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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PROCESSO CIVIL

1. Acesso áá justiçá
1.1 Direito à jurisdição

O art. 10º Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece que “toda a
pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente
julgada por um Tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja
deduzida”. Este direito à justiça sem qualquer discriminação por motivos económicos é
uma consequência do Estado social de direito que se encontra consagrado no art. 3º
CRM.
O acesso à justiça não é, aliás, o único direito fundamental assegurado ao cidadão
na área da protecção dos direitos: adequadamente, o art. 62º/1 CRM atribui, a par da
garantia de acesso aos Tribunais, uma garantia de acesso ao próprio direito. Sem este
“direito ao direito”, a garantia do acesso aos Tribunais poderia tornar-se vazia e ilusória,
dado que não importa criar as condições para aceder aos Tribunais se, simultaneamente,
não se possibilitar o conhecimento dos direitos que se podem defender através desses
órgãos. Nesta perspectiva, percebe-se que, a garantia do acesso ao direito envolva o
direito à informação e consultas jurídicas, ao patrocínio judiciário à protecção jurídica.

1.1.2 Garantias do acesso à justiça

Segundo Cappellitti considera os seguintes obstáculos ao acesso à justiça: o


obstáculo económico, se os interessados não estiverem em condições de aceder aos
Tribunais por causa da sua pobreza; o obstáculo organizatório, porque a tutela de
certos interesses colectivos ou difusos impõe uma profunda transformação nas regras e
institutos tradicionais do direito processual; finalmente, o obstáculo propriamente

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processual, porque os tipos tradicionais de processo são inadequados para algumas
tarefas de tutela.

2. Gárántiás do processo justo


2.1 Direito ao processo justo

Este direito pressupõe em garantir àquele que recorre aos Tribunais um julgamento
por um órgão imparcial, uma plena igualdade das partes, o direito ao contraditório, uma
duração razoável da acção, a publicidade do processo e a efectivação do direito à
prova.Por conseguinte, é necessário e relevante assegurar a qualquer interessado o
acesso à justiça, porém, tão importante como esse acesso é garantir que o processo a que
se acede apresenta, quanto à sua própria estrutura, garantias de justiça.

2.1.2 Imparcialidade do Tribunal


A imparcialidade e a independência dos tribunais constituem pressupostos
fundamentais para administração da justiça. A imparcialidade do Tribunal constitui um
requisito fundamental do processo justo. As garantias de imparcialidade do Tribunal
podem ser vistas, quer como garantias do Tribunal perante terceiros, quer como
garantias das partes perante o Tribunal. Naquela primeira perspectiva, as garantias de
imparcialidade costumam classificar-se em materiais e pessoais: as garantias materiais
respeitam à liberdade do Tribunal perante instruções ou quaisquer intromissões de outro
órgão do estado; as garantias pessoais protegem o juiz em concreto: são elas a
irresponsabilidade e a inamovibilidade.
Na perspectiva das partes, as garantias de imparcialidade referem-se à
independência do juiz e à sua neutralidade perante o objecto em causa.
Constitui ainda uma garantia das partes a chamada independência interna do juiz.
Refere-se esta às influências a que o juiz está sujeito pela sua origem, educação ou
processo de socialização. É este aspecto da independência interna que justifica a
proibição da prática de actividade político-partidárias de carácter público e de ocupação
de cargos políticos pelos magistrados judiciais em exercício de funções, bem como a
proibição do desempenho pelos mesmos de qualquer outra função pública ou privada,
salvo as funções docentes ou de investigação jurídica, desde que não remuneradas.
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3. Iguáldáde dás pártes
As partes devem possuir os mesmos poderes, direitos, ónus e deveres, isto é, cada
uma delas deve situar-se numa posição de plena igualdade perante a outra e ambas
devem ser iguais perante o Tribunal. Esta igualdade das partes, que deve ser assumida
como uma concretização do princípio da igualdade consagrado no art. 35º CRM.
O princípio da igualdade substancial não choca com o princípio da imparcialidade
do Tribunal. Esta imparcialidade traduz-se numa independência perante as partes, mas,
no contexto do princípio da igualdade, imparcialidade não é sinónimo de neutralidade: a
imparcialidade impõe que o juiz auxilie do mesmo modo qualquer das partes
necessitadas ou, dito de outra forma, implica, verificadas as mesmas condições, o
mesmo auxílio a qualquer delas; a neutralidade determina a passividade do juiz perante
a desigualdade das partes. Portanto, o juiz tem de ser neutro perante as situações de
desigualdade que existam ou que se possam criar entre as partes, mas deve ser imparcial
perante elas, dado que, quando tal se justifique, deve auxiliar qualquer delas.
O conteúdo negativo do princípio da igualdade substancial destina-se a impedir que
o juiz crie situações de desigualdade substancial entre as partes. Assim, por exemplo,
esse princípio obsta a que o Tribunal fixe, para cada uma das partes, prazos diferentes
para o exercício da mesma faculdade ou o cumprimento do mesmo ónus.

4. Gárántiá do contráditoá rio


O direito do contraditório – que é, em si mesmo, uma decorrência do princípio da
igualdade das partes estabelecido no art. 3ºCPC – possui um conteúdo multifacetado:
ele atribui à parte não só o direito ao conhecimento de que contra ele foi proposta uma
acção ou requerida uma providência e, portanto, um direito à audição antes de ser
tomada qualquer decisão, mas também um direito a conhecer todas as condutas
assumidas pela contraparte e a tomar posição sobre elas, ou seja um direito de resposta.

a) Direito à audição prévia:


O direito à audição prévia encontra-se consagrado no art. 3nº1 do CPC in fine (o
Tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a acção pressupõe sem que a
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resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para
deduzir oposição), embora possa sofrer as excepções genericamente previstas no art.
3nº2 do CPC (só nos casos excepcionais previstos na lei se podem tomar providências
contra determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida) assim, num
procedimento cautelar comum, o Tribunal só ouvirá o requerido se a audiência não
puser em risco sério o fim ou a eficácia da providência (art. 381/B CPC); a restituição
provisória da posse e o arresto são decretados sem a audiência da parte requerida (arts.
394º e 408nº1 CPC). É ainda o direito à audição prévia que justifica todos os cuidados
de que há que revestir a citação do réu e a tipificação dos casos em que se considera que
ela falta (art. 195º CPC) ou é nula (art. 198nº1 CPC) e que está subjacente à
possibilidade de interposição do recurso extraordinário de revisão contra uma sentença
proferida num processo em que tenha faltado a citação ou esta seja nula. (art. 771º-f
CPC) e de oposição e anulação da execução com base nos mesmos vícios (arts. 813º-d e
921º CPC).

b) Direito de resposta:

O contraditório não pode ser exercido e o direito de resposta não pode ser
efectivado se a parte não tiver conhecimento da conduta processual da contraparte.
Quanto a este aspecto, vale a regra de que cumpre à secretaria notificar oficiosamente as
partes quando, por virtude de disposição legal, elas possam responder a requerimentos,
oferecer provas ou, de um modo geral, exercer algum direito processual que não
dependa de prazo a fixar pelo juiz, nem de prévia citação (art. 229º/3 CPC).
O direito de resposta consiste na faculdade, concedida a qualquer das partes, de
responder a um acto processual (articulado, requerimento, alegação ou acto probatório)
da contraparte. Este direito tem expressão legal, por exemplo, no princípio da audiência
contraditória das provas constante do art. 517º CPC.
A violação do contraditório inclui-se na cláusula geral sobre as nulidades
processuais constante do art. 201º/1 do CPC (fora dos casos previstos nos artigos
anteriores, a prática de um acto que a lei não admita, bem como a omissão de um acto
ou de uma formalidade que a lei prescreva, só produzem nulidade quando a lei o declare
ou quando a irregularidade cometida possa influir no exame ou na decisão da causa),

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dada a importância do contraditório, é indiscutível que a sua inobservância pelo
Tribunal é susceptível de influir no exame ou decisão da causa.

5. Duráçáã o rázoáá vel do processo


A lentidão processual encontra causas endógenas e exógenas. Como causas
endógenas podem ser referidas as seguintes: a excessiva passividade – se não legal, pelo
menos real – do juiz da acção; a orientação da actividade das partes, não pelos fins da
tutela processual, mas por razões frequentemente dilatórias; alguns obstáculos técnicos,
como os crónicos atrasos na citação do réu e a demora no proferimento do despacho
saneador devida às dificuldades inerentes à elaboração da especificação e do
questionário. Outras causas da morosidade processual são exteriores ao próprio
processo: falta de resposta dos Tribunais ao crescimento exponencial da litigiosidade,
dada a exiguidade dos meios disponíveis; maior complexidade do direito material e
crescente uso nele de conceitos indeterminados e de cláusulas gerais, cuja
concretização, deficiência na preparação técnica dos profissionais forenses.
Uma consequência da morosidade da justiça é o recurso cada vez mais frequente às
providências cautelares como forma de solucionar os litígios, especialmente quando elas
podem antecipar a tutela definitiva ou mesmo vir a dispensá-la.
São várias as soluções habitualmente seguidas (ou tentadas) para obviar à
morosidade processual. Salientam-se, entre ela, as seguintes soluções: o estabelecimento
entre as fases do processo, ou mesmo no seu interior, de regras de preclusão, que
obstam a que um acto omitido possa vir a ser realizado fora do seu momento legalmente
fixado; o reforço do controlo do juiz sobre o processo; a concentração do processo numa
audiência na qual a causa possa ser discutida e, eventualmente, decidida.
O art. 2º/1 CPC, atribui à parte o direito de obter, num prazo razoável, a decisão da
causa, o que significa que o Estado tem do dever de disponibilizar os meios necessários
para assegurar a celeridade na administração da justiça.
Assim, a concessão deste direito à celeridade processual possui, para além de
qualquer âmbito programático, um sentido preceptivo bem determinado, pelo que a
parte prejudicada com a falta de decisão da causa num prazo razoável por motivos
relacionados com os serviços da administração da justiça tem direito a ser indemnizada
pelo Estado de todos os prejuízos sofridos. Esta responsabilidade do Estado é objectiva,

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ou seja, é independente de qualquer negligência ou dolo do juiz da causa ou dos
funcionários judiciais.

6.Publicidáde do processo
A publicidade do processo tornou-se possível com a introdução da oralidade e
contínua a possuir a justificação tradicional: ela é um meio para combater o arbítrio e
assegurar a verdade e a justiça das decisões judiciais. A essa publicidade estão
subjacentes os princípios fundamentais do Estado de direito, nomeadamente a
possibilidade de um controlo popular dos órgãos que – como sucede com os Tribunais –
exercem poderes de soberania.
A publicidade das audiências dos Tribunais constitui uma importante garantia numa
dupla dimensão: em relação às partes, ela assegura a possibilidade de um controlo
popular sobre as decisões que as afectam directamente; relativamente à opinião pública,
essa publicidade permite combater a desconfiança na administração da justiça.
A publicidade das audiências é, no entanto, excluída quando circunstâncias
ponderosas o aconselham.
A publicidade do processo implica o direito, reconhecido a qualquer pessoa capaz de
exercer o mandato judicial ou a quem nisso revele um interesse atendível, de exame e
consulta dos autos na secretaria do Tribunal e de obtenção de cópias ou certidões de
quaisquer peças nele incorporadas pelas partes. Este acesso aos autos é, porém, limitado
nos casos em que a divulgação do seu conteúdo possa causar dano à dignidade das
pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública ou pôr em causa a
eficácia da decisão a proferir.

7. Direito áà prová
A prova é a actividade destinada à formação da convicção do Tribunal sobre a
realidade dos factos controvertidos (art. 341º CC), isto é, dos factos que constituem a
chamada base instrutória (art. 511º/1 CPC). Essa actividade incumbe à parte onerada
(art. 342º CC), que não obstará uma decisão favorável se não satisfazer esse ónus (art.
516º; art. 346º CC).
Para cumprir o ónus da prova, a parte tem de utilizar um dos meios de prova legal
ou contratualmente admitidos ou não excluídos por convenção das partes (art. 345º CC).

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Dada a importância do cumprimento do ónus para a contraparte e para terceiros,
costuma falar-se de um direito à prova.
O direito à prova contém limites impostos pela protecção de direitos de terceiros:
aquele direito cede perante direitos de terceiros que mereçam do ordenamento jurídico
uma tutela mais forte. Em geral, os limites do direito à prova consubstanciam-se nas
chamadas provas proibidas, que podem ser tanto provas que são materialmente lícitas
mas processualmente proibidas, como provas que são materialmente e processualmente
proibidas.
Algumas provas são materialmente lícitas, mas, apesar disso, não são
processualmente admissíveis. Estas provas podem conduzir a uma proibição de
produção ou de valoração. Noutros casos, a prova pode ser produzida num processo,
mas não pode ser valorada numa outra acção.

TIPOLOGIA DAS ACÇÕES ( ART. 4 DO CPP)

1.Tipos de acções quanto á forma

1.1. Acções declarativas, visam a declaração, pelo tribunal, da solução concreta que decorre da
ordem jurídica para situação real que serve de base á pretensão

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a) Acções declarativas sob forma de processo comum:

- Processo ordinário

- Processo sumário

b) Acções declarativas sob forma de processo especial

1.2. Acções executivas, visam a realização coerciva das providências destinadas á


reparação do direito violado.

a) As execucões sob forma de processo comum: ordinário e sumário

- Execução para pagamento de quantia certa

- Execução para entrega da coisa certa, art.928 do CPC

-Execução para prestação de facto positivo ou negativo, art.933, do CPC

b)As execuções sob forma de processo especial

- Execução por custas

- Execução de alimentos

- Mandado de despejo

1.3. Obrigatoriedade de indicação da forma do processo

 Nos termos do art 467n∘1, al. b, do CPC, na petição incial, o autor deve indicar a
forma do processo.

 A indicação tem efeitos na distribuição da acção, art.222 do CPC.

 A indicação de uma forma de processo errada gera a anulação dos actos que não
possam ser aproveitados, art 199 do CPC.

2. Tipos de accões quanto ao seu objecto (art 4/2)

2.1. Accões de condenação

Ex: Acção de condenação para o pagamento de quantia certa

- Acção de despejo com condenação no pagamento de rendas em atraso

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- Acção para condenação na entrega de uam determinad coisa.

2.2. Acções de simples apreciação positiva ou negativa

Ex: Acção em que o autor pede não deve nada a ré (negativa)

- Acção de reconhecimento do direito de propriedade (positiva)

2.3. Acções constitutivas

Ex: Acção de despejo

- Separação judicial

- Acção de alimento

- Acção de divisão de coisa comum

O REGIME DO DIREITO MOÇAMBICANO SOBRE A COMPETÊNCIA INTERNACIONAL


LEGAL

As regras sobre competência internacional não são, consideradas em si mesmas,


normas de competência, porque não se destinam a aferir qual o Tribunal concretamente
para apreciar o litígio, mas apenas a definir a jurisdição na qual se determinará, então
com o recurso a verdadeiras regras de competência, qual o Tribunal competente para
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essa apreciação. Dada esta função, as normas de competência internacional podem ser
designadas por normas de recepção, pois que visam somente facultar o julgamento de
um certo litígio plurilocalizado pelos Tribunais de uma jurisdição nacional. É esta a
estrutura da generalidade dos critérios que constam do art. 65º/1 CPC.

Questoã es relátivás á competeê nciá


Competeê nciá Internácionál: Direito Interno

As normas de competência internacional servem-se de alguns elementos de


conexão com a ordem jurídica nacional para atribuir competência aos Tribunais do foro
para o conhecimento de uma certa questão. As normas de conflitos que definem as
condições em que os Tribunais do foro são competentes para a apreciação de um objecto
que apresenta uma conexão com várias ordens jurídicas podem designar-se por normas
de recepção. É essa a função dos vários critérios enunciados no art. 65º/1 CPC.
Estas normas de recepção definem a competência internacional dos Tribunais de
uma certa ordem jurídica. Elas decorrem tanto da regra segundo a qual, quando, o caso
em apreciação apresenta uma conexão relevante com uma ordem jurídica, os seus
Tribunais devem ser competentes para a acção, como do princípio de que, perante a
existência de uma tal conexão, os Tribunais daquela ordem devem recusar a
competência internacional, pois que isso pode equivaler a uma denegação de justiça.
Note-se que a conexão com uma certa ordem jurídica pode ser mais fraca do que aquela
que determina a aplicação do direito nacional ao caso sub iudice, porque não há
qualquer paralelismo necessário entre a atribuição da competência internacional e a
aplicação da lei material do foro.
A diferença entre a competência interna e a internacional consiste no seguinte: a
competência interna respeita às situações que, na perspectiva da ordem jurídica
Moçambicana, não possuem qualquer conexão relevante com outras ordens jurídicas; a
competência internacional refere-se aos casos que apresentam uma conexão com outras
ordens jurídicas.
As normas de recepção só determinam, através da referida conexão, que os
Tribunais de uma jurisdição nacional são competentes para apreciar uma relação
plurilocalizada. Essas normas não são normas de competência, porque não a atribuem a
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um Tribunal, antes se limitam a determinar as condições em que uma jurisdição
nacional faculta os seus Tribunais para a resolução de um certo litígio com elementos
internacionais. As normas de recepção preenchem, no âmbito processual, uma função
paralela àquela que as normas de conflitos realizam no âmbito substantivo: estas
determinam qual a lei aplicável a uma relação jurídica plurilocalizada (se a lei do foro
ou uma lei estrangeira); aquelas aferem se essa mesma relação pode ser apreciada pelos
Tribunais de uma certa ordem jurídica.

Competeê nciá convencinál: Direito interno

Pactos de competência

A competência interna é determinada através de um pacto de competência (pactum


de foro prorrogando). Em regra, o pacto de competência refere-se a uma questão que
não apresenta qualquer conexão com outras ordens jurídicas, mas isto não significa que
não haja pactos de competência referidos a relações jurídicas plurilocalizadas.
O pacto de competência só pode incidir sobre a competência em razão do valor e do
território, art. 100º/1 CPC.
O pacto de competência só é válido se acompanhar a forma de contrato substantivo,
se este for normal, ou se tiver a forma escrita, se aquele for consensual (art. 100º/2
CPC). Mas considera-se reduzido a escrito o acordo constante de documentos assinados
pelas partes ou o resultante de troca de cartas, telex, telegramas ou outros meios de
comunicação de que fique prova escrita, quer tais instrumentos contenham directamente
o acordo, quer deles conste uma cláusula de remissão para algum documento em que ele
esteja contido, art. 110º/2 do CPC.
Além disso, o pacto de competência deve designar as questões submetidas à
apreciação do Tribunal e o critério de determinação do Tribunal ao qual é atribuída a
competência, art. 100º/2, 2ª parte CPC.
O pacto de competência contém implicitamente uma renúncia antecipada – isto é,
anterior à propositura da acção – à arguição da excepção de incompetência relativa (art.
108º CPC), pois que é atribuída competência territorial a um Tribunal que, sem esse
contrato processual, não seria competente. Essa renúncia exige, como requisito ad
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substantiam, a forma escrita (art. 100º/2, 1ª parte CPC), pois que condiciona as
possibilidades de defesa do réu na acção proposta naquele Tribunal e, concretamente,
exclui a invocação da excepção de incompetência relativa.
A competência convencional interna é vinculada para as partes, pelo que a sua
infracção determina a incompetência relativa do Tribunal onde a acção foi
indevidamente proposta (art. 108º CPC).

Páctos de jurisdiçáã o
A competência convencional internacional pode ser determinada através de um
pacto de jurisdição (art. 99º/1 CPC). Esse pacto pode ser, quando considerado pela
perspectiva da ordem jurídica Moçambicana, atributivo ou privativo.
O pacto é atributivo, quando concede competência a um Tribunal ou a vários
Tribunais Moçambicanos; a competência atribuída pode ser concorrente ou exclusiva.
O pacto é privativo, quando retira competência a um ou a vários Tribunais
Moçambicanos e a atribui em exclusivo a um ou vários Tribunais estrangeiros (art. 99º/2
CPC).
Como o carácter atributivo ou privativo do pacto de jurisdição é definido em
relação à ordem jurídica Moçambicana, a validade de um desses pactos não é
vinculativa para os Tribunais de ordens jurídicas estrangeiras.

Modalidade de incompetência

A incompetência é a insusceptibilidade de um Tribunal apreciar determinada causa


que decorre da circunstância de os critérios determinativos da competência não lhe
concederem a medida de jurisdição suficiente para essa apreciação. Infere-se da lei a
existência de três tipos de incompetência jurisdicional: a incompetência absoluta e
incompetência relativa.

Incompetência absoluta

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Segundo o disposto no art. 101º (A infracção das regras de competência em razão
da matéria e da hierarquia e das regras de competência internacional, salvo quando haja
mera violação dum pacto privativo de jurisdição, determina a incompetência absoluta do
tribunal) CPC, a incompetência absoluta provém da infracção das regras da competência
internacional legal (arts. 65º CPC) e da competência interna material (arts. 66º, 67º
CPC; lei 24/2007 LOTJ – Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais) e hierárquica (arts. 70º,
71º, 72º CPC). A incompetência absoluta referida no art. 101º CPC, é, naturalmente,
apenas aquela que se verifica no âmbito do processo civil.
A incompetência internacional resulta da impossibilidade de incluir a relação
jurídica plurilocalizada na previsão de uma das normas de recepção do art. 65º. A
incompetência hierárquica verifica-se se a acção é instaurada num Tribunal de 1ª
instância quando o devia ter sido na Tribunal superior de recurso ou no Supremo, ou
vice-versa. Finalmente, a incompetência material decorre da propositura no Tribunal
comum de uma acção da competência dos Tribunais especiais ou da instauração de uma
acção num Tribunal de competência especializada incompetente.
A incompetência absoluta resultante da infracção da competência material
decorrente da circunstância de a acção ter sido instaurada num Tribunal especial quando
o deveria ter sido perante um Tribunal judicial comum até ao despacho saneador ou, se
este não tiver lugar, até ao início da audiência final, art. 102 n∘2 CPC.
A incompetência material que resulta do facto de a acção ter sido proposta num
Tribunal judicial quando o deveria ser num Tribunal não judicial pode ser arguida pelas
partes e conhecida oficiosamente pelo Tribunal até ao trânsito em julgado da decisão de
mérito, art. 102nº1 CPC.

Incompetência relativa
O art. 108º (A infracção das regras de competência fundadas no valor da causa, na
forma do processo aplicável, na divisão judicial do território ou decorrentes do
estipulado nas convenções previstas nos artigos 99º e 100º, determina a incompetência
relativa do tribunal, este perceito enuncia as situações que originam a incompetência
relativa: esta incompetência resulta da infracção das regras da competência fundadas no
valor da causa, na divisão judicial do território (arts. 73º a 89º CPC) ou decorrentes de
um pacto de competência ou de jurisdição (arts. 99º e 100º CPC).

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Note-se que a violação das regras de competência territorial pode verificar-se não
só na competência interna, quando são infringidas as regras que definem, de entre os
vários Tribunais, qual o territorialmente competente, mas também na competência
internacional.
Perante os Tribunais Moçambicanos apenas pode relevar, quanto à competência
internacional directa, a infracção de um pacto privativo de jurisdição. Esta violação
verifica-se quando, apesar de as partes terem estipulado a competência exclusiva de um
Tribunal estrangeiro para apreciar certa questão, a acção vem a ser proposta num
Tribunal Moçambicano.
Confirmando a disponibilidade das partes sobre a competência relativa (art. 100º
CPC), a correspondente incompetência não é, em princípio, de conhecimento oficioso
(art. 495º CPC). Neste caso, a incompetência pode ser arguida pelo réu no prazo de
contestação (art. 109 nº1; arts. 486nº1, 783º, 794nº1 CPC). O autor pode responder no
articulado subsequente ou, não havendo lugar a este, em articulado próprio, a apresentar
nos 10 dias seguintes à notificação da entrega do articulado do réu (art. 109nº2 CPC).
Conjuntamente com a alegação da incompetência relativa, as partes devem apresentar as
respectivas provas (art. 109nº3 CPC). Produzidas estas, o Tribunal decide qual é o
Tribunal competente para a acção (art. 111nº1 CPC).

Dos sujeitos e pressupostos processuáis

Pressupostos processuáis subjectivos relátivos áà s pártes

Noção de parte

É aquele ou cada um daqueles que pedem a composição de um litígio e aquele ou


cada um daqueles frente aos quais tal composição, é pedida.
Composição do litígio: o fim do processo é a composição de um litígio: esse é o
objecto do pedido do autor quando propõe a acção.

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Há diferentes tipos de composição de um litígio que podem ser visados, o art. 4 do
CPC, classifica as acções, em razão do seu fim, em declarativas e executivas e, dentro
destas em subespécies.

Duas observações:

Parte é quem o é, não quem o devia ou podia ser. Ex., se A quer fazer anular em
juizo um contrato que celebrou com B e C (veremos adiante que propor contra ambos);
se propuser contra B ou contra C, cada um deste é parte ilegítima. Mas só o demadando
é parte; quem não for demandado, embora devendo sê-lo, é parte ilegítima, não é parte
enquando o não for.
Estando a parte representada, parte é o representado, e não o representante.
P.ex., se A propõe contra B uma acção como tutor de C, partes em juízo são C e B.
Se a acção se funda ou não numa situação de representação, isso é, deve ver-se
através da demanda. É de julgar-se como esta demanda configura a situação, não como
o devia conseguir. P. ex., Assim, se A, afirmando-se representante de B, sem o ser,
propõe uma acção contra C, partes são B e C.
Há, porém uma representação irregular, pelo que B não pode ser vinculado ou
prejudicado por esta acção se a repudiar. Pelo contrário, se D, representante de E,
propuser contra F uma acção em nome próprio pretendendo fazer valer direitos de E,
partes são D e F- embora D seja parte ilegitíma.

Áqueles que não são partes nem são elementos do tribunal, enquanto tal dá-se o
nome de terceiros. Art. 1037n∘2 do CPC.
Terceiro procesual é o sujeito que não goza da condição de parte ou não esta adstrito
a ela, qualquer que seja a sua relação com as partes verdadeiras.

Partes principais e partes acessórias

Partes principais são o demandante e o demandado, cuja posição é independente


da de outros particulares.
Partes acessórias, são os portadores de certos interesses conexos com os
interesses em causa e que a lei admite a impulsionarem o processo numa posição
subordinada das partes principais, p. ex., art. 335 do CPC (assistência)
P. ex., Se A celebra com B contrato de arrendamento do prédio X e C reivindica o
prédio X em acção proposta contra A, B pode intervir nessa acção como assistente de A.

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Personalidade judiciária

Noção
A personalidade judiciária é a susceptibilidade de ser parte processual (art. 5nº1
CPC). Só pode ser parte processual quem tiver personalidade jurídica.

Critérios atributivos
A personalidade judiciária é atribuída em função do critério da coincidência, da
diferenciação patrimonial, da afectação do acto e da protecção de terceiros.

a) Critério da coincidência:
A personalidade judiciária é concedida a todas as pessoas jurídicas, singulares ou
colectivas (art. 5º/2 CPC). Assim, todo o ente juridicamente personalizado tem
igualmente personalidade judiciária, activa ou passiva.
Relativamente a estrangeiros, há que considerar o art. 26º/1 CC, segundo o qual o
início e o termo da personalidade judiciária são fixados pela lei pessoal de cada
indivíduo, que é a lei da sua nacionalidade (art. 31º/1 CC) ou, se o indivíduo for
apátrida, a lei do lugar onde ele tiver a sua residência habitual ou, se for menor ou
interdito, o seu domicílio legal (art. 32º/1 CC). Quanto às pessoas colectivas (excepto
sociedade comerciais), a sua lei pessoal é a do Estado onde se encontra situada a sede
principal e efectiva da sua administração (art. 33º/1 CC) ou, se for uma pessoa colectiva
internacional, a designada na convenção que a criou ou nos respectivos estatutos ou, na
sua falta, a do país onde estiver a sede principal (art. 34º CC). As sociedades comerciais
têm como lei pessoal a lei do Estado onde se encontre situada a sede principal e efectiva
da sua administração (art. 3º/1, 1ª parte. CSC).

b) Critério da diferenciação patrimonial:


A personalidade judiciária é atribuída a determinados patrimónios autónomos (art.
6º CPC: a saber, a herança jacente e os patrimónios autónomos semelhantes cujo titular
não estiver determinado; As associações sem personalidade jurídica e as comissões
especiais; As sociedades civis; As sociedades comerciais, até à data do registo

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definitivo do contrato pelo qual se constituem, nos termos do artigo 5º do Código das
Sociedades Comerciais; O condomínio resultante da propriedade horizontal,
relativamente às acções que se inserem no âmbito dos poderes do administrador.Os
navios, nos casos previstos em legislação especial.
Em certos casos, além do património autónomo, podem ser demandadas outras
partes. A enumeração constante no art. 6º CPC, não deve ser considerada taxativa.

c) Critério da afectação do acto:


Têm personalidade judiciária as sucursais, agências, filiais, delegações ou
representações de uma pessoa colectiva relativamente a actos que por elas tenham sido
praticados (art. 7º/1 CPC). Quer dizer: quem praticou o acto pode igualmente estar em
juízo quanto à acção que o tenha por objecto ou fundamento.

Cápácidáde judiciáá riá

Noção
A capacidade judiciária é a susceptibilidade de a parte estar pessoal e livremente em
juízo ou de se fazer representar por representante voluntário art. 9nº1 do CPC, a
capacidade judiciária consiste na susceptibilidade de estar, por si, em juízo. Assim, não
possuem capacidade judiciária quer os que podem intervir pessoal mas não livremente
(os inabilitados), quer os que não podem actuar nem pessoal, nem livremente (os
menores e os inabilitados).

Aferição
A capacidade judiciária é aferida pela capacidade de exercício para a produção dos
efeitos decorrentes da acção pendente (art. 9nº2 do CPC – a capacidade judiciária tem
por base e por medida a capacidade do exercício de direitos.
Exceptuam-se do âmbito da incapacidade judiciária os actos que o incapaz pode
excepcionalmente praticar pessoal e livremente, art. 10nº1 do CPC in fine – os
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incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes, ou
autorizados pelo seu curador, excepto quanto aos actos que possam exercer pessoal e
livremente.

Meios de suprimento
A incapacidade judiciária é suprida mediante assistência e representação.Os
incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes, ou
autorizados pelo seu curador, excepto quanto aos actos que possam exercer pessoal e
livremente. A assistência por curador supre a incapacidade dos inabilitados, art. 153nº1
CC. A autorização do curador é necessária para os actos praticados pelo inabilitado
quando seja parte activa ou passiva, embora, como o inabilitado pode estar
pessoalmente em juízo, ele possa intervir em qualquer acção e deva ser citado quando
seja réu, art. 13nº1 do CPC – os inabilitados podem intervir em todas as acções em que
sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus, sob pena de se
verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido citado o
curador.
Representáçáo judiciáá riá

Noção
A representação judiciária é a representação de entes que estão submetidos a uma
representação orgânica ou que podem ser representados pelo Ministério Público.

Regime
a) Estado:
O Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que
seja permitida a representação por mandatário judicial próprio (art. 20º/1 CPC) ou em
que as entidades autónomas possam constituir advogado que intervenha no processo
conjuntamente com o Ministério Público (art. 20º/2 CPC).

b) Pessoas colectivas e sociedades:


Sobre a representação das pessoas colectivas e das sociedades, há que distinguir
entre as acções dessas entidades com terceiros e as causas entre elas e o seu
representante. Nas acções com terceiros, as pessoas colectivas e as sociedades são
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representadas por quem a lei, os estatutos ou o pacto social designarem (art. 21nº1
CPC). As sociedades em nome colectivo e as sociedades por quotas são representadas
pelos gerentes, as sociedades anónimas pelo conselho de administração e as sociedades
em comandita pelos sócios comanditados gerentes.
Nas acções entre pessoa colectiva ou a sociedade e o seu representante, aquelas
entidades são representadas por um curador ad litem (art. 21nº2 CPC). Este regime
justifica-se pela impossibilidade de o representante assumir, nesse caso, as suas funções
de representação.

c) Incapazes e ausentes:
Os incapazes e ausentes são representados pelo Ministério Público em todas as
acções que se mostrem necessárias à tutela dos seus direitos e interesses, (art. 16/A nº1
CPC). A representação pelo Ministério Público cessa se for constituído mandatário
judicial do incapaz ou ausente ou se, tendo o respectivo representante legal deduzido
oposição a essa representação, o juiz, ponderado interesse do representado, a considerar
procedente (art. 16 /A nº2 CPC).
d) Incertos:
Quando a acção seja proposta contra incertos, por o autor não ter a possibilidade de
identificar os interessados directos em contradizer, eles são representados pelo
Ministério Público (art. 16nº1 CPC), excepto se este representar o autor, caso em que é
nomeado um defensor oficioso para servir como agente especial do Ministério Público
naquela representação. Esta representação cessa quando os citados como incertos se
apresentam para intervir como réus e a sua legitimidade se encontrar reconhecida (art.
16nº2 CPC).

e) Pessoas judiciárias:
As pessoas judiciárias – isto é, as entidades que só possuem personalidade
judiciária – são representadas da seguinte forma:
- A herança jacente, por um curador (art. 22º CPC; art. 2048nº1 CC); As
associações sem personalidade judiciária, pelo órgão da administração (art. 22º
CPC; art. 195nº1 CC); As comissões especiais pelos administradores (art. 22º CPC;
art. 996nº1 CC); As sociedades comerciais não registadas, pelas pessoas a que as
cláusulas do contrato atribuam a representação (art. 22º CPC); O condomínio, pelo
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administrador (art. 22º CPC; art. 1437nº2 CC); As sucursais ou equivalentes, pelos
directores, gerentes ou administradores (art. 22 CPC).

INCAPACIDADE JUDICIÁRIA E VÍCIOS DA REPRESENTAÇÃO JUDICIÁRIA

Incapacidade judiciário lato sensu


A incapacidade judiciária pelo representante legal ou pelo curador não suprida
determina a incapacidade da parte. O suprimento daquela incapacidade pode ainda ser
afectado por uma irregularidade de representação, se o incapaz estiver representado ou
assistido por sujeito diverso do verdadeiro representante ou curador, ou por uma falta de
autorização, se o representante ou o curador do incapaz não tiver obtido a necessária
autorização judicial. A incapacidade judiciária strictu sensu encontra-se prevista, como
tal, nos arts. 23nº1, e 494º CPC; a irregularidade de representação nos arts. 23º/1, e
288nº1CPC, a falta de autorização ou deliberação nos arts. 25nº1, 288nº1, e 494º CPC.

Incapacidade judiciária strictu sensu


A incapacidade judiciária strictu sensu pode verificar-se relativamente à parte activa
ou à parte passiva: quanto ao autor, essa incapacidade existe quando o incapaz propõe
uma acção sem a intervenção do seu representante legal ou a assistência do seu curador;
quanto ao réu, essa incapacidade surge quando é proposta uma acção legal contra um
incapaz sem a indicação pelo autor do representante legal ou do curador daquele
demandado.
Logo que o juiz se aperceba da incapacidade judiciária strictu sensu, incumbe-lhe,
oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pela regularização da instância (art.
24ºCPC). Essa incapacidade sana-se mediante a intervenção ou a citação do
representante ou do curador do incapaz.
Quanto à actividade exigida ao Tribunal para procurar obter a sanação desse vício,
há que considerar duas situações:
- Se o vício afectar a parte passiva, o Tribunal deve ordenar a citação do réu e
quem o deva representar, para que este ratifique ou renove o processado
anteriormente;

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- Se o vício respeitar à parte activa, o Tribunal deve ordenar, para esse mesmo
efeito, a notificação de quem a deva representar.
A incapacidade fica sanada se o representante do incapaz ratificar os actos
anteriormente praticados no processo ou se os renovar no respectivo prazo (art. 23nº2
CPC).
Se o representante não ratificar nem renovar os actos praticados, a incapacidade não
se pode considerar sanada, importando verificar quais as consequências daí decorrentes.
Elas são distintas consoante o vício afecte a parte activa ou passiva.
Se o representante do autor não sanar a incapacidade, o processo não pode
continuar quando esse vício afectar a própria petição inicial: neste caso, releva a falta de
um pressuposto processual e réu deve ser absolvido da instância (arts. 494º-c, 493nº2,
288º/1-c CPC). Mas se o representante do réu não sanar a incapacidade, então falta
apenas um pressuposto de um acto processual e a contestação e os demais actos
praticados pelo incapaz ficam sem efeito, pelo que se aplica ao incapaz, se ele não tiver
mandatário judicial constituído, o regime da sub-representação (art. 15nº1 CPC).

Irregularidades de representação
A irregularidade de representação verifica-se quando a parte, embora esteja
representada ou assistida, não está pelo verdadeiro representante ou curador.
O regime de sanação da irregularidade de representação é semelhante ao da
incapacidade judiciária strictu sensu, tal como o são os efeitos da sua não sanação (arts.
23º e 24º CPC).

Falta de autorização ou deliberação


Verifica-se a falta de autorização ou deliberação quando o representante legal ou o
curador do incapaz não as tiver obtido antes de propor a acção ou de praticar o acto. É o
que sucede quando, o representante de uma sociedade requerer, sem a necessária
deliberação social, uma providência cautelar.
Se a parte estiver devidamente representada, mas o seu representante não tiver
obtido alguma autorização ou deliberação legalmente exigida, o Tribunal deve fixar
oficiosamente o prazo dentro do qual o representante a deve obter, suspende-se
entretanto a instância (arts. 25nº1,CPC). As consequências da não sanação do vício são
distintas consoante ele afecte o autor ou o réu.
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Se o vício não for sanado e respeitar à parte activa, falta um pressuposto processual,
pelo que o réu é absolvido da instância (arts. 25nº2, 1ª parte, 494º-d, 493nº2, 288nº1-c
CPC). Se a falta de autorização ou deliberação afectar o representante da parte passiva e
não for sanada, a contestação fica sem efeito (art. 25nº2, 2ª parte CPC) e o incapaz
beneficia da sub-representação do Ministério Público se não tiver mandatário judicial
constituído (art. 15nº1 CPC).

LITISCONSÓRCIO INICIAL: MODALIDADES

O processo pressupõem a existência de partes, e parte não é uma pessoa, mas um


papel desempenhado por uma ou mais pessoas. A pluralidade de partes que caracteriza o
litisconsórcio coincide, com uma pluralidade de titulares do objecto do processo.
Litisconsórcio do latim litis consortium, do verbo litigo (-are): litigar. Daí litis cum sors,
expressão na qual li, litis significa processo, cum preposição que indica junção, e sors
(tis): destino, sorte. É a reunião de vários interessados num mesmo processo, na
qualidade de autor e/ou de réu, para a defesa de interesses comuns. O litisconsórcio não
se confunde, evidentemente, com a cumulação de ações, pois se refere a pessoas que
integram uma das partes no pleito, ou seja,litisconsórcio é a reunião de várias pessoas
nas mesmas condições, mas com interesse individualizado, por economia processual ou
por maior facilidade de litigar.

Classificações
O litisconsórcio é passivel de várias classificações: pode-se classificá-lo quanto à
origem, ao reflexo na acção e ao conteúdo da decisão. Dado que se referem a realidades
distintas, essas classificações podem classificar-se entre si.

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a) Origem do litisconsórcio:
Quanto à sua origem, o litisconsórcio pode ser: voluntário, todos os interessados
podem demandar ou ser demandados, mas a falta de um deles em juizo não se verifica
qualquer ilegitimidade, (Art. 27 do CPC), ex: tratar-se de uma obrigação solidária,
acção pode ser proposta por todos ou contra todos ou; necessário, todos os interessados
devem demandar ou ser demandados, originando a falta de qualquer deles uma situação
de ilegitimidade (Art.28 do CPC). O litisconsórcio voluntário decorre exclusivamente
da vontade dos interessados, o litisconsórcio necessário provém de uma imposição ao
autor ou autores da acção.

b) Reflexo na acção:
Atendendo aos reflexos na acção, o litisconsórcio pode ser: simples, é aquele em
que a pluralidade de partes não implica um aumento do número de oposições entre as
partes, por exemplo, numa acção de reivindicação proposta contra dois réus existe
apenas, apesar dessa pluralidade passiva uma única oposição entre o autor e os réus.
Recíproco, é aquele em que a pluralidade de partes determina um aumento do número
de oposições entre elas, por exemplo, numa de acção de divisão de coisa comum
proposta por um comproprietário contra dois outros comproprietários verifica-se uma
oposição entre cada um desses contitulares e qualquer dos outros, pois que o que for
atribuido a cada um deles não pode ser concedido a qualquer outro.

c) Conteúdo da decisão:
Atendendo ao conteúdo da decisão, o litisconsórcio pode ser: Unitário, é aquele em
que a decisão tem de ser uniforme para todos os litisconsortes, por exemplo, numa
acção de anulação do casamento proposta contra ambos os cônjuges, a decisão de
(procedência ou de improcedência) tem de ser a mesma para ambos dos cônjuges.
Simples, pelo contrário, a decisão pode ser distinta para cada um dos litisconsortes. Por
exemplo, se o credor instaurar uma acção contra dois devedores conjuntos, pode ser
proferida uma decisão condenatória de um dos demandados e uma decisão absolutória
de outro réu.

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d) Posição das partes:
Atendendo à posição das partes, o litisconsórcio pode ser: conjunto, verifica-se
quando todos os litisconsortes activos formulam conjuntamente o pedido contra o
demandado ou quando o autor formula o pedido conjuntamente contra todos os
litisconsortes demandados; ou subsidiário, pressupõe que o objecto da causa só é
apreciado em relação a um litisconsorte activo ou passivo se um outro autor ou réu não
for considerado titular, activo ou passivo, desse mesmo objecto.

Litisconsórcio voluntário
Sempre que existe uma pluralidade de interessados, activos ou passivos, opera,
quanto à constituição do litisconsórcio, uma regra de coincidência, pois que a acção
pode ser proposta por todos esses titulares ou contra eles (art. 27nº1, 1ª parte CPC).
Assim por exemplo, forem vários devedores de uma prestação, o credor pode sempre
demandá-los conjuntamente (mesmo que a obrigação seja solidária, art.517 do CC). O
litisconsórcio voluntário verifica-se por iniciativa da parte ou partes em causa: são os
vários interessados que decidem instaurar a acção conjuntamente, é o autor da acção que
resolve propor a acção contra vários réus e é esse autor ou o réu que opta por promover
a intervenção de outras partes durante a pendência da acção.
Apesar de o litisconsórcio voluntário se encontrar na disponibilidade das partes, que
o podem constituir ou não, isso não significa que a sua constituição seja irrelevante, isto
é, que a parte que o pode conformar possa conseguir os mesmos benefícios e vantagens
com ou sem a sua conformação.

á) Litisconsoá rcio comum:


A parte que o conforma pretende apenas integrar determinados sujeitos no âmbito
subjectivo do caso julgado, numa situação em que, sem a sua participação na acção, eles
não ficariam abrangidos por ele. Por exemplo, quando o autor é credor de uma
obrigação solidária, só o litisconsórcio entre todos os devedores solidários assegura que
a decisão que vier a ser proferida vale relativamente a todos eles (art.522 do CC). Isto é,
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se o credor demandar apenas um dos devedores solidários, ele pode obter a condenação
do réu na totalidade do crédito, mas essa decisão condenatória não é oponivel aos
demais devedores solidários.

b) Litisconsoá rcio conveniente:


A parte que o constitui visa alcançar uma vantagem que não poderia obter sem essa
pluralidade de partes, activas ou passivas. Quer dizer: a constituição do litisconsórcio é
uma condição indispensável para alcançar um certo resultado ou efeito.
São vários os motivos que podem determinar o litisconsórcio conveniente. Este
litisconsórcio verifica-se em relação a obrigações conjuntas, pois que, sem a
participação de todos os credores ou devedores, a acção só pode ser procedente na
quota-parte respeitante ao sujeito presente em juízo (art. 27nº1, 2ª parte CPC).
Por exemplo, se o credor de dois devedores, no regime de conjunção, instaurar a
acção apenas contra um eles, só podem obter a sua condenação na respectiva quota-
parte do montante da dívida.

Ex: No caso de uma dívida comunicável entre cônjuges casados em regime de


separação de bens, pois que, sem a demanda de ambos, não pode ser obtida a totalidade
de crédito e não pode ser executado os bens próprios do cônjuge não demandado.

Litisconsórcio necessário
No litisconsórcio necessário, todos os interessados devem demandar ou ser
demandados. Os critérios que orientam a previsão do litisconsórcio necessário são
essencialmente dois: o critério da indisponibilidade individual (ou da disponibilidade
plural) do objecto do processo e o critério da compatibilidade dos efeitos produzidos.
Aquele primeiro critério tem expressão no litisconsórcio legal e convencional; este
último, no litisconsórcio natural.

a) Litisconsórcio legal:
O litisconsórcio necessário legal é aquele que é imposto pela lei (arts. 28nº1, 28º-
CPC).
Quanto ao litisconsórcio necessário entre os cônjuges, há que analisar o disposto no
art. 28º/A CPC (acções que devem ser propostas por ambos os cônjuges) .
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Relativamente à propositura da acção, o litisconsórcio entre os cônjuges é necessário
quanto a direitos que apenas possam ser exercidos por ambos ou a bens que só possam
ser administrados ou alienados por eles, incluindo a casa de morada de família (art. 28º
CPC). Para se saber quais são esses direitos e bens, há que distinguir entre as acções
relativas a actos de administração e a actos de disposição.
Nas acções relativas a actos de administração, o litisconsórcio activo é necessário
quanto aos actos de administração de bens comuns do casal, por exemplo, uma acção
cujo objecto de arrendamento é um bem comum, só pode ser instaurados pelos ambos
os cônjuges. Nas acções referidas a actos de disposição, o litisconsórcio activo é
necessário quando o objecto do processo for nomeadamente, um acto de disposição de
bens comuns administrados por ambos os cônjuges, dos bens móveis admnistrados por
ambos cônjuges
Note que o litisconsórcio activo entre os cônjuges pode ser substituído pela
propositura da acção por um deles com o consentimento do outro (art. 28º/A CPC), o
que constitui uma situação de substituição processual voluntária. Se o cônjuge não der o
seu consentimento para a propositura da acção, o outro pode supri-lo judicialmente (art.
28/A CPC), utilizando para tanto o processo regulado no art. 1425º CPC.
Relativamente à demanda dos cônjuges, o litisconsórcio é necessário quando o
objecto do processo for um facto praticado por ambos os cônjuges, uma divida
comunicável, um direito que apenas pode ser exercido por ambos os cônjuges ou um
bem que só por eles pode ser administrado ou alienado, incluindo a casa de morada de
família (art. 28º/A CPC).
O litisconsórcio necessário definido pelo art. 28º CPC, também pode operar depois
da dissolução, declaração de nulidade ou anulação do casamento.
No que concerne as acções nos casos de união de facto, aplica-se com as
necessárias adaptações o disposto no art 28/A do CPC.

b) Litisconsórcio convencional:
O litisconsórcio necessário convencional, é aquele que é imposto pela estipulação
das partes de um negócio jurídico (art. 28º/1 CPC). Para a determinação do âmbito deste
litisconsórcio convencional há que analisar o regime das obrigações divisíveis e
indivisíveis.

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Se a obrigação for divisível, o litisconsórcio é, em princípio voluntário, porque, se
não estiverem presentes todos os interessados activos e passivos, o Tribunal conhece
apenas da quota-parte do interesse ou da responsabilidade dos sujeitos presentes em
juízo (art. 27nº1, 2ª parte). Assim, quanto a uma obrigação divisível, o litisconsórcio só
é necessário se as partes estipulam que o seu cumprimento apenas é exigível por todos
os credores ou a todos os devedores.

Quanto à obrigação indivisível (por natureza, estipulação legal ou convenção das


partes), há que distinguir entre a pluralidade de devedores e a de credores. Se forem
vários os devedores, o art. 535º/1 CC, estipula que o cumprimento só pode ser exigido
de todos eles, pelo que, quanto a esta hipótese, vale um litisconsórcio necessário legal e,
por isso, o caso não se pode enquadrar no litisconsórcio convencional. Pelo contrário, se
houver uma pluralidade de credores, o art. 538º/1 CC, dispõe que qualquer deles pode
exigir a prestação por inteiro, resultando daí que, na falta de estipulação das partes, o
litisconsórcio de vários credores de uma obrigação indivisível é meramente voluntário.
Por isso, relativamente a uma obrigação indivisível, o litisconsórcio necessário
convencional só se verifica se for estipulado que essa obrigação apenas pode ser exigida
por todos os credores.

c) Litisconsórcio natural:
O litisconsórcio necessário natural, é aquele que é imposto pela realização do efeito
útil normal da decisão do Tribunal (art. 28º/2 CPC).
Pode entender-se que o litisconsórcio natural só existe quando a repartição dos
vários interessados por acções distintas impeça uma composição definitiva entre as
partes da causa. Por exemplo, numa acção de divisão de coisa comum só a intervenção
de todos os interessados pode compor definitivamente a situação entre todos os
comproprietários, porque qualquer divisão realizada entre apenas algum deles é
necessariamente incompatível com uma nova divisão entre quisquer outros.
Mas também pode defender-se que o litisconsórcio é natural não só quando a
repartição dos interessados por acções diferentes impeça a composição definitiva entre
as partes, mas também quando a repartição dos interessados por acções distintas possa
obstar a uma solução uniforme entre todos os interessados.

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Segundo a definição legal do art. 28º/2, 2ª parte CPC, o efeito útil normal é atingido
quando sobrevem uma regulação definitiva da situação concreta das partes (e só delas)
quanto ao objecto do processo. De acordo com a mesma definição, o efeito útil normal
pode ser conseguida ainda que não estejam presentes todos os interessados ou, dito de
outra forma a ausência de um deles nem sempre constitui um obstáculo a que esse efeito
possa ser atingido: é o que resulta do facto de nessa definição se admitir expressamente
a não vinculação de todos os interessados, por exemplo, na acçãode anulação do
testamento, a sentença a proferir só produz efeito útil normal com intervenção de todos
os interessados.
Assim, deve concluir-se que decorre do art. 28º/2, 2ª parte CPC, que, na
determinação do litisconsórcio, releva apenas a eventualidade de a sentença não compor
definitivamente a situação jurídica das partes, por esta poder ser afectada pela solução
dada numa outra acção entre outras partes.

Litisconsórcio unitário
O litisconsórcio unitário é aquele em que a decisão do Tribunal tem de ser uniforme
para todos os litisconsortes. Este litisconsórcio corresponde a situações em que o
objecto do processo é um interesse indivisível, pelo que sobre ele não podem ser
proferidas decisões divergentes.
A uniformidade do objecto, quer de uma relação de prejudicialidade entre vários
objectos.
São pensáveis situações de litisconsórcio unitário voluntário. Se, por exemplo,
vários comproprietários propuserem uma acção de reivindicação contra um detentor, o
litisconsórcio é voluntário, porque a acção podia ter sido proposta por um único dos
comproprietários (art. 1405nº2 CC), mas é igualmente unitário, porque a causa não pode
ser julgada procedente quanto a um dos comproprietários e improcedente quanto a um
qualquer outro.
O litisconsórcio unitário também pode ser necessário. Suponha-se que o presumido
pai instaura, contra o filho e a mãe, uma acção de impugnação da paternidade; esse
litisconsórcio é necessário (art. 1846nº1 CC) e unitário, porque essa acção de
impugnação só pode ser procedente ou improcedente simultaneamente contra ambos os
demandados.

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Convém acentuar, no entanto, que nem todo o litisconsórcio necessário é unitário.
Por exemplo: se as partes estipulam que a dívida só pode ser exigida de ambos os
devedores e se, portanto, construíram uma situação de litisconsórcio necessário
convencional (art. 28º/1 CPC), isso não impede que, se um dos devedores demandados
puder invocar contra o credor a extinção da sua quota-parte da dívida, um dos réus seja
condenado e o outro seja absolvido do pedido.
O litisconsórcio unitário releva no momento do proferimento da decisão, pois que
ele implica o proferimento de uma mesma decisão para todos os litisconsortes. Note-se
que o litisconsórcio unitário não impõe, em si mesmo, a presença de nenhum
interessado em juízo, pelo que só há que garantir a uniformidade da decisão
relativamente aos litisconsortes que se encontrem na acção no momento do seu
proferimento. Esses litisconsortes podem não ser as partes iniciais da acção, quer porque
algumas delas se afastaram da acção, quer porque alguns terceiros intervieram nela
durante a sua pendência.

LITISCONSOÓ RCIO INICIAL: CONSEQUEÊ NCIAS

Constituição do litisconsórcio
O litisconsórcio voluntário encontra-se na disponibilidade da parte, que o pode
constituir ou não. Diferentemente, o litisconsórcio necessário não permite qualquer
opção da parte, pois que a acção tem de ser proposta por todos ou contra todos os
interessados. A pluralidade de partes relativamente às quais o litisconsórcio é imposto
pode ser activa ou passiva.
Quanto aos efeitos da sua não constituição, no caso do litisconsórcio voluntário
verifica-se apenas o desaproveitamento de certos benefícios ou vantagens, mas na sua
hipótese do litisconsórcio necessário conforma-se a ilegitimidade da parte (activa ou
passiva) que está em juízo desacompanhada dos demais interessados (art. 28º/1 CPC).
A ilegitimidade proveniente da preterição de litisconsórcio necessário é sanável,
embora haja que distinguir o litisconsórcio relativo aos cônjuges das demais hipóteses.
No litisconsórcio entre os cônjuges, a ilegitimidade activa é sanável mediante a
obtenção do consentimento do outro cônjuge ou o seu suprimento; a ilegitimidade
passiva é sanável através da intervenção principal do cônjuge não presente, provocada
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quer pelo autor da acção (art. 269nº1 CPC), mesmo nos 30 dias subsequentes ao trânsito
em julgado da decisão de absolvição da instância (art. 269nº2 CPC), quer pelo cônjuge
demandado (art. 325nº1 CPC).
Nas demais situações de litisconsórcio necessário, a ilegitimidade (activa ou
passiva) é sanável mediante a intervenção principal provocada da parte cuja falta gera
ilegitimidade (art.269nº1 CPC). Essa intervenção é admissível mesmo depois do trânsito
em julgado do despacho saneador que apreciou a ilegitimidade, situações em que a
instância se renova (art. 269nº2 CPC).

Posição dos litisconsortes


O art. 29º estabelece a seguinte diferença entre o litisconsórcio voluntário e o
necessário: enquanto no litisconsórcio necessário as partes se apresentam externamente
como a única parte (art. 29º, 1ª parte CPC), no litisconsórcio voluntário as partes
mantêm uma posição de autonomia (art. 29º, 2ª parte CPC). Assim, segundo este
critério, as partes de um litisconsórcio necessário comungam de um destino comum e as
de um litisconsórcio voluntário mantêm uma posição de autonomia.
A distinção estabelecida no art. 29º CPC, justifica os diferentes regimes que se
encontram na lei em matéria de falta de citação (art. 197º CPC), de separação do pedido
reconvencional que envolve a intervenção de terceiros (art. 274nº5 CPC), de confissão,
desistência ou transacção (art. 298º CPC), de aproveito do recurso interposto por um
dos litisconsortes (art. 683nº1 CPC) e de exclusão pelo recorrente de algum dos
litisconsortes vencedores (art. 684nº1 CPC). Uma outra consequência da autonomia
entre os litisconsortes voluntários encontra-se no decurso dos prazos processuais, que
correm separadamente para cada uma das partes.
O litisconsórcio necessário verifica-se também quanto aos pressupostos
processuais, no sentido de que esse litisconsórcio exige que eles estejam preenchidos
em relação a todos os litisconsortes. Na verdade, se faltar um dos pressupostos que
afecta um dos litisconsortes e se isso determina a sua absolvição da instância, e os
demais litisconsortes deverão ser absolvidos por ilegitimidade, dado que aquela
absolvição os tornou partes ilegítimas; se o litisconsórcio se verificar na parte activa, é o
réu que deverá ser absolvido da instância, com base na ilegitimidade dos autores.
Nem sempre releva, quanto à posição recíproca das partes, a distinção entre o
litisconsórcio voluntário e necessário.
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A origem do litisconsórcio também é irrelevante quanto ao aproveitamento da
contestação de um dos litisconsortes, pois que esta aproveita sempre aos demais réus,
não relevando se o litisconsórcio é necessário ou voluntário (art. 485º-a CPC). Idêntica
extensão vale, por maioria de razão, para o caso de algum dos litisconsortes não cumprir
o ónus de impugnação (art. 490nº1 CPC): também nesta hipótese o litisconsorte que não
impugnou certo facto beneficia da sua impugnação por um outro réu.

Decisão da acção
O art. 29º CPC, estabelece que, no litisconsórcio necessário, as partes se
apresentam externamente como uma única parte e que, no litisconsórcio voluntário, elas
mantêm uma posição de autonomia. Assim, no litisconsórcio voluntário, cada parte pode
desistir ou confessar a quota-parte do pedido ou transigir sobre essa quota-parte (art.
298º/1 CPC), o recurso interposto por alguma das partes vencidas não aproveita, em
regra, aos não recorrentes (art. 683º/1 CPC) e o recorrente pode excluir do recurso
alguma das partes vencedoras (art. 684º/1 CPC); em contrapartida, no litisconsórcio
necessário, a confissão, desistência ou transacção só podem ser realizadas com a
intervenção de todos os litisconsortes (art. 298º/2 CPC), o recurso interposto por
qualquer dos litisconsortes aproveita sempre aos demais (art. 683º/1 CPC) e o recorrente
nunca pode excluir nenhum dos litisconsortes vencedores (art. 684º/1 CPC).

PATROCÍNIO JUDICIÁRIO Ver arts 32 e ss do CPC

LEGITIMIDADE PROCESSUAL

AS FORMAS DE COMPOSIÇAÃ O DA ACÇAÃ O

COMPOSIÇÃO PROVISÓRIA: PROVIDÊNCIAS CAUTELARES

Aspectos gerais
Nem sempre a regulação dos interesses conflituantes pode aguardar o proferimento
da decisão do Tribunal que resolve, de modo definitivo, aquele conflito. Por vezes,

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torna-se necessário obter uma composição provisória da situação controvertida antes do
proferimento da decisão definitiva. Essa composição justifica-se sempre que ela seja
necessária para assegurar a utilidade e a efectividade da tutela jurisdicional (art. 2nº2, in
fine CPC) e, na medida em que contribui decisivamente para o êxito dessa tutela,
encontra o seu fundamento constitucional na garantia do acesso ao direito e aos
Tribunais.
A composição provisória realizada através das providências cautelares pode
prosseguir uma de três finalidades: ela pode justificar-se pela necessidade de garantir
um direito, toma-se providências que garantem a utilidade da composição definitiva; de
definir uma regulação provisória, as providências definem uma situação provisória ou
transitória; ou de antecipar a tutela pretendida ou requerida, as providências atribuem o
mesmo que se pode obter na composição definitiva.
As providências cautelares fornecem uma composição provisória. A provisoriedade
destas providências resulta quer da circunstância de elas corresponderem a uma tutela
que é qualitativamente distinta daquela que é obtida na acção principal de que são
dependentes (art. 383nº1 CPC), quer a sua necessária substituição pela tutela que vier a
ser definida nessa acção.
A tutela processual é instrumental perante as situações jurídicas decorrentes do
direito substantivo, porque o direito processual é o meio de tutela dessas situações. A
composição provisória realizada através das providências cautelares não deixa de se
incluir nessa instrumentalidade, porque ela também serve os fins gerais de garantia que
são prosseguidos pela tutela jurisdicional. Não, contudo, de uma forma imediata, porque
aquela composição provisória destina-se a garantir a eficácia e a utilidade da própria
tutela processual, pelo que é instrumental perante esta tutela e só mediante as próprias
situações jurídicas.
O objecto da providência cautelar não é a situação jurídica acautelada ou tutelada,
mas, consoante a sua finalidade, a garantia da situação, a regulação provisória ou a
antecipação da tutela que for requerida no respectivo procedimento.
Para atingir a finalidade de evitar a lesão ou a sua continuação, a composição
provisória tem de ser concedida com celeridade: as vantagens dessa composição serão
tanto maiores quanto mais cedo ela puder garantir o direito, regular provisoriamente a
situação ou antecipar a composição definitiva. Por isso, as providências cautelares

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implicam necessariamente uma apreciação sumária (summaria cognitio) da situação
através de um procedimento simplificado e rápido.
A summaria cognitio justifica que certas providências cautelares possam ser
decretadas sem a prévia audição da contraparte, isto é, sem ser concedida a esta parte o
uso do contraditório. Esta possibilidade – que é coberta pelo desvio ao princípio do
contraditório admitido pelo art. 3nº2 CPC – encontra-se prevista em dois níveis: num
deles, proíbe-se a audição do requerido (arts. 394º CPC; e 1279º CC);

Pressupostos
A necessidade da composição provisória decorre do prejuízo que a demora na
decisão da causa e na composição definitiva provocaria na parte cuja situação jurídica
merece ser acautelada ou tutelada. A finalidade específica das providências cautelares é,
por isso, a de evitar a lesão grave e dificilmente reparável proveniente da demora na
tutela da situação jurídica, isto é, obviar ao chamado periculum in mora.
Se faltar o periculum in mora, ou seja, se o requerente da providência não se
encontrar, pelo menos, na iminência de sofrer qualquer lesão ou dano, falta a
necessidade da composição provisória e a providência não pode ser decretada. Quer
dizer: esse periculum é um elemento constitutivo da providência requerida, pelo que a
sua inexistência obsta ao decretamento daquela.

Nas providências cautelares existem apenas a prova sumária do direito ameaçado,


ou seja, a demonstração da probabilidade séria da existência do direito alegado bem
como do receio da lesão.Para o decretamento da providência cautelar exige-se apenas a
prova de que a situação jurídica alegada é provável ou verosímil, pelo que é suficiente a
aparência desse direito, ou seja, basta um fumus boni iuris.
O fumus boni iuris decorre da suficiência da mera justificação, mas não tem
qualquer tradução numa discricionaridade do Tribunal quanto aos fundamentos da
providência; se isso não suceder, o Tribunal não a pode decretar, ainda que isso se
pudesse justificar por outros factores.

Providências especificadas

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A lei define várias providências nominadas e admite, sempre que nenhuma delas
seja aplicável, uma providência comum de âmbito residual (art. 399 CPC). As
providências nominadas são a restituição provisória da posse, a suspensão de
deliberações sociais, os alimentos provisórios, o arresto, o embargo de obra nova e o
arrolamento.

· Arresto
O arresto e o arrolamento são providências cautelares cuja finalidade específica é
garantir a realização de uma pretensão e assegurar a sua execução. O arresto pode ser
requerido pelo credor que demonstre a probabilidade da existência do seu crédito e
tenha justo receio de perda da sua garantia patrimonial (arts. 403nº1 CPC; 601º e 619º/1
CC). O arresto consiste na apreensão judicial de bens do devedor (arts. 402º CPC;
619º/1 CC) ou de bens transmitidos pelo devedor a um terceiro (art.619º/2 CC)
·

Arrolamento
O arresto visa assegurar a garantia patrimonial do credor, o arrolamento destina-se
a evitar o extravio ou a dissipação de bens, móveis ou imóveis, ou de documentos (art.
421º CPC), que, para esse efeito, são descritos, avaliados e depositados. Essa
providência visa a conservação de bens ou documentos determinados.

· Restituição provisória da posse


O possuidor que for esbulhado com violência, isto é, que for violentamente privado
do exercício, da retenção ou da fruição do objecto possuído, tem o direito de ser
restituído provisoriamente à sua posse, desde que alegue e prove os factos que
constituem posse, o esbulho e a violência (arts. 393º CPC; 1279º CC).
·
Embargo de obra nova
O embargo de obra nova pode ser judicial ou extrajudicial. O embargo judicial pode
ser requerido por quem se sentir ofendido no seu direito de propriedade (ou de
compropriedade), num outro direito real ou pessoal de gozo ou na sua posse, em

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consequência de obra, trabalho ou serviço que lhe cause ou ameace causar prejuízo (art.
412º/1 CPC).
·

Suspensão de deliberações sociais


Se alguma associação ou sociedade tomar, em assembleia-geral, deliberações
contrárias à lei, aos estatutos ou ao contrato, qualquer sócio pode requerer, no prazo de
10 dias, que a execução dessas deliberações seja suspensa, desde que, além de provar a
sua qualidade de sócio, mostre que essa execução pode causar dano apreciável (art.
396º/1 CPC).
O dano causado deve ser apreciável, mas não tem de ser irreparável ou de difícil
reparação. Assim, por não poder causar qualquer dano considerável, não pode ser
requerida a suspensão da deliberação respeitante ao recebimento de dividendos.

·
Alimentos provisórios
A providência de alimentos provisórios pode ser requerida como dependência da
acção em que, principal ou acessoriamente, seja pedida uma prestação de alimentos
(arts. 388nº1 CPC). Essa causa pode ser, por exemplo, uma acção de reconhecimento da
maternidade ou paternidade. Os alimentos provisórios são fixados numa quantia mensal,
tomando em consideração o que for estritamente necessário para o sustento, a habitação
e o vestuário do requerente e ainda para as despesas da acção, se o autor não puder
beneficiar de assistência Judiciária (art. 388nº2 CPC).
·

Providências comuns
Não cabendo nenhuma das providências nominadas, a garantia da execução da
decisão final, a regulação provisória e a antecipação da tutela podem ser obtidas através
de uma providência cautelar não especificada (art. 399º CPC). As providências não
especificadas só podem ser requeridas quando nenhuma providência nominada possa ser
utilizada no caso concreto: nisto consiste a subsidiariedade dessas providências.

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Para que uma providência cautelar não especificada possa ser decretada são
necessários, além do preenchimento das condições relativas à referida subsidiariedade,
vários pressupostos específicos:
- O fundado receio de que outrem, antes de a acção ser proposta ou na
pendência dela, cause lesão grave e dificilmente reparável ao direito do
requerente; A adequação da providência concretamente requerida à efectividade
do direito ameaçado;

Características
a) D ependência
As providências cautelares visam compor provisoriamente a situação das partes,
são dependência de uma acção cujo objecto é a própria situação acautelada ou tutelada.
(art.384 CPC). Dada esse dependência, as providências caducam se a acção principal
vier a ser julgada improcedente ou se o réu for nela absolvido da instância e o autor não
propuser, dentro do prazo legal acção principal sobre (art. 382 CPC). Se a acção
principal for julgada procedente, verifica-se, em regra a substituição da composição
provisória pela definitiva resultante dessa decisão.
As providências cautelares podem ser requeridas antes da propositura da acção
principal ou durante a pendência desta última, mas nunca após o trânsito em julgado da
decisão dessa acção.

b) Celeridade
As providências cautelares são apreciadas e decretadas nos procedimentos
cautelares. Dada a celeridade indispensável a essas providências, estes procedimentos
revestem sempre carácter urgente e os respectivos actos precedem qualquer outro
serviço judicial não urgente (art. 381nº1/A CPC); como consequência desta urgência, os
prazos processuais neles previstos não se suspendem sequer durante as férias judiciais
(art. 144nº1 CPC).

c) Substituição por caução


As providências cautelares destinam-se a obter uma composição provisória que
tutela ou acautela o interesse na efectividade da tutela jurisdicional. Isso não impede,
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contudo, que esse interesse possa ser acautelado de outra forma. Uma delas consiste na
prestação de uma caução pelo requerido em substituição do decretamento da
providência: é o que é admissível nas providências cautelares não especificadas (art.
400nº3 CPC) e no embargo de obra nova (art. 419º/1 CPC).
A substituição da providência cautelar pela prestação de caução pelo requerido
pressupõe, no entanto, que através desta se pode obter o mesmo efeito a que se destina
aquela providência. Normalmente, a providência cautelar pode ser substituída por
caução, sempre que ela vise evitar um prejuízo patrimonial.

Caducidade
As providências cautelares fornecem, uma composição provisória, pelo que elas
caducam se a decisão que vier a ser proferida na acção principal não for compatível com
a medida provisória decretada. É o que acontece quando essa acção for julgada
improcedente por uma sentença transitada em julgado.
A caducidade da providência cautelar decorrente da extinção do direito acautelado
é apenas uma das situações possíveis de inutilidade superveniente dessa providência
(art. 287º-e CPC), pelo que essa inutilidade pode decorrer de outros fundamentos.

Responsabilidade do requerente
Pode suceder que a providência requerida venha a mostrar-se injustificada pela falta
quer do próprio direito acautelado ou tutelado, quer do fundamento do seu
decretamento; também pode acontecer que a providência decretada, inicialmente
justificada, venha a caducar por facto imputável ao requerente. Em todos estes casos, o
requerente, se não tiver agido com a prudência normal, é responsável pelos danos
causados ao requerido (art. 387nº1; quanto ao arresto, art. 621º CC). A responsabilidade
do requerente pressupõe que a providência é injustificada no momento em que é
requerida ou não vem a ser confirmada pela decisão proferida na acção principal.

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COMPOSIÇÃO POR REVELIA

Noção
A composição da acção pode ser decisivamente influenciada pela omissão de um
acto processual: trata-se da revelia do réu, que consiste na abstenção definitiva da
contestação.
A contestação – na qual o réu pode impugnar as afirmações do autor ou deduzir
uma excepção (art. 487º/1 CPC) – constitui um ónus da parte, não existindo, assim,
qualquer dever de contestar. Daí decorre que a revelia não determina a aplicação ao réu
de qualquer sanção (pecuniária, nomeadamente), mas antes certas desvantagens quanto
à decisão da acção.

Modalidades
a) Revelia absoluta e relativa
A revelia é absoluta quando o réu não pratica qualquer acto na acção pendente; é
relativa se o réu não contesta, mas pratica em juízo qualquer outro acto processual,
designadamente a constituição de mandatário judicial.
b) Revelia operante e inoperante
A revelia – quer a relativa, quer a absoluta – pode ser operante ou inoperante. É
operante quando produz efeitos quanto à composição da acção; é inoperante quando
esses efeitos não se realizam, isto é, quando a falta de contestação nada implica quanto à
decisão da causa. As situações que conduzem à inoperância da revelia são comuns ao
processo ordinário e sumário, pois, na falta de uma regulamentação específica, vale para
este último o que se encontra estipulado para o processo ordinário (arts. 463º/1 CPC).

Efeitos
A revelia operante implica a confissão dos factos articulados pelo autor (art. 484nº1
CPC). O efeito cominatório realizado pela revelia não prevalece sobre a matéria de
conhecimento oficioso, nomeadamente as excepções dilatórias de que o Tribunal deva

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conhecer ex officio (art. 495º CPC) e que obstem à apreciação do mérito da causa (art.
288nº3 CPC).
O efeito cominatório da revelia operante também não pode prevalecer sobre os
efeitos ilegais pretendidos pelo autor. Se a confissão ficta ou presumida que resulta da
revelia respeitar a factos impossíveis ou notoriamente inexistentes ou se o autor tiver
formulado um pedido ilegal ou juridicamente impossível, essa confissão não é
admissível (art. 354º-c CC) e o Tribunal não os deve considerar admitidos por um
acordo e deve abster-se de apreciar esse pedido.

COMPOSIÇAÃ O PELO TRIBUNAL

Decisão judicial
A decisão é o acto do Tribunal no qual este órgão julga qualquer matéria que lhe
compete apreciar por iniciativa própria, quer mediante solicitação das partes. A decisão
é, assim, o acto processual que exprime, por excelência, o exercício da função
jurisdicional pelo Tribunal.
Toda a decisão comporta dois elementos essenciais: os fundamentos e a conclusão
ou decisão em sentido estrito.

Modalidades
A decisão judicial distingue-as em sentenças e despachos (art. 156nº1 CPC). As
sentenças são, em regra, as decisões sobre o mérito da causa ou sobre um incidente
com a estrutura de uma causa (art. 156nº2 CPC), mas também podem conhecer de
aspectos processuais (art. 660nº1 CPC). Os despachos são, em princípio, decisões
sobre aspectos processuais e, por isso, são, em regra, decisões interlocutórias,
embora também possam incidir sobre o mérito (art. 510nº1-b CPC) e, mesmo fora
destes casos, possam ser decisões finais (art. 510nº1-a CPC); Às decisões dos
Tribunais colectivos atribui-se a designação especial de acórdãos (art. 156nº3 CPC).

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DINÂMICA DA INSTÂNCIA

Início
A instância inicia-se com a propositura da acção, esta se considera proposta,
intentada ou pendente quando for recebida na secretaria (art. 150º/3 CPC). No entanto,
em relação ao réu, os efeitos decorrentes da pendência da causa só se produzem, em
regra, após a sua citação, salvo disposição legal ao contrário (art. 267º/2 CPC).

Suspensão
São várias as circunstâncias que determinam a suspensão da instância:
· Quando falecer ou se extinguir alguma das partes (arts. 276nº1-a; 277nº1 CPC),
salvo se já tiver começado a audiência final ou se o processo já tiver inscrito em
tabela para julgamento, hipótese em que a instância só se suspende depois de ser
proferida a sentença ou o acórdão (art. 277nº1 CPC);
· Nos processos em que for obrigatória a constituição de advogado (arts. 32º/1;
276nº1-b; 278º; 284nº1-b CPC);
· Sempre que o Tribunal a ordene (arts. 276nº1-c; 279nº1; 97nº1; 284nº1-c CPC);
· Sempre que a lei o determine (arts. 276nº1-d – 12nº2 e 5; 25nº1 e 39nº3)
·
Enquanto durar a suspensão da instância só se podem praticar os actos urgentes
destinados a evitar o dano irreparável (art. 283nº1, 1ª parte CPC) e os prazos judiciais
não correm enquanto ela se mantiver (art. 283nº2, 1ª parte CPC). Mas a simples
suspensão não impede a desistência, confissão ou transacção, desde que estas não se
tornem impossíveis ou não sejam afectadas pelo fundamento da suspensão (art. 283nº3
CPC).

Interrupção
A instância interrompe-se quando o processo estiver parado durante mais de um ano
por negligência das partes em promover os seus termos ou os de algum incidente do
qual dependa o seu andamento (art. 285º CPC). A interrupção da instância é, assim,
consequência do incumprimento do ónus de impulso subsequente das partes (art. 265º/1
CPC). A interrupção cessa se o autor requerer algum acto do processo ou do incidente
de que dependa o andamento dele, sem prejuízo do disposto da lei civil á caducidade
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dos direitos. (art. 286º CPC). Quando a caducidade se refere ao exercício jurisdicional
de um direito potestativo, a interrupção da instância implica que não se conta, para
efeitos dessa caducidade, o prazo decorrido entre a propositura da acção e aquela
interrupção (art. 332nº2 CC). Isto é, o prazo de caducidade começa a correr de novo
com a interrupção da instância.

Extinção
A causa comum de extinção da instância na acção declarativa é o julgamento (art.
287º-a CPC), que, aliás, pode decorrer de uma sentença de mérito ou de absolvição da
instância (arts. 288º e 289º CPC). Todavia, para além desta existem outras causas de
extinção da instância, a saber:
- A celebração de um compromisso Arbitral (arts. 287º-b; 290º);
- A deserção da instância (art. 287º-c CPC), em virtude da interrupção da instância
durante dois anos (art. 291nº1 CPC);
- A desistência, confissão ou transacção (art. 287º-d; 293º a 295º CPC);
- A impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide (art. 287º-e CPC).
Com a extinção da instância terminam todos os efeitos processuais e substantivos
da pendência da acção (art. 481º CPC; arts. 323nº1 e 2; 805nº1; e 1292º CC). A
desistência, absolvição e deserção da instância, bem como a caducidade do
compromisso Arbitral, implicam que o prazo prescricional – cujo decurso fora
interrompido pela citação do réu (art. 323nº1 CC) ou passados 5 dias depois de esta ter
sido requerida (art. 323º/2 CC) – começa a correr de novo a partir desse acto
interruptivo (arts. 327nº2 e 326nº1 CC).

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FASES DO PROCESSO

Noção
A tramitação da acção comporta uma sequência de actos que pode ser divididos
em várias fases. A fase do processo integra todos os actos que realizam uma mesma
função.

PROCESSO ORDINÁRIO

Fase dos Articulados

A fase dos articulados é aquela em que as partes da acção – o autor e o réu –


apresentam as razões de facto e de direito que fundamentam as posições que defendem
em juízo e solicitam a correspondente tutela judicial.

Articulados
São as peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e
formulam os pedidos correspondentes (art. 151nº1 CPC). Essas peças recebem o nome
de articulados, porque, em princípio, nas acções, nos incidentes e nos procedimentos
cautelares é obrigatória a dedução por artigos dos factos que interessam à
fundamentação do pedido ou da defesa (art. 151nº2 CPC), isto é, cada facto deve ser
alegado separadamente num artigo numerado.
O processo ordinário comporta, na tramitação normal, quatro articulados: a petição
inicial (art. 467º CPC), a contestação (art. 486º CPC), a resposta (art. 502º CPC); em
determinadas situações, podem ainda ser apresentados articulados supervenientes (art.
506º CPC).

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Petição inicial
A petição inicial é o primeiro articulado do processo, no qual o autor alega os
fundamentos de facto e de direito da situação jurídica invocada e formula o
correspondente pedido contra o réu.
A petição inicial contém, em termos formais, quatro partes: o intróito ou cabeçalho,
a narração, a conclusão e os elementos complementares. A petição inicial começa por
um intróito ou cabeçalho, no qual é designado o Tribunal onde a acção é proposta (art.
467nº1-a CPC), se identificam as partes através dos seus nomes, residências, profissões
e locais de trabalho (art. 467nº1-a CPC) e se indica a forma do processo (art. 467nº1-b
CPC). Na narração, o autor deve expor os factos e as razões de direito que servem de
fundamento à acção (art. 467nº1-c CPC). À narração dos factos e das razões de direito
segue-se a conclusão. É nesta parte da petição inicial que o autor deve formular o
pedido (art. 467nº1-d CPC). A falta de indicação do pedido ou a contradição deste com
a causa de pedir apresentada na narração importam a ineptidão da petição inicial (art.
193nº2-a, b CPC).
A petição inicial termina com algumas indicações complementares (arts. 467nº1-e,
e 2; 474º-d, e 523nº1).
O indeferimento liminar extingue a instância (art. 287º-a CPC), e produz caso
julgado quanto ao seu fundamento. Por aplicação analógica do art. 476º CPC, o autor
pode entregar, no prazo de 05 dias após a notificação do indeferimento liminar, uma
nova petição inicial.

Citação
A citação é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada acção e se chama ao processo para se defender (art. 228nº1, 1ª parte e
480º CPC), ela não pode se efectuar-se sem preceder despacho que ordene.
A citação pode faltar (art. 195º CPC) e ser nula (art. 198º CPC). Segundo o disposto
no art. 195º CPC, verifica-se a falta de citação quando o acto tenha sido completamente
omitido, quando tenha havido erro de identidade do citado, quando se tenha empregado
indevidamente a citação edital, quando se mostre que foi efectuada depois do
falecimento do citando, quando a citação tenha sido feita com preterição de
formalidades essenciais. A falta de citação considera-se sanada se o réu ou o Ministério
Público intervierem no processo e não arguirem o vício (art. 196º CPC).
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A citação é nula quando, na sua realização, não hajam sido observadas as
formalidades prescritas na lei (art. 198nº1 CPC).

Contestação
A contestação é a resposta do réu à petição inicial do autor, ou seja, é a
manifestação da posição do réu perante aquele articulado do autor. Pode ser entendida
num sentido material ou formal. A contestação em sentido material é qualquer acto
praticado pelo réu, no qual essa parte mostre a sua oposição ao autor e ao pedido
formulado por esta parte.
A contestação em sentido formal é o articulado de resposta do réu à petição inicial
do autor: à contestação em sentido formal referem-se por exemplo os arts. 488º e 489nº1
CPC.
O réu pode tomar uma de duas atitudes fundamentais perante a petição inicial:
opor-se ao pedido do autor ou não se opor a ele. A opção por uma destas condutas
depende dos factos indagados pelo mandatário do réu e das provas de que esta parte
possa dispor, havendo, naturalmente, que observar o dever de verdade que recai sobre
essa parte (art. 456nº2-a, b CPC). A contestação do réu marca a sua oposição
relativamente ao pedido do autor. A contestação pode consistir na impugnação dos
factos articulados pelo autor ou na invocação de uma ou várias excepções dilatórias ou
peremptórias (art. 487º CPC). A escolha da modalidade da defesa (por impugnação ou
por excepção) é condicionada pela posição que o réu pretende assumir na acção (arts.
487nº2 e 493nº2 e 3 CPC).
Em conjunto com a contestação ou independente dela, o réu pode formular um
pedido reconvencional contra o autor (art. 501º CPC). A reconvenção deve ser deduzida
separadamente na contestação, na qual devem ser expostos os seus fundamentos,
formulado o correspondente pedido e indicado o seu valor (art. 501nº1 e 2 CPC).
O réu pode contestar no prazo de 20 dias a contar da sua citação (art. 486º CPC). A
esse prazo acresce uma dilação (art 180 CPC). O articulado de contestação apresenta o
mesmo conteúdo formal da petição inicial (art. 488º CPC).
A contestação (em sentido material) está submetida a uma regra de concentração ou
de preclusão: toda a defesa deve ser deduzida na contestação (art. 489nº1 CPC), ou
melhor, no prazo da sua apresentação (art. 486nº1 CPC), pelo que fica precludida quer a
invocação dos factos que, devendo ter sido alegados nesse momento, não o foram, quer
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a impugnação, num momento posterior, dos factos invocados pelo autor. Se aqueles
factos forem invocados fora do prazo determinado para a contestação, o Tribunal não
pode considerá-los na decisão da causa; se o fizer, incorre em excesso de pronúncia, o
que determina a nulidade daquela decisão (art. 668nº1-d, 2ª parte CPC).
Para determinar a incidência desta regra de concentração ou de preclusão, importa
ter presente que, na contestação, o réu tanto pode alegar factos novos que fundamentam
uma excepção dilatória ou peremptória, como limitar-se a impugnar os factos invocados
pelo autor na petição inicial (art. 487nº2 CPC).

Conteúdo material
A contestação pode revestir as modalidades de defesa por impugnação e por
excepção (art. 487º/1 CPC). A defesa por impugnação pode ser directa ou de facto ou
indirecta ou de direito:
– A impugnação directa ou de facto consiste na contradição pelo réu dos factos
articulados na petição inicial (art. 487º/2, 1ª parte CPC);
– A impugnação é indirecta ou de direito quando o réu afirma que os factos
alegados pelo autor não podem produzir o efeito jurídico pretendido por essa
parte (art. 487nº2, 1ª parte in fine CPC).
A impugnação directa é um meio de defesa do réu; como o Tribunal conhece
oficiosamente a matéria de direito (art. 664º, 1ª parte CPC), este órgão, mesmo sem essa
impugnação, deve controlar se os efeitos jurídicos pretendidos pelo autor podem
decorrer dos factos alegados por esta parte. A delimitação entre a impugnação indirecta
e a excepção peremptória faz-se, por isso, através do seguinte critério:
- Se o réu se limita a negar o efeito jurídico pretendido pelo autor, isto é, a
atribuir uma diferente versão jurídica dos factos invocados pelo autor, há
impugnação indirecta;
- Se, pelo contrário, o réu opõe a esse efeito a alegação de um facto impeditivo,
modificativo ou extintivo, verifica-se a dedução de uma excepção peremptória.
a) Defesa por excepção:
Consiste na invocação de factos que obstam à apreciação do mérito da acção ou
que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo
autor, importam a improcedência total ou parcial do pedido (art. 487nº2, 2ª parte CPC).
No primeiro caso, o réu alega a falta de um pressuposto processual e invoca uma
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excepção dilatória (art. 493nº2 CPC); no segundo, o réu opõe uma excepção
peremptória (art. 493nº3 CPC).
b) Defesa por impugnação:
A impugnação directa deve abranger os factos principais articulados pelo autor na
petição inicial (art. 490nº/1 CPC); se assim não suceder, consideram-se admitidos por
acordo os factos que não forem impugnados (art. 490nº2, 1ª parte CPC).
A contestação produz efeitos processuais, inclui-se a possibilidade, admitida em
certos casos, de resposta do autor (art. 502nº1 e 2 CPC). E substantivos, importa referir
que a contestação torna litigioso o direito afirmado ou a coisa discutida em juízo, o que
revela, por exemplo, para a proibição da cessação daquele direito (art. 579º CC) e da
venda desse direito ou coisa (art. 876º CC).

Resposta
É a resposta do autor à contestação do réu. A resposta pode ser entendida num
sentido formal ou material: naquela primeira acepção, a resposta é o articulado que o
autor apresenta em resposta à contestação do réu; em sentido material, a resposta
consiste na contestação de uma excepção oposta pelo réu ou na dedução de uma
excepção contra o pedido reconvencional formulado pelo réu (art. 502º/1 e 2 CPC). Se
aquele articulado contiver aquela impugnação ou a dedução daquela excepção, a
resposta em sentido formal é-o também em sentido material.
A resposta é admissível sempre que o réu deduza alguma excepção ou formule um
pedido reconvencional (art. 502º/1 CPC): naquele primeiro caso, a resposta destina-se a
possibilitar a impugnação pelo autor da excepção invocada pelo réu ou a alegação de
uma contra-excepção; no segundo, a resposta permite a apresentação pelo autor de
qualquer contestação, por impugnação ou por excepção (art. 487º/1 CPC), do pedido
reconvencional. A resposta encontra a sua justificação nos princípios da igualdade das
partes e do contraditório.
A falta da resposta ou a não impugnação dos factos novos alegados pelo réu
implica, em regra, a admissão por acordo dos factos não impugnados (art. 505º CPC).
Esta admissão não se verifica nas situações previstas do art. 490nº2 CPC, e, além disso,
há que conjugar o conteúdo da resposta com o da petição inicial, pelo que devem
considerar-se impugnados os factos alegados pelo réu que forem incompatíveis com
aqueles que constarem de qualquer desses articulados do autor.
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Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional, a falta de resposta implica a
revelia do reconvindo quanto a esse pedido (art. 484º/1 CPC). Essa revelia é inoperante
nas condições referidas no art. 485º CPC, mas, se for operante, determina a confissão
dos factos articulados pelo réu como fundamento do seu pedido reconvencional (art.
484º/1 CPC).
Acessoriamente a estas funções, a resposta pode ser utilizada para o autor alterar
unilateralmente o pedido ou a causa de pedir (art. 273º/1 e 2 CPC)

Articulados supervenientes
Os articulados supervenientes são utilizados para a alegação de factos que, dada a
sua superveniência, não puderam ser invocados nos articulados normais (art. 506nº1
CPC). Essa superveniência pode ser objectiva ou subjectiva:
- É objectiva quando os factos ocorrem posteriormente ao momento da
apresentação do articulado da parte (art. 506nº2, 1ª parte CPC);
- É subjectiva quando a parte só tiver conhecimento de factos ocorridos depois de
findar o prazo de apresentação do articulado (art. 506nº2, 2ª parte CPC).
A superveniência objectiva é facilmente determinável: se o facto ocorreu depois da
apresentação do articulado da parte, ele é necessariamente superveniente. Mais
complexa é a aferição da superveniência subjectiva, porque importa verificar em que
condições se podem dar relevância desconhecimento do facto pela parte. O art. 506nº3
CPC, estabelece que o articulado superveniente deve ser rejeitado quando, ele for
apresentado fora de tempo, isto é, quando a parte não tenha tido conhecimento
atempado do facto (art. 506nº3 CPC). Portanto, a superveniência subjectiva pressupõe o
desconhecimento do facto.

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FASE DA CONDENSAÇAÃ O

Função da fase
Realiza duas funções primordiais: uma respeitante aos aspectos jurídico-processuais
da acção e uma outra relativa ao seu objectivo. Naquela primeira função, cabe a
verificação da regularidade do processo e, sempre que possível, a sanação das
excepções dilatórias e das nulidades processuais: é a função de saneamento. Na
segunda, inclui-se o convite à correcção e ao aperfeiçoamento dos articulados e a
determinação das questões de facto a resolver: é a função de concretização.
A função de saneamento visa resolver os impedimentos à apreciação do mérito da
acção e sanar as nulidades processuais e a função de concretização permite delimitar as
questões de facto relevantes para a decisão da causa.

Audiência preliminar e Despacho pré-saneador


É proferido pelo juiz no prazo de 10 dias para facultar as partes a discussão de facto
e de direito, nos casos em juiz cumpra apreciar excepções ou quando tencione conhecer
imediatamente, no todo em parte do mérito da causa. (art. 508nº1-a CPC) ou discutir as
posições das partes, com vista a delimtação dos termos do litigioa ou proferir o
despacho saneador nos termos do art. 510 (art. 508nº1-b-c CPC).
Ao Tribunal incumbe providenciar, mesmo oficiosamente, pelo suprimento da falta
de pressupostos processuais susceptíveis de sanação, quer determinando a realização
dos actos necessários à regularização da instância, quer convidando as partes a praticá-
los (art. 266º CPC).

Finalidades essenciais
A audiência preliminar realiza-se com as seguintes finalidades essenciais, muitas
das quais encontram a sua justificação no princípio da cooperação recíproca entre o
Tribunal e as partes (art. 266º/1 CPC):
- Tentativa de conciliação das partes (art. 509nº1-a CPC);

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- Discussão e produção de alegações pelas partes, se o juiz tiver de apreciar
excepções dilatórias que as partes não hajam suscitado e discutido nos articulados ou
tencionar conhecer, no todo ou em parte, do mérito da causa no despacho saneador;
- Discussão das posições das partes, com vista à delimitação do litígio, e
suprimento das insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto que
ainda subsistam ou se tornem patentes na sequência do debate;
- Proferimento do despacho saneador;

Concretização do litígio
Visa-se atingir com essa função uma dupla finalidade: por um lado, procura-se
circunscrever as divergências entre as partes, distinguindo-se aquilo que é essencial do
que é acessório nas suas posições; por outro, pretende-se evitar que as insuficiências e
imprecisões dos articulados na exposição da matéria de facto possam criar uma
realidade processual distinta da verdade das coisas.
Para a delimitação do objecto do litígio relevam elementos de direito e de facto.
Quanto àqueles primeiros, é sempre admissível uma modificação da qualificação
jurídica que seja compatível com os factos alegados pelas partes.
Relativamente aos elementos de facto, o problema que se coloca é o de saber se a
discussão realizada para a delimitação do objecto do litígio pode ser acompanhada da
modificação da causa de pedir. A resposta é positiva, mas não há qualquer motivo para
entender que tal modificação deva ser admitida fora das condições legalmente previstas,
isto é, para além dos casos enquadráveis na previsão do art. 272º CPC (quanto à
modificação consensual) e 273º CPC (quanto à alteração unilateral).
O despacho saneador pode apreciar tanto os aspectos jurídico-processuais da acção,
como o mérito desta (art. 510nº1 CPC). Nestas funções atribuídas ao despacho
saneador, a apreciação daqueles aspectos constitui a sua finalidade primária e o seu
conteúdo essencial, enquanto o conhecimento do mérito é uma finalidade eventual. O
julgamento do mérito realiza-se normalmente na sentença final (art. 658º CPC), pelo
que quando o estado da causa o permitir (art. 510nº1-c CPC), ele pode ser antecipado
para o despacho saneador.
O despacho saneador destina-se, antes de mais, a verificar a admissibilidade da
apreciação do mérito e a regularidade do processo (art. 510nº1-a CPC); havendo toda a
vantagem em que o controlo dessa admissibilidade não seja relegada para uma fase
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adiantada da tramitação da acção, é ela que justifica a atribuição daquela função de
saneamento àquele despacho.
O momento do proferimento do despacho saneador depende da tramitação da causa
em concre. O despacho saneador é proferido no prazo de 15 dias a contar do termo da
fase dos articulados (art. 510nº1 proémio CPC).
No despacho saneador, o Tribunal deve conhecer das excepções que podem
conduzir á absolvição da instância, assim como das nulidades, ainda que não tenham de
anular todo o processo (art. 510nº1-a CPC). Quanto àquelas nulidades, o Tribunal pode
apreciar oficiosamente a ineptidão da petição inicial, a falta de citação, o erro na forma
do processo e a falta de vista ou exame ao Ministério Público como parte acessória (art.
202º CPC). Mas estas nulidades só são apreciadas no despacho saneador se o Tribunal
ainda não tiver conhecido delas (art. 206nº1 e 2, 1ª parte CPC). Também as nulidades
que não são de conhecimento oficioso deverão ser julgadas logo que sejam reclamadas
(art. 206nº3 CPC), pelo que a sua apreciação não se realizará, em regra, no despacho
saneador.

Selecção da matéria de facto


Escolher os factos que se devem considerar assentes e aqueles que devem ser
julgados controvertidos: também esta importante tarefa se cumpre na audiência
preliminar. Quanto a esta selecção, a audiência visa não só prepará-la, mas também
realizá-la efectivamente. A selecção da matéria de facto não pode conter qualquer
apreciação de direito, isto é, qualquer valoração segundo a interpretação ou a aplicação
da lei ou qualquer juízo, indução ou conclusão jurídica.

FASE DA INSTRUÇÃO

Função da fase
Os factos incluídos na base instrutória, porque são controvertidos, necessitam de ser
provados (art. 513º CPC). A fase da instrução realiza uma função distinta consoante
sejam utilizadas para a demonstração desses factos provas constituendas ou provas pré-
constituídas. A produção de uma prova constituenda é realizada, em regra, na audiência

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final (art. 652nº3-a, b, c, d, CPC), mas essa actividade tem de ser previamente
preparada: esta é uma das funções da fase da instrução, na qual são praticados os actos
preparatórios da produção das provas constituendas.

Princípios estruturantes
A fase da instrução rege-se pelo princípio da cooperação, tanto nas relações das
partes e de terceiros com o Tribunal (art. 266º/1 e 519/1 CPC), como nas do Tribunal
com as partes. O princípio da cooperação impõe a todas as pessoas, mesmo que não
sejam partes na causa, o dever de prestar a sua colaboração para a descoberta da
verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se às inspecções
necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os actos que forem
determinados (art. 519º/1 CPC). A recusa de colaboração implica a condenação em
multa, sem prejuízo dos meios coercivos que forem admissíveis (art. 519º/2, 1ª parte
CPC).
Este dever de colaboração é independente da repartição do ónus da prova (arts. 342º
a 345º CC), pelo que abrange mesmo a parte que não está onerada com a prova do facto.
A recusa de colaboração é legítima se esta implicar a violação do sigilo profissional
ou causar grave danos á honra e consideração da própria pessoa, violação ou
intromissão na sua vida privada ou profissional (art. 519nº3 CPC).
Apesar de o objecto do processo se encontrar, em geral, submetido à
disponibilidade das partes (arts. 264º/1; e 664º in fine CPC), a instrução comporta
importantes poderes instrutórios do Tribunal. Esses poderes podem recair sobre factos
essenciais, complementares e instrumentais e justificam-se pela necessidade de evitar
que, pela falta de prova, a decisão da causa seja imposta pelo non liquet (art. 516º CPC;
art. 346º CC) e não pela realidade das coisas averiguada em juízo. Nenhum facto
relevante para a decisão da causa deve ficar por esclarecer.
O princípio do contraditório (art. 3º/1 a 3 CPC) também releva na instrução da
acção. Assim, as provas não são admitidas (nem produzidas) sem a audiência
contraditória da parte a quem sejam opostas (art. 517º/1 CPC). Essa contrariedade
concretiza-se de modo diferente nas provas pré-constituídas.
Relativamente às provas pré-constituídas, qualquer das partes tem a faculdade de
impugnar tanto a respectiva admissão, como a sua força probatória (art. 517º/2, 2ª parte
CPC).
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Quanto às provas constituendas, a parte deve ser notificada, sempre que não seja
relevante, para todos os actos de preparação e produção da prova e é admitida a intervir
nesses mesmos actos (art. 517º/2, 1ª parte CPC).

Meios de prova
Os meios de prova podem ser indicados ou requeridos na petição inicial (art.
467nº2 CPC) e, por analogia, em qualquer outro articulado. Se essa audiência não se
realizar, os meios de prova devem ser apresentados ou requeridos no prazo de 05 dias
subsequentes à notificação do despacho saneador (art. 512nº1 CPC). Neste mesmo
prazo, as partes podem alterar os requerimentos probatórios que hajam feito nos
articulados (art. 512nº1, 2ª parte CPC).

FASE DA AUDIEÊ NCIA FINAL

Função da fase
A fáse dá áudieê nciá finál compreende ás áctividádes de produçáã o dá prová
(constituendá), de julgámento dá máteá riá de fácto e de discussáã o sobre á máteá riá
de direito. Como resultá deste enunciádo, está fáse reálizá duás funçoã es
primordiáis – que sáã o á produçáã o dá prová e o consequente julgámento dá máteá riá
de fácto – e umá funçáã o prepárátoá riá dá sentençá finál – que eá prosseguidá pelás
álegáçoã es de direito.

Princípios estruturantes
Segundo o princípio da imediação, os meios de prova devem ser apresentados
directamente perante o Tribunal, ou seja, o Tribunal deve ter um contacto directo com
esses meios. É este princípio que orienta o disposto no art. 652nº3 CPC, quanto à
realização da prova perante o Tribunal da audiência final. Sempre que a prova seja
transmitida por pessoas, a imediação na produção da prova implica a oralidade nessa
realização.

á) Continuidáde
A audiência final é contínua, só podendo ser interrompida por motivos de força
maior, por absoluta necessidade ou nos casos regulados na lei, (arts. 651nº3; 654nº2

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CPC). Se não for possível conclui-la num dia, o presidente marcará a sua continuação
para o dia útil imediato, ainda que compreendido em férias, e assim, sucessivamente
(art. 656nº1, 2ª parte CPC).

b) Plenitude
Segundo o princípio da plenitude da assistência dos juízes, só podem intervir na
decisão da matéria de facto aqueles que tenham assistido a todos os actos de instrução e
discussão praticados na audiência final (art. 654nº1 CPC). A violação desta regra origina
uma nulidade processual (art. 201nº1 CPC).
Se durante a audiência, algum dos juízes falecer ou se impossibilitar
permanentemente, os actos já realizados são repetidos, senão tiverem sidos reduzids a
escrito perante um Tribunal com uma nova composição (art. 654nº2, 1ª parte CPC). Se a
impossibilidade for temporária, interrompe-se a audiência pelo tempo indispensavel ou,
se parecer mais aconselhável, repetem-se perante um novo Tribunal os actos já
praticados que não tenha sido reduzidos a escrito (art. 654nº2, 2ª parte CPC). Se o juiz
for transferido, promovido ou aposentado, conclui-se, em princípio, o julgamento antes
da efectivação dessa deslocação ou aposentação, excepto se esta se fundamentar na
incapacidade física, moral ou profissional para o exercício do cargo (art. 654nº3, 1ª
parte CPC).

c) Efectivação
A produção da prova orienta-se por um princípio de efectividade, através do qual se
procura evitar que essa actividade se torne impossível por não ter sido realizada no
momento oportuno. Com vista a assegurar a efectividade da produção da prova,
permite-se que, se houver justo receio de vir a tronar-se impossível ou muito difícil o
depoimento de certas pessoas ou a verificação de certos factos por meio de arbitramento
ou inspecção, a produção destas provas possa ser antecipada ou mesmo realizada antes
da propositura da acção (art. 520º CPC). É o que se chama produção antecipada da
prova (ou prova ad perpetuam rei memoriam), que como pressuposto especifico o receio
da impossibilidade ou da dificuldade da realização da prova no momento normal.

Tribunal da audiência

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A discussão e o julgamento da causa são realizados, em regra, com a intervenção
do Tribunal colectivo (art. 646nº1 CPC).

Realização da audiência
A audiência inicia-se com a discussão da causa (art. 652nº1 CPC), isto é, com a
apresentação por cada um dos advogados das partes os fundamentos das suas
posições quer quanto à matéria de facto, quer quanto à matéria de direito.

a) Depoimento de parte, a produção de prova começa pela prestação de depoimento


de parte (art. 652nº3-a CPC), quando ele tiver sido ordenado pelo Tribunal ou
requerido pela outra parte, por uma comparte (arts. 552nº1, e 553nº3 CPC) ou pelo
assistente (arts. 339º CPC).
b) Prova documental, embora deva ser apresentada, em regra, antes da audiência
final (art. 523nº1 CPC), essa audiência é o momento adequado para a exibição de
reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos (art. 652nº3-b, 1ª parte;
527º CPC).
c) Prova pericial, (art.568- 611 CPC). A perícia pode consistir em exame, vistoria
ou avaliação.
d) Prova testemunhal, podem depor como testemunhas todos aqueles que não sejam
inábeis por incapacidade natural (arts. 616º-645 CPC).

Princípios do julgamento
a) Aquisição processual
Segundo o princípio da aquisição processual, o Tribunal deve tomar em
consideração todas as provas realizadas no processo, mesmo que não tenham sido
apresentadas, requeridas ou produzidas pela parte onerada com a prova (art. 515º 1ª
parte CPC).
Uma das consequências deste princípio é a impossibilidade de retirar do processo
uma prova apresentada (art. 542nº3 e 4 CPC). O mesmo processo justifica a
inadmissibilidade da desistência da prova pericial pela parte requerente sem a anuência
da parte contrária (art. 571º CPC).
Exceptuam-se a submissão a este princípio da aquisição processual as situações em
que a lei declare irrelevante a alegação e a prova de um facto quando não sejam feitas

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por uma certa parte (art. 515º, 2ª parte CPC). É o que sucede com a confissão, que só
pode ser feita pela parte para a qual o facto reconhecido é desfavorável (art. 352º CC),
e, mais casuisticamente, com a prova da maternidade na respectiva acção de
investigação, a qual só pode ser realizada pelo filho investigante.

b) Livre apreciação da prova


Algumas das provas que permitem o julgamento da matéria de facto controvertida e
a generalidade daquelas que são produzidas na audiência final (art. 652nº3-b, c, d, CPC)
estão sujeitas à livre apreciação do Tribunal.
A prova livre está excluída sempre que a lei conceda um valor legal a um
determinado meio de prova (arts. 358º/1 e 2, 371º/1, 376º e 377º CC), assim como
quando a lei exigir, para a existência ou prova do facto jurídico, qualquer formalidade
especial (art. 655nº2 CPC).

c) Fundamentação
Na decisão sobre a matéria de facto devem ser especificados os fundamentos que
foram decisivos para a convicção do julgador sobre a prova (ou falta de prova) dos
factos (art. 653º/2 CPC). Como, em geral, as provas produzidas na audiência final estão
sujeitas à livre apreciação (arts. 655nº1 e 652nº3-b, c, d, CPC), o Tribunal deve indicar
os fundamentos suficientes para que, através das regras da ciência, da lógica e da
experiência, se possa controlar a razoabilidade daquela convicção sobre o julgamento do
facto como provado ou não provado. A exigência da motivação da decisão não se
destina a obter a exteriorização das razões psicológicas da convicção do juiz, mas a
permitir que o juiz convença os terceiros da correcção da sua decisão. Através dessa
fundamentação, o juiz deve passar de convencido a convincente.
A fundamentação da apreciação da prova deve ser realizada separadamente para
cada facto. A apreciação de cada meio de prova pressupõe conhecer o seu conteúdo,
determinar a sua relevância e proceder à sua valoração.

Procedimento do julgamento
Encerrada a discussão, o Tribunal recolhe à sala das conferências para ponderar e
decidir (art. 653nº1, 1ª parte CPC). Se não se julgar suficientemente esclarecido, pode

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voltar à sala da audiência, ouvir as pessoas que entender e ordenar quaisquer diligências
necessárias (art. 653nº1, 2ª parte CPC).
A matéria de facto é decidida por meio de acórdão ou despacho, se o julgamento
incumbir a Tribunal singular (art. 653nº2, 1ª parte CPC). A decisão do Tribunal
colectivo é tomada por maioria e o acórdão é lavrado pelo presidente, podendo qualquer
dos juízes assinar vencido quanto a qualquer ponto da decisão ou formular declaração
divergente quanto à sua fundamentação. Aquela decisão deve declarar quais os factos
que o Tribunal julga provados e quais os que considera não provados e especificar,
quanto a todos eles, os fundamentos que foram decisivos para a convicção do julgador
(art. 653º/2 CPC). As partes podem reclamar contra a falta dessa motivação (art. 653º/4,
2ª parte CPC).

Discussão da matéria de direito


A fase da audiência final termina com a discussão da matéria de direito, que se
destina a discutir a interpretação e aplicação da lei aos factos julgados provados (arts.
653º/5 in fine, e 657º in fine CPC) e que se pode realizar oralmente ou por escrito. Em
regra, a discussão do aspecto jurídico da causa realiza-se oralmente perante o juiz a
quem caiba lavrar a sentença final (arts. 653º/5, 1ª parte e 657º CPC). Deferindo-se a
discussão escrita do aspecto jurídico da causa, o juiz fixara durante a audiência de
discussão e julgamento, o prazo de oito dias, o advogado do autor e oito dias a contar do
termo do prazo fixado ao advogado do réu, para de alegarem, interpretando e aplicando
a lei aos factos que tiverem ficados assentes. (art. 657º CPC).

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FASE DA SENTENÇA

Função da fase
A fase da sentença é aquela em que é proferida a decisão final do procedimento
em 1ª instância. Concluida a discussão do aspecto jurídico da causa, vai o processo
concluso ao juiz que proferira a sentença dentro de quinze dias. (art.658 CPC)

Conteúdo da sentença
A sentença comporta os seguintes elementos: relatório, fundamentos, decisão e
aspectos complementares. No relatório, o Tribunal identifica as partes e o objecto do
litígio e fixa as questões a resolver (art. 659nº1 CPC). Ao relatório seguem-se os
fundamentos e a decisão. O juiz tomara em consideração os factos admitidos pelos
acordos, provados por documentos ou por confissão reduzidos a escrito eque os
tribunais deu como provados; fará o exame crítico das provas de que compete
conhecer e estabelecerá os factos que considera provados, depois interpretará e
aplicará a lei aos factos, concluindo-se pela decisão final. A sentença deve ser
fundamentada (art. 158nº1 CPC) através da exposição dos fundamentos de facto –
respeitam aos factos relevantes para a decisão que foram adquiridos durante o
processo – e de direito – à interpretação e aplicação das normas jurídicas aplicáveis a
esses factos.
O sentido da decisão depende dos factos fornecidos pelo processo e da análise
do cumprimento do ónus da prova.

Conteúdo do julgamento
A sentença conhece em primeiro lugar, e pela ordem estabelecida no art 288, das
questões que possam conduzir à absolvição da instância, segundo a ordem da sua
precedência lógica (art. 660nº1 CPC). Estas excepções podem ser tanto aquelas que o
Tribunal deixou de apreciar no despacho saneador, por entender que, nesse momento, o
processo ainda não fornecia os elementos necessários, como aquelas que não foram
apreciadas concretamente nesse despacho e sobre as quais não há, por isso, qualquer
caso julgado. Dado que o despacho saneador genérico não produz caso julgado quanto à

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existência ou inexistência de qualquer excepção dilatória, o Tribunal não está impedido
de a apreciar na sentença final.
Entre o despacho saneador e o termo da discussão pode verificar-se a sanação ou a
cessação de uma excepção dilatória. Aquelas eventualidades não podem deixar de ser
consideradas na sentença final, podendo invocar-se a analogia com o disposto no art.
663nº1 CPC, quanto à consideração nessa sentença dos factos constitutivos,
modificativos ou extintivos ocorridos até ao encerramento da discussão. Assim, na
acção pendente na 1ª instância, é relevante qualquer sanação ou cessação de uma
excepção dilatória, desde que ocorra até ao encerramento da discussão.
O art. 660nº1 in fine CPC, impõe o conhecimento das excepções dilatórias segundo
a ordem da sua precedência lógica. São dois os preceitos que contêm enumerações de
excepções dilatórias – os arts. 288nº1 e 494º CPC –, mas elas não se subordinam a
nenhuma ordenação lógica. Como consequência da disponibilidade das partes sobre o
objecto da causa (arts. 264nº1 e 3, e 664º in fine CPC), o âmbito do julgamento
comporta dois limites. Um limite mínimo decorre do dever de conhecimento na
sentença de todas as questões submetidas pelas partes à apreciação do Tribunal,
exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras. A falta
de apreciação de qualquer dessas questões conduz à nulidade da sentença por omissão
de pronúncia (art. 668nº1-d, 1ª parte CPC).

Impugnações das decisões judiciais (reclamação e recursos)

As decisões judiciais podem ser feitas mediante reclamação ou recurso. A


reclamação consiste num pedido de reapreciação de uma decisão dirigido ao tribunal
que a proferiu.

Os recursos podem ser ordinários ou extraordinários ( art.676,n∘2 1 ͣ parte). O


recurso ordinário é um pedido de reapreciação de uma decisão ainda não transitada em
julgado, dirigido a um tribunal superior fundamentado na ilegalidade da decisão e
visando revogá-la ou substituí-la por uma outra mais favorável ao recorrente. Os
recursos ordinários são a apelação, a revista, o agravo e o recurso para o plenário do
Tribunal supremo; são extraordinários a revisão, a oposição de terceiros e a suspensão
de execução e anulação de sentenças manifestamente injustas e ilegais.

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Cabe ao recurso de apelação da sentença final e do despacho saneador que
decidam do mérito da causa (art. 691n∘1 do CPC). No que concerne a revista, o campo
de aplicação delimita-se pelo objecto e fundamento: - o objecto da revista é o acórdão
do Tribunal superior de recurso que decide do mérito da causa; e o fundamento da
revista é a violação de lei substantiva. (art. 721n∘ 1 e 2 1 ͣparte do CPC). Relativamente
ao recurso de agravo da primeira instância delimita-se negativamente, perante o do
recurso da apelação: cabe agravo das decisões susceptíveis de recurso que não possa
apelar-se (art.733 do CPC). O gravo em segunda instancia é admissível nas seguintes
situações: - quando o acórdão do Tribunal superior do recurso não aprecie o mérito da
causa; - quando conheça do mérito da causa, mas o recorrente pretende impugnar essa
decisão exclusivamente com fundamento processual

PROCESSO SUMAÓ RIO

Regime aplicável
Ao processo são aplicáveis as disposições que lhe são próprias (constam dos
arts. 783º a 792º CPC) e as disposições gerais e comuns (estabelecido nos arts. 137º
a 459º; 463nº1, 1ª parte CPC); em tudo quanto não estiver regulado numas e noutras,
deve observar-se o que se encontra estabelecido para o processo ordinário (ou seja, o
disposto nos arts. 467º a 782º; 463nº1, 2ª parte CPC). Dada esta aplicação subsidiária
do regime do processo ordinário, só interessa analisar as especialidades do processo
sumário.

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