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Resumo
O propósito desse artigo é o de discutir o uso da tecnologia em um Projeto de
formação profissional continuada desenvolvido pela PUCSP1 em convênio com a SEESP2.
Inicialmente discorremos sobre tecnologia na formação do professor de Matemática; em
seguida abordamos o processo de educação continuada em análise e apresentamos o ambiente
de ensino a distância3 que deu suporte ao curso. Em particular, analisamos um dos módulos
do curso, o de “Novas tecnologias e seu uso nas aulas de Matemática” e discutimos a questão
posta no título: O uso de tecnologia no processo de formação do professor de matemática
pode auxiliar na produção de mudanças em sua prática pedagógica? Finalizando
apresentamos as conclusões sobre a tecnologia usada no contexto da formação profissional,
como provocadora de mudanças na prática profissional do professor.
1
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.
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O kmsociety - Learning management System – Ambiente de EaD utilizado no projeto.
O USO DE TECNOLOGIA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
DE MATEMÁTICA PODE AUXILIAR NA PRODUÇÃO DE
MUDANÇAS EM SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA?
Nielce Meneguelo Lobo da Costa – UNIBAN
Ruy César Pietropaolo – UNIBAN
Alexandre Campos Silva – PUCSP
INTRODUÇÃO
Hoje não mais podemos ignorar a tecnologia e nem seu potencial nos processos que
envolvem a aprendizagem. Especificamente em relação ao computador, consideramos que,
uma vez presente no ambiente de aprendizagem ele não é neutro e interfere no processo,
exercendo uma influência que deve ser considerada e investigada.
Neste artigo discutimos o uso da tecnologia em um Projeto de formação profissional
continuada desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) em
convênio com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, o curso de “Especialização
em Educação Matemática para Professores do Ensino Médio”. Analisamos as contribuições
que a tecnologia pode ter dado ao desenvolvimento profissional dos docentes. O processo de
educação continuada se desenvolveu formato bimodal, ou seja, incluiu parte presencial e
parte a distancia, assim sendo a tecnologia permeou todo o curso. Os professores-alunos
tiveram o suporte de um ambiente de ensino a distância4 por meio do qual puderam se
comunicar tanto com os professores-formadores quanto com os demais professores-alunos e,
além disso, o ambiente foi utilizado para a disponibilização de materiais de apoio, assim
como para o depósito e compartilhamento das produções desses professores-alunos. No
curso, além dos estudos teóricos e matemáticos os professores-alunos, trabalhando em
pequenos grupos, criaram e analisaram seqüências didáticas, para em seguida, desenvolver
pesquisas em suas salas de aula e, ao final, escrever uma monografia individual.
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Ambiente EaD utilizado no projeto: kmsociety LMS (Learning management System) disponível em:
www.kmsociety.com.br/pucmat
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assessoramento do professor; privilegia-se a construção colaborativa do conhecimento, dada a
facilidade para trocas de informações e pesquisa pela internet. O planejamento de cursos de
formação de professores em ambientes virtuais deve focar o processo de aprendizagem, as
reflexões sobre as práticas pedagógicas, a comparação entre o ensino e a aprendizagem nos
ambientes convencionais e nos virtuais. É fundamental, ainda, a integração das estratégias de
mediação e a escolha de técnicas em concordância aos objetivos pretendidos (Masetto, 2000).
Partindo da hipótese que quando a formação se faz com uso da tecnologia o professor
se familiariza com ela, o que pode levá-lo a ter um novo olhar sobre ela, procuramos investigar
se o uso de tecnologia pode auxiliar na produção de mudanças na prática pedagógica.
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(ou a atividade) era discutida pelo formador. A avaliação do professor-aluno no módulo
envolveu o acompanhamento das suas atividades pelo professor e, levando-se em
consideração as características específicas de cada módulo, foram feitas avaliações
particulares. Além dos módulos, fez parte do processo de formação a realização de uma
pesquisa em sala de aula – que gerou a monografia de conclusão de curso – feita com a
supervisão de um professor orientador por aluno. O importante papel desse trabalho de
conclusão foi o levar cada professor-aluno a desenhar uma seqüência didática (com o auxílio
de um grupo de outros professores-alunos), empreender a pesquisa em sua sala de aula e, a
seguir, analisar e obter os resultados de pesquisa. Procurou-se, dessa forma, criar condições do
professor-aluno refletir sobre sua prática.
Nossa pesquisa sobre o processo de formação continuada envolveu 152 alunos5, mas
pelas limitações normais de um artigo faremos um recorte focando de forma mais específica
o módulo de “Novas tecnologias e seu uso nas aulas de Matemática”.
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Respectivamente das turmas: H, N, F e D.
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www.kmsociety.com.br/pucmat
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professor-formador. Na figura 1 está uma visão geral de portfólios de turma
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Como afirmam Paloff & Pratt (2002), a troca de mensagens nos fórum de discussão,
onde todos expressavam seus pensamentos, contribuiu no processo de aprendizagem. Abaixo
alguns depoimentos que evidenciam discussões sobre a matemática envolvida:
Oi pessoal, conseguiram achar as 11 superfície de um cubo? Consegui!!! Com a ajuda
dos colegas da escola. Se precisar me escreva. (Aluno I - 25/05/2006 22:45:47).
Vamos ver se eu entendi: f é a função; f(x) é o valor que a função assume no ponto x;
Portanto, x é a variável independente da função e y é a variável dependente, pois todos os
valores de y dependem dos valores que x assumir. (Aluno N - 30/06/2006 20:35:48)
“Eu complemento. Se aprendemos somente de uma forma, como ter certeza se ela é a
forma mais correta? " Sobre sua pergunta, Edgar , achei duas formas de se provar se a
raiz de 3 é irracional, mas para mim é muito complexo.Fiz uma pesquisa pelo google.Vc
ira achar um montão de provas. Abraços” (Aluno A 14/06/2006, 18:37:39)
Olá Alberto. Obrigado pela dica... Realmente há outras formas de provar que um
número é irracional, e como você escreveu - é muito complexa - Um abraço e até
Sábado... (Aluno E 14/06/2006 21:57:38)
Como se pode inferir pelos depoimentos acima o Aluno A e o Aluno E, estão
trocando experiências e sinalizando que têm dificuldades para provar que 3 é irracional.
O fato dos alunos se encontrarem semanalmente na Universidade intensificou e deu
continuidade ao diálogo entre eles. Desta forma a comunicação foi potencializada por terem
dois ambientes de interação, a sala de aula e o fórum de discussão no ambiente de EaD.
Edgar, Que bom! Caso tenha alguma dúvida quanto ao uso do programa, fique a
vontade para perguntar. Conheço bem este software. Neide (Aluno N para aluno E
5/06/2006 22:35:06)
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Caros colegas visitem que terão algumas orientações sobre a função translação:
www.prof2000.pt/users/folhalcino/aula/funcoes10/funcoestransformacoes. (Aluno N para
todos 24/06/2006 19:35:18)
... é importante salientar e reafirmar tudo o que os nossos colegas já disseram, o ensino
de Análise Combinatória deve ser iniciado logo nos primeiros anos de estudo para que
as tomadas de decisões destes alunos, e a compreensão do mundo real já ocorra a
partir das séries iniciais. (Aluno V 06/09/2006 20:05:40)
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Parâmetros Curriculares Nacionais
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(Graphmatica) e apllets da internet tais como a calculadora de cores (Colour calculator8). Os
professores-alunos complementaram o estudo com atividades a distância as quais
envolveram a participação em dois fóruns de discussão, a leitura de textos e artigos e a
análise didática de atividades, além de relatórios das oficinas presenciais feitas no laboratório
de informática. A avaliação do módulo foi feita por meio da análise dos relatórios dos
professores-alunos sobre as oficinas das quais participaram, das inserções nos fóruns e das
atividades de análise didática. Ao final do curso Ao final do módulo os alunos tiveram como
atividade avaliar o curso, respondendo à pergunta: Descreva os aspectos marcantes de sua
trajetória no curso. A partir dos dados coletados nos fóruns, nos relatórios e na última
atividade procedemos a analise.
Um exemplo de discussão sobre o papel o das TICs ocorreu no fórum com o tema:
Você é contra ou a favor do uso da calculadora no Ensino de Matemática?. Nele o aluno
opinou e discutiu com os colegas e com o professor-formador sobre a prática pedagógica.
Como foi discutido no nosso grupo, o uso da calculadora, sendo ferramenta cabe ao
professor direcionar e orientar o educando. Pessoalmente, faço o uso da calculadora com
meus alunos. Pois muitas atividades, são longas e com o uso da calculadora otimizamos e
muito na aula o nosso tempo. Isso não quer dizer que o aluno se utilizará somente da
calculadora e não teremos desafios de lógica ou de raciocínio. E mesmo nos utilizando
pouco uso da calculadora nem todos sabem a tabuada. Tenho certeza que isso não é
culpa da calculadora. (Aluno A 21/08/2006 13:31:13)
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Colour calculator é um applet desenvolvido pela canadense N. Sinclair, disponível em
http://tapor1.mcmaster.ca/
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Julgo que a forma como o curso foi implantado, atinge os objetivos propostos, mas
assinalo o exíguo tempo em sala de aula, especialmente nas aulas de laboratório de
informática, como algo que possa ser aperfeiçoado com o tempo.
O Aluno F, por esse depoimento sinaliza que já utilizou a atividade em sua sala de
aula, o que é uma evidência de influência do curso na prática docente.
Este módulo foi muito diferente dos demais, mesmo já tendo trabalhado com o
Graphmatica, Cabri Geometrice e o Excel, pudemos ter o contato com a calculadora
cientifica, o Dynagraph e o Colour calculator. Softwares diferentes, cada um com sua
singularidade, interessantes e de fácil manuseio. São excelentes ferramentas para a
investigação, analise e interpretação. Onde o discente, poderá construir manipular e se
apropriar dos resultados obtidos para construir e solidificar os conceitos.
Os alunos indicaram que foi relevante a abordagem de novos aspectos de uso das TICs
no ensino da matemática, como se observa pelas inserções seguintes:
... perceber uma outra visão sobre calculadora, além do uso de computadores que
sempre considero como destaque.Fiquei fascinado com a utilização da calculadora de
cores e mesmo do micromundo Dynagraph, tem como a forma de explorar funções
matemáticas de uma maneira diferente da usual do currículo de matemática. (Aluno E1)
CONCLUSÕES
A tecnologia potencializou a aprendizagem compartilhada, observamos que houve colaboração
por meio do ambiente de EaD, principalmente nas situações problemáticas para os professores-
alunos, isto é, quando enfrentavam dificuldades na realização das atividades. As atividades de análise
didática foram fundamentais assim como os fóruns de discussão para provocar a reflexão sobre a
prática. Concluímos que quando a tecnologia é usada no contexto da formação profissional, inclusive
sendo analisada e acompanhada de propostas de uso no contexto da Matemática, ela pode provocar
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mudanças na prática profissional do professor. Para isso é fundamental que as atividades e situações
propostas na formação favoreçam a exposição e debate das idéias dos professores participantes da
formação, a colaboração e a aprendizagem compartilhada.
REFERÊNCIAS
Jahn, A. e Healy, L. Novas tecnologias e seu uso nas aulas de Matemática. Proem Editora,
São Paulo, 2006.
Masetto, M. “Mediação Pedagógica e o Uso das Novas Tecnologias" In: MORAN, J. e al. Novas
Tecnologias e Mediação Pedagógica, Editora Papirus, Campinas, S.P., 2000.
Ponte, J.P. Da formação ao desenvolvimento profissional. Conferência no Encontro Nacional de
Professores de Matemática. In: Actas do ProfMat 98, pp. 27-44. Lisboa: APM, 1998. Disponível
em <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/artigos_pt.htm> Acesso em 20/07/2003.
_____. O conhecimento profissional dos professores de matemática. Relatório final de Projecto “O
saber dos professores: Concepções e práticas”. Lisboa: DEFCUL, 1997.
Pallof, R. M; Pratt, Keith. Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço –
Estratégias eficientes para a sala de aula on-line. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Valente, J. A. Computadores na Sociedade do Conhecimento. Campinas: NIED/Unicamp, 1999.