográfica derivada da obra de Ptolomeu, que entre outras incorreções,
não admitia a comunicabilidade entre os oceanos Atlântico e Índico.
Fruto da expansão marítima dos séculos XV e XVI, a cartografia europeia registou um
aperfeiçoamento notável. * Foram revistas as conceções medievais dando-se a conhecer
muitas regiões da Terra até então ignoradas ou mal conhecidas na Europa. Simultaneamente,
contornos de mares e terras adquiriram um traçado mais rigoroso e as distâncias tornaram-se
mais próximas da realidade.
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Numa época em que a descoberta da Terra significava poder económico e prestígio
político, os cartógrafos portugueses eram os mais aptos para traduzirem o mundo conhecido.
Não só graficamente, mas também através do desenho de pequenas áreas terrestres.
Por toda a Europa a cartografia progredia, associando a ciência à arte.

 Observação e descrição da Natureza


A expansão marítima dos séculos XV e XVI proporcionou aos Portugueses uma atenta
observação da Natureza, que poria em causa muitas das conclusões dos Antigos. Aquiriu-se
uma mais correta perceção dos continentes e mares. Explicaram-se regimes de ventos e de
correntes marítimas, tal como se calcularam distâncias e latitudes. Provou-se a habitabilidade
das zonas equatoriais e a esfericidade da Terra. Em suma, substituiu-se a acanhada perspetiva
mediterrânea-continental por uma visão oceânica do Globo.
O espírito da precisão descritiva que os Portugueses revelaram amparava-se,
frequentemente, em números. O número era o suporte necessário para o cálculo de
distâncias, pesos, durações, latitudes, funduras, proporções. Eis algumas das manifestações da
mentalidade quantitativa do período renascentista.
Negando ou corrigindo os Antigos, os Portugueses ajudaram a construir um novo saber,
um saber de experiência feito, que tem o nome de experiencialismo.
Os novos conhecimentos derivados do experiencialismo resumiram-se, na maior parte dos
casos, a observações e descrições empíricas da Natureza e não resultados de experiencias
propositadamente praticadas para a verificações de hipóteses. Só neste último caso se podem
elaborar leis e princípios universalmente válidos.
Mas se o saber português dos séculos XV e XVI ainda não foi ciência na verdadeira aceção
da palavra, a verdade é que ele contribuiu, de modo irreversível, para o exercício do espírito
crítico que se encontra nas raízes do pensamento moderno. Pela Europa fora, as verdades
indiscutíveis das Antigos foram revistas, ao mesmo tempo que alastrou o sentido da
curiosidade pelo mundo terrestre, pela fisiologia do ser humano, pelo movimento dos astros,
pelo conhecimento do universo.

O Conhecimento Científico da Natureza


 A matematização do real
O verdadeiro conhecimento científico da Natureza só veria a luz do dia no século XVII,
quando os resultados da observação e da vivência experiencial puderam ser justificados pela
reflexão teórica e matemática.
O papel precursor que Leonardo da Vinci, talvez um dos mais brilhantes homens do
Renascimento europeu, teve na definição do método cientifico. Liberto da tradição e do
preconceito de veneração pela Antiguidade, Leonardo defendeu a experiencia como a grande
mestra do Homem. Contudo, reconhecia o grande pintor, só a demonstração matemática das
hipóteses suscitadas pela observação permitiria a formulação de leis científicas.
Entretanto, o Renascimento produziu um conjunto de notáveis progressos nos domínios
da Álgebra e da Geometria, que favoreceram o raciocínio matemático.

 A revolução das conceções cosmológicas


Foi a propósito das novas conceções cosmológicas que a ciência moderna se manifestou.
Ao iniciar-se o Renascimento, a visão cosmológica era a legada pelos gregos Aristóteles e
Ptolomeu e recebia toda a aprovação da Igreja. A Terra, estática ocupava o centro do Universo
(teoria geocêntrica). À sua volta moviam-se os restantes planetas e estrelas, incluindo o Sol,
descrevendo órbitas circulares uniformes.
Contra a possibilidade de a Terra se mover argumentava-se que, os objetos lançados ao ar
nunca caíram junto daquele que os lançava, mas um pouco mais atrás. Por outro lado, a Igreja
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considerava uma blasfémia dizer que a Terra se movia e não o Sol, pois tal contrariava uma
passagem na Bíblia.
O sistema geocêntrico de Ptolomeu não estava, todavia de acordo com os dados da
observação astronómica. A estes não poderiam corresponder trajetórias circulares com o
centro na Terra. E não foi ao tentar resolver essa contradição que nasceu a teoria heliocêntrica
de Copérnico, considerada a base da moderna astronomia.
Nicolau Copérnico expôs as seguintes ideias:
 O movimento circular uniforme das esferas celestes pode explicar-se melhor, se se
partir do princípio de que existe movimento da Terra, o que, aliás, alguns sábios gregos
tinham previsto.
 Com efeito, todas as esferas celestes, incluindo a Terra, giram em volta do Sol
(movimento de translação), tal como giram em volta do próprio centro (movimento de
rotação). O Sol é, pois, o centro do Universo (teoria heliocêntrica) e apenas a Lua gira
em volta da terra.
 O Sol é imóvel e o seu movimento aparente não +e mais do que a projeção na
abóbada celeste do movimento da Terra.
 A existência do movimento de rotação da Terra permite explicar a sucessão dos dias e
das noites.
As repercussões culturais das conclusões de Copérnico não foram, de imediato, sentidas.
Copérnico foi mais matemático do que astrónomo, fez mais cálculos do que observações: a
sua teoria necessitava de bases experimentais mais profundas e escrupulosas.
Tal papel coube a Tycho Brahe, que dispunha de um observatório bem apetrechado, onde
recolheu uma enorme quantidade de dados, que permitiriam a Kepler formular
matematicamente as leis do movimento dos planetas em torno do Sol:
1. Os planetas giram em torno do Sol, descrevendo órbitas elípticas e não círculos.
2. Os planetas atingem velocidade mais rápida nos pontos das órbitas que mais se aproximam
do Sol. O seu movimento não é, pois, uniforme.
3. Os planetas mais próximos do Sol giram com mais velocidade; os planetas mais afastados
giram mais lentamente.
Na verdade, foi no século XVII que os astrónomos compreenderam o alcance revolucionário da
teoria de Copérnico, que não só abalava irremediavelmente o universo geocêntrico de
Ptolomeu como também punha em causa a doutrina da Igreja. E a Galileu coube protagonizar
essa rutura.
Galileu Galilei distinguiu-se por ter formulado a lei da queda dos corpos e, especialmente,
por ter inventado o primeiro telescópio.
As descobertas de Galileu, assentes na observação dos factos, na realização de experiências
e na formulação de teorias explicativas, marcam o nascimento da ciência moderna. A Galileu
devemos uma nova teoria do conhecimento, que, separando a fé da razão, substituiu os
argumentos baseados na autoridade pelos resultados da observação e da dedução lógica.

A Distinção de Mecenato
O Renascimento conheceu uma notável renovação das letras, das artes e das ciências. Mas
assistiu igualmente, á expansão do capitalismo comercial e à afirmação dos homens de
negócios; ao reforço dos Estados territoriais; à construção do espaço planetário e
consequentemente alargamento do conhecimento do Mundo. O Homem nesta altura viveu
um ambiente de entusiasmo, pois descobriu o seu valor, o seu poder de descoberta e de
intervenção nos seus talentos.
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A ostentação das elites cortesãs e burguesas
O renascimento viu nascer uma atitude otimista de exaltação da vida, que fora desconhecida
na Idade Media. A alegria pela existência foi naturalmente mais vincada naqueles a quem a
sorte sorria: as elites sociais, onde se misturavam nobres burgueses em busca de ascensão.
Rodeadas de luxo, conforto, beleza e sabedoria, as elites mostraram-se apreciadoras dos
prazeres terrenos. Ostentavam vestes luxuosas, ricos palácios e solares, consumiam
requintadas iguarias. Mas investiam, também, na aquisição de obras de arte, no reforço das
suas bibliotecas, que orgulhosamente se exibiam. Para estas elites a cultura era um sinal de
riqueza.
Fomentaram a erudição humanista e os talentos artísticos, foram palcos de animadas festas e
tertúlias; nelas brilhavam as elites sociais.
Cortesão ideal

 Talentos físicos
 Intelectual
 Qualidades morais
 Boas maneiras
 Reconhecível pelo seu porte e pela linguagem do seu corpo

A vida quotidiana das elites cortesãs era fortemente condicionada por exigentes regras de
comportamento social. Conhecidas por civilidade, instruíam sobre o modo como se deveria
comer, vestir, cumprimentar, falar, estar e sobre os preceitos de higiene pessoal.
Na sociedade cortesã é de salientar o progressivo e importante papel cultural concedido à
mulher. Embora permanecesse ainda o ideal da mulher submissa, educada pelo pai ou marido,
há indícios de dignificação e elevação do seu estatuto, como individuo que deve ser respeitado
e estimado, mesmo fora do círculo familiar. Na corte são lhe reconhecidas capacidades de
beleza, graça e ilustração.
O estatuto de prestígio dos intelectuais e artistas; o mecenato
O renascimento admirou profundamente a força criadora do Homem, que se elevava à
perfeição divina pelas obras do pensamento. Especialmente acarinhados e reconhecidos foram
os intelectuais e os artistas. Merecem elogios sem fim e a proteção dos grandes.
Elites cortesãs, príncipes, monarcas e papas rivalizaram entre si nas honras a prodigalizar aos
intelectuais e aos artistas. Trata-se do mecenato prática que podemos fazer recuar o mundo
greco-romano e que, no contexto do renascimento, nos elucida sobre a promoção do
individualismo.
Por um lado os mecenas garantiram a sua fama e gloria, não só através das grandiosas oras
que particionavam, mas também graças a uma orientação da opinião pública,
inteligentemente praticada pelos humanistas protegidos.
Por outro, artistas e intelectuais obtinham um reconhecimento dos seus méritos e talentos,
que elevavam, também aos cumes da glória.
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Portugal: o ambiente cultural da corte régia
Em Portugal não faltaram exemplos de mecenato por parte da corte régia. D. João, D. Manuel
e D. João III não se pouparam a despesas para acolher humanistas estrangeiros, assim como
custear bolsas a estudantes portugueses na Itália, na França e em Coimbra.
Patrocinando grandes obras arquitetónicas e contratando artistas estrangeiros para a corte,
contribuíram aqueles monarcas para a elevação da arte e a gloria dos seus reinados.
O ambiente da corte régia mostrava-se na verdade, deveras proporcionador da cultura.
Provam-no ainda as festas por ocasião de casamentos reais ou de embaixadas.
O testemunho dos cronistas elucida-os das atividades desportivas dos cortesãos dos tecidos
caros exibidos; dos touros inteiros que se mandavam assar para o banquete popular.
Pelas ruas de Roma desfilavam fidalgos e as ofertas ao Sumo Pontífice: o cavalo persa, a onça
caçadora, o elefante indiano. Moedas de ouro eram entretanto, lançadas ao povo a lembrar a
riqueza e o poderio do soberano português.
Os caminhos abertos pelos humanistas
A produção cultural do Renascimento reflete a mentalidade antropocêntrica da época. Tem o
Homem no centro das suas preocupações, considerando-o um ser bom e responsável,
inclinado para o Bem e para a Perfeição.
Estes princípios estão presentes no humanismo, que é a faceta literária do renascimento. Os
seus protagonistas são reconhecidos pelo nome de humanistas e foram os intelectuais da
altura. A poesia, a história, o teatro e a filosofia constituíram os seus domínios de eleição.
O Homem é o único ser da Natureza dotado de razão, o único que se faz a si próprio, que auto
determina a sua conduta, que escolhe a sua missão.
Valorização da antiguidade clássica
Eram na sua maioria eclesiásticos e professores, os humanistas condenam fortemente os
valores e a produção cultural da Idade Media. Pelo contrário, valorizavam a Antiguidade
Clássica, em cujos textos e autores consideravam estarem contidas as verdadeiras sabedorias e
beleza.
As sementes do humanismo foram lançadas pelos italianos. Coube-lhes iniciar a renovação da
literatura, invocando a herança clássica, a exaltação da figura humana, a expressão
sentimental, a fruição da vida. A erudição humanista começou por se distinguir na procura
entusiasta de manuscritos clássicos, no aperfeiçoamento da língua latina e na aprendizagem
do grego e do hebreu. Viajantes incansáveis, os humanistas percorreram bibliotecas e
mosteiros, onde recuperam textos de grande valor poético, histórico, filosófico e até cientifico.
O latim foi a língua de comunicação entre os humanistas, estando na origem da criação de
uma autêntica república de letras. Na correspondência, que entre si trocavam, não deixavam
de expressar ideias concretas sobre o mundo, realçando sempre a dignidade do Homem.
Insurgiram-se contra as traduções e interpretações erradas que a Idade Media fizera dos
autores clássicos a própria Bíblia. Os humanistas deram provas de um espírito crítico notável,
ao analisarem os textos antigos. E, penetrando na essência do pensamento clássico e dos
textos religiosos, procurando absorver os valores antropocêntricos da Antiguidade e restaurar,
também, a pureza original e a missão espiritual da Igreja

Afirmação das línguas nacionais e consciência da modernidade


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A paixão dos humanistas pelos clássicos levou-os bem além da recuperação, tradução e
divulgação dos seus escritos. Levou-os também a criar obras onde imitavam os autores greco-
latinos. Os humanistas tinham consciência da inovação civilizacional que a sua época lhes
proporcionava. Esta consciência de modernidade permitiu-lhes rivalizar com os clássicos e, até,
ultrapassa-los. Os humanistas sabiam que, mais útil do que a cópia formal, seria a observação
do espírito critico, criativo, antropocêntrico, de gregos e latinos.
A cultura antiga seria um instrumento educativo e formativo da personalidade humana, um
meio de o indivíduo desenvolver as suas capacidades intelectuais e morais, se conhecer a si
próprio e ao mundo que o rodeia.
Concluindo, mostrar a dignidade e a liberdade da condição humana pelo uso da razão. Assim
os humanistas faziam triunfar o ideal antropocentrismo.
Racionalidade, espírito crítico, individualismo e utopia
Os humanistas demonstraram as possibilidades da razão humana ao exercerem o seu espírito
crítico. Fizeram-no denunciando os problemas do mundo que os rodeia e concebendo utopias.
Erasmo de Roterdão procurou recuperar os valores de humildade, da caridade e da
fraternidade do cristianismo primitivo. Foi pelos seus ideais de conduta, um ponto de
referência para todos aqueles que buscavam a autenticidade, a honestidade e a pureza
evangélica.
É usual dizer-se que o renascimento descobriu o homem, libertando-o dos constrangimentos
do passado, fossem ele familiares, corporativos, religiosos ou da sociedade em geral e que os
colocou no centro do mundo. Não existindo este corte entre a idade média e o renascimento
que alguns historiadores defenderam, é verdade que entre uma época e outra assiste-se a um
enfraquecimento dos vínculos sociais: indivíduos que não pertenciam aos grupos dirigentes
conseguiram afirmar-se, segundo carreiras fora dos quadros tradicionais. Foi a tomada de
consciência do seu valor que produziu os aspetos que tradicionalmente se associam ao homem
renascentista: um homem universal – hábil nas letras e na ciência, cortesão e soldado –
egoísta, com ambição de fama e de nome imortal.
Frequentemente, a crítica social conduziu a construção de utopias. Com efeito, muitas obras
literárias do renascimento perspetivaram mundos de perfeição e harmonia, onde se praticava
um novo ideal de vida centrado nos valores humanos. A utopia mais célebre foi a de Thomas
More, esta utopia concebeu um mundo ideal, racionalizado, onde havia paz espiritual,
igualdade, fraternidade e tolerância. Um mundo onde o homem, como ser superior, sabia
vencer as paixões e os vícios e estabelecer a prosperidade.
A reinvenção das formas artísticas
A imitação e superação dos modelos da antiguidade
Tal como nas letras e o pensamento renascentistas, também a arte do séc. XV e XVI foi
marcada por uma nova estética e uma nova sensibilidade, que irradiaram da Itália. O regresso
aos clássicos e o regresso à natureza inscreveram-se nos seus propósitos fundamentais.
Classicismo
O ressurgimento da Antiguidade clássica influenciou profundamente o mundo das formas. Os
artistas do Renascimento, tal como os humanistas, manifestaram um tal repúdio pela estética
medieval, particularmente pela gótica, que consideravam oposta à clássica. Só a arte dos
antigos é que era harmoniosa, proporcionada e bela, pois baseava-se em leis e regras
racionais.
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Como manifestações de classicismo na arte do Renascimento, devemos referir:

 A recuperação dos elementos arquitetónicos greco-romanos, tal como a própria


teoria clássica de ordem arquitetónica.
 Adoção de temáticas e figuras da mitologia e da história clássica
 O gosto pela representação do corpo humano com uma plenitude quase pagã. O nu
ressurge glorificado, no Homem, a perfeição divina das suas formas.
 O sentido de harmonia, simetria e ordem que transparece das criações artísticas,
verdadeiramente celebrador da excelência humana. Ao fazer do Homem uma medida
na arte, o classicismo acabou por se tornar uma forma de humanismo artístico.

Naturalismo e capacidade técnica


Um vivo sentido de captação do real animou os artistas do Um vivo sentido de captação do
real animou os artistas do Renascimento, que exprimiam um verdadeiro prazer nas
representações do ser humano e nas reproduções da Natureza. Foi o naturalismo na arte
responsável pela descoberta de duas importantes e revolucionarias técnicas:
 A perspetiva, conjunto de regras geométricas que permitem reproduzir, numa
superfície plana, objetos e pessoas com aspeto tridimensional.
 A pintura a óleo, favorece a visualização do detalhe e a obtenção de uma gama de
cores rica em tonalidades.

A capacidade técnica dos artistas do renascimento que os levou a produzir uma obra original,
superando os modelos da Antiguidade. Conscientes do seu valor, da sua cultura e experiencia
e dos seus múltiplos talentos, os artistas não mais quiseram ser considerados apenas bons
artífices de uma oficina de arte. Por isso, recusaram a integração nas corporações e,
orgulhosamente, colocaram a sua assinatura nas obras de arte. O artista do renascimento
sentiu-se um criador.

PINTURA
É durante o renascimento que a pintura europeia se promove e emancipa, adquirindo uma
dignidade e elevação sem precedentes. Leonardo da Vinci elevou a pintura ao cume das artes.
Ela era a arte por excelência e o pintor o um criador.
Falando agora das características gerais da pintura renascentista, diremos que ela comungou
da paixão pelos clássicos. Tal como se fez sentir no gosto pela representação da figura
humana. Deste modo, a pintura refletia, também, a redescoberta homem e do indivíduo, que
foi uma imagem de marca da cultura renascentista. O que mais vinca a pintura do
Renascimento é a sua originalidade e criatividade.
Pintura a óleo
É realizada sobre a madeira ou tela, a pintura a óleo conheceu uma grande aceitação. Não só
pela durabilidade e possibilidade de retoque que conferia às obras de arte, mas também pela
variedade de matizes e de gradações de cor, que garantiam representações pormenorizadas e
efeitos de luz e de sombra.
Terceira dimensão
A descoberta da terceira dimensão ficou-se a dever aos estudos matemáticos sobre a
perspetiva. De acordo com tais estudos, o campo de visão do observador é estruturado por
linhas que tendem a unificar-se no horizonte. Servindo-se do cruzamento d obliquas, de
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efeitos de luz e cores, de aberturas rasgadas nos fundos arquitetónicos, construindo assim um
espaço tridimensional, marcado pela profundidade, pelo relevo e pelo volume das formas.
Deste modo, concretizaram a perspetiva linear.
No séc. XVI, Leonardo da Vinci tornou-se um grande teórico da perspetiva aérea. Para o efeito
utilizava o sfumato, gradação pequeníssima da luz, que nos permitiu ver os objetos locais com
maior nitidez, enquanto os mais afastados se transformam em sombras azuladas.

Geometrização
Para a composição das cenas, os pintores renascentistas adotaram formas geométricas, com
preferência pela piramidal, para composição das cenas. Considera-se que perspetiva e
geometria foram os grandes fundamentos da composição artística no Renascimento.
As representações naturalistas
As representações naturalistas enquadram-se no movimento de descoberta da Natureza e de
valorização do real numa época de renovação de hábitos e ideias, em que se despontava a
conceção do homem.
A expressividade dos rostos, aos quais não se inibia de apontar imperfeições. Não lhes bastou
a veracidade dos traços fisiológicos. A grandeza dos retratos renascentistas residiu na sua
capacidade de exprimir sentimentos e estados de alma e de refletir os traços da
personalidade. Ressalta também, a espontaneidade dos gestos e a verosimilhança das vestes e
dos cenários, que eram de casas e paisagens da época, em lugar dos fundos dourados das
pinturas góticas.
Por sua vez, o corpo, de humanos ou animais, foi pintado com verdadeiro rigor anatómico.
Quanto à variedade de rochas, plantas, rios, lagos, montanhas e cidades, foram consequência
de um conhecimento experimental do mundo envolvente, que permitiu fazer da paisagem um
elemento essencial da composição pictórica.
ESCULTURA
A escultura recuperou a grandeza e a preeminência alcançadas na Antiguidade Clássica. Nelas
se inspiraram os escultores do Renascimento para traçar os novos caminhos da sua arte. Ao
deixar de estar subordinada ao enquadramento arquitetónico, para onde a Idade Media a
relegara, a escultura ganhou agilidade e naturalidade. O corpo nu readquiriu a dignidade
perdida e a estátua equestre voltou a triunfar na praça pública.
Humanismo e naturalismo são, efetivamente, as grades características da escultura do são,
efetivamente, as grades características da escultura do Renascimento. Os escultores
interessaram-se pela figura humana pelo indivíduo dotado de ossos, músculos e
personalidade. Foram excelentes no rigor anatómico e na expressão fisionómica que
produziram nas suas obras. As formas rígidas da escultura medieval deram lugar à
espontaneidade e à ondulação das linhas.
O equilíbrio e a racionalidade marcaram a escultura renascentista que mostrou um especial
interesse pela composição geométrica
O elevado aperfeiçoamento técnico de que os escultores do os escultores do Renascimento
mostraram ser capazes. Salientam-se os estudos de perspetiva, baseados em rigorosos
desenhos prévios, que permitiram a proporção e o naturalismo da escultura.
Escultores do renascimento:
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Fernando Alves
 Lorenzo Ghiberti
 Donatello
 Bernardo Rossellino
 Andrea del Verrocchio
 Miguel Ângelo

ARQUITETURA
Foi na Itália, que a arquitetura renascentista se afirmou e definiu as suas principais
características.
Simplificação e racionalização da estrutura dos edifícios
De costas voltadas para o estilo gótico e influenciada pela Antiguidade a arquitetura procedeu,
a simplificação e racionalização da estrutura dos edifícios.
Com efeito:

 Verificou-se uma matematizaçao rigorosa do espaço arquitetónico a partir de


múltiplos de uma unidade-padrao. As relações proporcionais, estabelecidas entre as
várias partes do edifício estenderam-se às suas medidas principais. Se estas
coincidissem, o edifício inscrever-se-ia num cubo. “Cubos e paralelepípedos”
 Procurou-se a simetria absoluta, partindo-se do princípio de que o edifício ideal é
aquele em que todos os eixos, na horizontal e na vertical, são simétricos. As fachadas,
por sua vez visível no rigoroso enquadramento que preside às portas e janelas.
 Aplicou-se a perspetiva linear
 Retomaram-se as linhas e os ângulos retos
 Preferiram-se as abóbadas de berço e de arestas
 Fez-se a cópula
 Utilizou-se preferentemente o arco de volta perfeita

Gramática decorativa greco-romana


Para além dos aspetos estruturais, a influência da Antiguidade fez-se também sentir na
adaptação da gramática decorativa greco-romana. Assim:
 Empregam-se as colunas e os entablamentos das ordens clássicas. No séc. XVI, os
arquitetos elaboraram uma nova teoria das regras de proporção
 Retomaram-se os frontões triangulares
 Utilizaram-se os grotescos
 Proporções urbanísticas

A arte em Portugal: o gótico-manuelino e a afirmação das novas tendências renascentistas


Portugal, no séc. XVI sob a influência das descobertas marítimas, do afluxo das riquezas de
além-mar, da consolidação do poder real e do fausto da vida cortesã, a arquitetura gótica
renova-se e multiplica-se os motivos ornamentais, dando origem a um estilo híbrido,
denominado por manuelino.

GOTICO-MANUELINO
História A 10ºAno
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Desde o séc. XIX, o manuelino foi considerado um estilo artístico vincadamente português,
com fortes ligações às descobertas marítimas. Forjado num contexto de nacionalismo
romântico, este conceito de manuelino surgia como a concretização artística da época da
Historia de Portugal.
Atualmente, os especialistas veem com as maiores reservas tal interpretação. Mais do que um
estilo, dotado de originalidade e uniformidade, o manuelino é uma arte heterogénea.
Manifesta-se na arquitetura e na decoração arquitetónica e nela se fundem:

 O naturalismo
 O exotismo
 A simbologia cristã

Do ponto de vista estrutural, o estilo gótico foi mantido, embora se introduzissem algumas
alterações. No que se refere à decoração, o manuelino caracteriza-se pela exuberância das
formas naturalistas, onde os motivos marinhos se conjugam com a vegetação terrestre.
Embora o manuelino esteja maioritariamente representado na arquitetura religiosa de
Portugal, não devemos esquecer os progressos verificados na arquitetura civil…os paços régios
e os solares nobres representam bem a decoração manuelina.
A ARQUITETURA RENASCENTISTA
O classicismo renascentista foi introduzido na arquitetura sob a forma decorativa plateresca.
Foi no entanto no reinado de D. João III que a estrutura arquitetónica acusaria a influência da
estética clássica. O austero espírito do monarca e a contração de despesas régias levaram ao
abandono da exuberância manuelina, substituída pela depuração e severidade das linhas
clássicas.
A ESCULTURA
A persistência do gótico e a sua renovação decorativa explicam que a escultura portuguesa do
Renascimento continuasse fortemente ligada ao enquadramento arquitetónico, impedindo-a
de uma emancipação e monumentalidade verificadas na Itália
No séc. XV um surto escultórico, seja na decoração ou estatuária. Aos artistas nacionais e
estrangeiros devemos uma obra multifacetada de crescente capacidade técnica, onde o gótico,
o manuelino e o classicismo se funde harmoniosamente.
A PINTURA
Entre o séc. XV e o séc. XVI, verifica-se uma renovação na pintura portuguesa, que de um
formulário gótico evoluiu para cânones mais próximos do Renascimento europeu. Tal factos
não foram alheios os contactos culturais.
As mestrias cromáticas, onde avultam as cores vivas, os retratos individualizados, o pormenor
realista aproximam-nos da pintura flamenga. Já a modelação escultórica das figuras humanas e
a monumentalidade geométrica da composição acusam a influência italiana.
Nos séculos XV e XVI a Europa conheceu novos povos e culturas com as viagens
expansionistas. Neste período, desenvolveu-se um movimento de renovação cultural, que
tomou por nome: Renascimento. Valores e conhecimentos novos foram adquiridos e
acompanhados por novas formas de pensar. Portugal fez parte deste movimento europeu.
Novas crenças geraram novas atitudes por toda a população. Existiu um movimento de
contestação á Igreja Católica, por nome: Reforma Protestante. Como resposta,
desenvolveram-se então dois movimentos: a Reforma e a Contra-Reforma Católica.
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Esperemos que depois desta breve explicação o leitor desfrute ao máximo do trabalho que
se segue.

A Reforma Protestante:

Individualismo religioso:

Tempos difíceis viveram a Cristandade e a Igreja romana nos fins da Idade Média. O cortejo
de fomes, pestes e guerras, em que os séculos XIV e XV foram férteis, fez renascer os
terrores apocalípticos e as preocupações com a salvação da alma, tanto mais quanto se
acreditava serem as calamidades punições divinas para os pecados dos homens.
Em vez de apoiar os crentes nesses momentos de angústia, a Igreja oferecia uma imagem
de desunião. O Cisma do Ocidente manteve a Cristandade dividida na obediência a dois
papas: um residia em Roma, o outro estava em Avinhão.
O fim do Cisma não significou o fim da crise da igreja. Os papas do renascimento não foram
modelos de virtudes nem de concórdia cristão.
Os maus exemplos frutificaram há muito no seio da hierarquia religiosa. Bispos e prelados
acumulavam benefícios e ausentavam-se das paróquias.
A reacção da Cristandade não se fez esperar. Desde o século XIV, há alterações nas práticas
religiosas e violentas críticas à Igreja.

As práticas religiosas:

Sentindo que a Igreja e os seus ministros não prestavam o auxílio adequado, muitos caíram
na superstição e no fanatismo.
Outros protagonizavam formas de piedade bem mais intimistas e individualistas.

As críticas à Igreja:

As críticas à Igreja começaram por assumir uma faceta herética. Na Inglaterra, Wiclif,
professor em Oxford, pôs em dúvida a utilidade do clero e o valor dos sacramentos. Apelou
para o estudo directo da Bíblia, que considerava a única fonte de Fé. Associado a esta
heresia esteve o movimento dos lolardos, padres pobres que se aliaram aos camponeses na
sua luta contra os senhores.
As ideias de Wiclif receberam um bom acolhimento, na Boémia, por parte de Jan Huss que
pugnou pela criação de uma Igreja nacional, desligada da obediência ao Papa, e defendeu a
possibilidade de os leigos praticarem a comunhão sob as duas espécies (do pão e do vinho),
reservada apenas ao clero. Jan Huss foi levado à fogueira.
Condenado como herético, surge-nos o monge Savonarola, que também morreu na
fogueira, porque se atrevera a denunciar os vícios do clero e do papa Alexandre VI, além de
instigar à revolta contra a família Médicis.
Ninguém melhor que os humanistas soube, no entanto, traçar o quadro dos abusos da
Igreja. Criticaram a corrupção e a hipocrisia do clero em geral, não poupando a ambição
dos papas, cardeais e bispos. Com a palavra dos humanistas preparou-se o terreno para a
Reforma.

A rutura teológica: As igrejas reformadas:


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O Luteranismo:

A chamada “questão das indulgências iniciou-se quando Martinho Lutero afixou em


Wittenberg as 95 teses contra as indulgências. Este acontecimento marcou o inicio da
reforma protestante 1517.
O papa puniu Lutero com a excomunhão, Lutero por seu lado considerou o papa um ser
falível traduzindo mais tarde os evangelhos para alemão.
Lutero foi apoiado por senhores e príncipes desejosos de se libertar do império de Carlos V.

Princípios do Luteranismo

. Afirmação da salvação pela fé, do pecado original, da consubstanciação na eucaristia, do


individualismo religioso, de que a igreja de Cristo é a união dos crentes a Deus, a
universalidade do sacerdócio, de uma certa predestinação, do livre-arbitrio, de Deus ser
omnipresente e omnisciente, do valor dos sacramentos baptismo e eucaristia.
. Primazia da palavra sobre o cerimonial e integração do canto na liturgia.
. Negação dos sacramentos da confirmação, ordem e extrema-unção, do império espiritual
do papa, da existência do purgatório e da intersecção dos santos.
. Proibição da representação de Deus, recusa do luxo, abolição do celibato e da confissão.
. O ser humano é sempre um ser inclinado para o mau.
. A bíblia está acessível à interpretação de todos sendo as boas obras manifestação da
graça de Deus.

O Calvinismo:

João Calvino começou por seguir Lutero, mas mais tarde fundou a sua própria igreja,
mantendo muitos dos princípios de Luteranismo.

Princípios originais do calvinismo:

. Predestinação absoluta do ser humano: aquele que Deus predestinaria à salvação seria
salvo. Negar a predestinação seria negar o poder omnipresente e omnisciente de Deus.
. A leitura e o comentário da bíblia seriam mais importantes do que os sacramentos
(primazia absoluta da palavra).
. Vocação profissional, a graça divina estaria relacionada com a capacidade de êxito na
vida graças ao esforço e trabalho árduo no quotidiano. A riqueza adquirida com o
esforço seria um sinal de graça.
. Legitimação do lucro e desprezo pelos pobres, porque além de incapazes eram
desprovidos de graça.
. Legitimação da especulação financeira (juro) e consequentemente a legitimação do
capitalismo individualismo.
. Condenação absoluta da vida contemplativa.
. Tal como o Luteranismo aceitou unicamente dois sacramentos, o baptismo e a
comunhão, mas na eucaristia apenas se admitia a presença espiritual de Cristo e não a
real como defendia Lutero.
. Não existiam hierarquias religiosas, igreja de pastores.
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. Leitura dos textos sagrados para encontrar os desígnios de Deus.

O Anglicanismo:

Na Inglaterra, evoluindo duma ruptura com a Igreja a Reforma implementou-se. Em 1534,


na Inglaterra, o rei Henrique VIII fundou o Anglicanismo. A implantação das ideias
protestantes na Inglaterra deveu-se a um conflito entre o rei e o Papa. Henrique VIII era
casado com Catarina de Aragão mas vivia apaixonado por Ana Bolena, como não existiam
herdeiros solicitou ao Papa o divórcio. O Papa recusou-se a anular o casamento, mas
Henrique desrespeitou a decisão e casou-se á mesma e aí proclamou o Acto de Supremacia,
que recaía a seu favor pois foi criado por interesse pessoal do rei. Através deste documento
a Igreja inglesa tornou-se independente de Roma, e o rei passou a ser chefe supremo.

“O rei é o único chefe supremo da Igreja de Inglaterra. […] Nesta qualidade, o rei tem o
poder de examinar, reprimir, emendar tais erros, heresias, abusos, ofensas e
irregularidades que devem ou podem ser reformados legalmente pela autoridade
espiritual, a fim de garantir a paz, a unidade e a tranquilidade do reino.”
Excerto, Acto de Supremacia, 1534

Contudo, a implementação duma nova Igreja protestante, o anglicanismo, originou


confrontos violentos entre católicos e protestantes. A igreja Anglicana defendia os
seguintes princípios:
. A Bíblia era a principal fonte de fé.
. A salvação era através da fé e predestinação.
. O celibato não era obrigatório no clero.
. O rei é chefe supremo da Igreja, rejeição á autoridade do Papa.
. Os sacramentos obrigatórios eram apenas o Baptismo e a Eucaristia.
. Negação do culto a imagens, santos ou relíquias.
. No culto a missa era abolida mas mantinham-se as cerimónias.
Assim, no fim do século XVI, a Europa cristã estava dividida em dois blocos religiosos: a
Norte e Centro a maioria era protestantes e a Sul continuavam católicos.

Lutas Religiosas:

Na Europa a confrontação com a ruptura reformista foi difícil. Iniciaram-se por toda a
Europa perseguições entre católicos e protestantes; roubaram-se e destruíram-se templos;
seguiram-se execuções que marcaram negativamente a história europeia. Um desejo
ardente de renovação espiritual do Homem era expresso nas disputas de leigos e teólogos.
A Europa conseguiu, ainda, ter ganho proveito, purificando-se. Embora tenha permanecido
sempre fiel a um conjunto de valores cristãos.
Reforma e Contra-Reforma católica:
A resposta da Igreja Católica face ao avanço do Protestantismo deu início a um movimento
que assumiu duas vertentes:
. A Reforma: um movimento que procurou a renovação interna, iniciando com o Concilio
de Trento. A Reforma procurou responder às crenças renovando e restaurando o
catolicismo. Criou ainda uma nova ordem religiosa, a Companhia de Jesus.
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. A Contra-Reforma: um movimento de combate bastante doutrinário, ideológico e
repressivo face às ideias protestantes e todas as formas de heresia. Esta vertente
obteve dois meios: a Inquisição e o Índex.

Reforma Católica:

Concílio de Trento:

O Papa, em 1545, tomou a iniciativa de convocar o Concílio de Trento e reuni-lo a fim de


analisarem as criticas apontadas á Igreja Católica e resolver os problemas que a afectavam.
Maioritariamente, os bispos e cardeais reunidos no concilio decidiram não fazer alterações
notórias. Apenas reafirmaram os dogmas da fé católica. Com o intuito de enfrentar as
críticas, o Concílio tentou reformar os costumes e reorganizar a Igreja. As medidas tomadas
foram:
. Obrigação do celibato eclesiástico.
. Organização de cerimónias de culto para atrair fiéis.
. Renovação da decoração das Igrejas para cativar os seguidores.
. A proibição a acumulação de cargos de bispos e sacerdotes, ou seja benefícios
eclesiásticos.
. Padres, bispos e sacerdotes eram obrigados a residir nas respectivas paróquias ou
dioceses.
. Criação de seminários que permitissem uma melhor formação dos membros do clérigo,
tanto a nível religioso e moral como intelectual.
Além destas medidas, foram ainda criadas novas ordens religiosas que eram caracterizadas
pela forte disciplina exigida aos seus membros. Em 1540, fundaram a Companhia de Jesus,
uma congregação religiosa de entre muitas outras. Esta ordem foi fundada pelo fidalgo
Inácio de Loyola. Os objectivos tidos como principais nesta Companhia eram a pregação e o
ensino.
A regra base desta ordem era a disciplina, dirigida por um general que submetia os jesuítas
a um duro regime. Os jesuítas eram senhores de grande intelectualidade, tanto na área da
oratória como da teologia. Destacavam-se como missionários, professores e pregadores.
No entanto, foi como pregadores que se fizeram notar. Conseguiram recuperar o
catolicismo de regiões onde o protestantismo havia caído, pregando sermões e peças de
oratória que cativavam os fiéis e induziam luteranos e calvinistas a abdicar das ideias
reformistas.

Contra-Reforma:

Inquisição e Índex:

Na tentativa de travar o avanço do Protestantismo, a Igreja Católica desenvolveu um


movimento de reforma interna no Concílio de Trento, com a ajuda da Companhia de Jesus
para ensinar o catolicismo á população. Desenvolveu assim um movimento de Contra-
Reforma, marcado pela criação da Inquisição e do Índex.
Desde o século XII que a Inquisição já existia, com o objectivo de combater e punir a
heresia, bruxaria, bigamia, sodomia e a blasfémia. Foi restabelecida no século XVI para
travar o Protestantismo. Consistia num tribunal eclesiástico, o Santo Ofício, constituído por
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alguns cardeais e chefiado pelo Papa. A sua função era julgar os suspeitos de práticas de
Judaísmo, Protestantismo ou qualquer tipo de bruxaria ou heresia.
Na península ibéria o protestantismo teve pouco sucesso pois a inquisição teve uma forte
implantação a sul da Europa. Em Portugal, D. Manuel (que reinava na altura), ordenou a
expulsão dos judeus. Aqueles que se converteram aos Cristianismo permaneceram no país,
no entanto eram controlados, perseguidos e espiados pela Inquisição. Eram bastantes os
motivos que podiam utilizados para denúncia á Inquisição, tantos motivos religiosos,
ideológicos, intelectuais ou até mesmo da ordem económica, política ou familiar.
Outro meio de controlo por parte do Santo Ofício era através da censura literária. Esta
instituição ficou conhecida por Índex. Fizeram em 1547 a publicação do primeiro índex de
livros proibidos, ou seja, livros considerados perigosos ou ofensivos para o Cristianismo.
Estas duas instituições, a Inquisição e o Índex, foram meios de controlo da cultura e
também de repressão de novas ideias. No final, estas duas instituições acabaram por
prejudicar a península ibérica, a nível económico e cultural. Esta ficou isolada durante
séculos da cultura europeia, o que levou a que muitos judeus, cristãos-novos, escritores,
comerciantes e cientistas, que eram perseguidos, fugissem para países protestantes.
 O IMPACTO DA CONTRARREFORMA NA SOCIEDADE PORTUGUESA:
A dureza com que foram aplicadas, em Portugal, as medidas da contrarreforma, em particular
no que diz respeito às penas impostas pela Inquisição e aos Indexes Portugueses, saldou-se por
um atraso cultural lamentável que se prolongou por muitos anos.

A prontidão com que as autoridades portuguesas acatavam as medidas repressivas de Roma


provocaram a fuga de inumes figuras, não só da intelectualidade nacional, mas também do
panorama económico, em especial pertencentes à religião judaica.

O encontro de culturas
Como as viagens, ao longo dos séculos XV e XVI aumentaram consideravelmente, os Europeus
alargaram o conhecimento que tinham de si mesmos e do resto mundo, tomando consciência
do resto dos povos e culturas existentes pelo globo.
As relações que se estabeleceram foram de diferentes naturezas e, por isso, deram aso a
diferentes significados e consequências.
No continente africano, os Europeus encontraram, pela primeira vez, populações de cor negra
(maioritariamente, em regime tribal), que eram seminómadas e viviam da caça, da pesca, da
pastorícia e de uma agricultura primitiva. Os Europeus acreditavam que estas civilizações eram
atrasadas e bárbaras e que necessitavam de serem civilizados, ou seja, na altura isso
significava cristianizar, muito devido ao seu atraso material, à estranheza física e à barbárie de
alguns dos seus modos de vida. Os padres missionários, em especial os jesuítas, foram, então,
companheiros dos descobridores.
Contudo, a fixação em território Africano até então desconhecido não foi grande, notando-se
mais apenas em certas feitorias comerciais do litoral e alguns casos isolados do interior.
O maior impacto cultural realizou-se através da escravatura, cujo tráfico começou no século
XV.
Sendo que a escravatura já era praticada entre as tribos, os portugueses aproveitaram-no e
começaram a traficar escravos para o reino (sobretudo, para serviços domésticos). A captura e
comércio de escravos africanos intensificou-se após a descoberta e exploração do Brasil.
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No continente Asiático, as relações tiveram início já na idade média, com as primeiras viagens
dos descobrimentos. Os portugueses foram, no entanto, os primeiros a chegar, por mar, às
regiões orientais e a iniciar um período de contactos mais frequentes e intensos.
Os europeus encontraram, no oriente, terras densamente povoadas, com grande variedade
étnica e cultural, com civilizações como a hindu, a chinesa e a japonesa – civilizações muito
bem estruturadas e milenares. Estas civilizações começaram por admirar os europeus pelo
exotismos próprio dos seus costumes, pela religião e arte e pelos conhecimentos que
possuíam, mas consideravam-nos bárbaros, pois eram fechados a influências estrangeiras. Por
este motivo, poucos foram os valores ocidentais que penetraram no oriente e a missionação
foi igualmente difícil. O Ocidente ficou, claramente, a ganhar: conseguiu produtos para
comércio (que influenciaram, obviamente, a economia europeia), adotaram inventos técnicos
e importaram saberes na área da ciência, da medicina, da filosofia e das artes.
No continente Americano, as civilizações naturais (os índios) eram diversificadas. Na América
Central, encontraram-se populações muito antigas (como os astecas, maias, incas e outros)
num estado civilizacional semelhante ao das primeiras civilizações da Antiguidade Oriental.
Nas montanhas da Bolívia e do Peru habitavam os Quíchuas, que desenvolveram a agricultura
de montanha e praticavam a pastorícia. Viviam em aldeias comunitárias, num regime social
semelhante ao feudalismo europeu.
Na zona do atual Brasil, foram encontradas populações num estado de desenvolvimento
semelhante ao do final do Neolítico europeu, subdivididos numa série de tribos com dialetos e
costumes diferentes.
A chegada dos europeus à América – maioritariamente, portugueses e espanhóis - teve um
enorme impacto localmente.
Como se sentiam superiores, devido a serem uma civilização materialmente mais avançada, os
portugueses e os espanhois promoveram um processo de europeização (os espanhóis
demonstraram modos mais violentos e forçados aquando deste processo.) Esta aculturação
teve como consequência a estagnação ou, até mesmo, destruição de certas culturas e uma
elevada mortalidade gerada, tanto pelas guerras de ocupação como pelo contacto nos
aldeamentos e missões – enorme recuo demográfico.
Os Europeus transportaram, ainda, muitas doenças desconhecidas para a América, não
possuindo os indígenas defesas orgânicas para estas.
As dificuldades de aceitação do principio de unidade do género humano: evangelização e
escravização
Os Europeus, levados pela curiosidade despertada devido ao encontro das etnias a culturas tão
desconhecidas, escreveram e relataram várias obras, onde descreviam, de modo detalhado, os
diferentes povos, particularidades físicas e costumes.
Como foram postos em causa os conhecimentos adquiridos até então sobre a raça humana,
através da religião, houve a necessidade de uma revisão do conceito do Homem e da
Humanidade, procurando verdadeiramente definir a sua essência.
Os Europeus questionaram-se, com algum ceticismo, se os povos encontrados seriam,
realmente, humanos, ou seja, se todos seriam iguais, devido à origem da raça humana partir
do ato divino de “Adão e Eva”. Na época, o pensamento humanista exaltava a excelência do
homem. As civilizações eram tidas em conta como gente de aspeto grosseiro e estranho,
primitivas em relação aos hábitos e modos de vida e, por isso, dificilmente encaixavam no
conceito.
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Nos relatos da época é também percetível uma visão etnocêntrica que dominava a
mentalidade europeia, que eram crentes na superioridade da sua civilização, pois esta
aparentava ser a mais avançada a nível técnico e material e o seu modo de vida era mais
organizado e conforme a vontade de Deus.
Por isto, achando-se superiores, os Europeus acreditaram que era sua obrigação impor a
religião cristã às novas civilizações, considerando-a a única verdadeira e autêntica.
Deste modo, é justificada a preocupação quanto à evangelização que acompanhou todas as
ações de expansão comercial dos europeus e, também, a aceitação e complacência da época
perante a escravatura.
Os povos conhecidos eram vistos pelos europeus mais como animais do que como humanos, o
que os levou a um sentimento e noção de racismo. O escravo era visto também, como alguém
que, ao integrar-se no mundo do seu senhor, conseguia civilizar-se e abandonar a vida
anteriormente levada.
Os antecedentes da defesa dos direitos humanos
Apesar dos sentimentos e ideias anteriormente explicadas terem dominada a mentalidade da
altura, alguns acreditaram e compreenderam que o aspeto físico e os hábitos e modos de vida
eram fruto da história, ou seja, das circunstâncias temporais em que as civilizações se tinham
desenvolvido e que a sua essência era tão humana como todos os outros, independentemente
da raça ou cultura.
Foi, então, desenvolvido um sentimento de fraternidade pelos que conviveram mais
proximamente e quotidianamente com estas populações. Algo que evidencia esse sentimento
foi o aumento crescente dos casamentos mistos, que alastraram o fenómeno da mestiçagem.
Na América espanhola e no Brasil, os padres jesuítas iniciaram um discurso em defesa dos
direitos humanos, ainda no século XVI, dos índios que, na sua opinião, apesar de serem
criaturas selvagens eram dóceis e boas e não deviam ser escravizadas.
A questão da essência humana também foi importante para a elite intelectual. O pensamento
humanista da época defendia que a grandeza do homem assentava na sua origem divina, pois
Deus criara-o à sua imagem e semelhança, concedendo-lhe dois bens essenciais: razão e
liberdade, ou seja, o dom do livre-arbítrio para que pudesse decidir e agir.
Estas características eram as que permitiam descender da sua condição de matéria (bicho) do
homem natural (em estado selvagem) à espera superior do homem civilizado – aquele que,
capaz de desenvolver as suas capacidades, pode atingir o conhecimento e o domínio das
verdades espirituais, chegando até Deus.

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