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Universidade Federal da Paraíba


Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós-Graduação em Música

Reflexões Sobre o Método Jaffé Para Instrumentos de


Cordas: a Experiência Realizada em Fortaleza.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Música da Universidade Federal da
Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Música, área de concentração
em Práticas Interpretativas – subárea violino.

Marco Antonio Silva

Orientador: Prof. Dr. Hermes Cuzzuol Alvarenga

João Pessoa
Março / 2008
SILVA, Marco Antonio.

Reflexões Sobre o Método Jaffé Para Instrumentos de Cordas: a experiência


realizada na Cidade de Fortaleza/ Marco Antonio Silva.- João Pessoa, 2008.
88p.: il
Orientador: Prof. Dr. Hermes Cuzzuol Alvarenga
Dissertação (Mestrado) UFPB/CCHLA
1. Instrumentos Musicais. 2. Instrumentos de Cordas. 3.Ensino.

CDU: 781.8 (043)


Ao Professor Alberto Jaffé e sua esposa,
Dayse de Lucca, e a todos que
participaram da experiência em Fortaleza.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço,
A Deus, pelo milagre da vida e em cujas mãos me coloco a cada dia;
À minha esposa Goretti, pela força, carinho e paciência nos momentos de ausência;
Às minhas filhas Rebecca, Gabriela e Déborah, pela alegria de tê-las ao meu lado;
À minha família, pais e irmã, pelo esforço ao longo de minha trajetória;
Ao professor Hermes Alvarenga, pelo aprendizado, pela dedicação e paciência;
À Orquestra de Câmera Eleazar de Carvalho, na pessoa do Maestro Marcio Landi, do
coordenador Eduardo Fidelis e aos músicos, por todo apoio dado;
À Ex-Secretária de Cultura do Estado do Ceará, Claudia Leitão, pelo incentivo;
À FUNCAP pelo apoio financeiro que possibilitou minha dedicação ao mestrado;
Aos meus amigos e professores Leopoldo e Ilza Nogueira;
Ao meu “irmão” Ademar, companheiro de longa jornada;
Aos professores e alunos do Mestrado pela amizade e trocas de experiências;
Aos entrevistados pela disposição em contribuir com este trabalho.
6

Nossas lembranças emergem quando são provocadas por outros


ou por determinada situação presente. As inúmeras redes
formadoras de nossa identidade precisam do olhar do outro para
se ressignificarem.
Selma F. dos Santos
7

RESUMO

Na década de 1970, o professor Jaffé causou um grande impacto no cenário musical brasileiro
ao implantar uma metodologia de ensino coletivo para os quatro instrumentos de cordas,
simultaneamente. Desta forma, conseguiu unir as semelhanças entre esses instrumentos para
poder ensiná-los em um mesmo momento. O método foi aplicado no Brasil nas cidades de
Fortaleza e São Paulo, e posteriormente nos EUA. O presente trabalho enfoca a experiência
dessa abordagem realizada no Ceará, que iniciou um numero significativo de instrumentistas de
cordas. Teve como objetivo verificar em que medida o Projeto Jaffé contribuiu para a formação
inicial destes instrumentistas de cordas, participantes do grupo estabelecido em Fortaleza. A
pesquisa teve como suporte metodológico uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso.
Para tanto, foram realizadas entrevistas, semi estruturadas, com dez egressos deste projeto. A
pesquisa possibilitou uma aproximação com o trabalho realizado pelo professor Jaffé em 1975,
no SESI, na cidade de Fortaleza. Com base nesse estudo foi possível identificar contribuições
para a formação musical e humana de muitos dos jovens e adolescentes que participaram desse
movimento na década de 1970.

Palavras-chave: método Jaffé, ensino coletivo de cordas, experiência em Fortaleza,


instrumentos de cordas.
8

ABSTRACT

During the 1970’s, Professor Jaffé caused a great impact in the Brazilian musical scenario when
he introduced a methodology of general teaching for the four strings, which was applied
simultaneously. Jaffé succeed by associating the similarities of these strings in order to teach all
of them at the same time. The method was applied first in Brazil in the cities of Fortaleza and
São Paulo, and then in the USA. This work focus on the experience of applying this approach in
the city of Fortaleza. This work tried to verify in which measure Jaffé Project contributed for the
initial formation of the musicians in the group established in that city. The research used as a
methodological support the study case – a qualitative approach. In order to do this, were made
half structured interviews with ten former students of this project. The research made possible
an approximation with the work done by Professor Jaffé in the year of 1975, in the SESI in
Fortaleza. Based on this study, it was possible identify how effectively it contributed for the
education of a great deal of young musicians that emerged from this experience in the decade of
1970’s.
.
Keywords: Jaffé method, general teaching of strings, Fortaleza experience, string.
9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Jaffé em aula coletiva............................................................................. 21


Figura 2 – Cordas do violino.................................................................................... 23
Figura 3 - Violino e viola.......................................................................................... 24
Figura 4 – Violoncello............................................................................................... 24
Figura 5 – Contrabaixo............................................................................................. 25
Figura 6 - Segurando o arco..................................................................................... 28

LISTA DE EXEMPLOS

Exemplo 1 – LÁ-SI-LÁ............................................................................................. 27
Exemplo 2 – Maria Chinesa..................................................................................... 30
Exemplo 3 – Maria Japonesa................................................................................... 31
Exemplo 4 – A Barquinha Ligeirinha...................................................................... 32
Exemplo 5 – Ah, Vous Dirai je Maman (uníssono)............................................... 34
Exemplo 6 – Ah, Vous Dirai je Maman (polifônico)............................................. 35
Exemplo 7 – A Carruagem....................................................................................... 36
Exemplo 8 – O Arqueiro........................................................................................... 38
10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 11
1. ALBERTO JAFFÉ: O Método........................................................................ 18
1.1 Atraindo jovens para o estudo do instrumento de cordas.......................... 21
1.2 Aplicação do método....................................................................................... 23
1.3 Os instrumentos.............................................................................................. 39
1.4 Comparação com outros métodos................................................................. 40
1.4.1 Jaffé e Orff: Prática Instrumental & Aspectos Teóricos......................... 40
1.4.2 Jaffé e Suzuki: aspectos divergentes com o método Suzuki.................... 41
1.5 Aspectos Psicológicos..................................................................................... 42
1.6 Algumas considerações.................................................................................. 45
2. UM ESTUDO DE CASO COM OS EGRESSOS DA EXPERIÊNCIA
JAFFÉ................................................................................................................... 47

2.1 Os sujeitos de pesquisa.................................................................................. 48


2.2 O SESI: lócus da experiência........................................................................ 49
2.3 Perfil sócio cultural do sujeito...................................................................... 49
2.4 O convite......................................................................................................... 50
2.5 Objetivo do método....................................................................................... 53
2.6 O Professor Alberto Jaffé na visão dos egressos........................................ 55
2.7 Interrupção do Método Jaffé....................................................................... 57
2.8 Análises das categorias.................................................................................. 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 59
REFERÊNCIAS................................................................................................. 62
APÊNDICES
A – Entrevista com o Jaffé.................................................................................. 65
B – Entrevista com os egressos...................................................... ..................... 67
C – Resumê........................................................................................................... 69
D – Programa do Recital de Mestrado................................................................ 70
ANEXOS
A – Jaffé Strings Program................................................................................... 72
11

INTRODUÇÃO

"O Brasil precisa de educação,


de uma educação que não seja de
pássaros empalhados em museus,
mas de vôos amplos no céu da arte.”
Heitor Villa-Lobos

A década de 1970 pode ser considerada, no panorama musical brasileiro, como


um período cujo maior problema das orquestras concentrava-se na falta de novos
músicos para as vagas existentes. Em 1975, só em São Paulo, surgiram quatro novas
orquestras. A exemplo do que ocorria em São Paulo, havia também em Recife, Porto
Alegre e no Rio de Janeiro grande necessidade de músicos para o setor das cordas.
Portanto, para suprir essa demanda, uma das soluções encontradas, embora difícil e
dispendiosa, foi a de arregimentar músicos de outros países. Procurando minimizar o
problema que se apresentava com a falta de instrumentistas de cordas, a solução mais
imediata encontrada foi a implementação de ações visando à formação em massa de
músicos nesta especialidade.

Dentre as experiências pedagógico-musicais vivenciadas neste momento


histórico, podemos citar os trabalhos desenvolvidos pelos professores Alberto Jaffé e
Pedro Cameron. Essas contribuições para a formação de instrumentistas são
consideradas como pioneiras e basilares para o surgimento de outros movimentos
importantes. O professor Jaffé causou um grande impacto no cenário musical brasileiro
ao implantar uma metodologia de ensino coletivo para os quatro instrumentos de cordas,
simultaneamente. Pedro Cameron1, por sua vez, também teve sua carreira musical
dedicada ao ensino da música. Como professor, Cameron lecionou no Conservatório de
Tatuí, de 1970 a 1984 trabalhando com alunos que iniciaram seus estudos de música
dentro de sua própria orquestra. Seu objetivo era estimular os jovens ao estudo dos
instrumentos de orquestra. Tanto o trabalho do professor Jaffé quanto o de Cameron
foram tão profícuos, que em poucos anos seus alunos estavam em condições de executar
as obras convencionais do repertório sinfônico.

1
¹Disponível em:http://www.solardasartes.com.br/Professores.html. Acesso em: 01/02/2008.
12

Esse estudo tem como foco o trabalho realizado pelo professor Alberto Jaffé na
cidade de Fortaleza – CE. O professor Alberto Jaffé nasceu na cidade do Rio de Janeiro,
no dia 5 de maio de 1935. Teve sólida formação violinística, iniciando seus estudos aos
cinco anos, com a professora Messody Baruel, uma violinista da Orquestra do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. Quando tinha oito anos de idade, realizou sua primeira
apresentação em público, com um recital de violino. Obteve a primeira colocação em
vários concursos no Brasil, a começar com o de solistas da Orquestra Sinfônica
Brasileira - OSB, aos 11 anos de idade. No entanto, em 1954, Jaffé entrou para a Escola
Fluminense de Engenharia com o intuito de atender ao desejo de seu pai. Ao mesmo
tempo, continuou seus estudos de violino com Oscar Borghetti, e com Giancarlo
Pareschi. Jaffé foi escolhido como representante único do Brasil na Orquestra
Internacional, através do Concurso Nacional das Juventudes Musicais Brasileiras. O ano
de 1959 trouxe para Jaffé novas oportunidades. Foi, por exemplo, eleito o melhor aluno
do IX Curso Internacional de Férias da Pró-Arte, em Teresópolis. Tal conquista lhe
conferiu uma bolsa de estudos para a Alemanha, onde estudou na cidade de Colônia,
com o professor Max Rostal. Ao término de seus estudos na cidade de Colônia, Jaffé
voltou ao Brasil, onde dirigiu vários cursos internacionais. Participou de extensas turnês
em diversos países, juntamente com sua esposa, a pianista Daisy de Lucca. Atuou como
solista a frente de diversas orquestras no Brasil e no exterior, a exemplo de Orquestras
em Israel, na Bélgica, Espanha, Alemanha, México e Estados Unidos. De 1982 a 1985,
foi co-diretor do Departamento de Música da National Academy of Arts, em
Champaign, Illinois, atuando na área de violino, viola, música de câmara, além de
trabalhar como professor na Universidade de Illinois.

A atuação do professor Jaffé trouxe grande impacto ao cenário musical


brasileiro, quando tornou público uma metodologia de ensino coletivo para
instrumentos de cordas desenvolvida por ele. O método foi implantado no início dos
anos 1970, com a colaboração de sua esposa Daisy, e iniciou mais de 150 alunos que
hoje são músicos profissionais e regentes de várias orquestras.

Esse método foi aplicado partir de um simples fato do cotidiano. Ao observar


seus filhos com pouco rendimento individual em suas lições de música, quando
praticavam sozinhos, o professor Jaffé percebeu que seu desempenho melhorava quando
eles tocavam com seus colegas. O professor Jaffé percebeu que os alunos, ao passarem
13

do estudo de música individual para o coletivo, obtinham um resultado mais efetivo. O


professor, então, passou a utilizar um procedimento de ensino coletivo juntando seus
filhos e alunos. Ao perceber os resultados didáticos desta prática, sua visão sobre o
ensino coletivo alcançou proporções mais amplas, levando-o a implementar uma
metodologia com esse objetivo.

Segundo relato do professor Jaffé, ele e seus alunos foram convidados a


apresentar essa didática de ensino coletivo no início dos anos setenta na hoje extinta TV
Tupy, na cidade do Rio de Janeiro. A partir da repercussão desse evento, veio o convite
feito pelo Sr. Thomas Pompeu de Souza Brasil Netto, então presidente da CNI -
Confederação Nacional da Indústria, para que o professor Jaffé implantasse essa
metodologia na capital cearense. Assim, em maio de 1975, começou a funcionar a
primeira turma do I Centro de Formação de Instrumentistas de Cordas, no SESI,
naquela cidade. Os primeiros alunos eram filhos de operários, usuários do Serviço
Social da Indústria.

O trabalho iniciado em Fortaleza teve grande repercussão, chamando a atenção


do governo brasileiro para a criação de um programa a nível nacional, no qual seria
adotada a metodologia do professor Jaffé. A iniciativa partiu da FUNARTE, através do
Instituto Nacional de Música na cidade do Rio de Janeiro, na época dirigida pelo
compositor Marlos Nobre. Essa política de ação tinha como objetivo estimular as
estruturas sinfônicas ou de câmara existentes e promover a educação e treinamento de
novos músicos. Tinha como meta não apenas resolver o problema da necessidade de
novos músicos, mas também de fixá-los em cada região do país, através da criação de
núcleos de formação de instrumentistas de cordas. Esta proposta surgiu como exemplo
de uma concepção atualizada de educação musical, a fim de atuar tanto na formação e
capacitação de novos artistas, como também na difusão da música de concerto.

O plano idealizado recebeu o nome de “Projeto Espiral”. O projeto tinha por


objetivo inicial a implantação de núcleos de formação de instrumentistas de cordas em
várias cidades do País. Em uma fase posterior o projeto seria expandido visando atender
instrumentistas de sopros e percussão. O título do projeto pretendia passar a idéia de um
núcleo inicial que deveria, futuramente, se multiplicar em outras unidades.
14

O projeto compreendia duas atividades distintas e paralelas: a coordenação de


ensino e a coordenação de luteria. Estes centros de construção de instrumentos de
cordas em cada estado eram indispensáveis à manutenção, conserto e fabricação dos
instrumentos utilizados nos projetos locais. Com essa proposta, em 1977, foi lançada
pelo professor Jaffé, no SESI da cidade de Taguatinga, em Brasília, o núcleo inicial do
Projeto Espiral.

A experiência de Fortaleza resistiu a várias crises, inclusive quando da


substituição do empresário Thomas Pompeu de Sousa Brasil Netto na presidência da
Confederação Nacional de Indústria. A filosofia de seu substituto era contrária à
manutenção de programas na área cultural, no modelo do Espiral. Em conseqüência
disso, Jaffé foi afastado do Núcleo de Fortaleza e de Brasília. O afastamento do
professor Jaffé interrompeu o projeto nos moldes implantados inicialmente. Embora
com outras diretrizes, o núcleo na cidade de Fortaleza permaneceu ativo sob a
orientação de outro professor. Em decorrência dessas mudanças, alguns alunos que
desejavam se profissionalizar migraram para outras cidades a fim de dar continuidade à
sua formação musical.

Do Interesse do pesquisador

Considerando-se o fato de que a experiência inicial deste pesquisador, no estudo


da música, foi marcada pela metodologia de ensino desenvolvida pelo professor Jaffé,
na cidade de Fortaleza, formulou-se as seguintes indagações:
A) Em que medida o Projeto Jaffé contribuiu para a formação inicial dos
instrumentistas de cordas participantes da experiência realizada em Fortaleza?
B) Quais as características fundamentais desse método?
C) O que pensam e dizem os egressos da experiência realizada em Fortaleza
sobre essa metodologia de ensino coletivo de instrumentos de cordas com arco?

É nesse contexto que a presente pesquisa se delineia, tendo como foco o ensino
coletivo de instrumentos de cordas através do “Método Jaffé”. Desta forma, o objetivo
desse estudo é investigar o método de ensino coletivo para instrumentos de cordas no
contexto da proposta de Alberto Jaffé no Ceará, estabelecendo as contribuições desta
15

metodologia de ensino aos processos de ressignificação da formação de instrumentistas


de cordas.

O professor Jaffé, sempre obteve boa receptividade na aplicação dessa


metodologia nos lugares onde a adotou. Portanto, um estudo que analise essa didática de
ensino coletivo é pertinente e relevante. Embora essa concepção de ensino tenha sido
em algum momento, questionada pelos defensores das metodologias tradicionais de
ensino de instrumentos de cordas, esta se mostrou importante até mesmo como uma
abordagem que desmistifica alguns paradigmas metodológicos.

Da metodologia da pesquisa

Minayo (2004, p.26) defende que cada pesquisa tem um ritmo, denominado de
“ciclo de pesquisa”, e se configura como “um processo de trabalho em espiral, que
começa com um problema ou pergunta e termina com um produto provisório, capaz de
dar origem a novas interrogações”. Diante das possibilidades metodológicas de
desenvolvimento desse trabalho de pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa, mais
especificamente pelo estudo de caso, por possibilitar trabalhar com uma amostra
reduzida, oportunizando um aprofundamento maior das informações sobre o caso
escolhido.

Ainda seguindo o referencial de Minayo (1996), ao descrever as características


da pesquisa qualitativa, o conjunto de informantes pode ser diversificado para
possibilitar a apreensão de semelhanças e diferenças. A escolha do lócus e do grupo de
informantes, no entanto, deve conter o conjunto das experiências e expressões que se
pretende objetivar com a pesquisa. Para tanto, utilizou-se a entrevista semi-estruturada
além da análise de documentos, como estratégias de coleta de dados. A escolha da
entrevista semi-estruturada se deve à “flexibilidade nas respostas e obtenção de falas
que podem enriquecer ainda mais a temática abordada.” (MATOS E VIEIRA, 2002,
p.63). Essa prática permite ao pesquisador o esclarecimento de dúvidas, bem como a
garantia de um maior número de respostas que permitam uma análise mais precisa.
16

Nesse sentido, buscou-se, nesse estudo, privilegiar os sujeitos sociais cujos


atributos se procuram conhecer. No caso, os egressos do núcleo em Fortaleza. Foi
utilizada uma amostra de dez egressos da turma de alunos em Fortaleza, na década de
1970, que foram orientados pelo professor Alberto Jaffé. Tal escolha deveu-se ao fato
de que essa experiência deu início à formação musical de vários instrumentistas que
hoje compõem o quadro de orquestras em diversos estados brasileiros e até mesmo no
exterior. Logo, a visão desses profissionais sobre sua experiência inicial pode
enriquecer a análise do método em questão.

A análise de documentos também compõe uma das estruturas de base da


pesquisa, sendo considerada uma fonte estável e rica (MATOS E VIEIRA, 2002).
Assim, na tentativa de discutir o Método Jaffé no contexto de formação de
instrumentistas de cordas no Brasil, recorreu-se a materiais didáticos documentados
(partituras), que expressam orientações básicas nesta direção, bem como à literatura que
compõe o seu aporte conceitual e às críticas a essa tendência.

Nesse esforço, escolheu-se, para os fins deste trabalho, focalizar os seguintes


parâmetros para análise do método:
 Material didático;
 Estruturação do método;
 Prática instrumental;
 Aspectos teóricos;
 Aspectos psicológicos;
 Elementos de musicalização.

Analisou-se os dados, a partir destas categorias, considerando-se as diferentes


informações coletadas, tanto nas entrevistas como na literatura consultada.

O trabalho encontra-se organizado em quatro sessões. Na introdução,


apresentou-se o cenário no qual o Método Jaffé emerge com uma ação visando à
formação em massa de músicos. No primeiro capítulo discutiu-se a metodologia
utilizada pelo Professor Jaffé durante a experiência realizada em Fortaleza. As
narrativas apresentadas foram respaldadas na discussão teórica, em entrevistas
17

realizadas com o professor Jaffé e sua esposa Dayse, bem como na vivência deste
pesquisador, como aluno dos mesmos.

No segundo capítulo comentaram-se os procedimentos metodológicos utilizados


na pesquisa, focalizando a visão dos sujeitos sobre a aplicação do Método Jaffé na
cidade de Fortaleza. Nessa seção foi feita também a análise do método a partir das
categorias do estudo acima listadas.

Na conclusão da pesquisa, foram tecidas considerações sobre a aplicação do


método desenvolvido pelo professor Jaffé ao desvelar-se complexidades dessa didática
musical. Algumas questões suscitadas nesse estudo poderão instigar novas pesquisas e
contribuir para a reflexão sobre metodologias de ensino para instrumentos de cordas.
18

1. ALBERTO JAFFÉ: O MÉTODO

Na sociedade de hoje, muitas pessoas, crendo-se sem talento,


nada fazem para transformar sua realidade
e se conformam com o que consideram seu destino.
Em conseqüência, atravessam a vida sem vivê-la integralmente,
sem conhecer suas verdadeiras alegrias.
Esta é a maior tragédia dos seres humanos.
Suzuki

De acordo com o dicionário Aurélio, compreende-se que Método é um caminho


pelo qual se alcança um objetivo. Pode ser visto também como um programa planejado
que regula diversas metas que se devem alcançar.

Ensino, por sua vez, apresenta-se como a ação ou o efeito de ensinar. É ainda,
um dos principais meios de educação, a forma sistemática normal de transmitir
conhecimentos, em geral em escolas.

Segundo Moura (2006), ensino e aprendizagem são processos que se


complementam. Analisados do ponto de vista etimológico, ensino e aprendizagem são
duas categorias que possuem suas próprias peculiaridades. Ensino pode ser considerado
um movimento coordenado por um sujeito habilitado para mediar o ato pedagógico.
Aprendizagem, por sua vez, é o resultado dessa intervenção, implicando na assimilação
de “saberes”, pelos sujeitos aprendentes, que, depois de internalizados, serão
socializados. Desta forma, compreende-se que o conceito de método aplica-se bem a um
conjunto de práticas ordenadas de ensino e está fundamentado em uma teoria de
ensino/aprendizagem.

Desde que foram estabelecidos os primeiros métodos para o aprendizado de


música, por volta do século XVII, com Comenius2, os conceitos sobre aprender e
ensinar música foram sendo transformados, ao longo do tempo (SILVA, 2006).

2
Comenius(1592-1670), foi o criador da Didática Moderna e um dos principais educadores do século
XVII; ele concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do homem que resultou em
propostas pedagógicas hoje consagradas ou tidas como muito avançadas.
19

Gerling chama de método “á sistematização de uma área de conhecimento que


possibilite, ao não iniciado, a aquisição de competência na área escolhida, no menor
prazo viável”. Segundo esse autor, para que um método venha a ser elaborado, deve-se
definir competência dentro da área de conhecimento, bem como os objetivos de
aplicação dos conhecimentos alcançados por meio do método. Nesse sentido, conceitua-
se competência como “a posse de um número de habilidades que permitem ao indivíduo
a execução de tarefas dentro de uma área de conhecimento com segurança, naturalidade
e, sobretudo, discernimento” (GERLING, 1989, p.48).

Alberto Jaffé implantou um método que tem como objetivo a formação em


massa de músicos de instrumentos de cordas. O autor acreditava que o ensino coletivo
seria o meio pelo qual se poderia alcançar esse objetivo. Galindo (2005) defende a
importância do ensino coletivo para a iniciação nos instrumentos de cordas. No entanto,
conclui que após o aluno receber os primeiros fundamentos técnicos e musicais é
desejável que passem a ter aulas individuais. Em suma, Galindo entende que o ensino
coletivo prepara o aluno para o ensino individual com os professores específicos de
cada instrumento.

Jaffé preocupava-se com o fato de que pelo método tradicional a formação


inicial de um aluno demandava muito tempo. A esse fato somava-se a necessidade de
um grande número de professores para se ter também um grande número de alunos em
treinamento. Entretanto, naquele momento, não havia tal disponibilidade de professores
nem meios de consegui-los. Jaffé, portanto, procurava uma fórmula efetiva de
aproveitamento do trinômio professor-tempo-aluno. Essa busca cada vez mais o
conduzia na direção da metodologia de ensino coletivo. Nessa fórmula, onde um
professor treina vários alunos simultaneamente, Jaffé parece ter alcançado a razão da
aplicação dessa metodologia.

Esse método, inicialmente desenvolvido para o violino, foi posteriormente


aplicado à viola, violoncelo e contrabaixo. Essa expansão foi possível através da
utilização de elementos-chave da técnica comum aos quatro instrumentos da família das
cordas. Isso facilitou a abordagem simultânea de vários alunos e a evolução conjunta do
aprendizado. Por esse método, uma turma pôde então englobar em cada estágio
violinistas, violistas, violoncelistas e contrabaixistas em grupo de número muito
20

variável. Jaffé não se importava de eventualmente agrupar vinte ou até mais alunos em
uma mesma sala de aula. Além de observar suas vantagens didático-musicais, Jaffé
considerava esse processo gerador de um alto índice de aproveitamento do tempo: “Não
mais um professor ocupando-se de um aluno em uma sala de aula com uma aula
semanal, mas a desejada multiplicação de resultados e, em conseqüência, a formação de
novos músicos em massa” (JAFFÉ, 1976, p. 11).

Embora o objetivo não fosse à formação de solistas, Jaffé buscava desenvolver


instrumentistas com habilidade técnica para executar música de qualidade. Percebia-se,
portanto, a meta de iniciar seus alunos na prática de orquestra desde os primeiros
ensinamentos. Segundo Galindo, na apresentação do livro Educação Musical e
Transformação Social de Flavia Maria Cruvinel:

O Professor Alberto Jaffé sempre foi muito claro: é realmente muitíssimo


difícil alguém imaginar uma carreira de solista, tocando um instrumento
como violino ou violoncelo, para alguém que começou a estudar com 15, 16
anos. Mas, para ser mais exato, dizia o mestre que uma carreira de solista era
algo que não figurava em seus planos [...] Solista? Para quê? Seus objetivos
eram outros: levar a prática musical para muita gente, de todas as classes
sociais; criar o hábito de fazer música em grupo entre amadores, e, se de seus
alunos surgissem alguns que enveredassem pelo caminho da
profissionalização, tanto melhor. Ajudariam a melhorar o padrão das
orquestras brasileiras, naquela época (e de certa forma hoje) tão carente de
bons instrumentistas de arco (GALINDO, 2005, p.12).

No cenário musical brasileiro da época onde prevalecia o formato de ensino


herdado dos conservatórios europeus, Jaffé procurou introduzir uma nova proposta.
Aplicar um método de ensino coletivo que formasse instrumentistas em número
satisfatório para as orquestras. Esse processo implicaria também na disponibilidade de
professores devidamente preparados para a aplicação do método, visto que a demanda
por professores qualificados seria proporcional ao previsível número crescente de
alunos. Para administrar essa demanda, Jaffé introduzia alguns alunos mais adiantados
como monitores das turmas iniciantes, investindo na preparação de futuros professores.
Portanto, a multiplicação de professores representaria uma possível multiplicação de
novos músicos e de novas orquestras.

A figura a seguir ilustra um exemplo de aula coletiva com o professor Jaffé, no


auditório do SESI – CE, lugar onde ocorriam os ensaios e as aulas do projeto. Observa-
se que os alunos estão estruturados em formato de orquestra, no entanto, não estão
21

tocando a partir de partituras. Esse registro fotográfico mostra uma das primeiras aulas
ministradas por Jaffé, quando os alunos tocavam pela repetição das notas que o
professor ensinava. Percebe-se que o grupo é formado por jovens alunos, fato que
demonstra a principal clientela atendida em Fortaleza.

Figura 1-Professor Jaffé em aula coletiva.


Fonte: Arquivo pessoal.

1.1 Atraindo jovens para o estudo do instrumento de cordas

Em 1975, o Presidente da Confederação Nacional da Indústria, Thomás Pompeu


de Souza Brasil Netto, tomando conhecimento do trabalho de ensino coletivo
desenvolvido por Jaffé, o convidou para iniciar, na cidade de Fortaleza - CE, o núcleo
de formação de instrumentistas de cordas, junto ao Serviço Social da Indústria (SESI).
O primeiro passo para iniciação desse projeto foi um concerto didático no auditório do
SESI, na Barra do Ceará, para apresentação dos instrumentos. Nessa apresentação,
Jaffé e seu filho Marcelo tocavam violino, seu filho primogênito Cláudio, violoncelo e
sua esposa Dayse, contrabaixo. Muitos dos presentes ficaram impressionados ao ver
22

pela primeira vez aqueles instrumentos, que, na época, algumas pessoas só conheciam
através do programa Concertos para a Juventude, apresentado semanalmente por uma
rede nacional de televisão. Esse evento era uma forma de convite para aqueles que
desejassem aprender os instrumentos de cordas.

Jaffé partiu do pressuposto de que grande parte das pessoas se considerava


inapta para aprender um instrumento. Essa idéia está ancorada, em grande medida, no
paradigma do talento. Sob esse ponto de vista, apenas determinadas pessoas nasceriam
com aptidão para a música. Procurando desmistificar esse paradigma, Suzuki advoga
que talento não deve ser visto como um acaso do nascimento, mas como tendências
naturais que todos podem desenvolver para o aprendizado (SUZUKI, 1994).

Partindo dessa percepção, a idéia de Jaffé era estimular o interesse da audiência


para o aprendizado do instrumento, a partir da música apresentada por sua família
tocando em conjunto. Essa estratégia, usada por Jaffé, é justificada por Boufleuer
(2007), ao afirmar que todo esforço pedagógico apresenta-se como um convite feito
com a perspectiva de que o mesmo seja atendido. Os educadores são, no caso, os
encarregados de apresentar o convite aos que estão chegando, e, por conseguinte, o bom
educador é aquele que consegue apresentar o convite de maneira tal que obtenha a
cumplicidade do convidado. Tal cumplicidade se caracteriza pela ação, pois não pode
ser passiva, para que o ato educativo possa, então, se concretizar. Logo, aprender não se
constitui apenas em receber informações, mas em construir novas percepções e elaborar
novos sentidos. Esse ato compõe um processo que resulta em uma nova ação,
engajamento e tomada de posição.

Nesse aspecto, o primeiro contato dos alunos com a didática do professor Jaffé
contribuiu para que eles percebessem a possibilidade de se tornarem futuros
instrumentistas de cordas. No núcleo de Fortaleza, a faixa etária para admissão era entre
10 e 18 anos de idade. Os alunos foram selecionados através de um teste que avaliava
sua capacidade rítmica e auditiva. A princípio, Jaffé e sua esposa emitiam uma
seqüência rítmica através de batidas na mesa, que o aluno deveria repetir. Em seguida,
cantavam uma melodia que o aluno deveria imitar no mesmo tom.
23

1.2 Aplicações do Método

Na primeira aula, era proporcionado ao aluno o conhecimento das partes


integrantes de cada instrumento. Jaffé dava atenção a cada detalhe. Começando pelas
cordas com seus nomes e sons, sendo numeradas das agudas para as graves. Tendo
como exemplo o violino: a mais aguda seria a corda Mi; a segunda, a Lá; a terceira, Ré,
e a quarta corda é a Sol, como mostra a figura abaixo:

Figura 2 – Cordas do Violino

Da mesma forma, na viola e no violoncelo, a mais aguda é a corda Lá; a segunda


corda é a Ré; a terceira é a Sol e a quarta é a corda Dó. No contrabaixo, a primeira é a
Sol; a segunda é a Ré; a terceira é a Lá e a mais grave, que é a quarta corda, é a Mi.
Jaffé criteriosamente apresentava as partes que compõem cada instrumento como
demonstradas nas figuras a seguir.
24

Figura 3: Violino e Viola

Figura 4: Violoncello
25

Figura 5: Contrabaixo

Essa idéia de apresentar as partes que constituem cada instrumento gerava no


aluno uma maior atração para os contatos iniciais com o mesmo. Isso acontecia porque
o aluno começava a compreender cada parte do instrumento, bem como suas funções e
seu manuseio. Esse conhecimento era responsável por uma maior familiarização do
aluno com o instrumento escolhido.

Em seguida, era mostrada a maneira de posicioná-los junto ao corpo, de forma


que fosse proporcionado um melhor ajustamento, buscando, assim, tornar seu
desempenho mais confortável. Jaffé ensinava que o violino deveria ser colocado sobre o
ombro e a mandíbula encaixada na queixeira e os alunos deveriam encontrar uma
posição adequada segundo sua estrutura corpórea. E assim, para cada instrumento, o
aluno recebia a devida instrução para proporcionar uma boa e agradável execução.

Essa perspectiva, tão valorizada por Jaffé, de buscar que o aluno esteja relaxado
no momento em que executa o instrumento, é compartilhada por Cruzeiro (2005), que
26

observa, no contexto da execução de instrumentos musicais, o envolvimento de fatores


emocionais, cognitivos e motores. Afirmando também que toda rigidez e imobilidade de
qualquer parte do corpo impedem movimentos naturais e causam desconforto.

As primeiras aulas eram voltadas para desenvolver uma familiaridade com o


instrumento. Inicialmente, formavam-se grupos de 8 a 10 alunos para aprender a segurar
o instrumento. Se um determinado aluno não conseguia e o outro tinha sucesso, isso
servia de estímulo para aquele que tinha dificuldade percebesse que também poderia
fazê-lo.

Jaffé utilizava como princípio, as semelhanças dos instrumentos. Conseguiu unir


essas semelhanças para poder ensinar diferentes instrumentos em um mesmo momento.
Ou seja, todos tinham corda Lá, portanto, todos poderiam iniciar o treinamento de um
mesmo ponto de partida. Aplicando a mesma digitação, tocavam a mesma melodia.
Tendo em vista que se tratava de um método de iniciação para instrumentos de cordas,
entende-se que essas semelhanças constituem uma forma de unir todos os quatro
instrumentos em uma mesma sala de aula.

A primeira melodia introduzida na metodologia Jaffé é composta de duas notas,


como sugere o próprio título: Lá-Si-Lá. Embora sejam apenas duas notas, elas estão
combinadas de forma a sugerir ao executante que perceba a melodia como uma música
e não apenas como um exercício. Primeiro, o professor ensinava a melodia com uma
letra para que fosse cantada pelos alunos: “Lá – Si – Lá, Lá – Si – Lá, ouça o som do Lá
– Si – Lá”.

Essa técnica desenvolvia no aluno duas habilidades simultâneas. Primeiro, o


aluno memorizava a melodia, em seguida ele relacionava a letra da música com as notas
tocadas no instrumento3. O exemplo a seguir mostra a partitura dessa melodia, que é
tocada utilizando-se apenas a corda Lá.

3
A palavra Lá está associada à corda Lá e a palavra Si, à mesma corda com a digitação do primeiro dedo.
27

Exemplo 1: Lá-Si-Lá.

Seguindo-se a convenção de notação musical, a nota Lá está representada por


um zero, pois não há digitação, enquanto que a nota Si é representada pelo número 1,
visto que tem a digitação do primeiro dedo. Ao ser indagado sobre a composição deste
exercício, o professor Jaffé relata: “... Lá - Si – Lá foi a forma que encontrei para
colocar um dedo na corda. Não acredito que possa me considerar autor”.

De acordo com a proposta de Jaffé, inicialmente a música é exercitada em forma


de pizzicato4. Tal escolha é devido à complexidade de movimentos requeridos para
produzir som com o arco. Para o iniciante é mais fácil tocar em pizzicato. Tal
complexidade é em parte devido à coordenação exigida no movimento da mão
esquerda, dedilhando as notas sobre as cordas, e a mão direita, executando o movimento
de arco. No entanto, ao realizar o pizzicato, o aluno preocupa-se apenas com um desses
movimentos para aprender a dominá-lo.

4
Tocando apenas com os dedos pinçando a corda
28

Depois que o aluno aprendia a tocar em pizzicato, o próximo passo era aprender
a utilizar o arco, que era ensinado da seguinte forma: com o dedo polegar na curva entre
a almofada e o talão; o dedo indicador acomodado na almofada do arco, na região da
falange; o dedo médio na lateral do talão, assim como o anelar; a ponta do dedo mínimo
relaxada sobre a vareta do arco, como mostra a figura a seguir:

Figura 6: Segurando o arco


Foto: Marco Silva

Depois que os alunos dominam essa técnica de segurar o arco, este é posto sobre
a corda. Nesse momento o objetivo principal dos alunos é conseguir sincronizar o
movimento dos dedos da mão esquerda com o movimento do arco. A melodia
executada é a mesma que fora praticada na forma de pizzicato, no caso, na corda Lá.
Cumprida essa etapa, o aluno é então levado a tocar a música “Lá-Si-Lá”, buscando
extrair dos instrumentos seus primeiros sons com o arco.
29

Jaffé entende que quando o aluno vence cada etapa ele se sente estimulado a
retornar para a próxima aula. A partir do momento que os alunos dominam essa prática
no primeiro exercício, Jaffé aplica o mesmo exercício em outras cordas. Nesse
momento, os alunos utilizam a digitação do primeiro dedo e a corda solta, para que
comecem a se familiarizar com o instrumento. Observa-se que os alunos até esse ponto
da aprendizagem ainda não decifram os símbolos musicais e tocam pelo processo de
ouvir, ver e repetir. O aluno constrói sua autoconfiança aos poucos ao perceber que é
capaz de tocar um instrumento.

Nas aulas seguintes eram relembradas as anteriores, confirmando no aluno os


conhecimentos aplicados sobre postura, digitação e a técnica de segurar o arco. Essas
habilidades não são desenvolvidas de forma rápida, pois requerem tempo e prática.
Nesse caso específico, o processo se tornava ainda mais lento porque os alunos não
possuíam instrumento próprio. Para compensar essa deficiência, Jaffé ministrava de três
a quatro aulas por semana.

Os dois próximos exercícios receberam de Jaffé os títulos de “Maria Chinesa” e


“Maria Japonesa”, respectivamente. A escolha dessas melodias é justificada pelo
professor da seguinte forma: “Maria Chinesa e Maria Japonesa são partes de melodias
muito conhecidas, usadas para desenhos animados, o que me animou para incentivar os
alunos com melodias familiares para eles.” Completa ainda: “Não há nenhuma razão
especial para a escolha desses nomes. Foi o primeiro nome que me surgiu. Uma era para
ensinar o Dó natural e a outra, o Dó sustenido. Achei que as melodias tinham um toque
oriental.” (JAFFÉ) 5.

5
Relato apresentado em entrevista, via correio eletrônico.
30

Exemplo 2: Maria Chinesa

Nessa melodia, o aprendiz acrescenta o segundo dedo, articulando o mais próximo


possível do primeiro dedo. Ainda na corda Lá, a nota Si digitada pelo primeiro dedo e a
nota Dó, digitada pelo segundo dedo, demonstrava-se o intervalo de semitom. Essas
duas notas devem ser digitadas com os dedos juntos. A falta de flexibilidade dos dedos
e a rigidez da mão esquerda geravam dificuldade em posicionar o segundo dedo junto
do primeiro e nem sempre se conseguia colocar os dedos tão juntos. Essa dificuldade é
observada apenas no violino e na viola. Provavelmente esse é um dos motivos que
levam vários autores a iniciar o aprendizado da digitação com o segundo dedo no dó
sustenido, promovendo assim uma situação mais confortável para o aluno.
Quando Jaffé observava alguma dificuldade dos alunos em juntar os dedos para
a execução da música, usava de seu bom humor para incentivá-los. Ele costumava
dizer: “tem que deixar os dedos vizinhos, colados” 6.

6
Relato do autor como participante da experiência com o professor Jaffé.
31

Superada essa dificuldade de flexibilidade dos dedos e, por conseguinte, a


execução desse segundo exercício, partia-se para a próxima música, “Maria Japonesa”.

Exemplo 3: Maria Japonesa

Nessa melodia, diferente da anterior, no violino e na viola, o segundo dedo é


digitado afastado do primeiro, pois o intervalo entre as duas notas é de um tom. Já no
violoncelo e no contrabaixo, esse intervalo é representado entre o primeiro e o terceiro
dedo.

O exercício que se seguia era “A Barquinha Ligeirinha”. Segundo Jaffé, o


objetivo dessas pequenas melodias era colocar cada um dos dedos na corda. Nessa
música, exercitava-se o acréscimo do terceiro dedo no violino e na viola, e o quarto
dedo no violoncelo e no contrabaixo.
32

Exemplo 4: A barquinha ligeirinha

A aplicação dos exercícios era feita em duas etapas. Na primeira, Jaffé ensinava
as músicas por naipes, ou seja, cada instrumento de forma separada. Em seguida, reunia
toda a família das cordas e praticavam juntos. Até então os alunos estudavam ouvindo o
bloco sonoro de seu próprio naipe de instrumento. A seguir, com a reunião de todos os
instrumentos de uma orquestra de cordas tocando ao mesmo tempo, eles ouviam a
sonoridade característica constituída de sons graves e agudos.

A grande vantagem desse procedimento é que no lugar de ouvir o som precário


que os principiantes geralmente produzem individualmente, os alunos ouviam na massa
sonora um som mais agradável. Jaffé acreditava que essa percepção servia como uma
espécie de estímulo para que não desanimassem. Assim, os alunos progrediam juntos
até o ponto de dominar a técnica do instrumento o melhor possível dentro de suas
capacidades.

É importante ressaltar que o método é aplicado para alunos iniciantes, portanto,


eles estão em um processo de aprendizado, e ainda não estão aptos a identificar
33

desafinações com precisão. Essa habilidade deverá ser desenvolvida no ensino


individual, quando poderão melhorar a própria afinação e sonoridade.
A próxima música era uma canção infantil francesa também utilizada no método
Suzuki com o título de: Twinkle, Twinkle, Little Star (Brilha, Brilha Estrelinha).

Exemplo 5: “Ah vous dirai je maman” em uníssono.


34

Nessa melodia, o aluno emprega também a digitação dos três primeiros dedos.
Diferentemente das músicas anteriores, nessa peça, porém, o aluno trabalha em duas
cordas e todos tocam em uníssono. Na próxima etapa desse processo, o tema trabalhado
35

no exercício anterior é orquestrado em várias vozes. A figura rítmica continuava sendo a


mesma, porém, as notas eram diferentes.

Exemplo 6: “Ah vous dirai je maman” polifônico

Nesse momento, os aprendizes não tocavam mais em uníssono, mas com uma
diversidade de sons que não estavam acostumados. Dessa forma, cada naipe tocava em
36

uma parte diferente. Se no princípio, todos tocavam as mesmas notas, nesse momento, e
pela primeira vez, Jaffé iniciava a diversificação de vozes. Não havia mais uma única
voz e sim uma grande massa sonora harmoniosa formada por várias vozes. Embora
Jaffé aplicasse os exercícios anteriores em outras cordas além da corda “Lá”, que era
comum a todos os instrumentos, nesse tema os alunos tocavam em outras cordas pela
própria necessidade da música.

O exemplo a seguir, “A carruagem”, é uma melodia tradicional americana que


tem como objetivo praticar a articulação e também a mudança de corda.

Exemplo7: A Carruagem
37

Percebia-se a dificuldade que os alunos tinham de praticar esse exercício, visto


que pela primeira vez os aprendizes utilizavam a prática de mudança de corda, onde se
exigia um pouco mais de habilidade. Embora houvesse dificuldade, o ânimo de tocar o
instrumento estava nesse momento muito aguçado e havia um esforço muito grande por
parte dos alunos em superar tais dificuldades. Considerando que o movimento de braço
para a execução da mudança de corda necessitava de treino, o professor Jaffé
38

intensificava essa prática. Quando seus alunos compreendiam e dominavam o


movimento de mudança de corda, outros exercícios eram aplicados para desenvolvê-los
no domínio do instrumento.

O exemplo a seguir foi criado pelo professor Jaffé para desenvolver arcadas.

Exemplo 8: O Arqueiro

O exercício demonstra como Jaffé abordava a técnica de arco. Durante as aulas,


Jaffé fazia variações na arcada, alternando notas ligadas com notas soltas para
desenvolver a técnica de arco. A prática era trabalhada da seguinte forma:

1) praticava-se com todas as notas soltas;

2) com duas notas ligadas e duas soltas;

3) com duas notas soltas e duas ligadas;

4) com uma nota solta, duas ligadas e uma solta;

5) de quatro em quatro ligadas.

A fase seguinte do método trabalha melodias tradicionais de alguns países e


também músicas do repertório erudito. São arranjos para orquestra de cordas com um
maior grau de dificuldade, a exemplo do tema da Sinfonia “Novo Mundo” de Dvorák,
do tema da “Barcarolle” de Offenbach, da Marcha Nupcial de Mendelssohn, dentre
39

outros. Assim, o professor Jaffé continua seu trabalho de ensinar esses instrumentos
através da prática em orquestra. Nessa fase posterior, Jaffé também utiliza métodos e
técnicas tradicionais de estudo para instrumentos de cordas, como por exemplo, Kayser,
Kreutzer, entre outros autores.

No ano 2000 o método desenvolvido pelo professor Jaffé foi publicado nos
Estados Unidos, pela A Beka Academy, filiada ao Pensacola Christian College, com o
título de Jaffé String Program. Esse método foi oferecido ao público em formato de
workbook impresso para os alunos, acompanhado de tutoriais para os professores em
fitas de vídeo. O conteúdo desse método segue a mesma proposta do projeto aplicado
em Fortaleza, apenas tem seu conteúdo um pouco mais expandido devido às várias
revisões feitas por Jaffé. Na edição mais recente disponível as fitas de vídeo foram
substituídas pelo formato DVD.

O método é oferecido em dois volumes: Track A e Track B. O primeiro volume


dedicado aos alunos sem experiência musical prévia, e o segundo para aqueles já
iniciados. Cada um desses volumes é novamente subdividido em outras duas partes:
Year A1, Year A2 e Year B1, Year B2. Cada uma dessa subdivisões têm tanto seu
workbook , quanto o vídeo tutorial correspondente. O método é dedicado à instrução de
todos os quatro instrumentos do naipe de cordas da orquestra. Diferente de quando o
método Jaffé foi aplicado em Fortaleza, nesse método atual há uma recomendação de
idade mínima de nove anos para os estudantes serem iniciados.

1.3 Os Instrumentos

O núcleo de formação de instrumentistas de cordas do SESI - CE disponibilizou


cerca de 130 instrumentos (violinos, violas, violoncelos e contrabaixos) para serem
utilizados pelos alunos no trabalho com o prof. Jaffé, na cidade de Fortaleza. No
entanto, nos primeiros meses de atividade, não era permitido que os alunos levassem os
instrumentos para estudo em suas residências. Acredita-se que essa recomendação, além
da diretriz pedagógica, se devia também ao fato de os alunos não saberem utilizar os
instrumentos adequadamente, havendo, assim, a possibilidade de danificá-los.
40

Jaffé recomendava aos alunos que no processo de iniciação não realizassem


nenhuma atividade com o instrumento fora da aula. De acordo com Jaffé, esse
procedimento evitaria que os alunos desenvolvessem erros de movimentos e de posturas
no início do desenvolvimento de suas habilidades motoras com instrumento. Nessa
perspectiva, Oliveira relaciona essa prática com a “consolidação de posturas e
movimentos do ato de tocar” (Oliveira, 1998, p.18). Esse processo de aprendizagem
poderia gerar um efeito indesejável nos alunos. Sabia-se que apenas alguns poucos
alunos possuíam seus próprios instrumentos. A impossibilidade de se ter um
instrumento disponível para praticar em casa poderia ser um elemento causador de
desinteresse ou desânimo. Ciente da possibilidade desse efeito indesejável se apresentar,
Jaffé ministrava três ou quatro aulas por semana. Assim era possível aos estudantes o
contato mais freqüente com os instrumentos, ao mesmo tempo em que Jaffé também
podia monitorar melhor o trabalho de cada um. Assim era possível manter a motivação
e o controle sobre o desenvolvimento individual.

1.4 Comparação com outros métodos

1.4.1 Jaffé e Suzuki: aspectos divergentes com o método Suzuki

É importante também ressaltar que existem similaridades entre o método Suzuki


e o método implantado por Jaffé, considerando que ambos são metodologias de ensino
coletivo. Todavia, sua aplicabilidade demonstra alguns aspectos divergentes. O método
Suzuki aplicado em sua forma pura necessita que os alunos tenham instrumento próprio
e que os pais os acompanhem nas aulas, para que em casa possam ajudar seus filhos na
prática diária. No SESI, isso não seria possível, pois se tratava de filhos de operários.
Via de regra, nessas famílias não havia renda com poder de compra suficiente para
permitir a aquisição do instrumento. Considerando-se o acompanhamento dos pais nos
estudos, mesmo que a instituição fornecesse os instrumentos para que os alunos
praticassem em casa, não havia alguém da família disponível para auxiliá-los.

O método Suzuki é uma abordagem de ensino coletivo que procura alcançar


crianças para o estudo da música. Esse objetivo tem como alvo a transformação da
criança por meio do desenvolvimento de suas habilidades na prática de um instrumento
41

(SUZUKI, 1994). Ao passo que o Método desenvolvido por Jaffé procura incentivar
adolescentes e jovens na prática instrumental.

No método Suzuki, o aluno inicia seu aprendizado musical juntamente com


outros colegas com o mesmo instrumento. Na metodologia Jaffé, o aluno inicia o
aprendizado em prática de orquestra em meio a diferentes instrumentos.

Nesse sentido, pode-se considerar que o método Suzuki, provavelmente, não


obteria bons resultados na época em que Jaffé ensinou em Fortaleza.

1.4.2 Jaffé e Orff: Prática Instrumental & Aspectos Teóricos

Percebe-se na metodogia aplicada por Jaffé semelhanças com o Método Orff,


quando este afirma que o aluno deve ter alguma experiência musical antes de aprender a
ler a escrita musical. A perspectiva de Orff associou ao aprendizado musical na infância
o mesmo processo de desenvolvimento mental da criança, dando ênfase a um ensino
musical baseado na experiência. Nesse entendimento, o indivíduo passa pela
experiência de aprender as operações concretas antes de manipular o pensamento
(LOPES, 1991, PANICO, 1996). Essa idéia é referendada pelo pensamento piagetiano
proposto na Psicologia do Desenvolvimento Intelectual, que postula etapas evolutivas
do amadurecimento da criança (PIAGET, 1970). Na pedagogia Orff, o aluno aprende
primeiro a sentir para depois compreender. A esse respeito, Lopes comenta:

... reconhecendo que a criança só aprende a ler depois de anos de experiência


com a linguagem falada, da mesma maneira só poderá aprender a ler música e
entender os conceitos musicais depois de muita experiência com o material
sonoro (LOPES, 1991, p.60).

Na prática instrumental, Orff compara a pauta com a disposição das barras de


um xilofone (deixando no instrumento apenas as notas utilizadas no exercício proposto).
Jaffé, por sua vez, associa a distância entre os dedos vizinhos digitados numa mesma
corda do instrumento aos intervalos entre as notas. Ambos procuram proporcionar ao
aluno através de sua metodologia uma experiência musical antes de aprender a leitura
dos símbolos musicais.
42

Compartilhando essa idéia, Suzuki (1994) leva em consideração o fato de que


uma pessoa nascida no Japão fala de forma fluente o seu idioma. Isso ocorre porque a
criança convive com essa linguagem e não encontra nenhuma dificuldade em aprender
pelo contato oral com seu idioma nativo. Esta comparação o levou a várias conclusões:

Na verdade, todas as crianças do mundo falam a sua língua materna com


maior fluidez. Toda criança japonesa, sem exceção, fala japonês sem
esforço. Isto não é prova de impressionante talento? Como, porque meios,
elas conseguem isso? Eu tive de me dominar para não gritar ao mundo a
minha grande alegria por reconhecer este fato (SUZUKI, 1994, p. 11).

Nessa mesma linha, Oliveira (1998) afirma que o primeiro passo, com relação ao
aprendizado da música, deve ser o ensino da prática instrumental, e não o ensino da
teoria em música, pois, dessa forma, o ensino não tem o aproveitamento imediato.
Assim, ele se expressa:

Na aprendizagem humana, o indivíduo primeiro aprende a falar para depois


saber ler. O músico pode aprender primeiro a produzir sons e,
posteriormente, entender o sinal gráfico que os representa. Isto facilita o
processo de aprendizagem de leitura, já que os símbolos partem de uma
prática musical. No processo inverso, o símbolo não possui significado
concreto, nem utilização imediata (OLIVEIRA, 1998).

O processo descrito por Oliveira aplica-se à metodologia do professor Jaffé já


que ele ensina os alunos a tocarem os instrumentos antes do aprendizado da escrita
musical.

1.5 Aspectos psicológicos e didáticos

O processo de formação de instrumentistas de cordas é complexo. Tal


complexidade caracteriza-se pela necessidade de aquisição e desenvolvimento cognitivo
de uma vasta gama de habilidades. A aquisição dessas competências musicais não é
uma tarefa fácil, pois, para dominar a prática instrumental, o aluno precisa associar
diversos níveis de conhecimentos. O aluno, ao se confrontar com esses múltiplos
elementos musicais, necessita ser guiado por um método de maneira que ele consiga
absorver esses conhecimentos através da prática.

Cazarim e Ray (2000) destacam uma grande preocupação por parte de alguns
pesquisadores com os aspectos psicológicos envolvidos na performance musical. Estes
43

autores salientam, dentre tais aspectos, que a motivação do estudante de música é


fundamental para a efetividade de sua performance. Com relação a esse aspecto,
observa-se que a capacidade de cativar e estimular os alunos para o estudo do
instrumento está sempre presente na metodologia de Jaffé. O professor Jaffé procurava
estimular a autoconfiança de seus alunos para que se mantivessem animados com o
estudo do instrumento nos primeiros passos. Para tanto, usava de uma estratégia
pedagógica que lhe é peculiar, o bom humor. Ele prendia a atenção dos estudantes
através de atitudes positivas e bem humoradas, que tinham o efeito de relaxá-los e
animá-los. Isso também era percebido em momentos quando o aluno acertava um
exercício proposto, e ele dizia: “vamos repetir pra ver se não foi coincidência”. O
resultado vinha tanto pelo aprendizado proporcionado pela repetição, como pelo
ambiente amigável criado pelo professor.

Oliveira (1998) chama atenção para esse fato por ter convivido por algum tempo
como aluno do professor Jaffé. Lembra que Jaffé utilizava uma estratégia pedagógica
denominada de timing. Essa didática quebra a tradicional maneira de fazer repetir um
ensinamento sem um estímulo para o aluno que, muitas vezes, desanima durante esse
processo de aprendizagem por ausência de incentivo. A palavra timing é utilizada para
descrever o momento certo de tomar determinadas decisões em relação ao aluno a partir
da percepção do professor. A esse respeito, o professor Jaffé comenta:

Quanto ao timing, trata-se de um elemento muito importante. O professor


tem que sentir o momento de repetir, o momento de mudar, o momento de
parar ou continuar [...] (Jaffé).

Essa abordagem pedagógica praticada pelo professor Jaffé era planejada e usada
com cuidado (GALINDO, 2000), pois se tratava de estimular os alunos, incentivá-los,
sem, contudo, permitir que a aula se transformasse em um momento de desordem e
desrespeito. Essa forma de gerar motivação se expressa bem na citação de Pozo (2002)
quando afirma que:

(...) Outra forma de criar motivação e de conferir significado para a prática da


aprendizagem é organizá-la socialmente, de forma que favoreça a cooperação
e o intercâmbio, já que aprender não é apenas uma prática cultural, mas
também uma forma de viver em sociedade (POZO, 2002, p.255).

Esses fatores observados na didática do professor Jaffé demonstram estar ela


constantemente voltada para criar motivação e isso conferia significados tanto para sua
44

prática como professor, quanto para a aprendizagem dos alunos. Essa configuração das
aulas de música em grupos incentiva a relação entre os alunos. Também melhora a
forma de se relacionarem mutuamente, posto que, tocar em conjunto também motiva o
ouvir ao outro, estimula a ajuda mútua, estreitando as relações de intercâmbio e
cooperação entre as pessoas.

Jaffé estruturava suas aulas em três partes distintas. Como mostra Oliveira
(1998), a aula era dividida da seguinte forma:

• Revisão: Nesta parte da aula, o professor deve realizar uma


recapitulação dos assuntos abordados na aula anterior.
• Informação: nesta etapa, o aluno é exposto a um novo problema
técnico ou novos materiais a serem desenvolvidos.
• Aplicação: Esta fase de treinamento em que o aluno aplica e estuda as
informações adquiridas na fase anterior. Esta é a grande diferença entre o
design pedagógico das aulas em grupo e as aulas individuais, pois aqui se
realiza o estudo dirigido (OLIVEIRA, 1998, p. 16).

Jaffé tinha por costume recapitular a aula anterior para que os alunos fixassem as
informações obtidas em sala de aula. As habilidades e os conhecimentos adquiridos em
aula necessitavam ser absorvidos pelos alunos antes de enfrentarem novas dificuldades
técnicas.

Segundo Cruvinel (2005), a aplicação do método coletivo para iniciantes da


aprendizagem do instrumento de corda demanda um processo de construção que, sendo
bem executado, mantém os alunos motivados.

... A construção do conhecimento é feita de maneira eficaz, sempre


revisando os conteúdos já conhecidos e introduzindo apenas um novo
conteúdo de cada vez. Dessa forma, o ensino-aprendizagem acontece de
forma prazerosa e segura (CRUVINEL 2005, p.86).

Nesse sentido, o sucesso dessa metodologia se deve também ao bom emprego


desse estudo dirigido como procedimento de trabalho. O aluno que consegue assimilar
essas habilidades, e, por conseguinte, administrar com equilíbrio esses conhecimentos,
terá dado um passo muito importante para seu desenvolvimento. Esse conjunto de
elementos que compõem o aprendizado musical não se refere apenas à prática do
violino, mas também à de outros instrumentos musicais. A esse respeito, Gainza
acrescenta:
45

A música, o ambiente sonoro – exterior ao homem – ao entrar em contato


com as zonas receptivas deste (sentidos, afetos, mente) tende a penetrar e
internalizar-se, induzindo um mundo sonoro interno (reflexo direto, ou
representação daquele) que por sua vez tenderá naturalmente a projetar-se
em forma de resposta ou de expressão musical (GAINZA, 1977, p.22).

Gainza (1977) descreve muito bem esse processo de assimilar os conhecimentos


musicais vindo a princípio do externo, seja do professor, do ambiente onde o aluno
convive, ou até mesmo dos alunos presentes em sala de aula naquele momento.

1.6 Algumas considerações

A idéia de uma formação musical mais ampla insere-se no contexto da


experiência realizada com o método Jaffé, na cidade de Fortaleza-CE. Nesse sentido, foi
oportunizado àqueles jovens e adolescentes o conhecimento de uma realidade diferente
da que eles conheciam. Estes, em sua grande maioria, provenientes de um grupo
socialmente desprivilegiado, adentraram em um cenário musical que os colocou em
contato com outras realidades cultural.

Silva (2005) discorre sobre a importância da cultura nos processos de formação


da identidade de jovens e adolescentes. Em sua pesquisa ele constata que há, em grande
parte da juventude pobre, um sentimento de inutilidade, em especial por não
conseguirem alcançar objetivos valorizados socialmente. Desta forma, a cultura se
apresenta como um caminho de diálogo com a juventude, através do qual ela expressa
seus anseios e forma de pensar.

Nesse sentido, a formação oportunizada pelo professor Jaffé produziu um novo


significado na realidade daqueles jovens, criando neles novas expectativas. O contato
desses jovens com a arte transformou seu comportamento em relação à sociedade. Isso
porque estudar música requer do aluno disciplina (cumprir horários, concentração,
organização mental para administrar seus estudos, entre outros). Desperta também a
sensibilidade, gera autoconfiança, desenvolve a cognição, a imaginação, etc. Aos
poucos eles adquiriram uma nova forma de agir, de pensar, de idealizar o futuro. Essa
mudança, favorecida pela participação em um novo contexto cultural, ocorreu em um
processo de transmissão de novas normas, valores, crenças e modos de comportamentos
com os quais não estavam acostumados. Para que tal formação viesse a se concretizar,
46

era necessário também trabalhar o comportamento social dos alunos. Nesse sentido,
além da técnica de seu instrumento, eles deveriam desenvolver elementos de cidadania
para tornarem-se bons cidadãos, além de bons músicos. Essa atitude teve um efeito
importante na constituição profissional de cada aluno. Esses aspectos serão discutidos
no capítulo seguinte, que discorrerá sobre os egressos da experiência Jaffé.
47

2. UM ESTUDO DE CASO COM EGRESSOS DA


EXPERIÊNCIA JAFFÉ

Visitar a memória de um entrevistado


é andar por espaços-tempos diversos
que se relacionam e se comunicam
através de uma lógica
que nem sempre compreendemos
Selma F. dos Santos.

Nesse estudo, optou-se pela abordagem qualitativa por entendermos que essa é a
que melhor responde ao nosso objeto de análise. A utilização desta justifica-se por sua
importância para pesquisas que trabalham com dados complexos para quantificar e para
serem facilmente percebidos. Segundo Minayo, a pesquisa qualitativa:

[...] Se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não
pode ser quantificados. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2004, p.
21-22).

Nessa abordagem, foi eleito o estudo de caso pois permitiu perceber o contexto
no qual a experiência com a metodologia aplicada pelo professor Jaffé se desenvolveu
em Fortaleza. Para tanto, utilizou-se a entrevista semi-estruturada como estratégia de
coleta de dados.

A escolha pela entrevista deveu-se ao fato de a mesma ser fundamental quando


se deseja mapear práticas, crenças e valores de um determinado universo social em que
os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados. Nesse caso, se as
entrevistas forem bem realizadas, permitirão ao pesquisador imergir em profundidade
na temática, coletando indicativos dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e
dá significado à sua realidade (DUARTE, 2004).

Assim, ao levantar informações consistentes sobre a história dos egressos,


pretendeu-se descrever e compreender a dialética que conduziu as relações que se
48

estabeleceram no interior daquele grupo, em especial no que se refere à didática


utilizada pelo professor Alberto Jaffé com seus alunos.

No entanto, realizar entrevistas, sobretudo aquelas semi-estruturadas, não é uma


tarefa simples. Ao buscar dialogar com os egressos de forma a conduzi-los a um
discurso mais ou menos livre, que atendesse aos objetivos da pesquisa, percebeu-se que
o processo de realização das entrevistas apresentou-se como uma tarefa bem mais
complexa do que pareceu no primeiro momento. Um dos aspectos que caracterizaram
essa complexidade foi a necessidade de um diálogo antes da entrevista para melhor
situá-los. Muitos não lembravam alguns detalhes e foi necessário contextualizá-los para
que se lembrassem das circunstâncias relevantes.

Reconstruir um passado que se torna vivo na memória dos egressos revela,


segundo Santos (2003), todo um contexto que vai além das noções de tempo e de
espaço, levando-nos a organizar uma rede de vários fios que marcam emoções,
amizades, desencantos, avanços e retrocessos, gestos de carinho, diferenças e
semelhanças. Durante o período das entrevistas, todos demonstraram interesse em
colaborar e em relembrar os fatos vividos.

2.1 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram selecionados de forma intencional, visto que os


grupos escolhidos apresentavam características previamente conhecidas pelo
investigador. Para essa finalidade, foram selecionados dois grupos de egressos, um
grupo formado por aqueles que deram continuidade a uma carreira na área de música, e
outro, por aqueles que enveredaram por outras áreas profissionais.

Buscou-se, portanto, entrevistar um maior número de pessoas que tivessem


participado como alunos do Projeto Espiral entre os anos de 1975 e 1978. Todavia, foi
possível dialogar com dez sujeitos no total. O que mais dificultou a realização das
entrevistas foi o fato de algumas pessoas residirem fora do estado do Ceará, e até
mesmo no exterior. Deste total de dez entrevistados, oito seguiram carreira na música e
dois realizam atividades em outras áreas, embora um ainda pratique música
49

informalmente. Buscou-se também conservar o anonimato dos entrevistados, optando-


se por identificá-los através de letras do alfabeto.

Faz-se oportuno, antes de apresentar o relato dos entrevistados, descrever o


ambiente onde esse método foi aplicado inicialmente.

2.2 O SESI: Lócus da experiência

O Serviço Social da Indústria do Ceará (SESI-CE) é uma instituição dedicada a


promover a qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes bem como estimular
a gestão socialmente responsável da empresa industrial. Para o SESI, o conceito de
qualidade de vida sempre esteve atrelado à educação, à saúde, à cultura, ao lazer e ao
esporte.

A iniciativa pioneira relacionada à arte começou em março de 1973, na unidade


do SESI da Barra do Ceará, com a criação de uma banda de música. Em maio de 1975,
o SESI ofereceu aos seus usuários a oportunidade do aprendizado de instrumentos de
cordas, através de um projeto liderado pelos professores Alberto Jaffé e sua esposa
Daisy de Luca. No núcleo de Fortaleza, a faixa etária era entre 10 e 18 anos de idade.

2.3 Perfil sócio-cultural dos sujeitos

Observando o perfil social das famílias dos sujeitos, percebeu-se que a maioria
dos entrevistados era oriunda da classe operária e tinham renda familiar baixa. Existia,
no entanto, uma abertura para que outras pessoas, ainda que não possuíssem vínculo
com o SESI, usufruíssem das atividades ofertadas pela instituição. Esse fato explica a
diversidade de pessoas de outras camadas da sociedade que também participaram dessa
experiência musical na década de 1970. Dessas, grande parte habitava no entorno da
instituição, em um bairro na periferia de Fortaleza, o que facilitava o acesso às aulas.
Outros residiam mais distantes e chegavam a andar, muitas vezes, cinco a seis
quilômetros de suas casas até o SESI. É importante ressaltar que, na época, crianças
com esse perfil social não tinham muitas oportunidades de acesso à arte, ao esporte e ao
50

lazer. Nesse contexto, foi, portanto, lançado o convite para que essas crianças
participassem das aulas de instrumento de cordas com o professor Alberto Jaffé.

2.4 O convite

O convite para assistir a uma apresentação de música no auditório foi dirigido a


todos os jovens que participavam das atividades que funcionavam no SESI. Esse
convite foi feito na forma de um recital com o objetivo de apresentar os instrumentos. O
evento também teve como objetivo procurar atrair o interesse desses jovens para o
aprendizado dos instrumentos. O contato com a música apresentada despertou a
curiosidade de alguns dos presentes pelos instrumentos usados naquele recital. Muitos
deles não conheciam esses instrumentos de cordas, outros já os tinham visto através da
televisão. Essa primeira impressão, causada em alguns dos presentes, pode ser
exemplificada pelo relato a seguir:

Na verdade, não sabia o que era uma orquestra. E não só eu como várias
pessoas. Eu fiz a inscrição pela curiosidade de estudar um instrumento. Eu
pelo menos nem conhecia o contrabaixo (Entrevistado E).

Deste modo, através da percepção visual e auditiva, os alunos foram estimulados


a iniciar o aprendizado dos instrumentos de cordas no método implantado pelo prof.
Jaffé em Fortaleza. Muskat, Correia e Campos (2000) explicam tal fato ao afirmarem
que a música tem a possibilidade de alcançar várias sensações de um grupo integrado de
percepções. Dentre elas, a visual, a do gosto, do olfato, e a proprioceptiva7, que
controlam nossos impulsos, emoções e motivações.

Buscando compreender esse primeiro contato dos sujeitos com essa


metodologia, perguntou-se acerca de suas impressões e lembranças da apresentação
realizada por Jaffé e sua família no auditório do SESI. Em um momento inicial,
percebeu-se que os entrevistados deram respostas diferenciadas sobre essa primeira
abordagem através da apresentação dos instrumentos.

7
Proprioceptiva é a sensibilidade própria aos ossos, músculos, tendões e articulações, que fornece
informações sobre a estática, o equilíbrio, o deslocamento do corpo no espaço etc.
51

Três sujeitos expressam que naquele dia havia algo diferente acontecendo no
auditório. Em virtude da grande movimentação, eles foram atraídos a observar o que
ocorria naquele recinto. Ao entrarem, presenciaram um ambiente agradável
proporcionado pelos sons daqueles instrumentos. Ao finalizar a apresentação, foi
anunciado que era um convite para o aprendizado. Muitos dos presentes, incentivados
pela apresentação, se inscreveram. Outros três entrevistados que já se encontravam no
auditório fazem os relatos que se seguem. O primeiro descreve:

Foi diferente, porque eu tocava violão, que é muito diferente do violoncelo.


Quando peguei o violoncelo eu tive uma sensação de que se eu virasse na
posição do violão eu teria a mesma sensação de um violão ou vice e versa
(Entrevistado C).

O que chamou a atenção desse indivíduo foi uma possível semelhança entre o
violão e o violoncelo. O segundo relato expressa a percepção de um dos presentes sobre
a forma como Jaffé e sua família tocavam. Um estilo diferente do que já tinha ouvido
antes. Jaffé tinha uma maneira própria de lidar com o instrumento. A maneira de tocar
parecia muito simples. Esse aspecto a atraiu para a prática do instrumento:

Foi a forma como tocavam. O modo como ele regia, eu achei muito
interessante. Ele tinha uma maneira própria de lidar e também a maneira dele
reger era muito simples, popular, a gente via que não era uma coisa muito
erudita (Entrevistado F).

O terceiro entrevistado, que se encontrava no auditório na apresentação inicial, e


presenciou aquele evento, conta:

Eu nunca teria oportunidade de aprender um daqueles instrumentos. Meu pai


na época era de uma família pobre, operário, trabalhava em uma fábrica de
sabão. A possibilidade de tocar aqueles instrumentos era como algo quase
impossível (Entrevistado G).

Imaginar a possibilidade de aprender a tocar um daqueles instrumentos era visto


como algo utópico, fora de sua realidade. Em virtude de seu pai ser um operário e dar a
manutenção de sua família com bastante dificuldade, para ele, tornava-se inviável
adquirir um instrumento para praticar. No entanto, ele superou esse seu pensamento,
fez a inscrição e depois percebeu que muitos outros alunos iniciaram seus estudos sem
um instrumento próprio.
52

Outros dois entrevistados que não estiveram presentes nesse evento, narram que,
depois de iniciado o curso, observaram como seus colegas se desenvolviam rapidamente
no aprendizado daqueles instrumentos. Esse fato os incentivou a se integrarem ao
grupo.

Uma das entrevistadas lembra que o professor Jaffé tocou naquela apresentação
a Chaconne da Partita nº 2 para violino solo, de J.S.Bach. Ela ressalta que ter
presenciado essa performance foi decisivo tanto para sua inscrição, como para a escolha
do instrumento.

Não obstante a todo esse contexto, observou-se um caso onde o entrevistado não
percebia a importância que a música poderia ter na vida das pessoas. Naquele momento,
a apresentação significou para ele apenas mais um curso ofertado pelo SESI. Sua
percepção, no entanto, passou a ser outra no decorrer de seus estudos com o professor
Jaffé. Posteriormente esse aluno se tornou um profissional de destaque na área da
música.

Provavelmente, todo esse processo teria sido diferente se os alunos tivessem


sido levados a uma palestra apenas oral, na qual teriam contato apenas com a linguagem
verbal. Essa apresentação foi uma convocação importante onde o público pôde exercitar
suas percepções visuais, auditivas e sensoriais. Ao passo que, se Jaffé tivesse
convidado o público apenas com cartazes, ou uma convocação oral, possivelmente não
teria causado o mesmo impacto, ou obtido a mesma recepção. Essa observação apóia-se
no fato de que a maioria dos integrantes de seu público alvo desconhecia ou tinha pouca
informação sobre os instrumentos de cordas apresentados no recital. Contudo, o convite
foi lançado à comunidade e os alcançou em seu próprio entendimento, fazendo-os
perceber o que lhes estava sendo ofertado naquele momento.

Buscou-se aqui ter o entendimento de como os egressos perceberam aquele


primeiro momento com a música, os instrumentos e o professor Jaffé. Vale ressaltar que
alguns dos entrevistados consideram que a metodologia proporcionada pelo professor
Jaffé teve seu início através desta apresentação.

Em seguida será apresentada sua visão acerca dos objetivos do mesmo.


53

2.5 Objetivos do Método

Ao serem indagados sobre qual o objetivo da metodologia implantada por Jaffé,


a maioria dos entrevistados ressaltou que o foco do projeto era suprir a carência de
músicos nas orquestras brasileiras. Outros, no entanto, chamaram a atenção para
aspectos como: “desenvolvimento coletivo”, “formação cultural mais ampla” e “acesso
à arte”. Um dos entrevistados observou que o projeto proporcionou oportunidades de
um crescimento cultural que no futuro poderia resultar em uma opção de profissão para
aqueles jovens. Apesar dessa diversidade na percepção sobre os objetivos do projeto,
havia um entendimento geral de que o projeto também tinha a meta de contribuir para a
formação de instrumentistas capazes de suprir a demanda dos grupos orquestrais do
Brasil.

Esse objetivo era tão forte dentro de nós que sempre que assistíamos a um
concerto, surgia um desejo muito forte de tocar em uma orquestra, não
importava se era de cordas ou uma sinfônica. Porque, pelo fato de
musicalmente termos nascido numa orquestra, sonhávamos com o momento
em que tocaríamos numa orquestra profissional (Entrevistado M).

O objetivo, ao qual esse entrevistado se refere, também é ressaltado por Cruvinel


(2005), quando a mesma afirma que a finalidade do professor Alberto Jaffé e de sua
esposa era contribuir com a música feita no Brasil. Para o professor Jaffé, no entanto,
esse conhecimento da música deveria contribuir para uma formação cultural mais ampla
daqueles jovens, fossem eles seguir ou não a profissão de músico.

... Estes jovens fariam do que estavam aprendendo o uso que lhes fosse mais
apropriado - alguns seriam profissionais, outros seriam artistas mesmo,
outros amadores da música e a maior parte formaria um público que saberia
ter prazer em ouvir música clássica (JAFFÉ).

Essa interação entre arte e sociedade tem como objetivo ativar certas funções
humanísticas das artes. Assim, a arte cumpre uma função socializante, tornando seu
papel mais eficaz na sociedade (KOELLREUTTER, 1997). Nesse sentido, observa-se
que a música possui um potencial transformador, capaz de promover ações de inclusão
54

social. Esse aspecto é focalizado por Flávio Pimenta, fundador da Organização da


Sociedade Civil Meninos do Morumbi8:

... através da música, os Meninos do Morumbi dão voz à fome, à exclusão,


ao abandono, às desigualdades sociais, às situações de risco pessoal e social
em que vivem. O papel formador e transformador da arte surge como um
grito coletivo pela cidadania (PIMENTA, 2003).

Essa função social da música também é ressaltada na metodologia abordada por


Jaffé. A partir do relato dos entrevistados, percebe-se que Jaffé não se preocupava
apenas em treinar instrumentistas, no que se refere à técnica, mas em formar músicos
com uma visão diferenciada sobre a sociedade. Observa-se no relato a seguir que esta
visão ajudou alguns daqueles jovens a saírem da situação de risco pessoal na qual
viviam:

Tudo isso foi muito importante. Nós vimos o que poderia ser de nossas vidas.
Poderia ter sido bem diferente... Se eu não tivesse entrado no projeto do
Jaffé, minha realidade seria outra. A comunidade onde eu morava... Bem, os
amigos de infância... hoje são traficantes. Então, junto comigo, muitos outros
do SESI saíram de lá. Mas aí, vimos uma perspectiva nova, com novos
amigos... Foi outra história (Entrevistado D).

Nessa perspectiva, observa-se que o processo desencadeado por Jaffé foi


positivamente importante na vida de muitos desses jovens. Posto que trouxe não apenas
oportunidades de uma profissão, mas também os educou para terem uma nova postura
na sociedade. Sobre o significado de tais aspectos ressaltados na didática musical do
professor Alberto Jaffé, que contemplam não apenas a técnica, mas que consideram a
importância de desenvolver uma formação humana e cidadã, Queiroz afirma:

É preciso compreender que não só o domínio de habilidades específicas,


facilmente desenvolvidas por um professor experiente de música, são
aspectos importantes para a aprendizagem, mas também outros fatores que
fazem da experiência musical algo de intrínseco valor para quem a vive
(QUEIROZ, 2005, p. 57).

Embora nem todos os egressos tenham mantido suas trajetórias profissionais no


âmbito da música, todos receberam em grande medida uma forte influência desse

8
A Associação Meninos do Morumbi é formada por mais de 4.000 crianças e adolescentes
da cidade de São Paulo. A maioria mora nos bairros de Campo Limpo, Paraisópolis, Morumbi, Vila
Sônia, Jardim Jaqueline, Real Parque, Caxingui, e municípios de Taboão da Serra e Embu. O grupo,
criado por Flávio Pimenta em 1996 tem na prática musical uma forma de criar alternativas às drogas e à
delinqüência juvenil, muito presentes em São Paulo.
http://www.meninosdomorumbi.org.br/frames/principal.html
55

contexto musical. Ainda que os objetivos de Jaffé focalizassem mais diretamente a


melhoria do padrão das orquestras brasileiras, existia também uma meta mais ampla que
envolvia levar a prática musical para todas as camadas sociais. Esse foi o processo
iniciado em Fortaleza que originou o núcleo de ensino coletivo de instrumentos de arco,
sendo propagado depois para outros núcleos como Brasília e São Paulo.

2.6 O Professor Alberto Jaffé na visão dos egressos

Tendo em vista compreender o alcance da aplicação desse método na vida dos


alunos, perguntou-se sobre sua visão acerca do professor Jaffé e sua didática. Nas
respostas dos entrevistados, percebeu-se que eles não relatam apenas sobre o professor
Jaffé, mas acrescentam a importância da atuação de sua esposa nesse processo de
aprendizagem.

Em todos os depoimentos, ficou clara a existência de um forte envolvimento


afetivo entre o professor Jaffé e seus aprendizes. Acredita-se que esse envolvimento
tenha gerado mais motivação e autoconfiança nos alunos, elementos indispensáveis ao
desenvolvimento das atividades musicais. Sobre o comportamento de docentes com
potencial efeito positivo sobre os estudantes e sua influência no processo de ensino
aprendizagem, Rego (2001, p. 3) identifica uma lista expressiva de fatores:

• Feedback da aprendizagem pontual e justo;


• Preparação dos materiais;
• Clareza das explicações;
• Pontualidade;
• Entusiasmo;
• Dinamismo;
• Encorajamento da participação;
• Atuação amistosa, interesse pelos estudantes e disponibilidade para atendê-los;
• Espírito de diálogo e práticas reflexivas partilhadas;
• Credibilidade nas avaliações;
• Promoção da autonomia e da aprendizagem ativa;
• Justiça, cortesia e conscienciosidade no exercício do papel docente.
56

Dentre tais aspectos, alguns se destacam de forma marcante na didática de Jaffé.


O feedback é entendido como sendo a reação dos alunos ao estímulo dado pelo
professor, desde o primeiro encontro ao desenvolvimento das aulas. Essa percepção
direta do resultado de um determinado comportamento dos alunos encontra-se muito
presente na didática desse professor, como exemplifica os depoimentos dados por duas
alunas.

Essa era a melhor parte das aulas e ensaios. O Jaffé tem uma didática
psicológica especial para crianças e adolescentes. Nunca me esqueci de
como aprendi a fazer os golpes de arco, spiccato e staccato no violino. As
suas analogias humorísticas ficavam na memória e davam um resultado
surpreendente e de rapidez de execução (Entrevistada J).

Para essa aluna, o feedback era alcançado, em especial, devido à descontração


gerada nas aulas, pelo bom humor do professor Jaffé. Já para outra aluna, o foco é posto
sobre o fato de o professor acreditar no aluno e isso fazer com que ela obtivesse bons
resultados.

Eu acho que ele tem uma didática excelente. Ele é muito sábio em dar aula,
tem um toque de “mestre”. Ele sabe tirar do aluno o seu melhor e incentiva o
aluno a confiar em si. Eu acho isso muito importante, porque nem todo
mundo nasce pra ensinar, acho que ele tem o dom de ser professor. Sua
didática era muito boa. Eu gostava muito (Entrevistada F).

Atitude amistosa, interesse pelos estudantes, disponibilidade para atendê-los,


eram apenas alguns aspectos da didática do prof. Jaffé que promoviam o feedback de
forma positiva.

Na época que o Jaffé chegou aqui ele se preocupou muito com o meu jeito de
ser, por que eu era um cara muito tímido, muito calado, não gostava de
conversar com muita gente. Então, eles procuraram se aproximar de mim.
Eles me deram uma função de fazer prova com alunos que iam entrando. Eu
era uma espécie de monitor (Entrevistado C).

É interessante perceber na didática de Jaffé a preocupação em desenvolver a


autonomia no aluno a partir de uma aprendizagem ativa.

Jaffé nos tratava como filhos. Isso gerava muita motivação no aprendizado do
instrumento. Ele conservava o bom humor e tinha de todos nós muito
respeito para com ele (Entrevistado M).

Nesse processo, o aluno se sente apoiado, podendo utilizar novas estratégias e


explorar recursos que o ajudem a superar suas dificuldades. Esse conjunto de
57

características criava nos alunos uma percepção de estarem em um ambiente familiar,


no qual eram tratados como filhos.

2.7 Interrupção do Método

A aplicação do método, na cidade de Fortaleza, foi interrompida por motivos


político e econômico, portanto, o projeto não teve sua conclusão. Isso gerou nos alunos
muita frustração. Alguns abandonaram a música, outros continuaram no SESI, mas não
se desenvolveram porque o projeto perdeu objetividade sob a condução do novo
professor contratado. Outros buscaram diferentes centros com o objetivo de alcançarem
o sonho de se tornarem músicos profissionais. Embora, Jaffé tenha se dedicado durante
três anos preparando-os para esse propósito, com aulas, ensaios, cursos de férias, esses
alunos ainda não tinham condições de ingressar em orquestras profissionais.
Precisavam, portanto, dar continuidade aos seus estudos. Um dos egressos relata que a
interrupção da aplicação do método o prejudicou bastante.

O que não funcionou foi o pouco tempo para desenvolver uma base sólida.
Aparentemente isso levaria uns cinco anos. Mas o grande problema foi
termos começado com o professor Jaffé de uma forma, e, de repente,
chegaram outros professores e tudo mudava [...] e isso realmente atrapalhou
muito o início do nosso aprendizado (Entrevistado P).

Para continuar seus estudos foi preciso transferir-se para outro estado em busca
de aperfeiçoamento. Esse entrevistado relata, ainda, que a mudança de professor o
confundia em relação ao seu treinamento prévio. Em parte, esse problema era devido à
metodologia diferente daquela com a qual havia iniciado seus estudos. Ele acreditava
que se o processo de aplicação desse método tivesse se estendido pelo menos por cinco
anos, o resultado teria sido mais positivo.

2.8 Análises das categorias.

Os resultados até aqui apresentados demonstram que, no que se refere ao


repertório inicial, Jaffé utilizou uma forma simples e produtiva de obter resultados dos
alunos gradativamente. Isso foi demonstrado na seqüência de músicas criadas por ele e
em outras de sua escolha.
58

Sobre a estruturação do método, percebe-se que a metodologia aplicada por


Jaffé consiste em três princípios básicos:
1) Estabelecer relações psicológicas entre a música, o professor e o aluno;
2) Iniciar com a prática instrumental aplicando gradativamente o estudo dos
símbolos musicais;
3) Desenvolver a prática instrumental de forma coletiva, reunindo todos os
instrumentos de uma orquestra de cordas;

No aspecto da prática instrumental, o método aplicava a técnica e a interpretação


do repertório proposto no instrumento escolhido. A atuação do instrumentista não se
limitava às atividades em sala de aula, mas estendia-se, sempre que possível a
apresentações em público.

Quanto aos aspectos teóricos, o método desenvolve a conscientização intelectual


da música e aquisição de conhecimentos específicos da linguagem musical, tais como a
leitura e a escrita e as noções de forma. No entanto, no que se refere à experiência
realizada em Fortaleza, observou-se que houve deficiência na aplicação da teoria
musical.

Os aspectos psicológicos são amplamente tratados na metodologia do professor


Jaffé. Há grande ênfase nos fatores de motivação e colaboração presentes no ambiente
de aprendizagem. Esses aspectos eram percebidos tanto dentro como fora da sala de
aula. Isso é revelado no contexto de socialização que o método promove, tanto entre os
alunos quanto em suas relações com os professores.

Nos elementos de musicalização, o método valoriza a vivência musical. O aluno


vivencia elementos da música como melodia, harmonia, ritmo, fraseados, frases
musicais, entre outros. Foi certamente uma contribuição positiva para a formação
musical dos egressos.
59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos nesse estudo, compreender a aplicação do método de ensino coletivo


implantado pelo professor Alberto Jaffé. Isto implicou em revelar a complexidade e
estrutura dessa didática musical para instrumentos de cordas. Desta forma, analisamos o
processo dessa aplicação desde o convite feito por Jaffé aos futuros alunos, observando
a função de cada música no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos; percorremos,
ainda, os aspectos que caracterizam o método, chegando, finalmente, aos resultados a
partir dos relatos dos entrevistados.

O estudo mostra que a metodologia empregada pelo professor Jaffé, trouxe


diversos subsídios para a formação musical e humana de muitos dos jovens e
adolescentes que participaram desse movimento na década de 1970. Dentre tais
contribuições destacamos: proporcionou perspectiva de uma carreira no âmbito musical;
desenvolveu a apreciação pela música e ofereceu oportunidade de inclusão social.
Observou-se que a aplicação do método foi um pouco além de promover apenas
aprendizado técnico. O universo do método desenvolvido pelo professor Jaffé acabou
também ampliando outros aspectos educacionais, posto que transformou a realidade
sócio-cultural de vários egressos dessa experiência.

É importante destacar o desprendimento de Jaffé ao se deslocar de um dos


grandes centros culturais brasileiros para a cidade de Fortaleza, onde a música erudita
era pouco conhecida e, consequentemente, pouco valorizada. Esse é um indicador
importante do empenho e crença na sua proposta de trabalho e na contribuição que
poderia vir a dar para a formação em massa de músicos para as orquestras brasileiras.

Consideramos como principal característica do método desenvolvido pelo


professor Jaffé, ser ele uma metodologia de formação inicial, voltada para o ensino
coletivo dos quatro instrumentos de cordas. Entretanto, percebemos que Jaffé não
buscou apenas um método que treinasse instrumentistas em conjunto, valendo-se das
semelhanças entre os instrumentos de cordas. Jaffé procurou também desenvolver neles
o prazer pela música erudita, mesmo naqueles que não deram continuidade a uma
carreira como músico. Com o desenvolvimento da pesquisa, percebeu-se também certo
60

viés social no projeto ao oportunizar aos jovens filhos de operários o aprendizado de um


instrumento que em geral era mais acessível às chamadas “elites”. Outra característica
importante presente na didática aplicada pelo professor Jaffé foi a manutenção de um
ambiente constantemente voltado para criar motivação. Isso melhorava o
relacionamento entre os membros do grupo estimulando-os a se ajudarem mutuamente.

Considerando as respostas das entrevistas realizadas com os egressos, pôde-se


concluir que houve desenvolvimento significativo da afetividade entre o professor Jaffé
e seus aprendizes. Essa boa convivência devia-se, em grande medida, ao bom humor do
professor Jaffé, o qual gerava um ambiente de descontração e envolvimento nas aulas.
Outro fator importante na obtenção de resultados era a autoconfiança que o professor
despertava no aluno.

Se, por um lado, os objetivos de Jaffé focalizavam mais diretamente na melhoria


do padrão das orquestras brasileiras, por outro, pretendia levar a prática musical para
todas as camadas sociais. Para alguns entrevistados Jaffé não favoreceu apenas suas
perspectivas de atuarem como músicos profissionais; favoreceu também seu
enriquecimento cultural proporcionando-lhes uma nova atitude diante da sociedade.
Esse último aspecto acabou por resultar em importante fator de inclusão social,
permitindo até mesmo perspectivas de uma carreira profissional fora da música.

Como resultante da aplicação do método surgiram vários músicos profissionais,


entre instrumentistas, regentes e compositores. Especificamente da experiência realizada
em Fortaleza, podemos encontrar instrumentistas nas orquestras de vários estados
brasileiros, a exemplo das Orquestras Sinfônicas de: Porto Alegre, Paraná, Bahia,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Municipal de São Paulo, Municipal do Rio
de Janeiro e Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, na cidade de Fortaleza.
Encontramos também egressos desse projeto em orquestras no exterior como:
Comunidad de Madrid Orchestra & Chorus, na Espanha e Orquestra Sinfônica da
Rádio e Televisão da Cracóvia, na Polônia.

Apesar da experiência de Fortaleza ter sofrido uma interrupção prematura, pode-


se considerar que o objetivo do professor Jaffé alcançou êxito em vários aspectos. Foi a
61

implantação do projeto que permitiu aos alunos um nível de proficiência que abriu a
possibilidade de aperfeiçoamento em outros centros de estudos após a interrupção do
trabalho com o professor Jaffé. Embora no momento da interrupção muitos alunos ainda
se encontrassem em uma fase intermediária do aprendizado, isso já foi suficiente para
colocá-los em outros centros de estudos para aperfeiçoamento do que já sabiam. De
certa forma, foi essa migração causada pelo encerramento do trabalho com o professor
Jaffé que patrocinou a diversidade de locais para onde esses alunos se deslocaram
buscando dar segmento aos seus estudos. Essa diversidade pode ser notada pelas
posições ocupadas por ex-alunos do projeto em orquestras de diversas partes do país e
exterior.

A observação do panorama que se apresentou após a interrupção do projeto é


também um indicador da forte influência que a presença do professor Jaffé exercia
sobre esse grupo de alunos. Pode-se afirmar que o método na forma como foi aplicado
em Fortaleza tinha uma dependência vital da condução pessoal desse professor. A força
desse vínculo pode ser avaliada pela observação do movimento migratório ocorrido com
o afastamento do professor Jaffé. Percebeu-se que a tentativa de dar prosseguimento ao
trabalho iniciado por Jaffé, colocando-o sob a responsabilidade de outro professor local
não obteve a resposta positiva esperada.

Considerando os fatores analisados nesse estudo, compreendemos que o


ineditismo do método desenvolvido pelo professor Jaffé não está apenas no fato de ser
uma metodologia de ensino coletivo, aplicada no nordeste brasileiro, com objetivo de
formar músicos em grande número. Tal originalidade encontra-se antes, na didática
aplicada, na riqueza de detalhes trabalhados e na motivação do aluno, situando-o, antes
de tudo, em sua função como ser social.

Essa investigação não pretendeu esgotar toda a discussão sobre essa temática.
No entanto, poderá contribuir para promover e expandir a reflexão sobre metodologias
de ensino para iniciantes de instrumento de cordas. Poderá ainda, incentivar a prática de
ensino coletivo para instrumentos de cordas. Estudos como este, poderão ser feitos em
outras instituições para que novos questionamentos surjam no âmbito das metodologias
coletivas para instrumentos de cordas, buscando maior aperfeiçoamento desta didática
musical.
62

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Dissertação de mestrado. ECA-USP. São Paulo: 1998

PANICO, R. P. Método Carl Orff, 1996. mímeo.

PIAGET, J. A Construção do Real na Criança. Rio de Janeiro: Zahar. 1970.

PIMENTA, F. Meninos do Morumbi. São Paulo: 2003. Disponível em:


http://www.meninosdomorumbi.org.br/ingles/qs/index.html. Acesso em 15/12/2007

POZO, J. I. Aprendizes e Mestres - A nova cultura da aprendizagem. São Paulo:


Artmed, 2002.

QUEIROZ, L. R. S. A música como fenômeno sociocultural: perspectivas para uma


educação musical abrangente. In: QUEIROZ, L. R. S; MARINHO, V. M. (Org.).
Contexturas: o ensino das artes em diferentes espaços. João Pessoa: Editora da
Universidade Federal da Paraíba (EDUFPB), 2005, v. único, p. 49-65.

REGO, A. O bom cidadão docente universitário na senda da qualidade no ensino


superior. Revista Educação & Sociedade, CEDES, Campinas – SP, n. 75, 2001.

SANTOS, S. F. Fios que tecem memórias e tecem o cotidiano. In: Seminário


Internacional de Educação Intercultural, Gênero e Movimentos Sociais, 2., 2003,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: 2003. Disponível em:
www.rizoma.ufsc.br/semint/trabalhos%203/Selma%20Ferro%20dos%20Santos_UERJ.
doc>. Acesso em: 29 dez. 2007.

SILVA, I. A. Importância da cultura na formação identitária da juventude. In:


Colóquio Internacional Paulo Freire, 5. 2005, Recife. Anais... Recife: 2005.

SILVA, V. C. Os saberes da Corporeidade: um caminho para reencantar a educação


musical. ICTUS (PPGMUS/UFBA), v. 07, p. 209-219, 2006.

SUZUKI, S. Educação é amor: um novo método de educação. Trad. Anne Corina


Gottber. 2ªed. Santa Maria: Pallotti, 1994.
64

APÊNDICES
65

Apêndice A - Entrevista com Jaffé

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA – UFPB


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

REFLEXÕES SOBRE O MÉTODO JAFFÉ PARA INSTRUMENTOS


DE CORDAS: A EXPERIÊNCIA REALIZADA EM FORTALEZA.

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA

Este roteiro de entrevista faz parte de uma pesquisa sobre o


Método Jaffé na cidade de Fortaleza.
Essa pesquisa tem como objetivo investigar a aplicação do
referido Método na concepção de egressos dessa experiência.
O roteiro consta de oito questões direcionadas ao professor
Alberto Jaffé, sobre a criação de seu método e o desenvolvimento de sua
didática musical.
66

QUESTÕES

Professor Jaffé,

1. Para começar, o sr. pode me fornecer uma pequena


biografia de sua trajetória artística?

2. Como surgiu a idéia do método coletivo para todos os


instrumentos de cordas simultaneamente?

3. Quando você e sua esposa vieram para Fortaleza, qual era o


principal objetivo de vocês com o Método Jaffé?

4. Fiz uma entrevista com dez dos egressos da experiência


realizada em Fortaleza. A maioria afirma que, o Método
Jaffé, não visava a formação de músicos, e, sim uma
aprendizagem com a música. Todavia se alguns
enveredassem pela profissionalização, melhor ainda. Vocês
concordam com essa afirmação?

5. Qual a faixa etária dos alunos no núcleo em Fortaleza?

6. Qual o critério da escolha do instrumento para os alunos? e


como eram selecionado?

7. Fale-me um pouco da estratégia do "timing"? Como o


senhor pensou nessa forma de alcançar os alunos? Fale-me
sobre essa estratégia e quais os resultados obtidos?

8. Quais os compositores das músicas abaixo e porque esses


nomes?

a) Lá-Si-Lá
b) Maria Chinesa
c) Maria Japonesa
d) Barquinha ligeirinha
e) A carruagem
f) O Arqueiro
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Apêndice B - Entrevista com os Egressos

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA – UFPB


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

REFLEXÕES SOBRE O MÉTODO JAFFÉ PARA INSTRUMENTOS


DE CORDAS: A EXPERIÊNCIA REALIZADA EM FORTALEZA.

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA

Este roteiro de entrevistas faz parte de uma pesquisa sobre o


Método Jaffé na cidade de Fortaleza.
Essa pesquisa tem como objetivo investigar a aplicação do
referido método na concepção de egressos dessa experiência.
O roteiro consta de nove questões relacionadas à trajetória inicial
dos mesmos no âmbito da música.
68

QUESTÕES

1. Em sua opinião, qual o objetivo do método Jaffé e como você


conseguiu visualizar isso na sua experiência de formação
inicial?

2. Como foi o seu contato inicial com a música? E como foi seu
contato inicial com o método Jaffé?

3. Em que essa experiência contribuiu em sua formação musical?

4. Você pode descrever quando pela primeira vez colocou o


instrumento em seu corpo?

5. Descreva o momento da experiência de tocar a primeira


música, como você se sentiu?

6. Após os estímulos iniciais das aulas Como você descreve a


ausência de instrumento para a prática em casa?

7. Durante o Método Jaffé você tinha instrumento próprio ou


emprestado para a prática instrumental?

8. Como se dava a formação de novos professores para utilização


do método dentro do contexto da experiência com o Método
Jaffé?

9. Como você compreendia o bom humor de Jaffé em sala de


aula e sua aplicação na sua didática? Descreva como você se
sentia na qualidade de aluno nesse ambiente de bom humor
criado por Jaffé?

Apêndice C - RÉSUMÉ
69

Apêndice C – RÉSUMÉ

Marco Antonio iniciou seus estudos de violino aos 13 anos de idade, ainda na
década de 1970, no SESI da Barra do Ceará, na cidade de Fortaleza, com o professor
Alberto Jaffé. Durante três anos, o pesquisador, vivenciou esse aprendizado com o
professor Jaffé. Depois continuou seus estudos de violino através de aulas individuais
na graduação em violino na Universidade Federal da Paraíba. Em João Pessoa, durante
mais três anos, esteve como violinista da Orquestra Jovem da Paraíba e posteriormente
ingressou na Orquestra Sinfônica do mesmo estado. Retornando à cidade natal, concluiu
o curso de licenciatura em música na UECE - Universidade Estadual do Ceará, o qual
lhe proporcionou novas experiências no âmbito pedagógico musical, bem como
despertou-lhe a preocupação com os processos de aprender e ensinar música na
atualidade.

Hoje, leciona violino e tem como principal meta motivar os alunos para a
execução deste instrumento, visto sua complexidade e, portanto, necessidade de
dedicação. Trabalha com um grupo de alunos em um projeto desenvolvido pela
Secretaria de Educação do Estado do Ceará – SEDUC. O objetivo desse projeto é
estimular crianças de escolas da periferia ao estudo de instrumentos como violino, viola,
violoncelo e contrabaixo, desenvolvendo habilidades artísticas que promovam uma
inclusão social. A metodologia de ensino que adota com seus alunos é o método
coletivo, utilizando conhecimentos e materiais tanto do Método Jaffé quanto do Método
Suzuki. Esses alunos são crianças que necessitam de oportunidade para se
desenvolverem e talvez se tornarem, no futuro, músicos e/ou educadores musicais.

A partir de seu aprendizado e vivência com os alunos, o pesquisador


compreende que a exigência de grande dedicação ao estudo do instrumento, muitas
vezes, leva quem está começando ao desânimo. Nesse sentido, entende que, o ensino
coletivo tem se constituído em um eficiente modelo para esses iniciantes, assim como
foi para ele e seus colegas na experiência com o Professor Alberto Jaffé.
70

Apêndice D – Recital Final de Conclusão de Mestrado

Recital de Conclusão de Mestrado em Música

João Pessoa, 24 Janeiro de 2008 17 h.


Laboratório de Práticas Interpretativas Prof. Gerardo Parente
Demus/ UFPB

I
J.S.BACH (1685-1750)
Sonata Nº 1 em Si menor para violino e piano BWV 1014
I. Adagio
II. Allegro
III. Andante
IV. Allegro

C. DEBUSSY (1862-1918)
Sonata em Sol menor para violino e piano
I. Allegro vivo
II. Intermede
III. Finale

II
J. BRAHMS (1833-1897)
Scherzo em Dó menor para violino e piano

M.C. GUARNIERI (1907-1993)


Coletânea para violino e piano
Canto Nº.1
Encantamento
Cantiga de Ninar
Cantiga l’a de Longe

BÉLA BARTOK (1881-1945)


Danças Populares Romenas
I. Jocul Cu Bata
II. Braul
III. Pe Loc
IV. Buciumeana
V. “Poarga” Romaneasca
VI. Manuntelul

Violino: Marco Antonio Silva


Piano: Anderson de Alcântara Correia
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ANEXOS
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Anexo A – Jaffé Strings Program


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