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EDIÇÃO Nº 1123 31.

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ECONOMIA

Previdência saqueada
Uma investigação exclusiva detalha como
um esquema de fraudes contra
previdências municipais e estaduais se
espalhou por mais de 300
administrações,Decreto
com perdas que pode
de Bolsonaro podem
cancelar voos internacionais no
chegar a R$ 10 Brasil
bilhões

Gabriel Baldocchi
31/05/19 - 11h00 - Atualizado em 31/05/19 - 19h11

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Com 36 mil servidores na ativa e 13,6 mil


aposentados, Tocantins tem uma condição
privilegiada no Brasil hoje. Fundado em 1988, o
jovem estado tem quase três funcionários
públicos em serviço para cada um que deixou a
atividade. Na média das 27 unidades da
federação, a relação é de 1,13: para cada
servidor trabalhando há outro que recebe
aposentadoria. A situação da previdência no
Tocantins deveria ser, portanto, sutentável. Não
é. As contas estão à beira do déficit e, se nada
for feito, haverá problemas muito mais sérios no
futuro. Uma série de falhas históricas
contribuíram para o quadro atual. Nenhuma tão
acintosa quanto as fraudes cometidas com o
investimento do dinheiro dos servidores em
fundos duvidosos, os chamados papéis podres.
O prejuízo estimado é de cerca de R$ 1 bilhão,
segundos estimativas do instituto.

Um esquema de direcionamento de recursos de


previdências públicas para aplicações temerárias
se espalhou por administrações de todo o País
nos últimos anos. Os danos ainda não foram
totalmente apurados. Em auditorias recentes, a
Secretaria da Previdência, do Ministério da
Economia, mapeou 321 institutos de previdência
afetados – entre municipais e estaduais. Já foram
reconhecidos como perdas R$ 2,4 bilhões e o
potencial total das baixas é avaliado em R$ 10
bilhões. Alguns auditores e gestores ouvidos
pela reportagem da DINHEIRO acreditam que o
valor total pode ser duas vezes maior. E essa
conta recairá sobre servidores e contribuintes.

A perda imediata se dá no universo dos 8,1


milhões de funcionários públicos que são
atendidos pelos regimes próprios dos estados e
municípios, mas a fatura vai ser dividida com
toda a população. Parte da contribuição
investida nesses fundos questionáveis vem do
lado “patronal” e é feita por prefeitos e
governadores. Para fazer aportes extras que
sejam necessários para garantir a previdência
dos inativos, o dinheiro sairá de serviços
públicos essenciais.

Investimento suspeito: aplicações de institutos


públicos de previdência num hotel no Rio de
Janeiro que levaria a banderia de Donald Trump
foram alvo de uma operação da Polícia Federal
(Crédito:Divulgação)

O dano para a administração que colocou


dinheiro nos fundos podres pode ser maior.
Muitas instituições envolvidas nas fraudes não
conseguem tirar o Certificado de Regularidade
Previdenciária (CRP), o que trava a transferências
de recursos federais, além de não obter
garantias da União para empréstimos. Para
contornar essa restrição, estados e municípios
têm judicializado o problema.

Só em Tocantins, R$ 1,4 bilhão foram destinados


aos fundos duvidosos entre 2011 e 2014. Na
carteira de aplicações ainda constam R$ 639
milhões em investimentos “estressados” (ou seja,
problemáticos). Como o trabalho de
recuperação ainda está em curso e os fundos
têm prazos de resgate longos, os balanços dos
institutos de previdência afetados pelas fraudes
retratam uma situação irreal, com os ativos
podres sendo considerados no cálculo para o
pagamento dos benefícios. “Há uma cultura de
mascarar o déficit e empurrar o problema com a
barriga”, afirma um gestor, que prefere não se
identificar. “Com as dificuldades na arrecadação,
vamos ter de equacionar as perdas entre os
servidores.”

Déficit: à vista Mauro Carlesse, governador de


Tocantins: em gestões anteriores, a previdência do
estado aplicou R$ 1,4 bi em fundos duvidosos
(Crédito:Divulgação)

Em Tocantins, o rombo com os fundos podres se


somará às insuficiências geradas pelo início
tardio das contribuições do governo — os
aportes patronais só começaram em 2001. Além
disso, há o problema dos benefícios
extremamente altos. A média das
aposentadorias no poder Executivo ronda os R$
7 mil, mas chega a superar R$ 20 mil em outras
categorias do funcionalismo. Na previdência
municipal de Pouso Alegre, em Minas Gerais, os
investimentos alocados em gestores
independentes chegaram a 51% do patrimônio
líquido e o novo prefeito teve de decretar uma
intervenção. Atualmente, as aplicações
problemáticas estão contabilizadas em R$ 155
milhões e a avaliação das perdas estimadas em
R$ 100 milhões. Outros dois casos
emblemáticos acontecem em Paulínia (SP) e
Uberlândia (MG), onde as aplicações alcançaram,
somadas, R$ 730 milhões. O rombo deve passar
de R$ 300 milhões, segundo as estimativas feitas
a partir de auditorias nos institutos.

ROMBO DE R$ 70 BILHÕES Cerca de 40% das


administrações estaduais e municipais não
fazem mais parte do sistema do INSS. Existem
hoje no Brasil 2.123 regimes próprios de
previdência, nos quais as regras são muitas
vezes bem mais generosas do que no regime
geral, com valores superiores ao teto do INSS, de
R$ 5.839,45. Uma parcela dos recursos é
capitalizada em aplicações financeiras, para dar
fôlego ao pagamento das aposentadorias. Os
estados somavam um rombo de R$ 73 bilhões
em 2017. Nos municípios, a conta ainda está no
azul, mas quando se consideram as obrigações e
receitas futuras no chamado cálculo atuarial, há
previsão de déficit.

Alertas de problemas: documentos apresentados


por gestores e auditores chamam atenção para a
fragilidade de ativos em fundos que receberam
recursos dos servidores

O peso das aposentadorias tem relação direta


com a crise fiscal. Em 2017, pouco mais de 600
administrações não estavam em dia com os
repasses aos regimes próprios, acumulando
uma dívida total de R$ 7,7 bilhões. Outras 1.238
tinham débitos negociados em parcelamentos,
num total de R$ 15 bilhões. Há municípios em
que a prática da negociação parcelada vem
sendo reiterada, com até dez contratos
diferentes desse tipo.

A reforma da Previdência trará algum alívio aos


cofres regionais ao estender a data das
aposentadorias (idade mínima) e obrigar os
estados e municípios a adotar o teto do INSS. No
entanto, um dos pontos mais polêmicos da
proposta do ministro Paulo Guedes é
justamente adotar o modelo de capitalização.
Mas o que aconteceu nos regimes próprios faz
acender um sinal amarelo. No total, os institutos
tinham R$ 148 bilhões aplicados em 2017. O
INSS, porém, possui mais de três vezes o
número de segurados. E foi justamente esse
universo dos investimentos com recursos
previdenciários de servidores que se tornou um
ambiente fértil para as fraudes. Ele decorre, por
um lado, da necessidade de alcançar bons
retornos e, de outro, da dificuldade dos
servidores em acompanhar de perto a gestão.
Fundos de estatais como o Postalis (Correios),
Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa), enfrentaram
o mesmo problema. Até hoje os funcionários
pagam contribuições adicionais por fraudes e
desfalques ocorridos nos investimentos.

O esquema funcionava assim: sentados sobre


patrimônios milionários, diretores dos institutos
públicos de previdência eram assediados por
gestoras independentes. Em muitos municípios,
a aproximação se dava com a anuência do
prefeito. Aos poucos, os recursos iam sendo
retirados de aplicações administradas por
bancos tradicionais e de perfil conservador para
fundos arriscados nas mãos de gestoras
menores. Todos se beneficiavam. Investigações
já identificaram que prefeitos e funcionários dos
regimes próprios recebiam comissões. As
empresas cobravam taxas de administração
absurdamente altas. O custo chegava a superar
em 35 vezes o de uma instituição de primeira
linha. O relatório de intervenção em Pouso
Alegre calculou um gasto adicional de R$ 12
milhões. “Uma maneira ‘lícita’ de expropriação
do patrimônio do servidor público municipal”,
como afirma o documento.

Corrida de gato e rato: nos últimos cinco anos, os


institutos de previdências públicas regionais foram
alvo de nove operações da Polícia Federal, três
CPIs locais e duas intervenções (Crédito:Denny
Cesare/Codigo19 / Agência O Globo)

Os fundos também tinham regras excepcionais à


praxe de mercado. Prazos de resgate chegavam
a 14 anos, quando não eram indefinidos. O
cotista que precisasse do recurso daria a ordem
de saque e teria de esperar todo o prazo
previsto para a compensação na conta. Na maior
parte dos casos, ainda sofria uma penalidade de
até 50% do resgate. Eram maneiras de evitar
uma corrida de saques quando os problemas
fossem identificados. Agora há um impasse
entre os administradores que buscam minimizar
perdas. Não se sabe se é pior arcar com o
pedágio ou correr o risco de que, na hora do
resgate, nada mais esteja disponível.

As fraudes com os investimentos eram variadas.


Há casos de debêntures emitidas por empresas
de fachada, aplicações em companhias
falimentares, papéis podres de negócios
liquidados e precatórios vencidos, além de
empreendimentos que não possuíam licenças
básicas e que nunca saíam do papel ou
consumiam cada vez mais recursos e não eram
finalizados. Os gestores atuais comparam o
esforço de recuperação a uma espécie de
garimpo. “Tem de escavar para ver se encontra
ouro”, afirma um representante.

Alto risco: em relatório de classificação, a agência


de risco destaca que investimentos previstos por
uma empresa de um dos fundos não foram
realizados

Um dos casos mais simbólicos foi o das


debêntures da ITS@. Como revelado por
DINHEIRO, a empresa de tecnologia tinha como
sócios os donos da corretora Gradual, que fazia
a gestão de fundos com recursos
previdenciários. Uma ordem de compra feita à
revelia dos gestores gerou a suspeita que
embasou a operação “Encilhamento” da Polícia
Federal. A investigação comprovou que o
investimento havia sido feito numa empresa de
fachada. Outro caso apurado foi o da Bittenpar
que, com um capital social de apenas R$ 500,
emitiu R$ 750 milhões em títulos. A operação
“Circus Máximus” mostrou como um hotel que
chegou a negociar uma parceria com o então
empresário Donald Trump serviu de plataforma
para desviar os recursos dos regimes próprios. A
“Abismo” denunciou um prefeito cearense, um
pastor e a Bittenpar — que apesar de nunca ter
operado, distribuiu dividendos aos sócios e
comprou um automóvel de luxo da marca
Mercedes-Benz, segundo a Polícia Federal.

Os esforços das autoridades lembram uma


corrida de gato e rato. Nos últimos seis anos,
foram ao menos nove operações da Polícia
Federal, três Comissões Parlamentares de
Inquérito (CPIs), além de duas intervenções em
institutos de previdência. Uma investigação feita
por DINHEIRO a partir de documentos,
entrevistas com auditores e autoridades,
revelam que, mesmo se as fraudes tivessem
parado por completo, ainda haveria uma série
de danos contratados. De 40 fundos
pesquisados, ao menos 20 trazem algum
apontamento sério dos auditores — ou porque
não havia documentos para concluir o parecer
ou com ressalvas ao que foi apresentado. Boa
parte desses fundos também já foram fechados
para resgates.

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Saber mais

Entre os casos ainda não esmiuçados pelas


autoridades, é possível encontrar, por exemplo,
a comunicação de perdas relacionadas à
construtora Stiebler, num fundo com mais de 20
cotistas previdenciários. Os gestores confirmam
tratar-se de um ativo “sem lastro”. Outros três
fundos com recursos dos institutos investiram
em debêntures da M.Invest. A empresa tem
como sede o endereço do empresário Lourival
Rodrigues, do M.Group, envolvido em negócios
imobiliários suspeitos na região Sul. O
depoimento de um ivestigado nas fraudes dos
fundos de estatais sugeriu que a empresa
pagava “rebates” às pessoas responsáveis para
direcionar os recursos dos servidores. Nas
análises de risco das debêntures também ficam
evidentes uma série de problemas, como
investimentos previstos e não realizados, além
de falhas nas garantias.

Faltaram recursos: o projeto de revitalização de


um prédio dos Diários Associados, no Rio de
Janeiro, foi interrompido por insuficiência de caixa
e causou uma baixa contábil no fundo investidor
(Crédito:Carlos Ivan / Agência O Globo)

Entre os ativos imobiliários, um caso chama


atenção. Ao justificar baixas com a debênture
CBU Juazeiro, a gestora de um dos fundos
levanta suspeita de desvios nas vendas de lotes
de um empreendimento. Um dos responsáveis
pela CBU, Juvencio Coelho Lustosa Filho, tem
participação na Riviere Casa Nova, que tinha
como sócio Renato Di Matteo, preso na Itália por
acusações apresentadas na “Encilhamento”. A
Riviere também recebeu aportes dos fundos
com recursos previdenciários. Num deles, os
auditores chamam atenção para o fato de a
companhia, fundada em 2015, ainda estar em
estágio pré-operacional no final de 2018.
Procurados, Lustosa, Rodrigues, a Stiebler e a
defesa de Di Matteo não foram encontrados.
Entre as baixas imobiliárias já contabilizadas, há
ainda o caso de um projeto de revitalização do
prédio dos Diários Associados na região
portuária do Rio de Janeiro, cuja obra nunca foi
concluída. Os institutos também temem perdas
com aplicações dos fundos na churrascaria
Porcão, que teve a falência decretada em 2017.

REGULAÇÃO Colocar um freio nas investidas


suspeitas é uma tarefa complexa diante do
universo de recursos e dos fundos disponíveis
no mercado. Atualizações nas normas da
Secretaria da Previdência, do Ministério da
Economia, tentam fechar o cerco. Instruções
passaram a limitar o percentual de ativos nos
fundos de acordo com as classificações, como
um máximo para os de renda fixa com crédito
privado, por exemplo. Mais recentemente
também obrigaram que os administradores
sejam instituições autorizadas pelo Banco
Central, com comitês de risco e auditoria. Com
base nesses critérios, a Secretaria passou a
divulgar uma lista dos fundos de investimento
que não se enquadram nos critérios
estabelecidos e que receberam recursos dos
institutos públicos. Cerca de 140 fundos foram
classificados como vedados.

Também há um esforço para melhorar a


sustentabilidade. Uma norma do fim do ano
passado tornará obrigatória a retirada dos
investimentos desenquadrados do cálculo
futuro de disponibilidades para o pagamento
das aposentadorias (cálculo atuarial). Isso
forçará os gestores que não reconheceram a
baixa dos investimentos problemáticos nas
carteiras a agirem. “Sabendo que tem papéis de
empresas envolvidas em operações policiais, os
regimes próprios já deveriam fazer o
reconhecimento contábil”, afirma Allex Albert
Rodrigues, subsecretário de Regimes Próprios
de Previdência Social. “Se tem ativo
desenquadrado, não poderia identificar como
garantidor do plano no resultado atuarial. É uma
questão de conservadorismo contábil.” Por
todos os problemas pelos quais passam os
institutos públicos de previdência, um pouco de
conservadorismo viria mesmo a calhar.

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