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Visões da Liberdade – Sidney Chalhoub

Capítulo 2 – Visões da Liberdade

 Bons dias!
 Vida de peteca: entre a propriedade e a liberdade
 Sedutores e avarentos
 Charadas escravistas
 Atos solenes
 Cenas do cotidiano
 1871: as prostitutas e o significado da lei
 O retorno inglório de José Moreira Veludo

O capítulo centra-se, principalmente, no estudo das ações cíveis de liberdade. Aqui, toca-se na questão da
necessidade de reinterpretação da lei de 28 de setembro de 1871 (a chamada lei do ventre livre) que, entre outros
assuntos, trata do pecúlio dos escravos e do direito à alforria por indenização do preço. Tal lei representou, para
os escravizados, a garantia de direitos adquiridos “por costume”. Chalhoub considera que essa lei possui
disposições gerais que foram “arrancadas” pelos escravos às classes proprietárias.
No primeiro tópico, “BONS DIAS!”, há uma análise de uma crônica homônima de Machado de Assis,
publicada em maio de 1888, na qual o narrador, um senhor de escravos, resolve convocar um banquete para
anunciar a alforria de um de seus escravos, Pancrácio, um moleque de 18 anos que, mesmo após a alforria,
continua servindo seu antigo senhor em troca de um salário simbólico, alguns “inocentes” xingamentos e um ou
outro puxão de orelhas. A escolha do texto para análise antecipa alguns tópicos que serão discutidos ao longo do
capítulo, entre os quais podemos citar: o conflito entre os princípios da primazia da liberdade e a defesa do direito
à propriedade privada; a concentração do poder de alforriar exclusivamente nas mãos dos senhores e, por fim, a
questão das lutas dos negros pela própria liberdade. Em referência à obra de John Gledson, Chalhoub nos mostra
que a figura do moleque Pancrácio pode ser uma representação alegórica do próprio movimento dos negros em
prol de sua liberdade. Tendo o senhor dito ao escravo “tu cresceste bastante” e considerando a idade do rapaz,
que coincide com a época de aprovação da lei do ventre livre, Machado dá a entender em sua crônica que
ocorreram mudanças significativas que impulsionaram transformações nas atitudes dos negros, ou pelo menos
na percepção dos senhores de que algo estava mudando entre os escravos.
O segundo tópico, chamado “Vida de peteca: entre a propriedade e a liberdade”, conta a história de Rubina
e sua filha Fortunata. As negras alegam que houve vontade expressa por parte de seus senhores de que elas
ficassem livres quando eles morressem, no entanto, os herdeiros alegaram judicialmente não reconhecer tal
vontade, sendo necessárias decisões em juízo. Assim, houve divergências quanto à decisão judicial pela liberdade
na instância imediata e na instância superior: “os juízes da relação militam em favor da propriedade privada,
mesmo em se tratando de escravos, e o juiz da segunda vara é um militante da liberdade”. Neste tópico, fica claro
o conflito entre o direito à liberdade e o direito à propriedade privada. O texto explicita o tom político das decisões
judiciais em favor das escravas e em favor dos senhores, e as duas mulheres são obrigadas, após uma longa
batalha nos tribunais, a retornar ao cativeiro. Eis aí o problema da peteca.
No tópico seguinte, denominado “Sedutores e avarentos”, o autor conclui a história de Rubina e Fortunata,
mencionando que havia uma suspeita, por parte de seu senhor, de que havia um suposto sedutor que possuía
pretensões amorosas com a escrava Fortunata e que, portanto, suas intenções de tornar-se livre não eram
legítimas. No entanto, tempos depois, surge uma nova queixa relacionada às duas escravas: convencidas da
ilegitimidade de seu cativeiro, tornaram-se insubordinadas. Chalhoub apresenta neste tópico outro caso que se
assemelha ao anterior pelo argumento da vontade expressa de liberdade por parte de seus senhores. É o caso da
africana Cristina. Aqui, além da disputa judicial entre escrava e herdeiros, aparece também a disputa entre dois
grupos potenciais de herdeiros. Tal cenário de disputa judicial explicita também o problema da concentração do
poder de alforriar escravos exclusivamente nas mãos dos senhores, uma vez que era comum, segundo o relato de
Mary Karasch, citado por Chalhoub, que escravos fossem alforriados sob condição de continuar servindo seu
senhor pelo tempo determinado por este. Neste tópico, também se questiona, num retorno à análise da crônica
machadiana, o que significa ser livre, já que, na definição de Cristina, à semelhança da definição encontrada na
crônica, ser livre seria levar uma vida autônoma, longe da vigilância do senhor. O autor finaliza esta parte do
capítulo ressaltando que “na verdade, os escravos não esbarravam apenas na avareza dos herdeiros, mas no
próprio pacto de classe que garantia a continuidade da escravidão: a defesa do princípio da propriedade privada”.
A quarta parte do capítulo, “Charadas escravistas”, faz uma reflexão sobre o seguinte questionamento:
numa situação de alforria condicional, no período entre a concessão da alforria e a concretização da condição
imposta pelo senhor, a escrava tem um filho. Essa criança é livre ou escrava? Para resolver tal enigma, o autor
traz a história de Pompeu, filho de Lauriana, escrava libertada sob condição por seu senhor; traz também a história
do Pardo Manoel, filho de Joaquina; além de Helena e suas filhas Alcina e Eufrosina. Existia um princípio legal de
que “o parto segue o ventre”, ou seja, o filho da escrava nasce escravo. Em juízo, é proferida uma sentença
favorável à liberdade de Pompeu, existindo, no entanto, muitas disposições contrárias igualmente importantes.
Estamos diante, novamente, de uma decisão política contra a instituição da escravidão. Os três processos
relatados aqui obtiveram resolução favorável à liberdade, embora tenham sido resultado de intensas e sofridas
batalhas judiciais. Aqui se menciona a figura do statuliber, que, para os romanos, era o indivíduo “que tinha
liberdade determinada para um certo tempo, ou dependente de condição”, assim, tal indivíduo era considerado
escravo enquanto a condição estava pendente”, porém, em virtude de ser esse um dos muitos casos omissos,
recorreu-se ao subsídio do direito romano, que apontava para um maior favorecimento da liberdade.
O quinto tópico deste segundo capítulo se chama “Atos solenes”. Neste tópico, novamente temos a
problemática de que somente o senhor deve ter a prerrogativa legal para alforriar seus escravos. Para isso,
Chalhoub cita o romance Memorial de Aires, de Machado de Assis, no qual o barão pede auxílio a um irmão
desembargador para redigir uma carta de alforria coletiva e imediata de todos os seus escravos. Visto que tal ação
ocorre, no romance, em abril de 1888, entende-se que a atitude do barão tem um duplo objetivo: marcar que a
decisão do governo de abolir a escravidão ia contra o direito de propriedade e reafirmar sua autoridade e seu
controle sobre os negros. O primeiro processo analisado por Chalhoub neste tópico é o caso da revogação de
alforria concedida aos escravos Desidério e Joana. O argumento apresentado pela senhora, que havia lhes
concedido alforria condicional, era de que nenhum dos dois cumpria com as condições determinadas. A senhora
interpretava a alforria condicional como uma mera continuação da escravidão. O autor deixa claro que a alforria
condicional é uma situação jurídica ambígua porque “a alforria não significava um rompimento brusco dessa
política de domínio imaginária, pois o negro, despreparado para as obrigações de uma pessoa livre, devia passar
de escravo a homem livre dependente”. Perdigão Malheiro, um jurisconsulto que se considerava um
abolicionista, também é o juiz que julga o caso de Desidério e Joana e considera que os dois deverão voltar ao
cativeiro, anulando-se sua alforria. O mesmo Perdigão Malheiro, em seu livro A escravidão no Brasil, defende que
a alforria é um ato solene, não podendo portanto, ser dado de modo abrupto. Seria, antes, necessário, uma
abolição gradual da instituição da escravidão, de tal modo que se garantisse a gratidão dos negros por seus
senhores e, ainda, seu devotado respeito a eles.
O tópico seguinte, “Cenas do cotidiano” traz duas histórias interessantes para abordar a questão da relação
de dependência e paternalismo entre escravos (e ex-escravos) e senhores. A primeira história é a de José Matos,
homem liberto, que havia sido escravo de Perdigão Malheiro, a quem, mesmo tendo se passado anos de sua
alforria, ainda dedicava devotados serviços. José Matos se envolve numa briga com um escravo de sua
propriedade, o qual, tendo sido comprado contra a vontade, alegava que seu senhor lhe negava o direito a juntar
um pecúlio, além de muitas outras desavenças relatadas em depoimento. A segunda história narrada neste tópico
é a do pardo Agostinho, também liberto, que estava desgostoso com sua amásia, de quem desconfiava de
infidelidade. Agostinho desferiu golpes de faca contra Deoclécia e depois fugiu, refugiando-se no alto de uma
amendoeira. Lá ele encenou um espetáculo que durou até o dia seguinte. Insultou a todos os passantes, fez
acrobacias, mas, na delegacia, falou respeitosamente com seu antigo senhor, o padeiro Henrique, reafirmando
sua gratidão e a continuidade de sua ligação com ele. Essas duas histórias, segundo Chalhoub, demonstram que
“havia uma forte expectativa de continuidade de relações pessoais anteriores, de renovação do papel do negro
como dependente e do senhor como patrono ou protetor. Outra possibilidade apontada pelo autor é a de que
tais demonstrações de dependência não fossem genuínas, e sim uma forma de obter vantagens posteriores dessa
relação.
O sétimo tópico do capítulo, “1871: as prostitutas e o significado da lei”, se inicia fazendo alusão à história
de Josefa, escrava que havia sido forçada à prostituição mencionada ainda no primeiro capítulo. A libertação de
Josefa, bem como de muitas outras mulheres em condições semelhantes, se deveu a um esforço em conjunto das
subdelegacias e dos juízes municipais. Assim, baseando-se em disposições do direito romano, entendeu-se que o
senhor que obrigasse sua escrava à prostituição era obrigado a libertá-la. Tal resolução gerou um subterfúgio: o
golpe da liberdade condicional. Nele, os senhores possuíam escravas libertas que iriam servi-los (inclusive como
prostitutas) durante mais alguns anos. Paralelamente, ocorrem intensos debates parlamentares acerca do texto
que viria a ser a chamada Lei do ventre livre. O projeto de lei foi resultado inclusive das ideias de Perdigão
Malheiro: a liberdade do ventre e o direito do escravo à alforria mediante indenização do seu preço. O próprio
Perdigão Malheiro, no entanto, foi um dos principais opositores do projeto nos debates parlamentares. Seu
argumento era de que a proposta era “tremenda” e provocaria a emancipação total em poucos anos. Assim, com
o intuito de reduzir os impactos de tal emancipação desenfreada, sugeriu-se o texto: “É permitido ao escravo a
formação de um pecúlio com o que lhe provier de doações, legados e heranças, e com o que, por consentimento
do senhor, obtiver do seu trabalho e economias”. A lei de 28 de setembro de 1871 representou, portanto, na
visão apresentada pelo autor, uma esperança de alforria para os negros e a garantia de ordem pública, uma vez
que era, ainda necessário ao escravo ter de seu senhor o consentimento inclusive para juntar seu pecúlio e obter
sua liberdade.
No último tópico do segundo capítulo, “O retorno inglório de José Moreira Veludo”, temos uma análise dos
efeitos práticos da lei de 28 de setembro de 1871. Para a obtenção de liberdade por indenização de preço, era
necessário inicialmente uma tentativa de entendimento informal entre escravo e senhor. Não havendo acordo, o
escravo se fazia acompanhar por uma pessoa livre e partia para a ação judicial. Em juízo, cada parte indicaria um
perito para realizar a avaliação do valor do escravo. Se as avaliações fossem distintas, o juiz indicaria um terceiro
perito para escolher qual das avaliações lhe parecia mais justa. É no arbitramento da preta Maria que ressurge
uma figura conhecida. Ora, tendo sido Maria avaliada por dois peritos, e o primeiro lhe atribuiu valor de 700 mil-
réis; e o segundo, 1 conto e 400 mil-réis, o juiz indicou José Moreira Veludo para realizar o desempate. Veludo
considerou que um valor justo seria 800 mil-réis, mas como era obrigado a escolher uma entre as duas propostas
acima mencionadas, resolveu que, como era para liberdade, os 700 mil-réis são bastantes. Apesar desse início
otimista, é precipitado intuir que tudo ficou fácil para os escravos. A ânsia de conseguir dinheiro para sua alforria
os expunha a acordos desvantajosos, colocando-os na mira de espertalhões e enganadores. Foi o que ocorreu
com a parda Ângela, que solicitou empréstimo para sua alforria, para ser pago com serviços futuros. Seu credor,
no entanto, alega em juízo que ela havia fugido para não saldar sua dívida. Seu advogado argumentou que o
acordo era nulo porque a negra havia sido claramente lesada, uma vez que o preço estabelecido para o trabalho
de Ângela era bem inferior ao preço de mercado, o que faria com que ela precisasse trabalhar por mais tempo a
fim de saldar sua dívida. A resolução, no entanto, foi de que ela era obrigada a cumprir o acordo. Num outro caso,
o de Onofre, cuja mãe pleiteava a liberdade, mas, havendo discordâncias quanto ao domicílio onde iria se realizar
o arbitramento, Onofre foi entregue a um depositário, que aparentemente o ajudou a obter seu desejo. Assim,
tendo Onofre fugido, a senhora resolve aceitar os 300 mil-réis propostos pela mãe dele ainda no início. Foi uma
pechincha, porque, tendo o escravo fugido, o risco era a senhora ficar sem nada... Esse e outros casos narrados
tornam os processos de indenização parecidos com leilões. Nesse cenário de intensas lutas argumentativas nos
tribunais em favor da liberdade, ocorre que os abolicionistas se consideram aptos a falar pelos escravos, já que
estes são incapazes de lutar por seus próprios direitos. A figura do herói e de um paternalismo em favor dos
negros desfavorecidos permanece. O problema é que, ao falar pelo escravo, silencia-se a sua voz e ele permanece
invisibilizado e até mesmo desumanizado na sociedade.

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