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DIREITO E

LEGISLAÇÃO
SOCIAL

Professora Me. Letícia Carla Baptista Rosa


Professora Me. Mariane Helena Lopes
Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Maria Cristina Araújo de Brito Cunha
Designer Educacional
Bárbara Neves
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; ROSA, Letícia Carla Baptista; LOPES, Mariane Helena; Arte Capa
FRANCISCHINI, Monica Cameron Lavor. Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Direito e Legislação Social. Letícia Carla Baptista Rosa; Mariane Bruno Pardinho
Helena Lopes; Monica Cameron Lavor Francischini.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2019. Editoração
216 p. Kleber Ribeiro da Silva
“Graduação - EaD”. Qualidade Textual
Cintia Prezoto Ferreira
1. Direito. 2. Legislação. 3. Social. 4. EaD. I. Título.
Ilustração
ISBN 978-85-8084-930-1 Marcelo Yukio Goto

CDD - 22 ed. 341


CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Pró-Reitor de
Ensino de EAD
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria de Graduação
e Pós-graduação este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORAS
Professora Me. Letícia Carla Baptista Rosa
Doutorado (em curso) em Função Social do Direito pela Faculdade Autônoma
de Direito de São Paulo (FADISP). Mestrado em Ciências Jurídicas pelo
Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2013). Especialização em Direito
e Processo Penal pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/2009).
Graduação em Direito pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2006).
Atualmente é coordenadora dos cursos de pós-graduação em Direito Civil,
Processo Civil e Direito do Trabalho, de Direito Público e de Direito Empresarial
do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar). Pesquisadora externa da
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Docente dos cursos de graduação
em Direito da Faculdade Metropolitana de Maringá (UNIFAMMA). Docente
nos cursos em Gestão Financeira e Marketing (EAD) do Centro Universitário
Cesumar (Unicesumar). Docente do curso de pós-graduação em Direito
Civil, Processo Civil e Direito do Trabalho do Centro Universitário Cesumar
(Unicesumar), além de outras atividades.

Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e


publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir:

<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4423935Z7>

Professora Me. Mariane Helena Lopes


Mestrado em Ciências Jurídicas, com ênfase em Direitos da Personalidade,
pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2012). Especialização
em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná (EMAP/2009).
Graduação em Direito (Unicesumar/2008). Desde o ano de 2010, atua como
docente nos cursos de Administração, Direito, Gestão de Recursos Humanos,
Jornalismo, Pilotagem de Aviões e Publicidade e Propaganda, na modalidade
presencial (Unicesumar). No ensino a distância (EAD), atua nos cursos de
Administração, Gestão de Recursos Humanos e Processos Gerenciais, Serviço
Social, Gestão Hospitalar, Economia, Gestão de Cooperativas (Unicesumar).
Na pós-graduação, atua nos cursos...

Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e


publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir:
<http://lattes.cnpq.br/1815582404405502>.

Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini


Mestrado em Ciências Jurídicas com ênfase nos Direitos da Personalidade
pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2015). Especialização em
Educação a Distância e as Tecnologias Educacionais pelo Centro de Ensino
Superior de Maringá (Cesumar/2014). Atualmente é docente dos cursos
Centro de Ensino Superior de Maringá (Cesumar).

<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4231336J8>
APRESENTAÇÃO

DIREITO E LEGISLAÇÃO SOCIAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
A obra “Direito e Legislação Social” foi especialmente organizada para os acadêmicos do
curso de graduação em Serviço Social no intuito de lhes dar uma iniciação às matérias
de Direito, que são relacionadas à área de atuação do assistente social.
Buscou-se delimitar alguns conhecimentos básicos do Direito para que os graduandos
possam agraciar, de forma didática, a base da Constituição Federal e a legislação espe-
cial. Trataremos de temas, como o direito de família e a seguridade social, por meio de
uma análise bem abrangente acerca dos principais conceitos jurídicos, uma compreen-
são que é imprescindível aos profissionais e estudiosos da área.
Na primeira Unidade, buscou-se trazer as noções gerais de direito com intuito de deli-
near as origens e o conceito de Direito, Direito e Estado, Direito Natural e Positivo, Hie-
rarquia das Leis, Ordenamento Jurídico e os ramos do direito, subdividindo-o em Direito
Público e Direito Privado, e as Fontes do Direito. Foi elaborada uma unidade com vários
conteúdos conceituais que visaram introduzir o acadêmico na esfera jurídica.
Já na segunda Unidade, diante da necessidade de conhecimentos básicos acerca das
relações familiares, foram preparados e selecionados temas que são presentes no Direi-
to de Família e que trazem algumas noções gerais do mesmo. Essa unidade tratara do
desenvolvimento do conceito de família, dos vários formatos familiares da pós-moder-
nidade, dos princípios que decorrem do Direito de Família, dos aspectos jurídicos da for-
mação e dissolução da família, como, por exemplo, o casamento e seus efeitos, regimes
de bens, divórcio e a união estável. Também será abordada a maneira como o Direito
trata das relações de parentesco, dos direitos e deveres inerentes ao poder familiar e
como são classificadas as espécies de alimentos para a doutrina.
Na terceira Unidade, diante dos inúmeros conflitos existentes na família que irão tra-
zer efeitos para o profissional do serviço social, pretendeu-se especificar algumas di-
ferenças entre grupos de minorias e vulneráveis, no intuito de identificar as proteções
aos vulneráveis no âmbito familiar, por exemplo, à criança e ao adolescente, à mulher
e ao idoso. No âmbito de proteção à criança, foram apresentados temas de grande im-
portância para serem discutidos, tais como a parentalidade responsável, a doutrina da
proteção integral, o princípio do melhor interesse da criança e o direito fundamental à
convivência familiar. Destarte, com relação à proteção da mulher, visou-se apresentar,
de uma forma genérica, o instrumento legislativo que tutela a mulher. A Lei Maria da
Penha conceitua as formas de violência, mas primeiramente tratarmos de uma questão
polêmica que é a igualdade entre o homem e a mulher, fruto de muitos debates na
área jurídica. Em seguida, com relação à proteção jurídica do idoso, sera traçado uma
discussão sobre os conceitos e dispositivos com especificações protetivas e também um
debate acerca da condição jurídica do idoso no Brasil atual.
APRESENTAÇÃO

A Unidade IV foi dedicada totalmente aos conceitos básicos acerca da Seguridade


Social. Nela foi traçada uma evolução histórica sobre os principais princípios que
regem a seguridade, as formas de custeio, os direitos sociais e a assistência social,
sendo incluídas as classificações dos benefícios a serem custeados pelo Estado, bem
como o amparo social ao idoso e ao portador de deficiência.
Por fim, a Unidade V trara conceitos relacionados à Previdência Social e especifica o
Sistema Previdenciário brasileiro por meio da identificação dos sujeitos da relação
jurídica, dos períodos de carência, do valor dos benefícios e das prestações previ-
denciárias.
Portanto, verifica-se que a obra é de grande valia para estudantes que visam ter
conhecimentos jurídicos básicos com o escopo de dirimir ou solucionar os mais di-
versos problemas e casos relacionados à área do Serviço Social e Direito.
As autoras.
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL

15 Introdução

16 Conceito de Direito

18 Direito Objetivo e Direito Subjetivo

18 Distinção Entre Direito e Moral

20 Ramos do Direito

22 Fontes do Direito

24 Aplicação das Normas de Direito

26 Eficácia

27 Princípios Gerais do Direito

29 Direito Constitucional

30 Princípios Constitucionais

32 Divisão dos Poderes

35 Direitos e Garantias Individuais

44 Nacionalidade

46 Direitos Políticos

48 Considerações Finais

55 Referências

56 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE II

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA

59 Introdução

60 Desenvolvimento Histórico do Conceito de Família

64 Formatos Familiares

68 Princípios do Direito de Família

71 Aspectos Jurídicos da Formação e Dissolução da Família: Casamento,


Efeitos do Casamento, Divórcio e União Estável

75 Relações de Parentesco

76 Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar

83 Alimentos

85 Tutela e Curatela

88 Considerações Finais

95 Referências

97 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE III

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA

101 Introdução

102 Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do


Adolescente

120 Direitos Humanos das Mulheres: Lei Maria da Penha

130 Direitos do Idoso: Estatuto do Idoso

139 Considerações Finais

146 Referências

151 Gabarito

UNIDADE IV

SEGURIDADE SOCIAL

157 Introdução

158 A Seguridade Social na Constituição Federal de 1988

162 Principais Princípios que Regem a Seguridade Social

170 Forma de Custeio da Seguridade Social

172 Os Direitos Sociais e a Assistência Social

178 Considerações Finais

184 Referências

186 Gabarito
12
SUMÁRIO

UNIDADE V

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO


PREVIDENCIÁRIA

191 Introdução

192 Benefício de Prestação Continuada

197 Planos de Benefícios da Previdência Social

199 Normas Previdenciárias

206 Considerações Finais

213 Referências

215 Gabarito

216 CONCLUSÃO
Professora Me. Mariane Helena Lopes

INTRODUÇÃO AO DIREITO E

I
UNIDADE
DIREITO CONSTITUCIONAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer o Direito.
■■ Diferenciar Direito Objetivo e Direito Subjetivo.
■■ Diferenciar Direito e Moral.
■■ Analisar os ramos do Direito
■■ Conhecer as fontes do Direito.
■■ Compreender como ocorre a aplicação das normas.
■■ Entender a eficácia da lei.
■■ Elencar alguns princípios gerais do Direito.
■■ Compreender a evolução do Direito Constitucional.
■■ Elencar alguns princípios do Direito Constitucional.
■■ Conhecer os poderes existentes em nosso país.
■■ Conhecer os direitos previstos na Constituição Federal.
■■ Entender a nacionalidade.
■■ Demonstrar os direitos políticos previstos.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Conceito de Direito
■■ Direito Objetivo e Direito Subjetivo
■■ Distinção entre Direito e Moral
■■ Ramos do Direito
■■ Fontes do Direito
■■ Aplicação das normas de Direito
■■ Eficácia
■■ Princípios gerais do Direito
■■ Direito Constitucional
■■ Princípios Constitucionais
■■ Divisão dos Poderes
■■ Direitos e garantias individuais
■■ Nacionalidade
■■ Direitos políticos
15

INTRODUÇÃO

Nesta primeira Unidade, iremos estudar o conceito de Direito, qual a sua impor-
tância para a nossa sociedade e como ele regulamenta a vida humana em sociedade.
Veremos, também, a divisão do Direito em ramos que facilitarão o nosso estudo
e permitirão uma compreensão melhor da matéria.
Para facilitar nosso estudo, temos que considerar que o Direito se divide em
ramos, permitindo, assim, que o estudo dessa ciência seja mais fácil. Precisamos
nos atentar que o Direito é de suma importância para a organização da sociedade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Contudo, deve-se tomar cuidado para não confundir o Direito com a Moral.
Ambos se confundem e, em muitas situações, não conseguimos separá-los. De
acordo com o que estudaremos nesta unidade, ficará claro que as características os
diferenciam, tornando, assim, o Direito uma ciência que devo obrigatoriamente
cumprir, enquanto a Moral dependerá da minha criação, da minha formação
enquanto indivíduo.
Analisaremos as fontes do Direito, sendo as principais as leis, jurisprudên-
cia, costume jurídico e doutrina jurídica, existindo outras fontes, mas de menor
importância para esta disciplina.
Após essa parte introdutória, passaremos a estudar o Direito Constitucional,
a principal e mais importante área do Direito. É a partir da Constituição Federal
que todas as demais fontes no nosso ordenamento jurídico devem ser criadas. Caso
alguma fonte seja criada em contradição com a Constituição Federal, esta não
pode ser aplicada em nossa sociedade, devendo ser considerada inconstitucional.
Até porque é a Constituição que regulamenta toda a estrutura do nosso Estado.
Por fim, veremos alguns direitos e deveres individuais e coletivos previstos
na Constituição Federal, que devem ser aplicados a toda a sociedade, sem qual-
quer distinção, visto que a Carta Magna é uma norma a ser aplicada para toda
a sociedade.
Bons estudos!

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCEITO DE DIREITO

Para Luis Alberto Warat (1977), uma boa definição de Direito depende dos seguin-
tes requisitos: a) não deve ser circular; b) não deve ser elaborada em linguagem
ambígua, obscura ou figurada; c) não deve ser demasiado ampla nem restrita; d)
não deve ser negativa quando puder ser positiva. Contudo, para conseguirmos
definir o que vem a ser o Direito, é fundamental analisarmos o pensamento de
Aristóteles sobre o assunto.
Aristóteles mencionava que o homem é um animal político, destinado a viver
em sociedade. Por essa razão, havia a necessidade de regras para que pudesse
viver em harmonia, evitando a desordem em sociedade (MARTINS, 2013).
Isto é, para Aristóteles, as regras foram necessárias, permitindo que a socie-
dade vivesse harmonicamente em sua organização. Miguel Reale define o Direito
como “a vinculação bilateral atributiva da conduta para a realização ordenada
dos valores de convivência” (REALE, 1972, p. 617). Assim, pode-se dizer que o
Direito é um conjunto de instituições, regras e princípios que buscam regula-
mentar a vida humana em sociedade.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


17

Quando se fala em regulamentar a vida humana em sociedade, deve-se fa-


zer uma reflexão: o Direito está em todo lugar? Posso falar que ele existe
apenas onde existe a sociedade?

Vamos desmembrar a definição anterior para compreendermos melhor o Direito.


Inicialmente, podemos defini-lo como conjunto. De fato, o Direito representa
um conjunto por ser composto de várias partes organizadas, formando, assim,
um sistema. Como iremos estudar mais adiante, observaremos que o Direito é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dividido em vários ramos, cada um sobre um determinado assunto. Nesta dis-


ciplina, estudaremos os seguintes ramos: Direito Constitucional, Direito Civil,
Direito Administrativo, Direito Internacional e Direito Penal.
Ele possui princípios próprios como qualquer ciência, mesmo que não exata.
Dentre eles, pode-se citar o da dignidade humana, boa-fé, publicidade, razoabi-
lidade, proporcionalidade, dentre outros que estudaremos adiante.
No Direito, encontramos as instituições, que são entidades que perduram
no tempo, por exemplo: os sindicatos, os órgãos do Poder Judiciário, do Poder
Executivo etc. Por fim, ele é um meio para a realização ou obtenção de um fim,
que é a Justiça. Por mais que esta, muitas vezes, pareça utópica, é para essa fina-
lidade que o Direito existe na sociedade.
Para que o Direito seja cumprido em sociedade, o Estado (aqui, quando se
fala em Estado deve-se compreender como país), com o uso do seu poder impe-
rativo, prevê a sanção (punição). A sanção no Direito existe para que a norma
criada seja cumprida, quando a submissão a ela não ocorre espontaneamente.
O Direito, como coloca Sérgio Pinto Martins (2013), tem em uma das mãos
a balança e na outra a espada. A balança serve para sopesar o Direito e a espada
visa fazer cumprir as suas determinações. A espada sem a balança é a despro-
porção. A balança sem a espada é um direito ineficaz. As duas devem caminhar
juntas. A proporção do emprego da espada e da balança tem que ser igual para
não se criar desigualdades.

Conceito de Direito
18 UNIDADE I

DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO

O Direito Objetivo, nas palavras de Sérgio Pinto Martins (2013, p. 5), “é o com-
plexo de normas que são impostas às pessoas, tendo caráter de universalidade,
para regular suas relações”. O Direito Objetivo é, portanto, aquele criado pelo
Estado e aplicado a toda a coletividade; independente da vontade do indivíduo,
ele existe. Podemos citar como exemplo o Direito Constitucional, que é apli-
cado igualmente a todos.
O Direito Subjetivo, por outro lado, é a faculdade, a escolha de a pessoa pos-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tular seu direito, objetivando a realização de seus interesses, uma vez que não
foram cumpridos.
Diferentemente do Direito Objetivo, no caso do Direito Subjetivo, ele depen-
derá da vontade do indivíduo para existir, ou seja, é necessária a manifestação
de vontade para a aplicação de um direito. O exemplo deste seria o Direito do
Consumidor. Quando se compra um produto e ele apresenta algum defeito,
dependerá da manifestação da vontade daquele que o comprou para que o pro-
duto seja trocado ou o negócio seja desfeito.

DISTINÇÃO ENTRE
DIREITO E MORAL

Para continuarmos nosso


estudo sobre o Direito, preci-
samos estabelecer a distinção
entre o que é Direito e o
que é Moral. A Moral pos-
sui um conceito que varia
com o tempo, em razão de
questões políticas, sociais e

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


19

econômicas que vão sendo alteradas de acordo com a história e com a socie-
dade que é estudada. A Moral é unilateral, pois não há punição, uma vez que a
norma foi descumprida. No Direito, porém, há uma bilateralidade, uma vez que
há uma imposição do comportamento do indivíduo na sociedade, e quando este
é descumprido, há uma sanção (punição) por parte do Estado.
Para melhor compreender, veja a tabela a seguir com a distinção feita por
Miguel Reale (1972, p. 626).
Quadro 1 - Diferenças entre Moral e Direito
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ASPECTO MORAL DIREITO

a) unilateral; a) bilateral;
Quanto à valoração do b) visa à intenção, partin- b) visa à exteriorização
ato do da exteriorização do ato, partindo da
do ato. intenção.
a) é autônoma, prove- a) pode vir de fora da
niente da vontade das vontade das partes
Quanto à forma partes; (heterônomo);
b) não há coação. b) é coercível.

a) visa ao bem individu- a) visa ao bem-estar


Quanto ao objeto al ou aos valores da social ou aos valores
pessoa. de convivência.

Fonte: Reale (1972, p. 626).

Assim, observamos que, entre o Direito e a Moral, apesar de parecerem a mesma


coisa em muitos momentos, a diferença fica clara quando se fala na punição e
na criação da norma de cada um deles.

Distinção Entre Direito e Moral


20 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RAMOS DO DIREITO

Existe uma vasta classificação da ciência do Direito. A primeira que vamos tra-
balhar é a classificação em Direito natural e Direito positivo.
O Direito natural nasce a partir do momento em que surge o homem, apa-
recendo, portanto, naturalmente para regular a vida humana em sociedade, de
acordo com as regras da natureza (MARTINS, 2013, p. 8).
Pode-se dizer que seria uma norma criada pela natureza e não pelo homem,
logo não pode ser criada pelo Estado. Seriam princípios gerais e universais para
regular os direitos e deveres do homem. O Direito natural é aquele que fixa regras
de validade universal, não consubstanciadas em regras impostas ao indivíduo
pelo Estado. Em verdade, ele se impõe a todos os povos pela força dos princí-
pios supremos dos quais resulta, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o
direito de viver etc. (FÜHRER; MILARÉ, 2009, p. 34).

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


21

Por outro lado, o Direito positivo compreende o conjunto de regras esta-


belecidas por meio do poder político em vigor num determinado país e numa
determinada época (FÜHRER; MILARÉ, 2009). “O Direito positivo é apenas a
norma legal, emanada pelo Estado e não de outras fontes do Direito. Ele esta-
belece o que é útil, sendo conhecido por meio de uma declaração de vontade
alheia, que é a promulgação” (FÜHRER; MILARÉ, 2009, p. 23).
O Direito público é aquele que regula as relações em que o Estado é parte;
Direito privado é o que disciplina as relações entre particulares, nas quais predo-
mina, de modo imediato, o interesse de ordem privada (REIS; H.; REIS, C. 2006).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ainda, pode-se definir o Direito público como o ramo que:


[...] regula as relações em que predominam os interesses gerais da so-
ciedade, considerada como um todo. Nas relações de Direito Público, o
Estado participa como sujeito ativo (titular do poder jurídico) ou como
sujeito passivo (destinatário do dever jurídico), mas sempre como ór-
gão da sociedade e, portanto, sem perder a posição de supremacia ou
poder de império (REIS; REIS, C. 2006, p. 8).

Dessa forma, percebe-se que o Direito público terá, como um dos sujeitos, a
figura do Estado, com o intuito de zelar pelos interesses da sociedade.
O Direito privado é aquele que:
[...] regula as relações em que predominam os interesses particulares
ou a esfera privada. Nas relações jurídicas de Direito Privado o Estado
pode participar como sujeito ativo ou passivo, em regime de coorde-
nação com os particulares, isto é, dispensando sua supremacia ou po-
der de império (REIS; REIS, C. 2006, p. 8).

Assim, conclui-se que o Direito público envolve a organização de um Estado,


em que são estabelecidas as normas de ordem pública; enquanto o Direito pri-
vado diz respeito ao interesse dos particulares, decorrentes da manifestação de
vontade dos interessados.

Ramos do Direito
22 UNIDADE I

FONTES DO DIREITO

Ao se falar em fontes, deve-se ter em mente as diversas formas pelas quais nasce
o Direito.
Como visto, o Direito é uma criação do Estado, de acordo com as necessi-
dades da sociedade. Por essa razão, a própria sociedade determinará de onde
provêm ou emanam as regras que a disciplinará.
As fontes primárias do Direito são: lei, costumes, doutrina e jurisprudência.
Passaremos a estudar cada uma delas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
LEI

A lei é a fonte do direito


de maior importância em
nosso país e em nosso orde-
namento jurídico. Assim,
deve-se buscar nela a forma
correta de proceder em nos-
sas relações sociais.
O Art. 5º, II da
Constituição Federal estabelece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
Tal fonte é uma regra de conduta editada pelo Poder Legislativo, no qual estão
presentes os representantes do povo, ou seja, são os vereadores (nível municipal),
os deputados estaduais (nível estadual) e os deputados federais (nível federal).
A característica da lei é a generalidade. Ela se aplica de uma maneira geral
a todos, não fazendo qualquer tipo de distinção.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


23

COSTUME

O costume é o comportamento praticado reiteradamente pela sociedade, que acaba


se tornando uma lei, sendo, então, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro,
ou seja, antes mesmo de se tornar uma lei já é considerado uma fonte do direito.
Como dito anteriormente, a principal fonte do direito é a lei. Todavia, em
alguns casos ainda não há regulamentação, sendo necessário buscar a solução
para estes casos nas regras que a sociedade vem praticando de forma reiterada.
Deve-se salientar que o costume não poderá ser aplicado se for contrário a uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

determinação expressa em lei.


O costume acaba variando de acordo com o ramo do Direito. Entretanto,
no caso do Direito Penal, por exemplo, o costume é proibido, pois não há crime
sem lei que o defina.

DOUTRINA

A doutrina consiste na opinião dos juristas, que são os estudiosos do Direito


sobre determinado assunto.
Seria o conjunto sistemático de teorias sobre o Direito elaborado pelos
juristas. Pode-se dizer que é um produto da reflexão e do estudo que os grandes
juristas desenvolvem sobre o Direito (COTRIM, 2009, p. 8).

JURISPRUDÊNCIA

Ao lado da doutrina, a jurisprudência realiza a interpretação do Direito. Enquanto


a doutrina é a interpretação do Direito feita pelos juristas, a jurisprudência é a
interpretação do Direito feita pelos Tribunais do nosso país.
A principal fonte é a lei, porém ela deve ser interpretada e isto é feito tanto pelos
juristas quanto pelos Tribunais, no momento em que eles julgam os casos concretos.
Dessa forma, a jurisprudência acaba sendo utilizada como uma referência para
a pessoa ingressar com uma ação, ajudando, assim, a fundamentar seu pedido.

Fontes do Direito
24 UNIDADE I

APLICAÇÃO DAS NORMAS DE DIREITO

Ao aplicar uma lei, o juiz busca atender aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
Passaremos a estudar a interpretação e a integração das normas, compreen-
dendo, assim, como se aplica uma lei ao caso concreto.

INTERPRETAÇÃO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para se aplicar a norma, precisamos interpretá-la, compreendendo o que levou
o legislador a criá-la. Quanto às fontes que interpretam a norma, elas podem
ser: autêntica, doutrinária ou jurisprudencial; com relação aos meios: gramati-
cal, lógica, histórica e sistemática; e, por fim, quanto aos resultados: declarativa,
extensiva, restritiva, finalística.
Vamos analisar as várias formas de interpretação da norma jurídica, segundo
Martins (2013):
a) Gramatical, literal ou filológica: é a verificação do sentido
gramatical da norma criada. Analisa-se o alcance das pala-
vras no texto da lei.
b) Lógica: estabelece-se uma conexão entre vários textos legais a
serem interpretados e aplicados ao caso concreto.
c) Teleológica ou finalística: a interpretação da norma é dada de
acordo com o fim esperado pelo legislador.
d) Sistemática: é feita a interpretação de acordo com o sistema que
a norma está inserida, não interpretando isoladamente a lei.
e) Extensiva ou ampliativa: dá-se um sentido mais amplo à norma
do que ela normalmente teria.
f) Restritiva ou limitativa: dá-se um sentido mais restrito, limi-
tando-se à interpretação da norma jurídica.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


25

g) Histórica: deve-se analisar a evolução histórica dos fatos, o


pensamento do legislador não só à época da edição da lei, mas
também de acordo com sua exposição de motivos.
h) Autêntica: é realizada pelo próprio órgão que criou a lei, no
momento em que ela declara o sentido, alcance e conteúdo
por meio de norma.
i) Sociológica: constata-se a realidade e a necessidade social
na elaboração da lei e em sua aplicação (MARTINS, 2013, p.
21-22).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No Direito, não há uma única interpretação fora do que foi mencionado anterior-
mente, por isso devem ser seguidos os métodos de interpretação supracitados.

INTEGRAÇÃO

A integração é quando o intérprete da lei fica autorizado a suprir as lacunas exis-


tentes na norma jurídica por meio da utilização de técnicas jurídicas, que são:
analogia, equidade e princípios gerais do direito.
A analogia é um meio de preenchimento das lacunas deixadas pelo legis-
lador no momento de criação de uma lei. É quando o juiz, ao analisar o caso
concreto, aplica uma lei semelhante ao caso.
A equidade é a justiça, o bom senso. Sendo assim o juiz irá aplicar ao caso
concreto a solução que considerar como adequada de acordo com o seu enten-
dimento, com o que ele considerar como correto. Ela tem como significado
completar a lacuna da lei, porém é vedado julgar contra a lei.
Tanto a analogia quanto a equidade serão utilizadas exclusivamente pelo
juiz para fundamentar sua decisão quando a lei apresentar alguma lacuna. Os
princípios gerais do direito, porém, serão analisados separadamente no decor-
rer desta unidade, devido à sua complexidade.

Aplicação das Normas de Direito


26 UNIDADE I

EFICÁCIA

A eficácia pode ser conceituada como “a produção de efeitos jurídicos concretos


ao regular as relações” (MARTINS, 2013, p. 25). Compreende a aplicabilidade
da norma e se ela é obedecida ou não pelas pessoas.
A eficácia jurídica possibilidade norma ser aplicada ao caso concreto, gerando
efeitos jurídicos. Essa eficácia pode ser dividida no tempo e no espaço, fatores
que iremos estudar a seguir (MARTINS, 2013, p. 25).

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EFICÁCIA NO TEMPO

Significa a entrada da lei em vigor, ou seja, quando a lei passará a existir na socie-
dade. Geralmente, a lei entra em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial
da União (DOU). Caso a lei não apresente nenhum prazo, esta começará a vigo-
rar 45 dias depois de oficialmente publicada (MARTINS, 2013, p. 26).
Com a publicação da lei no Diário Oficial da União, objetiva-se torná-la
pública para toda a sociedade, não podendo ser alegado o desconhecimento da
mesma.
Se a lei não trouxer um prazo específico de duração da norma, ela só dei-
xará de existir até que outra lei a modifique ou a revogue.
A lei posterior pode revogar a anterior nas seguintes situações:
a) Expressamente o declare: revogam-se as disposições em contrá-
rio, ou quando revoga especificamente outra lei ou Artigo de lei;
b) For incompatível como, por exemplo, quando prescrever con-
duta totalmente contrária à especificada na lei anterior;
c) Regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior
(MARTINS, 2013, p. 26).

Caso a lei nova estabeleça disposições gerais ou especiais iguais às já existentes,


ela não revoga nem modifica a lei anterior. Uma vez que a lei passou a ter vigor,
terá efeito imediato e geral, respeitando sempre o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


27

O ato jurídico perfeito é aquele já consumado, segundo a lei vigente, ao


tempo em que ela se efetuou. O direito adquirido é o que integra o patrimônio
jurídico da pessoa, por já ter implementado todas as condições para adquirir
o direito, podendo exercê-lo a qualquer momento. E, por fim, a coisa julgada
é a decisão judicial que já não cabe mais recurso, não podendo ser modificada
(MARTINS, 2013, p. 27).

EFICÁCIA NO ESPAÇO
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A eficácia no espaço diz respeito ao território em que será aplicada a norma. Ela
se aplica ao Brasil, tanto para os natos como para os estrangeiros que aqui resi-
dam (MARTINS, 2013, p. 27).
A eficácia no espaço também resolverá os casos em que acontecer alguma
atitude contrária à lei, analisando se naquele território será aplicada a lei brasi-
leira ou uma lei estrangeira.
Para ilustrar, imagine a seguinte situação: o indivíduo A entrou na embai-
xada brasileira na Holanda e acabou matando o sujeito B. Nesse caso, ainda que
a embaixada esteja localizada na Holanda, será aplicada a lei brasileira, pois o
órgão oficial é brasileiro, sendo considerada uma extensão do nosso território.

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

O princípio é a base de tudo. Por essa razão, podemos dizer que ele é o alicerce
do Direito, que servirá para informar e orientar as normas jurídicas.

FUNÇÕES GERAIS DO PRINCÍPIO

As funções dos princípios são: informadora, normativa e interpretativa. A


primeira função tem como finalidade a inspiração e orientação ao legislador,

Princípios Gerais do Direito


28 UNIDADE I

servindo para basear a criação de uma norma e como sustentáculo para o orde-
namento jurídico (MARTINS, 2013).
A segunda função — normativa — atuará nos casos concretos quando não
houver uma disposição específica para disciplinar determinada situação. E, por
fim, a terceira e última função servirá de critério orientador para os intérpre-
tes e aplicadores da lei. Auxiliará na interpretação da norma e também tem sua
exata compreensão.
Em nosso ordenamento jurídico, os princípios só serão utilizados quando
não houver uma norma legal, convencional ou contratual. Será o último elo a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que o intérprete irá recorrer para solucionar o caso concreto.

ALGUNS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

A seguir, vemos os princípios gerais do Direito:


1º) Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana: é um dos objetivos
do nosso país. O Art. 5º, X da Constituição Federal assegura a inviola-
bilidade à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas,
assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decor-
rente de sua violação.
2º) Princípio da função social: regula a vida humana em sociedade, estabe-
lecendo as regras de conduta que devem ser respeitadas por todos.
3º) Princípio da razoabilidade: as pessoas devem agir com razoabilidade, o
que também acontece com as normas jurídicas.
4º) Princípio da proporcionalidade: não se pode impor condutas, a não ser
que seja em estrito cumprimento do interesse público. Não se pode agir
com excessos, nem de forma insuficiente.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


29
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Antes de se começar a estudar o Direito Constitucional, é preciso fazer a aná-


lise do Art. 1º da Constituição Federal, o qual dispõe que a República Federativa
do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados, municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento:
a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.
A Constituição é a lei máxima e fundamental do Estado. Ela ocupa o ponto
mais alto da hierarquia das normas, recebendo, por esse motivo, nomes como: Lei
Suprema, Lei Maior, Carta Magna, Lei das Leis ou Lei Fundamental (COTRIM,
2009, p. 19).
O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público responsável por estu-
dar as regras estruturadoras do Estado e garantidoras dos direitos e liberdades
individuais (JACQUES, 1954 apud MARTINS, 2013).
A Constituição pode ser conceituada como um conjunto de princípios e
regras relativos à estrutura e ao funcionamento do Estado. Ela é uma norma
escrita ou costumeira, que regula a forma de Estado e governo, sua organização

Direito Constitucional
30 UNIDADE I

(MARTINS, 2013, p. 60). Por isso, na Constituição Federal brasileira são encon-
tradas várias regras de Direito Civil, Tributário, Administrativo, Internacional,
Penal, do Trabalho, da Seguridade Social, entre outras, ou seja, ela traz um pouco
de cada ramo do direito.
Possui, ainda, um conteúdo específico, previamente identificável, do que
seja, ou não, próprio de uma Constituição. Seu conteúdo é elástico, variando de
acordo com a vontade política do povo.
Cotrim (2009) define a Constituição da seguinte maneira:
É a declaração da vontade política de um povo, manifestada por meio

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de seus representantes cujos mandatos resultam de eleição popular. É
uma declaração solene expressa mediante um conjunto de normas ju-
rídicas superiores a todas as outras que estabelece os direitos e deveres
fundamentais das pessoas, das entidades e dos poderes públicos (CO-
TRIM, 2009, p. 19).

Conclui-se que a Constituição é um documento político, dirigida a todas as pes-


soas, tendo, geralmente, uma linguagem comum e não técnica para que todos
possam compreender.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Passaremos a estudar alguns dos princípios constitucionais previstos na


Constituição Federal.
1º) Princípio da supremacia da Constituição: a norma constitucional é supe-
rior, devendo ser obedecida por todas as demais normas.
2º) Princípio da unidade da Constituição: ela deve ser interpretada na sua
unidade, ou seja, no seu conjunto. A interpretação deve ser feita de forma
a evitar contradições.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


31

3º) Princípio da máxima efetividade da Constituição: as normas constitu-


cionais devem ter o máximo de eficácia na sua aplicação.
4º) Princípio da interpretação conforme a Constituição: caso a norma tenha
mais de uma interpretação, deve-se dar preferência àquela que estiver de
acordo com a Constituição.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O preâmbulo da Constituição Federal dispõe que:


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Na-
cional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, pro-
mulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil (BRASIL, 1988, on-line).

Quando se fala em preâmbulo, deve-se entender como uma indicação das inten-
ções da Constituição brasileira.
Os fundamentos da República Federativa do Brasil são: a) soberania; b) cida-
dania; c) dignidade da pessoa humana; d) valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; e) pluralismo político, sendo vedada a existência de um partido único.
Por sua vez, os objetivos fundamentais são: a) construir uma sociedade livre,
justa e solidária; b) garantir o desenvolvimento nacional; c) erradicar a pobreza
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; d) promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.

Princípios Constitucionais
32 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIVISÃO DOS PODERES

A base da organização do governo está no Art. 2º da Constituição Federal, que


prevê: “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,
o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988, on-line).
“Os Poderes são os órgãos que realizam as diversas funções atribuídas ao
Estado, quais sejam, as funções: legislativas, administrativas e jurisdicionais”
(FÜHRER; MILARÉ, 2009, p. 73). A fórmula ideal para o funcionamento do
Estado é de que suas operações fundamentais sejam repartidas entre vários órgãos
autônomos, cada um atuando na sua esfera de atribuição.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


33

PODER EXECUTIVO

É o órgão incumbido de executar as


leis e administrar o país. Ele é exer-
cido pelo Presidente da República,
auxiliado pelos Ministros de
Estado. O mandato do Presidente
da República é de quatro anos, com
início no dia 1º de janeiro do ano
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

seguinte de sua eleição. A reeleição é permitida em um único período.


O presidente pode cometer crimes como: a) de responsabilidade definidos
em lei especial; e b) comuns, previstos na legislação ordinária. A acusação contra
o Presidente da República, para ser admitida, precisa de dois terços de aprova-
ção na Câmara dos Deputados e, após isso, será submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns; ou perante o Senado
Federal, nos crimes de responsabilidade (BRASIL, 1988, Art. 86).
Para ser eleito, o candidato a presidente e vice-presidente da República
deverão ter a idade mínima de 35 anos. O governador e o vice-governador de
Estado e Distrito Federal deverão ter, no mínimo, 30 anos. O prefeito e o vice-
-prefeito deverão ter no mínimo 21 anos.

PODER JUDICIÁRIO

O Poder Judiciário tem a função de


legislar e administrar, bem como a
função de dizer o direito, aplicando
ao caso concreto, mediante um pro-
cesso regularmente instaurado, por
iniciativa do interessado. É o Poder
Judiciário que dirá como as normas
serão aplicadas e, assim, demonstrará a forma correta de interpretação das leis
existentes em nosso ordenamento jurídico.

Divisão dos Poderes


34 UNIDADE I

PODER LEGISLATIVO

Em nível federal, o Poder


Legislativo é exercido pelo
Congresso Nacional, que
se compõe de duas casas, o
Senado e a Câmara dos Deputados, ambos eleitos pelos habitantes dos respec-
tivos estados. Cada estado e o Distrito Federal, de acordo com os Arts. 44 e 45
da Constituição Federal, elegerá três senadores, com dois suplentes cada, com

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mandato de oito anos, sendo renovada a representação a cada quatro anos de
forma alternada.
O número total de deputados, bem como a representação por estado e pelo
Distrito Federal, será estabelecido por Lei Complementar, proporcionalmente
à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições,
para que nenhuma unidade da federação tenha menos de oito e mais de setenta
deputados (PALAIA, 2011, p. 40).
O mandato dos deputados tem duração de quatro anos, e para se elegerem
devem ter idade mínima de 21 anos. No caso dos senadores, estes são eleitos pelo
sistema majoritário, sendo três para cada estado e para o Distrito Federal. Os
mandatos têm duração de oito anos, e para se elegerem devem ter idade mínima
de 35 anos (MARTINS, 2013).

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


35
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS

Eles foram estabelecidos para coibir os abusos praticados pelas autoridades. Os


direitos não se confundem com as garantias. Os direitos são aspectos, manifesta-
ções da personalidade humana em sua existência subjetiva ou em suas situações
de relação com a sociedade ou, ainda, os indivíduos que a compõem. As garan-
tias, porém, são os instrumentos para o exercício do direito consagrados na
Constituição (MARTINS, 2013).
Os direitos e deveres são individuais e coletivos. São garantias expressas
na Constituição, pois não excluem outros decorrentes do regime e dos prin-
cípios por ele adotados ou dos tratados internacionais em que o Brasil é parte
(BRASIL, 1988 §2º).

Direitos e Garantias Individuais


36 UNIDADE I

A Constituição Federal, em seu Art. 5º, assegura que:


1. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos da Constituição. Poderá haver tratamento diferenciado
se assim a Constituição estabelecer;
2. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo a não
ser em virtude de lei. É o princípio da legalidade;
3. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu-
mano ou degradante;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
4. É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
nimato;
5. É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
6. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias;
7. É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência reli-
giosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
8. É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência reli-
giosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se
a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
9. É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica
e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
10. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
gem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação;
11. A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de fla-
grante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial;

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


37

12. É inviolável o sigilo da correspondência às comunicações tele-


gráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instru-
ção processual penal. A norma que trata do assunto é a Lei
nº 9.296/96;
13. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
14. É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;


15. É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, per-
manecer ou dele sair com seus bens;
16. Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autori-
dade competente;
17. É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a
de caráter paramilitar;
18. A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperati-
vas independem de autorização, sendo vedada a interferência
estatal em seu funcionamento. As sociedades cooperativas são
reguladas na Lei nº 5.764/71;
19. As associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas
ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigin-
do-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
20. Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permane-
cer associado;
21. As entidades associativas, quando expressamente autoriza-
das, têm legitimidade para representar seus filiados judicial
ou extrajudicialmente;

Direitos e Garantias Individuais


38 UNIDADE I

22. É garantido o direito de propriedade;


23. A propriedade atenderá a sua função social;
24. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
os casos previstos na Constituição;
25. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente
poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprie-
tário indenização ulterior, se houver dano;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
26. A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva,
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvi-
mento;
27. Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publica-
ção ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros
pelo tempo que a lei fixar;
28. São assegurados, nos termos da lei: (a) a proteção às participa-
ções individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem
e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; (b) o
direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras
que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
29. A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empre-
sas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do país;
30. É garantido o direito de herança;
31. A sucessão de bens de estrangeiros situados no país será regu-
lada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que não lhes seja favorável a lei pessoal
do “de cujus”;

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


39

32. O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumi-


dor. O Código de Defesa do Consumidor é a Lei nº 8.078/90;
33. Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
que serão prestadas no prazo de lei, sob pena de responsabi-
lidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;
34. São a todos assegurados, independentemente do pagamento
de taxas: (a) o direito de petição aos Poderes Públicos em
defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder; (b)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa


de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
35. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;
36. A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico per-
feito e a coisa julgada. Direito adquirido é o que faz parte do
patrimônio jurídico da pessoa, que implementou todas as con-
dições para fim, podendo exercê-lo a qualquer momento. Na
expectativa de direito, a pessoa não reuniu todas as condições
para adquirir o direito no curso do tempo. Ato jurídico per-
feito é o que se formou sob o império da lei velha e não pode
ser modificado. A lei não pode ser retroativa. Devem ser res-
peitadas as situações estabelecidas na vigência de lei anterior,
em razão da estabilidade e segurança jurídicas. Chama-se coisa
julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
mais recurso. Há coisa julgada “quando se repete ação que já
foi decidida por sentença, de que não caiba recurso”. Deno-
mina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável
e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordiná-
rio ou extraordinário;
37. Não haverá juízo ou tribunal de exceção;
38. É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe
der a lei, assegurados: (a) a plenitude de defesa; (b) o sigilo
das votações; (c) a soberania dos veredictos; (d) a competên-
cia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Direitos e Garantias Individuais


40 UNIDADE I

39. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal;
40. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
41. A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
e liberdades fundamentais;
42. A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescri-
tível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
43. A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executo-
res e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
44. Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático;
45. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles asseguradas, até o limite do valor do patrimônio trans-
ferido;
46. A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
as seguintes: (a) privação ou restrição da liberdade; (b) perda
de bens; (c) multa; (d) prestação social alternativa; (e) suspen-
são ou interdição de direitos;
47. Não haverá penas: (a) de morte, salvo em caso de guerra decla-
rada; (b) de caráter perpétuo; (c) de trabalhos forçados; (d) de
banimento; (e) cruéis;
48. A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
49. É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
50. Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


41

51. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em


caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins, na forma da lei;
52. Não será concedida extradição de estrangeiro por crime polí-
tico ou de opinião;
53. Ninguém será processado nem sentenciado senão pela auto-
ridade competente;
54. Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

devido processo legal;


55. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
56. São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;
57. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória;
58. O civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
59. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal;
60. A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
61. Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei;
62. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
do preso ou à pessoa por ele indicada;

Direitos e Garantias Individuais


42 UNIDADE I

63. O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado;
64. O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;
65. A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária;
66. Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
67. Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimen-
tícia e a do depositário infiel;
68. Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber-
dade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
69. Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercí-
cio de atribuições do Poder Público;
70. O mandado de segurança coletivo deve ser impetrado por:
(a) partido político com representação no Congresso Nacio-
nal; (b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
71. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direi-
tos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes
à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


43

72. Conceder-se-á habeas data: (a) para assegurar o conhecimento


de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes
de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público; (b) para a retificação de dados, quando
não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou admi-
nistrativo;
73. Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular
que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de enti-
dade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e


do ônus da sucumbência;
74. O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos;
75. O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim
como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
76. São gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da
lei: (a) o registro civil de nascimento; (b) a certidão de óbito;
77. São gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na
forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania;
78. A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a cele-
ridade de sua tramitação (adaptado de BRASIL, 1988, on-line).
São direitos sociais previstos na Constituição Federal: a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
Estes irão garantir aos indivíduos condições materiais tidas como imprescin-
díveis para o pleno gozo dos seus direitos. Contudo, eles exigem uma intervenção
na ordem social para assegurar uma justiça distributiva, ou seja, dessa forma,
o Estado teria que atuar diretamente com a finalidade de diminuir as desigual-
dades sociais.

Direitos e Garantias Individuais


44 UNIDADE I

NACIONALIDADE

A nacionalidade pode ser definida por dois critérios: ius sanguini e ius soli. O pri-
meiro é aquele em que a pessoa tem a mesma nacionalidade de seus pais, como
o nome diz, decorre do sangue; enquanto a segunda é aquela em que a pessoa
tem que nascer no território para adquirir a nacionalidade do Estado.
De acordo com o Art. 12 da Constituição Federal, são considerados brasi-
leiros natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de
seu país (ius soli);
b) os nascidos no estrangeiro, depois de atingida a maioridade,
de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registra-
dos em repartição brasileira competente ou qualquer deles
esteja a serviço do Brasil (ius sanguini);
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
petente ou venham a residir no Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade pela nacionalidade
brasileira (BRASIL, 1988, on-line).
Já os brasileiros naturalizados, serão considerados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
exigidas aos originários de países de língua portuguesa ape-
nas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes no Brasil
há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal,
desde que requeiram a nacionalidade brasileira (BRASIL,
1988, on-line).

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


45

A lei brasileira não poderá fazer qualquer distinção entre brasileiros natos e natu-
ralizados, salvo as previstas na Constituição Federal (MARTINS, 2013).
De acordo com a Constituição Federal, os cargos exclusivos de brasileiros
nato são:
a) Presidente e Vice-presidente da República;
b) Presidente da Câmara dos Deputados;
c) Presidente do Senado Federal;
d) Ministro do Supremo Tribunal Federal;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e) carreira diplomática;
f) oficial das Forças Armadas;
g) Ministro de Estado da Defesa (BRASIL, 1988, on-line).

Por fim, existem hipóteses em que será declarada a perda da nacionalidade do


brasileiro que:
a) tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
b) adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de:
1) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira;
2) imposição de naturalização, pela forma estrangeira, ao bra-
sileiro residente em país estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direi-
tos civis (MARTINS, 2013, p. 57).

Dessa forma, podemos observar que tanto a aquisição quanto a perda da naciona-
lidade são previstas em lei com o objetivo de proporcionar a todos direitos iguais.

Nacionalidade
46 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIREITOS POLÍTICOS

De acordo com o Art. 14 da Constituição Federal, a soberania popular é exer-


cida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos e, nos termos da lei, pelo: a) plebiscito; b) referendo; e c) iniciativa popular.
O sufrágio é o direito subjetivo de uma pessoa eleger alguém ou de ser
eleito para algum cargo político. Por ser um direito subjetivo, como visto ante-
riormente, significa que ele é uma faculdade do indivíduo. O voto é apenas o
direito de eleger uma pessoa, cada indivíduo tem o seu, não podendo vendê-lo
nem transmitir a terceiros.
O plebiscito é a consulta anterior formulada ao povo para aprovar ou rejei-
tar o que lhe houver sido submetido, sendo feito por meio do voto. O referendo,
porém, é a consulta posterior formulada ao povo para ratificar ou rejeitar ato
legislativo ou administrativo já determinado.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


47

Em recente caso de plebiscito que tivemos em nosso país, foi feita uma
proposta de divisão do Estado do Pará e, para tanto, houve uma consulta à
população paraense. Com a realização do plebiscito, a população rejeitou a
proposta que acabou não seguindo adiante.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://brasilescola.uol.com.
br/brasil/divisao-estado-para.htm>.
Fonte: a autora.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pela Carta Magna, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maio-
res de 18 anos e facultativo (opcional) para os analfabetos, os maiores de 70 anos
e os maiores de 16 e menores de 18 anos. Ainda, não poderão fazer o alistamento
eleitoral os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os
conscritos.
Para ser eleito, é preciso que os candidatos atendam às seguintes exigências:
ter idade mínima de: a) 35 anos para presidente, vice-presidente da República e
senador; b) 30 anos para governador e vice-governador de Estado e do Distrito
Federal; c) 21 anos para deputado federal, deputado estadual ou distrital, pre-
feito e vice-prefeito; e d) 18 anos para vereador. Contudo, não há uma idade
limite para se candidatar.
Portanto, nessa primeira Unidade, vimos assuntos mais gerais ligados ao
Direito, com o intuito de esclarecer como funciona essa ciência e ratificar a
importância da mesma para a organização da sociedade.

Direitos Políticos
48 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na primeira Unidade, estudamos quais as funções e como se divide o Direito.


Diferenciamos, ainda, o Direito da Moral. Neste estudo, pudemos constatar que
o Direito surge por uma imposição do Estado, que o cria a partir da necessi-
dade da própria sociedade, devendo prosperar conforme a evolução da mesma.
A moral, porém, surge a partir da cultura, da religião e da criação de cada pes-
soa, não existindo uma punição e nem mesmo sendo imposta pelo Estado.
Além disso, verificamos que o Direito possui uma classificação em ramos,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com o objetivo de facilitar nosso estudo e ficar mais claro como o Direito se
estruturou.
No que diz respeito às fontes, como o Direito traz regras que regulamen-
tam a vida humana em sociedade, não poderíamos deixar de mencionar que a
principal delas é a Constituição Federal de 1988, responsável por regulamentar
todo o nosso Estado Democrático de Direito. Além disso, toda lei que é criada
em nosso país deve, obrigatoriamente, seguir o que é previsto na Constituição.
Caso contrário, a lei criada será declarada como inconstitucional, ou seja, não
produzirá efeitos perante a sociedade.
Para inspirar a criação de uma norma, não podemos deixar de falar dos prin-
cípios de Direito, os quais têm como função a inspiração, o direcionamento, o que
permitirá que a norma seja criada. Contudo, deve-se ressaltar que estes não são
considerados fontes do Direito, mas sim apenas uma referência para o mesmo.
Vimos, ainda, que a Constituição brasileira traz uma série de Artigos, pre-
vendo um pouco de cada ramo do Direito. Ela aborda quais são os fundamentos
e os objetivos do nosso Estado e, por fim, os direitos e garantias fundamentais
previstos no Art. 5º da Carta Magna.
Aqui, objetivamos não esgotar os assuntos, mas apenas ilustrar a importân-
cia deles, buscando despertar a curiosidade e o estudo pelos temas apresentados.

INTRODUÇÃO AO DIREITO E DIREITO CONSTITUCIONAL


49

1. O Direito pode ser definido como o conjunto de princípios, regras e instituições


destinados a regulamentar a vida humana em sociedade. Para que o Direito seja
cumprido em sociedade, o Estado, com o uso do seu poder imperativo, prevê a
sanção (punição). Com o intuito de facilitar a compreensão do Direito, este é di-
vidido em algumas áreas. Vimos que uma dessas divisões é em Direito objetivo e
Direito subjetivo. Com relação a essa divisão, analise as afirmativas a seguir:
I. O Direito objetivo é aquele criado pelo Estado e aplicado a toda a sociedade.
II. O Direito subjetivo é a faculdade, a escolha de a pessoa postular seu direito,
objetivando a realização de seus interesses.
III. O Direito objetivo dependerá da vontade do indivíduo para existir.
IV. O Direito subjetivo é um complexo de normas que são impostas às pessoas.
Assinale a alternativa correto

a) Estão corretas somente as afirmativas I e II.


b) Estão corretas somente as afirmativas I e IV.
c) Estão corretas somente as afirmativas III e IV.
d) Estão corretas somente as afirmativas II e III.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
2. O Direito é uma ciência bilateral, pois precisa de duas pessoas para existir, além
de impor um comportamento do indivíduo na sociedade e, quando for descum-
prido, haverá uma sanção por parte do Estado. Já que o Direito é uma ciência,
existe uma vasta classificação dele. Com relação a essa classificação, analise
as afirmativas a seguir.
I. O Direito Natural nasce a partir do momento em que surge o homem, apare-
cendo naturalmente para regular a vida humana em sociedade.
II. O Direito Positivo é um conjunto de regras estabelecidas por meio do poder
político em vigor em um determinado país e em uma determinada época.
III. O Direito Público envolve a organização de um Estado, onde são estabeleci-
das as normas de ordem pública.
IV. O Direito Privado diz respeito ao interesse dos particulares, decorrente da
manifestação de vontade dos interessados.
Assinale a alternativa correto

a) Apenas I e II estão corretas.


b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
50

3. Ao aplicar uma lei, o juiz busca atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exi-
gências do bem comum. Para se aplicar uma norma, muitas vezes, o juiz precisa
analisar o caso e interpretar a norma com o intuito de compreender o que o le-
gislador quis dizer com sua criação. Sobre as formas de interpretação, analise
as afirmativas que segue:
I. Histórica: constata-se a realidade e a necessidade social na elaboração da lei
e em sua aplicação.
II. Restritiva: é aquela realizada pelo próprio órgão que criou a lei, no momento
em que ela declara o sentido, alcance e conteúdo por meio de norma.
III. Lógica: estabelece-se uma conexão entre vários textos legais a serem inter-
pretados e aplicados ao caso concreto.
IV. Gramatical: é a verificação do sentido gramatical da norma criada.
Assinale a alternativa correto

a) Estão corretas somente as afirmativas I, II e IV.


b) Estão corretas somente as afirmativas I e II.
c) Estão corretas somente as afirmativas II, III e IV.
d) Estão corretas somente as afirmativas III e IV.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
4. Como o próprio nome diz, o princípio é a base de tudo. Pode-se dizer que ele é o
alicerce do Direito. A atuação do princípio no Direito se inicia antes de a regra ser
feita, ou em uma fase pré-jurídica, ou seja, em verdade os princípios acabam in-
fluenciando a elaboração da regra. Em nossa disciplina, estudamos alguns prin-
cípios gerais de Direito. Sobre esses princípios, assinale a alternativa correta:
a) O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana é um dos objetivos
que o governo em exercício deve ter e pode ser modificado a cada eleição.
b) O princípio da proporcionalidade é aquele em que não se pode impor condu-
tas, a não ser que seja em estrito cumprimento do interesse público.
c) O princípio da razoabilidade é aquele em que as pessoas devem agir com
proporcionalidade, o que também acontece com as normas jurídicas.
d) O princípio da função social é aquele que disciplina a vida humana em so-
ciedade, estabelecendo regras de conduta que devem ser respeitadas por
todos.
e) O princípio normativo é aquele em que o Poder Legislativo atuará nos casos
concretos quando não houver uma disposição específica para disciplinar de-
terminada atuação.
51

5. A Constituição Federal, em seu art. 2º, prevê que “são poderes da União, indepen-
dentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. A fórmula
ideal para o funcionamento do Estado é que suas operações fundamentais se-
jam repartidas entre vários órgãos autônomos, cada um atuando em sua esfera
de atribuição. No Brasil, existem três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Sobre esses poderes, assinale a alternativa correta.
a) O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos
Ministros de Estado.
b) O Poder Judiciário dirá se a norma está correta ou não.
c) O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que é composto so-
mente pelo Senado Federal, sendo eleito pelos habitantes dos respectivos
estados.
d) Os deputados são escolhidos pelo sistema majoritário.
e) O vereador é um representante do povo na Câmara dos Deputados.











52

Os direitos fundamentais são básicos para a nossa sociedade. Eles que irão proporcionar que
todos os cidadãos sejam tratados de forma igual, independentemente da posição que ocu-
pem. É sobre isso que se trata o excerto a seguir.

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Direitos fundamentais são entendidos fundamentais são aqueles conquistados


como os direitos mais básicos de todos os pelas sociedades ao longo do história, não
cidadãos. Embora haja confusão terminoló- tendo uma origem fixa nem dependendo
gica quanto ao termo, sendo muito usado somente da vontade jurídica.
como sinônimo de “direitos humanos” ou
“direitos do Homem”, é importante isolá-lo Hoje, tanto no Brasil quanto em boa parte
como uma categoria própria. Na doutrina do Ocidente, o consenso é de que estes
jurídica brasileira, os direitos fundamentais direitos resultaram de um gradual processo
são descritos pela Constituição de 1988 e histórico e sociológico. Como explanou
se aplicam somente aos indivíduos e casos o jurista Norberto Bobbio, os “direitos
por ela regidos, diferindo de “direitos huma- do homem” nasceram após árduas lutas
nos” por estes se aplicarem a todo o mundo, entre os detentores de velhos privilé-
independente de soberania nacional. No gios e os defensores de novas liberdades.
seu Título segundo, a Constituição classi- Assim, o “fundamental” para uma socie-
fica os direitos e garantias fundamentais dade em determinado tempo não é igual
dos brasileiros entre direitos e deveres indi- para outros povos em épocas diferentes,
viduais e coletivos (igualdade perante a caracterizando sua natureza histórica. Além
lei, inviolabilidade do direito à vida etc.), disso, reconhece-se que os direitos funda-
direitos sociais (saúde, educação, trabalho, mentais são relativos (nenhum se sobrepõe
lazer...) e direitos políticos. ao outro), concorrentes (podem conflitar-
-se), imprescritíveis (não se perdem pela
Não existe uma origem concreta nem uma falta de uso), inalienáveis (não podem ser
definição objetiva para direitos fundamen- transferidos), irrenunciáveis (ninguém pode
tais, embora as três principais correntes abdicar deles), eficazes (geram relações
jusfilosóficas tenham dado suas inter- entre indivíduos ou entre estes e o Estado)
pretações. A dos jusnaturalistas é a mais e indivisíveis, ou seja, devem ser tomados
conhecida, classificando tais direitos como em sua completude (ninguém pode “des-
anteriores a qualquer legislação; para respeitar um pouco” certo direito; ele é ou
eles, tais direitos nascem de característi- respeitado ou quebrado inteiramente).
cas inatas da humanidade, sendo comuns
a todos os homens, independente do Por sua evolução histórica, classificam-se os
espaço ou tempo. Mais sucintos, os jus- direitos fundamentais em três gerações. Os
positivistas defendem tais direitos como de primeira geração são os direitos mais fun-
frutos da legislação humana, enquanto os damentais conquistados pela humanidade,
realistas jurídicos, mais influentes na Amé- como a posse de propriedade e as liberda-
rica do Norte, acreditam que os direitos des de movimento, crença ou expressão.
53

São chamados de direitos individuais ou eles construído. São os direitos à paz, ao


negativos, pois concernem primariamente desenvolvimento e a um meio ambiente
a cada cidadão e não podem ser negados ecologicamente equilibrado, por exem-
por qualquer autoridade. Já os direitos plo. Adicionalmente, o Direito Processual
de segunda geração focam no bem estar Civil distingue-os entre direitos difusos
coletivo, a exemplo da saúde, educação, (válidos para todos, sem pertencer a nin-
segurança pública e alimentação (liberdade guém específico), direitos coletivos stricto
da fome). São chamados de direitos posi- sensu (válidos para um grupo, sem per-
tivos porque se pressupõe um dever do tencer a nenhum membro só) e direitos
Estado, por assistência ou políticas públi- individuais homogêneos (pertencentes a
cas, em promovê-los. cada indivíduo, mas cuja defesa pode ser
feita coletivamente). Vale notar que, com
Mais recente, a terceira geração brotou com a ascensão de novas tecnologias e movi-
a revolução tecnocientífica (década de 70 mentos sociais, os direitos fundamentais
em diante), sendo também referida como podem entrar em uma quarta geração, a
direitos meta ou supraindividuais. Embora exemplo dos direitos ao acesso à internet
indivíduos estejam envolvidos, esses direi- e à saúde sexual e reprodutiva.
tos focam no ecossistema de relações por
Fonte: Cysne (2016, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Instituições de Direito Público e Privado


Sérgio Pinto Martins
Editora: Atlas
Sinopse: a obra citada é excelente para nos auxiliar a entender
melhor o Direito. É uma obra simples, com linguagem fácil, voltada
para aqueles que não têm formação jurídica, mas têm interesse em
conhecer melhor a estrutura e o funcionamento do nosso país.

Náufrago
Sinopse: narra a história de um empregado da FedEx que sofre um
acidente aéreo e vai parar numa ilha desabitada no meio do Pacífico
Sul. No cinema hollywoodiano é incomum que durante a maior parte
do filme só haja um personagem humano.
Comentário: o filme é um bom exemplo de onde existe o Direito
de fato. No momento em que Tom Hanks fica sozinho na ilha, não
existe nenhuma regulamentação sobre a vida em sociedade. A partir
do momento em que ele volta para a civilização, deve se adaptar
novamente à regulamentação que ali existe.
55
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 22 ago. 2017.
COTRIM, G. Direito Fundamental: Instituições de Direito Público e Privado. São
Paulo: Saraiva, 2009.
FÜHRER, M. C. A.; MILARÉ, E. Manual de Direito Público e Privado. São Paulo: RT,
2009.
MARTINS, S. P. Instituições de Direito Público e Privado. São Paulo: Atlas, 2013.
PALAIA, N. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2011.
REALE, M. FIlosofia do Direito. São Paulo: Saraiva, 1972.
REIS, H. M. dos; REIS, C. N. P. dos. Direito para administradores. São Paulo: Cenga-
ge, 2006.
WARAT, L. A. A definição jurídica: suas técnicas. Porto Alegre: Atrium, 1977.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 em: <http://www.infoescola.com/direito/direitos-fundamentais/>. Acesso em: 22


ago. 2017.
GABARITO

1. a.
2. e.
3. d.
4. e.
5. c.
Professora Me. Letícia Carla Baptista Rosa
Professora Me. Mariane Helena Lopes

II
RELAÇÕES FAMILIARES:

UNIDADE
NOÇÕES GERAIS DO
DIREITO DE FAMÍLIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar a evolução do conceito de família pelo Direito.
■■ Definir as entidades familiares reconhecidas pelo Direito.
■■ Conhecer os princípios do Direito de Família.
■■ Diferenciar e tratar alguns aspectos do Direito de Família, delineando
aspectos do casamento e da união estável.
■■ Conhecer as relações de parentesco.
■■ Estudar algumas questões relacionadas aos institutos da paternidade,
filiação e os direitos inerentes ao poder familiar.
■■ Estudar os alimentos delineando suas espécies.
■■ Buscar diferenciar e classificar a tutela e curatela.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Desenvolvimento Histórico do Conceito de Família
■■ Formatos Familiares
■■ Princípios do Direito De Família
■■ Aspectos Jurídicos da Formação e Dissolução da Família: Casamento,
Divórcio e União Estável
■■ Relações de Parentesco
■■ Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar
■■ Alimentos
■■ Tutela e Curatela
59

INTRODUÇÃO

A família contemporânea é formada pelo afeto, pelo companheirismo, pela solida-


riedade e pela ajuda mútua. Mesmo na correria do nosso dia a dia não podemos
esquecer os motivos que realmente levam os indivíduos a formar suas famílias.
A atual Constituição Federal, antes mesmo da decisão do Supremo Tribunal
Federal reconhecer a união homoafetiva como uma união estável, já havia pre-
visto outras entidades familiares, além daquela formada pelo matrimônio. Dessa
forma, sabemos que existem várias formas de família reconhecidas hoje pelo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Direito, diferentemente do que foi previsto originalmente pela Constituição


Federal de 1988.
A jurisprudência já reconhece aos companheiros homoafetivos direitos como
uma relação heteroafetiva, fundamentando-se nos princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana, da igualdade, da liberdade e da afetividade.
Pretende-se, aqui, traçar uma evolução histórica da família informal desde
os primórdios, passando pela contemporaneidade até a pós-modernidade. Serão
delineados os aspectos pessoais e jurídicos da formação e dissolução da família,
apresentando o casamento, a família e a união estável.
Para uma melhor exposição do tema, serão conceituadas e classificadas as
relações de parentesco e a instituição da filiação e, principalmente, os direitos e
deveres que são oriundos do exercício do poder familiar.
Por fim, visar-se-á expor acerca dos alimentos, suas classificações e for-
mas de efetivação, e as formas como o direito assistencial abrange a proteção de
menores incapazes ou pessoas maiores incapazes por determinada circunstância.
Tal instituto jurídico é de suma importância, pois muitas vezes quem acaba
pleiteando os alimentos não é o interessado, mas sim quem o representa naquele
momento. É importante que fique sempre deve ser em benefício do menor e
não no que seu representante gostaria de receber ou pretendia receber com a
demanda apresentada.

Introdução
60 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO CONCEITO DE
FAMÍLIA

A vida familiar e o comportamento social evoluíram muito ao longo do tempo,


não podendo ser assumida como uma simples instituição histórica que perdura
no tempo. As relações familiares não são mais como na Antiguidade, quando a
família era construída na desigualdade e sustentada pelo sistema patriarcal, com
a concentração do poder na figura do pater familias.
Na Antiguidade, a mulher era considerada um ser inferior ao homem, tendo
por quase única função a procriação, não existindo qualquer planejamento
familiar.
Uma prova disso é que nos direitos grego, romano e hindu a mulher é anali-
sada como inferior, sendo considerada uma parte integrante do próprio esposo
a partir do casamento, ou seja, essa mulher nunca seria a dona de um lar, não
possuía qualquer autoridade dentro dele. Na infância, depende do pai; durante a
mocidade, de seu marido; com a morte deste, dependerá de seus filhos; e se não
os tiver, dependerá de parentes mais próximos do marido (COULANGES, 2002).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


61

É certo que a palavra família só passou a ter um sentido jurídico a partir do


direito romano; no entanto, suas primeiras acepções nada condiziam com o sig-
nificado atual de família, ligado a ideia de pais e filhos.
Nesse sentido, Paulo Lôbo bem esclarece que a expressão famulus queria
dizer escravo, e família era o conjunto de escravos, propriedade de um deter-
minado homem; portanto, a expressão foi utilizada pelos romanos no intuito
de nomear um determinado número de escravos que eram submetidos ao pater
familias que detinha o poder de morte ou vida sobre eles. Estava caracterizado
que a primeira forma de família nada tem a ver com uma formação espontânea,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

natural e primitiva, mas sim com questões econômicas e com o triunfo da busca
pela propriedade individual, em que o domínio era do homem com a expressa
finalidade de procriar filhos (LÔBO, 2009, p. 8).
Portanto, em Roma, somente depois de algum tempo é que a família passou a
ser definida como uma “unidade econômica, política, militar e religiosa, que era
comandada sempre por uma figura do sexo masculino, o pater familias”. Este era
o ascendente mais velho de um núcleo que reunia todos os descendentes sobre
a sua autoridade (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 50).
A família romana evoluiu na medida em que restringiu progressivamente a
autoridade do pater, dando uma autonomia à mulher e aos filhos e substituindo
o parentesco agnatício pelo cognatício (WALD, 2002, p. 10).

O direito romano reconhecia duas formas de parentesco: a agnação (agnatio),


que era o parentesco fundamentado na sujeição das pessoas a um mesmo
pater familias, não havendo qualquer laço de consanguinidade. E a cognação
(cognatio), que constituía o parentesco natural, aquele por consanguinidade,
que poderia ser em linha reta ou linha colateral.
Fonte: Rolim (2003, p. 156).

Desenvolvimento Histórico do Conceito de Família


62 UNIDADE II

O Cristianismo trouxe a atividade legislativa que era realizada por meio de câno-
nes, diferente do direito romano até então vigente. Uma das principais alterações
foi o casamento, com o objetivo de procriação e a diminuição da inferioridade
da mulher em relação ao homem no matrimônio (GAMA, 2008, p. 16).
Durante a Idade Média, as relações familiares foram disciplinadas pelo
direito canônico, que também tratava o casamento como um sacramento, ape-
sar de muitas vezes ser considerado um negócio pelas famílias, em que a mulher
tinha a função de procriar, não devendo demonstrar prazer durante o ato sexual
(WALD, 2002, p. 13). Ressalte-se que a família informal não era bem vista pela

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sociedade, em decorrência da sacralização do casamento.
Somente eram consideradas como legítimas as relações advindas do casa-
mento, e apenas elas teriam o condão de gerar filhos legítimos (DONIZETTI,
2007, p. 9).
No tocante à Idade Média, a família ainda era patriarcal e respeitava valores
morais e religiosos considerados relevantes na época, tendo seus alicerces cons-
truídos nesses valores. Não se considerava qualquer manifestação de sentimento
na formação familiar, tendo um modelo, instituído pela religião, a ser seguido.
Já para se chegar a um conceito contemporâneo de família, alguns acon-
tecimentos históricos, como a Revolução Industrial, a inserção da mulher no
mercado de trabalho, as duas grandes guerras, a necessidade de formação de
grandes centros urbanos, a revolução sexual, o movimento feminista, o aumento
e reconhecimento do divórcio, a admissão da criança como um sujeito de direito
passível de tutela, a mudança de papéis de homens e mulheres dentro de seus lares,
entre outros, deram margem ao surgimento desses vários modelos de família.
Somente a partir da década de 60 que passaram a surgir leis que visavam à
proteção da família. Até então, o Código Civil de 1916 (BRASIL, 1916, on-Line)
possuía caráter extremamente patrimonialista, pois tinha por objetivo final a
tutela de cunho patrimonial, o que aumentava as discriminações dentro das
relações familiares.
No século XIX, inconformadas com a superioridade de seus pais e esposos,
as mulheres buscaram o reconhecimento de seus direitos e, consequentemente,
surgiram os movimentos feministas, que viriam a criar mais força em sua luta
durante o século subsequente (SAPKO, 2005, p. 39).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


63

Somente com a Constituição Federal de 1988 é que passou a ser possível


expandir a proteção da família. A partir da ampliação do conceito de família,
remodelou-se o paradigma de família quando foram reconhecidos outros arran-
jos familiares, como a união estável entre um homem e uma mulher e a família
monoparental, além daquela oriunda do matrimônio. Reconheceu-se o direito
ao planejamento familiar no § 7º do seu art. 226, o qual foi calcado nos princí-
pios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável.
Para Pereira (2003), essa Constituição realizou uma revolução no Direito de
Família, que se fundamentou em três eixos principais: no art. 226, consignou que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a família do terceiro milênio é plural e não mais singular; no § 6º do art. 227, alte-
rou o sistema de filiação, não fazendo qualquer diferenciação acerca dos filhos;
no terceiro eixo, nos arts. 5º, inciso I e § 6º do art. 226, estabeleceu a igualdade
entre homens e mulheres (PEREIRA, 2003, p. 233-234).
A constitucionalização do direito de família intensificou os laços de afeto,
trouxe a família como o lugar para refugiar-se do mundo moderno, tornando-se
uma irmandade em que os seus membros buscaram o afeto e, principalmente, o
apoio, a ajuda e o suporte emocional uns dos outros.
Essa família da pós-modernidade se identifica por meio da solidariedade, que
acaba sendo o próprio fundamento da afetividade. Dessa forma, a “família insti-
tuição” transformou-se em “família-instrumento”, que objetiva o desenvolvimento
da personalidade de cada um dos seus membros, destacando a importância da
preservação das estruturas psíquicas deles e a garantia de convívio com aqueles
que lhe tragam afeto (FRAGA, 2005, p. 45).
Por essa ótica, a falta do afeto traz como consequência direta, nessa nova
forma familiar, a falência desse projeto de vida, portanto, a traição e infidelidade
passam a perder espaço (FRAGA, 2005, p. 44).
Já a possibilidade de dissolução do vínculo matrimonial trouxe uma con-
sequência lógica para a formação familiar, pois a permanência ou existência de
uma família surge mais por um ato de vontade do que por mera imposição social.
Pode-se afirmar, desta forma, que a família pós-moderna poderá abran-
ger diversos formatos por meio de uma interpretação extensiva da própria
Constituição Federal, desde que seja constituída com base no afeto e com o
intuito de preservação e promoção da dignidade de seus membros.

Desenvolvimento Histórico do Conceito de Família


64 UNIDADE II

A priori, a família atual está calcada na afetividade, na pluralidade de formas


e na importância individual de cada um de seus membros. Não há mais uma
instituição e sim um instrumento que irá existir a fim de trazer a realização
pessoal de cada um de seus membros.

FORMATOS FAMILIARES

A Constituição Federal de 1988

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
consagrou, além da família
advinda do casamento, outras
entidades familiares, como as
oriundas da união estável e da
comunidade formada por um
genitor e seus ascendentes, a
família conhecida como mono-
parental. No entanto, visando
ao resguardo dos princípios
da igualdade e da dignidade da
pessoa humana, não podemos
considerar somente esses forma-
tos familiares, visto que atualmente
o Direito tem dado respaldo às demais
formações que decorram do afeto.

DA FAMÍLIA MATRIMONIAL

É aquela advinda do casamento, que possui como característica a indissolubi-


lidade da união entre um homem e uma mulher. Por muito tempo, somente se
reconheceu como legítima esta entidade familiar, sendo as demais marginaliza-
das. Nela, adota-se o princípio da monogamia, segundo o qual as pessoas devem
ser fiéis e, por muito tempo, foi formada sob o sistema patriarcal. A Constituição
Federal de 1988 igualou homens e mulheres em direitos e deveres, ratificou a

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


65

ruptura do casamento prevista na Lei do Divórcio de 1977 e deu tutela às demais


entidades familiares não fundamentadas no casamento. Contudo, o afeto sempre
existiu nas relações familiares, independentemente do que o Estado estabelece
em seu sistema normativo e das religiões (DIAS, 2013, p. 43).

DA FAMÍLIA INFORMAL

A família informal é aquela formada por uma união estável, incluindo, atual-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mente, a união entre pessoas do mesmo sexo. Atente-se ao fato de que a União
Estável só foi reconhecida como entidade familiar a partir da Constituição Federal
de 1988, e a primeira lei que tratou do tema foi a de nº. 8.971/1994 (BRASIL,
1994, on-line). Posteriormente, a Lei nº. 9.278/1996 (BRASIL, 1996, on-line)
disciplinou de forma mais abrangente esse tipo de união, e o atual Código Civil
não inovou, apenas reproduziu a legislação que já existia, o que permitiu a con-
versão em casamento desde que configurada a convivência pública, contínua,
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituir família (DIAS, 2013, p. 46).

DA FAMÍLIA MONOPARENTAL

É a entidade familiar formada por um dos pais e seus descendentes que só teve
reconhecimento com a Constituição Federal de 1988, em seu § 4.º do artigo 226.

DA FAMÍLIA HOMOAFETIVA

Foi reconhecida somente a partir da decisão do Supremo Tribunal Federal, em


2011, por meio da ADI nº. 4277 da ADPF nº. 132, que garantiu às uniões homo-
afetivas os efeitos da união estável. Já no ano de 2012, o CNJ, posteriormente,
editou uma Resolução com o intuito de reconhecer a possibilidade de casamento
civil para o casal do mesmo sexo; portanto, não há que se discutir mais a possi-
bilidade ou não de um casal poder se unir civilmente.

Formatos Familiares
66 UNIDADE II

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo foi o primeiro do Brasil que


publicou no Diário da Justiça uma norma que regulamentava o casamento
civil entre pessoas do mesmo sexo; portanto, tanto o casamento de casais
homossexuais quanto a união estável homoafetiva foram inseridos nas pre-
visões das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo.
Fonte: as autoras.

DA FAMÍLIA ANAPARENTAL

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
É entendida como aquela família em que estão ausentes os genitores, cite-se como
exemplo dois irmãos ou duas primas que vivam sob o mesmo teto. Há a convi-
vência dos entes familiares e a comunhão de esforços com o intuito de constituir
um acervo patrimonial e, principalmente, o afeto (DIAS, 2013, p. 48).

DA FAMÍLIA PLURIPARENTAL OU MOSAICO

São também chamadas de famílias recompostas, caracterizadas por uma famí-


lia que advém de uma ruptura de vínculos, visto que surgem em decorrência do
divórcio, do reconhecimento das famílias informais e das novas uniões oriun-
das da anulação de relacionamentos anteriores. Para Grisard Filho (2003), essas
famílias são definidas como uma “estrutura familiar originada do casamento ou
da união estável de um casal, na qual um ou ambos de seus membros têm filho
ou filhos de um vínculo anterior” (GRISARD FILHO, 2003, p. 257).

DA FAMÍLIA PARALELA OU SIMULTÂNEA

É aquela família formada paralelamente a outra, sempre tratada com preconceito.


Nela estão presentes os requisitos legais; no entanto, o Direito vem realizando
o reconhecimento de ambas pelo ordenamento jurídico, sob pena de afrontar a
ética e o enriquecimento ilícito (DIAS, 2013, p. 50).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


67

DA FAMÍLIA EUDEMONISTA

É a forma de família que visa à busca da felicidade, da solidariedade e do res-


peito mútuo. Nela há o intuito de felicidade individual e também coletiva, e tem
como seu elemento formador o afeto, no qual intenta-se a realização plena de
seus membros, que estão unidos por um afeto recíproco, pela consideração e pelo
respeito mútuo, independentemente da consanguinidade (DIAS, 2013, p. 54).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DA FAMÍLIA POLIAFETIVA

Recentemente a notícia de uma escritura pública declaratória de união poliafetiva


de um homem com duas mulheres trouxe uma enorme discussão, delineando
uma grande controvérsia acerca da moral e dos bons costumes. Houve a dis-
cussão na doutrina se não seria ato nulo ou inexistente; no entanto, não se pode
negar ou ignorar esse tipo de relacionamento, sob pena de violar os direitos de
quem convive por livre manifestação de vontade. Nesse sentido, é ético reco-
nhecer o pacto estabelecido entre as pessoas que convivem nesse formato, sob
pena de propiciar o locupletamento ilícito de um ou mais em relação ao outro
(DIAS, 2013, p. 53-54).

Formatos Familiares
68 UNIDADE II

PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

Aqui, passaremos a analisar os princípios ligados ao direito de família, que são


de suma importância, visto que eles inspiram a criação de normas diretamente
ligadas a esse ramo do Direito.

DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A dignidade da pessoa humana é inerente a todo ser humano. Moraes (2002) asse-
vera que a dignidade humana é um valor espiritual e moral inerente a qualquer
pessoa. Se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e respon-
sável da própria vida, está inserida em seu sentido a pretensão do respeito por
parte das demais pessoas, assegurando que, somente excepcionalmente, possam
ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais (MORAES, 2002, p.
50). No âmbito familiar, esse princípio se concretiza a partir do momento em
que os entes familiares colaboram para o desenvolvimento da personalidade de
cada um de seus membros, não permitindo qualquer violação da integridade
física ou psicológica deles garantindo seu normal desenvolvimento.

DO PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR

Este princípio está relacionado ao fato de a família dar ensejo a uma comunhão
plena de vida entre os cônjuges ou os companheiros, ou seja, a atenção e o zelo de
um para com o outro e para com a sua prole, que se traduz na assistência mate-
rial, moral e intelectual (NERY JUNIOR; NERY, 2009, p. 1094).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


69

DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS CÔNJUGES E


COMPANHEIROS

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, no § 5º, do art. 226, a igualdade


jurídica entre os cônjuges e os companheiros. Esta decorre do fato de que todos
são iguais perante a lei, conforme o art. 5º, inciso I e II do mesmo diploma. Essa
igualdade também foi retratada no art. 1.511 do Código Civil, o qual dispõe que
o casamento estabelece a comunhão de vida plena, fundamentado na igualdade
de direitos e deveres entre os cônjuges.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE DOS FILHOS

Após a Constituição Federal de 1988, também não se pode falar em distinção


entre os filhos oriundos do casamento ou de qualquer outro tipo de entidade
familiar, sejam consanguíneos, adotivos ou socioafetivos. Portanto, todos os
filhos possuem os mesmos direitos, sem qualquer discriminação.

DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

Esse princípio adveio da doutrina da proteção integral com a atual Constituição


Federal e tornou-se, assim, um dever jurídico imposto à família, à sociedade e ao
Estado, sendo observado na elaboração de leis ou no resguardo de direitos que
digam respeito às relações familiares com pessoas em desenvolvimento. Lôbo
(2004) afirma que esse “princípio não é uma recomendação ética, mas uma dire-
triz determinante nas relações de crianças e adolescentes com seus pais, com sua
família, com a sociedade e com o Estado” (LÔBO, 2004, p. 333).

Princípios do Direito de Família


70 UNIDADE II

DO PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

O afeto passou a ser o elemento formador da família, mesmo não estando pre-
visto na Constituição Federal de 1988. Ele decorre do princípio da dignidade da
pessoa humana (TARTUCE, 2006). A partir desse reconhecimento, o afeto pas-
sou a delinear várias decisões que trazem reflexo direto ao direito de família, por
exemplo, a possibilidade de reconhecimento da filiação socioafetiva, o reconhe-
cimento da união homoafetiva, o abandono afetivo, dentre outros.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DO PRINCÍPIO DA MONOGAMIA

Trata-se de uma forma de organização familiar que tem origem no matrimô-


nio, ou seja, uma união matrimonial deve, necessariamente, ser exclusiva. O art.
1.566 do Código Civil trouxe a fidelidade como um dos deveres do casamento,
já quanto à união estável, o art. 1.727 do Código Civil trouxe a lealdade como
um dos deveres dos companheiros.

DO PRINCÍPIO DO PLURALISMO FAMILIAR

A própria Constituição Federal, em seu art. 226, dispôs sobre esse princípio a
partir do momento que estabeleceu como possibilidades de entidades familiares
aquela oriunda da união estável, da família monoparental, bem como a família
matrimonial. Ressalte-se que o rol apresentado pela Constituição Federal não é
taxativo e sim exemplificativo. Nesse sentido, Lôbo (2004) assevera que os tipos de
entidades familiares referidos na Constituição brasileira não encerram numerus
clausus; ou seja, foi suprimida a cláusula de exclusão que apenas admitia a família
oriunda do matrimônio, adotando-se um conceito aberto, abrangente e de inclu-
são. Logo, qualquer entidade familiar que preencha os requisitos da afetividade,
estabilidade e ostensibilidade está constitucionalmente protegida, como tipos pró-
prios, sendo os efeitos jurídicos tutelados pelo Direito de Família (LÔBO, 2004).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


71

DO PRINCÍPIO DA PARENTALIDADE RESPONSÁVEL E


PLANEJAMENTO FAMILIAR

A parentalidade responsável é tratada por um princípio disposto no § 7º do art. 227


da Constituição Federal, nos arts. 3º e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente,
(brasil, 1990 a, onine) e no inc. IV do art. 1.566 do Código Civil, e deve ser observada
independentemente da orientação sexual, restando superada a ótica preconceitu-
osa de que isso poderia afetar o desenvolvimento psicológico da criança. Pode-se
conceituar a paternidade responsável como a obrigação que os pais têm de prover a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

assistência moral, afetiva, intelectual e material aos filhos (CARDIN; ROSA, 2012).

ASPECTOS JURÍDICOS DA FORMAÇÃO E


DISSOLUÇÃO DA FAMÍLIA: CASAMENTO, EFEITOS
DO CASAMENTO, DIVÓRCIO E UNIÃO ESTÁVEL

Neste tópico, iremos estudar alguns aspectos


ligados ao estado civil do sujeito, como casa-
mento, divórcio e união estável.

CASAMENTOS E EFEITOS DO
CASAMENTO

Pelo casamento ocorrem uma série de conse-


quências que se projetam nas relações pessoais
e patrimoniais dos cônjuges e dos membros
familiares.
Assim, por meio do casamento, existem
alguns efeitos que são provocados com ato e

Aspectos Jurídicos da Formação e Dissolução da Família


72 UNIDADE II

atingirá as pessoas dos cônjuges e também refletirá diretamente na sociedade.


A Constituição Federal de 1988 trouxe a igualdade entre os cônjuges na dire-
ção da sociedade conjugal. Posteriormente, o Código Civil de 2002 (BRASIL,
2002, on-line)corroborou com esse entendimento, garantido a dignidade da pes-
soa humana dos cônjuges.
Há, deste modo, por meio do casamento, a criação da família, bem como a
possibilidade da emancipação do cônjuge que case e seja menor de idade, tor-
nando-o plenamente capaz, como se houvesse atingido a maioridade (artigo 5º,
§ único, II, do Código Civil), e também estabelece o vínculo de afinidade entre

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cada consorte e os parentes do outro (artigo 1.595, § 1º e 2º, do Código Civil)
(GONÇALVES, 2012, p. 182).
Com o casamento, estabelece-se o estado de casados entre os cônjuges e, por
meio dele, há um fator de identificação na sociedade dos cônjuges como casados
e, ainda, a presunção de paternidade inicial e final do marido.
Ademais, o casamento estabelece a comunhão de vida plena entre os côn-
juges; , com o ato também surge uma série de deveres que os cônjuges deverão
cumprir uns com os outros, por exemplo, a fidelidade recíproca, vida em comum
e domicílio conjugal mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos,
respeito e consideração mútuos.
Outro efeito que decorre do casamento é a possibilidade de um dos cônjuges
adotar o sobrenome do outro e, em decorrência da igualdade estabelecida entre
eles, ambos podem escolher se adotam ou não o sobrenome do outro.
Um efeito patrimonial se consubstancia com os direitos que surgem por meio
da sucessão, no qual tiveram regras previamente estabelecidas no Código Civil
brasileiro, tanto para os cônjuges quanto para os companheiros sobreviventes.
Existe também o efeito diretamente relacionado à administração dos bens
dos filhos. Destaca-se, nesse sentido, que caberá aos pais, enquanto exercerem o
poder familiar, a possibilidade de usufruir e administrar os bens dos filhos con-
juntamente ou exclusivamente na falta do outro. Em caso de divergência dos
pais acerca da administração desses bens, caberá ao juiz decidir sobre a situação.
Da mesma forma ocorre o dever alimentar entre cônjuges e filhos, isto é, os
cônjuges estão responsáveis por dar assistência material aos filhos por meio do
pagamento dos alimentos.

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


73

A instituição do bem de família também é um dos efeitos do casamento, esse


instituto é regulamentado pela Lei n. 8.009/1990, (BRASIL, 1990 b, on-line)que
traz disposições das possibilidades de impenhorabilidade deste bem.

DIVÓRCIO

A Emenda Constitucional n. 66/2010 (BRASIL, 2010 a, on-line) alterou a redação


do § 6º do art. 226 da C.F., dispondo que o casamento se dissolve pelo divórcio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e extinguindo o instituto da separação judicial.


Antes existiam o divórcio direto e o divórcio conversão, este poderia ser rea-
lizado depois de mais de um ano de separação judicial para só então requerer
o divórcio, enquanto que aquele, o divórcio direto, somente ocorria após dois
anos de separação de fato.
Portanto, a partir da Emenda n. 66/2010 (BRASIL, 2010a, on-line), o divór-
cio passou a ser direto, não precisando do tempo de separação de um ano para
converter a separação em divórcio e de dois anos de separação de fato para o
pedido do divórcio direto.
Ademais, com a Lei nº. 11.441/2007 (BRASIL, 2007, on-line) o divórcio
passou a ter a possibilidade de ser realizado de forma extrajudicial, desde que o
casal não tenha filhos menores e incapazes, devendo ser realizado por meio de
escritura pública e ser consensual com relação à partilha de bens, pensão alimen-
tícia e retomada de nome de solteira ou mantendo o nome de casada (BRASIL,
2007). Assim, o casal que se encaixar nos requisitos expostos poderá compare-
cer em um Cartório de Registro Civil e realizar a escritura pública de divórcio.

UNIÃO ESTÁVEL

A união estável passou a ser reconhecida enquanto entidade familiar a partir da


Constituição de 1988. A primeira lei que disciplinou acerca da união estável foi
a de nº. 8.971/1994 (BRASIL, 1994, on-line) e depois a Lei nº. 9.278/1996, que
disciplinou de forma mais abrangente essa entidade familiar. O Código Civil de

Aspectos Jurídicos da Formação e Dissolução da Família


74 UNIDADE II

2002 (BRASIL, 2002, on-line) apenas reproduziu o que já existia, permitindo a


conversão em casamento desde que configurada a convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com, o objetivo de constituir família (DIAS, 2013, p. 46).
Dessa forma, a união estável para estar caracterizada precisa da convivência
pública, contínua e duradoura com o intuito de constituição de família.
O art. 1.724 do Código Civil dispôs sobre os deveres inerentes aos com-
panheiros, que deverão seguir a lealdade, o respeito e a assistência, a guarda, o
sustento e a educação dos filhos (BRASIL, 2002, on-line).
Ressalta-se que as pessoas que se encontrem impedidas de casar não pode-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rão constituir uma união estável, pois os efeitos jurídicos não serão produzidos.
Somente o §1º do art. 1.723 do Código Civil traz como única exceção a possibi-
lidade da pessoa, mesmo casada, ser separada de fato ou judicialmente de outro
cônjuge (BRASIL, 2002, on-line).v

Com relação à sucessão do companheiro, as Leis nº. 8.971/1994 e nº.


9.278/1996 estipularam como ela deveria ocorrer em caso de morte de um
dos companheiros. No entanto, o Código Civil de 2002 trouxe um tratamen-
to diferenciado e principalmente confuso. O art. 1.790 é muito criticado pela
doutrina, visto que trouxe uma forma diferenciada ao tratamento dado ao
cônjuge sobrevivente, realizando, assim, uma discriminação entre união es-
tável e casamento. Também não se possibilita o usufruto a favor do compa-
nheiro, visto que acabou sendo substituído pela concorrência sucessória.
Fonte: pelas autoras.

Assim como o casamento, a união estável gera os efeitos patrimoniais do casa-


mento e, sem haver estipulação em contrário, o regime adotado será o de
comunhão parcial de bens.

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


75
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

RELAÇÕES DE PARENTESCO

O parentesco poderá ser conceituado como o vínculo jurídico estabelecido entre


pessoas com a mesma origem biológica, com o mesmo tronco comum, entre os
cônjuges e seus parentes e entre as pessoas que possuem entre si um vínculo civil.
Nesse sentido, pode-se ter três formas de parentesco: consanguíneo ou natural,
por afinidade e civil.
O parentesco consanguíneo, ou também conhecido como natural, é aquele
que decorre de um vínculo biológico ou de sangue. Já o parentesco por afinidade
passa a existir entre o cônjuge e companheiro, sendo que marido e mulher não
são parentes, mas com o casamento e com a união estável passam a ser paren-
tes dos seus respectivos parentes em linha reta e colateral. Por fim, o parentesco
civil decorre, sobretudo, da lei, não configurando parentesco consanguíneo nem
por afinidade (TARTUCE, 2011, p. 1108).
Ressalte-se que o parentesco consanguíneo constitui-se em linha reta ascen-
dente (avós, pais) e descendente (filhos) e em linha colateral ou transversal, que
se caracteriza-se por meio dos irmãos, tios e primos até 4º grau.

Relações de Parentesco
76 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIREITOS E DEVERES INERENTES AO PODER
FAMILIAR

O Código Civil de 1916 denominava o poder familiar como pátrio poder, dis-
pondo, no seu art. 379, (BRASIL, 1916, on-line) que tanto os filhos legítimos
como os legitimados ou adotivos estavam sujeitos ao pátrio poder até atingirem
a maioridade civil, sendo a partir daí capazes civilmente.
Essa noção de pátrio poder adveio do direito romano e foi calcado na ideia
de absoluta autoridade do pai sobre as pessoas dos filhos; no entanto, isto mudou
atualmente.
A expressão pátrio poder deixou de ser utilizada pelo Código Civil de 2002
(BRASIL, 2002, on-line), pois retrata que a prevalência das relações entre os
membros da família não está mais sob a autoridade paterna, mas sim dos pais
(pai e mãe) em condições de igualdade.
Logo, essa evolução ocorreu de forma gradativa, ao longo dos séculos,
seguindo a transformação de que a noção de poder sobre os outros, na verdade
,é de uma autoridade natural dos pais com relação aos filhos, que são pessoas

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


77

dotadas de dignidade, no melhor interesse deles e garantindo-lhes uma convi-


vência familiar (LÔBO, 2006, p. 149).
Leite (2005) destaca dois principais fatores que contribuíram para a alte-
ração dessa mentalidade: fáticos, quando houve o desaparecimento da família
patriarcal e a substituição pela família nuclear, tendo como elementos a igual-
dade e o companheirismo; e legais, quando a Constituição Federal, em seu art.
226, § 5º, estabeleceu a igualdade entre os cônjuges na administração da socie-
dade conjugal, trazendo, assim, alterações pertinentes na relação entre pais e
filhos (LEITE, 2005, p. 276).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O poder familiar está relacionado ao conjunto de direitos e deveres que a lei


atribui aos pais ao responsabilizá-los pela educação e administração dos bens dos
filhos menores, até atingirem a maioridade (CARDIN, 2012, p. 207).
Nesse sentido, Arnaldo Rizzardo afirma que:
Nesta ordem de colocação do instituto, pode-se ir além e dizer que se
trata de uma conduta dos pais relativamente aos filhos, de um acom-
panhamento para conseguir a abertura dos mesmos, que se processará
progressivamente, à medida que evoluem na idade e no desenvolvi-
mento físico e mental, de modo a dirigi-los a alcançarem sua própria
capacidade para se dirigirem e administrarem seus bens. Não haveria
tão-somente um encargo, ou um munus, mas um encaminhamento,
com o poder para impor uma certa conduta, em especial entes da ca-
pacidade relativa. Não mais há de se falar praticamente em poder dos
pais, mas em conduta de proteção, de orientação e acompanhamento
dos pais (RIZZARDO, 2004, p. 601-602).

O poder familiar deve ser entendido como uma consequência da parentalidade


e não um efeito de determinada forma de filiação, pois os pais são os defensores
e protetores naturais dos filhos, sendo também os titulares e depositários dessa
autoridade que é delegada pela sociedade e pelo Estado (LÔBO, 2006, p. 274).
De tal modo, o poder familiar “é instituído no interesse dos filhos e da família,
não em proveito dos genitores, em atenção ao princípio da paternidade res-
ponsável insculpido no art. 226, § 7º, da Constituição Federal” (GONÇALVES,
2012, p. 413).
Os pais não exercem direitos e poderes de competência privada a eles, pois
irão exercer direitos cujos titulares são os filhos; portanto, terão o direito de diri-
gir a educação e a criação dos filhos e, ao mesmo tempo, deverão assegurá-las.

Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar


78 UNIDADE II

Na impossibilidade de um dos pais exercerem o poder familiar, o Código Civil


dispõe em seu art. 1.631, que o outro exercerá com exclusividade. Ressaltando-se
que o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais
e filhos, somente quanto ao direito de os terem sem sua companhia.
Em caso de filho que não tenha o reconhecimento do pai, a mãe poderá exer-
cer com exclusividade o poder familiar, caso haja a impossibilidade de exercê-lo,
nomear-se-á um tutor para isso.
Poderão ocorrer a extinção, a suspensão e a perda do poder familiar dos
pais sobre seus filhos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A extinção está disciplinada pelo art. 1.635 do Código Civil e fundamenta-
-se em razões da própria natureza, independentemente da vontade de qualquer
dos envolvidos, pois em regra advém de alguns acontecimentos, por exemplo,
morte dos pais ou filhos, emancipação dos filhos, maioridade dos filhos, ado-
ção e por uma sentença judicial na forma do art. 1.638; ocorrerá por meio dela
a interrupção definitiva do poder familiar.
Já a suspensão do poder familiar ocorre quando existe quebra de deveres
paternais para com os filhos, de acordo com o que está disposto no art. 1.637.
Essa suspensão poderá ser por comportamento inadequado dos pais ou por um
fato involuntário (GOMES, 1991, p. 376).
Paulo Lôbo classifica em quatro as formas de suspensão do poder fami-
liar, sendo que a primeira é o descumprimento dos deveres inerentes aos pais; a
segunda se refere à ruína dos filhos; a terceira ao risco à segurança dos filhos; e a
quarta à condenação por crime com pena superior a dois anos. Não há necessi-
dade que essas causas sejam permanentes, basta que um só acontecimento possa
se repetir no futuro, causando o risco à segurança do menor e de seus haveres
(LÔBO, 2006, p. 283).
Obviamente, “havendo abuso de poder por parte dos genitores, o magistrado,
após a sua apuração, deverá suspender o poder familiar por decisão fundamen-
tada” (CARDIN, 2012, p. 214).
A perda do poder familiar enseja uma gravidade maior da conduta dos pais,
portanto, deve ser arbitrada somente quando há um perigo permanente à segu-
rança e à dignidade do filho (LÔBO, 2006, p. 284).
Cardin (2012) ensina que a perda do poder familiar desencadeia efeitos

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


79

emocionais e psicológicos aos filhos e aos pais, por isso, a lei enumera os fatos
que poderiam prejudicar o completo desenvolvimento da criança ou do adoles-
cente no art. 1.638 do Código Civil (CARDIN, 2012, p. 214).
De acordo com Pereira (2010):
A perda do poder familiar é a mais grave sanção imposta ao que falta
aos seus deveres para com o filho, ou falhar em relação à sua condi-
ção paterna ou materna. O abuso da autoridade e a falta aos deveres
inerentes à autoridade parental autorizam o Juiz a adotar medida que
lhe pareça reclamada pela segurança do filho e seus haveres, podendo
inclusive suspender suas prerrogativas (PEREIRA, 2010, p. 464).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesse sentido, ocorrerá a perda do poder familiar quando: houver o castigo imo-
derado do filho, atente-se que aqui verifica-se o limite, pois poderá haver castigo
sem excessos; deixar o filho em situação de abandono, ou seja, a criança tem o
direito de uma convivência familiar, não poderá ser abandonada ou exposta a
perigos; praticar atos imorais ou contrários aos bons costumes; e, por último,
incidir reiteradamente nas faltas do art. 1.637 do Código Civil.
Obviamente, para ter a perda do poder familiar por sentença judicial, devi-
damente fundamentada, os pais têm que cometer essas faltas constantemente,
ou seja, agir de forma reiterada.
Faz-se necessária, assim, a propositura de uma ação por uma pessoa legiti-
mada (Ministério Público) para que esse poder familiar seja suspenso ou perdido
pelo titular desse direito, cabendo a nomeação de um curador especial para
criança no curso da ação (CARDIN, 2012, p. 215).
Há duas passagens que tratam do poder familiar no ECA (BRASIL, 1990a,
on-line): o capítulo referente ao direito à convivência familiar e comunitária,
arts. 21 a 24; e o capítulo atinente aos procedimentos de perda e suspensão do
mesmo, arts. 155 a 163.
Assim como no Código Civil, o ECA dispõe que o exercício do poder fami-
liar deverá ser realizado em conjunto pelos pais durante o casamento ou a união
estável, e deu a possibilidade de que, havendo alguma divergência quanto ao
exercício, poderá qualquer um deles recorrer ao juiz para solucionar o conflito.
Ressalta-se que um novo casamento ou uma nova união estável de qualquer
um dos cônjuges ou companheiros que tiveram a primeira união desfeita pela
morte, pelo divórcio ou pela dissolução trará a extinção do poder familiar, pois

Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar


80 UNIDADE II

mesmo pais solteiros quando se casam e juntam-se com outrem não têm qual-
quer consequência para o poder familiar. O novo casamento ou união não traz
qualquer prejuízo aos filhos do leito anterior.
Nesse sentido, é evidente que, mesmo quando os pais não vivem juntos, nada
muda em relação ao poder familiar que pertence a eles, devendo estes dar con-
tinuidade no seu exercício e garantir o desenvolvimento saudável e adequado
da criança, não sendo, portanto, a convivência dos pais entre si requisito para a
titularidade do poder familiar.
Existirá, nesses casos, a imposição unilateral ou conjunta da guarda da criança.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A guarda surge como um elemento do próprio exercício do poder familiar e trata-
-se de um direito e dever dos pais, podendo ser exercido por eles ou por terceiros.
A guarda consiste num instituto jurídico advindo do poder familiar, em que
um dos pais, ou ambos, terão os encargos de cuidado, zelo, proteção e custódia
do filho. Ressalta-se que o conceito e o alcance desse instituto no ECA difere-
-se, pois a guarda inclui-se nas modalidades de famílias substitutas, juntamente
com a adoção, pressupondo a perda do poder familiar pelos pais e, por isso, é
atribuída a um terceiro (LÔBO, 2006, p. 169).
Amin (2010) adverte que a guarda é um atributo do poder familiar e como tal
caracteriza-se como um direito e um dever, não sendo só o direito que o sujeito
tem de manter o filho junto de si, mas também regulamenta as relações, repre-
senta o dever de resguardar a vida do filho, exercendo uma vigilância sobre ele,
englobando o dever de assistência e representação (AMIN, 2010, p. 95).
Ainda assevera que:
a cada genitor incumbe, portanto, o dever de saber onde, com quem e
por que o filho menor de idade está longe de suas vistas. Deve os pais
assegurar-se de que, distante dos seus olhos, o filho estará em seguran-
ça porque algum adulto o estará assistindo (AMIN, 2010, p. 96).

De acordo com o Código Civil brasileiro, a guarda poderá ser unilateral ou compar-
tilhada, tendo sido alterada a redação do art. 1.583 pela Lei n. 11.698/2008 (BRASIL,
2008a, on-line), que instituiu e disciplinou acerca da guarda compartilhada.
Assim, a doutrina classifica quatro modalidades de guarda:
a) Guarda unilateral ou exclusiva, que é a mais comum, pois um
dos pais detém exclusivamente a guarda, cabendo ao outro

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


81

direito de visitas, portanto, o filho mora com o seu guardião;


b) Guarda alternada, aquela que muitas vezes se confunde com
a guarda compartilhada, mas possui características específi-
cas. Igualmente quando for fixada, os genitores irão alternar
períodos exclusivos de guarda, cabendo o direito de visitação
ao outro. É o juiz que fixa o tempo de exercício da guarda,
no entanto, não corresponde ao melhor interesse da criança;
c) Nidação ou aninhamento é uma modalidade pouco comum, mas
frequente na Europa. Nela a criança permanece na residência em
que os pais moravam durante a união e esses revezam a com-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

panhia da mesma, o que não condiz com a realidade brasileira,


pois os genitores teriam que manter três residências, as que pos-
suíam antes da dissolução e cada um a sua própria residência;
d) Guarda compartilhada ou conjunta é a modalidade que vem
sendo mais estipulada pelos juízes, pois traz vantagens ao
desenvolvimento psicológico da criança, pois não há exclu-
sividade para seu exercício. Nela os genitores conjuntamente
detêm a guarda e são corresponsáveis pela condução da vida
do filho (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 609).

A guarda unilateral deverá ser aplicada como medida de exceção e não como regra.
E ainda deverá ser aplicada de forma temporária e em casos excepcionais, quando
um dos genitores não possa exercer a guarda (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2012, p. 606), visto que poderá trazer à prole graves riscos de nível psicológico.
A guarda compartilhada pode ser entendida como a perspectiva dos titulares do
poder familiar em manterem e exercerem a guarda conjuntamente, ainda que o vín-
culo jurídico tenha desaparecido (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 108)
Há uma unanimidade em defender a guarda compartilhada como o instituto
mais adequado, pois é ele que corresponde ao melhor interesse do menor, dando
a possibilidade de um desenvolvimento psicológico mais efetivo à criança que
sofre com a separação dos seus genitores, sendo dada, dessa forma, a oportuni-
dade de uma convivência familiar adequada mesmo com a ruptura do vínculo
entre seus genitores.
Em decorrência do poder familiar, também surgem o direito e o dever
quanto à educação dos filhos, sendo que o próprio art. 55 do ECA (BRASIL,

Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar


82 UNIDADE II

1990a, on-line) preceitua ser dever dos pais matricular seus filhos ou pupilos na
rede regular de ensino.
Assim sendo, os pais também têm o dever de dar uma educação adequada,
pois espera-se deles o exercício da parentalidade de forma responsável.
Ademais, independente de quem fique com a guarda, ambos terão o dever
de exercer o poder familiar sobre essa criança, devendo garantir seu pleno
desenvolvimento.
Para o genitor que não ficou com a guarda ou aquele que não tem a criança
em sua companhia, a lei atribui o direito de visitação e convivência, dando-lhe

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
também o dever de supervisionar e fiscalizar os interesses do filho.
Recentemente, a Lei nº. 12.398/2011 (BRASIL, 2011, on-line) incluiu o pará-
grafo único do art. 1.589 do Código Civil, estendendo o direito de visitação a
qualquer dos avós sob o critério do juiz e devendo ser observados sempre os
interesses da criança.
Não pode-se conceber que aquele que não tenha a guarda deixe de orientar
e educar seu filho, por esse motivo, em regra, os juízes estipulam períodos de
convivência longos sem qualquer prejuízo para a criança.
A melhor forma de garantir a convivência da criança com o outro genitor, com
o qual não reside ou não possui sua guarda, é garantir o direito de visitação de
forma ampla, não se devendo restringir apenas aos finais de semanas alternados.
Entretanto, quando o outro genitor, detentor da guarda ou que tem a criança
em sua companhia, não aceitou o divórcio e utiliza-se da guarda para minar
o afeto da criança referente ao outro genitor, impondo uma visão negativa do
mesmo para criança, poderá responder pela alienação parental.
Em 26 de agosto de 2010 foi publicada a Lei nº. 12.318 (BRASIL, 2010b,
on-line), que teve o intuito de proteger os direitos individuais da criança e do
adolescente, vítimas de abuso exercido pelos seus genitores. A alienação paren-
tal consiste na conduta de
interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente pro-
movida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que te-
nham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este (BRASIL, 2010, on-line).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


83

Cumpre observar que essas regras serão aproveitadas também pelo casal
homoafetivo, que deverá exercer juntamente o poder familiar e os direitos e
deveres oriundos dele, proporcionando à prole condições mínimas para o desen-
volvimento das crianças.
Destarte, todos os deveres e direitos oriundos do poder familiar devem ser
aplicados a qualquer entidade familiar, uma vez que o Código Civil e o ECA não
fazem menção ou diferenciação acerca do formato familiar apresentado.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ALIMENTOS

Os alimentos são prestações devidas para a satisfação das necessidades pesso-


ais daquele que não pode prover pelo próprio trabalho (DINIZ, 2010, p. 1201).
Assim, o pagamento desses alimentos tem o intuito de pacificação social,
sendo fundamentados pelos princípios da dignidade da pessoa humana e da
solidariedade familiar. Em sentido amplo, os alimentos compreendem as neces-
sidades vitais da pessoa, e o objetivo é fornecer alimentação, saúde, moradia,
vestuário, lazer, educação, entre outros. Estão incluídos dentro da ideia de patri-
mônio mínimo (TARTUCE, 2011, p. 1147-1148).
Como pressupostos dos alimentos, têm-se: o vínculo de parentesco, casa-
mento ou união estável, podendo ser incluída a parentalidade socioafetiva, visto
que enunciado do STJ já dá essa garantia; necessidade do alimentando ou credor;
e, por fim, a possibilidade do alimentante ou devedor (TARTUCE, 2011, p. 1148).
Em decorrência da necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante
é que se tem o que a doutrina chama do binômio necessidade versus possibilidade.
A jurisprudência vem se posicionando no sentido que os alimentos devem
ser fixados em 1/3 dos rendimentos do alimentante, não sendo obrigatória essa
imposição, pois, em caso de pessoas de baixa renda, essa fração poderá ser
diminuída, e também nos casos que haja mais filhos com genitoras diferentes
(TARTUCE, 2011, p. 1148).

Alimentos
84 UNIDADE II

Os alimentos poderão se apresentar nas seguintes espécies: os naturais,


que constituem aqueles que são destinados às necessidades primárias da vida,
como indispensáveis à subsistência; os civis são os destinados a manter a con-
dição social, inclusive a educação do alimentando; os legais decorrem de lei; os
voluntários decorrem da declaração de vontade inter vivos ou causa mortis, por
exemplo, o legado de alimentos; os indenizatórios são resultantes da responsabi-
lidade civil; os definitivos são aqueles de caráter permanente, fixados pelas partes
ou por decisão judicial definitiva; os provisórios são os fixados liminarmente
na ação de alimentos, necessitando de prova pré-constituída, devendo o juiz

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fixar os alimentos provisórios, seguindo o rito estipulado na Lei nº. 5.478/1968
(BRASIL, 1968, on-line); os provisionais são fixados por meio de uma medida
cautelar antes de uma ação principal de divórcio, nulidade ou anulabilidade de
casamento ou de extinção de união estável (GARCIA; PINHEIRO, 2014, p. 825).

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


85
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

TUTELA E CURATELA

Trata-se a tutela de um instituto de direito assistencial que visa à defesa de inte-


resses de menores não emancipados, não sujeitos ao poder familiar. O objetivo
do instituto é a administração dos bens patrimoniais do menor, na falta dos pais
que exercem o poder familiar (TARTUCE, 2011, p. 1165).
Nela há o munus público, ou seja, trata-se de uma obrigação imposta pelo
Estado com o intuito de atender aos interesses públicos e sociais. Também consti-
tui uma das formas de inserir a criança na família substitutiva, segundo o Estatuto
da Criança e Adolescente (TARTUCE, 2011, p. 1166).
A tutela poderá ser dividida nas seguintes espécies: tutela testamento, que é aquela
instituída por meio de ato de última vontade, como testamento, legado ou codicilo,
em que os pais nomeiam uma pessoa para ser tutor; tutela legítima, que consiste na

Tutela e Curatela
86 UNIDADE II

tutela instituída pela lei, está prevista no art. 1.731 do Código Civil, aos parentes con-
sanguíneos do menor; tutela dativa, na falta de uma tutela testamentária e legítima,
o juiz poderá nomear um tutor idôneo e residente no domicílio do menor.
O Código Civil estabelece quem não poderá exercer a tutela, dispondo: aque-
les que não tiverem a livre administração de seus bens; aqueles que, no momento
da instituição da tutela, forem constituídos em obrigação para com o menor ou
tiverem que fazer valer direitos contra este e aqueles cujos pais, filhos ou cônju-
ges tiverem demanda contra o menor; aqueles que forem inimigos do menor ou
de seus pais ou que tiverem sido por estes expressamente excluídos da tutela; os

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família ou
os costumes, tenham ou não cumprido pena; as pessoas de mau procedimento
ou falhas em probidade, e as culpadas de abuso em tutorias anteriores; e aqueles
que exercerem função pública incompatível com a boa administração da tutela.
Há também a possibilidade dos tutores se escusarem da tutela nos casos em
que forem mulheres casadas, maiores de sessenta anos, aqueles que tiverem sob
sua autoridade mais de três filhos, os impossibilitados por enfermidade, aque-
les que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela, aqueles que já
exercerem tutela ou curatela e militares em serviço.
São inúmeros os deveres que são impostos ao tutor, e o Código Civil esta-
belece toda a regulamentação relacionada ao exercício da tutela em seus artigos
1.740 a 1.752, e sobre a prestação de contas que está disposta nos artigos 1.755
a 1.762 do mesmo diploma.
As funções de um tutor poderá cessar em algumas situações específicas,
por exemplo, a maioridade ou a emancipação do menor; quando cair o menor
sob o poder familiar, em caso de reconhecimento ou adoção, quando expirar o
termo ao qual está obrigado a servir; quando sobrevir uma escusa legítima e ao
ser removido.
A curatela também é um instituto do direito assistencial e tem o intuito
de defender os interesses dos maiores incapazes; bem como na tutela, possui o
munus público.

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


87

Estarão sujeitos à curatela os maiores incapazes que serão representados


pelo curador para a prática dos atos da vida civil, sob pena de nulidade absoluta
do ato praticado. Nota-se que os relativamente incapazes serão assistidos nes-
ses atos, senão o ato será passível de anulabilidade (TARTUCE, 2011, p. 1.176).
Portanto, a curatela e a tutela são institutos distintos, visto que a última visa à
proteção de interesses de menores, enquanto a primeira a de maiores incapazes.
Estarão sujeitos à curatela aqueles que, por enfermidade ou deficiência men-
tal, não tiverem o necessário discernimento para praticar os atos da vida civil;
aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

os deficientes mentais; os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; os excepcio-


nais sem completo desenvolvimento mental e os pródigos.
Para que a pessoa seja sujeita à curatela deverá ser interditada, sendo que
esse processo de só poderá ser promovido pelos pais ou tutores, pelo cônjuge
ou por qualquer parente e pelo Ministério Público que agirá em caso de doença
mental grave, se não existir ou não promover a interdição das pessoas delinea-
das anteriormente ou se essas forem incapazes.
A curatela poderá ser instituída ao nascituro, no caso de morte do pai,
enquanto a mulher estiver grávida e não puder exercer o poder familiar.
Assim como na tutela, o Código Civil dos arts. 1.781 ao 1.783 regulamenta
como deve ocorrer o exercício da curatela. Dessa forma, fica evidente a diferença
entre esses dois institutos, bem como a aplicação dos mesmos.

Tutela e Curatela
88 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por muito tempo, perdurou o sistema patriarcal que só passou a ser alterado
no âmbito familiar com a Constituição Federal de 1988, que trouxe a igualdade
entre os cônjuges.
Quanto ao divórcio, a Emenda Constitucional n. 66/2010 alterou a redação
do § 6º do art. 226 da C.F., dispondo que o casamento se dissolve pelo divór-
cio, sendo extinto o instituto da separação judicial, visto que o divórcio passou
a ser direto, não precisando do tempo de separação de um ano para converter

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a separação em divórcio e de dois anos de separação de fato para o pedido do
divórcio direto.
Pela Lei nº. 11.441/2007, o divórcio passou a ter a possibilidade de ser rea-
lizado de forma extrajudicial, desde que o casal não tenha filhos menores e
incapazes, devendo ser realizado por meio de escritura pública e ser consensual
com relação a partilha de bens, pensão alimentícia e retomada de nome de sol-
teira ou conservação do nome de casada.
A união estável passou a ser reconhecida enquanto entidade familiar a par-
tir da Constituição de 1988, sendo que a primeira lei a discipliná-la foi a de n.
8.971/1994 (BRASIL, 1994, on-line), posteriormente a Lei nº. 9.278/1996 (BRASIL,
1994, on-line), que disciplinou de forma mais abrangente essa entidade fami-
liar; e, finalmente, o Código Civil de 2002 permitiu a conversão em casamento
,desde que configurada a convivência pública, contínua, duradoura e estabele-
cida com o objetivo de constituir família.
A parentalidade responsável e o poder familiar também dá ensejo a diversos
direitos e deveres na realização do projeto parental desse casal, ou seja, o exercí-
cio da paternidade responsável terá reflexos diretos na maneira como estão sendo
concretizados o poder familiar, a guarda e, até mesmo, a visitação da criança.
Assim, o poder familiar deve ser entendido como uma consequência da
parentalidade e não como um efeito de determinada forma de filiação, pois os
pais são os defensores e protetores naturais dos filhos, sendo também os titula-
res e depositários dessa autoridade que é delegada pela sociedade e pelo Estado.

RELAÇÕES FAMILIARES: NOÇÕES GERAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA


89

1. Quais os princípios basilares do Direito de Família?


2. Quais os efeitos principais que decorrem do casamento?
3. Atualmente, como pode se dar o divórcio?
4. Quais os deveres dos cônjuges que advêm do casamento?
5. Quais as espécies de alimentos dos quais o Direito de Família dispõe?
Explique-as.



















90

DO DIVÓRCIO NA ATUALIDADE

Valéria Silva Galdino Cardin1*

A Emenda constitucional nº 66/2010 O abandono voluntário do lar conjugal


suprimiu a separação judicial. Hoje, por lapso temporal significativo, sem
temos apenas em que um dos cônju- motivo justificado, pode ser invocado no
ges pode ingressar independente de divórcio também, uma vez que é dever
qualquer lapso temporal e sem que seja dos cônjuges viver no mesmo domicílio
necessário apresentar as causas que o conjugal e manter relações sexuais. Toda-
motivaram, mas também há a possi- via, tal dever não é absoluto, uma vez
bilidade de se discutir a culpa quando que aqueles podem residir em cidades
houver infração dos deveres conjugais. diferentes em decorrência de atividade
laborativa.
O adultério pode se alegado no término
do casamento, mas a infidelidade virtual A mútua assistência também constitui
não caracteriza aquele, porque é neces- um dos deveres dos cônjuges e diz res-
sário provar que ocorreram relações peito aos cuidados que um cônjuge deve
sexuais extraconjugais. A conduta deson- dispensar ao outro, como proporcionar
rosa também pode ser alegada e ocorre, alimentos, vestuário, medicamentos,
por exemplo, quando um dos cônjuges transporte, lazer etc. conforme o padrão
menospreza os entes familiares do outro, social e econômico e também em caso
utiliza drogas, prática lenocínio ou outros de doença.
crimes, se embriaga, se recusa em pagar
débitos da família, não trabalha etc. Caso um dos consortes atente contra
a vida do outro, mesmo não se consu-
A injúria, que consiste em atentar a honra mando, motiva a decretação do divórcio
do outro cônjuge, bem como a sevícia litigioso, além da responsabilidade civil
(maus tratos), configura o descumpri- e penal.
mento do dever de mútua assistência
e também enseja o divórcio. Contudo, Assim, se houver a infração dos deveres
é fundamental que seja avaliada a gra- conjugais a culpa deverá ser apreciada
vidade e a intensidade da injúria, bem na própria ação de divórcio sendo pas-
como a condição social das pessoas sível de reparação civil por danos morais
envolvidas, o grau de educação e o em outra ação, quando expor o côn-
ambiente em que vivam. Não é neces- juge ofendido a uma situação vexatória.
sário que haja publicidade. O cúmplice do adúltero pode vir a res-

Advogada em Maringá-PR, professora da Universidade Estadual de Maringá e do Centro Universitário


1*

de Maringá-PR; mestre e doutora em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo; pós-doutora em Direito pela Universidade de Lisboa. Endereço eletrônico: <valeria@galdino.
adv.br>. Artigo publicado na Revista Rose Ortega, Maringá, p. 22 - 23, 01 dez. 2012.
91

ponder também por danos morais se Poderá ser utilizada ainda a medida cau-
provocar danos ao cônjuge ofendido. telar de separação de corpos quando um
dos cônjuges expor o outro em risco ou
O foro competente do divórcio é o da os filhos. Nesta hipótese, após 30 dias de
residência da mulher, se houver filhos em concessão da liminar, caberá ao reque-
comum e ela estiver com a guarda deles. rente propor a ação de divórcio. Além
da separação de corpos é possível a uti-
As pessoas que se encontram judicial- lização da Tutela Antecipada para arrolar
mente separadas com o advento desta bens no caso de ameaça de dissipação
emenda não se tornam imediatamente dos bens comuns, assim como o pleito de
divorciadas, sendo necessário o pedido alimentos para a manutenção dos entes
de decretação daquele, independente- familiares dependentes.
mente de qualquer prazo.
O cônjuge “culpado” poderá perder o
O divórcio pode ser realizado extrajudi- direito de usar o patronímico do outro,
cialmente, ou seja, no Cartório, desde quando expor o sobrenome do outro há
que seja consensual e os filhos sejam uma situação vexatória.
maiores.
Por fim, o melhor é que o casal se divorcie
É possível ainda que os ex-cônjuges acei- da forma consensual para a preservação
tem o divórcio e continuem a discutir do convívio familiar, mas caso não seja
outras questões, como por exemplo, a possível, admite-se a discussão da culpa
guarda dos filhos, o exercício do direito quando houver infração dos deveres con-
de visita, o quantum dos alimentos etc. jugais ou qualquer outra conduta que
torne insuportável a vida em comum,
Há, ainda, a possibilidade de o alimen- caso contrário teríamos a instituciona-
tante ingressar com a ação de prestação lização da irresponsabilidade pessoal
de contas com o intuito de fiscalizar se a que deixou de ser um dever meramente
pensão está sendo utilizada em prol do moral, quando o legislador dispôs no
melhor interesse do menor. Código Civil os deveres de ambos os
cônjuges.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual de Direito Civil


Flávio Tartuce
Editora: Forense
Sinopse: o trabalho condensa os principais posicionamentos do
autor a respeito das categorias jurídicas, expondo as doutrinas
clássica e contemporânea. Traz também comentários sobre todos
os enunciados doutrinários aprovados nas Jornadas de Direito Civil,
eventos históricos promovidos pelo Conselho da Justiça Federal
e pelo Superior Tribunal de Justiça entre os anos de 2002 e 2013, dos quais o autor participou. Tais
exposições vêm acompanhadas dos entendimentos sumulados e ementados pelos Tribunais brasileiros,
notadamente da mais recente jurisprudência superior. O livro apresenta enfoque interdisciplinar e
multicultural, com interações com outros ramos jurídicos, como o Direito Constitucional e o Direito
do Consumidor. Estão expostas as grandes teses do Direito Civil Contemporâneo, tais como a teoria
do diálogo das fontes, o Direito Civil Constitucional, os princípios do Código Civil de 2002, a eficácia
horizontal dos direitos fundamentais, as eficácias interna e externa da função social do contrato, os
conceitos parcelares da boa-fé objetiva (supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli, venire contra
factum proprium e duty to mitigate the loss), a função social da posse, a função social e socioambiental
da propriedade, as novas entidades familiares, a parentalidade socioafetiva, as principais controvérsias
da sucessão legítima, entre outros. Nota-se, assim, uma interação contínua entre teoria e prática, entre
as categorias da civilística contemporânea e sua efetividade.

Princípios Constitucionais de Direito de Família:


Guarda Compartilhada à Luz da Lei n. 11.698/08:
família, criança, adolescente e idoso
Guilherme Calmon Nogueira Gama
Editora: Atlas
Sinopse: de acordo com a constitucionalização do Direito Civil,
as famílias não são mais tuteladas em si mesmas, mas é enquanto
instrumentos voltados ao cumprimento do projeto constitucional
de sociedade civil. A dignidade da pessoa humana, colocada no ápice do ordenamento jurídico,
encontra na família o solo apropriado para o seu enraizamento e desenvolvimento. O autor adotou
a metodologia civil-constitucional na abordagem dos princípios de Direito de Família, tratando-se
de orientação que condiz com os novos tempos relacionados à concretização dos fundamentos e
objetivos da República Federativa do Brasil, além de haver apontado especial aplicação aos integrantes
mais vulneráveis das entidades familiares, justamente as crianças, os adolescentes e os idosos.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual de Direito das famílias


Maria Berenice Dias
Editora: Revista dos Tribunais
Sinopse: por mais piegas que possa parecer, todos vivem na busca
da felicidade. E por mais que tente, o legislador não consegue
impor modelos de comportamento. As pessoas, seus sonhos,
suas vidas, tudo muda, e não há como a lei não acompanhar essas
mudanças. É difícil dizer se é a sociedade que traz reflexos nas
relações familiares ou se são as mudanças no âmbito da família que levam à evolução da sociedade.
contudo ninguém duvida que ocorreu uma evolução — quase uma revolução — significativa. Antes
se valorizava muito mais a família, tanto que sua manutenção era imposta pela lei. Basta lembrar que o
casamento era indissolúvel.

A Separação
Sinopse: Nader e Simin divergem sobre a possibilidade de deixar o
Irã. Simin quer deixar o país para dar melhores oportunidades a sua
filha, Termeh. Nader, no entanto, quer continuar no Irã para cuidar
de seu pai, que sofre do Mal de Alzheimer. Chegam à conclusão de
que devem se separar, mesmo ainda estando apaixonados. Sem
uma esposa para cuidar da casa, Nader contrata uma empregada
para ser responsável pelos afazeres domésticos e por tratar da
rotina de seu pai. A empregada, que está grávida, aceita o trabalho
sem avisar o seu marido.

A Busca
Sinopse: Theo Gadelha (Wagner Moura) e Branca (Mariana Lima)
são casados e trabalham como médicos. O casal tem um filho,
Pedro (Brás Antunes), que desaparece quando está perto de
completar 15 anos. Para piorar a situação, Theo fica sabendo
que Branca quer se separar dele e que seu mentor (Germano
Haiut) está à beira da morte. Theo sai em busca do filho sumido
e aproveita a viagem para se redescobrir.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

AMIN, A. R. Evolução histórica do direito da criança e do adolescente. In: MACIEL, K.


R. F. L. A. (coord.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos
e práticos. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
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titucionais. Presidência da República, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 23 ago. 2017.
______. Emenda Constitucional n° 66, de 13 de julho de 2010. Dá nova redação
ao § 6º do art. 226 da Constituição Federal, que dispõe sobre a dissolubilidade do
casamento civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia separação judicial
por mais de 1 (um) ano ou de comprovada separação de fato por mais de 2 (dois)
anos. Presidência da República, 2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc66.htm>. Acesso em: 23 ago. 2017.
______. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Presi-
dência da República, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, possibilitando a realização de
inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via administra-
tiva. Presidência da República, 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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______. Lei n° 11.698, de 13 de junho de 2008. Altera os arts. 1.583 e 1.584 da
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e disciplinar
a guarda compartilhada. Presidência da República, 2008a. Disponível em: <http://
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rental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Presidência da
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inciso VII do art. 888 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil, para estender aos avós o direito de visita aos netos. Presidência da República,
2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/
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95
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do Adolescente e dá outras providências. Presidência da República, 1990a. Disponível
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pública, 2008b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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WALD, A. O novo direito de família. São Paulo: Saraiva, 2002.
97
GABARITO

1. Princípio da dignidade da pessoa humana; da solidariedade familiar; da igualda-


de entre os cônjuges e companheiros; da igualdade dos filhos; do melhor inte-
resse da criança e do adolescente; da afetividade; da monogamia; do pluralismo
familiar; da parentalidade responsável e do planejamento familiar.
2. O casamento estabelece o estado de casados entre os cônjuges, existindo uma
presunção de paternidade inicial, fidelidade recíproca, vida em comum e domi-
cílio conjugal, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos, respei-
to e consideração mútuos.
3. O divórcio passou a ser direto, não precisando do tempo de separação de um
ano para converter a separação em divórcio e de dois anos de separação de fato
para o pedido do divórcio direto. O divórcio passou a ter a possibilidade de ser
realizado de forma extrajudicial, desde que o casal não tenha filhos menores e
incapazes, devendo ser realizado por meio de escritura pública e ser consensual
com relação à partilha de bens, pensão alimentícia e retomada de nome de sol-
teira ou mantendo o nome de casada.
4. O casamento estabelece a comunhão de vida plena entre os cônjuges e, assim,
com o ato também surge uma série de direitos que os cônjuges deverão cum-
prir uns com os outros, por exemplo, a fidelidade recíproca, vida em comum e
domicílio conjugal mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos e
respeito e consideração mútuos.
5. Os alimentos poderão se apresentar nas seguintes espécies: os naturais, que
constituem aqueles que são destinados às necessidades primárias da vida, como
indispensáveis à substância; os civis, que são os destinados a manter a condição
social, inclusive a educação do alimentando; os legais, que decorrem de lei; os
voluntários decorrem da declaração de vontade inter vivos ou causa mortis, como
o legado de alimentos; os indenizatórios são resultantes da responsabilidade ci-
vil; os definitivos são aqueles de caráter permanente, fixados pelas partes ou por
decisão judicial definitiva; os provisórios são os fixados liminarmente na ação de
alimentos, necessitando de prova pré-constituída, devendo o juiz fixar os ali-
mentos provisórios, seguirá o rito estipulado na Lei n. 5.478/1968; os provisio-
nais são fixados por meio de uma medida cautelar, antes de uma ação principal
de divórcio, nulidade ou anulabilidade de casamento ou de extinção de união
estável (GARCIA; PINHEIRO, 2014, p. 825).
Professora Me. Letícia Carla Baptista Rosa
Professora Me. Mariane Helena Lopes

QUESTÕES ATUAIS

III
UNIDADE
RELACIONADAS À FAMÍLIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Definir a proteção dos direitos da criança e do adolescente por meio
do Estatuto da Criança e do Adolescente, delineando seus conceitos
básicos, princípios e direitos básicos.
■■ Diferenciar e tratar alguns aspectos dos direitos das mulheres,
delineando os principais aspectos da Lei Maria da Penha.
■■ Estudar algumas questões relacionadas ao direito do idoso,
ressaltando as especificações do Estatuto do Idoso.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Direitos da criança e do adolescente: Estatuto da Criança e do
Adolescente
■■ Direitos humanos das mulheres: Lei Maria da Penha
■■ Direitos do idoso: Estatuto do Idoso
101

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade discutiremos pontos específicos ligados ao


Direito de Família e que temos contato no nosso dia a dia. São questões rotinei-
ras e que, constantemente, nos deparamos com alguém nesse tipo de situação.
Por essa razão, separamos os tópicos que seriam mais interessantes para análise.
No decorrer da unidade, um tópico tratará dos direitos humanos das crianças
e dos adolescentes e sua regulamentação, delineando as principais disposi-
ções do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como de alguns Tratados
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Internacionais que contribuíram para a tutela destes. Sendo assim, será abor-
dado, principalmente, o que significa a parentalidade responsável e suas nuances.
No que diz respeito à criança e ao adolescente, é de suma importância com-
preendermos que estes indivíduos, apesar de serem protegidos pelo mesmo
Estatuto, são sujeitos diferentes para o Direito e, por essa razão, também são tra-
tados de forma diferentes pela lei. Um dos casos que os diferenciam diz respeito
à idade dos sujeitos, que veremos no decorrer do nosso estudo.
Pretende-se demarcar a abrangência da teoria da proteção integral, espe-
cificando o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, alguns
direitos fundamentais e alguns instrumentos de proteção da criança e do
adolescente.
Outro assunto polêmico a ser tratado está relacionado à proteção dos direi-
tos humanos da mulher. Diante da ainda presente desigualdade de gêneros entre
os sexos, e apesar de todas as campanhas, é crescente o número de violência
doméstica praticada contra a mulher.
Serão apresentados também alguns campos de abrangência da Lei Maria da
Penha, apontando algumas formas de violência que podem ser cometidas con-
tra a mulher.
Por fim, serão apresentados os aspectos da tutela jurídica dada pelo Estatuto
do Idoso às pessoas com 60 anos ou mais, pontuando alguns aspectos gerais dessa
proteção e a discussão que a envolveu.

Introdução
102 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Aqui, analisaremos os direitos ligados à criança e ao adolescente, uma vez que


estes merecem uma proteção maior do Direito por serem vulneráveis. Por essa
razão, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) merece uma análise mais
aprofundada.

CONCEITOS BÁSICOS

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a lei que veio regulamentar a


proteção para as crianças e os adolescentes e traz o conceito de quem pode ser
considerado pela lei como uma criança ou um adolescente. Crianças são os indi-
víduos de zero até doze anos incompletos, enquanto os adolescentes são os que
têm entre doze e dezoito anos de idade (BRASIL, 1990, on-line).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


103

Salienta-se que o ECA traz expressamente que os direitos fundamentais ine-


rentes à pessoa humana abrangem como titulares as crianças e os adolescentes,
também considerados sujeitos de direitos e obrigações e que passaram a ter do
Estado a proteção integral.
Houve, recentemente, uma alteração realizada pela lei nº. 13.010/2014 (“Lei
Menino Bernardo”) (BRASIL, 2014, on-line)no ECA, na qual a aplicação do cas-
tigo físico - caracterizado pela ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada
com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que possa resultar em
sofrimento físico ou lesão poderá sujeitar o autor da agressão a medidas pre-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vistas na referida lei. Procede-se da mesma forma com o tratamento cruel ou


degradante, caracterizado pela conduta ou pela maneira cruel de tratamento
que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou ao adolescente
(BRASIL, 1990, on-line).
Também está no ECA o conceito de ato infracional, sendo considerada a
conduta descrita como crime ou contravenção penal realizada por uma criança
ou adolescente (BRASIL, 1990, on-line). Portanto, a criança e o adolescente tec-
nicamente não praticam crime ou contravenção e, sim, ato infracional.
Nesse sentido, o ECA se transforma em um importante instrumento de pro-
teção da criança e do adolescente, que recebe atualizações constantemente, no
intuito de melhorar a estrutura do cuidado e da proteção que o Estado, a famí-
lia e a sociedade devem a esses seres humanos em desenvolvimento.

PARENTALIDADE RESPONSÁVEL

Somente com a Constituição Federal de 1988 que o planejamento familiar alçou


o status constitucional, em seu § 7º do art. 226, podendo ser exercido por qual-
quer pessoa livremente, com fundamento nos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável.
Logo, a Constituição atrelou o exercício livre do direito ao planejamento
familiar, desde que fossem observados os princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável, com observância da utilização de recur-
sos educacionais e científicos para sua realização.

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


104 UNIDADE III

Trata-se de um direito de origem governamental, dotado de natureza pro-


mocional, não coercitiva, orientado por ações preventivas e educativas e por
garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponí-
veis para a regulação da fecundidade, em nada dispondo sobre qualquer proibição
ou restrição referente à orientação sexual do indivíduo (CARDIN; RUIZ, 2010).
Essa atuação estatal exigiu uma dupla função: a) a preventiva, quando se busca
a informação, o ensino e a educação das pessoas acerca de métodos, recursos e
técnicas para o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos; e b) a promocional,
quando emprega os recursos e conhecimentos científicos para que as pessoas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
exerçam os direitos reprodutivos e sexuais, já educados com relação às formas
e instrumentos possíveis (GAMA, 2003, p. 448).
Para Diniz (2014), o planejamento familiar é um direito reprodutivo básico
a todos os casais e indivíduos que poderão decidir, de forma livre, o número de
filhos, o tempo e intervalos entre os nascimentos destes, e para isso dispõem de
informações e dos meios que puderem utilizar na realização desse projeto e alcan-
çar o nível mais elevado de saúde sexual e reprodutiva (DINIZ, 2014, p. 140-143).
No Brasil, o direito ao planejamento familiar traz ínsito nele essa dupla fei-
ção, compreendendo o direito de procriar em âmbito negativo e positivo. No
entanto, predominam as ações voltadas para a anticoncepção, pois as políticas e
os planos do governo são, em regra, voltados para o aspecto negativo do plane-
jamento familiar (BARBOZA, 2009, p. 161).
Nesse sentido, Barboza (2009) adverte que a Constituição Federal assegurou
a autonomia reprodutiva e o acesso às informações e meios para sua efetivação,
integrando as ações de atendimento global e integral à saúde que obriga ao SUS,
em todos os níveis, garantir um programa que inclua atividades básicas, como a
assistência à concepção e contracepção, e que sejam direcionados para o exercício
do planejamento familiar todos os métodos e técnicas de concepção cientifica-
mente aceitos, desde que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas,
garantindo a liberdade de opção (BARBOZA, 2009, p. 160-161).
Gama (2003) destaca que o planejamento familiar exige:
[...] por óbvio, prévia educação e informação às pessoas acerca das op-
ções e mecanismos de controle da fecundidade. Há nítida conexão en-
tre os aspectos políticos, econômicos, sociais e familiares no que tange

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


105

o planejamento familiar. Com base na informação, no aconselhamento,


no acompanhamento da postura reprodutiva, é perfeitamente possível
que as pessoas passem a assimilar a concepção de que cabe a elas, na
sua privacidade, a possibilidade de livre decisão quanto ao número de
filhos, espaçamento entre eles (GAMA, 2003, p. 444).

Por meio do planejamento familiar, o Estado transferiu a responsabilidade de edu-


car e profissionalizar o filho à família, mas assumiu o dever de propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito (REIS, 2008, p. 425).
A Lei nº. 9.263/1996 regulamentou o planejamento familiar no Brasil, esta-
belecendo em seu art. 2º que:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

[...] entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de


regulação da fecundidade que garanta direito igual de constituição, li-
mitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.
É considerado um ato consciente de escolher entre ter ou não filhos de
acordo com seus planos e expectativas (CARDIN, RUIZ, 2010).

Essa lei inovou quando direcionou as normas de planejamento familiar não somente
ao casal, mas também ao homem e a mulher individualmente considerados, assegu-
rando o exercício desse direito pela família monoparental no art. 3º e autorizando,
no art. 9º, que, para o exercício daquele, serão oferecidos métodos de reprodução
assistida, não fazendo qualquer referência quanto à orientação sexual das pessoas.
No art. 3º da lei, há a menção de que “o planejamento familiar é parte inte-
grante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro
de uma visão de atendimento global e integral à saúde”; portanto, acarretando ao
que está disposto o art. 196 da Constituição Federal, em que a saúde é direito de
todos sem qualquer distinção, sendo dever do Estado garantir o seu acesso univer-
sal e promover ações de proteção e recuperação da mesma (GAMA, 2003, p. 449).
O Código Civil tratou do planejamento familiar no § 2º do art. 1.565 de
maneira superficial, nele dispôs que tal planejamento é um encargo assumido
tanto pelo homem quanto pela mulher quando da formação de uma família,
sendo de livre decisão do casal, cabendo ao Estado propiciar recursos educacio-
nais para o adequado exercício desse direito, sendo vedada a coerção de qualquer
instituição pública ou privada.
Logo, a ninguém é dado o direito de decidir o que deve ser deliberado pelo
casal conjuntamente, trata-se de uma decisão personalíssima deles, vedando-se

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


106 UNIDADE III

qualquer forma de coerção, seja de natureza pública ou privada (REIS, 2008, p. 427).
Complementando, Reis (2008) ainda adverte que esse direito ao planeja-
mento familiar é:
[...] um direito personalíssimo dos consortes. Deve ser uma decisão co-
erente e consciente de duas pessoas – não é, nem poderá ser unilateral
– “O planejamento familiar é de livre decisão do casal...” (art. 1.565, § 2º
do CC). A liberdade e autonomia do casal, prescrita pelo texto do Código
Civil é direito de personalidade, que são intransferíveis e irrenunciáveis,
a teor do contido no artigo 12 do referido códex. Sendo direito pessoal,
não poderá ser conspurcado pela intervenção de terceiros, quem quer

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que seja, instituição privada ou pelo próprio Estado (REIS, 2008, p. 427).

Portanto, o ato da geração deverá ser uma decisão plural, e também há de vir
inspirado nos ideais de fraternidade, solidariedade, amor e também responsa-
bilidade (REIS, 2008, p. 428).
A lei tem o claro propósito de que a paternidade seja exercida de forma res-
ponsável, porque somente assim todos os princípios fundamentais, como a vida,
a saúde, a dignidade da pessoa humana e a filiação serão respeitados.
O planejamento familiar é um direito garantido pela atual Constituição
Federal no § 7º do art. 226, que deve ser exercido com fundamento nos princí-
pios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável.
A paternidade responsável é um princípio constitucional assegurado no §
7º do art. 227 da Constituição Federal, nos arts. 3º e 4º do Estatuto da Criança
e do Adolescente e no inc. IV do art. 1.566 do Código Civil, devendo ser obser-
vada independentemente de qualquer coisa.
Qualquer cidadão, independente do seu estado civil e da sua orientação
sexual, tem o direito de realizar o seu projeto parental de forma livre, ou seja,
escolher o número de filhos que deseja ter, optar pelas técnicas de reprodução
assistida, ainda que não seja estéril ou infértil e de como será exercida sua paren-
talidade (ROSA; CARDIN, 2012).
Pode-se conceituar a parentalidade responsável como a obrigação que os
pais têm de prover a assistência moral, afetiva, intelectual, material, espiritual e
de orientação sexual aos filhos (ROSA; CARDIN, 2012).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


107

O planejamento familiar associado à parentalidade responsável compreende


não só decidir o número de filhos, mas também aumentar o intervalo entre as
gestações, utilizar as técnicas de reprodução assistida como último recurso à pro-
criação, não praticando a seleção de embriões com finalidades eugênicas para
escolha de atributos físicos, bem como suprimir a filiação por meio da monopa-
rentalidade, dentre outros direitos e obrigações (ROSA; CARDIN, 2012).
A postura da Constituição Federal demonstra que o caráter do livre plane-
jamento familiar estimula a paternidade responsável, pois exige que o casal ou
a pessoa esteja consciente do ato de planejar a família, o que implica, necessa-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

riamente, em recursos de natureza física, social e econômica; portanto, traz aos


consortes uma responsabilidade social (REIS, 2008, p. 423).
Reconhece-se como absoluto o direito ao planejamento familiar, sendo
somente limitado seu exercício pela inobservância da parentalidade responsá-
vel e do princípio da dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, Moraes (1980) afirma que:
Ao estabelecer como dever de ambos os cônjuges sustentar, guardar e
educar os filhos, é claro que o legislador brasileiro aí estatui um princí-
pio inequívoco de planejamento familiar: não devem os pais ter filhos
sem quaisquer limitações, mas tê-los tantos quantos possam sustentar,
guardar e educar. Estas três obrigações legais só poderão ser cumpridas
se os cônjuges tiverem em conta os recursos de que necessitam para a
sua nobre missão.

[...]

É ensino claro do que se tem denominado paternidade responsável: se


os recursos e as condições biológicas permitem ter dez ou doze filhos,
que sejam estes trazidos à vida. Mas se escasseiam aqueles, ou as pró-
prias condições de saúde contraindicam, é dever dos cônjuges limitar a
prole ao número de filhos que podem honestamente sustentar, guardar
e educar (MORAES, 1980, p. 29).

Ressalta-se que, quando a Constituição Federal atual instituiu o princípio da


paternidade responsável, objetivando a tutela da convivência familiar e a efetiva-
ção do princípio da proteção integral da criança, trouxe como dever da família,
da sociedade e do Estado assegurar às crianças a convivência familiar, velando
para que não sofram nenhuma forma de negligência, de discriminação, de explo-
ração, de violência ou de crueldade.

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


108 UNIDADE III

Portanto, a parentalidade responsável deverá ser exercida desde a concepção


do filho, independente dele ser biológico ou socioafetivo, e traz inserida nela a
responsabilidade pela realização do projeto parental.
É por isso que esse princípio deve ser observado juntamente com o princí-
pio da dignidade humana, visto que essa responsabilidade deverá ser ressalvada
tanto na formação quanto na manutenção da família, pois esta deve sempre
buscar um ambiente propício para que seus membros possam se desenvolver
saudavelmente e se realizar enquanto pessoa.
Gama (2008) faz uma crítica à expressão “paternidade responsável”, que pode

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
não abranger o conteúdo material do § 7º do art. 226 da Constituição Federal,
pois ao se referir à paternidade, olvida-se a maternidade, limitando-se o enten-
dimento desse princípio somente à linha paterna. Deve-se realizar um exame
mais aprofundado, permitindo a conclusão de que o constituinte disse menos
do que queria ou ao menos deveria dizer, provavelmente por ter sido induzido
em equívoco diante da tradução do termo “parental responsability”. Assim, sem
o cuidado que se deveria ter na tradução da expressão para o Direito brasileiro,
o constituinte empregou o termo “paternidade responsável”, que deveria ter sido,
na realidade, “parentalidade responsável” (GAMA, 2008, p. 30-31).
Destaca também que a ideia do termo “parentalidade responsável” traz
ínsita a noção de que corresponde às consequências do exercício dos direitos
reprodutivos pelas pessoas no Direito de Família, relacionando-se aos vínculos
paterno-materno-filiais (GAMA, 2008, p. 30-31).
A parentalidade responsável representa os deveres parentais em decorrên-
cia dos resultados do exercício dos direitos reprodutivos, independentemente de
a procriação ocorrer por processo natural ou por meio de técnicas de reprodu-
ção assistida. Há, nesse dever, a responsabilidade individual e social das pessoas
do homem e da mulher quando exerce sua sexualidade e o direito de procriar
gerando uma nova vida. E, ainda, o direito individual da mulher de exercer sua
sexualidade e optar pela maternidade contrapõe-se às responsabilidades indivi-
duais e sociais que assume ao se tornar mãe, da mesma forma como ocorre com
o homem (GAMA, 2008, p. 30-31).
Portanto, há na parentalidade responsável um compromisso individual e
social tanto da mulher quanto do homem, que, no exercício das suas liberdades

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


109

ínsitas à sexualidade e à procriação, têm a possibilidade de gerar uma nova vida,


devendo ser priorizado seu bem-estar físico, psíquico e espiritual, reconhecendo
todos os seus direitos fundamentais, e ao mesmo, tempo constituindo responsa-
bilidades nas relações paterno-filiais (GAMA, 2003, p. 454).
Reis (2008) destaca que:
[...] não importa a dimensão dos riscos e problemas que advirão, o que
conta é a responsabilidade dos pais em relação a ele, em decorrência da
livre escolha que fizeram no âmbito do poder familiar. Por essa razão,
sempre haverá que ser uma decisão de risco, em que predominam a in-
certeza e a insegurança sobre o futuro do filho gerado, bem como, os
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sacrifícios que resultaram desse processo de escolha do casal. Na socie-


dade moderna, em que os direitos e obrigações do casal foram consti-
tucionalmente igualizados não há mais espaço para uma maternidade
responsável senão e, igualmente, uma paternidade do mesmo sentido
responsável. O dever de formar cidadão no seio da família não é tare-
fa relegada exclusivamente destinada a mãe geradora do filho, senão no
mesmo sentido, ao pai que foi a causa de sua geração – dupla responsabi-
lidade, em que as tarefas diárias decorrentes dos cuidados e educação do
filho devem ser repartidas entre os consortes (REIS, 2008, p. 427-428).

Também busca-se o alcance da paternidade responsável por uma ótica do cui-


dado, que caracteriza-se ontologicamente e em sua concepção filosófica como a
existência do próprio homem, constituindo, assim, um dos valores jurídicos que
legitima o estabelecimento de direitos e deveres inerentes às relações de natu-
reza familiar (BARBOZA, 2009, p. 86).
O cuidado poderá ser definido com uma conduta em relação ao outro, ou
seja, “um modo-de-ser mediante o qual a pessoa sai de si e se centra no outro com
desvelo e solicitude”. Nele está inserida a noção de desvelo, solicitude, diligência,
zelo, atenção, bom trato e de responsabilidade, em que as pessoas relacionam-
-se e o ser humano vai construindo o próprio ser, a autoconsciência e a própria
identidade (BARBOZA, 2009, p. 86).
Pode, até mesmo, ser reconhecido como um valor implícito ao ordenamento
jurídico, pois o cuidado está vinculado às relações de afeto, de solidariedade e
de responsabilidade não só em âmbito familiar. Portanto, o cuidado conduz a
compromissos efetivos e ao envolvimento necessário com o outro, por meio de
uma norma ética da convivência. Também poderá ser entendido como um valor
informador da dignidade da pessoa humana e da boa-fé objetiva, pois terá uma

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


110 UNIDADE III

função na interpretação e aplicação das normas jurídicas (BARBOZA, 2009, p. 86).


A ministra Nancy Andrighi, em decisão proferida em 2012, destacou que:
Vê-se hoje nas normas constitucionais a máxima amplitude possível e,
em paralelo, a cristalização do entendimento, no âmbito científico, do
que já era empiricamente percebido: o cuidado é fundamental para a
formação do menor e do adolescente; ganha o debate contornos mais
técnicos, pois não se discute mais a mensuração do intangível – o
amor – mas, sim, a verificação do cumprimento, descumprimento,
ou parcial cumprimento, de uma obrigação legal: cuidar.

Negar ao cuidado o status de obrigação legal importa na vulneração da

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
membrana constitucional de proteção ao menor e adolescente, crista-
lizada, na parte final do dispositivo citado: “[...] além de colocá-los a
salvo de toda a forma de negligência [...]”. [...]

Aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica


e legal de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das
pessoas de gerarem ou adotarem filhos. [...]

Em suma, amar é faculdade, cuidar é dever (BRASIL, 2012). [grifo


nosso]

Verifica-se que, em regra, cabem aos genitores os papéis de pais, devendo estes
cuidar para que seus encargos não se limitem ao aspecto material, ao sustento.
Alimentar o corpo sim, mas também cuidar da alma, da moral e do psíquico.
Essas são as prerrogativas do poder familiar (SILVA, 2004, p. 124).
Dessa parentalidade responsável decorrerá o poder familiar, que se caracte-
riza como um munus público, imposto pelo Estado aos pais, a fim de que zelem
pelo futuro de seus filhos. Tal poder familiar é instituído no interesse dos filhos
e da família (GONÇALVES, 2012, p. 413).
Também como desdobramento da parentalidade responsável surge a questão
da alienação parental, fenômeno presente na família pós-moderna. A prática da
alienação parental poderá ocorrer quando, no intuito de manter a aliança e união
com o genitor alienador, o filho acaba desvinculando-se afetivamente do genitor
alienado, acreditando em todas as coisas ditas pelo alienador, chegando, inclusive,
a confundir as noções de realidade e fantasia com a chamada implantação de fal-
sas memórias.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


111

Em regra, a alienação parental ocorre quando um dos pais não consegue


elaborar adequadamente o luto da ruptura do vínculo matrimonial, desencade-
ando um processo de desmoralização e de descrédito do outro que não detém a
guarda, e a criança se torna instrumento de vingança (CARDIN; RUIZ, 2010).
É justamente a partir desse momento que a família, que deveria ser sinônimo
de um reduto de afetividade, passa a dar lugar a sentimentos subalternos, como
os de deslealdade, frieza, egoísmo, ódio e abandono, desencadeando a prática da
alienação parental. Essas condutas são praticadas de forma reiterada, o que traz
uma dificuldade e violação ao normal desenvolvimento da criança, visto que,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

muitas vezes, é praticada em plena fase de desenvolvimento da personalidade


dela, trazendo malefícios que carregará para o resto de sua vida.
Por fim, sendo a parentalidade responsável uma limitação ao livre exercício
do direito ao planejamento familiar que deve ser observada juntamente com o
princípio da dignidade da pessoa humana, não há como não reconhecer o dever
de cuidado como um desdobramento da mesma tanto com relação ao abandono
afetivo como em relação à alienação parental.

DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

Somente com a criação do primeiro Juizado de Menores, em 1924, e seguindo


tendências da Europa e da América do Norte é que se passou a verificar a neces-
sidade não apenas de uma instância própria para menores, mas também de
uma legislação criada especialmente para regulamentar as situações em que
os envolvessem; sendo assim, a partir de 1927, é promulgado o Decreto nº.
17.943, de 12 de outubro, que constituiu o primeiro Código de Menores brasi-
leiro (VERONESE, 1997).
O Código de Menores corporificou as leis e decretos que tratavam dos
menores, incluindo e alterando algumas concepções, como o discernimento, a
culpabilidade e a responsabilidade, disciplinando, também, sobre a assistência
à infância, dando a ela um caráter educacional (VERONESE, 1997, p. 10-11).
Esse diploma não considerou criminoso o menor de 14 anos e manteve as
medidas direcionadas aos infratores pela Lei Federal nº. 4.242/1921, trazendo

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


112 UNIDADE III

algumas inovações, como a liberdade vigiada aos menores absolvidos da prática


de crimes e contravenções e a possibilidade de encarceramento de menores que
tivessem cometido crimes graves e estivessem na faixa de 16 a 18 anos de idade,
em estabelecimentos destinados a adultos e de onde só sairiam se fosse verificada
a regeneração, sem exceder o máximo legal da pena (PAULA, 2002, p. 18-19).
A despeito disso, a presente legislação representou um progresso no trata-
mento da criança e do adolescente, visto que o objetivo das penas ao menor era
a educação e não de repreensão, bem como abrangeu todas as esferas infracio-
nais, assistenciais e também passou à família o atendimento das necessidades

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
básicas dessas crianças.
Pereira (2008) ensina que o referido Código “representou a abertura significa-
tiva do tratamento à criança para a época, preocupado em que fosse considerado
o estado físico, moral e mental da criança, e ainda a situação social, moral e eco-
nômica dos pais” (PEREIRA, 2008, p. 9).
O Serviço de Assistência do Menor (SAM), criado em 1941, que atendia os
menores delinquentes, passou a receber muitas críticas a partir da década de 60
por não cumprir os objetivos pelo qual foi criado, sendo extinto, em 1964, pela
Lei nº. 4.513, a mesma que criou a Fundação Nacional do Bem-estar do Menor
(FUNABEM) (AMIN, 2010, p. 7).
A FUNABEM era baseada na Política Nacional do Bem-estar do Menor
(PNBEM), possuía uma gestão verticalizada e centralizadora e uma proposta
pedagógica assistencial progressista. Na prática, era mais um instrumento de
controle do regime político autoritário exercido pela Ditadura Militar viven-
ciada no país (AMIN, 2010, p. 7).
Nessas décadas, houve certo retrocesso na tutela da criança e do adolescente
em nome da segurança nacional. A Lei nº. 5.228/1967 reduziu a responsabilidade
penal para dezesseis anos de idade, aplicando o critério do discernimento nova-
mente dos dezesseis aos dezoito anos. Contudo, no ano anterior, já retornou ao
regime de imputabilidade penal aos 18 anos (AMIN, 2010, p. 7).
Somente em 1979 é que foi publicado o novo Código de Menores (Lei nº.
6.697/1979), que encampou a teoria da situação irregular, sendo que, nesse período
,a cultura da internação de menores carentes e delinquentes seguiu-se intensamente,
tornando a segregação como a única solução em muitos casos (AMIN, 2010, p. 7).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


113

Essa doutrina limitou-se em tratar daqueles que se enquadravam no modelo


predefinido de situação irregular, que compreendia: o menor privado de con-
dições essenciais à sua subsistência (saúde e instrução obrigatória pela ação ou
omissão dos pais ou responsáveis); as vítimas de maus-tratos; as crianças expos-
tas a perigo moral por estarem em ambientes ou atividades contrárias aos bons
costumes; o autor de uma infração penal ou os menores que apresentem des-
vio de conduta.
Também apresentou o campo de atuação do Juiz de Menores, restrito ao
binômio carência/delinquência, qualquer outra questão que envolvesse crianças
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou adolescentes deveriam ser tratadas na Vara de Família e seriam regulamen-


tadas pelo Código Civil.
Não possuía uma característica garantista, pois não elencava direitos, somente
enunciava algumas situações em que deveria ter uma atuação de resultados, ou
seja, era um direito do menor que agia sobre ele, como objeto da proteção e não
como sujeito de direitos (AMIN, 2010, p. 13).
No âmbito da proteção ao menor, visava-se combater e impedir os abusos
que ocorriam de forma clara quando o Estado intervinha por meio do traba-
lho realizado pela Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor — FUNABEM .
Somente em 1988 é que diversos setores da sociedade civil, juntamente com
algumas organizações não-governamentais, mobilizaram-se pela criação de uma
nova política para crianças e adolescentes. Essa mobilização contribuiu para a
inclusão na Constituição Federal dos artigos 227 e 228, que versam sobre a garan-
tia, com absoluta prioridade, dos direitos fundamentais e sociais para crianças e
adolescentes e a inimputabilidade para menores de 18 anos (SANTOS, 1992, p. 69).
Nesse sentido, Amin (2010) afirma que a intensa mobilização das organiza-
ções populares nacionais e de atores na área da infância e juventude, junto com
a pressão internacional, como a UNICEF, foram primordiais para que o legisla-
dor constituinte reconhecesse a importância de uma causa já internacionalmente
reconhecida e rompesse com a ordem até então instituída, consolidando a dou-
trina da proteção integral (AMIN, 2010, p. 8).
Assim, foi a partir do século XX que se passou a valorizar a tutela da criança,
sendo formulados, em âmbito mundial, direitos básicos e reconhecendo a criança e
o adolescente como um ser humano especial, com características peculiares e, assim

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


114 UNIDADE III

sendo, como um “sujeito de direitos”, ou seja, um titular de direitos e obrigações.


É justamente nesse contexto que a criança e o adolescente são tratados como
vulneráveis. Em 1988, a Constituição Federal passou a tratar as crianças e os
adolescentes como sujeitos de direitos e adotou a teoria da proteção integral,
passando a conceder amparo jurídico aos mesmos.
Essa doutrina da proteção integral à criança foi consagrada por meio da
Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, da Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, em 1989. No
Brasil, ela foi concretizada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Criança e do Adolescente que passou a ser amparada.
O significado dessa teoria se dá no sentido de conferir uma visibilidade de
sujeito de direitos para essas crianças e adolescentes, pois passaram a ser titula-
res de direitos que poderiam ser exigidos da família, da sociedade e do Estado,
o que está retratado no caput do art. 227 da Constituição Federal.
Compreende-se, por meio dessa proposição, que a legislação que tutele
direitos de crianças e de adolescentes deverá concebê-los como cidadãos plenos;
contudo, devem ser considerados como sujeitos a uma proteção prioritária, já
que são pessoas em desenvolvimento físico, psicológico e moral.
Este é um dos motivos pelos quais se torna essencial que sejam proporciona-
das ao menor, nessa etapa, condições favoráveis ao adequado desenvolvimento
de sua personalidade.
Outra das principais alterações decorridas da Constituição Federal de 1988 foi
o fim da discriminação entre filhos legítimos e ilegítimos, definindo, assim, todas
as crianças e adolescentes como “sujeitos de direitos”, sem fazer qualquer diferen-
ciação entre os filhos oriundos do matrimônio, adotados ou extramatrimoniais.
Assim, para regulamentar e consolidar as diretrizes da Constituição Federal,
em 13 de julho de 1990, foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente
reafirmando a doutrina da proteção integral do menor.
Amin (2010), acerca da doutrina da proteção integral, ensina que:
Com ela, constrói-se um novo paradigma para o direito infanto-ju-
venil. Formalmente, sai de cena a Doutrina da Situação Irregular, de
caráter filantrópico e assistencial, com gestão centralizadora do Poder
Público, a quem cabia a execução de qualquer medida referente aos
menores que integravam o binômio abandono-delinquência.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


115

Em seu lugar, implanta-se a Doutrina da Proteção Integral, com cará-


ter de política pública. Crianças e adolescente deixam de ser objeto de
proteção assistencial e passam a titulares de direitos subjetivos. Para
assegurá-los é estabelecido um sistema de garantia de direitos, que se
materializa no Município, a quem cabe estabelecer a política de atendi-
mento dos direitos da criança e do adolescente [...] (AMIN, 2010, p. 9).

Houve a necessidade de respeitar os direitos das crianças e dos adolescentes,


lembrando que eles são pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direito e que,
portanto, também têm um conjunto de direitos fundamentais a serem protegidos.
No intuito de garantir e efetivar os direitos fundamentais e sociais definidos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

no ECA, foram constituídos órgãos, como o Conselho de Direitos da Criança e do


Adolescente, com participação de representantes da sociedade civil e do governo
e os Conselhos Tutelares, formados por representantes eleitos pela população
dos bairros aos quais atendem, sendo este órgão o responsável pela defesa dos
direitos do menor em caso de lesão ou perigo de lesão dos mesmos.
Instalou-se, então, uma nova perspectiva na proteção das crianças e dos ado-
lescentes, pois, além de declarar direitos aos mesmos, estabeleceu instrumentos
e procedimentos que são adequados para a efetivação desses direitos dentro da
realidade vivida pelo país.
Ressalta-se que o próprio estatuto utiliza várias vezes a expressão proteção
integral, sendo ela uma “expressão designativa de um sistema onde crianças e
adolescentes figuram como titulares de interesses subordinantes frente à famí-
lia, à sociedade e ao Estado” (PAULA, 2002, p. 23).
Passou-se, então, a um novo modelo de proteção, possuindo este a carac-
terística de ser democrático e participativo, tendo a família, a sociedade e o
Estado como cogestores do sistema de garantias, não se restringindo à infância
e juventude pobres, mas para todas as crianças e adolescentes que sofrem lesão
ou perigo de lesão aos seus direitos fundamentais de pessoas em desenvolvi-
mento (AMIN, 2010, p. 10).
Portanto, a criança e o adolescente gozam de proteção especial pela atual
Constituição Federal e pelo ECA, em decorrência de terem alcançado a condi-
ção de sujeitos de direitos fundamentais, devendo ser-lhes garantida uma vida
digna, livre de violência, bem como a preservação da integridade física e psico-
lógica, para que possam desenvolver, de forma saudável, a personalidade.

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


116 UNIDADE III

Essa especial proteção conferida à criança e ao adolescente tem como fun-


damento o princípio da dignidade da pessoa humana previsto no art. 1º, inciso
III, do texto constitucional.
O princípio do melhor interesse do menor caracteriza-se pela valorização
da condição de vulnerabilidade do infante, sendo dever do Estado, da família e
da sociedade amparar a criança e o adolescente em seu desenvolvimento.
Ressalta-se também, segundo o art. 15 do ECA, a liberdade, o respeito e a
dignidade que são introduzidos como a base para o desenvolvimento dos meno-
res como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e nas leis ordinárias.
Não se pode olvidar que a família é o lugar onde a pessoa modela a sua per-
sonalidade, é onde deverá se sentir protegida e aprender a enfrentar os desafios
oferecidos pela condição de estar vivo, definindo seus valores morais, sociais,
éticos, políticos, espirituais, entre outros.
Destarte, é a família a primeira responsável pela construção do cidadão, que
nela realiza a sua formação física, mental, moral, espiritual e social, e a criança
como um sujeito em desenvolvimento deve ter direito de convivência com sua
família.

A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) ficou conhecida


pelas fugas, rebeliões, denúncias de maus-tratos aos adolescentes, torturas,
frequentes motins e superlotações, o que demonstrou, de forma clara, que
as políticas do governo não conseguiam respeitar o mínimo de dignida-
de humana das crianças e dos adolescentes considerados em situação de
marginalidade. Por esse motivo, houve uma reestruturação dessa forma de
atendimento, que passou a ser chamado de Fundação Casa, que significa
Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente.
Fonte: as autoras.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


117
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente adveio da doutrina


da proteção integral com a atual Constituição Federal e tornou-se, assim, um
dever jurídico imposto à família, à sociedade e ao Estado, sendo observado na
elaboração de leis ou no resguardo de direitos que digam respeito às relações
familiares com pessoas em desenvolvimento.
Não se trata de uma “recomendação ética, mas uma diretriz determinante
nas relações da criança e do adolescente com seus pais, com sua família, com a
sociedade e com o Estado” (LÔBO, 2004, p. 333).
Na Declaração dos Direitos da Criança de 1959, em seu princípio 2º, há a
disposição que as leis devem ser instituídas com fundamento no “melhor inte-
resse da criança”. Igualmente, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança
de 1989, aprovada pela Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas
(ONU), em 1989, previu, em seu art. 3º, item 1, que as ações relacionadas às
crianças deverão primordialmente considerar o melhor interesse da criança.

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


118 UNIDADE III

Ressalta-se que a versão em inglês dessa Convenção utilizou um conceito


qualitativo, referindo-se à expressão the best interests of the child; já a versão bra-
sileira adotou um conceito quantitativo ao se referir como “o maior interesse
da criança”; no entanto, devido à orientação e sistemática seguida pelo ordena-
mento jurídico brasileiro, seria mais adequado utilizar a forma qualitativa, pois
condizia com a realidade do documento (PEREIRA, 1999, p. 6).
Essa expressão the best interests of the child surgiu na Inglaterra vinculada ao insti-
tuto do parens patriae. Este dava ao Rei e a Coroa a prerrogativa de serem cuidadores de
pessoas incapazes, bem como administrar seus patrimônios (PEREIRA, 1999, p. 1-2).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ressalta-se que esse instituto primariamente não foi concebido com insti-
tuito de tutelar as crianças, pois, pelo sistema antigo, estas eram apenas objetos
que pertenciam a seus pais, a quem deviam total obediência. Somente depois de
1836 passou a ser efetivo na Inglaterra (PEREIRA, 1999, p. 2).
Essa fórmula advinda do sistema anglo-saxônico, representada na expres-
são the best interests of the child, está prevista tanto na Constituição Federal de
1988 quanto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O princípio localiza-se no texto constitucional em seu art. 227, caput devendo
ser considerado intrínseco ao princípio da parentalidade responsável, pois repre-
senta expressamente a alteração do eixo das relações paterno-filiais, em que as
crianças passaram a ser consideradas sujeito de direitos e obrigações.
No ECA, art. 4º, há a disposição de uma série de deveres que a família, a
sociedade e o Estado devem dispender à criança e ao adolescente como priori-
dade absoluta na efetivação de seus direitos, garantindo-lhes “o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade”.
Foi com o advento da Lei nº. 8.069/1990 (ECA) que o sistema de tutela à
criança passou a contar com uma série de normas direcionadas ao seu melhor
interesse; buscou-se, assim, que a criança possa gozar plenamente de seus direi-
tos fundamentais, dessa forma, a expressão está por todo o texto da lei.
O princípio do melhor interesse não será utilizado somente como um prin-
cípio geral, mas também como um critério interpretativo dos códigos e das
leis ordinárias, bem como na elaboração de novas leis (GAMA, 2009, p. 460;
PEREIRA, 2008), pois, em decorrência dele, priorizam-se as necessidades da
criança e do adolescente no caso de conflito entre pais ou responsáveis.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


119

Lembre-se que o princípio do melhor interesse da criança tem caráter de


norma fundamental, portanto, deverá se projetar para além da ordem jurídica,
alcançando as políticas públicas que oriente o desenvolvimento de uma cultura
que traga a ideia de igualdade e respeito aos direitos de todos.
Atente-se ao fato de que não se deve atribuir a tal princípio um alcance que
ele nunca teve, uma vez que isso pode legitimar uma série de abusos interpre-
tativos, que poderiam elevar a criança a uma categoria de “majestade suprema”.
Ele deverá ser concebido como um preceito dirigido ao Estado-administrador,
ao Estado-juiz e ao Estado-legislador, aquiescendo-o com as reais necessidades
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

da criança. Assim, também deve agir a família com relação às crianças em qual-
quer tomada de qualquer decisão em relação a elas (MONACO, 2005, p. 179-184).

DIREITO FUNDAMENTAL DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Acrescenta-se que o ECA reconhece a importância do direito à convivência fami-


liar e à vida privada. Constam, no art. 100, parágrafo único, os princípios que
devem ser adotados ao se aplicar medidas de proteção a crianças ou a adoles-
centes que tenham seus direitos violados, como o da intervenção mínima (inc.
VII) e o da prevalência da família (inc. X) (BRASIL, 1990, on-line).
Toda criança e adolescente têm o direito de crescer convivendo com seus
pais, é garantido a eles que em qualquer abuso do poder familiar, faltando a
paternidade responsável, pode-se suspender os pais ou destituí-los, sendo o que
dispõe os arts. 1.637 e 1.638.
O direito à convivência familiar está disposto no art. 227 da Constituição
Federal e também no art. 19 do ECA. Este assegura à criança ou ao adolescente
o direito de conviver e ser educado pela sua família natural, sobretudo em con-
dições saudáveis. No entanto, também admite que a criança ou o adolescente
seja inserido em uma família substituta, decorrente de guarda, tutela ou adoção,
conforme o que o art. 28 dispõe (BRASIL, 1990, on-line).
Percebemos, assim, que a convivência familiar é de suma importância para
o desenvolvimento da criança e do adolescente, bem como para que os laços de
família sejam fortalecidos entre seus membros.

Direitos da Criança e do Adolescente: Estatuto da Criança e do Adolescente


120 UNIDADE III

A convivência familiar está prevista no art. 227 da CF e no art. 19 do ECA. Foi no


intuito de proteger esse direito fundamental que surgiu a lei nº. 12.318/2010,
que dispôs sobre condutas que possam dar ensejo à alienação parental e pre-
judicam o desenvolvimento das crianças e adolescentes que a sofram.

DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES: LEI MARIA DA


PENHA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Neste tópico, iremos tratar da Lei Maria da Penha, que trouxe uma proteção
diferenciada para as mulheres, de acordo com a necessidade apresentada pela
sociedade, como demonstraremos na sequência.

A IGUALDADE DO HOMEM E DA MULHER NA FAMÍLIA: O


DIREITO À DIFERENÇA

A desigualdade entre os gêneros é um assunto recorrente na nossa sociedade


desde a antiguidade. Desde que o mundo é mundo, há diferença entre o homem
e a mulher, principalmente no âmbito doméstico.
Ao se tratar de violência de gênero, estar-se-á a vislumbrar a agressão reali-
zada contra a mulher em razão do gênero, visto que, verdadeiramente, a história
da mulher é constituída de grande vulnerabilidade. Isso porque, desde os tem-
pos mais remotos, ela foi submetida ao poder do homem - tanto pelo pai quanto
pelo marido - de modo que nas famílias imperava o pater família. Salienta Ester
Kosovski que foi por ocasião, ou pouco antes, do aparecimento da escrita que
surgiu o patriarcalismo, em que se atribuiu à mulher um papel secundário e com-
plementar, acarretando a sua submissão ao homem que dominava os negócios
do mundo (KOSOVSKI, 1993, p. 31).
Nesse sentido, por um bom período, a mulher teve suas funções predefi-
nidas e limitadas, sendo que era submissa ao homem, pois tinha como dever
cuidar da família, e seu papel social era sempre ficar à sombra do seu homem.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


121

Para a mulher, a única realização possível era o casamento e a dedicação à


maternidade, visto que eram consideradas destituídas de capacidade de raciona-
lidade, sendo a única vantagem a própria maternidade, na qual lhe era confiada
a educação dos filhos, entretanto com a constante supervisão e autoridade do
marido (CANEZIN, 2004).
Confirmando isso, Costa (2008) aponta que:
Quando falamos relações de Gênero, estamos falando de poder. Na
medida que as relações existentes entre masculino e feminino são rela-
ções desiguais, assimétricas, mantêm a mulher subjugada ao homem e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao domínio patriarcal (COSTA, 2008 on-line).

Ressalta-se que com a Revolução Francesa, esse cenário de submissão começa a


ganhar contornos diferentes, visto que as mulheres começam a reivindicar seus
direitos, mas ainda continuaram a sofrer com a imposição da superioridade
masculina. Na Revolução Industrial, houve uma escravização da mulher ope-
rária pelas máquinas e pelo trabalho, já estando submissa no ambiente familiar.
Em meados do século XIX, com a Segunda Guerra Mundial e a saída dos
homens para a guerra, as mulheres se viram obrigadas a integrar o mercado de tra-
balho, passando a se igualar ao homem. Na mesma época, surgiu a primeira onda
do feminismo, o que fez com que a mulher começasse a ganhar espaço efetivo na
sociedade por meio da sua luta por igualdade. Apesar disso, no Brasil, imperava
o sistema patriarcal, no qual as mulheres eram subordinadas aos seus cônjuges.
Nesse período, a mulher não detinha liberdade para praticar qualquer atividade,
assim, ao homem era atribuído o pátrio poder, podendo, inclusive, impor castigos
corporais à mulher sem que lhe fosse imputada pena (MARQUES, 2009, p. 15).
Foi a partir desse momento que cresceu a luta constante para igualar o
homem e a mulher; no entanto, essa igualdade ainda hoje na família não é possí-
vel ser destacada, visto que aparentemente a mulher conseguiu igualdade com o
homem, porém o cuidado com a família, em regra, ainda pertence a ela, fazendo
com que tenha uma dupla jornada, a do trabalho e a do lar.
Apesar do avanço no combate à desigualdade, à violência física, psicológica
e moral, ainda se trata de uma realidade que está presente na vida de muitas
mulheres brasileiras.
Atualmente, no que diz respeito à educação, as mulheres estudam mais que os

Direitos Humanos das Mulheres: Lei Maria da Penha


122 UNIDADE III

homens, mas ainda têm menos chances de emprego, recebem menos exercendo
as mesmas funções e ocupam os piores postos. Em 1998, 52,8% das brasileiras
eram consideradas economicamente ativas, comparadas a 82% dos homens. Em
2008, essas proporções eram de 57,6% e 80,5%. A participação nas esferas de deci-
são ainda é pequena. Em 2010, elas ficaram com 13,6% dos assentos no Senado,
8,7% na Câmara dos Deputados e 11,6% no total das Assembleias Legislativas
(O VOLUNTARIADO, on-line)1.
Destaca-se, ainda, que as mulheres ganharam um espaço significativo no
mercado do trabalho, mas infelizmente não possuem a mesma participação nas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
esferas de decisão política, apesar de a lei prever que cada partido necessite de
30% da candidatura de pessoas do sexo feminino, conforme demonstra o art.
10, § 3º da Lei nº. 9.504/1997 (BRASIL, 1997, on-line).
Vê-se de forma clara que ainda há barreiras do mercado que trazem maiores
prejuízos às mulheres, o que aumenta as disparidades entre os gêneros.
Em nível jurídico, somente com a Constituição Federal de 1988, eclodiria,
em meio a movimentos feministas, o que se considerou a igualdade entre mulhe-
res e homens. A Constituição Federal dispôs acerca da igualdade entre os sexos
no inciso I, do artigo 5° e, especificamente, para o âmbito familiar, no § 5º, do
art. 226, além de versar acerca do dever do Estado de combater a violência nas
relações familiares.
Portanto, mesmo estando consagrado na Constituição Federal, o princípio
da igualdade e sua aplicação no intuito de proibir a discriminação entre mulhe-
res e homens é difícil, visto que a vertente a ser aplicada é sua forma material ou
substancial, entendida como isonomia.
A simples igualdade formal é incapaz de eliminar essas diferenças históri-
cas entre homem e mulher, o que impõe uma conduta mais ativa do Estado no
intuito de assegurar um equilíbrio ou uma equiparação por meio de uma redu-
ção dessas diferenças (DIAS, 2004, p. 25). É justamente nesse ponto que surge a
importância do Estado em implementar políticas públicas que venham a dimi-
nuir essa realidade.
Portanto, a desigualdade, que ainda é marcante nos dias atuais, deriva do
histórico de exclusão da qual a mulher foi vítima. Uma cultura com forte raízes
machistas e patriarcais não muda de repente em decorrência de uma lei. Não se

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


123

conseguirá alterar isso de um dia para outro, pois será necessário tempo e muito
trabalho de conscientização para atingir o mais próximo daquilo que as mulheres
buscam em sua proteção, denotando, justamente nesse ponto, o papel fundamen-
tal do Estado e da sociedade em geral na busca desse objetivo.

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO

Foi aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional e assinada em 7 de


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

agosto de 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Lei n. 11.340/2006
(BRASIL, 2006, on-line), popularmente conhecida como Lei Maria da Penha,
que imediatamente tornou-se o principal instrumento legal para coibir e punir
a violência doméstica praticada contra mulheres no Brasil.
A lei alterou o Código Penal Brasileiro e possibilitou que agressores de mulhe-
res no âmbito doméstico sejam punidos pelas condutas de violência realizadas.
Esses agressores poderão ser presos em flagrante ou ter a prisão preventiva decre-
tada, mas não poderão ser punidos com penas alternativas. A lei prevê medidas
que vão desde a saída do agressor do domicílio até a proibição de sua aproxi-
mação da mulher agredida.
Tem-se que violência familiar, intrafamiliar ou doméstica pode ser con-
siderada como toda ação ou omissão cometida no seio da família por um de
seus membros, ameaçando a vida, a integridade física ou psíquica dos mesmos,
sendo que a vítima deve ser, necessariamente, mulher, por se tratar de violência
de gênero (JESUS, 2010, p. 8).
A Lei Maria da Penha também definiu o ambiente onde a agressão pode
ocorrer, visto que proteção à mulher abrange a unidade doméstica, o âmbito
familiar, bem como situações em que inexiste coabitação entre agressor e agre-
dida, bastando existir a relação de afeto entre eles (art. 5°).
Dentre as formas de violência dispostas na lei, tem-se:
Violência contra a mulher: é qualquer conduta - ação ou omissão - de discrimi-
nação, agressão ou coerção ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher e que
cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psi-
cológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial (CNJ, on-line)2.

Direitos Humanos das Mulheres: Lei Maria da Penha


124 UNIDADE III

Violência de gênero: é a violência sofrida pelo fato de se ser mulher, sem


distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer outra condição, pro-
duto de um sistema social que subordina o gênero feminino (CNJ, on-line)2.
Essa violência é algo difícil de se aceitar, visto que ela ocorre única e exclusiva-
mente pelo fato de se tratar de uma mulher, independentemente de qualquer
outro fato.
A chamada violência familiar é aquela que acontece dentro da família, ou
seja, nas relações entre os membros da comunidade familiar, formada por vín-
culos de parentesco natural (pai, mãe, filha etc.) ou civil (marido, sogra, padrasto

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ou outros), por afinidade (por exemplo, o primo ou tio do marido) ou afetivi-
dade (amigo ou amiga que more na mesma casa) (CNJ, on-line)2 .
Violência institucional é o tipo de violência motivada por desigualdades (de
gênero, étnico-raciais, econômicas etc.) predominantes em diferentes socieda-
des. Essas desigualdades se formalizam e institucionalizam não só nas diferentes
organizações privadas e aparelhos estatais, como também nos diferentes grupos
que constituem essas sociedades (CNJ, on-line)2.
Por fim, a violência intrafamiliar ou a violência doméstica é aquela que ocorre
dentro de casa ou da unidade doméstica e geralmente é praticada por um mem-
bro da família que viva com a vítima. Nelas estão incluídas o abuso físico, sexual
e psicológico, a negligência e o abandono (CNJ, on-line)2.
Essa lei também trouxe a possibilidade de legitimar uma relação homoafe-
tiva, sendo o primeiro instrumento a dar essa interpretação, pois não exige que
a pessoa que venha a agredir, ou seja, sujeito ativo da conduta, seja do gênero
masculino. Assim, se eventualmente uma mulher mantém uma relação afetiva
com outra, mesmo não coabitando com esta, estará caracterizada a violência
doméstica, podendo ser aplicar a referida lei.
Portanto, a Lei 11.340/2006 foi um marco na história do combate à violên-
cia familiar contra o gênero feminino. Nesse sentido, Maria Amélia de Almeida
Teles e Mônica de Melo afirmam que é necessário demonstrar e sistematizar as
desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens, que repercu-
tem na esfera da vida pública e privada de ambos os sexos, visto que lhes colocam
em papéis sociais diferenciados construídos historicamente, e criando polos de
dominação e submissão (MELO; TELES, 2003, p. 16).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


125

No entanto, mesmo com a Lei Maria da Penha, são muitos os casos de vio-
lência contra a mulher em decorrência da cultura machista e patriarcal que ainda
marca a sociedade brasileira.
Nota-se que a mulher em situação de violência acaba se acomodando à situ-
ação, normalmente isso ocorre por todo o período do relacionamento com o
agressor até que consiga romper o ciclo de violência. O seu silêncio é um sis-
tema de defesa, já que o conflito entre manter o silêncio e a vontade de gritar a
sua dor é inerente ao trauma psicológico (SLEGH, 2006, on-line).
De acordo com pesquisas, em 2011, foram mais de 48 mil ocorrências de agres-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sões contra mulheres no Brasil, sendo que destas, 5 mil não informaram o local da
agressão, 68,8% do restante foram agredidas na residência, enquanto que 4% dos
casos ocorreram em via pública; 27,1% dessas agressões são realizadas pelo côn-
juge. No caso de morte, 40% ocorrem dentro de casa (WAISELFISZ, 2012,on-line).
Apesar do alto índice de violência contra as mulheres, as vítimas podem con-
tar com programas de apoio na resolução de seus problemas familiares, tanto
governamentais quanto não governamentais.
Em um primeiro momento, parece haver uma grande contradição, já que se
espera que a existência de serviços de apoio e prevenção resulte na redução dos
casos. Contudo, observa-se que a violência tem se agravado e aumentado tanto
na quantidade quanto na intensidade, ou seja, as vítimas têm sofrido agressões
físicas, cada vez mais severas, que ocasionam a morte ou graves sequelas, impos-
sibilitando-as para o trabalho e complicando, ainda mais, a sua situação (SILVA;
COELHO; CAPONI, 2007). Destarte:
Nesses programas de atendimento à vítima, percebe-se que a maioria
das queixas (98%) parte de mulheres que são vítimas de alguma forma
de violência no interior do espaço doméstico. É evidente a transforma-
ção da violência doméstica numa forma cada vez mais brutal de violên-
cia contra a mulher, mesmo que esta já possa contar com atendimento
especializado (SILVA; COELHO; CAPONI, 2007).

A questão da violência contra a mulher é tão constante no mundo todo que foi
criada uma instituição, de carater internacional, de proteção à mulher para obrigar
os Estados seguidores das Organizações das Nações Unidas a tomar providên-
cias internas a fim de minimizar, por meio de programas de apoio e assistência,
a violência contra as mulheres ou, até mesmo, erradicá-la,.

Direitos Humanos das Mulheres: Lei Maria da Penha


126 UNIDADE III

Outra ferramenta que poderá fazer a diferença na proteção das mulheres


vítimas de violência é o Dispositivo de Segurança Preventiva (DSP), batizado de
botão do pânico. O juiz auxiliar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Álvaro
Kalix, participou do evento de lançamento, na sede do TJES, e destacou a impor-
tância do instrumento que, uma vez pressionado, envia um chamado diretamente
para a central da Guarda Municipal e uma viatura é direcionada ao local. O botão
do pânico é um dispositivo eletrônico, constituído por GPS e mecanismo para a
gravação de áudio (SOUZA, 2013, on-line)3. Esse mecanismo tem se mostrado
útil se for considerada uma perseguição, em que a vítima não tem condições

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de efetuar uma ligação para pedir socorro. O acionamento do botão do pânico
demonstra-se prático e eficaz.
A Central de Atendimento à Mulher recebe diariamente vários chamados de
socorro de mulheres desesperadas em busca de ajuda. Existem vários tipos de vio-
lência: a psicológica, a moral, a sexual e a física. A instauração do inquérito policial
e a aplicação das medidas protetivas serão efetivadas mediante representação da
vítima. Na prática, as mulheres que chamam a polícia são ouvidas na delegacia, o
agressor fica preso, o inquérito é enviado ao fórum e elas mesmas, as próprias víti-
mas, vão no balcão da vara criminal retirar a guia de fiança para que os agressores
voltem para a casa. No caso de o agressor não ser preso na primeira audiência, as
próprias vítimas acabam dizendo, na primeira audiência, que estão desistindo da
representação por estarem movendo a máquina judiciária sem motivo.

Há a necessidade de se enfrentar e combater a violência doméstica, visto


que não se trata de um problema particular que se resolverá dentro dos la-
res, deve ser um interesse legítimo do Estado, já que a família é a base e a
instituição primária da sociedade, onde o indivíduo se realiza enquanto pes-
soa, efetivando sua dignidade. Ademais, se construirmos famílias saudáveis,
a sociedade também o será.
(Azambuijo).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


127

FORMAS DE VIOLÊNCIA

Em vigor desde o dia 22 de setem-


bro de 2006, sob nº. 11.340/2006,
a Lei Maria da Penha dá cumpri-
mento à Convenção para prevenir,
punir e erradicar a violência con-
tra a mulher; à Convenção de
Belém do Pará, da Organização
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dos Estados Americanos (OEA),


ratificada pelo Brasil em 1994; e
à Convenção para eliminação de
todas as formas de discrimina-
ção contra a mulher (Cedaw), da
Organização das Nações Unidas
(ONU).
Atente-se que são muitas as
formas de violência praticadas
contra a mulher no âmbito fami-
liar, as quais estão inseridas na Lei Maria da Penha. O art. 7º do referido da lei
dispõe acerca de algumas formas de violência, não sendo taxativo, mas mera-
mente exemplificativo, uma vez que utilizou a expressão “entre outras”.
Assim, de acordo com o entendimento do inciso I, trata-se de violência física
a ação ou omissão qu'e coloque em risco ou cause dano à integridade física de
uma pessoa (CNJ, on-line)2. Compreende a agressão que causa dano ou risco à
pessoa fisicamente, sendo uma das formas mais comuns de violência em pleno
século XXI.
Segundo Dias (2007), qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal é considerada como violência física; não exige marcas aparentes, mas
se caracteriza simplesmente pela ofensa ao corpo ou à saúde da mulher pelo uso
da força física (DIAS, 2007a, p. 46).
A violência psicológica consubstancia a ação ou omissão destinada a degra-
dar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa

Direitos Humanos das Mulheres: Lei Maria da Penha


128 UNIDADE III

por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação,


isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicoló-
gica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal.
A violência psicológica é muito comum e sua comprovação é muito difícil,
visto que não causa marcas aparentes, mas causa danos irreparáveis e imensu-
ráveis à vítima. O sofrimento psicológico pode ser considerado o sofrimento
que um dos cônjuges causa ao outro, a ponto de lhe desencadear doenças físicas
e psíquicas graves, prejudicando-lhe o desempenho no trabalho, no lazer e no
cumprimento de suas atribuições no lar (FIORELLI; MANGINI, 2011, p. 275).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O inciso III do art. 7º da Lei nº. 11.340/2006 traz também a violência sexual,
a qual é caracterizada pela ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual,
físico ou verbal, ou a participar de outras relações sexuais com uso da força, inti-
midação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro
mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. Considera-se como violên-
cia sexual também o fato de o agressor obrigar a vítima a realizar alguns desses
atos com terceiros (CNJ, on-line)2.
Ainda para o Código Penal Brasileiro, a violência sexual pode ser caracte-
rizada de forma física, psicológica ou com ameaça, compreendendo o estupro,
a tentativa de estupro e o ato obsceno (CNJ, on-line)2. Essa forma de violência
pode causar danos irreversíveis, chegando a ceifar a vida de quem esteve sujeito
a esse tipo de agressão.
Outra forma está presente no inciso IV, no qual está delineada a violência patri-
monial, consubstanciada naquela que implique dano, perda, subtração, destruição
ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores (CNJ, on-line) 2.
Por fim, tem-se a violência moral, caracterizada na ação destinada a calu-
niar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher. Está disposta no
inciso V do art. 7º da lei. Essa forma de violência é praticada com a intenção de
alterar, modificar ou criar algo que atente contra a honra e reputação social da
mulher (CNJ, on-line)2.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


129

Destarte, apesar de serem bem estabelecidas as espécies de violência domés-


tica e familiar, elas não estão adstritas somente às formas apresentadas, visto que
em qualquer forma pode gerar muito dano à mulher e principalmente à família.

A violência física poderá ser realizada por meio de empurrões, puxões de


cabelo, chutes, queimaduras, pontapés ou os mais diversos atos que sejam
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

capazes de causar ferimentos e cortes (causados por faca, canivete, peda-


ços de madeira, objetos pontiagudos), asfixia, entre outras condutas que
venham a atingir a integridade física da mulher. Não se pode olvidar que o
Código Penal é o responsável por punir essas condutas, pois a Lei Maria da
Penha não possui a tipificação delas, ou seja, a descrição desses compor-
tamentos como crimes. Portanto, em caso de realização dessas condutas
descritas dentro do âmbito doméstico ou por alguém com quem a vítima
tenha uma relação de afeto e esta for mulher, será aplicado o Código Penal
com a agravante prevista no art. 61, II e alínea f do mesmo diploma legal,
consoante as medidas protetivas dispostas na Lei Maria da Penha.
Fonte: as autoras.

Assim, percebe-se que a mulher ainda merece uma proteção maior pela legis-
lação, considerando que, de acordo com o que estudamos, há uma diferença de
tratamento entre os sujeitos na nossa sociedade.

Direitos Humanos das Mulheres: Lei Maria da Penha


130 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIREITOS DO IDOSO: ESTATUTO DO IDOSO

Antigamente, a velhice era valorizada, visto que os idosos eram pessoas que deve-
riam transmitir o saber e a memória da comunidade, possuindo as posições mais
elevadas na hierarquia social. Entretanto, para alguns povos, o envelhecimento
significava que a pessoa não poderia mais prover suas necessidades básicas e
acabavam por ser sacrificados ou abandonados; afinal, no início da humani-
dade, o ser humano era nômade e vivia da caça e da pesca, e os idosos, por suas
limitações físicas e mentais, dificultavam tal meio de subsistência (SCHONS;
PALMA, 2000, p. 51).
Nesse sentido, nas sociedades históricas, o papel social do velho dependeu
sempre da ideologia que era vigente na época, embora não se visse na velhice um
grande problema, já que a média de vida era de 23 anos (BASSO, 2005, p. 177).
Silva (2012) resume a flexível importância e valorização do idoso ao men-
cionar que “em todas as sociedades consistia em ele possuir ou não bens úteis
– fossem eles materiais ou imaterias” (SILVA, 2012, p. 80).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


131

Atualmente, há um aumento da expectativa de vida e a maior permanência


dos jovens em casa; diversos lares possuem relações familiares intergeracionais,
que se referem a pessoas de gerações diferentes, mas que convivem sob o mesmo
teto (VITALE, 2010, p. 98).
É claro que o idoso traz consigo inúmeras experiências e conhecimentos,
porém, nesse ponto da vida, inúmeras pessoas tornam-se frágeis e apresentam
limitações, pois suas habilidades já não são as mesmas de anos atrás, o que acaba
por trazer uma condição de dependência na velhice, fruto da pobreza, da saúde
e de suas condições físicas e mentais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Também é notório que muitos idosos vivem em condições de miserabilidade,


já que por limitações físicas, e até mentais, não podem mais garantir o seu sus-
tento e nem competir no mercado de trabalho atual, o que acaba fazendo com
que sejam descartados, excluídos ou abandonados pelos próprios familiares.
A velhice não é apenas uma fase cronológica da vida, é a forma ética que se
caracteriza, ao mesmo tempo, pela independência relativamente a tudo que não
depende de nós, e pela plenitude de uma relação consigo em que a soberania
não se exerce como um combate, mas como um gozo (ABUJAMRA; MARTIN,
2010, p. 63).

CONCEITOS BÁSICOS

Destaca-se que a população idosa tem aumentado significativamente desde a década


de 60 e, desde então, começou a crescer em ritmo mais acelerado do que as popu-
lações adultas e jovens. O desenvolvimento da medicina e da tecnologia fez surgir
condições favoráveis para que se ampliasse cada vez mais a expectativa de vida das
pessoas, e esse fator, associado à redução da fertilidade dos tempos modernos, con-
correu para que ocorresse uma verdadeira transição demográfica (ALTMANN, 2011).
Dessa forma, esse fato desperta maior atenção e preocupação com as carac-
terísticas e demandas próprias da faixa etária que está acima dos 65 anos, que
tem crescido tanto no Brasil como em todo o mundo (ALTMANN, 2011).
Para entender o conceito de idoso, faz-se necessário, primeiramente, enten-
der o que seja pessoa. A palavra pessoa, que deriva do latim persona, passou a

Direitos do Idoso: Estatuto do Idoso


132 UNIDADE III

ser utilizada na linguagem teatral da antiguidade romana no sentido, primitiva-


mente, de máscara. Assim era considerada como uma persona, visto que emitia
a voz de uma pessoa. Com o passar do tempo, esse vocábulo passou a signifi-
car o papel que cada ator representava e, posteriormente, passou a expressar o
próprio indivíduo que representava esses papéis. Já no direito moderno, pes-
soa passou a ser sinônimo de sujeito de direito ou sujeito de relação jurídica
(GONÇALVES, 2003, p. 74).
Contudo, havia uma constante preocupação dos padres da época em expli-
car alguns questionamentos cristãos, quais sejam: a Santíssima Trindade, a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Encarnação do verbo e a Semelhança ontológica entre o Homem e Deus, assim,
a teologia cristã alterou tal conceituação e sentido ao entender que se tratava de
uma categoria ontológica, o que, por consequência, acabou por considerar que
“a noção de pessoa é, em justiça, uma criação da teologia cristã” (GONÇALVES,
2008, p. 24).
O conteúdo ontológico relacionado à velhice é “um processo que não implica
necessariamente a degeneração da pessoa humana, uma vez que o Ser mantém
sua condição ontológica intocável” (SILVA, 2012, p. 36).
Ressalta-se que a ontologia está relacionada à filosofia e possui a finalidade de
estudar o “ser”. Nessa perspectiva, Kant e Hume acabam por conceituar persona
como uma visão diferenciada, em que se deixa o conteúdo ontológico proposto
pela teologia cristã e designa uma realidade psíquica que vai além do próprio
sujeito (GONÇALVES, 2008, p. 26).
Nesse sentido, além das limitações físicas, o avanço da idade traz consigo o
envelhecimento social, afinal, os papéis sociais que o idoso desempenhou ao longo
da vida vão se alterando, pois passa de filho a pai/mãe e avô/avó; de solteiro(a) des-
comprometido(a) a responsável chefe de família; de estudante a trabalhador e depois
aposentado(a); de pessoa absolutamente sem tempo, devido às inúmeras atividades
profissionais, a proprietário(a) de um tempo livre (SCHONS; PALMA, 2000, p. 22).
Não se pode esquecer que o homem é um ser em construção e dependente
dos demais, pois “na configuração externa da sua vida corporal há uma total e
radical dependência da sociedade” (GONÇALVES, 2008, p. 44-47). Aristóteles,
em sua obra “Tratado sobre retórica”, descreve os velhos como desconfiados, pes-
simistas e egoístas, mostrando a juventude e a velhice como polos opostos, sendo

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


133

a juventude uma época de excessos e desvarios, e a velhice uma etapa de con-


servadorismo. Para descrever os velhos, costumava usar o eufemismo “esses de
idade avançada”, caracterizando-os como indecisos e incapazes. Por outro lado,
uma minoria valorizava a velhice, como Homero, que associava a velhice à sabe-
doria (SCHONS; PALMA, 2000, p. 88).
Nota-se que a idade determinante para início da “vida idosa” variou muito
através dos anos e das culturas vigentes em cada época, tanto que na década de
20, as pessoas com 25 anos eram consideradas idosas, isso considerando a expec-
tativa de vida da época (SOUZA, 2013, p. 365).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O homem, com o passar dos anos, passa a apresentar características físicas,


biológicas e psíquicas próprias de sua idade, sendo uma consequência natural
do seu envelhecimento. As características da terceira idade são irreversíveis e se
fundamentam na vulnerabilidade à qual o idoso está exposto tanto em relação
ao meio interno quanto ao externo, ou seja, “o idoso funciona tão bem quanto
o jovem. A diferença manifesta-se nas situações onde se torna necessária a uti-
lização das reservas homeostáticas que, no idoso, são menores” (MORAES;
SILVA, 2008, p. 21).
Sabe-se que o ser humano atinge o máximo de suas funções orgânicas aos
30/40 anos, sendo que após essa idade há uma estabilização até os 50 anos e, pos-
teriormente, há uma queda de cerca de 1% ao ano de sua perda funcional global
(MORAES; SILVA, 2008, p. 21).
Segundo Barros (2011), “os sinais da velhice são, assim, denunciados pela
perda paulatina ou abrupta das formas de controle de si, do domínio do corpo
e da vigilância constante da mente” (BARROS, 2011, p. 49).
Para a percepção psicossocial do idoso, ao se confrontarem com as modi-
ficações que o envelhecimento provoca no organismo humano, compreendem
o processo como um fato natural e universal, visto que alguns desses sintomas
são observados pelo espelho, como os cabelos grisalhos, as rugas e a pele flácida
(SILVA, C; MARCO, F.; PASQUALOTTI, 2009, p. 56).
É notório que os sintomas da velhice são subjetivos e variam de pessoa para
pessoa. Silva (2012) destaca que é uma tarefa difícil definir exatamente quando
termina a idade adulta e quando se inicia a terceira idade, para ele “não é pos-
sível afirmar com precisão quando se inicia o estágio do envelhecimento: as

Direitos do Idoso: Estatuto do Idoso


134 UNIDADE III

alterações de órgãos e sistemas do organismo humano não se dão de forma uni-


forme e tampouco paralela, variando de indivíduo a indivíduo” (SILVA, 2012, p.
27; RUIZ; SENGIK, 2013, p. 309).
Assim, embora existam diversas características comuns que marcam essa
etapa da vida, não há uma única que caracteriza a velhice; afinal, a forma de
envelhecer é experimentada de diversas maneiras pelas pessoas, e isso se altera
de acordo com as circunstâncias históricas, sociais, econômicas, genéticas, pato-
lógicas e ambientais, além de outras, que são vivenciadas pelo sujeito durante o
curso de sua vida (ALCÂNTARA, 2007).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Destaca-se que não se pode confundir senescência e senilidade, pois a pri-
meira é aquela em que a pessoa “com serenidade passa a conviver com limitações
e continua ativa até o fim da vida”, enquanto que a segunda ocorre nos casos em
que a pessoa “envelhece sob condição ou forma patológica, com incapacidade
progressiva para a vida ativa”(SILVA, 2012, p. 28).
Ressalta-se, dessa forma, que a senescência varia de acordo com o sexo, sendo
que para as mulheres se inicia na menopausa, aos 45 anos de idade aproxima-
damente; enquanto que para os homens, a queda hormonal ocorre próximo dos
55 anos (CANALLI FILHO, 2011, p. 29).
A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Resolução nº. 39/125,
divide o ciclo da vida humana em três idades, considerando como parâmetro
para tanto o aspecto econômico e o homem como força de trabalho. Seu princi-
pal objetivo é analisar e dividir os períodos da vida do homem em faixas de idade
e desenhar qual seria o indivíduo apto para se adequar à indústria mecanicista
da época; assim, a divisão etária atribuiu às fases importâncias diferenciadas e
teve como base sua capacidade de produzir riqueza, apresentado um declínio
da valorização do ser humano. A velhice é vista negativamente, preza-se muito
mais o material e a capacidade de gerar riquezas (ABUJAMRA, 2010, p. 60).
Nesse sentido, na primeira idade estão as pessoas em idade improdutiva, ou
seja, crianças e adolescentes; na segunda idade, são as pessoas que produzem e
consomem (jovens e adultos); enquanto que na terceira idade estariam as pes-
soas que já produziram e consumiram, sendo uma idade considerada inativa,
pois não mais produzem e apenas consomem (SANTIN; RAITER, 2009, p. 227).

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


135

Com base em estudos de geriatras chilenos, Schons e Palma (2000) consi-


deram como primeira idade a pessoa de 0 a 20 anos, na segunda idade estariam
os indivíduos de 21 a 49 anos, na terceira idade aqueles entre 50 e 77 anos e, por
fim, teríamos a quarta idade, onde se encaixariam os idosos de 78 a 105 anos
(SCHONS; PALMA, 2000, p. 41).
Ainda relatam as autoras que alguns psicólogos consideram a maturidade
como fator divisor do grupo etário, sendo a maturidade inicial aquela entre os
20 e 35/40 anos; maturidade média dos 41 aos 65/70 anos; e a maturidade tardia
aquela das pessoas a partir dos 66 anos de idade (SCHONS; PALMA, 2000, p. 41).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Portanto, essa maturidade tardia também se subdivide em três grandes ramos:


idoso jovem (dos 66 aos 74 anos); idoso velho (dos 75 aos 85 anos) e manuten-
ção pessoal (dos 86 em diante) (SCHONS; PALMA, 2000, p. 42).
A Constituição Federal de 1988 traz diversos direitos e garantias aos ido-
sos, usando, inclusive,s as termino, logias “velhice” e “idoso”; no entanto, não
define qual seria o marco etário, físico ou sociológico para defini-los, cabendo
essa tarefa à legislação infraconstitucional.
Em 1994, com a promulgação da Política Nacional do Idoso, estabeleceu-se
que o idoso seria a pessoa com idade superior a 60 (sessenta) anos, adotando-se,
assim, o critério cronológico para a definição de idoso. Esse também foi o critério
utilizado pelo Estatuto do Idoso, que reiterou a definição de que idosa é a pes-
soa que, independentemente do sexo, possui idade igual ou superior a 60 anos.
O fato de a legislação infraconstitucional conceituar idoso mediante o requi-
sito etário, desconsiderando a capacidade física, psicológica ou social da pessoa,
é objeto de inúmeras críticas doutrinárias (SILVA, 2012, p. 36-74). Barros (2011)
destaca que a própria legislação estipula “idades para a escolarização, para o
casamento, para a entrada e saída do mundo do trabalho; enfim para a respon-
sabilidade por atos civis, políticos, sociais e por direitos” (BARROS, 2011, p. 50).
Portanto, qualquer pessoa que completar 60 (sessenta) anos de idade, inde-
pendentemente de suas condições físicas e mentais, e de sua qualidade de vida,
será considerada pessoa idosa para efeitos legais no Brasil.

Direitos do Idoso: Estatuto do Idoso


136 UNIDADE III

CONDIÇÃO JURÍDICA DO
IDOSO

Levando-se em consideração que


o envelhecimento populacional
é relacionado com a constante
busca pelo direito da tutela dos
hipossuficientes, no caso dos
indivíduos denominados como

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
integrantes de grupo vulnerável,
o aumento do número de idosos
provocou efeitos no ordenamento
jurídico.
No tocante ao conceito pós-moderno de
família, alguns acontecimentos históricos, como
a Revolução Industrial, a inserção da mulher no mercado de trabalho, as duas
grandes guerras, a necessidade de formação de grandes centros urbanos, a revo-
lução sexual, o movimento feminista, o aumento e reconhecimento do divórcio,
a admissão da criança como um sujeito de direito passível de tutela, a mudança
de papéis de homens e mulheres dentro de seus lares, dentre outros, deram mar-
gens ao surgimento de modelos familiares existentes atualmente (DONIZETTI,
2007, p. 52; GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 52).
A expansão de um novo modelo econômico no século XIX estremeceu os
alicerces da família considerada como instituição, pondo fim a uma concep-
ção uniforme e conservadora de família (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2012, p. 52).
Foi justamente nesse contexto que os idosos passaram a não ser mais primor-
diais na sociedade, pois para o capitalismo os “velhos” não têm capacidade de
produzir e, consequentemente, foram desvalorizados e perderam espaço social.
Bauman (2005), em sua obra “Vidas desperdiçadas”, trata sobre o refugo
humano, pessoas “excluídas da proteção da lei por ordem do soberano” (BAUMAN,
2005, p. 53), isto é, pessoas que, devido ao progresso econômico, acabaram por
ser consideradas inúteis, uma categoria excedente da população.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


137

O Estatuto do Idoso foi o instrumento legislativo que possibilitou a regula-


mentação da situação do idoso no país, disciplinando e efetivando todas as relações
de proteção ao idoso, e inclusive, trouxe os conceitos anteriormente explicitados.
Não se pode olvidar que, assim como na proteção da criança, aqui também
tem-se a teoria da proteção integral. O art. 2º do Estatuto do Idoso dispõe acerca
da tutela de seus direitos fundamentais, sem prejuízo da proteção integral, asse-
gurando-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades,
para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (BRASIL,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

2003, on-line).
Destaca-se também que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a
sua proteção um direito social, portanto, trata-se de obrigação do Estado garan-
tir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas
sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de
dignidade (BRASIL, 2003, on-line).
Ressalta-se que, apesar de o Estatuto do Idoso preconizar acerca da prote-
ção integral do idoso, é necessária a concretização da realização desse princípio,
que se efetiva com a integração do atendimento aos direitos fundamentais, sem
se esquecer da assistência moral, intelectual, espiritual e social.
Ademais, a proteção integral não é a mesma coisa da proteção especial, visto
que, como vulnerável, é direito de todos os idosos a proteção integral; já a pro-
teção especial é direcionada ao direito violado ou em iminência de ser violado.
Portanto, pelo princípio da proteção integral, a pessoa idosa tem o direito
de preservação da saúde física e mental, em condições de liberdade e dignidade,
sendo assim, é obrigação não só do Estado, mas também da família efetivar esses
direitos com absoluta prioridade.

Direitos do Idoso: Estatuto do Idoso


138 UNIDADE III

Esse princípio da proteção integral do idoso que decorre de sua vulnerabili-


dade pode ser claramente apresentado na possibilidade de pleitear alimen-
tos, dos quais familiares serão obrigados ao pagamento de verba alimentar
ao alimentando demonstrando-se a necessidade.
Nesse sentido, tem-se a seguinte decisão:
Definição da natureza solidária da obrigação de prestar alimentos à luz do
Estatuto do Idoso. — A doutrina é uníssona, sob o prisma do Código Civil,
em afirmar que o dever de prestar alimentos recíprocos entre pais e filhos
não tem natureza solidária, porque é conjunta. — A Lei 10.741/2003 atri-
buiu natureza solidária à obrigação de prestar alimentos quando os credo-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
res forem idosos, que por força da sua natureza especial prevalece sobre as
disposições específicas do Código Civil. — O Estatuto do Idoso, cumprindo
política pública (art. 3º), assegura celeridade no processo, impedindo inter-
venção de outros eventuais devedores de alimentos. — A solidariedade da
obrigação alimentar devida ao idoso lhe garante a opção entre os prestado-
res (art. 12). Recurso especial não conhecido (BRASIL, 2006, on-line).
Fonte: as autoras.

Não se pode esquecer de que o Estatuto do Idoso também dispôs sobre a prefe-
rência processual para o idoso, em que é assegurada prioridade na tramitação
dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em
que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, em qualquer instância, sendo que esta prioridade se estende aos
processos e procedimentos na Administração Pública, empresas prestadoras de
serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial junto à
Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos
Serviços de Assistência Judiciária (BRASIL, 2003, on-line).
Neste tópico, verificamos que o idoso também merece uma proteção maior
por parte da nossa sociedade, considerando que é uma pessoa frágil, não tem
mais as mesmas habilidades de antes e, em alguns momentos, se torna até mesmo
indefeso.

QUESTÕES ATUAIS RELACIONADAS À FAMÍLIA


139

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criança, a mulher e o idoso são seres vulneráveis, visto que podem ser oprimidos
de diversas formas possíveis, por exemplo, a falta de exercício da parentalidade
responsável e a violência intrafamiliar em específico.
O Estatuto da Criança e do Adolescente traz o conceito de crianças e ado-
lescentes, sendo estes os que têm entre doze e dezoito anos de idade, e aquelas
as pessoas de até doze anos de idade completos (BRASIL, 1990).
A Constituição Federal relacionou o exercício livre do direito ao planeja-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mento familiar à observância dos princípios da dignidade da pessoa humana


e da parentalidade responsável. Entende-se a parentalidade responsável como
a obrigação que os pais têm de prover a assistência moral, afetiva, intelectual,
material, espiritual e de orientação sexual aos filhos.
Em outro âmbito de proteção, tem-se a questão dos direitos humanos das
mulheres, em que a Lei Maria da Penha acaba delineando todos os seus aspectos.
Esta Lei também definiu alguns campos de abrangência em que a agressão
pode ocorrer, visto que proteção à mulher é realizada na unidade doméstica, no
âmbito familiar, bem como em situações em que inexiste coabitação entre agressor
e agredida, bastando existir a relação de afeto entre eles. Também trouxe a defi-
nição de algumas formas de violência que podem ser realizadas contra a mulher.
Foi importante incluir a proteção ao idoso atualmente, considerando o fato
de exigir uma maior atenção e preocupação com as características e demandas
próprias da faixa etária que está acima dos 65 anos, a qual tem crescido não só
no Brasil, mas no mundo todo.
Por fim, tem-se no Estatuto do Idoso o instrumento legislativo que regula a
situação do idoso no país, disciplinando e efetivando todas as relações de pro-
teção ao idoso, inclusive, trazendo alguns conceitos.

Considerações Finais
140

1. O que está abrangido no conceito do princípio do melhor interesse da criança e


do adolescente?
2. O que pode ser considerado castigo físico, tratamento cruel ou degradante à
criança e ao adolescente?
3. Quais os fatores preponderantes que auxiliam a diminuição das diferenças entre
homens e mulheres nas relações sociais?
4. Quais as espécies possíveis de violência doméstica que poderão se apresentar e
que a Lei Maria da Penha conceitua? Explique-as.
5. Qual a doutrina que alterou a visão que a sociedade tinha da criança, do adoles-
cente e do idoso dentro da organização jurídica brasileira? Explique-a.
141

DA NEGLIGÊNCIA: UMA OMISSÃO PARENTAL EM RELAÇÃO AO


DEVER DE CUIDADO PARA COM OS FILHOS

Letícia Carla Baptista Rosa1*

Tatiana de Freitas Giovanini Mochi2**

A prática de negligência no âmbito de uma situação de bem-estar, interfe-


doméstico, além de revelar uma trans- rindo, por consequência, no seu correto
gressão ao princípio da paternidade desenvolvimento físico, psíquico e social
responsável, também se enquadra como (GROSMAN, 2002, p. 57).
uma forma de violência intrafamiliar per-
petrada contra a criança e o adolescente. É intercorrente a presença de violência
doméstica no seio das famílias brasileiras,
Para Viviane Nogueira de Azevedo uma vez que os pais enxergam os filhos
Guerra, a violência doméstica praticada como “propriedade” e não como “sujei-
contra a população infantojuvenil é um tos de direitos”, evidenciando, assim, uma
abuso do poder disciplinar e coercitivo crise de autoridade que atinge toda a
dos pais ou responsáveis, em que estes sociedade moderna.
sujeitam o filho a uma situação de maus-
-tratos como verdadeiros objetos de No caso da criança e do adolescente,
dominação, podendo prolongar-se por é a sua vulnerabilidade no desenvol-
meses ou anos (GUERRA, 2001, p. 31-32). vimento físico, psíquico e sexual que
São “relações hierárquicas adultocêntri- os torna sujeitos à prática de violência
cas”, caracterizadas por um processo de intrafamiliar, sobretudo em razão de dois
vitimização em que o adulto aprisiona a motivos: a) quanto mais tenra a idade da
vontade e o desejo da vítima, coagindo-a criança, menores são as possibilidades de
a satisfazer os interesses, as expectati- que perceba que está sendo vítima de
vas e as paixões do agressor (AZEVEDO, maus-tratos domésticos; e b) ainda que
2000, p. 35). compreendam a agressão ou o perigo de
abuso, dificilmente a criança ou o adoles-
Segundo Cecilia Grosman, pode-se con- cente estarão aptos a se defenderem ou a
ceituar, ainda, a violência intrafamiliar solicitarem a ajuda e intervenção de um
como qualquer ação ou omissão inten- terceiro (MARCHIORI, 2005, p. 173-176).
cional e sistemática praticada por pais
ou responsáveis que privem os filhos Note-se, destarte, que a violência intra-
do exercício de seus direitos e de gozar familiar perpetrada contra a infância e a
1*
Mestre em Direito pela Unicesumar; Professora universitária Unicesumar.
2**
Advogada em Maringá; Mestre em Direito pela Unicesumar e Professora universitária da Unicesumar.
142

adolescência é usualmente classificada cuidados de outro genitor, ou mesmo de


em quatro modalidades, quais sejam a um terceiro, e demorar muito para regres-
violência física, o abuso sexual, o aban- sar ou nunca regressar (NATIONAL, 2005).
dono ou a negligência, e a violência
psíquica, ora denominada violência psi- A omissão parental em relação às neces-
cológica ou abuso emocional. sidades afetivas e psicológicas da criança
ou do adolescente configura, por sua vez,
Diferentemente da violência física, da a prática de negligência emocional. Esta
violência psicológica e do abuso sexual, modalidade de descuido aproxima-se e
os quais se concretizam, sobretudo, por confunde-se com a violência ou abuso
meio de condutas comissivas dos pais psicológico, mas em sua forma omissiva.
ou responsáveis, como agredir, xingar
ou fazer carícias nos órgãos sexuais da Portanto, o abandono ou a negligência
vítima, o abandono ou a negligência de crianças e adolescentes é uma triste
intrafamiliar implica, principalmente, realidade cuja incidência nas famílias
em uma omissão parental no cuidado supera os casos de abuso sexual, de vio-
dos filhos menores. lência física e de violência psicológica.
Trata-se de um fenômeno que eviden-
O abandono total ou parcial do infante, cia a falta de cuidado e de afeto dos pais
bem como a sua expulsão do lar, também em relação aos filhos, os quais, em decor-
se amoldam na espécie de negligência rência de sua vulnerabilidade, sofrem
supramencionada, como ocorre nas situ- sequelas nefastas no desenvolvimento
ações em que o bebê é abandonado em da personalidade. É necessário conscien-
lugares públicos logo após o nascimento; tizar a sociedade acerca deste tipo de
quando o menor é internado no hospital omissão parental, haja vista que implica
em decorrência de alguma enfermidade, em uma violação aos direitos fundamen-
mas seus pais não voltam para buscá-lo tais infantojuvenis, além de corroborar a
no momento em que é liberado para vol- falha parental em exercer a paternidade
tar ao seu lar; ou mesmo na hipótese de de forma responsável.
um dos genitores deixar o filho sob os
MATERIAL COMPLEMENTAR

Minorias & grupos vulneráveis: reflexões para uma


tutela inclusiva
Dirceu Pereira Siqueira e Nilson Tadeu Reis Campos Silva (Orgs.)
Editora: Boreal Boreal
Sinopse: urge que a materialidade e o dinamismo das
condições de exclusão sejam enfrentados tanto pelo Estado, em
cumprimento de obrigações decorrentes dos textos normativos
dispostos pelo constituinte brasileiro e pelos instrumentos internacionais de proteção quanto pela
sociedade de maneira enérgica, estabelecendo-se canais de participação cada vez mais abertos e
exigindo a legislação adequada, a política pública fundada no interesse coletivo e a jurisprudência
promotora dos direitos. E cabe à Doutrina alertar sobre as circunstâncias que viabilizam a discriminação
negativa, subsidiar as empreitadas governamentais e sociais, de maneira a oferecer um panorama de
saídas a esse conjunto de situações que negam a pluralidade social.

Direito do idoso: tutela jurídica constitucional


Nilson Tadeu Reis Campos Silva
Editora: Juruá
Sinopse: a presente obra analisa o Direito do Idoso à luz
das Constituições brasileiras, do seu Estatuto específico e da
efetividade da tutela material e processual, tendo como foco a
garantia dos direitos constitucionais a estes previstos. A análise
do envelhecimento como progressivo processo natural em que ocorrem mutações no indivíduo,
que podem, ou não, incapacitá-lo bio-psico-juridicamente, é o ponto de partida para considerações
multidisciplinares que perpassam conceitos das áreas médicas, psicológica, sociológica, teleológica,
histórica e jurídica. Além das percepções das artes literárias, o livro identifica o Ser para distinguir
senilidade de senescência e assim, fixar a intangibilidade ontológica do que Sartre denominou Ser-
para-si, base da consciência dotada de temporalidade e de facticidade.

Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR

Violência Contra A Mulher: o Homicídio Privilegiado


e A Violência Doméstica
Paulo Marco Ferreira Lima
Editora: Atlas
Sinopse: de acordo com o Relatório Mundial sobre a Violência
e Saúde da Organização Mundial da Saúde, em 86% dos casos
em que uma mulher é vítima de violência o ato é cometido por
alguém de sua intimidade, sejam eles namorados, amantes,
maridos, irmãos, pai ou padrastos. Também não se pode ignorar o fato de que há mulheres que acabam
por se verem escravizadas por seus amantes, a tal ponto que se sujeitariam a qualquer degradação para
se manterem perto deles. Constatações como essas são apresentadas, comentadas e analisadas pelo
autor, que, por força de sua atividade no Ministério Público em mais de 20 anos lidando com o tema, faz
um estudo aprofundado sobre a questão da violência doméstica, e em especial, contra as mulheres.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Preciosa: uma história de esperança


Sinopse: a história se passa no ano de 1987, em Nova York, no
bairro do Harlem. Claireece “Preciosa” Jones (Gabourey Sidibe)
é uma adolescente de 16 anos que sofre uma série de privações
durante sua juventude. Violentada pelo pai (Rodney Jackson) e
abusada pela mãe (Mo’Nique), ela cresce irritada e sem qualquer
tipo de amor. O fato de ser pobre e acima do peso também não a
ajuda nem um pouco. Além disso, Preciosa tem um filho apelidado
de “Mongo”, por ser portador de síndrome de Down, que está
sob os cuidados da avó. Quando engravida pela segunda vez, Preciosa é suspensa da escola. A Sra.
Lichtenstein (Nealla Gordon) consegue para ela uma escola alternativa, que possa ajudá-la a melhor
lidar com sua vida. Na escola, Preciosa encontra um meio de fugir de sua existência traumática, se
refugiando em sua imaginação.

De Menor
Sinopse: a jovem advogada Helena (Rita Batata) é defensora
pública de menores infratores e vive com Caio (Giovanni Gallo),
seu irmão caçula. Órfãos, os dois têm um relacionamento de
muita cumplicidade, até o dia em que o rapaz comete um delito
e torna-se réu na Vara da Infância e Juventude de Santos, local
de trabalho de Helena.

Pelo meus olhos


Sinopse: é a história de uma mulher que, numa noite de inverno,
foge de casa levando o filho e traz consigo a visão de um quadro
familiar em que os conceitos de lar, amor e proteção se misturam
com dor e medo.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

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2017.
151
REFERÊNCIAS
GABARITO

1. O princípio do melhor interesse não será utilizado somente como um princípio


geral, mas também como um critério interpretativo dos códigos e das leis or-
dinárias, bem como na elaboração de novas leis (GAMA, 2009, p. 460; PEREIRA,
2008), pois, em decorrência dele, priorizam-se as necessidades da criança e do
adolescente no caso de conflito entre pais ou responsáveis.
2. A lei nº. 13.010/2014 (Lei Menino Bernardo), no ECA, são o de castigo físico, ca-
racterizado pela ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da
força física sobre a criança ou o adolescente que possa resultar em sofrimento
físico ou lesão. E também o de tratamento cruel ou degradante, caracterizado
pela conduta ou pela forma cruel de tratamento que humilhe, ameace grave-
mente ou ridicularize a criança ou o adolescente (BRASIL, 1990).
3. Foi com a Revolução Francesa que o cenário de submissão da mulher perante
o homem começou a ganhar contornos diferentes, visto que as mulheres co-
meçaram a reivindicar seus direitos. No entanto, ainda continuam a sofrer com
a imposição da superioridade masculina. Na Revolução Industrial, houve uma
escravização da mulher operária às máquinas e ao trabalho, já estando submissa
no ambiente familiar.
Somente em meados do século XIX, com a Segunda Guerra Mundial e a saída dos
homens para a guerra, as mulheres se viram obrigadas a integrar o mercado de
trabalho, passando a se igualar ao homem. Na mesma época, surgiu a primeira
onda do feminismo, assim, a mulher começou a ganhar espaço efetivo na socieda-
de por meio da sua luta por igualdade. Apesar disso, no Brasil, imperava o sistema
patriarcal, em que as mulheres eram subordinadas aos seus cônjuges. Nesse pe-
ríodo, a mulher não detinha liberdade para praticar qualquer atividade, assim, ao
homem era atribuído o pátrio poder, podendo, inclusive, impor castigos corporais
à mulher sem que lhe fosse imputada pena (MARQUES, 2009, p. 15).
Foi a partir desse momento que cresceu a luta constante para igualar o homem
e a mulher, no entanto, essa igualdade ainda hoje na família não é possível ser
destacada, visto que, aparentemente, a mulher conseguiu igualdade ao homem,
porém o cuidado com a família, em regra, ainda pertence a ela, o que faz com
que a mulher tenha uma dupla jornada, a do trabalho e a do lar.
Atualmente, as mulheres estudam mais que os homens, mas ainda têm menos
chances de emprego, recebem menos exercendo as mesmas funções e ocupam
os piores postos. Em 1998, 52,8% das brasileiras eram consideradas economica-
mente ativas, comparadas a 82% dos homens. Em 2008, essas proporções eram de
57,6% e 80,5%. A participação nas esferas de decisão ainda é pequena. Em 2010,
elas ficaram com 13,6% dos assentos no Senado, 8,7% na Câmara dos Deputados
e 11,6% no total das Assembleias Legislativas (O VOLUNTARIADO, online).
Contudo, as mulheres ganharam um espaço significativo no mercado do trabalho,
mas infelizmente não é o mesmo nas esferas de decisão política, apesar de a lei pre-
ver que cada partido necessita de 30% da candidatura de pessoas, do sexo feminino,
conforme demonstra o art. 10, § 3º da Lei n. 9.504/1997(PROGRAMA, 2014).
GABARITO

O Brasil tem progredido com os indicadores do ODM 3, principalmente no acesso


à educação. De 1990 a 2012, a escolarização dos homens no ensino médio aumen-
tou mais do que a das mulheres, diminuindo a disparidade, já que a desvantagem
pertencia a eles. Enquanto em 1990 havia 136 mulheres para cada 100 homens no
ensino médio, em 2012, a proporção era de 125 para 100. Tal fato pode ser justi-
ficado pela melhoria do fluxo dos alunos no ensino fundamental que, junto com
o aumento da oferta de vagas no ensino médio, possibilitou que mais homens
pudessem prosseguir com seus estudos (PROGRAMA, 2014 on-line)4.
Essa diferença entre a quantidade de mulheres e homens no ensino médio se
dava pelo fato de que os homens tinham preconceito em relação aos estudos,
acreditavam que estudar não era considerado coisa de homem, pois era tido
como uma atribuição feminina, uma vez que o homem deveria se dedicar ao
trabalho. Atualmente, não há mais esse preconceito e têm-se cada vez mais ho-
mens concluindo o ensino médio (PROGRAMA, 2014 on-line)4.
A desvantagem masculina no ensino superior aumentou. Em 1990, para cada 100
homens frequentando escolas superiores, havia 126 mulheres e, em 2012, essa
razão passou a ser de 100 para 136. Com relação à participação feminina no traba-
lho, no Brasil, a percentagem de mulheres em atividades fora da agricultura já era
de 42,7% em 1992 e passou para 47,3% em 2012. Além disso, as mulheres chegam
a representar 59,5% dos empregados no setor não agrícola com educação supe-
rior, ou seja, são maioria entre os profissionais que ocupam os melhores e mais
bem remunerados postos de trabalho assalariados (PROGRAMA, 2014 on-line)4.
Conforme demonstrado, nota-se que há mais mulheres cursando o ensino supe-
rior do que homens e, consequentemente, há mais mulheres formadas no mer-
cado de trabalho, o que deveria trazer como resultado a igualdade entre sexos,
mas nem sempre é isso que ocorre.
Dados do 5º Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimen-
to do Milênio (ODM) mostram que, entre 2010 e 2012, os relatos de violência física
representaram mais de 55% dos atendimentos realizados pelo Ligue 180, a Central
de Atendimento à Mulher, criado, em 2006, pelo governo brasileiro. Os relatos de
violência psicológica (27,6%) e violência moral (11,7%) vêm na sequência, também
figurando entre os casos mais comuns reportados (PROGRAMA, 2014, on-line)4.
Vê-se de forma clara que ainda há barreiras do mercado que trazem maiores
prejuízos às mulheres, o que aumenta as disparidades entre os gêneros. O Fundo
de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM), por meio de
uma pesquisa, conseguiu constatar que a mulher brasileira recebe em média um
salário 30% inferior que o homem (ONU..., online). Esse fato traz estranheza, no
entanto, não pode ser ignorado.
Em nível jurídico, somente com a Constituição Federal de 1988, eclodiria, em
meio a movimentos feministas, o que se considerou a igualdade entre mulheres
e homens. A Constituição Federal dispôs acerca da igualdade entre os sexos no
153
GABARITO

inciso I, do artigo 5° e, especificamente, para o âmbito familiar, no § 5º, do art.


226, além de versar acerca do dever do Estado de combater a violência nas rela-
ções familiares.
4. A violência física é considerada qualquer conduta que ofenda sua integridade
ou saúde corporal, não exige marcas aparentes, mas se caracteriza simplesmen-
te pela ofensa ao corpo ou à saúde da mulher pelo uso da força física (DIAS,
2007, p. 46).
A violência psicológica consubstancia a ação ou omissão destinada a degradar
ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por
meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, iso-
lamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica,
à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal.
O inciso III do art. 7º da Lei nº. 11.340/2006 traz também a violência sexual, a qual
é caracterizada pela ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico
ou verbal, ou a participar de outras relações sexuais com uso da força, intimi-
dação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro
mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. Considera-se como violência
sexual, também, o fato de o agressor obrigar a vítima a realizar alguns desses
atos com terceiros (CNJ, on-line)2.
Outra forma está presente no inciso IV, no qual está delineada a violência patri-
monial, consubstanciada naquela que implique dano, perda, subtração, destrui-
ção ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores (CNJ, online)2.
Por fim, tem-se a violência moral, caracterizada na ação destinada a caluniar, di-
famar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher, está disposta no inciso V
do art. 7º da lei. Essa forma de violência é praticada com a intenção de alterar,
modificar ou criar algo que atente contra a honra e reputação social da mulher
(CNJ, online)2.
5. Trata-se da Teoria da Proteção Integral que pretende dar uma visibilidade de
sujeito de direitos às crianças e aos adolescentes e idosos, que são titulares de
direitos que podem ser exigidos da família, da sociedade e do Estado.
Compreende-se, por meio dessa proposição, que a legislação que tutele direitos
de crianças e de adolescentes e idosos deverá concebê-los como cidadãos plenos,
contudo, devem ser considerados como sujeitos a uma proteção prioritária, já que
são pessoas em desenvolvimento físico, psicológico e moral ou, no caso do idoso,
que devido sua debilidade física, psicológica e moral, merecem tal proteção.
Professora Me. Mariane Helena Lopes
Professora Me. Monica Cameron Lavor Francischini

IV
UNIDADE
SEGURIDADE SOCIAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Estudar a evolução histórica, o conceito e os princípios da Seguridade
Social.
■■ Conhecer os princípios da Seguridade Social.
■■ Definir as formas de custeio.
■■ Analisar os direitos sociais e a Assistência Social.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Seguridade Social na Constituição Federal de 1988
■■ Principais Princípios que Regem a Seguridade Social
■■ Forma de Custeio da Seguridade Social
■■ Os Direitos Sociais e a Assistência Social
157

INTRODUÇÃO

Durante séculos, o Estado não se preocupou em criar mecanismos de proteção


ao indivíduo para enfrentar as adversidades da vida, como a velhice ou a doença,
talvez por esse motivo é que a previdência complementar (de iniciativa privada)
tenha sido criada antes mesmo da previdência de ordem pública.
Atualmente, a realidade é outra. A Seguridade Social está positivada na
Constituição Federal e em diversas leis para proteger o cidadão nessas adversi-
dades, seja mediante caráter contributivo ou não.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A busca da igualdade social levou ao reconhecimento, em inúmeros paí-


ses, da necessidade de se tutelar os indivíduos que se tornem hipossuficientes,
seja por enfermidade, invalidez ou por envelhecimento, de modo a se permitir
uma vida digna àquelas pessoas cuja falta de autonomia é decorrente da perda
de sua renda ou da ausência de apoio, o que impede, assim, uma participação
ativa na sociedade.
Aprender sobre essas formas de proteção estatal é primordial para o exer-
cício da profissão de assistente social, pois diariamente você, acadêmico(a), irá
encontrar pessoas carentes e necessitadas de amparo estatal.
Para isso, esta unidade irá permiti-lo(a) conhecer mais sobre a seguridade
social e a assistência social brasileira, em que esta última, por força da previsão
constitucional, passou a ser prestada às pessoas que não conseguem prover seu
próprio sustento e também não o conseguem ter, provido por seus familiares
como preconizado pelas normas do Código Civil.
Tem-se, pois, que a assistência social é direito do cidadão e é dever do Estado
promovê-la, este, por meio de uma política de seguridade social não contribu-
tiva, prevê condições mínimas necessárias para o atendimento básico ao cidadão
e, consequentemente, proporciona renda permissiva de uma vida digna.
Assim, nesta unidade, verificaremos como foi a evolução da Seguridade
Social, objetivando promover a discussão sobre a efetividade do sistema e a real
proteção da sociedade. Contudo, cabe ressaltar que não temos como objetivo
esgotar o assunto, mas sim fomentar o estudo sobre o mesmo.

Introdução
158 UNIDADE IV

A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


DE 1988

A Seguridade Social é um direito fundamental inserido entre os direitos sociais


assegurados pela Constituição Federal, como a saúde, a previdência social, a pro-
teção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados, motivo pelo
qual há a corresponsabilidade da sociedade e do Estado, pois a seguridade é um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
destinado a assegurar os direitos relacionados.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O constituinte de 1988 aplicou a concepção de Seguridade Social en-
tendendo ser uma política de proteção integrada da cidadania fun-
damentada na declaração dos direitos do homem, enquanto política
pública de proteção social, política de direitos, universal e de responsa-
bilidade estatal, composta pela saúde, Previdência e assistência social.
Dentro deste contexto, a Previdência Social brasileira deixou de ser um
simples seguro para se tornar um direito social (FRANÇA, 2011, p. 17).

A Seguridade Social possui definição prevista na Constituição Federal de 1988,


mais precisamente no artigo 194, que a define como um conjunto integrado de
ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar
os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
No Texto Constitucional, no capítulo da Seguridade Social (artigos 194 a 204),
a Seguridade é definida como um conjunto de princípios e normas destinados
a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingên-
cias que os impeçam de prover suas necessidades pessoais básicas e as de suas
famílias.
A Seguridade Social é
composta de várias partes orga-
nizadas, formando um sistema.
Contém, ainda, princípios pró-
prios e objetivos que visam à
promoção do bem-estar e justiça
social, derivando daí as demais
normas. Dentre estas, estão as Leis
nº. 8.212 e 8.213, ambas editadas

SEGURIDADE SOCIAL
159

em 1991, bem como a Lei 8.742 de 1993 e suas respectivas alterações, as quais
centralizam o seu microssistema jurídico estatal.
Nas mãos do Estado está centralizado todo o sistema de Seguridade Social,
esse organiza seu custeio e concede os benefícios e os serviços, sendo o órgão
incumbido dessas determinações o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
autarquia subordinada ao Ministério da Previdência Social e Assistência Social.
Prevê-se, dentro desse sistema, não só a participação do Poder Público, mas
também de toda a sociedade, por intermédio de um conjunto integrado de ações
de ambas as partes envolvidas, sendo importante salientar o fato de que eventu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ais insuficiências financeiras ficarão a cargo da União, mas isso não desnatura a
participação de todos os cidadãos.
Por conseguinte, o Estado atenderá às necessidades dos cidadãos advindas
das adversidades, proporcionando-lhes tranquilidade, principalmente no futuro,
quando o trabalhador tiver perdido a sua remuneração, capacidade de exercer
atividade laborativa, ou mesmo daquelas pessoas sem condições de prover sua
própria subsistência, tornando possível um nível de vida aceitável.
Para França (2011, p. 21), a Seguridade Social visa amenizar as desigualda-
des e a pobreza em cumprimento ao disposto no artigo 3 da CF/88, amparando,
assim, os necessitados nas hipóteses em que não possam prover suas necessida-
des e as de seus familiares, por seus próprios meios.
Integram a Seguridade Social: a Previdência Social, a Assistência Social e
a Saúde.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A proteção social nasceu do próprio eixo familiar, pois cabia aos mais jovens o
cuidado aos idosos e incapacitados (MARTINEZ, 1989 p. 76). Entretanto, nem
sempre essa proteção e cuidado era (e ainda é) possível, o que faz com que essas
pessoas fragilizadas precisem de um auxílio externo: terceiros voluntários que,
com o apoio da Igreja, auxiliavam as pessoas necessitadas.
O conceito de proteção e assistência inerentes à previdência possui
uma ligação estreita com o instinto de sobrevivência do ser humano.

A Seguridade Social na Constituição Federal de 1988


160 UNIDADE IV

Os sentimentos de insegurança e incerteza é que levam o homem a


imaginar formas de se proteger dos perigos que ainda não existem ou
que ele pode presumir virem a afligi-lo no futuro independente da dis-
tância desse futuro. Para os longevos essa premissa é alicerçada princi-
palmente na necessidade de proteção especial em razão da vulnerabili-
dade a que as pessoas com uma idade mais avançada se veem expostos
num cenário de algumas limitações físicas que a própria idade impõe
(CANALI FILHO, 2011, p. 67).

A família romana, por meio do pater famílias, tinha a obrigação de prestar assis-
tência aos servos e clientes em forma de associação, mediante contribuição de
seus membros de modo a ajudar os mais necessitados, tendo o Estado somente

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
assumido suas responsabilidades sociais no século XVII, com a edição da “Lei
dos Pobres”, pois, para o Estado Liberal, o governo era um bem necessário que
pouco interferia em áreas consideradas fundamentais.
E, como o Estado Liberal era a forma política de uma sociedade in-
dividualista (fundada principalmente na prevalência do ter sobre o
ser), primando pela extrema liberdade, sem a intervenção do Estado
na ordem econômica, ele não se mostrou suficiente para a solução dos
problemas sociais então emergentes, permitindo que se instituísse uma
nova escravidão, com o crescimento das forças dos privilegiados da for-
tuna e a servidão e opressão dos mais débeis.

Não se garantia a subsistência mínima aos menos afortunados que, na


velhice, quedavam desamparados (SETTE, 2004, p. 40).

Na Alemanha, Otto Von Bismarck introduziu uma série de seguros sociais, de


modo a atenuar a tensão existente nas classes trabalhadoras, tendo instituído,
em 1883, o seguro doença, custeado por contribuições dos empregados, empre-
gadores e do próprio Estado.
Em 1884, decretou-se o seguro contra acidentes do trabalho com custeio
dos empresários e, em 1889, foi criado o seguro contra invalidez e velhice, cus-
teado pelos próprios trabalhadores, empregadores e Estado, sendo a Dinamarca
a pioneira na assistência aos idosos indigentes.
Nos Estados Unidos, em 1935, foram criados dois planos com a finalidade de
combater o desemprego e garantir os direitos sociais pelo Estado. Dentro desse
contexto é que surge a seguridade social, com a função de satisfazer as necessi-
dades sociais (BOLLMANN, 2009, p. 57).

SEGURIDADE SOCIAL
161

Na Inglaterra, o Plano Beveridge de 1941, criado por Lord Beveridge, tinha


como finalidade criar um sistema de seguro social que garantisse ao indivíduo pro-
teção diante de certas contingências sociais, tais como a incapacidade laborativa.
Neste momento histórico é que se estabeleceu um divisor entre o seguro e os
serviços sociais, pois a Seguridade Social deveria ser entendida como parte de uma
política ampla de progresso social, podendo o Estado proporcionar garantia de renda.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, inscreve, entre
outros direitos fundamentais, a proteção previdenciária ao determinar que:
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente pare lhe asse-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

gurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à


alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda
quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no
desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros
casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias indepen-
dentes da sua vontade (ONU, 1948, on-line)

Com esses conceitos, surgiu o Estado de Bem-Estar Social, cujas medidas afir-
mativas trouxeram a Previdência Social e o auxílio a pessoas carentes, tendo o
Brasil, desde a Constituição Federal de 1988, adotado esta linha de pensamento.
No Brasil, o Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, em 1821, aprovei-
tando o contexto histórico descrito, concedeu aos professores que cumpriram
com, no mínimo, 30 (trinta) anos de serviço uma espécie de aposentadoria deno-
minada jubilação, sendo que aqueles que atendessem às exigências e optassem
por permanecer em exercício seria concedido um abono de 25% (vinte e cinco
por cento) sobre seus salários.
Em 1835, foram criados os Montepios, instituições nas quais cada membro con-
tribuía em cotas para, após seu falecimento, favorecer a alguém por ele escolhido.
O próprio Código Comercial de 1850 já definia, em seu artigo 79, que os
“acidentes imprevistos e inculpados que impedirem aos prepostos o exercício
de suas funções, não interromperão o vencimento de seu salário, contanto que
a inabilitação não exceda a 3 meses contínuos” (BRASIL, 1850, on-line).
A Constituição Federal de 1891, em seu artigo 75, foi a primeira a conter a
terminologia “aposentadoria” em seu texto e determinava que esse benefício só
poderia ser dado aos funcionários públicos em caso de invalidez “no serviço da
Nação” (MARTINS, 2008, p. 06).

A Seguridade Social na Constituição Federal de 1988


162 UNIDADE IV

Um outro importante momento histórico brasileiro foi a criação da Lei Eloy


Chaves (Decreto 4.682 de 21/01/1923) (BRASIL, 1923, on-line), tendo sido essa
a primeira norma a instituir no Brasil a previdência social, criando a Caixa de
Aposentadorias e Pensões para os ferroviários a nível nacional.
A Constituição Federal de 1934 (BRASIL, 1934, on-line) trouxe a compe-
tência legislativa para que a União Federal fixasse as regras de Assistência Social,
e diversas outras leis foram criadas até chegar ao sistema previdenciário atual.
Vale dizer que a atual Constituição Federal possui um capítulo inteiro que
trata da Seguridade Social, tendo sido criado o INSS em 1990, o qual absorve as

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
funções de arrecadação das contribuições previdenciárias, pagamento de bene-
fícios e prestações de serviço, havendo um “discurso afirmativo dizendo que é
responsabilidade do Estado a cobertura das necessidades sociais da população
e que ela tem acesso a estes direitos na condição de cidadão” (BOLLMANN,
2009, p. 61).
Em 1991, foram publicadas duas importantes leis sobre a Seguridade Social: a
Lei 8.212 (que dispõe sobre a organização da seguridade social e institui o plano
de custeio) e a Lei 8.213 (planos de benefícios da Previdência Social), além da
LOAS (Lei 742/1993), que veio dispor sobre a organização da Assistência Social.

PRINCIPAIS PRINCÍPIOS QUE REGEM A SEGURIDADE


SOCIAL

Conforme já mencionado na primeira Unidade, atualmente os princípios são


considerados uma norma jurídica, até porque os princípios constitucionais
“encarnam juridicamente os ideais de justiça” (SARMENTO, 2004, p. 78-79).
Princípios são as normas protetoras dos valores considerados essenciais
para a sociedade, o que faz com que a ofensa a um princípio seja um ato grave.
Assim, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 194, parágrafo único,
determina que cabe ao Poder Público organizar a Seguridade Social, estabele-
cendo os objetivos constitucionais que a regem.

SEGURIDADE SOCIAL
163

Os princípios constitucionais previdenciários, num total de sete, são pautas


de valores consagradas na Carta Política referentes à Seguridade Social, sendo
eles os a seguir elencados.

UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO

A Seguridade Social possui como postulado basilar a universalidade, ou seja, a


abrangência de todos os residentes do país, que, diante de uma contingência,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

terão direito aos benefícios, atendendo à cobertura dos riscos sociais da forma
mais ampla possível (BOLLMANN, 2009, p. 67).
Ensina Armando Canali Filho (2011, p. 71) que esse princípio garante a todas
as pessoas o direito à Seguridade Social, assim, essa universalidade de cobertura
deve alcançar todos os eventos cuja reparação seja urgente, a fim de manter a
subsistência dos que dela necessitam, por exemplo, a impossibilidade de retor-
nar ao trabalho, a idade avançada, a morte, entre outros.
Já a universalidade do atendimento tem por função a entrega das ações, pres-
tações e serviços de seguridade social a todos os que necessitam, observando-se
a contributividade, o que significa dizer que somente terão acesso aos benefícios
previdenciários aqueles que contribuírem. Por outro lado, Marcelo Leonardo
Tavares defende que:
[...] desde que o indivíduo comprove estar em situação de necessidade
e preencha os requisitos específicos para a fruição das prestações esta-
tais, é vedado a lei eleger qualquer critério baseado em características
pessoais para negar o gozo de benefícios e serviços sociais assistenciais,
pois na redação do art. 203, a assistência social será prestada a quem
dela necessitar (TAVARES, 2008, p. 02-03).

UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E


SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS

Anteriormente, na edição das Leis 8.212 e 8.213, ambas de 1991, o Brasil possuía
distintos regimes de previdência voltados aos trabalhadores do setor privado;

Principais Princípios que Regem a Seguridade Social


164 UNIDADE IV

entre eles, um destinado aos trabalhadores rurais, que possuía menor proteção
social, e outro destinado aos trabalhadores urbanos.
Após a edição das leis supracitadas, buscando acabar com a desigualdade
de tratamento, foi conferido procedimento uniforme a trabalhadores rurais e
urbanos, havendo, assim, idênticos benefícios e serviços para os mesmos even-
tos cobertos pelo sistema.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Entretanto, esse pareamento concedeu tratamento igualitário somente para os


critérios utilizados para a concessão das prestações e não para os valores a serem
recebidos a título de benefício, pois o valor pode ser diferenciado.

SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS


BENEFÍCIOS E SERVIÇOS

Esse princípio permite ao legislador fazer a seleção das prestações obedecendo


às possibilidades econômico-financeiras do sistema da Seguridade Social. Isto

SEGURIDADE SOCIAL
165

significa dizer que, tendo em vista o caixa da Seguridade Social, os benefícios e


serviços serão prestados na medida de sua essencialidade.
Por outro lado, Ferraro (2010, p. 98) destaca que o princípio da seletividade
pressupõe que os benefícios são concedidos a quem deles efetivamente necessite,
ou seja, com menor renda, motivo pelo qual se devem apontar os requisitos para
a concessão dos benefícios e serviços. Vários serão os benefícios ou serviços que
serão concedidos e mantidos de forma seletiva, conforme a necessidade da pessoa.
Por distributividade entendemos que esse princípio deve ser interpretado
em seu sentido de distribuição de renda e bem-estar social; assim, pela conces-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

são de benefícios e serviços, visa-se ao bem-estar e à justiça social.


No que diz respeito ao princípio da seletividade, Tavares (2008, p. 04) exem-
plifica: “é o que ocorre com o salário-família, benefício previdenciário do Regime
Geral da Previdência. Prestação considerada não essencial no sistema, somente
é devida aos segurados de mais baixa renda (art. 201, IV).” Quanto ao princí-
pio da distributividade, exemplifica que nas prestações de saúde, aqueles que
dela necessitam, recebem prioridade em relação a outros que necessitem menos.

IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS

O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios é equivalente ao princípio


da intangibilidade do salário dos empregados e dos vencimentos dos servidores,
o que significa dizer que aquele benefício concedido legalmente não pode ter
seu valor nominal reduzido, não podendo ser objeto de desconto, exceto aqueles
determinados por lei ou ordem judicial. Dessa forma, visa-se garantir a man-
tença do poder aquisitivo.
Nessa perspectiva, aplica-se o princípio da suficiência ou efetividade na
medida em que se determina que o valor dos benefícios não serão reduzidos.
Ressalta-se que tal vedação está relacionada à redução nominal. Contudo, ape-
nas a proibição à redução do valor nominal dos benefícios não é garantia de que
se evitará a sua irredutibilidade. A partir dessa ideia, o legislador constituinte de
1988 previu que a irredutibilidade não é apenas nominal, mas sim real (artigo
201, parágrafo 4º da CF/88 e artigo 58 do ADCT).

Principais Princípios que Regem a Seguridade Social


166 UNIDADE IV

Apesar desse princípio prever a irredutibilidade dos benefícios, não existe


mais vinculação entre o reajuste dos benefícios da seguridade social e o sa-
lário mínimo.
Fonte: as autoras.

EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO NO CUSTEIO

O financiamento da Seguridade Social deve ser feito tanto pelo Estado quanto

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pela sociedade civil. A Lei 8.212/91 deixa claro o respectivo princípio ao defi-
nir alíquotas diferenciadas para contribuinte empregado, empregado doméstico
e avulso, na medida de seus salários de contribuição (BRASIL, 1991, on-line).
A Emenda Constitucional 20/98 e 47/05 (BRASIL, 1988, on-line) também
explica o referido princípio, em seu artigo 195, § 9º, que determina que possui-
rão alíquotas ou bases de cálculo diferenciados as contribuições sociais a cargo
do empregador, das empresas ou entidade a ela equiparada.

DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO

Segundo Oliveira (2009, p. 346), o princípio da diversidade da base de finan-


ciamento ensina que toda a sociedade deve contribuir para o financiamento da
seguridade social.
O constituinte, diante desse princípio, tentou estabelecer um tríplice sistema
de financiamento, em que a receita da Seguridade Social pudesse ser arrecadada
de várias fontes pagadoras, tais como os trabalhadores, empregadores e Poder
Público.
A gestão dos recursos, programas, planos e serviços da Seguridade Social,
aí compreendida a Saúde, a Assistência Social e a Previdência Social, deve ser
realizada mediante discussão da sociedade. Com essa finalidade, foram criados
órgãos colegiados de deliberação (FERRARO, 2010, p. 110).
O primeiro deles seria o Conselho Nacional de Previdência Social — CNPS,
órgão criado pela Lei 8.213/91 (BRASIL, 1991), que tem como principal objetivo

SEGURIDADE SOCIAL
167

estabelecer o caráter democrático e descentralizado da administração, em cum-


primento ao disposto no art. 194 da Constituição, com a redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, que preconiza uma gestão quadripartite, com a
participação do Governo, dos trabalhadores em atividade, dos empregadores e
dos aposentados.
Existe também o Conselho Nacional da Assistência Social — CNAS, órgão
superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, instituído pela Lei 8.742/93 (Lei
Orgânica de Assistência Social — LOAS), que é responsável pela coordenação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

da política Nacional de Assistência Social e possui como objetivo zelar pela efe-
tivação do sistema descentralizado e participativo de assistência social, apreciar
e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser encaminhada pelo
Ministério, entre outros.
E, por fim, o Conselho Nacional de Saúde — CNS, que se trata de um órgão
do Ministério da Saúde, de instância colegiada, deliberativa e de natureza per-
manente, criado pela Lei 8.080/90, que tem por finalidade atuar na formulação
e controle da execução da política nacional de saúde, inclusive nos aspectos eco-
nômicos e financeiros, nas estratégias e na promoção do processo de controle
social em toda a sua amplitude, no âmbito dos setores público e privado.
Esses são os princípios elencados no artigo 194 da CF/88, entretanto, exis-
tem diversos outros princípios diretamente ligados à Seguridade Social, em que
destacam-se os seguintes:

Princípio da Solidariedade

Esse princípio pode ser considerado um postulado fundamental da Seguridade


Social, pois está previsto implicitamente na Constituição Federal, em seu artigo
3, I.
Sua origem vem desde os achados arqueológicos egípcios, onde houve a com-
provação da preocupação “do grupo em resguardar o interesse de todos diante do
infortúnio que pode transformar os ricos em pobres” (BOLLMANN, 2009, p. 38).
Esse interesse individual se tornou um interesse da coletividade para deter-
minadas contingências sociais, como fome, velhice, morte, entre outros, tendo

Principais Princípios que Regem a Seguridade Social


168 UNIDADE IV

por objetivo prevenir futuras adversidades. Com o passar dos anos, essa quota
foi aumentando e formando grupos de profissionais, de empresas, que, por inter-
médio de esforços em comum ou da criação de determinado fundo, vinham se
preparando para quando não mais pudessem trabalhar.
A solidariedade resumia-se, então, na contribuição da maioria em benefí-
cio da minoria, principalmente daqueles que não mais possuíam condições de
trabalhar e garantir o sustento próprio e da família.
Ocorre a solidariedade da Seguridade Social quando várias pessoas unem
forças para um fim comum, o bem-estar e a justiça social (MUSSI, 2010, p. 155),

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ou seja, a pessoa atingida por uma contingência deixa de contribuir, mas as outras
continuam contribuindo, garantido a cobertura do benefício do necessitado.
Tendo em vista esse preceito no tocante à Seguridade Social, aqueles que
possuem melhores condições financeiras contribuirão com uma parcela maior
para financiar a Seguridade, ou seja: a maioria contribui para o bem-estar da
minoria em sociedade, que, por sua vez, em um dado momento, também con-
tribuirá ou não para a manutenção de outras pessoas e assim sucessivamente”
(FERRARO, 2010, p. 86).
Sendo assim, vai se formando a cotização de cada uma das pessoas envolvi-
das pela Seguridade Social para a constituição do numerário, visando à concessão
dos seus benefícios.
Assim, depreende-se que o princípio da solidariedade consiste num conjunto
de instrumentos voltados para garantir uma existência digna, comum a todos,
em uma sociedade que se desenvolva de forma livre e justa.

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

A dignidade da pessoa humana tem sido uma preocupação constante no mundo


ocidental, tendo sido pautadas legislações e decisões no mundo todo, prin-
cipalmente após a Segunda Guerra Mundial, pois “para definir dignidade é
necessário levar em consideração todas as violações que foram praticadas”
(FREIRE; RAMPAZZO, 2009, p. 602).
Apesar disso, o conceito desse princípio não é universal. Isso porque a dig-
nidade da pessoa humana não é absoluta, possui um aspecto cultural, social e

SEGURIDADE SOCIAL
169

político, devendo seu conteúdo e aplicação ser analisados conforme o “contexto


da situação concreta da conduta estatal e do comportamento de cada pessoa
humana” (SARLET, 2009, p. 28).
A dignidade da pessoa humana se assenta sobre o pressuposto de que cada ser
humano possui um valor intrínseco e desfruta de uma posição especial no uni-
verso, pois identifica um espaço de integridade moral a ser assegurado por todas
as pessoas por sua existência no mundo. A dignidade relaciona-se tanto com a
liberdade e valores do espírito quanto com as condições materiais de subsistência.
Denota-se que o princípio da dignidade da pessoa humana não tem o condão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

apenas de impedir a degradação do homem, mas também de que haja promo-


ção ao livre desenvolvimento da pessoa humana. Para Barroso (2013, p. 21),
toda pessoa deverá ter direito ao livre desenvolvimento da sua personalidade na
medida em que não viole os direitos de terceiros e nem ofenda a ordem consti-
tucional ou a moralidade.
A CF/88 (BRASIL, 1988) trouxe a dignidade da pessoa humana como um dos
fundamentos da República, devendo ser essa dignidade respeitada pelo Estado
e pela sociedade, uma vez que sem ela o homem se torna um bem, uma coisa.
Costuma-se afirmar que a dignidade é um atributo do ser humano, a qual
nasce junto com ele, sendo o principal fundamento do nosso ordenamento jurí-
dico e dos próprios direitos humanos.
Sarlet (2009, p. 20) explica que a dignidade inerente ao ser humano não
pode ser considerada sinônimo de qualidade biológica, como as características
genéticas de raça e cor dos olhos. A dignidade da pessoa humana independe
das características externas do indivíduo, sua classe social, gênero, idade e cor,
sendo que todos os seres humanos a possuem independente, inclusive, de seus
bens materiais.
Carlos Simões (2013, p. 215), ao tratar dos direitos sociais, destaca que o
conjunto desses direitos sociais são imprescindíveis a uma vida com dignidade,
pois “a universalização dos direitos deve garantir o resultado das lutas sociais,
criar novas formas de garanti-los e ajustar a realidade em função dos interesses
gerais, no esforço por uma vida digna”.

Principais Princípios que Regem a Seguridade Social


170 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Universalizar esses direitos não se trata de mascarar as diferenças sociais exis-
tentes, mas possibilitar uma vida digna às pessoas que não têm condições de
tê-la provida sozinhas.

FORMA DE CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

Entende-se por fonte de custeio “os meios econômicos e, principalmente, financei-


ros obtidos e destinados à concessão e manutenção das prestações previdenciárias”
(MARTINEZ, 1989, p. 111).
Para a consecução das finalidades da Seguridade Social, a Constituição
(BRASIL, 1988, on-line) prevê um orçamento anual próprio, abrangente de
órgãos e entidades das administrações diretas e indiretas, incluindo-se fundos
destinados ao custeio do sistema.
Assim, a Seguridade Social será financiada por toda sociedade, de forma

SEGURIDADE SOCIAL
171

direta e indireta, nos termos do artigo 195 da Constituição Federal, em concomi-


tância com o artigo 10 e seguintes da Lei 8.212/91, por intermédio dos recursos
provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Além das fontes de custeio previstas nos artigos citados, o texto constitucio-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nal admite a criação de outras fontes, por intermédio de lei complementar,


seja para financiar novos benefícios e serviços, seja para manter os já exis-
tentes (artigo 154, I da CF/88).
As contribuições sociais constituem receita no orçamento da Seguridade
Social de que trata o artigo 165, § 3º da CF/88.
Dispõe o artigo 165, § 5º do Texto Constitucional, que o orçamento da Se-
guridade Social, abarcando todas as entidades e órgãos a ela vinculados, é
tanto proveniente da Administração direta, quanto indireta, bem como dos
fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.
Fonte: as autoras.

Na forma direta, a sociedade é chamada a contribuir por meio das contribuições


de seguridade social. Dessa forma, são responsáveis pelo recolhimento o empre-
gador, a empresa, a entidade a ela equiparada na forma da lei, o trabalhador e os
demais segurados da previdência social, bem como o empresário responsável
pelos concursos de prognósticos e o importador de bens ou serviços do exte-
rior, ou de quem a lei a ele equiparar.
Na forma indireta, contribuem, mediante recursos provenientes de seus orça-
mentos, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Considera-se
indireta, pois também há a participação da sociedade na contribuição por meio
dos tributos em geral.
Pode-se verificar, portanto, que o financiamento da Seguridade Social é pro-
veniente dos recursos dos entes federativos, das contribuições sociais e outras
fontes de custeio.

Forma de Custeio da Seguridade Social


172 UNIDADE IV

OS DIREITOS SOCIAIS E A ASSISTÊNCIA SOCIAL

A proteção social teve um importante momento histórico: a Revolução Industrial,


pois a partir dela houve uma enorme migração de pessoas do campo para a
cidade, gerando pobreza nos centros urbanos e o trabalho “semiescravo”, em
que o indivíduo se submetia a condições degradantes (OLIVEIRA, 2009, p. 333).
Os direitos sociais surgiram nesse contexto e, em virtude do fracasso do
Estado Liberal, fizeram surgir a preocupação e predominância dos valores da
solidariedade e da igualdade, como as Constituições Mexicana (1917) e alemã

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de Weimar (1919).
Essa forma de Estado (denominada de Estado do Bem-Estar Social) surgiu
em decorrência da hipossuficiência do indivíduo de satisfazer suas necessidades
básicas e a consequente obrigatoriedade estatal de prover essas necessidades, afi-
nal, desde de 1970, tanto na América Latina quanto no Brasil, a luta pelos direitos
sociais passou a se vincular à condição de carência, pois as desigualdades sociais
foram, ao longo dos anos, remetidas ao campo da privacidade, como a renda, a
idade, a condição social, dentre outros:
As diferenças sociais passaram, assim, a ser definidas pela renda com-
patível com o consumo dos bens que as satisfaçam. Aqueles grupos que
percebem uma renda mensal abaixo de um determinado valor, arbi-
trariamente fixado, são classificados como pobres. E, a partir daí, em
sentido descendente, como miseráveis ou indigentes, constituídos por
aqueles que nem sequer são capazes de garantir, por conta, própria,
níveis mínimos de sobrevivência alimentar (SIMÕES, 2013, p. 190).

Carlos Simões, em sua obra “Teoria & Crítica dos Direitos Sociais” (2013, p.
171-174), trata dos direitos fundamentais dando ênfase exatamente nos direitos
sociais, cujo conceito, inicialmente, se restringia apenas às relações de traba-
lho, pois apenas com o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais da ONU, em 1983, que os direitos sociais passaram a ser considera-
dos nos termos atuais. Esse campo de abrangência é definido pelo autor quando
de sua conceituação:
O conceito dos direitos sociais assenta, prima facie, na especificidade de
que apresentam um mesmo conteúdo geral, que é a referência, indis-
tintamente, a determinados bens sociais, como a saúde, a previdência

SEGURIDADE SOCIAL
173

social e outros, considerados imprescindíveis à garantia do valor da


dignidade. Genericamente, é a instituição desse conteúdo social que os
distingue dos demais direitos fundamentais (SIMÕES, 2013, p. 175).

Assim, os direitos sociais são prestações estatais que visam diminuir a desigual-
dade social e se caracterizam pela preservação da dignidade humana.
Os direitos sociais visam assegurar o direito a prestações estatais, sendo asse-
gurados à população em determinadas condições materiais e espirituais, pois
possuem um cunho social, em que o Poder Público assume uma “tripla obri-
gação: respeitar, não se imiscuindo no seu exercício; proteger, não tolerando
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

desrespeito por terceiros; e realizar, fornecendo os meios para o seu exercício


efetivo” (SIMÕES, 2013, p. 177).
Siqueira (2013, p. 192) explica que a exclusão social pode se dar por diversos
fatores, tais como a religião ou a deficiência. No Brasil, essa exclusão se dá tanto
na esfera urbana quanto na rural, estando essas pessoas excluídas, até mesmo,
das condições básicas de sobrevivência.

Os Direitos Sociais e a Assistência Social


174 UNIDADE IV

Assim, os direitos sociais “não se formulam por políticas de inclusão diretamente


no trabalho, mas no acesso ao consumo de bens. Um acesso que, no entanto, o
trabalho é que deveria prover” (SIMÕES, 2013, p. 198).
Em resumo, esses direitos que foram instituídos pela CF/88 buscam a igual-
dade “pelo tratamento desigual dos desiguais” (SIMÕES, 2013, p. 199), por meio
de um “princípio de justiça e de solidariedade social, que institui um patamar
mínimo de bem-estar como parte de um padrão civilizatório que define os direi-
tos fundamentais” (SIMÕES, 2013, p. 208).
É nesse contexto que a Assistência Social constitui-se numa forma de prote-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção social existente desde o Código de Hamurabi, de Manu e da própria Lei das
XII Tábuas, tendo sido implantado no Brasil pela Santa Casa de Misericórdia de
Santos e do Rio de Janeiro, com o objetivo de prestar caridade àquelas pessoas
em estado de miserabilidade (BOLLMANN, 2009, p. 58).
Isto visando à compensação do mercado, sendo uma forma de amenizar as
desigualdades sociais promovidas pela nobreza, pela burguesia e pelas guerras.
Somente após a Segunda Guerra Mundial é que houve a transformação do “está-
gio de compensação de mercado para efetivo direito de cidadania” (COUTO,
2010, p. 64).
Após esse período de guerra e o custeio de serviços públicos pelas receitas
estatais, promoveu-se, principalmente na Inglaterra e na França, o bem-estar
social, a solidariedade e a proteção social que acabaram por se expandir por
toda a Europa.
No Brasil, entre 1898 e 1905, o Juiz Ataulpho Nápoles de Paiva escreveu diver-
sos artigos e livros sobre a assistência social pública, porém, somente em 1935,
na ditadura do Estado Novo, é que Getúlio Vargas, de forma informal, criou um
comitê de estudo sobre os problemas e obras sociais.
Em 1938 foi criado, com o objetivo de criar políticas de amparo social pri-
vado e filantrópico, o Conselho Nacional do Serviço Social — CNSS, tendo sido
o Juiz Ataulpho Nápoles de Paiva seu presidente.
Em 1943, foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA), que possuía alguns
programas voltados aos idosos, como o apoio a asilos (FALEIROS, 2007, p. 165),

SEGURIDADE SOCIAL
175

tendo sido criado, em 1977, o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social,


por meio da Lei 6.439 (BRASIL, 1977, on-line). Este órgão ficou responsável por
prestar assistência social à população considerada carente, o que deveria ser feito por
meio de programas de desenvolvimento social e de atendimento àquelas pessoas.
Após o período ditatorial, houve um empobrecimento populacional e um
aumento do nível de desigualdade social, tendo a assistência social voltado a
focar suas ações na compensação do mercado.
Foi então que Geisel editou o Plano Nacional de Desenvolvimento e, conse-
quentemente, a instalação do Conselho de Desenvolvimento Social e a criação do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ministério da Previdência Social e Assistência — MPAS para combater a pobreza.

ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Até a Constituição Federal de 1946 (BRASIL, 1946, on-line), o texto constitucio-


nal não tratou sobre a política voltada à área social, entretanto, a CF/46 trouxe
alguns instrumentos importantes para enfrentar a questão social, tais como a
isenção de impostos às instituições de assistência social.
Quando da instalação da Assembleia Constituinte para criação da atual CF,
sentiu-se a necessidade de uma legislação com alcance social, afinal, os próprios
objetivos da CF/88 deixam claro que “os constituintes, além de reconhecerem as
desigualdades sociais e regionais brasileiras, impuseram a solução dessas desi-
gualdades a ação do país” (COUTO, 2010, p. 158).
A consequência foi a previsão da Assistência Social na Constituição Federal
de 1988, pois desde então a Assistência Social passou a ser prestada às pessoas
que não conseguem prover seu próprio sustento, e também não o conseguem
ter provido por seus familiares como previsto pelas normas do Código Civil.
Tem-se, pois, que a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado
que, por meio de uma política de seguridade social não contributiva, prevê
condições mínimas necessárias para o atendimento básico ao cidadão e, conse-
quentemente, proporciona renda permissiva de uma vida digna.

Os Direitos Sociais e a Assistência Social


176 UNIDADE IV

Martins (2008) define a assistência social como:


[...] um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a
estabelecer uma política social aos hipossuficientes, por meio de ati-
vidades particulares e estatais, visando à concessão de pequenos be-
nefícios e serviços, independentemente de contribuição por parte do
próprio interessado (MARTINS, 2008, p. 480)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Assistência Social é provida pelo Estado aos considerados desamparados, ou
seja, àquelas pessoas que não possuem meios para custear a Previdência Social
durante o período de carência necessário para obter um benefício.
Miguel Horvath Junior (2008, p. 116) explica que a Assistência Social integra
a política de seguridade social não contributiva que provê os mínimos sociais,
sendo “realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública
e da sociedade para garantir o atendimento às necessidades básicas”.
As prestações assistenciais são diversas e prestadas por intermédio de bene-
fícios (prestações pecuniárias) ou serviços (prestações não pecuniárias com a
finalidade de oferecer aos beneficiários melhores condições de vida e trabalho).
Santos (2005, p. 227) defende que o legislador constituinte pretendeu que a

SEGURIDADE SOCIAL
177

assistência social fosse não apenas uma ajuda provisória, mas e sim um fator de
transformação social por meio da promoção, integração e inclusão do assistido
na vida comunitária, tornando-o mais igual aos demais e, consequentemente,
capaz de exercer atividades que lhe garantam a subsistência.
Com relação ao custeio, a assistência social será realizada com recursos pro-
venientes do orçamento da seguridade social, de acordo com o artigo 204 da
CF/88, sendo um encargo de toda a sociedade, de forma direta ou indireta, nos
termos do artigo 195 do texto constitucional (BRASIL, 1988, on-line).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os benefícios assistenciais podem ser classificados em permanentes ou


eventuais, sendo exemplo do primeiro o LOAS (conhecido também como
amparo social), e do segundos o auxílio natalidade e funeral.
Fonte: as autoras.

O custeio dos benefícios, serviços e programas estabelecidos de acordo com a


LOAS (Lei 8742/93) far-se-á com os recursos provenientes da União Federal,
Estados, Distrito Federal e Municípios, além das demais contribuições sociais
previstas no artigo 195 da Constituição Federal, bem como daquelas previstas
que compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).
Os recursos de responsabilidade da União Federal destinados ao financia-
mento dos benefícios de prestação continuada (BPC) poderão ser repassados
diretamente pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, não cabendo,
portanto, à Previdência Social o custeio das prestações assistenciais.

Os Direitos Sociais e a Assistência Social


178 UNIDADE IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, vimos que a Seguridade Social é composta de


Saúde, Assistência Social e Previdência Social, sendo aquela primordial para
auxiliar a população considerada hipossuficiente, seja hipossuficiência decor-
rente da idade, de condições físicas ou psíquicas.
Aprofundamos nosso conhecimento na Assistência Social, sua previsão legal,
seu alcance e sua necessidade para cumprir um dos fundamentos da República
Federativa Brasileira: a dignidade da pessoa humana, que tem sido preocupação

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
constante no mundo ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, não poderia ser diferente, já que, além dos fatos históricos mun-
diais descritos, acrescentam-se os fatos e torturas decorrentes da ditadura militar.
Apesar disso, o conceito desse princípio não é universal, variando pela aplicação
dos fatores: lugar, espaço, cultura, circunstâncias políticas e ideológicas.
Sendo assim, a dignidade da pessoa humana não é absoluta, pois possui um
aspecto cultural, social e político, devendo seu conteúdo e aplicação serem ana-
lisados, pois se assenta sobre o pressuposto de que cada ser humano possui um
valor intrínseco e desfruta de uma posição especial no universo, pois identifica
um espaço de integridade moral a ser assegurado por todas as pessoas por sua
existência no mundo. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valores
do espírito quanto com as condições materiais de subsistência.
Sobre essas condições materiais, é importante refletir que nem todas as pes-
soas têm possibilidade de manter sua própria sobrevivência sem a ajuda estatal,
fato este que demonstra a desigualdade social em que estamos inseridos.
Conhecer esses requisitos e exigir do Poder Público os direitos dessas pes-
soas é primordial para garantir uma mínima qualidade de vida a esses cidadãos!
Até a próxima unidade!

SEGURIDADE SOCIAL
179

1. Cite e explique um Princípio da Seguridade Social.


2. Conceitue o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
3. Qual a forma de custeio da Seguridade Social e da Assistência Social?
4. O amparo social ao idoso é vitalício? Ou seja, expira apenas quando ocorre o
falecimento do beneficiário?
5. Quem pode ser considerado deficiente pela legislação?





















180

ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS AOS IDOSOS EM OUTROS


PAÍSES

Na maioria dos países, o amparo estatal ou, estando-o, não satisfaça os perío-
para pessoas idosas guarda similitude dos de garantia definidos para acesso
com as diretivas brasileiras. à pensão, bem como sendo pensionista
de invalidez, velhice ou sobrevivência,
Em Portugal, há uma assistência social tenha direito à pensão de montante infe-
bem semelhante à brasileira, denomi- rior ao da pensão social e, por fim, tenha
nada Pensão Social de Velhice, que se rendimentos mensais ilíquidos iguais
traduz em uma prestação em dinheiro, ou inferiores a 167,69 EUR (cerca de R$
atribuída mensalmente aos cidadãos a 509,00) caso se trate de pessoa isolada,
partir dos 65 anos de idade. ou 251,53 EUR (cerca de R$ 764,00) tra-
tando-se de casal.
Para ter direito a esse auxílio financeiro
português, é necessário que o idoso não Contudo, Camarano e Pasinato (2007) tra-
se encontre abrangido por qualquer cejam algumas diferenças demográficas
regime de proteção social obrigatório que impactam na concessão de auxílio
ou pelos regimes transitórios dos rurais aos idosos na América Latina:
O desenvolvimento dos sistemas de seguridade social tem como ob-
jetivo repor a renda dos indivíduos que perderam a sua capacidade
de trabalho ocasionada pelo avanço da idade através da suavização
do seu consumo ao longo do ciclo de vida e da redução da pobreza
entre os idosos. Dos seis países considerados, a proporção de idosos
pobres era menor que a observada para o resto da população, a sa-
ber: Argentina, Brasil, Bolívia e Peru [...]. Os dois primeiros países con-
tam com sistemas previdenciários já consolidados. O inverso ocorria
nos demais países. A maior diferença na proporção mencionada foi
observada no Brasil, ou seja, a proporção da população total pobre
foi 4,7 vezes mais elevada que a da população idosa (CAMARANO;
PASINATO, 2007, p. 5)

As autoras destacam (p. 14-20) ser bas- de 1910 e 1920, respectivamente),


tante heterogênea a cobertura da enquanto que os demais constituíram
seguridade social nos países pesquisa- seus sistemas na década de 1940, sob a
dos (Argentina, Brasil, Costa Rica, México, influência das recomendações da Orga-
Bolívia e Peru), uma vez que a Argentina e nização Internacional do Trabalho (OIT)
o Brasil são pioneiros na adoção de siste- para a constituição de um sistema de pro-
mas de seguridade (criados nas décadas teção social mais amplo:
181

No entanto, Bolívia, Peru e México permaneceram contando com


uma baixa cobertura, especialmente na área rural. Já a Costa Rica
universalizou o seu sistema, ampliando o acesso ao mesmo para os
indivíduos de baixa renda através de um regime não contributivo e
extensão dos serviços de atenção à saúde. [...]

Em média, a taxa de cobertura dos sistemas na região é baixa e


bastante diferenciada entre os países estudados. Enquanto o Brasil
contava com uma cobertura praticamente universal no que diz res-
peito à proporção de idosos beneficiários (87,2%), na Bolívia apenas
14,7% dos idosos eram beneficiários e no México, 19,2%. Conside-
rando-se apenas as áreas rurais, essa cobertura tende a ser ainda
menor, à exceção do Brasil, que adotou um programa de benefícios
não contributivos para os trabalhadores rurais na década de 1990
(CAMARANO; PASINATO, 2007, p. 9).

A análise de Camarano e Pasinato cio não-contributivo para o atendimento


(2007, p. 24) concluiu que todos os paí- aos idosos denominado Bonosol, sendo
ses estudados (exceto o Peru) possuem “o único caso entre os países analisados
programas não-contributivos para o de um programa de renda universal para
amparo aos idosos e pessoas com defi- idosos. Têm acesso ao benefício todos os
ciência, sendo que “no Brasil e na Costa bolivianos nascidos até 1975 ao alcança-
Rica, esses programas atendem a uma rem 65 anos” (CAMARANO; PASINATO,
significativa parcela de idosos e portado- 2007, p. 25).
res de deficiência, beneficiando 34,1% e
19,8% da população de 65 anos e mais, Em 2006, o Governo Federal Mexicano
respectivamente.” instituiu um plano de benefícios de 250
pesos mensais (equivalente a cerca de R$
Já na Argentina, a parcela atendida por 45,00) a idosos maiores de 70 anos inscri-
estes programas governamentais é equi- tos no programa social “Oportunidades”,
valente a menos de 2% dos idosos, sendo sendo que esse benefício é condicionado
que, neste país, o financiamento desse ao atendimento de consultas médicas,
auxílio provém de recursos de tributos excluindo-se, portanto, segundo o levan-
do próprio Estado, enquanto no Brasil e tamento, “a população em situação de
na Costa Rica contam também com sub- extrema pobreza, que vive em localida-
sídios do sistema previdenciário. des onde não existem centros de saúde
e nem escolas” (CAMARANO; PASINATO,
Em 1996, na Bolívia, foi criado um benefí- 2007, p. 25).
Fonte: as autoras.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Curso de Direito do Serviço Social


Carlos Simões
Editora: Cortez
Sinopse: com base na Constituição Federal e na legislação
ordinária, esta obra expõe uma análise bastante abrangente dos
principais conceitos jurídicos sobre a assistência social e suas
relações com o Serviço Social, cuja compreensão é indispensável
aos profissionais e estudiosos da área, como um importante subsídio para se entender as mudanças
jurídico-políticas inauguradas pela Constituição de 1988 e as leis complementares e ordinárias que se
seguiram.

O direito social e a assistência social na sociedade


brasileira: uma equação possível?
Berenice Rojas Couto
Editora: Cortez
Sinopse: este livro tem como foco de análise a assistência social,
buscando aprendê-la no movimento da constituição de direitos
no Brasil.

Saiba como está o “avanço” dos direitos fundamentais no Brasil por meio da
reportagem, disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/04/
pesquisa-mostra-avanco-na-protecao-dos-direitos-humanos>.
183
REFERÊNCIAS

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temporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Ver-
são provisória para debate público. Mimeografado, dez. 2010.
¬¬______. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contem-
porâneo: A Construção de um Conceito Jurídico à Luz da Jurisprudência Mundial.
Tradução Humberto Laport de Mello. Belo horizonte: Fórum, 2013.
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lho de 1934). Nós, os representantes do povo brasileiro, pondo a nossa confiança
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democrático, que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar
social e econômico, decretamos e promulgamos a seguinte. Presidência da Repúbli-
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prezas de estradas de ferro existentes no paiz, uma caixa de aposentadoria e pen-
sões para os respectivos ernpregados. Presidência da República, 1923. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dpl/dpl4682.htm>.
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crático de Direito. São Paulo: Cortez, 2013.
TAVARES, M. L. Direito Previdenciário. Regime Geral de Previdência Social e Regi-
mes Próprios de Previdência Social. 10. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008.
GABARITO

1. Os princípios são:
■■ UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO
A Seguridade Social possui como postulado basilar a universalidade, ou seja,
abrange todos os residentes do país que, diante de uma contingência, te-
rão direito aos benefícios, atendendo à cobertura dos riscos sociais da forma
mais ampla possível.
Já a universalidade do atendimento tem por função a entrega das ações,
prestações e serviços de seguridade social a todos os que necessitam, ob-
servando-se a contributividade, significando dizer que somente terão acesso
aos benefícios previdenciários aqueles que contribuírem.
■■ UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULA-
ÇÕES URBANAS E RURAIS
Buscando acabar com a desigualdade de tratamento, foi instituído esse prin-
cípio que estipula procedimento uniforme a trabalhadores rurais e urbanos,
havendo, assim, idênticos benefícios e serviços para os mesmos eventos co-
bertos pelo sistema.
■■ SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS E SER-
VIÇOS
Esse princípio permite ao legislador fazer a seleção das prestações obede-
cendo às possibilidades econômico-financeiras do sistema da Seguridade
Social. Isso significa dizer que, tendo em vista o caixa da Seguridade Social,
os benefícios e serviços serão prestados na medida de sua essencialidade.
Por distributividade, entendemos que esse princípio deve ser interpretado
em seu sentido de distribuição de renda e bem-estar social, assim, pela con-
cessão de benefícios e serviços, visa-se ao bem-estar e a justiça social.
■■ IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS
O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios é equivalente ao prin-
cípio da intangibilidade do salário dos empregados e dos vencimentos dos
servidores, o que significa dizer que aquele benefício concedido legalmente
não pode ter seu valor nominal reduzido, não podendo ser objeto de des-
conto, exceto aqueles determinados por lei ou ordem judicial. Dessa forma,
visa-se garantir a mantença do poder aquisitivo.
■■ EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO NO CUSTEIO
O financiamento da Seguridade Social deve ser feito tanto pelo Estado quan-
to pela sociedade civil.
■■ DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO
O constituinte, diante desse princípio, tentou estabelecer um tríplice sistema
187
REFERÊNCIAS
GABARITO

de financiamento, em que a receita da Seguridade Social pudesse ser arreca-


dada de várias fontes pagadoras, tais como os trabalhadores, empregadores
e Poder Público.
■■ CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO ME-
DIANTE GESTÃO QUADRIPARTITE, COM PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADO-
RES, DOS EMPREGADORES, DOS APOSENTADOS E DO GOVERNO NOS ÓR-
GÃOS COLEGIADOS
A gestão dos recursos, programas, planos e serviços da Seguridade Social,
aí compreendida a Saúde, a Assistência Social e a Previdência Social, deve
ser realizada mediante discussão da sociedade. Com essa finalidade, foram
criados órgãos colegiados de deliberação.
Esses princípios são os explícitos na CF/88, mas a Seguridade Social também
está ligada ao princípio da solidariedade e da dignidade da pessoa humana.
2. O conceito desse princípio não é universal, variando pela aplicação dos fatores:
lugar, espaço, cultura, circunstâncias políticas e ideológicas, mas pode ser con-
ceituado por meio do pressuposto de que cada ser humano possui um valor
intrínseco e desfruta de uma posição especial no universo, pois identifica um
espaço de integridade moral a ser assegurado por todas as pessoas por sua exis-
tência no mundo. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valores do
espírito quanto com as condições materiais de subsistência.
3. Para a consecução das finalidades da Seguridade Social, a constituição prevê um
orçamento anual próprio, abrangente de órgãos e entidades das administrações
diretas e indiretas, incluindo-se fundos destinados ao custeio do sistema, ou
seja, a Seguridade Social será financiada por toda sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos do artigo 195 da Constituição Federal, em concomitância
com o artigo 10 e seguintes da Lei 8.212/91, por intermédio dos recursos prove-
nientes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Com relação ao custeio da assistência social, este será realizado com recursos
provenientes do orçamento da seguridade social, de acordo com o artigo 204 da
CF/88, sendo um encargo de toda a sociedade, de forma direta ou indireta nos
termos do artigo 195 do texto constitucional.
4. O amparo social ao idoso não é vitalício, pois, de acordo com a legislação, ele
deve ser revisto a cada dois anos para que se verifique se as condições de im-
plantação continuam as mesmas.
5. De acordo com a legislação, será considerada deficiente a pessoa que tem im-
pedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Professora Me. Mariane Helena Lopes

V
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO

UNIDADE
CONTINUADA E LEGISLAÇÃO
PREVIDENCIÁRIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer o benefício da prestação continuada.
■■ Diferenciar os planos de benefícios da previdência social.
■■ Analisar as normas previdenciárias.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Benefício da prestação continuada
■■ Planos de benefícios da previdência social
■■ Normas previdenciárias
191

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, iremos conhecer um pouco mais sobre o Direito Assistencial e o


Direito Previdenciário. Essa área do Direito é de suma importância no que diz
respeito à proteção do empregado e dos autônomos, pois, após tanto tempo de
trabalho, é por meio da Previdência Social que as pessoas conseguirão se apo-
sentar, sendo compensados financeiramente pelo trabalho realizado.
Inicialmente, como todas as áreas do Direito, precisamos compreender o
fato histórico que fez a Previdência ser importante e passasse a ser regulamen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tada a fim de proteger cada vez mais o empregado.


Na sequência, verificaremos os fundamentos da Seguridade Social, ou seja,
quem ela procura proteger, como se divide, a importância no tema, como ela
poderá auxiliar os empregados e empregadores nessa relação e por que acaba
sendo tão importante.
Como se sabe, a Seguridade Social surgiu por uma necessidade da sociedade
e para que a classe trabalhadora tivesse uma proteção maior e uma segurança
maior na velhice, após prestar serviço para a sociedade.
A seguir, analisaremos os planos de benefícios da Previdência Social, que
são inúmeros e constantemente alterados, de acordo com a necessidade da socie-
dade e sua evolução. Contudo, devido ao curto tempo que temos para tratar do
assunto em nossa disciplina, selecionaremos alguns planos que são mais impor-
tantes para a segurança no trabalho, e os demais esboçaremos em um quadro
sistemático, com o intuito de demonstrar quem poderá ser por ele protegido.
Por fim, analisaremos as normas previdenciárias, mas especificando alguns
tópicos sobre elas, pois, devido a sua constante mudança, seria utópico querermos
taxar um fator que vem passando por uma crise econômica e uma reforma com
o intuito de prolongar sua duração e cobertura à classe trabalhadora. Até por-
que, como a expectativa de vida vem aumentando e a população envelhecendo,
medidas precisam ser tomadas para garantir a proteção das gerações vindouras.

Introdução
192 UNIDADE V

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

Entre as prestações assistenciais está o Benefício de Prestação Continuada — BPC,


que integra a proteção social básica no âmbito do Sistema Único de Assistência
Social — SUAS, instituído pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,
em consonância com o estabelecido pela Política Nacional de Assistência Social
— PNAS (conforme art. 1º, § 1º do Decreto nº 6.214/2007), sendo assim, o bene-
fício é coordenado pelo SUAS, mas operacionalizado pelo Instituto Nacional do
Seguro Social — INSS (art. 3º do Decreto nº 6.214/2007).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esse benefício visa diminuir a desigualdade social e possibilitar a construção
de uma sociedade mais igualitária. Para tanto, a CF/88, em face da existência de
inúmeras pessoas vivendo abaixo da linha da miséria, inseriu-se a erradicação
da pobreza como um dos objetivos fundamentais brasileiros.
O legislador constituinte acabou, também, por priorizar o idoso e o defi-
ciente que não possuam meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la
provida por sua família, estabelecendo o valor de um salário mínimo a ser pago
a essas pessoas que comprovarem a condição de miserabilidade em que vivem.
Para tanto, há a necessidade de o idoso comprovar sua idade (mínima de
65 anos) e de o deficiente ser incapaz para o labor, mediante parecer do Serviço
Social e da Perícia Médica.
Além desses requisitos, faz-se ainda necessário que a renda mensal per capita
familiar seja inferior a ¼ do salário mínimo vigente quando do requerimento
administrativo e que o beneficiário não esteja recebendo qualquer outro bene-
fício da Previdência Social ou outro regime previdenciário.
O Benefício Assistencial (ou BPC) foi regulamentado pela Lei 8.742/1993
(BRASIL, 1993, on-line), também conhecida como Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS), mais precisamente em seu artigo 20, e trata-se de benefício de
caráter não contributivo.
O beneficiário da assistência social não tem condições de colaborar na
manutenção do sistema garantidor de sua atenção. Não tendo condi-
ções de subsistência, não pode, por isso mesmo, arcar com o plus de
contribuir. Sua contribuição, medida do seu consumo, quando existe é
inexpressiva e as suas técnicas de proteção são pessoais, reduzindo-se a
um mínimo de participação na sociedade (MARTINEZ, 2011, p. 201).

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


193

O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome esclarece que:


O BPC é um benefício da Política de Assistência Social, que integra a
Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência So-
cial – SUS e para acessá-lo não é necessário ter contribuído com a Previ-
dência Social. É um benefício individual, não vitalício e intransferível
que assegura a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo ao idoso,
com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de
qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas. Em ambos os casos,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

devem comprovar não possuir meios de garantir o próprio sustento,


nem tê-lo provido por sua família. A renda mensal familiar per capita
deve ser inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente.
A gestão do BPC é realizada pelo Ministério do Desenvolvimento So-
cial e Combate à Fome (MDS), por intermédio da Secretaria Nacional
de Assistência Social (SNAS) que é responsável pela implementação,
coordenação, regulação, financiamento, monitoramento e avaliação do
Benefício. A operacionalização é realizada pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS).

Os recursos para o custeio do BPC provêm da Seguridade Social, sendo


administrado pelo MDS e repassado ao INSS, por meio do Fundo Na-
cional de Assistência Social (FNAS).

Atualmente são 3,6 milhões (dados de março de 2012) beneficiários do


BPC em todo o Brasil, sendo 1,9 milhões pessoas com deficiência e 1,7
idosos (BRASIL, on-line).

Dessa forma, e considerando os requisitos etário, biológico, social e econômico


do indivíduo, existem duas espécies de amparo social: aquele voltado ao idoso
e aquele voltado ao deficiente.

BPC AO IDOSO OU AMPARO SOCIAL AO IDOSO

A constante busca pela igualdade social fez com que o direito tutelasse os indi-
víduos considerados hipossuficientes, seja por enfermidade, invalidez ou por
envelhecimento, de modo a se permitir uma vida digna a essas pessoas.

Benefício de Prestação Continuada


194 UNIDADE V

Dentro dessa perspectiva, foi estabelecido, na Constituição Federal de 1988


(artigo 230), que o idoso é responsabilidade da família, da sociedade e do Estado,
sendo tal cuidado executado preferencialmente em seus lares.
Como já mencionado, o BPC foi instituído pela Constituição Federal de 1988
e regulamentado por meio da Lei Orgânica da Assistência Social de 07/12/1993
(Lei 8.742), alteradas pelas Leis 12.435 de 06/07/2011 e 12.470 de 31/08/2011, e
ainda pelos Decretos 6.214/2007 e 6.564/2008.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Contudo, nem todos os idosos brasileiros podem se privilegiar desse benefício.


De acordo com a Lei 8.742/93 — Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),
para a concessão do benefício de amparo assistencial ao idoso são requisitos: a
idade mínima de 65 anos e a comprovação da condição de miserabilidade.
Essa miserabilidade, nos termos da lei, é aquela família cuja renda mensal
per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, sendo considerada
família “a unidade mononuclear que vive sob o mesmo teto, cuja economia é man-
tida pela contribuição de seus integrantes” (HORVATH JUNIOR, 2008, p. 120),
sendo que a situação de internado não prejudica o direito do idoso ao benefício.

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


195

No Estado do Paraná, e segundo informações disponibilizadas pelo Ministério


de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 01/2014 houve um gasto
público da ordem de R$ 61.759.473,34 (sessenta e um milhões, setecentos e cin-
quenta e nove mil, quatrocentos e setenta e três reais e trinta e quatro centavos)
apenas com o BPC ao idoso, tendo beneficiado, assim, 85.382 (oitenta e cinco
mil, trezentos e oitenta e dois) idosos (BRASIL, on-line).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O BPC ao idoso cessará nos casos de superação das condições que deram ori-
gem ao benefício, pela morte (ou morte presumida) do beneficiário, já que se
trata de direito personalíssimo, pela ausência declarada do beneficiário, nos
termos da lei civil, ou, ainda, pela falta de apresentação da declaração de com-
posição do grupo e renda familiar quando da revisão do benefício.
Fonte: a autora.

AMPARO SOCIAL AO DEFICIENTE

Conforme mencionado anteriormente, a Constituição Federal, por diversas vezes,


procura proteger a pessoa deficiente. Dentre as formas de proteção está o artigo
203, V, que estipula a garantia de um salário mínimo à pessoa deficiente que não
possua meios de garantir sua subsistência e nem tê-la provida por seus familiares.
Assim como no BPC ao idoso, o BPC para os demais casos também foi ins-
tituído pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica
da Assistência Social de 07/12/1993 (Lei 8.742), alteradas pelas Leis 12.435
de 06/07/2011 e 12.470 de 31/08/2011 e, ainda, pelos Decretos 6.214/2007 e
6.564/2008.

Benefício de Prestação Continuada


196 UNIDADE V

Contudo, nem todos os deficientes brasileiros podem se privilegiar desse


benefício. De acordo com a Lei 8.742/93 — Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS) (BRASIL, 1993), para a concessão do benefício de amparo assistencial
ao idoso, são requisitos: o reconhecimento da condição de deficiente e a com-
provação da condição de miserabilidade.
De acordo com a legislação, será considerada deficiente a pessoa que tem
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A miserabilidade é a mesma do LOAS ao idoso, ou seja, aquela família cuja
renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.
Ainda de acordo com a legislação, ambos os benefícios (diferentemente de
uma aposentadoria) não possibilitam a concessão de pensão, quando da morte
do titular, por se tratar de benefício de caráter personalíssimo.
Além disso, não podem ser cumulativos com qualquer outro benefício da
Previdência Social ou de qualquer outro regime previdenciário, devendo ser
revisto a cada dois anos para apuração se as condições do beneficiário conti-
nuam a atender aos requisitos exigidos pela lei. Dessa forma, não se pode dizer
que o benefício é vitalício, necessitando sempre da atualização.

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


197
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PLANOS DE BENEFÍCIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

A Constituição Federal prevê um Sistema Previdenciário que tem dois regi-


mes: regime público e regime privado. São regimes públicos: o Regime Geral
de Previdência Social (RGPS), o regime previdenciário próprio dos servidores
públicos civis e o regime previdenciário próprio dos militares. Estes são de cará-
ter obrigatório, ou seja, a filiação independe da vontade do segurado. Já o regime
privado é a previdência complementar, prevista no art. 202 da Constituição
Federal. É de caráter facultativo, no qual se ingressa por manifestação expressa
da vontade do interessado.
Sob o ponto de vista financeiro, os regimes previdenciários podem ser de dois
tipos: de capitalização ou de repartição simples. No regime de capitalização, adotam-
-se técnicas financeiras de seguro e poupança. A capitalização pode ser individual ou
coletiva. Na capitalização individual, as contribuições se creditam na conta de cada
segurado e, com os rendimentos desse capital, por longo período, será possível o
pagamento das prestações devidas. Já na capitalização coletiva, as contribuições, em
seu conjunto, são consideradas em favor da coletividade segurada (LENZA, 2013).

Planos de Benefícios da Previdência Social


198 UNIDADE V

No regime de repartição simples, que é baseado na solidariedade entre


indivíduos e entre gerações, as contribuições dos que podem trabalhar são ime-
diatamente empregadas ao pagamento das prestações dos que não podem exercer
a atividade laboral (LENZA, 2013).
A Constituição Federal garante regime público de Previdência Social, de
caráter obrigatório, para os segurados da iniciativa privada, ou seja, que não
estejam submetidos à disciplina legal dos servidores públicos civis e militares.
Tal conceito é dado pelo art. 201 da Constituição Federal, na redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 15-12-1998: “a previdência social será

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atua-
rial” (BRASIL, 1998, on-line).
As contingências que têm cobertura previdenciária pelo RGPS estão rela-
cionadas no art. 201 da Constituição Federal: cobertura dos eventos de doença,
invalidez, morte e idade avançada; proteção à maternidade, especialmente à
gestante; proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; salá-
rio-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
e pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro
e dependentes (BRASIL, 1988, on-line).
O RGPS está regulado pela Lei nº 8.212 (Plano de Custeio da Seguridade Social
— PCSS) e Lei nº 8.213 (Plano de Benefícios da Previdência Social — PBPS),
ambas regulamentadas pelo Decreto nº 3.048, de 06.05.1999 (Regulamento da
Previdência Social — RPS).
O regime é de caráter contributivo porque a cobertura previdenciária pres-
supõe o pagamento de contribuições do segurado para o custeio do sistema.
Somente quem contribui adquire a condição de segurado da Previdência Social
e, cumpridas as respectivas carências, tem direito à cobertura previdenciária cor-
respondente à contingência-necessidade que o acomete.
A filiação é obrigatória porque quis o legislador constituinte, de um lado, que
todos tivessem cobertura previdenciária e, de outro, que todos contribuíssem para o
custeio. A cobertura previdenciária garante proteção ao segurado e desonera o Estado
de arcar com os custos de atendimento daquele que não pode trabalhar em razão da
ocorrência das contingências-necessidade enumeradas na Constituição Federal e na lei.

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


199

Em verdade, a Constituição Federal quis que os critérios de organização do


RGPS preservassem o equilíbrio financeiro e atuarial.

NORMAS PREVIDENCIÁRIAS

As normas previdenciárias são de suma importância, pois trazem cada uma das
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

normas que protegem os empregados na relação de emprego, seja por motivo


de doença, por idade, dentre outras.
O regime previdenciário previsto na Constituição Federal é de caráter obriga-
tório para os segurados da iniciativa privada, ou seja, que não estejam submetidos
à disciplina legal de servidores públicos civis e militares.
O conceito é previsto no art. 201 da Constituição Federal, que dispõe: “a
previdência social será organizada sob forma de regime geral, de caráter contri-
butivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial” (BRASIL, 1988, on-line).
No que diz respeito às normas previdenciárias, para facilitar sua compreen-
são e a diferenciação sobre cada uma delas, iremos explanar sobre as formas de
aposentadoria e benefícios no formato de um quadro, com o intuito de compa-
rar as principais formas de aposentadoria.
Quadro 1 - Aposentadoria por Invalidez

Contingência Incapacidade total e permanente


Carência ■■ 12 meses (regra).
■■ Dispensada em casos de acidente de qualquer natureza
ou causa, doença profissional ou do trabalho e doenças
previstas por lei.
Sujeito ativo Segurado.
Sujeito passivo INSS.
Fonte: Lenza (2013).

Normas Previdenciárias
200 UNIDADE V

Como se pode perceber, uma vez concedido o benefício, o segurado aposentado


por invalidez, independentemente de sua idade, deve cumprir algumas
obrigações, sob pena de sustação do pagamento: submeter-se a processo de
reabilitação profissional prescrito e custeado pelo INSS. Contudo, o segurado
não está obrigado a realizar procedimentos cirúrgicos e transfusão de sangue,
que são considerados facultativos (LENZA, 2013).
Quadro 2 - Aposentadoria por idade (regras permanentes)

Contingência Idade para segurados urbanos:


■■ 65 anos (homens).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ 60 anos (mulheres).

Idade para segurados rurais:


■■ 60 anos (homens).
■■ 55 anos (mulheres).
Carência 180 contribuições mensais.
Sujeito ativo Segurado.
Sujeito passivo INSS.
Fonte: Santos (2013).

Observa-se que, na aposentadoria por idade, a contingência idade avançada é,


por certo, a mais importante em termos previdenciários, uma vez que presume
a incapacidade para o trabalho.
O envelhecimento é considerado um evento certo, previsível, que a cada ano
adquire diferentes contornos em razão da longevidade cada vez maior, sendo
considerado um fruto da melhoria das condições gerais de vida da população
(SANTOS, 2012).
Quadro 3 - Aposentadoria por tempo de contribuição

Contingência Tempo de contribuição.


■■ 35 anos para homens.
■■ 30 anos para mulheres.
Carência ■■ 420 contribuições mensais (35 anos) para homem.
■■ 360 contribuições mensais (30 anos) para mulher.
Sujeito ativo Segurado.
Sujeito passivo INSS.

Fonte: Santos (2013).

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


201

A aposentadoria por tempo de contribuição é o resultado de um planejamento


feito pelo segurado ao longo de sua vida laboral. Ele é requerido voluntariamente
pelo segurado, resultado do planejamento previdenciário que fez ao longo da
atividade laboral realizada (SANTOS, 2013).
Quadro 4 - Aposentadoria especial

Contingência ■■ Efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físi-


cos, biológicos ou associação de agentes.
■■ De forma permanente, não ocasional nem intermiten-
te.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Durante 15, 20 ou 25 anos.


■■ Fornecimento de EPC e EPI não tira a característica
especial da atividade.
Carência 180 contribuições mensais.
Sujeito ativo ■■ Empregado.
■■ Trabalhador avulso.
■■ Contribuinte individual filiado à cooperativa de traba-
lho ou de produção.
Sujeito passivo INSS.
Fonte: Santos (2013).

Nesse tipo de benefício o segurado, deve exercer atividade sujeita a condições


especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, de forma permanente,
e não ocasional nem intermitente, com a efetiva exposição aos agentes nocivos
químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à
integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos (SANTOS, 2013).
Quadro 5 - Auxílio-doença

Estar incapacitado para a atividade habitual por mais de 15


Contingência
dias.
12 contribuições mensais, exceto nas hipóteses de dispen-
Carência
sa.

Sujeito ativo Segurado.

Sujeito passivo INSS.


Fonte: Santos (2013).

Normas Previdenciárias
202 UNIDADE V

No auxílio-doença, o segurado deve estar incapacitado para a atividade habitual


por mais de 15 dias. Contudo, atualmente, vem sendo discutida no Congresso
Nacional a alteração de 15 para 30 dias. Tal fato tem como intuito diminuir os
gastos da Previdência Social pelo aumento da expectativa de vida e a diminui-
ção do número de contribuintes.
Quadro 6 - Salário-família

Contingência Ser segurado empregado ou avulso com renda bruta não


superior a R$ 862,60, quem mantém filhos de até 14 anos
de idade incompletos ou inválidos de qualquer idade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Carência Independente de carência.
Sujeito ativo ■■ O segurado empregado.
■■ O segurado trabalhador avulso.
■■ O servidor sem regime próprio de previdência.
■■ O segurado empregado ou trabalhador avulso aposen-
tado por invalidez ou por idade.
■■ O trabalhador rural aposentado por idade.
■■ Os demais aposentados que tenham 60 anos ou mais
(mulheres), e 65 anos ou mais (homens).
Sujeito passivo INSS (sujeito passivo onerado).
Fonte: Santos (2013).

A Lei nº 4.266/63 (BRASIL, 1963, on-line) deu o direito ao salário-família aos


segurados empregados que tivessem filhos menores, de qualquer condição, até
14 anos de idade. Ele era pago pela empresa vinculada à Previdência Social, essa
empresa era reembolsada, mensalmente, pelos pagamentos de cotas feitos aos
seus empregados, mediante desconto do valor pago ao total das contribuições
recolhidas ao Instituto ou Institutos de Aposentadoria e Pensões a que forem
vinculadas (art. 4º, § 5º da Lei).

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


203

Quadro 7 - Salário-maternidade

Contingência Ser mãe, adotar ou obter guarda judicial para fins de ado-
ção de criança de até 8 anos de idade.
Carência ■■ Varia ou não existe de acordo com o tipo de segurada
considerado.
■■ Reduzida, em caso de parto antecipado, em número de
meses igual ao de antecipação.
Sujeito ativo ■■ Segurada empregada.
■■ Empregada doméstica.
■■ Trabalhadora avulsa.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Segurada servidora pública sem regime próprio de


previdência.
■■ Segurada contribuinte individual.
■■ Segurada especial.
■■ Facultativa.
■■ Desempregada, durante o período de graça.
Sujeito passivo INSS (onerado).
Fonte: Santos (2013).

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º XVIII, garante a licença à


gestante, sem prejuízo do empregado ou do salário, com a duração de 120 dias.
Quadro 8 - Auxílio-acidente

Contingência Redução da capacidade para o trabalho habitualmente exerci-


do, resultante da consolidação das lesões decorrentes de aci-
dente de qualquer natureza, inclusive acidente do trabalho.
Carência Independente de carência.
Sujeito ativo ■■ Segurado empregado.
■■ Trabalhador avulso.
■■ Segurado especial.
■■ Segurado desempregado se o acidente ocorrer no período
de graça.
Sujeito passivo INSS.
Fonte: Santos (2013).

O benefício citado anteriormente não substitui os salários de contribuição ou os


ganhos habituais do trabalhador que deixa de exercer suas atividades (SANTOS,
2013).

Normas Previdenciárias
204 UNIDADE V

Quadro 9 - Pensão por morte

Contingência Ser dependente de segurado falecido.


Carência Independe de carência.
Sujeito ativo Conjunto de dependentes do segurado.
Sujeito passivo INSS.
Fonte: Santos (2013).

A morte do segurado deixa desamparados os seus dependentes. Essa é a razão


pela qual o Direito protege os dependentes do segurado falecido.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Atualmente, existe uma discussão no Congresso Nacional sobre as mudan-
ças em relação à pensão por morte. Isso porque várias pessoas vêm se bene-
ficiando de um relacionamento que, para o Direito, não durou tempo consi-
derado suficiente, a fim de que pudessem receber tal benefício.
Assim, no que diz respeito à pensão por morte, devemos nos atentar para
as possíveis mudanças que poderão ser aprovadas, tais como: comprovação
de relacionamento; período que a pessoa poderá receber a pensão, pois,
em alguns casos, deixará de ser vitalícia, dentre outras que ainda estão em
análise.
Fonte: a autora.

Quadro 10 — Auxílio-reclusão

Contingência Ser dependente de segurado de baixa renda recolhido à


prisão.
Carência Independente de carência.
Sujeito ativo Conjunto de dependentes do segurado de baixa renda
recolhido à prisão.
Sujeito passivo INSS.
Fonte: Santos (2013).

No caso do auxílio-reclusão, poderá ser beneficiado aquele que for dependente


de segurado recolhido à prisão que não receba remuneração da empresa nem

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


205

esteja em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria, e desde que seu último salá-


rio de contribuição seja inferior ou igual a R$ 862,00, de acordo com a Portaria
Interministerial nº 407/2011.
A lei não traz nenhuma distinção acerca dos motivos que levaram à prisão
do segurado, podendo ser prisão penal, civil ou administrativa, cautelar ou não.
Dessa forma, entende-se que independentemente do tipo de prisão, desde
que cumpra os demais requisitos, poderá pleitear o auxílio-reclusão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Normas Previdenciárias
206 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, vimos um pouco sobre o Direito Previdenciário. Para tanto, ana-
lisamos inicialmente sua evolução histórica. Por meio dela, pudemos observar
que a seguridade social foi dividida em três aspectos: Assistência Social, Seguro
Social e Seguridade Social.
A proteção dada a cada uma delas tem sua importância e passou por uma
evolução de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade. Hoje, aqueles que
não contribuem para a Previdência Social podem por ela ser protegidos, sendo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
assim assistidos pela Seguridade Social.
Outro caso é direito à saúde. De acordo com a Constituição Federal (BRASIL,
1988), todos têm direito à saúde, podendo a qualquer momento solicitar ao Estado
sua proteção, com o intuito de ter seu direito preservado e atingido, ainda que o
mesmo não tenha condições de proporcionar a parte necessitada.
Na sequência, vimos os fundamentos que levaram à criação da Seguridade
Social como um fator de proteção ao empregado. Nesse aspecto, como pudemos
analisar, uma série de fatores deve ser considerada, sempre levando em consi-
deração que o empregado, por ser a parte mais fraca, deve sim ter uma proteção
maior, possibilitando que o mesmo não passe por nenhuma necessidade e não
coloque sua família em risco.
Para finalizar, analisamos algumas formas de aposentadoria e alguns bene-
fícios que podem ser recebidos por aquele que tem a proteção da Previdência
Social. Por conta do curto tempo que temos para discutir cada um desses bene-
fícios, o objetivo foi mostrar os principais pontos de cada uma das formas de
aposentadoria, bem como quem é protegido por cada uma delas.
Em verdade, como discutido durante nosso estudo, a Previdência Social vem
passando por uma série de mudanças, considerando o aumento da expectativa
de vida, o que pode causar uma alteração nesses benefícios expostos.
Assim, o conteúdo aqui trabalhado objetiva fomentar a curiosidade, bem
como compreender as normas que regem a nossa sociedade, com o intuito de
que, enquanto cidadãos, busquemos melhorias.

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA E LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA


207

1. A evolução socioeconômica fez com que as desigualdades sociais se acentuas-


sem entre os membros da mesma comunidade e da comunidade internacional.
A pobreza não é um problema apenas individual, mas sim social, atingindo di-
versos setores da sociedade. Sobre a evolução da Seguridade Social, assinale a
alternativa correta
a) O homem nem sempre se preocupou em garantir seu sustento e de sua famí-
lia em situações de carência econômica, enfermidades, diminuição da capa-
cidade de trabalho, redução ou perda de renda.
b) A evolução histórica da proteção social foi dividida em dois grandes tópicos:
seguridade social e assistência pública.
c) A evolução do Direito previdenciário sempre procurou acompanhar a socie-
dade com o objetivo de proporcionar uma proteção para a classe trabalha-
dora.
d) A assistência pública foi fundada na caridade, sendo conduzida pelas insti-
tuições públicas.
e) O Direito previdenciário sempre atendeu a todos de forma igualitária, sem
estipular critérios para tal.
2. Não bastava a caridade para o socorro dos necessitados. Fazia-se necessário criar
outros mecanismos de proteção que não se baseassem na generosidade e que
não submetessem o indivíduo a comprovações vexatórias de suas necessidades.
No que diz respeito ao Seguro Social, assinale a alternativa correta
a) O seguro do Direito Civil forneceu as bases para a criação de um novo instru-
mento garantidor de proteção em situações de necessidade.
b) O desenvolvimento do instituto do seguro fez surgir somente o seguro de
vida.
c) O final do século XIX foi marcado pelo surgimento do seguro de carros, cuja
natureza era obrigatória a todos.
d) Em 1883, nasceu o seguro nacional, com a Lei do Seguro Doença, que criou o
Seguro Enfermidade, resultado da proposta de Bismark.
e) O seguro ligado à Previdência Social deve ser entendido, hoje, como o mes-
mo seguro que fazemos junto a corretoras.
3. Como pudemos observar, para se atender os necessitados não bastava a carida-
de. De fato, fez-se necessário criar outros mecanismos de proteção que não se
baseassem na generosidade e que não submetessem o indivíduo a comprova-
ções vexatórias de suas necessidades. A partir disso, surgiram as empresas segu-
radoras. Sobre o Seguro Social, avalie as afirmações a seguir.
208

I. Em verdade, as empresas seguradoras surgiram com fins não lucrativos e a


administração era baseada em critérios econômicos.
II. O Seguro Social era uma espécie do gênero seguro que, embora com carac-
terísticas próprias, ainda tinha muito do seguro privado.
III. O desenvolvimento do instituto do seguro fez surgir novas formas: seguro de
vida, contra invalidez, contra danos, contra doenças, entre outros.
IV. Sobre o seguro, o Direito Civil forneceu as bases para a criação de um novo
instrumento garantidor de proteção em situações de necessidade.
É correto o que se afirma em:
a) II, III e IV.
b) I, II, III e IV.
c) II e IV.
d) I, II e III.
e) I e IV.
4. O art. 6 da Constituição Federal enumera os direitos sociais que se destinam à
redução das desigualdades sociais e regionais. Dentre esses direitos está a Se-
guridade Social, que é composta pelo direito à saúde, pela assistência social e
pela previdência social. O art. 194 da Constituição Federal traz o conceito de que
seria “o conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da so-
ciedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social”. Sobre os fundamentos da Seguridade Social, é correto o que
se afirma em:
a) Apenas as mutações sociais decorrentes do avanço tecnológico conduzem a
novas situações causadoras de necessidades, fazendo que a proteção social
tenha que se adequar aos novos tempos.
b) A nossa Constituição não deseja que todos estejam protegidos dentro da Se-
guridade Social, mas sim somente aqueles que contribuem para a mesma.
c) A Seguridade Social não é um instrumento de bem-estar, mas sim um redu-
tor das desigualdades sociais.
d) As prestações de Seguridade Social são o gênero do qual benefícios e servi-
ços são espécies.
e) A solidariedade não é o fundamento da Seguridade Social, mas sim a gene-
rosidade.
209

5. De acordo com o que estudamos sobre as fontes do Direito, que também são
consideradas fontes do Direito Previdenciário, a Constituição Federal prevê vá-
rios assuntos de suma importância para a nossa sociedade, dentre eles o siste-
ma previdenciário que se divide em: regime público e regime privado. Já sob o
ponto de vista financeiro, os regimes previdenciários podem ser de dois tipos:
de capitalização ou de repartição simples. Sobre o sistema previdenciário, avalie
as afirmações a seguir.
I. Fazem parte do regime público: o Regime Geral de Previdência Social (RGPS),
o regime previdenciário próprio dos servidores públicos civis e o regime pre-
videnciário próprio dos militares.
II. O regime privado é a previdência complementar, ou seja, aquela que o pró-
prio indivíduo opta se vai fazer ou não.
III. O regime de repartição simples é baseado na solidariedade entre indivíduos
e entre gerações.
IV. No regime de capitalização adotam-se técnicas financeiras de seguro e pou-
pança.
É correto o que se afirma em:
a) I, II, III e IV.
b) I, III e IV.
c) II, III e IV.
d) I e III.
e) II e IV.
210

Para facilitar e compreender como funciona o sistema previdenciário no Brasil, leia o


texto abaixo e confira os tipos de aposentadoria existentes no Brasil:
Atualmente, o sistema previdenciário brasileiro conta com três categorias: Regime Geral da
Previdência Social, Regimes Próprios de Previdência Social e Previdência Complementar.
Confira cada um deles:

Regime Geral da Previdência Social uma renda extra ao trabalhador ou a seu


(RGPS) beneficiário. Os valores dos benefícios
são aplicados pela entidade gestora, com
Inclui todos os indivíduos que contri- base nos chamados cálculos atuariais
buem para o Instituto Nacional do Seguro (que estabelece o valor da contribuição
Social (INSS): trabalhadores da iniciativa mensal necessária para pagar as aposen-
privada, funcionários públicos (concur- tadorias prometidas).
sados e não concursados), militares e
integrantes dos Poderes Judiciário, Legis- Um exemplo de previdência comple-
lativo e Executivo. mentar é a Previ, o fundo de pensão dos
funcionários do Banco do Brasil e o maior
Regimes Próprios de Previdência do País, que gera recursos que vão com-
Social (RPPS) plementar a aposentadoria do INSS dos
funcionários dessa instituição.
Organizadas pelos estados e municípios
para servidores públicos ocupantes de INSS oferece quatro tipos de aposen-
cargos efetivos (que exigem concurso tadoria
público).
A Previdência Social completou, neste
Existem dois regimes de RPPS: o de ano, 91 anos de proteção ao trabalhador
repartição simples e o de capitalização. e sua família. Criada a partir da sanção da
O primeiro é igual ao do INSS. Isto é, as Lei Eloy Chaves, em 1923, a seguradora
contribuições do trabalhador em ativi- do trabalhador brasileiro paga, todos os
dade pagam o benefício do aposentado. meses, mais de 31 milhões de benefícios
No sistema de capitalização, é criado um e transfere mais de R$ 27 bilhões, movi-
fundo para receber as contribuições que mentando a economia de milhares de
são aplicadas em ativos de renda fixa e municípios brasileiros.
variável. Neste caso, o servidor recebe
o valor de suas reservas mais os rendi- Do total de benefícios, mais de 17,4
mentos. milhões são aposentadorias. Destas, 9
milhões são aposentadorias por idade,
Previdência Complementar 3,3 milhões são por invalidez e 5 milhões
são por tempo de contribuição.
É um benefício opcional, que proporciona
ao trabalhador um seguro previdenciário O trabalhador brasileiro, tanto o empre-
adicional, conforme sua vontade. É uma gado quanto aquele que exerce atividade
aposentadoria contratada para garantir por conta própria e contribui para a Pre-
211

vidência Social, têm direito a todos os pelo INSS, é necessário que o trabalhador
benefícios oferecidos pelo INSS, incluindo seja filiado à Previdência Social, contri-
aposentadoria, auxílio-doença, salário- bua todos os meses e cumpra o período
-maternidade, auxílio-reclusão e pensão de carência exigido para cada benefício.
por morte, esses dois últimos para os No caso da aposentadoria por idade, a
dependentes. carência é de 180 contribuições men-
sais. Isso significa que, para se aposentar
A Previdência oferece quatro tipos de por idade, o homem e a mulher devem
aposentadoria para os seus segurados. A começar a contribuir para a Previdência
aposentadoria por idade, por exemplo, é Social quinze anos antes de completar a
concedida aos homens com 65 anos de idade exigida, e o trabalhador rural deve
idade e às mulheres com 60 anos. Os tra- comprovar o efetivo exercício da ativi-
balhadores rurais do sexo masculino se dade rural por um período de dez anos
aposentam por idade aos 60 anos e as anteriores ao pedido da aposentado-
mulheres, aos 55. O tempo mínimo de ria. O auxílio-doença e a aposentadoria
contribuição é de 15 anos para os inscri- por invalidez decorrentes de acidente
tos após 25 de julho de 1991. Se começou de trabalho não têm carência. Já para o
a contribuir antes desta data, são neces- auxílio-doença previdenciário, a carên-
sárias 144 contribuições. cia é de 12 contribuições.

No caso da aposentadoria por tempo de Como se filiar à Previdência Social


contribuição, são necessários 35 anos de
contribuição para o trabalhador do sexo O trabalhador com carteira assinada é
masculino e 30 anos para as mulheres. inscrito na Previdência quando assina
Algumas categorias, como a dos profes- o contrato de trabalho. O trabalhador
sores, têm um tempo de contribuição autônomo deve se inscrever como contri-
diferenciado (30 anos para os homens e buinte individual. A contribuição mínima
25 para as mulheres). corresponde a 20% do salário-mínimo.
Basta acessar o site da Previdência ou
A aposentadoria por invalidez é conce- fazer uma ligação para o número 0800
dida quando a perícia médica do INSS 78 0191. A ligação é grátis. Quem prefe-
considera a pessoa totalmente inca- rir, pode comparecer a uma Agência da
paz para o trabalho, seja por motivo Previdência Social, apresentar a carteira
de doença ou acidente. Existe ainda a de identidade, o CPF e um comprovante
aposentadoria especial, destinada aos de residência. As donas de casa e os estu-
trabalhadores expostos a agentes noci- dantes maiores de 16 anos também
vos à saúde, sejam físicos, químicos ou podem se inscrever como contribuintes
biológicos. facultativos, assim como aqueles que já
foram empregados e estão fora do mer-
Para ter direito a uma dessas aposen- cado de trabalho.
tadorias ou a outro benefício oferecido
Fonte: Portal Brasil (on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Curso de Direito Previdenciário


Vladimir Martinez
Editora: LTr
Sinopse: a presente obra possui 90 capítulos, sendo um dos mais
completos estudos sobre a previdência social. Ela desdobra-se em:
I) noções de direito previdenciário; II) previdência social; III) direito
previdenciário procedimental e IV) previdência complementar.
O autor, Wladimir Novaes Martinez, é um grande especialista no assunto e sua obra merece leitura para
que se possa compreender melhor sobre o sistema previdenciário brasileiro.
213
REFERÊNCIAS

BEVERIDGE, S. W. O Plano Beveridge: relatório sobre o seguro social e serviços afins.


Rio de Janeiro: José Olympio, 1943.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Emendas Cons-
titucionais. Presidência da República, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 23 ago. 2017.5
______. Decreto n° 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Pre-
vidência Social, e dá outras providências. Presidência da República, 1999. Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm>. Acesso em: 25
ago. 2017.
______. Decreto n° 6.214, de 26 de setembro de 2007. Regulamenta o benefício
de prestação continuada da assistência social devido à pessoa com deficiência e ao
idoso de que trata a Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e a Lei nº 10.741, de 1º
de outubro de 2003, acresce parágrafo ao art. 162 do Decreto no 3.048, de 6 de maio
de 1999, e dá outras providências. Presidência da República, 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6214.htm>.
Acesso em: 25 ago. 2017.
______. Emenda Constitucional n° 20, de 15 de dezembro de 1998. Modifica o
sistema de previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providên-
cias. Presidência da República, 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm>. Acesso em: 25 ago. 2017.
______. Lei n° 4.266, de 3 de outubro de 1963. Institui o salário família do traba-
lhador. Presidência da República, 1963. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L4266.htm>. Acesso em: 25 ago. 2017.
______. Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Se-
guridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Presidência
da República, 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8212cons.htm>. Acesso em: 25 ago. 2017.
______. Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefí-
cios da Previdência Social e dá outras providências. Presidência da República, 1991.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso
em: 25 ago. 2017.
______. Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da
Assistência Social e dá outras providências. Presidência da República, 1993. Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 25 ago.
2017.
______. Lei n° 9.717, de 27 de novembro de 1998. Dispõe sobre regras gerais para
a organização e o funcionamento dos regimes próprios de previdência social dos
servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
militares dos Estados e do Distrito Federal e dá outras providências. Presidência da
REFERÊNCIAS

República, 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9717.


htm>. Acesso em: 25 ago. 2017.
HORVARTH JUNIOR, M. Direito Previdenciário. Quartier Latin: Atlântico Pacífico,
2008.
LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.
MARTINEZ, W. N. A Seguridade Social na Constituição Federal. São Paulo: LTr, 1989.
______. Princípios de Direito Previdenciário. 5. ed. São Paulo: LTr, 2011.
SANTOS, C. M. dos. Direito Previdenciário. São Paulo: Central de Concursos, 2004.
SANTOS, M. F. Direito previdenciário esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012.
______. Direito previdenciário esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2013.

REFERÊNCIA ON-LINE

1
Em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2014/05/confira-os-tipos-
-de-aposentadoria-existentes-no-brasil>. Acesso em: 25 ago. 2017.
215
GABARITO

1. b.
2. d.
3. a.
4. d.
5. a.
CONCLUSÃO

Após o estudo de dois ramos do Direito (Direito Civil e Previdenciário), você, acadê-
mico(a), não tem a obrigatoriedade de conhecer todas as normas dessas disciplinas,
até porque nem mesmo os juízes, advogados e estudiosos do Direito conhecem-
-nas. O que é necessário saber é sobre o que procurar e onde encontrar. Para isso é
que as aulas e o material de Direito servem.
Com essas aulas, você não se tornará um advogado(a), até porque seu curso supe-
rior não é Direito, mas se tornará uma pessoa capacitada para conhecer a base do
nosso ordenamento jurídico e contratar ou indicar um advogado apenas quando
for necessário.
Lembre-se que é de suma importância o estudo das disciplinas jurídicas no seu cur-
so e que estas devem ter proporcionado um conhecimento holístico e bem atual da
influência do Direito nos direitos sociais e protetivos, dotando-os de competências
e de habilidades para a atuação frente às diversas situações jurídicas que lhes apa-
recerem. Daí a necessidade de os assistentes sociais tomarem conhecimento acer-
ca do ordenamento jurídico vigente que refletirá certamente em seu desempenho
profissional.
A legislação está em constante mudança para atender a sua principal finalidade,
que é acompanhar a evolução da própria sociedade, sua alteração de costumes,
entendimentos, conceitos e necessidades.
Estudar e conhecer o Direito é primordial para saber aplicá-lo, e entender sua base
não é importante apenas para a sua vida profissional, mas também é essencial para
a vida pessoal.
Em suma, agora, passado o estudo desta matéria, você é capaz de entender o que
é o Direito e qual é a sua finalidade, podendo, inclusive, aplicá-lo no seu cotidiano
profissional.
Nunca se esqueça de estar sempre atento às constantes mudanças sociais, econô-
micas e jurídicas, pois você já possui as noções básicas para interpretar as normas
dentro de sua área de atuação, contribuindo, assim, para o seu sucesso profissional.
As autoras.

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