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Universidade Federal de São Carlos

Departamento de Ciências Sociais.

Traçando paralelos entre a Geometria sagrada e a análise estrutural de


Lévi-Strauss

Discente: Pedro Mathias Fajardo Custodio R.A. 491543

São Carlos
2018
"Acaso não sabeis que (os geômetras) utilizam as formas visíveis e falam delas, embora
não se trate delas, mas destas coisas de que são um reflexo, e estudam o quadrado em si e
a diagonal em si, e não a imagem deles que desenham? E assim sucessivamente em todos
os casos... O que realmente procuram é poder vislumbrar estas realidades que apenas
podem ser contempladas pela mente." PLATÃO, A República, VII.

De um modo geral todas as sociedades tem conhecimentos em geometria, seja pra


dividir e trabalhar a terra, para se orientar no espaço, para realizar construções, para tecer
etc… Neste trabalho uma certa geometria conhecida pelo ser humano não será pensada
apenas como uma técnica e conhecimento de manipular medidas que possibilita o
desenvolvimento tecnológico, mas, sob o ponto de vista do que vem sendo chamado
Geometria Sagrada. Sob este ponto de vista a prática da geometria é considerada uma
aproximação com a forma como o universo se ordena e se sustenta, uma vez que a ordem
da geometria “subjaz à estrutura de todas as coisas, das moléculas às galáxias, do menor
vírus à maior baleia”(Pennick, p3)
“Assim, a geometria sagrada diz respeito não só às. proporções das
figuras geométricas obtidas segundo a maneira clássica com o uso
da régua e compassos, mas também às relações harmônicas das
partes de um ser humano com um outro; à estrutura das plantas e
dos animais; às formas dos cristais e dos objetos naturais - a
tudo aquilo que for manifestações do continuum universal.”(Pennick,p5)
Procuro aqui fazer uma reflexão acerca acerca da prática da geometria pelos diferentes
povos traçando paralelos com o estruturalismo levistraussiano, tentando apenas indicar
uma possível abordagem do tema a partir de uma análise estrutural.

Da lógica do sensível a geometria das percepções.

"Todas as formas matemáticas têm uma primeira permanência na alma; de tal modo que
antes do sensível, ela contém números com sua dinâmica própria; figuras vitais antes das
aparentes; razões harmônicas antes de coisas harmonizadas e círculos invisíveis antes dos
corpos que se movem em círculos." THOMAS TAYLOR

No primeiro capítulo de O Pensamento Selvagem, Lévi-Strauss reúne um


considerável volume dados que demonstram que os povos indígenas possuem um extenso
conhecimento das espécies da fauna, flora e eventos meteorológicos que ocorrem no seu
habitat. Tal demonstração inverte a máxima de que as espécies vegetais e animais são
conhecidas porque são consideradas úteis, pelo contrário estas só são consideradas úteis
porque antes elas são conhecidas. Esse conhecimento é construído a partir das
características sensíveis das coisas, aspectos como, sabor, cheiro, aparência. Esta maneira
de conhecer satisfaz as necessidades e exigências intelectuais, pois é capaz de instaurar
um princípio de ordem no universo agrupando coisas e seres a partir de suas características
sensíveis (lógica do sensível). O autor detecta o mesmo princípio no pensamento selvagem
e no pensamento científico: “a observação exaustiva e com o inventário sistemático das
relações e das ligações. [...] A explicação científica corresponde sempre à descoberta de
uma “ordenação” [...] Toda tentativa desse tipo, mesmo inspirada em princípios não
científicos, pode encontrar ordenações verdadeiras” (L-S,1989,pg 26).
Nesta passagem descrita acima Lévi-strauss chama a atenção para o potencial do
senso estético (o gosto, o cheiro, a sensação ao toque, a percepção da forma) em criar
classificações, agrupamentos, ordenações, e através do teste perceber estruturas
relacionadas a fatos. O mito, entre outras coisas, é encarregado de transmitir os testes
feitos, as experiências vividas. Penso que não é diferente com os conhecimentos
geométricos experimentados através da percepção da relação entre a forma das coisas. A
exemplo disso extrai uma passagem do livro de Nigel Pennick, A Geometria sagrada
simbolismo e intenção nas estruturas religiosas, :
“Embora os polinésios não tenham possuído nenhum dos instrumentos agora tidos
como necessários à navegação - o sextante, o compasso e o cronômetro -, eles eram
capazes de viajar regularmente através de grandes extensões do oceano e chegar aos seus
objetivos. Valendo-se das estrelas e de outras características físicas - como a presença de
bancos de nuvem sobre a terra -, os navegadores polinésios podiam detectar a presença de
ilhas, mas o método mais útil era a leitura das ondas. [...] Assim como qualquer outro objeto
marítimo, uma rocha por exemplo, exercerá um efeito sobre o padrão das ondulações,
também a presença de uma ilha, em escala muito maior, causará padrões de difração nas
ondas a muitas milhas de distância.” (Pennick, 1980, p.9)

Navigation chart (mattang), probably 19th or early 20th century C.E., Marshall Islands,
Micronesia, 75.5 cm © Trustees of the British Museum
(https://www.khanacademy.org/humanities/ap-art-history/the-pacific/a/navigation-charts)
(imagem extraida do livro de Nigel Pennick)

Os mattang são um sistema mnemônico, depois de memorizadas as informações


contidas no esquema eles eram deixados pra trás, não eram levados na viagem. Os
esquemas eram construídos em palitos madeira; os palitos horizontais e os verticais agem
como suporte, enquanto os diagonais e os curvados representam os padrões de ondas.
Conchas pequenas podiam ser adicionados ao esquema representando a posição das ilhas.
O conhecimento da leitura dos padrões de difração das ondas eram registrados e
passados para novas gerações através dos mattang. A observação exaustiva dos padrões
das formas das ondas permitiu que os polinésios das Ilhas Marshall percebessem relações
entre a forma da onda e a sua localização referente às ilhas. É como se em um mar de
continuidades fosse criada uma separação aparentemente íntegra para evidenciar uma
estrutura. Neste sentido o conhecimento geométrico necessário para a criação dos mattang,
a habilidade de comparar formas, manipular medidas, perceber e estabelecer uma relação
entre formas, opera como a criação de uma obra arte para Lévi-strauss: “parte-se de um
conjunto, formado por um ou vários objetos e por um ou vários fatos, ao qual a criação
estética confere um caráter de totalidade, por colocar em evidência uma estrutura comum”.
(L-S,1989, p.41)
A partir da relação entre as formas (lógica do sensível) é criada uma linguagem
capaz de tornar inteligível as leis que ordenam o mundo natural (pensamento concreto),
porém para os teóricos da geometria sagrada a geometria não é apenas a linguagem
humana através da qual entendemos o mundo natural, é mais que isso, é a própria lógica
da natureza. Por isso:
“Os diagramas geométricos podem ser contemplados como momentos de
imobilidade que revelam uma contínua e intemporal ação universal, geralmente oculta à
nossa percepção sensorial” (Lorwel, p.6)
Para Lorwel a geometria é forma pura estruturante das coisas, ou seja a forma
estruturando o conteúdo, a exemplo disso cita a importância da geometria e da proporção
na formação biológica. Tanto as substâncias vivas como as inorgânicas estão
constantemente mudando através da substituição dos átomos e das moléculas, a
constância, estabilidade e continuidade das coisas não estão nos átomos concretos
(conteúdo), mas na maneira como estão dispostos (forma) . O DNA, por exemplo, é
constituído por carbono, hidrogenio, oxigenio, e nitrogenio e mesmo estes átomos sofrem
constante substituição, ou seja, o “veículo da continuidade não é apenas a composição
molecular do DNA, mas também sua forma helicoidal”(Lorwel, p.4) A forma de hélice é
derivada de uma série de proporções geométricas fixas, que existem a priori, sem nenhum
referente material, mas como relações geométricas abstratas. Os mesmos átomos
estruturados de uma outra forma não fazem mais DNA.
A partir de tal proposição me ocorreu a comparação entre o status da música na
obra de Lévi-Strauss e o status da geometria sagrada para os teóricos deste tema. Segundo
Merquior a música na obra de L.S. “lança a ponte mais sólida entre natureza e cultura, e
contudo ela não o faz senão ao preço (muito paradoxal na aparência) de reforçar mais do
que nenhuma outra linguagem a especificidade de cada um dos dois pólos que ela se
dedica a ligar” (Merquior,p.61) Penso que a prática da geometria sagrada, não é diferente,
pois embora ela tenha a “faculdade de reduzir ao mínimo o intervalo entre a cultura e a
natureza”, ela imediatamente anuncia a disjunção entre os dois pólos. “Por ser a geometria
uma imagem da estrutura do cosmos, ela pode ser facilmente utilizada como um sistema
simbólico para a compreensão de várias estruturas do universo.” (Pennick, p.8)
O seguinte argumento reforça minha percepção de que a geometria assim como a
música “lança a ponte mais sólida entre natureza e a cultura”: Os órgãos sensoriais, com os
quais interagimos com o mundo operam através de diferenças geométricas ou
proporcionais,“e não quantitativas, inerentes aos estímulos que recebem. Por exemplo,
quando aspiramos o perfume de uma rosa, não estamos respondendo às substâncias
químicas de seu perfume, mas antes, à geometria de sua construção molecular.” Ao
ouvirmos música não ouvimos apenas diferenças quantitativas de frequências das ondas
sonoras, mas diferenças proporcionais e logarítmicas entre frequências. “Nossas diferentes
faculdades perceptivas, tais como a visão, o ouvido, o tato e o olfato, são pois o resultado
de diferentes reduções proporcionadas de um vasto espectro de freqüências vibratórias.
Podemos entender essas relações proporcionais como uma espécie de geometria da
percepção.”(Lorwel,p 5)
Neste sentido penso que é possível uma análise estrutural dos da geometria
praticada pelos povos, pois toda forma geométrica manipulada pelo ser humano está
investida de significado psicológico e simbólico, conformando um sistema capaz de
transmitir ideias e concepções. É de se esperar que o valor simbólico atribuído às formas
varia de cultura para cultura, mesmo assim como entre os mitos, na geometria aparecem
temas universais como o caso da divisão óctupla do espaço a partir do quadrado:
“O quadrado, orientado para os quatro pontos cardeais (no caso das pirâmides
egípcias, com um exatidão fenomenal), pode ser novamente bisseccionado por diagonais,
que o dividem em oito triângulos. Essas oito linhas, partindo do centro, formam os eixos que
indicam as quatro direções cardeais e os "quatro cantos" do mundo - a divisão óctupla do
espaço”(Pennick, p10)
Essa mesma divisão óctupla do espaço aparece no calendário asteca (imagem 3) e
na mandala tibetana (imagem 4), este mesmo princípio de divisão do espaço é utilizado na
construção de templos hindus e nas pirâmides do egito. Embora eu saiba que seria
necessário realizar um estudo etnográfico e de fôlego entre essas culturas para fazer uma
comparação aceitável, me arrisco aqui a sugerir uma aproximação: As mandalas no
budismo tibetano são uma espécie de mantra visual, auxiliam no processo de iluminação do
praticante budista. muito simplificadamente a iluminação trata-se de superar o ponto de
vista baseado no ego onde as coisas se apresentam separadas, para um ponto de vista do
contínuo e universal, onde não há separação. Acredito que a potência da mandala em
auxiliar no processo de iluminação ao ser construída e contemplada está relacionada ao
fato de que o conhecimento necessário para construí-la, ou seja sua geometria, está
baseada em um princípio verdadeiro de ordem universal, sua contemplação aponta o
caminho do individual para o universal. Fenômeno semelhante acontece em várias
construções religiosas, que em sua arquitetura e posicionamento são utilizadas proporções
tidas como sagradas, pois o espaço destinado ao contato com o divino é construído a partir
de formas entendidas como universais e por isso capazes de fazer a ponte entre micro e
macrocosmo.
Portanto me parece que estes artefatos acima descritos tem a sua função e o seu
símbolo dobrados um por cima do outro(Lévi-strauss,1989, p.41), são artefatos que
possuem um equilíbrio entre o simbolismo e a função prática, em ambos os caso a
geometria se mostra não só um conhecimento eficaz para produzir imagens contemplativas
e erigir grandes construções, mas, também a forma como o continuum universal se
manifesta. O monge geômetra que faz mandalas e o arquiteto construtor de templos agem
como o artista captando a “relação sensível e inteligível com a estrutura do objeto que
essas
modalidades afetam e que ele incorpora a sua obra”(Lévi-strauss,1989,p.43). Acredito que
com uma análise de maior fôlego com informações etnográficas mais ricas e precisas é
possível definir não “ apenas uma forma histórica e localizada da criação estética
acreditando atingir não apenas suas propriedades fundamentais mas também aquelas pelas
quais sua relação inteligíveis se estabelece com outros modos de criação?” (Lévi-
strauss,1989, p.42)
1)Janela em Notre Dame paris 2)Detalhe arquitetônico de uma mesquita

3)Pedra do sol Asteca. 4)Desenho de mandala tibetana.

Formato da molécula de clorofila possui o mesmo princípio da simetria de doze eixos da


imagem 2.
Bibliografia:
Lawlor, R. Geometria sagrada, Delprado, 1999.

Lévi-Strauss, C. “A ciência do concreto” In: O Pensamento selvagem

Merquior, J.G. A Estética de Lévi-Strauss. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1975.

Pennick N., Geometria sagrada simbolismo e intenção nas estruturas religiosas,


Pensamento, São Paulo, 1980.

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