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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS


MESTRADO EM ANTROPOLOGIA

​MIGRAÇÃO E TRANSNACIONALISMO
MARIA CELESTE QUINTINO

TRANSNACIONALIZAÇÃO DA IURD E O ASSISTENCIALISMO


NAS IMIGRAÇÕES DO SUL PARA O NORTE GLOBAL
THAIS RAMALHO VIANA

​ ​LISBOA, 08 DE JANEIRO DE 2019


TEXTO: Transnacionalização da IURD e o assistencialismo nas imigrações do sul para o
norte global

INTRODUÇÃO:
Desde a consolidação da antropologia enquanto ciência, a religião e as manifestações
religiosas têm sido estudadas por antropólogos de forma bastante contundente.
Com o avanço da globalização, os fluxos migratórios foram se intensificando cada vez mais,
contribuindo assim para a transnacionalização das religiões, tendo em vista que os migrantes
carregam suas práticas religiosas desde o lugar de destino para o lugar de origem.
Para desenvolver o tema proposto acima, começo escrevendo um pouco sobre o
transnacionalismo religioso, que se dá quando a igreja e seus missionários migram para outro
país e aí se estabelecem, mantendo algum -ou alguns- tipo(s) de vínculo(s) com seu local de
origem. Logo após, trato do pentecostalismo e suas características, para então chegar à Igreja
Universal do Reino de Deus, uma das igrejas pentecostais de maior expansão mundial e que
possui características peculiares.
TRANSNACIONALISMO RELIGIOSO

Para escrever sobre a Igreja Universal do Reino de Deus, antes é necessário falar um pouco
sobre a transnacionalização do pentecostalismo da América para o mundo. Para isso, é
importante deixar claro que ​“O espaço simbólico continua sendo o mesmo, porém duplicado
e dando origem a espaço sociais transnacionais” (PAOLA GARCÍA), o que quer dizer que
essas igrejas, apesar da transnacionalização, em seus lugares de origem continuam com as
mesmas práticas e cumprindo os mesmos papéis. E os imigrantes que, após deixarem suas
práticas religiosas em seus locais de origem, começam a frequentar a mesma igreja em seus
locais de destino, continuam estabelecendo contato com a família e amigos que em sua terra
de origem ficaram, e com a utilização cada vez mais frequente de aparatos tecnológicos
diversos e a constante presença nas redes sociais, esses meios são utilizados como forma de
compartilhar entre eles as vivências religiosas, já que para os pentecostais, a Igreja é muito
mais que apenas um espaço religioso, fazendo parte também de várias outras esferas da vida
pessoal, e com a mudança para outro país se torna fundamental compartilhar as novas
vivências com as pessoas que lá deixaram. “De ambos os lados do Atlântico há um culto a
uma mesma figura, a um mesmo referente simbólico, criando dessa maneira uma espécie de
comunhão-comunicação paralela, temporal e emocionalmente quase simultânea. Esse
compartilhamento se acentua ainda mais com as filmagens que os imigrantes realizam das
festividades para enviar um testemunho do ocorrido para seus familiares. Mas esse processo é
duplo: os parentes que permaneceram nos lugares de origem fazem o mesmo, dando assim
continuidade a identidades locais fora do espaço de origem”(PAOLA GARCÍA).
Esse duplo local de residência permite a emergência de “identidades religiosas
transnacionais” já que o indivíduo desenvolve a consciência de um pertencimento a uma
comunidade mais além de um território circunscrito, o que nos permite concluir que nos
contextos migratórios a devoção e o rito tem lugar independentemente da territorialidade
(PAOLA GARCÍA).

Diferentemente da tradicional Igreja Católica, que possui vários intermediários -como por
exemplo os santos, que são organizados de maneira territorial, através das paróquias- as
igrejas evangélicas pentecostais substituem a mediação que a igreja e os santos realizam,
estabelecendo uma relação direta entre Deus e o indivíduo, e essa extraterritorialidade
significa que os imigrantes pentecostais podem se organizar no exterior de maneira mais
fácil, constituindo assim, o que García chama de “comunidades religiosas multiétnicas”.

Tendo em conta o processo de transnacionalização religiosa, é importante ressaltar que o que


está a ser transnacionalizado são as igrejas (a doutrina mais especificamente) e os
missionários (os pastores neste caso), responsáveis por levar e propagar a doutrina já
existente em determinado país, para outro.
Os fluxos dessa transnacionalização acompanham os fluxos migratórios, mas também se
estabelecem de acordo com a possibilidade de converter fiéis de outra parte, muitas vezes
inclusive fiéis pertencentes a outras religiões. Como é o caso da IURD na África por
exemplo, que adaptando o discurso, e através das práticas assistencialistas em locais
vulneráveis, têm conseguido converter inúmeros fiéis que antes pertenciam a religiões
não-cristãs, como será mais exposto adiante.

PENTECOSTALISMO

E​m breves palavras, a principal característica do pentecostalismo é a presença do Espírito


Santo, fazendo sempre a oposição entre o espírito santo e o demônio, já que é atribuído ao
Espírito Santo a missão de fortalecer e preparar os crentes para a “luta contra os demônios”,
entendendo que esses demônios têm também uma representação simbólica, ou seja, não são
somente um espírito, mas tudo o que prejudica a vida das pessoas e as impede de ter uma
vida próspera, como por exemplo a pobreza, as doenças e o desemprego, fatores esses que
atingem com maior intensidade as populações mais vulneráveis economicamente. “Nascido
entre pobres, negros e mulheres, no « lado de baixo » da sociedade americana, o
pentecostalismo foi exportado a um custo baixíssimo, muitas vezes por não-americanos.”
(Freston 1999)
Com o sucesso do pentecostalismo na sociedade norte-americana, deu-se início então, a
expansão da mesma, para diversas parte do globo, seguindo os fluxos migratórios. “O
modelo de expansão mundial pentecostal segue normalmente as diásporas emigratórias,
partindo das regiões periféricas (América Latina, África e Ásia) para áreas centrais,
nomeadamente EUA/Canadá, Europa e Japão.” (Donizete Rodrigues e Marcos de Araújo
Silva 2012). Para além do pentecostalismo que segue as migrações, há de considerar também
o esforço missionário(católico, e principalmente o protestante) que transcende essas diásporas
e atua com outros imigrantes e também com nacionais.
“O protestantismo brasileiro, com longa tradição de envio missionário por parte das Igrejas
históricas, hoje se caracteriza pela predominância de pentecostais. Uma publicação
protestante de 1994 falava em cerca de 800 missionários evangélicos brasileiros no exterior,
representando umas 80 agências enviadoras. Em 1997, a revista Veja falava em 1 700, dos
quais 500 seriam da IURD, e afirmava que o número dobrara nos sete anos anteriores.”
(Freston 1999). Destacada aqui, daremos maior atenção a IURD, por motivos que serão
expostos mais a frente.

IURD E O ASSISTENCIALISMO COMO MEIO DE INSERÇÃO

Uma das igrejas pentecostais mais importantes do cenário brasileiro, a Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD) , foi fundada em 1977, no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, por
Edir Macedo.
Nos estudos antropológicos da religião, não é segredo que o Brasil é um dos maiores (se não
o maior) exportadores de religião do mundo, e por isso o que chama a atenção no caso da
IURD não é a sua expansão, mas sim a sua rápida expansão e forte adesão em diversas partes
do mundo, ao que tudo indica inclusive, segundo vários autores, ser a IURD a igreja de maior
expansão global.
“O Brasil tem a segunda maior comunidade de protestantes praticantes do mundo, e a maior
comunidade de pentecostais. Que a IURD tenha se expandido a outros países, portanto, não
surpreende, mas sim a dimensão e velocidade dessa expansão. A visão missionária não a
diferencia de outras Igrejas ; mas a capacidade de concretizar a visão tem muito a ver com
uma conjunção única de elementos”. (Freston 1999).
É inegável o poder político e econômico que a IURD tem, e a construção de templos
faraônicos, as compras de canais televisivos, rádios e terrenos em locais extremamente caros
das grandes capitais mundiais são apenas uma mostra do poder que a IURD possui. “A IURD
talvez seja única porque, ao contrário de outras expressões do protestantismo
latino-americano ou africano, possui um poder político e uma força econômica que lhe
asseguram a visibilidade mesmo no mundo desenvolvido” (Freston 1999)

“A expansão internacional da IURD dependeu sempre da combinação de alguns dos


seguintes fatores : afinidades culturais (lusas, latinas, africanas) ; pluralismo e liberdade
religiosos ; imigrantes pobres e discriminados ; e populações de transfundo cristão
(latino-americanos, hispânicos, caribenhos, africanos, portugueses, russos...)” (Freston,
1999).
Sobre o fator “imigrantes pobres e discriminados” é interessante observar que esse perfil de
pobres e discriminados corresponde não só aos imigrantes, mas também aos frequentadores
da IURD no Brasil. “Segundo pesquisa entre evangélicos do Grande Rio de Janeiro (ISER
1996 : 10), a composição social da IURD é marcadamente de baixa renda, baixa escolaridade
e cor mais escura. Enquanto 45 % da população ganha somente até dois salários mínimos, e
58 % do conjunto dos evangélicos, a taxa entre os membros da IURD é de 63 %. Somente 21
% da população tem quatro anos ou menos de escola, versus 39 % dos evangélicos e 50 % da
IURD. Brancos são 60 % da população, 49 % dos evangélicos e somente 40 % na IURD. Esta
base popular é conjugada com um poderio institucional decorrente da organização
hierárquica, cacife político, arrecadação financeira (a 34ª maior empresa privada do país) e
império na mídia”. (Freston 1999)
É curioso essa análise do perfil dos frequentantes da IURD, pois através disso, podemos
entender melhor as táticas da igreja para o sucesso entre os mais pobres e os imigrantes. Para
começar, é importante destacar que a IURD não age arbitrariamente, cada ação é
minimamente calculada, visando sempre ter o maior impacto possível. Antes de abrir um
templo no exterior, “é enviada uma comissão que investiga as probabilidades de sucesso,
estuda as leis do país, cuida da constituição jurídica da Igreja, avalia a linguagem mais
apropriada ao contexto e os melhores locais para templos, além de efetuar a compra ou
aluguel dos mesmos” ( Freston 1999)
Escolhido o local de abertura do templo, a IURD inicia seus trabalhos visando atrair o maior
número possível de fiéis, e por isso é preciso prestar atenção no item já destacado “imigrantes
pobres e discriminados” porque é aí que Freston destaca a importância do Brasil como ponte
entre Europa e África em termos étnicos, culturais e econômicos, com suas Igrejas tendo
papel de ponte para as minorias oriundas do terceiro mundo em meio ao Ocidente
desenvolvido. Podemos concluir portanto que, tanto no Brasil quanto no exterior, o perfil de
frequentadores da IURD não difere muito.

Os imigrantes -e aqui falo especificamente da imigração do sul para o norte global- ao


chegarem em seus locais de destino se deparam com dificuldades diversas. Nesse caso, quero
destacar aqui a importância das ​redes sociais (J.Taylor 1986) como mecanismo de integração
desses imigrantes na sociedade receptora, e a IURD funciona como uma instituição
facilitadora para o estabelecimento dessas redes, isso porque realiza diversas obras sociais,
responsáveis por reunir imigrantes recém chegados em situações semelhantes com imigrantes
já adaptados e até mesmo com não-imigrantes frequentadores da igreja, garantindo assim o
acolhimento desses novos e a interação entre todos.
“De modo geral, a expansão da IURD é caracterizada pela compra de espaços públicos,
abertura de templos e forte proselitismo midiático, muitas vezes com obras sociais
acompanhando e apoiando os grandes cultos e projetos das novas igrejas” (Freston, 2003;
Giumbelli, 2002; Mariano, 2004; Oro, 2003).

“O assistencialismo religioso internacional pode ser considerado uma extensão da já bem


conhecida dinâmica proselitista dos evangélicos. Mas não é só isso. Como mostra Freston
(1999), também é parte do processo de regulamentação jurídica e crescimento das igrejas nos
novos locais de atuação, e é ainda uma forma de ganhar simpatia e superar oposições
políticas, uma vez que promove a igreja como instituição religiosa engajada na oferta de
benefícios sociais”. ( ROSAS, 2016)
Além disso, devido a uma série de más acontecimentos protagonizados por pastores da IURD
-chutar imagem santos católicos, ridicularizar padroeiras em determinados países, etc- a
igreja adquiriu uma má reputação, que carrega consigo em suas tentativas de
transnacionalização, e essas obras sociais também funcionam como uma tentativa de mudar a
visão que as pessoas têm da igreja.
Em relação ao assistencialismo religioso, convém destacar também o papel das mulheres
nesse processo.
“Vê-se que, em vários lugares, as tarefas “emergenciais” de amplo alcance (coleta e
distribuição de itens de primeira necessidade) ocorrem sob a alcunha da antiga Associação
Beneficente Cristã (ABC) , já fechada no Brasil”(ROSAS, 2016). É válido lembrar que essas
ações da IURD, principalmente fora do Brasil com imigrantes que se encontram em situação
de vulnerabilidade, são responsáveis por converter grande número de fiéis, visto que além
dessas ações, a IURD tem suas pregações totalmente voltadas para esse tipo de população em
todos os lugares em que se insere.

“Fora do Brasil, a Universal conta com um ou mais pastores que ficam responsáveis pelo
evangelismo e pelas iniciativas de implantação do templo local. Na maior parte das vezes, os
líderes missionários se mudam com suas esposas e filhos e lideram as diversas atividades
propostas. Por isso, é comum que as obras sociais desenvolvidas sejam organizadas pelas
mulheres dos bispos e pastores, que também ocupam posições estratégicas na liderança.” Não
deverá surpreender, portanto, que a quase totalidade da ação social a ser descrita seja
orientada para mulheres ou por grupos por elas assistidos, afinal, o campo das assistências
ainda é um espaço de concentração das mulheres” (Simões, 2004), de modo que elas se
tornam “agentes preferenciais das doações” (Machado e Mariz, 2008). Além disso, há regiões
em que a presença delas ultrapassa 80% da audiência da IURD (Almeida e Montero, 2001;
Jacob et al., 2003)” ( ROSAS, 2016) .

Quero destacar aqui também o crescimento da IURD na África, crescimento esse que vem
ganhando mais força desde as últimas décadas, principalmente devido às ações sociais
desenvolvidas pela IURD. Em alguns casos, inclusive, a Igreja realizou projetos na área de
saúde pública, substituindo tarefas de responsabilidade do Estado, principalmente no que diz
respeito ao combate do HIV/SIDA em vários países do continente, visto o alto número de
pessoas infectadas.
Outro exemplo é a Angola, lugar em que a ABC “está ativa entre os angolanos e organiza os
seguintes projetos: Comunidade Vida Feliz (destinado a distribuir alimentos a pessoas
necessitadas); S.O.S. Cunane (responsável por socorrer vítimas de desastres naturais e
catástrofes); e Ler e Escrever (atividade de alfabetização). Os voluntários da associação
distribuem de modo recorrente folhetos com informações de prevenção contra AIDS, cólera e
malária (Arca Universal, 15/01/2010). À ABC angolana também é atribuída a criação do
Centro Profissional Acadêmico, onde funcionam o programa Ler e Escrever e outras
atividades profissionalizantes, como cursos de corte e costura, informática, cabeleireiro,
pastelaria, panificação e decoração (Folha Universal, n. 893 e 900). A ABC também organiza
o centro de crianças e jovens desfavorecidos El-Betel, que atende adolescentes instruindo-os
para que mudem de vida. O El-Betel funciona com a ajuda de membros da igreja, que levam
doações, e de parcerias estabelecidas com o governo da Angola. A IURD auxilia ainda o
Centro Alnur, destinado a acolher crianças órfãs e jovens que enfrentam o vício das
drogas”(Folha Universal, n. 893).
Nos outros países africanos a IURD tem ações muito semelhantes, sempre desenvolvidas em
conjunto com outras ações visando sua permanência exitosa, como já descrito acima, e
mostrando que é uma igreja de sucesso não apenas entre os imigrantes, mas também com a
população local dos países para o qual a IURD se transnacionaliza.

“Como bem defendeu Freston (2003), a Universal é um “fenômeno da pobreza cristã” e da


nova fase do cristianismo global. É uma religião dos pobres do Sul e dos imigrantes sulistas
no Norte. E, se encontra terreno fértil em âmbito não nacional – afinidades culturais,
pluralismo e liberdade religiosa, imigrantes (ou nativos) pobres e população de transfundo
cristão (Freston, 1999, p. 401) – faz florescer assistências diversas e em larga medida”
(ROSAS, 2016)
.
BIBLIOGRAFIA

FRESTON, Paul. 1994, “Breve história do pentecostalismo brasileiro : 3. A Igreja universal


do reino de Deus”, in ANTONIAZZI, A. et al., Nem anjos nem demonios.
Interpretações sociológicas do pentecostalismo, Petrópolis, Vozes : 131-159.

FRESTON, Paul, 1999. “A Igreja Universal do Reino de Deus na Europa”, Lusotopie, 1


(2):383-403.

GARCIA, Paola. “El carácter transnacional de las creencias y prácticas religiosas de los
inmigrantes latinoamericanos en España”, Universidad París XII.

RODRIGUES, Donizete; SILVA, Marcos de Araújo. 2012, “Gesù Cristo è il Signore: a Igreja
Universal do Reino de Deus em Itália”, in Etnográfica: Revista do Centro em Rede de
Investigação em Antropologia vol. 16 (2).

ROSAS, Nina; A Igreja Universal do Reino de Deus: ação social além-fronteiras Ciências
Sociais Unisinos, vol. 52, núm. 1, enero-abril, 2016, pp. 17-26 Universidade do Vale do Rio
dos Sinos São Leopoldo, Brasil.

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