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VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E

LITERÁRIOS DA AMAZÔNIA

CADERNO DE
RESUMOS
ESTUDOS LITERÁRIOS

Belém – PA
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho


Reitor

Prof. Dr. Gilmar Pereira da Silva


Vice-Reitor

Prof. Dr. Edmar Tavares da Costa


Pró-Reitoria de Ensino e Graduação

Prof. Dr. Rômulo Simões Angélica


Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Prof. Dr. Nelson José de Souza Júnior


Pró-Reitoria de Extensão

João Cauby de Almeida Júnior


Pró-Reitoria de Administração

Raimundo da Costa Almeida


Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal

Raquel Trindade Borges


Pró-Reitoria de Planejamento

Profa. Dra. Maria Iracilda da Cunha Sampaio


Pró-Reitoria de Relações Internacionais

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO


Profa. Dra. Walkyria Alydia Grahl Passos Magno e Silva
Profa. Dra. Thomas Massao Fairchild

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS


Profa. Dr. Sidney da Silva Facundes
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras

Prof. Dr. Carlos Augusto Sarmento-Pantoja


Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras
COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Sidney da Silva Facundes


Prof. Dr. Thomas Massao Fairchild
Prof. Dr. Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja
Prof. Dr. Carlos Henrique Lopes de Almeida
Profa. Dra. Fátima Cristina da Costa Pessoa
Profa. Dra. Maria de Fátima do Nascimento
Profa. Dra. Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira
Profa. Dra. Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja
Profa. Dra. Alinnie Oliveira Andrade Santos
Profa. Ms. Alline Araújo Costa
Profa. Ms. Fabíola Azevedo Baraúna
Prof. Ms. Francisco José Corrêa de Araújo
Profa. Ms. Jaqueline Andrade Reis
Profa. Ms. Márcia do Socorro da Silva Pinheiro
Profa. Ms. Tereza Tayná Coutinho Lopes
Allan Rodrigo Farias Alves
Amanda Medeiros Costa de Mesquita
Amanda Gabriela de Castro Resque
Gabriela de Andrade Batista
Helena do Socorro Damasceno Palheta Borges
Jeane Barros de Barros
Jeniffer Yara Jesus da Silva
José Adauto Santos Bitencourt Filho
Larissa Wendel Afonso de Lima
Natali Nóbrega de Abreu
Rayssa Rodrigues da Silva
Sheyla da Conceição Ayan
Thalisson Assis do Espírito Santo
COMITÊ CIENTÍFICO

Ana Cristina Marinho (UFPB)


Antônia Alves Pereira (UFPA)
Aroldo José Abreu Pinto (UNEMAT)
Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja (UFPA)
Carlos Henrique Lopes de Almeida (UNILA)
Daniel Serravalle de Sá (UFSC)
Dante Lucchesi (UFF)
Eduardo Alves Vasconcelos (UNIFAP)
Francisco Bento da Silva (UFAC)
Humberto Hermenegildo de Araújo (UFRN)
José Carlos Chaves da Cunha (UFPA)
Márcia Cristina Greco Ohuschi (UFPA)
Marco Antonio Rocha Martins (UFSC)
Maria da Glória Corrêa di Fanti (PUC-RS)
Maria de Fátima do Nascimento (UFPA)
Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira (UFPA)
Marília Fernanda Pereira de Freitas (UFPA)
Marília Lima Pimentel Cotinguiba (UNIR)
Sidney da Silva Facundes (UFPA)
Socorro de Fátima Pacífico Barbosa (UFPB)
Stella Virgínia Telles de Araújo Pereira Lima (UFPE)
Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja (UFPA)
Thomas Massao Fairchild (UFPA)
Viviane Dantas Moraes (UFMA)
Walkyria Alydia Grahl Passos Magno e Silva (UFPA)
APRESENTAÇÃO

É com grande alegria que a Comissão Organizadora apresenta este


Caderno de Resumos do VI Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e
Literários da Amazônia (VI CIELLA), com data de realização de 5 a 9 de
novembro do ano de 2018, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Nossa
alegria está no fato de termos tido a coragem de realizar esse evento e contarmos
com um público cativo que nos encaminhou seus trabalhos, em um momento tão
delicado para as Ciências de modo em geral, e bem mais sensível para todos os
que estão arrolados em ramos das Humanidades, na perspectiva política de
nosso país.
Em 2018, o CIELLA – que é um evento do Programa de Pós-graduação
em Letras da Universidade Federal do Pará – completa 12 anos de realizações.
Nesse tempo, nosso Congresso se consolidou, na Região Norte, no Brasil e
mesmo internacionalmente, como um evento de qualidade. Por isso, a cada
biênio, o Programa tem sido desafiado a realizar um congresso cada vez melhor.
O presente Caderno de Resumos contabiliza 291 resumos de Estudos
Linguísticos e 228 de Estudos Literários, em suas mais diversas subáreas e
interfaces. São trabalhos teóricos e aplicados que serão apresentados ou em
Simpósios Temáticos, ou como Comunicações Individuais. Esses textos seguem
organizados em ordem alfabética, considerando-se o primeiro nome do primeiro
autor.
Desejamos que esse Caderno estimule a curiosidade de nossos
congressistas, pesquisadores, estudantes de pós-graduação e de graduação, bem
como dos ouvintes e que, de posse dos resumos, todos e todas assistam aos
trabalhos interessantes aqui contidos.
Com apreço,

A Comissão Organizadora do Caderno de Resumos do VI CIELLA.


ESTUDOS LITERÁRIOS

COMUNICAÇÕES EM
SIMPÓSIOS
OLHOS RASOS D’AGUA: MELANCOLIA E DEPRESSÃO NA LITERATURA
MODERNA

Álvaro Jardel Conceição Santos De Oliveira (UFPA)


Luís Heleno Montoril Del Castillo (UFPA)
Marlí Tereza Furtado (UFPA)

Resumo: O trabalho pretende numa perspectiva comparada compreender a depressão e


a melancolia a partir da vivência dos personagens protagonistas de literaturas modernas
a saber, respectivamente: os romances Chove nos Campos de Cachoeira de Dalcídio
Jurandir (1941;1997) e Encontro das Águas de Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro
(1998; 2011) e o livro de contos Olhos D’Agua de Conceição Evaristo (2016). A ideia é
realizar uma análise comparada das diferenças sentidas entre melancolia e depressão
apontadas pelas personalidades e vidas das personagens protagonistas, bem como, o
sentimento de esperança/desesperança, a experiência do tempo, os lugares que ocupam,
a relação com o outro, os conflitos e as luzes que carregam consigo. Um argumento
central a ser desenvolvido é que melancolia e depressão são fronteiras da existência
humana oriundas, sobretudo, com a emergência radical dos processos modernos, da
constituição do sujeito moderno e seus dramas. Tal contexto é possível verificar nos
mundos que a literatura cria a partir do romanceiro moderno onde a individualidade dos
personagens e seus processos de subjetivação se articulam com os contextos maiores
passando pela cultura e sociedade até a elaboração de uma outra história centrada nas
experiências e olhares desses protagonistas, reafirmando assim, a coletividade de alguns
processos sociais vividos entre a região e nação.

Palavras-chave: Literatura moderna, melancolia, depressão.

MEMÓRIAS DA DITADURA NO PARÁ E O TESTEMUNHO DE PAES DE


LOUREIRO

Abilio Pacheco de Souza (UFPA)

Resumo: Annette Wieviorka em seu livro “The era of the Witness“ (A era do
testemunho) considera a importância da criação dos arquivos de vídeo como o Yale
Video Archive for Holocaust Testimonies para a memória mas também para “deixar o
sobrevivente falar [...] como uma terapia social, a fim de restaurar conexões rompidas”
(*). Além do Yale, também a Fundação Shoah considerou essencial “conservar a
história como ela é transmitida para nós por aqueles que passaram por ela e
conseguiram sobreviver” (*) (segundo Spielberg, criador da fundação). Do mesmo os
testemunhos sobre a ditadura militar nos países do cone sul (incluindo o Brasil) têm
esses compromissos em foco, de modo a cooperarem para o “tribunal da História”.
Imbuído de igual disposição, foi desenvolvido no Pará, o projeto “A UFPA e os Anos
de Chumbo: memórias, traumas, silêncios e cultura educacional (1964-1985)”
organizado pela professora Edilza Fontes, que entrevistou 48 pessoas envolvidas na luta
contra o Governo Militar e que sofreram “constrangimentos e violações de direitos”
naquele momento de modo que suas trajetórias de vida sofreram significativa mudança
de rota. Nesta comunicação, pretendemos análise o testemunho do professor João de
Jesus Paes Loureiro que em fins de Março de 1964, era um jovem estudante
universitário e poeta estreante (em março de 64, estaria lançando seu livro “Tarefa” com

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poemas de temática social). Além do testemunho gravado em vídeo, também iremos
proceder a leitura de seu romance “Café Central” publicado em 2011, no qual o autor
narra o período correspondente aos dias que antecederam o golpe no Pará e o que lhe
aconteceu no período do imediato pós-golpe de 1964. (*) (tradução nossa)

Palavras-chave: literatura de testemunho, literatura comparada, literatura amazônica,


literatura e história, narrativa de resistência

A TRAJETÓRIA DE CONSAGRAÇÃO PERIÓDICA DE PAULINO DE BRITO


NA IMPRENSA BELENENSE OITOCENTISTA

Alan Victor Flor da Silva (UFPA)

Resumo: Paulino de Almeida Brito (1858-1919) nasceu em Manaus, capital da


província do Amazonas, mas radicou-se em Belém, capital da província do Pará, onde
se tornou uma figura de relevo e prestígio tanto no âmbito da imprensa periódica quanto
no domínio da literatura. O escritor e jornalista amazonense colaborou para diversos
periódicos que circularam pela capital paraense durante as duas últimas décadas do
século XIX, a exemplo do Diário de Belém, A Província do Pará, A Arena, Diário de
Notícias, O Abolicionista Paraense, entre outros. Dedicou-se ainda à produção de versos
e prosa de ficção. Entre os seus trabalhos mais aclamados pela crítica divulgada em
periódicos, consta “O homem das serenatas”, romance lançado no início de 1882, em
regime seriado, no rodapé das páginas do Diário de Belém. Além de jornalismo e
escritor, também foi professor, advogado, gramático e político. Em meados da
penúltima década do Oitocentos, Paulino de Brito já havia se tornado um nome
mencionado com frequência nas páginas de periódicos belenenses oitocentistas. O
Diário de Belém, por exemplo, divulgou quase todos os passos do escritor amazonense,
não apenas em relação à publicação de suas obras tanto em periódicos quanto em livro,
como também em relação à sua aparição em eventos artístico-literários e políticos, às
suas palestras a favor da causa abolicionista, às suas viagens, entre outros. Desse modo,
objetivamos, com este trabalho, traçar a trajetória de consagração periódica de Paulino
de Brito em Belém com o intuito de compreendermos como esse autor tornou-se uma
figura renomada na capital paraense do final do século XIX.

Palavras-chave: Paulino de Brito, processos de canonização, periódicos, século XIX,


Belém.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER AMAZÔNIDA EM CHOVE NOS


CAMPOS DE CACHOEIRA, DE DALCÍDIO JURANDIR

Alberto de Barros Molina (UNIR)


Maria de Fátima Castro de Oliveira Molina (UNIR)

Resumo: Analisar a representação da mulher amazônida na obra Chove nos campos de


Cachoeira (1941), de Dalcídio Jurandir constitui a proposta central de investigação
inicial deste projeto de estudo. A proposta de pesquisa apresentada por meio deste
projeto envereda por um caminho de tessituras, cujos fios buscam desvelar nos teares de
uma literatura produzida no contexto regional amazônico a representação da mulher que

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em meio à opressão, consegue constituir-se como sujeito capaz de superar e transgredir
as amarras e enquadramentos impostos pela sociedade. O aporte teórico utilizado tem
suas bases de sustentação constituída a partir das concepções de João de Jesus Paes
Loureiro, Antônio Candido, Wlli Bolle e Benedito Nunes. Em consonância com os
objetivos propostos para o desenvolvimento da pesquisa, o percurso metodológico
adotado é centrado na pesquisa exploratória bibliográfica a partir um estudo analítico
sobre a construção da personagem Amélia em relação as outras personagens femininas
do romance. A dimensão estética que constitui o romance Chove nos campos de
Cachoeira apresenta fortes traços de crítica social revestidos de elementos de
composição da narrativa, cuja trama tem o potencial de engendrar na construção de
cenários e na constituição da personagem Amélia, questões sociais ligadas ao cotidiano
da vida amazônica.

Palavras-chave: Amazônia, mulher, literatura, representação.

A UNIDADE FICCIONAL DE CONTOS AMAZÔNICOS, DE INGLÊS DE


SOUSA

Alex Santos Moreira (UFPA)

Resumo: A coletânea "Contos Amazônicos" (1893) é a última obra de ficção do


paraense Inglês de Sousa (1853-1918). Esse conjunto de contos movimenta-se entre
histórias cujo foco é o sobrenatural e histórias nas quais prevalece a crítica a exploração
do homem pelo homem, à violência dos mais fortes sobre os mais fracos e as
consequências do imaginário dos habitantes do interior da Amazônia com todos os seus
problemas sociais. A tessitura dessa obra de Inglês de Sousa, por meio de conectores da
narrativa, apresenta narradores interligados que fazem o revezamento na contação das
histórias. Contudo, o funcionamento da obra é articulado por um narrador central, cuja
principal característica é pertencer ao mundo letrado, distinguindo-se de outros
narradores pertencentes à tradição popular amazônica. Dito isso, o presente trabalho
objetiva evidenciar a unidade ficcional dos Contos Amazônicos como uma contundente
crítica à realidade de abandono, violência e miséria do homem amazônico no século
XIX.

Palavras-chave: Contos Amazônicos, Inglês de Sousa, literatura brasileira; ficção


amazônica

A MAQUINARIA DISTÓPICA EM 1984

Alline Araujo Costa (UFPA)


Tânia Maria Sarmento-Pantoja (UFPA)

Resumo: O trabalho objetiva considerar a constituição do protagonista no romance


analisado, percebendo que o contexto distópico é basilar para discutir a constituição
resistente dele, pois entendemos que desde a infância é possível notar que o mesmo já se
encontra inserido em um universo violento e amplamente tocado pelos moldes da
repressão revolucionária. Deste modo, é possível perceber que 1984, a obra analisada,
apresenta características pontuais no que tange o formato da estrutura social de exceção,

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na forma da governabilidade totalitária. Por meio do romance visamos problematizar
diversos campos no âmbito da distopia, nessa perspectiva do totalitarismo, como, a
anulação do indivíduo, o controle das mentes e pensamentos, o controle social e a
eliminação da diversidade. Com a finalidade de fundamentar o texto proposto
apresentamos as teorias de: Hanna Arendt, Origem do Totalitarismo; Giorgio Agamben,
Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I; Aleida Assmann, Espaços da recordação:
formas e transformações da memória cultural; Alfredo Bosi, Narrativa e Resistência; , e
M. Keith Booker, The Dystopian Impulse Modern Literatura.

Palavras-chave: Distopia, Totalitarismo, Resistência, Infância, Exceção

GÊNESE IMATERIAL DA POESIA DE LUIZ BACELLAR

Allison Leão (UEA)

Resumo: Esta comunicação pretende expor dados e conclusões obtidos durante a


consecução do projeto “Estudo sobre uma poética da repetição: Frauta de barro, de Luiz
Bacellar”, desenvolvido entre 2015 e 2017, no âmbito do Programa de Pós-graduação
em Letras e Artes da UEA. Durante essa pesquisa buscamos compreender que sentidos
haveria no procedimento de reedição de uma mesma obra, sempre em diferença, uma
vez que ela teve sete edições, todas com variações, superficiais e profundas. No decorrer
do projeto, levantamos vários aspectos que estruturam, como conteúdo e forma, a obra
de Bacellar, tais como a extensa biblioteca haurível na leitura dos poemas, as diversas
fontes interartísticas e os vários estilos poéticos revistos ao longo dos textos e os
conteúdos da cultura popular que circularam dos espaços públicos (e populares) de
enunciação para a obra. É curioso que, mesmo com todas as fontes verificadas pelo
nosso projeto como estruturantes de Frauta de barro, seu autor não tenha deixado
vestígios da criação – entendidos do ponto de vista tradicional da Crítica Genética: os
prototextos, manuscritos, rascunhos, cartas, esboços, estudos em imagem etc. Assim é o
que se sabe desde sua morte, em 2012. Porém, o que defendermos nesta comunicação é
a ideia de que para uma obra nessas circunstâncias e com semelhantes fontes,
especialmente as de caráter imaterial, os bastidores da criação devem ser rastreados
também em outros campos, para além dos documentos de processo tradicionais. Assim,
primeiramente elencaremos as fontes que nossos estudos encontraram no campo da
produção cultural de natureza popular que serviram como uma das bases da composição
de Frauta de barro (narrativas ou causos populares, cordel, espaços e práticas comuns à
população mais simples da cidade etc.). Em seguida, ponderaremos o grau de inserção e
que relações orgânicas esses conteúdos passaram a ter com a obra em questão.

Palavras-chave: Crítica genética, Poesia brasileira, Luiz Bacellar.

PERSONAGEM, FORMA-DE-VIDA.

André Piazera Zacchi (UFSC)

Resumo: Nas últimas linhas de Altíssima Pobreza (2014), Giorgio Agamben


diagnostica que a ética e a política atuais estão aprisionadas por uma liturgia
secularizada decorrente de um modelo ontológico operativo. Os monges franciscanos,

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como resistência àquilo que normatiza a vida, propõem uma forma-de-vida: “a forma
não é uma norma imposta à vida, mas um viver que, no ato de seguir a vida de Cristo, se
dá e se torna forma” (111). Wittgenstein, nas Investigações Filosóficas, diz que os usos
das palavras, os jogos da linguagem são formas-de-vida. Não há um conteúdo a ser dito
por uma linguagem neutra, instrumental, aplicando uma regra prévia, mas apenas tais
jogos que mostram a historicidade e a pura contingência da linguagem. Para ambos a
questão não é o ser, mas modos do ser (Espinosa), enquanto potências de interromper a
liturgia do espetáculo que roteiriza as vidas. Alguns personagens da literatura, a
despeito de lugares ontológicos pré-fixados (o herói, o vilão, o malandro, o louco, etc.)
e de funções narrativas pré-determinadas, vivem a pura contingência. Um conceito
filosófico (forma-de-vida) e uma figura estética da literatura (personagem) coincidem
para resistir à ontologia operativa, que reduz a literatura e a vida a modelos, períodos e
tipos. Neste trabalho seleciono alguns personagens de Borges e de Edgardo Cozarinsky
e procuro neles a força política das formas-de-vida.

Palavras-chave: Agamben, Wittgenstein, Forma-de-vida, Personagem, Cozarinsky

A PAISAGEM-LIMITE: O EROTISMO TRÁGICO NA PROSA DE HILDA


HILST

Andréa Jamilly Rodrigues Leitão (USP)

Resumo: O presente trabalho pretende interpretar as figurações do erotismo trágico na


prosa de ficção de Hilda Hilst (1930-2004), especificamente no diálogo com Tu não te
moves de ti (1980), A obscena senhora D (1982) e Com os meus olhos de cão (1986).
Estas três obras estão reunidas em um volume intitulado Com os meus olhos de cão e
outras novelas. Parte-se das formulações de Georges Bataille (2016, 2017) para
compreender, sobretudo, a forte ligação existente entre o ímpeto erótico e a consciência
da morte. A experiência vivida pelas personagens hilstianas as conduzem, no limiar do
desconhecido, ao extremo do possível. A vastidão vertiginosa do não saber opera o
desnudar-se de si e, ao mesmo tempo, traz voluptuosamente a angústia do não sentido.
Entre o êxtase de uma revelação e o horror diante da envergadura abissal do ser, há um
movimento de desnudamento em direção ao cerne da condição humana – ou melhor, à
“espessa funda ferida da vida” – e do seu quinhão de animalidade. No confronto com os
limites, a sua prosa é capaz de colocar em tensão e, por vezes, de reconciliar o sagrado e
o profano, o divino e o carnal, o sublime e o grotesco, o apolíneo e o dionisíaco, o
humano e o animal, a vida e a morte.

Palavras-chave: Erotismo trágico, morte, Hilda Hilst.

TEORIA DA LITERATURA: ADORNO (TEÓRICO FILÓSOFO) VERSUS


BAKHTIN (TEÓRICO LITERÁRIO)

Andre Barbosa de Macedo (UFPA)

Resumo: As relações entre Filosofia e Teoria Literária iniciaram-se no longínquo


período de afirmação das bases do pensamento ocidental na Grécia platônica e
aristotélica – período para o qual o termo literatura configura, na verdade, um

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reconhecido anacronismo, pois a literatura, tal como a compreendemos, constituiu-se
nos tempos modernos. No século XX, constatamos que filósofos continuam a dedicar
escritos à discussão teórica sobre a Literatura. Nesse sentido, podemos recordar e
abordar ensaios de marxistas como Theodor W. Adorno. Por outro lado, a Teoria
Literária passou, cada vez mais, a ser uma área dos estudos literários – e dentre esses
estudos há aqueles que se colocam como uma ramificação da Linguística ou como
elaborados em diálogo com essa ciência, reivindicando o estatuto de propriamente
literários. Nessa direção, podem ser selecionados e discutidos ensaios de russos como
Mikhail Bakhtin. Com isso em vista, o objetivo dessa comunicação é abordar
incipientemente o teor de obras-chave de Adorno (Teoria Estética e Notas de Literatura
I, II, III e IV) e Bakhtin (Estética da Criação Verbal, Questões de Literatura e de
Estética e Problemas da Poética de Dostoievski) para, em seguida, examinar quais
características do texto literário o teórico filósofo e o teórico literário priorizam em
escritos que fundamentam leituras críticas diversas na Amazônia, no Brasil e no mundo.

Palavras-chave: Filosofia, Literatura, Teoria.

O ESTRANHAMENTO DE SI NO OUTRO: O ESTUDO DA ALTERIDADE EM


NARRATIVAS DA MATINTAPERERA

Andressa de Jesus Araújo Ramos (UFPA)

Resumo: Estudar a noção de alteridade é uma tarefa árdua, que exige do pesquisador
boa dose de dedicação, pois esse conceito atravessa várias disciplinas, desde a filosofia
até a antropologia e vem mudando com o passar do tempo. Dessa maneira, este trabalho
possui como objetivo geral refletir sobre a noção de alteridade em narrativas orais da
matintaperera recolhidas pelo IFNOPAP (Imaginário nas Formas Narrativas Orais
Populares da Amazônia Paraense). Para isso, consideramos os estudos de Freud (1919)
Paz (1969), Spielmann (2000) e Sartre (2011). O estudo revelou que a noção de
alteridade pautada especificamente no pensamento de Sigmund Freud em seu artigo
Unheimlich se manifesta de forma evidente nas narrativas orais da matintaperera, pois
esse ser tão repleto de mistérios e descobertas, em sua configuração humana, pode ser
(homem-mulher), (idosa-jovem). No que diz respeito a metamorfose, a matinta pode
assumir a forma de animal (aéreo-terrestre), bem como, em seres sobrenaturais de difícil
representação. Em relação às suas marcas, isto é, a oferta do tabaco e o assobio, a
matinta também se revela por meio de pares antagônicos, em que também se encontra a
alteridade, visto que o tabaco é oferecido de noite, porém requerido de manhã e o
assobio pode ser emitido, tanto pela boca, quanto pelo ânus, o que nos leva a afirmar
que a matinta é alteridade em forma de mito. A metodologia desta pesquisa consistiu: a)
pesquisa bibliográfica; b) leituras das narrativas ifnopapianas presentes nos livros
Santarém conta..., Belém conta..., Abaetetuba conta... e Bragança conta... c) seleção das
narrativas da matinta; d) análise das narrativas selecionadas. Sendo assim, acreditamos
que este trabalho, de caráter interdisciplinar – visto que dialoga com a psicanálise, a
filosofia e a teoria literária-, despertará nos que tem interesse em estudar a matinta
novos olhares e direcionamentos, possibilitando assim, o surgimento de novas
pesquisas, bem como, a valorização da cultura brasileira, principalmente, a paraense,
que ainda é esquecida por muitos estudos acadêmicos, adquirindo assim um
compromisso com a ética e a memória ancestral.

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Palavras-chave: Matintaperera, Alteridade, Unheimlich, Narrativas Orais, IFNOPAP.

CLARICE TRADUTORA - ASSIMILAÇÕES DE O RETRATO DE DORIAN


GRAY E RECONFIGURAÇÕES POÉTICAS

Andreza Gomes (UFPA)

Resumo: Muitos estudos de tradução, ao abordarem a obra de Clarice Lispector,


referem-se aos livros da autora traduzidos para outras línguas. No entanto, Clarice foi
também tradutora, embora se encontre poucos estudos sobre esta outra função de autoria
de Lispector. Para esta comunicação, pretende-se realizar uma análise crítica no intuito
de redirecionar o olhar para estas obras traduzidas, tendo aqui como objeto o livro O
Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, traduzido por Clarice em 1974( EDIOURO,
RJ). Compreende-se que a tarefa da tradução é um exercício constante de leitura e
releitura, sendo assim, os livros traduzidos por Clarice, são também o rastro de seu olhar
como leitora e autora. C.L. movimenta-se entre a figura do leitor-ator e do tradutor-
autor; Lispector interpreta a voz do autor original, assim como apropria-se das imagens
e ideias que cintilam no texto. A tradução opera na circulação da linguagem, na
formação intercultural. Voltar o olhar para Clarice tradutora é pensar nas ideias que
estão em circulação dentro da sua obra poética: de que forma os elementos presentes no
livro de Wilde tangenciam outros escritos de Clarice, quais os resíduos poéticos
deixados na tradução. A busca de tais vestígios não esta em procurar a semelhança entre
uma obra e outra, mas sim através da fragmentação, no recorte de uma obra e outra,
onde esses elementos de forma e conteúdo presentes em O Retrato de Dorian Gray são
assimilados e recriados em diferentes configurações dentro da poética de C.L.

Palavras-chave: Clarice Lispector, Tradução, Oscar Wilde, assimilações,


reconfigurações poéticas

A POÉTICA AMAZÔNICA PELA PERSPECTIVA DIALÓGICA NA OBRA DE


ADALCINDA CAMARÃO

Ane do Nascimento Parente Morhy Terrazas (UFPA)

Resumo: O presente trabalho buscou investigar as relações existentes entre a obra da


autora Adalcinda Camarão pelo viés bakhtiniano, trazendo em conta os aspectos
regionais próprios da Amazônia narrada pela autora, juntamente com a relação advinda
de sua biografia como nativa paraense, sendo assim, diversos poemas da autora são
analisados tendo em vista o seu período laboral tanto em sua terra natal, Breves, quanto
na nostálgica temporada em que se encontrava nos Estados Unidos, mostrando,
portanto, o envolvimento existente entre a vida da poeta e o seu desenvolver poético.
Este artigo desvela a poética da paraense Adalcinda Camarão, a qual por meio de
sentimentos nostálgicos retoma o imaginário e a paisagem paraense em sua expressão
amazônica única. Aliado ao conceito anterior já citado, pretende-se utilizar alguns
estudos do russo Mikhail Bakhtin. Logo, como este estudo estreitará o conceito
bakhtiniano de dialogismo com a dialética amazônica. O artigo apresenta-se subdivido

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em bases teóricas – a qual se trata das filosofias que permeiam este estudo, reflexão
sobre a vida e obra da autora, assim como a análise e recorte de algumas de suas obras.

Palavras-chave: Dialogismo, Literatura Amazônica, Adalcinda Camarão, Mikhail


Bakhtin.

MARRONAGE ET CONTE CREOLE DU PLATEAU DES GUYANE

Audrey Fabienne Debibakas (Universidade da Guiana)

Resumo: L’émergence d’une littérature orale en Guyane n’a pas eu de passage


harmonieux et progressif comme dans les littératures européennes, d’un tissu littéraire
parlé (contes, chanson de geste…) à une production écrite. Il s’est produit une rupture :
celle-ci provient du fait que la culture et la langue créoles au sein desquelles l’oralité
s’inscrit sont apparues dans la matrice de l’habitation esclavagiste. Le conte créole
hérité de la tradition orale relève d’une pratique culturelle qui use de la stratégie et de la
ruse comme principes fondamentaux de la liberté de parole, mais aussi comme principes
fondateurs de l’expression artistique. S’il naît d’une rupture forcée et de la déserrance
des peuples d’Amérique, le conte créole résulte aussi de la rencontre des cultures mais
surtout de la nécessité de reconstruire un monde dont on a perdu l’essence. Il s’agit de
recréer en face de l’autre un univers propre sur des bribes de cultures pour résister à
l’hégémonie du discours occidental imposé. Ne pouvant recréer ses dieux et ses lieux
mythiques, le peuple noir recrée son univers imaginaire qui lui permet de sublimer les
souffrances de l’habitation-plantation. Les contes, les danses et les chants sont d’emblée
l’œuvre du marronnage, tout rassemblement étant interdit et puni par des peines lourdes
allant jusqu’aux privations extrêmes. La parole marronne se tient hors de l’habitation,
au clair de lune dans la Savane.

Palavras-chave: marronage, conte créole, littérature orale

OS POSSÍVEIS DIÁLOGOS ENTRE NARRATIVAS ORAIS AMAZÔNICAS E


EXPERIÊNCIAS RPGÍSTICAS

Breno Pauxis Muinhos (UFPA)

Resumo: As diversas narrativas orais amazônicas carregam profundos sentidos


decorrentes de nossa cultura e história, o ato de contar histórias é uma atividade que
remonta a nossa herança ancestral. Os jogos de interpretação de papéis são movidos
pelo ato de narrar tramas que envolvem personagens que são interpretadas por outros
participantes; apesar do nome, em essência, um roleplaying game não é um jogo – seu
conceito será a questão principal da atividade a ser desenvolvida. De recorte para a
presente comunicação serão utilizadas duas categorias dos estudos literários, para
desenvolver de maneira singular uma reflexão sobre os roleplaying games: a narrativa e
a oralidade; que aqui serão discutidas como partes integrantes da estrutura do “jogo”;
principalmente, na criação por parte de seus participantes, como parcela fundamental
das produções a serem discutidas na comunicação. Se levantará a discussão quanto ao
“valor” ou “utilidade” dos jogos de interpretação de papéis, como instrumentos de
incentivo à leitura e à escrita como já levantado por teóricos a serem citados, o gênero
não está restrito ao uso em sala de aula, ou resumido à prática de entretenimento entre

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amigos e colegas; há uma necessidade na própria prática de refletir sobre a realidade
através da ficção, fator inerente a toda diversidade da produção literária, em especial as
de característica fantástica, outro ponto essencial para a produção. Na pesquisa, parte da
tese em desenvolvimento, foram verificadas as reflexões sobre o jogo de Johan
Huizinga, as percepções de história e tempo de Walter Benjamin, as discussões sobre
literatura fantástica de Tzvetan Todorov, os estudos sobre RPG em diversos campos,
desde o uso em sala de aula por Sônia Rodrigues, discussões sobre exercício de leitura e
escrita de Andréa Pavão, aos diálogos com literatura de Edson Cupertino.

Palavras-chave: Narrativa, Oralidade, RPG.

POEMAS MODERNIZANTES E DECOLONIALIDADE ÀS MARGENS DA


PARNASO-AMAZÔNIA: O CASO DO JORNAL ACREANO “A NOTICIA”
(1918-1919)

Carla Soares Pereira (UNAMA)

Resumo: Este trabalho integra uma pesquisa de doutorado em andamento que estuda
poemas publicados em jornais do Acre (1904-1920). Denominaram-se “modernizantes”
os poemas do primeiro vintênio do séc. XX que já prenunciavam o Modernismo na
Amazônia, destoando da predominância parnasiana nos jornais e do contexto de
influência francesa. Este estudo de caso analisa poemas modernizantes do jornal “A
Noticia”, em diálogo com a proposta modernista e a crítica decolonial, na perspectiva de
que a presença deles no jornal, embora pequena e marginal, refletia vozes dissonantes
que empreendiam luta contra a colonialidade, expressando mundividência crítica da
realidade. Os métodos de abordagem são a Metalinguística bakhtiniana e a Análise do
Discurso, cujas propostas valorizam elementos (extra)textuais na construção dos
sentidos do enunciado discursivo nas suas relações dialógicas. Bosi (2003), Carpeaux
(2008) e Figueiredo (2001), bem como Quijano (2005) e Mignolo (2005) subsidiaram a
construção das relações entre Modernismo e Decolonialidade. Analisaram-se duas
seções de poemas: “Troçando” (11 textos) e “A Minuta...” (10). São poemas críticos e
satíricos que discutem política, poesia, cânone e a vida alheia; experimentam a mistura
de gêneros textuais (poema-diálogo, poema-piada) e uma linguagem dessacralizada.
Assim, manifestam características que os aproximam da fase heroica do Modernismo
brasileiro, com a particularidade de problematizarem a condição amazônica numa época
de imperialismo, mas também de resistência. BAKHTIN, M. Problemas da Poética de
Dostoiévski. 3. ed. RJ: Forense Universitária, 2002. BOSI, A. História Concisa da
Literatura Brasileira. 41. ed. SP: Cultrix, 2003. BRANDÃO, H. Introdução à Análise do
Discurso. Campinas: Unicamp, 2012. CARPEAUX, O. História da Literatura Ocidental
(Vol. IV). 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2008. FIGUEIREDO, A. Eternos Modernos:
uma história social da arte e da literatura na Amazônia, 1908-1929. 315f. Tese. ICH,
Unicamp, Campinas, 2001. LANDER, E. (Org). La colonialidad del saber:
eurocentrismo y ciencias sociales, perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires:
CLACSO, 2005.

Palavras-chave: Modernismo, Crítica decolonial, poemas, Jornal "A Noticia"

15
LITERATURA, ARTE E RESISTÊNCIA: O TESTEMUNHO EM TEMPOS DE
CRISE

Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja (UFPA)

Resumo: Os estudos literários, nos últimos anos, vêm sofrendo intensas modificações
por conta das mudanças que a produção literária moderna e contemporânea, em especial
por conta dos traumas de guerra, que potencializaram a criação de obras de arte
fundamentadas em duas categorias: a resistência e o testemunho. Alfredo Bosi (1994;
2002) notabiliza que precisamos pensar no século XX (extensivo ao século XXI), como
o "Tempo que perdurou na memória dos narradores do imediato pós-guerra, e produziu
o cerne da chamada literatura de resistência", uma literatura pautada na ética e na
estética do testemunho e que Márcio Seligamann-Silva (2005), considera ser “uma
categoria que pode nos ajudar a pensar uma virada de paradigma que vem ocorrendo no
âmbito das artes e da literatura”. Walter Benjamin (1989), pensa a narrativa como um
pacto inerente entre ouvinte e narrador para a conservação da narrativa. Tal associação
está ligada tanto a memória quanto à reminiscência, ou seja, tanto ao testemunho quanto
à narrativa (artística, literária, oral, escrita). Dois polos complementares, pois as guerras
e as crises potencializam o desenvolvimento de outras formas artísticas, como defende
Adorno (1970), quando concebe que “É moderna a arte que, segundo o seu modo de
experiência e enquanto expressão da crise da experiência” e da experiência enquanto do
belo e da arte. Neste complexo cenário propomos um estudo para pensar como a arte, a
literatura e o testemunho, resistem em tempos de crise, seja aquela ligada ao passado,
seja estas ligadas ao presente.

Palavras-chave: Literatura, Arte, Resistência, Testemunho, Crise

DAS PROXIMIDADES E DISTÂNCIAS ENTRE LITERATURA E FILOSOFIA

Cláudia Grijó Vilarouca (UFPA)

Resumo: Tratar de proximidades e distâncias entre literatura e filosofia depende da


perspectiva e de certo grau de delimitação de qual literatura e qual filosofia se pretende
abordar, dada a diversidade de ambas. Ademais, é prudente levar em conta o percurso
histórico que aponta para acordos (ou até mescla) e dissensões entre elas: desde os pré-
socráticos até polêmicas mais atuais que concernem o status do qual cada uma goza,
principalmente, no âmbito acadêmico. Afinal, isso a que chamamos literatura e filosofia
são discursos historicamente formados e, como outros, disputam um lugar de destaque
como modos de conhecimento de mundo. Assim, devido à amplitude do tema e com
base, sobretudo, em Jeanne-Marie Gagnebin, Benedito Nunes e Arthur Danto, proponho
abordar os pontos em comuns e diferenças entre literatura e filosofia – considerando o
que foi dito anteriormente – a partir de dois tópicos: domínio de conhecimento e forma.
Na verdade, o objetivo é menos esquematizar proximidades e distâncias do que discutir
possibilidades de entrecruzamentos sem negligenciar as particularidades de cada uma
(tal como as concebemos no sentido moderno).

Palavras-chave: Literatura e filosofia, conhecimento, forma

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CONSIDERAÇÕES DE CANDIDO SOBRE MACHADO DE ASSIS

Cristiane de Mesquita Alves (UFPA)

Resumo: O processo de elaboração de análise de uma obra literária, parte-se do


pressuposto teórico de que o escritor, antes de penetrar em seu universo de experiência
estética e de observador crítico do texto, é um leitor proativo, leitor-modelo (ECO,
2015), configurando nesses pré-textos lidos, em conceitos que nortearão as
possibilidades de interpretação das obras. Diante disso, é que se formula esta
comunicação, que tem como objetivo: apresentar alguns apontamentos acerca da obra e
das características do processo de criação literário de Machado de Assis, segundo as
leituras de Candido, leitor- modelo e crítico da obra do Bruxo do Cosme Velho, desde a
sua formação à consolidação de seu texto literário, ao cânone dentro do sistema literário
brasileiro e internacional. Para tanto, esta investigação será realizada a partir dos
procedimentos metodológicos das revisões de literatura, tendo como base as
considerações teóricas fundamentadas nas leituras reflexivas de determinados textos do
consagrado crítico literário brasileiro, como: Esquema de Machado de Assis (2004), O
sistema literário consolidado (2010), A nova narrativa (2011) e Literatura e Sociedade
(2014), tendo como referências bibliográficas: CANDIDO, Antonio. A educação pela
noite. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.____. Iniciação à Literatura
Brasileira. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. ___¬¬¬__. Literatura e
Sociedade. 13ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014. ______. Vários Escritos. 4ª
ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2004. ECO, Umberto. Os
limites da interpretação. 2ª ed. 4ª reimp. Trad. Pérola de Carvalho. São Paulo:
Perspectiva, 2015, aportes bibliográficos responsáveis por justificar os resultados
apontados nessa discussão, em relação às colocações atribuídas ao texto machadiano,
por Antonio Candido.

Palavras-chave: Candido, Machado de Assis, Apontamentos.

BOOKTUBER: A ASCENSÃO DO LEITOR NO ESPAÇO DA RECEPÇÃO


CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA

Daniel Prestes da Silva (UFPA)

Resumo: Neste trabalho pretende-se discutir a emergência da figura do Booktuber no


Brasil, como um agente que participa do campo literário, interferindo na recepção
crítica de textos literários para o grande público. Por consequência, discutir-se-á a
ascensão desse leitor, que ocupa também a posição de crítico da obra literária, numa
comunidade de leitores que ocupa o espaço da internet, através da plataforma de
compartilhamento de videos YouTube. Dessa forma, vamos ao encontro do que propõe
Márcia Abreu no texto ‘Problemas de História Literária e interpretação de romances’
(2014), ou seja, do entendimento segundo o qual a História da Literatura deveria levar
em consideração o gosto do público leitor, o que, de acordo com a professora,
possibilitaria uma forma menos parcial e monolítica de conceber o cânone, de escrever
as histórias literárias e de compreender a tradição literária e a produção e recepção de
textos literários, nos ajudando a compreender como o surgimento desse novo agente no
campo literário transforma as sociabilidades permitindo novos pensamentos e

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modificando as relações de poder, como uma das questões fundamentais para o
historiador, de acordo com Roger Chartier em A ordem dos livros (1999).

Palavras-chave: Recepção crítica, Crítica Literária Brasileira no século XX, Crítica


Literária Brasileira no século XXI, Leitores, Booktubers.

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E SUA INTERFERÊNCIA NA


LITERATURA RUSSA DA ÉPOCA: A PRESENÇA DE EVENTOS BÉLICOS
NA OBRA DE LEONID ANDREEV

Daniela Simone Terehoff Merino (USP)

Resumo: A Primeira Guerra Mundial modificou drasticamente os rumos da História da


humanidade. A Rússia foi um dos países em que a marca deixada pela Guerra jamais se
apagou. Os eventos bélicos ocorridos no mundo entre 1914 e 1918 influenciaram os
russos diretamente, não apenas em sua situação militar, política e social como também
no que diz respeito à sua vida cultural, artística e espiritual. Neste contexto, a literatura
russa da época trouxe para suas obras temas estritamente relacionados à guerra, tais
como a misericórdia, o sofrimento das mães e a desgraça dos feridos nos campos de
batalha. Entre os escritores que trouxeram situações e sensações causadas pela guerra
para dentro de suas obras, destaca-se Leonid Andreev (1871-1919) que por mais de uma
vez incluiu a zona de conflito da guerra em peças, artigos e contos escritos no período.
A presente pesquisa – que conta com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo, processo nº 2017/21093-8) – visa trazer ao Brasil uma
abordagem inédita deste tema rico e inexplorado que é a relação de impacto que a
Grande Guerra teve sobre a arte russa do período. O ponto de partida desta apresentação
será especificamente a leitura de duas obras literárias de Andreev no original russo: a
peça “Korol, zakon i svobóda” (“O rei, a lei e a liberdade”), escrita em 1914 e a novela
“Nochnoi Razgovor” (“Conversa noturna”), de 1915. Ambas as obras são fundamentais
para a compreensão desta inter-relação com a guerra, já que abordam diretamente o
episódio da violação da neutralidade belga pelo exército alemão em 5 de agosto de
1914. A apresentação contará ainda com o apoio do texto intitulado “Leonid Andreev v
natchale Pervoi Mirovoi Voini” (“Leonid Andreev no início da Primeira Guerra”),
escrito pelo Dr. Ben Hellman e publicado em 2009.

Palavras-chave: Primeira Guerra Mundial, Literatura russa, Teatro russo, Leonid


Andreev

A IRMÃ DE STANISLÁVSKI. ZINAIDA SOKOLOVA E A ORGANIZAÇÃO


DO ESTÚDIO DE ÓPERA E ARTE DRAMÁTICA (1935 - 1938).

Diego Fernandes Garcia Moschkovich (USP)

Resumo: A presente comunicação apresenta Zinaida Serguêevna Sokolova (1965 –


1950), irmã do diretor Konstantin Serguêevitch Stanislávski (1863 – 1938), e
responsável pela organização de seu último Estúdio, o Estúdio de Ópera e Arte
Dramática (1935 – 1938). Referida muitas vezes como “a mais fiel ajudante” de
Stanislávski, ou mesmo “apenas uma atriz fracassada”, Sokolova foi de fato a grande

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sistematizadora da pedagogia teatral sobre o “sistema” que leva o nome de seu irmão.
Esta comunicação apresenta parcialmente os resultados da pesquisa “O último
Stanislávski em ação: tradução e análise das experiências do Estúdio de Ópera e Arte
Dramática” (pesquisa fomentada pela FAPESP), na seguinte estrutura: I. Zinaida
Sokolova. II. A experiência pedagógica de Sokolova. III. Sokolova e a organização do
Estúdio de Ópera e Arte Dramática. A fundamentação teórica da comunicação parte das
lembranças de alunos de Sokolova (Novítskaia, Gálitch, Kristi) e explora dois excertos
autobigráficos inéditos encontrados num recente estágio de pesquisa (BEPE/FAPESP)
nos Arquivos do Teatro de Arte de Moscou (Moscou, Rússia).

Palavras-chave: teatro, teatro russo, stanislávski, tradução

A PAISAGEM SONORA NO ROMANCE BELÉM DO GRÃO PARÁ DE


DALCÍDIO JURANDIR

Dione Colares de Souza (UFPA)

Resumo: Apesar de negligenciado em nossa sociedade, o fenômeno sonoro revela


acontecimentos sociais, bem como é capaz de indicar condições humanas e tendências
ideológicas. Mediante esse pressuposto e por meio do processo crítico-reflexivo,
analisar-se-ão as construções narrativas carregadas de historicidade, lócus das relações
homem-mundo, mediadoras de uma práxis humana que remete aos espaços da vida
cultural descritos no romance Belém do Grão Pará de Dalcídio Jurandir. Nesse sentido,
propõe-se olhar para este detalhe latente, embora bastante explorado, e presente no
referido texto: a paisagem sonora. Desse modo, os elementos para a ação investigadora
serão elencados com base na cultura e na história social, contextos em que se entrelaça a
trama ficcional e, assim, torna-se agente da reconstrução da paisagem musical manifesta
no tempo-espaço do romance. Destarte, a partir dos fragmentos narrativos do romance,
previamente selecionados, apontar-se-ão os espaços musicais e os sujeitos sociais como
agentes condicionantes dos processos significantes e reveladores da cultura e da
paisagem sonora em Belém do Grão Pará.

Palavras-chave: CULTURA, HISTÓRIA, PAISAGEM SONORA, DALCÍDIO


JURANDIR.

O CRÍTICO NESTOR VÍTOR E O CÂNONE ESTABELECIDO PELA


CRÍTICA NATURALISTA DO SÉCULO XIX

Douglas Ferreira de Paula (USP)

Resumo: O presente trabalho é parte de uma pesquisa ampla sobre o pensamento crítico
de Nestor Vítor do Santos (1868-1932). Consiste em uma leitura de sua obra e da
relação que esta estabelece com o meio cultural e com o campo literário brasileiro no
período da República Velha (1889-1930). O trabalho proposto para o simpósio
concentra-se na análise da posição do crítico no interior do campo literário, tendo como
pano de fundo a sua relação com a crítica literária naturalista do século XIX, encarnada
na tríade consagrada da geração de 1870 (Sílvio Romero, Araripe Júnior e José
Veríssimo). No enfoque escolhido, objetiva-se destacar o significado do modelo de

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crítica naturalista posta em movimento pela tríade e a diferença de posicionamento de
Nestor Vítor que representou, no interior da historiografia literária, o primeiro e talvez
mais importante crítico do simbolismo brasileiro. Simbolismo que, como se sabe, não
foi bem recebido pela crítica oficial naturalista, impedindo a canonização imediata dos
seus principais nomes, como Cruz e Sousa, Emiliano Perneta ou Alphonsus de
Guimarães. Com o referencial dos principais estudiosos da obra da tríade crítica
(Barbosa, 1974; Bosi, 1976; Cairo, 1996; Candido, 2006; Ventura, 1993) e com a
perspectiva sociológica da noção de campo (Bourdieu, 2004; Miceli, 2001), busco
interpretar a obra de Nestor Vítor como de denúncia dos limites da crítica e da
legitimidade do cânone produzido e reproduzido pela crítica naturalista, não tanto por
uma oposição de princípio ou metodológica de Nestor Vítor frente ao modelo
naturalista, mas pela posição inicialmente secundária e marginal que o crítico assume no
interior do campo literário, fortemente atravessado por relações extraliterárias,
denominadas por ele como “política literária”, isto é, um conjunto de relações que
possibilitavam a consagração (canonização) ou não (esquecimento) de escritores e
artistas do período da República Velha.

Palavras-chave: Nestor Vítor, crítica literária, simbolismo brasileiro.

MINÁEV E O HERÓI DO SEU TEMPO

Edelcio Americo (UFF)

Resumo: Cada época produz seus heróis, que servem de "modelos" para escritores e
poetas. Cada herói, por sua vez, carrega não apenas traços de sua época, sendo
influenciado pelo mundo que o cerca, ou seja, ou ele vive de acordo com seus
"semelhantes" ou rompe com os padrões geralmente aceitos de comportamento social.
A literatura russa apresentou, desde o século XIX, vários heróis, “Ievgueni Onéguin”,
de Puúhkin, um jovem dos anos 20 do século XIX: inteligente, educado, integrante da
aristocracia, mas insatisfeito com a realidade existente, tendo passado os melhores anos
de sua vida em uma existência sem sentido e sem propósito. O aparecimento de tal herói
causou na sociedade e círculos literários da época, uma verdadeira tempestade de
paixões. A literatura russa sequer teve tempo de descansar e surgiu Pechórin, "O herói
do nosso tempo", de Mikhail Lérmontov, e mais um destino trágico. O desejo
apaixonado de entender o sentido de suas vidas e a busca pela verdade, de alguns heróis
e a existência parasitária e sem propósito, de outros, ou, simplesmente, o trágico
distanciamento entre os sonhos e a realidade. A literatura produziu uma série de outros
heróis de seus tempos: Bazárov de Turguéniev, de natureza completamente diferente da
de Onéguin e Pechórin. Andrei Bolkónski e Piere Bezúkhov, os melhores representantes
da aristocracia, retratados por Lev Tolstói no romance "Guerra e paz". Assim como o
alcoólatra Vénechka, da obra de Venedikt Erofeev, "Moscou - Petuchki" (1973), pode
ser considerado o último herói da literatura soviética, o herói de Dukhless, escrito por
Serguei Minaev em 2006, pode ser considerado um dos primeiros heróis da nova
literatura russa, um novo herói do seu tempo. Herói de uma literatura pós-moderna, um
"homem supérfluo" ou, como o próprio autor complementa no próprio título da obra:
um "homem de mentira".

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Palavras-chave: Literatura russa moderna, Mináev, Homem supérfluo, herói

“O LIMBO FELIZ DE UMA NÃO-IDENTIDADE”: O CORPO


HERMAFRODITA NO DIÁRIO DE HERCULINE BARBIN E A
OBSCENIDADE DA EXISTÊNCIA NO SÉCULO XIX

Eder Ahmad Charaf Eddine (USP)

Resumo: Herculine Barbin (1838-1868) é um sujeito intersexo, criado como


pertencente ao universo feminino até a juventude e obrigado a trocar de sexo após
processo judicial amparado por laudos médicos. Essa decisão lhe impôs uma nova
identidade, pois Barbin não se encaixava no próprio corpo. O presente trabalho parte da
análise foucaultina da sexualidade para percorrer os caminhos de Barbin, descrevendo
suas experiências sexuais e a sua constituição como sujeito que não pertencia a nenhum
dos sexos socialmente descritos. A partir das memórias do diário de Barbin, é possível
afirmar que o binômio masculino/feminino não foi capaz de definir uma identidade,
pois, mesmo sendo criado como menina, aquele sentia atração física e sexual por outras
meninas e, quando na posse de um registro que lhe atestava a constituição como
menino, não conseguiu se adaptar ao que chamou de sexo forte. Esse conjunto de
escritos foi organizado e publicado na França, por Foucault, cem anos após a morte
Barbin, em 1978, sob o título Herculine Barbin dite Alexina B. Como conclusão aponta-
se que a sexualidade e as definições de Herculine/Alexine não se enquadravam em
nenhum padrão estabelecido pela sociedade. As passagens eróticas do seu diário
constroem uma obscenidade eivada pelo amor lésbico e pela sexualidade da jovem
mulher que descobriu um pênis interno em seu corpo e que, por conta disso, teve que
assumir uma identidade masculina.

Palavras-chave: Alexine Barbin, Abel Barbin, identidade sexual, erotismo na literatura,


Michel Foucault

PARA ALÉM DE "POESIA AO NORTE"

Edneia Rodrigues Ribeiro (UFMG/IFNMG)

Resumo: Embora ainda não se conhecessem pessoalmente, o primeiro contato literário


entre João Cabral de Melo Neto e Antonio Candido foi marcado pela publicação do
texto “Poesia ao Norte”, no qual o jovem crítico analisa o livro de estreia do poeta
pernambucano, Pedra do sono (1942). Essa análise, como reconheceu o próprio João
Cabral, em entrevistas, foi profética acerca da poesia que ele viria a desenvolver . Além
de ter sido o primeiro, na Região Sudeste, a publicar um texto crítico analisando o livro
do poeta principiante, Candido apontou algo a que outros leitores não haviam se
atentado: a inclinação do pernambucano ao cubismo. Enquanto enfatizava-se a
recorrência de elementos surrealistas, ele percebeu proximidades entre essa outra
corrente de vanguarda e o aspecto construtivista peculiar à poesia daquele que,
futuramente, tornou-se conhecido como “engenheiro do verso”. Apesar da relevância do
ensaio que marca o batismo crítico de João Cabral, Candido dedicou-se pouco à análise
da poesia cabralina. Em contrapartida, o poeta também não fez menção a esse crítico em

21
seus livros, nem mesmo em Museu de tudo composto por vários poemas em
homenagem a personalidades de diversos segmentos, em dedicatórias ou em outros
registros. A falta de referência explícita em suas obras não representa, no entanto, a
ausência de afinidades estéticas e ideológicas nas propostas que ambos desenvolveram
para a Literatura Brasileira. Este trabalho pretende observar as convergências de ideias e
a relação amistosa mantida por dois dos maiores nomes da Literatura Brasileira,
buscando demonstrar, portanto, como seus caminhos se cruzaram desde o primeiro
encontro entre Pedra do sono e “Poesia ao Norte”.

Palavras-chave: Antonio Candido, João Cabral de Melo Neto, poética da modernidade,


crítica literária.

O CONCEITO DE TEXTO DA CIDADE E AS POSSIBILIDADES DE SUA


APLICAÇÃO PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO NA LITERATURA
BRASILEIRA

Ekaterina Volkova Americo (UFF)

Resumo: O objetivo da presente comunicação é abordar as possibilidades de aplicação,


ao Rio de Janeiro, do conceito de “texto da cidade”. O conceito de texto da cidade
surgiu nos anos 1980, no âmbito da Escola Semiótica de Tártu-Moscou e, mais
precisamente, nos trabalhos de Vladímir Toporov e Iúri Lotman que o utilizaram
inicialmente à imagem das duas capitais russas, Moscou e São Petersburgo, na cultura
russa em geral e na literatura em particular. De acordo com os semioticistas
(AMÉRICO, 2011), as descrições das duas capitais, presentes na obra de vários
escritores e poetas, possuem pontos de concorrespondência que permitem isolar as
características de cada uma das cidades. A imagem literária do Rio de Janeiro também
pode ser observada na obra de muitos autores brasileiros, entre eles Machado de Assis,
Lima Barreto, Clarisse Lispector e, se falarmos da literatura brasileira atual, Rubens
Figueiredo. Ao lançar mão do conceito de texto da cidade, formulado pelos
semioticistas russos, tentaremos verificar se é possível apontar para a presença do texto
da cidade do Rio de Janeiro na literatura brasileira.

Palavras-chave: texto da cidade, semiótica da cultura, Rio de Janeiro, literatura russa,


literatura brasileira

A REPRESENTAÇÃO DO FICCIONAL E DO FACTUAL CONTIDOS NO


ENREDO FICCIONAL DE HAROLDO MARANHÃO

Élen Mariana Maia Lisbôa (UFPA)

Resumo: Esta comunicação tem por objetivo discutir a relação entre fato e ficção tendo
por referência o romance Cabelos no coração, de Haroldo Maranhão. Para conduzir essa
discussão do ponto de vista teórico partiremos das obras de Wolfgang Iser (1996), que
explora os atos de fingir em textos ficcionais, partindo do pressuposto de existência de
uma tríade construída pelo real, fictício e imaginário, discussão retomada por Karlheinz
Stierle (2006). Teóricos como Gerard Genette (1990) também direcionaram seu campo
de estudo para o debate entre a relação do caráter ficcional e factual do que está sendo

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narrado, assim como Linda Hutcheon (1991) ao tratar da metaficção historiográfica,
dando espaço para a abordagem da problemática dicotomia entre o ficcional e real, que
possibilita identificar, no caso do interesse da presente pesquisa, a existência de
características textuais que permitem visualizar representações do real no texto ficcional
haroldiano. Ao final, o estudo destaca a existência de uma relação do ficcional com o
real, por intermédio da utilização de paródia e recriações de fatos históricos.

Palavras-chave: representação, ficcional, factual

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE GUILHERME COELHO EM ÓRFÃOS DO


ELDORADO

Eliane Auxiliadora Pereira (IFAZ)

Resumo: Este estudo propõe uma análise do filme Órfãos do Eldorado, de Guilherme
Coelho, lançado no cinema em 2015. O objetivo é verificar o que disse a crítica
especializada em cinema sobre o processo de criação engendrado neste filme. O
cineasta, em sua obra, procurou mostrar uma Amazônia sem os estereótipos com os
quais esta região costuma ser retratada. Nela percebemos o cotidiano das pessoas, os
costumes, a música e algumas das atividades desenvolvidas na região. Além disso, há
um quê mítico e fabular na trama engendrada por ele, quando, na narrativa fílmica, o
cineasta nos traz as lendas, os costumes e os mistérios das águas dos rios amazonenses.
O filme Órfãos do Eldorado despertou o interesse da crítica especializada, entre outros
motivos, porque a obra é uma adaptação da obra do consagrado escritor amazonense
Milton Hatoum. O que esperar desta transposição da linguagem literária para a
cinematográfica, já que se trata de uma obra extremamente subjetiva e intimista?
Alguns críticos buscaram comparar a questão da fidelidade entre as suas obras; outros
atentaram à forma de montagem escolhida por Guilherme Coelho para retratar as
peculiaridades presentes na obra de Hatoum e outros como a cenografia construiu esta
história. A produção de Guilherme Coelho apresenta uma criação baseada nas
estratégias cinematográficas. Utilizando do visual e da sonoridade, a Amazônia é
contada a nós na figura de Arminto Cordovil e seu mundo fragmentado e mítico. Para
que o espectador pudesse visualizar esse mundo fragmentado e mítico, Coelho optou
pelas imagens simbólicas – um rio, uma árvore, uma floresta, um mito – elementos que
constituem esse espaço enigmático tão presente aos pensamentos do personagem.
Através das entrevistas e análises da crítica especializada, ponderaremos sobre o
processo de criação de Guilherme Coelho.

Palavras-chave: Filme. Órfãos do Eldorado. Crítica especializada. Processo de criação.

A CONTRIBUIÇÃO DE HAROLDO MARANHÃO À LITERATURA


BRASILEIRA

Elisangela Ribeiro de Oliveira (UFPA)

Resumo: Esta comunicação objetiva refletir sobre a contribuição do romancista


paraense Haroldo Maranhão (1927-2004) à literatura brasileira ao longo de sua vida, ora
exercendo o papel de uma espécie de mecenas, ao tomar para si a orientação do

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Suplemento Literário Arte Literatura do jornal Folha do Norte (1946-1951), jornal
pertencente a sua família, no qual divulgava o que havia de mais recente no mundo das
letras, ora assumindo o papel de crítico literário ao discutir questões pertinentes da
transformação por que passava a literatura brasileira e paraense. Tomaremos como base
o estudos de Abreu (2014), Jobim (2005), Nascimento (2012; 2018) e Nunes (2012).
Haroldo Maranhão tornou-se um grande contista e romancista, mas as histórias literárias
não fizeram menção a esse grande autor brasileiro, mesmo as do século XX, a exemplo
das história literária de Alfredo Bosi (1970) e Aderaldo Castello (1990). Entretanto, o
filósofo e crítico Benedito Nunes tornou-se este bastião da divulgação da obra
haroldiana, incluindo a apreciação, em 1984, do primeiro romance O tetraneto del-rei
(1982) o que ajudou na divulgação da ficcão de Haroldo Maranhão, a qual passou por
instâncias legitimadoras como a Universidade Federal do Pará que incluiu como leitura
obrigatória uma de suas obras. Entretanto, pode-se concluir que o ficcionista garantiu o
seu lugar na história literária paraense, mas ainda há um longo caminho para que ele
seja reconhecido no Brasil.

Palavras-chave: Haroldo Maranhão. crítica literária. Benedito Nunes, O tetraneto del-


rei

A TRADUÇÃO FRANCESA DO CONTO "A TERCEIRA MARGEM DO RIO",


DE GUIMARÃES ROSA

Elvis Borges Machado (UFPA)

Resumo: A presente comunicação é um breve exame da tradução francesa do conto “A


terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, com o intuito de verificar como a
versão de Inês Oseki Depré (“Le troisième rivage du fleuve”), traduzida em 1982,
procura recuperar, na língua francesa, o sofisticado trabalho poético que anima a obra
rosiana. A importância hermenêutica que a tradução suscita é o que nos permite
contemplá-la sempre como uma recepção crítica da obra (JAUSS, 1994), o que nos
convida a uma leitura para além da comparação lexical. Neste contexto de compreensão,
a simples frase: “nosso pai nada não dizia” (ROSA, 2017, p. 384), não deve ser medida,
em sua eminente virtuosidade, pelo pleonasmo de negação que se aproxima de uma
descrição da fala popular, mas sim, pela sensualidade que a composição rosiana
provoca, distanciando-se do racionalismo da versão francesa, “Notre père ne répondait
rien” (ROSA, 1982, p. 35). A inclinação aos sentidos remete a obra rosiana a uma
leitura sempre em voz alta, aproximando-se de uma escrita não prosaica. Portanto, o
refinamento plástico da linguagem de Guimarães Rosa, não se confundindo
simplesmente com uma rica oralidade regional, aguça a percepção crítica do leitor por
meio de uma intrigante linguagem pautada, às mais das vezes, num adensamento
semântico. Essa ruptura do entendimento habitual da língua portuguesa eleva a obra
rosiana a proporções especulativas, enquanto que a tradução francesa, devido a sua
inerente tendência racionalista, clarifica e dissolve as especulações que o “verso”
rosiano reclama.

Palavras-chave: Tradução francesa. “A terceira margem do rio”. Guimarães Rosa.

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A FARISEIA, DE FERNÁN CABALLERO: BREVES APONTAMENTOS

Esequiel Gomes da Silva (UFPA)

Resumo: O Apóstolo, periódico religioso, moral e doutrinário, consagrado aos


interesses da religião e da sociedade circulou no Rio de Janeiro de 1866 a 1901. Em
uma época fortemente marcada pelas ideias de moralização e disciplinamento da
sociedade, ideias tão caras à medicina higienista, o referido periódico surge com a
“missão sublime e indeclinável de guiar os povos pela senda do dever”. Para cumprir
seu objetivo, valia-se da mesma estratégia da imprensa comercial, publicando
romances-folhetim, em sua maioria traduções e adaptações, com títulos bastante
curiosos, como Coisa completa... só na outra vida, Dívidas pagas, Um naufrágio e A
fariseia, de Fernán Caballero, pseudônimo da escritora espanhola Cecília Böhl de Faber
(1796-1877). Na comunicação que ora proponho, farei uma breve apresentação deste
último, que circulou entre 20 de outubro e 21 de novembro de 1886 e narra episódios da
vida de Bibiana, uma balzaquiana que se casa com um homem mais velho.

Palavras-chave: Imprensa religiosa; folhetim; século XIX

“UMA FORÇA POTENCIALMENTE EXPLOSIVA”: GUIMARÃES ROSA,


TRADUTOR DO BANDITISMO SOCIAL DE ERIC HOBSBAWM

Everton Luís Teixeira (UFPA)

Resumo: Nesta comunicação adentra-se por um caminho metodológico que passa em


meio aos pressupostos da análise comparatista e aos da Estética da recepção ao propor
um diálogo entre a literatura brasileira e a historiografia contemporânea por intermédio
do exame de Grande sertão: veredas (1956) de Guimarães Rosa e das obras de Eric
Hobsbawm as quais se voltam especificamente para a temática do banditismo social e
dos respectivos desdobramentos dessa em espaços marcados pelo atraso econômico e
pela endemia da violência, tais como o Brasil, a saber: Rebeldes primitivos (1959),
Bandidos (1969) e o mais recente Viva la revolución (2016). Guimarães Rosa, em
diferentes momentos de sua ficção, pareceu aproximar-se dos métodos de pesquisa
histórica, realizando uma espécie de análise da realidade e dos comportamentos
desenvolvidos por indivíduos simples como, por exemplo, seus modos de agir e de
pensar as grandes questões envoltas entre o “superficialmente moderno e o arcaico”
(HOBSBAWM, 2016, p. 13) presentes na configuração social de quase toda a América
Latina. O maior objetivo a ser atingido por este trabalho é a leitura da produção literária
com o aporte historiográfico e a análise da história com base na interpretação da
literatura. Em outras palavras, significa, por um lado, ampliar a já longa vereda
interpretativa rosiana tendo como lente de aumento o exame do tema inaugurado por
Hobsbawm entre as décadas de 1950 e 1960, haja vista que, apesar de contemporâneos,
os trabalhos destes dois intérpretes do Ocidente no século XX nunca foram postos
devidamente em confronto. Por outro lado, busca-se contribuir com a ampliação desse
ramo da história comparada trazendo à tona a figura ambígua do jagunço nordestino,
amostra de celerado que escapou à classificação desse historiador, mas que ainda assim

25
obedece a muitos quesitos estabelecidos por Hobsbawm, embora a escrita rosiana os
tenha embaralhado intencionalmente em suas páginas.

Palavras-chave: Banditismo social, Eric Hobsbawm, Guimarães Rosa, Grande sertão:


veredas, Século XX.

AS ARMAS MIRACULOSAS DE AIMÉ CÉSAIRE

Érika Pinto de Azevedo (UNIFAP)

Resumo: No século XX, a poesia de Aimé Césaire (1913-2008), escritor martinicano,


criou novos rumos para a poesia francófona e notadamente para a cognição poética das
Antilhas, cuja história foi selada pela escravidão e colonização. Foi em um círculo de
estudantes, mas também de escritores, intelectuais e artistas antilhanos e africanos
residentes em Paris ou de passagem pela capital que surgiram interrogações sobre
questões étnicas, identitárias e sobre a negritude, termo controverso que pode remeter a
“uma atitude essencialmente pragmática” (COMBE, 2014, p. 35), uma reivindicação
formulada em um cenário intelectual e artístico em ebulição abertamente contrário à
“aventura colonial” (NDJÉOHA apud MARTIAL, 2004). Inicialmente, Césaire
afirmou-se pela publicação de Cahier d’un retour au pays natal (Diário de um retorno à
terra natal, 1939/1947). Ao fazê-lo, divulgou a literatura escrita pelo homem negro,
afirmou a presença da literatura antilhana na literatura escrita em língua francesa,
participou da revolução estética em curso naquele século, mas também da revolução
política que ora combatia o pensamento eurocêntrico e etnocêntrico. Essas foram
algumas das atividades que constituíram a trajetória poética, política e militante de
Césaire, inscrita no processo histórico das lutas anticoloniais. Essa comunicação resulta
das investigações iniciais de uma pesquisa em desenvolvimento realizada na
Universidade Federal do Amapá e intitulada: “Relações entre o real e o imaginário nas
literaturas modernas francófonas: Aimé Césaire e Léon-Gontran Damas”. A
comunicação tem por objetivo examinar a escrita de Les Armes miraculeuses (As armas
miraculosas), coletânea que reuniu em 1946 poemas anteriormente publicados por Aimé
Césaire, de 1941 a 1943 (ou 1945?), em revistas. Para fazê-lo, analisarei a relação que
existe em alguns poemas da coletânea entre a concepção poética particular do escritor e
as lutas de caráter geral da descolonização e da emancipação dos homens as quais
aderiu.

Palavras-chave: Césaire (Aimé). Poesia. História. Identidade.

LITERATURA AMAPAENSE NO OIAPOQUE – QUESTÕES DE


LITERATURA DE FRONTEIRA

Fabíola do Socorro Figueiredo dos Reis (UNIFAP)

Resumo: A fronteira Brasil-Guiana Francesa permaneceu durante um longo tempo


isolada e envolvida com as histórias dos garimpos ilegais, da prostituição e do ouro da
região. A disciplina Literatura Amapaense, ofertada pela primeira vez em 2018 no
Campus Binacional do Oiapoque (Universidade Federal do Amapá), lida com um
contexto de Literatura Amapaense como literatura de fronteira/literatura menor (termo
advindo da obra de Derrida/Guattari Kafka – por uma literatura menor) de uma maneira

26
diferente da capital Macapá (Campus Marco Zero), distante 600 quilômetros de
Oiapoque. Na disciplina há o estudo das origens do termo “literatura de fronteira” e
“literatura menor”, o trabalho da crítica literária para entender como as obras que
circulam na fronteira não estão no cânone literário, a comparação com outras literaturas
de fronteiras e literaturas de povos minoritários no Brasil e no mundo. Esta
comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos trabalhos dos discentes de
Literatura Amapaense no Oiapoque, centrando no contexto amazônico e a produção
literária contemporânea do município, apresentando também autores e obras e a visão
histórica e cultural predominantes nos últimos anos.

Palavras-chave: Literatura de fronteira, Literatura Menor, Literatura Amapaense,


Oiapoque

CARTOGRAFAR POÉTICAS ESQUECIDAS: COLEÇÕES, A FORMA DA


POESIA EM LUIZ BACELLAR E ASTRID CABRAL

Fadul Moura (UNICAMP)

Resumo: A pesquisa que se apresenta é fruto de resultado parcial das pesquisas de


doutoramento no Programa de Pós-graduação em Teoria e História Literária da
Universidade Estadual de Campinas. Ela versará sobre dois poetas deixados à margem
da tradição da crítica literária brasileira: Luiz Bacellar e Astrid Cabral. Tendo como
ponto de partida, respectivamente, Frauta de barro (1963) e Infância em franjas (2014),
põe-se em evidência dois traços comuns a eles: a representação da Amazônia alheia à
perspectiva do exótico e o legado poético-cultural arquivado. Nesses livros, Manaus é
apresentada como espaço em ruínas, o qual, com a guinada da memória, é iluminado
pelos sujeitos poéticos quando tudo está sendo arruinado pela lógica do progresso; por
meio da poesia, os poetas registram esses eventos, fundando suas histórias a contrapelo.
Ao lado dessa atitude, no plano da fatura textual, os poetas dialogam com a tradição
brasileira e estrangeira, revigorando um legado, uma memória literária. Alinhando seus
atos em relação ao passado, observa-se que os poetas não exercem um trabalho de
reafirmação do cânone histórico e literário, mas relem-nos para tomá-los como fato
contemporâneo, arquivo que sobrevive pela escrita e rastro do que foi na realidade
primeira, mas que se distanciou ao ser lido e depositado em outro livro ou poema. À luz
das noções de arquivo (DERRIDA, 2012; RICŒUR, 2008), o trabalho poético torna-se
resultado de uma deliberação, construção com tempos que resistem ao apagamento em
outra era, pois apresenta-se como rastro da resistência da memória eclipsada e afirma-se
como uma coleção que sobrevive pela poesia. Por esse motivo, o método de abordagem
adotado será o da análise literária, na esteira de Bosi (2000), e da Literatura Comparada
(COUTINHO, 1996; MARQUES, 2016), acreditando que o que começa na fatura
textual extrapola a matéria literária para apresentar uma nova face da Amazônia.

Palavras-chave: Poesia brasileira do século XX; Amazônia brasileira; Coleção; Luiz


Bacellar; Astrid Cabral.

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“QUANDO O POETA DEUS CHAMA O POETA HOMEM...” ECOS
FILOSÓFICO-RELIGIOSOS DA TRAJETÓRIA CONSTITUTIVA DO POETA
EM “O CHAMADO” DE SMARÁGDA MANTADÁKI

Fernanda Lemos de Lima (UERJ)

Resumo: A comunicação busca oferecer os resultados parciais de um estudo cujos


objetivos são a compreensão da construção de uma prosa ficcional que lida com uma
espécie de viagem atemporal de constituição do indivíduo-poeta, além de sua tradução
para a língua portuguesa. “Το κ?λεσμα” – “O Chamado” – é a obra da escritora grega
Smarágda Mantadáki e a hipótese de leitura se refere à ideia de que a obra se constrói
em diálogo com o pensamento neoplatônico, especialmente, no que diz respeito aos
filósofos Plotino e Jâmblico, além de trazer um evidente referencial cristão ao
evangelho de João, justamente aquele que se inicia com a ideia de que no princípio era o
logos, as obras desses autores seriam “discursos constituintes” em relação a “O
Chamado”. Além disso, objetiva-se investigar o diálogo do texto com a obra de Arthur
Rimbaud, em especial, no que diz respeito à figura do potencial poeta constituída ao
longo do texto, personagem amparada pela presença sobrenatural de um anjo. A
investigação se insere em uma pesquisa mais ampla sobre a presença de uma “estética”
neoplatônica em obras pós-clássicas. Em termos de fundamentação teórico-
metodológico, optou-se por basear a investigação nas ideias da análise do discurso,
especialmente, nas ferramentas de leitura propostas por Maingueneau. Intenta-se
observar como a trajetória da personagem Stéfanos se constitui enquanto viagem
literária de descoberta e de crescimento em que a transcendência pode ser vista como a
chave para a constituição poética do indivíduo.

Palavras-chave: Poeta,Filosofia, Religião, Transcendência.

O LUGAR DOS RELATOS NA ESCRITA DA NARRADORA DE MILTON


HATOUM

Flavia Roberta Menezes de Souza (IFPA)

Resumo: A narratologia, desde a década de 60, tem contribuído significativamente nos


estudos literários para a compreensão, principalmente, do romance moderno. Os
conceitos e termos utilizados ao longo dos anos sofreram releituras que necessitam de
acolhimento entre o público brasileiro, que não tem à sua disposição traduções que
tornem familiar as discussões mais recentes no campo da narratologia. Nesse sentido, o
grupo de pesquisa ANA – Amazônia Narratologia Anthropocene tem se ocupado do
estudo das propostas teóricas de Wolf Schmid (2010), que se destaca como uma das
mais recentes vozes sobre o assunto. Tendo aplicado suas reflexões teóricas à literatura
eslava, Schmid revisa e discute em Narratology: an introduction os tipos de narrador e o
ponto de vista na narrativa, apontando como esses dois aspectos têm sido confundidos e
não bem delimitados em estudos anteriores. Partindo da distinção proposta por Wolf
Schmid entre tipos de narrador e ponto de vista, apresentaremos uma leitura do romance
Relato de um certo Oriente de Milton Hatoum (1989), apontando para a sua estrutura e
composição. Essa leitura tem o objetivo de mostrar o romance sob uma perspectiva
diferente da qual tem sido apresentada pela crítica até o momento. Trata-se, portanto,
não apenas de um estudo sobre um dos romances modernos mais significativos e bem

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recebidos pela crítica literária até hoje, como também uma proposta de discussão teórica
que tem tornado bastante produtiva a leitura e interpretação de nossa literatura.

Palavras-chave: Romance moderno, narratologia, tipos de narrador, ponto de vista.

ENTRE MITOS E LENDAS NA PAN-AMAZÔNIA: A CULTURA POPULAR


PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS

Flávio Reginaldo Pimentel (IFPA)


Leticia Marques Silva (USP)

Resumo: O presente trabalho é resultado de leitura e análise acerca dos estudos sobre
Cultura Popular, mais especificamente o que podemos denominar de Literatura Oral ou
Popular. O corpus desta pesquisa é o livro Cuentos Amazónicos (2007) do escritor
colombiano Juan Carlos Galeano que trata dos mitos e lendas da Pan-Amazônia, que é
uma extensa área territorial de um importante bioma que inclui além do Brasil, os
seguintes países: Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa,
Peru, Suriname. Galeano é professor, poeta, escritor, folclorista e saiu recompilando por
toda Bacia amazônica, histórias, lendas, mitos e narrativas orais para compor seu livro.
O mito escolhido para análise é chamado Moniya amena, mito da árvore da abundância
e da criação do Rio Amazonas. Etimologicamente, a palavra mito deriva do grego
“mythos” que significa narração. É um relato maravilhoso que em geral interpreta a
origem do mundo ou de grandes acontecimentos da humanidade. Os mitos são
explicações que os homens dão aos fenômenos da natureza que não são possíveis
explicar pela lógica racional. Moniya amena faz parte da cosmologia dos índios Uitotos
ou Witotos que habitam a floresta amazônica entre o Brasil, Peru e Colômbia, sendo
este país onde se encontram em maior número populacional. São utilizados como
suporte teórico textos de ARANTES (1981), LUYTEN (1983), AYALA (1995),
CUCHE (1999), ROCHA (2004), BURKE (2010), entre outros.

Palavras-chave: Cultura Popular; Literatura Oral; Mitos; Pan-Amazônia

A NARRATIVA MITOPOÉTICA “O BOTO”, EM ANTÔNIO JURACI


SIQUEIRA

Francisca Claudia Borges Fernandes (UNIFESPA)

Resumo: RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo investigar a construção da


narrativa mitopoética “O boto” e a memória a partir da narrativa oral recontada em
forma de folheto de Cordel, “O chapéu do Boto”, de Antônio Juraci Siqueira. O autor
estudado tem como repertório as obras com temática amazônida e as narrativas orais da
região, privilegiando o estilo fantástico. Essa escolha se deu, a fim de valorizar o papel
da mitopoética, o mito como fonte de onde verte a poesia, com seus saberes e o
imaginário amazônico, bem como a oralidade presente na literatura escrita. A base
teórica, em linhas gerais, tratam da questão da literatura oral; os gêneros desse tipo de
literatura; o papel do narrador conforme Benjamin (1987); a questão da literatura oral,
com Cascudo (1978-2002); os gêneros desse tipo de literatura, de acordo com Todorov
(2017); as lendas e mitos presentes no imaginário popular; os arquétipos e memórias

29
amazônidas, segundo Loureiro (1995), assim como a questão da poética, da oralidade e
dos elementos performáticos apresentado por Paul Zumthor (1993), de que se vale o
contador no momento em que conta seus causos considerando o tripé: texto, corpo e
voz, seus elementos fundamentais. Como resultado vislumbramos o fazer literário de
Siqueira, autor contemporâneo que através de sua poética, retrata com muita
autenticidade as narrativas orais de uma comunidade, o imaginário amazônico ora serve
de fundo nas escrituras poéticas, ora como tema e metáfora de mundo.

Palavras-chave: PALAVRAS-CHAVE: Narrador, oralidade, memória.

A RELAÇÃO INTERARTES EM HERBERTO HELDER

Geovanna Marcela Da Silva Guimarães (UFPA)

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir a relação interartes em Herberto Helder


como forma de compreender a transformação crítica da discussão clássica em torno do
Ut pictura poesis, que relacionava poesia e pintura, no que seria a desconstrução dos
limites e fronteiras que outrora separavam as diversas artes, mostrando como, hoje, na
poesia, essa relação aponta para uma nova forma de fazer poético. Para isso, nos
valeremos da leitura de Lichtenstein (2005); Oliveira (1987); e de fragmentos de textos
poéticos de Herberto Helder presentes em Photomaton e Vox (2013a), Poemas
completos (2014) e de Os passos em volta (2013b).

Palavras-chave: Relação interartes; Herberto Helder; Poesia.

ANTONIO CANDIDO: LEITURAS DA FICÇÃO BRASILEIRA

Gilda Marchetto (UNIR/UNESP)

Resumo: O ideal romântico-nacionalista encontrou no romance a linguagem mais


eficiente de pesquisa e descoberta do país e, conforme Antonio Candido, um dos fatores
para compreender sua introdução no Brasil foi a busca de “novas necessidades de
expressão, correspondendo a uma visão diferente do indivíduo e da sociedade”
(CANDIDO, 1997, p. 99). A moreninha e O moço loiro de Macedo foram as primeiras
obras apreciáveis pela coerência e execução, “dando exemplo dos rumos que o nosso
romance seguiria, isto é, a tentativa de inserir os problemas humanos num ambiente
social descrito com fidelidade” (CANDIDO, 1997, p.107) Segundo o crítico, o romance
brasileiro contribuiu para fixar uma consciência viva da literatura como estilização de
determinadas condições locais e pendeu, desde cedo, “para a descrição dos tipos
humanos e formas de vida social nas cidades e nos campos” (CANDIDO, 1997, p. 99).
A partir dessas afirmações e considerando a relação entre literatura e sociedade, temos
por objetivo discutir os elementos que são mobilizados por Antonio Candido ao analisar
a prosa brasileira no período de formação da nossa literatura e como os aspectos sociais
se incorporam à estrutura da obra, tornando-se substância do ato criador.

Palavras-chave: Antonio Candido, Romance, Crítica literária.

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ANTOINE BERMAN: PENSADOR DA TRADUÇÃO LITERÁRIA.

Gilles Jean Abes (UFSC)

Resumo: Antoine Berman (1942-1991), linguista, tradutor e, sobretudo, teórico francês


da tradução, desenvolveu significativas reflexões sobre o ofício do tradutor e o objetivo
da tradução. Seu pensamento aflora notadamente os campos da filosofia da linguagem e
da teoria literária. Orientando de Henri Meschonnic e estudioso dos românticos
alemães, particularmente de seu processo de formação cultural (Bildung), no qual a
tradução teve um papel central, Berman elaborou conceitos fundamentais que
questionaram um fazer tradutório pautado na hegemonia do sentido e no apagamento do
Outro, cuja tradição francesa remonta aos séculos XVI e XVII, com as chamadas "Belas
infiéis". O objetivo dessa comunicação é a de discutir e melhor circunscrever conceitos
bermanianos que alicerçam seu pensamento. Abordarei sobretudo suas noções de
"tradução platônica" e de "ética da tradução", elaboradas em sua obra A tradução e a
letra ou o albergue do longínquo (2013 [1999]). Trata-se de apresentar um resultado
parcial de minha pesquisa sobre a obra de Berman que visa aprofundar seu pensamento
e torná-lo mais acessível aos estudiosos. De fato, a tradução da letra é frequentemente
mal compreendida, fora inclusive de seu contexto histórico, os anos 80 na França. Neste
período, por ocasião do bicentenário da Revolução francesa e de numerosas
manifestações sociais, se debateu a relação com o estrangeiro (sobretudo o imigrante) e
o Outro. Melhor compreender seu pensamento significa evitar, por exemplo, entender a
tradução da letra como tradução literal, o que se observa com frequência em trabalhos
de tradução comentada, quando se busca aplicar suas reflexões a uma prática tradutória.

Palavras-chave: Antoine Berman, Tradução literária, ética, tradução platônica

A. HERZEN E A TRADIÇÃO AUTOBIOGRÁFICA NA RÚSSIA E NO BRASIL

Giuliana Teixeira de Almeida (USP)

Resumo: Esta comunicação, que é fruto de uma pesquisa em andamento em nível de


doutoramento, visa refletir sobre a tradição autobiográfica na Rússia e compreender
como Passado e Pensamentos, de Alexander Herzen, urdiu essa tradição. Passado e
Pensamentos tornou-se uma obra canônica entre o círculo da intelligentsia russa e
influenciou muitas gerações no país. A ideia de “homem [e mulher] forjado/a pela
História” é uma constante na cultura russa e é o que motivou Herzen, assim como
muitos outros escritores do século XX a narrarem suas vidas talhadas pelos
acontecimentos da época. Com o intuito de compreender como o legado de Herzen foi
apropriado pela tradição literária russa, optamos por analisar textos de caráter
autobiográfico de autores do século XX pertencentes ao círculo da intelligentsia como
Lidia Guinsburg, Lidia Tchukóvskaia, Ievguênia Guinsburg e Boris Schnaiderman. O
estudo comparativo desses textos indicou que a ideia mestra de Herzen - de que as vidas
individuais importam e têm significado histórico – encontra-se no cerne de todas essas
empreitadas autobiográficas. É interessante atentar para o fato de que, através de
Schnaiderman, que se ligava à intelligentsia russa por interesse profissional e pelas suas
raízes, o legado de Herzen atravessou o atlântico e deu frutos na tradição literária
brasileira. GINZBURG, Eugenia Semynovna. Journey into the Whirlwind. New York:
Harcourt INC, 1995. GINZBURG, Lydia A. Blockade Diary. London: The Harvill

31
Press, 1995. GINZBURG Lydia. On Psychological Prose. Translated and Edited by
Judson Rosengrant. Princeton/New Jersey: Princeton University Press. 1991
PAPERNO, Irina. Stories of the Soviet Experience. Memoirs, Diaries, Dreams. Ithaca
and London: Cornell University Press, 2009. SCHNAIDERMAN, Boris. Caderno
Italiano. São Paulo: Perspectiva, 2015. _______________________. Guerra em
Surdina. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995. ???????. ????????? ????? ? ????. in
http://az.lib.ru/g/gercen

Palavras-chave: Autobiografia, Intelligentsia, História

AFONSO CONTÍNUO, SANTO DE ALTAR: O DILEMA DA CONSCIÊNCIA


HUMANA ENTRE O BEM E O MAL.

Gleice do Socorro Bittencourt dos Reis (UFPA)


Inara de Araujo Carvalho (UNAMA)

Resumo: O romance Afonso Contínuo, Santo de Altar de Lindanor Celina revela-se


uma obra instigante no sentido de suscitar muitas reflexões acerca de temas universais
como o bem e o mal, dilemas existenciais, dramas humanos e debates sociais. O
referido romance é uma fonte inesgotável de temas interessantes e importantes tanto do
ponto de vista literário quanto do ponto de vista social, por abordar temas polêmicos e
que provocam debates férteis e necessários. “Seu Afonso” por seus pensamentos vai
revelando ao leitor sua vida, seus sentimentos, ressentimentos, mágoas, críticas, etc. A
memória é elemento primordial nesse processo de construção da personagem e do fluxo
narrativo. “Seu Afonso”, a personagem principal do romance, é considerado por todos
um homem bom, devotado, um santo, porém ele vive se questionando se merece esta
alcunha, já que se pergunta se realmente já fez algo importante em sua vida que fosse
uma atitude santificadora que merecesse esse título. A personalidade de Afonso, seus
sentimentos mais profundos, são apresentados ao leitor com riqueza de detalhes,
provocando-o a refletir a própria indagação da personagem e o que diríamos afinal?
Afonso Romano é mesmo um “Santo de Altar”? A relevância de um estudo como este
está na valorização de nossos autores amazônicos que mesmo falando sobre sua terra
desenvolveram em suas obras temas extremamente universais, pois conforme explicita
Bruno Palma em prefácio ao livro Afonso contínuo, Santo de Altar: “Lindanor Celina
foge às armadilhas do regionalismo. Embora o romance se passe em Belém do Pará, e o
essencial da ação transcorra no Tribunal de Justiça dessa cidade, isto é apenas uma
‘amostra do mundo’”.

Palavras-chave: Lindanor Celina, Análise, Bem e Mal, Dilema.

REVERBERAÇÕES DA TRADUÇÃO E RECEPÇÃO DE AUTORAS RUSSAS E


SOVIÉTICAS NO BRASIL

Graziela Schneider Urso (USP)

Resumo: Embora mulheres brasileiras tenham vivido e estudado na União Soviética, e,


assim, tenha havido a possibilidade de trocas culturais, políticas, sociológicas,
epistemológicas, e ainda que A. Kollontai tenha começado a ser publicada no Brasil em

32
1958, em traduções indiretas, até agora não há dados concretos de que historiadoras,
sociólogas, feministas e pesquisadoras brasileiras tenham lido ou escrito sobre autoras
russas, ou seja, ainda não foram encontradas evidências de artigos, livros, relatos,
memórias e, até muito recentemente, havia pouquíssimos textos de e sobre mulheres
russas e soviéticas publicadas no Brasil e também não havia coleções de fontes escritas
por mulheres russas. Dessa forma, com exceção dos livros e textos de A. Kollontai,
havia unicamente alguns materiais de N. Krúpskaia, disponíveis exclusivamente na
internet, também em traduções indiretas. Além de Marina Tsvetáieva e Anna
Akhmátova, quase não havia mulheres em bibliografias, programas de disciplinas ou
pesquisas acadêmicas e ainda há pouquíssimas publicações - as mencionadas, pouco
mais do que um livro de Nina Berberova, um de Tatiana Tolstaya, e um conto da última,
outro de Teffi e um de Petruchévskaia. Nos últimos anos, surgiram alguns artigos, um
pequeno número de pesquisas e livros, mas exclusivamente sobre a relevância das
mulheres russas e soviéticas em geral, e só em 2014 “Mulher, Estado e Revolução”, de
Wendy Goldman, foi editado no Brasil. No momento, há cada vez mais artigos,
pesquisas e publicações críticas, mas, novamente, apenas sobre Kollontai ou mulheres
russas e a Revolução em geral, e não sobre ou de outras autoras específicas. Somente
em 2017 duas antologias de fontes, uma com 11 autoras e outra de textos de N.
Krúpskaia, foram publicadas, pela primeira vez em tradução direta do russo, além de
edições de Aleksiêievitch e Petruchévskaia, também vertidas diretamente. Assim, a
presença das mulheres na historiografia brasileira sobre a Revolução Russa, a chamada
"questão das mulheres", bem como as várias e complexas manifestações dos
movimentos políticos e artísticos de mulheres na Rússia pré-revolucionária, a
emancipação das mulheres na URSS e suas obras literárias e críticas eram e ainda são
praticamente inexistentes; além disso, bibliografias e programas de história, literatura e
cultura russa e soviética e as epistemologias em geral nas universidades brasileiras são
quase exclusivamente de autoria masculina. Esta comunicação traz uma discussão sobre
a ausência de pesquisa, tradução e recepção de mulheres russas e soviéticas, seu
protagonismo, produção e pensamento no Brasil, argumentando que a visão e registro
de estudiosos sobre o assunto é patriarcal e que os possíveis diálogos e reverberações
entre mulheres russas e soviéticas e brasileiras também podem ter sido invisibilizados.

Palavras-chave: Mulheres russas e soviéticas; literatura russa de autoria feminina;


tradução; recepção

AS REPRESENTAÇÕES AMAZÔNICAS NA LITERATURA ESCOLARIZADA

Haline Fernanda Silva Melo (UNAMA)


Hellen Cristina Aleixo Azeredo Moura (UNAMA)

Resumo: Neste trabalho, faz-se uma discussão sobre as representações amazônicas


apresentadas no cotidiano escolar, sobretudo as presenças e/ou ausentes dessas
representações dentro dos textos literários, sejam eles oral ou escrito. Para tanto, parte-
se do princípio de que o espaço da literatura escolarizada é bem pequeno, quase
inexistente, devido à ausência de práticas de recepção artística, nesse caso, as literárias.
O texto ressalta a relevância de se trabalhar a literatura amazônica em sala de aula,
especificamente nos últimos anos do ensino fundamental, pois, é nesse período que
fundamentalmente se desenvolvem os primeiros contatos do aluno com os meios de
leitura, sendo um livro em mãos ou então com o auxílio de um professor para formar

33
esse aluno leitor. Outra vertente evidenciada nesse estudo, diz respeito ao currículo
escolar, já que, acredita-se que a investigação dessa categoria é significativa para
vislumbrar o aspecto macro do planejamento escolar. A metodologia empregada tem
uma abordagem qualitativa e um cunho bibliográfico. Outros dados aqui apresentados
como relatos e dados estatísticos (obtidos de questionários), são decorrentes de dados
empíricos sobre a literatura no ambiente escolar. Os resultados preliminares da pesquisa
apontam para um apagamento significativo dos textos literários na escola, sobretudo os
que se referem a literatura de cunho amazônico. A pesquisa foi realizada dezembro de
2017. A amostra da pesquisa foi constituída de uma professora de língua portuguesa e
quarenta alunos do nono ano do turno da manhã. Dentre os autores abordados nas
leituras para a construção do texto estão: Durant (1998), Filipouski (2006), Geraldi
(2006), Moscovici (2011), Paulino e Cosson (2009), Paes Loureiro (1997), Zilberman e
Silva (2008), Zilberman (2010)

Palavras-chave: Escola. Literatura Escolarizada. Representações Amazônicas.


Currículo Escolar.

SER UMA PESSOA, TORNAR-SE OBRA: A LIBERDADE HORRÍVEL DE


NÃO SER EM ÁGUA VIVA, UM SOPRO DE VIDA E A HORA DA ESTRELA
DE CLARICE LISPECTOR

Harley Farias Dolzane (UFPA)

Resumo: Em crônica intitulada “persona”, publicada originalmente no Jornal do Brasil


em 1968, Clarice Lispector comentando sobre o filme homônimo de Ingmar Bergman,
estabelece uma relação entre a vida e a representação teatral/criação artística que,
certamente, ilumina a compreensão do conjunto de sua obra literária, sobretudo em sua
última fase. Na crônica, a autora escreve que viver é fabricar a própria máscara
(persona) e escolhê-la é o primeiro gesto voluntário humano. Trata-se de gesto solitário
e amedrontador, mas que, uma vez tomada a decisão de afivelar a máscara, concede ao
corpo uma nova firmeza em que “a cabeça se ergue altiva como a de quem superou um
obstáculo. A pessoa é.” E ser, aqui, realiza-se como liberdade que se destina ao ser
humano, a “horrível liberdade de não ser” que se doa para que possamos escolher ser o
que somos apossando-nos “da única coisa completa que nos é dada ao nascimento: o
gênio da vida”. Completar a única coisa completa que nos foi dada, certamente,
pressupõe uma travessia que traduz uma procura por apossar, apreender aprendendo-se
a si próprio. É isso o que se observa ao longo da ficção de Clarice Lispector. Interessa-
nos, neste trabalho, aprofundar essas reflexões, especificamente, a partir da concretude
dos três últimos romances da autora, Água viva (1973), A hora da estrela (1977) e Um
sopro de vida (pulsações) (1978). Neles, o teatro da vida/linguagem desdobra e explicita
a questão que, desde sempre, se apresentava no cerne da escritura Clariceana, mas que,
por outro lado, era apenas dissimulada como uma espécie de pano de fundo para o
enredo nos romances anteriores, e que, a partir de então, será o próprio espaço de
realização da linguagem enquanto linguagem: a arte.

Palavras-chave: Obra de arte, criação literária, pensamento poético, romance, Clarice


Lispector

34
“LE CORBEAU” ANÔNIMO DE 1853: A PRIMEIRA TRADUÇÃO FRANCESA
DO POEMA “THE RAVEN” DE EDGAR ALLAN POE

Helciclever Barros da Silva Vitoriano (UnB)

Resumo: O objetivo desta comunicação é trazer ao debate a tradução anônima do


poema “The Raven” de Edgar Allan Poe, publicada em 9 de janeiro de 1853 no Journal
D’Alençon. Trata-se, diferentemente, de equívoco comum, que atribui a Charles
Baudelaire o posto de primeiro tradutor francês do texto poético mais conhecido de Poe,
da inaugural tradução do corvo em solo francês. Neste artigo também desenvolvo um
breve estudo comparado entre essas duas primeiras traduções francesas, tendo em vista
que ambas se interseccionam não somente do ponto de vista temporal, mas também
discursivamente, na medida em que têm em comum um mesmo interlocutor: o editor e
bibliógrafo A. P. -M. O mais importante, ao cabo, é trazer a luz da crítica brasileira
atual a supracitada tradução anônima, esquecida pelo tempo, apagada que foi pela figura
brilhante de uma das maiores expressões da poesia francesa. À luz de Gérard Genette
(2010), discuto a relação palimpséstica entre essas duas primeiras traduções do corvo de
Poe na França, a primeira caída no esquecimento e a segunda glorificada pelo peso
canônico de seu autor. Em anexo à exposição crítica empreendida, a pesquisa ostenta as
referidas traduções, a anônima e a de Baudelaire, em fac-símile dos originais publicados
nos periódicos D'Alençon e L'Artiste, respectivamente, material inédito em publicações
brasileiras.

Palavras-chave: "Le Corbeau", tradutor anônimo, Baudelaire

ACORDE DE CORDÉIS: TESTEMUNHOS EM POÉTICAS DO


CAMPESINATO

Hiran De Moura Possas (UNIFESSPA)

Resumo: A pesquisa é parte da memória do PIBIC/UNIFESSPA/2016-2017-2018


“Acordes Oblíquos de Cordéis: Marabá e suas terceiras margens”, objetivando analisar
folhetos de cordéis acompanhados de entrevistas com as autorias. Seria um estudo das
manifestações do que chamaremos de literatura “subalterna” oral-escrita refratando
universos simbólicos da região sul e sudeste do Pará: No momento, Marabá; Brejo
Grande do Araguaia; Palestina do Pará, Eldorados dos Carajás e Projeto de
Assentamento Palmares II (Município de Parauapebas). Desse exercício epistêmico de
aprumada escuta, fundamentado por alguns pressupostos da história oral acompanhados
de breves ensaios interpretativos, emergem fragmentos memoriais advindos, dentre
outros, da luta pela terra e da Guerrilha do Araguaia. A simples descrição e o
reconhecimento dessas texturas não obviamente significarão desnaturalizar, por
completo, certos discursos depreciativos impostos aos artífices de manifestações
artísticas incompreensíveis aos estudos culturais e/ou literários mais intolerantes, mas
conjugam, pelas interfaces da letra com a voz e pelas redes de afetos agenciadas com a
pesquisa, Outras Artes e Histórias, que estrategicamente são alijadas e depreciadas por
alguns exercícios acadêmicos classificadores-hierarquizantes.

Palavras-chave: Cordel; memória ; testemunho e trauma.

35
BIOPOLÍTICA E LITERATURA: CORPOS INDÍGENAS MESTIÇOS
(IN)DÓCEIS EM ROMANCES DE NENÊ MACAGGI

Huarley M. Ateus do Vale. Monteiro (UFPA)


Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA)

Resumo: Este texto resulta da construção do projeto de tese de doutorado em fase de


exame de qualificação PPGL/UFPA-Estudos Literários. O objetivo formata-se em
contribuir com a fortuna crítica sobre o corpo indígena mestiço enquanto categoria
(In)dócil, partindo do referencial de resistência. O corpus, nominados de Romances do
Circum Roraima, a ser analisado é da autora roraimense Nenê Macaggi: A mulher do
Garimpo: o romance no extremo sertão norte do amazonas (1976), Dadá Gemada,
Doçura e Amargura: romance do fazendeiro de Roraima (1980), Exaltação ao Verde
(1984), Nará-Sue Uarená – o romance dos Xamatautheres do Parima (2012). A análise
do discurso e os delineamentos interdisciplinares aliam-se à teoria literária e aos estudos
de base antropológica. Partimos do princípio da genealogia enquanto constituintes
metodológico. As chaves interpretativas corpo e resistência ganham força nas
abordagens teóricas de M. Foucault (1977), G. Agamben (2002, 2017), R. Esposito
(2011), A. Mbembe (2006); bem como Munanga (2008), Bosi (2002), Sarmento-
Pantoja (2014), entre outros e outras. Os resultados iniciais constroem-se na perspectiva
do corpo indígena mestiço enquanto (In)Dócil, sendo uma das formas de narrar as
tensas relações contemporâneas.

Palavras-chave: Biopolítica, Literatura, Corpo (In)Dócil. Indígena. Nenê Macaggi

COMMENTAIRE COMPOSÉ: LEITURA EXISTENCIALISTA DE UM


EXCERTO DA PROSA DE FICÇÃO CLARICIANA

Hugo Lenes Menezes (IFPI)

Resumo: A liberdade constitui uma questão palpitante entre todos nós, firmando-se no
Ocidente, desde a Antiguidade Clássica, como uma constante no pensamento universal,
sob várias perspectivas. Entre essas, destacamos a da corrente existencialista, cujo
representante mais popular e na linha ateia é Jean-Paul Sartre. A aludida questão, no que
tange à vertente filosófica aqui encimada no título, assenta-se na capacidade que
qualquer indivíduo tem para decidir sobre seu percurso vivencial, mediante livre escolha
e correspondente responsabilidade, que é bem ampla, recaindo tanto sobre si, quanto
sobre toda a humanidade. Cada escolha pessoal gera mudanças coletivas não desfeitas.
De onde não ser cabível querer modelar o mundo como um projeto nosso. Por
conseguinte, observamos a total negação do determinismo em Sartre, para quem a
existência precede a essência, nada então podendo ser esclarecido com base numa
natureza humana dada e definitiva. Até porque, ainda segundo tal pensador, o Homem é
o senhor de seu destino e “está condenado à liberdade”. Em consonância com o autor de
“Os caminhos da liberdade” (1945-1949), para o alcance completo dessa última, a ideia
de Deus deve ser eliminada, cabendo somente à pessoa mesma criar valores,
significados existenciais, por meio do que pode guiar seus mais diversos atos. Assim
sendo, na comunicação ora proposta, resultante de uma sugestão de pesquisa

36
apresentada à professora de Filosofia e de Letras Jeanne Marie Gagnebin de Bons, na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), para nosso trabalho final da
disciplina Crítica I, entre os métodos e técnicas da crítica literária, optamos pelo
Commentaire Composé, método francês através do qual temos por objetivo analisar, do
primeiro romance da escritora brasileira Clarice Lispector, qual seja, “Perto do coração
selvagem” (1943), um excerto, enquanto perfeita ilustração do ideário do intelectual
parisiense, em particular no tocante à liberdade, entendida por ele, exclusivamente,
como absoluta ou inexistente.

Palavras-chave: Liberdade, Existencialismo sartriano, Romances claricianos

O BRANCO NO POEMA: A ICONICIDADE DA ESCRITA NA OBRA DE MAX


MARTINS

Ilton Ribeiro dos Santos (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa traz reflexões sobre o poema Branco, de Max Martins,
estabelecendo relações com outros textos do autor em que a ideia do branco tem força
metafórica no poema e ou na página como natureza icônica da escrita, o branco como
palavra no seu universo sinonímico e o branco como cor, percepção visual na/da página
na poesia. O autor materializa a cor branca (brancura), o esvaziamento cheio de
potência para a criação, silêncio entremeado na malha textual, mas penetrado pela
escrita e pela fala. Trata-se de uma reflexão metalinguística sobre iconicidade da escrita,
ou seja, um estudo sobre a materialidade do objeto escrito. Arbex fala sobre o
entrelaçamento da escrita e da imagem como reflexão sobre a natureza icônica da
escrita, isto é, “levar em consideração a concepção elementar da imagem de caráter
misto que leva em conta, além das figuras, a superfície, o suporte” (ARBEX, 2006, p.).
O propósito desta pesquisa é considerar no poema de Max Martins, a concepção de tela
(espaço em branco), espaço abstrato, recortado de modo arbitrário da aparência do real,
intervalos entre figuras que separam e preservam valores semânticos com marcas de
inteligibilidade.

Palavras-chave: PALAVRAS-CHAVE: Branco, Poética visual, Linguagem.

ENTRE O PIONEIRISMO, A MILITÂNCIA E CONDIÇÃO FEMININA:


FIGURAÇÕES DE RACHEL DE QUEIROZ NA HISTORIOGRAFIA
LITERÁRIA BRASILEIRA

Ingred de Lourdes Pereira (UFPA)

Resumo: Esta comunicação é resultado de pesquisa realizada no âmbito da disciplina


Teoria da História da Literatura, do doutorado em Estudos Literários da Universidade
Federal do Pará, acerca do lugar destinado a Rachel de Queiroz e sua obra em algumas
das principais histórias literárias produzidas entre 1938 e 2015, a saber: História da
literatura brasileira (1938), de Nelson Werneck Sodré; Introdução à literatura no Brasil
(1955), de Afrânio Coutinho; História concisa da literatura brasileira (1970), de Alfredo
Bosi; História da literatura brasileira (1997), de Luciana Stegagno-Picchio; História da
literatura brasileira: da carta de Caminha aos contemporâneos (2011), de Carlos Nejar;

37
e, por fim, Uma história do Romance de 30 (2015), de Luís Bueno. Primeiramente,
procura-se contextualizar as histórias abordadas e em que momento da periodização
literária cada historiador insere a obra da escritora cearense; em seguida, realiza-se um
confronto entre essas histórias procurando identificar que aspectos de sua obra são
ressaltados e quais os pontos de convergência e divergência ficam evidentes. Dessa
forma, como principais resultados, observou-se que, no tocante à periodização, que a
obra de Rachel de Queiroz é reconhecida como precursora do Romance de 30, ao
estabelecer em O Quinze (1930) uma linguagem direta e sem adornos, que influenciaria
outros escritores do período. Além disso, a maioria das histórias literárias examinadas,
de perfil totalizante e enciclopédico, dedica pouco espaço à autora, com ênfase
sobretudo a O Quinze em detrimento dos outros títulos de sua bibliografia. O ponto
notado fora dessa curva é justamente a história literária mais recente, de Luís Bueno,
que seleciona um recorte menor, o Romance de 30, oferecendo, assim, uma análise mais
densa do corpus, a fim de revisitar, revisar e ampliar temas que surgiram de forma
recorrente ou pontual ao longo das demais histórias, como a seca, a condição feminina e
a militância política.

Palavras-chave: Histórias literárias, Rachel de Queiroz, Romance de 30

BENEDITO NUNES: UMA LEITURA DOS ROMANCES PERTO DO


CORAÇÃO SELVAGEM E A CIDADE SITIADA, DE CLARICE LISPECTOR

Ingrid Luana Lopes Cordeiro (UFPA)

Resumo: Em 1989, Benedito Nunes, crítico literário e filósofo paraense, publicou O


drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector, livro no qual analisa quase toda
prosa de ficção da escritora publicada em vida, bem como Um sopro de vida (1978),
obra póstuma. Entre os livros claricianos analisados por Nunes, destacam-se os
romances Perto do coração selvagem e A cidade sitiada, respectivamente, lançados em
1943 e 1949. Assim, o presente trabalho objetiva estudar os capítulos “A narrativa
monocêntrica” e “A cidade sitiada: uma alegoria”, enfeixados em O drama da
linguagem: uma leitura de Clarice Lispector, tendo em vista a importante contribuição
desses textos para a fortuna crítica das duas narrativas em foco, especialmente, para A
cidade sitiada, romance cuja recepção crítica é pouco avultada, principalmente, em
relação à recepção de Perto do coração selvagem, que veio à luz apenas seis anos antes.
Nesse sentido, este estudo discutirá as análises realizadas por Nunes acerca das duas
obras claricianas, observando as novas possibilidades de leitura que sua interpretação
agregou às fortunas críticas desses livros, as quais, na contemporaneidade, foram
responsáveis por fazer do referido livro do crítico literário brasileiro uma matriz para os
estudiosos de Clarice Lispector.

Palavras-chave: Benedito Nunes, Clarice Lispector, Perto do coração selvagem, A


cidade sitiada, Recepção crítica.

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O TEOR TESTEMUNHAL PRESENTE NO JORNAL RESISTÊNCIA

Ivania da Silva Pereira de Melo (UFPA)

Resumo: Observou-se o teor testemunhal do jornal Resistência durante a pesquisa que


resultou na dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Letras, da
Universidade Federal do Pará, sobre a poesia de resistência relacionada à guerrilha no
Araguaia, produção que ganhou destaque nas páginas do mensário durante a ditadura
militar no Brasil. O propósito deste texto é mostrar a importante contribuição do
periódico no sentido de preservar a memória (individual ou coletiva), relacionada à
tortura e à guerrilha durante o período ditatorial, dentro de uma escrita de testemunho.
Para isso, buscou-se apoio nos fundamentos de Márcio Seligmann-Silva sobre o
testemunho. A adoção do procedimento observacional revelou o comprometimento do
jornal com a luta por direitos humanos, uma função que ultrapassou a sua atuação como
simples opositor ao regime instaurado no país desde abril de 1964. Quanto a
abordagem, adotou-se a fenomenológica por se tratar de dados inseridos em um
contexto de militância política. Tratou-se de uma pesquisa quantitativa delineada como
bibliografia, desenvolvida em fonte primária (exemplares jornalísticos do período de
1978 a 1984).

Palavras-chave: Jornal. Resistência. Testemunho.

“A MENINA DO CAMISOLÃO BRANCO” OU A REELABORAÇÃO


ESTÉTICA EM TRÊS CASAS E UM RIO DE DALCÍDIO JURANDIR

Ivone dos Santos Veloso (UFPA)

Resumo: Três Casas e um Rio (1958) é o terceiro romance do Ciclo Extremo Norte,
projeto ético e estético de Dalcídio Jurandir que buscou representar, em termos
ficcionais, uma Amazônia de marginalizados e desvalidos. Nessa obra, o menino
Alfredo volta a ser o protagonista e há um adensamento das questões em torno do
cotidiano familiar, a partir do qual é possível observar a relação entre adultos e crianças,
bem como as relações entre Alfredo e a irmã Mariinha, “a menina do camisolão
branco”, e, entre Alfredo e Andreza, a menina de “olhos de areia gulosa”. Nessa
narrativa, portanto, a infância parece ser um mote relevante no desenrolar do enredo: há
personagens infantis, há personagens que rememoram a infância e há a representação do
imaginário da criança, que, conforme pretendo demonstrar, pode alcançar o nível
estrutural da narrativa, através da incorporação e da reelaboração de contos de fadas,
mitos ou lendas, um procedimento já identificado por Vicente Salles (1992) na escrita
do romance Marajó (1947). Assim, nesta comunicação, que traz resultados parciais da
tese em andamento a respeito da figuração da infância desvalida em romances
dalcidianos, proponho analisar como A Bela adormecida, conto de tradição popular que
há muito permeia o imaginário das crianças, serve de base para a técnica utilizada por
Dalcídio Jurandir na composição da história de Mariinha, especialmente no episódio da
morte da menina, demonstrando que essa reelaboração estética ocorre em diálogo com a
tradição e compõe uma trama que não, propriamente, repete significados, mas cria
novos sentidos. Tal estratégia a meu ver, se alinha ao compromisso ético e estético de
Dalcídio Jurandir, cuja escrita alia responsabilidade social e consciência do fazer
literário.

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Palavras-chave: Arte literária, Infância, Dalcídio Jurandir.

NICODEMOS SENA E VICENTE FRANZ CECIM: O PROCESSO DE


CRIAÇÃO LITERÁRIA DE ESCRITORES AMAZÔNICOS.

Iza Reis Gomes Ortiz (IFRO)

Resumo: Este trabalho analisa duas entrevistas realizadas com os escritores paraenses
Nicodemos Sena e Vicente Franz Cecim sobre o processo de criação literária. O
objetivo é compreender o processo de construção dos escritores citados, ou seja,
identificar por quais etapas o processo do ‘fazer’ perpassa nas produções literárias.
Neste momento, não nos deteremos nas obras publicadas, mas no contexto dos
manuscritos, no antes da obra publicada, como as ideias aparecem, com quais materiais
trabalham, como surgem os personagens, o espaço, os possíveis elementos literários. O
estudo foi desenvolvido dentro de um projeto de pesquisa intitulado: Processos de
criação na Amazônia – escritores contam suas experiências literárias, do Grupo de
Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias (GET) do Instituto Federal de
Rondônia. Utilizamos como ferramentas de trabalho a entrevista aberta para coleta de
dados; e a Crítica Genética como metodologia de análise do material pautando-nos nos
teóricos Almuth Grésillon, Verônica Galindez, Philippe Willemart, Roberto Zular e
Cecília Almeida Salles. O processo de criação não é igual para todos. Cada escritor
possui suas peculiaridades, suas influências e seu passo a passo. Há alguns que
trabalham com cadernetas de anotações, outros que não realizam pesquisas. Pesquisas
sobre processo de criação de escritores amazônicos são escassas em nosso meio
acadêmico. Com este novo olhar, poderíamos levantar dados e refletir sobre a questão
do Regionalismo, do cânone e da Literatura Amazônica. Com esta motivação, a
necessidade de se voltar para o antes da obra, para a criação em processo pode nos levar
a entender outras realidades do processo literário. A região amazônica é produtora de
literatura, apesar de termos muitas dificuldades na publicação e recepção destas obras. E
além de termos uma Amazônia estereotipada pela visão mítica e exótica de nossa
floresta, deixando o sujeito amazônico de lado em muitas representações conhecidas.
Diante deste contexto, propomos investigar como é esse processo de criação dos
escritores amazônicos, bem como indagar sobre essa dualidade local e global, regional e
nacional. Ouvir dos escritores amazônicos as opiniões sobre essa realidade literária
nossa que não é baseada apenas na qualidade da obra, infelizmente, mas também em
interesses pessoais, financeiros e preconceituosos. A importância desta pesquisa
perpassa na possibilidade de levantar reflexões e discussões sobre a produção literária
amazônica e nacional. Nicodemos Sena trabalha com caderneta de anotações, busca in
loco informações para a escritura, utiliza a História como um elemento de construção.
Vicente Cecim trabalha com a releitura de seu material, é um leitor crítico de seu
próprio texto. São processos diferentes e que geram escrituras sobre a Amazônia

Palavras-chave: Nicodemos Sena. Vicente Cecim. Amazônia. Literatura. Processo de


criação.

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A ALTERIDADE ANIMAL NOS CONTOS TOURO GUARUJÁ E COÁGULOS
DE SOMBRA EM O OUTRO E OUTROS CONTOS

Jackeline Mendes Brandao (UEA)

Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar as relações alteritárias em dois
contos da obra o outro e outro contos, de Benjamin Sanches, a saber: “touro Guarujá” e
“coágulo de sombras”. Neste estudo, investigaremos a alteridade a partir da
representação do animal. Essas narrativas vão além das representações do animal
historicamente conhecidas em fábulas e lendas, justamente pela conscientização do eu
em relação ao outro. Para nossa análise, Mikhail Bakhtin nos proporcionará reflexões
sobre a constituição do eu a partir das relações alteritárias, pois é mediante a exotopia
que o eu tem como saber de si; também, a partir das categorias de pessoa e não-pessoa
trazidas por Émile Benveniste, fundamentais para entendermos a subjetividade animal
nos contos de Sanches. Ambos os contos mostram como o universo animal se funde
com o universo humano. Nossas conclusões evidenciam que há uma espécie de
sentimento e consciência, características conhecidamente humanas vividas pelo touro e
pelo inseto, protagonistas das narrativas, além do sentimento de pertencer a um universo
outro.

Palavras-chave: Alteridade, animal, humano

COVEN: O RITUAL PARTILHADO ENTRE AS BRUXAS DE GAIMAN,


FREITAS E IKAROW

Jandir Silva dos Santos (UFAM)

Resumo: Este texto oferece uma leitura comparativa e residual entre três personagens
literárias – a Matinta Pereira no conto A casa 26 (FREITAS, 2015), a Cuca na narrativa
visual A bruxa (IKAROW, 2017) e a Beldam, na novela Coraline (GAIMAN, 2003) –
que mesmo inspiradas em folclores distintos, derivam de um mesmo arquétipo: a
mulher-feiticeira, a mulher-criatura, a mulher-monstro. A discussão toma os conceitos
da teoria da residualidade elencados por Torres (2011) como parâmetro metodológico,
em especial o de imaginário, assim como a abordagem que Tolkien (2010) realiza sobre
os contos de fadas, a fim de observarmos as proximidades e afastamentos entre as três
feiticeiras, mesmo que sejam distanciadas por construções folclóricas tão diversas. O
objetivo de tal comparação não é simplesmente associar elementos do imaginário
amazônico – descritos aqui segundo Cascudo (1999) – aos das manifestações folclóricas
europeias, mas debater sobre a obscuridade que cai sobre o referido arquétipo, à luz da
(in)compreensão que Eliade (1992) traz acerca das particularidades da ordem do
Sagrado, de qual participam as três personagens. O que aqui se discute apresenta-se
como resultado parcial de minha dissertação de mestrado, que também envolve a
investigação do imaginário residual composto em Coraline, aplicada à teoria dos contos
de fadas apresentada por Tolkien (2010).

Palavras-chave: Residualidade, feiticeiras, imaginário amazônico.

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MODERNIDADE, CIDADE E REPRESSÃO EM MILTON HATOUM

Jean Marcos Torres de Oliveira (UFPA)


André Luiz Moraes Simões (UFPA)

Resumo: O trabalho aqui proposto é resultado parcial da pesquisa desenvolvida no


Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA. Com base no método
estético-recepcional, desenvolvido por Hans Robert Jauss (1921-1997), nesta
comunicação, procuramos tratar de aspectos da modernidade encontrados nas obras de
Milton Hatoum, sobretudo nos romances Dois irmãos (2000) e Cinzas do Norte (2007),
nos quais há uma ficcionalização da repressão sofrida pela sociedade amazonense da
metade do século XX, repressão esta potencializada pelas autoridades dominantes que
são resultado das sociedades modernas, conforme descrito por autores como Anthony
Giddens (2007) e Marshall Berman (1988). Num contexto latino-americano, autores
como Bravo & Martin (2010) e Carlos Gadea (2007) embasam como a modernidade
local mostra-se fragmentada e incapaz de satisfazer a racionalidade pregada pelo
pensamento moderno. Renato Gomes (1999) argumenta como as cidades, no Brasil, são
projetadas para marginalizar grupos que, na concepção dos governantes, prejudicam o
bem-estar dos grupos dominantes, utilizando de muros físicos e ideológicos para afastar
parte da população que não atende aos requisitos pregados por uma pequena parcela que
detém o poder. Objetivamos expor como Milton Hatoum se valeu desses elementos e
ficcionalizou nos romances o desenvolvimento conflituoso da capital amazonense, que
carrega os paradoxos da modernidade, bem como a estruturação inacabada e fraturada
que, em geral, é marca das sociedades e dos espaços da América Latina.

Palavras-chave: Milton Hatoum; modernidade; repressão; cidade; América Latina.

CORNELIA BORORQUIA: HISTORIETA DO SÉCULO XIX

Jeniffer Yara Jesus da Silva (UFPA)

Resumo: Cornelia Bororquia ou a Vítima da Inquisição, historieta espanhola de Luis


Gutiérrez, publicada pela primeira vez em 1802, narra o sequestro de uma moça por um
padre, em que o pai da jovem, por meio de cartas, solicita ajuda para o retorno de sua
filha. A novela foi noticiada em diversos jornais no Brasil, como Diário do Pernambuco,
em 1833, Jornal do Commercio, em 1835, Diario do Commercio, em 1889, entre outros.
Considerada a primeira novela anticlericalista, a narrativa esteve presente em terras
paraenses também, primeiramente condenada pelo jornal católico A Boa Nova, em 1872
e, no mesmo ano, citada na folha maçônica O Pelicano, além de sua publicação integral
no jornal maçônico O Santo Officio, em 1874. Dessa forma, o presente estudo objetiva
analisar a crítica moralizante a respeito da narrativa espanhola, sob à luz dos estudos de
Márcia Abreu (2003) e Andréa Paraiso Müller (2014), bem como verificar a presença
do romance, publicado em formato folhetim e noticiado em diferentes jornais
brasileiros, de acordo com o estudo de Germana Sales (2007), a fim de confirmar sua
importância no contexto em que foi publicada na Província do Grão-Pará, como parte
constituinte de uma história literária paraense do Oitocentos.

Palavras-chave: Cornelia Bororquia, Romance anticlericalista, Periódicos do século


XIX, Belém do Pará.

42
CECILIA MEIRELES EM OURO PRETO: ANÁLISE COMPARATIVA

Jessica Braz da Silva (UNIFESSPA)


Fernanda Rocha Fonseca (UNIFESSPA)

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma comparação entre textos literários
da mesma autora, Cecilia Meireles, em que os textos apresentam temas semelhantes: A
Semana Santa e as linguagens abordadas em ambos se dão distintamente. Os textos
retratam uma tradição religiosa que é a Semana Santa, ocorrida em Ouro Preto. A
justificativa para a escolha do tema é relatar como temas semelhantes são trabalhados de
forma distinta de acordo com o público alvo. O texto intitulado “A Semana Santa em
Ouro Preto”, publicado na revista Travel in Brazil, em 1942, tem o intuito de atrair
turistas estrangeiros. De modo geral, é construído por uma escrita multimodal, de forma
a privilegiar figuras, cores e expressões linguísticas. Iniciado com relatos da referida
cidade, mencionando seus esplendores da mineração, sua beleza arquitetônica
preservada, assim como opções de estadia e de rotas a seguir. Já o texto intitulado “A
Semana Santa”, publicado originariamente no jornal Folha de São Paulo, em 1964, e,
posteriormente, na coletânea de Cecília Meireles (1999): Crônicas de Viagem, foi
destinado a um leitor brasileiro, sem as intenções de divulgação turística da revista
Travel in Brazil. Esse texto revela uma tradição religiosa vivida pelos cristãos de forma
intensa e comovente. A metodologia aplicada neste trabalho é de estudo bibliográfico e
comparativo, tendo sido selecionados alguns livros como: Crônicas de viagem 2 e 3, de
Cecília Meireles (1999), A Poeta-Viajante: Uma Teoria Poética da Viagem
Contemporânea nas Crônicas de Cecilia Meireles , de Luís Romano (2014), O texto de
Fernando Cristóvão (2002): “Para uma teoria da Literatura de viagens”, a revista Travel
in Brazil (1942), e artigos que tratam sobre o gênero da propaganda turística e as regras
que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais.

Palavras-chave: Cecília Meireles, Ouro Preto, Travel in Brazil, Turista.

A TERRA: TRÊS EDIÇÕES DE ÉMILE ZOLA NO GRÊMIO LITERÁRIO


PORTUGUÊS

José Adauto Santos Bitencourt Filho (UFPA)

Resumo: No ano de 1857, foi inaugurado em Belém, PA, o Grêmio Literário Português
de Leitura, importante espaço para a história cultural da cidade. Em sua biblioteca é
possível recuperar as obras recebidas ainda durante o século XIX, dentre elas, constam
quarenta e oito títulos do autor francês Émile Zola, escritor consagrado e grande
expoente do movimento naturalista. Entre esses volumes, o romance A Terra (1887),
livro que gerou forte debate na crítica francesa e brasileira, inclui-se com três edições.
Utilizaremos como base teórica estudos da área de História do livro e da leitura, entre os
quais destacamos A mão do autor e a mente do editor (CHARTIER, 2014), O livro no
Brasil (HALLEWEL, 2005), e Gabinetes de Leitura (MARTINS, 2015) no intuito de
cotejar as três edições do romance supracitado, levando em conta as editoras, ano de
publicação, tradutores, e elementos para-textuais de cada exemplar, visando traçar um
esboço de como o publico leitor local entrou em contato com a obra, e que papel a
agremiação paraense cumpriu nessa divulgação, além de reafirmar a importância

43
histórica do Grêmio Literário Português de Leitura na disponibilização e na
democratização da leitura na Belém Oitocentista.

Palavras-chave: Grêmio Literário Português de Leitura, Émile Zola, A Terra

O ROMANCE NA EDUCAÇÃO DE SURDOS: ELEMENTOS DE


TEXTUALIZAÇÃO E DE RETEXTUALIZAÇÃO

José Anchieta de Oliveira Bentes (UEPA)


Rita de Nazareth Souza Bentes (UEPA)

Resumo: Este artigo descreve e analisa a experiência dos autores com o romance Dom
Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes (1547-1616), publicado entre os anos de
1605 e 1615 na Espanha. A partir do corpus escrito feito por uma jovem participante do
curso de Letras-Libras da Universidade do Estado do Pará, em Belém do Pará, no ano
de 2017, é analisado os elementos de textualização da Língua Brasileira de sinais para a
Língua Portuguesa escrita, tendo como fundamentação teórica principal Bakhtin (2016).
Tal curso visava pesquisar a competência linguística e discursiva da pessoa surda,
promovendo oportunidades de leitura em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e de
produção escrita em Língua Portuguesa. Visava também tornar os alunos surdos
proficientes leitores e produtores de textos escritos, razão de ser do bilinguismo para
surdos. A metodologia da pesquisa fundamentou-se na análise linguística dos elementos
de textualização da Libras para a escrita em Língua Portuguesa, para chegar a uma
análise discursiva.

Palavras-chave: Gênero romance, Textualização, Educação de surdos

O NEGRO NA LITERATURA NA AMAZÔNIA: DA DIMINUIÇÃO À


AFIRMAÇÃO

Josiclei de Souza Santos (IFPA)

Resumo: No meio literário a cidade amazônica nos é apresentada muitas vezes como
uma um lugar que tem como um de seus signos identitários mais disseminados a
herança indígena aliada a do europeu europeu. Paralelamente a essa disseminação,
construída em fins do século XIX e continuada no século XX, temos a presença do
negro muitas vezes diminuída do espaço da cidade enquanto sinônimo de civilização.
Criou-se então uma representação de cidade euro-indígena. Autores como José
Veríssimo, Inglês de Souza, Márcio Souza e João de jesus Paes Loureiro estão entre
aqueles autores/pesquisadores que, em nome da afirmação identitária de herança
indígena, diminuíram a contribuição do negro para a identidade amazônica. Partindo da
leitura de três autores modernistas paraenses, Dalcídio Jurandir, Bruno de Menezes e
José de Campos Ribeiro, este trabalho busca perceber como os mesmos mostraram a
importância do negro para a conformação cultural amazônica, desconstruindo o mito
identitário amazônico como apenas euro-indígena. O primeiro autor escreveu um ciclo
denominado de Extremo Norte, com um protagonista que vai ao longo do referido ciclo
assumindo sua identidade negra e se contrapondo ao racismo. O segundo escreveu o
primeiro livro de poesia modernista negra do Brasil, Batuque, de (1931). O último

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escreveu um livro de crônicas, Gostosa Belém de Outrora (1965), que mostra uma forte
presença negra cultural na cidade de Belém nas primeiras décadas do século XX. As
ferramentas teóricas para leitura das referidas obras são os estudos culturais e a
filosofia.

Palavras-chave: Negro, Amazônia, Cidade.

ANTONIO CANDIDO, LEITOR E CRÍTICO DE ROMANCES.

Juliana Maia de Queiroz (UFPA)

Resumo: No ano em que se comemora cem anos do nascimento de Antonio Candido,


podemos dizer sem dúvida que seu nome figura entre os maiores críticos literários do
século XX. Como se sabe, Candido foi um leitor voraz de romances e se voltou para o
gênero romanesco em vários de seus ensaios. Em “Timidez do romance”, por exemplo,
o crítico parte das formulações de Arthur Jerrold Tieje para elencar os preceitos que
foram caros aos primeiros romancistas e fundamentaram suas produções, variando em
maior ou menor grau: divertir, edificar, instruir o leitor, representar a vida cotidiana e
despertar emoções de simpatia. Já em Formação da literatura brasileira, Antonio
Candido se detém em romancistas consagrados pela historiografia literária, tais como
Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar, apresentando-nos um estudo primoroso
sobre o romance brasileiro oitocentista que vale a pena ser revisitado. De igual modo,
no ensaio acerca de Memórias de um sargento de milícias, o conhecido “Dialética da
malandragem”, o crítico parte da novela picaresca e nos apresenta uma visão nova,
propondo a noção de um romance malandro tendo em Leonardo não um pícaro
propriamente dito, mas um grande herói sem nenhum caráter. A partir da releitura
desses textos, buscaremos portanto apresentar e discutir a visão de Candido sobre o
romance oitocentista brasileiro.

Palavras-chave: Antonio Candido; leitor e crítico; romance oitocentista brasileiro.

IF I COULD WRITE THIS IN FIRE: A IRA COMO ALIMENTO PARA A


RESISTÊNCIA E A LUTA

Juliana Pimenta Attie (UNIFAP)

Resumo: Na coletânea de ensaios If I could write this in fire – cujo texto principal
possui título homônimo –, a escritora jamaicana Michelle Cliff retrata e problematiza, a
partir do ponto de vista da mulher colonizada, não apenas a opressão patriarcal e
imperialista, bem como o processo de resistência e luta. Ao ressaltar o sentimento de
não pertencimento e de revolta, Cliff expõe as origens das relações de poder que
permeiam o sistema imperialista, especialmente, no caribe anglófono. Nesse sentido,
este trabalho busca evidenciar nos ensaios as raízes desses sentimentos além de
examiná-los como uma estratégia de resistência e luta frente a opressão racial e de
gênero. Dessa forma, a ira, nos ensaios de Cliff, pode ser vista como uma arma
produtiva na literatura pós-colonial no intento de desconstruir os pilares da dominação
ocidental. Diante disso, a fim de discutir tais questões nos ensaios, trabalharemos a
fortuna crítica relacionada à autora e a seu contexto de produção, a teoria pós-colonial

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fundamentada, sobretudo, no pensamento de Spivak e também a teoria decolonial a
partir de Walter Mignolo. CLIFF, Michelle. If I could write this in fire. Minneapolis,
London: University of Minnesota Press: 2006 LAZARUS, Neil (Ed). The Cambridge
Companion to Postcolonial Literary Studies. Cambridge: Cambridge University Press,
2004. MIGNOLO, Walter. Epistemic disobedience: the de-colonial option and the
meaning of identity in politics. Theory, Culture & Society. SAGE, Los Angeles,
London, New Delhi, and Singapore, Vol. 26(7–8), 2009, p. 159–181. SPIVAK, Gayatri
Chakravorty. Can the subaltern speak? New York: Columbia University Press, 2010.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty; HARASYM, Sarah. The Postcolonial Critic:
Interviews, Strategies, Dialogues. New York: Routledge, 2014.

Palavras-chave: Resistência, Pós-colonialismo, Literatura Anglo-caribenha

A TRAVESSIA PELO CORPO E O DEMASIADO HUMANO EM A PAIXÃO


SEGUNDO G.H.

Julie Christie Damasceno Leal (UFPA)

Resumo: Na obra de Clarice, o corpo torna-se presentificado através do seu contato e


integração com o próprio espaço que o cerca, bem como com o outro, desvelando-se nas
suas particularidades que estão conectadas com a postura e o pensar dos personagens.
Dessa forma, Lispector apresenta uma visão de corpo que se espraia para além do
âmbito puramente físico ou sensualista, ela, sobre o corpo, recria significados,
simbologias, metáforas que se inserem no contexto da narrativa, revelando diferentes
perspectivas e interpretações referentes ao indivíduo posto no mundo e sua integração
com as demais pessoas/personagens. Esta pesquisa busca dialogar sobre a questão do
corpo na obra de Clarice Lispector, mais particularmente no romance A paixão segundo
G.H. Busca-se indagar sobre as esferas de articulação que se estabelecem entre corpo e
indivíduo, bem como sua interação com aquilo que ele compreende por realidade, real.
Para tanto, serão utilizados pensadores e estudiosos tanto do campo literário como do
filosófico, centrando-se, no segundo aspecto, no pensamento do filósofo Heidegger.
Nesta interação entre interno e externo, Clarice Lispector aborda, em A paixão segundo
G.H., o corpo sob um ângulo bastante singular, pois nesta obra, o corpo assimila outro
corpo, mas de natureza inumana, no caso, uma barata. A complexidade de tal relação
trabalhada por Clarice exige do leitor uma compreensão da busca de G.H. por um
conhecimento de si que irá se efetivar com o outro, no caso, a barata. Esta junção entre
humano e inumano, pois nesse aspecto deve ser considerado também o corpo da barata,
representa um ato de liberdade e individuação de G.H, pois o corpo, em seu vigorar, no
sentido de existir, compõe-se e recompõe-se, desfaz-se para em um segundo momento
reconstruir-se.

Palavras-chave: Palavras-chave: Corpo, existência, mundo, Clarice Lispector.

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O ESTILO DOS RELATÓRIOS DE GRACILIANO RAMOS

Karlla Chrystynna Cardoso Pinheiro (FIBRA)

Resumo: Quando foi prefeito de município de Palmeira dos Índios, o escritor


Graciliano Ramos produziu dois relatórios, um de 1929 e outro de 1930, dirigidos ao
governador do Estado de Alagoas, o Senhor Álvaro Paes, dando conta de suas ações
como gestor. Publicados juntamente com diversas crônicas na obra póstuma Viventes
das Alagoas, em 1961, esses relatórios, que conseguiram sobreviver ao destino comum
dos relatórios, a saber, repousar nas prateleiras dos arquivos mortos, até hoje agradam
aos leitores das obras ficcionais de Graciliano, justamente por não lhes parecer
propriamente relatórios naquele sentido em que o gênero cumpre o seu papel legal de
prestar contas a quem de direito do que era incumbência do relator fazer. A presente
análise comparativa do estilo dos dois relatórios de Graciliano Ramos com aquilo que a
tradição exige do gênero, constante em obras descritivas como o Dicionário de Gêneros
Textuais de Roberto Sérgio Costa, publicado em 2008, por exemplo, pretende explicar
em que momentos o texto do escritor modernista desvia-se do modelo oficial dos
relatórios e produz no leitor proficiente em obras ficcionais, como são os romances São
Bernardo e Vidas Secas, para citar apenas dois exemplos, a sensação de que está diante
de uma obra literária, e não técnica, utilizando, para tanto, os conceitos de Tema, Estilo
e Composição que Mikahil Bakhtin, em seu ensaio sobre o Gêneros do Discurso,
publicado no Brasil em Estética da Criação Verbal (2006), considera os elementos
componentes de todo e qualquer gênero discursivo.

Palavras-chave: Gêneros do discurso. Estilo e Gênero. Graciliano Ramos.

ALTERIDADE E MORTE NA POESIA DE CECÍLIA MEIRELES E DE ANA


MARQUES GASTÃO

Karoline Alves Leite (UFAM)

Resumo: O objetivo deste estudo é analisar os temas da alteridade e da morte nos livros
de poesia Doze Noturnos da Holanda, de Cecília Meireles, e Nocturnos, de Ana
Marques Gastão. Tais obras pertencem a poetas de diferentes países que viveram em
épocas distintas, mas que usaram a forma poética noturno na composição de sua poesia.
Constata-se, pela comparação realizada entre os poemas selecionados das obras em
estudo, que a noite, tema central, é o espaço onde o mistério habita e o ambiente
noturno é fecundo para o eu lírico tanto do livro de Cecília Meireles quanto do livro de
Ana Marques Gastão, pois é o período no qual o outro se revela. Em Doze Noturnos da
Holanda, o outro conduz o eu lírico noite adentro, seduzindo-o a desvendar os mistérios
que se escondem nas suas sombras. Por outro lado, nos poemas de Nocturnos, o eu
lírico chama o outro para permanecer ao seu lado e tal presença, ainda que momentânea,
ocasiona mudanças em sua visão das coisas e em seu comportamento. Além disso, há
também o tema da morte atrelado ao contato com o outro, ora para gerar contemplação,
ora para retardar a morte. Emprega-se como aporte teórico a literatura comparada a
partir do pensamento de Tania Franco Carvalhal e de Helena Carvalhão Buescu, o
pensamento sartreano em O existencialismo é um humanismo, a discussão sobre a
relação entre eu-outro feita por Márcia Jacoby e Sergio Antonio Carlos em O eu e o

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outro em Jean Paul Sartre, bem como o debate a respeito da solidão levantado por
Octavio Paz em A dialética da solidão.

Palavras-chave: Poesia; Morte; Alteridade.

EUCLIDES DA CUNHA EM ESPAÇOS BAIANOS E AMAZÔNICOS:


IMPRESSÕES DE UM VIAJANTE SOBRE SERTÕES E DESERTOS
BRASILEIROS

Léa Costa Santana Dias (UNEB)

Resumo: Esta comunicação retoma ideias defendidas na tese Euclides da Cunha em


terras baianas e amazônicas: impressões de um viajante sobre sertões brasileiros e
outros espaços (UFBA, 2015). O objetivo é flagrar impressões de Euclides da Cunha
sobre os espaços visitados em duas viagens específicas: a primeira, em 1897, aos
sertões/desertos baianos; a segunda, de dezembro de 1904 a janeiro de 1906, aos
sertões/desertos amazônicos. As experiências da primeira viagem estão registradas no
Diário de uma expedição e na Caderneta de campo – fontes primárias de Os sertões. As
experiências da segunda viagem estão registradas nos diversos ensaios amazônicos, que
seriam utilizados na composição de Um paraíso perdido. Os termos sertão e deserto são
utilizados para designar os dois espaços, pois, conforme Euclides, ambos seriam
territórios ainda não explorados pela ciência, que os viajantes evitavam e que os
cartógrafos excluíam de seus mapas. Nas duas situações, antes da viagem, o autor teve
acesso, por meio de leituras, a dados das regiões que visitaria. Assim, ao entrar em
contato com o novo, supunha saber o que ia encontrar e sobre o que teria que falar. Suas
descobertas, entretanto, não se encaixaram na forma pré-estabelecida, e a visão clara e
precisa dos fatos foi desestabilizada. Em razão disso, nos escritos euclidianos, percebe-
se um observador desnorteado perante o que vê, muitas vezes oscilante entre a
fidelidade às suas próprias conclusões e o compromisso de interpretar o novo a partir do
arsenal teórico de que dispõe. É assim que se configura o narrador na tessitura de
impressões sobre os sertões/desertos baianos e amazônicos. Como fundamentação
teórica para a elaboração da comunicação, foram utilizados textos sobre literatura de
viagens, além de textos de pesquisadores renomados nos estudos euclidianos, como
Lourival Holanda Barros, Francisco Foot Hardman, Willi Bolle, Valentim Facioli,
Roberto Ventura e José Carlos Barreto de Santana.

Palavras-chave: Euclides da Cunha, Impressões de viagem, Sertões baianos e


amazônicos

O FANTÁSTICO EM ‘A MATINTE PERERA DA PEDREIRA’, DE WALCYR


MONTEIRO

Lídia Carla Holanda Alcantara (UFPA)

Resumo: O presente trabalho busca estudar um dos contos do livro ‘Visagens e


Assombrações de Belém’, de Walcyr Monteiro. O conto é entitulado ‘A Matinta Perera
da Pedreira’, e tem como foco principal a personagem do imaginário amazônico Matinta
Perera - uma bruxa que se transforma em pássaro agourento, o qual sai pela noite

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assoviando e pedindo, normalmente, tabaco. Dado seu teor sobrenatural, misterioso e
hesitante, levantamos a hipótese de o texto poder ser classificado como pertencente ao
fantástico. Levando isso em conta, procuramos enquadrar essa narrativa no referido
gênero, sabendo não bastar que uma obra tenha mistério, tenha um final incerto, ou
ainda que tenha um teor sobrenatural para ser enquadrado em tal gênero. Até mesmo
porque, as definições do que se constitui como uma narrativa fantástica mudaram
conforme os séculos, e hoje, pode-se caracterizar este gênero como característico por
explorar o ser humano e sua natureza, suas dúvidas, anseios, como já disse Sartre
(1997). Acreditamos que o conto presente no livro de Walcyr Monteiro consiga explorar
esses últimos aspectos apontados pelo filósofo francês, bem como os pressupostos de
Todorov no que diz respeito ao gênero literário em questão. Sendo assim, para a
realização deste trabalho, utilizaremos, por meio de pesquisa bibliográfica, escritores
que teorizaram sobre o fantástico, como Jean-Paul Sartre (1997), Tzvetan Todorov
(1975), Sigmund Freud (1980), para que possamos, dessa forma, justificar nossa escolha
de enquadrar o conto sobrenatural amazônico como fantástico.

Palavras-chave: Matinta Perera, fantástico, Amazônia

INFÂNCIA E EXÍLIO EM NARRATIVAS TESTEMUNHAIS E FICCIONAIS

Ladyana dos Santos Lobato (UFPA)

Resumo: Analisamos, nesta comunicação, o testemunho da experiência da infância no


exílio de filhos de perseguidos e desaparecidos políticos da Ditadura Militar de 1964,
ocorrida no Brasil, e a forma como esta experiência foi representada no campo literário.
Esta análise trata-se de resultado parcial de pesquisa de doutorado em Letras. Por isso,
selecionamos dois objetos de estudos: 1) a narrativa testemunhal intitulada “O exílio do
meu pai foi a nossa despedida”, da sobrevivente Suely Coqueiro (2014) e; 2) a narrativa
ficcional “Currupaco Papaco”, da escritora Ana Maria Machado (1982). Utilizamos
como referencial teórico os estudos sobre testemunho (Seligmann-Silva, 2003), exílio e
narrativas do exílio (Said, 2003; Vidal, 2004; Montañés, 2006), o conceito de estado de
exceção (Agamben, 2004), sobrevivência (Pelbart, 2016) e Utopia (Szachi,1972). Neste
estudo, verificamos a possibilidade de discutir sobre “narrativa do exílio”, a partir da
compreensão do exílio como um lugar utópico, espaço de liberdade e resistência, mas
também como um dispositivo de sobrevivência.

Palavras-chave: Testemunho, Infância, Exílio, Sobrevivência, Utopia.

RUBEM FONSECA: UM AUTOR MARGINAL? UM ESTUDO


COMPARATIVO DA HISTÓRIA DAS LEITURAS DE FELIZ ANO NOVO.

Lara Mucci Poenaru (UFPA)

Resumo: Quais aspectos formais contribuem para a inserção de uma obra ao cânone
nacional? E quais podem colocá-la sob o prisma marginal? Além dos aspectos
meramente estilísticos, quais outros elementos entram em cena durante a inserção ou a
recusa de um livro ao circuito literário institucionalizado? Tomando-se a obra Feliz Ano
Novo (1975), de Rubem Fonseca, esta comunicação pretende discutir como se dão as

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negociações entre uma obra marginal e o cânone estabelecido. Propomos uma reflexão
sobre o caráter marginal arraigado a certas obras literárias, a partir da história das
leituras do livro, tomando-se a forma como este aparece nas histórias literarias, almeja-
se vislumbrar os aspectos não estéticos que podem influenciar o afastamento de uma
obra dos cânones literários de uma determinada época. Entre limite e transgressão,
centro e periferia, fronteira e liminaridade, qual o espaço ocupado pelo livro nas
histórias literárias contemporâneas? Tomamos como corpus as histórias literárias de
Luciana Stegagno (2004), Carlos Nejar (2011) e Temístocles Linhares (1997). Após a
análise, observamos que a produção de Rubem Fonseca goza de sólido prestígio no
panorama literário brasileiro. Contudo, é preciso pontuar que a marginalidade ocorre em
diferentes níveis e, nesse sentido, o caráter marginal da obra diz respeito também às
ações transgressoras das personagens, que ultrapassam a lei e a moral estabelecida.
Ademais, nota-se que as histórias literárias analisadas pouco se aprofundam na análise
de suas produções, limitando-as a seu caráter violento e à sua aproximação com o
gênero noir, carecendo de um estudo mais aprofundado, uma vez que atrelam o valor
literário do livro a uma mera circustância do contexto histórico. REFERÊNCIAS
FONSECA, Rubem. Feliz ano novo. Nova Fronteira, 2013. NEJAR, Carlos. História da
Literatura Brasileira: Da carta de Caminha aos contemporâneos. São Paulo: Leya, 2011
STEGAGNO PICCHIO, Luciana. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2004.

Palavras-chave: literatura marginal, cânone, autoritarismo, censura.

FORMAS E PERSPECTIVAS DA LITERATURA INDÍGENA DE AUTORIA


FEMININA NO BRASIL

Larissa Fontinele de Alencar (UFPA)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca da
literatura indígena de autoria feminina contemporânea no Brasil. Ressalta-se que, de
modo geral, as produções literárias indígenas, são escrituras que rememoram,
denunciam e resistem diante de um panorama ainda silenciador e canônico dentro do
universo artístico, político e social. É importante esclarecer que, ao se tratar de literatura
indígena, as definições e os conceitos esbarram no “preconceito literário estampado no
mascaramento de polêmicas doutrinais. No cânone, essa literatura não aparece
mencionada; seu lugar tem sido, até agora a margem. Poucos se dão conta de sua
pulsação.” (GRAÚNA, 2013, p. 55). Diante do exposto, um dos objetivos deste trabalho
é trazer à tona um questionamento latente em debates que giram em torno da escritura
literária de autoria indígena, mas, sobretudo reivindicar um espaço de visibilidade para a
autoria dos que estão às margens do cânone literário. Assim, lança-se um olhar para a
concepção de uma cartografia concisa das autoras brasileiras e suas obras que compõem
a literatura de autoria indígena. Portanto, constata-se que as escritoras indígenas
subvertem a visão do colonizador, demarcador de estereótipos que se cristalizaram nas
sociedades, afinal, rompem com as formas de silenciamento impostas pelos processos
de colonialismo através de seus textos literários, difusores da resistência.

Palavras-chave: Literatura, Indígena, Autoria feminina

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BENEDICTO MONTEIRO – NARRATIVA DA AMAZÔNIA PARAENSE
RIBEIRINHA DO SÉCULO XX

Laura Neila Costa da Silva (UFPA- BRAGANÇA)

Resumo: Este artigo apresenta abordagem sobre as representações poéticas,


históricoculturais e imagéticas da região amazônica presentes na prosa de Benedicto
Monteiro, através de Miguel, protagonista em suas narrativas. Sua literatura é marcada
por cenários da diversidade, do trabalho, das tradições, dos saberes locais, da linguagem
e práticas culturais do caboclo rural e ribeirinho da região. Dentre suas obras há um
destaque para a chamada Tetralogia, primeiro conjunto de romances: Verde
Vagomundo (1972), O Minossauro (1975), A terceira Margem (1983) e Aquele Um
(1985). Durante viagens pelos interiores do Pará, em sua carreira política, catalogou
diversas expressões linguísticas da região, as quais foram destruídas no período da
ditadura militar brasileira, quando fora preso, porém essas expressões ganharam vida
em seus romances, assim como os personagens, também. Com a leitura da Tetralogia
foram selecionados e analisados excertos referenciais. A análise está apoiada em
pensadores de Estudos de Literatura, Linguagem e Cultura: Roger Chartier, Jhon
Thompson, Alessandro Portelli, Paul Ricouer, José Guilherme Fernandes, Daniel
Fernandes, dentre outros.

Palavras-chave:

GUIMARÃES ROSA DAS PÁGINAS PARA A IMAGEM EM MOVIMENTO: O


ESTUDO DA ADAPTAÇÃO “A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA
(2001)

Leticia Rayane Pereira de Oliveira (UFPA)

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar como elementos fundamentais
da novela “A hora de vez de Augusto Matraga” (1946), do mineiro João Guimarães
Rosa (1908-1967) motivaram as perspectivas estilísticas e linguísticas feitas no projeto
de adaptação para o longa-metragem A hora e vez de Augusto Matraga (2011), do
cineasta contemporâneo Vinicius Coimbra (1971). Para isso, contaremos com o
embasamento teórico proposto por Linda Hutcheon (1947), em seu Por uma teoria da
adaptação (2011) (A theory of adaptation, 2006), no original), no qual a autora
canadense explora como cada roteirista desenvolve a própria teoria da adaptação e, com
base nisso, se ramifica entre uma transposição declarada [declared transposition] de uma
ou mais obras reconhecíveis, um ato criativo e interpretativo de
apropriação/recuperação [appropriation/recovery] ou um engajamento intertextual
extensivo à obra adaptada. Discutiremos as questões da adaptação fílmica, tencionando
o exame das relações entre Cinema e Literatura para além de uma dimensão meramente
hierarquizante, que considera a obra derivada (o filme) como degradação do material
original (o livro). Há de ser feito um apontamento acerca das relações entre o livro e o
filme para que não sejam tratados como “correspondência biunívoca”, funcionando o
livro-base como um ponto de partida para a produção de uma obra cuja natureza é outra.
Para que assim se entenda o meio pelo qual se dá a releitura feita por Vinicius Coimbra
e como a proposta metodológica de Linda Hutcheon envolve ainda considerar a

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transposição como um conjunto de fatores que compõem o processo de transcodificação
[process of transcoding] de A hora e vez de Augusto Matraga (2011).

Palavras-chave: Guimarães Rosa. “A hora e vez de Augusto Matraga”. Adaptação.


Linda Hutcheon.

TRAMAS DE SABERES & TRADIÇÃO: LITERATURA INDÍGENA,


MEMÓRIA, IDENTIDADE ÉTNICA E RESISTÊNCIA

Lilian Castelo Branco de Lima (UEMASUL)

Resumo: De acordo com Lima (2012, p. 42): “Pensar literatura indígena é


indiscutivelmente perceber que se está diante de um caleidoscópio que incita visões
diversas e por muitos ângulos”, pois ela se apresenta “[...] como uma importante marca
identitária da nação brasileira, que desenha, em um cenário metafórico, os valores
tradicionais de um povo”. É exatamente no campo das diferenças culturais entre as
comunidades indígenas e as não-indígenas, que centraremos a discussão sobre literatura
indígena, partindo da premissa de que as narrativas dessas comunidades não seguem o
modelo ocidental do fazer literário, contudo não deixam de carregar consigo o poder do
saber de um povo que se expressa com a criatividade das artes de fazer (CERTEAU,
1995). Sendo que este trabalho se estrutura com vistas a responder a seguinte
problemática: Que marcas identitárias dos saberes tradicionais indígenas são percebidas
em contos de três etnias? E para responder esse questionamento se desenvolveu uma
pesquisa bibliográfica, colocando em diálogo a literatura e os estudos antropológicos.
Sendo que no desenvolvimento desse estudos pudemos constatar que as narrativas
indígenas com características de contos literários, e que denominamos como contos
indígenas, com base nos estudos de Daniel Munduruku (2005), apresentam elementos
importantes para se refletir e discutir sobre a memória, identidade, resistência,
considerando a rica herança étnico cultural dos saberes dos povos originários para a
nação brasileira.

Palavras-chave: LITERATURA INDÍGENA, IDENTIDADE ÉTNICA, MEMÓRIA,


RESISTÊNCIA

RELER BRASIL NUNCA MAIS: REINSCREVER A MEMÓRIA DO


DESAPARECIMENTO POLÍTICO?

Liniane Haag Brum (UNICAMP)

Resumo: Brasil Nunca Mais (1985) é um marco na história política brasileira, pois
inaugura o processo de formação das memórias sobre a repressão da ditadura (civil)-
militar (TELES). A obra tem origem em registros oficiais do próprio regime, tendo sido
erguida a partir de processos judiciais que tramitaram no Superior Tribunal Militar entre
1979 e 1985. Durante 5 anos, a partir do impulsionamento do Cardeal Paulo Evaristo
Arns e do Reverendo Jaime Wright, da Igreja Presbiteriana do Brasil, com o
financiamento do Conselho Mundial de Igrejas, advogados e ativistas constituíram o
Projeto Brasil Nunca Mais, copiando e organizando, secretamente, cerca de 707
processos. Brasil Nunca Mais, ao condensar e comentar este arquivo central, tornou-se a

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grande prova do sistema repressivo e da violência de Estado. A maior fonte documental
sobre os crimes da ditadura, mesmo após a publicação do relatório da Comissão
Nacional da Verdade, em 2014. Contudo, para além de seu caráter comprobatório,
entendemos que a obra compõe-se a partir do gesto anarquivista, ao lançar mão de um
modo de apresentação que cumpre “recolecionar as ruínas do arquivo e reconstruí-las de
forma crítica”(SELIGMANN-SILVA). Esta comunicação, resultado parcial de nossa
pesquisa de doutorado, além da centralidade do conceito de anarquivamento
(SELIGMANN-SILVA), depreendido da filosofia de Walter Benjamin, trabalha em
confluência à noção derridiana de arquivo: se este “trabalha sempre a priori contra si
mesmo”(DERRIDA), pode ser compreendido, no campo da linguagem, não só dentro da
concepção corrente de mero repositório. Nossa tarefa: à leitura do prefácio Brasil Nunca
Mais, Testemunho e Apelo, assinado por Arns, distinguir e entender o gesto
anarquivista, identificando a dimensão testemunhal de sua escritura e tomando-a como
potencial reativadora da memória ditatorial. Neste contexto, se sobressai a não inscrição
textual do corpo da vítima desaparecida, a escrita (auto)biográfica e a presença narrativa
do corpo da mãe do desaparecido político.

Palavras-chave: Brasil Nunca Mais, desaparecimento político, memória e narrativa,


arquivo, anarquivo.

A INTERAÇÃO ENTRE LITERATURA E CINEMA NO ESPAÇO FICCIONAL


DA CATAGUASES DE LUIZ RUFFATO: UMA PROPOSTA DE
LETRAMENTO LITERÁRIO E AMPLIAÇÃO DE REPERTÓRIO

Lucas Neiva da Silva (UFJF)

Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta de intervenção pedagógica a ser


aplicada em uma escola pública, localizada no município de Cataguases, Minas Gerais,
com o objetivo de aproximar os alunos do universo da literatura. Para isso, pretendemos
direcionar o olhar dos discentes para as diferentes maneiras de como o espaço físico da
cidade de Cataguases é retratado no conto Os amigos e no romance Estive em Lisboa e
lembrei de você, ambos do escritor cataguasense Luiz Ruffato, e em suas respectivas
adaptações para o cinema. Assim, além dessa categoria da narrativa, será também foco
de discussão o processo de adaptação cinematográfica de obras literárias no que se
refere às transformações ocorridas na transposição do hipotexto literário para o
hipertexto fílmico, principalmente em relação ao espaço, ação e personagens. Devido ao
estreito espaço que a literatura ocupa na escola hoje e do afastamento cada vez maior
dos jovens em relação à leitura literária, é essencial que se promova meios que
contribuam de forma efetiva para o letramento literário e para a ampliação do repertório
de leitura dos discentes. Buscando a confluência entre teoria e prática, adotamos a
orientação metodológica da pesquisa-ação, conforme diretriz do ProfLetras. Pelo fato de
o projeto estar em andamento, apresentaremos as linhas principais da pesquisa, com
ênfase na nossa hipótese de trabalho e nos resultados parciais obtidos.

Palavras-chave: Literatura, Cinema, Adaptação

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O TEATRO DA EXISTÊNCIA: O QUE A ARTE POÉTICA DE CLARICE
LISPECTOR DIZ SOBRE NÓS?

Luciana de Barros Ataide (UFPA)

Resumo: O tempo atual é o tempo das necessidades; é o tempo no qual as pessoas


vivem buscando os filtros e as edições para mostrarem um bem estar irreal, inalcançável
e muito plastificado. Em consequência, o ‘teatro da existência’ invadiu a realidade e o
homem não tem conseguido separar o que é uma vida de fantasias do que é possível e
alcançável, cobrando de si objetivos inconcebíveis por não viver o mundo humano,
tampouco o mundo próprio, mas um mundo de insatisfação com a realidade no qual a
competitividade tem produzido o descontentamento e o ser “falsamente amado”
(LISPECTOR, 2016, p. 380). Então, quando se alimenta esse mundo de faz de conta, “o
ser se perturba porque nem ao menos pode agradecer: não tem o que agradecer (...) De
modo que, como se diz sobre o palhaço que ri, o ser às vezes chora sob sua caiada
pintura de bobo da corte. LISPECTOR, 2016, p. 381). Disso vem duas grandes
questões: Será que “o futuro que estamos inaugurando é uma linha metálica”?
(LISPECTOR, 2016, p. 383) e como a arte pode nos ajudar a fugir dessa construção
metálica? Pensando tais questões, o presente estudo tem a proposta de expor uma
reflexão acerca da necessidade de se buscar a verdade do Ser; o originário do Ser.
Assim, as obras Ser e Tempo (2005) de Martin Heidegger, Fenomenologia da Percepção
(1999) Maurice Merleau-Ponty, Perfil dos Seres Eleitos e Discurso de Inauguração de
Clarice Lispector (2016) serão as principais condutoras desse estudo, já que a proposta é
pensar o que tem acontecido com esse homem do atual século para se alojar no mundo
do ‘faz de conta’ de maneira a construir uma existência teatralizada?

Palavras-chave: Mundo. Homem. Obra de arte.

SAMUEL RAWET E O PALAVRÃO SABOROSO DA RALÉ ESFARRAPADA

Luciano de Jesus Gonçalves (USP/IFTO)

Resumo: Para o escritor Samuel Rawet, não existe sexualidade sem excitação sexual.
Em seus ensaios, denominados “exercícios de ficção”, a excitação do corpo se confunde
com a excitação da/na linguagem. Ainda que tenha tentado resistir à pornografia, o
intelectual não encontrou motivos para evitá-la. Em seus cinco volumes ensaísticos,
publicados entre 1969 e 1978, a linguagem desejosa por uma palavra exata, mágica, não
é composta pelo vocábulo polido. Da sua vinculação com as ruas, com os humildes e
com os degenerados de toda sorte, sua escrita descamba, quase sempre, no registro do
pornográfico como materialidade daquilo que é simples, verdadeiro, poético. O palavrão
saboroso da ralé esfarrapada resume a gênese do lugar-comum. Em vista do que já se
afirmou, essa comunicação investiga a escrita da pornografia e a pornografia escrita no
ensaio rawetiano, tendo como pontos de partida as suas cinco coletâneas publicadas em
livro. O recorte desse trabalho compõe um universo mais amplo, de uma pesquisa em
andamento, sobre as relações intelectuais do escritor que, no próximo 2019, completaria
noventa anos de nascimento. De maneira preliminar, é possível localizar nesses ensaios
as formulações de parte significativa das propostas estéticas de Rawet e, de maneira
paralela, defender que tais investidas se misturam de modo licencioso com o que
poderia ser classificado com a prosa literária, seus contos e novelas, propriamente.

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Palavras-chave: Samuel Rawet, Ensaio brasileiro, Erotismo, Pornografia, Gênero
literários

O IMAGINÁRIO AMAZÔNICO EM TORNO DO RIO EM A HISTÓRIA DAS


CRIANÇAS QUE PLANTARAM O RIO DE DANIEL DA ROCHA LEITE

Lucimara de Almeida Melém da Costa (UEPA/FIBRA)

Resumo: O rio é um elemento de suma importância para a região amazônica,


apresentando-se como meio de locomoção, meio de sustento, lugar de habitação e fonte
para o imaginário da população que o circunda. Dessa forma, com a presente pesquisa –
a qual serviu de resultado parcial para a construção do artigo de conclusão do curso de
especialização em Língua Portuguesa e Literaturas – objetivou-se analisar a
representação do rio no imaginário amazônico retratado em A história das crianças que
plantaram o rio de Daniel da Rocha Leite. Para isso, utilizou-se como aporte teórico os
estudos de Loureiro (2015) e Fares (2013), os quais teorizam sobre a cultura amazônica
do imaginário e sobre a representatividade das águas na cultura amazônica,
respectivamente; além das contribuições das teorias de Zumthor (2010) acerca da
memória e da oralidade. Dessa forma, pretendeu-se, primeiramente, dissertar acerca do
imaginário e do elemento rio na cultura amazônica para, posteriormente, analisar essa
representação na referida obra. Após a análise, de caráter bibliográfico, confirmou-se a
posição de Loureiro (2015) o qual afirma que a cultura amazônica é geradora de uma
estética poetizante, que aparece na memória do narrador personagem por meio da sua
subjetividade perante a realidade; ressaltando o recurso da construção da narrativa em
prosa poética rica em metáforas e personificações.

Palavras-chave: Literatura. Amazônia. Imaginário.

AQUILINO RIBEIRO: ENTRE O ESQUECIMENTO E A PERSISTÊNCIA DA


LEMBRANÇA

Marília Angélica Braga do Nascimento (IFRN)

Resumo: Nosso primeiro contato com a escrita de Aquilino Ribeiro (1885-1963) deu-se
no curso de graduação, na disciplina de Literatura Portuguesa, quando nos deparamos
com uma linguagem que, a princípio, pareceu-nos um tanto estranha e distante, mas
que, ao fim, afigurou-se-nos vigorosa e autêntica. As considerações aqui apresentadas,
fundamentadas em pesquisa de natureza teórico-bibliográfica, resultam de reflexões em
torno de alguns textos ficcionais desse escritor português e de textos críticos acerca de
sua produção literária. Entre as referências bibliográficas consultadas, encontram-se os
nomes de Nelly Novaes Coelho (1973), Óscar Lopes (1969, 1985, 1987), Henrique
Almeida (1993) e Carlos Reis (2016), por exemplo, os quais têm apontado a relevância
da obra aquiliniana no panorama das literaturas de língua portuguesa, persistindo em
manter viva sua lembrança. Nossas observações indicam que, apesar de ter sido outrora
celebrado por seus compatriotas e por artistas e intelectuais brasileiros de renome,
Aquilino é praticamente desconhecido pelos leitores hodiernos e, em grande medida,

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negligenciado pelos atuais estudos acadêmico-críticos, que parecem ignorar a vastidão e
a riqueza plural do conjunto de sua obra. Tal fato parece advir, pelo menos em parte, de
possíveis dificuldades em relação ao léxico original e genuíno adotado pelo escritor
beirão e de uma visão limitada por parte de certas recensões críticas que lhe foram
coevas, as quais não teriam compreendido adequadamente sua proposta estética.

Palavras-chave: Aquilino Ribeiro, obra literária, crítica.

UMA ANÁLISE DA TRADUÇÃO TURCA DO SINTAGMA AGENBITE OF


INWIT NO ULYSSES DE JAMES JOYCE

Marco Syrayama de Pinto (USP)

Resumo: Segundo a autora ucraniana Elena Fomenko em seu artigo Is James Joyce
Lost in Translation? (2011), em que compara trechos da obra Giacomo Joyce, James
Joyce é um autor difícil de ser traduzido. O'Neill (2005, p. 6), por seu turno, afirma que
as traduções de Joyce para muitas línguas criam um metatexto, o qual abre caminho
para um modelo de tradução transtextual. Em seu livro, Polyglot Joyce: Fictions of
Translation, o autor toma as diversas traduções das obras de Joyce para várias línguas e
as compara com o fim de determinar áreas tradutórias problemáticas entre elas. É a
partir da comparação, como afirma Fomenko, entre as retraduções das obras de Joyce
para uma única língua bem como traduções de suas obras para diferentes línguas que
potencializam o teórico da tradução com o conhecimento das invariantes linguístico-
tipológicas que são comuns a textos-origem sincrônicos e textos originais criados na
língua e cultura alvo. É nesse contexto que tomaremos o sintagma do inglês médio
Agenbite of Inwit justaposto ao moderno Remorse of Conscience usado por Joyce em
Ulysses em sua tradução para o turco por Nevzat Erkmen (1996) e analisaremos sua
escolha tradutória, tocando no assunto da revolução linguística turca. Referências
bibliográficas Fomenko, Elena. Is James Joyce Lost in Translation? Jazyk a kultúra,
8/2011. Joyce, James. Ulysses. trad. Nevzat Erkmen. Istanbul: Yapi Kredi Yayinlari,
1996. Lewis, G. The Turkish Language Reform: A Catastrophic Success. Oxford:
Oxford University Press, 1999. O'Neill, Patrick. Polyglot Joyce: Fictions of Translation.
Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, 2005.

Palavras-chave: Ulysses, James Joyce em tradução, turco

ANTONIO CANDIDO, LEITOR DE POESIA

Marcos Estevão Gomes Pasche (UFRJ)

Resumo: Conforme se pode verificar no próprio resumo do simpósio a que este resumo
se dirige, Antonio Candido é especialmente referido por seu trabalho historiográfico
(dada a originalidade conceitual e metodológica da Formação da literatura brasileira) e
por seus estudos de prosa ficcional, o que se comprova pela grande repercussão de
ensaios como "Dialética da malandragem", "De cortiço a cortiço" e "Esquema de
Machado de Assis". Entretanto, obras como O estudo analítico do poema e Na sala de
aula: caderno de análise literária, além de alguns ensaios publicados em livros diversos,
revelam que Antonio Candido também foi um refinadíssimo intérprete do texto poético.

56
Assim, esta comunicação (decorrente de um projeto de pesquisa sobre a crítica literária
brasileira) destaca o trabalho de Candido como leitor de poesia, tendo nos dois últimos
livros aqui mencionados seu principal (mas não exclusivo) corpus de análise. O objetivo
principal deste estudo é dar a ver que, embora menos repercutido, esse segmento da
atuação de Antonio Candido confirma expressivamente os pressupostos críticos
estruturais de suas obras mais difundidas. Mesmo num livro despretensioso como Na
sala de aula, modestamente subintitulado caderno, reverberam a orientação teórica em
que convergem olhar social e conhecimento estilístico e a concepção de literatura
brasileira como sistema literário, ainda que tais fundamentos teóricos não sejam postos
em discussão.

Palavras-chave: Crítica literária - Leitura de poesia - Antonio Candido

BENEDITO NUNES E A RECEPÇÃO DO ROMANCE A HORA DA ESTRELA


DE CLARICE LISPECTOR

Maria de Fátima do Nascimento (UFPA)

Resumo: O presente trabalho centra-se no capítulo “O jogo da identidade”, o oitavo da


segunda parte de O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector (1989), de
Benedito Nunes (1929-2011), que discute o último romance clariciano publicado em
vida: A hora da estrela (1977). Aqui, objetiva-se averiguar a importância do referido
capítulo para a recepção e compreensão de tal romance a partir da visão consagrada de
Benedito Nunes, segundo o qual a criação ficcional enfocada narra três histórias: a de
Macabéa, jovem nordestina que luta pela sobrevivência na cidade grande, quase sem
consciência de sua situação; a do narrador Rodrigo S. M., que tem consciência da
situação precária de sua personagem; e a da própria produção da narrativa, que Rodrigo
S. M., ao relatar a história de Macabéa, também conta. Benedito Nunes, em nota de
rodapé de seu mencionado livro, afirma que semelhante estudo seu passou por duas
versões antes da publicação do livro de 1989, cujo capítulo supracitado se tornou
referência para investigadores da obra da escritora brasileira, capítulo esse que merece
ser revisitado para que o tempo não apague a autoria daquilo que, pioneiramente,
Benedito Nunes observou, há quase três décadas, sobre um dos maiores romances de
nossa literatura.

Palavras-chave: Benedito Nunes, Clarice Lispector, A hora da estrela, Romance


brasileiro, Crítica literária.

MITO E IMAGINÁRIO AMAZÔNICOS

Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões (UFPA)

Resumo: Os relatos, que fazem parte do acervo do Projeto: “O imaginário nas formas
narrativas orais populares da Amazônia paraense”, constituem uma amostra da
multiplicidade do viver amazônico, envolvendo as emoções, os sonhos, os devaneios, as
aspirações, ideais, realizações e frustrações, encantos e desencantos... enfim, toda vida e
utopia de um homem dividido entre a floresta e as águas desta vasta planície. Essa
Comunicação Oral propõe-se a fazer uma leitura acerca de alguns mitos amazônicos, a

57
partir da visão de Leminski (1994), que considera o mito como a “palavra fundadora, a
fábula matriz, a estrutura primordial, leitura analógica do mundo e da vida”. Nesta
perspectiva, as narrativas orais relatadas aos pesquisadores do Projeto IFNOPAP
durante estes seus 25 anos de existência têm contribuído com a produção científica no
campo da crítica da literatura oral na Amazônia paraense e no Brasil, seja através da
consulta às narrativas já catalogadas e constituintes do acervo do projeto, das
orientações da coordenadora e seus pesquisadores ou das publicações e eventos já
realizados ao longo dessa trajetória.

Palavras-chave: Narrativas do imaginário. Crítica. Literatura Paraense.

"MEU DUPLO": A INQUIETANTE ESTRANHEZA

Maria Domingas Ferreira de Sales (UFPA)

Resumo: Esta pesquisa privilegia a influência da poética surrealista na produção


literária de Murilo Mendes, especialmente em "A Poesia em Pânico". MEU DUPLO: A
INQUIETANTE ESTRANHEZA visa a uma análise psicanalítica do poema “Meu
Duplo”, através da qual, buscar-se-á compreender como se efetiva a negação da
consciência ou a resistência ao consciente ou lógico – proposta central do Surrealismo
(DUROZOI, Gerard & LECHERBONNIER, Bernard, 1972). Para isto, servir-nos-emos
de análise psicanalítica aos moldes de Freud, defendidos em "O estranho" (1976),
considerando certas aproximações e antagonismos que cercam o binômio Freud-Breton.
Por estes caminhos, a Psicanálise se mostra como fonte de valiosas proposições no que
tange ao sonho, aos estados inefáveis, à loucura, termos bastante familiares ao
Surrealismo. Assim, à Psicanálise e Literatura – áreas parceiras nesta análise –associam-
se termos como ‘repressão”, “estranheza” ou “a voz do inconsciente”, localizados
também em "Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud"
de Herbert Marcuse (1978) e "André Breton ou a busca do início" de Otávio Paz (1976),
em suas discussões a respeito das necessidades vitais do homem e os meios pelos quais
estas são reprimidas. Ao final da análise, conclui-se que o poema “Meu Duplo”
comunga, no seu todo interpretativo, de aspectos propalados pela poética surrealista, em
justaposição com elementos defendidos pela Psicanálise – traços imbricados pelo fio
único que os conduz: a incessante busca da palavra salvadora, a que pode libertar o
homem da inquietante angústia perante o que o torna oprimido.

Palavras-chave: Duplo, Murilo Mendes, Poesia, Psicanálise, Surrealismo

O BILDUNGSROMAN FEMININO NEGRO: DOIS EXEMPLOS


CONTEMPORÂNEOS.

Maria Tereza Costa de Azevedo (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa em andamento tem como objetivo analisar duas obras da
literatura feminina: Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie e Ponciá Vicêncio de
Conceição Evaristo. Dois romances que narram experiências de personagens em
formação, em diferentes cenários e com semelhantes impedimentos por se tratar de
leituras que trazem o protagonismo feminino e negro. A fim de analisar as obras,

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faremos a comparação dos dois romances com intuito de constatar as interseções e
divergências para levantar a hipótese de as duas narrativas serem consideradas
Bildungsroman (Romance de formação) feminino e negro, buscando entender o
percurso da apropriação do termo alemão do século XVIII em que concerne o gênero
literário e a possibilidade de acomodar o conceito como classificação destes romances
contemporâneos. No intuito de aproximar a discussão sobre o gênero literário para os
dias atuais, nos guiaremos pelas propostas de Cristina Ferreira Pinto em sua obra O
Bildungsroman Feminino: Quatro Exemplos Brasileiros e também pelas considerações
de Wilma Maas em O Cânone Mínimo: o Bildungsroman na História da Literatura.

Palavras-chave: Bildungsroman, Literatura Comparada, Protagonismo Feminino


Negro.

TRADUÇÃO DE POEMAS DE LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR:


MODERNISMO, NÉGRITUDE E AFRICANIDADE

Mariana Janaina dos Santos Alves (UNIFAP)

Resumo: A pesquisa proposta tem como objetivo continuar os estudos iniciados no


projeto Tradução cultural, intersemiótica e Négritude nos poemas de Bruno de Menezes
e Léopold Sédar Senghor: modernismo afro-paraense em Batuque e Les Éthiopiques
iniciado em novembro de 2014 e concluído em maio de 2015. O projeto foi realizado na
Universidade Federal do Amapá - Campus Binacional de Oiapoque - e foi desenvolvido
no Colegiado de Letras. Decorrente das atividades do primeiro, que inscreveu o
levantamento teórico sobre a recepção das obras dos autores modernos acima
mencionados, o segundo projeto Tradução de poemas de Léopold Sédar Senghor:
Modernismo, Négritude e Africanidade tem como objeto principal, a análise crítica e
tradução do livro de poemas Éthiopiques, publicado pela primeira vez em 1956 e
retirado do acervo Oeuvres poétiques da literatura africana francófona. Dentre os
procedimentos metodológicos, o recorte proposto inicia no Brasil uma vertente que
trabalha sobre o eixo da recepção dos poemas do autor francófono, propondo a tradução
da obra estudada, até então, inédita em língua portuguesa. O surgimento desta demanda,
originou-se, com o término da primeira pesquisa, uma vez que se identificou durante o
levantamento teórico que, no Brasil não há tradução da obra Éthiopiques de Léopold
Sédar Senghor e de nenhuma outra. A importância de consolidar este estudo surgiu da
necessidade de traduzir textos representativos da literatura francófona para a língua
portuguesa e entendê-los sob o viés dos estudos da tradução e crítica, a recepção destas
obras. Por isso, a abordagem contextual pretende relevar por meio deste estudo,
aspectos do texto poético, bem como seus desdobramentos, de acordo com as propostas
de análise poética de Zumthor (2010), Négritude e Senghor apontadas por Scheinowitz
(2009) e reflexões de Bhabha (2008) sobre cultura.

Palavras-chave: Literatura francófona, Poesia, Négritude, Senghor.

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A CONTINGÊNCIA DO OUVIR E O TRADUZIR POÉTICO: A EXPERIÊNCIA
DE MACBETT

Marina Bento Veshagem (UFSC)

Resumo: Eugène Ionesco publicou Macbett em 1972, peça considerada uma paródia de
Macbeth, de William Shakespeare, escrita mais de 350 anos antes. Em 2018, ao propor
a tradução de Macbett do francês para o português brasileiro, a autora deste trabalho
coloca em cena a pergunta: como ouvir o que fica por traduzir do texto de Ionesco? Este
é o questionamento central que guia esta comunicação e parte do desmonte do sentido
corrente de tradução, que a torna o ponto fraco das noções de linguagem – segundo
Henri Meschonnic, em Poética do traduzir (2010) –, por confundir língua e discurso de
maneira frequente e desastrosa. A poética do traduzir, proposta pelo autor, encara a
tradução como ato de linguagem, que tem sua própria historicidade. A unidade da
poética é o discurso, e este é da ordem do contínuo – pelo ritmo, a prosódia. “Se
queremos aprender algo sobre o descontínuo do signo e o contínuo do fazer, do agir na e
pela linguagem, é preciso aprender, ou talvez reaprender, um modo de escutar aquilo
para o qual o signo nos tornou surdos” (MESCHONNIC, 2010, p. XXXI). Se o
tradutor/leitor é aquele que ouve em duplicidade cada palavra (Roland Barthes, 2004), é
papel dele estar atento às possibilidades de escuta. Meschonnic nos deixa a pista de que
talvez o caminho seja a oralidade, que é a organizadora do discurso, e é o que fica por
traduzir. A partir desta concepção de poética do traduzir, da compreensão de texto e de
leitor de Roland Barthes e da experiência prática de tradução de Macbett (de exercícios
de leitura do texto em francês e também de versão da tradução em português), este
trabalho busca apontar indícios de como Macbett age na linguagem.

Palavras-chave: Tradução; Teatro; Poética

CLARICE LISPECTOR: A SINGULARIDADE DA LINGUAGEM LITERÁRIA

Marinilce Oliveira Coelho (NPI – UFPA)

Resumo: Clarice Lispector (1920-1977) é considerada como uma das principais


escritoras brasileiras do século XX. Sua obra literária expressa inquietante tentativa de
explorar as camadas mais profundas da consciência humana. No conjunto, a literatura
desta autora é considerada intimista – juntamente com alguns autores da geração surgida
após 1945 – por apresentar uma ficção complexa, hermética, mas realmente nova: pela
forma como manifesta a consciência construtiva da linguagem. Ou seja, pela tensão que
se “assente na consciência individual como limiar originário do relacionamento entre o
sujeito narrador e a realidade” (NUNES: 1989). Este estudo tem como objetivo verificar
a singularidade da linguagem literária desta escritora através do conto Macacos (in
Felicidade Clandestina, 1971) que revela a capacidade singular de Clarice Lispector de
captar a verdade que se esconde atrás das simples aparências das palavras.

Palavras-chave: literatura-modernidade-drama-feminino-cotidiano

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IDENTIDADE, CULTURA E RESISTÊNCIA NO CORDÃO JUNINO DO
MAJESTOSO PAVÃO

Marléa de Nazaré Sobrinho Costa (UFPA)

Resumo: O Festival de Cordões Juninos, adaptado a partir da obra Pássaro da terra (1999), de
João de Jesus Paes Loureiro, figura como uma das principais estratégias de intervenção social
dos Centros de Referência em Assistência Social - CRAS junto aos territórios do município
de Abaetetuba. Durante o primeiro semestre de cada ano, técnicos e educadores sociais, além
de crianças, adolescentes e seus familiares, usuários dos programas sociais, realizam o
trabalho de pesquisa em seus respectivos territórios. Textos teatrais e composições musicais
são criados a partir de um conjunto de temáticas sociais já exploradas em reuniões pelos
grupos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV. Objetivamente, as
temáticas de maior relevância junto aos grupos são: a) combate ao trabalho infantil; b)
violência doméstica e familiar; c) sexualidade; d) cultura de paz; e e) meio ambiente. É nesse
sentido que o Festival se apresenta como modelo de intervenção que visa promover a
convivência e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários dos usuários atendidos
pelos programas socioassistenciais, através da valorização da arte e da cultura popular no
município de Abaetetuba, sem perder de vista a preocupação central, que se traduz pela
expectativa de minimização das situações de violência, vulnerabilidade e exclusão social.
Neste trabalho, fazemos um estudo do texto teatral, das composições musicais e da
performance do Cordão Junino do Majestoso Pavão, encenado por usuários pertencentes a
uma comunidade quilombola da região das ilhas do município de Abaetetuba, a fim de refletir
sobre processos de construção e afirmação de identidade e práticas de resistência de sujeitos
historicamente estigmatizados e marginalizados pelo rebaixamento de suas raízes sociais,
raciais e culturais. Além disso, procuramos compreender em que medida essa releitura do
Pássaro da Terra permite compreender aspectos próprios do ethos ribeirinho da Amazônia
Baixo-Tocantina.

Palavras-chave: Identidade, Cultura, Resistência, Cordão Junino.

ESTEREÓTIPOS FEMININOS DA REGIÃO AMAZÔNICA ILUSTRADOS NO


CONTO ACAUÃ, DE INGLÊS E SOUSA

Matheus Lustoza Santos (UFES)

Resumo: Justifica-se este artigo no mistério e no diálogo social estabelecido entre a


comparação de duas personagens do conto Acauã - ambientado na Vila de Faro no Pará
do século XIX, onde ambas representam dois estereótipos femininos opostos no qual
uma representa da natureza cultural da indígena (Vitória) e outra alegoriza a mulher
com características mais europeias (Aninha), cujo final se entrelaça em encantamentos
mergulhados em crenças populares tipicamente tomadas como fatos reais pelo povo da
região. Todo embasamento literário provém de citações retiradas do próprio conto,
sendo estes de suma importância para a comprovação das análises femininas levantadas
aqui. Acauã, conto retirado do livro Contos Amazônicos (1893) vem nos revelar que
mesmo em um cenário de desolação perante as políticas tanto do Império quanto da
República o povo do Norte sempre existiu e resistiu ao abandono e ao descaso da
federação – inclusive as figuras femininas. A publicação desta obra marca que além da

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fauna e flora, a região amazônica também é fonte de uma gigantesca riqueza folclórica,
que os povos lusitanos em contato com os índios da região obtiveram um contato
cultural único, deixando um grande legado de lendas, um arsenal singular de tradições e
mitos populares que traça culturalmente as fronteiras desta região do país. Para
enriquecer e explanar melhor as ideias expostas neste artigo foram alicerceadas
publicações de CANDIDO (2006); COUTINHO (2001); MONTELO (1995); MORAES
(2002); NALU (1998); VERISSIMO (1903) e WERNECK SODRE (1960) entre outros
autores que tanto contribuíram para a sustentação teórica embasada para a melhor
elucidação das alegorias femininas da Amazônia brasileira.

Palavras-chave: Literatura; Feminino; Região Amazônica

VOZES NIILISTAS EM GRACILIANO RAMOS

Mauro Lopes Leal (UFPA)

Resumo: Em uma sociedade caracterizada por relações comercias e técnicas, a noção


de homem deu lugar à valorização material, superficial e banalizada, tornando-o refém
angustiado daquilo que produz e deseja. Nesse âmbito, adentra-se no terreno do
niilismo, ou seja, na perda da crença em valores considerados sagrados e intocáveis até
então. Com o niilismo, a verdade, a Onipresença, a imortalidade, a justiça, dentre muitas
outras certezas, são desfeitas, postas em dúvidas, resultando de tal processo o homem
em um estado de vazio, o indivíduo niilista, no qual toda crença é insuficiente para
satisfazer a sua racionalidade, o seu materialismo, gerando o sentimento de impotência,
desestabilização, insegurança e sofrimento. É este homem melancólico e imerso no nada
que Graciliano Ramos irá apresentar em diversas de suas obras. Abordar-se-á na obra
Angústia a presença do indivíduo niilista e o seu sofrimento existencial. Este é o canário
no qual está imerso Luís da Silva, personagem principal da obra, cuja vida esvaziada e
destituída de maiores ambições, situa-o em um contexto de apequenamento do homem
moderno. Graciliano Ramos expõe a fragilidade do homem que se mostra incapaz de
transformar essa angústia em um sentimento de reconhecimento e aceitação de si e do
mundo. A consciência da morte futura, a sua brevidade enquanto ser posto no mundo,
deveria suscitar no homem da modernidade um olhar mais reflexivo, o que,
efetivamente, não ocorre. Assim, tal homem é impulsionado ao vazio niilista, tornando-
o, não raro, fraco e inapaz de uma reação efetiva, preferindo o subsolo da existência do
que a responsabilidade pela vigência da sua existência e liberdade vigorante no mundo.
Como suporte teórico, serão utilizados, entre outros, o pensamento do filósofo
Nietzsche, que abordou a questão do niilismo de modo expressivo. No que tange ao
aspecto literário, o pensamento de Antônio Cândido será significativo.

Palavras-chave: homem, niilismo, angústia, tristeza.

NHÁ BENEDITA DE DALCÍDIO JURANDIR E HORTÊNCIA DE MARQUES


DE CARVALHO: UMA COMPARAÇÃO DE MULHERES NEGRAS NA
LITERATURA AMAZÔNICA

Mayara Cristiny Souza Martins Rodrigues (UFPA)

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Resumo: Este presente artigo é fruto da disciplina Literatura Comparada, vinculado ao
Programa de mestrado em Estudos literários, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Essa pesquisa tem como objetivo interpretar as personagens Nhá Benedita do romance
Marajó (1947) de Dalcídio Jurandir e Hortência do livro homônimo de Marques de
Carvalho (1888). Para tanto, a metodologia utilizada será a teórico-interpretativa dos
estudos de cultura e identidade, com os autores Bernd (2013), Carvalhal (2006) e
Machado e Pageau (2001), para se compreender a abordagem utilizada na interpretação
dos textos, enquanto Evaristo (2008) será necessária no que se refere a entender a
perspectiva das imagens das mulheres negras na Literatura brasileira. Nos romances
citados, irei considerar as duas personagens negras que marcam os enredos: Nhá
Benedita, preta doceira, já senhora, conta histórias fictícias e da época de escravo,
aparece como uma Mãe-Preta, isto é, paciente, carinhosa e sempre acolhedora; enquanto
Hortência uma jovem mulher, aparece com uma bela encantadora, calma, sempre
prestativa e afável. Em ambas, podem-se identificar a figura do orixá Iemanjá a qual
será a metáfora usada para se costurar e dialogar essas figuras. Nesse sentido, Odayá ou
Iemanjá é orixá reverenciado pela nação Iorubá, ela representa a força, a beleza, a
maternidade e a vergonha, mora no fundo do mar. Ao final dessa leitura, possibilitará
vermos as representações dos negros em dois momentos literários, em que esses
diferentes olhares divulgam as diversas perspectivas na construção das identidades
negras da Amazônia. Assim com essa analogia de Iemanjá, comparo Hortência e Nhá
Benedita como herdeiras de Iemanjá, não faço referências a religiosidade de matriz
africana, o que interessará, na verdade, são traços e características que transitam e
direcionam o leitor a associá-las a essa deusa das águas salgadas.

Palavras-chave: Feminino, Nhá Benedita, Hortência, Negra, Identidade.

ELIOT WEINBERGER: POESIA E TRADUÇÃO NO ENSAIO


CONTEMPORÂNEO

Mayara Ribeiro Guimaraes (UFPA)

Resumo: O ensaísmo literário, “gênero intranquilo”, conforme denominação dada por


João Barrento, nasce livre e conforma-se com uma ambiguidade consciente que o
impulsiona a seguir uma lei de hibridismo e um princípio de contaminação. Esses
princípios ameaçam constantemente e positivamente sua forma com uma porosidade e
provisoriedade que o predispõem a uma vontade de ficção ou poesia. Eliot Weinberger,
tradutor, editor, comentador político, ensaísta americano e poeta americano cria textos
compostos de listas, colagens de textos híbridos, transcrições, traduções – migrando da
arqueologia e antropologia à poesia, da história ao mito, do jornalismo documental e
cronístico ao fragmento de natureza metafísica, em uma prosa poética experimental, às
vezes política, às vezes simplesmente literária, com imagens e motivos refratários que
se ergue no cenário contemporâneo como potência discursiva. An elemental thing, de
2007, escrito à maneira do poema serial americano, e composto por fragmentos,
traduções, poemas, mitos, documentos, listas, dispostos em um processo de montagem e
colagem de textos, discute os limites e exercícios de leitura, tradução e produção textual
a partir do tensionamento e desguarnecimento de fronteiras estéticas, abrindo-se para a
indeterminação. Sua ensaística propõe a elaboração de uma forma descontínua e
fragmentada de narrar a cultura e o presente, alimentando uma tensão que se coloca
entre a realidade e este grande “outro”, seja ele operado por culturas distantes no tempo

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ou no espaço. O aporte teórico usado para discutir as propostas da comunicação são
Georges Didi-Huberman e Henri Meschonic.

Palavras-chave: Ensaio contemporâneo, leitura, tradução literária, hibridismo

O PENSAMENTO POÉTICO NAS OBRAS DE OLGA SAVARY SOB A


PERSPECTIVA FILOSÓFICA DO MÉTODO CRÍTICO DE BENEDITO
NUNES

Melissa da Costa Alencar (UFPA)

Resumo: O objetivo desta pesquisa é percorrer a obra poética da poeta paraense, Olga
Savary, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Entender seu repertório selvagem (uma
alusão ao título de uma de suas obras) sob a perspectiva filosófica das principais
questões da vida e da obra de arte que transcendem em sua poesia. Para iluminar os
caminhos da crítica literária propomos estudar o método crítico de Benedito Nunes, por
ele tratar da hermenêutica e poesia, articular o pensamento filosófico de Heidegger e
buscar a passagem para o poético. Por isso acreditamos ser a tríade ideal para a pesquisa
da obra poética de uma escritora tão singular e potente. Sua vida e obra foi/é toda
dedicada à poesia. Olga Savary apresenta uma vasta produção literária, jornalística,
ensaísta, crítica, tradutora, entre outras, infinitas atividades exercidas por ela. Assim
como, ela mesma afirmou presencialmente, na ocasião da Feira do Livro de 2013: “A
Literatura é uma dama exigente, não dá descanso. Ou você se entrega a ela toda a sua
energia ou ela lhe vira as costas” (SAVARY, 2013).

Palavras-chave: Palavras-chave: Poesia, Filosofia, Crítica literária, Benedito Nunes,


Olga Savary.

O TEMPO POÉTICO NAS PÁGINAS DE INGLÊS DE SOUSA

Messias Lisboa Gonçalves (UFPA)

Resumo: O presente estudo é resultado final de pesquisa de mestrado que culminou


com a dissertação intitulada Tempo e memória em O Cacaulista e O Coronel Sangrado,
de Inglês de Sousa (2018). É possível cogitar que a valorização, apenas, da textura
documental sócio-político-histórica pela crítica foi responsável pelo obscurecimento do
lastro estético dos romances O Cacaulista e O Coronel Sangrado, de Inglês de Sousa, no
entanto é justamente o lastro estético que os mantém vivos. Sendo assim, o objetivo
deste estudo foi pesquisar as questões do tempo e da memória postas em obra pelos
romances inglesianos. Para uma maior compreensão e aprofundamento, a pesquisa
limitou-se à reflexão do personagem Miguel Faria que migra de um romance para o
outro. É mister ratificar que “a ideia de tempo é conceitualmente multíplice; o tempo é
plural em vez de singular” (NUNES, 1988, p. 23). A partir desse ponto de vista, cabe
neste estudo uma noção de tempo que se opõe ao tempo controlado pelo relógio, o que
possibilitou perceber o tempo enquanto uma questão. Quanto à metodologia, adotamos
a pesquisa bibliográfica, com as seguintes etapas, a saber: realização da pesquisa
bibliográfica, leitura e fichamento do material pesquisado, interpretação do corpus e
seleção dos dados mais relevantes para esta pesquisa. Diante disso, lançamo-nos no

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abismo do pensamento e realizamos uma crítica literária enquanto escuta poética das
questões do tempo e da memória. Dessa forma, entendemos que esse personagem-
questão vive uma experienciação com o tempo, que foge àquele cronometrado pelo
relógio ou mesmo àquele pensado pela ciência, e no seu tempo experiencia o tempo
humano e poético. Para realizar este intento, buscamos especialmente em Henri Bergson
(1859-1941), Martin Heidegger (1889-1976), Benedito Nunes (1929-2011) e Manuel
Antônio de Castro (1941 –) um diálogo que permitiu pensar a escuta poética das
questões naqueles romances inglesianos.

Palavras-chave: Tempo, Memória, Escuta, Romances, Inglês de Sousa.

CORPOS ESVAZIADOS, VOZES INAUDÍVEIS E MEMÓRIAS RESISTENTES


EM “IN THESE DISSENTING TIMES”, DE ALICE WALKER

Milton Fagundes da Silva (UFF)

Resumo: Desde a década de 1990 tem-se preservado que a escritora afro-americana


Alice Walker dedicara-se a uma escrita capaz de explorar o sofrimento das mulheres
negras nas comunidades afrodescendentes (Cf. Winchell 1992; Gates Jr. & Appiah
1993; Christian 1994; Hsiao 2008; Tembo 2009; Baga 2010; Baluni 2012; Otto-Agede
2013). Essa comunicação, seguindo na contramão, busca propor um caminho alternativo
para refletir e discutir a produção de Literária de Walker: amparar-se não mais nas
narrativas consagradas, mas sim voltar-se às composições versificadas, para
problematizar o discurso opressor que marginalizava a memória e a identidade cultural
de todo aquele que descende da Diáspora. Para tanto, procuro demonstrar e esclarecer
como os primeiros poemas se articulam e se desdobram em narrativas, averiguando o
processo de transição, o rearranjamento da sintaxe e a confluência entre as vozes negras
que, pelos textos, se tornam audíveis. À vista do corpus trabalhado, fez-se necessário
refletir sobre a sua estética womanista, apreciando-a como um processo de gradações
entre negritude, memória, sulismo, classe e gênero, cujo propósito final seria a cura e a
sobrevivência daquele que experiência os efeitos da partida do solo africano. Sob um
escopo indutivo, entre os campos da Poética, Hermenêutica e História, além de uma
nova mirada à poesia de Alice Walker, esse trabalho busca destacar a continuidade e a
historicidade presente na escrita de Walker, contemplando-a como meio de resistência,
contestação e intervenção frente à opressão e discursos que subalternizaram não apenas
a mulher negra, mas, principalmente, a memória cultural e ancestral do negro
americano.

Palavras-chave: Alice Walker, Diáspora, Memória, História, Identidade Cultural.

FORMAÇÃO DO ROMANTISMO E DA CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL:


LEITURAS, CRÍTICAS E TEORIAS DE ANTONIO CANDIDO.

Natalia Fernanda da Silva Trigo (UNESP)

Resumo: O trabalho visa analisar a maneira como Antonio Candido constrói sua crítica
sobre o romantismo, mais especificamente sobre como a crítica de arte desenvolda pelo
Frühromantik irá influenciar e ser fundamental para o surgimento da crítica literária

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brasileira no período romântico. Para isso, analisaremos, principalmente, o capítulo
“Raízes da crítica romântica” que está na Formação da Literatura Brasileira (2000) de
Antonio Candido. Procuramos discutir, ainda, as semelhanças e as diferenças entre a
leitura de Candido sobre o período romântico e as de Octavio Paz em Os filhos do barro
(2013) e Márcio Seligmann-Silva em Ler o livro do mundo (1999). Além da influência
do Frühromantik sobre a crítica romântica brasileira, procuramos analisar como as
reflexões presentes na crítica de Candido sobre o romantismo aparecem em sua análise
do poema Meu sonho, que está no capítulo “Cavalgada Ambígua” do livro Na sala de
Aula(1993). Procuramos verificar até que ponto Candido cria uma teoria sobre o
romantismo brasileiro em sua crítica, apontando suas particularidades em relação ao
modelo europeu, e como o romantismo brasileiro contribuiu para a formação da
literatura brasileira, em especial da crítica literária.

Palavras-chave: Antonio Candido, Frühromantik, crítica literária

ENTRE O CONTO E O CANTO: OS DIÁLOGOS ENTRE TEMA E MEMÓRIA


EM NARRATIVAS ORAIS E NARRATIVAS CANTADAS DOS MESTRES
URBANOS DE CARIMBÓ DA AMAZÔNIA

Natasha de Queiroz Almeida (UFPA)

Resumo: O presente artigo analisa as inter-relações entre o tema e as memórias que


tecem as narrativas orais cantadas pelos mestres urbanos de Carimbó e narrativas
contadas repercutidas no município de Belém do Pará e catalogadas no acervo
IFNOPAP- O imaginário das formas narrativas orais populares da Amazônia paraense.
Compreendendo-se o tema da narrativa como o conjunto de motivos que se relacionam
na teia narrativa para a construção e transmissão de um conteúdo, a memória permeia e
alinhava a tessitura da narrativa, ressignificando valores, fortalecendo ideologias e
transmitindo conhecimentos plurais. Afinal, quais memórias ainda persistem no
imaginário do caboclo amazônico urbano em sua relação com os contos que referem a
Belém urbana e ao seu cotidiano? Quais os olhares lançados hoje sobre sua própria
experiência, compartilhada tanto nas narrativas orais, quanto nas letras de Carimbó?
Quais memórias subjazem às narrativas contadas hoje pelo indivíduo urbano e/ou em
ambiente urbano? Como as memórias social e individual se manifestam nas narrativas
cantadas e contadas? As narrativas orais contadas selecionadas para o presente artigo
foram pré-selecionadas do banco de dados do acervo IFNOPAP e as narrativas cantadas
foram catalogadas em pesquisa de campo no município de Belém do Pará, a partir de
entrevistas realizadas com três (3) mestres urbanos de Carimbó, a fim de perceber o
tanto quanto possível da intensa relação de suas experiências com o ritmo do Carimbó.
A partir desta investigação parcial, que reflete as discussões de Robert Scholes &
Robert Kellogg (1977) e Paul Ricouer (2007), foram estabelecidos diálogos com as
narrativas contadas, cujos temas e memórias ora persistem, ora se interseccionam pelas
recriações nas narrativas.

Palavras-chave: Tema, Memória, narrativas orais, narrativas cantadas.

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CONSTELAÇÕES POÉTICAS: NOTAS SOBRE O “REAMANHECER”, DE
STELLA LEONARDOS.

Nathaly Felipe Ferreira Alves (UNICAMP)

Resumo: O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados finais, referentes a


nossa pesquisa, que privilegiou a análise de poemas que compõem “Reamanhecer”,
segunda parte do livro Amanhecência (1974), de Stella Leonardos. Para tanto,
observamos as relações de leitura/escritura empreendidas pela escritora, por meio do
exercício metapoético de apropriação de poemas de expressão modernista da literatura
brasileira. Tal reescritura metapoética opera por meio do pensamento analógico, em que
se esboça a figura do “poeta crítico” em sua relação com a tradição. Neste movimento
duplo, fundamentado no deslocamento do sujeito lírico para “fora de si”, advém a nossa
hipótese de pesquisa: a de um singular “livro-antologia” no qual a poeta se apropria dos
poemas com os quais dialoga por meio de dois procedimentos: o de “expansão”, gerador
do “canto paralelo”, e o de “redução”, em que a glosa das epígrafes é recurso chave,
ambos alicerçados na perspectiva metapoética. Como fundamentos teóricos para a
análise, destacamos os estudos de Eliot (1989) e Maciel (1999) sobre a “poesia crítica”;
Valéry (2007), Blanchot (1987; 2013) e Badiou (2002) no que se refere ao estatuto do
pensamento poético; além de Collot (2004) sobre o “sujeito lírico fora de si”. A
conclusão é a de que Stella Leonardos cria uma singular “história da literatura escrita
em verso”, que determina não apenas um novo conceito de antologia poético-crítica,
revitalizadora de uma história sincrônica da literatura brasileira, conforme indica
Haroldo de Campos (1969), mas também projeta um instigante exercício metapoético de
formação do leitor literário.

Palavras-chave: Stella Leonardos; “Reamanhecer”; metapoesia; antologia poético-


crítica.

A FORMA DO CONTO EM A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE


DEMAIS

Nilson Fernandes dos Santos (SEMEC-SEDUC)

Resumo: Como parte da Dissertação intitulada “Leitura de contos: uma experiência


literária no Ensino Fundamental, produzida no âmbito do Mestrado Profissional em
Letras em Rede Nacional, fez-se sobre o conto A Bela e a Fera ou a ferida grande
demais, de Clarice Lispector, um estudo que se baseou também nos escritos de Benedito
Nunes, sobretudo em A forma do conto – capítulo do livro O Drama da Linguagem:
uma leitura de Clarice Lispector (1989) - sobre as obras daquela autora. Tal estudo
partiu da necessidade de se ter uma leitura própria sobre aquele conto, uma vez que,
compreende-se, é imprescindível que alguém que propõe e media uma leitura literária
em sala de aula, antes precisa ter sua própria visão sobre ela. O projeto de leitura
literária com contos foi desenvolvido em uma escola pública estadual, em uma turma de
sétimo ano do Ensino Fundamental. Pretendemos nesta comunicação demonstrar, entre
outros tópicos, como se desenvolve neste conto a tensão conflitiva (terminologia
proposta por aquele autor) e como esta contribui para o estado de epifania experienciado
pela personagem principal que, no ocasional contato com um mendicante, faz sobre sua
vida profundas reflexões e descobertas. Apontaremos que, embora não seja citado por

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Benedito Nunes em seu estudo, neste conto encontramos as mesmas características pelo
autor apresentadas e inerentes a outros contos de Clarice.

Palavras-chave: Palavras-chave: Benedito Nunes; A forma do conto; A Bela e Fera ou


a ferida grande demais.

ANTONIO CANDIDO, LEITOR DE CRÍTICA

Osvaldo Copertino Duarte (UNIR)

Resumo: Esta comunicação faz referências a estudados realizados no contexto da


pesquisa O projeto crítico de Antonio Candido: tensões de um método fronteiriço. A
pesquisa parte do pressuposto de que a obra de Antonio Candido (1918-2017) deva ser
tratada na sua integralidade a fim de que dela se possa extrair os traços definidores.
Tendo isso em causa, investiga-se a obra do crítico a partir de quatro prismas ou tensões
internas ? Tensão Histórica, Tensão Funcional, Tensão Dialética e Tensão Estético-
integradora ?, analisando, de um lado, a caracterização dos referidos prismas e, de outro,
o seu funcionamento como sistema crítico-analítico. Em suma, propõe-se a
decomposição da obra nos seus elementos nucleares, com vistas à compreensão dos
seus postulados e também da sua estruturação argumentativa. O objetivo é produzir
reflexão e teorização como forma de explicar o método crítico do autor. A comunicação
ora apresentada, volta-se para a metacrítica como uma das vertentes constituidoras da
obra de Candido, que desde o início da carreira procurou abordar os problemas que
envolvem a metodologia crítica, haja vista o seu primeiro estudo de fôlego, O método
crítico de Sílvio Romero, de 1945. Além desse estudo, a comunicação trata das análises
sobre outros dois críticos: Álvaro Lins (Um crítico, de 1947) e Sérgio Milliet (Sérgio
Milliet e o ato crítico, de 1978), procurando mostrar os aspectos destacados por Candido
e de que maneira sua própria concepção de crítica e de literatura se evidenciam nessas
leituras. Quanto à metodologia, optamos pelo estudo comparado, a fim de identificar
pontos de convergência e de divergência entre o método crítico de Candido e o método
dos autores por ele estudados. Esses trabalhos de metacrítica são fundamentais para se
compreender o pensamento de Antonio Candido, pois é neles, sobretudo, que o autor
traça suas diretrizes e define o próprio método.

Palavras-chave: Antonio Candido. Metacrítica. Análise.

USOS E DESUSOS DO CONCEITO DE ESTÉTICA NOS ESTUDOS


LITERÁRIOS

Otávio Guimarães Tavares (UFPA)

Resumo: A ideia da arte literária como não-estética, nos estudos literários, tende a
evocar os estudos culturais britânicos e uma noção de literatura como influxo
socioeconômico ou, em casos mais extremos, a apropriação deste por parte dos estudos
culturais norte-americanos e um excesso de "teoria" que deixa de lado o objeto literário
em prol de um discurso lateral daquilo que o cerca representativo nos vários "studies".
A ideia de uma visada "estética" tende a ser associada a correntes como o New
Criticism e Formalismo Russo e seus interesse pela obra isolada, até certo grau, do

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contexto. Entretanto, se observarmos atentamente a tradição estética, veremos que estas
partem de um equívoco produzido pela própria concepção estética da arte, o de igualar
"estético" com "artístico". Pretendo evidenciar aqui que a filosofia de Ingarden,
interpretada a partir da atual filosofia da arte anglófona – em Arthur Danto, Noël Carroll
e Graham McFee – , possibilita pensar uma outra via que não recai nem em um
conservadorismo que isole o texto literário (como autossuficiente), nem um estudo que
coloque a obra como um pré-texto. A recusa da estética seria, diversamente, uma
mudança de uma epistemologia para uma ontologia fundamentada no princípio de ação,
necessitando uma reorientação da compreensão do ser-arte já, em parte, indicado nos
trabalhos de Ingarden. Portanto, não se trata de uma questão de qual objeto focar - obra
ou seu entorno - mas de uma mudança com relação ao que significa ser-arte, uma
pergunta por uma base ontológica que precede as propostas supracitadas e que,
consequentemente, acarreta mudanças a ambas.

Palavras-chave: Filosofia da arte, Estética, Roman Ingarden, Teoria Literária

O OUTRO LADO DA BELLE-EPOQUE NO ROMANCE BELÉM DO GRÃO-


PARÁ, DE DALCÍDIO JURANDIR

Paulo Robledo Neves de Lima (UFPA)

Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar a verbalização de uma intenção de


pesquisa que revele o lado oposto da "Belle-Epoque", a partir da leitura do romance
Belém do Grão-Pará, do escritor marajoara Dalcídio Jurandir. O referencial teórico-
metodológico para a análise teórica tem por base Rocque (1987), a revista Asas da
palavra, 04, além da própria obra em questão. Os resultados esperados dizem respeito a
evidenciar o lado miserável de uma época considerada rica, ou seja, a do auge da
borracha, representada na família Alcântara e nos criados Libânia, Antônio e Alfredo.
Este que veio da ilha do Marajó a fim de estudar na cidade belenense e acaba por
presenciar inúmeros contrastes, o que não era normal para um menino de 11 anos. O
escritor, de maneira escancarada e, às vezes, sutil, mostra-nos o antagonismo da
convivência do menino com a família Alcântara em meio ao declínio da época da
borracha.

Palavras-chave: Belle-Epoque, Belém, Borracha, Miséria, Dalcídio Jurandir

PELA ESCRITA DE DALCÍDIO, O FASCÍNIO DE ALFREDO: A


ARQUITETURA DA BELLE ÉPOQUE NO ROMANCE BELÉM DO GRÃO-
PARÁ

Priscila Ferreira Bentes (UFPA)

Resumo: Na virada do século XIX para o século XX, cidades da América Latina foram
contempladas com uma expansão econômica e social denominada belle époque. Nesse
período, a capital paraense era um dos pontos mais importantes do Brasil com grande
circulação de pessoas e intenso fluxo de mercadorias nacionais e internacionais. Com o
boom da era da borracha, Belém sofreu transformações na sua estrutura arquitetônica
pautada nas reformas das grandes capitais europeias, mudanças que promoveram um

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deslumbramento em muitos que nela circularam dentre eles habitantes, viajantes e até
mesmo personagens da ficção como menino Alfredo, do romance Belém do Grão-Pará
do escritor paraense Dalcídio Jurandir. A partir disso, esta pesquisa tem como objetivos
investigar como o romance Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir, apresenta a
arquitetura vigente da belle époque, e analisar a reprodução do espaço urbano na
literatura como evidência de uma construção histórico-social. Tomamos como
fundamentação teórica as reflexões a respeito da literatura como expressão e
representação do espaço urbano, da construção do cidade como expressão material e
social e da produção literária como evidência histórica. Como metodologia de pesquisa,
além das discussões teóricas, estabelecemos uma comparação entre o romance e jornais
e diários de viajantes que datam do período de 1877 a 1906, o qual corresponde ao
apogeu da economia gomífera em Belém. Como resultado parcial da análise,
verificamos que o escritor realiza no romance um resgate memorialístico da paisagem
da capital paraense de fins do ciclo econômico como testemunho das evidências da
estrutura urbana da cidade. Utilizamos como referências bibliográficas autores como
Barbara Freitag (2012), Giulio Argan (2005), Marisa Carpintéro e Josianne Cesaroli
(2009), Nicolau Sevcenko (1998), Sandra Pesavento (2007), Renato Cordeiro Gomes
(2008) e Richard Morse (1995).

Palavras-chave: Belém do Grão-Pará, Dalcídio Jurandir, Literatura amazônica.

MUDANÇA E PERMANÊNCIA: OS CRONÓTOPOS IDÍLICOS DE OBLÓMOV

Rafael Bonavina Ribeiro (USP)

Resumo: O trabalho é a apresentação dos resultados parciais de uma pesquisa


desenvolvida junto ao DLO / FFLCH / USP sobre a transformação dos cronótopos
idílicos do protagonista do romance Oblómov (2015), de Ivan Aleksándrovitch
Gontcharóv. Começamos o estudo pelas definições de cronótopo, expostas por Bakhtin
(1998), buscamos compreender a transformação do idílio do protagonista ao longo da
história. Utilizando as reflexões sobre tempo e mito de Frye (2014), Hammarberg
(1991), Klapuri (2013) constatamos uma oposição entre duas percepções temporais: a
mitológica e a histórica, que também podem ser consideradas a essência dos principais
personagens do romance, como Iliá Ilitch Oblómov e Andrei Chtolts. Explorando o
conceito bakhtiniano, verificamos haver, também, uma tensão entre dois tipos de
cronótopos idílicos diferentes idealizados por Oblómov, o familiar e o amoroso. O
movimento pendular entre esses elementos é pautado por diversos fatores por nós
levantados, como a idade do personagem que faz os motivos femininos não terem carga
sexual antes da maturidade do idealizador do cronótopo. Concluimos que a terminologia
de Bakhtin (1998) precisava ser modificada para dar conta da especificidade de
Oblómov, pois esses dois cronótopos precisariam ser subdivididos para melhor
demonstrarmos as sutilezas nas transformações dos idílios. Propusemos, então, os
termos “cronótopo idílico do amor bucólico” e “cronótopo idílico do amor natural”, que
permite o crítico apontar para os matizes que não são contemplados pelos termos
bakhtinianos e evita o excesso de adjetivos.

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Palavras-chave: Literatura russa, Ivan Aleksándrovitch Gontcharóv, Oblómov,
cronótopo idílico, mito

O TÓPOS EM ANNA KARIÊNINA: ENTRE O CAMPO E A CIDADE

Raquel Abuin Siphone (USP)

Resumo: A partir de um estudo topoanálitico das duas primeiras partes do romance


Anna Kariênina (1877) de Lev Tolstói - que tem como aparato teórico a teoría
bakhtiniana do cronótopo (BAKHTIN, 1998) -, tornou-se evidente o aspecto da
dicotomia campo versus cidade. Nossa proposta é apontar alguns traços dessa
ambientação e como ela trabalha em favor da reafirmação de uma das temáticas
proposta no livro: a moralidade. Para tanto, observamos a relação travada entre as duas
cidades (Moscou e São Petersburgo) e Pokróvskoie, a propriedade rural que se faz
metonímia do campo. Fez-se relevante também a análise de algumas características das
personagens no contexto de dois espaços diferentes. A base de nossa discussão está
centrada em ocorrências por nós destacadas do próprio romance; todavia, recorremos a
pesquisadores que se debruçaram sobre o assunto no contexto da obra, como Baak
(2009) e McLean (1998). Outros escritos do autor (TOLSTÓI, 1982 / 2008), também
foram observados a fim de complementarmos nosso estudo. Em suma, propomo-nos
analisar brevemente as posições presentes no romance de Tolstói acerca da oposição
anteriormente apontada, tangenciando alguns elementos composicionais que trabalham
em favor de sua elucidação.

Palavras-chave: Anna Kariênina; Lev Tolstói; Campo; Cidade

ANTONIO CANDIDO LEITOR DE GENTE

Rodrigo Soares de Cerqueira (UNIFESP)

Resumo: Que Antonio Candido, a despeito — ou por causa, aí vai depender do


intérprete — de sua formação sociológica, tenha se tornado um dos maiores críticos
literários brasileiros, ninguém ignora. Muito menos conhecido é um viés de sua prática
que começa a ganhar força a partir das décadas de 1970 e 1980 e se consolida a partir de
Teresina etc. Aqui, o crítico literário cede espaço a um misto de memorialista e
narrador, que busca reconstruir a vida de pessoas com quem conviveu e que admira. É o
caso da própria Teresa Carini Ricchi, a Teresina do livro mencionado. Do mesmo modo,
ele se voltará à vida de figuras literárias de peso, como Oswald e Mário de Andrade, de
seus professores franceses, como Roger Bastide, ou ainda de outros intelectuais, como é
o caso de Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes. Nessa comunicação, que é
um desenvolvimento de uma pesquisa já concluída, vou me concentrar numa breve
entrevista dada ao jornal O Estado de S. Paulo, em 1 de janeiro de 2003, quando da
posse Lula. Me interessa retirar dessa entrevista duas imagens — a do mergulho pelo
corpo físico do país e a da elaboração pessoal de uma tradição que lhe é estranha —, de
modo a situar Lula como o ponto de chegada de um processo que deita raízes no
modernismo brasileiro, de que Candido foi um leitor privilegiado, e atravessa uma
tradição inconclusa, que diz respeito ao radicalismo de classe média. Em 2003, Lula, tal

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como lido por Antonio Candido, parecia condensar um conjunto de aspirações de um
país em vias de dar um salto formativo real.

Palavras-chave: Antonio Candido; pensamento social brasileiro; memória.

A CONSTITUIÇÃO DO “OUTRO” NAS HISTÓRIAS DE CRIANÇAS


RIBEIRINHAS E DA CIDADE

Rosália Aparecida da Silva (UNIR)

Resumo: A empatia ante a alteridade, o olhar para o “Outro” com respeito às diferenças
e a procura por entender o que causa a desigualdade social têm sido o legado deixado
pela escritora Nair Ferreira Gurgel do Amaral à criação regional. Seu trabalho criativo
explora textos orais e escritos, a partir de histórias coletadas em área urbana e ribeirinha
em Rondônia, estado que faz parte da Amazônia brasileira. A proposta aqui apresentada
é resultado parcial do projeto “Processos de criação na Amazônia: escritores contam
suas experiências literárias”, desenvolvido por pesquisadores do Núcleo de Estudo:
Linguagens, Literaturas e Processos de Criação da Linha de Pesquisa: Educação,
Cultura e Comunicação do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias do
Instituto Federal de Rondônia (GET/IFRO ), no qual está em investigação o processo de
construção artístico de escritores amazônidas. No trabalho em tela, o objetivo é a
compreensão do processo de criação literária de Nair Ferreira Gurgel do Amaral por
meio da Crítica Genética, tendo condução metodológicas as teorias encontradas em Pino
(2007), Salles (1991) e Zular (2002). Como resultados, são apontados indícios do
processo de criação da professora universitária radicada em Porto Velho, Rondônia,
com características advindas da teoria pós-colonialista. Assim, são encontradas bases no
hibridismo e no multiculturalismo, conforme aporte teórico em Machado (2002), Hall
(2011), Canclini (2008), Bhabha (2013), Fanon (2008), Said (2007) e Bagno (2013).
Foram analisadas neste estudo as obras literárias e as escolhas de criação de seus livros.
Verificamos, a partir deste estudo, que a hibridização cultural, o multiculturalismo, a
valorização do ribeirinho e do porto-velhense são pontos fortes do conjunto do discurso
literário adotado pela autora. Enquanto escritora, Nair é uma autora que se utiliza muito
do universo amazônico e da “popularização” das pesquisas científicas.

Palavras-chave: Processo Criativo, Literatura Amazônica, Multiculturalismo.

O HOMEM DIANTE DA VELHICE EM CORPO DE BAILE E GRANDE


SERTÃO: VEREDAS

Rosalina Albuquerque Henrique (UFPA)

Resumo: Este trabalho faz parte da pesquisa de doutorado, pertencente ao Programa de


Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Pará, cuja proposta consiste em
uma discussão em torno das figurações da velhice nas vozes de alguns personagens da
literatura brasileira, criados pelo escritor brasileiro João Guimarães Rosa (1908-1967),
como: Manuelzão (Corpo de baile) e Riobaldo (Grande sertão: veredas), balizado em

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escritas ligadas à velhice e à morte e suas representações na modernidade, de Ecléa Bosi
(2009) e Simone de Beauvoir (1990), bem como, às produções críticas de Antonio
Candido (2012) e Benedito Nunes (2009) à luz de ideias da Estética da Recepção
(JAUSS, 1994; ISER, 2002). O desenvolvimento da pesquisa resultou em quatro
trabalhos acadêmicos: VIII Seminário Rosiano (UFPA, 2017), XIV Seminário de
Pesquisas em Andamento (UFPA, 2017), 10ª Jornada de Pós-Graduação (FIBRA,
2017), 21º Congresso de Leitura (UNICAMP, 2018) e na publicação do artigo “Sob a
égide do tempo: a velhice em Corpo de baile e grande sertão: veredas” na Zunái:
Revista de Poesia & Debates (2017).

Palavras-chave: Corpo de baile. Grande sertão: veredas. Velhice.

CONSTRUINDO DISCURSOS E IDENTIDADE: UMA ANÁLISE DE MÚSICAS


INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS DE DJUENA TIKUNA

Rossine de Souza Rodrigues (UFAM)

Resumo: A música como linguagem é, sem dúvidas, segundo Snyeders, mais diretamente
comovente do que a linguagem propriamente dita. Por isso, este estudo visa unir reflexões
sobre identidade e discurso através de músicas indígenas contemporâneas da artista indígena
Tikuna, Djuena Tikuna. Para nossa análise, elencamos três músicas: Nós somos floresta, Não
vamos desaparecer e Todos os povos se unirão. São músicas que fazem parte do CD
Tchhautchiüãne de Djuena Tikuna, a partir delas construiremos reflexões sobre língua como
recurso cultural e performance, como postura reflexiva, envolvendo habilidade e competência,
baseada em Bauman. Bakhtin comporá nossa reflexão sobre a língua como ferramenta de
conformação identitária; além de Duranti, a partir de suas abordagens sobre a língua como
recurso cultural entrelaçado a uma prática social. Como recurso semiótico para Antropologia
e para a linguagem, a língua será a responsável por, a partir da fala, construir uma cultura e a
interação de variedades identitárias.

Palavras-chave: Música indígena, discurso, identidade.

VOZES GAYS NAS NARRATIVAS AMAZÔNICAS: APONTAMENTOS DE


PODER, IDENTIDADE E MEMÓRIA

Rubenil da Silva Oliveira (SEDUC-MA/UFPA)


Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões (UFPA)

Resumo: Este artigo pretendeu discutir as categorias conceituais de poder, identidade e


memória dos gays nas narrativas amazônicas. Para esta construção foi necessário o
diálogo com as teorias acerca do poder em Foucault (2016) e Agamben (2013); da
identidade em Hall (2014) e Silva (2013) e; da memória em Halbwachs (2013), Ricouer
(2016) e Yates (2017). Além de uma revisitação aos conceitos fundamentais da
Literatura Oral e da crítica literária presentes em Simões (2006), Paes Loureiro (2015),
Bonnici (2011), Bosi (2013) e Câmara Cascudo (2007) e da literatura homoafetiva
como Lopes (2002), Trevisan (2002), Mott (2003) e Okita (2016). Como corpus
literário há narrativas presentes no livro Santarém Conta... (1995), coordenado pelos

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professores Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões e Christophe Golder e o
romance Olho de Boto (2015), de Salomão Larêdo. As narrativas coletadas dão conta de
que as vozes gays são, por vezes, silenciadas pelas vozes heterossexuais, o que parece
reproduzir o olhar dos homens e mulheres das comunidades tradicionais amazônicas
acerca das identidades sexuais tidas por desviantes. Inclusive, quando em algumas delas
se deixa perceber que há certa cautela em admitir que essas identidades existam e que as
personagens do imaginário como o boto e cobras podem ser representadas com a
identidade homoafetiva. Assim, essas vozes não deturpam ou desconstroem a literatura
amazônica já sistematizada, pelo contrário, contribuem para que os diversos povos os
quais habitem este espaço vejam-se representados.

Palavras-chave: Homoafetividades, Imaginário, Literatura oral.

A DELAÇÃO ENQUANTO DISPOSITIVO DE CONTROLE NO ROMANCE


SOLEDAD NO RECIFE

Samantha Carolina Vieira de Oliveira (UFPA)

Resumo: No cerne desta produção a relevância teórica é discutir a respeito do


dispositivo da delação, elemento presente no romance Soledad no Recife do autor
Urariano Mota, texto cujo recorte histórico é do período ditatorial brasileiro. O romance
Soledad no Recife, narra a história da militante paraguaia Soledad Barret Viedma,
atuante da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR – na cidade do Recife. Ao narrar a
história de Soledad, Urariano denuncia a barbárie sofrida pela militante e a sua morte
brutal, culminada pela traição de seu cônjuge. Delatada pelo próprio companheiro - um
ex militante que, após ser pego pela repressão, passa a trabalhar como agente duplo para
polícia - Soledad foi vítima fatal de uma emboscada, arquitetada pela equipe do
delegado Sérgio Paranhos Fleury. No momento de sua morte Soledad estava grávida de
seu delator – Cabo Anselmo, mas que na condição de infiltrado atendia pelo nome
Daniel. Na produção literária descrita, a delação é elemento motivador do colapso de
vida da militante, nessa perspectiva, este trabalho apresenta como objetivo principal a
análise da obra citada, usando como ferramenta a metodologia arqueológica – ensinada
por Michael Foucault – para de identificar as facetas daquilo que nomeio como
dispositivo da delação. Compreendo que a delação se tornou, no recorte histórico
ditatorial, uma máquina de poder, uma economia a ser administrada pelo Estado para
capturar corpos militantes. Este dispositivo apresenta capilaridades importantes para
entende-lo como um todo: a figura do delator; a soberania; a legitimidade estatal na
prática da delação. Diante disso, o trabalho busca movimentar inquietações como: o que
é dispositivo de poder? Como o Estado se apropriou do ato da delação? Como a
delação, enquanto dispositivo, possibilitou a manutenção do poder Estatal no período
ditatorial brasileiro? Para isso, as conjecturas de Michael Foucault e Giorgio Agamben
serão utilizadas como basilares na construção teórica desta produção.

Palavras-chave: Delação, Dispositivo, Soledad no Recife

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DEMANDAS LITERÁRIAS NA IMPRENSA PARAENSE

Sara Vasconcelos Ferreira (UFPA)

Resumo: Ao examinar as páginas da imprensa oitocentista paraense é possível


encontrar dezenas de artigos, ensaios e cartas debatendo o fazer literário, as produções
locais e nacionais e a ausência de interesse tanto da população quanto da crítica
especializada da região a respeito da literatura que estava circulando na imprensa. É
partindo dessas constatações que nos voltamos para a análise dos artigos de
colaboradores locais do jornal A Província do Pará, que usavam os espaços da folha
para expor diversas demandas de caráter literário e questionar a ausência de
continuidade nos trabalhos de produção e crítica no Pará. Entre a postura da ausência de
crítica resultado da ausência de literatura na região, defendida pelo colaborador Plan, há
ainda os pontos suscitados por Juvenal Tavares e Guilherme de Miranda a respeito da
falta de interesse dos críticos locais pela produção paraense. O objetivo desta
comunicação, portanto, é apresentar as demandas, a respeito da produção local,
debatidas nos artigos de crítica, escritos pelos colaborados da Província do Pará nos
anos finais do século XIX. A partir das leituras de SOUZA (1999) e JOBIM (2012)
acerca da consolidação dos estudos literários, de ZILBERMAN et al (2004), que trata
da importância das pesquisas em fontes primárias, e BARBOSA (2007) sobre a relação
entre jornal e literatura, compreendemos o jornal como espaço privilegiado para a
publicação de crítica literária e um documento histórico que mostra o percurso da
literatura local e sua relação com a produção nacional. Este trabalho é parte da pesquisa
de Doutorado em curso, que visa recuperar a crítica literária veiculada no jornal A
Província do Pará entre 1876 e 1900.

Palavras-chave: Crítica literária, imprensa, A Província do Pará

DIREITO ANIMAL, LITERATURA INFANTOJUVENIL E MITO: UMA


LEITURA DE SANDMAN, DE NEIL GAIMAN.

Sarah Maria Borges Carneiro (UFC)

Resumo: O objetivo do presente trabalho, parte da pesquisa de doutorado em


desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFC, é analisar de que
maneira as representações dos personagens não-humanos na obra de Neil Gaiman
questionam o direito animal, não apenas no que concerne às leis, mas também no que
diz respeito às justificativas formuladas pelo homem ao longo da história para garantir a
si mesmo um lugar privilegiado no mundo, acima dos animais e da própria natureza.
Nesse contexto, Gaiman ocupa um papel de grande importância, uma vez que sua obra é
permeada por narrativas míticas que valorizam o animal. Desde o sucesso inaugural da
série de HQs Sandman, publicada a partir do final dos anos 80, Gaiman tem conquistado
maior prestígio e popularidade, o que o ajudou a chamar atenção para mídias
consideradas menos rebuscadas pelo cânone até então, como os quadrinhos. Fazer um
apanhado das narrativas da série Sandman revela-se pertinente para que possamos
compreender as tentativas de sondagem da outridade animal. Além disso, a obra em
questão contribui para desestabilizar as fronteiras do próprio conceito de literatura, pois
rendeu ao autor, em 1991, o prêmio literário World Fantasy Award, nunca antes
concedido a uma HQ. Partimos da hipótese de que o contato do jovem leitor com os

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animais de Gaiman contribuiria para uma tomada de consciência dos direitos dos não-
humanos, possibilitando que o respeito e a valorização da natureza não sejam motivados
apenas em termos de sua utilidade para nós, mas pelos valores e saberes intrínsecos a
própria natureza. Para tanto, nos fundamentaremos nas obras de Montaigne (1987),
Eisner (1989) Berger (1980) e Derridas (1997), Garrard (2006), Jung (2008), Hunt
(2010), Groensteen (2015), assim como nas obras de Maria Esther Maciel sobre
Literatura e animalidade (2011; 2016) e no estudo de Rossi sobre Direitos dos Animais
(2016).

Palavras-chave: Literatura infantojuvenil, mito, direito animal, Neil Gaiman, Sandman

OS CHAMADOS DO TIGRE: A POESIA COMO ÊXTASE XAMÂNICO EM


MAX MARTINS

Sheila Lopes Maués Autiello (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa traz reflexões sobre as afinidades entre a poética de Max
Martins e o xamanismo. A criação poética como ato de liberdade espiritual (o estar fora
de si), a experiência poética como chamado místico, a língua em sua fisionomia
enigmática, a abertura erótica, a escritura como êxtase e a presença dos animais de
poder, recorrentes na poética do autor poderiam levar à concepção de poesia como
êxtase xamânico? Com o apoio dos estudos de Mircea Eliade, Claudio Willer, Eduardo
Viveiros de Castro e Jerome Rothenberg, será discutido de que modo traços e temas do
xamanismo podem ser percebidos nos poemas de Max Martins. O objetivo desta
pesquisa é ponderar sobre a poética de Max Martins, concebendo-a também como
experiência extática de linguagem, situando assim, o poeta, em uma “linhagem” de
poetas-xamãs que remontaria desde os poemas órficos, passando por Dante Alighieri,
William Blake, Gérard de Nerval, Rimbaud, até a mais recente "Beat Generation”, o
contemporâneo Roberto Piva, dentre outros.

Palavras-chave: Xamanismo e literatura; Max Martins; poesia.

REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA NAS ARTES VISUAIS EM CINZAS DO


NORTE

Tatiana Cavalcante Fabem (IFPA)


Josiclei de Souza Santos (UFPA)

Resumo: O presente trabalho faz uma aproximação entre as linguagens da Literatura e


das Artes Visuais e busca comparar, a partir dos estudos de Homi Bhabha, os discursos
sobre a Amazônia presentes no fazer artístico de dois personagens do romance Cinzas
do Norte, Arana e Mundo, do escritor amazonense Milton Hatoum, comparando o
discurso pedagógico hegemônico, que transforma a Amazônia numa comunidade
imaginada uniforme e com um passado contínuo, linear e progressivo, disserminador do
exotismo, com o discurso performativo, que percebe a Amazônia com híbrida,
conflituosa e multitemporal, com diferentes sujeitos que se inserem de forma
suplementar na sua narrativa. O romance está contextualizado no período da ditadura
militar, tendo como cenários, Manaus, Europa e Rio de Janeiro. Os dois discursos

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presentes no referido romance sobre o fazer artístico contemporâneo na Amazônia
envolvem reflexões também sobre mercado, a questão da criação, da ruptura e recriação
da linguagem ante o público e as instituições que fomentam e sustentam a arte.

Palavras-chave: Arte contemporânea, Amazônia, narrativa.

ESTRATÉGIAS DE TRADUÇÃO: A TRADUÇÃO DE TERMOS ESPECÍFICOS DA


REGIÃO AMAZÔNICA NO LIVRO CINZAS DO NORTE, DE MILTON HATOUM

Thayná Míriam Pereira Passos (UNIFESSPA)

Resumo: Este trabalho teve como tema as estratégias utilizadas pelo tradutor para traduzir os
itens culturalmente específicos da região amazônica para o inglês no livro Cinzas do Norte, de
Milton Hatoum e sua tradução, Ashes of the Amazon, por John Gledson. Para isso, utilizamos
textos de Bassnett (2002) e Munday (2001) para apontar as transformações sofridas nos
estudos de Tradução; Schleiermacher (2001), Catford (1980), Venuti (1995 e 2002) e Aixelá
(1996), para tratar do papel do tradudor e suas escolhas ao realizar uma tradução, dando
enfoque ao conceito de estrangeirização e domesticação, descritos po Venutti e às estratégias
de tradução de Aixelá. Os objetivos deste trabalho foram localizar as estratégias de tradução
descritas por Aixelá (1996) em Ashes of the Amazon, quais e o impacto destas no resultado
final da tradução. Em seguida, fizemos uma comparação entre as duas obras e os dados
coletados foram divididos em nove categorias, sendo elas “Expressões”, “Formas de
tratamento”, “Fauna e Flora”, “Pratos”, “Personagens”, “Países e cidades”, “Lugares e
Instituições”, “Geografia, ruas e vizinhança” e “Celebrações e referências religiosas”. Como
resultado, percebemos que a estratégia mais utilizada foi a de Repetição, mantendo grande
parte dos nomes próprios existentes na obra original, e que as maiores mudanças ocorreram na
categoria “Expressões”, por conterem a maior carga de elementos culturais e onde o tradutor
teve que utilizar de sinônimos e reescrita ao traduzir o texto. Concluímos que, embora o
tradutor tenha feito muitas mudanças nas expressões locais devido à sua característica de ter
termos mais carregados culturalmente, ele manteve muitos dos termos originais do livro
Ashes of the Amazon, especialmente em relação aos nomes, tornando o livro estrangeirizante.

Palavras-chave: Estratégias de Tradução, Itens Culturalmente Específicos, Estrangeirização.

DE ALENCAR A MACHADO: PROCESSO DE CONSAGRAÇÃO POR MEIO


DA ANÁLISE DE CONTRATOS

Valdiney Valente Lobato de Castro (UFPA)

Resumo: O século XIX foi considerando por Bourdieu (1992) o momento em que o
campo literário se solidificou e a figura do escritor passou a ser a de um sujeito imerso
em uma teia muito bem urdida de elementos interligados do meio de produção cultural,
construindo, assim, uma estrutura formada por editores, escritores e leitores,
responsáveis pela produção, circulação e recepção da obra literária. Desse modo, o
papel do editor passa a ser compreendido para além de um mero mercador de obras, mas
sim como um elemento singular para a consolidação de nosso cânone literário, na
medida em que sua relação com os escritores permite o esquecimento ou a perpetuação
de uma obra na memória cultural. Com base nessa concepção, configura-se o objetivo

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principal deste estudo: analisar os contratos estabelecidos entre os editores e dois dos
principais escritores oitocentistas, José de Alencar e Machado de Assis, a fim de
compreender como as cláusulas contratuais, bem como o valor pago aos escritores vão
sendo modificados, na mesma proporção em que o gênero, a obra ou o nome do escritor
se consagra no meio beletrista oitocentista.

Palavras-chave: José de Alencar, Machado de Assis, contratos, editores,

MACHADO DE ASSIS E A FILOSOFIA: UMA INTERPRETAÇÃO


DIVERGENTE

Vitor Cei Santos (UNIR)

Resumo: Esta comunicação enfoca a recepção crítica do pensamento ficcional de


Machado de Assis, a partir de Sílvio Romero (1897) até o início do século XXI, e
analisa os argumentos empregados para lidar com a presença do niilismo e do
pessimismo na literatura do autor. O discurso crítico, desde o lançamento de "Memórias
póstumas de Brás Cubas" (1881), manifesta uma relação conturbada com as
características comumente associadas ao pessimismo e ao niilismo, ora reconhecendo,
ora negando sua presença na ficção machadiana. Oferecendo uma “interpretação
divergente” – “Dissenting Interpretation”, para usar a expressão de John Gledson em
“The deceptive realism of Machado de Assis” (1984) – contrario aquilo que Benedito
Nunes, em “Machado de Assis e a filosofia” (1989), denominou “os traços fisionômico-
doutrinários, carregados nas tintas do negativismo, com as quais a tradição crítica
revestiu o perfil filosófico de Machado de Assis”. Segundo a fortuna crítica, a ficção
machadiana assume uma postura desencantada da vida, da sociedade e do homem. Essa
interpretação aparece na bibliografia especializada, em manuais didáticos e até mesmo
na Wikipédia. Em contrapartida, argumento que o pensamento ficcional machadiano
assume uma postura afirmativa diante da vida, bem como uma perspectiva crítica
(galhofeira) da sociedade e do homem. Defendo que o niilismo e o pessimismo são sim
dois motivos condutores de todos os romances machadianos, desde “Ressurreição”
(1872) até “Memorial de Aires” (1908) – no entanto, o niilismo e o pessimismo
aparecem faturados sob a pena da galhofa. Os personagens de Machado, ao tornarem o
pessimismo e o niilismo risíveis, levantam a possibilidade de não aceitá-los sem
resistência.

Palavras-chave: Machado de Assis, filosofia, pessimismo, niilismo, galhofa

MATINTA PERERA - UMA HISTÓRIA MARAVILHOSA

Wellingson Valente dos Reis (IFPA/UNAMA)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo verificar os elementos do maravilhoso na


narrativa oral “Matinta Perera” recolhida pelo IFNOPAP, para isso iniciamos com os
conceitos de maravilhoso, recorrente em nossa sociedade desde a época medieval, além
de observar esse conceito junto com o de mito que está muito presente na sociedade
amazônica, além de observar esses conceitos na literatura de maneira geral. Em seguida,
partimos para a análise do maravilhoso e do mito na Amazônia, percebendo como esse

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maravilhoso é construído, aceito e crescente nesta sociedade repleta de mitopoética.
Para que ao final, possamos perceber essa construção do maravilhoso na narrativa oral.
Para embasar teoricamente nossa pesquisa, trabalhamos com Le Goff (2017) e Marinho
(2006) sobre o Maravilhoso na Idade Média; com Chiampi (2015), Roas (2001), Gama-
Khalil (2012) e Todorov (2014) sobre o fantástico e o maravilhoso; Mielietinski (1987)
e Levi-Strauss (2013) sobre mito; para falarmos de Amazônia usaremos Paes Loureiro
(2015/2016) e Gondim (2007).

Palavras-chave: Literatura Fantástica, Maravilhoso, Amazônia, Mitopoética, Matinta

O ESTILO DO GÊNERO CIENTÍFICO TESE EM "A CRISE DO


PENSAMENTO MESSIÂNICO", DE OSWALD DE ANDRADE

Wenceslau Otero Alonso Júnior (USP/UEPA)

Resumo: Oswald de Andrade escreveu duas dissertações para concursos acadêmicos


que considera teses: uma para o concurso da Cadeira de Literatura Brasileira da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, denominada A Arcádia e a Inconfidência, em
1945, e outra, intitulada A Crise da Filosofia Messiânica, para o concurso da cadeira de
Filosofia da Faculdade de Filosofia, em 1950, ambas escritas com o intuito de ingressar
na carreira docente da Universidade de São Paulo. Nada obteve com elas, entre outras
possíveis razões, por não serem teses no rigor do termo, ou, dito de outro modo, no rigor
do gênero discursivo Tese, como se depreende, por exemplo, do comentário de NUNES
(1972), que vê nelas não a abordagem crítico-reflexiva própria das teses, mas sim
aquela feita por associação de imagens, típica do discurso poético. Nossa exposição, que
é um desdobramento de nossas investigações no doutorado do programa do
Departamento de Filologia e Língua Portuguesa da USP, ainda em curso, se ocupará da
segunda tese, a de 1950, e à luz do que seja a configuração estilística do gênero
discursivo tese, de vez que o estilo é, segundo BAKHTIN (2015), um dos seus
componentes, tentará demonstrar em que o texto produzido por Oswald de Andrade
estilisticamente se afasta do que, a rigor, deve ser o estilo próprio desse tipo específico
de gênero. Para efeito de comparação, nossa tentativa estará fundamentada nos
parâmetros definidos em obras que sugerem e definem os passos a dar na execução de
uma Tese, como a de ECO (2016), ou descrevem a estrutura acadêmica do referido
gênero, como a de SEVERINO (2016).

Palavras-chave: Palavras – chave: Gêneros Científicos. Estilística. Oswald de Andrade.

ASAS E “O FORNO” - APROXIMAÇÕES ENTRE A PROSA DE MIKHAIL


KUZMIN E EVGUÉNI KHARITÓNOV

Yuri Martins de Oliveira (USP)

Resumo: A presente comunicação pretende abordar pontos em comum e diferenças


entre a novela Asas (1906), de M. Kuzmin, e o conto “Forno” (1969), de E. Kharitónov.
Ambos os textos trazem como tema central as relações homossexuais masculinas, em
contextos histórico-culturais distintos, porém mesmo assim com referências
semelhantes, como a tradição greco-latina clássica. Através desse breve estudo

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comparativo, pretende-se indicar possíveis influências de Kuzmin no texto de
Kharitónov, e notar modificações no modo de tratar o tema da homossexualidade
masculina em literatura. Serão feitos comentários e observações a respeito da história e
da cultura russa e soviética para melhor situar os textos no tempo-espaço e compreender
melhor o olhar que cada escritor lança sobre o tema. A comparação entre os textos é
uma das partes que compõe a análise do conto “Forno”, tema da minha dissertação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KHARITÓNOV, Evguéni. Pod domachnim
arestom [Em prisão domiciliar]. 2º edição. Moscou: Glagol, 2005. BELYNTSEVA,
Olga. Gomosseksual'naia tiéma v russkoi literature XX viéke (Mikhail Kuzmin i
Evguéni Kharitónov) [ O tema da homossexualidade na literatura russa do século XX
(Mikhail Kuzmin e Evguêni Kharitónov)]. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade
de Filologia, Universidade Masaryk. Brno, 2007. KUZMIN, M. Krýl'ia [Asas]. Moskva:
Kvir, 2008. KUZMIN, Mikhail. Asas. Tradução e posfácio de Elias Ribeiro de Castro.
São Paulo: Editora Z, 2003.

Palavras-chave: Kharitónov; Kuzmin; Prosa russo-soviética.

OS RELATOS DE UMA BUSCA DE BERNARDO KUCINSKI

Zuzana Burianová (Universidade Palacky)

Resumo: O objetivo da comunicação é refletir sobre o modo como o real histórico, a


memória e a imaginação se articulam nos romances "K. – Relato de uma Busca" (2011)
e "Os Visitantes" (2016), do jornalista, escritor e cientista político brasileiro Bernardo
Kucinski (1937). A primeira obra analisada, que representa o romance de estréia do
autor, pode ser considerada um “documento fictício” no qual, como o próprio narrador
diz, “tudo é invenção, mas quase tudo aconteceu”. A sua história, que descreve a
trajetória de um pai em busca da sua filha, desaparecida durante a ditadura militar,
inspirou-se em fatos reais ocorridos na família do escritor. Narra o caso da sua irmã,
professora Ana Rosa Kucinski, que foi junto com o marido (ambos eram militantes de
uma organização de luta armada) sequestrada e assassinada pelo regime em 1974. A
análise deste romance vai partir da sua inserção na literatura de testemunho,
concentrando-se no seu destaque da estreita relação entre os acontecimentos históricos e
o presente, concretamente da interligação entre o Holocausto, o regime militar brasileiro
e a sociedade brasileira contemporânea. Na segunda obra analisada o autor retoma, de
uma maneira crítica, o tema do primeiro romance: apresenta os leitores deste livro que
visitam o escritor para conversarem sobre a obra e questionarem uma série de
informações nela contidas. Com este procedimento narrativo incomum o autor
aprofunda a complexa relação entre a história, a memória e a ficção e abre novas
perspectivas sobre a abordagem dos acontecimentos traumáticos.

Palavras-chave: Brasil, ditadura militar, Holocausto, Testemunho, Romance.

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ESTUDOS LITERÁRIOS

COMUNICAÇÕES
INDIVIDUAIS
A DESUMANIZAÇÃO COMO DESCONSTRUÇÃO E CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE DE G.H., EM A PAIXÃO SEGUNDO GH DE CLARICE
LISPECTOR
Alany Ferreira (UFRA)
Resumo: Este trabalho analisa a obra de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H.
publicado em 1964 com a perspectiva de contribuir para o entendimento do conceito de
humanização no romance, a fim de investigar como ocorre o processo de
desumanização na personagem G.H., tendo em vista que Clarice Lispector desconstrói a
ideia de moralidade ao mostrar a grande contradição existente na concepção de
humanização em seu sentido literal. São trabalhados os conceitos de desumanização,
desconstrução, moralidade, civilização e identidade, a partir da protagonista do livro.
Esse trabalho tem como objetivo investigar de que forma a desumanização de G.H.,
desenvolve seu autoconhecimento e a ruptura de seu invólucro de humanidade,
essencialmente capaz de revelar sua real identidade, evidenciando as transformações
percorridas pela protagonista ao longo da narrativa. Tendo a desumanização como ponto
chave, tentarei expor a relação entre ela e as demais noções aqui apontadas, recorrendo
para tanto a própria obra e os elementos que a mesma fornece.
Palavras-chave: Identidade, Desumanização, Civilização, GH, Clarice Lispector.

AS PRESAS POLÍTICAS COMUNISTAS NO REGIME DO ESTADO NOVO NA


VISÃO (MEMORIALISTA) DE ENEIDA DE MORAES NA CRÔNICA: AS
COMPANHEIRAS.
Alice Corrêa Garcia (UFRA)
Resumo: O presente trabalho tem por objeto de análise a crônica “As Companheiras”
escrita por Eneida de Moraes e volta-se aos estudos do posicionamento da
mulher/política comunista em relação ao fascismo, por meio dos traços de cunho
memorialistas presentes na escrita da referida autora. Para tanto, tomou-se por base os
estudos de Maurice Halbwachs (1990), que aborda a memória coletiva e individual e
Michael Pollak (1989), que aborda os estudos de memória, esquecimento e silêncio.
Objetiva-se, ainda, com essa pesquisa refletir as relações de amizade e companheirismo
entre mulheres no contexto político-histórico brasileiro do Estado Novo e propor um
estudo voltado ao engajamento de mulheres no regime ditatorial. Dessa maneira, essa
pesquisa adota uma metodologia de base bibliográfica, na qual coloca-se em pauta
estudos memorialistas e uma breve reflexão voltada à militância de mulheres em regime
ditatorial no contexto brasileiro e, principalmente, a militância feminista em que Eneida
de Moraes esteve engajada.
Palavras-chave: Memória; mulheres; Eneida de Moraes

O EROTISMO SONSO DE MURILO MENDES


Aline Novais de Almeida (USP)
Resumo: Em A idade do serrote, obra publicada durante o autoexílio italiano em 1968,
Murilo Mendes (1901-1975) sugere que apreendia o espírito de Eros de maneira

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inocente: “Captava no ar mais sonso do mundo notícias de Eros”. Embora esse
reconhecimento do autor esteja atrelado à proposta do livro –, cuja perspectiva
memorialística demarca um conjunto de narrativas que recontam as suas experiências
vividas, durante a infância e adolescência, em sua cidade natal, a mineira Juiz de Fora –,
torna-se producente, em termos analíticos e interpretativos, aproximar tal enunciado à
própria poética muriliana. O autor possui em sua extensa produção literária textos que
demarcam a temática erótica, como é o caso dos poemas “Romance da penitência do
Rei Rodrigo”(Tempo espanhol, 1959), “Jandira”, “A noiva” (ambos de O visionário, de
1941) e “Grafito para Ipolita” (Convergência, de 1970), sendo que os dois últimos
integram a Antologia da poesia erótica brasileira, volume que saiu em 2015, organizado
por Eliane Robert Moraes. De todo modo, mesmo os mais experientes exegetas da obra
de Murilo Mendes, não negam a presença de Eros entre os títulos, mas, por outro lado,
reforçam que o poeta juiz-forano explora um grau mínimo de obscenidade em seus
poemas. Ou seja, a experiência erótica da poesia muriliana valoriza o registro mais
sublime do corpo e da sexualidade. Tal característica não pretende atestar qualquer
valoração à obra, ao contrário, intenta-se compreender as especificidades desses textos
que parecem tangenciar a questão erótica. Assim, a presente comunicação objetiva: 1)
investigar de que maneira se articula na coletânea As metamorfoses, de 1944, a
categoria do erotismo sonso; 2) delinear quais as estratégias poéticas adotadas pelo
autor para o efeito dessa dissimulação erótica. Para isso, examinará os poemas mais
exemplares desse fenômeno, evocando textos críticos e teóricos que possam dialogar
com a ideia de erotismo sonso.
Palavras-chave: Murilo Mendes, erotismo sonso, As metamorfoses.

NEGRITUDE E FIGURAÇÃO DA MULHER EM DALCÍDIO JURANDIR


Alinnie Oliveira Andrade Santos (UFPA)
Resumo: Dalcídio Jurandir (1909-1979) foi um escritor brasileiro consciente do papel
de seu projeto literário para a literatura brasileira. Em dez dos seus onze romances –
Chove nos Campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947), Três Casas e um Rio (1958),
Belém do Grão Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira Manhã (1967),
Ponte do Galo (1971), Os Habitantes (1976), Chão dos Lobos (1976) e Ribanceira
(1978) – ficcionalizou os sujeitos e os costumes da Amazônia paraense, região
esquecida e desconhecida do resto do país. A história central do Ciclo é a do
personagem Alfredo, desde a sua infância na ilha do Marajó, até o início da sua fase
adulta na capital Belém. Filho de uma negra, D. Amélia, e de um branco, o Major
Alberto, o menino vive em constante conflito na busca de sua própria identidade, ora
entristecendo-se pela cor da mãe, ora aceitando-a e sentindo orgulho dela. A
convivência, em Belém, com a família materna, principalmente com as mulheres Mãe
Ciana, Magá e Isaura, contribui para que Alfredo possa aceitar melhor sua mãe. Essas
personagens, negras, vivem na capital com o esforço do seu próprio trabalho – diferente
da maioria das personagens femininas do Ciclo, que se dedicam exclusivamente a
tarefas domésticas – como também ajudam na fuga de um dos líderes dos bandoleiros
que planejavam uma revolta no interior. O presente trabalho, portanto, objetiva observar
como as mulheres negras são representadas nos romances de Dalcídio Jurandir,
analisando a trajetória das personagens femininas da família negra do protagonista,
principalmente no que se refere à postura transgressora delas diante do sistema social
em que estavam inseridas.

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Palavras-chave: mulher, negritude, Amazônia, Dalcídio Jurandir

A MORTA, DE GUY DE MAUPASSANT, NA PROVÍNCIA DO PARÁ E NO


GRÊMIO LITERÁRIO PORTUGUÊS.
Amanda Gabriela de Castro Resque (UFPA)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o conto “A Morta”, de Guy
de Maupassant (1850-1893), publicado no periódico A Província do Pará, em 09 de
junho de 1889, na seção “Folhetim” e disponível na Biblioteca do Grêmio Literário e
Recreativo Português. Sendo um dos jornais noticiosos de grande importância em
Belém não apenas no Oitocentos, A Província foi, além de sua enorme força política,
por autodenominar-se órgão oficial do Partido Liberal, uma expressão cultural, por
dedicar diversos espaços voltados à publicação de escritos para o entretenimento do
público leitor. A mesma narrativa, “A Morta” também pode ser localizada na Biblioteca
Fran Pacheco, do Grêmio Literário e Português. A pesquisa se dividiu em três etapas:
(1) Averiguação do conto supracitado nos rolos de microfilmes do periódico A
Província do Pará, disponíveis no Centro Cultural do Estado do Pará, e na edição em
livro, disponível na Biblioteca do Grêmio Literário e Recreativo Português; (2)
Digitalização da versão em português disponível no jornal A Província (3) Leitura e
fichamento de referências selecionadas pertinentes para o desenvolvimento da pesquisa,
como História de A Província do Pará, de Carlos Rocque, e Folhetim: uma história, de
Marlyse Meyer. Este trabalho é fruto do plano de pesquisa do Programa de Educação
Tutoreada – LETRAS/UFPA intitulado “A diversidade literária com os contos de Guy
de Maupassant n’A Província do Pará entre 1880 e 1890”, vinculado ao projeto do
grupo PET “Diversidade linguística e ensino de línguas na Amazônia” e, também, ao
projeto de pesquisa intitulado “Boa noite senhor! Boa noite senhora: histórias contadas e
recontadas em impressos no século XIX”, coordenado pela Profa. Dra. Germana Sales.
Palavras-chave: Guy de Maupassant, A Província do Pará, Fontes Primárias.

AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO ROMANCE ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA


DOS REIS
Amanda Karoline do Rosário Feio (UNIFAP)
Elis Flávia Fernandes Moura (UNIFAP)

Resumo: Este trabalho visa discutir as relações de gênero presentes no romance Úrsula
(1859), de Maria Firmina dos Reis, considerado o primeiro romance abolicionista do
Brasil. No que diz respeito as relações de gênero, concordamos com a ideia de Alves e
Pitanguy (1990), quando discutem que o movimento feminista teve por objetivo
desconstruir formas de organizações sociais preestabelecidas, nas quais eram
constituídas por meio da subordinação e da tirania. Dessa forma, acreditamos que Reis
elabora, por meio da obra Úrsula, uma denúncia contra o sistema patriarcal ao qual as
mulheres eram submetidas no Brasil do século XIX. Sendo assim, a partir do estudo de
teóricas do feminismo tanto do século XIX – como Nísia Floresta (1989) –, quanto do
XX – como Beauvoir (2004), Alves e Pitanguy (1985) e Duarte (2003) –, este trabalho
tem por finalidade analisar as ideias de Reis a respeito da condição de subordinação da
mulher na sociedade do século XIX, em especifico a mãe de Tancredo, herói da história,
cujo nome não é revelado. O fato de a personagem não possuir um nome já diz muito

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sobre sua história, pois nos permite inferir que ela se resume aos papeis de mãe e
esposa, sendo entendida como uma mulher despersonalizada e sem identidade.
Palavras-chave: Literatura brasileira, Úrsula, Relações de gênero, Teorias feministas.

A PAISAGEM-LIMITE: O EROTISMO TRÁGICO NA PROSA DE HILDA


HILST
Andréa Jamilly Rodrigues Leitão (USP)
Resumo: O presente trabalho pretende interpretar as figurações do erotismo trágico na
prosa de ficção de Hilda Hilst (1930-2004), especificamente no diálogo com Tu não te
moves de ti (1980), A obscena senhora D (1982) e Com os meus olhos de cão (1986).
Estas três obras estão reunidas em um volume intitulado Com os meus olhos de cão e
outras novelas. Parte-se das formulações de Georges Bataille (2016, 2017) para
compreender, sobretudo, a forte ligação existente entre o ímpeto erótico e a consciência
da morte. A experiência vivida pelas personagens hilstianas as conduzem, no limiar do
desconhecido, ao extremo do possível. A vastidão vertiginosa do não saber opera o
desnudar-se de si e, ao mesmo tempo, traz voluptuosamente a angústia do não sentido.
Entre o êxtase de uma revelação e o horror diante da envergadura abissal do ser, há um
movimento de desnudamento em direção ao cerne da condição humana – ou melhor, à
“espessa funda ferida da vida” – e do seu quinhão de animalidade. No confronto com os
limites, a sua prosa é capaz de colocar em tensão e, por vezes, de reconciliar o sagrado e
o profano, o divino e o carnal, o sublime e o grotesco, o apolíneo e o dionisíaco, o
humano e o animal, a vida e a morte.
Palavras-chave: Erotismo trágico, morte, Hilda Hilst.

OS DISPOSITIVOS DE CONTROLE NO CONTO MOCINHA DE LUTO DE


DALTON TREVISAN
Ana Júlia Chaves de Lacerda (UFPA)
Resumo: Este trabalho é fruto da disciplina Biopolitica nos estudos literários: Foucault,
Agamben, Sposito no Programa de Pós Graduação em Letras (PPGL) na Universidade
Federal do Pará (UFPA). Baseando-nos principalmente nos trabalhos de Foucault (1972,
1975-1976, 1988) Agamben (2002) Georges Bataille (1987) Sigmund Freud (1987) que
são voltados para a reflexão sobre, entre outras questões, as Relações de Poder,
Dispositivos e Sexualidade. Pretendemos analisar o conto Mocinha de Luto de Dalton
Trevisan, presente no livro Desastres do amor. A proposta deste trabalho é evidenciar e
analisar como os dispositivos de controle agem sobre os corpos. Percebemos que, dentro
do conto analisado Mariazinha, a personagem central, passa por diversas situações de
violência, principalmente de ordem sexual ao deparar-se com seus algozes (o Padre, o
Doutor e João) todas figuras masculinas, que exercem sobre ela poder, podendo castigá-
la por seus comportamentos. Acreditamos que os personagens masculinos do conto
podem ser associados a dispositivos de domesticação sexual, sendo esses a Igreja,
representada pelo Padre, a família e/ou marido, representado por João e a
medicina/ciência representada pelo Doutor. Pretendemos explanar como a resistência se
apresenta nas relações, como a regulação e dominação das condutas são construidas,
visto que a sociedade patriarcal reduz e castra os comportamentos que divergem das

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condutas doutrinadoras em vigor, principalmente ao que diz respeito ao corpo feminino.
As práticas disciplinadoras visam gerir os comportamentos, as existências, os trabalhos
e os afetos do indivíduo. Ao que toca a questão de gênero entendemos que os corpos
femininos se tornam objetos sexuais na trama de Trevisan, sendo Mariazinha julgada e
subjugada pelo patriarcalismo e por dispositivos de repressão (sócio)sexual.
Palavras-chave: Sexualidade, Corpo Feminino, Dispositivos, Relação de Poder

HISTÓRIA E POLÍTICA NA FICÇÃO DE INGLÊS DE SOUSA


Benjamin Rodrigues Ferreira Filho (UFMT)
Resumo: Resultado parcial de pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Universidade
do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), o trabalho propõe uma leitura da ficção de
Inglês de Sousa a partir do entendimento de que o autor considera a história e a política
para desenvolver sua visão da Amazônia. Nos cinco livros que compõem a obra literária
de Inglês de Sousa – O cacaulista (1876), História de um pescador (1876), O coronel
Sangrado (1877) O missionário (1891), Contos amazônicos (1892) – há indícios de que
os problemas sociais decorrem da ganância econômica e de ações políticas nefastas, que
a história registra. Os objetivos da comunicação são: demonstrar que a história da
Amazônia aponta para os males que uma economia mercantil, baseada na exploração e
na dominação, gerou em lugares cujas populações indígenas foram atacadas e sofreram
massacres (Márcio Souza, Breve história da Amazônia); observar que uma atividade
econômica agressiva, interessada em lucros imediatos, não hesita em armar-se e destruir
para alcançar as suas metas (Fernand Braudel, Gramática das civilizações); verificar
como pequenos elementos cotidianos também são importantes para a história (Peter
Burke, A escrita da história). A leitura das narrativas de Inglês de Sousa permite afirmar
que o olhar crítico do autor percebe as causas da degradação social, pois ele expõe em
sua estética uma política rasteira e oportunista, cujos malefícios são imediatos e
duradouros. Neste trabalho, a pesquisa bibliográfica é a base metodológica de uma
proposta que planeja estudar sistematicamente a Amazônia do século XIX, descrita por
Inglês de Sousa, para compreendê-la, com sua beleza e sua degradação. Os resultados
esperados são reflexões críticas sobre a história e sobre os desgastes sociais e
ambientais que a Amazônica sofre, ao longo do tempo e ainda no presente.
Palavras-chave: História, Política, Amazônia.

DUPLA PERFORMATIVIDADE EM THE ROOM DE HAROLD PINTER


Bianca Caroline Rodrigues da Silva (UFPA)
Resumo: A peça The Room de Harold Pinter (1990) pode ser vista como um insólito
drama da vida de uma mulher incapaz de deixar seu quarto diante da ameaçadora
escuridão que se encontra no lado exterior. O caráter insólito pode ser localizado em
uma ambiguidade ou uma tensão entre o que nos parece cotidiano e o que se apresenta
como anormal ou estranho. Este trabalho é o resultado final do projeto de pesquisa de
iniciação científica que tem como interesse analisar como os elementos da peça são
performados ou podem ser vistos como uma construção performática de identidade. A
metodologia da pesquisa buscou examinar um lugar ambíguo no teatro entre uma 1)
perfomatividade geral como modo ontológico de ser da peça teatral e 2) a performance

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como modo de construir uma personalidade/subjetividade específica. Este trabalho
objetiva mapear a dupla articulação performática entre uma ontologia da performance
no teatro e uma ontologia performática de construção da subjetividade. Para tal, recorre-
se ao The Cambridge Companion to Harold Pinter (2009), dentre outros artigos focados
na produção inicial de Harold Pinter, perpassando por um estudo da teoria do teatro em
Uma anatomia do drama de Martin Esslin (1978), Introdução a analise do teatro de
Jean-Pierre Ryngaert (1993). Como resultado, apresenta-se a dupla performatividade da
peça ao entender o cárcere cúbico do quarto como um cárcere social, em que a prisão de
Rose, ou ausência de vontade de sair, pode ser compreendida dentre de uma recusa à
liberdade perante a iminência punitiva de Bert que rápida e violentamente reprime Rose
e Riley, de forma a inibir qualquer possibilidade de interferência e liberdade externa.
Pinter instiga o leitor a questionar seus hábitos por meio do reflexo das performances
teatrais, traçando uma relação entre a performance do teatro e a performatividade de
identidade dos personagens espelhadas no público.
Palavras-chave: Performatividade; Harold Pinter; The room

DO MISTÉRIO À FORMA MACHADIANA: UMA ANÁLISE ESTILÍSTICA DO


CONTO “MISSA DO GALO”
Bianca Martins Viegas Pinheiro (UFPA)
Rahyane Moraes Teixeira (UFPA)
Resumo: O presente trabalho tem como proposta analisar pelo viés da crítica estilística
do conto “Missa do Galo”, do escritor, jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e
teatrólogo brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, publicado na edição do livro
Páginas Recolhidas em 1899. Deste modo, utilizando de linguagem analítica, percebe-se
que as leituras machadianas exigem do leitor um olhar mais apurado devido às cargas
expressivas imbuídas no estilo do autor, que apresentam elipses, eufemismos e outras
figuras retóricas no texto. Assim, será analisada a expressividade de recursos da língua
presentes na citada narrativa de modo a se verificar e discutir o que constitui o chamado
estilo machadiano. Ao longo da pesquisa serão elencadas as diversas figuras de
linguagem exploradas pelo autor, tais como a ironia, o humor, o eufemismo, a
personificação e entre outros constitutivos do plano da expressão. Além disso, serão
observadas, já no plano do conteúdo, temas recorrentes às obras machadianas, como o
ceticismo, o pessimismo e algumas descrições de cenas da trama da narrativa. Logo,
para fundamentar este trabalho, serão de grande importância alguns autores que
discutem sobre o estilo e a corrente de crítica Estilística, tais como José Lemos
Monteiro (2005), Manuel Rodrigues Lapa (1984) e Nilce Sant’Anna Martins (1989).
Palavras-chave: Machado de Assis, “Missa do Galo”, Estilística, Expressividade.

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AS MARCAS DA ESCRITA FEMININA NA POÉTICA DE DULCINÉIA
PARAENSE.
Camila Martins de Sousa (UFRA)
Samira Mendonça de Oliveira (UFRA)
Flavyanne Santos Serrão Almada (UFRA)
Resumo: Este texto analisa as marcas da escrita feminina presentes na poética da
escritora Dulcinéia Paraense. Esta análise relaciona a escrita de Dulcinéia Paraense ao
seu tempo, a forma como ela, sendo mulher, se expressava através dos seus textos nas
décadas de 1930 e 1940, quando ficou conhecida como poeta. A base teórico-
metodológica utilizada para a realização da análise pautou-se nos conceitos de Escrita
Feminina e a sua relação com o erotismo segundo Santos e Amaral, e de melancolia e
subjetividade, segundo Magnabosco. O corpus para análise foi composto por 2 (dois)
poemas de Dulcinéia Paraense, que são: Versos íntimos (1936) e Inquietude (1941). O
objetivo deste trabalho é identificar as marcas da escrita feminina nos poemas de
Dulcinéia, a partir dos conceitos de subjetividade, erotismo e melancolia presentes nessa
escrita, tendo como referência as décadas em que são registrados os poemas que
compõem o corpus desta pesquisa. As questões da pesquisa são: 1. Quais as marcas da
escrita feminina presentes nos poemas de Dulcinéia Paraense? 2. De que forma essas
marcas revelam quão à frente do seu tempo pode estar essa escritora? Os resultados
demonstram que a escritora Dulcinéia revela traços de uma escrita feminina com
marcas, mesmo que subjetivas, de erotismo e uma certa melancolia. Tendo em vista o
período da sua escrita, podemos concluir que Dulcinéia, como mulher, jornalista e
poeta, não se deixou filtrar pelos padrões que, possivelmente, lhes eram impostos.
Escritora paraense que não transparecia marcas regionais em seus poemas, mas
apresentava uma escrita com temáticas universais e, não se privou de escrever poesias
com marcas eróticas mesmo estando em um lugar de fala de mulher e escritora da
amazônia, em que muitos poderiam julgar como um lugar onde existem regras para a
escrita.
Palavras-chave: Dulcinéia Paraense, Escrita Feminina, Erotismo, Subjetividade.

O SUJEITO FEMININO E O PODE DO ESTADO E DA IGREJA EM


DESMUNDO E BOCA DO INFERNO, DE ANA MIRANDA
Carla Patrícia da Silva Guedes (UFPA)
Resumo: Este artigo tem com escopo o estudo do sujeito feminino nos romances, Boca
do Inferno e Desmundo, da autora Ana Miranda. O contexto histórico das obras é o
Brasil colonial. O artigo tem como objetivos específicos: analisar a condição feminina
no período colonial no Brasil no século XVI; a submissão do sujeito feminino a Igreja e
ao Estado; examinar os lugares que a mulher ocupou na colonização e “civilização” do
novo mundo; No contexto das relações sociais, políticas, religiosas do período colonial.
Nesses romances a condição feminina é mais do que simples fonte temática: é o
elemento que estrutura e organiza as narrativas A contribuição parte de uma maior
reflexão do romance Desmundo sob a luz das teorias de gênero e estudos pós-coloniais.
Oribela é a figura ex-cêntrica dentro do romance Desmundo, órfã vinda de Portugal a
mando da corte portuguesa para casar com os colonos da colônia brasileira. Em Boca do
Inferno será vista em várias nuances. Consequentemente, eles permitem olhar, de forma
aparentemente descompromissada, para a história das mulheres, extraindo da

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desmemória da história oficial (para introduzir no interior do universo ficcional)
temáticas que ficaram à margem das versões históricas escritas pelo patriarcado, como a
sexualidade feminina. Ao longo da história, a Igreja e o Estado representaram
conjuntamente as instituições que, de modo significativo, estabeleciam o sentido e o
lugar da mulher. Na Colônia, a mulher é tutelada a partir da ideologia católica.
Palavras-chave: Sujeito feminino. Desmundo. Estado

ÊXTASE POÉTICO: O DIONISÍACO NO POEMA “ENTUSIASMO” DE


ALEXEI BUENO
Cláudia Oliveira Silva Rocha (UFMA)
Resumo: Esta comunicação é resultado parcial da pesquisa sobre o tema do êxtase
poético no diálogo da lírica contemporânea com o passado, objetivando analisar
representações de temas relacionados à tradição dionisíaca e estabelecer cotejos entre
poemas da tradição clássica e de autores contemporâneos brasileiros a partir da
investigação tópica. Ernst Curtius, referência no método de investigação dos topoi – ou
lugares-comuns – na Literatura, cita a loucura divina dos poetas, em que o poeta “fora
de si”, arrebatado pela divindade, recebe uma inspiração poética, associando o tema da
inspiração divina a entusiasmo. Em Fedro, Platão menciona essa loucura proveniente da
inspiração divina, sendo Dioniso, deus do vinho e do êxtase, uma dessas divindades.
Nesse sentido, esta comunicação coteja alguns poemas da Antiguidade greco-latina
dedicados a Dioniso com o poema de Alexei Bueno Entusiasmo (2003) apresentando
características das narrativas míticas com base em Marcel Detienne e Junito Brandão, e
uma abordagem mais contemporânea desse tema. Como fundamentação teórica,
utilizou-se Literatura Européia e Idade Média Latina (1979) de Ernst Curtius e Fedro
(2000) de Platão. Propõe-se, à luz desses autores, analisar esse poema a fim de
identificar traços da tradição dionisíaca e pensar como o topos é apropriado por esse
autor contemporâneo. Referências bibliográficas: BRANDÃO, Junito de S. Mitologia
grega. Volume II. Petrópoles: Editora Vozes, 1987. BUENO, Alexei. Poesia reunida. –
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. COUSIN. Almeida. Odes de Anacreonte e suas
traduções. Rio de Janeiro, Achiamé, 1983. CURTIUS, Ernst Robert. Literatura europeia
e Idade Média latina. Tradução de Teodoro Cabral. Brasília: Instituto Nacional do
Livro, 1979. DETIENNE, Marcel. Dioniso a céu aberto. Tradução de Carmem
Cavalcanti. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. PLATÃO. Fedro ou da beleza.
Tradução de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 2000. RAGUSA,
Giuliana. Lira grega. Antologia de poesia arcaica. Trad. de Giuliana Ragusa. São Paulo:
Hedra, 2013.
Palavras-chave: Entusiasmo Dionisíaco, Poesia Contemporânea, Alexei Bueno.

A “RUÍNA” COMO ELEMENTO ORGANIZADOR NA OBRA DE LUIZ


SÉRGIO METZ
Diego Codinhoto (UNESP)
Resumo: O trabalho a ser apresentado nesta comunicação faz parte da pesquisa em
nível de doutorado “A poética das ruínas de gêneros literários na obra de Luiz Sérgio
Metz”, que tem como objetivo principal investigar, à luz do conceito de ruínas de

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gênero – Corrêa, 2006 –, de que modo(s) gêneros discursivos originam, se articulam e
se interpenetram em gêneros formais presentes na obra de Metz, como o ensaio
filosófico/crítico, fragmentos e lírica, como procedimento de construção da literatura do
escritor gaúcho. Integram o corpus de análise da pesquisa o livro de contos O primeiro e
o segundo homem (1980/2001), a biografia Aureliano de Figueiredo Pinto (1986) e a
obra de ficção Assim na terra (1995/2013). Nesta comunicação, procuraremos analisar o
livro de contos O primeiro e o segundo homem (1980/2001), a fim de estabelecer
conexões intertextuais com artistas como Guimarães Rosa, por exemplo, a fim de criar
possíveis caminhos de interpretação da obra de Metz a partir do conceito de “ruína”,
uma vez que esta é compreendida neste trabalho em dois níveis: no nível temático, de
caráter simbólico, a ruína representa a devastação, já que são descritos situações,
personagens e paisagens ou costumes que passaram ou estão passando por um processo
de transformação que aparenta desembocar na degradação. Em seu outro nível, pela
perspectiva formal, compreende-se a ruína como um fragmento material inserida pelo
autor em seu texto, ora como citação direta ou indireta, ora como referência a uma
imagem ou cena de outra obra, podendo-se interpretar tal ruína textual como um artefato
potencialmente criador e carregado de sentido que é recuperado do passado e que
adquire um duplo movimento: a obra citada passa por um processo de ressignificação e
acúmulo de sentidos, assim como a obra citada também ressignifica e ilumina a obra
que ampara tal ruína.
Palavras-chave: Metz, Ruína, Intertextualidade

TRAÇOS DE HORROR NO CONTO DE INGLÊS DE SOUSA "ACAUÃ"


Diemerson da Silva Ribeiro (UFRA)
Resumo: O presente trabalho tem como desígnio produzir uma análise do conto
“Acauã”, do obidense e naturalista Herculano Marcos Inglês de Sousa, publicado no
livro “Contos Amazônicos” 1893. Em sua obra, as personagens são submetidas ao plano
e ao desejo de forças superiores. Diante deste fenômeno, acontecimentos extraordinários
suscitam uma atmosfera assustadora, na qual vêm à tona os modos de vida do povo
ribeirinho, atravessados por elementos “encantados” constituintes do imaginário
amazônida e das suas narratividades. A atmosfera mítico-lendária presente no conto
carrega também aspectos de textos categorizados como Literatura do medo ou
Literatura de horror, que evocam o sentimento de medo físico ou psicológico. A morte,
a solidão, o silêncio, a insônia e o cansaço são alguns sinais da natureza horrenda deste
“conto amazônico”. Assim, o estudo propõe uma análise que identifique estes traços de
mistérios e suspenses, também existentes nas narrativas orais populares e míticas dos
povos amazônicos. Com Isso, fundamentado em autores do campo da ficção científica e
da psicanálise, dentre outros que dialogam com a cultura amazônica, serão analisadas
estas representações do horror no conto Acauã, de Inglês de Sousa. Palavras-chave:
literatura de horror, Inglês de Sousa, literatura da Amazônia.
Palavras-chave: Literatura de horror, Inglês de Sousa, Literatura da Amazônia.

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O PERPETRADOR NOS ROMANCES LA VIRGEN DE LOS SICÁRIOS E EM
DESPROPOSITO (MIXÓRDIA)
Dimitria Jastes Fernandes (UFPA)
Resumo: Esta comunicação propõe uma análise dos romances “La virgen de los
sicários”, do colombiano Fernando Vallejo, e Em desproposito(Mixórdia) do brasileiro
Abílio Pacheco, a fim de verificar como a figura do perpetrador está presente no tecido
textual da narrativa. De acordo com o estudo de Tânia Sarmento-Pantoja (2018) “a
narrativa do perpetrador pode ser categorizada como aquela em que um agente – seja
um personagem ou outras formas de agenciamento – em proveito próprio ou daquilo
que representa decide pela exclusão física ou simbólica da alteridade e/ou executa essa
decisão valendo-se de diversos instrumentos e estratégias. Nesse sentido, o perpetrador
pode ser tanto aquele que abstrai e planeja a exclusão, resguardado por alguma
autoridade, quanto aquele que pode desenvolver várias funções – profissionais, sociais,
institucionais – a fim de concretizar a exclusão". Consideraremos também a posição de
Lilia Rocha (2018), que avalia ser o perpetrador um dos elementos envolvidos em um
conjunto de atos sistêmicos próprios da exceção. E consideramos ainda a ideia de
dessemelhança em uma relação de poder, em que o perpetrador se identifica numa
posição de superior em relação à vítima, como indica Frei Betto (2018).
Palavras-chave: Perpetrador, Narrativa, Resistência, Fernando Vallejo, Abílio Pacheco

“O LIMBO FELIZ DE UMA NÃO-IDENTIDADE”: O CORPO


HERMAFRODITA NO DIÁRIO DE HERCULINE BARBIN E A
OBSCENIDADE DA EXISTÊNCIA NO SÉCULO XIX
Eder Ahmad Charaf Eddine (USP)
Resumo: Herculine Barbin (1838-1868) é um sujeito intersexo, criado como
pertencente ao universo feminino até a juventude e obrigado a trocar de sexo após
processo judicial amparado por laudos médicos. Essa decisão lhe impôs uma nova
identidade, pois Barbin não se encaixava no próprio corpo. O presente trabalho parte da
análise foucaultina da sexualidade para percorrer os caminhos de Barbin, descrevendo
suas experiências sexuais e a sua constituição como sujeito que não pertencia a nenhum
dos sexos socialmente descritos. A partir das memórias do diário de Barbin, é possível
afirmar que o binômio masculino/feminino não foi capaz de definir uma identidade,
pois, mesmo sendo criado como menina, aquele sentia atração física e sexual por outras
meninas e, quando na posse de um registro que lhe atestava a constituição como
menino, não conseguiu se adaptar ao que chamou de sexo forte. Esse conjunto de
escritos foi organizado e publicado na França, por Foucault, cem anos após a morte
Barbin, em 1978, sob o título Herculine Barbin dite Alexina B. Como conclusão aponta-
se que a sexualidade e as definições de Herculine/Alexine não se enquadravam em
nenhum padrão estabelecido pela sociedade. As passagens eróticas do seu diário
constroem uma obscenidade eivada pelo amor lésbico e pela sexualidade da jovem
mulher que descobriu um pênis interno em seu corpo e que, por conta disso, teve que
assumir uma identidade masculina.
Palavras-chave: Alexine Barbin, Abel Barbin, identidade sexual, erotismo na literatura,
Michel Foucault

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"LUGAR DE MULHER É....": A LITERATURA E A REPRESENTAÇÃO DO
ESPAÇO SOCIAL DA MULHER
Elem Dayane de Freitas Oliveira (IFPA)
Resumo: A crônica “Companheiras” é uma recordação de Eneida, de quando esteve
presa no Pavilhão dos Primários, onde apresenta devotadamente a luta de vinte cinco
mulheres por sobrevivência e sobretudo por participação social e política. O presente
trabalho tem o objetivo de analisar a representação do espaço social da mulher a través
da obra literária de Eneida de Moraes, apresentando aspectos relevantes da relação entre
mulher, literatura e sociedade. Para isso o método de investigação utilizado foi a
pesquisa bibliográfica que tem como base teórica SANTOS (1997) que apresenta
estudos sobre a obra de Eneida; ENEIDA (1989), produção literária analisada neste
artigo, e MAFFESOLI (2001) que fundamenta os argumentos sobre o imaginário. O
recorte temporal dado a este trabalho é o contexto da ditadura militar, posto que a
crônica analisada se passa nesse contexto. “Companheiras” dá visibilidade à mulher em
um espaço novo, embora mostre que estar no espaço político que é majoritariamente
masculino tem consequências. A crônica corrobora socialmente no sentindo de abrir
uma “fresta” na sociedade brasileira e mostrar, à luz da literatura que as mulheres
estavam presentes na luta pela cidadania no Brasil, mostrando que deve-se romper o
espaço demarcado e ir além. A literatura, nesse sentido cumpre um papel
conscientizador de que a participação das mulheres como hoje vemos é fruto de uma
luta incessante que a literatura em tom “poético” permite mostrar. Atualmente, vê-se a
luta de mulheres por reconhecimento, direitos e participação igualitária, é necessário
olhar para esses movimentos sociais e para a luta dessas mulheres com mesmo olhar
destemido de Eneida, para que assim a sociedade crie imagens de mulheres livres e
participativas. A literatura sem dúvidas, carrega grande responsabilidade de registrar e
apresentar para a sociedade essa nova imagem da mulher.
Palavras-chave: Mulher, Literatura, Representação Social.

A FIGURA MATERNA DE DORA E WENDY: UMA LEITURA


COMPARATIVA DE CAPITÃES DA AREIA, DE JORGE AMADO E PETER
PAN, DE JAMES BARRIE
Ellen Aline da Silva de Sousa (UFPA)
Resumo: Esta pesquisa consiste em um estudo literário com base comparatista entre os
livros Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado, e Peter Pan (1911), de James Barrie.
A análise incide sobre as personagens femininas presentes nas duas obras,
respectivamente, Dora e Wendy, para compreender a figura materna construída nas
personagens e identificar como as mesmas se portam e o que as levam a serem
percebidas desse modo em seus grupos. Como base para o trabalho, dentre outros
teóricos, são utilizados os textos da Literatura Comparada, tais como Machado e
Pageaux (2001), Carvalhal (2006), os textos da filósofa francesa Badinter (1985),
Schwantes (2006) e Candido (1981). Portanto, tem-se como objetivo que a partir das
relações feitas, utilizando o método comparado, seja possível descrever as
características acerca desses papeis femininos, e ao aproximar as personagens se
evidencie as suas semelhanças e diferenças, para assim analisar o comportamento
materno de Dora e Wendy, e perceber que as mesmas são conduzidas para o destino em

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que a mulher é submetida às tarefas domésticas, e ser mãe é o elemento que faz com que
tenha algum reconhecimento nas narrativas.
Palavras-chave: Personagens, Feminino, Literatura Comparada, Figura Materna

AMOR E VIOLÊNCIA NAS REPRESENTAÇÕES POÉTICAS PEDERÁSTICAS


E NA PRIAPEIA DA ROMA ANTIGA
Elivelton Souza da Silva (UFPA)
Resumo: Este trabalho visa a analisar as representações do amor e da violência nas
produções poéticas pederásticas e na chamada priapéia da Roma Antiga, tendo como
objeto de estudo os carmina de Caio Valério Catulo (87 ou 84 a.C. - 57 ou 54 a.C.) e as
obras dedicadas ao deus Priapo, particularmente as que fazem referência ao objeto
proposto. Consiste, ainda, em descrever o reflexo dos costumes da sociedade romana
diante dessas produções, visto tratarem-se de dois modelos poéticos distintos: o
primeiro, trazido por Catulo, é voltado a composições “pederásticas”, pois faz menção
ao amor do eu-lírico por um adolescente – em grego páis, paidós – chamado Juvêncio; o
segundo modelo são textos, poemas e epigramas, voltados ao deus Priapo, que
apresentam descrições de sexo oral, felação e cunilíngua, masturbação, bestialidade,
posições sexuais, prostituição religiosa, pornografia e terminologias sexuais. No recorte
terminológico, há o teor de ameaça, no qual o deus usaria de seu falo para castigar os
ladrões que invadissem seu jardim, por exemplo. Ao todo foram selecionados 15
poemas, sendo 8 dos Carmina Catulli e 7 da Priapeia latina. Numa prévia análise desse
corpus, pôde-se perceber certa formulação de uma persona poetica em Catulo, que se
coaduna a uma visão do amor galanteador mais puro e elegíaco, por assim dizer, em
oposição ao amor homoerótico, na Priapeia, como castigo e flagelação. Esse contraste
nos faz elaborar a hipótese de uma representação específica do pensamento antigo sobre
o significado da homoafetividade, em termos literários e culturais, conforme postula
nosso escopo teórico, a partir do qual seguimos os conceitos desenvolvidos na pesquisa
(MORA, 2014; FUNARI, 2003). Com esse trabalho, espera-se justamente compreender
o retrato sócio-cultural que emferge a partir dessas representações, procurando, ainda,
associá-las à forma com que as relações sexuais homoafetivas e pederásticas alinham-se
a questões mais gerais, como poder, prazer e estratificação social.
Palavras-chave: Pederastia, Catulli Carmina, Priapeia latina

ELEMENTOS TRÁGICOS EM EÇA DE QUEIROZ: RELAÇÃO MIDIÁTICA


ENTRE A ADAPTAÇÃO TELEVISIVA E A OBRA “A TRAGÉDIA DA RUA
DAS FLORES”.
Emanuelle Antunes Valente (UEAM)
Caroline Corrêa da Silva (UEAM)
Resumo: No século XIX, Eça de Queiroz (1845 – 1900) escreve o livro “A Tragédia da
Rua das Flores”, uma obra inacabada que, por muitos anos ficou guardada com a família
do autor até ser publicada em 1980, obra esta que aborda uma temática tida como tabu
não só para a época, mas também ainda atualmente. O presente trabalho é de cunho
bibliográfico, visto que tem por objetivo identificar os elementos trágicos existentes
desde a era clássica grega, tanto na obra “A Tragédia da Rua das Flores”, de Eça de

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Queiroz, quanto na adaptação televisiva de mesmo nome produzida pela emissora Rede
Record, contudo se utiliza somente quatro dos diversos elementos – Anankê, Peripécia,
Anagnórise e Catástrofe –, pois torna a análise mais concreta, compacta e eficaz. A
partir disso também foi possível entender muito mais sobre a temática abordada, ou
seja, o incesto, que após pesquisa aprofundada é mostrado em diversas perspectivas –
social, religiosa, jurídica –. Para mais é pretendido estabelecer uma relação midiática,
tendo como base as teorias dos estudos interarte usadas para equiparar o texto da
clássica obra portuguesa que possui uma leitura solidamente contemporânea apesar da
época em que está situada a narrativa, com a adaptação que é uma releitura moderna e
“abrasileirada” do texto de Eça, tudo isto na tentativa de materializar como os elementos
trágicos estão presentes nas duas obras supracitadas e que são categoricamente trágicas,
pois independentemente da diferença e distância de criação de cada uma, são os
elementos trágicos que as tornam tão similares a ponto de serem comparadas em
análise.
Palavras-chave: Eça de Queiroz, A Tragédia da Rua das Flores, Trágico, Incesto,
Interarte.

JANE EYRE E ANTOINETTE: UMA ANÁLISE DO DESFECHO DAS


PROTAGONISTAS
Fabíola Cavalcante Vilhena (UFAP)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma comparação entre o desfecho das
protagonistas dos livros: Jane Eyre e Vasto mar de Sargaços, respectivamente escritos
por Charlotte Brontë e Jean Rhys. Brontë foi uma escritora inglesa da Era Vitoriana;
enquanto Jean Rhys, escritora do século XX, nasceu na ilha caribenha Dominica, ex-
colônia inglesa, e viveu sua vida adulta na Europa. Posto isto, essa análise pretende
demonstrar como o desfecho das personagens dos referidos romances se relaciona com
suas respectivas origens. Jane Eyre vive a Inglaterra vitoriana, contudo, era órfã e de
classe social baixa. Em virtude disso, ela possui uma trajetória bastante turbulenta, na
qual teve que superar diversos obstáculos relacionados a gênero e classe para, no final
da obra, sentir-se realizada. Bem diferente é o desfecho de Antoinette, protagonista do
romance de Rhys, inspirada em Bertha, personagem de Jane Eyre, conhecida como “a
louca do sótão”. Antoinette é uma mulher jamaicana e, por se tratar de uma mulher
colonizada, traz à tona, além da questão de gênero e classe apresentada no romance de
Brontë, a relação de poder imperialista. Os obstáculos por que passa, sua não adaptação,
entre outros elementos a levam a ter um final trágico na obra. Assim, como suporte
teórico desta análise, destacam-se Pinto (1990), que aborda o processo de transformação
da mulher na sociedade, Wollstonecraft (2010), considerada uma das primeiras teóricas
do feminismo inglês e cujo pensamento é de grande valia para compreender a condição
da mulher na sociedade inglesa e Spivak (2010) como aporte para a compreensão da
questão pós-colonial.
Palavras-chave: Jane Eyre, Antoinette, Trajetória, Pós-colonialismo, Subalternização.

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LITERATURA AMAPAENSE NO OIAPOQUE – QUESTÕES DE
LITERATURA DE FRONTEIRA
Fabíola do Socorro Figueiredo dos Reis (UNIFAP)
Resumo: A fronteira Brasil-Guiana Francesa permaneceu durante um longo tempo
isolada e envolvida com as histórias dos garimpos ilegais, da prostituição e do ouro da
região. A disciplina Literatura Amapaense, ofertada pela primeira vez em 2018 no
Campus Binacional do Oiapoque (Universidade Federal do Amapá), lida com um
contexto de Literatura Amapaense como literatura de fronteira/literatura menor (termo
advindo da obra de Derrida/Guattari Kafka – por uma literatura menor) de uma maneira
diferente da capital Macapá (Campus Marco Zero), distante 600 quilômetros de
Oiapoque. Na disciplina há o estudo das origens do termo “literatura de fronteira” e
“literatura menor”, o trabalho da crítica literária para entender como as obras que
circulam na fronteira não estão no cânone literário, a comparação com outras literaturas
de fronteiras e literaturas de povos minoritários no Brasil e no mundo. Esta
comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos trabalhos dos discentes de
Literatura Amapaense no Oiapoque, centrando no contexto amazônico e a produção
literária contemporânea do município, apresentando também autores e obras e a visão
histórica e cultural predominantes nos últimos anos.
Palavras-chave: Literatura de fronteira, Literatura Menor, Literatura Amapaense,
Oiapoque

O GABINETE LITERÁRIO CAMETAENSE NAS PÁGINAS DOS JORNAIS


CAMETAENSES.
Fernanda Batista Wanzeler (UFPA)
Luiz Fernando Siqueira Muniz (UFPA)
Resumo: Os Portugueses que passaram a emigrar para o Brasil após a Independência
deste país tinham pela frente um vasto campo de atividades a explorar, vindos para cá
sem familiares ou amigos, sentiram a necessidade de ter um “cantinho” o qual fizesse
lembrar da sua amada pátria. Foi com essa necessidade de familiarização, que ao longo
do tempo, foram criando sociedades e clubes, que refletissem um pouco a sua terra
natal, e assim, estas foram idealizadas e inauguradas pelos próprios portugueses, tais
como: Sociedade Beneficente Portuguesa e O Grêmio Literário Português, ambos em
Belém, capital da província do Pará. Cametá, por sua vez, contou com uma das sedes
mais importante e ricas desse nobre clube de leitura do estado do Pará, seus rastros
foram deixados ao longo dos anos nas páginas dos periódicos que aqui se encontravam.
Nesse sentido, nosso objetivo é mostrar como esse clube refletia sobre a sociedade
cametaense da época, haja vista que o Gabinete de Leitura de Cametá foi um dos mais
importantes da província e contou com inúmeros sócios e fundadores, dentre eles
portugueses.
Palavras-chave: Século XIX, Jornais Cametaenses, Gabinete Literário.

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A FISSURA NA SOCIEDADE PORTUGUESA: UMA LEITURA DE AMA E
BRÍSIDA VAZ DOS AUTOS DE GIL VICENTE
Fernanda de Souza Andrade (UFAM)
Resumo: Gil Vicente consagrou-se como um grande nome do teatro português
apresentando diversas obras. As obras do teatro vicentino carregam a sátira e por
inúmeras vezes, críticas ao clero e a sociedade portuguesa. O objetivo do trabalho é
realizar uma leitura de duas personagens de Gil Vicente, sendo a primeira, Ama do Auto
da Índia (1509?); e a segunda, Brísida Vaz do Auto da Barca do Inferno (1516). A
análise é feita a partir do cenário matrimonial sendo uma adúltera e outra alcoviteira
respectivamente, culminando então na fissura da utópica e conservadora imagem de
Portugal. Este trabalho é fundamentado por meio da teorização de Laurence Keates
acerca de Gil Vicente no livro O Teatro de Gil Vicente na Corte, de Beth Brait e
Antônio Candido quanto a construção de personagens e Élisabeth Ravoux Rallo e
Aubrey F.G Bell quanto a crítica literária e literatura portuguesa. Esta comunicação é
resultado parcial dos estudos do programa de Monitoria em Literatura Portuguesa 2018,
da Universidade Federal do Amazonas. Palavras-chave: Gil Vicente, sátira, teatro
vicentino.
Palavras-chave: Palavras-chave: Gil Vicente, sátira, teatro vicentino.

UM CORPO HUMANO PODE ESCONDER UMA AFECÇÃO-JAGUAR


Fernando Alves da Silva Júnior (UFPA)
Resumo: O título deste trabalho é uma alusão ao texto de Viveiros de Castro, “Uma
figura de humano pode estar ocultando uma afecção-jaguar”, publicado em 2006 na
revista Multitudes. Nossa proposta, desse modo, é abordar os limites que a noção de
corpo assume no pensamento ameríndio ao pensar o gesto xamânico de vestir a roupa
animal para virar outro e agir tal qual o animal. Vale acrescentar que este trabalho está
inserido em uma análise maior que envolve o xamanismo e a tradução no âmbito das
poéticas ameríndias. De todo modo, nosso objetivo é discutir o conceito de corpo para
as ontologias não ocidentais, especialmente aquelas inquiridas pelo perspectivismo
ameríndio. Por isso, a fundamentação teórica está pautada no edifício conceitual do
perspectivismo com o ensaio clássico de Eduardo Viveiros de Castro, “Os pronomes
cosmológicos” (1996), e o de Tânia Stolze Lima, “O dois e seu múltiplo” (1996).
Falamos dos não ocidentais pensando nos vários povos que habitam as terras baixa
amazônicas e que elaboram para si uma concepção de corpo totalmente oposta à
ocidental, ou seja, um corpo que é menos fisiológico, substância física, que um conjunto
de afetos e afecções, corpo que é um modo de ser. Tomamos como objeto dessa
abordagem a obra Couro dos Espíritos (2001), organizado por Betty Mindlin e
narradores indígenas Ikolen (povo de língua da família Tupi-Mondé que habita a região
leste do estado de Rondônia). Quais são as fronteiras que a concepção de corpo impõe
aos humanos que os tornam distintos dos não humanos na Amazônia indígena? É a
pergunta que motivará nossa discussão.
Palavras-chave: Corpo; Ikolen; Afecção-Jaguar.

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HAROLDO MARANHÃO: UM ESCRITOR ALÉM DAS FRONTEIRAS
Flávio Jorge de Sousa Leal (UFPA)
Resumo: Este trabalho objetiva discorrer acerca da importância da obra de Haroldo
Maranhão para a literatura de expressão amazônica e sua inserção no sistema literário
nacional por meio da análise de fontes primárias, mais especificamente a partir da sua
recepção crítica em periódicos brasileiros, bem como pela análise da correspondência
pessoal do autor com editoras, escritores consagrados da nossa literatura e universidades
brasileiras e estrangeiras acerca dos seus livros. Para tanto, realizou-se uma pesquisa na
Sala Haroldo Maranhão, pertencente à Biblioteca Pública Estadual Arthur Viana, em
Belém-PA, bem como em periódicos paraenses, dentre os quais a revista Asas da
palavra e também na hemeroteca da biblioteca nacional a fim de analisar a recepção
crítica da obra do referido escritor. Nesse sentido, a análise dos documentos permitiu a
constatação de que Maranhão conseguiu transcender as fronteiras regionais, pois além
da sua obra ter manifestada recepção crítica em importantes jornais do país, entre os
quais o Jornal do Brasil e O Globo, e também sua obra ter sido objeto de interesse de
universidades e editoras estrangeiras, fato constatado por meio da leitura de sua
correspondência pessoal, as temáticas de suas obras e a linguagem por ele utilizada o
faz alçar do universo regional para o universal, uma vez que vai além de um retrato da
Amazônia enquanto um mero quadro da natureza, de forma que é um tanto quanto
lamentável as suas obras não mais serem editadas, de modo a ser um desafio para os
pesquisadores da região, como também para as escolas fomentarem a formação de
novos leitores por meio da leitura e discussão de seus livros, enquanto prosa ficcional de
reconhecida qualidade literária. O arcabouço teórico dessa pesquisa constitui-se de
Nunes (2002), Linhares (1987), Araújo (2013), Chaves (2013) e Abreu (2014).
Palavras-chave: Haroldo Maranhão, Fontes primárias, Importância.

A REPRESENTAÇÃO DO PASSADO EM EL PAÍS DE LA CANELA (2008):


UMA RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA.
Francelina Barreto de Abreu (UFPA)
Resumo: Este trabalho é o resultado da pesquisa de mestrado pós-qualificação e tem
como objetivo analisar a representação do passado destacando como se constitui o
elemento memória na matéria histórica representada pelo romance El país de la canela
(2008) do escritor colombiano William Ospina. A obra faz parte de uma trilogia que
conta ainda com Ursúa (2005), o primeiro livro publicado, e La serpiente sin ojos
(2012), o último. A partir da análise do referido romance, partimos do pressuposto de
que a persistência das memórias de dominação, imposição de cultura e exercício do
poder estabelecidos no contato entre colonizador e colonizado possibilitam que
aproximemos a narrativa do Novo Romance Histórico Latino-americano, gênero que se
apropria da matéria histórica viabilizando sua representação. Nesse sentido, o
empreendimento analítico perpassa pelos pressupostos teórico-metodológicos da Nova
Narrativa Latino-americana (AÍNSA, 1991; FLECK, 2017; MENTON, 1993), da
relação Memória/História (BENJAMIN, 1987; GAGNEBIN 2006; HALBWACHS,
2004; LE GOFF, 2011; ROSSI, 2010), e da Decolonialidade (QUIJANO, 2005;
MALDONADO-TORRES, 2007). Portanto, a análise realizada favoreceu a
compreensão de como as memórias coletivas, individuais e históricas guardaram os

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rastros dos grupos vencidos no período da colonização, que por meio da obra receberam
sua representatividade diante de um narrador mestiço.
Palavras-chave: Memória, História, Novo Romance Histórico Latino-americano,
Representação

A POÉTICA METAFÓRICA QUE PERMEIA LITERATURA E RELIGIÃO NO


CONTO “O ALEPH”, DE LUIS BORGES
Haroldo Gomes da Silva (UFPA)
Resumo: Este artigo é um ensaio do que pretendemos dissertar em nossa monografia,
referente à conclu-são de curso. Assim como qualquer pesquisa, ela nasceu das nossas
inquietações ao longo do curso de Letras Espanhol. E nesse sentido, o conto “O Aleph”
(1949), de Jorge Luis Borges, nos brinda como leitor com as possibilidades da relação
poética que mistura literatura e religião, des-locando ou subentendendo essas
possibilidades por meio da metáfora. A narrativa retrata a luta de valores por vezes
antagônicos, como o infinito, a luta contra a morte, o rito da comunhão com o
semelhante, se utilizando de uma linguagem refinada. Essa compreensão é
proporcionada pela colocação perfeita das palavras no conto, o que nos leva da condição
de leitores à imersão na narrativa, por vezes nos dá a sensação de sermos o próprio
protagonista. A eloquência de um bom texto, segundo Ricoeur (1975) ocorre quando
metaforizamos bem, dessa forma percebe-mos o semelhante com extrema facilidade.
Quanto à abordagem, está pesquisa se apropria das teorias de Todorov (1980) que
define o gênero fantástico como sendo um tempo de incertezas, e em um breve conceito
nos diz que ele é fruto da relação do real com o imaginário.
Palavras-chave: Palavras-chave: Literatura; Metáfora; Realismo Fantástico.

DISCURSO, CULTURA E IDENTIDADE EM SIMÁ: ROMANCE HISTÓRICO


DO ALTO AMAZONAS, DE LOURENÇO ARAÚJO AMAZONAS
Heloane Baia Nogueira (UFAP)
Resumo: O presente trabalho, baseado em nossa pesquisa de mestrado, busca discutir
de que maneira as identidades culturais na Amazônia brasileira estão presentes no
romance Simá (1857), de Lourenço da Silva Araújo Amazonas. O romance amazônico
tem despertado o interesse de vários estudos no campo da literatura comparada e da
própria literatura brasileira. Todavia, ainda são poucos os trabalhos que buscam um
olhar diferenciado desse romance aos estudos pós-coloniais, tratando não exatamente de
aspectos comparativos entre as obras que marcam esse tipo de literatura, mas da
constituição identitária e do hibridismo cultural presentes em algumas obras. Assim, as
discussões propostas neste trabalho baseiam-se nos estudos culturais e pós-coloniais que
discutem a identidade, tais como Bhabha (1998), Hall (2001), Said (1978 e 1993) e
Canclini (1998). Para a reflexão sobre literatura amazônica, tomamos por base Telles
(2012), Fares (2011) e Furtado (2015 e 2010). Metodologicamente, situamos o trabalho
em uma perspectiva qualitativa interpretativista (CHIZZOTTI, 1991), de caráter
documental, a partir da análise do discurso de base francesa. Esperamos apresentar
apontamentos para discussões sobre a constituição da representatividade identitária e do

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hibridismo cultural no romance de Araújo Amazonas e uma reflexão sobre as
contribuições de perspectivas pós-coloniais.
Palavras-chave: Romance. Hibridismo cultural. Amazônia.

FIGURAÇÕES LITERÁRIAS DA MULHER NA AMAZÔNIA: DALCÍDIO


JURANDIR E MILTON HATOUM
Henrique Ruy Silva dos Santos (UFPA)
Resumo: Dentre a leva de autores que retrataram a Amazônia em narrativas ficcionais
no século XX, chama a atenção, no início da década de 1940, o paraense Dalcídio
Jurandir, com os dez romances do Ciclo do Extremo Norte, assim como o amazonense
Milton Hatoum, com as suas obras ambientadas na região. No romance Passagem dos
Inocentes (1963), de Dalcídio Jurandir, o personagem central do Ciclo, Alfredo, divide
o protagonismo da narrativa com D. Celeste, com quem ele mora em Belém. Por meio
dessa obra, visualizamos o contexto histórico da derrocada da economia da borracha.
Em Relato de um Certo Oriente (1989), de Milton Hatoum, temos a história de uma
mulher que volta a Manaus, cidade de sua infância, após vinte anos ausente. Com o
desenrolar dos acontecimentos, após sua chegada, ela recupera histórias do seu passado
e da família que a criou, sendo que se projeta de maneira forte não só a figura da própria
narradora, mas também a de Emilie, a matriarca da família. Diante disso, este trabalho
compreende os resultados parciais de uma pesquisa que se desenvolve com o objetivo
de analisar as personagens femininas de ambas as obras, considerando as implicações
estéticas e sociais que a representação da mulher amazônica em dois romances
reconhecidos pela crítica enseja para a segunda metade do século XX.
Palavras-chave: Dalcídio Jurandir, Milton Hatoum, Representação feminina.

BIOPOLÍTICA E LITERATURA: CORPOS INDÍGENAS MESTIÇOS


(IN)DÓCEIS EM ROMANCES DE NENÊ MACAGGI
Huarley M. Ateus do Vale (UFPA)
Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA)
Resumo: Este texto resulta da construção do projeto de tese de doutorado em fase de
exame de qualificação PPGL/UFPA-Estudos Literários. O objetivo formata-se em
contribuir com a fortuna crítica sobre o corpo indígena mestiço enquanto categoria
(In)dócil, partindo do referencial de resistência. O corpus, nominados de Romances do
Circum Roraima, a ser analisado é da autora roraimense Nenê Macaggi: A mulher do
Garimpo: o romance no extremo sertão norte do amazonas (1976), Dadá Gemada,
Doçura e Amargura: romance do fazendeiro de Roraima (1980), Exaltação ao Verde
(1984), Nará-Sue Uarená – o romance dos Xamatautheres do Parima (2012). A análise
do discurso e os delineamentos interdisciplinares aliam-se à teoria literária e aos estudos
de base antropológica. Partimos do princípio da genealogia enquanto constituintes
metodológico. As chaves interpretativas corpo e resistência ganham força nas
abordagens teóricas de M. Foucault (1977), G. Agamben (2002, 2017), R. Esposito
(2011), A. Mbembe (2006); bem como Munanga (2008), Bosi (2002), Sarmento-
Pantoja (2014), entre outros e outras. Os resultados iniciais constroem-se na perspectiva

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do corpo indígena mestiço enquanto (In)Dócil, sendo uma das formas de narrar as
tensas relações contemporâneas.
Palavras-chave: Biopolítica, Literatura, Corpo (In)Dócil. Indígena. Nenê Macaggi

A EXPERIÊNCIA DO APRENDER COM A DOR E O SOFRIMENTO:


APROXIMAÇÕES ENTRE DALCÍDIO, SCHOPENHAUER E NIETZSCHE
Idalina Ferreira Caldas (UFPA)
José Valdinei Albuquerque Miranda (UFPA)
Resumo: A pesquisa visa problematizar questões relacionadas à possibilidade do
aprender por meio da dor e do sofrimento, uma questão levantada no primeiro romance
de Dalcídio Jurandir Chove nos Campos de Cachoeira. Esse assunto é questionado por
meio do personagem Eutanázio que em sua trajetória de vida, vive atravessado pela dor
física, proveniente de sua doença e, psicológica, resultado de uma vida de muitas
privações. Em suas análises a pesquisa dialoga com a obra Dores do mundo de
Schopenhauer (1970), que igualmente ressalta a possibilidade de um aprendizado por
meio dos momentos mais dolorosos da vida. Diante do exposto, o presente artigo
pretende vislumbrar na obra fragmentos que demonstrem a tristeza e a dor pela qual o
personagem transita sua existência, e as aprendizagens adquiridas nesse percurso. Além
disso, buscaremos estabelecer um dialogo com o filósofo Nietzsche (1999) que ressalta
que a experiência da dor envolve a compreensão da própria existência e de uma
afirmação de vida. Como abordagem metodológica, a pesquisa se caracteriza como
estudo fenomenológico hermenêutico, utilizando o exercício descritivo e interpretativo
da obra, com ênfase na experiência de aprender com a dor e o sofrimento.
Palavras-chave: DOR, APRENDIZAGEM, DALCÍDIO JURANDIR

FACES DA HIPOCRISIA: UMA LEITURA DO CONTO BOLA DE SEBO DE


GUY DE MAUPASSANT
Inara de Araujo Carvalho (UNAMA)
Gleice do Socorro Bittencourt dos Reis (UFPA)

Resumo: Este estudo baseou-se nos escritos de Antônio Cândido (2006) no livro
intitulado Literatura e Sociedade, no qual propõe uma nova análise crítica de obras
literárias que aliam os aspectos estéticos e sociológicos num todo: “A análise crítica (...)
pretende ir mais fundo, sendo basicamente a procura dos elementos responsáveis pelo
aspecto e significado da obra, unificados para formar um todo indissolúvel” (...). Assim,
observa-se, em Bola de Sebo, a ironia realista como demarcação da crítica social. A
personagem principal que dá nome à obra, era vista como a mais indigna das mulheres,
porém era, na verdade, do ponto de vista humanístico, a mais honrada e admirável, e no
sentido material, a mais solicitada. Entretanto, por sua condição social, era reduzida ao
consumo e a descartabilidade, situação antecipada pela descrição de seu perfil, bem
destacada em expressões como “dedos semelhantes a salsichas curtas”, “recheada com
dentinhos brilhantes”, “apetitosa”, “frescor”, “seu rosto era uma maçã vermelha”. Nesse
contexto, nota-se o traço naturalista na narrativa, Bola de sebo é determinada a uma
função utilitária, ela serve, distrai e sacia aquela sociedade. Nota-se, ainda, a enfática
oposição ao idealismo romântico. Ainda que o leitor espere que a protagonista seja

100
reconhecida por sua boa ação ou sacrifício, isso não se cumpre; não há espaço para
sentimentalismo ou final feliz. Na verdade, o enredo nos surpreende por seu viés
contemporâneo, apresentando uma sociedade movida por interesses e conveniências,
sustentada em relações superficiais e transitórias, tal como a dinâmica de consumo na
modernidade.
Palavras-chave: Conto, Análise, Hipocrisia, Bola de Sebo.

REPRESENTAÇÕES DO HOMOEROTISMO NA OBRA A LENDA DE


FAUSTO, DE SAMILA LAGES
Ingrid Lara de Araujo Utzig (IFAP)
Resumo: O presente artigo buscou apresentar o resultado parcial de nossa pesquisa de
doutorado (em andamento) e é parte integrante de nossa tese, que objetiva discutir as
representações do homoerotismo na obra A Lenda de Fausto, da autora amapaense
Samila Lages. Originalmente, A Lenda de Fausto era uma fanfiction yaoi, que depois
foi transformada em livro de estreia lançado em 2011 pela editora Multifoco, garantindo
à referida escritora um lugar de destaque no cenário nacional entre os autores que
trabalham o fantástico, o queer e o horror no Brasil. Através de leitura e interpretação,
foi possível perceber a homoerotização na transposição do mito fáustico, oriundo do
folclore alemão, cuja história já possui inúmeras releituras para a literatura, o cinema e
os quadrinhos. Para essa análise, usamos as concepções de Genette (2010) e os dez
sentidos apontados por Jenkins (2009) - recontextualização, expansão da linha do
tempo, refocalização, realinhamento moral, troca de gêneros, cross over, deslocamento
de personagem, personalização, intensificação emocional e erotização - para analisar as
características específicas da fanfic em questão. O resultado parcial mostrou que em
contra/justaposição às demais abordagens do mito fáustico, a narrativa de Samila
introduz Belial como figura mefistofélica, pois sendo o mais belo entre todos os
demônios, é enviado por Lúcifer para cumprir a missão de corromper o humano.
Entretanto, nesse caso, o corruptor é corrompido. Além da figura de Belial, Samila
também introduz outras personagens da crença cristã, como anjos e arcanjos. Questões
como o pecado perpassam toda a narrativa, que se desvela em uma ação de um Deus
misericordioso, que concebe o amor como manifestação pura, independentemente de
gênero.
Palavras-chave: A Lenda de Fausto, Queer, Homoerotismo

ASPECTOS DA VIOLÊNCIA NA CONTÍSTICA DE JOÃO GILBERTO NOLL


E LYGIA FAGUNDES TELLES
Isabela de Almeida N. Ribeiro (UFPA)
Resumo: O presente estudo objetiva compreender e analisar as produções literárias
redigidas no período pós-ditatorial brasileiro, especificamente na contística de Lygia
Fagundes Telles em "Seminário dos ratos" (1977) e de João Gilberto Noll em “O cego e
a dançarina”(1980), a partir de uma perspectiva que compreende esses autores como
não incluídos declaradamente no ativismo político, mas que, de alguma forma, deixam
ecoar o contexto histórico vigente em suas produções. A partir desse contexto, a

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pesquisa pretende mapear a manifestação do trauma, da resistência e da
espetacularização da violência nas obras. Partilha os pressupostos teóricos sobre A
sociedade do espetáculo estabelecidos por Guy Debord (1997), que determinam a base
de estudos sobre a espetacularização, e a reformulação da definição inicial de tal
conceito estabelecida por Augusto Sarmento-Pantoja (2013), que direciona um viés
positivo desse fenômeno, no que tange ao trauma e à necessidade de trazer à tona
episódios catastróficos. Pretende-se apresentar esse estudo como resultado parcial da
pesquisa, pensando em uma outra compreensão da categoria, de cunho positivo,
possibilitando a literalização desses acontecimentos, mesmo diante do trauma e da
violência, muitas vezes formulados espetacularmente na contística de Lygia Fagundes
Telles e João Gilberto Noll.
Palavras-chave: Trauma, Espetacularização da violência, Regime ditatorial.

ANÁLISE TIPOLÓGICA DA ESTRUTURA DE NARRATIVAS


TRADICIONAIS IKPENG
Isadora Cecília Ribeiro de Lima (UFPA)
Angela Fabiola Alves Chagas (UFPA)
Resumo: O pensamento mítico é algo que atrai olhares das mais variadas áreas do
conhecimento humano, como a Literatura, a Psicologia, a Antropologia, a Teologia, a
Etnologia, a Psicanálise, entre outras. Esse interesse demonstra a grande importância
que esse tipo de pensamento possui, não apenas nas sociedades que o produzem, como
também nas sociedades modernas, produtoras de um pensamento dito científico. As
narrativas orais Ikpeng foram coletadas por nós durante a vigência do projeto de
documentação da língua Ikpeng (2009-2012). O objetivo deste trabalho é apresentar
uma análise tipológica da estrutura de algumas narrativas míticas do povo Ikpeng, de
acordo com a proposta de Propp ([1928] 1984), afim de demostrar que elas se encaixam
no que o autor propôs como um modelo universal de narrativas – chamado por ele de
“milagre incognoscível” – não se distanciando, por exemplo, das narrativas orais
europeias analisadas pelo autor. Segundo Propp (op. Cit.), as narrativas tradicionais
dividem-se claramente em três sequências: (i) Preparatória ou Inicial; (ii) Ação; e (iii)
Final, e estão subdivididas em trinta e uma funções. Para Hanke (2003), enquanto
produção tradicional da cultura humana, as narrativas servem para acumulação,
armazenamento e transmissão de conhecimentos, dentre outras funções básicas. Ao
final, mostraremos que o principal resultado da compilação das narrativas Ikpeng foi a
publicação do livro de narrativas orais Wonkinong Mïrang, em versão monolíngue, que
vem sendo amplamente utilizado nas escolas da comunidade e tem auxiliado os
professores no processo de alfabetização dos alunos em sua língua materna; além de
resgatar e compartilhar com os mais jovens um pouco do conhecimento ancestral
Ikpeng.
Palavras-chave: Narrativas Tradicionais; Educação Escolar Indígena; Povo Ikpeng.

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CECILIA MEIRELES EM OURO PRETO: ANÁLISE COMPARATIVA
Jessica Braz da Silva (UNIFESSPA)
Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma comparação entre textos literários
da mesma autora, Cecilia Meireles, em que os textos apresentam temas semelhantes: A
Semana Santa e as linguagens abordadas em ambos se dão distintamente. Os textos
retratam uma tradição religiosa que é a Semana Santa, ocorrida em Ouro Preto. A
justificativa para a escolha do tema é relatar como temas semelhantes são trabalhados de
forma distinta de acordo com o público alvo. O texto intitulado “A Semana Santa em
Ouro Preto”, publicado na revista Travel in Brazil, em 1942, tem o intuito de atrair
turistas estrangeiros. De modo geral, é construído por uma escrita multimodal, de forma
a privilegiar figuras, cores e expressões linguísticas. Iniciado com relatos da referida
cidade, mencionando seus esplendores da mineração, sua beleza arquitetônica
preservada, assim como opções de estadia e de rotas a seguir. Já o texto intitulado “A
Semana Santa”, publicado originariamente no jornal Folha de São Paulo, em 1964, e,
posteriormente, na coletânea de Cecília Meireles (1999): Crônicas de Viagem, foi
destinado a um leitor brasileiro, sem as intenções de divulgação turística da revista
Travel in Brazil. Esse texto revela uma tradição religiosa vivida pelos cristãos de forma
intensa e comovente. A metodologia aplicada neste trabalho é de estudo bibliográfico e
comparativo, tendo sido selecionados alguns livros como: Crônicas de viagem 2 e 3, de
Cecília Meireles (1999), A Poeta-Viajante: Uma Teoria Poética da Viagem
Contemporânea nas Crônicas de Cecilia Meireles , de Luís Romano (2014), O texto de
Fernando Cristóvão (2002): “Para uma teoria da Literatura de viagens”, a revista Travel
in Brazil (1942), e artigos que tratam sobre o gênero da propaganda turística e as regras
que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais.
Palavras-chave: Cecília Meireles, Ouro Preto, Travel in Brazil, Turista.

CAMINHOS DA (IN)VISIBILIDADE: A REALIDADE ESCRITA DE UMA


MULHER NEGRA CHAMADA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Jessica Caroline Da Silva Dias (UFRA)
Regilene De Almeida Ferreira (UFRA)
Resumo: A exclusão social ainda é um assunto pouco discutido na sociedade brasileira,
por outro lado cada vez mais movimentos sociais e grupos de estudos acadêmicos
apresentam essa situação como uma realidade “(in)visibilizada” tal como é. Tal questão
se torna presente em algumas obras de Carolina Maria de Jesus, autora que transmitiu a
verossimilhança em sua escrita pelos pequenos papeis que catava em seu dia a dia de
trabalho. Essa pesquisa se debruça sobre as obras de Carolina Maria de Jesus, tais como:
Antologia pessoal (1996) e Quarto de Despejo (1960). Tem como base os estudos
teóricos de Constância Lima Duarte (2003;1990) em sua crítica literária feminista, e em
Michel Foucault (1996) na análise do discurso identificado na vida da escritora e sua
perspectiva escrita envolvendo sua identidade (Stuart Hall, 2006) de mulher negra
(Frantz Fanon, 2008) e escritora, como intuito desenvolver um estudo analítico e crítico.
Tem por objetivos de identificar e apontar a realidade (in)visibilizada na Literatura
Brasileira nas obras de Carolina Maria de Jesus e de analisar a identidade construída na
autora como uma personagem que foi divulgada em sua época e evidenciar o seu papel
de mulher escritora de forma reflexiva.

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Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus, Crítica literária feminista, Exclusão social,
Negritude.

O CAUCHEIRO: NARRATIVAS NO LIMIAR ENTE O FATO E A FICÇÃO


José Francisco da Silva Queiroz (UFPA)
Resumo: Das narrativas que partilham do esforço de representar o espaço amazônico a
obra de Euclides da Cunha possui lugar de destaque assegurado pelo caráter artístico de
sua linguagem que consegue unificar ao discurso científico-referencial recursos
retóricos próprios dos gêneros ficcionais. Dos ensaios compilados no livro Um Paraíso
Perdido (2000), destacamos “Contra os Caucheiros” publicado em 1904, e,
“Caucheiros”, estudo que integrou a primeira edição d’À Margem da História (1909).
Esses textos apresentaram a figura do “caucheiro” como uma ameaça à soberania do
território brasileiro por ele ter descoberto outra árvore gomífera, o caucho (Castilloa
ulei), concorrente do látex extraído da seringueira (Hevea brasiliensis), e assim estar
invadindo o território nacional. Alberto Rangel em seu livro mais conhecido, Inferno
Verde (1908), utiliza a figura do “caucheiro selvagem” em oposição à presença do
“nordestino retirante” trabalhador do seringal. Sandoval Lage com a narrativa “O
Caucheiro” (1944), nos oferece uma representação ficcional que destitui o caráter étnico
do explorador de caucho, conferindo-lhe uma identidade oposta a origem indígena dos
caucheiros que integram as obras de Cunha e de Rangel. A partir dessas narrativas cujo
protagonista é “o caucheiro” discutiremos o estatuto da ficcionalidade ou da
factualidade (SCHAEFFER, 2009; SCHMID, 2010) no processo de representação de
uma atividade exploratória da floresta amazônica.
Palavras-chave: Amazônia, Narratologia, Ficcionalidade & Factualidade.

UM PUNHADO DE VIDAS NOS SERINGAIS AMAZÔNICOS: UM ESTUDO


SOBRE A OBRA DE ARISTÓFANES CASTRO
Jozilena Farias dos Santos (UFAM)
Resumo: Nesta comunicação pretendo expor o estudo feito acerca de como Aristófanes
Castro, no romance Um punhado de vidas (1949), recria o ciclo da borracha na
Amazônia e, principalmente, a vida dos soldados da borracha nos seringais. Para tanto,
fez-se um levantamento histórico da economia gomífera, levando-se em conta seus
marcos mais significativos e as consequências derivadas desse momento histórico-
social, e, a partir da observação dessa realidade, explorou-se os recursos estéticos que o
autor utilizou para ficcionalizá-la. Com isso percebeu-se a importância do romance para
a construção da imagem amazônica no universo literário, sem exageros ou
representações estranhas ao ambiente retratado, sendo assim, um produto enriquecedor
para aqueles que desejam investigar a literatura produzida no Amazonas . Quanto ao
suporte teórico, a pesquisa baseou-se em dois eixos temáticos básicos. O primeiro, que
diz respeito à economia gomífera, à batalha da borracha e sua representação literária,
toma por base as reflexões de Souza (2010; 2009), Lima (2009), Cunha (2003),
Tocantins (1982) e Guedelha (2013); o segundo, relacionado à teoria literária e à arte da
ficção, apoia-se em Moisés (2002), Eco (2001), Candido (2010) e Walty (2009). Esta
comunicação é resultado da Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) intitulada Um
punhado de vidas nos seringais amazônicos: um estudo sobre a obra de Aristófanes

104
Castro, aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPESP da
Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no período de agosto de 2017 até julho de
2018. Além disso, a pesquisa é vinculada ao Grupo de Estudos da Metáfora e Pesquisas
sobre Língua e Literatura de Expressão Amazônica — GREMPLEXA.
Palavras-chave: Amazônia, Ciclo da Borracha, Ficção, Um Punhado de vidas

APONTAMENTO SOBRE O RELATO DE UM CERTO ORIENTE, DE


MILTON HATOUM, LIDO A PARTIR DO CRONOTOPO DE MIKHAIL
BAKHTIN
Juciane Cavalheiro (UEAM)
Resumo: A presente comunicação origina-se dos resultados obtidos no curso das etapas
até agora concluídas de pesquisa mais ampla sobre a presença do conceito de cronotopo
em obras de autores latino-americanos dos séculos XX e XXI. Em Estética da criação
verbal, Mikhail Bakhtin toma por objeto o livro Viagem à Itália, de J. W. Goethe, para
desenvolver minúcias de seu conceito de cronotopo. Ao utilizar um livro de viagem –
embora não somente – para empreender suas intervenções teóricas, Bakhtin considera
que estariam presentes neste gênero literário as melhores condições para efeito deste
tipo de análise, dir-se-ia, cronotópica. Desta forma, o livro de memórias com
deslocamento espacial, de alguma forma, pode representar terreno ainda mais fértil para
aplicação do cronotopo como suporte analítico-interpretativo. Neste momento,
pretende-se inverter o processo de Bakhtin e reformular suas conclusões a partir da
aplicação do conceito de cronotopo à obra Relato de um certo Oriente, de Milton
Hatoum.
Palavras-chave: Milton Hatoum; teoria da literatura; cronotopo.

O EROTISMO NA POÉTICA DE COLMANDO A LACUNA, DE MAX


MARTINS
Juliana de Fátima Reis Vieira (UFPA)
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar sob o prisma do erotismo a obra
Colmando a lacuna (2001), de Max Martins, de modo que se possa mostrar como o
desejo erótico atravessa a poesia do autor paraense. Para isso busca-se investigar a obra
e assim compreender as escolhas do vocabulário poético, as figuras e as imagens
dispostas nos poemas e como tudo isso constroem neles um ambiente erótico. Parte-se
do pressuposto de que o poeta paraense concebe a linguagem como um jogo do
erotismo em que as palavras se transfiguram em corpos para o rito erótico. Considera-se
importante levantar essa questão do erotismo nesse que é o último livro de poemas
inéditos publicado em vida pelo autor e por compreender-se que a temática erótica o
acompanha desde o seu primeiro livro em 1952. Convém, nesta pesquisa, procurar
responder algumas perguntas como: O envelhecimento do poeta interferiu de que
maneira no trato da experiência erótica nos poemas de Colmando a lacuna? Para onde
Max Martins encaminhou o erotismo na obra em questão? Como forma de auxílio para
este trabalho de caráter bibliográfico, o aporte teórico utilizado fundamentou-se,
principalmente, nos conceitos estabelecidos por Georges Bataille, que em sua obra O
erotismo aborda o erótico sob diversas perspectivas e domínios, e Octavio Paz, que em

105
A dupla chama: Amor e erotismo retrata o fenômeno erótico, além de estabelecer
relações entre a poesia e o erotismo. Há também o estudo de outros autores,
pesquisadores do autor paraense, críticos literários como Benedito Nunes que
embasaram esta pesquisa. Pretende-se com isso, sugerir um primeiro caminho
interpretativo da obra Colmando a lacuna contribuindo, assim, para o enriquecimento
dos estudos científicos e difusão da poética martiniana.
Palavras-chave: Erotismo, Colmando a lacuna, Max Martins.

MORALIDADE E RELIGIÃO: NARRATIVAS FICIONAIS NO PERIÓDICO A


ESTRELLA DO NORTE

Juliana Yeska Torres Mendes (UFPA/PPGL)

Resumo: A moralidade do romance, em seu surgimento no século XVIII, foi elemento


imprescindível para sua aceitação. Os conservadores alegavam que o romance viria a propor
novas concepções de virtude e de verdade, o que recairia no questionamento dos valores
aristocráticos. Na outra margem, as narrativas religiosas pautavam-se apenas em exemplos de
boa postura, e comumente apresentavam como protagonistas personagens bíblicos ou santos.
Caso apresentassem um protagonista comum, este estava sujeito ao conhecimento da virtude e
moralização no decorrer da narrativa, pois longe dessa imagem só restava castigo e punição.
Assim, a religiosidade foi temática quase sempre presente, atrelada à moralização. A Estrella
do Norte, periódico paraense que circulou em Belém no período de 1863 a 1869, carregava
alto teor religioso e era exemplo de virtude. O jornal publicava textos direcionados para a fé
cristã, sempre regidos por normas de bom comportamento. Dentre essas narrativas,
destacamos para essa comunicação um recorte da pesquisa que está ainda em fase inicial: os
romances A Lâmpada do Santuário, de autoria do Cardeal Wiseman e Um Ex-voto,
narrativa sem autoria, com o objetivo de evidenciar as estratégias moralizantes utilizadas pelo
impresso religioso. Para tanto, tomamos como base teórica os estudos de NEVES (2015) e
AUGUSTI (1998) sobre a moralização de romances e o papel da igreja como instituição de
poder no século XIX, em Belém. Os resultados parciais indicam que a disseminação da
virtude e da religiosidade nessas narrativas apoiavam-se na própria popularidade do gênero no
momento e nos castigos aplicados ou na redenção dos personagens, que ocorriam durante a
prosa de ficção. Diante do exposto, vemos como os grupos sociais que gozavam do poder nos
Oitocentos propagavam como benéficas posturas de teor moralista, e o romance em
periódicos era a ferramenta perfeita para a difusão desses valores.

Palavras-Chave: Romance; moralização; Estrella do Norte.

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RECUERDOS DE MIGUEL DE SANTANA EM ANDAR, ANDAR: MEMÓRIAS
DO NUNCA MAIS
Karla da Conceição Ferreira (UFPA)
Resumo: O objeto de estudo desta pesquisa é a obra Andar, Andar: Memórias do Nunca
Mais (2018) de Joaquim Alfredo Guimarães Garcia¹. Trata-se de uma narrativa
memorialística onde o protagonista Miguel de Santana, idoso de sessenta e dois anos,
após um longo período de afastamento, retorna á cidade de sua infância por motivo do
falecimento de Agileu – um de seus melhores amigos do tempo de meninice. Como se
dá o processo de desconstrução da imagem da cidade por intermédio das lembranças da
personagem Miguel de Santana? A justificativa para este trabalho é estudar a memória
enquanto fenômeno social e individual como forma de resistência ao presente mediante
as lembranças da personagem. Partindo dos conceitos de memória em Halbwachs
(1990), Le Goff (2003) e Bosi (1994) que transversalizam toda e obra, será realizada
uma análise da narrativa em três categorias: Personagem – Brait (1985); Tempo e
Espaço – Bachelard (2008). Esta pesquisa ainda está em andamento, porém já é possível
observar alguns resultados. ¹ Escritor nascido em Bragança –Pa.
Palavras-chave: Narrativa, Memória, Espaço, Personagem.

MULHERIO DA OUSADIA: A RESSIGNIFICAÇÃO DE CAPITU A PARTIR


DAS ESTRATÉGIAS METAFICCIONAIS DE ANA MARIA MACHADO EM A
AUDÁCIA DESSA MULHER
Karla Vivianne Oliveira Santos (UFPI)
Resumo: Ela tinha olhos de cigana, oblíqua e dissimulada. Assim era Capitu, descrita
por Machado de Assis sob o olhar do menino Bentinho, em Dom Casmurro. É esta
mesma personagem que renasce nas linhas de Ana Maria Machado, em A audácia dessa
mulher (2011), obra publicada em homenagem ao centenário do clássico machadiano. A
autora nos apresenta, dentre as várias personagens femininas, mulheres audaciosas,
descontentes com o papel de subserviência que a tradição patriarcal insiste em lhes
reservar. Além disso, traz a versão de Capitu sobre sua história vivida com Bentinho,
mostrando que um outro ponto de vista também é possível. Sob o viés da crítica
literária, as estratégias narrativas utilizadas pela autora para a tessitura de seu romance
podem ser consideradas metaficcionais, uma vez que promovem uma autorreflexividade
do texto, em que este se volta sobre si mesmo, contendo, em seu bojo, questionamentos
ou comentários sobre o seu estatuto ficcional, narrativo, linguístico e também sobre o
seu processo de produção. Tendo isso em vista, este trabalho busca averiguar de que
maneira essas estratégias promovem a ressignificação da personagem Capitu na obra de
Ana Maria Machado. Para tanto, nosso objetivo de pesquisa tem como ingredientes
fundamentais as contribuições teóricas de Linda Hutcheon (1991), Patrícia Waugh
(1985), Zênia de Faria (2012), Gabriela Patrocinio (2014), dentre outros. Como
resultados parciais, pudemos compreender melhor o papel que a personagem
machadiana desempenhava no contexto do século XIX e de que maneira a autora do
século XX resgata e ressignifica sua trajetória. Essa pesquisa encontra-se em construção
e nos é de suma importância, uma vez que contribui para as investigações da dissertação
de mestrado da discente, tendo em vista que possui como objeto uma obra da autora na
qual a mestranda estuda.
Palavras-chave: Personagem feminina. Ousadia. Metaficção.

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O CASAMENTO COMO OBJETO DE VALOR NO CONTO “MARIANA”, DE
MACHADO DE ASSIS: UMA ANÁLISE PELO VIÉS DA SEMIÓTICA
TENSIVA
Kátia Lorena Silva de Freitas (UEPA)
Ana Carolina Moura Santos (UEPA)
Resumo: O presente trabalho objetiva fazer uma análise do conto “Mariana”, de
Machado Assis, pelo viés da Semiótica Tensiva, considerando o casamento como objeto
de valor. A pesquisa está dividida em cinco seções: a “Introdução”, que inclui uma
visão geral da pesquisa e da análise; “Sobre o autor” e descrição do conto ‘Mariana’”,
em que são apresentadas a biografia de Machado de Assis, algumas opiniões sobre sua
obra e um resumo do conto analisado; “Aporte teórico”, em que são explanadas as
teorias mais relevantes da Semiótica Tensiva, cuja construção do sentido se dá em três
níveis, o das estruturas fundamentais, o das estruturas narrativas e o das estruturas
discursivas segundo o percurso gerativo; “Análise do conto”, na qual “Mariana” é
analisado seguindo os princípios da perspectiva de análise escolhida pelas autoras,
considerando o casamento como objeto de valor; e, por fim, as “Considerações finais”.
A partir de pesquisa bibliográfica – que consiste em buscar fontes teóricas em livros,
artigos e outros – fundamentamos este trabalho nos seguintes autores: Coutinho (1999)
e Nejar (2007), nos quais baseamos a biografia de Machado de Assis, além das críticas à
sua obra e estilo; Lopes e Almeida (2011), Barros (2007), Nöth (2003) e Pietroforte
(2008), que norteiam as teorias sobre a Semiótica Tensiva, pois desenvolveram métodos
de análise que permitem traçar o sentido e alcançar os objetivos de forma sistemática e
organizada; e Ravoux-Rallo (2005) e Zilberberg (2011), os quais fazem análises e
considerações acerca das críticas literárias, incluindo Semiótica Tensiva. Esperamos,
com este trabalho, fomentar outras análises pelo viés da Semiótica Tensiva, bem como
aumentar a fortuna crítica dos textos literários machadianos, saindo das análises
impressionistas e clichês, pois acreditamos que essa perspectiva de estudo permite ver o
valor do conto por ele mesmo.
Palavras-chave: Machado de Assis, “Mariana”, Semiótica Tensiva, Casamento, Objeto
de Valor.

LEITOR, EU NÃO ME CASEI COM ELA: UMA ANÁLISE TENSIVA DO


CONTO "A CARTOMANTE"
Lara Faria Jansen França (UEPA)
Milena da Cruz Ferreira (UEPA)
Thays Pereira Santos de Souza (UEPA)
Resumo: O presente trabalho constitui resultado parcial de pesquisa bibliográfica sobre
a compreensão do sentido literário por meio do método de análise da semiótica tensiva
no conto “A cartomante”, de Machado de Assis. Este estudo tem como principal
objetivo expressar a preocupação por um ensino do texto literário de forma a não
reduzi-lo a apenas análises e reflexões conteudistas e históricas de sua produção. A obra
literária é uma criação de significados e ressignificações a partir de uma dada realidade,
e sua significação só é plena em consonância com a sua forma. Por isso, o intérprete
deve sempre levar em consideração conhecimentos linguísticos e extralinguísticos na

108
análise do texto ficcional. Assim, de modo a trazer outro olhar para a leitura crítica de
textos literários, será realizada a análise do conto machadiano “A cartomante” a partir
da perspectiva da semiótica tensiva francesa, que têm como preocupação a compreensão
do aspecto sensível da significação do texto a partir do universo afetivo que nele se
encontra. Como fundamentação teórica e metodológica serão utilizados autores como
Zilberberg (2011), Zilberberg e Fontanille (2001), Pietroforte (2008) e Bertrand (2003).
Para isso, pretende-se exemplificar os conceitos de actantes, tensividade, e afetividade
na obra literária com o objetivo de atingir a compreensão de que essas dimensões
constituem um processo para a experiência do sensível no tecido textual.
Palavras-chave: “A cartomante”. Semiótica tensiva. Tensão. Machado de Assis.

FORMAS E PERSPECTIVAS DA LITERATURA INDÍGENA DE AUTORIA


FEMININA NO BRASIL
Larissa Fontinele de Alencar (UFPA)
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca da
literatura indígena de autoria feminina contemporânea no Brasil. Ressalta-se que, de
modo geral, as produções literárias indígenas, são escrituras que rememoram,
denunciam e resistem diante de um panorama ainda silenciador e canônico dentro do
universo artístico, político e social. É importante esclarecer que, ao se tratar de literatura
indígena, as definições e os conceitos esbarram no “preconceito literário estampado no
mascaramento de polêmicas doutrinais. No cânone, essa literatura não aparece
mencionada; seu lugar tem sido, até agora a margem. Poucos se dão conta de sua
pulsação.” (GRAÚNA, 2013, p. 55). Diante do exposto, um dos objetivos deste trabalho
é trazer à tona um questionamento latente em debates que giram em torno da escritura
literária de autoria indígena, mas, sobretudo reivindicar um espaço de visibilidade para a
autoria dos que estão às margens do cânone literário. Assim, lança-se um olhar para a
concepção de uma cartografia concisa das autoras brasileiras e suas obras que compõem
a literatura de autoria indígena. Portanto, constata-se que as escritoras indígenas
subvertem a visão do colonizador, demarcador de estereótipos que se cristalizaram nas
sociedades, afinal, rompem com as formas de silenciamento impostas pelos processos
de colonialismo através de seus textos literários, difusores da resistência.
Palavras-chave: Literatura, Indígena, Autoria feminina.

‘O AMOR ME MOVE: SÓ POR ELE EU FALO’: DO AMOR CORTÊS À


LUXÚRIA EM DANTE
Laura Danielly de Souza Couto (UEPA)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar as oscilações do ideário
medieval entre as temáticas do amor cortês e do amor luxuriante na obra de Dante
Alighieri, Divina Comédia. Para isto, a pesquisa está ancorada na fortuna de crítica de
Auerbach (2015), Carpeaux (2008), Huizinga (1999) e Lewis (2012) e nos preceitos de
São Tomás de Aquino de modo a observar como este ideário medieval se denota na
Divina Comédia, obra grandiosa do poeta florentino, valendo-se, para tanto, da leitura
do “Canto V” do Inferno, no qual encontramos o destino resultante do amor luxuriante
na história de Paolo e Francesca, em contraposição com o amor cortês e idealizado que

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Dante nutriu por sua musa Beatrice. Sendo assim, quando o poeta afirma que o Amor o
move, e que só por ele fala, Dante define o Amor como pano de fundo principal de sua
poesia.
Palavras-chave: Dante, Amor cortês, Luxúria, “Divina Comédia”

O FANTÁSTICO NAS NARRATIVAS AUDIOVISUAIS: UM ESTUDO SOBRE


A SÉRIE ‘GLITCH’
Lídia Carla Holanda Alcantara (UFPA)
Resumo: O presente trabalho busca estudar a série televisiva australiana ‘Glitch’, a qual
tem como tema a ressureição de pessoas que estavam mortas, não havendo motivo
aparente ou racional que explique este evento. Dado seu teor sobrenatural, misterioso e
de constante hesitação, levantamos a hipótese de este programa televisivo poder ser
classificada como pertencente ao fantástico, sabendo não bastar que um filme, livro ou
série tenha mistério, que termine sem explicações, ou que tenha um teor sobrenatural
para ser enquadrado em tal gênero. Isso porque os conceitos que definem uma narrativa
- seja textual, audiovisual ou visual - como fantástica mudaram conforme os séculos, e
hoje, pode-se definir este gênero como característico por explorar o ser humano e sua
natureza, suas dúvidas, anseios, como já disse Sartre (1997). Acreditamos que ‘Glitch’
consiga também explorar esses últimos aspectos apontados pelo filósofo francês, além
de tantas outras características que circundam a definição deste gênero. Sendo assim,
para a realização deste trabalho, utilizaremos, por meio de pesquisa bibliográfica,
escritores que teorizaram sobre o fantástico, como Jean-Paul Sartre (1997), Tzvetan
Todorov (1975), Sigmund Freud (1980), para que possamos, dessa forma, justificar
nossa escolha de enquadrar a série australiana como pertencente a este gênero.
Palavras-chave: Fantástico, narrativas audiovisuais, Glitch

CINEMA, LITERATURA E EDUCAÇÃO: A NARRATIVA AUDIOVISUAL NO


ENSINO DE LITERATURA
Lília Batista da Conceição (UFPA)
Resumo: Este artigo tem como objetivo abordar uma análise sobre produções literárias
no contexto da sala de aula, por meio da linguagem audiovisual. O processo
metodológico aplicado foi de caráter bibliográfico, com ênfase no Estudo de Caso.
Sendo que os discentes das turmas de 2ª e 3ª séries da Escola Estadual de Ensino Médio
“Irmã Carla Giussani” do município de São Miguel do Guamá-PA foram o público alvo
desta pesquisa de cunho científico. As ações pedagógicas desta pesquisa foram
desenvolvidas no decorrer das aulas de Literatura, as quais tinham como norteador o
projeto pedagógico Cinema na escola. Esta contribuição justifica-se pela importância
das práticas de multiletramento e uso de textos multimodais no âmbito escolar, pois o
sujeito aprendente desenvolve habilidades de leitura, mais especificamente do texto
literário, por meio de narrativas audiovisuais, que servem também de estímulo para
refletir sobre fatos que ocorriam e ainda persistem na sociedade. As discussões teóricas
se fundamentam em Coutinho (1975), Diniz (1996), Lajolo (1991), Zilberman (2001),
Rojo (2012), Ribeiro (2016) e outros. Os resultados obtidos ao final deste trabalho
foram satisfatórios, visto que o ensino de literatura apresentou narrativas audiovisuais

110
como estimulante para possíveis reflexões sobre os fatos que ocorrem no meio social.
Outrossim, os educandos participaram com mais empenho das aulas. Nesta perspectiva,
constata-se que o livro didático e as obras literárias não devem ser considerados
recursos exclusivos na sala de aula. Portanto, o docente precisa utilizar outras
ferramentas pedagógicas eficazes que auxiliem no processo ensino-aprendizagem e,
principalmente, estimule uma aprendizagem significativa. Isto porque é necessário
quebrar antigos paradigmas do ensino tradicional de Literatura que prioriza a
historiografia e os estilos literários, nos quais valorizam os recortes das obras literárias
sem fomentar reflexões sobre a realidade concreta.
Palavras-chave: Literatura, Cinema, Estratégia, Aprendizagem Significativa

TRAMAS DE SABERES & TRADIÇÃO: LITERATURA INDÍGENA,


MEMÓRIA, IDENTIDADE ÉTNICA E RESISTÊNCIA
Lilian Castelo Branco de Lima (UEMASIL)
Resumo: De acordo com Lima (2012, p. 42): “Pensar literatura indígena é
indiscutivelmente perceber que se está diante de um caleidoscópio que incita visões
diversas e por muitos ângulos”, pois ela se apresenta “[...] como uma importante marca
identitária da nação brasileira, que desenha, em um cenário metafórico, os valores
tradicionais de um povo”. É exatamente no campo das diferenças culturais entre as
comunidades indígenas e as não-indígenas, que centraremos a discussão sobre literatura
indígena, partindo da premissa de que as narrativas dessas comunidades não seguem o
modelo ocidental do fazer literário, contudo não deixam de carregar consigo o poder do
saber de um povo que se expressa com a criatividade das artes de fazer (CERTEAU,
1995). Sendo que este trabalho se estrutura com vistas a responder a seguinte
problemática: Que marcas identitárias dos saberes tradicionais indígenas são percebidas
em contos de três etnias? E para responder esse questionamento se desenvolveu uma
pesquisa bibliográfica, colocando em diálogo a literatura e os estudos antropológicos.
Sendo que no desenvolvimento desse estudos pudemos constatar que as narrativas
indígenas com características de contos literários, e que denominamos como contos
indígenas, com base nos estudos de Daniel Munduruku (2005), apresentam elementos
importantes para se refletir e discutir sobre a memória, identidade, resistência,
considerando a rica herança étnico cultural dos saberes dos povos originários para a
nação brasileira.
Palavras-chave: LITERATURA INDÍGENA, IDENTIDADE ÉTNICA, MEMÓRIA,
RESISTÊNCIA.

POÉTIQUE ET NÉGRITUDE DANS L'OEUVRE BLACK-LABEL DE LÉON-


GONTRAN DAMAS
Lizandra Barbosa Tavares (UFAP)
Resumo: Cet article, il s’agit de proposer une analyse de la première partie de l’oeuvre
Black-Label (1956) de l’auteur guyanais Léon-Gontran Damas, en prennant, d’abord la
relation de l’auteur avec le mouvement littéraire connu comme Négritude. Ce
mouvement selon l’auteur János Riesz, qui traite de Léopold Sédar Senghor dans son
article Négritude, Francofonia e Cultura Africana (2001), il définit le terme Négritude,

111
comme l’ensemble de valeurs culturelles dans le continent noire, tel qu’ils se
manifestent dans la vie, dans les institutions et les oeuvres des nègres, ou d’une forme
encore discrète: la personnalité collective des peuples nègres (RIESZ, 2001, p. 153). Le
mouvement a réuni des écrivains, qui ont produit de la littérature pour composer le
scénario qu’on connaît, de la francophonie littéraire ailleurs. Pour cette analyse, on a
choisi la production poétique de Léon-Gontran Damas qui appartient à la littérature de
la Guyane Française, communauté territoriale de la France. L’extrait du poème analysé
porte les thèmes suivants: la résistance des peuples colonisés et l’indignation quant à
suppression de l’identité nationale. Ailleurs, on fera une brève présentation à propos de
l’auteur et son oeuvre, le contexte de l’époque de production et encore une réflexion sur
le concept de francophonie. L’article présente une approche qualitative et descriptive-
analytique qui favorise la lecture des thèmes de la Négritude présentée à partir de János
Riesz, dans son article Négritude, Francofonia e Cultura Africana (2001) et Magali
Renouf en Surréalisme africain et surréalisme français : influences, similitudes et
différences (2013). La recherche bibliographique sera la base pour l’élaboration de cette
étude, puisqu’on a utilisé les conceptions des auteurs importants de la théorie de la
littérature sur la francophone.
Palavras-chave: Littérature francophone, Négritude, Black-Label

SAMUEL RAWET E O PALAVRÃO SABOROSO DA RALÉ ESFARRAPADA


Luciano de Jesus Gonçalves (USP)
Resumo: Para o escritor Samuel Rawet, não existe sexualidade sem excitação sexual.
Em seus ensaios, denominados “exercícios de ficção”, a excitação do corpo se confunde
com a excitação da/na linguagem. Ainda que tenha tentado resistir à pornografia, o
intelectual não encontrou motivos para evitá-la. Em seus cinco volumes ensaísticos,
publicados entre 1969 e 1978, a linguagem desejosa por uma palavra exata, mágica, não
é composta pelo vocábulo polido. Da sua vinculação com as ruas, com os humildes e
com os degenerados de toda sorte, sua escrita descamba, quase sempre, no registro do
pornográfico como materialidade daquilo que é simples, verdadeiro, poético. O palavrão
saboroso da ralé esfarrapada resume a gênese do lugar-comum. Em vista do que já se
afirmou, essa comunicação investiga a escrita da pornografia e a pornografia escrita no
ensaio rawetiano, tendo como pontos de partida as suas cinco coletâneas publicadas em
livro. O recorte desse trabalho compõe um universo mais amplo, de uma pesquisa em
andamento, sobre as relações intelectuais do escritor que, no próximo 2019, completaria
noventa anos de nascimento. De maneira preliminar, é possível localizar nesses ensaios
as formulações de parte significativa das propostas estéticas de Rawet e, de maneira
paralela, defender que tais investidas se misturam de modo licencioso com o que
poderia ser classificado com a prosa literária, seus contos e novelas, propriamente.
Palavras-chave: Samuel Rawet, Ensaio brasileiro, Erotismo, Pornografia, Gênero
literários.

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O ROMANCE DE FORMAÇÃO NA ESCRITA DE MILTON HATOUM
Lucilia Lúbia De Sousa Pinheiro (UFPA)
Resumo: O Bildungsroman (romance de formação) nasce no contexto alemão com a
obra que se tornou paradigma desse gênero Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister
(1795-1796), de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). No romance de formação é
descrito a trajetória de desenvolvimento da personagem principal. Os elementos dessa
ação seriam, segundo Jacobs e Krause (1989, p. 37): conflito com a casa dos pais;
influência de mentores e instituição de ensino; encontro com a esfera artística;
aventureiro espírito erótico; contato com uma profissão e com a vida política. Neste
sentido, trataremos as obras Dois Irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005) e A noite da
espera (2017) do escritor Milton Hatoum (1952,) sob a perspectiva desse gênero.
Respectivamente nas obras temos as personagens Nael, que busca por sua identidade no
âmbito da família em que foi criado. Mundo, artista rebelde que desde a adolescência
tem um lema “ou a obediência estúpida, ou a revolta”. Martin, jovem recém-chegado
em Brasília, após a separação dos pais, entra em contato com a esfera artística e o
momento histórico pelo qual o Brasil passa a Ditadura Militar, Martin narra a sua
história estando no exílio. A obra de Milton Hatoum tem como características o
intimismo, a memória, os aspectos sociais e históricos, características que se mesclam
nas obras que aqui serão abordadas a partir do conceito do romance de formação.
Palavras-chave: Romance de formação, Cinzas do Norte, Dois irmãos, A noite da
espera, Milton Hatoum.

YARA OU MÃE D'ÁGUA: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DO SIMBOLISMO


DA SEDUÇÃO MORTAL NA HISTÓRIA DA CULTURA AMAZÔNICA
Madchen Marques Corrêa (UEAM)
Resumo: O presente trabalho insere-se na área temática da semiótica de Charles
Sanders Peirce (1972;1998) e ocupa-se de um estudo sobre o simbolismo da sedução
mortal da Yara ou Mãe D´água na história da cultura amazônica. Os objetivos consistem
em: 1.Estudar os conflitos de imagens e signos presentes na cultura amazônica;
2.Compreender a forte presença da mitologia grega na lenda da Yara ou Mãe d’Água;
3.Identificar no texto as imagens através das relações entre os signos verbais e os signos
extraverbais ou culturais; 4.Descrever os símbolos presentes na superfície linguística do
texto e no seu espaço simbólico ou representativo; 5.Analisar o simbolismo manifesto:
no rio, na água, nas ondas, no canto, no corpo, na cauda de peixe, no rosto, na cabeleira
e na beleza da Iara na cultura amazônica. O enfoque da pesquisa é o fenomenológico e a
metodologia empregada é de natureza exploratória com pesquisa bibliográfica
qualitativa. Entende-se a cultura amazônica com Loureiro (2015), pensando a
simbolização semiótica na concepção de símbolo de Peirce (1972;1998) aliado à
mitologia grega (BRANDÃO, 1991; VERNANT,1977), imprescindíveis para a
compreensão do texto. A análise será feita com base no referencial teórico adotado
(PEIRCE 1972, 1998; SANTAELLA, 2008; LOUREIRO, 2015; BRANDÃO, 1991;
CASCUDO, 1983;1984; ECO, 1971: CHEVALIER e GHEERBRANT,2005; JOLY,
1996). Os resultados parciais deste projeto apontam que há ricas nuances simbólicas na
lenda da Iara: o rio, a água, as ondas, seu canto, seu corpo, a cauda de peixe, seu rosto,
sua cabeleira e sua beleza. A cultura amazônica constitui-se num amplo vitral mítico.
Nele, as lendas de amor – líricas ou eróticas, felizes ou trágicas - brilham de modo

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especial. Dentre essas numerosas narrativas simbólicas do amor, a lenda da Iara tem rica
significação (LOUREIRO, 2015, p. 271).
Palavras-chave: Lenda da Yara, semiótica, simbolismo.

O ESBARRAR DO MUNDO E FINITUDE EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS


Marcos Roberto Pinho Palheta (UFPA)
Resumo: O barranqueiro é aquele que domina o esbarrar no mundo. Conhece as
fronteiras e os limites do tudo. Então, para ele manifesta-se, como um raio, o todo – a
totalidade. É preciso a ladinagem do barranqueiro para que se descortine o mundo sem
limiares, o mundo pra aquém e além de todas as fronteiras. Contudo, tal qual Sólon teria
afirmado ao rei Creso, não se pode dizer que um homem é feliz antes da morte, assim
também o barranqueiro afirma-se na morte. Será a existência humana em sua finitude
que pretendemos explorar na interpretação da imagem-questão do barranqueiro e do
esbarrar no mundo tal qual apresenta João Guimarães Rosa em sua obra máxima Grande
Sertão: veredas. De fato, o tema do esbarro do mundo manifesta-se como uma
experiência de pré-meditação da morte na narrativa memorial de Riobaldo, que
apresenta as vicissitudes do viver, a guisa de toque – do sentido do toque. Experiência
humana que assume proporções ontológicas, pois nela a finitude humana encontra-se no
vortex originário do ser – ser-tão. Essa exploração interpretativa será lastreada na ideia
de finitude e ser-para-a-morte desenvolvidas por Martin Heidegger em sua obra
fundamental Ser e Tempo, além de apresentar a cosmogonia roseana em Grande Sertão:
veredas como ação poética da linguagem, ou seja, questionar a mímesis artística da
prosa-poética de Rosa como um jogo randômico da geração poética do mundo – uma
ação originária da linguagem.
Palavras-chave: Finitude, Morte, Existência, Ontologia.

FACES DO ADULTÉRIO AO SUCÍDIO: UMA ANÁLISE COMPARATISTA


ENTRE ESTELA DE ANDRADINA DE OLIVEIRA E EMMA DE GUSTAVE
FLAUBERT
Maria Genailze de Oliveira Ribeiro (UFPA)
Resumo: O presente trabalho propõe uma análise comparatista entre as semelhanças e
divergências encontradas em Estela e Emma, personagens principais das obras O Perdão
de Andradina de Oliveira e Madame Bovary de Gustave Flaubert. Ambas com o cenário
do século XIX, em que busca-se a partir do método comparativista perceber as
semelhanças e divergências entre as personagens. A base teórica utilizada como
pressuposto para esse trabalho está fundamentado nas teorias de Tânia Carvalhal (2006),
Machado (2001), Rita Schmidt (2004), Guy de Maupassant (1990), Alfredo Bosi
(2015), Antonio Candido (1972), Stuart Hall (2003), Blanchot (2011), dentre outros.
Portanto, a manifestação literária representada pelas personagens, no contexto realista
da literatura francesa e brasileira, permite perceber a dissimulação feminina diante de
uma sociedade moralista e patriarcal. Através do discurso literário do adultério e do
suicídio buscavam uma forma de escape a uma sociedade injusta e preconceituosa,
apresentando um cenário diferente com um ideal libertário diante das lutas e vitórias a

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serem conquistadas ao longo do tempo pelo sexo feminino, mostrando-se mulheres com
pensamentos e atitudes que estavam além do seu tempo.
Palavras-chave: Adultério, Suicídio, Liberdade, Semelhança, Emma, Estela.

A ANGÚSTIA NO CONTO "CASAMENTO E ANALISTAS", DO LIVRO MIL


OLHOS DE UMA ROSA, DE SÔNIA COUTINHO
Maria Jose Ferreira Lopes (UFAM)
Resumo: Nesta comunicação livre proponho-me a discutir sobre o drama da
personagem Laura, no conto “Casamento e Analistas”, do livro Mil Olhos de uma Rosa,
de Sônia Coutinho, cujo conjunto da obra tem revelado o modo de ser e de pensar da
mulher brasileira, uma parte significativa do universo feminino do ponto de vista da
própria mulher. A contista ganhou duas vezes o prêmio Jabuti de Literatura com os
livros Os venenos de Lucrécia (1979) e Os seios de Pandora (1999). Na discussão
empregarei o pensamento de Kierkegaard sobre a angústia, constante no livro O
conceito de angústia, bem como o debate sobre a personagem feita por Antonio Candido
no livro A personagem de ficção. Esclareço que esta comunicação constitui-se de parte
da investigação executada no projeto intitulado “A angústia em Mil Olhos de uma Rosa,
de Sônia Coutinho” junto ao Programa Institucional de Iniciação Científica – PIBIC,
aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPESP da Universidade
Federal do Amazonas – UFAM, para o período de agosto de 2018 a julho de 2019, e
que o projeto está cadastrado no Grupo de Estudos e Pesquisa em Literaturas de Língua
Portuguesa – GEPELIP, na Linha de Pesquisa “Prosa de Ficção em Língua Portuguesa”.
Palavras-chave: Mil olhos de uma rosa; Sônia Coutinho; angústia.

AS VOZES FEMININAS E SUAS REPRESENTATIVIDADES, O PAPEL DO


MÍSTICO E DA RELIGIOSIDADE COMO PERPETUAÇÃO DA TRADIÇÃO E
SILENCIAMENTO DAS VOZES FEMININAS NO ROMANCE A CONFISSÃO
DA LEOA, DE MIA COUTO
Maria Miquele Silva Ferreira (UFRA)
Resumo: O presente trabalho intitulado As vozes femininas e suas representatividades,
o papel do místico e da religiosidade como perpetuação da tradição e silenciamento das
vozes femininas no romance A Confissão da Leoa, de Mia Couto, tem por objetivo fazer
um estudo sobre as vozes femininas, analisar o místico e o religioso como justificativa
para colocar a mulher na condição de subalternidade e traçar estudos sobre como os
discursos são construídos através dos contextos de produção, influenciados pelos
aspectos socioculturais e ideológicos. O objeto de pesquisa é o romance A Confissão da
Leoa, do autor moçambicano Mia Couto, no qual se fez um recorte nas vozes das
personagens Naftalinda, Mariamar e Hanifa Assulua, pretendendo assim fazer um
traçado de como essas vozes são construídas, como permeiam o ambiente em que estão
inseridas, como elas influenciam e são influenciadas pelos indivíduos a sua volta. A
metodologia deste estudo consiste em pesquisas bibliográficas acerca do contexto de
produção do romance, tomando por base a Crítica Feminista, os Estudos Culturais e
Pós-coloniais, além de estudos sobre o místico e a tradição dentro do contexto da
África. Os autores que embasam esta pesquisa são Orlandi (1999), Zilberman (1999),

115
Said (1995), Stuart Hall (1999), entre outros. Vale ressaltar que a pesquisa pretende
estudar as vozes femininas e como o caráter místico e religioso contribui para se firmar
uma tradição e como esta tradição se incide sobre os indivíduos subalternizados (as
mulheres), a fim de demonstrar que, apesar de se buscarem “motivações” para o
silenciamento, as vozes femininas não estão dispostas a sussurrar no anonimato.
Palavras-chave: Silenciamento; misticismo e religiosidade; vozes femininas.

O BILDUNGSROMAN FEMININO NEGRO: DOIS EXEMPLOS


CONTEMPORÂNEOS.
Maria Tereza Costa de Azevedo (UFPA)
Resumo: A presente pesquisa em andamento tem como objetivo analisar duas obras da
literatura feminina: Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie e Ponciá Vicêncio de
Conceição Evaristo. Dois romances que narram experiências de personagens em
formação, em diferentes cenários e com semelhantes impedimentos por se tratar de
leituras que trazem o protagonismo feminino e negro. A fim de analisar as obras,
faremos a comparação dos dois romances com intuito de constatar as interseções e
divergências para levantar a hipótese de as duas narrativas serem consideradas
Bildungsroman (Romance de formação) feminino e negro, buscando entender o
percurso da apropriação do termo alemão do século XVIII em que concerne o gênero
literário e a possibilidade de acomodar o conceito como classificação destes romances
contemporâneos. No intuito de aproximar a discussão sobre o gênero literário para os
dias atuais, nos guiaremos pelas propostas de Cristina Ferreira Pinto em sua obra O
Bildungsroman Feminino: Quatro Exemplos Brasileiros e também pelas considerações
de Wilma Maas em O Cânone Mínimo: o Bildungsroman na História da Literatura.
Palavras-chave: Bildungsroman, Literatura Comparada, Protagonismo Feminino
Negro.

MOVIMENTO CAPOEIRA MULHER: SABERES ANCESTRAIS E A PRÁXIS


FEMINISTA NO SÉCULO XXI EM BELÉM DO PARÁ
Maria Zeneide Gomes da Silva (SEDUC)
Resumo: Esta comunicação visa apresentar o estudo para dissertação, realizado no
Programa de Mestrado em Educação e Cultura - PPGEDUC da Universidade Federal do
Pará, campus do Tocantins – Cametá na Linha de Pesquisa Educação Cultura e
Linguagem. Com a finalidade de discutir a identidade de gênero nas rodas de capoeira
em Belém/Pa, tratada em nível do Movimento Capoeira Mulher, coletivo social de
mulheres capoeiristas procedentes de vários grupos/associações de capoeira, em atuação
na cidade Belém do Pará, meu lócus de pesquisa. É neste cenário, que enquanto
intelectual negra, com engajamento político e acadêmico, na luta antirracista e
antimachista, articulo minhas vivências empíricas e científicas, em parceria com esse
coletivo social para dar visibilidade as subjetividades, desigualdades, silenciamentos e
omissões vivenciadas pelas mulheres capoeiristas, para entender – Quais são as
experiências de resistências sociais, políticas e pedagógicas, que as mulheres utilizam
para construção de suas identidades, em movimentos, nas periferias urbanas da grande

116
Belém, ao partilharem uma prática cultural comum, a capoeira, e como, seus saberes e
experiências podem contribuir para repensar outras epistemologias para a educação na
Amazônia Paraense. Quanto aos procedimentos metodológicos da pesquisa participante
e a observação etnográfica tradicional e digital. Ressaltando meu engajamento e
interação com o coletivo social, visando descrever e interpretar os dados coletados em
campo. Considerando o ethos da capoeira no processo de análise, pois fazem parte do
universo cultural e simbólico, do cotidiano dos sujeitos investigados, enquanto
elementos para repensar valores culturais e educacionais hegemônicos, que sedimentam
o sexismo e o machismo na sociedade brasileira. Os resultados percebidos, apontam
para uma tomada de consciência política das mulheres capoeiristas, para o papel
dinamizador das rodas de capoeira, bem como, para o fomento da capoeira como
expressão cultural afro-brasileira, que acolhe e promove identidades sociais, crenças e
valores, na perspectiva de repensar outras epistemologias para a educação na Amazônia
Paraense.
Palavras-chave: Capoeira. Gênero. Mulher. Resistencia. Educação contra-hegemônica.

O INTERNATO SALEM HOUSE: OS EFEITOS DAS INSTITUIÇÕES TOTAIS


NA PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM DAVID COPPERFIELD, DE
CHARLES DICKENS
Mario Douglas Teixeira Bentes (UFAM)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar as representações das instituições
totais propostas por Erving Goffman na obra David Copperfield, de Charles Dickens. O
internato Salem House é um ambiente que pode ser caracterizado como “instituição
total”. Com base nas palavras de Goffman (2010), as instituições que abrigam um
número considerável de indivíduos, num regime de estudo ou trabalho, isolado da
sociedade, de forma reclusa e controlada podem ser consideradas totais. O internato
onde os meninos experimentam determinadas situações é regido pelo diretor que
representa a voz de autoridade que perpetua uma cadeia de valores morais, com vistas a
formar as identidades dos internos dentro de moldes pré-estabelecidos. Sendo assim,
podemos colocar a voz regente das instituições como propagadora dos dispositivos
sociais externos ao ambiente de reclusão social. Pensamos então que o internato acaba
por corroborar a formação de sujeitos, uma vez que o observamos como uma instituição
total, que despoja seus membros das concepções advindas da sociedade externa. Como
observamos no pensamento de Philippe Ariès (2017), a criança, ao ingressar na escola,
torna-se adulto. Dessa maneira, percebemos que o internato corrobora uma serie de
desprendimentos da vida exterior. David, ao chegar ao colégio, se vê despido de sua
idade pueril, de sua condição social, da diferença de idade entre ele e seus colegas,
colocando-se como parte do corpo disciplinado e unificado do internato. Desencadeia-se
dessa maneira a “carreira moral” vivida pelos internos (GOFFMAN, 2010, p. 111).
Percebemos assim que a formação dos sujeitos nesses ambientes, muitas das vezes,
hostis, tem como consequência uma série de marcas que se perpetuam para além do
ambiente institucional.
Palavras-chave: Instituições Totais, Internato, Subjetividade, David Copperfield.

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IMAGENS DO SAGRADO EM A DURAÇÃO DO DIA, DE ADÉLIA PRADO, E
EM O BÚZIO DE CÓS E OUTROS POEMAS, DE SOPHIA DE MELLO
BRYNER ANDRESEN
Marta Botelho Lira (UFAM)
Resumo: Esta comunicação livre tem o propósito de comparar os elementos do sagrado
nos poemas A postulante, de Adélia Prado, do livro A duração do dia, e Deus escreve
direito, de Sophia de Mello Breyner Andresen, do livro O Búzio de Cós e outros
poemas. Enquanto a poetisa portuguesa publicou sua obra a partir da década de quarenta
do século XX, época marcada pela Guerra Fria, a poetisa brasileira publica sua obra a
partir da década de setenta, época de manifestações por liberdades políticas e sociais. O
suporte teórico consiste nas obras O Sagrado, de Rudolf Otto e O Homem e o sagrado,
de Roger Caillois. Os dois poemas serão analisados sob o viés da crítica literária
comparada, baseada nos textos de Pierre Brunel, “A literatura comparada’ e “O facto
comparatista”. A presente comunicação corresponde a parte do resultado da
investigação registrada no Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica -
PIBIC, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no qual sou bolsista do CNPq,
e está cadastrado no Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa
– GEPELIP, na linha de pesquisa Poesia em Língua Portuguesa.
Palavras-chave: sagrado; literatura comparada; poesia do século XX

NHÁ BENEDITA DE DALCÍDIO JURANDIR E HORTÊNCIA DE MARQUES


DE CARVALHO: UMA COMPARAÇÃO DE MULHERES NEGRAS NA
LITERATURA AMAZÔNICA
Mayara Cristiny Souza Martins Rodrigues (UFPA)
Resumo: Este presente artigo é fruto da disciplina Literatura Comparada, vinculado ao
Programa de mestrado em Estudos literários, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Essa pesquisa tem como objetivo interpretar as personagens Nhá Benedita do romance
Marajó (1947) de Dalcídio Jurandir e Hortência do livro homônimo de Marques de
Carvalho (1888). Para tanto, a metodologia utilizada será a teórico-interpretativa dos
estudos de cultura e identidade, com os autores Bernd (2013), Carvalhal (2006) e
Machado e Pageau (2001), para se compreender a abordagem utilizada na interpretação
dos textos, enquanto Evaristo (2008) será necessária no que se refere a entender a
perspectiva das imagens das mulheres negras na Literatura brasileira. Nos romances
citados, irei considerar as duas personagens negras que marcam os enredos: Nhá
Benedita, preta doceira, já senhora, conta histórias fictícias e da época de escravo,
aparece como uma Mãe-Preta, isto é, paciente, carinhosa e sempre acolhedora; enquanto
Hortência uma jovem mulher, aparece com uma bela encantadora, calma, sempre
prestativa e afável. Em ambas, podem-se identificar a figura do orixá Iemanjá a qual
será a metáfora usada para se costurar e dialogar essas figuras. Nesse sentido, Odayá ou
Iemanjá é orixá reverenciado pela nação Iorubá, ela representa a força, a beleza, a
maternidade e a vergonha, mora no fundo do mar. Ao final dessa leitura, possibilitará
vermos as representações dos negros em dois momentos literários, em que esses
diferentes olhares divulgam as diversas perspectivas na construção das identidades
negras da Amazônia. Assim com essa analogia de Iemanjá, comparo Hortência e Nhá
Benedita como herdeiras de Iemanjá, não faço referências a religiosidade de matriz

118
africana, o que interessará, na verdade, são traços e características que transitam e
direcionam o leitor a associá-las a essa deusa das águas salgadas.
Palavras-chave: Feminino, Nhá Benedita, Hortência, Negra, Identidade.

SOB A LUZ DA ESCURIDÃO: REPRESENTAÇÕES DE VIOLÊNCIA EM TRÊS


CONTOS DE MIA COUTO

Milton Fagundes da Silva (UFF)

Resumo: O presente trabalho tem como objeto de estudo a coletânea Cada homem é uma
raça: contos (2013), de Mia Couto, na qual o escritor tece os seus personagens sujeitos a
práticas de violência que corroem as suas relações sociais e afetivas. Em congruência ao título
que abraça as ficções, nota-se um desejo de compor narrativas que representam não uma
unidade africana, ou seja, uma identidade capaz de circunscrever a totalidade; antes, tem-se
uma inclinação ao desdobramento de múltiplas individualidades que, de algum modo, seja
capaz de trazer à tona uma questão frequente nas comunidades africanas: a degradação do
valor de muitas vidas. Intuitiva e inicialmente descarto a possibilidade de um conjunto de
ficções que pretenda, em primeira instância, denunciar as covardias ou de vitimar os
personagens, mas sim chamar atenção para os ciclos de violência que precisam ser rompidos
por meio da sugestão artística. Ao invés de simplesmente evidenciar o problema, Mia Couto
nos convida a pensar no que está por trás da violência e do discurso que alimenta essa prática.
Para tanto pretendo trabalhar com três contos: “O pescador cego”, “Rosa Caramela” e
“Rosalinda, a nenhuma”, atentando-me às representações de violência, duplamente como
prática e discurso. Pretendo refletir sobre o que está por trás do abandono, da rejeição, do
adultério, da conivência, da subalternidade, da vingança, da redenção, do arrependimento e,
até mesmo, do perdão.

Palavras-chave: Mia Couto, Contos, Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, Discurso,


Violência.

VERSÕES: CONTAR E MOSTRAR: "A HISTÓRIA DO MONSTRO KHÁTPY"

Nathália da Costa Cruz (UFPA/IFPA)

Resumo: "A história do monstro Khátpy" é um dos títulos que compõem a Coleção Um Dia
na Aldeia, livros-adaptações de seis curta-metragens filmados em diferentes comunidades
indígenas brasileiras. Nesse volume, chama-nos a atenção por trazer processos variados de
contação e mostragem de uma mesma narrativa tradicional do povo Kisêndjê. Desse modo, o
objetivo desta comunicação livre é apresentar os achados parciais da tese que investiga os
diferentes processos de criação das versões midiáticas - o filme (produzido por indígenas) e o
livro ilustrado (produzido por não indígenas) - tomando como instrução basilar as teorias
sobre adaptação.

Palavras-chave: Um Dia na Aldeia, "A história do monstro Khátpy", História Contada,


História Mostrada, Adaptação para a Literatura.

119
A FORTUNA CRÍTICA DO ESCRITOR PARAENSE ILDEFONSO
GUIMARÃES
Nellihany Dos Santos Soares (UNIFESSPA)
Resumo: Nosso objetivo é explicitar como a crítica recepcionou a obra do escritor
paraense Ildefonso Guimarães, englobando artigos de jornais e obras que constituem a
fortuna crítica do autor. Também é de nossa intenção apresentar o conto Linha do
Horizonte (objeto de análise em estudo), em que será feita a exposição dos elementos da
narrativa e também uma análise do elemento água. Para escrever sobre a recepção da
obra, adotamos uma sistemática que se inicia pelo delineamento dos caminhos literários
de Guimarães, apresentando alguns momentos de sua biografia, que estão relacionados
com tudo aquilo que escreveu até sua morte. Por ordem cronológica, destacamos as
obras do escritor e, paulatinamente à exposição da fortuna crítica, apresentaremos o
conto Linha do Horizonte de maneira pormenorizada. Este trabalho é resultado parcial
de pesquisa em andamento sobre a obra do referido escritor, e para tal foram
consultados autores como José Arthur Bogéa, Paulo Nunes, Jean Chevalier e Alain
Gheerbrant, Gilbert Durand, Afrânio Coutinho, entre outros. Os resultados até agora
levantados pela pesquisa bibliográfica apontam para a qualidade da escrita e literária do
autor, sobretudo quando se fala no gênero conto. Usa do vocábulo como um
instrumento de criatividade imagético-processional com que subverte o ato institucional
de descrever e de narrar. Sua crítica social se faz à intensa psicologia de tipos e de
personagens. A simbologia da água permite uma pluralidade de interpretações.
BOGÉA, J. A. ABC de Ildefonso Guimarães. Belém, EDTUFPA, 1989. CHEVALIER,
Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionários de Símbolos. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2003. COUTINHO, A. A Literatura no Brasil. 3ª edição. José Olympio,1986.
DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropológicas do Imaginário. São Paulo: Martins
Fontes, 1997. GUIMARÃES,I. Senda Bruta. Belém: Falangola,1965. _____________
Contos Recontados. Belém: CEJUP,1990. NUNES, Paulo. Contribuições para
Conceituação e Caracterização da Literatura Amazônica. Belém: Editora Unama, 1998.
Palavras-chave: FORTUNA CRÍTICA, ILDEFONSO GUIMARÃES, ÁGUA

O LUGAR DO MAL NOS MITOS INDÍGENAS


Rafaella Dias Fernandez (UFPA)
Resumo: As produções artísticas indígenas ganham cada vez mais espaço no campo
literário, pois atualmente há diversas obras dentro da literatura que tratam da mitologia,
dos costumes e do cotidiano indígena. O contato com as atividades criativas indígenas
pode ser pensado como fonte de renovação estética literária, porém, para além desta
premissa, é fundamental notar que tais produções, que antigamente eram de uso
praticamente restrito a antropólogos, etnólogos e lingüistas, tem atraído a atenção de
poetas e escritores. Este fato ratifica essas produções como manifestações literárias, não
somente como dados etnográficos ou antropológicos. Dentre as diversas produções
existentes, trabalharemos com duas obras: o livro da antropóloga Betty Mindlin,
Moqueca de Maridos – mitos eróticos indígenas (2014) e Meu destino é ser onça
(2009), do escritor Alberto Mussa. A proposta desta pesquisa é refletir sobre a aparição
do mal em tais obras, pois nos mitos colhidos por Mindlin, há relatos de tortura,
vingança, autofagia, antropofagia. No livro de Mussa, aparece também o mal como
propósito norteador, pois a mitologia tupinambá propõe que a única forma de atingir a

120
Terra-sem-Mal – lugar almejado pela comunidade - é por meio da vingança e
antropofagia. Assim, é possível pensar que essas imagens de violência exacerbada
revelam que o mal norteia a vida na comunidade indígena. De acordo com os
antropólogos Manuela Carneiro Leão e Eduardo Viveiros de Castro, no artigo Vingança
e Temporalidade: Os Tupinambás (1985), a vingança é um tema constante para a
comunidade indígena, não somente para os tupinambás, mas ela perpassa várias etnias.
Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é propor que a presença do mal ronda a
vida nas comunidades, principalmente a antropofagia, visto que este ato geralmente
completa o sentido da vingança e este sentimento ajuda a construir a sociedade
indígena.
Palavras-chave: Mal, Vingança, Antropofagia.

ELEMENTOS ÓRFICOS NA POESIA DE EMPÉDOCLES


Rafael César Pitt (UNESP)
Resumo: Esta comunicação contém os resultados parciais de pesquisa de doutoramento
em Estudos Literários realizada através do Dinter Unesp-Araraquara/Unifap. Esta
pesquisa tem o objetivo de reconhecer a influência da literatura órfica na concepção
cosmológica do poeta Empédocles de Agrigento. Mais especificamente, busca delinear
na relação Uno/Múltiplo da poesia empedocleana elementos teogônicos, filosóficos e
literários oriundos do orfismo. A fundamentação teórica assumida é composta dos
trabalhos filológicos disponíveis atualmente acerca dos papiros e artefatos
arqueológicos, principalmente aqueles organizados por Alberto Bernabé. A reunião
crítica mais importante dos poemas órficos está feita por M. L. West. E para o texto de
Empédocles utilizaremos a versão estabelecida por Diels e Kranz. Nossa metodologia é
a leitura e a análise do material selecionado, seguindo as pistas linguísticas, filológicas,
filosóficas, literárias e míticas dos textos/autores envolvidos. Nossos resultados parciais
são a identificação de caracteres épicos – de linhagem hesiódica - no texto
empedocleano, apresentados pelo jogo/pugna de forças cósmicas na relação
Uno/Múltiplo; o encontro com uma narrativa implícita no texto empedocleano que
remete a uma teogonia órfica e que nutre, como solo mais profundo, suas raízes
filosóficas e esotéricas. Nossas principais referências bibliográficas, além dos nomes já
citados, são Heroic Poetry de C. M. Bowra, Mitologia Grega de J. de S. Brandão,
Dicionário de Mitos Literários de P. Brunel, O Pitagorismo como Categoria
Historiográfica de G. Cornelli, Teogonia de Hesíodo, La Teologia de los Primeros
Filosofos Griegos de W. Jaeger, História das Crenças e das Ideias Religiosas de M.
Eliade, De la Religion a la Filosofia de F. M. Cornford, Introduction à l’ancienne
physique de J. Bollack dentre outros.
Palavras-chave: Orfismo, Empédocles, Uno/Múltiplo.

AS PERSONAGENS FEMININAS NO ROMANCE EU RECEBERIA AS


PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS, DE MARÇAL AQUINO:
ENTRE A VIOLÊNCIA E A RESISTÊNCIA
Rebeca Freire Furtado (UFPA)

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Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar de que forma as personagens
femininas são apresentadas pelo narrador no romance contemporâneo Eu receberia as
piores notícias dos seus lindos lábios (2005), do escritor paulistano Marçal Aquino
(1958). A narrativa é ambientada em uma cidadezinha em pleno ciclo do ouro, no
estado do Pará, marcada pela violência e desigualdade social entre homens e mulheres.
Sob o olhar de um narrador em primeira pessoa, homem, que possui um grau de
instrução elevado e que detém maior poder e relevância social, observaremos qual
posição a figura feminina ocupa na narrativa: seja personagem secundária, tendo sua
história revelada apenas pela metade e levando o leitor a preencher as suas lacunas; ou
protagonista, mas sendo apresentada de forma sexual e objetificada. As personagens
estudadas nos possibilitam enxergar o longo caminho que as mulheres trilham, embora
com marcas físicas e psicológicas, para resistir e (sobre)viver. Com esse trabalho,
pretendemos apresentar os resultados de uma pesquisa concluída na academia, que teve
como alicerce um núcleo central de teóricos para que chegássemos às nossas
conclusões, sendo eles Karl Erik Schøllhammer (2009), Beatriz Resende (2008),
Theodor Adorno (2003), Regina Dalcastagnè (2001/2005), Antonio Candido (2011),
Cíntia Schwantes (2006) e Simone de Beauvoir (2016).
Palavras-chave: Personagens femininas, Narrador, Literatura brasileira contemporânea.

A FIGURA FEMININA NO SÉCULO XIX: UM ESTUDO COMPARATIVO


ENTRE ELINOR E MARIANNE DASHWOOD EM RAZÃO E
SENSIBILIDADE DE JANE AUSTEN
Rebecca Falcão Serrão (UFPA)
Resumo: Estudos importantes sobre literatura como os de Stheir (1986), Steinbach
(2004) e Wollstonecraft (2014), mais relacionados aos padrões sociais vigentes no
século XIX e à figura da mulher nesse período, se tornam relevantes para o
desenvolvimento dessa pesquisa, que objetiva analisar o comportamento social das
personagens centrais Elinor e Marianne Dashwood do livro Sense and Sensibility
(1811), escrito por Jane Austen. Esta pesquisa busca contribuições relevantes para a
compreensão do contexto social no período em questão, abordando a educação
fornecida às mulheres no século XIX com a finalidade de mostrar como essa
circunstância pode ter influenciado o papel da mulher na sociedade inglesa, analisando a
figura feminina, bem como a tendência feminista da autora da obra, através de um
estudo comparativo das personagens, o qual está fundamentado em uma pesquisa
bibliográfica. Serão apresentados os elementos teóricos essenciais para a análise
realizada nessa pesquisa. Em sequência, a análise das personagens através citações da
obra literária. Os resultados parciais da análise permitem identificar as características
das personagens, evidenciando assim o contraste entre elas e a sensível mudança de
comportamento ocorrida durante a narrativa.
Palavras-chave: Análise das personagens, sociedade inglesa do século XIX,
comportamento feminino.

A LEITORA E O VIAJANTE

Rita de Cássia Almeida Silva (UEPA)

122
Resumo: Este trabalho apresenta insights de leituras de obras de natureza diversa. A primeira
delas, o romance de Italo Calvino Se um viajante numa noite de inverno (1994), e a segunda o
filme de Michel Deville, La Lectrice (1988). Ambos tratam do Leitor/Leitora e da recepção
do texto efetuada em diversos níveis e formas. Serão ressaltados, no decorrer do artigo, os
pontos mais relevantes para a análise comparativa entre o filme e o texto anteriormente
citados, considerando o contexto em que foram criados. A análise tomou como base teórica os
estudos de BAKHTIN/VOLOSHINOV (1990), BAKHTIN (1993), BENVENISTE (1989),
BRAIT (2012 e 2015), ECO (1979), ISER (1995), PECHEAUX (1975) e TODOROV
(2014). A conclusão irá verificar a importância de uma análise de textos diversos sob o prisma
da análise comparativa e da estética da recepção.

Palavras-Chave: Leitor(a), Estética da recepção, análise comparativa.

DE COMO O MOSQUITO DA MALÁRIA SE TORNA O HERÓI DA


ECOLOGIA NA AMAZÔNIA RORAIMENSE
Roberto Mibielli (UFRR)
Resumo: A Amazônia possui mistérios que o próprio discurso do exotismo desconhece.
Dentre eles, em um rincão dos mais esquecidos e menos similares à ideia geral do que
seja a Amazônia (no imaginário da maioria da população mundial), reside um discurso
ímpar, que contribui para a falta de educação ecológica de nossa população amazônida:
o discurso de/da fartura. É que a mata infinita, os recursos hídricos aparentemente
intermináveis suscitam na população menos esclarecida, a partir de uma larga tradição
de mitos e lendas (dentre eles o próprio mito da Wasaká, entre os Pemón da fronteira da
Venezuela e do Brasil), a impressão de que mesmo que se polua, mesmo que se
desmate, sempre haverá mata, sempre haverá fartura de caça e pesca, contrariando todo
e qualquer discurso de defesa do meio ambiente. É pois, a partir do imaginário
suscitado, tanto pelas tradições orais em suas narrativas míticas, quanto pela própria
literatura livresca, assim como pela música e poesia, que, em Roraima, destacamos o
exemplo de como essa imagem se constrói e de como é preciso, as vezes ironicamente,
como o faz o poeta Eliakin Rufino em sua música Mosquito da Malária, rebater esse
discurso de fartura, para que vigore o da preservação. No trabalho em tela analisamos,
além da poesia que dá origem à música, trechos de lendas como o da Wasaká (árvore da
vida) e de obras literárias como Inferno Verde e outras que descrevem a Amazônia e
fomentam esta imagem de fartura.
Palavras-chave: Literatura e ecologia na Amazônia, mitos e lendas, Mosquito da
Malária

OS ASPECTOS DA VIOLÊNCIA E DA RESISTÊNCIA NA CONTÍSTICA SUL-


AMERICANA.
Rosalia Albuquerque (UFPA)
Resumo: Este trabalho estudará a violência e a resistência, na contística sul-americana,
na produção dos autores argentinos Julio Cortázar e Silvina Ocampo. Nessa perspectiva,
por meio de um estudo comparado pretendemos debater os vínculos existentes entre as
obras desses autores e efeitos das ditaduras que ocorreram na América do Sul,

123
considerando que há diversas maneiras de violações e varias formas de resistir a elas.
Ressaltamos que as obras mesmo não estando ligadas diretamente às ditaduras, possuem
aspectos ideológicos característicos desse período. Nesse sentido, nos empenharemos
principalmente a pensar a espetacularização violência e resistência nos contos, presentes
em Bestiário e Los Dias de la Noche. Para tanto, desenvolveremos estudos
bibliográficos de teóricos como Walter Benjamin (1986) e Maurice Halbwachs (1968).
Palavras-chave: Violência, Resistência, Espetacularização.

CONTOS AMAZÔNICOS, DE INGLÊS DE SOUSA: ALGUMAS


CONSIDERAÇÕES
Rossana Rossigali (Universidade do Contestado)
Resumo: O objetivo precípuo do presente trabalho é deslindar a seguinte questão: a
obra "Contos amazônicos", de Inglês de Sousa, é regional ou regionalista? A fim de
atingir tal propósito, os estudos de Pedro Barcia (2004) constituem-se na linha
condutora da investigação. Para tanto, mister se faz esboçar uma visão geral do livro,
para que se tenha um rol de elementos que possibilitem proceder a essa classificação.
Em alguns contos, como "Voluntário" e "O donativo do Capitão Silvestre", torna-se
necessário complementar essa visão geral com informações históricas, recorrendo-se a
autores como Boris Fausto (1995) e Arthur Cézar Ferreira Reis (1995). Procura-se
trabalhar, assim, na perspectiva de Ria Lemaire e Edgar de Decca (2000), aliando a
literatura à história. A análise das mencionadas referências permitiu a conclusão de que
a obra é regional. Adite-se, ainda, que esta pesquisa foi realizada em 2016, como
requisito parcial para aprovação na disciplina “Literatura e Regionalidade”, do
Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Palavras-chave: Contos amazônicos, Inglês de Sousa, literatura regional/regionalista,
região.

“O BAILE DO JUDEU”: O ASPECTO PUNITIVO DA MITOLOGIA


AMAZÔNICA NO CONTO DE INGLÊS DE SOUSA
Ruth de Jesus Ramos (UFRA)
Mayrla Freitas da Silva (UFRA)
Resumo: O trabalho tem como objetivo analisar o aspecto punitivo da mitologia
amazônica presente no conto de Inglês de Sousa, “O baile do Judeu”, um dos mais
importantes escritores da Literatura da Amazônia. Em suas obra “Contos Amazônicos”,
publicado em 1893, Inglês de Sousa apresenta aspectos da mitologia amazônica, os
quais muitas vezes surgem sob a estética do terror e do maravilhoso, convertidos em
narrativas que trazem o castigo como traço do mítico. Mircea Eliade (1994) considera o
mito como história sagrada atravessada pelo imaginário e pela realidade. Já Paes
Loureiro (2015), afirma que uma das identidades da cultura amazônica é a convivência
com o sobrenatural. A narrativa do boto reflete um amor encantado, pois não possui

124
antes nem depois, como um amor de perdição. Levantamos nesta pesquisa a principal
questão: Como a ideia de punição da mitologia amazônica é representada no conto “O
baile do Judeu”? O conto “O baile do Judeu” é versão da narrativa do boto, em que um
homem encantado seduz uma mulher em uma festa à beira do rio. A reescrita deste mito
na poética de Inglês de Sousa traz o espaço do “baile” para a casa de um judeu. Desse
modo, a mitologia amazônica está representada e carregada de aspectos punitivos,
através de atos seguidos de consequências, pois a morte surge como castigo às
personagens que desafiam o sagrado. Os elementos míticos compõem este conto
amazônico, permeando do sobrenatural a narrativa.
Palavras-chave: Mitologia amazônica, O baile do judeu, Inglês de Sousa.

A PARANORMALIDADE COMO UM JOGO DE FICÇÃO E REALIDADE: ED


E LORRAINE WARREN ENTRE AS ARTES
Sandra dos Santos Vitoriano Barros (UnB)
Resumo: Objetiva-se, com base nas teorias interartes, traçar alguns paralelos entre os
estudos de paranormalidade, em sua perspectiva literária, com alguns aspectos de outras
artes que reforçam e ampliam as possibilidades artísticas de tal discurso. A demonologia
é uma abordagem que liga investigação religiosa e científica, com especial foco na visão
de mundo do cristianismo. O lastro acadêmico desse campo parece ser pouco debatido
fora dos muros do Vaticano. No fluxo inverso a esse natural hermetismo do campo
demonológico, o casal Ed e Lorraine Warren, fundadores do New England Society for
Psychic Research em 1952, conquistaram grande notoriedade midiática e também
respeitabilidade entre os estudiosos acadêmicos da paranormalidade nos anos de 1970
em diante, chegando a atuar em grupo de pesquisas e realizando palestras em
universidades de prestígio. Participaram de inúmeras e aludidas possessões demoníacas
na Inglaterra e Estados Unidos. As investigações mais conhecidas dos Warren foram:
Annabelle (1968), A família Perron (1971), Amityville (1976), Enfield Poltergeist (final
dos anos de 1970), The Haunting in Connecticut (1986). Reflexo desses casos de pendor
paranormal empreendidos pelo casal Warren, fora a expressiva e popular produção de
filmes sobre estes eventos por eles acompanhados. Entre os vários filmes realizados,
focaremos nossa atenção para The Conjuring I (2013) e II (2016), com vistas a
examinar o duplo tratamento ficcional e documental presentes tanto nos filmes
supramencionados, quanto no livro The Demonologist: The Extraordinary Career of Ed
and Lorraine Warren de Gerald Brittle (1980/2002), buscando entender o caráter
potencialmente híbrido desses discursos, que com tal proceder, parecem tentar obter
adesão do maior número de espectadores e leitores, ávidos tanto de respostas “realistas”
quanto de uma leitura ficcionalizada dessa “realidade” (em termos ontológicos), que
vem a ser o sobrenatural no imaginário cristão.
Palavras-chave: Paranormalidade, Ficção, Realidade.

LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA E A ESCRITA


FEMININA: BREVES NOTAS
Sandra Maria Job (UFPA)

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Resumo: Para se chegar às ditas literaturas africanas em língua portuguesa de Angola,
Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde elas passaram, cada
uma com suas especificidades, por um caminho que, para alguns críticos como Manuel
Ferreira e Patrick Chabal, por exemplo, são similares. Nesse sentido, para Chabal
(1994), por exemplo, todas estas literaturas passaram pelas fases de assimilação,
resistência, afirmação e consolidação. Neste contexto, o objetivo deste trabalho e
discorrer sobre essa similaridades, trazendo, na medida do possível, exemplos de
literatura que podem ser enquadradas nas fases citadas. Além disso, tem como proposta
analisar e caracterizar a que fase se enquadra a escrita feminina, em específico de Ana
Paula Tavares (Angola), Odete Semedo (Guiné-Bissau) e Paulina Chiziane
(Moçambique). Parte, para isso, de uma pesquisa de cunho bibliográfico (CHABAL,
1994; CÉSAIRE e MOORE, 2010; FEIJÓ, 1998) que constatou, entre outros aspectos,
um significativo rasgo de caráter feminino/feminista nas suas escritas, com abordagens
linguísticas e de gênero muito particulares.
Palavras-chave: Literaturas africanas em L.P.. Escrita feminina. Feminismo.

DIREITO ANIMAL, LITERATURA INFANTOJUVENIL E MITO: UMA


LEITURA DE SANDMAN, DE NEIL GAIMAN.
Sarah Maria Borges Carneiro (UFC)
Resumo: O objetivo do presente trabalho, parte da pesquisa de doutorado em
desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFC, é analisar de que
maneira as representações dos personagens não-humanos na obra de Neil Gaiman
questionam o direito animal, não apenas no que concerne às leis, mas também no que
diz respeito às justificativas formuladas pelo homem ao longo da história para garantir a
si mesmo um lugar privilegiado no mundo, acima dos animais e da própria natureza.
Nesse contexto, Gaiman ocupa um papel de grande importância, uma vez que sua obra é
permeada por narrativas míticas que valorizam o animal. Desde o sucesso inaugural da
série de HQs Sandman, publicada a partir do final dos anos 80, Gaiman tem conquistado
maior prestígio e popularidade, o que o ajudou a chamar atenção para mídias
consideradas menos rebuscadas pelo cânone até então, como os quadrinhos. Fazer um
apanhado das narrativas da série Sandman revela-se pertinente para que possamos
compreender as tentativas de sondagem da outridade animal. Além disso, a obra em
questão contribui para desestabilizar as fronteiras do próprio conceito de literatura, pois
rendeu ao autor, em 1991, o prêmio literário World Fantasy Award, nunca antes
concedido a uma HQ. Partimos da hipótese de que o contato do jovem leitor com os
animais de Gaiman contribuiria para uma tomada de consciência dos direitos dos não-
humanos, possibilitando que o respeito e a valorização da natureza não sejam motivados
apenas em termos de sua utilidade para nós, mas pelos valores e saberes intrínsecos a
própria natureza. Para tanto, nos fundamentaremos nas obras de Montaigne (1987),
Eisner (1989) Berger (1980) e Derridas (1997), Garrard (2006), Jung (2008), Hunt
(2010), Groensteen (2015), assim como nas obras de Maria Esther Maciel sobre
Literatura e animalidade (2011; 2016) e no estudo de Rossi sobre Direitos dos Animais
(2016).
Palavras-chave: Literatura infantojuvenil, mito, direito animal, Neil Gaiman, Sandman

126
MÁRIO, O TURISTA APRENDIZ (OU MACUNAÍMA E A UTOPIA
AMAZÔNICA)
Sheila Praxedes Pereira Campos (UFRR)
Resumo: “Quanto a este mundo de águas é o que não se imagina. A gente pode ler toda
a literatura provocada por ele e ver todas as fotografias que ele revelou, se não viu, não
pode perceber o que é.” É com esta afirmação feita por Mário de Andrade ao amigo
Manuel Bandeira (carta de junho/1927) que alguns pontos nos são revelados para
entendermos como “A Amazônia, tesouro e mito de gabinete, passa a mito e utopia na
obra”, conforme evidencia a professora Telê Ancona Lopez ao fazer referência à
construção de Macunaíma a partir das anotações feitas por Mário em seus diários de
Turista Aprendiz. Essa “utopia amazônica” que é capaz de seduzir o intelectual
modernista nos serve de guia para perceber como a condição de estar lá (o “being there”
de que fala criticamente Clifford Geertz) traz à tona uma Amazônia (real?) cuja
contemplação repercute fortemente na criação do artista Mário. Nessa mesma carta, o
desabafo ao amigo Bandeira: “Desta vez não percebo nada. O êxtase vai me abatendo
cada vez mais. Me entreguei a uma volúpia que nunca possuí à contemplação destas
coisas, e não tenho por isso o mínimo controle sobre mim mesmo.” Essa ausência de
controle provocada pela contemplação, “sem pensamentear” (Turista Aprendiz,
31/05/1927), dessa Amazônia até então conhecida de “ouvir falar” é, de certa, maneira,
a hipérbole encontrada para definir como as “águas do túrbido Amazonas, meu outro
sinal” (“Meditação sobre o Tietê”) deságuam no Mário que, com a “função de colhedor
de coisas da nossa gente” (Diário Nacional, 11/09/1932), passa a usufruir da “evidência
do mundo que viajou” (DN, 05/12/1929). Recorte de uma discussão sobre Mário e o
making off de Macunaíma, na tese em andamento com orientação do professor José
Luís Jobim, essa comunicação propõe discutir como Mário foi sugestionado pela
“utopia amazônica”.
Palavras-chave: Mário de Andrade, Utopia Amazônica, Turista Aprendiz, Macunaíma.

O VERSO LIVRE DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: UMA ANÁLISE


À LUZ DA PROSA RÍTMICA CLÁSSICA
Sindia Lena Rocha de Siqueira (UEAM)
Resumo: Acreditamos que investigar mais profundamente o pensamento greco-romano
clássico resulta, por vezes, em um encontro com ideias consideradas inovadoras,
próprias da Modernidade. Tendo isso em mente, este trabalho, que é resultado parcial de
nossa pesquisa, busca, através das proposições antigas acerca do ritmo na prosa, em
especial da obra que apresenta as bases para a oratio numerosa (prosa rítmica), o Orator
(46 a.C.), de Cícero (106-43 a. C.), compreender de que maneira os recursos rítmicos,
da forma que são estabelecidos pelos autores gregos e romanos, no conjunto dos
procedimentos metodológicos da retórica clássica, colaboram com o efeito estético dos
versos livres de Drummond. Acontece que a prosa rítmica, no contexto clássico, refere-
se à estilização do discurso oratório, e esse trabalho, em nosso entendimento, é muito
semelhante ao reservado ao verso livre, uma vez que os elementos preconizados pelos
antigos, como as figuras e os jogos de palavras, podem ser aplicados no verso livre. De
viés estilístico, nossa preocupação, então, encontra-se centralizada na análise do ritmo
da poesia drummondiana a partir de um específico vínculo com o que foi produzido

127
sobre a elaboração do discurso oratório no contexto da retórica greco-romana. Assim,
realizaremos uma leitura de alguns versos livres de Drummond presentes nas obras As
Impurezas do Branco (1973), Corpo (1984) e Discurso de Primavera e Algumas
Sombras (1977), buscando analisar os efeitos estéticos dos elementos rítmicos
recorrentes. Com base nas leituras já realizadas, concluímos que tais elementos são
frequentes e remontam a certos preceitos dos antigos gregos e romanos acerca do ritmo
em textos artísticos não metrificados.
Palavras-chave: Prosa rítmica, retórica, verso livre

ANTONIO MARIA PEREIRA E A CONSTITUIÇÃO DO ACERVO


PORTUGUÊS NA BIBLIOTECA FRAN PAXECO
Stéfani Lobo Dutra (UFPA)
Resumo: No período de forte influência da Belle Époque, Belém apresentava um
cenário de reurbanização, transformação social, cultural e necessidade de ampliação dos
conhecimentos populacionais, ou seja, um avanço intelectual. Surge, em 1867, O
Grêmio Litterario e Commercial Portuguez, e, no mesmo ano a biblioteca Fran Paxeco,
que segundo Eugenio Leitão de Brito, em História do Grêmio Literário e Recreativo
Português (1994), estava sendo criada com o intuito de instruir a população e difundir a
leitura. Para tanto, a constituição do acervo bibliotecário deu-se através da
comercialização e/ou doações de obras para o espaço realizadas por livreiros e membros
da diretoria, vale ressaltar, e este é o objeto deste trabalho, a figura do Sr. Antonio
Maria Pereira, livreiro português, proprietário da A. M. Pereira Editora, e que foi
designado para o encargo de remetente de livros de Portugal para Belém pelo próprio
diretor da associação no século XIX, averiguando a sua importância e a dos livros
remetidos por ele. A metodologia da pesquisa consiste na transcrição e leitura de
registros fiscais contendo a correspondências e as faturas dos Senhores Diretores e do
livreiro. Convém destacar a relevância deste trabalho, haja vista que explana sobre quais
obras e como ocorreu a difusão da cultura letrada em Belém, além de evidenciar o
interesse populacional nessas obras remetidas.
Palavras-chave: Belém oitocentista, comércio livreiro, Antônio Maria Pereira

O EROTISMO EM A CIDADE ILHADA, DE MILTON HATOUM


Suzanne Modesto Souza Bindá (UFAM)
Resumo: Em 2009 Milton Assi Hatoum publicou o livro A Cidade Ilhada,
consagrando-se oficialmente como contista. A obra reúne textos que mostram leveza e
lirismo, diferenciando-se dos outros livros publicados do autor muito mais pelo formato
de narrativa breve e pelo humor que pelos dois traços também presentes em suas
narrativas de ficção. Esta comunicação livre possui o propósito de investigar o erotismo
poético no conto “Encontros na Península” do citado livro, empregando por fundamento
as discussões sobre a teoria do conto apresentadas por André Jolles, Massaud Moisés e

128
Ricardo Piglia, bem como as ideias sobre o erotismo constantes no livro O Erotismo, de
Georges Bataille. O estudo que gerou esta comunicação é resultado parcial de pesquisa
aprovada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade
Federal do Amazonas em 2018, e está vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em
Literaturas de Língua Portuguesa – GEPELIP, na linha de pesquisa prosa de ficção.
Palavras-chave: O erotismo, a cidade ilhada, Milton Hatoum

OURO PRETO: MODERNISMO, IDENTIDADE E PRESERVAÇÃO


Tainara Dantas da Silva (UNIFESSPA)
Resumo: O presente trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica já
finalizada e objetiva apresentar uma breve discussão acerca da relação existente entre
literatura e sociedade na visão do historiador e crítico Antonio Candido. A partir disso,
mostrar como o contexto social influenciou as produções literárias no período do
Modernismo brasileiro, mais especificamente a representação da cidade de Ouro Preto
como um símbolo da identidade genuinamente brasileira e a necessidade de preservação
desta identidade. Como aporte teórico para o trabalho, foram escolhidos os trabalhos de
Candido (2010), Hall (2015), Gouvêa (2008), para esta análise foram escolhidos o
poema “Acalanto de Ouro Preto”, da obra Contemplação de Ouro Preto, de Murilo
Mendes e a crônica “Por amor a Ouro Preto”, do livro Crônicas de Viagem, de Cecília
Meireles.
Palavras-chave: Modernismo, Identidade, Cecília Meireles, Murilo Mendes.

FICÇÃO INGLESA FEMININA NO ACERVO DO GRÊMIO LITERÁRIO


PORTUGUÊS DO PARÁ
Tassiane Andreza Damião dos Santos (UFPA)
Resumo: A presente comunicação faz parte do projeto de pesquisa Prosa de ficção
britânica no Grêmio Literário Português do Pará: autores, obras e agentes editoriais e
tem como finalidade apresentar uma parte dos resultados obtidos em pesquisa
exploratória de fontes primárias realizada no acervo da biblioteca Fran Paxeco do
Grêmio Literário. Após o término da coleta de fontes no acervo do Grêmio Literário
Português do Pará, pôde-se então reunir todas as informações acerca dos autores e dos
agentes editoriais envolvidos na publicação de exemplares de língua inglesa no século
XIX. Para essa comunicação teremos como foco as autoras de língua inglesa, tanto as de
nacionalidade britânica e irlandesa como também as de nacionalidade americana.
Apresentaremos em tabelas as informações editoriais sobre os romances encontrados no
acervo da biblioteca que foram escritos por mulheres assim como breves biografias das
carreiras literárias dessas autoras, pontuando aspectos comuns entre elas, como seus
trabalhos em periódicos e editoras. Como apoio teórico utilizaremos textos de Márcia
Abreu e Sandra Vasconcelos sobre a circulação e comércio de romances ingleses no
Brasil.
Palavras-chave: Grêmio literário Português do Pará; prosa de ficção inglesa; Século
XIX, agentes editoriais

129
AS MULHERES DE CLARICE: UMA ANÁLISE FEMINISTA DOS CONTOS
“A FUGA”, “AMOR” E “RUÍDO DE PASSOS” .
Thainá Chemelo (UFPA)
Carolina Menezes (UFPA)
Resumo: Desde a sua criação, em 1970, com tese de doutorado de Kate Millet
intitulada Sexual Politics, que traz a tona discussões acerca da posição secundária
ocupada pelas heroínas nos romances de autoria masculina, a Crítica Feminista tem
assumido o papel de questionadora da prática acadêmica patriarcal. No âmbito do
ensino, há uma tendência de se manter no “topo da pirâmide” os discursos dos
“mestres”, perpetuando o cânone literário altamente sexista, constituído pelo homem
ocidental, heterossexual, branco e de classe média alta, nesse sentido, contribuindo com
a exclusão ou o silenciamento das vozes Outras (ZOLIN, 2009). Nesse ponto,
analisamos também como o próprio capitalismo e a divisão sexual do trabalho contribui
com esse silenciamento. Quando as mulheres começaram a ler e a escrever romances,
utilizando pseudônimos, houve a constatação de que a experiência da mulher como
leitora e escritora é diferente da masculina e isso implicou em mudanças significativas
no campo intelectual. Analisamos três contos de Clarice Lispector sob o olhar da Crítica
Feminista, da questão de gênero e da performatividade de gênero (BUTLER, 1990), já
que a análise parte de uma autora mulher, que fala de mulheres, para um público – na
maioria – feminino. Clarice Lispector, ao nosso olhar, não era uma autora feminista.
Ela, simplesmente, escrevia sobre a realidade que melhor conhecia. A análise de contos
de uma escritora mulher tem como objetivo oferecer novas possibilidades de
interpretação de obras literárias organizadas em torno do gênero e como o mesmo
organiza o enredo e a construção dos personagens, seguida de uma problematização do
cânone literário vigente, predominantemente masculino e heterossexual. O uso da
categoria de gênero na análise de um texto ficcional tem um significado político, pois
dentro de uma perspectiva feminista, estamos interpretando-o à luz de ações políticas,
relacionadas à ideologia e as relações de poder na sociedade.
Palavras-chave: Clarice Lispector, Crítica Literária Feminista, Gênero,
Performatividade de Gênero.

A ESTRUTURA DE CONTOS INDÍGENAS ORGANIZADOS POR DANIEL


MUNDURUKU
Tatiana Santos Oliveira (UEMASUL)
Resumo: Sobre o conceito de literatura gravitam muitos debates, entre eles a validação
de narrativas que apresentam características literárias como literatura de fato. O que
vem sendo contestado, em especial, por escritores indígenas, entre eles Daniel
Munduruku. Sendo que ele coletou diversos mitos de diferentes etnias indígenas do
Brasil e os denomina como contos indígenas. Nesse contexto de debate, este estudo
apresenta como objetivo central analisar as características de textos que compõe a obra
“Contos Indígenas Brasileiros”, com base nos estudos de Vladimir Propp (2003), assim
como o trabalho de Alan Dundes (1996) sobre a morfologia e estrutura dos contos
indígenas norte-americanos. Ressalta-se que este estudo é uma ação que busca ir ao
encontro de uma formação acadêmica que privilegie a riqueza da cultura e história
indígena, sendo que é resultado de um projeto de iniciação científica desenvolvido no
curso de Letras, Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade

130
Estadual da Região Tocantina do Maranhão. E para alcançar o objetivo proposto se
desenvolveu uma pesquisa bibliográfica, descritiva e explicativa, que nos levou a
considerar que os textos analisados de fato apresentam as características desse gênero
literário apresentados pelos teóricos que norteiam as análises. Assim, validando-as
como contos.
Palavras-chave: saberes tradicionais, estrutura do conto, literatura indígena.

O FUTEBOL COMO ELE É: AS CRÔNICAS DE NELSON RODRIGUES


SOBRE AS COPAS DE 1958 E 1962
Tatiany Natividade dos Reis (UFPA)
Resumo: Considerado uma paixão nacional, o futebol se faz presente na vida de muitos
brasileiros. A difusão desta modalidade no país aconteceu após a criação dos primeiros
clubes e de uma imprensa especializada para cobrir este tipo de evento, ao publicar
reportagens e crônicas esportivas. O trabalho analisa as crônicas de Nelson Rodrigues
sobre as Copas do Mundo de 1958 e 1962, extraídas de duas coletâneas: À Sombra das
Chuteiras Imortais e A Pátria de Chuteiras, comparando-as com as notícias publicadas
em jornais e revistas do mesmo período, sob enfoque no modo narrativo no qual o
cronista busca usar ao produzir os seus textos, sendo este o principal objetivo da
pesquisa. A escolha do tema justifica-se pelo desejo de compreender, através das
crônicas, como se deu a construção do Brasil como o país do futebol e, por conseguinte,
a configuração de uma identidade nacional. A metodologia utilizada foi análise textual
sob perspectiva comparativista. Os referenciais teóricos foram: Souza (2008), Marques
(2012), Rossum-Guyon (1976), Ricouer (2012), Jakobson (2010), Sá (2005), Genette
(1995) e Moisés (1997). Nelson Rodrigues expressou em seus textos um patriotismo
exacerbado e, através deles, procurava resgatar e estimular este sentimento para seus
leitores, lançando sempre seu olhar às partidas de futebol além das quatro linhas, se
diferenciando assim, dos demais jornalistas que escreviam sobre a temática. Nelson
Rodrigues. Crônicas de futebol. Modo Narrativo.
Palavras-chave: Nelson Rodrigues, crônicas de futebol, modo narrativo.

O ROMANTISMO BRASILEIRO E AS REFLEXÕES DE JOSÉ DE ALENCAR


Vânia Glauciene Gurgel Pontes (UNIFESSPA)
Resumo: O presente trabalho expõe o Romantismo como um período de efervescência
sócio-política, cultural e artística, na busca da consolidação de uma língua nacional e
criação de uma literatura brasileira, com enfoque em José de Alencar, grande
representante do meio literário oitocentista. Nessa acepção, o objetivo do trabalho é
analisar como o autor apresenta sua crítica à sociedade do século XIX e observar seu
engajamento, incluindo suas ideias sobre o casamento, a política, o direito e a sua
contribuição para a criação de uma língua nacional, que bem representasse a literatura
brasileira daquele período. Para embasamento das ideias aqui expostas são utilizadas as
obras Iracema, Bênção Paterna, prefácio do romance Sonhos d’Ouro e Senhora, como

131
objeto de pesquisa, além de textos do crítico e sociólogo Antonio Candido, do
historiador literário Alfredo Bosi, do autor Benoît Denis que desenvolve textos com
argumentos consistentes sobre a literatura engajada e do crítico literário Afrânio
Coutinho, entre outros.
Palavras-chave: Romantismo, língua nacional, sociedade, engajamento, José de
Alencar.

LITERATURA PÓS-MODERNA: GRAU 26: A ORIGEM E A NARRATIVA


TRANSMIDIÁTICA
Vanessa de Carvalho Santos (UFPI)
Resumo: No Alto Capitalismo, a arte tornou-se um valioso produto do mercado. Com a
sua acessibilidade, por sua reprodutibilidade, os teóricos questionaram o que era boa
arte ou arte de má qualidade. Por isso, dentro do ramo da literatura, os termos “alta” e
“baixa” ou de “massa” foram muitas vezes utilizados. Com o aparecimento do Pós-
Modernismo, observado em meados do século XX, abre-se caminho para novas
possibilidades e a arte antes vista como inferior, torna-se igual, isto porque o novo
período de que tomam-se consciência promove o fim do que separa a cultura de massa e
a alta cultura (JAMESON, 1997). Um dos principais elementos observados nesse novo
momento histórico é a presença da mídia digital e a sua aproximação com a literatura
permitiu o surgimento, entre outras, de uma forma de narrativa nomeada de
transmidiática. Dentre as várias interpretações do Pós-Moderno, nos deteremos nos
estudos de Fredric Jameson. Justifica-se tal escolha por este trabalho se tratar da relação
entre mercado, mídia digital e literatura através de uma obra Estadunidense, país que é
parte do grupo de potências econômicas em que Jameson fixa seus estudos. Isto posto, à
luz de estudiosos como Jenkins (2007), Hayles (2009) e Benjamin (2012), este trabalho
propõe uma discussão das novas construções narrativas romanescas, no contexto do
Pós-Moderno, através do romance transmidiático Grau 26: a origem. Observamos, desta
forma, que o Pós-Moderno é um fenômeno complexo que combina diferentes
tendências. A obra, por ser um romance transmidiático, nos permitiu compreender como
o sistema capitalista influência a elaboração dessa nova geração de narrativas. Portanto,
as mídias digitais somadas a literatura, trazem novas possibilidades de construções
romanescas.
Palavras-chave: Narrativa transmidiática, Grau 26: a origem, Pós-modernismo.

AS FACES DA SERPENTE: RESIDUALIDADE E COMPLEXIDADE EM “NO


SONHO DO MEU AVÔ TEM UMA COBRA-GRANDE” DE JOSÉ POLARI
Vinicius Milhomem Brasil (UNAMA)
Resumo: Com o intuito de organizar uma análise mítico-residual a respeito da lenda da
cobra grande/boiuna e compreender os aspectos que a cercam, recorremos ao conto “No
sonho do meu avô tem uma cobra-grande”, de José Polari (2009). Temos por finalidade

132
a ressalva dos pontos comuns entre a figura da cobra entre meios e condições que a
cercam. Em pesquisa bibliográfica, buscamos livros de contos amazônicos e livros de
folclore ou mitologia de diversos países. No conto de Polari (2009), percebe-se somente
a sua ligação com o caboclo navegante dos rios da Amazônia e sua importância no
imaginário desses trabalhadores. Desse modo, o autor reforça o estereótipo de maldade
das concepções do imaginário brasileiro em uma objetiva e com o uso de recursos
geográficos locais. Visto isso, procuramos resíduos a partir da lenda amazônica em
narrativas do folclore português, aborígene e indígena, reunida por Cascudo (2001,
2003), Bulfinch (2013), Krüger (2011), Lévi-Strauss (2007) e Santiago (1986).
Relacionamos assim os estudos sobre o mito à residualidade literária e cultural para
análise desse réptil que remete a narrativas pretéritas. Logo compreendemos o
imaginário do homem amazônico por trás da figura da cobra enquanto resíduo do
imaginário europeu. O resíduo é um corpus vivo, conceito que visa justamente verificar
esses elementos de período passado e demonstrar que continuam presentes. Portanto, o
imaginário da figura dos ofídios ainda é extremamente pejorativo, é vista como algo
mal. Tudo isso devido à nossa cultura judaico-cristã graças à colonização portuguesa.
Mas a figura de bondade ou de divindade ainda permanece cristalizada na crença
popular ribeirinha amazônica.
Palavras-chave: Residualidade, cobra-grande, amazônico

O [NÃO] LUGAR DA LITERATURA AMAZÔNICA NO ENSINO MÉDIO DE


ESCOLAS PÚBLICAS DE BELÉM
Wanessa de Oliveira Coelho (UFPA)
Resumo: Esta pesquisa investigou os fatores que contribuem para a não sistematização
do ensino da literatura amazônica, bem como suas consequências na formação dos
alunos do ensino médio de escolas públicas de Belém. Para a construção e consolidação
deste trabalho foi utilizada a abordagem qualitativa e os procedimentos técnicos
utilizados foram a pesquisa bibliográfica, documental e a de campo (observação direta).
Neste trabalho, discutem-se os problemas que o ensino da literatura nas salas de aula
vem enfrentando, como a falta de autonomia como disciplina e as práticas de ensino que
tem privilegiado o estudo da historiografia da literatura em detrimento da leitura dos
textos; além disso, discorre-se sobre o [não] espaço da literatura amazônica em salas de
aula do ensino médio em Belém. Há também a apresentação e o aprofundamento de três
fatores que não contribuem para o reconhecimento e efetivação do ensino da literatura
amazônica nas escolas de Belém: a formação do professor no curso de Letras; a matriz
curricular do ensino médio das escolas públicas de Belém que se baseia na Lei nº
9.394/1996, Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, 2002, 2006) e Base Nacional
Comum Curricular (2016); e os livros didáticos distribuídos por todo país que não
contemplam os saberes literários amazônicos de maneira significativa. O arcabouço
teórico usado para a construção desta pesquisa foi baseado em Moreira e Tadeu (2011),
Fares (2009 e 2013), Todorov (2009), Zilberman (1988 e 2016), Candido (2011 e 2012),
Candau (2005 e 2008) e outros.
Palavras-chave: Literatura Amazônica, Práticas de ensino, Ensino Médio

MARIA LÚCIA MEDEIROS, A MENINA EM BUSCA DE SI MESMO

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Wilson Ferreira Barbosa (SEDUC)
Resumo: Com base nos estudos de Thomas Bonnici, com a obra Teoria e crítica
literária feminista: conceitos e tendências (2007), pretendemos neste artigo ampliar a
propagação da Literatura Feminina Paraense. Analisaremos a história de uma menina
que quer descobrir-se, que está na busca de “Si Mesmo”, ela é alguém que procura a
autoafirmação em confronto com o “Outro”. Assim, utilizaremos as pesquisas de
semiótica de Eric Landowski em, Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica
(2012), ressaltando a busca da identidade e da alteridade presente no conto “Espelho
meu”, do livro Zeus: ou a menina e os óculos (1994), da contista paraense Maria Lúcia
Medeiros (1942 – 2005). Uma menina identificada como o ser humano que procura a
autorrealização, que está na construção do “Si”. O espaço é um elemento que vai marcar
a identidade dessa personagem, visto que nesses espaços há lembranças que mantêm as
características de um passado que reforçam sua unicidade no presente, e para isso nos
basearemos em A poética do espaço (2008), de Gaston Bachelard.
Palavras-chave: Literatura Feminina, Maria Lúcia Medeiros, Literatura Paraense.

MITO DESLOCADO: O ARQUÉTIPO DE SODOMA E GOMORRA NAS


PÁGINAS DE O ATENEU
Willian Sampaio Lima De Sousa (UEPB)
Resumo: Nesta pesquisa, analisamos a obra O Ateneu, de Raul Pompéia, sob a ótica da
teoria dos arquétipos, evidenciando a intrínseca relação arquetípica entre o enredo do
romance de Pompéia e a narrativa bíblica que discorre sobre a destruição de Sodoma e
Gomorra, duas cidades mitológicas do Velho Testamento. Ao ler os textos críticos sobre
O Ateneu, percebemos uma lacuna analítica sobre as referências bíblicas contidas nessa
obra. Mediante uma leitura de todas as menções bíblicas espalhadas no romance
(selecionamos uma referência que sinalizava como exceção), percebemos uma relação
arquetípica entre a obra de Pompéia e o mito bíblico referente à destruição de Sodoma e
Gomorra. A partir de imagens e ações recorrentes na obra de Pompéia relativas à
trajetória de Sérgio no internato, à promiscuidade, à imoralidade, ao homossexualismo,
à falta de fraternidade presente entre os alunos da escola, o incêndio no final do
romance, que consome toda a instituição, torna viável uma aproximação arquetípica
referente ao enredo do mito bíblico sobre o aniquilamento de Sodoma e Gomorra
(Genesis, capítulos 18 e 19); pois estas cidades tornaram-se símbolos de vício e
iniquidade e sinônimos de ruína completa, assim como ocorre em O Ateneu, tendo por
fim uma destruição total pelo fogo. Esta proposta analítica é possibilitada mediante os
conceitos teóricos de Northrop Frye (1957; 2014), em Anatomia da Crítica e outras
teorias auxiliares.
Palavras-chave: O Ateneu, Mito, Arquétipo, Bíblia, Literatura.

O MENINO MARROM: DESMISTIFICANDO AS DIFERENÇAS


Wkeila Samilla Matos dos Santos (UEMA)
Resumo: Esse trabalho tem por objetivo analisar a obra O menino marrom (1986), de
Ziraldo, visando retratar a desconstrução do estereótipo relacionado ao negro, através da
literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea, que tem tido um importante papel

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em relação à igualdade racial. Segundo Coelho (2000) “a literatura infantil tem uma
tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em formação: a de servir como agente de
formação, seja no espontâneo convívio leitor, livro, seja no diálogo leitor”. A obra
supracitada traz questões sociais sobre a gama de raças e etnias que compõem a nossa
sociedade, dialogando com o teórico Darcy Ribeiro (1995), quando diz que “o Brasil é
formado por uma sociedade multirracional e pluricultural”. Historicamente, os negros
sempre foram vistos apenas como capital humano e sempre á margem da sociedade,
mesmo após a abolição, o que não os livrou da discriminação como uma das
consequências da escravatura. Desde então, os negros buscam por aceitação e inserção
como seres participantes da sociedade, o que não é de hoje. Na obra, o narrador conta a
história com uma dinamicidade infantil, a curiosidade, fazendo indagações para assim
chamar a atenção do leitor, prendendo-o ao tema central que é a história do menino
marrom e de seu amigo cor-de-rosa, que, juntos, viviam aventuras e grandes
descobertas, revelando a igualdade entres eles e a curiosidade mútua, sem saber por que
a simbologia das cores fariam deles diferentes um do outro. Através da análise do
corpus, concluímos que o narrador trata o tema de forma a não dar margem
interpretativa a nenhum tipo de preconceito em relação à cor do menino. Em sua
descrição, ele faz analogia a coisas positivas como elementos da natureza, dizendo que
nada é da cor preta definitiva; o mesmo acontece com o menino cor-de-rosa. Ao
enaltecer as qualidades dos dois meninos, o narrador inibe qualquer tipo de preconceito
pré-existente, afirmando que, de forma individual, todos possuem sua beleza.
Palavras-chave: Igualdade. Diversidade. Literatura.

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