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Psicologias Sociais
Cientificista e Crítica: Um
Debate que Continua
“Scientificist” And “Critical” Social Psychologies:
A Debate That Goes On
Mariana Prioli
Cordeiro
Universidade
de São Paulo
Artigo
Esse trabalho
contou com apoio
do Conselho
Nacional de
Desenvolvimento
Científico e
Tecnológico
(CNPq).
Resumo: Diversos autores falam de ao menos duas versões da Psicologia social: uma anterior e outra
posterior à crise de referência que assolou essa área do conhecimento na década de 70. A primeira
tinha uma base positivista, já a segunda se caracterizava por defender uma ciência comprometida com a
transformação social. Em geral, esses textos narram a história da Psicologia social destacando personagens,
acontecimentos e ideários. Neste artigo, seguindo a proposta da teoria ator-rede, acrescentamos novos
elementos a essa história e falamos dos atores humanos e não humanos, das materialidades e socialidades,
que contribuíram para construir a Psicologia social brasileira. Concluímos o texto argumentando que a crise
de referência não eliminou por completo a Psicologia social positivista, substituiu-a por uma vertente crítica,
pois, ainda hoje, ambas coexistem. Argumentamos, portanto, que a Psicologia social brasileira é complexa,
e que essa complexidade não cabe na tênue linha do tempo que muitas vezes traçamos para representar
o desenvolvimento de disciplinas acadêmicas.
1Muitos(as) Palavras-chave: Psicologia social – história. Psicologia marxista. Psicologia experimental. História da ciência.
pesquisadores(as)
da TAR utilizam Abstract: Many authors discuss about at least two versions of social psychology: one previous and the other
técnicas etnográficas posterior to the reference crisis which characterized this area of knowledge in the 70s. The first one had a
tradicionais para seguir positivist basis and the second one was committed to transform the society. Most of the times, those texts
os atores que fazem narrate the history of social psychology highlighting characters, facts and ideas. In this paper, following the
parte de uma rede. methodology proposed by the actor-network theory, we added new elements to this history and discussed
Acompanham ao the human and non-human actors, the materialities and socialities that contributed to build the Brazilian
vivo o surgimento e o
social psychology. We conclude the text arguing that the reference crisis didn´t eliminate completely the
desaparecimento de
vínculos e associações
positivist social psychology but substituted it for the “critical” one, because both coexist until today. Therefore,
entre atores we argue that Brazilian social psychology is complex and that this complexity doesn´t fit into those tenuous
heterogêneos; falam, time lines we often use to represent the development of academic disciplines.
portanto, do presente. Keywords: Social psychology – history. Marxist psychology. Experimental psychology. History of science.
No entanto, isso
não quer dizer que Resumen: Diversos autores hablan de al menos dos versiones de la Psicología Social: una anterior y otra
as ideias propostas posterior a la crisis de referencia que asoló esta área del conocimiento en la década de 1970. La primera
pela TAR não possam tenía una base positivista, ya la segunda se caracterizaba por defender una ciencia comprometida con
servir para pensar la transformación social. En general, esos textos narran la historia de la Psicología Social destacando
sobre o passado –
personajes, acontecimientos e idearios. En este artículo, siguiendo la propuesta de la Teoría Actor-Red,
o próprio Latour
realizou pesquisas
agregamos nuevos elementos a esa historia y hablamos de los actores humanos y no humanos, de las
sobre controvérsias materialidades y socialidades, que contribuyeron para construir la Psicología Social brasilera. Concluimos el
científicas bastante texto argumentando que la crisis de referencia no eliminó por completo la Psicología Social “positivista” y la
antigas. Além disso, substituyó por la “crítica”, pues, aún hoy, ambas coexisten. Argumentamos, por lo tanto, que la Psicología
no presente trabalho, Social brasilera es compleja, y que esta complejidad no cabe en la tenue línea del tiempo que muchas
não buscamos contar veces trazamos para representar el desarrollo de disciplinas académicas.
a história da Psicologia Palabras clave: Psicología social – historia. Psicología marxista. Psicología experimental. Historia de la ciencia.
social brasileira tal
como os historiadores
a fariam, mas,
assim como Latour,
buscamos usar a Diversos textos introdutórios à Psicologia principalmente, por defender uma ciência
história “como um social brasileira (Bernardes, 2007; Bock & comprometida com a transformação social.
neurocientista usaria
um rato” (1998, p. Furtado, 2007; Ferreira, 2011; Mancebo,
12), abrindo seu Jacó-Vilela, & Rocha, 2003; Tittoni & Em geral, esses textos narram a história da
corpo para seguir
Jacques, 2001) falam de ao menos duas Psicologia social destacando personagens,
os mecanismos
que nos permitem versões dessa disciplina: uma anterior e acontecimentos e ideários. Neste artigo,
compreender os outra posterior à crise de referência que seguindo a proposta de autores da teoria ator-
conteúdos e os
contextos de uma atingiu essa área do conhecimento na década rede (TAR) (Latour, 2008; Law, 1992; Mol &
ciência. “Por essa de 70. Segundo esses autores e autoras, a Law, 2002), acrescentaremos novos elementos
razão, a apresentação
primeira era marcada pela hegemonia da a essa história e falaremos, também, de livros,
de materiais
documentais não Psicologia social norte-americana, tinha uma instrumentos, escalas, transcrições, etc1, ou
segue o caminho base positivista e Aroldo Rodrigues era seu seja, falaremos dos atores humanos e não
proposto pela
História, mas a rede principal representante brasileiro. A segunda, humanos, das materialidades e socialidades,
de associações que por sua vez, caracterizava-se por fazer uma que contribuíram para construir a Psicologia
lentamente fazem o
severa crítica ao modelo biologicista e, social que temos nos dias de hoje.
mundo” (1998, p.12).
Ao optar por seguir essa postura teórico- coisas; dizem, simplesmente, que nenhuma
metodológica, partiremos do pressuposto ciência do social pode existir se não explorar,
de que a realidade não é um fato externo, primeiramente, a questão do que e de quem
objetivo e sujeito à interpretação cultural da participa da ação – ainda que isso signifique
ciência. Pelo contrário, é algo construído e permitir que se incorporem elementos não
reconstruído ativamente. E, para descrever humanos à resposta.
como ocorre esse processo de construção e de
reconstrução, focaremos na heterogeneidade Também é importante ressaltarmos que dizer
material das redes de atores humanos e não que não há diferença fundamental entre
humanos que compõe essa realidade e a pessoas e objetos é uma atitude analítica, e
descreveremos a partir de uma ontologia não uma posição ética. Afinal, segundo Law,
relacional. Em outras palavras, partiremos do isso não significa que tenhamos de tratar as
pressuposto de que só podemos falar do real pessoas como máquinas ou que tenhamos de
ao nos referirmos a uma multiplicidade de negar os direitos, deveres e responsabilidades
materiais heterogêneos conectados em forma que usualmente lhes atribuímos, mas que
de uma rede que tem múltiplas entradas,
podemos usar essa atitude “para aprofundar
está sempre em movimento e aberta a novos
questões éticas sobre o caráter especial do
elementos que podem se associar de forma
efeito humano – como, por exemplo, em
inédita e inesperada. Todos os fenômenos
casos difíceis tais como os de vida mantida
são efeitos dessas redes que mesclam
artificialmente por causa das tecnologias de
simetricamente pessoas e objetos, dados da
tratamento intensivo” (1992, p. 4).
natureza e dados da sociedade, oferecendo-
lhes igual tratamento (Melo, 2007, p. 170).
Trataremos, portanto, da chamada crise
de referência da Psicologia social brasileira
Oferecer-lhes igual tratamento não significa
como efeito das associações entre uma
estabelecer a priori o que é social, o que
série de elementos heterogêneos. Esses
é natural ou o que é tecnológico, significa
elementos, humanos e não humanos, não
não estabelecer uma hierarquia ou uma
estão localizados apenas no Brasil, nem
ordem de prevalência entre os atores de
uma rede, significa considerar que qualquer pertencem apenas ao campo psicossocial.
coisa – pessoa ou objeto – cuja incidência Afinal, o movimento de abalo teórico
modifique um estado de coisas seja um ator que marcou essa área do conhecimento
marcou também a Sociologia das décadas
(Latour, 2008).
de 60 e de 70. Nesse período, a Sociologia
É importante ressaltarmos que dizer que europeia traduzia, sobretudo, o declínio
os não humanos participam da história da do impulso modernizante do pós-guerra
Psicologia social não significa dizer que eles a (Lallement, 2008), enquanto, na América
determinam. Afinal, segundo Latour, existem Latina, ela traduzia a repressão político-
muitos matizes metafísicos entre a plena cultural dos regimes ditatoriais (Liedke Filho,
causalidade e a mera inexistência: além de 2005). A guerra e o autoritarismo levaram
“determinar”, ou de “servir como pano de ao enfraquecimento da fé na igualdade de
fundo da ação humana”, as coisas podem oportunidades e ao esgotamento das garantias
autorizar, permitir, sugerir, dar recursos, de coesão social pelo simples crescimento
influenciar, proibir, bloquear, etc. Sendo econômico, fazendo com que instituições –
assim, os autores da TAR não propõem a como a escola, a prisão e a fábrica – fossem
afirmação vazia de que são os objetos – e questionadas, favorecendo, com isso, o
não os atores humanos – que fazem as fortalecimento das correntes neomarxistas.
Segundo Lane, nesse mesmo período, os fundamentos do que mais tarde viria a ser
a eficácia da Psicologia social norte- conhecido como a escola socio-histórica da
americana começou a ser problematizada PUC-SP2.
pelos europeus. Na França, por exemplo, a
tradição psicanalítica foi retomada com toda São justamente as diferenças entre essa
2 Com o fortalecimento
dessas teorias e a veemência após o movimento de maio de escola fundada por Lane e a corrente norte-
metodologias, 68, e a tradição norte-americana foi criticada americana defendida por Rodrigues o foco
começou a pensar-se
por ser “uma ciência ideológica, reprodutora deste artigo. Optamos por fazer esse recorte
na necessidade de
criar uma associação dos interesses da classe dominante, e produto por duas razões principais: primeiramente,
que representasse de condições históricas específicas” (2001, p. pela inviabilidade de descrever todas as
as novas Psicologias
sociais. De acordo com 11). Esse movimento repercutiu na Inglaterra, psicologias sociais criadas no Brasil a partir
Lane e Bock (2003), “onde Israel e Täjfell analisaram a ‘crise’ da década de 70, e, em segundo lugar, pelo
essa necessidade foi
sob o ponto de vista epistemológico com os fato de alguns autores (como Strey et al.,
bastante discutida
durante o congresso diferentes pressupostos que (embasavam) o 2007; Lima, 2009; Sá, 2007, entre outros)
da SIP de 1979, sendo conhecimento científico – (era) a crítica ao se referirem a Lane como uma das principais
que, logo após o
evento, foi nomeada positivismo, que, em nome da objetividade, opositoras do modelo positivista defendido
uma comissão para (perdia) o ser humano” (2001, p. 11). por Rodrigues.
redigir o estatuto dessa
nova associação. No
ano seguinte, durante Segundo Bernardes (2007), a despeito de ter No entanto, diferentemente da maioria
a reunião anual da abalado os princípios da Psicologia europeia dos textos sobre a história da Psicologia
Sociedade Brasileira
para o Progresso da na década de 60, essa crise de referência social brasileira, não focaremos nossa
Ciência (SBPC), esse começou a fortalecer-se no Brasil e em análise exclusivamente em divergências
estatuto foi votado e
outros países da América Latina com uma epistemológicas e/ou éticas, mas
aprovado, instituindo
oficialmente a década de atraso, principalmente durante consideraremos, também, as práticas que
Associação Brasileira os congressos da Sociedade Interamericana há décadas vêm caracterizando essas duas
de Psicologia
Social (ABRAPSO). de Psicologia (SIP), como nos realizados psicologias sociais. Em um primeiro momento,
Segundo as autoras, em Miami-EUA (1976) e em Lima-Peru analisaremos textos que descrevem pesquisas
as intenções políticas
(1979). De acordo com o autor, os principais realizadas ou orientadas por Rodrigues e
da ABRAPSO sempre
foram “a construção motivos de insatisfação foram: a dependência Lane e apontaremos algumas diferenças
de uma psicologia teórico-metodológica, principalmente dos fundamentais dessas duas maneiras de fazer
social crítica, voltada
para os problemas Estados Unidos, a descontextualização dos pesquisa em Psicologia social (tópico 1).
nacionais, que acatasse temas abordados, a superficialidade e a Em um segundo momento, identificaremos
diferentes correntes
simplificação das análises desses temas, a alguns dos usos que os trabalhos desses
epistemológicas,
desde que filiadas ao individualização do social e a ausência de autores possuem nos dias de hoje. Com isso,
compromisso social preocupação política. procuramos discutir em que medida a crise de
de contribuir para a
construção de uma referência representou uma mudança radical
sociedade mais justa. De acordo com Jacó-Vilela (2007), essas de paradigmas (tópico 2).
A ABRAPSO nasceu
insatisfações levaram ao desenvolvimento
da insatisfação com
a psicologia européia e/ou à adoção de diferentes teorias e As psicologias sociais de Aroldo
e americana. Os metodologias: um grupo de pesquisadores,
problemas de nossa Rodrigues e de Silvia Lane
sociedade, marcada liderado por Ângela Arruda e Celso Sá,
pela desigualdade começou a realizar trabalhos a partir
social e pela miséria, A Psicologia social de Rodrigues (1972)
de teorias europeias, especialmente a
não encontravam consiste em realizar um estudo científico
soluções na psicologia das representações sociais; outro grupo,
do processo de interação humana, ou seja,
social importada como liderado por Lapassade, Saidón e Barenblit,
um saber universal é uma ciência básica cuja única forma de
dos países do Primeiro desenvolveu a análise institucional; já Silvia
intervenção é indireta: ela fornece dados
Mundo” (p. 149). Lane coordenou o grupo que estabeleceu
objetivos para que tecnólogos sociais possam Psicologia social de suas pesquisas e livros
resolver problemas sociais. Nas palavras do resgata a subjetividade, e não vê o indivíduo
autor, como produto de si mesmo. Em suas palavras:
Sendo assim, a essa Psicologia social caberia Sendo assim, o homem a que a autora se
“Dessa forma, o papel de estudar, através do método refere é diferente do que aparece nos textos
conscientes ou
não, sempre a científico, a interação humana e suas de Rodrigues. Considerar o ser humano
pesquisa implica consequências cognitivas e comportamentais, dessa maneira implica uma atuação mais
intervenção, ação enquanto a tecnologia social seria responsável consequente da Psicologia, na qual teoria e
de uns sobre
outros” (Lane,
por usar esse conhecimento para transformar prática devem andar sempre juntas (Lane,
2001, p. 18). a realidade. Nessa Psicologia social, estudar 1985). Em outras palavras, implica que o
um determinado fato a partir do método conhecimento seja compreendido, antes de
científico significa orientar-se pelo seguinte tudo, como práxis.
esquema: em um primeiro momento, parte-
se de uma teoria para levantar hipóteses. Em Considerar a Psicologia social como práxis
seguida, testam-se as hipóteses levantadas significa, segundo Lane, abrir mão da busca
e analisam-se os dados colhidos. Por fim, pela neutralidade científica. Afinal, em
confirmam-se ou rejeitam-se as hipóteses sua ciência, tanto o pesquisador quanto o
iniciais (Rodrigues, 1972). pesquisado são, ao mesmo tempo, produtos
e agentes histórico-culturais, e definem-se por
De acordo com o autor, esse esquema meio de relações sociais que tanto podem
deve ser marcado pela neutralidade do(a) reproduzir as condições sociais em que ambos
psicólogo(a) social em sua procura pelas estão inseridos quanto podem transformá-las.
relações não aleatórias entre variáveis. “Dessa forma, conscientes ou não, sempre a
Apesar de Rodrigues admitir que a escolha pesquisa implica intervenção, ação de uns
do tema e o relatório do cientista podem sobre outros” (Lane, 2001, p. 18).
não ser neutros, para ele, “o produto final,
isto é, o conhecimento novo que surge, Segundo Rodrigues (1989), essa ênfase
esse é inexoravelmente neutro, pois toda na práxis e no compromisso social do(a)
a comunidade científica o fiscaliza” (1985, pesquisador(a) foi o principal desencadeador
p. 19). da crise que atingiu a Psicologia social
em meados da década de 70. De acordo
Contrariamente a Rodrigues, Lane critica com o autor, a gravidade dos problemas
a defesa da neutralidade da ciência e da sociais da época gerou certo sentimento
objetividade dos fatos. Sendo assim, a de culpa nos psicólogos sociais, o que fez
Mas não é somente em pesquisas que Nesse exemplo, podemos ver claramente
essas psicologias sociais se chocam. Nas que a divergência entre esses dois grupos de
pesquisadores não está somente na defesa autores continuam sendo lidos e seus textos
ou na crítica da dicotomia teoria/prática, continuam compondo a lista de bibliografia
mas está também no posicionamento acerca básica de disciplinas acadêmicas e de
do compromisso político do pesquisador. concursos públicos.
Se, para o grupo de Lane (1985, 2001),
o psicólogo social é aquele que busca Um debate que continua
transformar a realidade, no de Rodrigues,
“o único engajamento admissível em ciência O livro Psicologia Social, de Rodrigues, por
é... o compromisso desinteressado, objetivo exemplo, está na 28ª edição4, e fez parte das
e persistente na busca da verdade acessível listas de referências bibliográficas indicadas
ao arsenal metodológico disponível” (1989, em vários editais recentes, como o edital
p. 129). n.º 021/2008, do concurso público para
professor efetivo na área de Psicologia Social,
Outra importante diferença entre essas Organizacional e do Trabalho da Universidade
psicologias sociais refere-se ao posicionamento Federal de Uberlândia (UFU), dos editais
em relação à universalidade da ciência. Para dos concursos para psicólogo da Prefeitura
Lane, Municipal de Caraá – RS (n.º 008/2004) e da
Prefeitura Municipal de Pitanga – PR (edital
o saber humano não é universal nem n. 01/2009), bem como do edital de seleção
eterno, e o homem é historicamente
2010.1 do mestrado em Psicologia Social
situado, bem como os problemas que
o afligem. Portanto, a realidade social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
não pode ser compreendida por teorias Outro livro de Rodrigues bastante utilizado
importadas, seja dos Estados Unidos, é Psicologia Social para Principiantes: Estudo
seja da Europa. É preciso conhecer
quem é o homem que se constitui nas da Interação Humana, que foi reeditado em
condições sócio-históricas da América 2010.
Latina. Não se trata de abandonar o acervo
teórico acumulado árdua e rigorosamente
Os livros de Lane, como O que É Psicologia
pela Psicologia social, mas de mudar
a sensibilidade epistemológica para Social (Lane, 1981) e Psicologia Social: Homem
rever-se à luz dos novos atores sociais, em Movimento (Lane & Codo, 1984/2001),
das necessidades, idéias e emoções que também permanecem sendo reimpressos/
objetivam na atividade cotidiana (Lane &
reeditados, estando, respectivamente, na 22ª
Sawaia, 2006, p. 8)
e na 13ª edição (7ª e 5ª reimpressão). Além
disso, suas leituras também continuam a ser
Já Rodrigues discorda dessa ênfase na geração
exigidas em concursos e processos seletivos,
de teorias e métodos próprios a um país ou
tais como o da Prefeitura Municipal de
3 Latour (2008) faz região. Apesar de não ser contra a produção
uso da expressão Reserva do Iguaçu – PR (edital n.º 01/2009)
de teorias e métodos novos na América
“caixa-preta” para e o da Universidade Federal de Uberlândia –
se referir-se a todo Latina, o autor critica a ênfase dada à busca
UFU (edital n.º 099/2009).
conhecimento de idiossincrasias quando, a seu ver, a ciência
legitimado pela
ciência, de tal forma deve procurar universais.
Os livros de Lane são, também, bibliografia
que ele se torna
quase indiscutível. básica de disciplinas introdutórias à Psicologia
Essas controvérsias entre Lane e Rodrigues
social de vários cursos de graduação, como,
4 As edições mais constituem um bom exemplo da diversidade
por exemplo, o da Universidade Federal
recentes desse livro de versões da Psicologia social brasileira.
estão em coautoria de Santa Catarina (UFSC) (http://psicologia.
com Eveline M. L. E é interessante notarmos que, mesmo
ufsc.br/files/2012/02/ANDREA-ZANELLA-
Assmar e Bernardo após anos de debate, a caixa-preta3 não
Jablonski. A 28ª PSI-7505-Psicologia-Social-II-2012.1.pdf) e
se fechou, muito pelo contrário, ambos os
edição é de 2010. o da Universidade Federal do Rio Grande
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