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Coimbra
2019
Sumário
1. Introdução 1
2. Contexto Histórico 2
a. Igreja de São João de Tarouca 4
b. Igreja de Santa Maria de Salzedas 4
c. Igreja de Santa Maria de Alcobaça 4
3. Medidas e Proporções 7
4. Conclusão 12
Introdução
“Cister é uma rigorosa demanda de perfeição. A arte e arquitetura
cistercienses são austeras, despojadas, disciplinadas, fundamentando-se na
busca da pureza de linhas. Fraternidade, pobreza, simplicidade, silêncio são as
palavras-chave da espiritualidade cisterciense” ¹. A Ordem de Cister,
nomeadamente, católica, beneditina, nasceu como um brado de insatisfação de
religiosos que antes pertenciam à Ordem dos Cluny. Também franceses, os
Cluny já há muito haviam se desviado dos preceitos de São Bento e nesse
contexto um grupo de religiosos procurou o regresso à Regra de São Bento. Foi
então que nomes como Roberto de Champagne e Bernardo de Claraval iniciam
uma nova ordem, a fim de retomar os valores beneditinos já perdidos. Esta
ordem vai chamar-se Cister – nome dado em conformidade ao primeiro mosteiro
construído, Cîteaux, em Borgonha, França, 1098. Instalaram-se em Portugal no
ano de 1144, com a construção do primeiro mosteiro, São João de Tarouca
A Regra beneditina, no entanto, nada ditou no que diz respeito à
arquitetura do mosteiro nem criou um modelo de utilização, apenas mencionou
espaços essenciais à vida monástica, que circunscrevem um Claustro. Porém, a
partir de certas imposições e limitações de ordem filosófica acabam por
estabelecer diretrizes expressas na morfologia cisterciense.
“Desta forma, a Regra de São Bento dotou o mosteiro de um programa
que por sua vez gerou a planimetria da sua arquitetura” ². Logo, o conceito de
arquitetura cisterciense está intimamente relacionado a um sentido de clareza,
simplicidade, precisão e racionalidade geométrica. Tal austeridade refletia-se
não só na rotina dos monges, mas também nas articulações dos espaços
arquitetônicos.
É importante ressaltar que o plano arquitetônico de Cister nunca foi
estático, adaptou-se consoante suas necessidades e demandas.
No tocante da morfologia dos mosteiros de Cister, o claustro é o epicentro
do conjunto, sendo um espaço convergente que dá acesso à outras partes do
mosteiro e tem um simbolismo pragmático (de distribuição) e espiritual, sendo
um lugar privilegiado de encontro pessoal com Deus. “O claustro constitui o
coração do mosteiro” ³. Deste modo, pode-se afirmar que que a igreja e o
claustro são os principais lugares na projeção de uma abadia cisterciense.
A escolha do local de implantação constituía uma grande preocupação:
exigia-se locais recônditos, florestados, propícios trabalhos com a terra e, com
muita ênfase, abundantes em água. Isso expressa a busca por um “Paraíso na
terra” por parte da Ordem de Cister.
¹ MORGADO, 2013
² idem
³ COCHERIL, 1989
1
Contexto Histórico
Em 1098 Roberto Molesme, insatisfeito com o incumprimento da Regra
Beneditina por parte da Ordem de Cluny, rompe com a Ordem e funda a Ordem
de Cister, com o objetivo de seguir à rigor a Regra Beneditina, vivendo isolados
e levando uma vida espiritual, rural e sem luxos. Para Molesme, a arte deveria
ser unicamente uma expressão dos diálogos interiores com Deus.
Enquanto a Ordem Cister prosperava na região de Borgonha, em
Portugal, Dom Afonso Henriques lutava pela imposição da presença cristã diante
do domínio Islâmico. Em 1152, Dom Afonso derrota os mouros na Batalha de
Trancoso e decide doar terras a Bernardo de Claraval, sucessor de Molesme.
Assim, a Ordem de Cister chega à Portugal.
Diante das exigências dos monges, que seguiam a Regra Beneditina,
Tarouca, no Vale do Varosa, foi o local escolhido para a construção do primeiro
mosteiro cisterciense, com sua localização isolada, a fertilidade das terras
abastecidas pelo Rio Varosa e a grande quantidade de pedra e madeira a
disposição.
Em 1154 tem início a construção do Mosteiro de Tarouca, que se tornou
a imagem o ideal de Cister, com seu despojamento e simplicidade. Sua
organização original contava com as seguintes características: planta em cruz
latina orientada para nascente; cabeceira escalonada com presbitério e duas
capelas de fecho reto abrindo para o transepto; corpo longitudinal tripartido;
pilares de secção retangular; altura da nave central dupla das naves colaterais;
antiga fachada de tipo latino onde sua estrutura refletia a disposição interna do
edifício, e cobertura com abóbadas de arco quebrado.
A Ordem de Cister expandiu e teve a oportunidade de construção do Real
Mosteiro de Alcobaça, em 1178, que marcou a consolidação da presença cristã
em Portugal, até o século XV, quando entra em decadência após o decreto de
extinção das ordens religiosas.
Por isso, a Ordem de Cister em Portugal está intimamente ligada à
restauração da nacionalidade no período da Reconquista Cristã, sendo inclusive
um instrumento régio de demarcação territorial.
Já a arquitetura cisterciense, vai aliar a funcionalidade do espaço ao valor
espiritual, na tentativa do regresso à pureza inicial da Regra Beneditina,
renunciando elementos decorativos, considerados fatores de distração na
oração. Essa foi a reação do principal ideólogo do movimento cisterciense,
Bernardo de Claraval, à monumentalidade dos mosteiros Cluniacenses que,
segundo ele haviam se desviado da Regra Beneditina e cederam ao luxo. E é
nela que se expressa a espiritualidade cisterciense nos seus princípios
fundamentais: o trabalho, o silencio, a oração e a contemplação, através de uma
arquitetura simples e solida.
Com a grande expansão da Ordem, Bernardo de Claraval percebeu a
importância de criar mecanismos de controle das comunidades monásticas,
impondo regras de ordem estética. Como a utilização de um reticulo de princípio
metodológico para a construção e o uso de um modulo como fator numérico-
genérico para regular toda a composição arquitetônica através da adição ou
divisão aritmética podendo ser aplicada em qualquer escala.
2
Imagem 1 - Vista da Igreja da Abadia de Claraval na Borgonha
4
Imagem 4 - Planta da Igreja de São João de Tarouca
5
Imagem 6 - Planta do Mosteiro
de Alcobaça
7
Planta e axonometria da Igreja de São João de Tarouca
8
136 pés
128 pés
256 pés
40 pés
48 pés
40 pés
Escala 1/500
Igreja de Santa Maria de Alcobaça
9
64 pés
e Tarouca (vermelho).
10
Corte Igreja São João de Tarouca
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Conclusão
Roberto de Champagne e Bernardo de Claraval dão iní
ordem ao constatarem que Ordem dos Clunny já não seguia os preceitos de São
Bento sobretudo no que diz respeito à humildade.
A ordem surgida no século XI é nomeada a Ordem de
Os cistercienses vêm a Portugal no século XII e iniciam uma série de obras com
suas características específicas em estilo e implantação. Dom Afonso Henriques
investe e estimula as ordens religiosas em Portugal como resistência e
campanha para a reconquista da Península diante do domínio árabe. Por isso, a
presença desses monges em Portugal está intimamente ligada ao nascimento
de uma noção de nacionalidade.
Dada a expansão da ordem de Cister, Bernardo de Cla
mecanismos de controle, impondo regras de ordem estética e o uso de um
modulo como fato numérico-geométrico. Para comprovar a utilização do reticulo
e do modulo, os estudos feitos nas igrejas de São João de Tarouca, Salzedas e
Alcobaça nos mostram o traçado regulador e as relações proporcionais utilizadas
nas igrejas cistercienses.
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