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Escada do amor: síntese da educação filosófica em Platão (Parte III)

Yuri Galvão Oberlaender de Almeida

1- Em busca do Centro Divino

“Em última análise, nosso problema é o seguinte: como recuperar a integridade


intelectual que torna os homens aptos a perceber a ordem dos valores”.

- Richard M. Weaver 1

Antes de beber o cálice fatal de cicuta, Sócrates aponta o indicador para o alto,
como quem diz: “a dimensão horizontal da vida está doente e condenada à morte, só na
verticalidade há cura”. A dimensão horizontal é a profunda crise política de Atenas,
cujas raízes são intelectuais e morais. E a dimensão vertical? Em meio ao luto, Platão

1 Richard M. Weaver. As ideias têm consequências, p. 25. É Realizações.


segue o dedo de seu Mestre e volta seus olhos ao que ele aponta: o céu infinito e o astro
rei a ordenar tudo. O Sol é a fonte vital de todo o universo físico, assim, no plano
espiritual, a Ideia do Bem é o centro vital a doar consciência e conhecimento ao homem
(Rep. VI – 507 b- 509 d): eis a descoberta platônica do Mundo das Ideias. A cura da
crise ateniense repousa nos indivíduos capazes de acessar e pautar sua conduta naquele
mundo. A solução, portanto, é formar esses indivíduos, ou seja, é urgente uma educação
filosófica (paidéian kaì philosophían – Rep. 498b).

Legenda: A morte de Sócrates (1787), Jacques-Louis David.

Como resgatar a integridade intelectual? Submetendo o intelecto humano a uma


verdade que o transcenda (e que sempre o transcenderá): a Ideia do Bem. É esse
exercício dialético que observamos Sócrates fazendo ao longo dos diálogos platônicos.
A Verdade sempre estará além do discurso humano, o quid est (ser) buscado por
Sócrates é irredutível à linguagem. Ainda assim existe, em sentido absoluto. Isso exige
do discurso humano, da inteligência humana, que esteja comprometida, até o fim de
seus dias, com uma auto-revisão. Um exame constante de si mesma. Diante das
perguntas fundamentais, os sofistas dão respostas conclusivas. Sócrates sempre encontra
uma maneira de expor a ignorância desses autodeclarados sábios. Afinal de contas, onde
acaba a ignorância humana? Ou ainda: quando é que acabará? A filosofia é essa chaga
aberta, essa tensão contínua do ignorante em direção à Sabedoria. A filosofia é abertura,
a sofística é fechamento. E o fechamento da consciência humana, o fechamento da
alma, é perigoso, tanto na dimensão individual (o orgulho) quanto na dimensão pública
(a ideologia).
2- Terra Desolada

“Strepsíades: Ali é o “pensatório”, a escola dos espíritos sabidos. Lá dentro vivem


pessoas que, falando a respeito do céu, nos convencem de que ele é um forno que cobre
a gente e de que a gente é o carvão dele.”

Aristófanes em

As Nuvens

Legenda: ocupação do CFH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas), na UFSC (Universidade Federal
de Santa Catarina).

Considerar o céu a tampa dum forno e a vida humana um carvão que arde sem
por quê: eis o supra-sumo da sagezza pós moderna (ou seja, o niilismo). Naturalmente, a
atitude psicológica frente a essa “realidade” absurda será a negação e a revolta: “que
Deus sádico é esse que criou essa joça sem sentido? E quem é que o autorizou a
colocar-me nela?” Catalisando as consequências dessa linha de pensamento, destaco
duas: 1- Não há Deus, logo o homem é o “deus” criador essa realidade; e 2- Eu odeio a
realidade e farei de tudo para destruí-la. A negação radical de qualquer sentido
transcendente para a vida humana é o pano de fundo mental de grande parte dos
iluminados do dia. Entronados em seus pensatórios, eles emanam sua sabedoria aos
desprovidos de diprôma. Aqueles que se deixam levar pela cantilena do niilismo passam
a ser utilíssimos aos movimentos de revolução social. Afinal de contas, haverá
motivação maior à destruição do status quo do que converter o instinto religioso do
homem (transformação de si em busca da Transcendência) em instinto de revolta social
(transformação do entorno em busca da utopia, i.e. do “paraíso” imanente)? “O meu
reino não é desse mundo”, diz Jesus nas Escrituras 2. Já os panfletos de Marx...

“A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de


situações sem alma. A religião é o ópio do povo. A abolição da religião, enquanto felicidade
ilusória dos homens, é a exigência da sua felicidade real. (...) A crítica da religião é, pois, o
germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.

A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem
fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da
religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como
homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si
mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que
gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.” 3

Alguém aí se lembra dos sofistas e seus umbigos solares 4? O marxismo segue a mesma
linha da sofística grega, no seguinte sentido: busca abolir os valores transcendentes de
modo a dar ao homem mais “poder de ação” sobre a sociedade. Do vermelho sacrificial
da paixão de Cristo, passa-se ao vermelho assassino das revoltas armadas. Da religião
transcendente, passa-se à religião civil.

A batalha de Platão foi construir uma instituição onde os valores transcendentes


pudessem ser guardados, resgatados e reintroduzidos no mundo da cultura: a Academia.
Por ironia do destino, seu projeto original foi pervertido: hoje é a academia quem
combate os valores transcendentes, encarniçando-se em desconstrui-los. A tristeza e o
desamparo espreitam os corredores de nossas universidades (principalmente as alas de
(des) humanas), evidenciando o vazio de um abandono. O abandono do Ideal, a
assassinato do Pai. A Universidade (ou seja, a instituição que, por vocação, deve
espelhar a integridade da inteligência humana) perdeu seu Centro Transcendente. A
descrição satírica de Aristófanes, apesar de referir-se à intelligentsia de seu tempo, cai

2
Bíblia. João 18:36.
3Karl Marx (2005). Crítica da filosofia do direito de Hegel. [S.l.]: São Paulo: Boitempo Editorial.
pp. 146/147.
4Link para o texto I, onde falo dos umbigos solares http://escoladeartesliberais.com.br/escada-
do-amor-sintese-da-educacao-filosofica-em-platao-parte-i/
como uma luva para a nossa intelligentsia. Onde foi parar o eros acadêmico? A paixão
teórica desinteressada e desinteresseira? Onde foi parar o ágon filosófico? A
universidade é nossa terra desolada, já estão longe os tempos de glória. Urge criarem-se
círculos de cavaleiros abnegados, investidos de nobreza e devidamente treinados para as
batalhas dialéticas. Urge reencontrar o Graal, o centro divino capaz de devolver a vida e
o sentido à universidade. Mas antes de encontrar cavaleiros, é preciso encontrar pessoas
maduras...

Nós, os xófens

Legenda : Psst, ei você! Quer construir o comunismo?

“Se o homem, de uma maneira geral, tem vocação para a escravidão, o jovem tem uma
vocação ainda maior. O jovem, justamente por ser mais agressivo e ter uma
potencialidade mais generosa, é muito suscetível ao totalitarismo. A vocação do jovem
para o totalitarismo, para a intolerância é enorme. Eu recomendo aos jovens:
envelheçam depressa, deixem de ser jovens o mais depressa possível, isto é um azar,
uma infelicidade.”

Nelson Rodrigues
Muitos jovens, em nossos dias, ouvem a velha cantilena: “acredite em você, você
é especial, mude o mundo”. A realidade é que nós, jovens, somos uns coitados sedentos
por alguma validação de nossa “identidade” (essa ilusão mesquinha e com consistência
de geléia). Esses convites, porta de entrada aos movimentos políticos, buscam engajar o
jovem no “verdadeiro” sentido da vida: a revolução social. Os jovens nem conhecem a
si mesmos, quanto mais a complexidade do mundo ao seu redor. Como querer
transformá-lo antes de conhecê-lo? Ao invés daquele convite lisonjeiro e falso, seria
melhor dizer: “querido, você é um ignorante, sua personalidade tem consistência de
isopor; pelo amor de Deus, dê seu melhor para ser alguém!” Contudo, aos menos
conscientes de sua miséria interior, aquele lisonjeiro convite para “mudar o mundo”
prevalece. E por isso a advertência de G. Friedman torna-se atualíssima:

“Numerosos são aqueles que se absorvem inteiramente na política militante, na


preparação da revolução social. Raros, muito raros aqueles que, para preparar a
revolução, querem dela se tornar dignos. "5

Será que a sanha de reformar o mundo, esse orgulho travestido de “justiça social”, já
não rendeu sangue o suficiente à humanidade? Querido jovem revolucionário, sua
hipocrisia já dá na vista: que tal fazer as pazes com seus pais, antes de querer
revolucionar a Pátria? Dedico ao senhor os versos do poeta Roberto Evangelista 6:

(Sem ofensas)

Vá-se à merda!

Adube-se! Vingue-se!

Cresça e floresça!

5 G. Friedmann no livro de Pierre Hadot, Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga, p. 19. É


Edições.
6 Roberto Evangelista. Mínimas orações. Editora Valer, 2012.
3- O amor arrasta

"Em todos os lugares, aprendemos somente com aqueles que amamos."

Goethe

"Um professor afeta a eternidade; ele nunca pode dizer onde a sua influência
termina."

Henry Adams

Sócrates e o eros pedagógico

A palavra explica, o exemplo convence, o amor arrasta. O amor platônico não é


uma covardia masturbatória de magros crapulosos. Ou uma idealização esquemática que
repudia a vida concreta. O eros platônico é o amor entre mestre e discípulo, entre aluno
e professor. Platão foi, acima de tudo, um professor. Seu projeto educacional, como
toda pedagogia genuína, acredita na evolução do homem através da ciência. Em outras
palavras, acredita na possibilidade de, através do conhecimento, o homem passar de um
patamar inferior de existência a um patamar superior (uma espécie de upgrade
ontológico). Sua Academia e sua obra escrita são frutos desse amor aos seus alunos.
Mas o que é que diferencia esse amor de outros? A verticalidade. O professor é, por
vocação, a ponte a ligar o aluno ao conhecimento. Como num triângulo, a relação
horizontal entre aluno e professor é guiada por um vértice superior: a Verdade. Quando
dialoga com seu aluno, o professor trairá sua vocação caso desvie os olhos da Verdade.
Se suas palavras miram agradar, ele já se perdeu. Poderá ser muitas coisas, mas terá
deixado de ser professor. É essa disciplina do olhar, esse exercício espiritual, o que
qualifica um professor, fazendo-o ascender de sua idiotice congênita até alcançar o
máximo de transparência possível. Transparência? Sim! Para que a Verdade possa
brilhar através dele, ou melhor, para que Ela brilhe apesar dele.
Legenda: O ideal do educador é tornar-se o mais transparente possível, até transmitir, feito crisol
translúcido, a luminosidade dos valores reais.

O professor é uma ponte, o professor é um crisol; o ideal é que ferva de amor


pelos valores que ensina, até que funda a si mesmo naquilo que ama (“Transforma-se o
amador na coisa amada/Por virtude do muito imaginar”). Então seguirá o exemplo de
Sócrates: será fervor, será tomado pelo eros pedagógico, fará de si uma seta a apontar o
que está além, será crisol translúcido!

Sócrates e a Justiça
Legenda: Urizen, pintura de William Blake. “Deus é a medida de todas as coisas” (Platão, As Leis,
716 c).

A moral humana não surge por dedução, mas indução. A partir de casos concretos
induz-se o universal. Através dos exemplos concretos, dos heróis e santos, as mais altas
potencialidades humanas são reveladas e, assim, e delas extraem-se preceitos e normas
gerais para a orientação da conduta particular, estruturando-se uma moralidade. É do
Perfeito que o homem abstrai o ideal de perfeição, como um filho encantado com a
virtude de seu adorado pai. Nesse sentido, a convivência com homens nobres e
virtuosos (“hombre de carne y hueso”, como diria Unamuno) é muito mais rica, para a
formação moral, do que mil e um tratados filosóficos. Na origem da filosofia, está um
homem de carne e osso: “o julgamento e morte de Sócrates não é apenas o cume de uma
história viva e dramática, mas também uma instância visível da Ideia de Justiça” 7. A
ideia do Bem e sua consequência (a Justiça) manifestam-se no mundo concreto através
de seus abnegados servidores.

O resultado final da educação filosófica é a Justiça, esse é o valor procurado ao


longo de toda República. É claro que, para a batalha cultural, Platão dará aos seus
alunos um treinamento dialético afiado, ensinando-os um volume enorme de conteúdos
pelos quais possam agir na assembleia da pólis. Contudo, de que valerá todos esses
conhecimentos, caso falte o conhecimento essencial do Bem? Caso falte a Justiça a
converter o amor ao que está além em amor-doação ao próximo? Nesse sentido, Platão é
um cristão avant-la-lettre, antecipando a mensagem atemporal expressa por São Paulo:
“Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se amor (caritas) não tivesse
(...) eu nada seria” 8.

Podemos encontrar a justiça platônica já na primeira palavra da República (e depois


confirma-la, no livro VII):

“A primeira palavra do Livro I - “κατέβην” (“Desci” do verbo καταβαίνειν; “descer”)


- incorpora o ensino completo e maduro de Platão sobre a Justiça, i.e., a principal,
primordial e de fato única preocupação do diálogo. Belamente escrito como é, repleto
de riquezas literárias, políticas, históricas, atléticas, musicais, militares, econômicas,
matemáticas, harmônicas, lógicas, psicológicas, ontológicas, metodológicas e

7 William H. F. Altman. Plato the teacher: the crisis of the Republic. Lexington Books,
pg. 279.
8
Bíblia, Coríntios 1:13.
pedagógicas (uma lista nada completa) de tal maneira que parece quase uma blasfêmia
dizer que qualquer [uma só] coisa seja sua principal preocupação, o único propósito
de Platão é persuadir o leitor - assim como o único propósito de Sócrates é persuadir
Glaucon - a escolher a Justiça. Em retrospecto, isto é, no contexto da alegoria da
caverna no livro VII, a primeira palavra de Sócrates revela que a justiça é a decisão
voluntária do filósofo de voltar à caverna, instanciada em primeiro lugar pelo próprio
Sócrates.” 9

A torre de marfim não salva, o isolamento não salva, afinal de contas, “eu sou eu e a
minha circunstância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo” 10. A redenção da pólis
está (em alguma medida) em minha ação individual: quando ascendo, reconheço a
Realidade espiritual e de lá desço, em busca de salvar minha circunstância concreta. O
filósofo platônico contempla a Ideia do Bem e de lá desce, pelo dever de encarnar (o
quanto puder) a justiça: por sua ação concreta o Bem desce. O Centro Divino buscado
por Platão coincide com o centro da cruz cristã, ali há a união da dimensão vertical e da
horizontal, ali a ação concreta torna-se nobre, por apontar ao que está além.

9 William H. F. Altman. Plato the teacher: the crisis of the Republic. Lexington Books,
pg. 37,38.
10 Ortega y Gasset, Meditações de Quixote, Introdução.
São João Batista, pintura de Leonardo Da Vinci.

A morte de Sócrates

Após receber a sentença de condenação à morte, Sócrates faz sua declaração


final. Ao invés de súplicas histéricas, seus acusadores e toda assembleia ouve
(espantada) as palavras corajosas de um homem fiel a si mesmo. Segundo Platão, o
“varão mais justo de seu tempo” 11:

“ Vós também, senhores juízes, deveis esperar a morte e considerar particularmente esta
verdade: não há, para o homem bom, nenhum mal, quer na vida, quer na morte, e os deuses

11
Platão. Carta VII (324 d-e). Tradução: Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2007.
não descuidam de seu destino. (...) Não me insurjo absolutamente contra os que votaram contra
mim ou me acusaram. (...) Contudo, só tenho um pedido que lhes faça: quando meus filhos
crescerem, castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos tormentos que eu vos infligi, se
achardes que eles estejam cuidando mais da riqueza ou de outra coisa que da virtude; se
estiverem supondo ter um valor que não tenham, repreendei-os, como vos fiz eu, por não
cuidarem do que devem e por suporem méritos, sem ter nenhum. Se vós o fizerdes, eu terei
recebido de vós justiça; eu, e meus filhos também.

Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue
melhor rumo, se eu, se vós, é segredo para todos, menos para a divindade.”12

Legenda: busto de Sócrates em mármore.

12
Platão. Apologia de Sócrates (41c – 42 a). Tradução: Jaime Bruna. Nova Cultural, 1987.

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