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A Crise do Drama em Eles Nao Usam Black-tie: uma Questao de Classe Ina Camargo Costa* Resumo: Gianfrancesco Guarnieri estreou no teatro brasileiro em 1958 com a pega Eles ndo usam black-tie. Assim como j4 ocorrera com a obra de dramaturgos europeus mais de meio século antes, nesta pega mais uma vez encena-se a crise formal do drama, na medida em que a forma se desencontra do conteddo. Nao sendo indiferentes estes pontos de vista, observam-se no proprio texto os embates entre forma dramatica e contetido épico, ora prevalccendo uma, ora outra. Palavras-chave: Teatro brasileira - teatro épico -— drama. Assim como ocorreu em outros pafses do mundo, cerca de meio século antes, no Brasil, a forma por exceléncia do teatro épico, o drama, entrou em crise quando dramaturgos comecaram a escrever sobre assuntos normalmente €xcluidos do seu ambito. Com a sua pega de estréia, Eles ndo usam black tie, Montada pelo Teatro de Arena de Sao Paulo em fevereiro de 1958, Gian- francesco Guarnieri pés na ordem do dia a referida crise e ao mesmo tempo tudou a histéria do teatro brasileiro, pois pela primeira vez a classe traba- Thadora aparece como protagonista de um drama. Apoiada em autores referidos ao final desta exposigdo, esta andlise pre- tende caracterizar este acontecimento que também é de ordem formal. Eles néo usam black tie pode ser resumida de dois pontos de vista opostes, Conflitantes ¢ igualmente defensaveis: conforme o assunto, teremos uma inter- Pretagao e outra segundo a forma, havendo interessantes choques entre ume * Professora ne Departamento de Teoria Literdria ¢ Literatura Comparada da FFLCH-USP. 148 Costa, L.C., discurso (20), 1993: 147-155 outro nesta pega. Explicitando a crise da forma dramiitica, estes choques tém a vantagem adicional de clarificar uma das mais importantes razdes dessa crise. Comegando pelo assunto, que deveria ter encontrado a sua forma apro- priada, Eles ndo usam black tie conta um episédio na vida de uma familia de trabalhadores favelados posta diante de um problema crucial: uma greve que vai mudar o destino de pelo menos um de seus membros. Coerente com este assunto, o dramaturgo toma a greve como eixo de sua pega, delimitando temporalmente a agao em trés dias, cada ato correspondendo aum deles. Assim, no primeiro temos a constatacio da necessidade dessa greve por aumento de saldrios e a assembléia que a aprova; 0 segundo ato abrange os preparativos ¢ define as atitudes dos trabalhadores favordveis e contrarios 4 greve: o terceiro cobre o seu primeiro dia com resultados favoraveis aos grevistas e 0 castigo do fura-greve. Por razGes de economia, devemos nos restringir apenas aos personagens de primeiro plano envolvidos nesta histéria: Otdévio, Romana, Tiao, Maria ¢ Jesuino. Otavio é um veterano militante comunista que j4 esteve preso varias vezes por suas atividades politicas. Romana, sua esposa, acumula as fungdes de lavadeira e dona-de-casa que, mesmo sem dispor da informagao politica, apéia a luta do companheiro. Tido é 0 filho mais velho do casal que, por causa da prisdo mais longa do pai, cresceu separado da familia, adotado informal- mente por seus padrinhos. Maria, também trabalhadora, € a noiva de Tido, que acaba de lhe revelar a sua gravidez. Jesufno é 0 companheiro de trabalho de Tido e Otdvio. E Otavio quem expée as raz6es da greve ¢ critica os habituais procedimen- tos ilegais dos patrées quando estao em pauta os direitos dos trabalhadores. assim como demonstra a insuficiéncia de alguns instrumentos de luta tais como as comissOes de negociagao, Num sentido forte, ele expde o racioc{nio bruta- lista de certo tipo de militante de base do Partido Comunista Brasileiro quando. por exemplo, argumenta que as discussdes sobre os crimes de Stalin ou sobre os erros dos dirigentes brasileiros sio completamente irrelevantes diante do problema mais imediato do custo de vida no Brasil. Costa, L.C., discurso (20), 1993: 147-155 149 Tido se define como antagonista do pai logo de inicio. Além de nao acreditar que greves possam resolver os seus problemas, no momento o seu interesse € marcar a data de seu casamento o mais rapido possivel em vista da gravidez inesperada, mas nem por isso menos benvinda, de sua noiva. segundo ato apresenta-nos um genuino achado do dramaturgo. Colo- cando os seus trabalhadores num domingo — dia de prosear para familias de trabalhadores que nao tém poder aquisitivo para outras formas de lazer —e as vésperas de uma greve, Guarnieri péde selecionar, em fungio da greve, cenas e temas que freqiientaram aquela prosa descompromissada de quaisquer exi- géncias de tipo dramatico. E em pelo menos um caso podemos falar mesmo em desdramatizagao de um tema. Comentando os acontecimentos da véspera, Romana critica as coisas que Tido disse ao pai durante uma terrivel discussao, chamando-o de ingrato. Ela enumera, sem dar nenhum colorido ao discurso do filho, os principais tépicos da diatribe: a atribuigio ao pai da responsabilidade pela vida dificil que levavam e¢ a revolta com os pais por nao o terem deixado continuar vivendo com os padrinhos. O feito do dramaturgo consistiu em pér em agio uma das modalidades do efeito de distanciamento conceituado por Brecht, pois trans- feriu este momento do confronto entre pai ¢ filho do seu lugar natural de um ponto de vista dramatico (a noite de sabado do primeiro ato) para uma situagao €pica (manha de domingo do segundo ato), onde ele € relatade com duas determinages adicionais: o relato é feito por uma testemunha (a mae) e um dos contendores (0 pai) nao esta presente. Com isto, ao invés de dar ao tépico um tratamento dramatico, que implicaria uma fortissima carga emocional, Guarnieri deu-Ihe um tratamento épico, pois além de Romana limitar-se a um telato seco, ela critica com firmeza a incompreensio do jovem filho. Sua fala tem ainda as fungées de esclarecer ao filho ¢ ao ptiblico a sua nao-neutralidade diante do conflito e a sua percepedo igualmente critica das ilusGes que o rapaz ainda cultiva a respeito da vida que levou com os padrinhos. Para encerrar a conversa, Romana esclarece a Tido que seus padrinhes sé © acolheram em sua casa para explorar o seu trabalho como pajem € que, se ela Prépria no interviesse com energia, eles nem sequer o teriam mandado para a

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