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1. Acesso áá justiçá
1.1 Direito à jurisdição
O art. 10º Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece que “toda a
pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente
julgada por um Tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja
deduzida”. Este direito à justiça sem qualquer discriminação por motivos económicos é
uma consequência do Estado social de direito que se encontra consagrado no art. 3º
CRM.
O acesso à justiça não é, aliás, o único direito fundamental assegurado ao cidadão
na área da protecção dos direitos: adequadamente, o art. 62º/1 CRM atribui, a par da
garantia de acesso aos Tribunais, uma garantia de acesso ao próprio direito. Sem este
“direito ao direito”, a garantia do acesso aos Tribunais poderia tornar-se vazia e ilusória,
dado que não importa criar as condições para aceder aos Tribunais se, simultaneamente,
não se possibilitar o conhecimento dos direitos que se podem defender através desses
órgãos. Nesta perspectiva, percebe-se que, a garantia do acesso ao direito envolva o
direito à informação e consultas jurídicas, ao patrocínio judiciário à protecção jurídica.
Este direito pressupõe em garantir àquele que recorre aos Tribunais um julgamento
por um órgão imparcial, uma plena igualdade das partes, o direito ao contraditório, uma
duração razoável da acção, a publicidade do processo e a efectivação do direito à
prova.Por conseguinte, é necessário e relevante assegurar a qualquer interessado o
acesso à justiça, porém, tão importante como esse acesso é garantir que o processo a que
se acede apresenta, quanto à sua própria estrutura, garantias de justiça.
b) Direito de resposta:
O contraditório não pode ser exercido e o direito de resposta não pode ser
efectivado se a parte não tiver conhecimento da conduta processual da contraparte.
Quanto a este aspecto, vale a regra de que cumpre à secretaria notificar oficiosamente as
partes quando, por virtude de disposição legal, elas possam responder a requerimentos,
oferecer provas ou, de um modo geral, exercer algum direito processual que não
dependa de prazo a fixar pelo juiz, nem de prévia citação (art. 229º/3 CPC).
O direito de resposta consiste na faculdade, concedida a qualquer das partes, de
responder a um acto processual (articulado, requerimento, alegação ou acto probatório)
da contraparte. Este direito tem expressão legal, por exemplo, no princípio da audiência
contraditória das provas constante do art. 517º CPC.
A violação do contraditório inclui-se na cláusula geral sobre as nulidades
processuais constante do art. 201º/1 do CPC (fora dos casos previstos nos artigos
anteriores, a prática de um acto que a lei não admita, bem como a omissão de um acto
ou de uma formalidade que a lei prescreva, só produzem nulidade quando a lei o declare
ou quando a irregularidade cometida possa influir no exame ou na decisão da causa),
6.Publicidáde do processo
A publicidade do processo tornou-se possível com a introdução da oralidade e
contínua a possuir a justificação tradicional: ela é um meio para combater o arbítrio e
assegurar a verdade e a justiça das decisões judiciais. A essa publicidade estão
subjacentes os princípios fundamentais do Estado de direito, nomeadamente a
possibilidade de um controlo popular dos órgãos que – como sucede com os Tribunais –
exercem poderes de soberania.
A publicidade das audiências dos Tribunais constitui uma importante garantia numa
dupla dimensão: em relação às partes, ela assegura a possibilidade de um controlo
popular sobre as decisões que as afectam directamente; relativamente à opinião pública,
essa publicidade permite combater a desconfiança na administração da justiça.
A publicidade das audiências é, no entanto, excluída quando circunstâncias
ponderosas o aconselham.
A publicidade do processo implica o direito, reconhecido a qualquer pessoa capaz de
exercer o mandato judicial ou a quem nisso revele um interesse atendível, de exame e
consulta dos autos na secretaria do Tribunal e de obtenção de cópias ou certidões de
quaisquer peças nele incorporadas pelas partes. Este acesso aos autos é, porém, limitado
nos casos em que a divulgação do seu conteúdo possa causar dano à dignidade das
pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública ou pôr em causa a
eficácia da decisão a proferir.
7. Direito áà prová
A prova é a actividade destinada à formação da convicção do Tribunal sobre a
realidade dos factos controvertidos (art. 341º CC), isto é, dos factos que constituem a
chamada base instrutória (art. 511º/1 CPC). Essa actividade incumbe à parte onerada
(art. 342º CC), que não obstará uma decisão favorável se não satisfazer esse ónus (art.
516º; art. 346º CC).
Para cumprir o ónus da prova, a parte tem de utilizar um dos meios de prova legal
ou contratualmente admitidos ou não excluídos por convenção das partes (art. 345º CC).
1.1. Acções declarativas, visam a declaração, pelo tribunal, da solução concreta que decorre da
ordem jurídica para situação real que serve de base á pretensão
- Processo ordinário
- Processo sumário
- Execução de alimentos
- Mandado de despejo
Nos termos do art 467n∘1, al. b, do CPC, na petição incial, o autor deve indicar a
forma do processo.
A indicação de uma forma de processo errada gera a anulação dos actos que não
possam ser aproveitados, art 199 do CPC.
- Separação judicial
- Acção de alimento
Pactos de competência
Páctos de jurisdiçáã o
A competência convencional internacional pode ser determinada através de um
pacto de jurisdição (art. 99º/1 CPC). Esse pacto pode ser, quando considerado pela
perspectiva da ordem jurídica Moçambicana, atributivo ou privativo.
O pacto é atributivo, quando concede competência a um Tribunal ou a vários
Tribunais Moçambicanos; a competência atribuída pode ser concorrente ou exclusiva.
O pacto é privativo, quando retira competência a um ou a vários Tribunais
Moçambicanos e a atribui em exclusivo a um ou vários Tribunais estrangeiros (art. 99º/2
CPC).
Como o carácter atributivo ou privativo do pacto de jurisdição é definido em
relação à ordem jurídica Moçambicana, a validade de um desses pactos não é
vinculativa para os Tribunais de ordens jurídicas estrangeiras.
Modalidade de incompetência
Incompetência absoluta
Incompetência relativa
O art. 108º (A infracção das regras de competência fundadas no valor da causa, na
forma do processo aplicável, na divisão judicial do território ou decorrentes do
estipulado nas convenções previstas nos artigos 99º e 100º, determina a incompetência
relativa do tribunal, este perceito enuncia as situações que originam a incompetência
relativa: esta incompetência resulta da infracção das regras da competência fundadas no
valor da causa, na divisão judicial do território (arts. 73º a 89º CPC) ou decorrentes de
um pacto de competência ou de jurisdição (arts. 99º e 100º CPC).
Noção de parte
Duas observações:
Parte é quem o é, não quem o devia ou podia ser. Ex., se A quer fazer anular em
juizo um contrato que celebrou com B e C (veremos adiante que propor contra ambos);
se propuser contra B ou contra C, cada um deste é parte ilegítima. Mas só o demadando
é parte; quem não for demandado, embora devendo sê-lo, é parte ilegítima, não é parte
enquando o não for.
Estando a parte representada, parte é o representado, e não o representante.
P.ex., se A propõe contra B uma acção como tutor de C, partes em juízo são C e B.
Se a acção se funda ou não numa situação de representação, isso é, deve ver-se
através da demanda. É de julgar-se como esta demanda configura a situação, não como
o devia conseguir. P. ex., Assim, se A, afirmando-se representante de B, sem o ser,
propõe uma acção contra C, partes são B e C.
Há, porém uma representação irregular, pelo que B não pode ser vinculado ou
prejudicado por esta acção se a repudiar. Pelo contrário, se D, representante de E,
propuser contra F uma acção em nome próprio pretendendo fazer valer direitos de E,
partes são D e F- embora D seja parte ilegitíma.
Áqueles que não são partes nem são elementos do tribunal, enquanto tal dá-se o
nome de terceiros. Art. 1037n∘2 do CPC.
Terceiro procesual é o sujeito que não goza da condição de parte ou não esta adstrito
a ela, qualquer que seja a sua relação com as partes verdadeiras.
Noção
A personalidade judiciária é a susceptibilidade de ser parte processual (art. 5nº1
CPC). Só pode ser parte processual quem tiver personalidade jurídica.
Critérios atributivos
A personalidade judiciária é atribuída em função do critério da coincidência, da
diferenciação patrimonial, da afectação do acto e da protecção de terceiros.
a) Critério da coincidência:
A personalidade judiciária é concedida a todas as pessoas jurídicas, singulares ou
colectivas (art. 5º/2 CPC). Assim, todo o ente juridicamente personalizado tem
igualmente personalidade judiciária, activa ou passiva.
Relativamente a estrangeiros, há que considerar o art. 26º/1 CC, segundo o qual o
início e o termo da personalidade judiciária são fixados pela lei pessoal de cada
indivíduo, que é a lei da sua nacionalidade (art. 31º/1 CC) ou, se o indivíduo for
apátrida, a lei do lugar onde ele tiver a sua residência habitual ou, se for menor ou
interdito, o seu domicílio legal (art. 32º/1 CC). Quanto às pessoas colectivas (excepto
sociedade comerciais), a sua lei pessoal é a do Estado onde se encontra situada a sede
principal e efectiva da sua administração (art. 33º/1 CC) ou, se for uma pessoa colectiva
internacional, a designada na convenção que a criou ou nos respectivos estatutos ou, na
sua falta, a do país onde estiver a sede principal (art. 34º CC). As sociedades comerciais
têm como lei pessoal a lei do Estado onde se encontre situada a sede principal e efectiva
da sua administração (art. 3º/1, 1ª parte. CSC).
Noção
A capacidade judiciária é a susceptibilidade de a parte estar pessoal e livremente em
juízo ou de se fazer representar por representante voluntário art. 9nº1 do CPC, a
capacidade judiciária consiste na susceptibilidade de estar, por si, em juízo. Assim, não
possuem capacidade judiciária quer os que podem intervir pessoal mas não livremente
(os inabilitados), quer os que não podem actuar nem pessoal, nem livremente (os
menores e os inabilitados).
Aferição
A capacidade judiciária é aferida pela capacidade de exercício para a produção dos
efeitos decorrentes da acção pendente (art. 9nº2 do CPC – a capacidade judiciária tem
por base e por medida a capacidade do exercício de direitos.
Exceptuam-se do âmbito da incapacidade judiciária os actos que o incapaz pode
excepcionalmente praticar pessoal e livremente, art. 10nº1 do CPC in fine – os
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incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes, ou
autorizados pelo seu curador, excepto quanto aos actos que possam exercer pessoal e
livremente.
Meios de suprimento
A incapacidade judiciária é suprida mediante assistência e representação.Os
incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus representantes, ou
autorizados pelo seu curador, excepto quanto aos actos que possam exercer pessoal e
livremente. A assistência por curador supre a incapacidade dos inabilitados, art. 153nº1
CC. A autorização do curador é necessária para os actos praticados pelo inabilitado
quando seja parte activa ou passiva, embora, como o inabilitado pode estar
pessoalmente em juízo, ele possa intervir em qualquer acção e deva ser citado quando
seja réu, art. 13nº1 do CPC – os inabilitados podem intervir em todas as acções em que
sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus, sob pena de se
verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido citado o
curador.
Representáçáo judiciáá riá
Noção
A representação judiciária é a representação de entes que estão submetidos a uma
representação orgânica ou que podem ser representados pelo Ministério Público.
Regime
a) Estado:
O Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que
seja permitida a representação por mandatário judicial próprio (art. 20º/1 CPC) ou em
que as entidades autónomas possam constituir advogado que intervenha no processo
conjuntamente com o Ministério Público (art. 20º/2 CPC).
c) Incapazes e ausentes:
Os incapazes e ausentes são representados pelo Ministério Público em todas as
acções que se mostrem necessárias à tutela dos seus direitos e interesses, (art. 16/A nº1
CPC). A representação pelo Ministério Público cessa se for constituído mandatário
judicial do incapaz ou ausente ou se, tendo o respectivo representante legal deduzido
oposição a essa representação, o juiz, ponderado interesse do representado, a considerar
procedente (art. 16 /A nº2 CPC).
d) Incertos:
Quando a acção seja proposta contra incertos, por o autor não ter a possibilidade de
identificar os interessados directos em contradizer, eles são representados pelo
Ministério Público (art. 16nº1 CPC), excepto se este representar o autor, caso em que é
nomeado um defensor oficioso para servir como agente especial do Ministério Público
naquela representação. Esta representação cessa quando os citados como incertos se
apresentam para intervir como réus e a sua legitimidade se encontrar reconhecida (art.
16nº2 CPC).
e) Pessoas judiciárias:
As pessoas judiciárias – isto é, as entidades que só possuem personalidade
judiciária – são representadas da seguinte forma:
- A herança jacente, por um curador (art. 22º CPC; art. 2048nº1 CC); As
associações sem personalidade judiciária, pelo órgão da administração (art. 22º
CPC; art. 195nº1 CC); As comissões especiais pelos administradores (art. 22º CPC;
art. 996nº1 CC); As sociedades comerciais não registadas, pelas pessoas a que as
cláusulas do contrato atribuam a representação (art. 22º CPC); O condomínio, pelo
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administrador (art. 22º CPC; art. 1437nº2 CC); As sucursais ou equivalentes, pelos
directores, gerentes ou administradores (art. 22 CPC).
Irregularidades de representação
A irregularidade de representação verifica-se quando a parte, embora esteja
representada ou assistida, não está pelo verdadeiro representante ou curador.
O regime de sanação da irregularidade de representação é semelhante ao da
incapacidade judiciária strictu sensu, tal como o são os efeitos da sua não sanação (arts.
23º e 24º CPC).
Classificações
O litisconsórcio é passivel de várias classificações: pode-se classificá-lo quanto à
origem, ao reflexo na acção e ao conteúdo da decisão. Dado que se referem a realidades
distintas, essas classificações podem classificar-se entre si.
b) Reflexo na acção:
Atendendo aos reflexos na acção, o litisconsórcio pode ser: simples, é aquele em
que a pluralidade de partes não implica um aumento do número de oposições entre as
partes, por exemplo, numa acção de reivindicação proposta contra dois réus existe
apenas, apesar dessa pluralidade passiva uma única oposição entre o autor e os réus.
Recíproco, é aquele em que a pluralidade de partes determina um aumento do número
de oposições entre elas, por exemplo, numa de acção de divisão de coisa comum
proposta por um comproprietário contra dois outros comproprietários verifica-se uma
oposição entre cada um desses contitulares e qualquer dos outros, pois que o que for
atribuido a cada um deles não pode ser concedido a qualquer outro.
c) Conteúdo da decisão:
Atendendo ao conteúdo da decisão, o litisconsórcio pode ser: Unitário, é aquele em
que a decisão tem de ser uniforme para todos os litisconsortes, por exemplo, numa
acção de anulação do casamento proposta contra ambos os cônjuges, a decisão de
(procedência ou de improcedência) tem de ser a mesma para ambos dos cônjuges.
Simples, pelo contrário, a decisão pode ser distinta para cada um dos litisconsortes. Por
exemplo, se o credor instaurar uma acção contra dois devedores conjuntos, pode ser
proferida uma decisão condenatória de um dos demandados e uma decisão absolutória
de outro réu.
Litisconsórcio voluntário
Sempre que existe uma pluralidade de interessados, activos ou passivos, opera,
quanto à constituição do litisconsórcio, uma regra de coincidência, pois que a acção
pode ser proposta por todos esses titulares ou contra eles (art. 27nº1, 1ª parte CPC).
Assim por exemplo, forem vários devedores de uma prestação, o credor pode sempre
demandá-los conjuntamente (mesmo que a obrigação seja solidária, art.517 do CC). O
litisconsórcio voluntário verifica-se por iniciativa da parte ou partes em causa: são os
vários interessados que decidem instaurar a acção conjuntamente, é o autor da acção que
resolve propor a acção contra vários réus e é esse autor ou o réu que opta por promover
a intervenção de outras partes durante a pendência da acção.
Apesar de o litisconsórcio voluntário se encontrar na disponibilidade das partes, que
o podem constituir ou não, isso não significa que a sua constituição seja irrelevante, isto
é, que a parte que o pode conformar possa conseguir os mesmos benefícios e vantagens
com ou sem a sua conformação.
Litisconsórcio necessário
No litisconsórcio necessário, todos os interessados devem demandar ou ser
demandados. Os critérios que orientam a previsão do litisconsórcio necessário são
essencialmente dois: o critério da indisponibilidade individual (ou da disponibilidade
plural) do objecto do processo e o critério da compatibilidade dos efeitos produzidos.
Aquele primeiro critério tem expressão no litisconsórcio legal e convencional; este
último, no litisconsórcio natural.
a) Litisconsórcio legal:
O litisconsórcio necessário legal é aquele que é imposto pela lei (arts. 28nº1, 28º-
CPC).
Quanto ao litisconsórcio necessário entre os cônjuges, há que analisar o disposto no
art. 28º/A CPC (acções que devem ser propostas por ambos os cônjuges) .
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Relativamente à propositura da acção, o litisconsórcio entre os cônjuges é necessário
quanto a direitos que apenas possam ser exercidos por ambos ou a bens que só possam
ser administrados ou alienados por eles, incluindo a casa de morada de família (art. 28º
CPC). Para se saber quais são esses direitos e bens, há que distinguir entre as acções
relativas a actos de administração e a actos de disposição.
Nas acções relativas a actos de administração, o litisconsórcio activo é necessário
quanto aos actos de administração de bens comuns do casal, por exemplo, uma acção
cujo objecto de arrendamento é um bem comum, só pode ser instaurados pelos ambos
os cônjuges. Nas acções referidas a actos de disposição, o litisconsórcio activo é
necessário quando o objecto do processo for nomeadamente, um acto de disposição de
bens comuns administrados por ambos os cônjuges, dos bens móveis admnistrados por
ambos cônjuges
Note que o litisconsórcio activo entre os cônjuges pode ser substituído pela
propositura da acção por um deles com o consentimento do outro (art. 28º/A CPC), o
que constitui uma situação de substituição processual voluntária. Se o cônjuge não der o
seu consentimento para a propositura da acção, o outro pode supri-lo judicialmente (art.
28/A CPC), utilizando para tanto o processo regulado no art. 1425º CPC.
Relativamente à demanda dos cônjuges, o litisconsórcio é necessário quando o
objecto do processo for um facto praticado por ambos os cônjuges, uma divida
comunicável, um direito que apenas pode ser exercido por ambos os cônjuges ou um
bem que só por eles pode ser administrado ou alienado, incluindo a casa de morada de
família (art. 28º/A CPC).
O litisconsórcio necessário definido pelo art. 28º CPC, também pode operar depois
da dissolução, declaração de nulidade ou anulação do casamento.
No que concerne as acções nos casos de união de facto, aplica-se com as
necessárias adaptações o disposto no art 28/A do CPC.
b) Litisconsórcio convencional:
O litisconsórcio necessário convencional, é aquele que é imposto pela estipulação
das partes de um negócio jurídico (art. 28º/1 CPC). Para a determinação do âmbito deste
litisconsórcio convencional há que analisar o regime das obrigações divisíveis e
indivisíveis.
c) Litisconsórcio natural:
O litisconsórcio necessário natural, é aquele que é imposto pela realização do efeito
útil normal da decisão do Tribunal (art. 28º/2 CPC).
Pode entender-se que o litisconsórcio natural só existe quando a repartição dos
vários interessados por acções distintas impeça uma composição definitiva entre as
partes da causa. Por exemplo, numa acção de divisão de coisa comum só a intervenção
de todos os interessados pode compor definitivamente a situação entre todos os
comproprietários, porque qualquer divisão realizada entre apenas algum deles é
necessariamente incompatível com uma nova divisão entre quisquer outros.
Mas também pode defender-se que o litisconsórcio é natural não só quando a
repartição dos interessados por acções diferentes impeça a composição definitiva entre
as partes, mas também quando a repartição dos interessados por acções distintas possa
obstar a uma solução uniforme entre todos os interessados.
Litisconsórcio unitário
O litisconsórcio unitário é aquele em que a decisão do Tribunal tem de ser uniforme
para todos os litisconsortes. Este litisconsórcio corresponde a situações em que o
objecto do processo é um interesse indivisível, pelo que sobre ele não podem ser
proferidas decisões divergentes.
A uniformidade do objecto, quer de uma relação de prejudicialidade entre vários
objectos.
São pensáveis situações de litisconsórcio unitário voluntário. Se, por exemplo,
vários comproprietários propuserem uma acção de reivindicação contra um detentor, o
litisconsórcio é voluntário, porque a acção podia ter sido proposta por um único dos
comproprietários (art. 1405nº2 CC), mas é igualmente unitário, porque a causa não pode
ser julgada procedente quanto a um dos comproprietários e improcedente quanto a um
qualquer outro.
O litisconsórcio unitário também pode ser necessário. Suponha-se que o presumido
pai instaura, contra o filho e a mãe, uma acção de impugnação da paternidade; esse
litisconsórcio é necessário (art. 1846nº1 CC) e unitário, porque essa acção de
impugnação só pode ser procedente ou improcedente simultaneamente contra ambos os
demandados.
Constituição do litisconsórcio
O litisconsórcio voluntário encontra-se na disponibilidade da parte, que o pode
constituir ou não. Diferentemente, o litisconsórcio necessário não permite qualquer
opção da parte, pois que a acção tem de ser proposta por todos ou contra todos os
interessados. A pluralidade de partes relativamente às quais o litisconsórcio é imposto
pode ser activa ou passiva.
Quanto aos efeitos da sua não constituição, no caso do litisconsórcio voluntário
verifica-se apenas o desaproveitamento de certos benefícios ou vantagens, mas na sua
hipótese do litisconsórcio necessário conforma-se a ilegitimidade da parte (activa ou
passiva) que está em juízo desacompanhada dos demais interessados (art. 28º/1 CPC).
A ilegitimidade proveniente da preterição de litisconsórcio necessário é sanável,
embora haja que distinguir o litisconsórcio relativo aos cônjuges das demais hipóteses.
No litisconsórcio entre os cônjuges, a ilegitimidade activa é sanável mediante a
obtenção do consentimento do outro cônjuge ou o seu suprimento; a ilegitimidade
passiva é sanável através da intervenção principal do cônjuge não presente, provocada
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quer pelo autor da acção (art. 269nº1 CPC), mesmo nos 30 dias subsequentes ao trânsito
em julgado da decisão de absolvição da instância (art. 269nº2 CPC), quer pelo cônjuge
demandado (art. 325nº1 CPC).
Nas demais situações de litisconsórcio necessário, a ilegitimidade (activa ou
passiva) é sanável mediante a intervenção principal provocada da parte cuja falta gera
ilegitimidade (art.269nº1 CPC). Essa intervenção é admissível mesmo depois do trânsito
em julgado do despacho saneador que apreciou a ilegitimidade, situações em que a
instância se renova (art. 269nº2 CPC).
Decisão da acção
O art. 29º CPC, estabelece que, no litisconsórcio necessário, as partes se
apresentam externamente como uma única parte e que, no litisconsórcio voluntário, elas
mantêm uma posição de autonomia. Assim, no litisconsórcio voluntário, cada parte pode
desistir ou confessar a quota-parte do pedido ou transigir sobre essa quota-parte (art.
298º/1 CPC), o recurso interposto por alguma das partes vencidas não aproveita, em
regra, aos não recorrentes (art. 683º/1 CPC) e o recorrente pode excluir do recurso
alguma das partes vencedoras (art. 684º/1 CPC); em contrapartida, no litisconsórcio
necessário, a confissão, desistência ou transacção só podem ser realizadas com a
intervenção de todos os litisconsortes (art. 298º/2 CPC), o recurso interposto por
qualquer dos litisconsortes aproveita sempre aos demais (art. 683º/1 CPC) e o recorrente
nunca pode excluir nenhum dos litisconsortes vencedores (art. 684º/1 CPC).
LEGITIMIDADE PROCESSUAL
Aspectos gerais
Nem sempre a regulação dos interesses conflituantes pode aguardar o proferimento
da decisão do Tribunal que resolve, de modo definitivo, aquele conflito. Por vezes,
Pressupostos
A necessidade da composição provisória decorre do prejuízo que a demora na
decisão da causa e na composição definitiva provocaria na parte cuja situação jurídica
merece ser acautelada ou tutelada. A finalidade específica das providências cautelares é,
por isso, a de evitar a lesão grave e dificilmente reparável proveniente da demora na
tutela da situação jurídica, isto é, obviar ao chamado periculum in mora.
Se faltar o periculum in mora, ou seja, se o requerente da providência não se
encontrar, pelo menos, na iminência de sofrer qualquer lesão ou dano, falta a
necessidade da composição provisória e a providência não pode ser decretada. Quer
dizer: esse periculum é um elemento constitutivo da providência requerida, pelo que a
sua inexistência obsta ao decretamento daquela.
Providências especificadas
· Arresto
O arresto e o arrolamento são providências cautelares cuja finalidade específica é
garantir a realização de uma pretensão e assegurar a sua execução. O arresto pode ser
requerido pelo credor que demonstre a probabilidade da existência do seu crédito e
tenha justo receio de perda da sua garantia patrimonial (arts. 403nº1 CPC; 601º e 619º/1
CC). O arresto consiste na apreensão judicial de bens do devedor (arts. 402º CPC;
619º/1 CC) ou de bens transmitidos pelo devedor a um terceiro (art.619º/2 CC)
·
Arrolamento
O arresto visa assegurar a garantia patrimonial do credor, o arrolamento destina-se
a evitar o extravio ou a dissipação de bens, móveis ou imóveis, ou de documentos (art.
421º CPC), que, para esse efeito, são descritos, avaliados e depositados. Essa
providência visa a conservação de bens ou documentos determinados.
·
Alimentos provisórios
A providência de alimentos provisórios pode ser requerida como dependência da
acção em que, principal ou acessoriamente, seja pedida uma prestação de alimentos
(arts. 388nº1 CPC). Essa causa pode ser, por exemplo, uma acção de reconhecimento da
maternidade ou paternidade. Os alimentos provisórios são fixados numa quantia mensal,
tomando em consideração o que for estritamente necessário para o sustento, a habitação
e o vestuário do requerente e ainda para as despesas da acção, se o autor não puder
beneficiar de assistência Judiciária (art. 388nº2 CPC).
·
Providências comuns
Não cabendo nenhuma das providências nominadas, a garantia da execução da
decisão final, a regulação provisória e a antecipação da tutela podem ser obtidas através
de uma providência cautelar não especificada (art. 399º CPC). As providências não
especificadas só podem ser requeridas quando nenhuma providência nominada possa ser
utilizada no caso concreto: nisto consiste a subsidiariedade dessas providências.
Características
a) D ependência
As providências cautelares visam compor provisoriamente a situação das partes,
são dependência de uma acção cujo objecto é a própria situação acautelada ou tutelada.
(art.384 CPC). Dada esse dependência, as providências caducam se a acção principal
vier a ser julgada improcedente ou se o réu for nela absolvido da instância e o autor não
propuser, dentro do prazo legal acção principal sobre (art. 382 CPC). Se a acção
principal for julgada procedente, verifica-se, em regra a substituição da composição
provisória pela definitiva resultante dessa decisão.
As providências cautelares podem ser requeridas antes da propositura da acção
principal ou durante a pendência desta última, mas nunca após o trânsito em julgado da
decisão dessa acção.
b) Celeridade
As providências cautelares são apreciadas e decretadas nos procedimentos
cautelares. Dada a celeridade indispensável a essas providências, estes procedimentos
revestem sempre carácter urgente e os respectivos actos precedem qualquer outro
serviço judicial não urgente (art. 381nº1/A CPC); como consequência desta urgência, os
prazos processuais neles previstos não se suspendem sequer durante as férias judiciais
(art. 144nº1 CPC).
Caducidade
As providências cautelares fornecem, uma composição provisória, pelo que elas
caducam se a decisão que vier a ser proferida na acção principal não for compatível com
a medida provisória decretada. É o que acontece quando essa acção for julgada
improcedente por uma sentença transitada em julgado.
A caducidade da providência cautelar decorrente da extinção do direito acautelado
é apenas uma das situações possíveis de inutilidade superveniente dessa providência
(art. 287º-e CPC), pelo que essa inutilidade pode decorrer de outros fundamentos.
Responsabilidade do requerente
Pode suceder que a providência requerida venha a mostrar-se injustificada pela falta
quer do próprio direito acautelado ou tutelado, quer do fundamento do seu
decretamento; também pode acontecer que a providência decretada, inicialmente
justificada, venha a caducar por facto imputável ao requerente. Em todos estes casos, o
requerente, se não tiver agido com a prudência normal, é responsável pelos danos
causados ao requerido (art. 387nº1; quanto ao arresto, art. 621º CC). A responsabilidade
do requerente pressupõe que a providência é injustificada no momento em que é
requerida ou não vem a ser confirmada pela decisão proferida na acção principal.
Noção
A composição da acção pode ser decisivamente influenciada pela omissão de um
acto processual: trata-se da revelia do réu, que consiste na abstenção definitiva da
contestação.
A contestação – na qual o réu pode impugnar as afirmações do autor ou deduzir
uma excepção (art. 487º/1 CPC) – constitui um ónus da parte, não existindo, assim,
qualquer dever de contestar. Daí decorre que a revelia não determina a aplicação ao réu
de qualquer sanção (pecuniária, nomeadamente), mas antes certas desvantagens quanto
à decisão da acção.
Modalidades
a) Revelia absoluta e relativa
A revelia é absoluta quando o réu não pratica qualquer acto na acção pendente; é
relativa se o réu não contesta, mas pratica em juízo qualquer outro acto processual,
designadamente a constituição de mandatário judicial.
b) Revelia operante e inoperante
A revelia – quer a relativa, quer a absoluta – pode ser operante ou inoperante. É
operante quando produz efeitos quanto à composição da acção; é inoperante quando
esses efeitos não se realizam, isto é, quando a falta de contestação nada implica quanto à
decisão da causa. As situações que conduzem à inoperância da revelia são comuns ao
processo ordinário e sumário, pois, na falta de uma regulamentação específica, vale para
este último o que se encontra estipulado para o processo ordinário (arts. 463º/1 CPC).
Efeitos
A revelia operante implica a confissão dos factos articulados pelo autor (art. 484nº1
CPC). O efeito cominatório realizado pela revelia não prevalece sobre a matéria de
conhecimento oficioso, nomeadamente as excepções dilatórias de que o Tribunal deva
Decisão judicial
A decisão é o acto do Tribunal no qual este órgão julga qualquer matéria que lhe
compete apreciar por iniciativa própria, quer mediante solicitação das partes. A decisão
é, assim, o acto processual que exprime, por excelência, o exercício da função
jurisdicional pelo Tribunal.
Toda a decisão comporta dois elementos essenciais: os fundamentos e a conclusão
ou decisão em sentido estrito.
Modalidades
A decisão judicial distingue-as em sentenças e despachos (art. 156nº1 CPC). As
sentenças são, em regra, as decisões sobre o mérito da causa ou sobre um incidente
com a estrutura de uma causa (art. 156nº2 CPC), mas também podem conhecer de
aspectos processuais (art. 660nº1 CPC). Os despachos são, em princípio, decisões
sobre aspectos processuais e, por isso, são, em regra, decisões interlocutórias,
embora também possam incidir sobre o mérito (art. 510nº1-b CPC) e, mesmo fora
destes casos, possam ser decisões finais (art. 510nº1-a CPC); Às decisões dos
Tribunais colectivos atribui-se a designação especial de acórdãos (art. 156nº3 CPC).
Início
A instância inicia-se com a propositura da acção, esta se considera proposta,
intentada ou pendente quando for recebida na secretaria (art. 150º/3 CPC). No entanto,
em relação ao réu, os efeitos decorrentes da pendência da causa só se produzem, em
regra, após a sua citação, salvo disposição legal ao contrário (art. 267º/2 CPC).
Suspensão
São várias as circunstâncias que determinam a suspensão da instância:
· Quando falecer ou se extinguir alguma das partes (arts. 276nº1-a; 277nº1 CPC),
salvo se já tiver começado a audiência final ou se o processo já tiver inscrito em
tabela para julgamento, hipótese em que a instância só se suspende depois de ser
proferida a sentença ou o acórdão (art. 277nº1 CPC);
· Nos processos em que for obrigatória a constituição de advogado (arts. 32º/1;
276nº1-b; 278º; 284nº1-b CPC);
· Sempre que o Tribunal a ordene (arts. 276nº1-c; 279nº1; 97nº1; 284nº1-c CPC);
· Sempre que a lei o determine (arts. 276nº1-d – 12nº2 e 5; 25nº1 e 39nº3)
·
Enquanto durar a suspensão da instância só se podem praticar os actos urgentes
destinados a evitar o dano irreparável (art. 283nº1, 1ª parte CPC) e os prazos judiciais
não correm enquanto ela se mantiver (art. 283nº2, 1ª parte CPC). Mas a simples
suspensão não impede a desistência, confissão ou transacção, desde que estas não se
tornem impossíveis ou não sejam afectadas pelo fundamento da suspensão (art. 283nº3
CPC).
Interrupção
A instância interrompe-se quando o processo estiver parado durante mais de um ano
por negligência das partes em promover os seus termos ou os de algum incidente do
qual dependa o seu andamento (art. 285º CPC). A interrupção da instância é, assim,
consequência do incumprimento do ónus de impulso subsequente das partes (art. 265º/1
CPC). A interrupção cessa se o autor requerer algum acto do processo ou do incidente
de que dependa o andamento dele, sem prejuízo do disposto da lei civil á caducidade
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dos direitos. (art. 286º CPC). Quando a caducidade se refere ao exercício jurisdicional
de um direito potestativo, a interrupção da instância implica que não se conta, para
efeitos dessa caducidade, o prazo decorrido entre a propositura da acção e aquela
interrupção (art. 332nº2 CC). Isto é, o prazo de caducidade começa a correr de novo
com a interrupção da instância.
Extinção
A causa comum de extinção da instância na acção declarativa é o julgamento (art.
287º-a CPC), que, aliás, pode decorrer de uma sentença de mérito ou de absolvição da
instância (arts. 288º e 289º CPC). Todavia, para além desta existem outras causas de
extinção da instância, a saber:
- A celebração de um compromisso Arbitral (arts. 287º-b; 290º);
- A deserção da instância (art. 287º-c CPC), em virtude da interrupção da instância
durante dois anos (art. 291nº1 CPC);
- A desistência, confissão ou transacção (art. 287º-d; 293º a 295º CPC);
- A impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide (art. 287º-e CPC).
Com a extinção da instância terminam todos os efeitos processuais e substantivos
da pendência da acção (art. 481º CPC; arts. 323nº1 e 2; 805nº1; e 1292º CC). A
desistência, absolvição e deserção da instância, bem como a caducidade do
compromisso Arbitral, implicam que o prazo prescricional – cujo decurso fora
interrompido pela citação do réu (art. 323nº1 CC) ou passados 5 dias depois de esta ter
sido requerida (art. 323º/2 CC) – começa a correr de novo a partir desse acto
interruptivo (arts. 327nº2 e 326nº1 CC).
Noção
A tramitação da acção comporta uma sequência de actos que pode ser divididos
em várias fases. A fase do processo integra todos os actos que realizam uma mesma
função.
PROCESSO ORDINÁRIO
Articulados
São as peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e
formulam os pedidos correspondentes (art. 151nº1 CPC). Essas peças recebem o nome
de articulados, porque, em princípio, nas acções, nos incidentes e nos procedimentos
cautelares é obrigatória a dedução por artigos dos factos que interessam à
fundamentação do pedido ou da defesa (art. 151nº2 CPC), isto é, cada facto deve ser
alegado separadamente num artigo numerado.
O processo ordinário comporta, na tramitação normal, quatro articulados: a petição
inicial (art. 467º CPC), a contestação (art. 486º CPC), a resposta (art. 502º CPC); em
determinadas situações, podem ainda ser apresentados articulados supervenientes (art.
506º CPC).
Citação
A citação é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada acção e se chama ao processo para se defender (art. 228nº1, 1ª parte e
480º CPC), ela não pode se efectuar-se sem preceder despacho que ordene.
A citação pode faltar (art. 195º CPC) e ser nula (art. 198º CPC). Segundo o disposto
no art. 195º CPC, verifica-se a falta de citação quando o acto tenha sido completamente
omitido, quando tenha havido erro de identidade do citado, quando se tenha empregado
indevidamente a citação edital, quando se mostre que foi efectuada depois do
falecimento do citando, quando a citação tenha sido feita com preterição de
formalidades essenciais. A falta de citação considera-se sanada se o réu ou o Ministério
Público intervierem no processo e não arguirem o vício (art. 196º CPC).
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A citação é nula quando, na sua realização, não hajam sido observadas as
formalidades prescritas na lei (art. 198nº1 CPC).
Contestação
A contestação é a resposta do réu à petição inicial do autor, ou seja, é a
manifestação da posição do réu perante aquele articulado do autor. Pode ser entendida
num sentido material ou formal. A contestação em sentido material é qualquer acto
praticado pelo réu, no qual essa parte mostre a sua oposição ao autor e ao pedido
formulado por esta parte.
A contestação em sentido formal é o articulado de resposta do réu à petição inicial
do autor: à contestação em sentido formal referem-se por exemplo os arts. 488º e 489nº1
CPC.
O réu pode tomar uma de duas atitudes fundamentais perante a petição inicial:
opor-se ao pedido do autor ou não se opor a ele. A opção por uma destas condutas
depende dos factos indagados pelo mandatário do réu e das provas de que esta parte
possa dispor, havendo, naturalmente, que observar o dever de verdade que recai sobre
essa parte (art. 456nº2-a, b CPC). A contestação do réu marca a sua oposição
relativamente ao pedido do autor. A contestação pode consistir na impugnação dos
factos articulados pelo autor ou na invocação de uma ou várias excepções dilatórias ou
peremptórias (art. 487º CPC). A escolha da modalidade da defesa (por impugnação ou
por excepção) é condicionada pela posição que o réu pretende assumir na acção (arts.
487nº2 e 493nº2 e 3 CPC).
Em conjunto com a contestação ou independente dela, o réu pode formular um
pedido reconvencional contra o autor (art. 501º CPC). A reconvenção deve ser deduzida
separadamente na contestação, na qual devem ser expostos os seus fundamentos,
formulado o correspondente pedido e indicado o seu valor (art. 501nº1 e 2 CPC).
O réu pode contestar no prazo de 20 dias a contar da sua citação (art. 486º CPC). A
esse prazo acresce uma dilação (art 180 CPC). O articulado de contestação apresenta o
mesmo conteúdo formal da petição inicial (art. 488º CPC).
A contestação (em sentido material) está submetida a uma regra de concentração ou
de preclusão: toda a defesa deve ser deduzida na contestação (art. 489nº1 CPC), ou
melhor, no prazo da sua apresentação (art. 486nº1 CPC), pelo que fica precludida quer a
invocação dos factos que, devendo ter sido alegados nesse momento, não o foram, quer
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a impugnação, num momento posterior, dos factos invocados pelo autor. Se aqueles
factos forem invocados fora do prazo determinado para a contestação, o Tribunal não
pode considerá-los na decisão da causa; se o fizer, incorre em excesso de pronúncia, o
que determina a nulidade daquela decisão (art. 668nº1-d, 2ª parte CPC).
Para determinar a incidência desta regra de concentração ou de preclusão, importa
ter presente que, na contestação, o réu tanto pode alegar factos novos que fundamentam
uma excepção dilatória ou peremptória, como limitar-se a impugnar os factos invocados
pelo autor na petição inicial (art. 487nº2 CPC).
Conteúdo material
A contestação pode revestir as modalidades de defesa por impugnação e por
excepção (art. 487º/1 CPC). A defesa por impugnação pode ser directa ou de facto ou
indirecta ou de direito:
– A impugnação directa ou de facto consiste na contradição pelo réu dos factos
articulados na petição inicial (art. 487º/2, 1ª parte CPC);
– A impugnação é indirecta ou de direito quando o réu afirma que os factos
alegados pelo autor não podem produzir o efeito jurídico pretendido por essa
parte (art. 487nº2, 1ª parte in fine CPC).
A impugnação directa é um meio de defesa do réu; como o Tribunal conhece
oficiosamente a matéria de direito (art. 664º, 1ª parte CPC), este órgão, mesmo sem essa
impugnação, deve controlar se os efeitos jurídicos pretendidos pelo autor podem
decorrer dos factos alegados por esta parte. A delimitação entre a impugnação indirecta
e a excepção peremptória faz-se, por isso, através do seguinte critério:
- Se o réu se limita a negar o efeito jurídico pretendido pelo autor, isto é, a
atribuir uma diferente versão jurídica dos factos invocados pelo autor, há
impugnação indirecta;
- Se, pelo contrário, o réu opõe a esse efeito a alegação de um facto impeditivo,
modificativo ou extintivo, verifica-se a dedução de uma excepção peremptória.
a) Defesa por excepção:
Consiste na invocação de factos que obstam à apreciação do mérito da acção ou
que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo
autor, importam a improcedência total ou parcial do pedido (art. 487nº2, 2ª parte CPC).
No primeiro caso, o réu alega a falta de um pressuposto processual e invoca uma
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excepção dilatória (art. 493nº2 CPC); no segundo, o réu opõe uma excepção
peremptória (art. 493nº3 CPC).
b) Defesa por impugnação:
A impugnação directa deve abranger os factos principais articulados pelo autor na
petição inicial (art. 490nº/1 CPC); se assim não suceder, consideram-se admitidos por
acordo os factos que não forem impugnados (art. 490nº2, 1ª parte CPC).
A contestação produz efeitos processuais, inclui-se a possibilidade, admitida em
certos casos, de resposta do autor (art. 502nº1 e 2 CPC). E substantivos, importa referir
que a contestação torna litigioso o direito afirmado ou a coisa discutida em juízo, o que
revela, por exemplo, para a proibição da cessação daquele direito (art. 579º CC) e da
venda desse direito ou coisa (art. 876º CC).
Resposta
É a resposta do autor à contestação do réu. A resposta pode ser entendida num
sentido formal ou material: naquela primeira acepção, a resposta é o articulado que o
autor apresenta em resposta à contestação do réu; em sentido material, a resposta
consiste na contestação de uma excepção oposta pelo réu ou na dedução de uma
excepção contra o pedido reconvencional formulado pelo réu (art. 502º/1 e 2 CPC). Se
aquele articulado contiver aquela impugnação ou a dedução daquela excepção, a
resposta em sentido formal é-o também em sentido material.
A resposta é admissível sempre que o réu deduza alguma excepção ou formule um
pedido reconvencional (art. 502º/1 CPC): naquele primeiro caso, a resposta destina-se a
possibilitar a impugnação pelo autor da excepção invocada pelo réu ou a alegação de
uma contra-excepção; no segundo, a resposta permite a apresentação pelo autor de
qualquer contestação, por impugnação ou por excepção (art. 487º/1 CPC), do pedido
reconvencional. A resposta encontra a sua justificação nos princípios da igualdade das
partes e do contraditório.
A falta da resposta ou a não impugnação dos factos novos alegados pelo réu
implica, em regra, a admissão por acordo dos factos não impugnados (art. 505º CPC).
Esta admissão não se verifica nas situações previstas do art. 490nº2 CPC, e, além disso,
há que conjugar o conteúdo da resposta com o da petição inicial, pelo que devem
considerar-se impugnados os factos alegados pelo réu que forem incompatíveis com
aqueles que constarem de qualquer desses articulados do autor.
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Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional, a falta de resposta implica a
revelia do reconvindo quanto a esse pedido (art. 484º/1 CPC). Essa revelia é inoperante
nas condições referidas no art. 485º CPC, mas, se for operante, determina a confissão
dos factos articulados pelo réu como fundamento do seu pedido reconvencional (art.
484º/1 CPC).
Acessoriamente a estas funções, a resposta pode ser utilizada para o autor alterar
unilateralmente o pedido ou a causa de pedir (art. 273º/1 e 2 CPC)
Articulados supervenientes
Os articulados supervenientes são utilizados para a alegação de factos que, dada a
sua superveniência, não puderam ser invocados nos articulados normais (art. 506nº1
CPC). Essa superveniência pode ser objectiva ou subjectiva:
- É objectiva quando os factos ocorrem posteriormente ao momento da
apresentação do articulado da parte (art. 506nº2, 1ª parte CPC);
- É subjectiva quando a parte só tiver conhecimento de factos ocorridos depois de
findar o prazo de apresentação do articulado (art. 506nº2, 2ª parte CPC).
A superveniência objectiva é facilmente determinável: se o facto ocorreu depois da
apresentação do articulado da parte, ele é necessariamente superveniente. Mais
complexa é a aferição da superveniência subjectiva, porque importa verificar em que
condições se podem dar relevância desconhecimento do facto pela parte. O art. 506nº3
CPC, estabelece que o articulado superveniente deve ser rejeitado quando, ele for
apresentado fora de tempo, isto é, quando a parte não tenha tido conhecimento
atempado do facto (art. 506nº3 CPC). Portanto, a superveniência subjectiva pressupõe o
desconhecimento do facto.
Função da fase
Realiza duas funções primordiais: uma respeitante aos aspectos jurídico-processuais
da acção e uma outra relativa ao seu objectivo. Naquela primeira função, cabe a
verificação da regularidade do processo e, sempre que possível, a sanação das
excepções dilatórias e das nulidades processuais: é a função de saneamento. Na
segunda, inclui-se o convite à correcção e ao aperfeiçoamento dos articulados e a
determinação das questões de facto a resolver: é a função de concretização.
A função de saneamento visa resolver os impedimentos à apreciação do mérito da
acção e sanar as nulidades processuais e a função de concretização permite delimitar as
questões de facto relevantes para a decisão da causa.
Finalidades essenciais
A audiência preliminar realiza-se com as seguintes finalidades essenciais, muitas
das quais encontram a sua justificação no princípio da cooperação recíproca entre o
Tribunal e as partes (art. 266º/1 CPC):
- Tentativa de conciliação das partes (art. 509nº1-a CPC);
Concretização do litígio
Visa-se atingir com essa função uma dupla finalidade: por um lado, procura-se
circunscrever as divergências entre as partes, distinguindo-se aquilo que é essencial do
que é acessório nas suas posições; por outro, pretende-se evitar que as insuficiências e
imprecisões dos articulados na exposição da matéria de facto possam criar uma
realidade processual distinta da verdade das coisas.
Para a delimitação do objecto do litígio relevam elementos de direito e de facto.
Quanto àqueles primeiros, é sempre admissível uma modificação da qualificação
jurídica que seja compatível com os factos alegados pelas partes.
Relativamente aos elementos de facto, o problema que se coloca é o de saber se a
discussão realizada para a delimitação do objecto do litígio pode ser acompanhada da
modificação da causa de pedir. A resposta é positiva, mas não há qualquer motivo para
entender que tal modificação deva ser admitida fora das condições legalmente previstas,
isto é, para além dos casos enquadráveis na previsão do art. 272º CPC (quanto à
modificação consensual) e 273º CPC (quanto à alteração unilateral).
O despacho saneador pode apreciar tanto os aspectos jurídico-processuais da acção,
como o mérito desta (art. 510nº1 CPC). Nestas funções atribuídas ao despacho
saneador, a apreciação daqueles aspectos constitui a sua finalidade primária e o seu
conteúdo essencial, enquanto o conhecimento do mérito é uma finalidade eventual. O
julgamento do mérito realiza-se normalmente na sentença final (art. 658º CPC), pelo
que quando o estado da causa o permitir (art. 510nº1-c CPC), ele pode ser antecipado
para o despacho saneador.
O despacho saneador destina-se, antes de mais, a verificar a admissibilidade da
apreciação do mérito e a regularidade do processo (art. 510nº1-a CPC); havendo toda a
vantagem em que o controlo dessa admissibilidade não seja relegada para uma fase
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adiantada da tramitação da acção, é ela que justifica a atribuição daquela função de
saneamento àquele despacho.
O momento do proferimento do despacho saneador depende da tramitação da causa
em concre. O despacho saneador é proferido no prazo de 15 dias a contar do termo da
fase dos articulados (art. 510nº1 proémio CPC).
No despacho saneador, o Tribunal deve conhecer das excepções que podem
conduzir á absolvição da instância, assim como das nulidades, ainda que não tenham de
anular todo o processo (art. 510nº1-a CPC). Quanto àquelas nulidades, o Tribunal pode
apreciar oficiosamente a ineptidão da petição inicial, a falta de citação, o erro na forma
do processo e a falta de vista ou exame ao Ministério Público como parte acessória (art.
202º CPC). Mas estas nulidades só são apreciadas no despacho saneador se o Tribunal
ainda não tiver conhecido delas (art. 206nº1 e 2, 1ª parte CPC). Também as nulidades
que não são de conhecimento oficioso deverão ser julgadas logo que sejam reclamadas
(art. 206nº3 CPC), pelo que a sua apreciação não se realizará, em regra, no despacho
saneador.
FASE DA INSTRUÇÃO
Função da fase
Os factos incluídos na base instrutória, porque são controvertidos, necessitam de ser
provados (art. 513º CPC). A fase da instrução realiza uma função distinta consoante
sejam utilizadas para a demonstração desses factos provas constituendas ou provas pré-
constituídas. A produção de uma prova constituenda é realizada, em regra, na audiência
Princípios estruturantes
A fase da instrução rege-se pelo princípio da cooperação, tanto nas relações das
partes e de terceiros com o Tribunal (art. 266º/1 e 519/1 CPC), como nas do Tribunal
com as partes. O princípio da cooperação impõe a todas as pessoas, mesmo que não
sejam partes na causa, o dever de prestar a sua colaboração para a descoberta da
verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se às inspecções
necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os actos que forem
determinados (art. 519º/1 CPC). A recusa de colaboração implica a condenação em
multa, sem prejuízo dos meios coercivos que forem admissíveis (art. 519º/2, 1ª parte
CPC).
Este dever de colaboração é independente da repartição do ónus da prova (arts. 342º
a 345º CC), pelo que abrange mesmo a parte que não está onerada com a prova do facto.
A recusa de colaboração é legítima se esta implicar a violação do sigilo profissional
ou causar grave danos á honra e consideração da própria pessoa, violação ou
intromissão na sua vida privada ou profissional (art. 519nº3 CPC).
Apesar de o objecto do processo se encontrar, em geral, submetido à
disponibilidade das partes (arts. 264º/1; e 664º in fine CPC), a instrução comporta
importantes poderes instrutórios do Tribunal. Esses poderes podem recair sobre factos
essenciais, complementares e instrumentais e justificam-se pela necessidade de evitar
que, pela falta de prova, a decisão da causa seja imposta pelo non liquet (art. 516º CPC;
art. 346º CC) e não pela realidade das coisas averiguada em juízo. Nenhum facto
relevante para a decisão da causa deve ficar por esclarecer.
O princípio do contraditório (art. 3º/1 a 3 CPC) também releva na instrução da
acção. Assim, as provas não são admitidas (nem produzidas) sem a audiência
contraditória da parte a quem sejam opostas (art. 517º/1 CPC). Essa contrariedade
concretiza-se de modo diferente nas provas pré-constituídas.
Relativamente às provas pré-constituídas, qualquer das partes tem a faculdade de
impugnar tanto a respectiva admissão, como a sua força probatória (art. 517º/2, 2ª parte
CPC).
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Quanto às provas constituendas, a parte deve ser notificada, sempre que não seja
relevante, para todos os actos de preparação e produção da prova e é admitida a intervir
nesses mesmos actos (art. 517º/2, 1ª parte CPC).
Meios de prova
Os meios de prova podem ser indicados ou requeridos na petição inicial (art.
467nº2 CPC) e, por analogia, em qualquer outro articulado. Se essa audiência não se
realizar, os meios de prova devem ser apresentados ou requeridos no prazo de 05 dias
subsequentes à notificação do despacho saneador (art. 512nº1 CPC). Neste mesmo
prazo, as partes podem alterar os requerimentos probatórios que hajam feito nos
articulados (art. 512nº1, 2ª parte CPC).
Função da fase
A fáse dá áudieê nciá finál compreende ás áctividádes de produçáã o dá prová
(constituendá), de julgámento dá máteá riá de fácto e de discussáã o sobre á máteá riá
de direito. Como resultá deste enunciádo, está fáse reálizá duás funçoã es
primordiáis – que sáã o á produçáã o dá prová e o consequente julgámento dá máteá riá
de fácto – e umá funçáã o prepárátoá riá dá sentençá finál – que eá prosseguidá pelás
álegáçoã es de direito.
Princípios estruturantes
Segundo o princípio da imediação, os meios de prova devem ser apresentados
directamente perante o Tribunal, ou seja, o Tribunal deve ter um contacto directo com
esses meios. É este princípio que orienta o disposto no art. 652nº3 CPC, quanto à
realização da prova perante o Tribunal da audiência final. Sempre que a prova seja
transmitida por pessoas, a imediação na produção da prova implica a oralidade nessa
realização.
á) Continuidáde
A audiência final é contínua, só podendo ser interrompida por motivos de força
maior, por absoluta necessidade ou nos casos regulados na lei, (arts. 651nº3; 654nº2
b) Plenitude
Segundo o princípio da plenitude da assistência dos juízes, só podem intervir na
decisão da matéria de facto aqueles que tenham assistido a todos os actos de instrução e
discussão praticados na audiência final (art. 654nº1 CPC). A violação desta regra origina
uma nulidade processual (art. 201nº1 CPC).
Se durante a audiência, algum dos juízes falecer ou se impossibilitar
permanentemente, os actos já realizados são repetidos, senão tiverem sidos reduzids a
escrito perante um Tribunal com uma nova composição (art. 654nº2, 1ª parte CPC). Se a
impossibilidade for temporária, interrompe-se a audiência pelo tempo indispensavel ou,
se parecer mais aconselhável, repetem-se perante um novo Tribunal os actos já
praticados que não tenha sido reduzidos a escrito (art. 654nº2, 2ª parte CPC). Se o juiz
for transferido, promovido ou aposentado, conclui-se, em princípio, o julgamento antes
da efectivação dessa deslocação ou aposentação, excepto se esta se fundamentar na
incapacidade física, moral ou profissional para o exercício do cargo (art. 654nº3, 1ª
parte CPC).
c) Efectivação
A produção da prova orienta-se por um princípio de efectividade, através do qual se
procura evitar que essa actividade se torne impossível por não ter sido realizada no
momento oportuno. Com vista a assegurar a efectividade da produção da prova,
permite-se que, se houver justo receio de vir a tronar-se impossível ou muito difícil o
depoimento de certas pessoas ou a verificação de certos factos por meio de arbitramento
ou inspecção, a produção destas provas possa ser antecipada ou mesmo realizada antes
da propositura da acção (art. 520º CPC). É o que se chama produção antecipada da
prova (ou prova ad perpetuam rei memoriam), que como pressuposto especifico o receio
da impossibilidade ou da dificuldade da realização da prova no momento normal.
Tribunal da audiência
Realização da audiência
A audiência inicia-se com a discussão da causa (art. 652nº1 CPC), isto é, com a
apresentação por cada um dos advogados das partes os fundamentos das suas
posições quer quanto à matéria de facto, quer quanto à matéria de direito.
Princípios do julgamento
a) Aquisição processual
Segundo o princípio da aquisição processual, o Tribunal deve tomar em
consideração todas as provas realizadas no processo, mesmo que não tenham sido
apresentadas, requeridas ou produzidas pela parte onerada com a prova (art. 515º 1ª
parte CPC).
Uma das consequências deste princípio é a impossibilidade de retirar do processo
uma prova apresentada (art. 542nº3 e 4 CPC). O mesmo processo justifica a
inadmissibilidade da desistência da prova pericial pela parte requerente sem a anuência
da parte contrária (art. 571º CPC).
Exceptuam-se a submissão a este princípio da aquisição processual as situações em
que a lei declare irrelevante a alegação e a prova de um facto quando não sejam feitas
c) Fundamentação
Na decisão sobre a matéria de facto devem ser especificados os fundamentos que
foram decisivos para a convicção do julgador sobre a prova (ou falta de prova) dos
factos (art. 653º/2 CPC). Como, em geral, as provas produzidas na audiência final estão
sujeitas à livre apreciação (arts. 655nº1 e 652nº3-b, c, d, CPC), o Tribunal deve indicar
os fundamentos suficientes para que, através das regras da ciência, da lógica e da
experiência, se possa controlar a razoabilidade daquela convicção sobre o julgamento do
facto como provado ou não provado. A exigência da motivação da decisão não se
destina a obter a exteriorização das razões psicológicas da convicção do juiz, mas a
permitir que o juiz convença os terceiros da correcção da sua decisão. Através dessa
fundamentação, o juiz deve passar de convencido a convincente.
A fundamentação da apreciação da prova deve ser realizada separadamente para
cada facto. A apreciação de cada meio de prova pressupõe conhecer o seu conteúdo,
determinar a sua relevância e proceder à sua valoração.
Procedimento do julgamento
Encerrada a discussão, o Tribunal recolhe à sala das conferências para ponderar e
decidir (art. 653nº1, 1ª parte CPC). Se não se julgar suficientemente esclarecido, pode
Função da fase
A fase da sentença é aquela em que é proferida a decisão final do procedimento
em 1ª instância. Concluida a discussão do aspecto jurídico da causa, vai o processo
concluso ao juiz que proferira a sentença dentro de quinze dias. (art.658 CPC)
Conteúdo da sentença
A sentença comporta os seguintes elementos: relatório, fundamentos, decisão e
aspectos complementares. No relatório, o Tribunal identifica as partes e o objecto do
litígio e fixa as questões a resolver (art. 659nº1 CPC). Ao relatório seguem-se os
fundamentos e a decisão. O juiz tomara em consideração os factos admitidos pelos
acordos, provados por documentos ou por confissão reduzidos a escrito eque os
tribunais deu como provados; fará o exame crítico das provas de que compete
conhecer e estabelecerá os factos que considera provados, depois interpretará e
aplicará a lei aos factos, concluindo-se pela decisão final. A sentença deve ser
fundamentada (art. 158nº1 CPC) através da exposição dos fundamentos de facto –
respeitam aos factos relevantes para a decisão que foram adquiridos durante o
processo – e de direito – à interpretação e aplicação das normas jurídicas aplicáveis a
esses factos.
O sentido da decisão depende dos factos fornecidos pelo processo e da análise
do cumprimento do ónus da prova.
Conteúdo do julgamento
A sentença conhece em primeiro lugar, e pela ordem estabelecida no art 288, das
questões que possam conduzir à absolvição da instância, segundo a ordem da sua
precedência lógica (art. 660nº1 CPC). Estas excepções podem ser tanto aquelas que o
Tribunal deixou de apreciar no despacho saneador, por entender que, nesse momento, o
processo ainda não fornecia os elementos necessários, como aquelas que não foram
apreciadas concretamente nesse despacho e sobre as quais não há, por isso, qualquer
caso julgado. Dado que o despacho saneador genérico não produz caso julgado quanto à
Regime aplicável
Ao processo são aplicáveis as disposições que lhe são próprias (constam dos
arts. 783º a 792º CPC) e as disposições gerais e comuns (estabelecido nos arts. 137º
a 459º; 463nº1, 1ª parte CPC); em tudo quanto não estiver regulado numas e noutras,
deve observar-se o que se encontra estabelecido para o processo ordinário (ou seja, o
disposto nos arts. 467º a 782º; 463nº1, 2ª parte CPC). Dada esta aplicação subsidiária
do regime do processo ordinário, só interessa analisar as especialidades do processo
sumário.