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Espaço Intra-Urbano em Campinas*1

Antonio Augusto Bitencourt de Oliveira


UFV-UNICAMP/NEPO

Palavras Chave: Urbanização, Espaço Urbano, População, Migração.

1. Espaço Intra-Urbano e Conurbação

A Região de Campinas continua sendo uma das mais dinâmica do Estado de São
Paulo e do país. Como toda grande aglomeração urbana, desde os anos 70, essa região
vem se configurando e se consolidando como uma área metropolitana importante seja
do ponto de vista da integração funcional ou de conurbação entre os municípios, seja do
ponto de vista do poder concentrador em termos sociais, demográficos e econômicos.

Como grande pólo regional, o município de Campinas chega ao novo século


XXI com uma população próxima a um milhão de habitantes, sendo que seu
crescimento só não foi maior em função da expansão de áreas periféricas representadas
pelos municípios vizinhos (Baeninger, 2000). Nesse sentido, a cidade passa pelos
mesmos problemas urbanos e sociais de qualquer outra grande aglomeração urbana.

Dessa forma, estudar o município é recuperar questões muito comuns nos


grandes centros e, portanto, encarar desafios de soluções e políticas que somente serão
bem sucedidas na medida em que se tenha diagnósticos apurados da forma como a
cidade se expande e se modifica, através do crescimento intra-urbano e de suas “novas”
periferias, representadas pelas cidades vizinhas ou parte delas, que de algum modo
acabam “assimilando” parte dos problemas decorrentes do ímpeto concentrador de áreas
do porte de Campinas.

Desta forma, o processo de conurbação ocorre quando uma cidade passa a


absorver núcleos urbanos localizados à sua volta, pertençam eles ou não a outros
municípios. Uma cidade começa a absorver outra quando passa a desenvolver com ela

*
Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado
em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.
1
Este trabalho faz parte das reflexões do recorte espacial para o projeto de dissertação de doutorado do
autor.
uma intensa vinculação socioeconômica (Villaça, 1998). Este processo irá certamente
envolver uma série de transformações tanto no núcleo absorvido quando no núcleo
principal. Para uma maior clareza nestes vínculos, devem ser destacados
principalmente os deslocamentos espaciais de pessoas, já que são elas que caracterizam
o espaço intra-urbano em oposição ao deslocamento de cargas.

Esta análise dialética exige que a estruturação territorial seja encarada como um
processo e, como tal, sua abordagem é feita em termos de movimento, e o movimento
das estruturas urbanas é sempre fruto da atuação de forças que atuam em sentidos
diferentes com intensidades diferentes.

Com relação às considerações sobre o espaço intra-urbano e sua localização,


pouca atenção se tem dispensado ao seu estudo, tanto no ponto de vista teórico como no
empírico. No amplo campo dos estudos territoriais, tem havido nas últimas décadas um
crescente desenvolvimento das investigações regionais e uma surpreendente estagnação
dos estudos intra-urbanos. Estes, pouco de relevante produziram desde a década de
1970. Decompôs-se a cidade em vários elementos e produziu-se uma série de estudos
sobre temas específicos, como a densidade demográfica, áreas residenciais, industriais e
comerciais, preço da terra, etc., e além disso produziram-se também as conhecidas
teorias pontuais da localização. Nesse sentido, pouco se avançou nas investigações
sobre o conjunto da cidade e sua articulação entre suas várias áreas funcionais, ou seja,
sobre a estrutura intra-urbana (Villaça, 1998). É de suma importância então, a
investigação sobre o conjunto da cidade e sobre a articulação entre suas várias áreas
funcionais, ou seja, sobre a estrutura intra-urbana, sem perder de vista os arranjos que os
municípios vizinhos formam com a região intra-urbana.

Tendo em vista tais preocupações, sentimos a necessidade de elaboração de uma


análise mais ampla do processo de configuração e expansão do município e seus
rebatimentos nas questões sócio-demográficas, sobretudo aquelas referentes à
transformação das características dos subespaços em termos de troca da população,
crescimento demográfico, mudanças na composição socioeconômica, etc.

O modelo econômico capitalista e de desenvolvimento praticado em Campinas,


mesmo com o crescimento e o dinamismo da economia, é extremamente concentrador
tanto na renda quanto de população, e principalmente excludente, gerando um
contingente de trabalhadores subempregados, mal remunerados, inseridos em formas de

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organização de produção intensiva e em trabalhos de baixa capacidade de acumulação e
produtividade. Assim a expansão urbana se apóia numa sociedade com uma distribuição
de renda bastante desigual, tendo como resultado a concentração de renda e população
das grandes cidades, surgindo uma estrutura social urbana fragmentada e segregada
espacialmente, com a generalização das periferias urbanas, principalmente nos grandes
centros urbanos (Caiado, 1998). A lógica da localização industrial ao longo das
rodovias, gerou na região uma conurbação que inclui, além de Campinas, os municípios
de Valinhos, Vinhedo, Monte Mor, Sumaré, Hortolândia, Indaiatuba, Paulínia, Nova
Odessa, Sta. Bárbara D’Oeste e Americana, situados ao longo da Rodovia Anhangüera,
que liga a Grande São Paulo ao interior do estado.
O crescimento e a configuração intra-urbana do município não foi homogêneo, e
diferentes partes do território municipal assumiram diferentes funções na inserção da
dinâmica econômica. Alguns aspectos sociais se destacam pela sua importância. O
crescimento da violência urbana em todos os setores - inclusive os rurais - (Minayo,
1994), tem centralizado a atenção nas grandes capitais e regiões metropolitanas e nos
diferenciais por sexo, faixa etária e grupos populacionais segundo características
socioeconômicas e demográficas. As hipóteses explicativas para tal crescimento
abordam questões relativas à rápida concentração populacional, ao crescimento urbano,
à pobreza, à distribuição de renda, ao desemprego e à segregação urbana.

2. Processos de Formação das Estruturas Territoriais

Procuramos dar amplitude e profundidade nas análises de formação das


estruturas territoriais em vários aspectos. É importante uma análise demográfica
comparativa entre as áreas intra-urbanas, entre as áreas periféricas dos municípios que
de alguma forma estão influenciados pelo crescimento do município e o relacionamento
entre elas, e também uma pesquisa histórica com respeito aos planos de urbanização
(Fernandes, 1996) aplicados em algumas capitais brasileiras e Campinas,

A análise da estrutura territorial do município nos leva a abordar questões


importantes no ponto de vista teórico, considerando que a estrutura territorial se
constitui de elementos que se relacionam entre si de tal forma que a alteração de um
deles ou de uma relação, pode alterar os demais elementos e relações (Bastide, 1971).

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As estruturas territoriais são dotadas de movimento e o grande desafio é relacioná-lo
com suas fontes. São considerados elementos desta estrutura, o centro principal do
município, os sub-centros de comércio e serviços, o conjunto de bairros residenciais
segundo classes sociais e as áreas industriais (Villaça, 1998). Esta estrutura está ainda
relacionada com outras estruturas territoriais, como os sistemas de transporte e
saneamento. Logicamente temos que ressaltar a importância das primeiras pois
incorpora as segundas mais do que o contrário, embora não possa existir de forma
harmônica sem elas.

A estrutura mais importante também está articulada a outras não territoriais,


como a econômica, a política e a ideológica, que como é sabido estão organizadas em
base e superestrutura (Marx, 1977). A estrutura social então é socialmente produzida e
ao mesmo tempo reage sobre o social. Esta afirmação é bastante ampla e complexa e
desta forma temos que nos ater a especificidades que nos levem a entender as
territorialidades de nosso campo de ação.

O Estatuto da Cidade sancionado pelo presidente da república em 10 de julho de


2001, e que regulamenta o capítulo da política urbana em seus artigos 182 e 183 da
Constituição Federal de 1998, é um marco importante no que diz respeito ao
“cumprimento da função social da cidade e da propriedade urbana, delegando esta tarefa
para os municípios e oferecendo um conjunto inovador de instrumentos de intervenção
sobre seus territórios, além de uma nova concepção de planejamento e gestão urbana”
(Rolnik, 2001). A extensão deste conceito na análise intra-urbana é importante devido a
interligação social e econômica entres os municípios.

Com este objetivo, podemos partir então para os aspectos que nos levem a
discriminação de particularidades envolvidas no processo de urbanização do município,
tais como: os movimentos específicos na história territorial de formação da estrutura
intra-urbana como a distribuição territorial das classes sociais, sem nos apegar às
diferenças já conhecidas entre centro e periferia, e também como foram formados os
sub-centros e suas relações com as estruturas territoriais e sociais; examinar que papel
desempenha as classes sociais, políticas e os investimentos governamentais na
segregação espacial do território, entendendo que o termo segregação aqui utilizado tem
um caráter mais amplo de caracterizar um conjunto de elementos formadores de um

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espaço com as mesmas características sociais; procurar relacionar entre si os elementos
que compõe as estruturas territoriais urbanas (bairros, condomínios , rede de transporte,
distritos industriais, Cohabs, favelas) com argumentos explicativos que levaram àquela
formação.

Um elemento importante ns análise intra-urbana são os modelos espaciais que


definiram a estrutura territorial urbana. Esta estrutura é usada freqüentemente como
cidade enquanto elemento físico, sem a devida consideração das relações entre os
elementos que a constituem. A simples transformação do espaço físico não é suficiente
para caracterizar estruturação ou reestruturação. Entende-se então como estrutura
urbana o conjunto de mudanças nos elementos que a compõe e não só de espaço físico.
Alguns modelos espaciais descrevem as estruturas urbanas com tentativas teóricas
explicativas para os movimentos das mesmas (Burgess, 1968), inclusive utilizando
modelos matemáticos que incorporam os movimentos da estrutura. O modelo de
setores (Hoyt, 1939) apesar de descrição primária tem uma característica importante nas
análises intra-urbanas, devido a sua possibilidade de utilização na formação de espaços
sociais segregados (Villaça, 1998).

O processo de constituição de áreas urbanas especiais tem grande importância


nas análises de formação dos espaços, como as camadas segregadas de alta renda, as
camadas segregadas das periferias de baixa renda, as favelas, as indústrias, etc. A
formação de áreas industriais possui elementos de localização determinados na maioria
das vezes por forças externas aos espaços intra-urbanos e metropolitanos. Villaça
aborda a questão das camadas de alta renda como elemento interno poderoso no jogo de
forças que determina a estruturação do espaço intra-urbano, contrariando às vezes,
posições fundamentais do materialismo histórico, como a soberania do consumidor –
desde que sejam as camadas de alta renda – na escolha da localização de seus bairros, o
primado do consumo na estruturação do espaço intra-urbano (mas não na sua produção),
a relação entre o setor imobiliário e a classe dominante.

As vias e sistemas de transportes são abordados de uma forma mais empírica


considerando a questão das rodovias e transportes como elementos estruturadores do
espaço intra-urbano. O espaço intra-urbano é estruturado fundamentalmente pelas
condições de deslocamento do ser humano, seja como portador da mercadoria força de

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trabalho em suas viagens ao posto de trabalho, seja como consumidor em sua viagens de
lazer, compras, reprodução da força de trabalho.

Para a análise de como as vias e o transporte se impõem como elementos


estruturadores no nível intra-urbano, vamos tecer algumas considerações. A
investigação da produção de configurações espaciais se baseia na movimentação
espacial do capital, segundo “The Limits to Capital” (Harvey, 1982). Acrescenta que “o
capital pode mover-se como mercadoria, como dinheiro ou como um processo de
trabalho empregando capital constante e variáveis diferentes”. Naquele contexto,
Harvey estuda a urbanização enquanto espaço regional e não do espaço intra-urbano.
Quando fala em transportes, refere-se sempre ao transporte de mercadorias, ou de
capital em suas várias formas, mas nunca ao transporte intra-urbano de passageiros.
Deixa então uma pista que nos leva à hipótese de que, se desejarmos estudar o processo
de estruturação intra-urbano, devemos abordar não a circulação do capital no ambiente
construído sob qualquer de suas formas, mas a circulação dos seres humanos, não
enquanto capital, mas como consumidores e talvez, portadores da mercadoria força de
trabalho. Não é o processo de produção e sim o consumo que mais interessa ao espaço
intra-urbano. Não é a circulação de mercadoria e sim do consumidor.

Para os movimentos entre casa e escola, compras, lazer e mesmo trabalho, é


questionável que o trabalhador se mova enquanto capital, ou seja, que o transporte intra-
urbano de passageiros seja inferido como esfera de produção. Note-se que (Marx, 1977)
ao inserir o transporte na esfera da produção estava considerando o transporte de
mercadoria e não do trabalhador entre sua casa e fábrica, pois este aspecto ele não
estudou. Então este deslocamento se insere na esfera do consumo, não da produção.

A afirmação de que “em busca do emprego e de um salário para viver, o


trabalhador é forçado a seguir o capital onde quer que ele flua” (Harvey, 1982), é válida
para o espaço regional. No nível intra-urbano o trabalhador já está no local do trabalho e
não muda de casa toda vez que muda de emprego. O trabalhador tem sua localização
essencialmente dominada pelo trabalho quando em busca de emprego muda de cidade
ou região. No espaço intra-urbano, para seguir o capital, o trabalhador exige transporte
urbano de passageiros, ao mesmo tempo que é excluído espacialmente pela
concorrência entre classes que disputam melhor localização intra-urbana.

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A maioria dos estudos socio-espaciais parte das transformações na estrutura
social (principalmente as econômicas) para deduzir e explicar as transformações do
espaço. Gottdiener (1985), como um autor que se aproxima bastante da análise intra-
urbana, deixa dúvidas sobre a questão das relações entre a estruturação intra-urbana e as
grandes transformações socioeconômicas. Afirma que “ocorreram importantes
transformações no padrão espacial e na reestruturação porque elas são função de
transformações no sistema social mais amplo e não porque sejam produtos de processos
internos às próprias localidades”. A essa visão opõe outra chamada convencional, e
para descrevê-la cita Robert Park, da Escola de Chicago: “A cidade é uma unidade
externamente organizada num espaço produzido por suas próprias leis”. Por outro lado
reconhece a existência de vários processos interativos importantes que também atuam
dentro do ambiente urbano e que apresentam origem puramente local.

Como vimos então, existem aspectos importantes a serem analisados na


produção do espaço intra-urbano: os processos de formação das estruturas territoriais e
de que forma podem ser dotadas de movimento; o papel desempenhado pelas classes
sociais, políticas e os investimentos governamentais na segregação espacial do território
(Zimmerman, 1989); o relacionamento entre os elementos que compõe as estruturas
territoriais; as análises dos modelos espaciais existentes e sua confrontação com o intra-
urbano; e como as vias e o transporte se impõem como elementos estruturadores do
espaço.

3. Os limites do Intra-Urbano

A análise da formação dos espaços intra-urbanos passa por uma abordagem


teórica mas também deve ser avaliada em seus aspectos físicos, principalmente no que
diz respeito às suas relações com os municípios periféricos, áreas de influência, área
metropolitana e regiões de planejamento institucionais. Um aspecto importante no
município de Campinas é a interação que os municípios conurbados têm com o
crescimento intra-urbano. Então temos que aceitar que existe uma expansão territorial
dos núcleos urbanos e existem contradições ocorridas entre esta expansão e os limites
políticos e administrativos municipais. Isto será feito sem considerar a importância dos
núcleos e, muito menos, o fato de serem eles ou não áreas metropolitanas oficiais. Para

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isto basta nos basearmos no conceito de área metropolitana semelhante ao do Bureau of
the Census, dos Estados Unidos, ou seja, ela nasce do conceito de cidades enquanto
entes físicos e socioeconômicos e não político-administrativo. Nesse sentido não há que
hierarquizar tais núcleos urbanos.

Uma abordagem metodológica também se faz necessário. Existem várias formas


pelas quais uma cidade em crescimento absorve ou gera outros núcleos urbanos à sua
volta, às vezes pertencentes à outra unidades político-administrativa. Nos Estados
Unidos, são chamadas áreas metropolitanas (Standart Metropolitan Statistical Áreas).
No Brasil, pelo parágrafo 3 do artigo 25 da Constituição Federal, cabe aos Estados
instituir “regiões metropolitanas”. Assim dificultou-se a mensuração de um dos mais
importantes processos sociais contemporâneos – o da urbanização em geral e o da
metropolização em particular. Uma vez que passou a depender de critérios díspares de
diferentes estados. Confundiu-se o problema técnico dos núcleos urbanos de
delimitação territorial, portanto demográfica, econômica e social, com o problema
político, isto é, a definição de distintas categorias de núcleos urbanos para fins de
políticas públicas. É impossível ao IBGE acatar delimitações de áreas metropolitanas
definidas com diferentes critérios. Inevitavelmente ele irá definir seus próprios critérios
para usar em suas pesquisas e censos. Incluem-se sobre estes aspectos, inúmeras
conurbações no Brasil, como Santos, Florianópolis, Vitória, Goiânia e Campinas. Nem
sempre este crescimento espacial urbano é contínuo pois a partir de um certo tamanho,
as cidades crescem contínua como descontinuamente. Neste caso ela gera vários núcleos
em sua volta, como Santo André, São Bernardo, Carapicuíba, Sabará, etc.

O crescimento das cidades e sua expansão direcionada ou preferencial são um


assunto importante no urbanismo. É comum a idéia de que os planos diretores devem
prever as direções para onde a cidade deve crescer e em função disto criarem-se as
propostas. Outra questão importante é o relacionamento entre a oferta de infra-estrutura
e o crescimento urbano. Partindo-se da hipótese de que o crescimento urbano é
altamente infuenciado pelas vias, este crescimento pode ser diferenciado pois, embora
as vias, principalmente as regionais, não tenham sido construídas para oferecer
transporte intra-urbano elas acabam oferecendo esse tipo de transporte, e ainda, aquelas
regionalmente mais importantes passam a ser tão importantes do ponto de vista intra-
urbano que acabam atraindo ainda maior expansão urbana ao longo delas (Ribeiro,

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1996). Há uma relação íntima entre as vias regionais de transporte e o crescimento
físico das cidades. As ferrovias provocam crescimento descontínuo e fortemente
nucleado junto às suas estações. As rodovias por sua vez, principalmente as expressas,
provocam um crescimento mais rarefeito, descontínuo e menos nucleado. Isto se deve à
sua acessibilidade. Outra questão intrinsecamente ligada ao município de Campinas é o
crescimento industrial. Nesse processo, a ação do Estado foi fundamental para
configuração de importantes pólos industriais em áreas do interior (Negri, 1988). Com
os incentivos governamentais gerando crescimento industrial , a localização destas
indústrias e seus relacionamentos com as vias acabaram por gerar expansão urbana
importante no município. Com o avanço da industrialização, o crescimento urbano já
era controlado pelas autoridades públicas. A partir dos anos 70, a ocupação e o uso do
solo, fazendo parte da articulação de interesses privados com o poder público,
acentuaram a especulação imobiliária. "O capital loteador acrescentou mais 93% de
terrenos para moradias ao mercado local entre 1962 e 1968, enquanto o capital
imobiliário da construção civil adicionava mais de seis milhões de novos metros
quadrados construídos" (Zimmermann, 1989).

Este processo de expansão imobiliária se baseava em dois componentes: as vias


e a valorização da terra. Para não cairmos no determinismo tecnológico dos transportes
(Gottdiener, 1985), pois só a atividade humana através das classes sociais estrutura as
cidades, temos que abordar os efeitos do transporte e das vias sobre a estruturação
urbana. Nesse ponto a terra e seu valor devem ser considerados de acordo com sua
acessibilidade.

Marx reduz, em O Capital, o valor de uso do solo em duas funções: a de


instrumento de produção (minas, agrícola) e de simples suporte passivo de meios de
produção (usina) de circulação (armazém, bancos) ou de consumo (moradias). Lojkine
então acrescenta: “um terceiro valor de uso do solo assume crescente importância com a
socialização das condições gerais de produção: o que chamamos de capacidade de
aglomerar, logo de combinar socialmente, meios de produção e meios de reprodução de
uma formação social. Os dois valores de que trata Marx são totalmente insuficientes
para a compreensão do espaço social, especialmente o espaço urbano. O terceiro valor
de Lojkine é então fundamental.

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Milton Santos (1978) revela toda a riqueza da localização e a importância da
acessibilidade: “Cada homem vale pelo lugar onde está, o seu valor como produtor,
consumidor, cidadão, depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando
incessantemente para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade
(tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as
mesmas virtualidades, a mesma formação e até o mesmo salário, têm valor diferente
segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a
possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do
território onde está”.

Seja no espaço intra-urbano, seja no regional, a estrutura territorial advém das


transformações dos pontos territoriais: seus atributos, valores e preços, seus usos, os
quais decorrem em última instância, da melhoria da acessibilidade. Estas acessibilidades
variam ainda de acordo com os veículos utilizados. Variam portanto com as classes
sociais: quem tem transporte individual ou que depende de transporte público. Sendo os
transportes intra-urbanos os maiores determinantes das transformações dos pontos
territoriais (Alonso, 1965), as vias de transportes têm enorme influência não só no
arranjo interno das cidades mas também sobre os diferenciais de expansão urbana. Se
esta rede de transporte já existente é aliada à especulação imobiliária com a criação de
vias patrocinadas pela poder público sob a influência da classe dominante, a
configuração dos novos sítios sociais atenderá aos interesses dessas classes, carreando
também todo tipo de facilidades que devem atender aquele sítio. Este conceito de sítio
social é oriundo da “especulação imobiliária que deriva, em última análise, da
conjugação de dois movimentos convergentes: a superposição de um sítio social ao sítio
natural e a disputa entre atividades e pessoas por uma dada localização. Criam-se sítios
sociais, uma vez que o funcionamento da sociedade urbana transforma seletivamente os
lugares, afeiçoando-os às suas exigências funcionais. É assim que certos pontos se
tornam mais acessíveis, certas artérias mais atrativas e, também, uns e outros mais
valorizados. Por isso são atividades mais dinâmicas que se instalam nessas áreas
privilegiadas. Quanto aos lugares residenciais, a lógica é a mesma, com as pessoas de
maior recurso buscando alojar-se onde lhes pareça mais conveniente.” (Santos, 1993). O
conceito é válido então tanto para as áreas residenciais produzidos pela especulação
imobiliária quanto para as áreas comerciais que elas igualmente produzem também para

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si. As áreas industriais também se incluem neste raciocínio: “cada empresa utiliza o
território em função de seus próprios fins. Têm olhos apenas para seus próprios
objetivos e são cegas para tudo mais. Desse modo, quanto mais racionais forem as
regras de sua ação individual tanto serão respeitosas do entorno social, econômico,
político, cultural, moral ou geográfico, funcionando na maioria das vezes como um
elemento de perturbação. Nesse movimento, tudo que existia anteriormente à instalação
dessas empresas hegemônicas é convidado a adaptar-se às suas formas de ser e agir,
mesmo que provoque no entorno preexistente, grandes alterações, inclusive a quebra da
solidariedade social” (Santos, 2001).

Com a aprovação do Estatuto da Cidade, vimos um avanço significativo no


processo de políticas urbanas pois foram regulamentadas a partir de experiências de
política urbana, habitacional e de regularização fundiária e de participação popular
vivenciadas em diversas cidades brasileiras na década de 90. Ele define as ferramentas
para o enfrentamento dos problemas de desigualdade social e territorial nas cidades,
mediante aplicação de diretrizes e instrumentos de política urbana. Quanto ao aspecto
da especulação imobiliária, o capítulo das diretrizes gerais é bem claro: “garantia do
direito às cidades sustentáveis, gestão democrática da cidade, ordenação e controle do
uso do solo visando evitar a retenção especulativa de imóvel urbano, regularização
fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda” (Junior, Saule,
2001).

Além dos aspectos mencionados anteriormente sobre a seletividade do espaço


territorial, um outro ponto deve ser levado em consideração nos estudos de distribuição
espacial da população: a segregação espacial. Já mencionada anteriormente, faz-se
necessário fazer uma distinção entre suas características e formas de abordagem. De
uma forma geral a segregação espacial nos bairros é uma das características mais
marcantes no que diz respeito às classes sociais, criando-se sítios sociais muito
particulares, como as favelas, os condomínios fechados, os bairros nobres, os bairros
populares.

Existem segregações das mais variadas naturezas nos sítios intra-urbanos,


principalmente de classes e de etnias ou nacionalidades. A segregação das classes
sociais tem importância particular na formação dos espaços pois domina a estruturação

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de nossas cidades. Entendida aqui como um processo segundo o qual diferentes classes
ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões ou
bairros do sítio urbano (Villaça, 1998). Esta segregação não impede a presença nem o
crescimento de outras classes no mesmo espaço. Não existe presença exclusiva das
camadas de mais alta renda em nenhuma região, embora a recíproca não seja
verdadeira, ou seja, existe presença exclusiva de camadas de baixa renda em grandes
regiões urbanas. Na melhor das hipóteses pode haver exclusividade em bairros bem
característicos ou condomínios fechados. O que determina em uma região a segregação
de uma classe, é a concentração significativa dessa classe mais do que em qualquer
outra região da metrópole. Esta segregação é construída às vezes pelo próprio poder
público com as diretrizes do privado.

4. Conclusões

Partindo-se do pressuposto que o crescimento intra-urbano e a distribuição


espacial da população são fenômenos intimamente ligados à estruturação do espaço
urbano, podemos ter então elementos para responder algumas questões relativas às
associações destes eventos e suas implicações sociais, econômicas e demográficas, em
diferentes contextos para o município. Os objetivos específicos utilizados para a
determinação destas forças intra-urbanas que influenciam a estruturação do território
podem se caracterizar de várias formas: análise de indicadores demográficos entre o
município e os outros municípios periféricos, com o estudo e identificação do
comportamento relativo destes indicadores na dinâmica demográfica; como se
comportaram estes indicadores no período e se houve crescimento diferenciado; a
existência de características específicas de desenvolvimento social, econômico ou
demográfico no município em um contexto mais geral do desenvolvimento regional.

Como foi visto, o crescimento intra-urbano tem características sociais,


econômicas e demográfica de acordo com a estruturação do espaço territorial. Na
hipótese argumentada existem áreas do município para os quais grupos populacionais
apresentam características mais diferenciadas, e se articulam com um contexto intra-
urbano mais amplo. Essas regiões geográficas consideradas homogêneas com relação a
certos aspectos demográficos, nos permitem fazer então uma análise intra-urbana que

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englobará não só o município de Campinas como também áreas periféricas pertencentes
aos municípios da região, já que podemos ampliar o conceito de espaço intra-urbano
quando certos processos sociais extrapolam os limites periféricos do município, com a
criação de áreas onde o crescimento intra-urbano induz a formação de novas
especificidades regionais.

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