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A Região de Campinas continua sendo uma das mais dinâmica do Estado de São
Paulo e do país. Como toda grande aglomeração urbana, desde os anos 70, essa região
vem se configurando e se consolidando como uma área metropolitana importante seja
do ponto de vista da integração funcional ou de conurbação entre os municípios, seja do
ponto de vista do poder concentrador em termos sociais, demográficos e econômicos.
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Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado
em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.
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Este trabalho faz parte das reflexões do recorte espacial para o projeto de dissertação de doutorado do
autor.
uma intensa vinculação socioeconômica (Villaça, 1998). Este processo irá certamente
envolver uma série de transformações tanto no núcleo absorvido quando no núcleo
principal. Para uma maior clareza nestes vínculos, devem ser destacados
principalmente os deslocamentos espaciais de pessoas, já que são elas que caracterizam
o espaço intra-urbano em oposição ao deslocamento de cargas.
Esta análise dialética exige que a estruturação territorial seja encarada como um
processo e, como tal, sua abordagem é feita em termos de movimento, e o movimento
das estruturas urbanas é sempre fruto da atuação de forças que atuam em sentidos
diferentes com intensidades diferentes.
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organização de produção intensiva e em trabalhos de baixa capacidade de acumulação e
produtividade. Assim a expansão urbana se apóia numa sociedade com uma distribuição
de renda bastante desigual, tendo como resultado a concentração de renda e população
das grandes cidades, surgindo uma estrutura social urbana fragmentada e segregada
espacialmente, com a generalização das periferias urbanas, principalmente nos grandes
centros urbanos (Caiado, 1998). A lógica da localização industrial ao longo das
rodovias, gerou na região uma conurbação que inclui, além de Campinas, os municípios
de Valinhos, Vinhedo, Monte Mor, Sumaré, Hortolândia, Indaiatuba, Paulínia, Nova
Odessa, Sta. Bárbara D’Oeste e Americana, situados ao longo da Rodovia Anhangüera,
que liga a Grande São Paulo ao interior do estado.
O crescimento e a configuração intra-urbana do município não foi homogêneo, e
diferentes partes do território municipal assumiram diferentes funções na inserção da
dinâmica econômica. Alguns aspectos sociais se destacam pela sua importância. O
crescimento da violência urbana em todos os setores - inclusive os rurais - (Minayo,
1994), tem centralizado a atenção nas grandes capitais e regiões metropolitanas e nos
diferenciais por sexo, faixa etária e grupos populacionais segundo características
socioeconômicas e demográficas. As hipóteses explicativas para tal crescimento
abordam questões relativas à rápida concentração populacional, ao crescimento urbano,
à pobreza, à distribuição de renda, ao desemprego e à segregação urbana.
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As estruturas territoriais são dotadas de movimento e o grande desafio é relacioná-lo
com suas fontes. São considerados elementos desta estrutura, o centro principal do
município, os sub-centros de comércio e serviços, o conjunto de bairros residenciais
segundo classes sociais e as áreas industriais (Villaça, 1998). Esta estrutura está ainda
relacionada com outras estruturas territoriais, como os sistemas de transporte e
saneamento. Logicamente temos que ressaltar a importância das primeiras pois
incorpora as segundas mais do que o contrário, embora não possa existir de forma
harmônica sem elas.
Com este objetivo, podemos partir então para os aspectos que nos levem a
discriminação de particularidades envolvidas no processo de urbanização do município,
tais como: os movimentos específicos na história territorial de formação da estrutura
intra-urbana como a distribuição territorial das classes sociais, sem nos apegar às
diferenças já conhecidas entre centro e periferia, e também como foram formados os
sub-centros e suas relações com as estruturas territoriais e sociais; examinar que papel
desempenha as classes sociais, políticas e os investimentos governamentais na
segregação espacial do território, entendendo que o termo segregação aqui utilizado tem
um caráter mais amplo de caracterizar um conjunto de elementos formadores de um
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espaço com as mesmas características sociais; procurar relacionar entre si os elementos
que compõe as estruturas territoriais urbanas (bairros, condomínios , rede de transporte,
distritos industriais, Cohabs, favelas) com argumentos explicativos que levaram àquela
formação.
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trabalho em suas viagens ao posto de trabalho, seja como consumidor em sua viagens de
lazer, compras, reprodução da força de trabalho.
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A maioria dos estudos socio-espaciais parte das transformações na estrutura
social (principalmente as econômicas) para deduzir e explicar as transformações do
espaço. Gottdiener (1985), como um autor que se aproxima bastante da análise intra-
urbana, deixa dúvidas sobre a questão das relações entre a estruturação intra-urbana e as
grandes transformações socioeconômicas. Afirma que “ocorreram importantes
transformações no padrão espacial e na reestruturação porque elas são função de
transformações no sistema social mais amplo e não porque sejam produtos de processos
internos às próprias localidades”. A essa visão opõe outra chamada convencional, e
para descrevê-la cita Robert Park, da Escola de Chicago: “A cidade é uma unidade
externamente organizada num espaço produzido por suas próprias leis”. Por outro lado
reconhece a existência de vários processos interativos importantes que também atuam
dentro do ambiente urbano e que apresentam origem puramente local.
3. Os limites do Intra-Urbano
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isto basta nos basearmos no conceito de área metropolitana semelhante ao do Bureau of
the Census, dos Estados Unidos, ou seja, ela nasce do conceito de cidades enquanto
entes físicos e socioeconômicos e não político-administrativo. Nesse sentido não há que
hierarquizar tais núcleos urbanos.
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1996). Há uma relação íntima entre as vias regionais de transporte e o crescimento
físico das cidades. As ferrovias provocam crescimento descontínuo e fortemente
nucleado junto às suas estações. As rodovias por sua vez, principalmente as expressas,
provocam um crescimento mais rarefeito, descontínuo e menos nucleado. Isto se deve à
sua acessibilidade. Outra questão intrinsecamente ligada ao município de Campinas é o
crescimento industrial. Nesse processo, a ação do Estado foi fundamental para
configuração de importantes pólos industriais em áreas do interior (Negri, 1988). Com
os incentivos governamentais gerando crescimento industrial , a localização destas
indústrias e seus relacionamentos com as vias acabaram por gerar expansão urbana
importante no município. Com o avanço da industrialização, o crescimento urbano já
era controlado pelas autoridades públicas. A partir dos anos 70, a ocupação e o uso do
solo, fazendo parte da articulação de interesses privados com o poder público,
acentuaram a especulação imobiliária. "O capital loteador acrescentou mais 93% de
terrenos para moradias ao mercado local entre 1962 e 1968, enquanto o capital
imobiliário da construção civil adicionava mais de seis milhões de novos metros
quadrados construídos" (Zimmermann, 1989).
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Milton Santos (1978) revela toda a riqueza da localização e a importância da
acessibilidade: “Cada homem vale pelo lugar onde está, o seu valor como produtor,
consumidor, cidadão, depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando
incessantemente para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade
(tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as
mesmas virtualidades, a mesma formação e até o mesmo salário, têm valor diferente
segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a
possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do
território onde está”.
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si. As áreas industriais também se incluem neste raciocínio: “cada empresa utiliza o
território em função de seus próprios fins. Têm olhos apenas para seus próprios
objetivos e são cegas para tudo mais. Desse modo, quanto mais racionais forem as
regras de sua ação individual tanto serão respeitosas do entorno social, econômico,
político, cultural, moral ou geográfico, funcionando na maioria das vezes como um
elemento de perturbação. Nesse movimento, tudo que existia anteriormente à instalação
dessas empresas hegemônicas é convidado a adaptar-se às suas formas de ser e agir,
mesmo que provoque no entorno preexistente, grandes alterações, inclusive a quebra da
solidariedade social” (Santos, 2001).
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de nossas cidades. Entendida aqui como um processo segundo o qual diferentes classes
ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões ou
bairros do sítio urbano (Villaça, 1998). Esta segregação não impede a presença nem o
crescimento de outras classes no mesmo espaço. Não existe presença exclusiva das
camadas de mais alta renda em nenhuma região, embora a recíproca não seja
verdadeira, ou seja, existe presença exclusiva de camadas de baixa renda em grandes
regiões urbanas. Na melhor das hipóteses pode haver exclusividade em bairros bem
característicos ou condomínios fechados. O que determina em uma região a segregação
de uma classe, é a concentração significativa dessa classe mais do que em qualquer
outra região da metrópole. Esta segregação é construída às vezes pelo próprio poder
público com as diretrizes do privado.
4. Conclusões
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englobará não só o município de Campinas como também áreas periféricas pertencentes
aos municípios da região, já que podemos ampliar o conceito de espaço intra-urbano
quando certos processos sociais extrapolam os limites periféricos do município, com a
criação de áreas onde o crescimento intra-urbano induz a formação de novas
especificidades regionais.
5. Bibliografia
Alonso, W. Location and land use. Cambridge, Mass. Harvard University Press,
Readings in urban economics, 1965
Bastide, R. Usos e Sentidos do Termo “Estrutura”. São Paulo, Edusp - Editora Herder,
1971
Burgess, E. W. Sobre a estrutura espacial das cidades nas duas Américas. In:The growth
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Press, 1976
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Fernandes, A e Gomes, F. Idealizações urbanas e a construção de salvador moderna. In:
Espaço e Debates. Ano XI, 1991
Harvey, D. The limits to capital. Chicago, The University of Chicago Press, 1982
Gottdiener, M. The social production of urban space. Austin, University of Texas Press.
1985
Lojkine, J. O estado capitalista e a questão urbana. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
Rolnik, R. Estatuto da Cidade: Instrumento para as Cidades que Sonham Crescer com
Justiça e Beleza. In Caderno Polis 4, SP, 2001
Rolnik, R.. Exclusão territorial e violência. In: A Violência Disseminada. São Paulo em
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Santos, M. Por uma outra globalização. Editora Record, Rio de Janeiro, 6a edição, 2001
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Semeghini, U.C. “Do Café à Indústria. Uma Cidade e seu Tempo”. Campinas, Editora
da Unicamp. 1991.
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