Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
[OBJETIVO] “Foram selecionados para exame cinco dos conceitos básicos em torno dos quais as
narrativas ortodoxas da condição humana tendem a se desenvolver: a emancipação, a
individualidade, o tempo/espaço, o trabalho e a comunidade.” (15)
“Mas a desintegração social é tanto uma condição quanto um resultado da nova técnica
do poder, que tem como ferramentas principais o desengajamento e a arte da fuga. Para que o
poder tenha liberdade de fluir, o mundo deve estar livre de cercas, barreiras, fronteiras
fortificadas e barricadas. Qualquer rede densa de laços sociais, e em particular uma que esteja
territorialmente enraizada, é um obstáculo a ser eliminado.” (22)
O lugar do indivíduo na sociedade, enquanto ser social não mais determina seu
comportamento e suas ações. Um dos princípios, agora, é a defesa, por todos os atores
sociais, de sua especificidade cultural e psicológica.
“(...) as instituições sociais estão mais que dispostas a deixar à iniciativa individual o
cuidado com as definições e identidades, e os princípios universais contra os quais se
rebelar estão em falta.” (30)
[CRISE DAS AUTORIDADES] “Não há mais grandes líderes para lhe dizer o que fazer e para aliviá-
lo da responsabilidade pela sequência de seus atos; no mundo dos indivíduos há apenas outros
indivíduos cujo exemplo seguir na condução das tarefas da própria vida, assumindo toda a
responsabilidade pelas consequências de ter investido a confiança nesse e não em qualquer
outro exemplo.” (39)
[INDIVIDUALIZAÇÃO] “A ‘individualização agora significa uma coisa muito diferente do que
significava há cem anos e do que implicava nos primeiros tempos da era moderna – os tempos
da exaltada ‘emancipação’ do homem da trama estreita da dependência, da vigilância e da
imposição comunitárias.” (40)
“Resumidamente, a ‘individualização’ consiste em transformar a ‘identidade’ humana
de um ‘dado’ em uma ‘tarefa’ e encarregar os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa
e das consequências (assim como dos efeitos colaterais) de sua realização.” (40)
“Os seres humanos não mais ‘nascem’ em suas identidades.” (40)
ANTIGA MODERNIDADE: substitui “estamentos” hereditários por “classes”, como
objetivo de pertencimento fabricado. “Ação coletiva, orientada pela classe” era “natural e
corriqueira” (41) “O ‘coletivismo’ foi a primeira opção de estratégia para aqueles situados n
aponta receptora da individualização mas incapazes de se auto-afirmar enquanto indivíduos se
limitados a seus próprios recursos individuais (...)” (42) “a tarefa reservada à auto-afirmação
da maioria dos indivíduos era ‘adaptar-se’ ao nicho alocado, comportando-se como os demais
ocupantes.” (42)
SEGUNDA MODERNIDADE: “Não são fornecidos ‘lugares’ para ‘reacomodação’, e os
lugares que podem ser postulados e perseguidos mostram-se frágeis e frequentemente
desaparecem antes que o trabalho de ‘reacomodação’ seja completado.” (42) “Como Beck
adequada e pungentemente diz, ‘a maneira como se vive torna-se uma solução biográfica das
contradições sistêmicas’. Riscos e contradições continuam a ser socialmente produzidos; são
apenas o dever e a necessidade de enfrenta-los que estão sendo individualizados.” (43)
“As duas únicas coisas úteis que se espera e se deseja do ‘poder público’ são que ele
observe os ‘direitos humanos’, isto é, que permite que cada um siga seu próprio caminho, e que
permita que todos o façam ‘em paz’ – protegendo a segurança de seus corpos e posses,
trancando criminosos reais ou potenciais nas prisões e mantendo as ruas livres de assaltantes,
pervertidos, pedintes e todo tipo de estranhos constrangedores e maus.” (45)
“Em suma: o outro lado da individualização parece ser a corrosão e a lenta
desintegração da cidadania.” (46)
“A verdadeira libertação requer hoje mais, e não menos, da ‘esfera pública’ e do ‘poder
público’. Agora é a esfera pública que precisa desesperadamente de defesa contra o invasor
privado – ainda que, paradoxalmente, não para reduzir, mas para viabilizar a liberdade
individual.” (62)
[AUTORIDADES]
“As autoridades não mais ordenam; elas se tornam agradáveis a quem escolhem;
tentam e seduzem.” (76)
“Como observou Daniel J. Boorstin – com graça, mas não de brincadeira (em The
Image, 1961) –, uma celebridade é uma pessoa conhecida por ser muito conhecida, e um best-
seller é um livro que vende bem porque está vendendo bem. A autoridade amplia o número de
seguidores, mas, no mundo de fins incertos e cronicamente subdeterminados, é o número de
seguidores que faz – que é – a autoridade.” (80)
[HIPERCONSUMISMO]
“A busca ávida e sem fim por novos exemplos aperfeiçoados e por receitas de vida é
também uma variedade do comprar (...)” (87)
“O consumismo de hoje, porém, não diz mais respeito à satisfação das necessidades –
nem mesmo as mais sublimes, distantes (alguns diriam, não muito corretamente, ‘artificiais’,
‘inventadas’, ‘derivativas’) necessidades de identificação ou a auto-segurança quanto à
‘adequação’. Já foi dito que o spiritus movens da atividade consumista não é mais o conjunto
mensurável de necessidades articuladas, mas o desejo – entidade muito mais volátil e
efêmera, evasiva e caprichosa (...), um motivo autogerado e autopropelido que não precisa de
outra justificação ou ‘causa’.” (88) “Agora é a vez de descartar o desejo. Ele sobreviveu à
sua utilidaed: tendo trazido o vício do consumidor a seu Estado presente, não pode mais ditar
o ritmo. Um estimulante mais poderoso, e, acima de tudo, mais versátil é necessário para
manter a demanda do consumidor no nível da oferta. O ‘querer’ é o substituto tão necessário;
ele completa a libertação do princípio do prazer, limpando e dispondo dos últimos resíduos
dos impedimentos do ‘princípio da realidade’: a substância naturalmente gasosa foi finalmente
liberada do contêiner.” (89)
Objetos trazem promessa de segurança “o comprar compulsivo é também um ritual
feito à luz do dia para exorcizar as horrendas aparições da incerteza e da insegurança
que assombram as noites” (96)
4 – TRABALHO
Agências da vida política permanecem presas como antes a suas respectivas
localidades; “o poder flui bem além de seu alcance.” (154)
S