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LITERÁRIOS DA AMAZÔNIA
CADERNO DE
RESUMOS
ESTUDOS LITERÁRIOS
Belém – PA
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
COMUNICAÇÕES EM
SIMPÓSIOS
OLHOS RASOS D’AGUA: MELANCOLIA E DEPRESSÃO NA LITERATURA
MODERNA
Resumo: Annette Wieviorka em seu livro “The era of the Witness“ (A era do
testemunho) considera a importância da criação dos arquivos de vídeo como o Yale
Video Archive for Holocaust Testimonies para a memória mas também para “deixar o
sobrevivente falar [...] como uma terapia social, a fim de restaurar conexões rompidas”
(*). Além do Yale, também a Fundação Shoah considerou essencial “conservar a
história como ela é transmitida para nós por aqueles que passaram por ela e
conseguiram sobreviver” (*) (segundo Spielberg, criador da fundação). Do mesmo os
testemunhos sobre a ditadura militar nos países do cone sul (incluindo o Brasil) têm
esses compromissos em foco, de modo a cooperarem para o “tribunal da História”.
Imbuído de igual disposição, foi desenvolvido no Pará, o projeto “A UFPA e os Anos
de Chumbo: memórias, traumas, silêncios e cultura educacional (1964-1985)”
organizado pela professora Edilza Fontes, que entrevistou 48 pessoas envolvidas na luta
contra o Governo Militar e que sofreram “constrangimentos e violações de direitos”
naquele momento de modo que suas trajetórias de vida sofreram significativa mudança
de rota. Nesta comunicação, pretendemos análise o testemunho do professor João de
Jesus Paes Loureiro que em fins de Março de 1964, era um jovem estudante
universitário e poeta estreante (em março de 64, estaria lançando seu livro “Tarefa” com
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poemas de temática social). Além do testemunho gravado em vídeo, também iremos
proceder a leitura de seu romance “Café Central” publicado em 2011, no qual o autor
narra o período correspondente aos dias que antecederam o golpe no Pará e o que lhe
aconteceu no período do imediato pós-golpe de 1964. (*) (tradução nossa)
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em meio à opressão, consegue constituir-se como sujeito capaz de superar e transgredir
as amarras e enquadramentos impostos pela sociedade. O aporte teórico utilizado tem
suas bases de sustentação constituída a partir das concepções de João de Jesus Paes
Loureiro, Antônio Candido, Wlli Bolle e Benedito Nunes. Em consonância com os
objetivos propostos para o desenvolvimento da pesquisa, o percurso metodológico
adotado é centrado na pesquisa exploratória bibliográfica a partir um estudo analítico
sobre a construção da personagem Amélia em relação as outras personagens femininas
do romance. A dimensão estética que constitui o romance Chove nos campos de
Cachoeira apresenta fortes traços de crítica social revestidos de elementos de
composição da narrativa, cuja trama tem o potencial de engendrar na construção de
cenários e na constituição da personagem Amélia, questões sociais ligadas ao cotidiano
da vida amazônica.
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na forma da governabilidade totalitária. Por meio do romance visamos problematizar
diversos campos no âmbito da distopia, nessa perspectiva do totalitarismo, como, a
anulação do indivíduo, o controle das mentes e pensamentos, o controle social e a
eliminação da diversidade. Com a finalidade de fundamentar o texto proposto
apresentamos as teorias de: Hanna Arendt, Origem do Totalitarismo; Giorgio Agamben,
Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I; Aleida Assmann, Espaços da recordação:
formas e transformações da memória cultural; Alfredo Bosi, Narrativa e Resistência; , e
M. Keith Booker, The Dystopian Impulse Modern Literatura.
PERSONAGEM, FORMA-DE-VIDA.
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como resistência àquilo que normatiza a vida, propõem uma forma-de-vida: “a forma
não é uma norma imposta à vida, mas um viver que, no ato de seguir a vida de Cristo, se
dá e se torna forma” (111). Wittgenstein, nas Investigações Filosóficas, diz que os usos
das palavras, os jogos da linguagem são formas-de-vida. Não há um conteúdo a ser dito
por uma linguagem neutra, instrumental, aplicando uma regra prévia, mas apenas tais
jogos que mostram a historicidade e a pura contingência da linguagem. Para ambos a
questão não é o ser, mas modos do ser (Espinosa), enquanto potências de interromper a
liturgia do espetáculo que roteiriza as vidas. Alguns personagens da literatura, a
despeito de lugares ontológicos pré-fixados (o herói, o vilão, o malandro, o louco, etc.)
e de funções narrativas pré-determinadas, vivem a pura contingência. Um conceito
filosófico (forma-de-vida) e uma figura estética da literatura (personagem) coincidem
para resistir à ontologia operativa, que reduz a literatura e a vida a modelos, períodos e
tipos. Neste trabalho seleciono alguns personagens de Borges e de Edgardo Cozarinsky
e procuro neles a força política das formas-de-vida.
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reconhecido anacronismo, pois a literatura, tal como a compreendemos, constituiu-se
nos tempos modernos. No século XX, constatamos que filósofos continuam a dedicar
escritos à discussão teórica sobre a Literatura. Nesse sentido, podemos recordar e
abordar ensaios de marxistas como Theodor W. Adorno. Por outro lado, a Teoria
Literária passou, cada vez mais, a ser uma área dos estudos literários – e dentre esses
estudos há aqueles que se colocam como uma ramificação da Linguística ou como
elaborados em diálogo com essa ciência, reivindicando o estatuto de propriamente
literários. Nessa direção, podem ser selecionados e discutidos ensaios de russos como
Mikhail Bakhtin. Com isso em vista, o objetivo dessa comunicação é abordar
incipientemente o teor de obras-chave de Adorno (Teoria Estética e Notas de Literatura
I, II, III e IV) e Bakhtin (Estética da Criação Verbal, Questões de Literatura e de
Estética e Problemas da Poética de Dostoievski) para, em seguida, examinar quais
características do texto literário o teórico filósofo e o teórico literário priorizam em
escritos que fundamentam leituras críticas diversas na Amazônia, no Brasil e no mundo.
Resumo: Estudar a noção de alteridade é uma tarefa árdua, que exige do pesquisador
boa dose de dedicação, pois esse conceito atravessa várias disciplinas, desde a filosofia
até a antropologia e vem mudando com o passar do tempo. Dessa maneira, este trabalho
possui como objetivo geral refletir sobre a noção de alteridade em narrativas orais da
matintaperera recolhidas pelo IFNOPAP (Imaginário nas Formas Narrativas Orais
Populares da Amazônia Paraense). Para isso, consideramos os estudos de Freud (1919)
Paz (1969), Spielmann (2000) e Sartre (2011). O estudo revelou que a noção de
alteridade pautada especificamente no pensamento de Sigmund Freud em seu artigo
Unheimlich se manifesta de forma evidente nas narrativas orais da matintaperera, pois
esse ser tão repleto de mistérios e descobertas, em sua configuração humana, pode ser
(homem-mulher), (idosa-jovem). No que diz respeito a metamorfose, a matinta pode
assumir a forma de animal (aéreo-terrestre), bem como, em seres sobrenaturais de difícil
representação. Em relação às suas marcas, isto é, a oferta do tabaco e o assobio, a
matinta também se revela por meio de pares antagônicos, em que também se encontra a
alteridade, visto que o tabaco é oferecido de noite, porém requerido de manhã e o
assobio pode ser emitido, tanto pela boca, quanto pelo ânus, o que nos leva a afirmar
que a matinta é alteridade em forma de mito. A metodologia desta pesquisa consistiu: a)
pesquisa bibliográfica; b) leituras das narrativas ifnopapianas presentes nos livros
Santarém conta..., Belém conta..., Abaetetuba conta... e Bragança conta... c) seleção das
narrativas da matinta; d) análise das narrativas selecionadas. Sendo assim, acreditamos
que este trabalho, de caráter interdisciplinar – visto que dialoga com a psicanálise, a
filosofia e a teoria literária-, despertará nos que tem interesse em estudar a matinta
novos olhares e direcionamentos, possibilitando assim, o surgimento de novas
pesquisas, bem como, a valorização da cultura brasileira, principalmente, a paraense,
que ainda é esquecida por muitos estudos acadêmicos, adquirindo assim um
compromisso com a ética e a memória ancestral.
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Palavras-chave: Matintaperera, Alteridade, Unheimlich, Narrativas Orais, IFNOPAP.
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em bases teóricas – a qual se trata das filosofias que permeiam este estudo, reflexão
sobre a vida e obra da autora, assim como a análise e recorte de algumas de suas obras.
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amigos e colegas; há uma necessidade na própria prática de refletir sobre a realidade
através da ficção, fator inerente a toda diversidade da produção literária, em especial as
de característica fantástica, outro ponto essencial para a produção. Na pesquisa, parte da
tese em desenvolvimento, foram verificadas as reflexões sobre o jogo de Johan
Huizinga, as percepções de história e tempo de Walter Benjamin, as discussões sobre
literatura fantástica de Tzvetan Todorov, os estudos sobre RPG em diversos campos,
desde o uso em sala de aula por Sônia Rodrigues, discussões sobre exercício de leitura e
escrita de Andréa Pavão, aos diálogos com literatura de Edson Cupertino.
Resumo: Este trabalho integra uma pesquisa de doutorado em andamento que estuda
poemas publicados em jornais do Acre (1904-1920). Denominaram-se “modernizantes”
os poemas do primeiro vintênio do séc. XX que já prenunciavam o Modernismo na
Amazônia, destoando da predominância parnasiana nos jornais e do contexto de
influência francesa. Este estudo de caso analisa poemas modernizantes do jornal “A
Noticia”, em diálogo com a proposta modernista e a crítica decolonial, na perspectiva de
que a presença deles no jornal, embora pequena e marginal, refletia vozes dissonantes
que empreendiam luta contra a colonialidade, expressando mundividência crítica da
realidade. Os métodos de abordagem são a Metalinguística bakhtiniana e a Análise do
Discurso, cujas propostas valorizam elementos (extra)textuais na construção dos
sentidos do enunciado discursivo nas suas relações dialógicas. Bosi (2003), Carpeaux
(2008) e Figueiredo (2001), bem como Quijano (2005) e Mignolo (2005) subsidiaram a
construção das relações entre Modernismo e Decolonialidade. Analisaram-se duas
seções de poemas: “Troçando” (11 textos) e “A Minuta...” (10). São poemas críticos e
satíricos que discutem política, poesia, cânone e a vida alheia; experimentam a mistura
de gêneros textuais (poema-diálogo, poema-piada) e uma linguagem dessacralizada.
Assim, manifestam características que os aproximam da fase heroica do Modernismo
brasileiro, com a particularidade de problematizarem a condição amazônica numa época
de imperialismo, mas também de resistência. BAKHTIN, M. Problemas da Poética de
Dostoiévski. 3. ed. RJ: Forense Universitária, 2002. BOSI, A. História Concisa da
Literatura Brasileira. 41. ed. SP: Cultrix, 2003. BRANDÃO, H. Introdução à Análise do
Discurso. Campinas: Unicamp, 2012. CARPEAUX, O. História da Literatura Ocidental
(Vol. IV). 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2008. FIGUEIREDO, A. Eternos Modernos:
uma história social da arte e da literatura na Amazônia, 1908-1929. 315f. Tese. ICH,
Unicamp, Campinas, 2001. LANDER, E. (Org). La colonialidad del saber:
eurocentrismo y ciencias sociales, perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires:
CLACSO, 2005.
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LITERATURA, ARTE E RESISTÊNCIA: O TESTEMUNHO EM TEMPOS DE
CRISE
Resumo: Os estudos literários, nos últimos anos, vêm sofrendo intensas modificações
por conta das mudanças que a produção literária moderna e contemporânea, em especial
por conta dos traumas de guerra, que potencializaram a criação de obras de arte
fundamentadas em duas categorias: a resistência e o testemunho. Alfredo Bosi (1994;
2002) notabiliza que precisamos pensar no século XX (extensivo ao século XXI), como
o "Tempo que perdurou na memória dos narradores do imediato pós-guerra, e produziu
o cerne da chamada literatura de resistência", uma literatura pautada na ética e na
estética do testemunho e que Márcio Seligamann-Silva (2005), considera ser “uma
categoria que pode nos ajudar a pensar uma virada de paradigma que vem ocorrendo no
âmbito das artes e da literatura”. Walter Benjamin (1989), pensa a narrativa como um
pacto inerente entre ouvinte e narrador para a conservação da narrativa. Tal associação
está ligada tanto a memória quanto à reminiscência, ou seja, tanto ao testemunho quanto
à narrativa (artística, literária, oral, escrita). Dois polos complementares, pois as guerras
e as crises potencializam o desenvolvimento de outras formas artísticas, como defende
Adorno (1970), quando concebe que “É moderna a arte que, segundo o seu modo de
experiência e enquanto expressão da crise da experiência” e da experiência enquanto do
belo e da arte. Neste complexo cenário propomos um estudo para pensar como a arte, a
literatura e o testemunho, resistem em tempos de crise, seja aquela ligada ao passado,
seja estas ligadas ao presente.
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CONSIDERAÇÕES DE CANDIDO SOBRE MACHADO DE ASSIS
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modificando as relações de poder, como uma das questões fundamentais para o
historiador, de acordo com Roger Chartier em A ordem dos livros (1999).
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sistematizadora da pedagogia teatral sobre o “sistema” que leva o nome de seu irmão.
Esta comunicação apresenta parcialmente os resultados da pesquisa “O último
Stanislávski em ação: tradução e análise das experiências do Estúdio de Ópera e Arte
Dramática” (pesquisa fomentada pela FAPESP), na seguinte estrutura: I. Zinaida
Sokolova. II. A experiência pedagógica de Sokolova. III. Sokolova e a organização do
Estúdio de Ópera e Arte Dramática. A fundamentação teórica da comunicação parte das
lembranças de alunos de Sokolova (Novítskaia, Gálitch, Kristi) e explora dois excertos
autobigráficos inéditos encontrados num recente estágio de pesquisa (BEPE/FAPESP)
nos Arquivos do Teatro de Arte de Moscou (Moscou, Rússia).
Resumo: O presente trabalho é parte de uma pesquisa ampla sobre o pensamento crítico
de Nestor Vítor do Santos (1868-1932). Consiste em uma leitura de sua obra e da
relação que esta estabelece com o meio cultural e com o campo literário brasileiro no
período da República Velha (1889-1930). O trabalho proposto para o simpósio
concentra-se na análise da posição do crítico no interior do campo literário, tendo como
pano de fundo a sua relação com a crítica literária naturalista do século XIX, encarnada
na tríade consagrada da geração de 1870 (Sílvio Romero, Araripe Júnior e José
Veríssimo). No enfoque escolhido, objetiva-se destacar o significado do modelo de
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crítica naturalista posta em movimento pela tríade e a diferença de posicionamento de
Nestor Vítor que representou, no interior da historiografia literária, o primeiro e talvez
mais importante crítico do simbolismo brasileiro. Simbolismo que, como se sabe, não
foi bem recebido pela crítica oficial naturalista, impedindo a canonização imediata dos
seus principais nomes, como Cruz e Sousa, Emiliano Perneta ou Alphonsus de
Guimarães. Com o referencial dos principais estudiosos da obra da tríade crítica
(Barbosa, 1974; Bosi, 1976; Cairo, 1996; Candido, 2006; Ventura, 1993) e com a
perspectiva sociológica da noção de campo (Bourdieu, 2004; Miceli, 2001), busco
interpretar a obra de Nestor Vítor como de denúncia dos limites da crítica e da
legitimidade do cânone produzido e reproduzido pela crítica naturalista, não tanto por
uma oposição de princípio ou metodológica de Nestor Vítor frente ao modelo
naturalista, mas pela posição inicialmente secundária e marginal que o crítico assume no
interior do campo literário, fortemente atravessado por relações extraliterárias,
denominadas por ele como “política literária”, isto é, um conjunto de relações que
possibilitavam a consagração (canonização) ou não (esquecimento) de escritores e
artistas do período da República Velha.
Resumo: Cada época produz seus heróis, que servem de "modelos" para escritores e
poetas. Cada herói, por sua vez, carrega não apenas traços de sua época, sendo
influenciado pelo mundo que o cerca, ou seja, ou ele vive de acordo com seus
"semelhantes" ou rompe com os padrões geralmente aceitos de comportamento social.
A literatura russa apresentou, desde o século XIX, vários heróis, “Ievgueni Onéguin”,
de Puúhkin, um jovem dos anos 20 do século XIX: inteligente, educado, integrante da
aristocracia, mas insatisfeito com a realidade existente, tendo passado os melhores anos
de sua vida em uma existência sem sentido e sem propósito. O aparecimento de tal herói
causou na sociedade e círculos literários da época, uma verdadeira tempestade de
paixões. A literatura russa sequer teve tempo de descansar e surgiu Pechórin, "O herói
do nosso tempo", de Mikhail Lérmontov, e mais um destino trágico. O desejo
apaixonado de entender o sentido de suas vidas e a busca pela verdade, de alguns heróis
e a existência parasitária e sem propósito, de outros, ou, simplesmente, o trágico
distanciamento entre os sonhos e a realidade. A literatura produziu uma série de outros
heróis de seus tempos: Bazárov de Turguéniev, de natureza completamente diferente da
de Onéguin e Pechórin. Andrei Bolkónski e Piere Bezúkhov, os melhores representantes
da aristocracia, retratados por Lev Tolstói no romance "Guerra e paz". Assim como o
alcoólatra Vénechka, da obra de Venedikt Erofeev, "Moscou - Petuchki" (1973), pode
ser considerado o último herói da literatura soviética, o herói de Dukhless, escrito por
Serguei Minaev em 2006, pode ser considerado um dos primeiros heróis da nova
literatura russa, um novo herói do seu tempo. Herói de uma literatura pós-moderna, um
"homem supérfluo" ou, como o próprio autor complementa no próprio título da obra:
um "homem de mentira".
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Palavras-chave: Literatura russa moderna, Mináev, Homem supérfluo, herói
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seus livros, nem mesmo em Museu de tudo composto por vários poemas em
homenagem a personalidades de diversos segmentos, em dedicatórias ou em outros
registros. A falta de referência explícita em suas obras não representa, no entanto, a
ausência de afinidades estéticas e ideológicas nas propostas que ambos desenvolveram
para a Literatura Brasileira. Este trabalho pretende observar as convergências de ideias e
a relação amistosa mantida por dois dos maiores nomes da Literatura Brasileira,
buscando demonstrar, portanto, como seus caminhos se cruzaram desde o primeiro
encontro entre Pedra do sono e “Poesia ao Norte”.
Resumo: Esta comunicação tem por objetivo discutir a relação entre fato e ficção tendo
por referência o romance Cabelos no coração, de Haroldo Maranhão. Para conduzir essa
discussão do ponto de vista teórico partiremos das obras de Wolfgang Iser (1996), que
explora os atos de fingir em textos ficcionais, partindo do pressuposto de existência de
uma tríade construída pelo real, fictício e imaginário, discussão retomada por Karlheinz
Stierle (2006). Teóricos como Gerard Genette (1990) também direcionaram seu campo
de estudo para o debate entre a relação do caráter ficcional e factual do que está sendo
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narrado, assim como Linda Hutcheon (1991) ao tratar da metaficção historiográfica,
dando espaço para a abordagem da problemática dicotomia entre o ficcional e real, que
possibilita identificar, no caso do interesse da presente pesquisa, a existência de
características textuais que permitem visualizar representações do real no texto ficcional
haroldiano. Ao final, o estudo destaca a existência de uma relação do ficcional com o
real, por intermédio da utilização de paródia e recriações de fatos históricos.
Resumo: Este estudo propõe uma análise do filme Órfãos do Eldorado, de Guilherme
Coelho, lançado no cinema em 2015. O objetivo é verificar o que disse a crítica
especializada em cinema sobre o processo de criação engendrado neste filme. O
cineasta, em sua obra, procurou mostrar uma Amazônia sem os estereótipos com os
quais esta região costuma ser retratada. Nela percebemos o cotidiano das pessoas, os
costumes, a música e algumas das atividades desenvolvidas na região. Além disso, há
um quê mítico e fabular na trama engendrada por ele, quando, na narrativa fílmica, o
cineasta nos traz as lendas, os costumes e os mistérios das águas dos rios amazonenses.
O filme Órfãos do Eldorado despertou o interesse da crítica especializada, entre outros
motivos, porque a obra é uma adaptação da obra do consagrado escritor amazonense
Milton Hatoum. O que esperar desta transposição da linguagem literária para a
cinematográfica, já que se trata de uma obra extremamente subjetiva e intimista?
Alguns críticos buscaram comparar a questão da fidelidade entre as suas obras; outros
atentaram à forma de montagem escolhida por Guilherme Coelho para retratar as
peculiaridades presentes na obra de Hatoum e outros como a cenografia construiu esta
história. A produção de Guilherme Coelho apresenta uma criação baseada nas
estratégias cinematográficas. Utilizando do visual e da sonoridade, a Amazônia é
contada a nós na figura de Arminto Cordovil e seu mundo fragmentado e mítico. Para
que o espectador pudesse visualizar esse mundo fragmentado e mítico, Coelho optou
pelas imagens simbólicas – um rio, uma árvore, uma floresta, um mito – elementos que
constituem esse espaço enigmático tão presente aos pensamentos do personagem.
Através das entrevistas e análises da crítica especializada, ponderaremos sobre o
processo de criação de Guilherme Coelho.
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Suplemento Literário Arte Literatura do jornal Folha do Norte (1946-1951), jornal
pertencente a sua família, no qual divulgava o que havia de mais recente no mundo das
letras, ora assumindo o papel de crítico literário ao discutir questões pertinentes da
transformação por que passava a literatura brasileira e paraense. Tomaremos como base
o estudos de Abreu (2014), Jobim (2005), Nascimento (2012; 2018) e Nunes (2012).
Haroldo Maranhão tornou-se um grande contista e romancista, mas as histórias literárias
não fizeram menção a esse grande autor brasileiro, mesmo as do século XX, a exemplo
das história literária de Alfredo Bosi (1970) e Aderaldo Castello (1990). Entretanto, o
filósofo e crítico Benedito Nunes tornou-se este bastião da divulgação da obra
haroldiana, incluindo a apreciação, em 1984, do primeiro romance O tetraneto del-rei
(1982) o que ajudou na divulgação da ficcão de Haroldo Maranhão, a qual passou por
instâncias legitimadoras como a Universidade Federal do Pará que incluiu como leitura
obrigatória uma de suas obras. Entretanto, pode-se concluir que o ficcionista garantiu o
seu lugar na história literária paraense, mas ainda há um longo caminho para que ele
seja reconhecido no Brasil.
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A FARISEIA, DE FERNÁN CABALLERO: BREVES APONTAMENTOS
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obedece a muitos quesitos estabelecidos por Hobsbawm, embora a escrita rosiana os
tenha embaralhado intencionalmente em suas páginas.
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diferente da capital Macapá (Campus Marco Zero), distante 600 quilômetros de
Oiapoque. Na disciplina há o estudo das origens do termo “literatura de fronteira” e
“literatura menor”, o trabalho da crítica literária para entender como as obras que
circulam na fronteira não estão no cânone literário, a comparação com outras literaturas
de fronteiras e literaturas de povos minoritários no Brasil e no mundo. Esta
comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos trabalhos dos discentes de
Literatura Amapaense no Oiapoque, centrando no contexto amazônico e a produção
literária contemporânea do município, apresentando também autores e obras e a visão
histórica e cultural predominantes nos últimos anos.
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“QUANDO O POETA DEUS CHAMA O POETA HOMEM...” ECOS
FILOSÓFICO-RELIGIOSOS DA TRAJETÓRIA CONSTITUTIVA DO POETA
EM “O CHAMADO” DE SMARÁGDA MANTADÁKI
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recebidos pela crítica literária até hoje, como também uma proposta de discussão teórica
que tem tornado bastante produtiva a leitura e interpretação de nossa literatura.
Resumo: O presente trabalho é resultado de leitura e análise acerca dos estudos sobre
Cultura Popular, mais especificamente o que podemos denominar de Literatura Oral ou
Popular. O corpus desta pesquisa é o livro Cuentos Amazónicos (2007) do escritor
colombiano Juan Carlos Galeano que trata dos mitos e lendas da Pan-Amazônia, que é
uma extensa área territorial de um importante bioma que inclui além do Brasil, os
seguintes países: Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa,
Peru, Suriname. Galeano é professor, poeta, escritor, folclorista e saiu recompilando por
toda Bacia amazônica, histórias, lendas, mitos e narrativas orais para compor seu livro.
O mito escolhido para análise é chamado Moniya amena, mito da árvore da abundância
e da criação do Rio Amazonas. Etimologicamente, a palavra mito deriva do grego
“mythos” que significa narração. É um relato maravilhoso que em geral interpreta a
origem do mundo ou de grandes acontecimentos da humanidade. Os mitos são
explicações que os homens dão aos fenômenos da natureza que não são possíveis
explicar pela lógica racional. Moniya amena faz parte da cosmologia dos índios Uitotos
ou Witotos que habitam a floresta amazônica entre o Brasil, Peru e Colômbia, sendo
este país onde se encontram em maior número populacional. São utilizados como
suporte teórico textos de ARANTES (1981), LUYTEN (1983), AYALA (1995),
CUCHE (1999), ROCHA (2004), BURKE (2010), entre outros.
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amazônidas, segundo Loureiro (1995), assim como a questão da poética, da oralidade e
dos elementos performáticos apresentado por Paul Zumthor (1993), de que se vale o
contador no momento em que conta seus causos considerando o tripé: texto, corpo e
voz, seus elementos fundamentais. Como resultado vislumbramos o fazer literário de
Siqueira, autor contemporâneo que através de sua poética, retrata com muita
autenticidade as narrativas orais de uma comunidade, o imaginário amazônico ora serve
de fundo nas escrituras poéticas, ora como tema e metáfora de mundo.
30
ANTOINE BERMAN: PENSADOR DA TRADUÇÃO LITERÁRIA.
31
Press, 1995. GINZBURG Lydia. On Psychological Prose. Translated and Edited by
Judson Rosengrant. Princeton/New Jersey: Princeton University Press. 1991
PAPERNO, Irina. Stories of the Soviet Experience. Memoirs, Diaries, Dreams. Ithaca
and London: Cornell University Press, 2009. SCHNAIDERMAN, Boris. Caderno
Italiano. São Paulo: Perspectiva, 2015. _______________________. Guerra em
Surdina. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995. ???????. ????????? ????? ? ????. in
http://az.lib.ru/g/gercen
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1958, em traduções indiretas, até agora não há dados concretos de que historiadoras,
sociólogas, feministas e pesquisadoras brasileiras tenham lido ou escrito sobre autoras
russas, ou seja, ainda não foram encontradas evidências de artigos, livros, relatos,
memórias e, até muito recentemente, havia pouquíssimos textos de e sobre mulheres
russas e soviéticas publicadas no Brasil e também não havia coleções de fontes escritas
por mulheres russas. Dessa forma, com exceção dos livros e textos de A. Kollontai,
havia unicamente alguns materiais de N. Krúpskaia, disponíveis exclusivamente na
internet, também em traduções indiretas. Além de Marina Tsvetáieva e Anna
Akhmátova, quase não havia mulheres em bibliografias, programas de disciplinas ou
pesquisas acadêmicas e ainda há pouquíssimas publicações - as mencionadas, pouco
mais do que um livro de Nina Berberova, um de Tatiana Tolstaya, e um conto da última,
outro de Teffi e um de Petruchévskaia. Nos últimos anos, surgiram alguns artigos, um
pequeno número de pesquisas e livros, mas exclusivamente sobre a relevância das
mulheres russas e soviéticas em geral, e só em 2014 “Mulher, Estado e Revolução”, de
Wendy Goldman, foi editado no Brasil. No momento, há cada vez mais artigos,
pesquisas e publicações críticas, mas, novamente, apenas sobre Kollontai ou mulheres
russas e a Revolução em geral, e não sobre ou de outras autoras específicas. Somente
em 2017 duas antologias de fontes, uma com 11 autoras e outra de textos de N.
Krúpskaia, foram publicadas, pela primeira vez em tradução direta do russo, além de
edições de Aleksiêievitch e Petruchévskaia, também vertidas diretamente. Assim, a
presença das mulheres na historiografia brasileira sobre a Revolução Russa, a chamada
"questão das mulheres", bem como as várias e complexas manifestações dos
movimentos políticos e artísticos de mulheres na Rússia pré-revolucionária, a
emancipação das mulheres na URSS e suas obras literárias e críticas eram e ainda são
praticamente inexistentes; além disso, bibliografias e programas de história, literatura e
cultura russa e soviética e as epistemologias em geral nas universidades brasileiras são
quase exclusivamente de autoria masculina. Esta comunicação traz uma discussão sobre
a ausência de pesquisa, tradução e recepção de mulheres russas e soviéticas, seu
protagonismo, produção e pensamento no Brasil, argumentando que a visão e registro
de estudiosos sobre o assunto é patriarcal e que os possíveis diálogos e reverberações
entre mulheres russas e soviéticas e brasileiras também podem ter sido invisibilizados.
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esse aluno leitor. Outra vertente evidenciada nesse estudo, diz respeito ao currículo
escolar, já que, acredita-se que a investigação dessa categoria é significativa para
vislumbrar o aspecto macro do planejamento escolar. A metodologia empregada tem
uma abordagem qualitativa e um cunho bibliográfico. Outros dados aqui apresentados
como relatos e dados estatísticos (obtidos de questionários), são decorrentes de dados
empíricos sobre a literatura no ambiente escolar. Os resultados preliminares da pesquisa
apontam para um apagamento significativo dos textos literários na escola, sobretudo os
que se referem a literatura de cunho amazônico. A pesquisa foi realizada dezembro de
2017. A amostra da pesquisa foi constituída de uma professora de língua portuguesa e
quarenta alunos do nono ano do turno da manhã. Dentre os autores abordados nas
leituras para a construção do texto estão: Durant (1998), Filipouski (2006), Geraldi
(2006), Moscovici (2011), Paulino e Cosson (2009), Paes Loureiro (1997), Zilberman e
Silva (2008), Zilberman (2010)
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“LE CORBEAU” ANÔNIMO DE 1853: A PRIMEIRA TRADUÇÃO FRANCESA
DO POEMA “THE RAVEN” DE EDGAR ALLAN POE
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BIOPOLÍTICA E LITERATURA: CORPOS INDÍGENAS MESTIÇOS
(IN)DÓCEIS EM ROMANCES DE NENÊ MACAGGI
Resumo: A liberdade constitui uma questão palpitante entre todos nós, firmando-se no
Ocidente, desde a Antiguidade Clássica, como uma constante no pensamento universal,
sob várias perspectivas. Entre essas, destacamos a da corrente existencialista, cujo
representante mais popular e na linha ateia é Jean-Paul Sartre. A aludida questão, no que
tange à vertente filosófica aqui encimada no título, assenta-se na capacidade que
qualquer indivíduo tem para decidir sobre seu percurso vivencial, mediante livre escolha
e correspondente responsabilidade, que é bem ampla, recaindo tanto sobre si, quanto
sobre toda a humanidade. Cada escolha pessoal gera mudanças coletivas não desfeitas.
De onde não ser cabível querer modelar o mundo como um projeto nosso. Por
conseguinte, observamos a total negação do determinismo em Sartre, para quem a
existência precede a essência, nada então podendo ser esclarecido com base numa
natureza humana dada e definitiva. Até porque, ainda segundo tal pensador, o Homem é
o senhor de seu destino e “está condenado à liberdade”. Em consonância com o autor de
“Os caminhos da liberdade” (1945-1949), para o alcance completo dessa última, a ideia
de Deus deve ser eliminada, cabendo somente à pessoa mesma criar valores,
significados existenciais, por meio do que pode guiar seus mais diversos atos. Assim
sendo, na comunicação ora proposta, resultante de uma sugestão de pesquisa
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apresentada à professora de Filosofia e de Letras Jeanne Marie Gagnebin de Bons, na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), para nosso trabalho final da
disciplina Crítica I, entre os métodos e técnicas da crítica literária, optamos pelo
Commentaire Composé, método francês através do qual temos por objetivo analisar, do
primeiro romance da escritora brasileira Clarice Lispector, qual seja, “Perto do coração
selvagem” (1943), um excerto, enquanto perfeita ilustração do ideário do intelectual
parisiense, em particular no tocante à liberdade, entendida por ele, exclusivamente,
como absoluta ou inexistente.
Resumo: A presente pesquisa traz reflexões sobre o poema Branco, de Max Martins,
estabelecendo relações com outros textos do autor em que a ideia do branco tem força
metafórica no poema e ou na página como natureza icônica da escrita, o branco como
palavra no seu universo sinonímico e o branco como cor, percepção visual na/da página
na poesia. O autor materializa a cor branca (brancura), o esvaziamento cheio de
potência para a criação, silêncio entremeado na malha textual, mas penetrado pela
escrita e pela fala. Trata-se de uma reflexão metalinguística sobre iconicidade da escrita,
ou seja, um estudo sobre a materialidade do objeto escrito. Arbex fala sobre o
entrelaçamento da escrita e da imagem como reflexão sobre a natureza icônica da
escrita, isto é, “levar em consideração a concepção elementar da imagem de caráter
misto que leva em conta, além das figuras, a superfície, o suporte” (ARBEX, 2006, p.).
O propósito desta pesquisa é considerar no poema de Max Martins, a concepção de tela
(espaço em branco), espaço abstrato, recortado de modo arbitrário da aparência do real,
intervalos entre figuras que separam e preservam valores semânticos com marcas de
inteligibilidade.
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e, por fim, Uma história do Romance de 30 (2015), de Luís Bueno. Primeiramente,
procura-se contextualizar as histórias abordadas e em que momento da periodização
literária cada historiador insere a obra da escritora cearense; em seguida, realiza-se um
confronto entre essas histórias procurando identificar que aspectos de sua obra são
ressaltados e quais os pontos de convergência e divergência ficam evidentes. Dessa
forma, como principais resultados, observou-se que, no tocante à periodização, que a
obra de Rachel de Queiroz é reconhecida como precursora do Romance de 30, ao
estabelecer em O Quinze (1930) uma linguagem direta e sem adornos, que influenciaria
outros escritores do período. Além disso, a maioria das histórias literárias examinadas,
de perfil totalizante e enciclopédico, dedica pouco espaço à autora, com ênfase
sobretudo a O Quinze em detrimento dos outros títulos de sua bibliografia. O ponto
notado fora dessa curva é justamente a história literária mais recente, de Luís Bueno,
que seleciona um recorte menor, o Romance de 30, oferecendo, assim, uma análise mais
densa do corpus, a fim de revisitar, revisar e ampliar temas que surgiram de forma
recorrente ou pontual ao longo das demais histórias, como a seca, a condição feminina e
a militância política.
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O TEOR TESTEMUNHAL PRESENTE NO JORNAL RESISTÊNCIA
Resumo: Três Casas e um Rio (1958) é o terceiro romance do Ciclo Extremo Norte,
projeto ético e estético de Dalcídio Jurandir que buscou representar, em termos
ficcionais, uma Amazônia de marginalizados e desvalidos. Nessa obra, o menino
Alfredo volta a ser o protagonista e há um adensamento das questões em torno do
cotidiano familiar, a partir do qual é possível observar a relação entre adultos e crianças,
bem como as relações entre Alfredo e a irmã Mariinha, “a menina do camisolão
branco”, e, entre Alfredo e Andreza, a menina de “olhos de areia gulosa”. Nessa
narrativa, portanto, a infância parece ser um mote relevante no desenrolar do enredo: há
personagens infantis, há personagens que rememoram a infância e há a representação do
imaginário da criança, que, conforme pretendo demonstrar, pode alcançar o nível
estrutural da narrativa, através da incorporação e da reelaboração de contos de fadas,
mitos ou lendas, um procedimento já identificado por Vicente Salles (1992) na escrita
do romance Marajó (1947). Assim, nesta comunicação, que traz resultados parciais da
tese em andamento a respeito da figuração da infância desvalida em romances
dalcidianos, proponho analisar como A Bela adormecida, conto de tradição popular que
há muito permeia o imaginário das crianças, serve de base para a técnica utilizada por
Dalcídio Jurandir na composição da história de Mariinha, especialmente no episódio da
morte da menina, demonstrando que essa reelaboração estética ocorre em diálogo com a
tradição e compõe uma trama que não, propriamente, repete significados, mas cria
novos sentidos. Tal estratégia a meu ver, se alinha ao compromisso ético e estético de
Dalcídio Jurandir, cuja escrita alia responsabilidade social e consciência do fazer
literário.
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Palavras-chave: Arte literária, Infância, Dalcídio Jurandir.
Resumo: Este trabalho analisa duas entrevistas realizadas com os escritores paraenses
Nicodemos Sena e Vicente Franz Cecim sobre o processo de criação literária. O
objetivo é compreender o processo de construção dos escritores citados, ou seja,
identificar por quais etapas o processo do ‘fazer’ perpassa nas produções literárias.
Neste momento, não nos deteremos nas obras publicadas, mas no contexto dos
manuscritos, no antes da obra publicada, como as ideias aparecem, com quais materiais
trabalham, como surgem os personagens, o espaço, os possíveis elementos literários. O
estudo foi desenvolvido dentro de um projeto de pesquisa intitulado: Processos de
criação na Amazônia – escritores contam suas experiências literárias, do Grupo de
Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias (GET) do Instituto Federal de
Rondônia. Utilizamos como ferramentas de trabalho a entrevista aberta para coleta de
dados; e a Crítica Genética como metodologia de análise do material pautando-nos nos
teóricos Almuth Grésillon, Verônica Galindez, Philippe Willemart, Roberto Zular e
Cecília Almeida Salles. O processo de criação não é igual para todos. Cada escritor
possui suas peculiaridades, suas influências e seu passo a passo. Há alguns que
trabalham com cadernetas de anotações, outros que não realizam pesquisas. Pesquisas
sobre processo de criação de escritores amazônicos são escassas em nosso meio
acadêmico. Com este novo olhar, poderíamos levantar dados e refletir sobre a questão
do Regionalismo, do cânone e da Literatura Amazônica. Com esta motivação, a
necessidade de se voltar para o antes da obra, para a criação em processo pode nos levar
a entender outras realidades do processo literário. A região amazônica é produtora de
literatura, apesar de termos muitas dificuldades na publicação e recepção destas obras. E
além de termos uma Amazônia estereotipada pela visão mítica e exótica de nossa
floresta, deixando o sujeito amazônico de lado em muitas representações conhecidas.
Diante deste contexto, propomos investigar como é esse processo de criação dos
escritores amazônicos, bem como indagar sobre essa dualidade local e global, regional e
nacional. Ouvir dos escritores amazônicos as opiniões sobre essa realidade literária
nossa que não é baseada apenas na qualidade da obra, infelizmente, mas também em
interesses pessoais, financeiros e preconceituosos. A importância desta pesquisa
perpassa na possibilidade de levantar reflexões e discussões sobre a produção literária
amazônica e nacional. Nicodemos Sena trabalha com caderneta de anotações, busca in
loco informações para a escritura, utiliza a História como um elemento de construção.
Vicente Cecim trabalha com a releitura de seu material, é um leitor crítico de seu
próprio texto. São processos diferentes e que geram escrituras sobre a Amazônia
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A ALTERIDADE ANIMAL NOS CONTOS TOURO GUARUJÁ E COÁGULOS
DE SOMBRA EM O OUTRO E OUTROS CONTOS
Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar as relações alteritárias em dois
contos da obra o outro e outro contos, de Benjamin Sanches, a saber: “touro Guarujá” e
“coágulo de sombras”. Neste estudo, investigaremos a alteridade a partir da
representação do animal. Essas narrativas vão além das representações do animal
historicamente conhecidas em fábulas e lendas, justamente pela conscientização do eu
em relação ao outro. Para nossa análise, Mikhail Bakhtin nos proporcionará reflexões
sobre a constituição do eu a partir das relações alteritárias, pois é mediante a exotopia
que o eu tem como saber de si; também, a partir das categorias de pessoa e não-pessoa
trazidas por Émile Benveniste, fundamentais para entendermos a subjetividade animal
nos contos de Sanches. Ambos os contos mostram como o universo animal se funde
com o universo humano. Nossas conclusões evidenciam que há uma espécie de
sentimento e consciência, características conhecidamente humanas vividas pelo touro e
pelo inseto, protagonistas das narrativas, além do sentimento de pertencer a um universo
outro.
Resumo: Este texto oferece uma leitura comparativa e residual entre três personagens
literárias – a Matinta Pereira no conto A casa 26 (FREITAS, 2015), a Cuca na narrativa
visual A bruxa (IKAROW, 2017) e a Beldam, na novela Coraline (GAIMAN, 2003) –
que mesmo inspiradas em folclores distintos, derivam de um mesmo arquétipo: a
mulher-feiticeira, a mulher-criatura, a mulher-monstro. A discussão toma os conceitos
da teoria da residualidade elencados por Torres (2011) como parâmetro metodológico,
em especial o de imaginário, assim como a abordagem que Tolkien (2010) realiza sobre
os contos de fadas, a fim de observarmos as proximidades e afastamentos entre as três
feiticeiras, mesmo que sejam distanciadas por construções folclóricas tão diversas. O
objetivo de tal comparação não é simplesmente associar elementos do imaginário
amazônico – descritos aqui segundo Cascudo (1999) – aos das manifestações folclóricas
europeias, mas debater sobre a obscuridade que cai sobre o referido arquétipo, à luz da
(in)compreensão que Eliade (1992) traz acerca das particularidades da ordem do
Sagrado, de qual participam as três personagens. O que aqui se discute apresenta-se
como resultado parcial de minha dissertação de mestrado, que também envolve a
investigação do imaginário residual composto em Coraline, aplicada à teoria dos contos
de fadas apresentada por Tolkien (2010).
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MODERNIDADE, CIDADE E REPRESSÃO EM MILTON HATOUM
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CECILIA MEIRELES EM OURO PRETO: ANÁLISE COMPARATIVA
Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma comparação entre textos literários
da mesma autora, Cecilia Meireles, em que os textos apresentam temas semelhantes: A
Semana Santa e as linguagens abordadas em ambos se dão distintamente. Os textos
retratam uma tradição religiosa que é a Semana Santa, ocorrida em Ouro Preto. A
justificativa para a escolha do tema é relatar como temas semelhantes são trabalhados de
forma distinta de acordo com o público alvo. O texto intitulado “A Semana Santa em
Ouro Preto”, publicado na revista Travel in Brazil, em 1942, tem o intuito de atrair
turistas estrangeiros. De modo geral, é construído por uma escrita multimodal, de forma
a privilegiar figuras, cores e expressões linguísticas. Iniciado com relatos da referida
cidade, mencionando seus esplendores da mineração, sua beleza arquitetônica
preservada, assim como opções de estadia e de rotas a seguir. Já o texto intitulado “A
Semana Santa”, publicado originariamente no jornal Folha de São Paulo, em 1964, e,
posteriormente, na coletânea de Cecília Meireles (1999): Crônicas de Viagem, foi
destinado a um leitor brasileiro, sem as intenções de divulgação turística da revista
Travel in Brazil. Esse texto revela uma tradição religiosa vivida pelos cristãos de forma
intensa e comovente. A metodologia aplicada neste trabalho é de estudo bibliográfico e
comparativo, tendo sido selecionados alguns livros como: Crônicas de viagem 2 e 3, de
Cecília Meireles (1999), A Poeta-Viajante: Uma Teoria Poética da Viagem
Contemporânea nas Crônicas de Cecilia Meireles , de Luís Romano (2014), O texto de
Fernando Cristóvão (2002): “Para uma teoria da Literatura de viagens”, a revista Travel
in Brazil (1942), e artigos que tratam sobre o gênero da propaganda turística e as regras
que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais.
Resumo: No ano de 1857, foi inaugurado em Belém, PA, o Grêmio Literário Português
de Leitura, importante espaço para a história cultural da cidade. Em sua biblioteca é
possível recuperar as obras recebidas ainda durante o século XIX, dentre elas, constam
quarenta e oito títulos do autor francês Émile Zola, escritor consagrado e grande
expoente do movimento naturalista. Entre esses volumes, o romance A Terra (1887),
livro que gerou forte debate na crítica francesa e brasileira, inclui-se com três edições.
Utilizaremos como base teórica estudos da área de História do livro e da leitura, entre os
quais destacamos A mão do autor e a mente do editor (CHARTIER, 2014), O livro no
Brasil (HALLEWEL, 2005), e Gabinetes de Leitura (MARTINS, 2015) no intuito de
cotejar as três edições do romance supracitado, levando em conta as editoras, ano de
publicação, tradutores, e elementos para-textuais de cada exemplar, visando traçar um
esboço de como o publico leitor local entrou em contato com a obra, e que papel a
agremiação paraense cumpriu nessa divulgação, além de reafirmar a importância
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histórica do Grêmio Literário Português de Leitura na disponibilização e na
democratização da leitura na Belém Oitocentista.
Resumo: Este artigo descreve e analisa a experiência dos autores com o romance Dom
Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes (1547-1616), publicado entre os anos de
1605 e 1615 na Espanha. A partir do corpus escrito feito por uma jovem participante do
curso de Letras-Libras da Universidade do Estado do Pará, em Belém do Pará, no ano
de 2017, é analisado os elementos de textualização da Língua Brasileira de sinais para a
Língua Portuguesa escrita, tendo como fundamentação teórica principal Bakhtin (2016).
Tal curso visava pesquisar a competência linguística e discursiva da pessoa surda,
promovendo oportunidades de leitura em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e de
produção escrita em Língua Portuguesa. Visava também tornar os alunos surdos
proficientes leitores e produtores de textos escritos, razão de ser do bilinguismo para
surdos. A metodologia da pesquisa fundamentou-se na análise linguística dos elementos
de textualização da Libras para a escrita em Língua Portuguesa, para chegar a uma
análise discursiva.
Resumo: No meio literário a cidade amazônica nos é apresentada muitas vezes como
uma um lugar que tem como um de seus signos identitários mais disseminados a
herança indígena aliada a do europeu europeu. Paralelamente a essa disseminação,
construída em fins do século XIX e continuada no século XX, temos a presença do
negro muitas vezes diminuída do espaço da cidade enquanto sinônimo de civilização.
Criou-se então uma representação de cidade euro-indígena. Autores como José
Veríssimo, Inglês de Souza, Márcio Souza e João de jesus Paes Loureiro estão entre
aqueles autores/pesquisadores que, em nome da afirmação identitária de herança
indígena, diminuíram a contribuição do negro para a identidade amazônica. Partindo da
leitura de três autores modernistas paraenses, Dalcídio Jurandir, Bruno de Menezes e
José de Campos Ribeiro, este trabalho busca perceber como os mesmos mostraram a
importância do negro para a conformação cultural amazônica, desconstruindo o mito
identitário amazônico como apenas euro-indígena. O primeiro autor escreveu um ciclo
denominado de Extremo Norte, com um protagonista que vai ao longo do referido ciclo
assumindo sua identidade negra e se contrapondo ao racismo. O segundo escreveu o
primeiro livro de poesia modernista negra do Brasil, Batuque, de (1931). O último
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escreveu um livro de crônicas, Gostosa Belém de Outrora (1965), que mostra uma forte
presença negra cultural na cidade de Belém nas primeiras décadas do século XX. As
ferramentas teóricas para leitura das referidas obras são os estudos culturais e a
filosofia.
Resumo: Na coletânea de ensaios If I could write this in fire – cujo texto principal
possui título homônimo –, a escritora jamaicana Michelle Cliff retrata e problematiza, a
partir do ponto de vista da mulher colonizada, não apenas a opressão patriarcal e
imperialista, bem como o processo de resistência e luta. Ao ressaltar o sentimento de
não pertencimento e de revolta, Cliff expõe as origens das relações de poder que
permeiam o sistema imperialista, especialmente, no caribe anglófono. Nesse sentido,
este trabalho busca evidenciar nos ensaios as raízes desses sentimentos além de
examiná-los como uma estratégia de resistência e luta frente a opressão racial e de
gênero. Dessa forma, a ira, nos ensaios de Cliff, pode ser vista como uma arma
produtiva na literatura pós-colonial no intento de desconstruir os pilares da dominação
ocidental. Diante disso, a fim de discutir tais questões nos ensaios, trabalharemos a
fortuna crítica relacionada à autora e a seu contexto de produção, a teoria pós-colonial
45
fundamentada, sobretudo, no pensamento de Spivak e também a teoria decolonial a
partir de Walter Mignolo. CLIFF, Michelle. If I could write this in fire. Minneapolis,
London: University of Minnesota Press: 2006 LAZARUS, Neil (Ed). The Cambridge
Companion to Postcolonial Literary Studies. Cambridge: Cambridge University Press,
2004. MIGNOLO, Walter. Epistemic disobedience: the de-colonial option and the
meaning of identity in politics. Theory, Culture & Society. SAGE, Los Angeles,
London, New Delhi, and Singapore, Vol. 26(7–8), 2009, p. 159–181. SPIVAK, Gayatri
Chakravorty. Can the subaltern speak? New York: Columbia University Press, 2010.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty; HARASYM, Sarah. The Postcolonial Critic:
Interviews, Strategies, Dialogues. New York: Routledge, 2014.
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O ESTILO DOS RELATÓRIOS DE GRACILIANO RAMOS
Resumo: O objetivo deste estudo é analisar os temas da alteridade e da morte nos livros
de poesia Doze Noturnos da Holanda, de Cecília Meireles, e Nocturnos, de Ana
Marques Gastão. Tais obras pertencem a poetas de diferentes países que viveram em
épocas distintas, mas que usaram a forma poética noturno na composição de sua poesia.
Constata-se, pela comparação realizada entre os poemas selecionados das obras em
estudo, que a noite, tema central, é o espaço onde o mistério habita e o ambiente
noturno é fecundo para o eu lírico tanto do livro de Cecília Meireles quanto do livro de
Ana Marques Gastão, pois é o período no qual o outro se revela. Em Doze Noturnos da
Holanda, o outro conduz o eu lírico noite adentro, seduzindo-o a desvendar os mistérios
que se escondem nas suas sombras. Por outro lado, nos poemas de Nocturnos, o eu
lírico chama o outro para permanecer ao seu lado e tal presença, ainda que momentânea,
ocasiona mudanças em sua visão das coisas e em seu comportamento. Além disso, há
também o tema da morte atrelado ao contato com o outro, ora para gerar contemplação,
ora para retardar a morte. Emprega-se como aporte teórico a literatura comparada a
partir do pensamento de Tania Franco Carvalhal e de Helena Carvalhão Buescu, o
pensamento sartreano em O existencialismo é um humanismo, a discussão sobre a
relação entre eu-outro feita por Márcia Jacoby e Sergio Antonio Carlos em O eu e o
47
outro em Jean Paul Sartre, bem como o debate a respeito da solidão levantado por
Octavio Paz em A dialética da solidão.
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assoviando e pedindo, normalmente, tabaco. Dado seu teor sobrenatural, misterioso e
hesitante, levantamos a hipótese de o texto poder ser classificado como pertencente ao
fantástico. Levando isso em conta, procuramos enquadrar essa narrativa no referido
gênero, sabendo não bastar que uma obra tenha mistério, tenha um final incerto, ou
ainda que tenha um teor sobrenatural para ser enquadrado em tal gênero. Até mesmo
porque, as definições do que se constitui como uma narrativa fantástica mudaram
conforme os séculos, e hoje, pode-se caracterizar este gênero como característico por
explorar o ser humano e sua natureza, suas dúvidas, anseios, como já disse Sartre
(1997). Acreditamos que o conto presente no livro de Walcyr Monteiro consiga explorar
esses últimos aspectos apontados pelo filósofo francês, bem como os pressupostos de
Todorov no que diz respeito ao gênero literário em questão. Sendo assim, para a
realização deste trabalho, utilizaremos, por meio de pesquisa bibliográfica, escritores
que teorizaram sobre o fantástico, como Jean-Paul Sartre (1997), Tzvetan Todorov
(1975), Sigmund Freud (1980), para que possamos, dessa forma, justificar nossa escolha
de enquadrar o conto sobrenatural amazônico como fantástico.
Resumo: Quais aspectos formais contribuem para a inserção de uma obra ao cânone
nacional? E quais podem colocá-la sob o prisma marginal? Além dos aspectos
meramente estilísticos, quais outros elementos entram em cena durante a inserção ou a
recusa de um livro ao circuito literário institucionalizado? Tomando-se a obra Feliz Ano
Novo (1975), de Rubem Fonseca, esta comunicação pretende discutir como se dão as
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negociações entre uma obra marginal e o cânone estabelecido. Propomos uma reflexão
sobre o caráter marginal arraigado a certas obras literárias, a partir da história das
leituras do livro, tomando-se a forma como este aparece nas histórias literarias, almeja-
se vislumbrar os aspectos não estéticos que podem influenciar o afastamento de uma
obra dos cânones literários de uma determinada época. Entre limite e transgressão,
centro e periferia, fronteira e liminaridade, qual o espaço ocupado pelo livro nas
histórias literárias contemporâneas? Tomamos como corpus as histórias literárias de
Luciana Stegagno (2004), Carlos Nejar (2011) e Temístocles Linhares (1997). Após a
análise, observamos que a produção de Rubem Fonseca goza de sólido prestígio no
panorama literário brasileiro. Contudo, é preciso pontuar que a marginalidade ocorre em
diferentes níveis e, nesse sentido, o caráter marginal da obra diz respeito também às
ações transgressoras das personagens, que ultrapassam a lei e a moral estabelecida.
Ademais, nota-se que as histórias literárias analisadas pouco se aprofundam na análise
de suas produções, limitando-as a seu caráter violento e à sua aproximação com o
gênero noir, carecendo de um estudo mais aprofundado, uma vez que atrelam o valor
literário do livro a uma mera circustância do contexto histórico. REFERÊNCIAS
FONSECA, Rubem. Feliz ano novo. Nova Fronteira, 2013. NEJAR, Carlos. História da
Literatura Brasileira: Da carta de Caminha aos contemporâneos. São Paulo: Leya, 2011
STEGAGNO PICCHIO, Luciana. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2004.
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca da
literatura indígena de autoria feminina contemporânea no Brasil. Ressalta-se que, de
modo geral, as produções literárias indígenas, são escrituras que rememoram,
denunciam e resistem diante de um panorama ainda silenciador e canônico dentro do
universo artístico, político e social. É importante esclarecer que, ao se tratar de literatura
indígena, as definições e os conceitos esbarram no “preconceito literário estampado no
mascaramento de polêmicas doutrinais. No cânone, essa literatura não aparece
mencionada; seu lugar tem sido, até agora a margem. Poucos se dão conta de sua
pulsação.” (GRAÚNA, 2013, p. 55). Diante do exposto, um dos objetivos deste trabalho
é trazer à tona um questionamento latente em debates que giram em torno da escritura
literária de autoria indígena, mas, sobretudo reivindicar um espaço de visibilidade para a
autoria dos que estão às margens do cânone literário. Assim, lança-se um olhar para a
concepção de uma cartografia concisa das autoras brasileiras e suas obras que compõem
a literatura de autoria indígena. Portanto, constata-se que as escritoras indígenas
subvertem a visão do colonizador, demarcador de estereótipos que se cristalizaram nas
sociedades, afinal, rompem com as formas de silenciamento impostas pelos processos
de colonialismo através de seus textos literários, difusores da resistência.
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BENEDICTO MONTEIRO – NARRATIVA DA AMAZÔNIA PARAENSE
RIBEIRINHA DO SÉCULO XX
Palavras-chave:
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar como elementos fundamentais
da novela “A hora de vez de Augusto Matraga” (1946), do mineiro João Guimarães
Rosa (1908-1967) motivaram as perspectivas estilísticas e linguísticas feitas no projeto
de adaptação para o longa-metragem A hora e vez de Augusto Matraga (2011), do
cineasta contemporâneo Vinicius Coimbra (1971). Para isso, contaremos com o
embasamento teórico proposto por Linda Hutcheon (1947), em seu Por uma teoria da
adaptação (2011) (A theory of adaptation, 2006), no original), no qual a autora
canadense explora como cada roteirista desenvolve a própria teoria da adaptação e, com
base nisso, se ramifica entre uma transposição declarada [declared transposition] de uma
ou mais obras reconhecíveis, um ato criativo e interpretativo de
apropriação/recuperação [appropriation/recovery] ou um engajamento intertextual
extensivo à obra adaptada. Discutiremos as questões da adaptação fílmica, tencionando
o exame das relações entre Cinema e Literatura para além de uma dimensão meramente
hierarquizante, que considera a obra derivada (o filme) como degradação do material
original (o livro). Há de ser feito um apontamento acerca das relações entre o livro e o
filme para que não sejam tratados como “correspondência biunívoca”, funcionando o
livro-base como um ponto de partida para a produção de uma obra cuja natureza é outra.
Para que assim se entenda o meio pelo qual se dá a releitura feita por Vinicius Coimbra
e como a proposta metodológica de Linda Hutcheon envolve ainda considerar a
51
transposição como um conjunto de fatores que compõem o processo de transcodificação
[process of transcoding] de A hora e vez de Augusto Matraga (2011).
Resumo: Brasil Nunca Mais (1985) é um marco na história política brasileira, pois
inaugura o processo de formação das memórias sobre a repressão da ditadura (civil)-
militar (TELES). A obra tem origem em registros oficiais do próprio regime, tendo sido
erguida a partir de processos judiciais que tramitaram no Superior Tribunal Militar entre
1979 e 1985. Durante 5 anos, a partir do impulsionamento do Cardeal Paulo Evaristo
Arns e do Reverendo Jaime Wright, da Igreja Presbiteriana do Brasil, com o
financiamento do Conselho Mundial de Igrejas, advogados e ativistas constituíram o
Projeto Brasil Nunca Mais, copiando e organizando, secretamente, cerca de 707
processos. Brasil Nunca Mais, ao condensar e comentar este arquivo central, tornou-se a
52
grande prova do sistema repressivo e da violência de Estado. A maior fonte documental
sobre os crimes da ditadura, mesmo após a publicação do relatório da Comissão
Nacional da Verdade, em 2014. Contudo, para além de seu caráter comprobatório,
entendemos que a obra compõe-se a partir do gesto anarquivista, ao lançar mão de um
modo de apresentação que cumpre “recolecionar as ruínas do arquivo e reconstruí-las de
forma crítica”(SELIGMANN-SILVA). Esta comunicação, resultado parcial de nossa
pesquisa de doutorado, além da centralidade do conceito de anarquivamento
(SELIGMANN-SILVA), depreendido da filosofia de Walter Benjamin, trabalha em
confluência à noção derridiana de arquivo: se este “trabalha sempre a priori contra si
mesmo”(DERRIDA), pode ser compreendido, no campo da linguagem, não só dentro da
concepção corrente de mero repositório. Nossa tarefa: à leitura do prefácio Brasil Nunca
Mais, Testemunho e Apelo, assinado por Arns, distinguir e entender o gesto
anarquivista, identificando a dimensão testemunhal de sua escritura e tomando-a como
potencial reativadora da memória ditatorial. Neste contexto, se sobressai a não inscrição
textual do corpo da vítima desaparecida, a escrita (auto)biográfica e a presença narrativa
do corpo da mãe do desaparecido político.
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O TEATRO DA EXISTÊNCIA: O QUE A ARTE POÉTICA DE CLARICE
LISPECTOR DIZ SOBRE NÓS?
Resumo: Para o escritor Samuel Rawet, não existe sexualidade sem excitação sexual.
Em seus ensaios, denominados “exercícios de ficção”, a excitação do corpo se confunde
com a excitação da/na linguagem. Ainda que tenha tentado resistir à pornografia, o
intelectual não encontrou motivos para evitá-la. Em seus cinco volumes ensaísticos,
publicados entre 1969 e 1978, a linguagem desejosa por uma palavra exata, mágica, não
é composta pelo vocábulo polido. Da sua vinculação com as ruas, com os humildes e
com os degenerados de toda sorte, sua escrita descamba, quase sempre, no registro do
pornográfico como materialidade daquilo que é simples, verdadeiro, poético. O palavrão
saboroso da ralé esfarrapada resume a gênese do lugar-comum. Em vista do que já se
afirmou, essa comunicação investiga a escrita da pornografia e a pornografia escrita no
ensaio rawetiano, tendo como pontos de partida as suas cinco coletâneas publicadas em
livro. O recorte desse trabalho compõe um universo mais amplo, de uma pesquisa em
andamento, sobre as relações intelectuais do escritor que, no próximo 2019, completaria
noventa anos de nascimento. De maneira preliminar, é possível localizar nesses ensaios
as formulações de parte significativa das propostas estéticas de Rawet e, de maneira
paralela, defender que tais investidas se misturam de modo licencioso com o que
poderia ser classificado com a prosa literária, seus contos e novelas, propriamente.
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Palavras-chave: Samuel Rawet, Ensaio brasileiro, Erotismo, Pornografia, Gênero
literários
Resumo: Nosso primeiro contato com a escrita de Aquilino Ribeiro (1885-1963) deu-se
no curso de graduação, na disciplina de Literatura Portuguesa, quando nos deparamos
com uma linguagem que, a princípio, pareceu-nos um tanto estranha e distante, mas
que, ao fim, afigurou-se-nos vigorosa e autêntica. As considerações aqui apresentadas,
fundamentadas em pesquisa de natureza teórico-bibliográfica, resultam de reflexões em
torno de alguns textos ficcionais desse escritor português e de textos críticos acerca de
sua produção literária. Entre as referências bibliográficas consultadas, encontram-se os
nomes de Nelly Novaes Coelho (1973), Óscar Lopes (1969, 1985, 1987), Henrique
Almeida (1993) e Carlos Reis (2016), por exemplo, os quais têm apontado a relevância
da obra aquiliniana no panorama das literaturas de língua portuguesa, persistindo em
manter viva sua lembrança. Nossas observações indicam que, apesar de ter sido outrora
celebrado por seus compatriotas e por artistas e intelectuais brasileiros de renome,
Aquilino é praticamente desconhecido pelos leitores hodiernos e, em grande medida,
55
negligenciado pelos atuais estudos acadêmico-críticos, que parecem ignorar a vastidão e
a riqueza plural do conjunto de sua obra. Tal fato parece advir, pelo menos em parte, de
possíveis dificuldades em relação ao léxico original e genuíno adotado pelo escritor
beirão e de uma visão limitada por parte de certas recensões críticas que lhe foram
coevas, as quais não teriam compreendido adequadamente sua proposta estética.
Resumo: Segundo a autora ucraniana Elena Fomenko em seu artigo Is James Joyce
Lost in Translation? (2011), em que compara trechos da obra Giacomo Joyce, James
Joyce é um autor difícil de ser traduzido. O'Neill (2005, p. 6), por seu turno, afirma que
as traduções de Joyce para muitas línguas criam um metatexto, o qual abre caminho
para um modelo de tradução transtextual. Em seu livro, Polyglot Joyce: Fictions of
Translation, o autor toma as diversas traduções das obras de Joyce para várias línguas e
as compara com o fim de determinar áreas tradutórias problemáticas entre elas. É a
partir da comparação, como afirma Fomenko, entre as retraduções das obras de Joyce
para uma única língua bem como traduções de suas obras para diferentes línguas que
potencializam o teórico da tradução com o conhecimento das invariantes linguístico-
tipológicas que são comuns a textos-origem sincrônicos e textos originais criados na
língua e cultura alvo. É nesse contexto que tomaremos o sintagma do inglês médio
Agenbite of Inwit justaposto ao moderno Remorse of Conscience usado por Joyce em
Ulysses em sua tradução para o turco por Nevzat Erkmen (1996) e analisaremos sua
escolha tradutória, tocando no assunto da revolução linguística turca. Referências
bibliográficas Fomenko, Elena. Is James Joyce Lost in Translation? Jazyk a kultúra,
8/2011. Joyce, James. Ulysses. trad. Nevzat Erkmen. Istanbul: Yapi Kredi Yayinlari,
1996. Lewis, G. The Turkish Language Reform: A Catastrophic Success. Oxford:
Oxford University Press, 1999. O'Neill, Patrick. Polyglot Joyce: Fictions of Translation.
Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, 2005.
Resumo: Conforme se pode verificar no próprio resumo do simpósio a que este resumo
se dirige, Antonio Candido é especialmente referido por seu trabalho historiográfico
(dada a originalidade conceitual e metodológica da Formação da literatura brasileira) e
por seus estudos de prosa ficcional, o que se comprova pela grande repercussão de
ensaios como "Dialética da malandragem", "De cortiço a cortiço" e "Esquema de
Machado de Assis". Entretanto, obras como O estudo analítico do poema e Na sala de
aula: caderno de análise literária, além de alguns ensaios publicados em livros diversos,
revelam que Antonio Candido também foi um refinadíssimo intérprete do texto poético.
56
Assim, esta comunicação (decorrente de um projeto de pesquisa sobre a crítica literária
brasileira) destaca o trabalho de Candido como leitor de poesia, tendo nos dois últimos
livros aqui mencionados seu principal (mas não exclusivo) corpus de análise. O objetivo
principal deste estudo é dar a ver que, embora menos repercutido, esse segmento da
atuação de Antonio Candido confirma expressivamente os pressupostos críticos
estruturais de suas obras mais difundidas. Mesmo num livro despretensioso como Na
sala de aula, modestamente subintitulado caderno, reverberam a orientação teórica em
que convergem olhar social e conhecimento estilístico e a concepção de literatura
brasileira como sistema literário, ainda que tais fundamentos teóricos não sejam postos
em discussão.
Resumo: Os relatos, que fazem parte do acervo do Projeto: “O imaginário nas formas
narrativas orais populares da Amazônia paraense”, constituem uma amostra da
multiplicidade do viver amazônico, envolvendo as emoções, os sonhos, os devaneios, as
aspirações, ideais, realizações e frustrações, encantos e desencantos... enfim, toda vida e
utopia de um homem dividido entre a floresta e as águas desta vasta planície. Essa
Comunicação Oral propõe-se a fazer uma leitura acerca de alguns mitos amazônicos, a
57
partir da visão de Leminski (1994), que considera o mito como a “palavra fundadora, a
fábula matriz, a estrutura primordial, leitura analógica do mundo e da vida”. Nesta
perspectiva, as narrativas orais relatadas aos pesquisadores do Projeto IFNOPAP
durante estes seus 25 anos de existência têm contribuído com a produção científica no
campo da crítica da literatura oral na Amazônia paraense e no Brasil, seja através da
consulta às narrativas já catalogadas e constituintes do acervo do projeto, das
orientações da coordenadora e seus pesquisadores ou das publicações e eventos já
realizados ao longo dessa trajetória.
Resumo: A presente pesquisa em andamento tem como objetivo analisar duas obras da
literatura feminina: Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie e Ponciá Vicêncio de
Conceição Evaristo. Dois romances que narram experiências de personagens em
formação, em diferentes cenários e com semelhantes impedimentos por se tratar de
leituras que trazem o protagonismo feminino e negro. A fim de analisar as obras,
58
faremos a comparação dos dois romances com intuito de constatar as interseções e
divergências para levantar a hipótese de as duas narrativas serem consideradas
Bildungsroman (Romance de formação) feminino e negro, buscando entender o
percurso da apropriação do termo alemão do século XVIII em que concerne o gênero
literário e a possibilidade de acomodar o conceito como classificação destes romances
contemporâneos. No intuito de aproximar a discussão sobre o gênero literário para os
dias atuais, nos guiaremos pelas propostas de Cristina Ferreira Pinto em sua obra O
Bildungsroman Feminino: Quatro Exemplos Brasileiros e também pelas considerações
de Wilma Maas em O Cânone Mínimo: o Bildungsroman na História da Literatura.
59
A CONTINGÊNCIA DO OUVIR E O TRADUZIR POÉTICO: A EXPERIÊNCIA
DE MACBETT
Resumo: Eugène Ionesco publicou Macbett em 1972, peça considerada uma paródia de
Macbeth, de William Shakespeare, escrita mais de 350 anos antes. Em 2018, ao propor
a tradução de Macbett do francês para o português brasileiro, a autora deste trabalho
coloca em cena a pergunta: como ouvir o que fica por traduzir do texto de Ionesco? Este
é o questionamento central que guia esta comunicação e parte do desmonte do sentido
corrente de tradução, que a torna o ponto fraco das noções de linguagem – segundo
Henri Meschonnic, em Poética do traduzir (2010) –, por confundir língua e discurso de
maneira frequente e desastrosa. A poética do traduzir, proposta pelo autor, encara a
tradução como ato de linguagem, que tem sua própria historicidade. A unidade da
poética é o discurso, e este é da ordem do contínuo – pelo ritmo, a prosódia. “Se
queremos aprender algo sobre o descontínuo do signo e o contínuo do fazer, do agir na e
pela linguagem, é preciso aprender, ou talvez reaprender, um modo de escutar aquilo
para o qual o signo nos tornou surdos” (MESCHONNIC, 2010, p. XXXI). Se o
tradutor/leitor é aquele que ouve em duplicidade cada palavra (Roland Barthes, 2004), é
papel dele estar atento às possibilidades de escuta. Meschonnic nos deixa a pista de que
talvez o caminho seja a oralidade, que é a organizadora do discurso, e é o que fica por
traduzir. A partir desta concepção de poética do traduzir, da compreensão de texto e de
leitor de Roland Barthes e da experiência prática de tradução de Macbett (de exercícios
de leitura do texto em francês e também de versão da tradução em português), este
trabalho busca apontar indícios de como Macbett age na linguagem.
Palavras-chave: literatura-modernidade-drama-feminino-cotidiano
60
IDENTIDADE, CULTURA E RESISTÊNCIA NO CORDÃO JUNINO DO
MAJESTOSO PAVÃO
Resumo: O Festival de Cordões Juninos, adaptado a partir da obra Pássaro da terra (1999), de
João de Jesus Paes Loureiro, figura como uma das principais estratégias de intervenção social
dos Centros de Referência em Assistência Social - CRAS junto aos territórios do município
de Abaetetuba. Durante o primeiro semestre de cada ano, técnicos e educadores sociais, além
de crianças, adolescentes e seus familiares, usuários dos programas sociais, realizam o
trabalho de pesquisa em seus respectivos territórios. Textos teatrais e composições musicais
são criados a partir de um conjunto de temáticas sociais já exploradas em reuniões pelos
grupos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV. Objetivamente, as
temáticas de maior relevância junto aos grupos são: a) combate ao trabalho infantil; b)
violência doméstica e familiar; c) sexualidade; d) cultura de paz; e e) meio ambiente. É nesse
sentido que o Festival se apresenta como modelo de intervenção que visa promover a
convivência e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários dos usuários atendidos
pelos programas socioassistenciais, através da valorização da arte e da cultura popular no
município de Abaetetuba, sem perder de vista a preocupação central, que se traduz pela
expectativa de minimização das situações de violência, vulnerabilidade e exclusão social.
Neste trabalho, fazemos um estudo do texto teatral, das composições musicais e da
performance do Cordão Junino do Majestoso Pavão, encenado por usuários pertencentes a
uma comunidade quilombola da região das ilhas do município de Abaetetuba, a fim de refletir
sobre processos de construção e afirmação de identidade e práticas de resistência de sujeitos
historicamente estigmatizados e marginalizados pelo rebaixamento de suas raízes sociais,
raciais e culturais. Além disso, procuramos compreender em que medida essa releitura do
Pássaro da Terra permite compreender aspectos próprios do ethos ribeirinho da Amazônia
Baixo-Tocantina.
61
fauna e flora, a região amazônica também é fonte de uma gigantesca riqueza folclórica,
que os povos lusitanos em contato com os índios da região obtiveram um contato
cultural único, deixando um grande legado de lendas, um arsenal singular de tradições e
mitos populares que traça culturalmente as fronteiras desta região do país. Para
enriquecer e explanar melhor as ideias expostas neste artigo foram alicerceadas
publicações de CANDIDO (2006); COUTINHO (2001); MONTELO (1995); MORAES
(2002); NALU (1998); VERISSIMO (1903) e WERNECK SODRE (1960) entre outros
autores que tanto contribuíram para a sustentação teórica embasada para a melhor
elucidação das alegorias femininas da Amazônia brasileira.
62
Resumo: Este presente artigo é fruto da disciplina Literatura Comparada, vinculado ao
Programa de mestrado em Estudos literários, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Essa pesquisa tem como objetivo interpretar as personagens Nhá Benedita do romance
Marajó (1947) de Dalcídio Jurandir e Hortência do livro homônimo de Marques de
Carvalho (1888). Para tanto, a metodologia utilizada será a teórico-interpretativa dos
estudos de cultura e identidade, com os autores Bernd (2013), Carvalhal (2006) e
Machado e Pageau (2001), para se compreender a abordagem utilizada na interpretação
dos textos, enquanto Evaristo (2008) será necessária no que se refere a entender a
perspectiva das imagens das mulheres negras na Literatura brasileira. Nos romances
citados, irei considerar as duas personagens negras que marcam os enredos: Nhá
Benedita, preta doceira, já senhora, conta histórias fictícias e da época de escravo,
aparece como uma Mãe-Preta, isto é, paciente, carinhosa e sempre acolhedora; enquanto
Hortência uma jovem mulher, aparece com uma bela encantadora, calma, sempre
prestativa e afável. Em ambas, podem-se identificar a figura do orixá Iemanjá a qual
será a metáfora usada para se costurar e dialogar essas figuras. Nesse sentido, Odayá ou
Iemanjá é orixá reverenciado pela nação Iorubá, ela representa a força, a beleza, a
maternidade e a vergonha, mora no fundo do mar. Ao final dessa leitura, possibilitará
vermos as representações dos negros em dois momentos literários, em que esses
diferentes olhares divulgam as diversas perspectivas na construção das identidades
negras da Amazônia. Assim com essa analogia de Iemanjá, comparo Hortência e Nhá
Benedita como herdeiras de Iemanjá, não faço referências a religiosidade de matriz
africana, o que interessará, na verdade, são traços e características que transitam e
direcionam o leitor a associá-las a essa deusa das águas salgadas.
63
ou no espaço. O aporte teórico usado para discutir as propostas da comunicação são
Georges Didi-Huberman e Henri Meschonic.
Resumo: O objetivo desta pesquisa é percorrer a obra poética da poeta paraense, Olga
Savary, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Entender seu repertório selvagem (uma
alusão ao título de uma de suas obras) sob a perspectiva filosófica das principais
questões da vida e da obra de arte que transcendem em sua poesia. Para iluminar os
caminhos da crítica literária propomos estudar o método crítico de Benedito Nunes, por
ele tratar da hermenêutica e poesia, articular o pensamento filosófico de Heidegger e
buscar a passagem para o poético. Por isso acreditamos ser a tríade ideal para a pesquisa
da obra poética de uma escritora tão singular e potente. Sua vida e obra foi/é toda
dedicada à poesia. Olga Savary apresenta uma vasta produção literária, jornalística,
ensaísta, crítica, tradutora, entre outras, infinitas atividades exercidas por ela. Assim
como, ela mesma afirmou presencialmente, na ocasião da Feira do Livro de 2013: “A
Literatura é uma dama exigente, não dá descanso. Ou você se entrega a ela toda a sua
energia ou ela lhe vira as costas” (SAVARY, 2013).
64
abismo do pensamento e realizamos uma crítica literária enquanto escuta poética das
questões do tempo e da memória. Dessa forma, entendemos que esse personagem-
questão vive uma experienciação com o tempo, que foge àquele cronometrado pelo
relógio ou mesmo àquele pensado pela ciência, e no seu tempo experiencia o tempo
humano e poético. Para realizar este intento, buscamos especialmente em Henri Bergson
(1859-1941), Martin Heidegger (1889-1976), Benedito Nunes (1929-2011) e Manuel
Antônio de Castro (1941 –) um diálogo que permitiu pensar a escuta poética das
questões naqueles romances inglesianos.
Resumo: O trabalho visa analisar a maneira como Antonio Candido constrói sua crítica
sobre o romantismo, mais especificamente sobre como a crítica de arte desenvolda pelo
Frühromantik irá influenciar e ser fundamental para o surgimento da crítica literária
65
brasileira no período romântico. Para isso, analisaremos, principalmente, o capítulo
“Raízes da crítica romântica” que está na Formação da Literatura Brasileira (2000) de
Antonio Candido. Procuramos discutir, ainda, as semelhanças e as diferenças entre a
leitura de Candido sobre o período romântico e as de Octavio Paz em Os filhos do barro
(2013) e Márcio Seligmann-Silva em Ler o livro do mundo (1999). Além da influência
do Frühromantik sobre a crítica romântica brasileira, procuramos analisar como as
reflexões presentes na crítica de Candido sobre o romantismo aparecem em sua análise
do poema Meu sonho, que está no capítulo “Cavalgada Ambígua” do livro Na sala de
Aula(1993). Procuramos verificar até que ponto Candido cria uma teoria sobre o
romantismo brasileiro em sua crítica, apontando suas particularidades em relação ao
modelo europeu, e como o romantismo brasileiro contribuiu para a formação da
literatura brasileira, em especial da crítica literária.
66
CONSTELAÇÕES POÉTICAS: NOTAS SOBRE O “REAMANHECER”, DE
STELLA LEONARDOS.
67
Benedito Nunes em seu estudo, neste conto encontramos as mesmas características pelo
autor apresentadas e inerentes a outros contos de Clarice.
Resumo: A ideia da arte literária como não-estética, nos estudos literários, tende a
evocar os estudos culturais britânicos e uma noção de literatura como influxo
socioeconômico ou, em casos mais extremos, a apropriação deste por parte dos estudos
culturais norte-americanos e um excesso de "teoria" que deixa de lado o objeto literário
em prol de um discurso lateral daquilo que o cerca representativo nos vários "studies".
A ideia de uma visada "estética" tende a ser associada a correntes como o New
Criticism e Formalismo Russo e seus interesse pela obra isolada, até certo grau, do
68
contexto. Entretanto, se observarmos atentamente a tradição estética, veremos que estas
partem de um equívoco produzido pela própria concepção estética da arte, o de igualar
"estético" com "artístico". Pretendo evidenciar aqui que a filosofia de Ingarden,
interpretada a partir da atual filosofia da arte anglófona – em Arthur Danto, Noël Carroll
e Graham McFee – , possibilita pensar uma outra via que não recai nem em um
conservadorismo que isole o texto literário (como autossuficiente), nem um estudo que
coloque a obra como um pré-texto. A recusa da estética seria, diversamente, uma
mudança de uma epistemologia para uma ontologia fundamentada no princípio de ação,
necessitando uma reorientação da compreensão do ser-arte já, em parte, indicado nos
trabalhos de Ingarden. Portanto, não se trata de uma questão de qual objeto focar - obra
ou seu entorno - mas de uma mudança com relação ao que significa ser-arte, uma
pergunta por uma base ontológica que precede as propostas supracitadas e que,
consequentemente, acarreta mudanças a ambas.
Resumo: Na virada do século XIX para o século XX, cidades da América Latina foram
contempladas com uma expansão econômica e social denominada belle époque. Nesse
período, a capital paraense era um dos pontos mais importantes do Brasil com grande
circulação de pessoas e intenso fluxo de mercadorias nacionais e internacionais. Com o
boom da era da borracha, Belém sofreu transformações na sua estrutura arquitetônica
pautada nas reformas das grandes capitais europeias, mudanças que promoveram um
69
deslumbramento em muitos que nela circularam dentre eles habitantes, viajantes e até
mesmo personagens da ficção como menino Alfredo, do romance Belém do Grão-Pará
do escritor paraense Dalcídio Jurandir. A partir disso, esta pesquisa tem como objetivos
investigar como o romance Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir, apresenta a
arquitetura vigente da belle époque, e analisar a reprodução do espaço urbano na
literatura como evidência de uma construção histórico-social. Tomamos como
fundamentação teórica as reflexões a respeito da literatura como expressão e
representação do espaço urbano, da construção do cidade como expressão material e
social e da produção literária como evidência histórica. Como metodologia de pesquisa,
além das discussões teóricas, estabelecemos uma comparação entre o romance e jornais
e diários de viajantes que datam do período de 1877 a 1906, o qual corresponde ao
apogeu da economia gomífera em Belém. Como resultado parcial da análise,
verificamos que o escritor realiza no romance um resgate memorialístico da paisagem
da capital paraense de fins do ciclo econômico como testemunho das evidências da
estrutura urbana da cidade. Utilizamos como referências bibliográficas autores como
Barbara Freitag (2012), Giulio Argan (2005), Marisa Carpintéro e Josianne Cesaroli
(2009), Nicolau Sevcenko (1998), Sandra Pesavento (2007), Renato Cordeiro Gomes
(2008) e Richard Morse (1995).
70
Palavras-chave: Literatura russa, Ivan Aleksándrovitch Gontcharóv, Oblómov,
cronótopo idílico, mito
71
como lido por Antonio Candido, parecia condensar um conjunto de aspirações de um
país em vias de dar um salto formativo real.
Resumo: A empatia ante a alteridade, o olhar para o “Outro” com respeito às diferenças
e a procura por entender o que causa a desigualdade social têm sido o legado deixado
pela escritora Nair Ferreira Gurgel do Amaral à criação regional. Seu trabalho criativo
explora textos orais e escritos, a partir de histórias coletadas em área urbana e ribeirinha
em Rondônia, estado que faz parte da Amazônia brasileira. A proposta aqui apresentada
é resultado parcial do projeto “Processos de criação na Amazônia: escritores contam
suas experiências literárias”, desenvolvido por pesquisadores do Núcleo de Estudo:
Linguagens, Literaturas e Processos de Criação da Linha de Pesquisa: Educação,
Cultura e Comunicação do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias do
Instituto Federal de Rondônia (GET/IFRO ), no qual está em investigação o processo de
construção artístico de escritores amazônidas. No trabalho em tela, o objetivo é a
compreensão do processo de criação literária de Nair Ferreira Gurgel do Amaral por
meio da Crítica Genética, tendo condução metodológicas as teorias encontradas em Pino
(2007), Salles (1991) e Zular (2002). Como resultados, são apontados indícios do
processo de criação da professora universitária radicada em Porto Velho, Rondônia,
com características advindas da teoria pós-colonialista. Assim, são encontradas bases no
hibridismo e no multiculturalismo, conforme aporte teórico em Machado (2002), Hall
(2011), Canclini (2008), Bhabha (2013), Fanon (2008), Said (2007) e Bagno (2013).
Foram analisadas neste estudo as obras literárias e as escolhas de criação de seus livros.
Verificamos, a partir deste estudo, que a hibridização cultural, o multiculturalismo, a
valorização do ribeirinho e do porto-velhense são pontos fortes do conjunto do discurso
literário adotado pela autora. Enquanto escritora, Nair é uma autora que se utiliza muito
do universo amazônico e da “popularização” das pesquisas científicas.
72
escritas ligadas à velhice e à morte e suas representações na modernidade, de Ecléa Bosi
(2009) e Simone de Beauvoir (1990), bem como, às produções críticas de Antonio
Candido (2012) e Benedito Nunes (2009) à luz de ideias da Estética da Recepção
(JAUSS, 1994; ISER, 2002). O desenvolvimento da pesquisa resultou em quatro
trabalhos acadêmicos: VIII Seminário Rosiano (UFPA, 2017), XIV Seminário de
Pesquisas em Andamento (UFPA, 2017), 10ª Jornada de Pós-Graduação (FIBRA,
2017), 21º Congresso de Leitura (UNICAMP, 2018) e na publicação do artigo “Sob a
égide do tempo: a velhice em Corpo de baile e grande sertão: veredas” na Zunái:
Revista de Poesia & Debates (2017).
Resumo: A música como linguagem é, sem dúvidas, segundo Snyeders, mais diretamente
comovente do que a linguagem propriamente dita. Por isso, este estudo visa unir reflexões
sobre identidade e discurso através de músicas indígenas contemporâneas da artista indígena
Tikuna, Djuena Tikuna. Para nossa análise, elencamos três músicas: Nós somos floresta, Não
vamos desaparecer e Todos os povos se unirão. São músicas que fazem parte do CD
Tchhautchiüãne de Djuena Tikuna, a partir delas construiremos reflexões sobre língua como
recurso cultural e performance, como postura reflexiva, envolvendo habilidade e competência,
baseada em Bauman. Bakhtin comporá nossa reflexão sobre a língua como ferramenta de
conformação identitária; além de Duranti, a partir de suas abordagens sobre a língua como
recurso cultural entrelaçado a uma prática social. Como recurso semiótico para Antropologia
e para a linguagem, a língua será a responsável por, a partir da fala, construir uma cultura e a
interação de variedades identitárias.
73
professores Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões e Christophe Golder e o
romance Olho de Boto (2015), de Salomão Larêdo. As narrativas coletadas dão conta de
que as vozes gays são, por vezes, silenciadas pelas vozes heterossexuais, o que parece
reproduzir o olhar dos homens e mulheres das comunidades tradicionais amazônicas
acerca das identidades sexuais tidas por desviantes. Inclusive, quando em algumas delas
se deixa perceber que há certa cautela em admitir que essas identidades existam e que as
personagens do imaginário como o boto e cobras podem ser representadas com a
identidade homoafetiva. Assim, essas vozes não deturpam ou desconstroem a literatura
amazônica já sistematizada, pelo contrário, contribuem para que os diversos povos os
quais habitem este espaço vejam-se representados.
74
DEMANDAS LITERÁRIAS NA IMPRENSA PARAENSE
75
animais de Gaiman contribuiria para uma tomada de consciência dos direitos dos não-
humanos, possibilitando que o respeito e a valorização da natureza não sejam motivados
apenas em termos de sua utilidade para nós, mas pelos valores e saberes intrínsecos a
própria natureza. Para tanto, nos fundamentaremos nas obras de Montaigne (1987),
Eisner (1989) Berger (1980) e Derridas (1997), Garrard (2006), Jung (2008), Hunt
(2010), Groensteen (2015), assim como nas obras de Maria Esther Maciel sobre
Literatura e animalidade (2011; 2016) e no estudo de Rossi sobre Direitos dos Animais
(2016).
Resumo: A presente pesquisa traz reflexões sobre as afinidades entre a poética de Max
Martins e o xamanismo. A criação poética como ato de liberdade espiritual (o estar fora
de si), a experiência poética como chamado místico, a língua em sua fisionomia
enigmática, a abertura erótica, a escritura como êxtase e a presença dos animais de
poder, recorrentes na poética do autor poderiam levar à concepção de poesia como
êxtase xamânico? Com o apoio dos estudos de Mircea Eliade, Claudio Willer, Eduardo
Viveiros de Castro e Jerome Rothenberg, será discutido de que modo traços e temas do
xamanismo podem ser percebidos nos poemas de Max Martins. O objetivo desta
pesquisa é ponderar sobre a poética de Max Martins, concebendo-a também como
experiência extática de linguagem, situando assim, o poeta, em uma “linhagem” de
poetas-xamãs que remontaria desde os poemas órficos, passando por Dante Alighieri,
William Blake, Gérard de Nerval, Rimbaud, até a mais recente "Beat Generation”, o
contemporâneo Roberto Piva, dentre outros.
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presentes no referido romance sobre o fazer artístico contemporâneo na Amazônia
envolvem reflexões também sobre mercado, a questão da criação, da ruptura e recriação
da linguagem ante o público e as instituições que fomentam e sustentam a arte.
Resumo: Este trabalho teve como tema as estratégias utilizadas pelo tradutor para traduzir os
itens culturalmente específicos da região amazônica para o inglês no livro Cinzas do Norte, de
Milton Hatoum e sua tradução, Ashes of the Amazon, por John Gledson. Para isso, utilizamos
textos de Bassnett (2002) e Munday (2001) para apontar as transformações sofridas nos
estudos de Tradução; Schleiermacher (2001), Catford (1980), Venuti (1995 e 2002) e Aixelá
(1996), para tratar do papel do tradudor e suas escolhas ao realizar uma tradução, dando
enfoque ao conceito de estrangeirização e domesticação, descritos po Venutti e às estratégias
de tradução de Aixelá. Os objetivos deste trabalho foram localizar as estratégias de tradução
descritas por Aixelá (1996) em Ashes of the Amazon, quais e o impacto destas no resultado
final da tradução. Em seguida, fizemos uma comparação entre as duas obras e os dados
coletados foram divididos em nove categorias, sendo elas “Expressões”, “Formas de
tratamento”, “Fauna e Flora”, “Pratos”, “Personagens”, “Países e cidades”, “Lugares e
Instituições”, “Geografia, ruas e vizinhança” e “Celebrações e referências religiosas”. Como
resultado, percebemos que a estratégia mais utilizada foi a de Repetição, mantendo grande
parte dos nomes próprios existentes na obra original, e que as maiores mudanças ocorreram na
categoria “Expressões”, por conterem a maior carga de elementos culturais e onde o tradutor
teve que utilizar de sinônimos e reescrita ao traduzir o texto. Concluímos que, embora o
tradutor tenha feito muitas mudanças nas expressões locais devido à sua característica de ter
termos mais carregados culturalmente, ele manteve muitos dos termos originais do livro
Ashes of the Amazon, especialmente em relação aos nomes, tornando o livro estrangeirizante.
Resumo: O século XIX foi considerando por Bourdieu (1992) o momento em que o
campo literário se solidificou e a figura do escritor passou a ser a de um sujeito imerso
em uma teia muito bem urdida de elementos interligados do meio de produção cultural,
construindo, assim, uma estrutura formada por editores, escritores e leitores,
responsáveis pela produção, circulação e recepção da obra literária. Desse modo, o
papel do editor passa a ser compreendido para além de um mero mercador de obras, mas
sim como um elemento singular para a consolidação de nosso cânone literário, na
medida em que sua relação com os escritores permite o esquecimento ou a perpetuação
de uma obra na memória cultural. Com base nessa concepção, configura-se o objetivo
77
principal deste estudo: analisar os contratos estabelecidos entre os editores e dois dos
principais escritores oitocentistas, José de Alencar e Machado de Assis, a fim de
compreender como as cláusulas contratuais, bem como o valor pago aos escritores vão
sendo modificados, na mesma proporção em que o gênero, a obra ou o nome do escritor
se consagra no meio beletrista oitocentista.
78
maravilhoso é construído, aceito e crescente nesta sociedade repleta de mitopoética.
Para que ao final, possamos perceber essa construção do maravilhoso na narrativa oral.
Para embasar teoricamente nossa pesquisa, trabalhamos com Le Goff (2017) e Marinho
(2006) sobre o Maravilhoso na Idade Média; com Chiampi (2015), Roas (2001), Gama-
Khalil (2012) e Todorov (2014) sobre o fantástico e o maravilhoso; Mielietinski (1987)
e Levi-Strauss (2013) sobre mito; para falarmos de Amazônia usaremos Paes Loureiro
(2015/2016) e Gondim (2007).
79
comparativo, pretende-se indicar possíveis influências de Kuzmin no texto de
Kharitónov, e notar modificações no modo de tratar o tema da homossexualidade
masculina em literatura. Serão feitos comentários e observações a respeito da história e
da cultura russa e soviética para melhor situar os textos no tempo-espaço e compreender
melhor o olhar que cada escritor lança sobre o tema. A comparação entre os textos é
uma das partes que compõe a análise do conto “Forno”, tema da minha dissertação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KHARITÓNOV, Evguéni. Pod domachnim
arestom [Em prisão domiciliar]. 2º edição. Moscou: Glagol, 2005. BELYNTSEVA,
Olga. Gomosseksual'naia tiéma v russkoi literature XX viéke (Mikhail Kuzmin i
Evguéni Kharitónov) [ O tema da homossexualidade na literatura russa do século XX
(Mikhail Kuzmin e Evguêni Kharitónov)]. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade
de Filologia, Universidade Masaryk. Brno, 2007. KUZMIN, M. Krýl'ia [Asas]. Moskva:
Kvir, 2008. KUZMIN, Mikhail. Asas. Tradução e posfácio de Elias Ribeiro de Castro.
São Paulo: Editora Z, 2003.
80
ESTUDOS LITERÁRIOS
COMUNICAÇÕES
INDIVIDUAIS
A DESUMANIZAÇÃO COMO DESCONSTRUÇÃO E CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE DE G.H., EM A PAIXÃO SEGUNDO GH DE CLARICE
LISPECTOR
Alany Ferreira (UFRA)
Resumo: Este trabalho analisa a obra de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H.
publicado em 1964 com a perspectiva de contribuir para o entendimento do conceito de
humanização no romance, a fim de investigar como ocorre o processo de
desumanização na personagem G.H., tendo em vista que Clarice Lispector desconstrói a
ideia de moralidade ao mostrar a grande contradição existente na concepção de
humanização em seu sentido literal. São trabalhados os conceitos de desumanização,
desconstrução, moralidade, civilização e identidade, a partir da protagonista do livro.
Esse trabalho tem como objetivo investigar de que forma a desumanização de G.H.,
desenvolve seu autoconhecimento e a ruptura de seu invólucro de humanidade,
essencialmente capaz de revelar sua real identidade, evidenciando as transformações
percorridas pela protagonista ao longo da narrativa. Tendo a desumanização como ponto
chave, tentarei expor a relação entre ela e as demais noções aqui apontadas, recorrendo
para tanto a própria obra e os elementos que a mesma fornece.
Palavras-chave: Identidade, Desumanização, Civilização, GH, Clarice Lispector.
82
inocente: “Captava no ar mais sonso do mundo notícias de Eros”. Embora esse
reconhecimento do autor esteja atrelado à proposta do livro –, cuja perspectiva
memorialística demarca um conjunto de narrativas que recontam as suas experiências
vividas, durante a infância e adolescência, em sua cidade natal, a mineira Juiz de Fora –,
torna-se producente, em termos analíticos e interpretativos, aproximar tal enunciado à
própria poética muriliana. O autor possui em sua extensa produção literária textos que
demarcam a temática erótica, como é o caso dos poemas “Romance da penitência do
Rei Rodrigo”(Tempo espanhol, 1959), “Jandira”, “A noiva” (ambos de O visionário, de
1941) e “Grafito para Ipolita” (Convergência, de 1970), sendo que os dois últimos
integram a Antologia da poesia erótica brasileira, volume que saiu em 2015, organizado
por Eliane Robert Moraes. De todo modo, mesmo os mais experientes exegetas da obra
de Murilo Mendes, não negam a presença de Eros entre os títulos, mas, por outro lado,
reforçam que o poeta juiz-forano explora um grau mínimo de obscenidade em seus
poemas. Ou seja, a experiência erótica da poesia muriliana valoriza o registro mais
sublime do corpo e da sexualidade. Tal característica não pretende atestar qualquer
valoração à obra, ao contrário, intenta-se compreender as especificidades desses textos
que parecem tangenciar a questão erótica. Assim, a presente comunicação objetiva: 1)
investigar de que maneira se articula na coletânea As metamorfoses, de 1944, a
categoria do erotismo sonso; 2) delinear quais as estratégias poéticas adotadas pelo
autor para o efeito dessa dissimulação erótica. Para isso, examinará os poemas mais
exemplares desse fenômeno, evocando textos críticos e teóricos que possam dialogar
com a ideia de erotismo sonso.
Palavras-chave: Murilo Mendes, erotismo sonso, As metamorfoses.
83
Palavras-chave: mulher, negritude, Amazônia, Dalcídio Jurandir
Resumo: Este trabalho visa discutir as relações de gênero presentes no romance Úrsula
(1859), de Maria Firmina dos Reis, considerado o primeiro romance abolicionista do
Brasil. No que diz respeito as relações de gênero, concordamos com a ideia de Alves e
Pitanguy (1990), quando discutem que o movimento feminista teve por objetivo
desconstruir formas de organizações sociais preestabelecidas, nas quais eram
constituídas por meio da subordinação e da tirania. Dessa forma, acreditamos que Reis
elabora, por meio da obra Úrsula, uma denúncia contra o sistema patriarcal ao qual as
mulheres eram submetidas no Brasil do século XIX. Sendo assim, a partir do estudo de
teóricas do feminismo tanto do século XIX – como Nísia Floresta (1989) –, quanto do
XX – como Beauvoir (2004), Alves e Pitanguy (1985) e Duarte (2003) –, este trabalho
tem por finalidade analisar as ideias de Reis a respeito da condição de subordinação da
mulher na sociedade do século XIX, em especifico a mãe de Tancredo, herói da história,
cujo nome não é revelado. O fato de a personagem não possuir um nome já diz muito
84
sobre sua história, pois nos permite inferir que ela se resume aos papeis de mãe e
esposa, sendo entendida como uma mulher despersonalizada e sem identidade.
Palavras-chave: Literatura brasileira, Úrsula, Relações de gênero, Teorias feministas.
85
condutas doutrinadoras em vigor, principalmente ao que diz respeito ao corpo feminino.
As práticas disciplinadoras visam gerir os comportamentos, as existências, os trabalhos
e os afetos do indivíduo. Ao que toca a questão de gênero entendemos que os corpos
femininos se tornam objetos sexuais na trama de Trevisan, sendo Mariazinha julgada e
subjugada pelo patriarcalismo e por dispositivos de repressão (sócio)sexual.
Palavras-chave: Sexualidade, Corpo Feminino, Dispositivos, Relação de Poder
86
como modo de construir uma personalidade/subjetividade específica. Este trabalho
objetiva mapear a dupla articulação performática entre uma ontologia da performance
no teatro e uma ontologia performática de construção da subjetividade. Para tal, recorre-
se ao The Cambridge Companion to Harold Pinter (2009), dentre outros artigos focados
na produção inicial de Harold Pinter, perpassando por um estudo da teoria do teatro em
Uma anatomia do drama de Martin Esslin (1978), Introdução a analise do teatro de
Jean-Pierre Ryngaert (1993). Como resultado, apresenta-se a dupla performatividade da
peça ao entender o cárcere cúbico do quarto como um cárcere social, em que a prisão de
Rose, ou ausência de vontade de sair, pode ser compreendida dentre de uma recusa à
liberdade perante a iminência punitiva de Bert que rápida e violentamente reprime Rose
e Riley, de forma a inibir qualquer possibilidade de interferência e liberdade externa.
Pinter instiga o leitor a questionar seus hábitos por meio do reflexo das performances
teatrais, traçando uma relação entre a performance do teatro e a performatividade de
identidade dos personagens espelhadas no público.
Palavras-chave: Performatividade; Harold Pinter; The room
87
AS MARCAS DA ESCRITA FEMININA NA POÉTICA DE DULCINÉIA
PARAENSE.
Camila Martins de Sousa (UFRA)
Samira Mendonça de Oliveira (UFRA)
Flavyanne Santos Serrão Almada (UFRA)
Resumo: Este texto analisa as marcas da escrita feminina presentes na poética da
escritora Dulcinéia Paraense. Esta análise relaciona a escrita de Dulcinéia Paraense ao
seu tempo, a forma como ela, sendo mulher, se expressava através dos seus textos nas
décadas de 1930 e 1940, quando ficou conhecida como poeta. A base teórico-
metodológica utilizada para a realização da análise pautou-se nos conceitos de Escrita
Feminina e a sua relação com o erotismo segundo Santos e Amaral, e de melancolia e
subjetividade, segundo Magnabosco. O corpus para análise foi composto por 2 (dois)
poemas de Dulcinéia Paraense, que são: Versos íntimos (1936) e Inquietude (1941). O
objetivo deste trabalho é identificar as marcas da escrita feminina nos poemas de
Dulcinéia, a partir dos conceitos de subjetividade, erotismo e melancolia presentes nessa
escrita, tendo como referência as décadas em que são registrados os poemas que
compõem o corpus desta pesquisa. As questões da pesquisa são: 1. Quais as marcas da
escrita feminina presentes nos poemas de Dulcinéia Paraense? 2. De que forma essas
marcas revelam quão à frente do seu tempo pode estar essa escritora? Os resultados
demonstram que a escritora Dulcinéia revela traços de uma escrita feminina com
marcas, mesmo que subjetivas, de erotismo e uma certa melancolia. Tendo em vista o
período da sua escrita, podemos concluir que Dulcinéia, como mulher, jornalista e
poeta, não se deixou filtrar pelos padrões que, possivelmente, lhes eram impostos.
Escritora paraense que não transparecia marcas regionais em seus poemas, mas
apresentava uma escrita com temáticas universais e, não se privou de escrever poesias
com marcas eróticas mesmo estando em um lugar de fala de mulher e escritora da
amazônia, em que muitos poderiam julgar como um lugar onde existem regras para a
escrita.
Palavras-chave: Dulcinéia Paraense, Escrita Feminina, Erotismo, Subjetividade.
88
desmemória da história oficial (para introduzir no interior do universo ficcional)
temáticas que ficaram à margem das versões históricas escritas pelo patriarcado, como a
sexualidade feminina. Ao longo da história, a Igreja e o Estado representaram
conjuntamente as instituições que, de modo significativo, estabeleciam o sentido e o
lugar da mulher. Na Colônia, a mulher é tutelada a partir da ideologia católica.
Palavras-chave: Sujeito feminino. Desmundo. Estado
89
gênero – Corrêa, 2006 –, de que modo(s) gêneros discursivos originam, se articulam e
se interpenetram em gêneros formais presentes na obra de Metz, como o ensaio
filosófico/crítico, fragmentos e lírica, como procedimento de construção da literatura do
escritor gaúcho. Integram o corpus de análise da pesquisa o livro de contos O primeiro e
o segundo homem (1980/2001), a biografia Aureliano de Figueiredo Pinto (1986) e a
obra de ficção Assim na terra (1995/2013). Nesta comunicação, procuraremos analisar o
livro de contos O primeiro e o segundo homem (1980/2001), a fim de estabelecer
conexões intertextuais com artistas como Guimarães Rosa, por exemplo, a fim de criar
possíveis caminhos de interpretação da obra de Metz a partir do conceito de “ruína”,
uma vez que esta é compreendida neste trabalho em dois níveis: no nível temático, de
caráter simbólico, a ruína representa a devastação, já que são descritos situações,
personagens e paisagens ou costumes que passaram ou estão passando por um processo
de transformação que aparenta desembocar na degradação. Em seu outro nível, pela
perspectiva formal, compreende-se a ruína como um fragmento material inserida pelo
autor em seu texto, ora como citação direta ou indireta, ora como referência a uma
imagem ou cena de outra obra, podendo-se interpretar tal ruína textual como um artefato
potencialmente criador e carregado de sentido que é recuperado do passado e que
adquire um duplo movimento: a obra citada passa por um processo de ressignificação e
acúmulo de sentidos, assim como a obra citada também ressignifica e ilumina a obra
que ampara tal ruína.
Palavras-chave: Metz, Ruína, Intertextualidade
90
O PERPETRADOR NOS ROMANCES LA VIRGEN DE LOS SICÁRIOS E EM
DESPROPOSITO (MIXÓRDIA)
Dimitria Jastes Fernandes (UFPA)
Resumo: Esta comunicação propõe uma análise dos romances “La virgen de los
sicários”, do colombiano Fernando Vallejo, e Em desproposito(Mixórdia) do brasileiro
Abílio Pacheco, a fim de verificar como a figura do perpetrador está presente no tecido
textual da narrativa. De acordo com o estudo de Tânia Sarmento-Pantoja (2018) “a
narrativa do perpetrador pode ser categorizada como aquela em que um agente – seja
um personagem ou outras formas de agenciamento – em proveito próprio ou daquilo
que representa decide pela exclusão física ou simbólica da alteridade e/ou executa essa
decisão valendo-se de diversos instrumentos e estratégias. Nesse sentido, o perpetrador
pode ser tanto aquele que abstrai e planeja a exclusão, resguardado por alguma
autoridade, quanto aquele que pode desenvolver várias funções – profissionais, sociais,
institucionais – a fim de concretizar a exclusão". Consideraremos também a posição de
Lilia Rocha (2018), que avalia ser o perpetrador um dos elementos envolvidos em um
conjunto de atos sistêmicos próprios da exceção. E consideramos ainda a ideia de
dessemelhança em uma relação de poder, em que o perpetrador se identifica numa
posição de superior em relação à vítima, como indica Frei Betto (2018).
Palavras-chave: Perpetrador, Narrativa, Resistência, Fernando Vallejo, Abílio Pacheco
91
"LUGAR DE MULHER É....": A LITERATURA E A REPRESENTAÇÃO DO
ESPAÇO SOCIAL DA MULHER
Elem Dayane de Freitas Oliveira (IFPA)
Resumo: A crônica “Companheiras” é uma recordação de Eneida, de quando esteve
presa no Pavilhão dos Primários, onde apresenta devotadamente a luta de vinte cinco
mulheres por sobrevivência e sobretudo por participação social e política. O presente
trabalho tem o objetivo de analisar a representação do espaço social da mulher a través
da obra literária de Eneida de Moraes, apresentando aspectos relevantes da relação entre
mulher, literatura e sociedade. Para isso o método de investigação utilizado foi a
pesquisa bibliográfica que tem como base teórica SANTOS (1997) que apresenta
estudos sobre a obra de Eneida; ENEIDA (1989), produção literária analisada neste
artigo, e MAFFESOLI (2001) que fundamenta os argumentos sobre o imaginário. O
recorte temporal dado a este trabalho é o contexto da ditadura militar, posto que a
crônica analisada se passa nesse contexto. “Companheiras” dá visibilidade à mulher em
um espaço novo, embora mostre que estar no espaço político que é majoritariamente
masculino tem consequências. A crônica corrobora socialmente no sentindo de abrir
uma “fresta” na sociedade brasileira e mostrar, à luz da literatura que as mulheres
estavam presentes na luta pela cidadania no Brasil, mostrando que deve-se romper o
espaço demarcado e ir além. A literatura, nesse sentido cumpre um papel
conscientizador de que a participação das mulheres como hoje vemos é fruto de uma
luta incessante que a literatura em tom “poético” permite mostrar. Atualmente, vê-se a
luta de mulheres por reconhecimento, direitos e participação igualitária, é necessário
olhar para esses movimentos sociais e para a luta dessas mulheres com mesmo olhar
destemido de Eneida, para que assim a sociedade crie imagens de mulheres livres e
participativas. A literatura sem dúvidas, carrega grande responsabilidade de registrar e
apresentar para a sociedade essa nova imagem da mulher.
Palavras-chave: Mulher, Literatura, Representação Social.
92
que a mulher é submetida às tarefas domésticas, e ser mãe é o elemento que faz com que
tenha algum reconhecimento nas narrativas.
Palavras-chave: Personagens, Feminino, Literatura Comparada, Figura Materna
93
Queiroz, quanto na adaptação televisiva de mesmo nome produzida pela emissora Rede
Record, contudo se utiliza somente quatro dos diversos elementos – Anankê, Peripécia,
Anagnórise e Catástrofe –, pois torna a análise mais concreta, compacta e eficaz. A
partir disso também foi possível entender muito mais sobre a temática abordada, ou
seja, o incesto, que após pesquisa aprofundada é mostrado em diversas perspectivas –
social, religiosa, jurídica –. Para mais é pretendido estabelecer uma relação midiática,
tendo como base as teorias dos estudos interarte usadas para equiparar o texto da
clássica obra portuguesa que possui uma leitura solidamente contemporânea apesar da
época em que está situada a narrativa, com a adaptação que é uma releitura moderna e
“abrasileirada” do texto de Eça, tudo isto na tentativa de materializar como os elementos
trágicos estão presentes nas duas obras supracitadas e que são categoricamente trágicas,
pois independentemente da diferença e distância de criação de cada uma, são os
elementos trágicos que as tornam tão similares a ponto de serem comparadas em
análise.
Palavras-chave: Eça de Queiroz, A Tragédia da Rua das Flores, Trágico, Incesto,
Interarte.
94
LITERATURA AMAPAENSE NO OIAPOQUE – QUESTÕES DE
LITERATURA DE FRONTEIRA
Fabíola do Socorro Figueiredo dos Reis (UNIFAP)
Resumo: A fronteira Brasil-Guiana Francesa permaneceu durante um longo tempo
isolada e envolvida com as histórias dos garimpos ilegais, da prostituição e do ouro da
região. A disciplina Literatura Amapaense, ofertada pela primeira vez em 2018 no
Campus Binacional do Oiapoque (Universidade Federal do Amapá), lida com um
contexto de Literatura Amapaense como literatura de fronteira/literatura menor (termo
advindo da obra de Derrida/Guattari Kafka – por uma literatura menor) de uma maneira
diferente da capital Macapá (Campus Marco Zero), distante 600 quilômetros de
Oiapoque. Na disciplina há o estudo das origens do termo “literatura de fronteira” e
“literatura menor”, o trabalho da crítica literária para entender como as obras que
circulam na fronteira não estão no cânone literário, a comparação com outras literaturas
de fronteiras e literaturas de povos minoritários no Brasil e no mundo. Esta
comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos trabalhos dos discentes de
Literatura Amapaense no Oiapoque, centrando no contexto amazônico e a produção
literária contemporânea do município, apresentando também autores e obras e a visão
histórica e cultural predominantes nos últimos anos.
Palavras-chave: Literatura de fronteira, Literatura Menor, Literatura Amapaense,
Oiapoque
95
A FISSURA NA SOCIEDADE PORTUGUESA: UMA LEITURA DE AMA E
BRÍSIDA VAZ DOS AUTOS DE GIL VICENTE
Fernanda de Souza Andrade (UFAM)
Resumo: Gil Vicente consagrou-se como um grande nome do teatro português
apresentando diversas obras. As obras do teatro vicentino carregam a sátira e por
inúmeras vezes, críticas ao clero e a sociedade portuguesa. O objetivo do trabalho é
realizar uma leitura de duas personagens de Gil Vicente, sendo a primeira, Ama do Auto
da Índia (1509?); e a segunda, Brísida Vaz do Auto da Barca do Inferno (1516). A
análise é feita a partir do cenário matrimonial sendo uma adúltera e outra alcoviteira
respectivamente, culminando então na fissura da utópica e conservadora imagem de
Portugal. Este trabalho é fundamentado por meio da teorização de Laurence Keates
acerca de Gil Vicente no livro O Teatro de Gil Vicente na Corte, de Beth Brait e
Antônio Candido quanto a construção de personagens e Élisabeth Ravoux Rallo e
Aubrey F.G Bell quanto a crítica literária e literatura portuguesa. Esta comunicação é
resultado parcial dos estudos do programa de Monitoria em Literatura Portuguesa 2018,
da Universidade Federal do Amazonas. Palavras-chave: Gil Vicente, sátira, teatro
vicentino.
Palavras-chave: Palavras-chave: Gil Vicente, sátira, teatro vicentino.
96
HAROLDO MARANHÃO: UM ESCRITOR ALÉM DAS FRONTEIRAS
Flávio Jorge de Sousa Leal (UFPA)
Resumo: Este trabalho objetiva discorrer acerca da importância da obra de Haroldo
Maranhão para a literatura de expressão amazônica e sua inserção no sistema literário
nacional por meio da análise de fontes primárias, mais especificamente a partir da sua
recepção crítica em periódicos brasileiros, bem como pela análise da correspondência
pessoal do autor com editoras, escritores consagrados da nossa literatura e universidades
brasileiras e estrangeiras acerca dos seus livros. Para tanto, realizou-se uma pesquisa na
Sala Haroldo Maranhão, pertencente à Biblioteca Pública Estadual Arthur Viana, em
Belém-PA, bem como em periódicos paraenses, dentre os quais a revista Asas da
palavra e também na hemeroteca da biblioteca nacional a fim de analisar a recepção
crítica da obra do referido escritor. Nesse sentido, a análise dos documentos permitiu a
constatação de que Maranhão conseguiu transcender as fronteiras regionais, pois além
da sua obra ter manifestada recepção crítica em importantes jornais do país, entre os
quais o Jornal do Brasil e O Globo, e também sua obra ter sido objeto de interesse de
universidades e editoras estrangeiras, fato constatado por meio da leitura de sua
correspondência pessoal, as temáticas de suas obras e a linguagem por ele utilizada o
faz alçar do universo regional para o universal, uma vez que vai além de um retrato da
Amazônia enquanto um mero quadro da natureza, de forma que é um tanto quanto
lamentável as suas obras não mais serem editadas, de modo a ser um desafio para os
pesquisadores da região, como também para as escolas fomentarem a formação de
novos leitores por meio da leitura e discussão de seus livros, enquanto prosa ficcional de
reconhecida qualidade literária. O arcabouço teórico dessa pesquisa constitui-se de
Nunes (2002), Linhares (1987), Araújo (2013), Chaves (2013) e Abreu (2014).
Palavras-chave: Haroldo Maranhão, Fontes primárias, Importância.
97
rastros dos grupos vencidos no período da colonização, que por meio da obra receberam
sua representatividade diante de um narrador mestiço.
Palavras-chave: Memória, História, Novo Romance Histórico Latino-americano,
Representação
98
hibridismo cultural no romance de Araújo Amazonas e uma reflexão sobre as
contribuições de perspectivas pós-coloniais.
Palavras-chave: Romance. Hibridismo cultural. Amazônia.
99
do corpo indígena mestiço enquanto (In)Dócil, sendo uma das formas de narrar as
tensas relações contemporâneas.
Palavras-chave: Biopolítica, Literatura, Corpo (In)Dócil. Indígena. Nenê Macaggi
Resumo: Este estudo baseou-se nos escritos de Antônio Cândido (2006) no livro
intitulado Literatura e Sociedade, no qual propõe uma nova análise crítica de obras
literárias que aliam os aspectos estéticos e sociológicos num todo: “A análise crítica (...)
pretende ir mais fundo, sendo basicamente a procura dos elementos responsáveis pelo
aspecto e significado da obra, unificados para formar um todo indissolúvel” (...). Assim,
observa-se, em Bola de Sebo, a ironia realista como demarcação da crítica social. A
personagem principal que dá nome à obra, era vista como a mais indigna das mulheres,
porém era, na verdade, do ponto de vista humanístico, a mais honrada e admirável, e no
sentido material, a mais solicitada. Entretanto, por sua condição social, era reduzida ao
consumo e a descartabilidade, situação antecipada pela descrição de seu perfil, bem
destacada em expressões como “dedos semelhantes a salsichas curtas”, “recheada com
dentinhos brilhantes”, “apetitosa”, “frescor”, “seu rosto era uma maçã vermelha”. Nesse
contexto, nota-se o traço naturalista na narrativa, Bola de sebo é determinada a uma
função utilitária, ela serve, distrai e sacia aquela sociedade. Nota-se, ainda, a enfática
oposição ao idealismo romântico. Ainda que o leitor espere que a protagonista seja
100
reconhecida por sua boa ação ou sacrifício, isso não se cumpre; não há espaço para
sentimentalismo ou final feliz. Na verdade, o enredo nos surpreende por seu viés
contemporâneo, apresentando uma sociedade movida por interesses e conveniências,
sustentada em relações superficiais e transitórias, tal como a dinâmica de consumo na
modernidade.
Palavras-chave: Conto, Análise, Hipocrisia, Bola de Sebo.
101
pesquisa pretende mapear a manifestação do trauma, da resistência e da
espetacularização da violência nas obras. Partilha os pressupostos teóricos sobre A
sociedade do espetáculo estabelecidos por Guy Debord (1997), que determinam a base
de estudos sobre a espetacularização, e a reformulação da definição inicial de tal
conceito estabelecida por Augusto Sarmento-Pantoja (2013), que direciona um viés
positivo desse fenômeno, no que tange ao trauma e à necessidade de trazer à tona
episódios catastróficos. Pretende-se apresentar esse estudo como resultado parcial da
pesquisa, pensando em uma outra compreensão da categoria, de cunho positivo,
possibilitando a literalização desses acontecimentos, mesmo diante do trauma e da
violência, muitas vezes formulados espetacularmente na contística de Lygia Fagundes
Telles e João Gilberto Noll.
Palavras-chave: Trauma, Espetacularização da violência, Regime ditatorial.
102
CECILIA MEIRELES EM OURO PRETO: ANÁLISE COMPARATIVA
Jessica Braz da Silva (UNIFESSPA)
Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma comparação entre textos literários
da mesma autora, Cecilia Meireles, em que os textos apresentam temas semelhantes: A
Semana Santa e as linguagens abordadas em ambos se dão distintamente. Os textos
retratam uma tradição religiosa que é a Semana Santa, ocorrida em Ouro Preto. A
justificativa para a escolha do tema é relatar como temas semelhantes são trabalhados de
forma distinta de acordo com o público alvo. O texto intitulado “A Semana Santa em
Ouro Preto”, publicado na revista Travel in Brazil, em 1942, tem o intuito de atrair
turistas estrangeiros. De modo geral, é construído por uma escrita multimodal, de forma
a privilegiar figuras, cores e expressões linguísticas. Iniciado com relatos da referida
cidade, mencionando seus esplendores da mineração, sua beleza arquitetônica
preservada, assim como opções de estadia e de rotas a seguir. Já o texto intitulado “A
Semana Santa”, publicado originariamente no jornal Folha de São Paulo, em 1964, e,
posteriormente, na coletânea de Cecília Meireles (1999): Crônicas de Viagem, foi
destinado a um leitor brasileiro, sem as intenções de divulgação turística da revista
Travel in Brazil. Esse texto revela uma tradição religiosa vivida pelos cristãos de forma
intensa e comovente. A metodologia aplicada neste trabalho é de estudo bibliográfico e
comparativo, tendo sido selecionados alguns livros como: Crônicas de viagem 2 e 3, de
Cecília Meireles (1999), A Poeta-Viajante: Uma Teoria Poética da Viagem
Contemporânea nas Crônicas de Cecilia Meireles , de Luís Romano (2014), O texto de
Fernando Cristóvão (2002): “Para uma teoria da Literatura de viagens”, a revista Travel
in Brazil (1942), e artigos que tratam sobre o gênero da propaganda turística e as regras
que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais.
Palavras-chave: Cecília Meireles, Ouro Preto, Travel in Brazil, Turista.
103
Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus, Crítica literária feminista, Exclusão social,
Negritude.
104
Castro, aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPESP da
Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no período de agosto de 2017 até julho de
2018. Além disso, a pesquisa é vinculada ao Grupo de Estudos da Metáfora e Pesquisas
sobre Língua e Literatura de Expressão Amazônica — GREMPLEXA.
Palavras-chave: Amazônia, Ciclo da Borracha, Ficção, Um Punhado de vidas
105
A dupla chama: Amor e erotismo retrata o fenômeno erótico, além de estabelecer
relações entre a poesia e o erotismo. Há também o estudo de outros autores,
pesquisadores do autor paraense, críticos literários como Benedito Nunes que
embasaram esta pesquisa. Pretende-se com isso, sugerir um primeiro caminho
interpretativo da obra Colmando a lacuna contribuindo, assim, para o enriquecimento
dos estudos científicos e difusão da poética martiniana.
Palavras-chave: Erotismo, Colmando a lacuna, Max Martins.
106
RECUERDOS DE MIGUEL DE SANTANA EM ANDAR, ANDAR: MEMÓRIAS
DO NUNCA MAIS
Karla da Conceição Ferreira (UFPA)
Resumo: O objeto de estudo desta pesquisa é a obra Andar, Andar: Memórias do Nunca
Mais (2018) de Joaquim Alfredo Guimarães Garcia¹. Trata-se de uma narrativa
memorialística onde o protagonista Miguel de Santana, idoso de sessenta e dois anos,
após um longo período de afastamento, retorna á cidade de sua infância por motivo do
falecimento de Agileu – um de seus melhores amigos do tempo de meninice. Como se
dá o processo de desconstrução da imagem da cidade por intermédio das lembranças da
personagem Miguel de Santana? A justificativa para este trabalho é estudar a memória
enquanto fenômeno social e individual como forma de resistência ao presente mediante
as lembranças da personagem. Partindo dos conceitos de memória em Halbwachs
(1990), Le Goff (2003) e Bosi (1994) que transversalizam toda e obra, será realizada
uma análise da narrativa em três categorias: Personagem – Brait (1985); Tempo e
Espaço – Bachelard (2008). Esta pesquisa ainda está em andamento, porém já é possível
observar alguns resultados. ¹ Escritor nascido em Bragança –Pa.
Palavras-chave: Narrativa, Memória, Espaço, Personagem.
107
O CASAMENTO COMO OBJETO DE VALOR NO CONTO “MARIANA”, DE
MACHADO DE ASSIS: UMA ANÁLISE PELO VIÉS DA SEMIÓTICA
TENSIVA
Kátia Lorena Silva de Freitas (UEPA)
Ana Carolina Moura Santos (UEPA)
Resumo: O presente trabalho objetiva fazer uma análise do conto “Mariana”, de
Machado Assis, pelo viés da Semiótica Tensiva, considerando o casamento como objeto
de valor. A pesquisa está dividida em cinco seções: a “Introdução”, que inclui uma
visão geral da pesquisa e da análise; “Sobre o autor” e descrição do conto ‘Mariana’”,
em que são apresentadas a biografia de Machado de Assis, algumas opiniões sobre sua
obra e um resumo do conto analisado; “Aporte teórico”, em que são explanadas as
teorias mais relevantes da Semiótica Tensiva, cuja construção do sentido se dá em três
níveis, o das estruturas fundamentais, o das estruturas narrativas e o das estruturas
discursivas segundo o percurso gerativo; “Análise do conto”, na qual “Mariana” é
analisado seguindo os princípios da perspectiva de análise escolhida pelas autoras,
considerando o casamento como objeto de valor; e, por fim, as “Considerações finais”.
A partir de pesquisa bibliográfica – que consiste em buscar fontes teóricas em livros,
artigos e outros – fundamentamos este trabalho nos seguintes autores: Coutinho (1999)
e Nejar (2007), nos quais baseamos a biografia de Machado de Assis, além das críticas à
sua obra e estilo; Lopes e Almeida (2011), Barros (2007), Nöth (2003) e Pietroforte
(2008), que norteiam as teorias sobre a Semiótica Tensiva, pois desenvolveram métodos
de análise que permitem traçar o sentido e alcançar os objetivos de forma sistemática e
organizada; e Ravoux-Rallo (2005) e Zilberberg (2011), os quais fazem análises e
considerações acerca das críticas literárias, incluindo Semiótica Tensiva. Esperamos,
com este trabalho, fomentar outras análises pelo viés da Semiótica Tensiva, bem como
aumentar a fortuna crítica dos textos literários machadianos, saindo das análises
impressionistas e clichês, pois acreditamos que essa perspectiva de estudo permite ver o
valor do conto por ele mesmo.
Palavras-chave: Machado de Assis, “Mariana”, Semiótica Tensiva, Casamento, Objeto
de Valor.
108
análise do texto ficcional. Assim, de modo a trazer outro olhar para a leitura crítica de
textos literários, será realizada a análise do conto machadiano “A cartomante” a partir
da perspectiva da semiótica tensiva francesa, que têm como preocupação a compreensão
do aspecto sensível da significação do texto a partir do universo afetivo que nele se
encontra. Como fundamentação teórica e metodológica serão utilizados autores como
Zilberberg (2011), Zilberberg e Fontanille (2001), Pietroforte (2008) e Bertrand (2003).
Para isso, pretende-se exemplificar os conceitos de actantes, tensividade, e afetividade
na obra literária com o objetivo de atingir a compreensão de que essas dimensões
constituem um processo para a experiência do sensível no tecido textual.
Palavras-chave: “A cartomante”. Semiótica tensiva. Tensão. Machado de Assis.
109
Dante nutriu por sua musa Beatrice. Sendo assim, quando o poeta afirma que o Amor o
move, e que só por ele fala, Dante define o Amor como pano de fundo principal de sua
poesia.
Palavras-chave: Dante, Amor cortês, Luxúria, “Divina Comédia”
110
como estimulante para possíveis reflexões sobre os fatos que ocorrem no meio social.
Outrossim, os educandos participaram com mais empenho das aulas. Nesta perspectiva,
constata-se que o livro didático e as obras literárias não devem ser considerados
recursos exclusivos na sala de aula. Portanto, o docente precisa utilizar outras
ferramentas pedagógicas eficazes que auxiliem no processo ensino-aprendizagem e,
principalmente, estimule uma aprendizagem significativa. Isto porque é necessário
quebrar antigos paradigmas do ensino tradicional de Literatura que prioriza a
historiografia e os estilos literários, nos quais valorizam os recortes das obras literárias
sem fomentar reflexões sobre a realidade concreta.
Palavras-chave: Literatura, Cinema, Estratégia, Aprendizagem Significativa
111
comme l’ensemble de valeurs culturelles dans le continent noire, tel qu’ils se
manifestent dans la vie, dans les institutions et les oeuvres des nègres, ou d’une forme
encore discrète: la personnalité collective des peuples nègres (RIESZ, 2001, p. 153). Le
mouvement a réuni des écrivains, qui ont produit de la littérature pour composer le
scénario qu’on connaît, de la francophonie littéraire ailleurs. Pour cette analyse, on a
choisi la production poétique de Léon-Gontran Damas qui appartient à la littérature de
la Guyane Française, communauté territoriale de la France. L’extrait du poème analysé
porte les thèmes suivants: la résistance des peuples colonisés et l’indignation quant à
suppression de l’identité nationale. Ailleurs, on fera une brève présentation à propos de
l’auteur et son oeuvre, le contexte de l’époque de production et encore une réflexion sur
le concept de francophonie. L’article présente une approche qualitative et descriptive-
analytique qui favorise la lecture des thèmes de la Négritude présentée à partir de János
Riesz, dans son article Négritude, Francofonia e Cultura Africana (2001) et Magali
Renouf en Surréalisme africain et surréalisme français : influences, similitudes et
différences (2013). La recherche bibliographique sera la base pour l’élaboration de cette
étude, puisqu’on a utilisé les conceptions des auteurs importants de la théorie de la
littérature sur la francophone.
Palavras-chave: Littérature francophone, Négritude, Black-Label
112
O ROMANCE DE FORMAÇÃO NA ESCRITA DE MILTON HATOUM
Lucilia Lúbia De Sousa Pinheiro (UFPA)
Resumo: O Bildungsroman (romance de formação) nasce no contexto alemão com a
obra que se tornou paradigma desse gênero Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister
(1795-1796), de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). No romance de formação é
descrito a trajetória de desenvolvimento da personagem principal. Os elementos dessa
ação seriam, segundo Jacobs e Krause (1989, p. 37): conflito com a casa dos pais;
influência de mentores e instituição de ensino; encontro com a esfera artística;
aventureiro espírito erótico; contato com uma profissão e com a vida política. Neste
sentido, trataremos as obras Dois Irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005) e A noite da
espera (2017) do escritor Milton Hatoum (1952,) sob a perspectiva desse gênero.
Respectivamente nas obras temos as personagens Nael, que busca por sua identidade no
âmbito da família em que foi criado. Mundo, artista rebelde que desde a adolescência
tem um lema “ou a obediência estúpida, ou a revolta”. Martin, jovem recém-chegado
em Brasília, após a separação dos pais, entra em contato com a esfera artística e o
momento histórico pelo qual o Brasil passa a Ditadura Militar, Martin narra a sua
história estando no exílio. A obra de Milton Hatoum tem como características o
intimismo, a memória, os aspectos sociais e históricos, características que se mesclam
nas obras que aqui serão abordadas a partir do conceito do romance de formação.
Palavras-chave: Romance de formação, Cinzas do Norte, Dois irmãos, A noite da
espera, Milton Hatoum.
113
especial. Dentre essas numerosas narrativas simbólicas do amor, a lenda da Iara tem rica
significação (LOUREIRO, 2015, p. 271).
Palavras-chave: Lenda da Yara, semiótica, simbolismo.
114
serem conquistadas ao longo do tempo pelo sexo feminino, mostrando-se mulheres com
pensamentos e atitudes que estavam além do seu tempo.
Palavras-chave: Adultério, Suicídio, Liberdade, Semelhança, Emma, Estela.
115
Said (1995), Stuart Hall (1999), entre outros. Vale ressaltar que a pesquisa pretende
estudar as vozes femininas e como o caráter místico e religioso contribui para se firmar
uma tradição e como esta tradição se incide sobre os indivíduos subalternizados (as
mulheres), a fim de demonstrar que, apesar de se buscarem “motivações” para o
silenciamento, as vozes femininas não estão dispostas a sussurrar no anonimato.
Palavras-chave: Silenciamento; misticismo e religiosidade; vozes femininas.
116
Belém, ao partilharem uma prática cultural comum, a capoeira, e como, seus saberes e
experiências podem contribuir para repensar outras epistemologias para a educação na
Amazônia Paraense. Quanto aos procedimentos metodológicos da pesquisa participante
e a observação etnográfica tradicional e digital. Ressaltando meu engajamento e
interação com o coletivo social, visando descrever e interpretar os dados coletados em
campo. Considerando o ethos da capoeira no processo de análise, pois fazem parte do
universo cultural e simbólico, do cotidiano dos sujeitos investigados, enquanto
elementos para repensar valores culturais e educacionais hegemônicos, que sedimentam
o sexismo e o machismo na sociedade brasileira. Os resultados percebidos, apontam
para uma tomada de consciência política das mulheres capoeiristas, para o papel
dinamizador das rodas de capoeira, bem como, para o fomento da capoeira como
expressão cultural afro-brasileira, que acolhe e promove identidades sociais, crenças e
valores, na perspectiva de repensar outras epistemologias para a educação na Amazônia
Paraense.
Palavras-chave: Capoeira. Gênero. Mulher. Resistencia. Educação contra-hegemônica.
117
IMAGENS DO SAGRADO EM A DURAÇÃO DO DIA, DE ADÉLIA PRADO, E
EM O BÚZIO DE CÓS E OUTROS POEMAS, DE SOPHIA DE MELLO
BRYNER ANDRESEN
Marta Botelho Lira (UFAM)
Resumo: Esta comunicação livre tem o propósito de comparar os elementos do sagrado
nos poemas A postulante, de Adélia Prado, do livro A duração do dia, e Deus escreve
direito, de Sophia de Mello Breyner Andresen, do livro O Búzio de Cós e outros
poemas. Enquanto a poetisa portuguesa publicou sua obra a partir da década de quarenta
do século XX, época marcada pela Guerra Fria, a poetisa brasileira publica sua obra a
partir da década de setenta, época de manifestações por liberdades políticas e sociais. O
suporte teórico consiste nas obras O Sagrado, de Rudolf Otto e O Homem e o sagrado,
de Roger Caillois. Os dois poemas serão analisados sob o viés da crítica literária
comparada, baseada nos textos de Pierre Brunel, “A literatura comparada’ e “O facto
comparatista”. A presente comunicação corresponde a parte do resultado da
investigação registrada no Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica -
PIBIC, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no qual sou bolsista do CNPq,
e está cadastrado no Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa
– GEPELIP, na linha de pesquisa Poesia em Língua Portuguesa.
Palavras-chave: sagrado; literatura comparada; poesia do século XX
118
africana, o que interessará, na verdade, são traços e características que transitam e
direcionam o leitor a associá-las a essa deusa das águas salgadas.
Palavras-chave: Feminino, Nhá Benedita, Hortência, Negra, Identidade.
Resumo: O presente trabalho tem como objeto de estudo a coletânea Cada homem é uma
raça: contos (2013), de Mia Couto, na qual o escritor tece os seus personagens sujeitos a
práticas de violência que corroem as suas relações sociais e afetivas. Em congruência ao título
que abraça as ficções, nota-se um desejo de compor narrativas que representam não uma
unidade africana, ou seja, uma identidade capaz de circunscrever a totalidade; antes, tem-se
uma inclinação ao desdobramento de múltiplas individualidades que, de algum modo, seja
capaz de trazer à tona uma questão frequente nas comunidades africanas: a degradação do
valor de muitas vidas. Intuitiva e inicialmente descarto a possibilidade de um conjunto de
ficções que pretenda, em primeira instância, denunciar as covardias ou de vitimar os
personagens, mas sim chamar atenção para os ciclos de violência que precisam ser rompidos
por meio da sugestão artística. Ao invés de simplesmente evidenciar o problema, Mia Couto
nos convida a pensar no que está por trás da violência e do discurso que alimenta essa prática.
Para tanto pretendo trabalhar com três contos: “O pescador cego”, “Rosa Caramela” e
“Rosalinda, a nenhuma”, atentando-me às representações de violência, duplamente como
prática e discurso. Pretendo refletir sobre o que está por trás do abandono, da rejeição, do
adultério, da conivência, da subalternidade, da vingança, da redenção, do arrependimento e,
até mesmo, do perdão.
Resumo: "A história do monstro Khátpy" é um dos títulos que compõem a Coleção Um Dia
na Aldeia, livros-adaptações de seis curta-metragens filmados em diferentes comunidades
indígenas brasileiras. Nesse volume, chama-nos a atenção por trazer processos variados de
contação e mostragem de uma mesma narrativa tradicional do povo Kisêndjê. Desse modo, o
objetivo desta comunicação livre é apresentar os achados parciais da tese que investiga os
diferentes processos de criação das versões midiáticas - o filme (produzido por indígenas) e o
livro ilustrado (produzido por não indígenas) - tomando como instrução basilar as teorias
sobre adaptação.
119
A FORTUNA CRÍTICA DO ESCRITOR PARAENSE ILDEFONSO
GUIMARÃES
Nellihany Dos Santos Soares (UNIFESSPA)
Resumo: Nosso objetivo é explicitar como a crítica recepcionou a obra do escritor
paraense Ildefonso Guimarães, englobando artigos de jornais e obras que constituem a
fortuna crítica do autor. Também é de nossa intenção apresentar o conto Linha do
Horizonte (objeto de análise em estudo), em que será feita a exposição dos elementos da
narrativa e também uma análise do elemento água. Para escrever sobre a recepção da
obra, adotamos uma sistemática que se inicia pelo delineamento dos caminhos literários
de Guimarães, apresentando alguns momentos de sua biografia, que estão relacionados
com tudo aquilo que escreveu até sua morte. Por ordem cronológica, destacamos as
obras do escritor e, paulatinamente à exposição da fortuna crítica, apresentaremos o
conto Linha do Horizonte de maneira pormenorizada. Este trabalho é resultado parcial
de pesquisa em andamento sobre a obra do referido escritor, e para tal foram
consultados autores como José Arthur Bogéa, Paulo Nunes, Jean Chevalier e Alain
Gheerbrant, Gilbert Durand, Afrânio Coutinho, entre outros. Os resultados até agora
levantados pela pesquisa bibliográfica apontam para a qualidade da escrita e literária do
autor, sobretudo quando se fala no gênero conto. Usa do vocábulo como um
instrumento de criatividade imagético-processional com que subverte o ato institucional
de descrever e de narrar. Sua crítica social se faz à intensa psicologia de tipos e de
personagens. A simbologia da água permite uma pluralidade de interpretações.
BOGÉA, J. A. ABC de Ildefonso Guimarães. Belém, EDTUFPA, 1989. CHEVALIER,
Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionários de Símbolos. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2003. COUTINHO, A. A Literatura no Brasil. 3ª edição. José Olympio,1986.
DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropológicas do Imaginário. São Paulo: Martins
Fontes, 1997. GUIMARÃES,I. Senda Bruta. Belém: Falangola,1965. _____________
Contos Recontados. Belém: CEJUP,1990. NUNES, Paulo. Contribuições para
Conceituação e Caracterização da Literatura Amazônica. Belém: Editora Unama, 1998.
Palavras-chave: FORTUNA CRÍTICA, ILDEFONSO GUIMARÃES, ÁGUA
120
Terra-sem-Mal – lugar almejado pela comunidade - é por meio da vingança e
antropofagia. Assim, é possível pensar que essas imagens de violência exacerbada
revelam que o mal norteia a vida na comunidade indígena. De acordo com os
antropólogos Manuela Carneiro Leão e Eduardo Viveiros de Castro, no artigo Vingança
e Temporalidade: Os Tupinambás (1985), a vingança é um tema constante para a
comunidade indígena, não somente para os tupinambás, mas ela perpassa várias etnias.
Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é propor que a presença do mal ronda a
vida nas comunidades, principalmente a antropofagia, visto que este ato geralmente
completa o sentido da vingança e este sentimento ajuda a construir a sociedade
indígena.
Palavras-chave: Mal, Vingança, Antropofagia.
121
Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar de que forma as personagens
femininas são apresentadas pelo narrador no romance contemporâneo Eu receberia as
piores notícias dos seus lindos lábios (2005), do escritor paulistano Marçal Aquino
(1958). A narrativa é ambientada em uma cidadezinha em pleno ciclo do ouro, no
estado do Pará, marcada pela violência e desigualdade social entre homens e mulheres.
Sob o olhar de um narrador em primeira pessoa, homem, que possui um grau de
instrução elevado e que detém maior poder e relevância social, observaremos qual
posição a figura feminina ocupa na narrativa: seja personagem secundária, tendo sua
história revelada apenas pela metade e levando o leitor a preencher as suas lacunas; ou
protagonista, mas sendo apresentada de forma sexual e objetificada. As personagens
estudadas nos possibilitam enxergar o longo caminho que as mulheres trilham, embora
com marcas físicas e psicológicas, para resistir e (sobre)viver. Com esse trabalho,
pretendemos apresentar os resultados de uma pesquisa concluída na academia, que teve
como alicerce um núcleo central de teóricos para que chegássemos às nossas
conclusões, sendo eles Karl Erik Schøllhammer (2009), Beatriz Resende (2008),
Theodor Adorno (2003), Regina Dalcastagnè (2001/2005), Antonio Candido (2011),
Cíntia Schwantes (2006) e Simone de Beauvoir (2016).
Palavras-chave: Personagens femininas, Narrador, Literatura brasileira contemporânea.
A LEITORA E O VIAJANTE
122
Resumo: Este trabalho apresenta insights de leituras de obras de natureza diversa. A primeira
delas, o romance de Italo Calvino Se um viajante numa noite de inverno (1994), e a segunda o
filme de Michel Deville, La Lectrice (1988). Ambos tratam do Leitor/Leitora e da recepção
do texto efetuada em diversos níveis e formas. Serão ressaltados, no decorrer do artigo, os
pontos mais relevantes para a análise comparativa entre o filme e o texto anteriormente
citados, considerando o contexto em que foram criados. A análise tomou como base teórica os
estudos de BAKHTIN/VOLOSHINOV (1990), BAKHTIN (1993), BENVENISTE (1989),
BRAIT (2012 e 2015), ECO (1979), ISER (1995), PECHEAUX (1975) e TODOROV
(2014). A conclusão irá verificar a importância de uma análise de textos diversos sob o prisma
da análise comparativa e da estética da recepção.
123
considerando que há diversas maneiras de violações e varias formas de resistir a elas.
Ressaltamos que as obras mesmo não estando ligadas diretamente às ditaduras, possuem
aspectos ideológicos característicos desse período. Nesse sentido, nos empenharemos
principalmente a pensar a espetacularização violência e resistência nos contos, presentes
em Bestiário e Los Dias de la Noche. Para tanto, desenvolveremos estudos
bibliográficos de teóricos como Walter Benjamin (1986) e Maurice Halbwachs (1968).
Palavras-chave: Violência, Resistência, Espetacularização.
124
antes nem depois, como um amor de perdição. Levantamos nesta pesquisa a principal
questão: Como a ideia de punição da mitologia amazônica é representada no conto “O
baile do Judeu”? O conto “O baile do Judeu” é versão da narrativa do boto, em que um
homem encantado seduz uma mulher em uma festa à beira do rio. A reescrita deste mito
na poética de Inglês de Sousa traz o espaço do “baile” para a casa de um judeu. Desse
modo, a mitologia amazônica está representada e carregada de aspectos punitivos,
através de atos seguidos de consequências, pois a morte surge como castigo às
personagens que desafiam o sagrado. Os elementos míticos compõem este conto
amazônico, permeando do sobrenatural a narrativa.
Palavras-chave: Mitologia amazônica, O baile do judeu, Inglês de Sousa.
125
Resumo: Para se chegar às ditas literaturas africanas em língua portuguesa de Angola,
Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde elas passaram, cada
uma com suas especificidades, por um caminho que, para alguns críticos como Manuel
Ferreira e Patrick Chabal, por exemplo, são similares. Nesse sentido, para Chabal
(1994), por exemplo, todas estas literaturas passaram pelas fases de assimilação,
resistência, afirmação e consolidação. Neste contexto, o objetivo deste trabalho e
discorrer sobre essa similaridades, trazendo, na medida do possível, exemplos de
literatura que podem ser enquadradas nas fases citadas. Além disso, tem como proposta
analisar e caracterizar a que fase se enquadra a escrita feminina, em específico de Ana
Paula Tavares (Angola), Odete Semedo (Guiné-Bissau) e Paulina Chiziane
(Moçambique). Parte, para isso, de uma pesquisa de cunho bibliográfico (CHABAL,
1994; CÉSAIRE e MOORE, 2010; FEIJÓ, 1998) que constatou, entre outros aspectos,
um significativo rasgo de caráter feminino/feminista nas suas escritas, com abordagens
linguísticas e de gênero muito particulares.
Palavras-chave: Literaturas africanas em L.P.. Escrita feminina. Feminismo.
126
MÁRIO, O TURISTA APRENDIZ (OU MACUNAÍMA E A UTOPIA
AMAZÔNICA)
Sheila Praxedes Pereira Campos (UFRR)
Resumo: “Quanto a este mundo de águas é o que não se imagina. A gente pode ler toda
a literatura provocada por ele e ver todas as fotografias que ele revelou, se não viu, não
pode perceber o que é.” É com esta afirmação feita por Mário de Andrade ao amigo
Manuel Bandeira (carta de junho/1927) que alguns pontos nos são revelados para
entendermos como “A Amazônia, tesouro e mito de gabinete, passa a mito e utopia na
obra”, conforme evidencia a professora Telê Ancona Lopez ao fazer referência à
construção de Macunaíma a partir das anotações feitas por Mário em seus diários de
Turista Aprendiz. Essa “utopia amazônica” que é capaz de seduzir o intelectual
modernista nos serve de guia para perceber como a condição de estar lá (o “being there”
de que fala criticamente Clifford Geertz) traz à tona uma Amazônia (real?) cuja
contemplação repercute fortemente na criação do artista Mário. Nessa mesma carta, o
desabafo ao amigo Bandeira: “Desta vez não percebo nada. O êxtase vai me abatendo
cada vez mais. Me entreguei a uma volúpia que nunca possuí à contemplação destas
coisas, e não tenho por isso o mínimo controle sobre mim mesmo.” Essa ausência de
controle provocada pela contemplação, “sem pensamentear” (Turista Aprendiz,
31/05/1927), dessa Amazônia até então conhecida de “ouvir falar” é, de certa, maneira,
a hipérbole encontrada para definir como as “águas do túrbido Amazonas, meu outro
sinal” (“Meditação sobre o Tietê”) deságuam no Mário que, com a “função de colhedor
de coisas da nossa gente” (Diário Nacional, 11/09/1932), passa a usufruir da “evidência
do mundo que viajou” (DN, 05/12/1929). Recorte de uma discussão sobre Mário e o
making off de Macunaíma, na tese em andamento com orientação do professor José
Luís Jobim, essa comunicação propõe discutir como Mário foi sugestionado pela
“utopia amazônica”.
Palavras-chave: Mário de Andrade, Utopia Amazônica, Turista Aprendiz, Macunaíma.
127
sobre a elaboração do discurso oratório no contexto da retórica greco-romana. Assim,
realizaremos uma leitura de alguns versos livres de Drummond presentes nas obras As
Impurezas do Branco (1973), Corpo (1984) e Discurso de Primavera e Algumas
Sombras (1977), buscando analisar os efeitos estéticos dos elementos rítmicos
recorrentes. Com base nas leituras já realizadas, concluímos que tais elementos são
frequentes e remontam a certos preceitos dos antigos gregos e romanos acerca do ritmo
em textos artísticos não metrificados.
Palavras-chave: Prosa rítmica, retórica, verso livre
128
Ricardo Piglia, bem como as ideias sobre o erotismo constantes no livro O Erotismo, de
Georges Bataille. O estudo que gerou esta comunicação é resultado parcial de pesquisa
aprovada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade
Federal do Amazonas em 2018, e está vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em
Literaturas de Língua Portuguesa – GEPELIP, na linha de pesquisa prosa de ficção.
Palavras-chave: O erotismo, a cidade ilhada, Milton Hatoum
129
AS MULHERES DE CLARICE: UMA ANÁLISE FEMINISTA DOS CONTOS
“A FUGA”, “AMOR” E “RUÍDO DE PASSOS” .
Thainá Chemelo (UFPA)
Carolina Menezes (UFPA)
Resumo: Desde a sua criação, em 1970, com tese de doutorado de Kate Millet
intitulada Sexual Politics, que traz a tona discussões acerca da posição secundária
ocupada pelas heroínas nos romances de autoria masculina, a Crítica Feminista tem
assumido o papel de questionadora da prática acadêmica patriarcal. No âmbito do
ensino, há uma tendência de se manter no “topo da pirâmide” os discursos dos
“mestres”, perpetuando o cânone literário altamente sexista, constituído pelo homem
ocidental, heterossexual, branco e de classe média alta, nesse sentido, contribuindo com
a exclusão ou o silenciamento das vozes Outras (ZOLIN, 2009). Nesse ponto,
analisamos também como o próprio capitalismo e a divisão sexual do trabalho contribui
com esse silenciamento. Quando as mulheres começaram a ler e a escrever romances,
utilizando pseudônimos, houve a constatação de que a experiência da mulher como
leitora e escritora é diferente da masculina e isso implicou em mudanças significativas
no campo intelectual. Analisamos três contos de Clarice Lispector sob o olhar da Crítica
Feminista, da questão de gênero e da performatividade de gênero (BUTLER, 1990), já
que a análise parte de uma autora mulher, que fala de mulheres, para um público – na
maioria – feminino. Clarice Lispector, ao nosso olhar, não era uma autora feminista.
Ela, simplesmente, escrevia sobre a realidade que melhor conhecia. A análise de contos
de uma escritora mulher tem como objetivo oferecer novas possibilidades de
interpretação de obras literárias organizadas em torno do gênero e como o mesmo
organiza o enredo e a construção dos personagens, seguida de uma problematização do
cânone literário vigente, predominantemente masculino e heterossexual. O uso da
categoria de gênero na análise de um texto ficcional tem um significado político, pois
dentro de uma perspectiva feminista, estamos interpretando-o à luz de ações políticas,
relacionadas à ideologia e as relações de poder na sociedade.
Palavras-chave: Clarice Lispector, Crítica Literária Feminista, Gênero,
Performatividade de Gênero.
130
Estadual da Região Tocantina do Maranhão. E para alcançar o objetivo proposto se
desenvolveu uma pesquisa bibliográfica, descritiva e explicativa, que nos levou a
considerar que os textos analisados de fato apresentam as características desse gênero
literário apresentados pelos teóricos que norteiam as análises. Assim, validando-as
como contos.
Palavras-chave: saberes tradicionais, estrutura do conto, literatura indígena.
131
objeto de pesquisa, além de textos do crítico e sociólogo Antonio Candido, do
historiador literário Alfredo Bosi, do autor Benoît Denis que desenvolve textos com
argumentos consistentes sobre a literatura engajada e do crítico literário Afrânio
Coutinho, entre outros.
Palavras-chave: Romantismo, língua nacional, sociedade, engajamento, José de
Alencar.
132
a ressalva dos pontos comuns entre a figura da cobra entre meios e condições que a
cercam. Em pesquisa bibliográfica, buscamos livros de contos amazônicos e livros de
folclore ou mitologia de diversos países. No conto de Polari (2009), percebe-se somente
a sua ligação com o caboclo navegante dos rios da Amazônia e sua importância no
imaginário desses trabalhadores. Desse modo, o autor reforça o estereótipo de maldade
das concepções do imaginário brasileiro em uma objetiva e com o uso de recursos
geográficos locais. Visto isso, procuramos resíduos a partir da lenda amazônica em
narrativas do folclore português, aborígene e indígena, reunida por Cascudo (2001,
2003), Bulfinch (2013), Krüger (2011), Lévi-Strauss (2007) e Santiago (1986).
Relacionamos assim os estudos sobre o mito à residualidade literária e cultural para
análise desse réptil que remete a narrativas pretéritas. Logo compreendemos o
imaginário do homem amazônico por trás da figura da cobra enquanto resíduo do
imaginário europeu. O resíduo é um corpus vivo, conceito que visa justamente verificar
esses elementos de período passado e demonstrar que continuam presentes. Portanto, o
imaginário da figura dos ofídios ainda é extremamente pejorativo, é vista como algo
mal. Tudo isso devido à nossa cultura judaico-cristã graças à colonização portuguesa.
Mas a figura de bondade ou de divindade ainda permanece cristalizada na crença
popular ribeirinha amazônica.
Palavras-chave: Residualidade, cobra-grande, amazônico
133
Wilson Ferreira Barbosa (SEDUC)
Resumo: Com base nos estudos de Thomas Bonnici, com a obra Teoria e crítica
literária feminista: conceitos e tendências (2007), pretendemos neste artigo ampliar a
propagação da Literatura Feminina Paraense. Analisaremos a história de uma menina
que quer descobrir-se, que está na busca de “Si Mesmo”, ela é alguém que procura a
autoafirmação em confronto com o “Outro”. Assim, utilizaremos as pesquisas de
semiótica de Eric Landowski em, Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica
(2012), ressaltando a busca da identidade e da alteridade presente no conto “Espelho
meu”, do livro Zeus: ou a menina e os óculos (1994), da contista paraense Maria Lúcia
Medeiros (1942 – 2005). Uma menina identificada como o ser humano que procura a
autorrealização, que está na construção do “Si”. O espaço é um elemento que vai marcar
a identidade dessa personagem, visto que nesses espaços há lembranças que mantêm as
características de um passado que reforçam sua unicidade no presente, e para isso nos
basearemos em A poética do espaço (2008), de Gaston Bachelard.
Palavras-chave: Literatura Feminina, Maria Lúcia Medeiros, Literatura Paraense.
134
em relação à igualdade racial. Segundo Coelho (2000) “a literatura infantil tem uma
tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em formação: a de servir como agente de
formação, seja no espontâneo convívio leitor, livro, seja no diálogo leitor”. A obra
supracitada traz questões sociais sobre a gama de raças e etnias que compõem a nossa
sociedade, dialogando com o teórico Darcy Ribeiro (1995), quando diz que “o Brasil é
formado por uma sociedade multirracional e pluricultural”. Historicamente, os negros
sempre foram vistos apenas como capital humano e sempre á margem da sociedade,
mesmo após a abolição, o que não os livrou da discriminação como uma das
consequências da escravatura. Desde então, os negros buscam por aceitação e inserção
como seres participantes da sociedade, o que não é de hoje. Na obra, o narrador conta a
história com uma dinamicidade infantil, a curiosidade, fazendo indagações para assim
chamar a atenção do leitor, prendendo-o ao tema central que é a história do menino
marrom e de seu amigo cor-de-rosa, que, juntos, viviam aventuras e grandes
descobertas, revelando a igualdade entres eles e a curiosidade mútua, sem saber por que
a simbologia das cores fariam deles diferentes um do outro. Através da análise do
corpus, concluímos que o narrador trata o tema de forma a não dar margem
interpretativa a nenhum tipo de preconceito em relação à cor do menino. Em sua
descrição, ele faz analogia a coisas positivas como elementos da natureza, dizendo que
nada é da cor preta definitiva; o mesmo acontece com o menino cor-de-rosa. Ao
enaltecer as qualidades dos dois meninos, o narrador inibe qualquer tipo de preconceito
pré-existente, afirmando que, de forma individual, todos possuem sua beleza.
Palavras-chave: Igualdade. Diversidade. Literatura.
135