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ANO I

1
C O I M B R A , 29 D E J U f l í j O D E 1 9 1 0
'
N. f 1

COIQUISTAIO PUBLICAÇÃO QUINZENAL


ir?)
DIRECTOR E PROPRIETÁRIO Redacção e administração
Àssignatura, pagamento adiantado
A D R I A N O '[BRAZ R. SA DA BANDEIRA, N.° 6
3 mezes 100 réis
-A. d. m i n i stríwlor COIMBRA-PORTUGAL
6 » 200 » I.
J o s é de Alkneida brieii Comp. e impr. — Typ. Lusitana

todos os privilégios, e i i n c i o n a r todas


EXPEDIENTE as iniquidades, nós sdraos contra o QUEIWJOWOS
E s t a d o , contra o militarismo, e contra
A t o d a s as pessoas
todos esses cancros sociaes, que são
a quem enviamos o nos- Nós somos apologistas da P a z , da
uma consequência da existencia d'estes.
V e r d a d e , da J u s t i ç a e do A m ô r . So-
so j o r n a l e nao o quei-
ram assignar, pedimos contra o militarismo.
Sim ! Nós somos contra o E s t a d o .
.*mos aqueles que elevando o espirito
atravez de todas as iniquidades e in-
no-lo devolvam n a vol- Nós condemnamos a exploração
famias, poderam descobrir o limite
t a do correio; caso as- capitalista. máximo de todas as aspirações.
sim não procedam con- N a d a d e mais terrível, de mais
Sômos aqueles que estudando todas
horrorosamente comovedor, de quever
sideramo-las assignan- as especies d e apostuiado existentes,
a besta h u m a n a , o escravo antigo o
tes p a r a todos os efei- viram nas suas doutrinas a b s u r d a s
operário, a t r a b a l h a r feíínstantemente,
unicamente o narcotico que aplicam á
tos. a esfalfar-se, a arruinar se dia a dia,
plebe colocando-a em estado letbéo,
e não ter com que coaw*insar as suas jwitih c o t a r l e a f t s t e i-serc^rras
inergias gastas, m o r r e r de fome. sobre ela a violência, a opressão e o
A que vimos...
E , a p e r t a d o numa j a u l a de ferro, roubo. Sômos anarchistas. O nosso
com as algêmas nos pulsos, sem que meio é a destruição do indiferentismo
lhe seja licito defender-se, sem que que corroe toda a Energia ao proleta-
A que vimos, e o que nós quere- possa revoltar-se, sacudir o j u g o , por- riado colocando-o em estado misan-
mos ? que lá está a força publica, o exercito, thrópico. O nossofimé a destruição
Qual o nosso p r o g r a m m a , a nossa tudo o que r e p r e s e n t a a manutenção da d e toda a auctoridade, que paira por
attitude, o nosso modo de v e r ? . . . ordem. E a ordem precisa d e ser toda a nossa actual sociedade com sua
Eis as p e r g u n t a s a que nos vemos mantida! espada pronta a ferir quem conscien-
obrigados a responder, no dia em que Sufoque-se essa aDcia enorme de temente se revolta contra todas as
iniciamos a publicação do nosso mo- libertação, e n c a r c e r e se o pensamento, suas iniquidades. A absoluta extermi-
d - s t o j o r n a l , e em que ó p r a x e aniquile-se a voz da justiça. A ordem nação de todos os preconceitos que
assenta, aprexentar-se antes de tudo a precisa d e ser mantida! prejudiquem a umanidade na sua evo-
nossa orientação. E ' este o desideratum da b u r g u e - lução p a r a a felicidade. Os omens
sia e que ella mais ou menos vae con- unidos f r a t e r n a l m e n t e semeando a paz
P e r g u n t a s aliás desnecessárias.
seguindo ver satisfeito. e o amôr, e não despedaçando-se pelo
Somos operários. E isto b a s t a .
Numa epocha em que milhares de Pois bem, ó contra isso que nós egoismo, como as f é r a s disputando
uma p r ê s a .
c r e a t u r a s , a g r a n d e maioria da huma- nos revoltamos.
nidade morre de fome, em q u e o P r ó g a r e m o s bem alto o nosso amor
E i s o que sômos, e porque nos
homem trabalha e soíire, produz e não á j u s t i ç a , á v e r d a d e e á libertação chamam criminosos, estando p a r a este
tem de comer, nós queremos, nós exi- h u m a n a . rim uma lei em vigôr, que permite a
gimos, pão para todos. T o d a a iniquidade tará em nós um
qualquer tiranete politico, mandar-nos
Nutri tempo em que somos victimas inimigo e n c a r n i ç a d o ; mas t a m b é m , para a tortura ou para. a morte.
da mais atroz exploração, em que se toda a iniciativa boa terá em nós um C r i m i n o s o s ! . . . P o r q u e j á m a i s cur-
nos impõe á força, violentamente, uma cooperador dedicado, e toda a victima, varemos o dorso á passagem d ' u m
tal situação, em que ha uma institui- um amigo. tirano como os escravos da antiga
ção— o E s t a d o , destinado a defender A Redaecão. Rôma, deixando-nos ficar miseráveis
t
<2 CONQUISTA DO BEM

l u z , Bem p 2 o , o n d e
m a s altivos, o corpo coberto de f a r r a Sem o egoismo
ANARQUISMO
pos, mas o espirito envolto n a luz d ' a q u e l e s a m o n t n o u c r i a n ç a s e x a u s t a s
bemdita do futuro. Porque d e s p r e - sem a l i m e n t o e x t o r c e n d o - s e era con- O Dragão que está á porta do
sando todos os i n t e r e s s e s a t é a p r ó - vulsões pedindo pão. D e todos os palacio Anárquico nada tem de
p r i a vida p r o c l a m a m o s o r g u l h o s a m e n - lados se ouvem c o n t i n u a m e n t e os gri- terrível, é uma palavra apenas.
te a v e r d a d e aos o p r i m i d o s e x a u s t s tos t r á g i c o s <Jos q u e s o f r e m , f a z e n d o - s e , E. Reclus.

pela f o m e , i n d i c a n d o - l h e s q u a e s os seus e c o a r n o s palacios o n d e a b u r g u e s i a


A t r a v e z dos ú l t i m o s a n n o s de p l e n a
carrascos que os esmagam d e n t r o e s t a l a d e p r a z e r , o n d e a s o r g i a s em-
e v o l u ç ã o economica é o A n a r q u i s m o
d a e n g r e n a g e m d a r e l a x a d a e c a d ú e a b r i a g a m com os s e u s gozos os t i r a n o s ,
q u e com a s u a f o r ç a i n d ó m i t a t e m
m a q u i n a Social. C r i m i n o s o s os q u e t o r n a n d o - l h e m a i s i n s a n c i a v e l o s e u
a g i d o m a i s no c a m p o d a d e s t r u i ç ã o d a
reclamam O direito para aqueles que egoismo.
podridão parasitaria, facto este que
t r a b a l h a n d o dia e noite n u n c a t e e m R o u b a r ! G o z a r ! Q u e lhe i m p o r t a
t e m d a d o ocasião á f e c u n d a ç ã o d ' u m a
cincu r e i s p a r a s e v e s t i r e m ou p a r a a eles a s agonias ou a s m i s é r i a s d a
t e r r í v e l a v e r s ã o ás s u a s teorias e x u -
abafar uma d o e n ç a ! . . . Criminosos canalha?
berantes, dentro das classes explora-
sois v ó s c a n a l h a s q u e e x t o r q u i s o ne- Q u e m o i r a m d e s p e d a ç a d o s pela
d a s mais o b s c u r a s e d a s d o m i n a n t e s .
c e s s á r i o aos d e s g r a ç a d o s q u e sacriíi m e t r a l h a ao seu s e r v i ç o , q u e m o r r a m
A q u e l a s p o r Berem c o m o as tou-
c a m a s u a v i d a á v o s s a V a i d a d e , á d e f r i o ou de f o m e , q u e m o r r a m aos
peiras esfuçando na treva e renderem-
v o s s a A m b i ç ã o , ao v o s s o O r g u l h o e c e n t o s a o s q i l h a r e s , o m e n s , m u l h e r e s
se ao m a i s p e q u e n o r a i o l u m i n o s o e
ao vosso E g o i s m o . ou c r i a n ç a s corroidas pela t u b e r c u l o s e ,
j á t a m b é m s u g e s t i o n a d a s por g r a n d e
C r i m i n o s o s soía v ó s q u e c o n s t i t u i s q u e m o r r a m a p o d r e c i d a s pela siflis p o r ç ã o de t e o r i a s a b s u r d a s f a b r i c a d a s
um E s t a d o b a s e a d o na O p r e s s ã o e n o m i l h a r e s d e d e s g r a ç a d a s a t i r a d a s pela nos a l a m b i q u e s c r a n e â n o s dos s u s t e n -
R o u b o , e q u e a t i r a e s cuin o p r o d u t o s o c i e d a d e ao l u p a n a r , q u e a p e s t e , a táculos da t i r a n i a , ú n i c o meio q u e
r o u b a d o a o s f a m i n t o s , á s i n u t i l i d a d e s f o m e e a g u e r r a d e s v a s t e c i d a d e s e a d o p t a m p 8 r a c o n s e r v a r e m os s e u s
d a c a s e r n a , á s f e s t a s e a t o d a s a s i m p é r i o s , c o n t a n t o q u e com o p r o d u t o domínios, e m b o r a a u r a a n i d a d e atro-
o r g i a s p u l h a s , e m q u a n t o ,>s r o u b a d o s do r o u b o possam c o m p r a r c o n s c i ê n c i a s , p é l e o s . mais s u b l i m e s I d e a e s b a s e a d o s
se a g i t a m e m c o n v u ^ õ e s orriveis na e se p o s s a m f a z e r a c l a m a r cobriudo-ae na V e r d a d e S u p r e m a , p e r m a n e c e n d o
agonia da fome. d e u m a g l o r i a ' i m o r t a l , e m b o r a st-jam
d ' e s t a f o r m a n u m a v i d a e r r a n t e e vil.
S o i s v ó s os v e r d a d e i r o s c r i m i n o s o s os m a i o r e s c a n a l h a s e a s s a s s i u o s . — A n a r q u i s m o é pois a uuiea teo-.
^ í h a n d o a d e s g r a ç a , e e x i s t a s na* E q u e p*o t e s t e m os o p r i m i d o s e
ôjts «juahftoi.da, .capa* d e «íe.vax.
vossas regalias, nâo vos lembrando famintos! c o r a m n i n g u é m lhe di-
a u m a n i d a d e á m a i s alta e e x u b e r a n t e
q u e t a m b é m s o m o s o m e n s v i n d o s e rige u m a p a l i v r a d e consolo! n i n g u é m f á ç ã o d a felicidade na s o a p l e n i t u d e ,
idoe p a r a o m e s m o lôdo. E não c f m e s c u t a os seus o e d i d o s a s s u a s r e p l i c a s ! e não u m a seita i n f a m e c e d e n t a d a s
p r e b e n d e i s q u e t a m b é m p r e c i s a m o s S e se revoltara e x i g i n d o , logo a m ã o mais c r u é i s é c a t o m b e s u m a n a s , c o m o
p i i o ! sim de p ã o , d e c o n t r a r i o p a r a d e um a s s a s s i n o de e s t a d o lhe a p e r t a m u i t o s eêres i n c o n s c i e n t e m e n t e e b u r -
q u e no-lo r o u b a e s ? n e s t a s c o n d i ç õ e s as g u e l a s ; se, se d e f e n d e c o m os b r a r a m e n t e o significam»
s e r e i s o m e n s ? n ã o sois f e r a s , sois a n - ço8, logo u m c a n o d e r e v o l v e r se j u n t a E ' pois p a r a a r r a n c a r t ã o m o n s -
t r o p o f a g o s e s e r e s d ' e s t a s r a ç a s são ao seu peito. t r u o s o ê r r o aos s e r e s m e u s i r m ã o s q u e
prejudiciaes, e m f s m o não devem P r e c i s a m o s d e l i b e r d a d e e de j u s -
se a r r a s t a m , f e c u n d a n d o o n e c e s s á r i o
c o m o nós v i v ê r . V e n d e i s a v o s s a con- iiça, e só p o d a r e m o s v e r e s t a a s p i r a ç ã o
c h e g a n d o ao s u p e i f l u o p a r a os s e u s
sciência p o r u m l o g a r na i n f a m i a t o r r e a l i s a v e l , q u a n d o d e s e m b a r a ç a d o s d e e x p l o r a d o r e s c e d e n t e s do seu s u o r
n a n d o - v o s i n i m i g o s d o p o v o , r p u b a n todos os preoonceitos e d o g m a s tiver- p r o d u t i v o , q u e em t r o c a lhes a t i r a m
do-lo, i n s u l t a n d o lo e o p r i m i n d o - o ; r e a l i s a d o a Anarquia.
um d e s p r e s o s a r c a s t i c o , n ã o se lem-
roubaes-lhe o pão, a saúde e a alegria, Salfiedri.
b r a n d o os m i s e r á v e i s q u e a s u a v i t i m a
e ai d ê l e se se r e v o l t a ! u m c á r c e r e se eleva á s u a p e r s o n a l i d a d e e g o i s t a
i n f a m e ou um p o u c o d e c h u m b o s e r ã " Greve dos Tecelões do P o r t o em virtude da sua utilidade fecunda-
os s e u s c o m p a n h e i r o s no a f a s t a m e n t o d o r a , q u e eu p r o c l a m o febrilmente a
ILi j á a l g u m a s s e m a n a s q u e se
eterno da infamia. e n c o n t r a v a m era g r e v e os o p e r á r i o s m i n h a a s p i r a ç ã o , qun ó a extermina-
tecriõ s d o Porto, p o r q u e o p a t r o n a t o ç ã o a b s o l u t a d e t u d o q u e p o s s a opri-
*
* * não tem q u s r i d o a t é ôj<- a t e n d e r ás
mir o p e n s a m e n t o u r u a n o , j u n t a m e n t e
r e c l a m a ç õ e s aliás j u s t i c e i r a s dos s e u s
Por todos os quatro cantos do servidores. com a c o m p l e t a emancipação da sua

globo a m i s é r i a se a l a s t r a com o seu I s t o deve s e r u m a i n d i c a ç ã o nos personalidade.


t r a b a l h a d o r e s de q u e a s u a e m a n c i p a - Salfiedri.
e n o r m e m a n t o c o b r i n d o as m a n s a r d a s
ç ã o só p o d e s e r o b r a d e si m e s m o , e
dos p r o d u t o r e s , e m q u a n t o j u n t o a elat por c o n s e g u i n t e d e v e m pôr d e p a r l e a
e x i s t e m palácios s u n t u o s o s o n d e o c a ideia de c o o p e r a ç ã o com a b u r g u e s i a Q u a n d o a o p r e s s ã o é um F a c t o , a
prieho amontuuu um luxo de prazer e q u e n u n c a d e s e j a r á ou t r a b a l h a r á pelo rebelião é um D i r e i t o .
d e v a i d a d e — e as m a n s a r d a s sem a r , seu b e m e s t a r . Amílcar Cipriani
»

CONQUISTA DO BEM

PATRIA riquezas
ainda
sociaes.
o clero e o
Além
exercito,
d'estes tem
cancros
TlíK.CHOS Rft&LHinrtS
venenosos q u e só a i n s t i u c ç ã o livre
D e f e n d e i o E s t a d o , d e f e n d e i o ca-
poderá fazer desapparecer. U m sendo Mocidade! Mocidade! Peco-te, pensa na
pitalismo e todas as instituições bur- grande obra que te espera! Tu és a futura
o c o m p l e m e n t o do o u t r o teem n a H i s -
guezas; a s s a s s i n a e todo a q u e l l e q u e operaria; vaes assentar as pedras angulares
r e c l a m a m a i s um b o c a d o d e p ã o , q u e r toria n o d o a s i n d e l e v e i s que só p o d e r á do tempo futuro, que temos fé profunda,
s e j a v o s s o p a e , v o s s a m ã e ou vosso l a v a r . resolverá os problemas verdadeiros e eqni-
Deixemos-nos de patrielices, não tativos implantados pelo século que acabou.
i r m ã o s — e i s o q u e o r d e n a m os a g a -
Nós, os velhos, os maiores, legamos-te o
loados ao p r o d u o t o r , q u a n d o e n t r a na q u e i r a m o s m a r c a r f r o n t e i r a s n e m dis- enorme trabalho das nossas investigações,
c a s e r n a , n e s s e s a n t r o s de d e v a s s i d ã o t i n g u i r m o nos d o s o u t r o s h u m e n s q u e onde ha, com certeza muitas contradicções
e c r i m e , como m u i t o b e m o d e s c r e v e e s t a vil s o c i e d a d e burgu<>za classifica e pontos obscuros, mas que è o esforço mais
H a m o n na « P s i c o l o g i a do Militar P r o - d e e x t r a n g e i r o s , p o r q u e todos s o m o s apaixonado que se tem feito em procura da
fissional». i r m ã o s , t o d o s s o m o s egi aes, e entre luz e que encerra os documentos d'esse
vasto edifício da scieneia, que tu deves con-
a humanidade não deve baver a menor
O homem que entra na caserna tinuar edificando para tua gloria epara tua
d e i x a d e s e r um h o m e m p a r a se t r a n s - p a r t i e u l a de s a l i ê n c i a . felicidade. B não te pedimos mais, senão
formar num manequim, prompto a Procuremos implantar a patria que sejas generosa, mas livre no teu es-
m a n e j a r todos os i n s t r u m e n t o s h c m i - U n i v e r s a l a o n d e só e x i s t e a P a z , o pirito, que nos exceda no teu amôr á vida
Amor, a V e r d a d e e a J u s t i ç a ; onde normalmente vivida, pela tua energia posta
c i d a s á s i m p l e s voz d ' u m a g a l o a d o .
a favor do trabalho, essa fecundidade dos
todos t r a b a l h e m o s c o n s o a n t e a s n o s s a s
Q u a n t a s v e z e s pulsa no sen cora- homens e da terra, que por fim conseguira
f o r ç a s , f a z e n d o a felicidade d e todos ; sazunar o fructo de alegria sob o sol bri-
ç ã o u m a icb-ia s u b l i m e ; m a s n a d a pode
p ô r em p r a t i c a , p o r q u e o r e g i m e a q u e e a o n d e n ã o e x i s t i r á o vilipendio e as lhante. Ceder-le-hemos fraternalmente o lo-
infamias que abundam nas patrias gar, com a consolação de sermos substituí-
e s t á s u j e i t o lb'o uão f a c u l t a .
actuaes. Incutamos no e s p i r i t o dos dos com dignidade ao desapparect r, aodes-
E ainda, debaixo d'este preconcei- cançar, depois de cumprida i noss- t. efa,
to a b s u r d o m u i t a g e n t e falia em pá- n o s s o s filhos o h o r r o r á c a s e r n a p a r a na paz do sepuiciiro, satisfeitos por nos
t r i a sem s a b e r q u e p a t r i a é s y n o n i m o q u e elles se r e c u s e m a Li e n t r a r . continuares, realisando os nossos sonhos.
de cohoite de b a n d i d o s , c u j o fim é F a ç a m o s com q u e eiies s e j a m o* Mas segue ávante o caminho das reformas
sociae-, não te detenhas em vãs especulações
e x p l o r a r o povo f a z e r d ' e l l e seu es- m a r t y r e s d ' u m edial j u s t o e b o m , e
politicas.
c r a v o e por c i m a a r r a n c a r - l h e os filhos n ã o c a r r a s c o 3 da H u m a n i d a d e ; p o r q u e
EMILE ZOLA.
p a r a os u i e t a m o r p h o s e a r n u a s b a n d i - só os d u q u e s e b a i õ e s : ç o b r e z a s , com
dos, n u m a escoria v i v e n t e ! p f S i t f ô eSW • O' SiHTgtrr t R í -^sptoradtts;-
A palavra p o r si, ó q u e p r e c i s a m q u e Ih» g u a r d e m as
p a t r i a , só d e
r e p r e s e n t a um sem n u m e r o d e hoi ro- suas p r o p r i e d a d e s , p r a . i ç a n d o a s s i m
Aos operários
res ! um rotibo á Irgi&o d o s o p r i m i d o s .
N ó s , os t r a b a l h a d o r e s , n ã o d> ve- Unamo-nos todos os camaradas E ' verdadeiramente deplorável o
mos d e f e n d e r a patria, porque ella, e x p o l i a d o s , e gritemos com t o d a a e s t a d o eaotico e d e d e o a d e n e i a , e m
força : q u e se e n c o n t r a o m o v i m e n t o o p e r á r i o
p a r a n ó s , não e x i s t e . de C o i m b r a . S i m , p o r q u e em C o i m b r a ,
Q u e d i f f e r e n ç a uos faaia d e i t a r m o - Abaixo a podridão chamada pa-
i n f e l i z m e n t e n ã o e x i s t e um m o v i m e n t o
nos hoje p o r t u g u e z e s e a m a n h ã l e v a n - tria ! 1 o p - r a r i o , e se e x i s t e , e s s e é fictício, é
t a r m o n o s f r a n o e z e s , i n g l e z e s ou bel- Abaixo as fronteiras'.! aparente, é nada.
Viva a Anar chia ! . . . P a r a e s t a tão g r a n d e d e s o r g a n i s a -
gas?
ção o p e r a r i a , tem c o n c o r r i d o o o p e r a -
A forma de governo havia de ser ( D 'A Vida ). riado c o m o seu d e s i n t e r e s s e e indife-
a mesma: trabalharmos para enrique- Alexandre Diiis da Silva. rentismo, votando á maior das apatias,
cer a b u r g u e z i a , e x p o n d o - n o s muitas ao d e s p r e s o a t é , a a s s o c i a ç ã o d e c l a s s e
vezes ao p e r i g o ; e se a s s i m não p i o - ou s i n d i c a t o , e r i t r e g a n d o - s e maÍ9 á
A r e b e l d i a é a m ã e d e todo o pro- politica, q u e á d e f e s a d o s s e u s inte-
cedesse-mos morreríamos de fome,
gresso. r e s s e s , d o s e u lar, d a s u a f a m i l i a , d o
porque aquelles que nos roubam A u m a n i d a d e c a m i n h a d e r e b e l d i a seu p ã o , e t c .
aquillo que d e direito nos pertence, em rebeldia. E m q u a n t o elle s e p r e o c u p a e s e
p a s s e i a m em a g r a d a v e i s landaus sem Urbáin Gohier. e n t r e g a a e s s a politica reles e n o j e n t a
se i m p o r t a r e m c o m os m a l e s q u e affe- q u e p a r a aí se d e b a t e f u r i o s a , e q u e
d e s v e r g o n h a d a m e n t e nos tem a r r a s -
ctam a s c l a s s e s t r a b a l h a d o r a s .
A a n a r q u i a ó o porvir d a h u m a t a d o á m a i o r d a s i g n o m i a s , á m a i s
A patria é formada pela grande nidade. deplorável das situações economicas,
c o h o r t e de m i s e r á v e i s r a f e i r o s , d e ex- blanqui. os s e u s e x p l o r a d o r e s , os p a r a s i t a s , os
poliadores q u e n o s n e g a m o d i r e i t o d e q u e n a d a f a z e m em p r o v e i t o d a h u m a -
g o z a r m o s t u d o o q u e de bello a n a t u n i d a d e , — m a s q u e grosam t o d o s os
N e m s o l d a d o s q u e hos f u s i l e m 1 p r a z e r e s da v i d a , — v ã o - n o s e x p l o r a n -
r e z a nos p r o p o r c i o n a ; e n f i m , d e todos N e m P a t r i a s q u e nos d i v i d a m ! d o , vão-nos s u g a n d o o s a n g u e , sem
aquelles q u e s e a p o d e r a m d e t o d a s as Spies. q u e n ó s os o p r i m i d o s , os e x p l o r a d o s , os
4 CONQUISTA DO BEM
.

que tudo fazendo nada possuem, num e eguaes, felizes e irmãos. E n t ã o aca- tinham sido curados ligeiramente, para
Ímpeto de revolta consciente, façamos b a r á o odio e a tirania, o despotismo o u t r a vez m a r c h a r a defrontarem-se
r e c u a r ou mesmo acabar com essa in- e a opressão. com a morte inevitável provocada pela
f a m e exploração de que constante- P a r a isso, é preciso que o operário g u e r r a . Não podendo j á m a r c h a r fica-
m e n t e somos vitimas. se e d u q u e pelo seu proprio esforço, ram-se pxtenuadoa debaixo das arvo-
Algum d e vós que me lêem, obje- lendo os bons livros, os bons j o r n a e s , res que como boas mães os acaricia-
tar-me-ha talvez. O r a , isso não ó tanto para assim s e . i r livrando de todos os vam e envolviam n a sua sombra.
assim ! Nem todos os patrões são preconceitos de que esta sociedade T u d o a d o r m e c e u : o silencio era
eguaes ! O meu por exemplo, ó uma está eivada. Só depois d'isto, chega cortado pelo troar longiquo do canhão
beleza d'omem, não me explora, tra- remos ao tarminus da exploração de nalgum combate.
ta-me muitíssimo b e m , ó um patrão s e n f r e a d a e despótica, de que somos Um profundo lethargo apoderou-se
exemplarissimo. Se eu e n t r a r p a r a a vitimas conitantes. do campo ao qual ficou de sentinella
oficina mais tarde do que a óra mar Pavio. um rapagão forte e simpático que se
c a d a , quinze, vinte minutos, u m a óra deixou adormecer envolto no ar asphi-
até, não me diz absolutamente n a d a . xiante.
E m f i u i , ó o que se chama um verda- A escravidão dos omens é a con- Despertou o o ribombar embrave-
deiro d e m o c r a t a . Sim, não á duvida. sequência das leis; as leia são estabe- cedor da artilharia que estava próxima;
E l e pode fazer e ser todas essas coisas; lecidas pelos governos. P a r a libertar ergueu se alquebrado incapaz de qual-
mas no que também não ha duvida os omens ha só um meio : destruir os quer heroicidade, com a vista enco-
n e n h u m a , é que n e n h u m d'eles, quer governos. berta pelo pó que levantava os proje-
ser lesado nos seus interesses. P o r q u e , Leon Tolstoi. teis aterradores que no campo caiam;
se o operário não fizer o trabalho pre- olhou os seus c o m p a n h e i r o s : alguns
ciso p a r a salvar o seu salario e uns tentavam e r g u e r se para caírem nova-
cobres mais para o patrão, ele não o mente, atravessados por qualquer pro-
quer nem mais uma óra ao seu serviço, A GUERRA jetil; outros corriam desesperados para
e trata imediatamente de dizer lhe sob o estandarte que fluetuava frenetica-
qualquer pretexto, q u e procure traba- mente como a chama-los em sua de-
lho. E s t a é que ó a v e r d a d e p u r a e Dia de v e r ã o : um calor sufocante feza, mas em breve tudo ficou esma-
incontestável. E a verdade não se pairava sobre a t e r r a repleta da mais gado e o symbolo da patria caiu num
oculta. vidente v e r d u r a . poço de sangue ! . . .
* A b a f a v a se ! a sombra d ' u m a ar- Só restava a sentinella d e s a s t r a d a ,
* * vore, d u m muro ou d u m a casa era o — segundo os p a t r i o t a s — ; quando se
Q u a n d o o operário souber compreen- logar de refugio e de repouso. viu só, um desespero terrível se apo-
d e r que é explorado em nome do es Ao longo d ' u m a estrada tortuosa derou d'ella e com um entusiasmo de-
tado e da lei, do trono e do altar, que ladeada por. vastas planícies, d'onde lirante corre era todas as direcçõe^ do^
tem d » tpabatkar .ókaã «OBseôutiw»- nos eg-tg^mefaeofeorteo pernebelf>»idadg'|-, ~ampo^ emEriagada peio cheiro nau-
esgotando-se, para s u s t e n t a r super- longiqua, se erguiam enormes e escar- seabundo do sangue e da polvora para
fluamente um sem n u m e r o de parasi padas serras deleitando-se na mais em breve cair inerte fazendo compa-
tas que infestam a sociedade, não pro- enebriante v o l u p t u o s i d a d e , nassava nhia áquelles que selvaticamente iam
duzindo nada de util, taes c o m o : pa- desorganisada uma columna m i l i t a r ; para assassinar e que foram assassi-
d r e s que eó teem embrutecido e se- os soldados estropiados na sua marcha nados.
meado o odio entre o povo ignaro, g r a v e derivada pelo cançasso levan- E assim ficou aquelle campo ver
cometendo toda a casta de patifarias tavam enormes nuvens de poeira, que dejante coberto de cadaveres e sangue
em nome d ' u m a religião, que um sábio se semelhavam ao fumo brotado por Qo qual se refletiam os últimos raios
muito bem cognominou de Religião da uma erupção vulcanica na encosta do sol a r d e n t e q u e testemunharam a
Morte, contando-se aos milhares as d'um monte; as lavas Insidias eram os ultima phase da vida dos milhares
vitimas que fez passar pela forca, pela vultos negros dos soldados de que de vitimas de opressão da burguesia.
fogueira, pelo suplicio, pelo veneno, faiscavam os canos das espingardas e
etc. os amarelos do equipamento. A lava Luiz Carvalho.
O .militarismo, que só serve para caminhava, esmagadora, na direcção
aniquilar sufocando-nos, quando recla- dos estampidos que de tempos a tem-
mamos pão e liberdade ; e fusilando- pos retumbavam nos ares como o ru-
nos, quando nos revoltamos contra a gido e m b r u t r c e d o r d'outros vulcões, O militarismo é a escola do crime.
opressão e tirania. Q u e só serve e tem que vomitassem mt-tralha.
Servido p a r a s e p a r a r a umanidade, U m E t n a ou um Vesúvio não can- Uumon.
fazendo com qu« os omens de nações saria tantos e s t r a g o s ; o destroço de
diversas se odeiem, chegando mesmo Pompeia em nada se semelhava com
a baterem-se coroo feras, em nome o destroço enorme ocasionado pelo vul-
d ' u m a patria que não teem. P o r q u e cão gigantesco e monstruoso a guerra. Subscripção em favor do nosso camarada
os q u e se batem nessas batalhas san Q u e m se aproximasse d'aquelles « k Vida» levado aos tribunaes Monar-
guinolentas que são verdadeiras car soldados veria nalguns d'elles, mos- chicos pelo socialista Maravilhas Pereira,
niticinas, são os parias, os operários, trando a phisionomia triste e medita- e condemnada em 50$000 reis de multa
é o povo explorado, é a canalha, são b u n d a , algumas lagrimas rebeides que custas e sellos do processo.
os oprimidos. E s t e s , é que são a carne se misturavam com o suor q u e os
do canhão. inundavam ; outros c a n t a v a m , fingin- F e r n a n d o L o p e s 100
Só quando a umanidade eliminar do-se alegres, p a r a esgalharem as suas José M. d'Almeida 300
as fronteiras que separam os povos, e dores de coraçío e d'alguma chaga Sobral de Campos 100
os fa?em odiar-se, seremos todos livres feita por baioneta ou bala da qual j á J sé G o m e s 500
ANNO I Coimbra, 27 de Maio de 1894 fe N.° 1

A N A R G H I S T A

Para o burguez a familia é um bem, torna-a responsável por todos os males

AO (H E VIMOS porque se harmonisa rjerfeitamente, se


gundo a regulamentação dos codigos e a
e a causa da perdição do homem.
0 poético e bondoso Michelet, por
certo insuspeito aos burguezes, compre-
moral religiosa, com a avidez interesseira
Diz um autor de que nos não do seu espirito especulador; para o anar- hendendo o amor mais ou menos á ma-
chista, respeitador escrupuloso das pai- neira dos anarchistas, disse em um dos
lembra o nome —Quando tiveres seus livros mais belios, que na união de
xões humanas e da liberdade individual,
uma ideia, propaga-a, grita-a.—E a familia não pode deixar de ser um dos duas pessoas de sexos differentes, aquelle
o que vimos façer. peores males que opprimem e aviltam a sentimento era tudo e o sacramento uma
O anarcliismo tão nial julgado humanidade, resultando como tantos ou- Cxão.
de uns e tão desconhecido de ou- tros da subordinação da nossa vontade e Não o comprehende assim o burguez,
aspirações naturaes, a leis civis e reli- concorde em certos casos com a morali-
tros,— vimos esforçar-nòs por pro- dade do grande escriptor, porque tendo
giosas, n e g a d t r a s do direito, da verdade
pagal-o entre os opprimidos, os que e da justiça. retirado os sentimentos affectivos de to-
a fome ameaça a cada passo. Para se garantir a si e aos seus o dos os actos da vida social, elle só pro-
Os principios anarchistas expri- goso exclusivo do producto da sua explo- cura o interesse e a ganancia, negocian-
mem tanto, segundo nós, os vagos ração, o burguez fez do roubo um crime do avaramente com a alma e o corpo dos
e inventou leis anti-naturaes, condemnan- filhos.
desejos que todos teem de ser li-
do os que o praticam a pennas severas, Á organisação economica, vil explo-
vres e bons, que depois de os conhe- erneis e deshumanas. E no entanto, por ração do trabalhador desherdado pelo
cermos e professarmos sentimo-nos mais que Ih'o digam os proprios homens ocioso enriquecido, só convém portanto
melhores e parece-nos ter conquis- de sciencia seus defensores, elle, o eterno á moral christã, que para ahi floresce nos
tado o conhecimento de um bem de rotineiro, esse travão do progresso, não espíritos fracos alimentada pela podridão
quer acceitar a verdade hisiorica, de que da ignorancia, proclamando o acto da
que sentíamos a falta sem conhe-
o roubo e o assassínio são as bases fun- geração como um crime abominavel e
celjo. damentaes da propriedade e da familia. reconduzindo a deus todo ,o amor, para
Não temos illustração bastante Se quizessemos desenvolver aqui esta o declarar illigitimo entre o homem e a
para crear principios; mas espalha- affirmação incontestável, poderíamos re- mulher!
remos os trechos sublimes de Kro- correr aos profundos estudos de notáveis D'esta forma temos a união sexual
sociologos e economistas, como Letour- isempta do único sentimento que devia
potkine, Reclus, Grave e tantos ou-
neau, Laveley, Elie Reclus e outros, mas regulal-a, e a familia organisada por con-
tros companheiros que fizeram do dispense-nos o leitor d e s s e trabalho, tracto, exactamente como se fazem as
anarcliismo a sciencia mais com- visto que o nosso proposito é tão somente compras e vendas nas feiras de cavallos.
pleta. analysar a constituição familial na socie- Previnam-se o homem ou a mulher, de
Companheiros de boa vontade: dade burgueza, em confronto com a união um dote, e eil-os aptos para adquirir,
voluntaria da mulher e do homem na so- elle, uma esposa, ella, um marido.
lêde-os com attenção e reflexão, dis-
ciedade futura. Posta esta verdade em flagrante evi-
postos a seguirdes o bom caminho dencia, quem haverá ahi, pois, discor-
0 que sobre tudo precisamos de as-
e bem depressa sereis seduzidos pela sentar como indiscutível, apoiados na dante da conclusão anarchista, de que
ideia que é tão bôa e justa. sciencia, é que o homem e a mulher são em vez de se darem um ao outro de
Aos que sentirem hesitações es- phisiologicamente constituídos de egual corpo e alma no prazer carnal da gera-
maneira no que diz respeito ás suas ne- ção, os cônjuges se pagam esse prazer,
tamos promtos a transmittir-lhe o
cessidades naturaes. Isto assente, força- como- o homem paga á mulher e a mulher
pouco que sabemos nas horas que dos somos a concluir que a familia, quer ao souteneur, nas casas de prostituição?
o nosso trabalho diário nos-deixa na antiguidade helenica, quer na escuri- Ponderem sobre isto os que nos ag-
disponiveis. dão mediava!, quer no mundo burguez gridem e odeiam, não querendo por fal-
moderno, tem por base inalteravel uma sidade de sentimentos e erros de educa-
infamia—a sujeição da mulher â vontade ção, unir se a nós, p a r a salvar a digni-
imperiosa do homem. dade humana, rebaixada pela familia e
A FAMÍLIA Interpretes do sentimento moral dos outras iniquidades monstruosas.
seus tempos, os legisladores, nas diffe- Mas elles não ponderam, n ã o ; elles
rentes epochas da historia, reduziram não querem v e r ! Pois bem, é abrir-lhes
sempre a mulher a uma condição inferior. os olhos e confundil-os em vergonha.
Se n'um arranco destruidor, movidos Mais ou menos duramente, todos lhe Dosconhecedores dos principios de-
por firmes convicções e certos na reali- prescreveram submissão, e é no despo- fendidos por nós, os verdadeiros amantes
sação inevitável do supremo ideal da tismo do direito romano e nas impreca- da humanidade, os burguezes difamam-
libertação humana, nos insurgimos con- ções com que a amaldiçoaram os padres nos, insultam-nos, perseguem-nos e ma-
tei! a HHlituição da f.ur.ilia, alarma sé a da : i g r e j a . que'-'os codigos àctuaes se tam nos.
burguesia na estupidez dos seus precon- inspiram para collocar a mulher na abso- Sem recorrer como elles á insidia e
ceitos, accusaado-nos de cynismo e per- luta dependencia do marido, não lhe per- á calumnia, vamos nós, com os argu-
versão moral. mittindo que desligada d'elle, sem ma- mentos que nos oíferece a sciencia e o
Cínicos e pervertidos, nós, que dese- cula, nem peccado, possa amar e ser mãe. pensamento dos sábios humanitários, mos-
jamos livre o coração humano para as Para a degradação feminina concor- trar-lhes quanta infamia abriga essa insti-
inclinações do seu amor, emquanto elles, reram principalmente as religiões. 0 is- tuição sanctiOcada pelo misticismo doido,
os vis hypocritas, o violentam e torturam lamismo recusa-lhe a alma immortal con de alguns degenerados feitos poetas.
ao jugo de casamentos forçados, fazendo cedida ao homem, o judaísmo deciara-a Descança um pouco burguez que ven-
assim da familia uma instituição tão igno- impura e serva, e o christianismo pela des as filhas.
miniosa, como a prostituição sua conse- voz de S. Paulo, de S. J><ão Chrysostomo, Breve continuaremos.
quente. de S. João Damasceno e de S. Jeronymo, M. d1 A.
2 Conquista do Bem

V A I L L A N T Certo, eu não lamento as pobres victi- fesa, fez as declarações de que já um


mas da dynamite, tão choradas pela im- diário lisbonense e o nosso collega A Pro-
— • —
prensa assalariada das classes dirigentes, paganda publicaram trechos.
«É de ante-hontem a morte do anar- e não me sentirei grandemente commo- Ahi vão alguns:
chista Vaillant. Não ha um homem de vido se acaso topar um dia com os esti-
coração que não tenha os cabellos em lhaços fumegantes d'um parlamento e das «Sou anarchista ha pouco tempo. Não
p é com esta morte. Vaillant escreveu um suas respectivas carcassas palradoras. foi senão nos meados do anno de 1891
testamento e deixou umas cartas, tão se- Pelo contrario, sinto-me levado a con- que me lancei no movimento revolucio-
renas, tão nobres, tão honradas, como fessar ser esse o mais efficaz elemento nário. Antes d'isso tinha vivido em meios
qualquer soneto de Anthero. Nascido em de propaganda n'um paiz — e aqui é que inteiramenje saturados da moral actual.
outra epocha, educado por outra socie- bate o p o n t o — o n d e as nossas forças se- Havia sido habituado a respeita?, e até
dade, posto em frente de outros panora- jam sufficientes para que o sequestro de a amar, os princípios da patria, da fa-
mas, não resta duvida a ninguém de que uma dúzia de companheiros, a sua con- mília, da auctoridade e da propriedade.
' este dynamitista, que pretendeu dar a demnação á grilheta ou mesmo á guilho- «Mas os educadores da geração actual
um baudo de palradores nocivos a honra tina, as perseguições correspondentes aos esquecem com muita frequencia uma coi-
de os fazer ir pelos ares, se teria trans- que da rede policial conseguem escapar, sa: é que a vida com as suas luctas e
formado num heroe e viria, com a sua longe de aniquilar ou pelo menos para- desastres, com as suas injustiças e ini-
fria coragem e a sua fé invulnerável, a Jysar os nossos trabalhos, apenas consiga quidades, se encarrega perfeitamente, a
praticar actos que lhe valeriam monu- afervorar, pelo desejo da desforra, os que indiscreta, de descerrar os olhos aos igno-
mentos nas ruas e altares nas almas. No até ahi menos predispostos para a lucta rantes e de lh'os abrir para a realidade.
entanto este homem, que julga amar pro- se mostravam. Foi o que me aconteceu, como acontece
fundamente a Humanidade, e põe fóra Mais claro: Nas regiões onde o anar- a todos. Tinham-me dito que esta vida
d'ella os que ameaça, que ama como chismo ganhou raizes, onde são quasi era fácil e largamente aberta aos intelli-
qualquer de nós a sua filha, que estima tantos os companheiros como os habitan- gentes e aos energicos, e a experiencia
do fundo de alma os seus amigos e só tes, onde o espantalho da authoridade, mostrou-me que só os cínicos e os reptis
tem palavras illuminadas e bênçãos hú- por mais que faça, seja impotente para podem arranjar um bom logar para o ban-
midas nos lábios á hora de morrer — ha debellar o vibrião anarchico — para me quete.
uma sociedade curta e estreita que pre- servir d'um termo ha muito em voga —
tende fazei-o passar por um monstro, ahi, n'essas regiões, eu approvaria as «Um momento attraído pelo socialis-
como se essa palavra explicasse alguma violências, seria d'ellas apologista em- mo, não tardei em affastar-me d'este par-
coisa e não fossem monstros todas as bora por tal me alcunhassem de feroz tido. Tinha muito amor á liberdade, muito
creaturas excepcionaes que na Arte ou algoz do existente. respeito pela iniciativa individual, muita
n a Acção, deixaram de si memoria aos Eapproval as-hiapor humanidade que repugnancia á encorporação, para tomar
seus semelhantes. Ninguém quer ver neste não por odio. Approvaria o sangue, o ex- um numero no exercito matriculado do
guilhotinado um precursor de eras novas, termínio de uma parcella insignificante, quarto estado.
e sobretudo ninguém se assombra de que porque odeio o sangue, o extermínio de «De resto vi que no fundo o socialis-
haja um carrasco, um homem pago e milhares, de milhões de victimas que mo nada muda á ordem actual. Sustenta
profissional, bastante forte e socegado n a tantas seriam as vidas roubadas pela o principio auctoritario, e este principio,
justiça dos homens para tirar a cabeça g u e r r a que ámanhã rebentasse na Euro- apesar do que poderão dizer suppostos
a outro que nem ao menos é um mau, e pa, que tantas—que muitas m a i s ! . . . tem livres pensadores, não é senão um resto
em seguida ir socegadamente almoçar sido as vidas pela guerra, roubadas no da fé num poder superior.
com os seus e á noite dormir sem um decurso do século que vae correndo.
sobresalto. Qual é o maior monstro, dizei Approval -as-hia porque n'um meio as- «Foi n'este momento que entrei em
lá! Vaillant, ou Deibler?» sim preparado uma lata de sardinhas e relações com alguns companheiros anar-
umas cabeças de prego,com o competen chistas, que hoje considero como os me-
(Das Palavras Loucas.) te explosivo, adiantava 10 annos o ad- lhores que tenho conhecido.
vento da Revolução Social que, para todo «0 caracter d'estes homens seduziu-
Alberto d1 Oliveira. o sempre nos livrará da guerra e de todo me immedialamente. N'elles apreciei uma
o cortejo de monstruosidades de que a so- grande sinceridade, uma franqueza abso-
ciedade burgueza faz gala e titulo de glo- luta, um desprezo profundo de todos os
CARTAS VERMELHAS ria.
Mas n'outras c o n d i ç õ e s . . . entre nós,
preconceitos, e quiz conhecer a ideia
que produzia homens tão differentes d e s -
i por exemplo, onde o mais inoffensivo bus- tes, que até então havia conhecido.
ca-pé daria aso ao burguez limerato e «Esta ideia encontrou no meu espi-
A propaganda pelo facto vingativo de fazer passar pelas armas to- rito um terreno preparado pelas obser-
dos os anarchistas portuguezes, a propa- vações e reflexões pessoaes, para a re-
Companheiro: Mal avisado andaste ganda pelo facto seria mais que uma lou- ceber. Não tez senão precisar o que em
em vir bater ao meu ferrolho. Ninguém cura, seria uma arma meramente rever- mim havia de vago e fluctuante.
como eu é incompetente para desfazer as siva que eu não duvidaria em supôr em- «Tornei-me então anarchista.
pequenas duvidas, as imperceptíveis exi- pregada. . . por conta d'elles e risco nosso.
tações que te assaltam, uma vez por ou- A nossa propaganda é, deve e não pô- «Mas porque, dizem os senhores, ir
tra, ao meditares com todo o fervor da de, por emquanto, deixar de ser outra. atacar consumidores pacíficos que ouvem
tua alma intelligente e boa, nas doutrinas D'e!la te fallarei *depois. musica (no café), e que talvez não sejam
anarchicas, que, com tão ardente enthu- Lisboa, maio de 94. nem magistrados, nem deputados, nem
siasmo professas. Não quero, porém, que Marnix. funcconarios?
pela raiz dos cabellos te passe a ideia «Porquê? É muito simples. — a bur-
humilhante de que busco na inaptidão guezia fez um monte dos anarchistas. —
própria, um escudo ou um sophisma á es- o rico é um verdadeiro parasita que vive
do trabalho dos que nada têm. Um homem só, Vaillant, havia lançado
pinhosa tarefa sobre os meus hombros uma bomba: os nove décimos dos com-
Sulter Laumann.
por ti lançada, na melhor das intenções, panheiros nem sequer o conheciam. Isto
é claro. nada fez para o caso. Perseguiram em
Ao correr da penna e com o coração massa. Todos quantos tinham algumas
n a s mãos ir-me-hei desenvencilhando,
EMILIO H E N R Y
relações anarchistas foram atormenta-
consoante as minhas forças e o meu modo dos.
de vêr pessoal — e talvez exclusivo—da A sua condemnação «Pois bem! Desde o momento que tor-
obrigação que a tua amizade me impoz e — Declarações — A execução nam um partida inteiro responsável dos
por assumptos da nossa palestra d h o j e actos d um homem só, e que castigam
vá d'escolher, se te apraz, a questão me- Emilio Henry, auctor das explosões em massa, nós também castigamos em
lindrosa da propaganda pelo facto que da rua des Bons Enfants e do Terminus, globo.»
tantos apostolos já conta no nosso mar- foi, pelo tribunal do Sena, condemnado
tyriologio e que tantos e tão estúpidos á morte, no dia 28 d'abril ullimo. No final Henry não desmentiu a sua
odios nos acarreta da banda dos sensatos Quando lhe perguntaram se tinha corajosa serenidade anterior. Ouviu a sor-
pensadores da burguezia contemporânea. mais alguma coisa a allegar em sua de- rir o veredictum e a sentença. F.sta, po-
2 Conquista do Bem

r é m , arrancou-lhe uma exclamação: —


Camaradas! Coragem, e viva a anarchia! MENDICIDADE Mais adiante veremos que ha q u e m
tenha pretendido que significando a anar-
Na sala onde e s p e r a v a p a r a s e r le- chia completa expansão da individua-
v a d o p a r a a Conciergerie, Emilio Henry Com este titulo impinge-nos o Defen- lidade, as palavras communismo e anar-
f u m a v a com visivel satisfação e alegre- sor do Povo (sic) um discurso da moral- chia, se não podiam ligar. Demonstrare-
m e n t e um c i g a r r o . sinha b u r g u e z a . mos, ao contrario d ' e s t a aíFirmaçào, q u e
— «Ainda bem! dizia elle. Aqui estão Estrangeiros e creancinhas, rotos cheios a individualidade não pode desenvolver-
ao menos j u r a d o s q u e não teem medo! de fome, são os que mais indignam os se senão na communidade; que esta ul-
Condemnaram-me á morte; fizeram b e m . seus bons corações. tima não poderá existir se a primeira se
D'aqui a pouco s e r á a sua vez.» Pois a t r e v e r e m - s e a importunal-os a não evoluciona livremente e que se com-
0 advogado aconselhou-o a que apel- pedir-lhes esmola, a dizer-lhe que ha dias pletam* uma a o u t r a .
lasse i m m e d i a t a m e n t e . que nào c o m e m , que passam as noites
Respondeu: ao relento, a elles que vivem contentes É esta diversidade de questões a ata-
— «Nem hoje, nem a m a n h ã . Não re e regaíadinhos da v i d a — Q u e corja! Que c a r e a resolver que fez o successo das
conheço a justiça que me c o n d e m n o u . E m a l a n d r a g e m ! morram de fome mas não ideias anarchistas e contribuio para a sua
pois inútil insistir. Nem estou p a r a apel- os e n c o m m o d e m . Tudo p a r a a cadeia! rapida expansão: é assim que, lançadas
lar, nem para assignar um pedido de Mais p a c i ê n c i a , senhores escrevinha- por um grupn d e desconhecidos, sem
clemencia.» dores, lembrem-se ao menos de que nem meios de p r o p a g a n d a , envadiram hoje as
Ás 8 horas da noite e n t r a v a na sua todos têm habilidade de Defensores do Po- sciencias, as artes e a litteratura, com
cellula da Conciergerie, e dizia p a r a os vo (Povo n ' e s t e caso quer dizer rico) e um successo mais ou menos g r a n d e .
g u a r d a s e n c a r r e g a d o s de o v i g i a r e m : que talvez alguma das creancinhas, de 0 odio á a u t o r i d a d e , as reivindicações
— «Emfim! e s t á acabado! Vou poder quem a miséria tanto os importuna, seja sociaes datam de longe: começaram logo
d o r m i r . Tenho muita p r e c i s ã o d'isso. mas filho d'algum dos seus amigos, vivendo que o homem viu que e r a opprimido. Mas
primeiro vou comer com p r a z e r . » ricos e regalados, e a quem a sociedade q u a n t a s p h a s e s e systernas deveu p a s s a r
Effeclivamente comeu com g r a n d e ap- considera homens honradíssimos. Que a ideia p a r a chegar a concentrar-se na
petite. torpezas a lei portege! forma actual ?
* (Continua) João Giave.
Tem razão: Quem tem fome não deve
Contam as gazetas q u e Emilio Henry pedir tem o direito a prover-se do que
j á foi guilhotinado. Um t e l e g r a m m a diz n e c e s s i t a onde o encontre com abundan-
assim: cia.
Toda a diminuição do poder politico, quer
elia provenha das attenuações externas, quer
«PARIS, 2 1 — 0 anarchista Henry foi provenha da decadencia própria, é sempre um
lucro para uma socidade em progresso.
justiçado hoje ás 4 horas e meia da ma Por meios brandos nada se consegue : fa-
n h ã . 0 condemnado dormia p r o f u n d a - zei-vos temer. Ramalho Ortigão.
m e n t e , quando os m a g i s t r a d o s foram des- Helvitiuí.
pertal-o.
0 director da prisão d i s s e - l h e :
— Tende c o r a g e m !
A ideia anarchista CARTAS VERMELAS
Henry não respondeu nada, mas era-
pallideceu de um modo horroroso e ves-' e o sen desenvolvimento Devido à p e n n a do nosso companhei-
tiu-se n e r v o s a m e n t e . ro Marnix começamos hôje a publicar umas
Recusou os soccorros da religião. cartas com o titulo que nos serve de epi-
Quando lhe faziam a toilette para a gui- Anarchia quer dizer negação da au- graphe.
lhotina, disse a um c a r r a s c o : ctoridade. Ora a auctoridade pretende Serão publicadas por series:
Sois vós, Deibler! justificar a sua existencia na necessidade l . a Serie: A p r o p a g a n d a .
Depois não proferiu mais palavra até de defender as inslituições sociaes: Fa- 1 A propaganda pelo facto—II A nossa
á s a b i d a ' d a prisão, mas ao t r a n s p o r o milia, Religião, Propriedade, e t c . , e creou propaganda—III Nós e os revolucionários
limiar da porta gritou com voz e s t r a n g u - uma multidão de e n g r e n a g e n s p á r a se burguezes—IV 0 socialismo indigena-or-
lada: «Camaradas, coragem! Viva a anar- assegurar o funccionamento e a saric.ção. gão oílicioso do Terreiro do Paço—V Sós
chia!» As principaes são: Lei, Magistratura, Po- e livres VI—Faze o que le apraz, mas
Tinha o semblante livido e os olhos der legislativo e executivo, etc. Forçada pensa o fazes.
fulgurantes. a tratar tudo, a ideia anarchista, teve, 2 a Serie: Os principios a d e s l r u i r .
No momento em que os a j u d a n t e s do antes de atacar os prejuízos sociaes, de es- I A burguesia e os seus preconceitos.
carrasco o impediram p a r a cima da ta tudar bem todos os conhecimentos huma- II A Patria—III A propriedade. IV A fami-
b u a da guilhotina gritou de novo com nos, p a r a d e m o n s t r a r que as suas con- lia—VA auctoridade—VIA religião e a lei.
voz mais firme: «Viva a a n a r c h i a ! » cepções eram conformes a natureza physio-
Então cahiu o cutello, e o corpo e a logica e psychologica do homem e adqua-
cabeça do justiçado foram a r r e m e s s a d o s dos á observação das leis naturaes; era- A anarchia, de que tanta gente se espanta
ao cesto. Estava satisfeita a justiça. quanto que a organisação aclual ia d'en- por má interpretação do vocábulo, ó uma das
Depois da execução foram presos tres naturaes manifestações do progresso.
contro a toda a lógica e a todo o bom senso,
indivíduos por haverem gritado: «Saude- o que faz com que as sociedades sejam Adelino Neves.
mos H e n r y ! Viva H e n r y ! Viva a com- instáveis, destruídas por revoluções cau
muna!» sadas pelos odios accummulados, dos que
Esta sociedade d e p r a v a d a , c o r r u p t a e
immoral não se convence de que não ga-
são e s m a g a d o s pelas instituições arbitra-
rias. PURAS PALAVRAS
nha nada m a t t a n d o . Pois bem. Ao seu odio Combatendo a auctoridade têm os
respondamos com o nosso odio! Á g u e r r a anarchistas que atacar todas as institui- Se fallo não é para mo defender dos
respondamos com a g u e r r a ! ções de que o poder se criou defensor, actos de que me accosam; só a socieda-
Como Pallas dizemos: A vingança s e r á e de q u e p r o c u r a demonstrar a neces- de é a responsável pondo, com a sua or
terrível! sidade, p a r a legitimar a existencia pró- ganisação, os homens e m - c o n t i n u a luta
Não perdopmos a ninguém! pria. uns com os outros. Realmenie vemos, em
todas as classes e em todas as profissões,
Alargou-se o q u a d r o das ideias anar- gente que deseja, não direi a morte por-
Que importa que seja um sabre, um báculo chistas. Partido d'urna simples negação ! que soa mal ao ouvido, mas a infelicidade
ou um chapéu de chuva que nos governe ! . . . politica, o anarchista tem que atacar dos seus semelhantes, se isso lhe poder
E ' sempre um c a c e t e ! , . .
Th. Gautier
lamhem o s p r e j u i s o s economicos e sociaes, dar vantagens.
e achar uma formula que, negando a pro- Exemplo: um industrial qne faz votos
Está de ha muito julgada e condemnada esta p r i e d a d e individual, base da ordem eco- para que todos os concorrentes desappa-
velha sociedade. Faça-se justiça ! Destrua-se nomica d ' a g o r a , a f i r m a s s e ao mesmo tem- reçam; e . o s commercianles não ambicio-
este velho m u n d o . . . onde perece a innocencia, po as aspirações da organi-ação f u l u r a ,
prospera o egoismo e o homem é explorado pelo nam reciprocamente serem sós a gosar
homem ! Arrasem-se esses sepuIchrorEaiados, e a p a l a v r a — c o m m u n i s m o veio, muito das vantagens que dá e s t e genero d'oc-
onde reside a mentira e a iniquidade ! n a t u r a l m e n t e , (ornar logar ao lado da pa- cupação ?
II. Heine. lavra — anarchia. Não ambicionava o operário sem tra-
2 Conquista do Bem

balho que o seu companheiro seja des-


pedido da officina p á r a lhe tomar o logar?
A MISÉRIA Eehos & Noticias
N'uma sociedade onde semelhantes
latos se repetem, não deve haver q u e m Diz um jornal q u a l q u e r :
se s u r p r e h e n d a d'actos no g e n e r o dos Não p e r c e b e n d o os proletários em-
q u e pratiquei e que não são mais do que b r u t e c i d o s pelo dogma do trabalho, que A MORRER DE FOME
a consequência lógica da luta peia exis- 0 excesso de trabalho que se impozeram
tência entre homens que, p a r a viverem, d u r a n t e o t s m p o de supposta prosperida- «Na Calçada da Gloria foi e n c o n t r a d o
são forçados a e m p r e g a r toda a especie de é a c a u s a da miséria p r e s e n t e , em na noite passada, um rapazinho quasi a
d e meios. vez de c o r r e r e m p a r a os celleiros de tri- m o r r e r de fome. Os p a e s expulsaram-no
Visto que cada um só trata de si, go e de g r i t a r e m : «Temos fome, q u e r e - h a dias de casa.»
aquelle que tiver fome é forçado a pensar mos comer! Na v e r d a d e não possuímos
um real mas assim ralé como somos, fo- Em quanto os armazéns se e n c o n t r a m
âssirn i cheios de viveres m e r r e e s t e m i s e r á v e l
mos q u e m segou o trigo e vindimou a
Com esta organisação da sociedade, á f o m e ! . . Não terá direito à vida coroo
v i n h a . . . » - - E m vez de assaltarem os ar-
não devo hesitar quando tenha fome_ a qualquer burguez?
mazéns do sr. Bonnet, de Jujuríeux, o in-
e m p r e g a r os meios á minha disposição, Maldita sociedade!!
ventor dos conventos industriaes e de ex-
ainda que tenha de fazer victimas! Quando #
c l a m a r e m : «Sr. Bonnet, eis aqui as vos-
os patrões despedem os operários, impor- Em Roubaix deu-se no dia 17, á noite,
sas o p e r a r i a s torcedeiras, fiandeiras e te-
tam-se se elles m o r r e r ã o de f o m e ? Os u m a s a n g r e n t a collisão e n t r e a policia e
cedeiras tiritando debaixo d ' u n s vestidos
q u e tem mais que o preciso importam-se os anarchistas que percorriam as r u a s
de chita tão rotos e r e m e n d a d o s que de
se lia gente a quem falte o pão ? cantando : «Abaixo a França! Viva a In-
vêl-as até um judeu choraria, e comtudo
Concordo que ha alguns que dao es- ternacional !» Ficaram feridos vários ma-
foram ellas que fiaram e t e c e r a m os ves-
molas: mas são impotentes para melhorar nifestantes. EÍTectuaram-se 6 prisões.
tidos de seda das cocotes de toda a chris-
a sorte dos miseráveis, que morrerão #
t a n d a d e . — As pobresiniias a trabalhar
p r e m a t u r a m e n t e pelas privações de todas Estão em g r é v e geral os operários do
treze horas por dia, não tinham tempo de
as especies, ou voluntariamente por sui-
pensar na sua loileue; agora, que não | porto de Stelin, que reclamam o augmen-
cídios de toda a natureza para porem fim
têm trabalho, sobeja-lhes o tempo p a r a to de 20 por cento nos salarios.
a uma existência miserável e não têm
se vestirem com as s e d a s que antes fa- #
que s u p p o r t a r os rigores da fome, as ver-
b r i c a r a m . Desde que lhes cahiram os den- 0 geral socego do dia i . ° de maio foi
gonhas e humilhações sem numero, e isto
tes de leite, têm vivido na abstinência p e r t u r b a d o em Hamme, Bélgica, por u m
sem e s p e r a n ç a de as nunca acabar
dedicando-se ao a u g m e n t o da vossa for- conflicto entre 4 : 0 0 0 grévistas e os gen-
Assim acontece com a familia Iíayem
tuna; agora que têm descanço, q u e r e m d a r m e s . Balanço da acção: — p e d r a d a s ,
e com a mulher Sonhaim, que m a t a r a m
gozar um pouco do fructo do seu trabalho. u m a c a r g a de baioneta, um morto e al-
os filhos p a r a não os v e r e m soffrer mais;
Vamos, s r . Bonnet, e n t r e g u e as sedas, g u n s feridos. Aos grévistas foi concedido
e todas as mulheres que, com receio,
que Harmel d a r á as cassas, Pouyer-Quer- o que q u e r i a m : — augmento de salarios.
não poderem alimentar um filho, não he- #
tier d a r á os algodões e Pinet dará os sa-
sitam a comprometter a saúde e a vida
patinhos p a r a aquellus pésinhos tão liudos, Diz a Voz do Operário:
destruindo no seu seio o fructo dos seus
mas frios e húmidos. Assim vestidas de «Como se sabe foi por determinação
amores.
novo, dos pés á cabeça, e t r a v e s s a s co- do congresso internacional de Paris em
Tudo isto se passa no meio da maior mo são, até dará gosto vel-as. Vamos, 1889, que o 1 d e maio ficou como dia
a b u n d a n c i a de tudo o preciso! nada de indecisões;—o senhor é um ami- escolhido para santificação de S. Expio-
Comprehendia-se que assim aconte- go da humanidade, não é v e r d a d e , e ain- 1 rado.n
cesse n ' u m paiz onde os productos fossem da por cima, christão?—Ponha â disposi- E então diz isto com uma tal g r a v i -
raros, onde houvesse fome. i dade...
Mas em França, onde reina a abun : çào das suas operarias a fortuna que el-
dancia, onde os talhos estão cheios de las lhgs fizeram com a carne da sua car-
ne.—Pois não é amigo do commercio?—
c a r n e e as p a d a r i a s repletas^ de pao,
onde as roupas e o calçado são postos
aos montões nos a r m a z é n s ; onde ha ca-
Facilite a circulação das mercadorias; aqui
tem os consumidores sem ter trabalho de
os p r o c u r a r ; abra-lhes créditos illimila-
! Conquista do Bem
sas d e s h a b i t a d a s ! C A D A N U M E R O 10 R É I S
dos. Ja se viu obrigado a abril-os a com-
Como se pôde admUtir que a socie- merciuntes que não conhecia nem pelo
dade está bem o r g a d i s a d a , quando se lado de Adão nem pelo de Eva e que A cobrança será feita por series de
v ê o contrario d'uma m a n e i r a ião clara? n u n c a lhe tinham dado n a d a , nem s e q u e r 10 números, com o accrescimo do porte
Ha muitos que lastimam todas estas um copo de agua. As suas o p e r a r i a s de- do correio.
viclimas, mas que dizem nada poder re- pois pagarão conforme poderem; se no Aos c a m a r a d a s que possam e n c a r r e -
mediar: que cada um se a r r a n j e confor- dia do vencimento, gambeWsarem e dei- gar-se da distribuição da Conquista do
me ooder. x a r e m protestar a letra abra-lhes fallen- Bem em cada localidade, pedimos a fineza
Que hão de fazer aquelles a quem tra- cia e se não tiverem que dar ao arresto de se nos dirigirem, afim de evitarmos
b a l h a n d o lhe falta o n e c e s s á r i o , se acaso exija-lhes o p a g a m e n t o em rezas: muito í as despezas do porte do correio.
o trabalho lhes faltar? Não tem mais que melhor poderão ellas mandal-o p a r a o ceu, A c o r r e s p o n d ê n c i a será dirigida: Rua
deixar-se* morrer de lome; os que comem do que os da batina preta com o nariz da Louça, n.° 8 0 , 2 . ° — C o i m b r a .
lançarão algumas palavras de compaixão
1 entuDido de rapé.»
sobre o seu c a d a v e r . Em vez de aproveitarem as occasiões
Eu não quiz p r o c e d e r assim.
Preferi fazer me contrabandista, moe-
deiro falso, ladrão e assassino. Poderia
de crise para fazer uma distribuição ge-
ral dos productos e uma festa universal,
vão, os operários, morrendo de fome, ba-
Bibliotheca anarchista
m e n d i g a r ; é d e g r a d a n t e e c o v a r d e , e mes-
ter com a cabeça á porta das oíficinas.
mo punido pelas vossas leis que consi- A minha ãefeza, de E t i é v a n t . 30 r é i s
Vão então com a c a r a macilenta, o corpo
deram a miséria um c r i m e . Se os neces- A lei e a auctoridade, de Kro-
e m m a g r e c i d o , assaltar os fabricantes com
sitados em vez de e s p e r a r e m , se apos- potkine 4° r é j s
rogos de pedintes: «Bom s r . Chagot, amo-
sassem do que precisam onde o ha, por
roso s r . Schneider, dae-nos trabalho, não O Salariato, de Kropotkine . 30 réis
q u a l q u e r meio, os satisfeitos mais depres-
é a fome, mas sim a paixão do trabalho A Revolta, 2 . a série, 44 nume- .
sa veriam que é perigoso q u e r e r consa-
que nos atormenta!» E estes miseráveis j ras . 400 r é i s
g r a r o estado actual da sociedade, em que
que têm apenas força p a r a se sustentar Pedidos a A Propaganda — Travessa
reina o desassocego e a vida é a m e a ç a d a
de pé vendem doze, quatorze horas de de Sant'Anna, 27 — Lisboa.
a todos os instantes.
trabalho metade mais barato do que quan-
(Continúa) do tinham pão em casa.
Ravachol. EDITOR—Antonio José da Cosia
D o "Direito á Preguiça...
Typograpliia e Administração
Estou convencido de que se os homens sâo Paulo Lifargue. — R u a d a L o u ç a , n.° 2C, 2.°
maus, a culpa é das leis.—Mably.
ANNO I Coimbra, 3 de Junho de 1894 N.° 2

A N A R C H I S T A

2 1 DE MAIO corrente revolucionaria, desde que a sua


origem está na situação miseranda e de-
sesperada em que o- córivencionalismo
dividuo conserva-se, satisfazendo o amor
reproduz-se.
Era virtude da organisação economi-
burguez colloca os habitantes das offici- ca da sociedade burgueza, o individuo
Em Paris, na praça da Roquette, é gui- nas e das fabricas, os arroteadores da
lhotinado Henry;—em Barcelona, c a s l e l h que trabalha, não pôde prover á sua ali-
terra, o mineiro, o proletariado em geral. mentação, segundo o seu apetite e a s
de Montjuich, são fuzilados Archs, Ber- Pois que, havemos de soffrer em si-
nard. Cerezuela, Codina, Sabat e Sogas. exigências da sua constituição organica,
lencio e resignados todas as privações, pois devendo comer quotidianamente um
Feitos de immensa gloria—para as jus- todas as diíficuldades—comer pouco e
tiças burguezas—são estes que a sua im- kilo de carne, pelo menos, come com es-
mau, habitar mesquinhos casebres, ves- cacez, em épocas de maior fortuna, s a r -
prensa se apressa a detalhar, como que tir m i s e r a v e l m e n t e . . . , nós que traba-
a querer mostrar aos propagandistas da dinha podre e boroa aspera; assim tam-
lhamos, emquanto o capitalista ocioso, o bém, pelo mesmo motivo, o individuo
anarchia a sorte que lhes reservam. parasita que vive dos rendimentos e a
Seja. que ama, é forçado a conter os impulsos
que bem cabe o nome de simples sacoo do seu coração e a reprimir o seu instin-
E no e n t a n t o — s u b l i m e audacia — ctigjstivo, passa bem, ostenta os melho
nem o succeder das execuções, nem as cto reproductor, deixando de completar
res luxos, usa os ricos tecidos que fabri- por livre vontade um acto natural de fins
prisões continuas, nem as buscas domi- camos, gosa, numa palavra, tudo isso
ciliarias constantes, nem as torturas in- elevados, para ceder ás conveniências
que é obra nossa mas de que não pode- materiaes e contrariar-se e mentir aos
famissimas inflingidas aos que a lei tem mos gozar—sómente porque aqui se le-
querido e podido alcançar, conseguiram que o cercam, acceitando o casamento
vanta uma forca, acolá se arma uma gui- lucralivo, de preferencia á união por
ainda arrefecer fé que anima e impelle lhotina, além está um pelotoão de armas
para a luta os nossos camaradas. amor.
à cara?...
Victimas d'um domínio que repousa Não convém ao egoismo especulador
Repare a lei nos fructos da sua obra. do burguez, que a humanidade cumpra
sobre um systhema estupidamente igois- Allente no numero de executados depois
ta, requintadamente autoritario, somos livremente as legitimas tendencias da
da carnificina de Chicago, e admire como, sua natureza. Tudo subordinado ao l u c o !
forçados a colloear-nos fóra da lei, a per- apezar de tudo, era actos successivos se
seguil-a na pessoa dos seus representan- E assim temos na alimentação insufficien-
vai vingando a memoria d<i5 nossos mar- : te e na copula sem amor, duas causas
tes e defensores. tyres. E cada um a quem vez toca, apre-
Arroga-se a lei o direito de nos mas- da degenerescencia humana.
senta-se firme e ousado em frente do Como se fórma a familia na sociedade
sacrar, de nos dar á morte em públicos instrumento que o vai victimar; nem uma
espectáculos, porque dispõe da força e burgueza? Já o dissémos: por um con-
supplica, nem um pedido de misericór- tracto interesseiro, em que um dos côn-
de innumeros meios para nos alcançar? dia:—ao contrario, apregoam a sua fé
Faça-o, prosiga na sua obra, que a nós juges é sacrificado até ao martyrio da
ainda no momento do sacrifício, e procu- alma, ao aborrecimento da vida, quando
assiste o direito da defeza; por nossa vez ram transmittir, num ultimo grito, as
utilisaremos os meios que temos. A lei, os dois não se deram as mãos com mu
suas crenças e o seu valor aos compa- tua repugnancia dos s e u s corações.
executando-nos, vinga a sociedade oflen- nheiros que sobrevivem, para que os si-
dida pelos nossos ataques—nós procura- Ao casar-se, a mulher perde sempre
gam na obra por que morrem. Olhem Pal- com a sua virgindade, a sua liberdade,
mos vingar os nossos camaradas, antes las, olhem Vaillant, olhem Henry, olhem
perseguidos apenas porque francamente, e o homem se não fica privado dos seus
todos!... direitos de solteiro e antes adquire a mais
lealmente, proclamam e incitam á revol
Sublimes! Tão sublimes quão ridícula o de poder violentar a mulher ao seu
ta contra o systhema social que nos es-
e cobarde é a lei, a tremer de medo á capricho, faz o tormento e o desespero
cravisa, e depois levados ao patíbulo por-
simples ideia d'um pequeno cartucho de da sua existencia inteira, sacrificando
que responderam as-aggressões brutaes de
dynamite, apezar de todos os seus meios quasi sempre a paz do seu espirito.
que são alvo com a propaganda pelo fa-
de defeza, de todos os instrumentos que E que isto assim é, torna se fácil pro-
cto.
possue para nos dar a morte. vai o aos que, por teimosia malévola ou
A adopção da dynamite não teve ou-
Santiago!empresta á lei os teus ossos... irreílexão não querem a c r e d i t a m o s .
tra origem que não fosse o despotismo
Sarosão! faculta-lhe a caxada de burro... São diversas as circumstancias em
da lei, o livre arbítrio da autoridade,
para ver se se fortalece, se não treme que a familia se constitue, sob as mes-
mas dadas as circumstancias em que essa
amedrontada, que nós preferimos morrer mas condições á face da egreja e do co-
lei e essa auctoridade collocaram a ques-
na luta a sermos victimados pela tisica, digo.
tão, a dynamite tornou-se um elemento
consequência do trabalho demasiado, sem Primeiro caso: A mulher so teira, mais
de defeza necessário ao anarchista, como
conseguirmos o necessário para viver. exposta á calumnia que a mulher casada,
á lei o estão sendo a tortura, a forca a
guilhoti na, os fuzilamentos, emfim, as recorre ao casamento para manter inta-
bayonetas dos exerc.itos, compostos de es- O militarismo ó a escola do crime. cta a sua reputação. E que em vez de a
poliados que, dada a sua carência de edu- proteger aos ataques da seducção, a so-
cação intelleclual e embutecidos pelos Hamon. ciedade nega lhe os meios de viver, aban-
rigorismos d'uma disciplina que enver- dona-a nas exigencias das suas necessi-
gonha, acceitam inconscientemente o tor- dades aos horrores da lucla pela existen-
píssimo papel de perseguidores e algozes
cTaquelles, cuja obra visa á conquista da
A FAMÍLIA cia, despreza-a na maternidade e trata-
lhe os filhos como escravos, pondo-os
liberdade humana, a emancipar o homem fóra d a lei, se o pae os não reconheceu.
dos ridículos preconceitos que determi- ii Resulta d'aqui achar se a mulher pobre
nam a divisão de classes, e por conse- desesperadamente collocada entre a pros-
quência a existencia de famintos, reme- Amar, isto é, prender a vida a outra tituição e o casamento vantajoso.
diados e opulentos. vida, pela impressionabilidade dos senti- As filhas dos proletários, andando mais
dos e afinidade dos sentimentos, é uma expostas aos abusos dos seductores e mal
De resto, bem o vêem os senhores da
necessidade psicologica tão exigente, ganhando no árduo trabalho das oíficinas,
Jei, os sustentáculos da moralidade bur-
como as necessidades physiologicas de para matar a fome, entregam-se á pros-
gueza—a sua obra é nulla para conter a
comer e dormir. Saciando a fome, o in- tituição.
2 Conquista do Bem

As burguezas e aristocratas sem for- a mulher e o homem idênticos no sentir diram com falsas promessas de amor uma
tuna, creadas na ociosidade e no luxo, da alma e e no proceder dos inslinclos?! rapariga de fortuna ou enganaram a uma
resolvem-se pelo casamento. Para se ga- Temos mais ainda, e é que, nos tres velha rica.
rantir o seu.bem estar material — facto casos citados, a màe desce do pedestal «O elegante oretendente— é Nordeaux
vulgarissimo—a mulher pobre entrega-se de respeito e santidffde em que a collo- quem falia agora — acolhido com estima
pelo casamento ao homem rico que o seu cou o idealismo poético, por deixar de em todos os salões, que nas marcas do
coração detesta, llludido pelos falsos sor- educar a filha nos castos princípios do colillon dá caça a um rico partido, fa-
risos da noiva, casa-se o homem, vindo amor, equiparando-se às alcoviteiras, que lando á herdeira com olhos húmidos e
pouco depois a reconhecer com amargu- perseguem as filhas desprotegidas da inflexões melifluas de vós, reúne os seus
ra pelas exigencias caprichosas da espo- miséria, propondo-lhes a venda do corpo. credores no dia seguinte ao de núpcias
sa, que eila só pensa em si, nas suas E já que falei do papel de mãe na e desfalca a esposa no dote que recebeu;
toiletles, em bailes, thealros e passeios. sociedade hurgueza. ahi vae um trecho este elegante é nm malandrim tal e qual
S>gundo coso: Homens pobres tendo surprehendf nte e esmagador de verdade, o souteneur em quem o proprio agente
um titulo nobiliarchico, um bacharelato, que nos permiltimos traduzir do livro de de policia tem repugnancia de tocar».
um capelo, uma posiíão na politica, para Max Nordeaux—Les mensonge convencio- «Uma rapariga que se vende para
se crearem uma vida commoda e des- neis de riotre civitisation: (1) sustentar a velha mãe ou o filhinho, está
preoccupada, fazem cerco amoroso à her- «Uma mãe que lodo o mundo tem por moralmente collecada acima da virgem
deiro miilionària d'um negociante, indus- muito honrada, julgando se ella própria pudibunda, que sóbe ao leito conjugal
trial ou agiota. O burguez vaidoso, aspi- de costumes muito austeros, apresenta á por um sacco de libras, para satisfazer a
rando ao respeito d'um meio considerado filha um pretendente rico e esforça-se frivola avidez dos bailes e excursões ás
superior pelo convencionalismo social, por triumphar sobre a natural índifferen- thermas».
julga ennobrecer-se, tornar-se grande, ça da pequena, com babeis exhortações Bastante temos dito alé aqui e se não
aparentando-se com o pretendente da fi- e preceitos d'este genero: «Será loucura provamos o que queriamos, que nol-o
lha e depois de convenientemente dotada, repellir um partido vantajoso, sera alta- demonstrem os escriptores burguezes.
cede-lb'a. Seduziu a o lucro da impor- mente imprudente esperar uma segunda Muito mais lemos a dizer, mas por
tância. Neste caso, a burguezita foi leva- occasião, que provavelmente não se apre- agora, b a s t a . . . K. d'A.
da ao casamento pelo desejo de se elevar sentará; uma rapariga deve pensar pra-
ás suas eguaes, de se aristocratisar e ticamente e desobstruir a cabeça de to-
experimentar os prazeres da vida mun- das as loucas historias romanescas.» N O S
dana. 0 marido gosa-lhe o dote e ella A esta mãe modelo — q u a n t a s conhe- A Propaganda, depois de noticiar o
diverte-se. cemos nós, andando com as filhas á offer- nosso apparecimento diz que pelos nomes
Terceiro caso: Homens sem posição, ta, pelos passeios, theatros e bailes — a citados no artigo — Ao que vimos, pôde
descendentes de gente rica, acostumados esta mâe modelo, é que Max Nordeaux parecer que a Conqw'sta toma logar en*
ao viver regalado e que liquidaram as chama alcoviteira. O nome é duro, mas Ire os nossos camaradas communistas.
heranças no jogo e na orgia. Querendo é verdadeiro, por isso o aceitamos, mui- A palavra — anarchista, unicamente
garantir-se um futuro, longe da cadeia e to embora se irrite contra nós o senti- sob posta ao titulo, indica que nós acom-
do hospital, estes vadios da alta roda, mentalismo hypocrila da poesia burgueza. panhamos cs do resto do paiz na sua at-
instruem-se na arte de seduzir, vestem-se Nem todas as verdades se dizem, pre- tilnde simplesmente anarchista. Citando
a primor, perfumam-se, frizam se, dão-se ceitua a moral burgueza. Tende paciên- os nomes de Kropolkine, Reclus e Grave,
maneiras galantes e percorrem os salões cia, que a nossa moral é outra, mais não quizemos dizer que fossemos d'esta
da burguezia à caça da mulher que mais pura, mais sa^ pois fundamenta-se, como ou d'aquel!a escola, mas sim que espa-
vantagens lhes offereça. poderosamente o estabelece J. S. Guyan, lharemos seus escriptos, como meio da
Perseguindo-as calculadamente, en- o notável philosopho, no instincto uni- propaganda.
ternecem-nas até ao amor, e se a mãe versal da vida, e só a verdade nua e Cem isto também não queremos dizer
não cede e o pae reage, raptam nas. Para crua esclarecei á os espíritos e destruirá que não sejamos communistas, porquanto
salvar a honra da família, o burguez dota a ma fé que pondes em comprehender-nos. cremos que a sociedade futura será com-
a filha e apressa lhe o casamento com. o Dissémos atraz, no primeiro capitulo munista, attendendo a que o communis-
raptor. Pobre d'ella que d ahi a pouco se d'este artigo, que a prostituição era uma mo representa no estado actual da scien-
desillude, chorando a liberdade que per- consequência da familia. Realmente, se cia a solução mais perfeita e compatível
deu, emquanto o marido abusa da sua, a familia não fosse o resultado d'um con- com a anarchia.
desperdiçando lhe o dote com amantes tracto, se não se baseasse na especula- Os princípios communistas são, para
de acaso. ção, isto é, se o regimen capitalista de nós, os mais racionaes e os que mais
Os tres casos que apresentamos, sof- que ella faz parte importante, desappa- se coadunam com a sociedade anarchica;
frendo diversas variantes que a seu tem- recesse, dando lhe Dm; a mulher sentin- porém, anarchistas ha que fundam as suas
po mostraremos, crmprehendem quasi do se independente e assegurada na satis- ideias no collectivismo.
na sua totalidade—-ninguém o ignora— fação de todas as suas necessidades, caso A nósso ver, o collectivismo não pôde
os casamentos realisados na sociedade não tivesse um homem a quem se unir, ser pr-aticado senão numa sociedade onde
burgueza. Em todos esses casos que evi- não precisaria de prostituir se para viver. haja leis e auctoridades. Pois como será
denciamos claramente e expomos á cri- Já que aqui chegámos, respondei-nos possível, sem isso, arbitrar as compensa-
tica dos falsos moralistas para que os lá, oh moralistas sem coração. Qual é ções ao trabalho?
contradigam, se d'isso são capazes, o re- mais degradante para a dignidade hu- Não terá de haver um jury com am-
sultado final é o adultério, que a egreja mana, a familia ou a prostituição? A pros- plos poderes para julgar dos merecimen-
e o codigo esquecem como coisa fútil se tituição entendeis vós, sem nos poder tos e assiduidade de cada um?
o homem o commetteu, considerando-o dizer porquê. Pois quanto aos anarchis- Ainda que esse jury seja escolhido
um acto deshonroso e,condemnr-vel se tas— lapae os ouvidov oh gente honrada livremente, não representará elle a de-
foi a mulher que delinquiu num arreba- — é a familia, que tendo por base um putação, e portanto a abdicação da nossa
tamento de amor. contracto redunda em negocio, emquanto autonomia individual? E os que por in-
Boinita moral, não ha duvida. 0 ho- que a prostituição, tendo por causa de- dolência natural, fraqueza phisica ou de-
m e m , por simples goso sensual, trahe a terminante a fome, é um meio de vida, fi;iencia do intellecto, não poderem tra-
mulher a cada momento, não tendo ella legitimo, doloroso para quem o exerce, balhar em proporção egual aos mais for-
—oh pobre escrava!—o direito de revcl- mas nunca abjecto aos olhos das almas tes, mais ágeis ou mais aptos para o pro-
tar-se na sua dignidade oflendida! puras e sãmente anarchistas. ducção?
No entanto, se a mulher sentiu o des- Repellis a mulher que nas vielas se en- Comludo não queremos dizer que —
prezo do marido e cedendo ao capricho trega ao primeiro que lhes paga e sois visto pensarmos assim — deixaremos de
irresistível do seu amor por outro, o vós os primeiros a entregar as filhas aos propagar as ideias dos colleclivistas, com
trahiu, cobre-a a sociedade de vergonha que, desejando gosal-as, as compram por que muitos anarchistas concordam. Por-
e desprezo! Revolta se a dignidade do um dote. que cremos, que paia utilidade da pro-
homem, que a insulta ou lhe cospe e a Causa-vos nojo o sovlenevr e no en- paganda, os anarchistas portuguezes se
mata! Todos o applaudem, todos o lamen- tanto apertaes a mão a mulheres de ho- devem confessar simplesmente — anar-
tam. mens, que para viver sem cuidados illu c h i s t a s — e não pugnar por esta ou por
Mas que moralidade é a vossa, bur- aquella escola.
(1) Livro digno de ler-se. Anarchista na
guezes desalmados, que estabeleceis uma É o que fizemos e estamos resolvidos
observação, se mal que socialista nas conctu-
dignidade especial para cada sexo, sendo a fazer.
3

SOFFRAMOS! Nem uma só e s p e r a n ç a vos resta nes-


te mundo desordenado e vil. Só a a n a r -
divinos ao deixarem esta v i d a , sempre
cheia de indecisões e receios.
chia, destruindo a auctoridade, falia sem Ainda não ha muito, morreu em Lis-
mentira às vossas aspirações. Se as não boa um conego que, quando a febre ain-
A tome é d e s e s p e r a d o r a , a miséria i realisaes desde j á , que importa, fóra com da lhe não tinha inutilisado a razão, disse
enosme, nos bairros pobres ignorados da ; o egoísmo, e se t e n d e s de soffrer luctan- para o parocho que lhe ia ministrar um
opulência. Pelas ruas vagueiam creanci- do, sacrifxcae-vos até ao maityrio, na sacramento: «Guarde isso p a r a os papal-
las quasi nuas, imperlrando a caridade p r e p a r a ç ã o do futuro cheio de bem, em vos, collega, p a r a nós não tem valor».
publica; nas vielas e s c u r a s , r a p a r i g a s que que hão de viver os que vos s u c c e d e r e m . Mas não fallarão mais alto que as pa-
podiam ser mães e dedicadas companhei- SolTrer assim, é um consolo! lavras proferidas num momento de dolo-
ras dos homens, g a n h a m o pão vendendo roso sofTrer, as obras feitas com todo o
o corpo; aos calabouços policiaes são re- o
s a n g u e frio, pedsadaraente, no pleno uso
colhidos diariamente dezenas de famintos, No futuro comprehender-se-á mais facil-
mente a sociedade sem governo do que a socie- das faculdades mentaes. por esses ho-
lançados ao m u n d o por acaso, batidos de mens que a e g r e j a p r e t e n d e contar no
dade governada.
despreso pela sociedade q u e lhes nega n u m e r o dos s e u s convertidos?
Proudhon.
conforto e auxilio, deixando os e n t r e g u e s
Não serão eternas? Não t e r ã o p a r a a
ás reclamações da fome e do frio, não
educação dos nossos filhos o valor nue
lhes consentindo que as satisfaçam pelo
O S C O N V E R T I D O S tiveram p a r a as nossas?
roubo, legitimo direito dos que nada teem,
Triste espectáculo nos offerece quem
e m q u a n t o outros tudo possuem em ex-
se não sente com o apoio sufflciente p a r a
cesso.
se sustentar no poleiro falso do reaccio-
Todo este p e n a r doloroso, de almas Cantam victoria os p a d r e s e os caro- narismo d e n t r o do nicho da comedela e
que se corrompem, p r o v é m d ' u m a eausa las quando um homem que durante a sua coberto pelo baldaquino da mentira e do
única, exlranha á vontade dos que o sof- vida foi um revolucionário racionalista, obscurautismo.
frem. um r e n e g a d o do rebanho de deus, ao
Vejamos onde está essa c a u s a . desprender-se-lhe o ultimo fio da exis-
A sociedade egoísta, garante por acaso, tência se mostra arrependido e se con-
à farta como se g a r a n t e a si, o viver sem
necessidades das creanças que p e d e m ,
v e r t e , clamando contra o seu passado, e
na duvida da immortalidade da alma,
TTT
•••
das mulheres que se vendem e dos ho- implora ao supposto deus perdão p a r a as O Conimbricense, em artigo de fundo
mens que roubam? Cuidou d'elles, d'esses blasphemias qne lhe tem dirigido e que do n.° 4 : 8 7 3 , depois de fazer a historia
desherdados e doentes, illuminou-lhes o lhe aceite o arrependimento como sincero da causa determinante das lutas absolu-
espirito de sciencia, encheu lhes a alma e expontâneo. tis a-liberaes, como demonstração de que
de virtudes, facilitou lhes o alimento e Cantam victoria, e, s e m p r e que pódem este paiz se não compõe apenas de servis
todos osj gosos da v i d a ? Não. Pelo con- — no púlpito, no livro, em toda a p a r t e , palacianos:
trario, crescendo de ambição, quanto emfim—apontam com e m p h a s e estas ma- «O palacio real acha-fe, na forma
mais se consolidou n a felicidade da ri- nifestações de conversão, p r e t e n d e n d o do coturno, cheio de aulicos; e por
queza, mais se esquece dos pobres cabi- com ellas d e m o n s t r a r que o atheismo é isso o rei está cercado de lisongei-
dos na voragem da miséria. um e r r o d e que mais tarde nos a r r e p e n - ros que lhe não dizem a verdade.
Para que se irrita então contra a fome Pois dir-lh'a-emos nós aqui, como
demos! cidadão livre, e para seu governo
e não permitte aos desgraçados que as- Citam-se casos, é certo, mas d ^ l l e s —Timbre se vossa mageslade que não
pirem á fartura? Por si e pelos seus jor- o maior n u m e r o , deixam duvidas, pela pôde haver rei sem nação mas que pô-
n a e s — o Século democrata sempre á fren- suspeição d a s pessoas, que os aflirmam: de haver nação sem rei.
te na g u e r r a aos famintos — a sociedade | Victor Hugo, dizem, quando muribundo, Quein tem ouvidos que ouça.»
não deixa passar um dia sem apontar o | declarou que cria em deus; Voltaire, con-
Está claro que não poderá ouvir q u e m
mal à policia, pedindo-lhe severa repres- tam, morreu tendo recebido todos os sa- não tiver ouvidos. Mas é pindarica e s t a
são contra os mendigos, os gatunos e as c r a m e n t o s , e de muitos homens, conhe- t i r a d a ! . . . E os s e u s effeilos ?
mulheres fáceis. Quer passear à vontade, cidos pelas suas ideias anti-religiosas se Os da republica caiem de c o c a r a s ,
sem tropeços de creanças chorosas a apregoa ainda o a r r e p e n d i m e n t o na hora mãos ao vento e olhos fitos n'Elle. E pelo
embaraçarem-lhe os passos, quer dormir extrema. visto o seu orgão oíficial não mais 0 bel-
a noite socegada. E a policia p r e n d e e a Mas essas citações, por v e r d a d e i r a s Iiscarà. Se começa a moslrar-se da cor...
lei condemna! Estão cheias de gente que as aceitemos, o que provam? Consti- Os da monarchia parecem d e s a p o n t a d o s .
cadeias e os cofres policiaes trasbordam tuem, p o r v e n t u r a , attestados de r e t r a t a - Espreitam n'Elie um jacobino moderno e
de dinheiro com que as meretrizes andam ção consciente, sentida, feita sob um per- quedam n u m a espectativa a s s a r a l h o p a d a .
s e m p r e a comprar a sua liberdade per- feito funccionamento cerebral?
dida a cada hora. Mas que ideia tão r a t o n a — J a c o b i n o , o
Quando o soffrimento é superior á s r . Martins de C a r v a l h o ! . . . Pôde lá ser!
No entanto, a mendicidade cresce de força h u m a n a , o homem desfallece, perde —E o respeito pela debandada do assi
dia para dia, a prostituição alastra se e a razão, o q u e r e r , a noção do que foi, gnante?! Se não fóra esse f r a c o . . .
os roubos não cessam. da acção e de valor que imprimiu à Mas não se assustem os conspícuos
Temos, pois, que a causa do mal não crença que o animava, ao ideal que pro- sustentáculos da constituição. Ainda que
está no proprio mal, como os burguezos pagou. o sr. Martins de Carvalho faça a republica
querem e os seus joitnaes apregoam. A O moribundo é a s s i m . . . não verão desapparecer na c o r r e n t e os
mendicidade, o roubo, a prostituição são É num tal estado q u e o assaltam os seus queridos privilégios.
os effeilos, e a causa é bem visível, pa- adeptos da e g r e j a para lhe a r r a n c a r e m Da republica portugueza serão dignos
tententeando-se na organisação economi- , confissões e aetos de conversão, que elle
ministros Marianno de Carvalho e Emy-
ca e social, na falsa moralidade d ' u m a pôde fazer, mas c e g a m e n t e , sem con- dio Navarro e todos os Emygdios e Marian -
philantropia ostentosa, no direito infun- sciência, sem poder medir-lhes o valor nos que hão dominado nesta F a l p e r r a .
dado da posse da terra, das habitações, e o alcance. E^ses heroes, depois que o sr. Martins
das machinas, dos productos, da instru- Positivamente, é nestas condições que faça a republica, pactuarão com os j o -
cção, da liberdade e da justiça, pela mi- hão convertido os atheistas q u e ouvimos cobinos de hoje, com os que lhes c h a -
noria dos homens que, ao abrigo da lei p r é g a r r e n e g a r a m suas c r e n ç a s à hora mam nomes feios por dever de officio, e
/ a r m a d a , impõem a fome á maioria, se ella da m o r t e . todos, em fraternal convívio, s e r v i r ã o a
se arroja a pedir o seu quinhão. Nunca a coacção estúpida que os pa- communidade burgueza.
Haverá perversidade egualavel à d'es- dres p r e t e n d e m e x e r c e r sobre o muri- Pela aflinidade de princípios e de fins,
ta sociedade tôrpe, mais criminosa que b u n d o teria conseguido levar a desdi- republicanos e monarchicos p r o s e g u i r ã o
um carrasco? | zer-se um homem que conscientemente na obra de e m p a r a r o senaculo b u r g u e z ,
Deibler, mata num momento, a bur- | tivesse p r é g a d o o atheismo. No pleno uso que continuará vida socegada, até que
guezia supplanta-o em c r u e l d a d e , matan- das s u a s .faculdades mentaes r e p u d i a r i a neste pntz, que se não compõe apenas de
do lentamente com fome. a doutrina do p a d r e e expulsaria de junto servis palacianos, appareça algum segui-
Horroroso viver o do pobre: se p e d e : do leito quantos p a d r e s se lhe a s s e r c a s : dor de Vaillant que se lembre de os so-
correm-no, expulsam no, se rouba con- sem p a r a tal fim. bresaltar.
demnam no, aviltam-no se é mulher e se Poderíamos citar, p a r a fazer pendant,
vende. Só então p o d e r á haver motivo p a r a
1 religiosos q u e r e n u n c i a r a m os consolos apertos de v e n t r e .
2
Conquista do Bem

A insubordinação militar ca se condoe dos miseráveis que matam a


fome com a peor tspecie de comestíveis,
Eliseu Reclus

e então resolveram negar-se a tomar o Este incansavel propagandista do anar-


rancho. cliismo publicou, diz o Século, uma caria
A obediencia é o sustentáculo da so- A balbúrdia devia ser enorme, os re- negando a autenticidade d'um artigo fal-
ciedade burgueza. ceios dos oflíciaes ao ouvirem rosnar a samente assignado por elle, onde se com-
É a obediencia que a burguezia por canalha certomenle os fez iremer, e como batia o aclo praticado por Emilio Henry.
todos os modos nos préga, em tudo e por não tivessem outro meio mais promplo
tudo; obediencia de lodos os feilios e ta- de abafar o pronunciamento tralaram de,
Outra bomba
manhos—nas leis, no púlpito, no confes- pela ameaça, fazerem entrar na ordem
sionário, na imprensa, sem cessar, por- os sublevados, chegando mesmo a pren- No dia 21 de maio ultimo foi encon-
que reconhece que se a grande massa der um corneleiro que lançou ao chão a trada na avenida Noel, prédio n.° 17,
popular se convence do que vale e do sua ração no momento em que por elle i . ° andar. Paris, em frente da porta da
q u e pôde quando souber que é á obedien- passava um official. casa do abbade Garnier, uma bomba de
cia que deve os males que soffre em toda Resultado de tudo: melhoria do ran- dynamite. Não chegou a explozir. O por-
a sua longa vida de trabalhos, correrá cho, corneteiro solto, official condemna- teiro conseguiu apagar-lhe a mecha e
com lodos os que se arrogam autoridade do a não mais ser rancheiro, provando- Irazel-a para o paleo do prédio, despe-
que não fundam em principio algum na- se com isto que, quando o escravo ergue jando sobre ella alguns baldes d'aguã.
tural ou racional. a fronle com altivez, faz curvar submissa
Qual será o direito com que um ho- a do senhor.
mem conlirma em si o poder de mandar Fallae alto e desobedecei para serdes Os Barbaros
os outros, quando é certo que é em tudo obedecidos.
naturalmente egual, feito da mesma mas- Valente corneteiro que vos salienlas- Intitula se — A Boa Nova o primeiro
sa, de carne e osso? E quem é que racio- tes neste movimerilo Ião sympalhico, opuículo d'esta publicação, que breve-
cinando o pod;ria investir de cargo tão aprendei a tocar a unir, não para irdes mente será encetada. O 'seguiíiie será
odioso? massacrar o povo quando se rebella con- talvez — A Sociedade Futura.
Ninguém que lenha dois dedos de tra a oppressão, mas sim para, com os vos- A publicação comprehenderá opuscu-
tesla allieiaria voluntariamente de si, para sos camaradas tomar as armas e cumprir los originaes e traduzidos e será feita em
delegar noutro, o poder de se governar. o dever sacralissimo de vos libertardes, series, de modo que cada uma fórma um
Seria um crime. abandonando as casernas e deixando esse volume sobre assumptos idênticos. O pre-
Se a burguezia tem conseguido até serviço abominavel onde vos matam á ço regulará a 10 rs. por 8 paginas.
hoje suslentar-se nessa posição, se tem | fome e onde lendes o papel odioso de es- Toda a correspondência deve ser di-
sustentado com disciplina os seus exer- teio da pútrida sociedade burgueza que rigida a—Augusto Fernandes — Rua dos
cilos, se tem conservado os trabalhado- vos avilta e se serve de vós como re- Ferreiros (a Sanla Catharina), 26, 2.° —
res subjugados ao seu império, não é senão pressores da liberdade dos vossos seme- Lisboa.
pela deficiencia calculada da instrucção lhantes—fusiladores de vossos paes, de
que lhes faculta ou do t-empo resumido vossos irmãos, de vossos filhos.
Original retirado
que lhes concede para a sua educação. Ajudai-nos na conquista do Bem e se
Por isso noutro dia, no jornal o Fígaro, reis finalmente livres. Por absoluta falia de espaço somos
de Paris, em um certamen para a defi- forçados a retirar alguns artigos entre os
nição da anarchia, um escriptor se quei- q u a e s as traducções que principiámos
xava de que essa ideia era produzida em o numero passado.
pela instrucção e x c e s s i v a . . . Echos & Noticias
Sim. Dilicultae, resumi a educação
litterRria ao povo, conservae-o no obscu-
rantismo, porque só ignorancia cobrirá
as iniquidades do vosso regimen.
Villa Nova de Gaya

Alguns industriaes tanoeiros, entre


Conquista do Bem
Se a instrução fosse abundantemente C A D A N U M E R O 10 R É I S
espalhada, ha muito que os opprimidos elles Monteiro de Lima, eslão fazendo
e os espoliados teriam reconhecido a jus- odiosos abatimentos no preço da mão de A cobrança será feita por series de
tiça da cau>a que propagamos e saberia obra. 10 números, com o accrescimo do porte
cumprir o seu dever estabelecendo a Os operários teem-se até aqui sujei- do correio.
egualdade entre todos os homens — e ai tado resignadamente, ficando reduzidos Aos camaradas que possam encarre-
d aquelles que se recusassem a acceilar á mais extrema miséria, mas, segundo gar-se da distribuição da Conquista do
e.-sa convenção sublime, porque teriam nos consta vão tomar outra altitude con- Bem em cada localidade, pedimos a fineza
de se submetter a bem ou a mal. tra semelhante exploração. de se nos dirigirem, afim de evitarmos
0 soldado é o symbolo da obediencia, —As companhias — Vinícola e a dos as despezas do porte do correio.
cega, incondicional, automalica, e com Vinhos do Alto Douro, eslão explarando Pedimos às pessoas a quem enviamos
medo ás leis oppressoras e ao jugo ferreo muitíssimo os seus operários. Estas com- o jornal o favor de nol-o devolverem,
com que é tratado, soffre os maiores ve- panhias exigem que elles trabalhem du- caso não queiram auxiliar-nos com a sua
xames, recebe os mais amargos insultos, rante mais horas que em outra qualquer assignalura. t

passa as mais acerbas repressões, e atu- casa. Na dos Wanzeleres jà ha muito que A correspondência será dirigida: Rua
ra, e calla-se, e treme, e submelte se á se trabalha somente durante 8 horas. da Louça, n.° 80, 2.°— Coimbra.
voz retumbante de quem o commanda. —Teem sido despedidos de diversos
Foi assim que, num d'estes últimos armazéns muitíssimos operários, na sua
maior parte empregados no engarrafa-
dias, se suffocou, consta, uma especie de
insubordinação no quartel d'infanteria 23,
por causa do péssimo rancho que era
mento de vinhos. Calculam-se approxi-
madamenle 700 homens sem trabalho,
Bibliotheca anarchista
distribuído ás praças. visto que difficilmente encontrarão occu
O official—um mísero, pelo visto e à pação onde exerçam a sua actividade. A minha defeza, de Eliévant. 30 réis
vista—encarregado do serviço de ranchei- O resultado será a feme se não sou- A lei e a auctoridade, de Kro-
ro, com a mira no egoismo de poupar berem prover-se dos mantimentos que os potkine 40 réis
alguns cobres em beneficio não sabemos armazéns avaramente encerram. O Salariato. de Kropotkine . . 30 réis
de quê, fazia economias profundas no A Revolta, 2. a série, 44 núme-
alimento dos soldados, dando-lhes uns ros 400 réis
Sirva de exemplo
míseros feijões a nadar em uma marmita Pedidos a A Propaganda, — Travessa
meia de agua chilra. Na Westphalia ha uma villa de nome de Sanl'Anna, 27 — Lisboa.
Jà fartos de passar privações (e quem Warslein, cujos habilantes nunca paga-
sabe quanto tempo tomariam aquelle mi- ram um real de imposto municipal. To-
serável alimento), viram os tristes que das as despezas são largamente pagas EDITOR—Antonio José da Costa
esperar pela melhoria era tempo baldado, com o rend : mento do córte de madeiras
porque a consciência d'aquelles que tem a d'uma vasla floresta pertencente á com- Typographia e Administração
barriga cheia dos melhores acepipes nun- muna. R u a d a L o u ç a , n . ° 8 0 , 2.°
ANNO I Coimbra, 10 de Junho de 1894 N.° 3

A N A R C H I S T A

s e r v i r como m a c h i n a s de exploração, é
DE ATALAIA seja contrario á Natureza, a Sciencia, á
Justiça. É por c o n s e q u ê n c i a — a Liberdade simplesmente indigno. Por isso nós acon-
selhamos, aos que teein fome, que em
na sua a c e p ç ã o mais lata.
É consolador ver q u e , não obstante o Por ventura poderá nm povo encon- vez de andarem de porta em porta a ve-
descredito que a inlolerancia b u r g u e z a trar na sociedade republicana ou socia- charcm-se, a esmolar de quem só os in-
procura l a n ç a r e fazer valer sobre o a n a r - lista a sua completa autonomia? Não, por- sulta ou lhes dá com a «paciência», e os
chismo, se nota já e n t r e nós uma tal ou que, para stiffocal-a, lá e s t a r á prompta a m a n d a para a cadeia, se apoderem da
qual tendencia para a sua acceitação. lei e a a u t o r i d a d e . q u e necessitam e a que teem incontestá-
Digam o q u e disserem da anarcliia; Conclamam sábios"burguezes que não vel direito. Exploram os durante o pe-
e m p r e g u e m todos os meio-; que a imagi- pode haver sociedade sem leis, sem au- ríodo em que trabalham, não os sus-
nação lhes suggerir," p a r a guerreai a; en- toridades. Puro engano. «Outr'ora — diz tentam quando seccos e peccos, sem suc-
f o r q u e m , g a r r o t e m , fuzilem, a s s a s s i n e m , Krcpo!kine—a h u m a n i d a d e viveu séculos co algum para as s a n g u e s u g a s b u r g u e z a s
legalmente os nossos c a m a r a d a s , q u e ain- e scculos sem ter lei escripta, ou sim c h u p a r e m , e por isso é justo q u e quem
da assim a Anarchia t r i u m p b a r â . Nada plesmente g r a v a d a em symbolos ás por- lhes comeu a c a r n e , lhes roa o osso —
lhe p o d e r á sustar a m a r c h a . tas dos templos. N'essa época as relações lancem, pois, mão do alimento onde o
Nas altas regiões, a atmosphera de e n t r e os homens eram reguladas por sim- e n c o n t r e m , j á que lh'o negam, á mão ar-
corrupção que envolve tudo e lodos; a de- ples hábitos, costumes, usos, que a con- mada inclusivamente, porque se não es-
p r a v a ç ã o moral q u e se acceniua e evi- stante repetição tornava veneráveis, e que tiverem p r e v e n i d o s com meios de defeza
denceia em cada acto dos senhores que cada um adquiria d e s d e a infancia, como contra os que lhe negam o único r e c u r s o
m a n d a m ; o m u r m u r i o dos d e s c o n t e n t e s e aprendia a adquirir alimentos pela caça, dos famintos, acontecer-lhes-á o que agora
despeitados pondo a descoberto as tor- pela creação de g a d o s e pela a g r i c u l t u r a » . succedeu a um pobre velho, do logar do
pezas da administração; o credo seguido Não devemos e s q u e c e r que a nossa Sobral, q u e , cheio de fome, colhia numa
— c a d a qual arranja-se; o bacillus—anda escravidão provém da lei e da autori- terra algumas favas p a r a satisfazer as ne-
em v o g a — d e s m o r a l i s a d o r , que corrompe dade e que por isso se torna mais e mais c e s s i d a d e s do seu sustento, quem s a b e
e d e p r a v a todos os oariidos poli ticos, sao n e c e s s a r i a — p a r a conquistar o bem geral ha quanto tempo contidas. 0 proprietário
outras t a n t a s c a u s a s que fazem duvidar — a Revolução Social, a Revolução Anar- ou um seu servo, vendo o desgraçado a
muito da s e g u r a n ç a do estado actual de chista, porque ella conduzirá a humani- violar a sua h e r d a d e , sem q u e r e r saber
coisas sociaes. dade a uma situação harmónica, em que se elle teria ou não o estomago vasio,
os individues viverão livres e indepen- num requinte de malvadez inqualificável,
Por isso nós, a n a r c h i s t a s , devemos
d e n t e s — sem luta, sem autoridade, sem atira-se lhe rancoroso e p r o s t r a - o p a r a
estar de atalaia e tirar todo o proveito
b a r r e i r a s , com urna só patria e na me- não mais se l e v a n t a r .
possível em beneficio das nossas ideias,
da especie de revolução que as d i f e r e n - lhor intelligencia. É isto: — se os pobres teem necessi-
tes parcialidades da communidade bur- A bem da p r o p a g a n d a e do nosso d a d e s , p a r a m a n t e r a sua existencia, e
gueza p a r e c e m p r e p a r a r e n t r e si, e em ideal, preparemo-nos, ponhamo-nos de p e d e m , r e c o m m e n d a m - o s á policia p a r a
q u e necessariamente hão de s u b v e r t e r - s e , atalaia e não desanimemos p o r q u e o fu- os melter numa prisão; se se apossam
num período mais ou menos longo. turo nos p e r t e n c e . d'aquillo que a natureza cria para todos
Podendo s e r s u r p r e h e n d i d o s pelos Atlendamos a que a burguezia divi- e de que não pódem p r e s c i n d i r , matam-os!
a c o n t e c i m e n t o s , devemos e s t a r precavi- dida em parcialidades, cada qual alvi- E fallam-nos de caridade, phylantro-
dos, devemos e m p r e g a r desde já todos os trando o seu systema, se d e p a u p e r a e pia, bondade burguezas, sem attenderem
esforços p a r a tirar d e l l e s a maior somma e n f r a q u e c e . Sigamol-a na crise porque a que tudo isso é poeira lançada aos olhos
de vantagens para o desenvolvimento da passa e tiremos dVlla os frutos que po- dos que a não sopram para ver melhor.
ideia anarchista, fazendo conhecer ao demos e devemos colher. A caridade existe ha muitos séculos e,
povo que essa revolução, em que republi- com tão longa existencia, ainda não conse-
canos e socialistos se e m p e n h a m , n u n c a guiu acabar com a miséria qne cada vez se
t e r á como resultado a conquista da intei-
ra liberdade humana, q u e , para ser pro-
ASSASSINOS! alastra mais espantosa e m e d o n h a m e n t e .
0 b u r g u e z é mais partidario de Milthus,
fícua e dar resultados qne aproveitem aos No p r i m e i r o numero d ' e s t e jornal re- que não reconhece aos pobres logar no ban •
e s c r a v o s de hoje t e r á de obedecer ao ferimo-nos a uma local publicada por um quete da vida, d o q u e mantenedor da aliaz
plano preconisado por Kropotkine, Reclus periodico d'esta cidade, queixando-se e, falsa caridade aconselhada pela religião.
e outros p r o p a g a n d i s t a s scientes e con- pedindo r e p r e s s õ e s p a r a a mendicidade. Aquelle homem morreu viclima do
scientes de a n a r c h i s m o . Clama-se nella contra a pobreza, e os egoismo b u r g u e z . Não é, então, sómente
A perfeita liberdade, a completa eman- meios que se apontam p a r a a debellar é r e s p o n s á v e l por este a<sassiuio o mise-
cipação do homem, é incompatível com pedir providencias â policia. rável que lhe tirou a vida, mas sim toda
os princípios p r é g a d o s pelos sectarir.s da Faitos de saber que a policia só re- essa sociedade que tem por ba^e da sua

t republica ou do socialismo; se a elles p r i m e , mas não remedeia, não dizem quaes constituição a posse privada d'aquillo q u e
obedecer a futura revolução, o povo não as v e r d a d e i r a s causas da i n d i g e n c i a m e m d e v e ser de todos.
t e r á conquistado a Liberdade, s ó m e n t e o modo de evital-a. Os r e s p o n s á v e i s também sois vós, oh
m u d a r á de systema, continuando sujeito E no e n t a n t o , o que seria razoavel, trabalhadores eternos, que nunca conse-
a idêntica autoria, e por consequência a senhores defensores da burguezia, era de- g u i s a garantia do vosso futuro, pela inér-
todas as p e r s e g u i ç õ a s e humilhações em monstrar que a pobresa é o resultado da cia cobarde em que vos c o n s e r v a e s à
que a m a n t e r á o novo Estado — republi- péssima e iníqua organisação d ' e s t a so- vista de todas estas a t r o c i d a d e s .
cano ou socialista—burguez nos seus fun- ciedade, onde só é considerado com di- A razão está do vosso lado —não ha-
damentos. reito â vida quem tem dinheiro. veis de morrer de fome q u a n d o a t e r r a
A perfeita e completa Liberdade não Aconselhar a prisão p a r a os que de- produz em demasia o n e c e s s á r i o p a r a
s e r á possível senão numa sociedade anar- r a m , e m q u a n t o poderam t r a b a l h a r , o mais alimentar toda a h u m a n i d a d e .
chista. A p a l a v r a — A n a r c h i a synthetisa a precioso do seu s a n g u e em proveito das Revoltae-vos, fazei g u e r r a aos assas-
negação mais completa de todos os do- b u r r a s dos que os exploraram, sómente sinos que assim vos pagam todas as fa-
g m a s em que se fundam as sociedade-; p o r q u e depois de velhos e inutilisados digas, todos os sacrifícios que fazeis em
na actualidade, é a negação de tudo quanto pelas constantes fadigas, j á não pódem seu proveito.
2 Conquista do Bem

SENTENÇA CONDEMNATORIA Do valor d'e II as é fácil ajuisar saben-


do-se que somente o militarismo, escravo
Haverá s e m p r e criminosos, mataes
hoje um a m a n h ã a p p a r e c é r ã o dez. Que
da disciplina, defende o governo e o con- fazer então? d e s t r u i r a miséria, e s s e g e r -
selho de g u e r r a . Por quasi todas as r u a s me n do crime, a s s e g u r a n d o a todos a sa-
Os p r e t e n d i d o s chefes da revolução das povoações sicilianas estacionam for- tisfação das suas necessidades! Quanto
siciiiana foram finalmente j u l g a d o s pelo ças militares, de armas c a r r e g a d a s , para isso seria fácil de fazer! Bastaria pôr a
conselho de g u e r r a de Palermo, que pro- abafar as manifestações. sociedade sobre bases novas, onde tudo
feriu a seguinte sentença: Este e outros rigorismos hão provo- fosse c o m m u m , e em que, produzindo
Giuseppe de Felice "Giuffrida, de 34 cado represalias, dando-se e s c a r a m u ç a s cada um segundo as suas aptidões e as
annos, d e p u t a d o socialista, 16 annos de e effecluando se prisões, mas o movi- suas forças, podésse consumir segundo
prisão p o r excitar o povo á g u e r r a civil, mento de revolta que a senlença mais as suas n e c e s s i d a d e s .
e mais seis annos de detenção por cons- veio e x a c e r b a r , eslende-se a toda a Italia, Então não se v e r á mais gente como
piração, p e r d a do logar de deputado, in- e o socialista Andrea Costa declarou o ermita de Notre Dame de Grace e ou-
terdicção p e r p e t u a p a r a e x e r c e r qualquer n u m a reunião effectuada em Bolonha oue tros, mendigar um metal de que elles
c a r g o publico e dois annos de vigilancia p r o v o c a r á a agitação legal alé tornar ine- se tornam e s c r a v o s e victimas! Não se
policial. vitável a amnistia dos c o n d e m n a d o s . Nesta verão mulheres vender amor como uma
Pelrina Nicoló, de 30 annos, publicista, mesina cidade foi lançada sobre um grupo mercadoria vulgar, por esse mesmo m e -
t r e s annos de detenção intcrdicção p e r - de policias uma bomba de dynamite, que tal que nos e m p e d e , a maior parte das
petua para o exercício de c a r g o s públi- não chegou a explodir. vezes, de r e c o n h e c e r m o s se uma affeição
cos, e dois annos de vigilancia. Suppomos que este seria o melhor é v e r d a d e i r a m e n t e sincera. Não veremos
Benzi Caetano, de 45 annos, dois an- a r g u m e n t o que os revolucionários italia- mais homens como Pranzini, Prado, Ber-
nos de detenção, e a m e s m a interdicção nos deveriam oppôr á obra de Crispi, land, Anortoy e oulros que s e m p r e por
e dois annos de vigilancia. tendo o cuidado de alcançai o. metal chegam a ser assassinos! Isso de-
Verro Bernardino, de 27 annos, pro- Opponham a dynamite ás bayonelas. monstra claramente que a causa de lo-
prietário, doze annos de prisão, a m e s m a — Seja assim, visto que assim o q u e r dos os crimes é s e m p r e a mesma e que
interdicção e dois annos de vigilancia. Crispi e o seu governo — olho por olho, é preciso ser muito insensato p a r a a não
Montalto Giacomo, de 30 annos, advo- dente por dente. ver.
gado, dez annos de prisão, egual inter-
Sim, repito o: é a sociedade que c r i a
dicção e dois annos de vigilancia,
os criminosos, e vós, j u r a d o s , em vez de
Pico Antonio, de 22 annos, e s t u d a n t e , s < > parlamento ? Ah, não me faltem n'isso.
E uma machina singular: mette-se um burro, os castigardes, deveis g a s t a r a vossa in-
cinco annos de reclusão, a mesma inter
sai um deputado; faz-se o deputado ministro, lelligencia e as vossas forças em trans-
diçcão e um anno de vigilancia. torna a sair b u r r o . . . formar a sociedade. D'uin golpe suppri-
Semelhante monstruosidade produziu Fialho. mireis todos os crimes: e a vossa obra
os seus n a t u r a e s effeitos. Protestos g e r a e s , atacando as causas seria maior e mais
manifestações de indignação u n a n i m e , fecunda do que a vossa justiça q u e se
traduzidas alé em apupos aos membros
do conselho, ás autoridades o mesmo ao PURAS PALAVRAS contenta de punir os effeitos.
Não sou mais de que um o p e r á r i o
proprio Crispi, p r e s i d e n t e do ministério
sem instrucção; m, s, por ter vivido a
italiano, às o r d e n s de quem o conselho
existencia dos miseráveis, sinto melhor
de g u e r r a p r o c e d e u .
(Conclusão) do q u e um rico b u r g u e z a iniquidade das
Assim se manifestou a opinião ao co- vossas leis r e p r e s s i v a s .
n h e c e r a s e n t e n ç a c o n d e m n a t a r i a inspi- Chegar-se-ha, sem duvida, a c o m p r e - D'onde vos vem o direito de matar
rada por essa entidade odiosa, no infa- h e n d e r mais r a p i d a m e n l e que os a n a r ou e n c a r c e r a r um homem que se encon-
missimo e m p e n h o de inutilisar homens chistas teem razão quando dizem que para trou no mundo com a necessidade de vi-
que julgou perigosos para as suas immu- se alcançar a tranquilidade moral e phy- ver e se viu forçado a apoderar-se do q u e
nidades, porque p r e g a v a m a i n s u r g e n c i a sica, devem d e s t r u i r se as c a u s a s que lhe era indispensável para matar a fome?
conlra as imposições do seu autorita- criam os c r i m e s e os criminosos: não é Trabalhei p a r a viver e para fazer vi-
rismo e s c r a v i s a d o r . Não foi outro o sen malando os que, dotados d'um c a r a c t e r ver os meus e no entanto, nem eu nem
timento que o animou á iniquidade que energico, preferem apoderar-se violenta- os meus, deixavamos de soffrer mais do
acaba de i n s p i r a r . mente do preciso p a r a v i v e r e m , a uma que é possível soffrer-se: eis ao que cha-
Se bem q u e o ideal porque trabalha- morte lenta, consequência das continuas mais ser honrado. Depois faltou me o tra-
mos seja diverso, nos seus fins, do que privações que soffrem e continuarão a sof- balho e com esta falta veio a fome. Foi
deu m a r g e m ao acontecimento de qi:e f r e r . O castigo que lhe dão, matando-o, enlão que esta g r a n d e lei da n a l u r e z a ,
tratamos, nem por isso a sentença de é p a r a elle um allivio. essa voz imperiosa que não a d m i l t e re-
Palermo se nos torna menos odiosa; tanto Eis porque commetti os actos de que plica: o inslincto da conservação, me le-
mais que a exclusiva intenção de inutili- me c e n s u r a m , o que são a consequência vou a commetter os crimes e d e l i d o s de
sar esses homens, a r b i t r a r i a m e n t e con- lo gica do estado barbaro d'uma socieda que me accusam e de que eu me confesso
demnados, sem p r o v a s concludentes da de que só sabe a n g m e u t a r o n u m e r o de aulor.
a c c u s a ç ã o de que os lizeram alvo, é pa- victimas da lei, lei qae se revolta contra
t e n t e a d a pelo seguinte caso: Julgae-me, senhores j u r a d o s , mas se
os eífeitos sem nunca castigar as c a u s a s . ine comprehendesteis, j u l g a n d o me j u l -
No começo do processo, o governo Dizem que é preciso ser-se cruel p a r a gareis todos os desgraçados de que a mi-
de Crispi indicava ao funccionario encar- matar um seu semilhanle; mas não veem séria, misturada com um pouco d ' o r g u -
r e g a d o de promover a accusação, a fór- que os que assim procedem só o fazem lho natural, fez criminosos, e de que a
ma por q u e devia p r o c e d e r . Esse funccio- p a r a evitar a morte de si mesmos. riqueza, mesmo um bem e s t a r , teria feito
nario, p o r é m , manifestou o seu d e s a g r a - Assim, vós, senhores j u r a d o s , ides pessoas honradas!
do por tal motivo, e como por fim se não sem duvida c o n d e m n a r - m e à morte p o r q u e Uma sociedade intelligente faria d ' e l -
mostrasse desposto a collaborar na obra c r e d e s ser uma necessidade a minha des- les homens como os outros.
de persiguição e n c e t a d a , negando se a apparição e t e n d e s horror de ver c o r r e r
p r o c e d e r facciosamente, foi mandado sub- s a n g u e humano, mas logo que j u l g a e s a Ravachol.
stiluir por um agente de inteira confiança minha morte util para a s s e g u r a r d e s a
de Crispi. vossa existencia, não hesiteis inais do Emquanto houver coisas que nào devem
Por si só, e s t e faclo evidenceia a per- que eu em fazel-o c o r r e r , com uma enor- existir, situações injustificáveis, instituições nas-
sonalidade de Chrispi e a moralidade do me differença: vós fazeil-o sem perigo cidas da injustiça, barreiras e cadeias para as-
seu governo, ao m e s m o tempo que justi- segurar a escravidão, é preciso reconhecer, em
algum, eu faço-o com risco e perigo da face de todos estes abusos, a existencia d'um
fica as manifestações de indignação pela minha liberdade e da minha vida. direito imprescriptivel de protesto e insurrei-
s e n t e n ç a e de sympaíhia pelos condem- Não ha criminosos a j u l g a r , mas cau- ção, porque nào se pode ter por sagrado e in-
nados, que o povo italiano vai fazendo, violável o que a humanidade, no seu conjuncto
s a s do crime a d e s t r u i r . Os legisladores, ou em grande parte dos seus membros, soffre
pensando j á em r e e l e g e r , nas próximas fazendo os codigos, não viram que não com horror e indignação.
eleições administrativas, o deputado so- a t a c a v a m as causas, mas simplesmente Ziégler.
cialista De Felice e erri propor os demais os effeitos e que d'esta maneira não evi-
c o n d e m n a d o s por differenles círculos, em- tariam o crime; com effeito existindo as
bora as autoridades invalidam os votos causas, s e m p r e os effeitos se lhe segui- Uma constituição é um perigo não é uma
que lhes forem dados. intia.
garantia,
rão.
Girardin.
2 Conquista do Bem

CORRESPONDÊNCIA por uma má interpretação de signal abor-


tou antes do tempo. Tiveram um encon-
Apoderando-se violentamente do que
carecem, succede que os ineltem na ca-
tro com os soldados, e os anarchistas que deia; reincidindo em pedir quer o do
intentavam apoderar-se do quartel militar, Commercio que os castiguem e ainda que
Companheiros da Conquisto do bem: tiveram 20 mortos por 190 feridos, e dos os prendam nos azylos;—d'um modo ou
Recebi o numero primeiro do vosso soldados nenhum morreu porque se oc- d'outro privatn-os da liberdade. Por que
periodico, o qual me agrada bastante já cultavam no quartel e atiravam pelas j a optar, então?
pela sua fórrna doutrinal como pelo seu nellas contra seus irmãos. Veja o iilustre indignado que estão
caracter revolucionário. «Agora ha mais de 2:000 presos, a esgotados todos os recursos, perdidas to-
Como elogio sómente vos direi: — maior parte com familia, e teem sido con- das as esperanças de melhor expediente.
Ávante e pelejar! demnados do 3 a 10 a n n o s e a muitos mais 0 trabalho, para os que ainda possam
Agrada-me immenso ver como lutaes d e 1 2 a 30. alugar os braços ao egoismo capitalista,
pela propaganda na lusitana nação e, «Como vês, é preferível ser fusilado! não abunda, e o que lia é miseravelmente
tanto é assim que desejava eslar ao vosso «Na Secilia o mesmo que em todas as pago; d'aqui resulta que os trabalhadores
lado para fazer com que os meus poucos parles do mundo; são arrastados e leva- vêem a fome, a miséria entrar-lhes em
conhecimentos fossem mais prestáveis á dos presos nossos companheiros anarchis- casa: — pedem por isso, e o Commercio
causa que defendemos—â Anarchia. tas, augmenlando dia a dia mais, um indigna se. Também nós, que desejáva-
Pouco vos direi nesta primeira carta, medo indescriptivel nos burguezes, fazen- mos vel os mais avaros dos seus direitos
porquanto, de actualidade ha sómente o do um singular contraste com a nossa á vida.
que transmiti á Pro-pagunda, de Lisboa. coragem — cada vez com mais força gri- E o remedio—asylos—apontalo pe'o
Pelos numeras qce lenho recebido d este tamos: iilustre indignado, já não colhe.
apreciado collega vejo que ahi estão muito «Viva a Anarchia! Não é fácil metter os filhos no azylo
ao facto das questões que occorrem nesta «No dia 1 0 de maio fui preso com da infancia, porque abarrota de creanças,
africana Hespanha, posto que, a propósito sete companheiros mais e todos condu- esta cheio; o mesmo succede com o cha-
do assassinato dos seis martyres de Bar zidos ao quartel da guarda c M I , á pre- mado da mendicidade. Tal qual como
celona, a Propaganda lenha dito sómente sença do delegado, onde nos foi dada a acontece nos hospitaes, onde a doente
o que lhe communiquei em carta. liberdade ás 4 horas da tarde, sem ainda vai uma, duas, tres, dez vezes na espe-
Por esta razão é muito difficil o tra- termos almoçado!» rança de entrar, e d o n d e volta descor-
balho de correspondente. Como vèdes, em todas as partes do çoado depois de lhe terem dito: — Ainda
Rectificando a minha primeira carta universo succedem as mesmas orbilra- não ha cama.—e nos azylos—Ainda não
dirigida à Piopagonda, declaro que nos riedades e injustiças contra os anarchis- ha vaga.
números seguintes servirei mais de colla- tas. Em todas as partes o cinismo bur- E emquauto esperam pela cama ou
borador do que de correspondente, porque guez chega ao summunt, mas, como res- pela vaga, que morram, os tristes, á min-
vejo que em assumptos de Hespanha, es- posta se susteem valentes e energicos, e gua de recursos, que isso pouco vale
tão em tempo devidamente inteirados. da firmeza de ambos os lados resultara desde que não importunem os transeun-
É de mais dizer - porque lodo o mun- um choque final que acabará com tanto tes da tei ceira cidade do reino, e não pro-
do o s a b e - como foram fusilados os seis oprobrio e escarneo, estabelecendo sobre voquem a indignação d'estes camaleões
companheiros José Codina Junca, José bases novas, a Verdade, a Justiça, a Li- da imprensa burgueza.
Bemard Siderol, Manuel Archs Solanellas, b e r d a d e — a Anarchia. Depois, attenda o conspícuo alvitreiro,
Mariano Cerezuela Subias, Jayme Sogas não será um acto de deshumanidade, uma
Martin e N. Sabat Olle, no dia 21 do mez Vosso e da mesma, violência repugnante dividir uma familia
passado, na cidade de Barcelona. pelos diflerentes azylos, sómente porque
Já o disse na Propaganda — mal- Hespanha, junho dç 94.
lhe falta o pão que ali em casa do visi-
taram os nossos companheiros por serem El corresponsal. nho ha em demasiada abundância, pri-
anarchistas destemidos. Escusado será vando assim pae, mãe e filhos dos cui-
repetir como o lenho feito já milhares de dados e carinhos que mutuamente se
vezes—que havemos de os vingar, assim prestariam, vivendo juntos, como os ri-
Necessito viver e a sociedade nega-me este
como a todos os demais. direito; pois bem, organisemos uma novasccie- cos?
No dia 24 foram presos uma infinida- dade. As antigas sociedades começaram pela Se ha ahi tantos celeiros cheios, tan-
de de companheiros sem que se saiba o violência; ae primeiras tribus humanas eram
associações armadas Criemos uni novo mundo, tos armazéns repletos de viveres, a apo-
motivo, sendo conduzidos a bordo do dreecerem...
começando novamente a historia; a nossa so-
vapor Navarra, apesar da lei o prohibir. ciedade de bandidos será muito mais justa que Não se expropria um prédio ou abre
Mas como se trata de anarchistas não esta velha e despótica sociedade, em que os
mais nobres corações estão de antemão conde-
uma rua em nome da utilidade publica ?
se respeitam leis nem coisa alguma. Tudo
mnados á morte. Porque não hão de juntar-se os famintos
é licito.
Schiller. para abrirem esses celleiros e esses ar-
A circumstancia de ter sido guiiho i-
mazéns em nome das necessidades que
nado Emilio Henry, em Paris, no mesmo
os atormentam?
dia e á mesma hora que foram fuzilados
Seria uma utilidade publica, porque
os de Barcelona, faz crer que a união in
ternacional dos governos contra o anar-
Contra os pedintes... e cusariam de importunar os transeuntes,
e ainda de provocar as iras do iilustre
chismo é um caso de que não nos devemos
camaleão do Commercio.. .
importar, porque só conseguirão, accele- Agora é o Commercio de Coimbra quem Mas, reparamos agora:
rar o triumpho de nossos ideaes. põe em relevo o fncto assaz ve gonhoso, Elie, alvitrando que devem ser casti-
Em Zaragosa, hão intentado fazer de anilarem creanças a impoitunar os gados os que reincidam pedindo, quiz,
reapparecer El Rebelde, mas os impres- transeuntes, mendigando, de porta em sem duvida, belliscar o sr. Martins de
sores teem se negado a imprimil-o, se puta, a altas hi-rada noite. E tem muita Carvalho!
gundo me communicam os companheiros razão o iilustre Commercio pedindo cas- Sim, porque este senhor pede cons-
da capital de Aragon. Também me dizem tigo para os que, avisados pela primeira tantemente, pede sempre, não de porta
ter sido posto em liberdade, mediante a vez, reincidem. em porta, mas do pináculo do seu Co-
fiança de 900 pezetas, o companheiro que Pois é lá coisa que se tolere ? Com- nimbricense, para exercer a caridade á
fazia de director. prehende alguém que possa dar-se um custa da bolsa alheia, apanhar as bên-
Não sou mais extenso por ter de es- tão vergonhoso escandalo na terceira ci- çãos dos contemplados e crear fóros de
crever muito, pois que, ao receber da dade do reinoll alma car dosa.
féria me disseram que procurasse traba- Somos do mesmo parecer, indignado Não ha que ver, o camaleão do Com-
lho para a semana. Sem trabalho e com senhor; e tanto somos que não aconse- mercio quiz belliscar o do Conimbricense;
a companheira de cama ha perto de sele lhamos os famintos a que se vexem es- inveja, é claro, que aquelle tem do ter-
mezes, comprehendereis de certo em que tendendo a mão a caridade publica, nem reno que este ganha na conquista de bon
circumstancias me encontro. a que mandem os filhos importunar os nome, graças â massa dos seus leito-
Ia a fechar esta carta, quando recebi transeuntes com as suas supplicas; antes res.
uma outra de Ilalia em que me dizem: intendemos que deviam haver violen- Tivessemos reparado mais cedo. e não
«Não sei se saberás que em Carrara tamente, onde o haja, o que precisam gastaríamos o nosso tempo com o coisa.
4^000 companheiros armados se revolu- para viver, sejam quaes forem as conse- E que tal nos saiu o do Commer-
cionaram na noite de 13 de janeiro, mas quências que advenham. cio!!...
2 Conquista do Bem

El Corsário
C A R T A Eclios & Noticias Os nossos c a m a r a d a s da Corunha pen-
sam em tornar a publicar este jornal, q u e
Camaradas da Conquista do Bem: Pelo Algarve interrompeu, ha c e r c a de seis mezes, a
sua publicação. Para isso a b r i r a m u m a
Felicito-vos pela e n e r g i a de que sois Faro—N'esla localidade a crise e n l r e subscripção voluntaria na casa da r e d a -
dotados. Nunca julguei que vós, numa os soldadores é t e r r í v e l . Calculam-se, cção, calle Ooisan, 110—3.® piso.
t e r r a tão pequena podesseis contribuir actualmente sem trabalho, 150 operários.
p a r a a propagação de ideias tão boas e Ha cerca de nove mezes q u e muitos não
s a c r o s a n t a s . Emlim, a boa vontade pro- teem onde e m p r e g a r a sua actividade. Julgamento
duz muito em pouco tempo. Os operários estão reduzidos á mais ex-
trema miséria. Os j o r n a e s dizem que ainda este mez
A b u r g u e z i a grita em todo o universo
—Numa fabrica de cortiça, onde está se effectuará o julgamento da causa in-
contra os anarchistas e pede aos seus
um s r . Frederico, os operários são mal- s t a u r a d a contra Santiago Salvador Franch,
governos p a r a nos e x t e r m i n a r . Porquê?
t r a t a d o s , dirigindo-lhes aquelle s r . os José Prata Trilo e Antonio Alfaro Ginéz,
Por q u e r e r m o s a liberdade, a divisão da
epilhetos mais oITensivos. compromettidos no atlentado do l h e a t r o
p r o p r i e d a d e , a e g u a l d a d e , etc.
0 patrão da fabrica foi aconselhado a Lyceo, de Barcelona.
Conclamam q u e nós somos assassinos
e ladrões e por isso desejam ver nos na afíixar um edital dizendo que lodo o ope- Dizem mais q u e o delegado p e d e a
guilhotina ou num presidio para sermos rário que faltasse mais do que o quarto pena de morte p a r a Salvador e forte
e n v e n e n a d o s como o foi Barras e outros da manhã de qualquer s e g u n d a feira, ti- castigo para os r e s t a n t e s .
p r o p a g a n d i s t a s do c r é d o anarchista. Mas... nha de mulla p e r d e r a semana toda. Al- Pelo visto a b u r g u e z i a quer m a i s . . .
não importa. A nossa hora c h e g a r á ; vin- g u n s operários j á teem sido victimas de sangue.
g a r e m o s o» nossos martyres. mais esta prepotencia b u r g u e z a . Tudo lhe . . .Talvez o tenha.
p a r e c e pouco p a r a os e x p l o r a r . . .
Messines — Não é só em Faro q u e os La Alarma
Certos j o r n a e s da capital dizem que operários estão soffrendo as maiores pre-
o anarcliismo é uma loucura e q u e para potências dos burguezes. Também aqui. Esle nosso collega q u e se publicava
o exterminar devem os governos u s a r de Um operário trabalhava na rolharia de em Habana, acaba de r e a p p a r e c e r .
todas as r e p r e s s õ e s — d a c a d e i a , da bayo- Joanuim Thomé e foi por este despedido; Enviamos-lhe as mais vivas e sinceras
n e t a , do canhão, da e s p i n g a r d a m o d e r n a , mas como devia ao p a t r ã ) a quantia de saudações.
das patas da municipal, e de quanto es- 385 rs., este negou se a e n t r e g a r lhe a
tiver ao seu a l c a n c e — n ã o se lembrando f e r r a m e n t a . Foi preciso que seus os com-
q u e a força está do nosso lado, que nós
l e m o s a dynamite, a nitro-glycerina, o
punhal e n v e n e n a d o , e, sobre tudo, uma
panheiros abrissem uma subscripção p a r a
pagar a divida.
Se elle ainda não eslava satisfeito de
Conquista do Bem
fé inquebrantável na justiça da nossa o explorar d u r a n t e seis m e z e s . . . CADA NUMERO 10 RÉIS
causa e uma coragem n u n c a assaz des- A cobrança s e r á feita por series de
mentida na realisação do nosso i d e a l ! 10 números, com o accrescimo do porte
Arehivo Social
Sim!—fé e coragem, c a m a r a d a s , que do correio.
o futuro s e r á nosso! Sahiu o n.° 15 d'esta revista de So- Rogamos aos nossos c a m a r a d a s a fi-
Vós, b u r g u e z i a infame, não possuis ciologia e Litteratura, que se publica em neza de nos enviarem quaesquer infor-
n a d a d'isto. O que vós possuis é cobar- Ilabana (Cuba). mações ou escriptos, o mais t a r d a r , alé
d i a ! Com a i m p u n i d a d e que vos g a r a n t e Insere, além d'outros trabaihos, Juana quinla feira de cada semana.
o dinheiro, pretendeis diffamar-nos? O que y Dolores, novela inédita d'um distinclo Esperamos o auxilio pecuniário de
imporia, se a luz revolucionaria se vae litterato ingiez. lodos os q u e se interessarem pela propa-
espalhando por lodo o universo ? Temos Recommendamos esta publicação aos gação da ideia anarchista.
a certeza q u e havemos de e d u c a r os igno- c a m a r a d a s que conhecem o hespanhol. Aos c a m a r a d a s q u e possam e n c a r r e -
r a n t e s que tu, canalha, compras p a r a A correspondência deve ser dirigida gar-se da distribuição da Conquista do
nos m a s s a c r a r e a s s a s s i n a r . aos editores do Arehivo Social—Manrique, Bem em c a d a localidade, pedimos a fineza
Camaradas: — Façamos a p r o p a g a n d a 154—Habana (Cuba). de se nos dirigirem, afim de evitarmos
peia palavra, pela imprensa, e m q u a n t o as despezas do porte do correio.
não c h e g a a occasião de a fazermos pelo Pedimos às pessoas a quem enviamos
Na America
facto. Tenho a certeza de que não pôde o jornal o favor de nol-o d e v o l v e r e m ,
vir longe o dia em que a burguezia se Na Indiana e no Ohio os mineiros gré- caso não queiram auxiliar-nos com a sua
attemorisará. vistas incendeiam as estações dos cami- assignalura.
Emquanto a t e r r a não fôr de todos, nhos de ferro, fazem d e s c a r r i l a r os com- A correspondência será dirigida: Rua
e emquanto não deixar de haver auto- boios, e destroem as linhas. da Louça, n.° 8 0 , 2 . ° — C o i m b r a .
r i d a d e s e b a r r e i r a s , h a v e r á s e m p r e escra- — Deram se novos tumultos em Con-
vidão. nelton e Connelsburgo (Indiana), e n t r e os
É preciso reagirmos! grévistas.
Se vós, seus b u r g u e z e s , julgaes que,
cortando meia dúzia de cabeças dos nos-
—Em Cripple Creck (Colorado) os gré-
vistas m a n t e e m - s e na especie de entrin
cheiramento que levantaram em Buli Hill.
Bibliotheca anarchista
sos c a m a r a d a s , a ideia d e s a p p a r e c e r á ,
enganaes-vos por completo. A semente As mulheres e as c r e a n ç a s refugiaram se
e m logares seguros porque se espera o A minha defeza, d e E t i é v a n t . 30 réis
foi lançada á t e r r a ; nada obstará a que
alaque das tropas aos grévislas, que teem A lei e a auctoridade, de Kro-
ella produza. Por cada cabeça que dego-
em seu poder uns cincoenla refens e en- potkine 40 r é i s
laes, são mil b u r g u e z e s q u e tendem a
tre elles Wood, presidente de uma das 0 Szlariato, de Kropotkine . 30 r é i s
desapparecer.
maiores companhias h u l h e i r a s . Eslão tam- A Revolta, 2. a série, 44 núme-
Companheiros de Coimbra: vou termi-
bém de posse de uma peça d artilheria, ros 400 réis
n a r levantando um b r a d o de
400 carabinas, 800 revolvers e munições. Pedidos a A Propaganda — Travessa
Gloria aos Marlyres da anarchia! de S a n f A n n a , 27 — Lisboa.
Viva a Revolução Social! Varias companhias de c a m i n h o s de
ferro não teem outro combustível a não Consideraciones sobre el hecho y muerte
Viva a anarchia! de Pallds. Preço—Cada um segundo sua
ser m a d e i r a . Muitas industrias começam
Vosso e da Revolução a ficar p a r a l i s a d a s . voníade. 0 producto é p a r a a familia de
— Os grévislas que se a p o d e r a r a m , Pallas.
Lisboa, 6 - 9 4 . em Mackeesport (Pensylvania), das m i n a s , Pedidos á Conquista do Bem.
F. Soares. expulsaram d'ali o governador e a poli-
cia e espancaram os operários não syn-
dicados. Estão armados de e s p i n g a r d a s e EDITOR—Antonio José da Costa
Quizera que me indicassem na historia uma de ires canhões que metleram em bate-
mouarcliin que nào tenha sido fundada por um ria em frente da via ferrea pela qual deve Typographia e Administração
ladrão. chegar o comboio q u e traz a policia. Rua da Louça, n.° BO, 2."
Nobier.
ANNO I Coimbra, 29 de Junho de 1894 N.° 4

A N A R C H I S T A

GARNOT lhe causaram. E se lançou a bomba no


café Terminns, sem querer reparar em
A FAMÍLIA
quem lá estava, foi porque os executores i h
Estava convencido o supremo repre- da lei lhe ensinaram a M o reconhecer os (Conclusão)
sentante da lei que havia cumprido um que merecem castigo—prendendo e cas-
dever sagrado em dar uma satisfação de tigando todos os anarchistas em massa,
vingança á burguezia qhe representava, p i r causa d'um acto praticado por um só Deixamos sofflcientemente provado que
mandando a guilhotina os homens mais homem. a familia na sociedade burgueza se cons-
extraordinariamente corajosos e que se Finalmente, todos os nossos camaradas tilue geralmente d'uma maneira aviltante
revolucionaram em prol de uma ideia que teem sido perseguidos e condemna- para a dignidade dos esposos, quer seja a
fundada nas mais racionaes reformas so- dos são martyrisados por difundir as suas mulher que se venda para cumprir am-
ciaes, proclamadas pela sciencia, que se i d e a s q u e adquiriram com o uso da liber- bições e deleitar vaidades, quer seja o
occupa do bem da homanidáde, e assis- dade de pensar—liberdade a que lei al homem que a compre para lhe gozar o
tindo indifferente aos castigos mais seve- guma pôde pôr peias. corpo.
ros que se applicavam para reprimir até E Carnot —legitimo representante da Temos, pois, assente em demonstra-
as mais innofensiveis manifestações anar- justiça burgueza, trave mestra d'um edi- ções claríssimas, que o casamento não
chistas. fício social que impõe a escravidão—sem- passa d'uma operação commercial em que
A cada assassinato que a lei prat ; cava pre prompto a sanccionar com o seu no- os contratantes se exploram um ao outro,
a burguezia julgava se descançada e li- me ainfamia do assassinato legal d'aquel como dois negociantes associados que em
vre de novos sobresaltos, batia palmas les homens, e a approvar todas as vio- publico se mostram muito amigos, zelan-
de contente, apoiava as condemnaçõ?s lências praticadas para cortar o vôo aos do se desconfiados em particular. E tanto
e cobria de gloria aquelles que para lhe ideaes, dos que sómente pretendem aca- assim é, que os proprios legisladores, não
serem agradaveis como seus legítimos bar com o predomínio d'essa raça de ex- podendo comprehendel o d outra maneira,
representantes e defensores, mandavam ploradores que vivem na posse de todas ao fazerem o codigo civil chamaram ao
executar os que, revolucionando-se, só as riquezas e de todas as regalias á cus- casamento—sociedade conjugal.
faziam sacrifícios inexplicáveis afim de ta da miséria dos que trabalham. Podem objectar-nos que o casmento
ajudar a implantar o systema único da E nunca o presidente da republica nem sempre tem por fim o interesse, que
felicidade e liberdade humanas, heroes franceza reconheceu as acerbas maguas nem por isso destruirão os argumentos
renegados e desilludidos dos beneQcios easmiserias horriveisa que votava as famí- anarchistas a favor da união livre.
q u e a burguezia offerece aos que traba- lias dos que assun eram martyrisados á Entre a gente pobre, escravisada pelo
lham e aos miseráveis que teem fome. sua ordem. Nunca se condoeu ante as la- trabalho, são vulgares as uniões amoro-
Ravachol, se matou o ermita de Notre grimas de mãe. ou de esposa; nunca aquel- sas, que as condições da vida atribula-
Dame de Grace foi para com o dinheiro le coração verteu uma lagrima por tanto da e miserável, tornam em pouco tempo
que esse intruso extorquia aos fanalicos infortúnio. aborrecidas e desesperantes. Mas queria
sustentar muita existencia prestes a suc- .A sustentação da sociedade exigia- mos que por cada mil casamentos entre
cumbir á fome, foi para enchugar muita Ihe rigor, e elle procedia sem querer sa- burguezes ricos, nos apontassem um só
lagrima de desgraçados que não anteviam ber da justiça da causa que os condem- realisado por amor! Seria deflicil. No en-
linilivo para seus males, fei para soccor- nados defendiam. A penna não lhe tremia tanto, mesmo quando quizessem contra-
rer muita miséria que só tinha por alimen- na mão ao assign&r a morte de um ho- dizer a verdade dos factos que eviden-
to o esterco das ruas. mem.—Julgava-se invulnerável do alio da ciamos e que são do conhecimento de to-
E ainda assim só recorreu a esse ex- sua gerarchia social. Contava que nin- dos os que, por hypocrisia e. connivente
pediente depois que viu perdida a espe- guém o poderia castigar. solidariedade fingem despercebel-os, mes-
rança de o velho avarento attender aos A autoridade e a lei não querem re- mo quando nos podessem demonstrar com
seus rogos, preferindo guardar avara conhecer as causas do desespero dos seguros argumentos que a maioria dos
mente a bella fortuna que conseguira casamentos se faz por amor, nada prova-
miseráveis que enchameiam o mundo, ape-
accumular, a melhorar com ella a sorte riam em defeza da lei que violenta duas
nas se preoccupam com condemnar-lhes
dos famintos que agonisavam sem ter pão. pessoas a ligarem-se por toda a vida.
os e f e i t o s .
Todos os outros commettimentos que pra Por tudo isto Giovanni Santo, um ita- 0 anarchista quer livre o coração e
ticou, tiveram causa idêntica — guerra liano, vingou, apunhalando esse homem, a intelligencia humanas. Que cada um
aberta com esta sociedade que só reco- os assassinatos dos seus irmãos. se dedique ou aborreça, confie ou des-
nhece direito aos gosos da vida aos ar- É uma prova eloquentíssima de que creia, mas que nada se opponha à sua
gentados que vivem, como parasitas, do os anarchistas não reconhecem patrias vontade, coagindo o a acceitar o que de-
sangue do povo. nem nações; quando um camarada é of- testa, forçando-o a acariciar quem lhe
ú feito de Vaillant, lançando a bomba fendido pela lei de um dado- paiz, de to- repugna. 0 caração não obedece a impo-
na camara dos deputados, facto que mui- do o mundo se levantam punhos ameaça- sições. Se hoje ama, amanhã pode odiar,
tíssimos burguezes applaudiram, teve uma dores para o vingar. pois facilmente se illude, tomando por
alta significação — condemnar o papel Ás leis repressivas e perseguidoras afinidade de sentimentos, o que não pas-
que esses palradores desempenham, pa- que os governos de toda a parte, de mu- sa d'uma exaltação dos sentidos.
pel por demais odioso ao povo, que se tuo accordo, teem poslo em pratica, res- Quantas vezes só de se verem, ho-
vê obrigado pela força a sustental-os e a pondem os anarchistas com a união uni- mem e mulher, julgam amar se, e afinal
obedecer-lhes, porque se dizem seus re- versal de todas as suas forças. apenas se desejam. Saciado o desejo, ex-
presentantes, quando é certo que são  cobardia com q u e teem sido guilho- tingue-se a paixão. Á ternura succede-se
para alii mandados por meia dúzia de tinados, enforcados, fusilados os nossos o aborrecimento.
influentes políticos a quem convém a sus irmãos, oppõe-se o heroísmo, a abnega- Haverá hypocrisia mais vil, cruelda-
tentação do actual estado de coisas. ção sem igual dos que tudo sacrificam de mais ignominiosa que a da lei, obri-
Se Henry praticou os actos d e que para conseguir a realisação do seu ideal. gando duas pessoas que instinctivamente
briosamente tomou a responsabilidade, Veja-o a lei e poderá seguramente se repellem a permanecer em contacto
foi isso causado pelos rancores legítimos julgar dos fructos futuros dos seus actos por toda a vida?
que as condemnações dos seus camaradas de sanguinaria repressão. Dois amigos reuniram se num convi-
2 Conquista do Bem

vio intimo. Tinham génios differentes,


c a r a c t e r e s opposlos e um dia desavie-
r a m - s e . Como são livres na sua vontade,
le, emquanto nas uniões illicitas, homem
e mulher se respeitam muito mais.
Comparae o viver da g e n t e amigada
HESITAÇÕES
não p r e c i s a m de r e c o r r e r a ninguém p a r a com o viver da g e n t e casada, e observa-
q u e os s e p a r e . Põeem termo ás suas rela- reis que é muito mais d u r a d o r a a har- Tenho um amigo que e m p r e g a uma
ções, indo cada um p r o c u r a r uma nova monia e n t r e os amantes, que se deram g r a n d e vontade de c o m p r e h e n d e r a vida.
amisade. um ao outro voluntária e incondicional- Naturalmente aspira ao que é simples,
Mulher e homem j u n t a m - s e pelo ca- mente, que a harmonia entre os esposos g r a n d e e bello. Mas a sua educação al-
samento. Não se dão bem, vivem em con- que se casaram por i n t e r e s s e . gemada por uma infinidade de prejuisos
tinua dissenção. Elles bem sentem a von- É que nas ligações voluntarias e in- e mentiras, inherentes a toda a educação
tade de se a b a n d o n a r e m , mas como a lei condicionaes, a mulher e o homem dão- chamada superior, prende-o quasi sem-
restringe os motivos de separação, se os se um ao outro por uma atracção natu- pre nos seus vôos p a r a a libertação es-
não e n c o n t r a m de p a r t e a parle, sujei- ral de sentimentos, estreitando se tanlo piritual. Quer libertar-se completamente
tam se, conformam se. I mais, quanto mais se identificam nos s e u s das ideias tradicíonaes, das rutinas se-
São motivos de separação, segundo o desejos e pensamentos. N'estas circums- culares em que se affunda o seu espirito
codigo, sevícias, injurias g r a v e s e adulté- tancias a livre vontade dos amantes ga- e a seu pesar nào o pode fazer. Encon-
rio, com <pu sem escandalo por parte da rante a estabilidade da sua atTeição, o tramo-nos muitas vezes e conversamos
esposa, e somente com escandalo por que j à a lei, por impotente e convencio longamente. As doutrinas anarchistas tão
p a r t e do marido. nal, não pode estabelecer e n t r e dois es- calumniadas por uns e tão mal conhecidas
Mas a v e r d a d e incontestável, desdo- posos que se detestam. por outros atrahem-o, e a sua boa vontade
brada aos olhos de todo o mundo por fa- Alravez o desenvolvimento' dos cos- e n o r m e , senão a acceital as Iodas, peio
ctos innumeros, é que nem só aquelles tumes, a pressão das leis, assim como menos a concebel-as. Não crê, assim co-
motivos d e t e r m i n a m o mal estar dos côn- não poude reprimir o crime nos seus ef- mo crêem muitas pessoas da sua classe,
j u g e s em frente um do outro. feitos, por não saber combater-lhe as cau- que ellas consistem unicamente em fazer
Quantas vezes as condições de vida, sas, menos conseguiu impedir que a mu- ir casas pelos ares. Vê n'ellas peío con
a dinimilhança dos c a r a c t e r e s e a oppo- lher e o homem, casando-se, deixassem trario, n ' u m a indicisão que se dissipara,
sição dos desejos provocam as deshar- de e n l r e g a r - s e de per si a quem mais formas harmónicas e bellezas. Tem por
monias matrimoniaes, sem que, no entan- lhes a g r a d a s s e . ellas interesse que se n u t r e por uma coi-
to, os esposos, brandos por t e m p e r a m e n - Isto o que prova e o que prova tudo sa que se a m a r a , um pouco terrivel ain-
to, cheguem a sair de si para se trahi- quanto temos dito? Que são absurdas, da e que se teme por se não comprehen-
rem e maltratarem! despóticas e d e s h u m a n a s todas 3S leis der b e m .
E ainda quando o adultério, a injuria que se inventem com o fim de regula- 0 meu amigo leu os a d m i r a v e i s livros
e a sevícia p e r t u r b a m a paz domestica, mentar os impulsos do coração na varia- de Kropolktne, os elequentes, fermentes e
r a r a m e n t e vemos eflectuar se a s e p a r a - bilidade das suas tendencias e que só o sábios protestos de Eliséu Reclus, contra
ção; umas vezes porque r e p u g n a ao orgu- amor livre consolidará as uniões sexuaes. a impiedade dos g o v e r n o s e das socieda-
lho dos esposos a publicação dos s e g r e - A lei é nulla nos seus effeitos; pois des baseadas no crime. De Bakonine co-
dos da sua vida intima, outras p o r q u e supprima-se a lei, e que o homem e a mu- nhece o que os j o r n a e s anarchistas têm
sendo pobres não podem s u p p o r t a r as lher, com permissão exclusiva das s u a s publicado. Estudou Proudhon e Spencer.
despezas enormes e a p e r d a de tempo, v o n t a d e s , possam gosar a noite sobre o Recentemente a defeza de Etióvant com-
d e m a n d a s por um processo de dissolução mesmo leito, nos braços um do outro, de moveu-o. Tudo isto leva-o, por um mo-
conjugal. lábios colados em beijos de p r a z e r . mento, para as alturas em que se purifi-
No entanto, o b u r g u e z acceitando a ca a intelligencia. Mas de estas rapidas
Santo Antonio dos Olivaes, excurções atravez do ideal, volta mais
separação, apezar de lhe restringir os mo-
17 6-94. M. d'A. indeciso que n u n c a . Mil obstáculos, pu-
tivos, concorda até certo ponto com os
anarchistas, não admittindo como elles a r a m e n t e subjectivos, estorvam-no; per-
indissolubilidade da união sexual. A timidez coinpõe-se do desejo de agradar de-se n ' u m a infinidade de hesitações de
Entre nós, a lei, s e p a r a n d o os cônju- e do receio de não ser bem succedido. toda a especie, de que elle me pede va-
ges, não lhes permitte novas ligações. Anonymo. rias vezes esclarecimentos.
Mas não t a r d a r á muito tempo que a lei Ainda hontem quando me contava 03
Naquet, importada do codigo francez para tormentos da sua alma eu lhe disse:
o nosso, deixe os esposos depois de se-
parados, livres p a r a se casarem de novo
DEMONSTRAÇÃO — Grave de quem conhece a p r u d e n -
te e sã intelligencia, vai publicar um li-
com q u e m mais lhes a g r a d a r . Alguns c a m a r a d a s de Lisboa fazendo vro A Sociedade Moribunda e a Anar-
Acceitando o divorcio, a burguezia reparo nas palavras do numero 16 d' A chia. Este livro é uma o b r a p r i m a de ló-
franceza,. como muito bem diz o camara- Propaganda — os c a m a r a d a s conimbri- gica. É cheio de luz.
da Jean tírave (1), forneceu-nos «um ar- censes acompanham os do resto do paiz Não é o grito do partidario cego e fal-
gumento contra a estabilidade da familia, na sua altitude simplesmente anarchis- to de talento, nem o rufar de tambor do
pois que, depois de o ter repellido por ta, isto é, independente, livre do ex- propagandista ambicioso; é uma obra pe-
longo tempo, reconheceu-o, emfim, neces- clusivismo de q u a l q u e r das escolas eco- sada, pensada, a t r a s b o r d a r de rasão, é
sário, sendo certo que elle vem destruir n ó m i c a s — promovem u m a demonstra- verdade que d'um convicto, d'um que
a familia, q u e b r a n d o o casamento que é ção geral dos c a m a r a d a s sobre o assumpto tem fé\ mas que sabe, c o m p a r a , discute,
a sua sanção». visto que, dizem, não ser aquella a alti- analisa, e que, com uma clareza de cri-
Apesar de menos completo, o argu tude dos anarchistas portuguezes, que tica única, estuda os factos da historia,
mento d a simples separação, do codigo na sua maioria são comumnistas. A de- as lições da sciencia, os problemas da
portuguez, permitte nos que exclamemos monstração recáe sobre os seguintes pon- philosophia, p a r a c h e g a r ás conclusões
com o aposlolo da anarchia: «Que mais tos: que conheceis e de que se não pôde n e g a r
bella confissão a favor do amor livre po 1." — A attitude dos anarchistas por- nem a grandeza, nem a j u s t i ç a .
deriamos queter?! Pois não se torna bem tuguezes tem sido independente das 0 meu amigo interrompeu-me com
evidente a inutilidade de sanccionar com escolas economicas do anarchismo — co- vivacidade.
uma cerimonia, o que outra cerimonia mumnismo, colleclivismo e individua- — Não o nego. Sei que Grave quer
pode desfazer?!» lismo? por exemplo, a s u p r e s s ã o do Estado. Eu
E depois, nós vemos que foi impos- 2.°—Devem adoptar-se exclusivamen- apesar de mais moderado quero a tam-
sível em todos os tempos fixar sobre o te os principios de qualquer d ' e s s a s es- bém. 0 Estado pesa sobre o individuo com
mesmo objecto o amor do ser humano, colas, ou convém à p r o p a g a n d a da ideia uma força c a d a dia mais e s m a g a d o r a mais
por mais que o forçassem á obediencia em Portugal que elles se diffundam in- intolerável. Faz do homem que elle em-
da lei. Jàmais o c a s a m e n t o religioso ou distinctamente? brutece, uma m i s s a de c a r n e p a r a im-
civil conseguiu ou c o n s e g u i r á evitar que 3 . ° - - N ã o sendo assim, que doutrina postos. A sua missão única é viver d'el-
os esposos se atraiçoem; antes vemos economica se deve seguir? le como um piolho vive do animal em
que nas uniões legaes a traição é frequen- Um grupo de c a m a r a d a s vai dirigir- que crava os sugadoiros. 0 Estado rouba
se aos demais grupos do paiz, afim de ao homem o seu dinheiro miseravelmente
(í) La Socièté mourante e 1'anarchie. Livro ganho na grilheta o trabalho; sarcia-lhe
profundo e d'uma lógica invencível, que levou : que estudando-se e discutindo se, a ques-
Grave á prisão. O advogado de Q-rave chamou- t ã o , se accorde no caminho a seguir. a cada momento a liberdade com as suas
lhe o evangelho da anarchia. | Esperamos... j leis; atrofia lhe desde o berço as suas fa.
2 Conquista do Bem

culdades individuaes, ou falceia-as, o que


é o mesmo. 0, Estado é assassino e ladrão,
DE NOJO VISITA
Logo que o homem quer andar, o Estado
quebra-lhe as peruas; se estende os bra-
ços parte-lhos e se se atreve a pensar, Não foi possível á Gazeta Nacional, Bateram nos impetuosamente á porta.
o Estado toma-lhe o craneo, e diz-lhe- pelo estado de consternação em que ficou, Cerremos a abrir.
Caminha e pensa, por onde e o que eu cognominar o acto de Lyon, que leve Era a lei. Grave, carrancuda, num
te mandar». como resultado a mo; te de Carnol; tam- aplomb engraçadíssimo, envolveu-nos
—E depois? disse eu. bém pelo mesmo estado de consternação num olhar feroz, ameaçador.
O meu amigo contjnuou: não poude fazer divagações sobre o que Não nos encheu de espanto a sua vi-
A anarchia é pelo contrario a emanci- tenha sido o commettimeuto do homem s i t a ; também nos não tomou de surpre-
pação do individuo, é a liberdade do seu que feriu o presidente da republica, mas za. Se a atacamos sem rodeios, sem res-
desenvolvimento normal e harmonico. Po- promelte, logo que o socego do seu es- peito pelos seus faros de intangível, de
de-se definir assim: a utilisação espontâ- pirito lh'o consinta, fazer tudo isso e . . . presumir seria que um dia nos v i s i t a s s e . . .
nea de todas as energias humanas, es- mais alguma coisa. Sem a esperarmos, pois, suppunhamos
banjadas criminosamente pelo Estado! Sei Pelo mesmo estado de consternação que v i r i a . . . e veio. Ainda b e m . . .
isso e comprehendo a razão d'uma juven- pôz no seu artigo notas d.'uma graça in- Assim, olhamol-a indifferente, rece-
tude artística e que pensa,—a elite com- finda, que não salientamos em respeito bemol-a sem preoccupações; nem pensá-
trmporanea — veja com impaciência, le- á sua manifestada dôr. mos em inquirir-lhe a que devíamos a
vantar-se esta aurora esperada em que ella A nossa reverencia ante o seu nojo!!... honra da visita; ella ia falar.
destingue não só um ideal de justiça, Enviando-lhe pois a expressão da nos-
mas um ideal de belleza. Marte queixara-se-lhe de n ó s ; disse-
sa condolência, aguardamos impacientes ra-lhe que ousamos tocar-lhe commen
—E então? disse eu de novo. a sua denominação para o acto e as suas tando num caso, occorrido no quartel do
—Urna coisa me sobresalta e inquie- divagações sobre o que elle terá sido. 23, que as folhas ahi noticiaram numa
ta: o lado terrorista da anarchia, Repu blandicie toda susto, toda cautella, toda
gnam-me os meios violentos, lenho hor respeito hypocrita pelos galões reluzen-
ror ao sangue e á morte, e queria que tes dos filhos maiores d'essa deusa orgu-
O amor é sobre tudo o sentimento, antes
a anarchia esperasse o seu triumpho uni- do matrimonio; é sobre tudo uma funcçào, de- lhosa. E, lacrimosa, solluçante qual Magda-
camente da justiça do futuro. pois. Em biologia, o amor pode ser definido: a lena dorida, com o coração alanceado
— Credes então que os anarchistas forma r deologica da selecção. Em moral, o
amor é a fusão de duas almas. pela dôr pungentíssima que lhe accarre-
sejam bebedores de sangue? Não sentis lára o nosso desrespeito an'e a inviolabi-
a immensa ternura, o immenso amor da 0 Beldemonio. lidade de seus bem amados filhos, recla-
vida, de que está cheio ó coração, d'um mou á lei o nosso castigo. E a lei vai
Kropolkine! Isso são fatalidades insepa- castigar nos.
ráveis de todos os lutos humanos e con-
tra os quaes nada se p o d e . . . S i m ! . . . GRITO DE VICTORIA Tremam, pois, o ceu, a terra e o mar,
que sobre a nossa cabeça vai cair o lá-
e quereis que vos fjç.a uma comparação
tego furibundo da lei. Vamos ser esma-
c l a s s i c a ? . . . A terra está s e c c a f todas as
.Na segunda feira ultima á noite, os gados pela sua potentíssima força, redu-
plantas e todas as pequenas flores são
anarchistas de Lisboa affixarain nas es- zidos á expressão mais completa do NADA!
queimadas por ardente sol de morle;
quinas uns cartazes vermelhos, d i z e n i o Horror!
murcham, curvam-se, vão m o r r e r . . . Eis
o seguinte :
que uma nuvem fusca o horisonte avança
e cobre o ceu abrazado. Caem raios e a •

agua corre sobre a terra que estremesse. Emfim!


Que importa que aqui e acolá tenha
Ravachol, Vaillant e flenry estão vin- Pelo Commandante do regimento d e
derribado um carvalho enorme, se as pe
gados. infanleria 23 foi enviado, com officio, ao
quenas plantas que iam morrer, regadas
Os anarchistas pelo braço de Cesário agente do ministério publico da comarca
e frescas levantam as asles, e mostram
Giovanni acabam de fazer justiça. Foi de Coimbra o n.° 2 da Conquista do Bem,
as suas flores ao ar tornado calmo. .
morto Sadi Carnot, o presidente da re- apontando-se o arligo — Insubordinação
Vêdes nue não devemos commover nos
publica franceza. militar, publicado nesse numero, como
demasiadamente com a morte dos Carva-
Desengane-se a burguezia. 0 nosso incurso na penalidade prescripta no ar-
lhos v o c a z e s . . . Lêde este livro de Grave.
caminho está traçado : — Olho por olho, tigo. . . . tantos do codigo. Adoptou se o
Grave diz, sobre este assumpto coisas
dente por dente. procedimento criminal contra nós, e o
excellenles. Se depois da leitura d este li-
nosse editor foi intimado para prestar d e -
vro, onde são decentidas e alumiadas tan-
Viva á vingança! clarações, o que já fez.
tas ideias, se depois de o terdes pensado
como a uma obra d'este vulto intellectual, Abaixo a burguezia! Do que vai seguir se uma coisa se
não chegardes a crêr nas convicções Hurrah pela Anarchia! | apurará sem duvida — é que o caso que
slaveis e tranquillas, advirto-vos que mais apontámos se deu, mas que apesar d'isso
valerá rununciardes a ser anarchista e A policia foi avisada do que se pas- somos levados â barra do tribunal por
ficardes sendo o bom burguez, o burguez sava, e foi transmittida logo ordem para tel o feito publico.
«a seu pesar» que vós sois talvez . . todas as esquadras para serem presos os Apontar violências exercidas por maio-I
indivíduos que fizessem a distribuição ou res sobre menores, constitue um c r i m e e
Octave Misbeau affixassem os cartazes. a pratica de taes violências uma virtud
<> 0 cabo 513 chegou a prender seis — tal é a moralidade do credo burguez*
indivíduos hespanhoes, que se empre- E pois que assim é, visto como não
Do programma dos espaventosos fes- gam na venda de rendas, como suspei morremos d'esta — que, se morressemos,
tejos que ahi vão dar-se: tos de terem sido elles quem aflixaram outros se nos seguiriam — continuaremos
Por interferencia de Sua Ex " Rev.™» os cartazes. Foram apalpados, mas nada â disposição da lei.
o Sr. Bispo Conde, concedeu Sua Ex." lhes encontraram. Que ella nos não perca de vista, que
Rev. m " o Sr. Núncio Apostolico em Portu- A policia procura descobrir a typo- pela nossa parte são-nos gratas as suas
gal a graça de ser permittido comer de
carne na sexta feira, 6 de Julho. graphia onde foram impressos os mani- attenções.
festos e busca os seus redactores e affi- De resto, a lei viu nos, ouviu-nos e
A graça. . . lem graça. xadores. Pensa também em realisar uma sentiu que a maguamos. Bello pernun-
Fiquem stibendo as gentes que nem busca em casa dos hespanhoes. cio. Sómente nos molesta que tivesse
o sr. bispo nem ó sr. núncio—generosa Os presos foram já entregues á jus- ferido a nossa modéstia, procurando des-
e santa gente—levam coisa alguma pela tiça. Negam terem aflixado cartazes. tacarmos d'cssa imprensa mercante que
permissão — a graça é de graça, não ha ahi ganha a vida commodamente engra-
necessidade de comprar bulia. «s» xando botas altas e escovando casacas
Ora sr. bispo, mail-o seu núncio, faça finas ou fardalhões catitas; emtanto, nem
lá nisso. Tão árduo é plantar uma nova doutrina e por isso regatearemos á lei o nosso agra-
attrahir-lhe adeptos e proselytos, como é em-
Toda a gente come carne desde que baraçoso clesenraissal-a depois e substituil-a por decimento.
a tenha, sem precisar de suas taludas outro credo. Gratos até s e m p r e . . .
permissões. Visconde de Ouguella. Mais nada por agora.
2
Conquista do Bem

telegráficos, faz saltar todas as pontes dos objectivo fazer saltar os monumentos pú-
Echos & Noticias caminhos de ferro, rompe todas as com- blicos e a casa de residencia do presi-
municações entre as localidades. Assim dente C l e v e l a n o . . .
o governo, perdendo o fio das informações, Sabe-se o que são estas invenções pn-
Attentados perderá o fio da repressão, e não sa- liciaes—pretextos para prisões.
Na manhã de 12 do corrente foi en- bendo para onde enviar os seus quadri-
contrada por baixo das janellas do agenta lheiros, suicidar-se á».
de policia Roux, em Boulogne-sur-Mer, «Avante e coragem! Toma de assal- Na Sicilia
uma bomba explosiva. A mecha tinha si- to e desarma todos os postos de policia,
do apagada peio peso da bomba. incendia tribunaes, archivos, palacios Trinta mil operários das minas de
Algumas horas depois, foi preso o autor municipaes, e governos civis, quei- enxofre eslão sem pão. Ameaçam lançar
do attemado, um alfaiate chamado Cussey, mando todos os títulos e documentos de o fogo ás cearas, dizendo que, visto que
já de ha moito perseguido por causa das propriedade e quaesquer outros que lá elles eslão condemnados a morrer de fo-
suas ideias anarchistas houver. Toma posse de tudo . Tu com o me, querem que os outros soffram a mes-
* teu trabalho fizeste tudo; tudo deves por ma sorte.
Adolpho Brenner, tendo dito que se justiça desfrutar; tudo, em vez de anda-
havia de vingar de seu patrão Guilher- res nu e com fome.»
me Weyerlé, dirigiu-se a casa d'este ul- Pela Guiné
timo, na rua Blecker, em Williameburgo
(Nova-York), levando no bolso um rewol- Enlevado, um jornal diz estes «gran-
Contra Crispi des feitos que os portuguezes obraram»
ver carregado e duas bombas de dyna-
mite. ha pouco, lá pela Guiné.
Ha dias, quando Crispi ia para a
Guilherme Weyerlé estava rodeado da camara dos deputados Liétro Lega, anar- «Um marinheiro partiu a espingarda
familia quando Brenner se apresentou chista, disparou um tiro de rewolver na cabeça de um preto, matando-o estan-
e fez fogo primeiro sobre o dono da contra a c a r r u a g e m . taneament.
casa que recebeu uma bala na roupa. Os Crispi ficou illeso, Lega preso, lamen Depois do saque foi a povoação incen-
filhos mal tiveram tempo de fugir. tando não o haver matado. diada, sendo morta a tiro uma feiticeira
Accudiram os agentes de policia. 0 cega, que apareceu à porta de uma cu-
anarchista, ao ver-se preso, desfechou buta.
um tiro de rewolver na bocca mas só «É costume dos indígenas d'Africa cor-
Supprimido tarem a cabeça de i n i m i g o s . . . Alguns
conseguiu ferir se.
Nos bolsos de Adoipho Brenner encon- Foi 4si>!0 Umano nosso confrade de S. dos marinheiros chegados hontem trazem
traram-se duas bombas carregadas de dy- Paulo, Brazil. orelhas «cortadas d'essas c a b e ç a s . . . »
namite, tendo a mecha prompta para ser . . .Na republica do Brazil, que apre- Demonstração flagrante da nobre va-
accesa. Declarou que era seu intento goa aos quatro ventos liberdades... lentia e alta civilisação da burguezia que
matar o patrão e toda a familia com o É para não d e g e n e r a r . . . concorrem em suas p e s s o a s . . .
rewolver e depois fazer-lhe saltar a casa
por meio das bombas.

Gréve
El Corsário
Este nosso confrade, espanhol, acaba
Conquista do Bem
Os mineiros escocezes annunciam que de publicar uma folha solta, em que, mais CADA NUMERO 10 RÉIS
se porão em gréve brevemente. Esta uma vez a f i r m a as suas convicções anar-
gréve mineira, a mais importante das chistas. A cobrança será feita por series de
que tem havido na Escócia, attingirá a Dirigintio-se aos companheiros anar- 10 números, com o accrescimo do porte
força de 70:000 homens. chistas, deseja, que todo aquelle que te- do "correio.
nha algum dado, alguma prova dos rnar- Esperamos o auxilio pecuniário de
tyrios infligidos aos nossos camaradas, a todos os que se interessarem pela propa-
Meunier communique a J. Monlseny, Nollas, 1, gação da ideia anarchista.
Reus, por isso que, vai publicar um fo- Pedimos às pessoas a quem enviamos
0 anarchista Meunier que se refugiou
lheto, em que mostrará o modo como o jornal o favor de nol-o devolverem,
em Londres e cuja extradicção fóra re-
hão sido tratados nossos companheiros caso não queiram auxiliar-nos com a sua
clamada ao governo inglez, chegou a Pa-
que teem sido encarcerados, e de que assignatura.
ris e foi encerrado na Conciergerie.
não ha exemplo na historia das tiranias. A correspondência será dirigida: Rua
0 folheto será distribuído grátis, ad- da Louça, n.° 80, 2.°—Coimbra.
Ao povo mitlindo em pagamento o que a vontade
e os meios de cada um permitia. O pro-
São de um dos manifestos dos camara-
das italianos, encimado por estas pala-
v r a s — Ao povo de lta'ia, estes períodos:
duclo será para as famílias dos Ires com-
panheiros que succumbiram aos barbaros
tormentos e para as dos seis ultimamente
Bibliotlieca anarchista
«0 odio contra todas as injustiças que assassinados.
te fazem soffrer teus patrões e senhores,
não deve ser a única arma com que de- ,4 minha defeza, de Etiévant. 30 réis
ves resolutamente combater. Não. Tu não Gréve dos chapelleiros A lei e a auctoridade, de Kro-
de^es combater sómente por vingar-te, potkine 40 réis
esmagando os que lançam na miséria as Continua em Lisboa, a gréve dos operá- O Salariato, de Kropotkine . . 30 réis
tuas famílias. Não. Tu deves combater rios chapeleiros da fabrica de José Ignacio A Revolta, 2. a série, 44 núme-
por uma ideia, por um fim, que deves da Costa. Os operários estão resolvido3 a ros 400 réis
ter na consciência e cuja convicção de- manterem-se na sua altitude, não que-
ves sentir no coração. rendo ceder n j n h u m a das suas regalias. Pedidos a A Propaganda — Travessa
Os grevistas teem reunido todos os dias, de Saut'Anna, 27 — L i s b o a .
«A ideia de transformação social, o
escopo final da emancipação existe e é procurando a adhesão não só dos operá- Consideraciones sobre el hecho y muerte
«a Anarchia» —-sociedade sem governo, rios chapeleiros de Lisboa, como do resto de Pallds. Preço—Cada um segundo sua
povo em liberdade. É por ella que tu de- do paiz e do estrangeiro. Foram jà re- vonlade. 0 producto é para a familia de
ves combater. cebidas adhesões dos operários chape- Pa llás.
« . . .Depende de ti o seres livre e in- leiros do Porto. Pedidos á Conquista do Bem.
dependente.
Escreve aos teus filhos soldados para
desertarem; imoede os outros de se apre- Conspiração EDITOR—Antonio José da Costa
sentarem em armas. Não pagues mais
contribuições. Armado como podéres, sai Os jornaes referem boatos de ter sido
resolutamente ãs ruas para combateres
Typographia e Administração
descoberta uma conspiração anarchista
o s teus espoliadores. Corta todos os fios na cidade de Washington, que tinha p o r Rua da Louça, n. 8 80, 2.°
M y t M S F E S T O

U P O A N A R C H I S T A DE C O I M B R A

Está inaugurada em Portugal a época de remos a contrariedade que a sua obra, muito aos quatro ventos, á guisa do balão d'ensaio
perseguição ao ideal anarchista, e é em Coim- indirectamente, nos acarretou. a sua informação, com a mesma facilidade com
bra que apparecem as primeiras manifestações O medo que se apossou dos proprietários que apregoa as suas virtudes e excellencia de
d'essa perseguição. das lypographias de Coimbra, alliado ao odio merecimentos, á falia de quem lh'os reconhe-
A Conquista do Bem, pelo visto, maguou que nutrem pelo ideal que defendemos, levou-os ça. Terá altingido ou conseguirá altingir o seu
a lei e mereceu-lhe a dislincção de responder a fecharem-nos as porias. Não temos um único fim? Veremos.
com um processo ao artigo — Insubordinação que se preste a compôr e imprimir a Conquista A'cerca de embaraços, temos conversado;
militar — publicado em o n.° 2 , e com outro do Bem, vendo-nos, por isso, forçados a sus- — a coisa, para nós vale tanto como o sr.
ao artigo — Carnot — publicado em o n.° 4. pender temporariamente a sua publicação. Marlins, todo encadernado na sua prosapia de
Suppomos terem sido inspirados, o primeiro Secundam assim a obra da lei, cuja mira incomparável. Da falta de documentos que
pelo commando do regimento de infanteria 2 3 , é o desapparecimenlo da Conquista, a que se s. ex." diz ler havido, a verdade é que, ao ser
e o segundo pelo commissariado de policia move uma guerra insistente. Lutaremos contra entregue o processo de habilitação, não foi
civil. ella, e neste intuito deligenciaremos colher accusada pela instancia respectiva a falta de
Longe de nos pôr em sobresalto, de nos meios para comprar material typographico, tan- qualquer documento, que o sr. Marlins apregoa:
amedrontar, este facto sómente nos traz a maior to quanto basle para a feitura do jornal e para — a o contrario foi recebida sem a mais simples
satisfação.—Teria sido nada menos do qne um ou outro pequeno folheto destinado á pro- objecção; e no enlanto a lei alguma coisa pres-
mesquinha, a nossa obra, se porventura a lei paganda. creve para o caso de falta de documentos.
não a visse. Viu-a, e nisso eslá o seu valor.. . Appellamos para o auxilio dos nossos ca- Como é, então, que só depois de publica-
Para que uma ideia crie adeptos, se forta- maradas a fim de levarmos por deanle o noáso dos quatro números se nota essa falta? Porque a
leça e vingue, é necessário que a persigam, que intento, como appellamos também para elles no não viram logo, como lhes cumpria, os que
tenha martyres:—attesta-o eloquentemente não sentido de haver alguns recursos para soccor- superintendem em tal assumpto, se por ventura
só a historia do passado, mas a marcha sempre rer na cadeia o nosso camarada Antonio José a falta existe? Houve menos attenção pelo
crescente da propagação e acceitação do nosso da Costa, autor dos artigos incriminados e que objecto de que se tratava, ou ignorancia da
ideal, não obstante o empenho de repressão, por elles vai responder. lei reguladora do caso?
traduzido nas prisões que se multiplicam, nos Se um novo processo nos fór depois pro- Que responda o sr. Martins de Carvalho,
fusilamentos que se repetem, nas decapitações movido, com a mira de nos ser empolgado o pois que é s. ex. a quem vem insinuar que houve
que se succedem. Tudo isso é nada ante a fé material, a lei não conseguirá o seu fim senão uma ou outra coisa — é a sumula a tirar da
que anima os apostolos da Anarchia. com grandes perdas, visto como o valor do que sua innocente informação.
A lei não é, pois, para nós, mais do que tencionamos adquirir e nos basta, não dará se- Mas não responderá, estejam certos, por-
um poderoso auxiliar. Cada uma das suas ma- quer para os sellos e papel qne o processo cus- que é suficientemente fácil para deixar correr
nifestações de repressão nos fornece um ensejo tará. D e p o i s . . . fácil será havel-o de novo.a léria sem a esclarecer. Depois, sabe que do
de propagar, de diffundir o ideal por que tra- Qualquer auxilio para os fins indicados pode que se escreve alguma coisa fica—esse é o seu
balhamos. Presla-nos um serviço quando julga ser enviado á administração da Conquista do fim—e, velha raposa, seguirá o seu conhecido
castigar-nos. Bem. processo de escudar-se com a prudência do
Que a lei o veja, mas que não pare na sua Trabalhemos pelo nosso querido ideal! silencio para fugir á explicação dos'seus arti-
obra. Ser-nos-ia uma contrariedade que pa- Lutemos pela Anarchia! ficiosos balões.
rasse. A Conquista suspende sómente por não
Isto assente e acceile, fica intendido que haver um proprietário de typographia que se
não lecuaremos e que nos achamos dispostos a A fim de podermos desde já occorrer ás preste a fazel-a. Até hoje não ha outro motivo
acceitar, nas melhores disposições, todas as primeiras despezas vamos proceder á cobran- de suspensão.
responsabilidades que a lei queira impôr-nos ça da importancia dos números até agora publi- Com que ella não volte a sair, conta já o
pela nossa obra, todas as perseguições, todas cados. sr. Martins e isso o alegra—vê-se da redacção
as penas a que julgue dever sujeilar-nos. Ape- do seu artiguito, que tresanda a paixão—por-
sar de tudo propagaremos e defenderemos a tjue lemos ousado beliscar a sua ridicula vai-
Anarchia, sempre e onde quer que possamos A proposilo: dade e o seu reconhecido espirito mercantil;
fazel-o, sem nos preoccupar que a lei nos veja, mas é ainda cedo para cantar victoria. Descan-
nos ouça e nos alcance de novo. No sen Conimbricense n.° 4 : 8 8 9 , o sr. ce que havemos de achar meio não só de con-
As duas visitas que se dignou fazer-nós, Joaquim Martins de Carvalho faz-se pregoeiro tinuar a criticar a sua obra na escalada do
ou antes, o facto de ir condemnar-nos, como da suspensão da Conquista e dá como causa bom nome, como o temos feilo, mas ainda de
castigo á nossa obra, tem para nós a altíssima determinante — embaraços com que lutava e lhe arrancar a mascara por uma vez, já agora
significação d'uma victoria. falta de documentos essenciaes na habilitação sem os restos de respeito pela sua idade que
A par de ser um bello prenuncio sentir a do editor, indo, por esle facto, o ministério ainda determinava em nós uma tal ou qual
lei que a maguámos, accresce a circumstancia, publico requerer, se não requereu já, a supres- complacência. E' muito da nossa intimidade
repelimol-o, de ser ella própria quem nos des- são do jornal toda a sua historia no j o r n a l i s m o . . . ; nessa
taca d'essa imprensa que ahi ganha a vida Muito conhecedor da vida alheia, qualidade qualidade o apreciaremos.
commodamente, engraxando botas altas e es- dislincla no sr. Martins, a s. ex.* não resta Muilissima gente conhece já quanto s. ex. 1
covando casacas finas ou fardalhões catitas. duvida ácerca dos embaraços que amofinavam é venal e traiçoeiro, mas é certo que muito
Salienta-nos e impõe-nos á admiração, quando a Conquista; sabe de cór e salteado a cola- pouca se atreve a romper com elle. Os seus ser-
pretendia amordaçar-nos e lornar-nos ignora- ção dos fundos de que ella dispunha, não viços á liberal e á liberdade... Qs seus a n n o s . . .
dos, porque dará margem a ver-se que a pro- obstante nunca lhe ler sido rogado que a A allegação de que é um pobre velho, não
vocámos de novo, lendo supporlado, impassí- incluísse na lisla dos seus pobres, para quem colhe ante a sua posição de jornalista, mer-
veis, o seu primeiro ataque. o sr. Martins é lodo caridade por conta alheia. cantil e rancoroso, com exigencias de respeito
Simplesmente b e l l o ! . . . Mas não carecia d'isso s. ex. a A' sua saga- e vaidades de inagualavel; como tal não está
Cumpra ella, pois, o que julga o seu de- cidade não escapa coisa a l g u m a : — s a b e de isento das responsabilidades que o seu orgulho
v e r — perseguir-nos; cumpriremos o nosso — audo e de lodos, e assim é que dá conla do que e as suas ocas presumpções lhe acarretam.
reagir propagando e d e f e n d e n d o - n o s . . . nós ignoramos. Um argus, o sr. Marlins. E E* velho, mas é petulante, e d'um autorita-
* porque o é, decerto lhe não resta duvida de rismo que irrita.
que não ignoramos o alcance da sua léria e ao Contamos que até breve, sr. Marlins.
Certos que a lei, sómente por meio dos que a destina, nem de que conhecemos bem o E que a resignação o não abandone, se
processos que houve por bem promover contra valor do seu manifestado sentimento. por ventura o seu artiguito não der o resulta-
nós, não conseguiria emmudecer-nos, salienta- Ignorante ou velhaco, como queiram, atirou do a que o destinou.

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