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Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7

Cadernos PDE

II
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional

Cleto de Assis Alves

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

A Dislexia no contexto escolar: subsídios e alternativas para o trabalho pedagógico com


o aluno disléxico.

Ponta Grossa
2014
1

Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica

Turma 2014

Título: A Dislexia no contexto escolar: subsídios e alternativas para o trabalho


pedagógico com o aluno disléxico.

Autor: Cleto de Assis Alves

Disciplina/Área: Fisíca/Gestão Escolar

Escola de Implementação do Colégio Estadual General Osório Ensino


Projeto e sua localização: Fundamental e Médio

Município da escola: Ponta Grossa

Núcleo Regional de Educação: Ponta Grossa

Professor Orientador: Oriomar Skalinski Junior

Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Ponta Grossa

Relação Interdisciplinar: O trabalho tem como foco professores de todas as


disciplinas na instituição.

Resumo:
Este Caderno Temático tem como objetivo expor
as principais características dos indivíduos com
dislexia e discuti-las a partir da teoria, bem como
oferecer elementos que permitam a orientação do
trabalho pedagógico com esses alunos. O Caderno
Temático justifica-se na medida em que
verificamos que a dislexia é uma transtorno da
aprendizagem cada vez mais presente no contexto
escolar, o que torna necessário que sejam
oferecidos subsídios teórico-práticos que auxiliem
os professores nessa mediação. Ao elaborarmos o
presente trabalho, temos o propósito de que ele seja
aplicado como material para a formação
continuada de professores, no que tange às
necessidades educativas especiais, particularmente,
ao discutir a dislexia como transtorno da
aprendizagem. Nele são abordadas a definição, as
causas, as características, bem como a legislação e
2

as potenciais consequências, da dislexia no


desenvolvimento escolar do aluno. Com isso,
espera-se contribuir para a promoção de uma
inclusão escolar que seja cada vez mais efetiva.

Palavras-chave: Dislexia; Inclusão; Formação Continuada.

Formato do Material Didático: Caderno Temático


Público: Professores, funcionários e educadores.
APRESENTAÇÃO

Este Caderno Temático é resultado de uma inquietação surgida a partir da


constatação, proporcionada por meu trabalho como educador na rede estadual, da
existência de um grande número de educandos com dificuldade na leitura e na escrita.
Tal fato preocupa cada vez mais os profissionais da educação e coloca grandes desafios
para a organização escolar e para a sociedade como um todo, visto que o avanço dos
alunos, em um sentido amplo, está intimamente ligado ao desenvolvimento da
linguagem. Dessa forma, tornam-se necessários tanto a realização de estudos teóricos no
âmbito das instituições escolares, quanto a promoção de cursos de formação continuada
que possibilitem aos professores desenvolverem um entendimento mais elaborado sobre
a temática.
O presente trabalho tem a finalidade de ser empregado como um dos materiais
no processo de implementação de meu projeto no PDE, que contempla a organização e
condução de uma oficina com professores, a fim de oferecer informações e discutir as
questões atinentes à dislexia. Essa intervenção busca proporcionar um aprimoramento
aos educadores, visando aumentar a eficácia de suas ações pedagógicas junto aos alunos
disléxicos, com vistas à promoção de sua efetiva inclusão escolar.
SUMÁRIO

Considerações Iniciais...............................................................................................p. 05

1. Dislexia e Necessidades Educativas Especiais (NEE): definindo conceitos......p. 06

2. Contexto Escolar: implicações para o aluno disléxico.......................................p. 10

3. O Diagnóstico e o auxílio ao aluno disléxico.......................................................p. 13

4. A Linguagem e sua influência na vida do disléxico............................................p. 15

5. O Papel do Educador: partindo para a ação.....................................................p. 16

6. A Legislação referente ao apoio para atendimento do disléxico.......................p. 19

7. Relatos de casos.....................................................................................................p. 24

Considerações finais..................................................................................................p. 25

Referências.................................................................................................................p. 28
5

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente Caderno Temático é resultado da necessidade de se desenvolver


estudos acerca das dificuldades escolares, notadamente, sobre o baixo rendimento no
desenvolvimento da leitura e da escrita. Ao delimitarmos como tema desse trabalho a
dislexia e suas implicações para o processo pedagógico, temos em vista implementar
uma ação que vai ao encontro da necessidade de formação continuada expressa por
muitos professores.
A dislexia tem como sua principal característica a dificuldade na aquisição da
leitura e da escrita, sendo um dos transtornos de aprendizagem mais comentados,
entretanto, menos conhecidos por grande parte dos educadores. O Caderno Temático
tem como objetivo contribuir para a formação continuada dos professores ao abordar
questões relativas à dislexia, por meio de subsídios teóricos e práticos que possam
auxiliar na sua compreensão do transtorno, bem como na sua ação pedagógica no
sentido de atender as necessidades específicas desses alunos.
Este trabalho faz inicialmente uma reflexão acerca do papel da escola frente ao
desafio da inclusão, para, em seguida, dedicar-se de modo mais específico às temáticas
relativa ao transtorno da dislexia. Vale destacar que esse propósito se justifica na
medida em que verificamos que a dislexia demanda por ações pedagógicas específicas,
a fim de se minimizar seu impacto no aprendizado dos alunos. Dessa forma, faz-se
necessário proporcionar ao educadores subsídios teóricos para sua prática abordando
causas, sintomas, consequências no desenvolvimento escolar, legislação, casos e
estratégias de mediação pedagógica junto ao aluno disléxico.
6

2. DISLEXIA E NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS (NEE):


DEFININDO CONCEITOS

A escola regular por meio da educação formal tem como compromisso


fundamental introduzir o aluno no mundo cultural e científico, uma vez que tal direito
deve ser garantido a todo ser humano. Para além disso, as escolas precisam enfrentar o
desafio da inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), conforme
a direção apontada pelas políticas públicas em educação mais recentes em nosso país.
Mantoan (2006) destaca que: “A inclusão é um desafio que, ao ser devidamente
enfrentado pela escola comum, provoca a melhoria da educação básica e superior” (p.
45), pois com isso é promovido o direito dos indivíduos com necessidades educativas
especiais a uma educação plena.
Cabe à escola, portanto, aproximar suas práticas das demandas dos alunos, a fim
de atender suas particularidades e contemplar suas diferenças. Nesse sentido, faz-se
necessária uma atualização constante do conhecimento pelo quadro docente, por meio
da formação continuada dos educadores/professores responsáveis pela tarefa
fundamental da escola, que é a promoção da aprendizagem e a formação global dos
alunos.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Especial (PARANÁ, 2006), a
inclusão e a diversidade são temas que vem sendo discutidos amplamente na última
década. Diversos congressos, debates, produções acadêmicas têm enfatizado a temática,
assim como a mídia tem chamado a atenção para a questão. Porém, isso não significa
que a inclusão esteja sendo realizada efetivamente em nossa sociedade, onde diversos
grupos encontram-se ainda marginalizados, sofrem preconceito, não tem voz, sendo-
lhes negados direitos garantidos por lei a todos os cidadãos.
O desafio da inclusão é uma nova forma de prática educativa que busca
promover as oportunidades de acesso e de permanência de crianças e de adolescentes na
escola. Conforme destaca Carvalho (1998), as escolas inclusivas são para todos, e são
possíveis na medida de um sistema educacional capaz de contemplar as diferenças
individuais, bem como de respeitar as necessidades particulares dos alunos.
A aprendizagem humana é uma interação de vários componentes que se
relacionam: genéticos, neurológicos, psicológicos, culturais, educacionais. Esta
7

interação se efetiva dentro do ambiente escolar através de sucessos e insucessos,


alegrias e tristezas, relações construtivas ou empobrecedoras.
No âmbito dos estudos dos processos de aprendizagem humana a dislexia é um
fenômeno que tem chamado a atenção no contexto educacional das últimas décadas. O
conceito de dislexia é amplo e contempla uma série de distúrbios de linguagem:
problemas de leitura, em aquisição e capacidade de escrever e soletrar. Dificuldades a
princípio não esperadas em relação à idade e que, muitas vezes, levam a
criança/adolescente a experimentar uma sensação de inferioridade em relação aos
colegas.
Muszkat e Rizzutti (2012), ao se referirem à morfologia da palavra dislexia,
indicam que dys significa uma disfunção, um funcionamento anormal ou prejudicado,
enquanto lexia remete à linguagem em um sentido amplo. Ajuriaguerra (1984) define
dislexia como um distúrbio psicopedagógico, caracterizado por dificuldades com a
linguagem ou a orientação espacial. Tais fatores podem implicar em que os alunos se
sintam em uma situação de inferioridade, o que também em razão de fatores emocionais
geraria uma circunstância desfavorável para o progresso na vida escolar. Dentre os
fatores do meio ocupa um lugar importante o fator pedagógico, não porque uma
pedagogia inadequada possa por si só criar uma dislexia, mas porque ela pode afetar o
desenvolvimento de uma criança conduzindo a implicações nesse sentido.
Massi (2007) nos oferece uma definição de dislexia classificando-a como um
distúrbio da aprendizagem específico da linguagem, trata-se segundo ele de um
distúrbio de origem constitucional que tem como principal característica a dificuldade
na decodificação das palavras, mesmo as mais simples. Ainda afirma que nesses casos:

Apesar de submetida à instrução convencional, adequada inteligência,


oportunidade sociocultural e não possuir distúrbios cognitivos e
sensoriais fundamentais, a criança falha no processo de aquisição da
linguagem. A dislexia é apresentada em várias formas de dificuldades
com diferentes formas de linguagem, frequentemente incluídos
problemas de leitura, em aquisição e capacidade de escrever e soletrar.
(MASSI, 2007, p. 44).

Nesse quadro, a escola, enquanto instituição que tem entre suas finalidades a
transmissão às novas gerações dos saberes produzidos e acumulados historicamente
pela humanidade, cumpre um papel decisivo no sentido da superação das dificuldades
dos alunos disléxicos. A aquisição da leitura e da escrita costumam gerar expectativas e
8

entusiasmo, tanto nos alunos quanto em suas famílias, no entanto, apesar disso, observa-
se no ensino fundamental, elevado número de crianças que apresentam dificuldades na
aquisição dessas habilidades. Guimarães (2005) nos indica que:

A partir da década de 1970 e início da década 1980 as pesquisas nas


áreas da psicologia cognitiva e do desenvolvimento e na área da
neuropsicologia cognitiva produzem enormes progressos e renovam as
concepções teóricas acerca de mecanismos normais de aquisição da
leitura e da escrita. (GUIMARÃES, 2005, p.12).

Isso mostra que dificuldade de aprendizagem é um tema que já vem sendo


examinado com afinco há algumas décadas pelos estudiosos da área da educação, visto
se tratar de uma preocupação crescente em razão de sua constante presença no contexto
escolar. Nesse sentido, é muito importante diferenciar os conceitos de dificuldade e de
incapacidade. Fonseca (1995) explica que:

O conceito de dificuldade, não engloba qualquer perturbação global da


inteligência ou da personalidade, potencial de aprendizagem íntegro e
intacto, sendo as crianças intactas, portanto não deficientes. O prefixo
“DIS” (dislexia, disgrafia, discalculia) envolve a noção de dificuldade
à que pode estar ligada ou não a disfunção cerebral. Ao contrário, o
conceito de incapacidade inclui problemas de gravidade variável,
exprimindo uma desorganização funcional. (FONSECA, 1995, p.197).

Essa distinção revela duas definições a partir de abordagens diferentes. A


criança que possuiu algum transtorno em seu desenvolvimento cognitivo apresenta um
potencial afetado, enquanto que a criança com dificuldade de aprendizagem apresenta
um potencial normal e uma integridade global.
Guimarães (2005), por meio de uma abordagem histórica, ao elencar a evolução
de diferentes concepções acerca da dislexia, remete, por exemplo, a ideia de “leitor
fraco” ou “mau leitor”, “dificuldade com as palavras”; “cegueira verbal” e “cegueira
mental”. Até os anos 1970 as dificuldades de aprendizagem eram atribuídas às
deficiências do processamento visual, e os testes elaborados para o diagnóstico das
dislexias enfatizavam esse aspecto.
Ainda na década de 1970, estudos destacaram a importância do processo
fonológico (fonemas das palavras) para a leitura e a escrita, transferindo o foco do
processamento visual para o verbal. Capovilla (1999) discute se esses distúrbios são
especificamente verbais ou se eles se estendem ao material não-verbal. Coltheart (1987)
9

cria modelos explicativos a partir da investigação de pacientes com distúrbios de leitura


surgidos após lesões cerebrais. O termo dislexia adquirida foi empregado para
caracterizar distúrbios de leitura encontrados em leitores adultos, causados por danos
cerebrais derivados de AVCs. Ellis (1995) definiu como dislexia adquirida, os casos em
que os indivíduos possuem problemas nos módulos cognitivos utilizados na conversão
da palavra escrita para o som, bem como diferentes padrões de disfunção na leitura.
Pinheiro (1994) divide a dislexia em dois grupos: dislexias periféricas e dislexias
centrais. As dislexias periféricas localizam-se no sistema de análise visual provocam
uma série de prejuízos na percepção de letras, entre elas destacam-se: 1. Dislexia por
negligência, que se refere à incapacidade de observar a extremidade esquerda das
palavras; 2. Dislexia da atenção, que se refere à dificuldade em focalizar a atenção numa
letra ou palavra, de tal forma que as letras de uma palavra podem se juntar a outra
palavra; 3. Leitura letra a letra, que se refere à dificuldade em perceber a forma global
das palavras.
As dislexias centrais são transtornos nos quais, além do sistema de análise
visual, partes de uma das rotas (fonológica e lexical) ou mesmo das duas estão
danificadas. Dentre as dislexias centrais podem ser destacadas: 1. Leitura não-
semântica, que afeta o sistema semântico, ou seja, é relativa à falta entendimentos das
palavras lidas; 2. Dislexia fonológica, que afeta partes da rota sublexical, implicando em
que a conexão entre o sistema de análise visual e o nível do fonema seja prejudicada,
conduzindo a dificuldades na conversão letra-som e em erros de lexicalização; 3.
Dislexia de superfície, que afeta partes da rota lexical e da rota sublexical (fonológica),
de modo a apresentar leitura pela rota fonológica menos danificada e erros de
regularização; 4. Dislexia profunda, que afeta partes da rota sublexical, da rota visual e
da rota semântica. Apresenta erros semânticos, erros visuais simples, erros visuais-
semânticos, erros de derivação e substituições de funções gramaticais.
Guimarães (2005) destaca que muitos autores “[...] têm buscado explicar os
padrões de leitura e escrita dos sujeitos com dificuldades de aprendizagem (denominada
dislexia do desenvolvimento) usando como referência os sintomas das dislexias
adquiridas”. (p. 39). Os danos cerebrais podem alterar a capacidade de escrita dos
sujeitos, dando origem a diferentes formas de disgrafia (fonológica, de superfície e
profunda), danificando um ou mais componentes do sistema de escrita.
10

Diante desta diversidade de definições, a identificação precoce da dislexia se faz


necessária, para criação de meios de encaminhamento educacionais de intervenção. Esta
identificação ocorre por meio de uma avaliação pedagógica desenvolvida por uma
equipe multidisciplinar. Conforme Fonseca a “[...] avaliação psicopedagógica deve
levar-nos aos mais válidos métodos pedagógicos e reabilitativos, subtendendo uma
estreita e intrínseca relação entre o diagnóstico e a intervenção”. (1995, p. 74).
O diagnóstico de dislexia é resultado da avaliação psicopedagógica que sempre
traz a indicação para acompanhamento específico em outras áreas profissionais
(fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia, entre outros), de acordo com a dificuldade
e o nível de dislexia constatados. Sendo necessário um canal de comunicação entre os
profissionais envolvidos e a escola, visando a troca de experiências e de informações.

2. CONTEXTO ESCOLAR: IMPLICAÇÕES PARA O ALUNO DISLÉXICO

A dislexia apresenta seus sinais na fase escolar, sendo as queixas escolares


focadas majoritariamente na dificuldade de leitura e de escrita, em diferentes graus e
séries. A queixa pode aparecer sob diferentes formas, como nos exemplos a seguir: 1.
Parece que ele (a) não guarda nada; 2. Ele (a) não faz nada na sala, não fixa em nada,
não presta atenção na aula; 3. Ele (a) tem dificuldade que nem eu, lá em casa ninguém
sabe nada. Acho que não adianta; 4. Não presto atenção. Só consigo quando alguém
ajuda; 5. Eu não queria aprender a ler e a escrever; 6. Tenho medo de tirar nota baixa,
repetir ano e perder os amigos; 7. O que acontece comigo? Eu sou incapaz de aprender?
Diante deste quadro, propomos algumas reflexões no que diz respeito ao
educando, à família e ao educador. O educando pode estar desmotivado, ter
desenvolvido um sentimento de inferioridade perante os colegas, bem como
experimentar angústias, frustrações e sofrimento. Fatos que estando presentes em sua
vida escolar confluirão para seu insucesso. A família (berço das primeiras referências),
muitas vezes se sente impotente diante das dificuldades, o que, aliado a sentimentos de
desamparo, de angústia e de confusão, faz com que não consigam encontrar e oferecer
caminhos efetivos para a superação das dificuldades do indivíduo. O educador, muitas
vezes sente-se despreparado e sem ação para resolver as dificuldades, por desconhecer
as suas causas e os métodos a serem empregados com alunos que tenham essa NEE.
11

Muitas vezes a dificuldade ganha escuta na escola, pelo comportamento


emocional, como também pela dificuldade de aprendizagem. Atualmente existe a
necessidade de serem implementadas formas diferentes de mediação pedagógica, que
permitam às crianças receberem os conteúdos de maneira adequada às suas
necessidades particulares. Medidas pedagógicas, estudos pedagógicos, melhor formação
nas diferentes esferas (ensino fundamental, médio e superior), com informações dos
diversos distúrbios presentes no contexto escolar, são capitais para que haja uma
melhora no quadro educativo. Conforme aponta Ajuriaguerra: “A escola sairia
ganhando se oferecesse às crianças a possibilidade de explorar outras formas de
inteligência”. (1984, p. 57).
No entanto, para que as medidas pedagógicas, sejam eficientes é necessário,
primeiramente, identificar o educando portador da dislexia. As características mais
frequentemente encontradas são as seguintes: 1. Confusão entre letras, sílabas ou
palavras com diferenças sutis de grafia (a-o, c-o, e-c, f-t, h-n, i-j, v-u, etc); 2. Confusão
entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no
espaço (b-d, p-b, b-q, n-u, a-e); 3. Inversões parciais ou totais na composição de sílabas
ou palavras (me-em; sol-dos; som-mos; sal-las; pal-pla); 4. Substituição de palavras por
outras mais ou menos similares ou criação de palavras, porém com diferentes
significados (soltou-salvou; era-ficava); 5. Adições ou omissões de sons, sílabas ou
palavras (famoso-fama; casaco-casa); 6. Repetições de sílabas, palavras ou frases; 7.
Pular uma linha, retroceder para a linha anterior e perder a linha ao ler; 8. Excessiva
fixação do olho na linha; 9. Soletração defeituosa reconhece letras isoladamente, porém
sem poder organizar a palavra como um todo, ou então lê a palavra silaba por sílaba, ou
ainda lê o texto palavra por palavra; 10. Problemas de compreensão; 11. Leitura em
espelho, casos excepcionais; 12. Ilegibilidade.
Em geral, as dificuldades do disléxico no reconhecimento de palavras obrigam-
no a realizar uma tarefa decifratória. Como dedica seu esforço à tarefa de decifrar o
material, diminuem significativamente a velocidade e a compreensão necessárias para a
leitura normal. Nesses indivíduos existe uma deficiência fonológica, que bloqueia a
decodificação, que, por sua vez, interfere no reconhecimento das palavras. Como
consequência não conseguem aplicar suas habilidades cognitivas na compreensão do
significado de uma palavra, pois demoram muito na identificação.
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Foi observado que os métodos de ensino usados com os disléxicos tendem a


colocar grande ênfase sobre a fonética, a maior área de dificuldades. Vários estudos
demonstram que os disléxicos podem fazer um progresso razoável, quando recebem
uma instrução sistemática. Destaca-se a aplicação do método sintético, que parte do
elemento, exatamente da correspondência fonema-grafema, para chegar a sílaba, depois
a palavra e por último a frase (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012). Neste quadro, é
constatado que:

[...] dois métodos de alfabetização são especialmente indicados para


os indivíduos com dislexia: o Método Multissensorial e o Método
Fônico. Enquanto o Método Multissensorial é o mais indicado para as
crianças mais velhas, que já possuem um histórico de fracasso escolar,
o método fônico é indicado para crianças mais jovens e deve ser
introduzido logo no início da Alfabetização (MUSZKAT; RIZZUTTI,
2012, p. 69).

As dificuldades para ler e escrever encontram-se associadas a outros distúrbios


que podemos observar em indivíduos com dislexia: 1. Problemas em reconhecer ou
escrever palavras; 2. Inversão de letras; 3. Dificuldade de memória; a criança pode ter
dificuldade para recordar o que acontece num momento anterior (curto prazo), como o
que aconteceu há vários dias (longo prazo); 4. Problemas de organização; 5. Distúrbios
de memória para sequências (espacial, temporal), dias da semana, os meses do ano,
dificuldade em dizer horas, dificuldade em lembrar nomes; 6. Lentidão em fazer tarefas
escolares; 7. Dificuldade em distinguir certos sons entre vogais e consoantes; 8.
Compreensão inferior à leitura.
Ainda vale destacar que a dislexia pode ser diagnosticada mesmo em alunos com
inteligência normal ou superior, com órgãos sensoriais intactos, emocionalmente sem
problemas, motivados e com ensino adequado. No entanto, em alguns casos parece
existir uma etiologia genética, conforme aponta Ellis, “[...] filhos de pais com
problemas de leitura estavam significativamente mais propensos a ter eles próprios
problemas de leitura do que os filhos de pais sem problemas de leitura”. (ELLIS, 1995,
p. 120).
Diante do contexto teórico elencado e considerando as possíveis dificuldades
que os educandos terão em seus projetos de vida, se faz necessário aprofundar e refletir
acerca do envolvimento de todos, no sentido de minimizar os efeitos que a dislexia
causa na vida escolar de um indivíduo. Identificar a dislexia é dar condições a escola e a
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seus educadores de prever alternativas, de selecionar materiais e recursos, para que se


ajustem às necessidades das crianças e enfrentem seus desafios escolares e humanos
com maior eficiência.

3. O DIAGNÓSTICO E O AUXÍLIO AO ALUNO DISLÉXICO

A suspeita de dislexia pode estar presente mesmo quando o educando tem


instrução, inteligência, oportunidade sociocultural e a ausência de distúrbios cognitivos
e sensoriais, sendo portanto demandada a condução de um diagnóstico apurado. Weiss
(2001) elenca os elementos necessários para elaborar um diagnóstico, a fim de se
identificar as necessidades específicas relativas à dificuldade do aluno. Nesse sentido,
aponta que inicialmente a sensibilidade do terapeuta em atender a família e o paciente,
ajudará a vencer as dificuldades iniciais, sendo o primeiro encontro carregado de
ansiedade de ambas as partes. Isso face a situação diagnóstica ser permeada pelo
desconhecimento (medo de revelar aspectos pessoais ou da vida familiar), sendo
necessário criar um clima de confiança, por parte do terapeuta, o qual aplicará vários
testes, que irão ajudar na elaboração do diagnóstico. Dentre eles, destacam-se: 1.
Entrevista familiar; 2. Entrevista centrada na aprendizagem E.O.C.A; 3. WISC - avalia
o nível de desempenho (inteligência); 4. Testes projetivos gráficos, família genética e
dupla educativa; 5. BENDER – coordenação viso motora, emprego de espaço e
possíveis indicativos de organicidade (WEISS, 2001).
É importante extrair informações sobre diferentes aspectos da vida do indivíduo
(cognitiva, familiar, afetiva, social, pedagógica) para o conhecimento e compreensão do
seu quadro, em razão disso oferece a possibilidade da contextualização do eventual
transtorno. A entrevista de anamnese é fundamental para um bom diagnóstico (envolve
dimensões do passado, do presente e das perspectivas do paciente), trazendo uma visão
ampla de sua vida. Nela são levantadas informações como: 1. A história das primeiras
aprendizagens; 2. Como se processou seu desenvolvimento; 3. História clínica (doenças,
tratamentos); 4. História da família; 5. Histórico escolar.
O uso de testes e provas representa um recurso a ser utilizado pelo terapeuta,
sendo selecionados de acordo com a necessidade, na medida em que alguns aspectos
vão ficando claros e exigem outros caminhos. Ao final do diagnóstico o terapeuta terá
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uma visão global do paciente, sua contextualização familiar, na escola e no meio social
que está inserido.
O laudo tem como finalidade resumir as conclusões a que se chegou na busca de
respostas, diante da visão global do paciente ante a questão da aprendizagem e da
produção escolar, formulando o diagnóstico final. Por fim, são elaboradas
recomendações e indicações, reunindo as orientações aos pais e a escola, tais como:
troca de turma ou de escola; posição do educando em sala de aula; como trabalhar com
ele em casa/escola; reformulação de exigências; atribuição de responsabilidades;
metodologia a ser usada. Também são indicadas as modalidades de atendimento
profissional especializado recomendadas (Psicopedagogia, Fonoaudiologia, Psicologia,
entre outros profissionais).
Zorzi (2008) fala da necessidade de identificar para cuidar. Para ele, é
importante que esta regra seja seguida à risca. Esperar para ver o que vai acontecer
resulta muitas vezes na manutenção e agravamento dos problemas. O autor elenca que,
quem tem dificuldade precisa de ajuda e não de castigo. Em um estudo de caso ele
descreve:

M. tem 17 anos. Está terminando o colegial (com dificuldades na


escrita do português). Por isso escreve muito pouco, não querendo
expor seus erros, considerando-se “burro”. Dificilmente sabe se é para
escrever “ss” ou “ç”, “x” ou “ch”. Muitos professores costumam
descontar pontos, fazendo um traço debaixo da palavra e mandando
prestar mais atenção. [...]. Apesar de tantas cópias que lhe mandaram
fazer, ditado para treino e fixação ortográfica, ainda tem dificuldades
para saber como escrever muitas palavras. É como se nada tivesse sido
feito para ajudá-lo. (ZORZI, 2008, p. 19).

Fazer uma parceria implica compreender o porquê das dificuldades e quais


competências ou habilidades devem ser trabalhadas, bem como incentivar o aprendiz e
envolvê-lo na aprendizagem. Esta parceria deve estar presente de várias formas, por
exemplo, na família valorizando as pequenas vitórias e direcionando o educando para
um diagnóstico – o qual auxiliará a escola com orientações, levando nós educadores a
modificar a prática pedagógica tornando-as mais interessantes e motivadoras.
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4. A LINGUAGEM E SUA INFLUÊNCIA NA VIDA DO DISLÉXICO

A linguagem verbal enquanto uso da palavra articulada ou escrita como meio de


expressão e de comunicação entre pessoas, está desde muito cedo presente no
comportamento humano e é gradativamente desenvolvida e reforçada a partir de
experiências, de relações sociais e interações de comunicação.
No nível neurológico o desenvolvimento da linguagem é ligado ao aumento da
mielinização, que acelera a transmissão interneural, pois a mielina é uma espécie de
gordura isolante que diminui as perdas de informação entre os neurônios. Isso fortalece
as conexões já existentes e proporciona uma maior interação entre diferentes áreas do
cérebro, formando uma verdadeira rede funcional a serviço do processamento da
linguagem.
Para compreender melhor este processo, destacamos as etapas da aquisição da
linguagem: a) 0 – 3 meses, produção de sons (choro, gritos e barulhos); b) 3° ao 6°mês,
sons emitidos para a interação com outra pessoa; c) 6° mês, aparece uma espécie de
diálogo – repete/balbucio, é a combinação de sons, mudando a duração e o modo de
articulação; d) 10° ao 12°mês, a partir daqui inicia-se a linguagem verbal propriamente
dita, sua expressão progride lentamente; e. 12° ao 18° mês, produção de 10 a 50
palavras e algumas frases com 2 palavras, chama a atenção para receber uma resposta
verbal do adulto; f) 2° ano (Marinho) espera-se que a criança tenha adquirido -
/p/,/b/,/t/,/d/,/m/; g) 3°ano (Fonemas) /g/,/k/,/f/,/v/,/n/,/s/,/z/,/lh/,/l/,/y/; h) 4°ano
(Neurológicos), /x/,/r/; i) 5°ano (Grupos Consonantais) – sistema fonêmico íntegro –
estrutura da língua.
Muszkat e Rizzuti (2012) destacam no processo da linguagem quatro sistemas
interdependentes; o pragmático (uso comunicativo da linguagem contexto social); o
fonológico (percepção e produção de sons para formar palavras; o semântico (atribui às
palavras seu significado); gramatical e morfológico (compreendendo as regras sintáticas
para combinar palavras em frases). Crianças com dificuldades de linguagem podem ter
dificuldades nestas dimensões. A criança inicialmente desenvolve as palavras faladas
(nível fonológico e morfológico) e atribui significado a elas (nível semântico).
Crianças com dislexia têm dificuldade na decomposição fonológica, mas a
compreensão da fala é intacta e a leitura, quando presente, é lenta ou silabada. Também
é esperada dificuldade em soletrar, reconhecer rimas, ler palavras não habituais.
16

O desenvolvimento da consciência é diretamente influenciado pela idade e


escolaridade, o que mostra que a instrução é um fator essencial. As representações
fonológicas de palavras familiares começam a ser formadas entre seis e nove anos de
idade (vocabulário reduzido). O fonema surge com a experiência da linguagem oral,
como resultado das interações entre o crescimento do vocabulário e as limitações do
desempenho, e é uma unidade importante na utilização de atividades de escrita e leitura.
O que está ligado às diferenças individuais no desenvolvimento da consciência
fonológica ao sucesso do aprendizado do indivíduo.
Nas crianças com dislexia a intervenção mais indicada é a estimulação da
conversão grafema-fonema, com intervenção nas habilidades de leitura, de modo
associado à atividades relacionadas ao processo fonológico da linguagem. É importante
que isso ocorra por meio de atividades lúdicas (jogos, brincadeiras), para que a criança
sinta prazer em ler e escrever. Os pais tem um papel importante neste processo, como
incentivadores, por exemplo, através da leitura de histórias infantis, canto de músicas
infantis, leitura de pequenos textos e rótulos. Com isso, é possível estimular e motivar a
leitura de modo pouco formal.
Fonseca (1995) destaca que a criança com dificuldade de aprendizagem, corre o
risco de se tornar um adulto pouco habilidoso, desmotivado, rebelde, apático. Podemos
fazer referência a casos de grandes gênios que foram considerados alunos ruins ou
incapazes de aprender, por exemplo: Einstein que só aos quatro anos começou a falar e
só aos sete iniciou os passos na leitura; Newton, considerado como um aluno de fracos
recursos; Beethoven, cujo professor de música chegou a dizer que como compositor não
tinha chances; Thomas Edison, que chegou a ser considerado incapaz para aprender o
quer que fosse; Walt Disney, cujo editor chegou a dizer que ele não tinha boas ideias.
Isso nos leva a uma reflexão muito importante: quantos desses valores humanos
continuarão a se perder caso não lhes seja oferecido um apoio pedagógico adequado às
suas necessidades?

5. O PAPEL DO EDUCADOR: PARTINDO PARA A AÇÃO


Como educadores devemos traçar estratégias e caminhos pedagógicos tendo em
vista que o aluno deve ser visto como um indivíduo com diversas possibilidades, capaz
de vencer as dificuldades, bem como de construir e modificar sua trajetória, a partir de
sua interação com os colegas da turma e com o professor. Neste contexto, é necessário
17

criar um ambiente sócio-afetivo e intelectual que motive o aluno, levando-o a superar as


barreiras das eventuais dificuldades apresentadas. No entanto, não existe receita pronta
para este educando, há sim sugestões.
Devemos estar atentos e observar alguns pontos que podem facilitar a sua
interação, de maneira a contribuir para que os obstáculos sejam vencidos. Dentre as
diversas estratégias destacamos:

Recomendações e Estratégias
1. Trate o educando com naturalidade e respeite sua dificuldade, ele é um aluno
como qualquer outro, apenas possui dislexia;
2. Muitos disléxicos tem dificuldade para compreender uma linguagem simbólica
(mais elaborada), sendo necessário o uso de uma linguagem objetiva, clara e
direta. Usando frases, textos curtos e simples para passar instruções;
3. Forneça uma instrução por vez. Os disléxicos possuem dificuldade em guardar
mais de uma ordem;
4. Prefira ficar olhando direto para o aluno, isto facilita e ajuda a comunicação;
5. Certifique-se que o educando entendeu suas explicações e sempre que necessário
repita-o, muitas vezes eles falam que entenderam, mas pela sua expressão
(fisionomia), percebemos que não houve um entendimento, sendo necessário
repeti-lo quantas vezes for necessário, ou de maneiras diferentes;
6. Observar se o educando faz as anotações da lousa antes de que ela seja apagada,
ajude ele a se organizar;
7. Estimule o educando naquilo em que ele é tem maior facilidade. Procurando
descobrir quais são suas outras habilidades, contribuindo para que ele se sinta mais
confiante e capaz. Fortaleça sempre a sua autoestima, ele necessita muito disso;
8. Não coloque o aluno em evidência, pedindo para que ele leia em voz alta. Às
vezes em separado é melhor;
9. O disléxico tende a lidar melhor com as partes do que com o todo, abordagens e
métodos globais e dedutivos são de difícil compreensão. Apresente-lhe o
conhecimento em partes de maneira indutiva;
9.1 - Ao realizar atividades/avaliações utilize letra com um tamanho
razoável e com um espaçamento nítido;
18

9.2 – O espaço da pergunta e da reposta devem ficar na mesma folha de


prova limpa, sem rasuras, sem riscos ou sinais para que confundam o
aluno;
10. Efetue um número maior de questões e de tamanho menor, isso é mais eficiente do
a aplicação de questões muito longas;
11. Desenhos, figuras, esquemas, gráficos, fluxogramas, podem eventualmente
substituir muitas palavras e levar aos mesmos objetivos;
12. Permita o uso das tabuadas, fórmulas, calculadoras, computador e outros recursos
quando necessário;
13. Dê-lhe opção de fazer prova oral ou atividades avaliativas diversificadas. Utilize
diferentes expressões e linguagens;
14. Leia as questões para ele, uma por vez certifique-se que ele entendeu o que está
sendo pedido. Respeite o seu ritmo permitindo-lhe quando necessário, que a
conclua na aula seguinte ou em outro lugar (Sala da orientação, biblioteca, sala de
apoio);
15. Adapte os critérios de correção para a realidade do aluno disléxico, aquilo que
você sabe que ele entendeu. Verifique oralmente o que ele quis dizer com o que
escreveu. Pesquise a natureza dos erros cometidos: errou por que não entendeu o
que leu? Errou por que não soube aplicar o conceito aprendido, pois entendeu o
que leu? Aplicou o conceito, mas desenvolveu o raciocínio de forma errada?
Enfim, em que errou e por que errou?

Cabe a nós educadores atuarmos como mediadores, pois os disléxicos tem ritmo
diferente dos demais educandos. Enfim, trabalhar com o aluno disléxico exige um
pouco mais de atenção para esses detalhes, ciente que com estes cuidados faremos um
trabalho mais efetivo e com maior impacto em sua vida.
Outro item importante a se destacar, refere-se aos cuidados na avaliação que
precisam estar presentes nesse processo, com a necessidade de promover avaliações
contínuas – em maior número e com menos conteúdos acumulados. Sempre que
necessário, antes da avaliação, o conteúdo estudado pode ser retomado, por meio de
uma linguagem clara e objetiva. A estratégia de subdividir o texto também costuma ser
eficiente. Nesse sentido, ainda se recomenda oferecer ao aluno a opção de fazer prova
19

oral ou atividade que utilize diferentes expressões e linguagens; uma maior tempo para
realizar as tarefas avaliativas de um modo geral.
Durante a avaliação prestar assistência auxiliando sempre que necessário,
oferecendo oportunidades para que o aluno explique oralmente o que por ventura não
tenha ficado claro por escrito, respeitando seu ritmo. Após a avaliação pode ser
necessário retomar os conteúdos que tiverem um índices mais elevados de erros.
O Relatório da Comissão Internacional da UNESCO, coloca quatro eixos
fundamentais que devem nortear a educação do século XXI: Aprender a aprender;
Aprender a fazer; Aprender a conviver juntos; Aprender a ser. Esses pontos nos levam à
reflexão acerca do sentido amplo do ato de educar, e nos sugere que o essencial é
oferecer condições para que o educando supere as suas dificuldades e se torne cada vez
mais responsável e autônomo por sua aprendizagem, e, por consequência, tenha
instrumentos para atingir seus objetivos.

6. A LEGISLAÇÃO REFERENTE AO APOIO PARA ATENDIMENTO DO


DISLÉXICO
A Classificação Internacional de Doenças é aceita e adotada mundialmente,
como um sistema oficial usado para codificar e classificar entidades nosográficas. Em
sua décima revisão o documento aceita e reconhece a dislexia, sob o código F 81.0,
como um transtorno específico de leitura, que reflete no aprendizado desde as etapas
iniciais do desenvolvimento (CID-10, 1993).
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – IV (DSM-IV),
elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria, reconhece a dislexia, sob o código
315.00, como uma dificuldade de leitura e de escrita especificamente relacionada à
infância e à adolescência. Segundo o (DSM IV, 2002), o quadro de dislexia pode estar
associado a transtornos de matemática, manifestando-se, nos anos escolares iniciais,
entre a primeira a quarta-série.
Esses dois instrumentos oficiais, amplamente utilizados pela área médica,
referem-se à questões que dizem respeito à escolarização e ao aprendizado formal da
escrita. O conceito atual proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) define a
dislexia como uma dificuldade de leitura não explicada por déficit de inteligência,
oportunidade de aprendizado, motivação geral ou acuidade sensorial diminuída, seja
visual ou auditiva.
20

A seguir, apresentamos o modo como a dislexia e apresentada e classificada em


diferentes documentos que estabelecem uma legislação.

6.1. Constituição Federal


A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, é destinada a
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida. Os artigos indicados na sequência, mostram, sob diferentes formas, o
quanto está assegurado o direito dos indivíduos ao acesso a uma educação adequada às
suas necessidades.

Artigo 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil:
IV. Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Artigo 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da


família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Artigo 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes


princípios:
[...]
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência
de instituições públicas e privadas de ensino;

Artigo 208. O dever do Estado com a educação será efetivado


mediante a Garantia de:
[...]
III- atendimento educacional especializado aos portadores de
Deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

Artigo 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as


seguintes condições:
I – Cumprimento das normas gerais da educação nacional
(BRASIL, 1988).

A Constituição Federal destaca em seu texto a importância da educação dos


cidadãos brasileiros, ressaltando a necessidade de haver pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas e a necessidade de haver atendimento especializado aos
portadores de deficiência (necessidades educativas especiais).
21

6.2. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de


dezembro de 1996.
A LDB prevê normas que as instituições de ensino, públicas e privadas, devem
observar para promover a educação. Deste documento, gostaríamos de dar visibilidade
ao artigo a seguir.

Artigo 4º. O dever do Estado com educação escolar pública será


efetivado mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que
ele não tiveram acesso na idade própria;
II- Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao Ensino
Médio;
III- Atendimento educacional especializado gratuito aos educandos
com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de
ensino;

6.3. Pareceres e resoluções do Conselho Nacional de Educação

A educação no Brasil também é regulada por pareceres e resoluções do


Conselho Nacional de Educação. Desses documentos, cumpre destacar o Parecer
CNE/CEB nº17/2001, de 03 julho de 2001 e a Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de
setembro de 2001.
Essa resolução procura focar a dignidade humana e o direito de cada aluno de
realizar seus projetos de estudo, de trabalho e de inserção na vida social, buscando
valorizar e reconhecer suas diferenças e potencialidades. Também são reconhecidas as
necessidades educacionais especiais no processo de ensino e de aprendizagem, como
base para a constituição e ampliação de valores, atitudes e conhecimentos, habilidades e
competências.
A Resolução CNE/CEB nº 2 de 11 de dezembro de 2001 prevê uma educação de
qualidade para todos, assegurando recursos, promovendo e considerando os educandos
com necessidades especiais.

Artigo 2º. Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos,


cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos
com necessidades especiais, assegurando as condições necessárias
para uma educação de qualidade para todos.
22

Ainda, estipula por educação especial o processo definido por uma proposta
pedagógica que:

Artigo 3°.
- Assegure recursos e serviços educacionais especiais;
- sejam organizados institucionalmente para apoiar, complementar,
suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais
comuns;
- garanta a educação escolar;
- promova o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que
apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e
modalidades da educação básica.

Considera educandos com necessidades especiais os que, durante o processo


educacional apresentam: “I - dificuldades de aprendizagem ou limitações no processo
de desenvolvimento que dificultam o acompanhamento das atividades curriculares,
[...]”.
As crianças com dislexia e dificuldades correlatas (disgrafia, e disortografia) são
educandos que se enquadram na disposição acima citada, pois, a dislexia é uma
disfunção neurológica, devendo ser entendida como uma dificuldade específica no
aprendizado da leitura, comprometendo a soletração (decodificação textual) e a
compreensão de textos.
Por fim, gostaríamos de destacar o artigo 7° da resolução que indica que:

O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais


deve ser realizado em classes comuns do ensino regular em qualquer
etapa ou modalidade da Educação Básica.

6.4. Declaração de Salamanca (orientação)


A Declaração de Salamanca publicada a partir de conferência promovida pelas
Nações Unidas em 1994, demanda que os Estados assegurem que a educação de pessoas
com deficiências seja parte integrante do sistema educacional. O que reafirma o
compromisso para com a Educação para todos. Destacam-se os trechos a seguir.

A escolarização de crianças em escolas especiais ou classes especiais


na escola regular – deveria ser uma exceção, só recomendável
23

naqueles casos, poucos frequentes, nos quais se demonstre que a


educação nas classes comuns não pode satisfazer ás necessidades
educativas ou sociais da criança ou quando necessário para o bem
estar da criança (DECLARAÇÃO DE SALANCA, 1994).

Em face da especificidade desses educandos, a citada resolução indica que a rede


regular de ensino deve:

[...] prever e prover na organização de suas classes comuns a


flexibilização e adaptação curricular de forma a considerar o
significado prático e instrumental dos conteúdos básicos,
metodológicos de ensino e recursos diferenciados e processos de
avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam
necessidades educacionais especiais, através de professores
capacitados e especializados (DECLARAÇÃO DE SALANCA,
1994).

6.5. Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº8069, de 13/07/1990


A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e de outras providências e tem por finalidade garantir sob a forma da lei a
proteção integral à criança e ao adolescente. Deste documento, consideramos importante
destacar os artigos que seguem.

Art.53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao


pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:
I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - Direito de ser respeitado por seus educadores;
III - Direito de contestar critérios avaliativos podendo recorrer às
instâncias escolares superiores;
IV - Direito de organização e participação em entidades estudantis;
V- Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência;
Parágrafo único: É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do
processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas
educacionais.

Art.54. É dever de o Estado assegurar a criança e ao adolescente:


I - Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a
ele não tiveram acesso na idade própria;
II - Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino
médio;
III – Atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência preferencialmente na rede regular de ensino;
24

Art.57. O poder público estimulara pesquisas, experiências e novas


propostas relativas ao calendário, seriação, currículo, metodologia,
didática e avaliação, com vistas a inserção de crianças e adolescentes
excluídos do ensino fundamental obrigatório.

Art.70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação


dos direitos da criança e do adolescente.

7. RELATOS DE CASOS

A devolução é uma comunicação verbal feita ao final da avaliação aos pais e ao


paciente, na qual são explicitados os resultados obtidos ao longo do diagnóstico. É
importante aproveitar esse espaço para que os pais e o paciente assumam a
responsabilidade pelo enfrentamento do problema em todas as dimensões e que
compromissos sejam assumidos por todos os envolvidos (família/aluno/escola). Zorzi
(2008) afirma que aluno com dificuldade precisa de ajuda, não de castigo. A seguir
destacaremos três casos, que refletem um trabalho realizado com educandos com
dificuldade. Eles foram extraídos da apostila do curso de formação em dislexia,
promovido pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD, 2008).

1º CASO 2º CASO 3º CASO


Quadro inicial: Quadro inicial: Quadro inicial:
-idade: 8 anos na 2ª série -idade: 7 anos na 1ª série -idade: 10 anos na 3ª série
-aulas particulares -notam muito baixas -repetiu e 1ª série
-notas muito baixas -começou a fazer terapia -notas muito baixas
-fazia terapia há 3anos -sem amigos e triste -dislexia severa
-poucas amigas -autoestima baixa -autoestima baixa
-autoestima baixa -a mãe falava por ele
-aficionado por futebol
25

Atitudes terapêuticas: Atitudes terapêuticas: Atitudes terapêuticas:


-trabalho pedagógico -avaliação diferenciada -comunicação e apoio da
-reforço positivo -reforço positivo escola
-leitura de provas -mais tempo e leitura de -reforço positivo
-insistência no diagnóstico provas -mais tempo e leitura das
-diagnóstico na 3ª série provas
-avaliação com
fonoaudiólogo
-terapia com a mãe
Resultados: Resultados: Resultados:
-na 3ª série -diagnóstico (disléxico) -já possuía opinião própria
-1ª nota 7.0 -autoestima mais alta -valorização do lado
-diagnóstico realizado -valorização do lado esportivo
-autoestima melhorou artístico -mais feliz
-mais feliz

Os casos nos levam à reflexão de que cada criança tem uma história de vida,
com diferentes oportunidades e ações diferenciadas por parte da família. No entanto,
quando a criança/escola/família são orientados todos ganham. Apesar de ter um quadro
inicial, muitas vezes desanimador as atitudes terapêuticas podem trazer avanços e
resultados positivos, que farão a diferença na vida de muitos indivíduos com
necessidades educativas especiais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao constatarmos, em função de nossa prática como professor, um número


elevado de estudantes com dificuldade na leitura e na escrita (alguns com diagnóstico de
dislexia), foi buscado neste caderno temático evidenciar subsídios teóricos que possam
contribuir para que nós educadores possamos trabalhar de modo mais efetivo com esses
alunos. O desafio de nós educadores no século XXI é estarmos em constante
aperfeiçoamento, para que juntos educadores/família/escola possamos superar os
26

diferentes desafios, procurando soluções, sugestões, estratégias, no sentido de


oportunizar a todos os educandos com necessidades educativas especiais, um
aprendizado que resulte em uma avanço para sua vida de modo amplo. Muitas vezes é
através da dificuldade que crescemos como ser humano, que valorizamos o outro e suas
limitações, respeitamos a vida, suas dificuldades e possibilidades.
27

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