A IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE (STUART HALL)
O livro é pequeno e de fácil leitura, mas sua problematização é considerável: a suposta
crise da identidade no final do século XX. As mudanças na sociedade moderna seriam várias e decorreria disso um abalo nas estáveis referências identitárias – como gênero e raça. Hall não compra essa ideia desde o início, porém deixa clara a sua posição, que é “basicamente simpática à afirmação de que as identidades modernas estão ‘descentradas’, isto é, deslocadas ou fragmentadas” (p. 08). Seguindo nessa interpretação das mudanças na sociedade moderna, invoca o que alguns autores vêm dizendo sobre a chamada modernidade tardia – ou seja, sobre nossos dias. Hall identifica neles uma imagem convergente; nela, surge uma sociedade que não se presta mais a delimitações claras e unificações decisivas, pois é uma sociedade sempre descentrada e, por consequência, as identidades sofrem grandes deslocamentos. O ponto crucial é que as identidades não são mais centrais ou totais, como que rendendo o indivíduo por completo; ao contrário, as identificações podem ser obtidas, perdidas e negociadas conforme as situações se apresentam. Contudo, Hall contesta o fatal e simplista diagnóstico de uma homogeneização das identidades nacionais. A globalização não é tão potente e uniforme sobre o globo terrestre, e por outro lado vale mais a pena notar como local e global entram em um novo e complexo tipo de relação, que produzirá novas formas de local e global, descartando assim a simples homogeneização. Uma mesma abordagem alternativista Hall apresenta sobre o crescente contato entre culturas nacionais: o alargamento do contato entre diferentes culturas, entre culturas dominantes e estrangeiras, enquanto possibilidade do surgimento de novas identidades. No bojo da globalização o que se vislumbra então é um efeito “pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificações, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-históricas.” (p. 87). Hall finaliza o livro retomando seu argumento contra as posições extremadas: a globalização não está sendo o unânime domínio do ‘global’ e nem a contrarrevolução nacionalista do ‘local’. O que ocorre são deslocamentos de globalização mais complexos. E é preciso notar que a globalização parece ser levada a cabo em muitos aspectos pelo Ocidente, mas é o próprio ocidente quem está sofrendo o descentramento.