como finalidade sintetizar a leitura e análise das obras e seus respectivos autores abordados na disciplina de Educação Étnico Racial, lecionada pelo Prof. Varejão.
São João del-Rei
2019 2
1.Introdução
Desde a colonização do Brasil já nos é mostrado a diversidade cultural
do país no processo de descobrimento a imposição do modo de agir e pensar dos colonizadores divergiam em muitos pontos dos costumes indígenas nativos causando assim conflitos, pois o “eurocentrismo” marcou a cultura do homem branco como um ser evoluído aos demais. Descortinado o racismo no Brasil e seu processo de escravização que deixou marcas severas na história dos africanos e afrodescendentes que por meio dos maus tratos e da violência sofrida desde a sua chegada ao país. Corroborando para o processo de “branqueamento” que o país viveu, aproximando-se do estereótipo do branco europeu, representando assim o assassinato da história étnica racial do país, renegando quase quatrocentos anos de história, esquecendo-se a essência cultural dos indivíduos.Sendo assim o Brasil miscigenado por vários grupos humanos formadores de uma mesma nação rica em diversidade cultural, a desigualdade das relações étnico raciais é um tema atual na nossa sociedade, buscando o seio de formação do o preconceito e sua influência nas relações sociais dos indivíduos. Sendo assim este trabalho tem por finalidade analisar os fatos históricos e o âmbito histórico que os líderes políticos e intelectuais viveram na formação da sociedade brasileira, a fim de entender como os valores morais foram forjados e modificados ao longo dos anos, entendendo as causas das diferenças entre as classes e os conflitos existentes dentro da sociedade, refletindo o passado, 3
2. Casa Grande e Senzala (1933) - Gilberto Freyre
Gilberto Freyre nascido em Pernambuco no ano de 1900, filho de juiz e
professor. Graduado em ciências políticas nos Estados Unidos possuindo forte base intelectual, durante esse período esteve em contato direto com correntes antropológicas. Em 1923 voltou ao Brasil e em 1933 publicou sua obra Casa Grande e Senzala. Também aderiu a vida política sendo eleito deputado federal e durante seu mandato criou a Fundação Joaquim Nabuco. Recebeu inúmeros prêmios na área da sociologia, além de receber o título de Cavaleiro do Império Britânico da Rainha Elizabeth. Casa Grande e Senzala tem como cerne as origens da sociedade brasileira vista através do cotidiano na casa senhorial no Brasil colônia, cuja sociedade teve seu arcabouço na atividade econômica e monocultura açucareira, dela resultando uma sociedade patriarcal, agrária, escravista e mestiça. A natureza da nova terra é descrita como um obstáculo à civilização(“De qualquer modo o certo é que os portugueses triunfaram onde outros europeus falharam: de formação português é a primeira sociedade moderna constituída nos trópicos com característicos nacionais e qualidades de permanência. Qualidades que no Brasil madrugaram, em vez de se retardarem como nas possessões tropicais de ingleses, franceses e holandeses” FREYRE) enfrentado pelo colonizador português em busca de enriquecimento rápido e prestígio. As famílias que se assentaram no Brasil fundaram espaços públicos e consolidaram seu poder criando redes de relações e influência,o Estado aparece como um coadjuvante por trás destas famílias, que se denominam a “nobreza da terra”. A colonização é apresentada por seus aspectos positivos como a miscigenação e a aculturação, por motivos econômicos e sem objetivo civilizacional. Movida pelo comércio e pela exploração da terra, surgiu a necessidade de permanência. A partir de 1532, incentivada pela Coroa, surgiu uma sociedade fundamentada na exportação e estabelecida em uma unidade de produção, a casa-grande, seu núcleo de dinâmica social e política. Freyre discute a formação da sociedade brasileira a partir das contribuições das raças branca, índia e negra, imbricado aos conceitos de raça e cultura. Através da relação entre os primeiros portugueses, degredados ou não, e as índias, vistas com exuberância pelos olhos europeus, que tem início a povoação num clima de “intoxicação sexual”( “ O longo contato com os sarracenps deixara idealizada entre os portugueses a figura de moura-encantada, tipo delicioso de mulher morena de olhos pretos...”Freyre, tipo idêntico a da índia que não oferecia resistência alguma, formando assim enormes orgias e gerando inúmeros mestiços portugueses, primeiros habitantes puramente brasileiros.). A principal influência do colonizador europeu sobre o índio deve-se a atuação dos jesuítas, através do ensino religioso e moralizante. Como reação 4
aos invasores portugueses, os indígenas tiveram como alternativas as missões
jesuíticas, o trabalho nas lavouras ou a dispersão nas matas. Muitos ainda sucumbiram as doenças trazidas pelo homem branco. O povo português não tinha a mentalidade de superioridade européia devido o contato com os povos do norte africano. O ponto de convergência da sociedade era o catolicismo sendo um aglutinador social. A sujeição do africano ao português, tanto nas relações de trablho quanto sexuais produziu a base do que seria a sociedade brasileira. Embora a análise de Freyre sobre a sociedade patriarcal e escravocrata seja vista como açucarada, a obra não nega a violência do sistema, e por não ser este seu foco, ela aparece entremeada às relações no cotidiano dos senhores de engenho e escravos. O negro e descrito como criador de um mundo paralelo ao do branco, onde é submisso para sobreviver mas com a lembrança de suas origens. É dessa relação entre poder e sobrevivência, que surgira uma cultura propriamente brasileira expressa na fusão do vocabulário das duas raças, nas práticas diárias, nas crenças e nas representações de poder. Freyre tem uma visão dessa relação diferente da esmagadora maioria de escritores que enxergam na colonização portuguesa apenas mazelas, já Freyre tem a visão positiva de que dessa relação surge uma sociedade miscigenada e forte. 5
3. A Raça Cósmica (1925) – José Vasconcelos
Jose Maria Vasconcelos, mexicano nascido em Oaxaca (1882), formado
em direito em 1907 na Faculdade de Jurisprudência, teve seu mérito, inegavelmente, reconhecido na área das letras e das políticas educacionais. Em contato com a juventude intelectual que se opunha aos moldes positivistas dos ideólogos porfiristas( desvalorizavam a identidade mexicana). Formou umas das associações intelectuais mais célebres da América Latina. Em 1921 assume o cargo de reitor da Universidade Nacional e posteriormente ministro da instrução pública. La Raza Cósmica é dividido em duas parte, a primeira “El mistizaje” descortina os principais elementos de sua teoria, enquanto a segunda “Notas de viaje” apresenta as suas observações a respeito de viagens feitas ao Brasil e à Argentina, momentos fundamentais de sua reflexão sobre o futuro do continente latino-americano. A base da teoria de Vasconcelos se sustenta sobre o que o autor chama de “versão dos Impérios étnicos”, e parte da constatação de que houve, na história do mundo, uma sucessão de impérios que atingiram seu apogeu e logo depois, decaíram, dando lugar a outros.(“Tenemos entoces lãs cuatro etapas y los cuatro troncos: el negro, el índio, el mongol y el Blanco. Este último, después de organizarse em Europa, se há convertido em invasor del mundo, y se há creído llamado a predominar lo mismo que lo creyron lãs razas anteriores, cada uma em La época de su poderio.” Vasconcelos.) Vasconcelos dia que a quinta raça, a raça cósmica é a raça miscigenada ( das quatro outras) latina, além de ser uma fusão espiritual, agregando valor a nova raça (diferentemente do Conde de Gobineau que pressupôs que a miscigenação é a característica que colocaria a sociedade latina, sobretudo a brasileira a extinção). Cada raça teria a agregar qualidades positivas à nova raça em foirmação, e no mesmo tempo os defeitos seriam gradativamente extintos graças ao processo de fusão racial. Vasconcelos ainda faz uma análise histórica dos conflitos travados no velho continente entre latinos e germânicos (posteriormente saxões) marcados na nova era no continente americano, e a partir de Trafalgar, os latinos apenas perderam os conflitos sujeitando-se aos seus dominadores (América do Norte). Segundo Vasconcelos o erro dos colonizadores germânicos é a extinção dos povos submissos.(“pero cometieron el pecado de destruir esas razas, em tanto que nosotros lãs asimilamos, y esto nos da derechos nuevos y esperanzas de uma misión sin precedente em La Historia.” Vasconcelos.). Logo, Vasconcelos projeto que os latinos das Américas estão fadados a vencer o conflito secular, graças a sua característica de aderir novas culturas e hospitalidade. Ele ainda diz que a Raça Cósmica não poderia ser originada pela colonização dos saxões, os quais geraram o homem defeituoso fraco devido a “pureza”. 6
De todo modo, a figura do mestiço aparece reinventada, redimindo a
América Latina pelos seus atuais fracassos. Vasconcelos reinventa o conceito de raça, indo contra a ideia de degeneração racial, sendo o mestiço incubido de harmonizar o universo das raças. Sendo a ideia de uma cultura mestiça passando a ser valorizada e deixando um pouco aquele ar que pairava sobre os latino americanos de inferioridade intelectual e racial. 7
4.Darcy Ribeiro
Darcy Ribeiro mineiro de Montes Claros, nascido em 1922 foi um
antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu foco em relação aos indígenas e à educação no país. Como Ministro da Educação realizou profundas reformas que o levou a participar de reformas universitárias em diversos países latino-americanos depois de deixar o Brasil (onde foi Ministro da Educação) devido à Ditadura Militar em 1964. Voltou ao Brasil após doze anos voltou ao Brasil e em 1982 tornou-se vice-governador do Rio de Janeiro já em 1990 assumiu o cargo de Senador. Darcy acreditava que a nação brasileira tinha um potencial devido a sua miscigenação que herdou dos índios a capacidade de conviver, dos negros a espiritualidade e dos europeus a tecnologia e sabedoria européia, logo, estaríamos fadados a sermos uma das grandes sociedades do mundo. Na entrevista concedida Darcy Ribeiro afirma: “O Governo Jango não caiu por seus defeitos – um dos principais seria minha presença no posto- chave de chefe da Casa Civil-,ele caiu por suas qualidades. Essencialmente porque representava uma ameaça inadmissível para as classes dominantes.” Jango assume a presidência com a vocação de ser um poder conciliatório que só aspirava realizar reformas sociais indispensáveis e inadiáveis pelo caminho da persuasão. Desde o início o Governo Jango surge como alternativa à Revolução Cubana, apoiado por J.F. Kennedy e pelo papa João 23, e quando ambos morrem Jango se vê sem apoio. Segundo Darcy, a grande mazela brasileira a velha classe infecunda, a qual não abre mão de seus privilégios não deixando o país atingir seu potencial, sobretudo a oposição as reformas de base, sobretudo agrária, sendo os grandes latifundiários os anti-jango. Naqueles anos conturbados a imprensa teve papel decisivo no “senso popular” criado conta o Governo Jango. “ O pqueno expediente da Câmara de Deputados se converte numa campanha diária de denúncia do suposto golpismo do governo e de advertência contra o projeto de Jango, que queria rasgar a Constituição e levar o Brasil ao comunismo.” Darcy ainda branda que Jango foi a utopia brasileira sendo a mais concreta de chance do país prosperar jogada no lixo. “Jango, com o seu reformismo, foi o governo mais avançado que tivemos, aquele que lutou mais fundamente para implantar as bases de um Brasil novo, e capaz de gerar uma prosperidade extensível a todo o povo. Embora reformista, ele foi percebido, sentido e temido como revolucionário, provocando uma contra-revolução preventiva para impedir a execução das reformas de base que estavam sendo levadas a cabo... tanto assim que se criou no Brasil uma geração de mulas- sem-cabeça que, desconhecendo o passado, flutua fora da história.” Desta forma com o apoio da direita oligárquica, governe norte-americano e imprensa subornada teve fim o governo promissor brasileiro. 8
5. Conclusão
É evidente a coorelção entre os escritores, ambos tem em sua essência
a valorização do povo, da miscigenação rompendo paradigmas com as literaturas clássicas e o senso de depressão e “subalternismo” vivido pela população latina. Vasconcelos vai além fazendo previsões sob bases históricas (conflitos entre latinos e germânicos travados na Europa e trazidos para o Novo Mundo) criando respaldo, apesar do contraste de suas previsões e o “hoje”. Freyre, tem uma análise centrada na sociedade colonial brasileira ( baseada na Casa Grande e na sociedade patriarcal que a constituía), relatando o cotidiano e a cultura daquela época. Por fim, Darcy Ribeiro estudioso de nativos índios ( além de ressaltar em seus trabalhos as qualidades da herança genética de cada raça que constituía a sociedade tropical brasileira) brasileiros e um dos fundadores da Reserva do Xingu. Os três se complementam, criando uma nova identidade da mestiçagem latina, tão segregada pelos neo-germânicos, os quais possuem atualmente completo domínio e influência política, intelectual e cultural sobre as nações sub-desenvolvidas latinas. Observando sob o ponto de vista histórico e argumentativo de Vasconcelos, realmente pode ser que algum dia tenhamos uma reviravolta, e a condenação dos “dominadores” será a não assimilação dos povos conquistados fortalecendo a nação. Para a sociedade brasileira que tem uma crise de identidade vivida até hoje ( até mesmo anacrônica) a obra de Gilberto Freyre é essencial visando compreender nosso lugar no mundo e de onde viemos, aceitando com orgulho nossas origens, rompendo assim como ele fez as amarras do senso depressivo passado. Já Darcy, goza de imenso respeito de minha parte, apesar de ser um grande intelectual e estudioso sempre manteve a humildade e se dava o direito do erro e a revisão, além de ter constituído a maior frente popular na história da república brasileira, vivendo a essência do patriotismo verdadeiro que ama o seu país e seu povo vivendo sempre fora da zona de conforto afrontando junto a Jango a velha direita colonial brasileira em defesa dos menos favorecidos. Apesar de não ter concretizado tal façanha, é sem dúvida um dos maiores brasileiros de todos os tempos pelo estudo e luta dos índios além da importância na educação e história latina americana. 9
6. Autoavaliação
A autoavaliação é um exercício de extrema dificuldade, pois é algo que
mexe com o senso de justiça do indivíduo onde o próprio é júri e réu ao mesmo tempo. Tendo em vista as aulas e a questão essencial da disciplina, leitura dos textos e presença em sala de aula, numa escala de um a dez não consigo autoavaliar-me cabendo somente ao professor tal decisão, pois o mesmo possui um critério no seu entendimento de meritocracia em relação ao desempenho de alunos.
Lisiane Costa Claro - Entre A Pesca e A Escola - A Educao Dos Povos Tradicionais A Partir Da Comunidade Pesqueira Na Ilha Da Torotama Rio Grande-Rs PDF