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Resumo
Introdução
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Mestre em Educação: Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO. Professora colaboradora na
Universidade Estadual do Centro Oeste. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa GEPEPrivação - Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação em Regimes de Privação da Liberdade. E-mail: vanessarauerodrigues@gmail.com.
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Pós doutora em Educação: Universidade de Santiago de Compostela, Pesquisadora Produtividade em Pesquisa
do CNPq, Coordenadora da Universidade Aberta para a Terceira Idade. email: soliveira13@uol.com.br.
ISSN 2176-1396
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sobre esta função no espaço prisional se refere a uma preocupação ainda maior, focada na
garantia de direitos e na potencialidade que a educação tem no processo reinserção social.
Neste sentido, procurou-se identificar e selecionar produções que tratam da investigação da
educação nas prisões como parte do processo de reinserção social e seus questionamentos
sobre instrumentalização do preso para convivência social fora dos muros das instituições
penitenciárias. A proposta de revisão de literatura foi constituída, primeiramente, por
descritores específicos relacionados à Legislação e Políticas Públicas nas prisões; Educação
Prisional, Educação de Jovens e Adultos Prisional e História da Educação nas prisões. Quanto
as áreas de conhecimento, o critério foi redimensionado, observando a característica
multidisciplinar no atendimento e considerando que a necessidade das demandas sociais
encarceradas explicita o espaço das prisões num terreno fértil para a investigação científica.
Das áreas do conhecimento encontradas, foi possível selecionar pesquisas de educação
prisional com abordagens específicas da Educação de Jovens e Adultos até questões que
envolvem o vínculo da educação formal com as atividades de trabalho ou terapêuticas.
A busca foi direcionada para documentos com investigações concluídas publicadas
nos endereços eletrônicos do Portal da Capes, Scielo, Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia, Banco de Teses da Capes, Google Acadêmico, Anais da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – Anped, Sites dos Programas de Pós
Graduação de Educação e bibliotecas digitais de instituições de Ensino Superior. Os
documentos levantados foram organizados em dois períodos: de 1996 a 2006 e 2007 a 2017,
sendo selecionadas dez publicações como mais significativas para o estudo.
Para a análise, os documentos foram organizados nas seguintes categorias: Educação
Prisional, Legislação Educacional, Legislação e Políticas Públicas Prisionais. As
investigações consideradas mais significativas resultaram num desenho metodológico
multidisciplinar necessário para a detecção de lacunas de pesquisa muito importante ao meio
acadêmico. A abrangência desta revisão é resultado das fontes que estão ligadas ao propósito
do estudo, apresentando a educação no espaço prisional como uma parte do processo de
inserção do sujeito na sociedade. As inferências apresentadas de cada estudo permitiram a
observação das convergência e divergências teóricas que ilustram o quadro de tratamento
prisional no Brasil.
ESTUDOS INVESTIGADOS
1996-2006 2007-2016
Área do Artigo Artigo Livros Artigo Livro
conhecimento Periódico Event Disserta Tese Capítulo Periódi Artigo Disserta Tese Capítulo
o ção de Livro co Event ção de livro
o
Educação 04 03 22 05 01 27 05 40 09 16
Ciências 01 04 01 04
Sociais
Memória 01 01
Social
Arquitetura 01 01
Ciência do 01
Ambiente
Ciência 01 03 01 01 01
Jurídica/Dir
eito
Política 01 01 01 01
Social
Sistema 01
Constitucion
al de
Garantia de
Direitos
Tecnologia 01
Letras 02
Psicologia 01 01
Sociologia 02 01
Teologia 01
Ciências 01 01 01
Humanas,
Sociais e da
Natureza
Ensino das 01 01
Ciências e
da
Matemática
1420
Gestão 01
Social,
Educação e
Desenvolvim
ento
Regional
Engenharia 01
de Produção
07 03 26 06 02 35 06 55 14 20
Artigos Dissertações Teses Livros/Capítulo de livros
SUBTOTAL 51 80 20 22
173
TOTAL
Fonte: Levantamento da autora.
Além disso, nenhuma das duas se integram para a ação na Política Criminal. O
objetivo de reintegração da pessoa que transgrediu as normas ensinadas ou impostas pelas
políticas públicas anteriores não compreende uma articulação com as regras de socialização
dentro dos muros da prisão. O fato é que a contenção ocorre pela mesma política que prende e
a proposta de atendimento do recluso é daquela que prevê o auxílio na reinserção, com
distintos mecanismos na relação como cidadão. Ambas, historicamente, não dialogam nas
ações extramuros, esta articulação dentro dos muros da prisão parece ser um reflexo bem mais
profundo.
Nesta apresentação problematiza uma das maiores preocupações no funcionamento de
ações sociais de um Estado: a concepção de sistema. Entendendo este como uma organização,
uma relação articulada no cumprimento da função de cada elemento que precisa estar e ser
integrado, retomando o questionamento anterior sobre o diálogo nas políticas públicas, é
possível definir o sistema penal como “[...] o grupo de instituições e políticas públicas que
visam cumprir o que o Direito preconiza para a execução das penas de reclusão, detenção ou
prisão simples” (CORDEIRO, 2010, p. 30).
Cada instituição prisional, embora possa ter características físicas e de cumprimento
de pena distintas, é regida dentro de um sistema e, portanto, balizada pelos mesmos objetivos
sociais. Este fio condutor do objetivo social, da reintegração, encontra suas especificidades
também pela estrutura física, o espaço arquitetônico. A prisão tem, de forma generalizada,
como finalidade formal “[...] preparar o preso e abrigá-lo, isolando-o do convívio com a
sociedade, até que ele possa ser devolvido [...] (CORDEIRO, 2010, P. 30).
Este espaço arquitetônico tem uma ligação direta para a concretização das ações das
políticas sociais dentro da prisão. Muitas são as variáveis que definirão os objetivos para a
proposta de pena, mas sua função é percebida pela ocupação dos espaços. Se para o Judiciário
o tempo neste espaço de contenção é a maior preocupação no momento de definir a pena, para
as políticas sociais o seu cumprimento e a ênfase no planejamento do espaço tempo são muito
mais importantes. Além disso, a operacionalização das ações mostra a necessidade de se
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As formas que a prisão implementa a educação, embora seja legitimada por uma
legislação, difere na apropriação do espaço e na operacionalização do cotidiano. As normas
institucionalizadas nem sempre estão condizentes com as práticas da rotina da instituição. A
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educação, embora tenha nos discursos de tratamento penal, um lugar valoroso, no objetivo da
pena de prisão, esta condição não é percebida com tanta ênfase. Esta relação de submissão de
instituições, destitui da escola a valorização outrora apresentada nas políticas criminais como
parte do cumprimento de pena. A ausência de uma qualificação, muitas vezes, utilizada pelas
políticas públicas de segurança como justificativa do cárcere ter cometido ou reincidido no
mundo do crime.
Na mesma direção da análise, as autoras Daiane Letícia Boiago e Amélia Kimikio
Noma discutem no artigo “Políticas Públicas no Estado do Paraná pós 1990”, as propostas de
educação direcionadas às pessoas privadas de liberdade, especificamente no regime fechado, a
partir de 1990. Nesta investigação é apresentada a construção da política pública para
Educação de Jovens e Adultos e explicitado como o direito a educação está posto nas prisões,
a partir dos aspectos normativos nacionais e internacionais. O objetivo central do estudo é
destacar qual o papel das agências internacionais do sistema da Organização das Nações
Unidas - ONU na elaboração das políticas públicas de implantação de educação nas prisões
numa visão do macrocosmo, se referindo a todos os países membros, e do microcosmo,
especificamente, no Brasil.
O direito à educação do sujeito, mesmo estando preso, é uma característica de todos os
países membros da ONU, fazendo parte de consensos globais, dispostos em forma de eventos
e documentados por atas e pareceres coletivos acordados numa agenda organizada para
“adequação das políticas de educação às necessidades emergentes do capital” (BOIAGO;
NOMA, 2013, p. 02). O propósito de expansão destes países justifica a ação de integrar a
educação como políticas públicas sociais que independem da condição de privação de
liberdade, fazendo parte da estratégia de conduzir o consenso nos princípios doutrinários
básicos impostos.
Desta forma, utilizando como fundamento a Declaração Mundial de Educação para
todos acordada na Conferência Internacional de Educação para Todos, em 1990, fica definido
por consenso que a educação prisional acontecerá nos seguintes critérios:
É certo que a educação na prisão com vistas ao dito “progresso” social, está muito
mais vinculada ao fator de desenvolvimento econômico e, assim, com a finalidade de
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A instituição escolar, deste modo, possui objetivos diferentes da instituição prisão com
marcos históricos construídos em contextos distintos dos designados na constituição das
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Desta maneira, a escola assumiu seu espaço no contexto prisional com ações as quais
definiam a qualificação do sujeito, entendido pelo aparato jurídico. A visão das atividades
educativas, chamada pela autora de “messiânica”, são gradativamente integradas a proposta
de cumprimento de pena. No Estado do Paraná não foi diferente. As concepções de conversão
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sistematização das produções de conhecimentos e resultados de pesquisas sobre a
educação nas prisões, propiciaram a constatação de algumas lacunas nas discussões da
educação nestes ambientes no estado do Paraná, observando o lapso temporal das pesquisas
encontradas. Identificou-se também que as pesquisas possuem uma característica ampla, ora
tratando da educação em uma determinada penitenciária ora em várias, mas sempre
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invisibilizando a instituição escolar. Problematizar a relação das duas instituições foi muito
importante, pois embora elas se atrelem pela dualidade administrativa, são funções que
possuem fronteiras profissionais que precisam ser respeitadas.
O estudo das pesquisas já realizadas na área apontada permitiu a verificação do
cenário da educação escolar no espaço prisional, considerando o percurso da legislação e a
implementação de Política Públicas da Educação de Jovens e Adultos, além das contribuições
do que ainda precisa ser discutido, dando sustentabilidade aos objetivos da Tese e
compreensão de uma defesa mais focada em elementos teóricos-metodológico ainda não
empregados.
A dialética entre objetividade e subjetividade diante das pesquisas científicas, levou à
identificação de algumas categorias de análise percebidas no entrecruzamento das sínteses e
resultados dos estudos investigados. Estes foram discutidos objetivando uma compreensão
mais ampla da implementação da educação escolar no espaço prisional.
A revisão iniciou-se a partir do entendimento de que os estudo das políticas sociais
referente às instituições educacionais implementadas nos espaços das instituições prisionais
partem do conceito de que esta educação deve ser escolar. Os pesquisadores brasileiros
intitulam as ações educativas para pessoas privadas de liberdade como educação prisional ou,
algumas vezes citada, Educação de Jovens e Adultos – EJA prisional. A educação não
escolar, embora não esteja presente na proposta desta pesquisa, surgiu em alguns momentos
como parte da análise na operacionalidade das ações educativas no espaço da prisão. Contudo,
cabe salientar que, dos documentos investigados, todos trataram da especificidade escolar,
mesmo que não intitulados como Educação de Jovens e Adultos Prisional.
O levantamento e catalogação dos trabalhos, a partir dos textos dispostos nos sítios
eletrônicos identificados demonstrou que a Educação neste contexto é muito ampla. Ela
refere-se à contextos e perfis que são caracterizados na medida em que se descreve as
propostas e conclusões dos autores, apresentando suas recomendações e indicações para
novos estudos. Cada instituição escolar possui uma determinada proposta educacional e cada
atendimento prisional possui demandas diferentes de pessoas que foram privadas de sua
liberdade. Instituições femininas e masculinas; com jovens e idosos; espaços de condenação
em regime fechado e aberto; de grande porte e pequeno porte, com sistema de segurança
máxima e segurança mínima. Assim, a leitura histórica da pena de prisão e as perspectivas de
educação implantadas neste espaço, permitiram uma melhor compreensão sobre o
atendimento e os conflitos da prática pedagógica nas prisões.
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REFERÊNCIAS
BOIAGO, Daiane Letícia. NOMA, Amélia Kimiko. Políticas Públicas para Educação
Prisional no Estado do Paraná pós 1990. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA
DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO. Paraná. Anais eletrônicos... Maringá. 12 a 14 de
junho de 2013. Universidade Estadual de Maringá. Maringá: UEM, 2013.
______. Escola da ou na Prisão? Cadernos Cedes. Campinas, v. 36, n. 98, jan.-abr., 2016. p.
25-42.
OLIVEIRA, Giselle Abreu de. PALAFOX, Gabriel Humberto Muñoz. Análise de limitações
e possibilidades para as pesquisas sobre políticas educacionais, considerando as abordagens,
fenomenológicas e materialista dialética. Práxis Educativa. Ponta Grossa, v.9, n.2, p.419-
441, jul/dez, 2014.
SILVEIRA, Maria Helena Pupo. Educação nas prisões do Paraná. In: III CONGRESSO
BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. Paraná. Anais eletrônicos... Curitiba. 07 a
10 de novembro de 2004. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba: PUCPR,
2004. Disponível em
<http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documentos/Individ/Eixo7/423.pdf> Acesso
em 05 jun. 2013.