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1 Funções Reais de Várias

Variáveis
1 Funções Reais de Várias
Variáveis

Neste capítulo, apresentaremos as funções reais de várias


variáveis e faremos alguns esboços de gráficos com o au-
xílio das curvas de nível. Em seguida, apresentaremos a
noção de limite para tais funções, um conceito fundamen-
tal do cálculo do qual decorrem outros, como a noção de
continuidade e de derivadas parciais.

1.1 Funções de várias variáveis


Nos cursos de cálculo 1 e 2, estudamos funções reais de uma va-
riável real, isto é, funções da forma y = f ( x) com .
No entanto, em situações reais, freqüentemente, temos que li-
dar com funções com mais de uma variável. Como um primeiro
exemplo de tais funções citamos o volume de um cilindro reto,
que é dado por V = r 2 h , onde r é o raio e h é a altura. O volume
V, neste caso, é uma função de duas variáveis, isto é,

V = V ( r , h)

e está definida por

V (r , h) = r 2 h .

Outro exemplo a ser considerado é o de um circuito elétrico como


o da figura 1.1,

R1 R2 R3

E R4 R5

Figura 1.1

15
onde E representa a tensão da fonte e Ri , i = 1, 2, ,5 , são os resis-
tores. Podemos dizer que a corrente desse circuito, dada por

E
I= ,
R1 + R2 + R3 + R4 + R5

é uma função de cinco variáveis independentes, isto é,

I = I ( R1 , R2 , R3 , R4 , R5 ) .

No primeiro exemplo, lidamos com pares ordenados de números


reais, isto é, pares ordenados (r , h) do plano  2 =  ×  , confor-
me a figura 1.2.

(r,h)
h

Figura 1.2

No caso de lidarmos com ternas ordenadas do espaço tridimen-


sional  3 , por exemplo ( x, y, z ) , a representação gráfica é feita
como na figura 1.3,

z0
P

y0 y
x0

x
Figura 1.3

para um ponto P = P ( x0 , y0 , z0 ) . Para funções com mais de três


variáveis (como no segundo exemplo, onde consideramos o espa-
ço  5 ), não é possível obter-se uma visualização gráfica.

16
1.2 Definições básicas
Assim como denotamos um ponto na reta real  por um nú-
mero real x, um ponto no plano  2 por um par de números
reais ( x, y ) e um ponto no espaço  3 por uma terna ordenada
( x, y, z ) , representamos um ponto no espaço n-dimensional  n
por uma n-upla de números reais, a qual é comumente denota-
da por P = ( x1 , x2 , , xn ) . Em particular, se n = 1 , P = x ; se n = 2 ,
P = ( x, y ) ; se n = 5 , P = ( x1 , x2 , x3 , x4 , x5 ) , e assim por diante.

Definição 1. O conjunto de todas as n-uplas de números reais é


chamado de espaço numérico n-dimensional e é denotado por  n.
Cada n-upla ( x1 , x2 , , xn ) é chamada de um ponto no espaço  n.

Definição 2. Seja A um conjunto do espaço n-dimensional  n , isto


é, os elementos de A são n-uplas ordenadas ( x1 , x2 , , xn ) de nú-
meros reais. Se a cada ponto P do conjunto A associarmos um
único elemento z ∈  , teremos uma função f : A ⊆  n →  . Essa
função é chamada função real de n variáveis reais. Denotamos

z = f ( P ) ou z = f ( x1 , x2 , , xn ) .

O conjunto de todos os valores possíveis de P (no caso, o conjunto


A) é chamado de domínio da função. O conjunto de todos os valo-
res possíveis para z é chamado de imagem da função.

Salientamos que, para que tenhamos uma função, cada ponto P


do conjunto A deve ser associado a apenas um número real z. Ou
seja, se f ( P0 ) = z1 e f ( P0 ) = z2 , e f é uma função, então obrigato-
riamente z1 = z2 .

Q uando uma função


dada através de alguma expressão em
termos de
é

e nada é dito sobre seu


domínio, entende–se que o domínio é o maior
conjunto de no qual a expressão dada faz
sentido como um número real.

17
Exemplo 1.1. Seja A o conjunto de pontos do  2 , representado na
figura 1.4.
y

3 x

Figura 1.4

Solução. A cada ponto ( x, y ) pertencente a A ⊂  2 podemos


fazer corresponder um número z ∈  , dado por

z = 9 − x2 − y 2 .

Neste caso, estamos diante de uma função de duas variáveis reais


denotada por

f : A ⊂ 2 → 
( x, y )  z = f ( x, y ) = 9 − x 2 − y 2 .

Esta função pode representar, por exemplo, a temperatura em


uma chapa circular de raio 3. O conjunto A ⊂  2 , isto é, o con-
junto de pontos ( x, y ) ∈  2 tais que 9 − x 2 − y 2 ≥ 0 ou x 2 + y 2 ≤ 9 é
chamado o domínio dessa função, e é denotado por

D( z ) = D( f ) = {( x, y ) ∈  2 ; x 2 + y 2 ≤ 9} .

A imagem dessa função é o conjunto dos números z ∈  , tais que


0 ≤ z ≤ 3 , e é denotada por

Im( z ) = Im( f ) = {z ∈ ;0 ≤ z ≤ 3} ou Im( z ) = [0,3] .

Exemplo 1.2. Fazer uma representação gráfica do domínio da


função f ( x, y ) = ln( x − y ) .

Solução. A função f ( x, y ) = ln( x − y ) é uma função de duas vari-


áveis. Portanto, o seu domínio é um subconjunto do  2 .

18
Sabemos que ln( x − y ) é um número real quando x − y > 0 ou
x> y.

Assim, o domínio da função f é D( f ) = {( x, y ) ∈  2 ; x > y} .

A figura 1.5 mostra a região do  2 que representa graficamente


esse domínio.
y

Figura 1.5

Exemplo 1.3. Fazer uma representação gráfica do domínio da


função g ( x, y, z ) = 25 − x 2 − y 2 − z 2 .

Solução. A função g é uma função de três variáveis independen-


tes, logo seu domínio é um subconjunto do  3 .

Para que 25 − x 2 − y 2 − z 2 seja um número real, devemos ter que


25 − x 2 − y 2 − z 2 ≥ 0 ou x 2 + y 2 + z 2 ≤ 25 .

Assim, o domínio da função g é dado por

D( g ) = {( x, y, z ) ∈  3 ; x 2 + y 2 + z 2 ≤ 25}

e é representado graficamente pela região esférica do  3 de raio


r = 5, mostrada na figura 1.6.
z

5 y

Figura 1.6

19
Exercícios
1) Fazer uma representação gráfica do domínio da função
xy
z= .
x2 − y 2

2) Dada a equação x + y 2 + z 2 = a 2 , a ∈ *+ , que representa uma


2

esfera de raio a (ver figura 1.7), centrada na origem, definir fun-


ções de duas variáveis que representem os hemisférios e determi-
nar seus respectivos domínios.

a y

x
Figura 1.7

3) Encontrar uma função de várias variáveis que nos dê:


a) A quantidade de rodapé, em metros, necessária para se co-
locar em uma sala de largura a e comprimento b.

b) O volume de um paralelepípedo de dimensões x, y e z.

c) A distância entre dois pontos P( x, y, z ) e Q(u , v, w) .

4) Determinar o domínio e o conjunto imagem das seguintes


funções:

a) z = 3 − x − y .

b) z = x 2 + y 2 − 9 .

c) f ( x, y ) = 4 + x 2 + y 2 .

20
1.3 Curvas de nível e esboços de gráficos
Da mesma forma que no estudo de funções de uma variável, a
noção de gráfico desempenha um papel importante no estudo
das funções de várias variáveis.

Definição 3. Se f for uma função de n variáveis, f : A ⊆  n → ,


então o gráfico de f , denotado por Graf ( f ) , é o conjunto dos
pontos definidos por

Graf ( f ) = {( x1 , x2 , , xn , z ) ∈  n +1 =  n x ; z = f ( x1 , x2 , , xn ) com (
Graf ( f ) = {( x1 , x2 , , xn , z ) ∈  n +1 =  n x ; z = f ( x1 , x2 , , xn ) com (x1 , x2 , , xn ) ∈ A}.

Usaremos principalmente o caso onde a função tem duas variá-


veis independentes. O gráfico para essas funções, em geral, repre-
senta uma superfície no espaço tridimensional.

Exemplo 1.4. A equação x + 3 y + 3 z = 3 é a equação de um plano


inclinado que corta os eixos coordenados em x = 3 , y = 1 e z = 1 .
Resolvendo essa equação para z em função de ( x, y ) , obtemos a
1
função z = (3 − x − 3 y ) cujo domínio é todo o plano xy e cuja ima-
3
gem é todo o eixo z. A figura 1.8 representa a parte do plano que
está no primeiro octante.
z

1
y

3
x
Figura 1.8

Neste caso,
3 − x − 3y
Graf ( f ) = {( x, y, z ) ∈  3 ; z = , ( x, y ) ∈  2 } = {( x, y, z ) ∈  3 ; x + 3
3 − x − 3y 3
3
Graf ( f ) = {( x, y, z ) ∈  ; z = , ( x, y ) ∈  } = {( x, y, z ) ∈  ; x + 3 y + 3 z = 3}
2 3

21
Assim, o gráfico de f é o plano acima representado. Resumida-
mente, dizemos que o gráfico da função é descrito pela equação
x + 3 y + 3z = 3 .

Exemplo 1.5. Fazer um esboço do gráfico da função

f ( x, y ) = x 2 + y 2 .

Solução. O gráfico de f é uma superfície cuja equação é


z = x 2 + y 2. Para se ter noção de como é essa superfície, preci-
samos identificar as intersecções dessa superfície com os planos
coordenados xy, xz e yz.

O traço dessa superfície sobre o plano xy é encontrado utilizan-


do-se a equação z = 0 , juntamente com a equação da superfí-
cie. Obtemos x 2 + y 2 = 0 , equação que é satisfeita na origem
( x, y ) = (0, 0) .

Encontramos os traços sobre os planos xz e yz fazendo y = 0 e


x = 0 , respectivamente. Esses traços são, respectivamente, as pa-
rábolas z = x 2 e z = y 2.

A intersecção da superfície com um plano z = k , paralelo ao plano


xy, com k > 0, é uma circunferência com centro no eixo z e raio
k.

Com essas informações obtemos a seguinte superfície, que é cha-


mada de parabolóide de revolução:

x
Figura 1.9

Salientamos o fato de que, dada uma superfície S no espaço, nem


sempre ela representa uma função z = f ( x, y ) . Uma superfície S
só representará o gráfico de uma função z = f ( x, y ) se qualquer

22
reta paralela ao eixo z interceptar S no máximo em um ponto. Os
exemplos 3.1 e 3.2 mostram superfícies do  3 que representam
funções, enquanto que uma “casca” esférica no  3 não representa
uma função.

O utro método similar de representar geo-


metricamente uma função de duas va-
riáveis é à técnica utilizada pelos cartógrafos
para a elaboração de mapas de relevo, que são
representações de paisagens tridimensionais
em mapas topológicos bidimensionais. Essa
técnica consiste em determinar os conjuntos
de pontos do domínio da função para os quais
o valor da função permanece constante. Esses
conjuntos de pontos são chamados curvas de
nível da função.

Definição 4. Seja k um número real. Uma curva de nível k de uma


função z = f ( x, y ) é o conjunto de todos os pontos ( x, y ) ∈ D( f )
tais que f ( x, y ) = k . Denotamos por

Ck = {( x, y ) ∈ D( f ); f ( x, y ) = k} ,

e então Ck representa a curva de nível k .

Na prática, intersectamos a superfície z = f ( x, y ) com um plano


z = k , paralelo ao plano xy, e projetamos a curva obtida sobre o
plano xy, isto é, o plano z = 0 .

Cada ponto da curva de nível corresponde a um ponto na super-


fície que está k unidades acima, se k for positivo, ou k unidades
abaixo, se k for negativo.

Considerando diferentes valores para a constante k, obtemos um


conjunto de curvas de nível chamado mapa de contorno. O con-
junto de todos os valores possíveis de k é a imagem da função f.

Em geral, as curvas de nível são mostradas para valores de z em


intervalos constantes. Quando as curvas de nível estão próximas, a

23
superfície é íngreme, e quando estão afastadas, a elevação da super-
fície é obtida considerando-se a distância entre as curvas de nível.

Exemplo 1.6. Para f ( x, y ) = x 2 + y 2 , as curvas de nível são cir-


cunferências com centro na origem. As curvas de nível para
z = 1, 2,3 estão representadas na figura 1.10.

As curvas de nível estão definidas para k > 0 e são dadas por


Ck = {( x, y ); x 2 + y 2 = k 2 } .

y z=1
+3 y
z=1
+2 +2
z=2
+1 +1
z=3
-3 -2 -1 +1 +2 +3 -2 -1 +1 +2
x x
0
-1 z=2 z=4
-1

-2
-2 z=5

-3 z=3

Figura 1.10 Figura 1.11

Exemplo 1.7. Para a função f ( x, y ) = x 2 + y 2 , as curvas de nível


são circunferências com centro na origem. As curvas de nível
para z = 1, 2,3, 4,5 estão representadas na figura 1.11.

Observando os exemplos 1.6 e 1.7 vemos que as curvas de nível de


ambas as funções são circunferências com centro na origem. Isso
significa que somente com as curvas de nível podemos ter dificul-
dades em esboçar um gráfico corretamente. Um recurso para dri-
blar essa dificuldade é determinar a intersecção do gráfico com os
planos coordenados xz e yz.

A intersecção do gráfico de z = x 2 + y 2 com os planos xz e yz são


as semi-retas z = ± x e z = ± y , respectivamente. Já a intersecção

24
do gráfico de z = x 2 + y 2 com os planos xz e yz são as parábolas
z = x 2 e z = y 2 , respectivamente. Com essas informações pode-
mos ver que o gráfico de z = x 2 + y 2 é o parabolóide representado

na figura 1.9, e que o gráfico de z = x 2 + y 2 é o cone da figura


1.12.

A imagem de um cone aparece se observarmos, na figura 1.12,


que as curvas estão igualmente espaçadas.

z=3

+3 z=2

+2
z=1
+1 x
-3
-2 -3
-1 -2
-1
0
+1 +1
+2 -1 +2 y
+3
+3
-2

z -3
Figura 1.12

Exemplo 1.8. Considerar a função f ( x, y ) = 8 − x 2 − 2 y . Fazer um


mapa de contorno de f mostrando suas curvas de nível em 4, 2, 0
e -2, e esboçar seu gráfico.

Solução. Temos que z = 8 − x 2 − 2 y .

Vamos primeiro fazer a intersecção do gráfico da função f com os


planos xy, xz e yz.

O traço no plano xy é obtido fazendo z = 0 , e nos dá a parábola


x 2 + 2 y = 8 . Por outro lado, a intersecção do plano xz com a su-
perfície, produz a parábola x 2 + z = 8 .

Fazendo x = 0, obtemos o traço no plano yz, que é a reta 2 y + z = 8.

Obtemos também que as curvas de nível, dadas pela intersecção da


 1 
superfície com o plano z = k , são as parábolas x 2 = −2  y − 4 + k  ,
 2 
25
que têm seus vértices sobre a reta 2 y + z = 8 , no plano yz, e que
abrem-se para a esquerda.

As figuras 1.13 e 1.14 mostram, respectivamente, o mapa de con-


torno solicitado e um esboço gráfico da função f.

3 z = -2

2 z=0

z=2
1
z=4

Figura 1.13

2
4
0 y
-2

x
Figura 1.14

26
Exercícios
1) Suponha que o número de unidades produzidas de certa
mercadoria seja z e z = 6 xy , onde x é o número de máquinas uti-
lizadas na produção e y é o número de pessoas/hora disponíveis.
A função f ( x, y ) definida por f ( x, y ) = 6 xy é uma função de pro-
dução. Traçar o mapa de contorno de f mostrando as curvas de
produção constantes para z igual a 6, 12, 18 e 24.

2) Desenhar as curvas de nível, C , para as funções e para os


k
valores de k dados:

a) z = x 2 − y 2 , k = 0,1, 2,3 ;

b) z = y 2 − x 2 , k = 0,1, 2,3 ;

1
c) l = m 2 + n 2 , k = 2,3, 4,5 .
2

3) Desenhar algumas curvas de nível e esboçar o gráfico dos


seguintes parabolóides:

a) z = 2 x 2 + 2 y 2

b) z = 1 − x 2 − y 2 ;

c) z = x 2 + 2 y 2 .

27
1.4 Noções de limite e continuidade
Antes de estabelecermos uma definição de limite, precisamos co-
nhecer alguns conceitos básicos.

Definição 1.5. Dados x = ( x1 , x2 , , xn ) ∈  n e x0 = ( x10 , x20 , , xn0 ) ∈  n,


define-se a distância entre os pontos x e x0 como:

x − x0 = ( x1 − x10 ) 2 + ... + ( xn − xn0 ) 2 .

Agora, dado um número positivo r, define-se a bola aberta B ( x0 , r ) ,


de centro em x0 e raio r, como sendo o conjunto de todos os pontos
x = ( x1 , x2 , , xn ) ∈  n cuja distância até x0 é menor que r, isto é,

B( x0 , r ) = {x ∈  n ; x − x0 < r} .

Podemos também denotar B ( x0 , r ) por Br ( x0 ) .

Exemplo 1.9. Em  2 , para X 0 = ( x0 , y0 ) , a bola B ( X 0 , r ) é o con-


junto de todos os pontos interiores à circunferência com centro
em X 0 = ( x0 , y0 ) e raio r, conforme a figura 1.15.

y0 r

x0 x

Figura 1.15

Em  3 , a bola aberta de centro em X 0 = ( x0 , y0 , z0 ) e raio r é dada


por
B ( X 0 , r ) = {( x, y, z ) ∈  3 ; ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2 + ( z − z0 ) 2 < r}

e representa o conjunto dos pontos internos à esfera com centro


no ponto X 0 = ( x0 , y0 , z0 ) e raio r.

28
Seja A um conjunto de pontos do  n . Dizemos que x ∈ A é um
ponto interior de A se existir uma bola aberta com centro em x
totalmente contida em A. Se todos os pontos de A são pontos inte-
riores, dizemos que A é um conjunto aberto.

Dizemos que x ∈  n é um ponto de fronteira de A se toda bola


aberta centrada em x contiver pelo menos um ponto de A e pelo
menos um ponto que não está em A. Se todos os pontos de frontei-
ra de A pertencem a A, dizemos que A é um conjunto fechado.

Definição 1.6. Sejam A um subconjunto do  n e x = ( x1 , x2 , , xn ) ∈  n.


Dizemos que x é um ponto de acumulação de A se toda bola aber-
ta com centro em x contiver pelo menos um ponto de A diferente
de x, isto é, se para todo r > 0 tivermos ( Br ( x) {x}) ∩ A ≠ ∅ .

Observe que, se x é um ponto de acumulação de A, podemos to-


mar pontos de A tão próximos de x quanto quisermos.

Uma noção oposta à de ponto de acumulação é a de ponto isola-


do. Dizemos que x ∈ A é um ponto isolado de A se não pudermos
aproximar x por pontos de A diferentes de x, isto é, x é um ponto
isolado de A se existir r > 0 tal que Br ( x) ∩ A = {x} .

O conjunto dos pontos de acumulação de A, que às vezes


chamamos de derivado de A, é denotado por A ' . Assim,
A ' = {x ∈  n ; x é um ponto de acumulação de A} . Gostaríamos de
observar que todos os pontos interiores de um conjunto A são
também pontos de acumulação do conjunto A. Além disso, um
ponto de acumulação de A não precisa estar em A.

Exemplo 1.10. Seja a bola aberta


do  , de raio 1, centrada e com um furo na origem. Então, o
2

conjunto dos pontos de acumulação de A é a bola fechada do  2


de raio 1, centrada na origem, ou seja, A ' = B1 ((0, 0)) . Além de to-
dos os pontos interiores de A estarem em A ' , gostaríamos de ob-
servar que os pontos da circunferência C1 (0, 0) e a origem (0, 0)

também estão, apesar destes últimos não pertencerem a A. Aqui

29
Exemplo 1.11.

a) Toda bola aberta é um conjunto aberto. Também, a união de


abertos é um conjunto aberto. A interseção finita de abertos
é um conjunto aberto.
 1
b) São abertos de  : (0,1) , (−1,1) ,  −20,  , (−∞,3) , (3, +∞) ,
 2
(−∞, −3) ∪ (2,5) , etc.

 1
c) São fechados de  : [0,1], [−1,1] ,  −20,  , (−∞,3] , [−3, +∞) ,
 2
(−∞, −3] ∪ [2,5] , etc.

d) Não são nem abertos, nem fechados: [−3,5) , [−2, 0) ∪ (2,3] ,


[−2, 0) ∪ [2,3) , etc.

e) Em todos os exemplos acima os pontos das extremidades


dos intervalos são de acumulação. Os pontos interiores tam-
bém. O interior de um intervalo é o intervalo aberto.

 1 1 1 
f) O único ponto de acumulação do conjunto 1, , , ,
 2 3 4 
é o ponto x = 0 de  . Todos os pontos desse conjunto são
isolados.

 1 1 1 
g) O conjunto 0,1, , , , tem só um ponto de acumula-
 2 3 4 
ção que é x = 0 . Os demais pontos são isolados.

h) O retângulo é um conjun-
to fechado de  . Um retângulo aberto do  2 é da forma
2

 x2 y 2 
i) O conjunto R = ( x, y ) ∈  2 + < 1 é o interior da elip-
 2 4 
2 2
x y
se + = 1 e é, portanto, um conjunto aberto. Sua frontei-
2 4
ra é formada pelos pontos da elipse.

E nunciaremos agora a definição de limite de


uma função . O conceito de
limite é um dos mais importantes da matemá-
tica, e dá origem aos conceitos de derivada e
integral.

30
Definição 1.7. Sejam f : A ⊂  n →  e x0 ∈ A ' . Dizemos que o li-
mite de f ( x) , quando x se aproxima de x0 em A, é o número real
b, se, para todo  > 0 , existe  > 0 tal que f ( x) − b <  , sempre
que x ∈ A e 0 < x − x0 <  . Neste caso denotamos

lim f ( x) = b .
x → x0

Observação 1.1. Deve-se notar que  depende de  e possivel-


mente de x0 .

A figura 1.16 ilustra, no caso de uma função f : A ⊂  3 →  , a


definição de limite.

Se 0 < x − x0 <  , então f ( x) − b <  , para x ∈ A.

w
z

b+ε
δ x
0

x b = lim f (x)
f x→x 0

y f (x)

x b−ε

Figura 1.16

Exemplo 1.12. Usando a definição de limite, mostre que

lim (2 x + 3 y ) = lim (2 x + 3 y ) = 9 .
x →3 ( x , y ) → (3,1)
y →1

Solução. Devemos mostrar que, ∀ > 0 , ∃ > 0 tal que


f ( x, y ) − 9 <  , sempre que ( x, y ) − (3,1) <  , isto é,

( x − 3) 2 + ( y − 1) 2 <  .

Com o objetivo de encontrar o  desejado, trabalharemos com a


desigualdade que envolve  . Assim, usando propriedades do valor
absoluto, temos:

31
f ( x, y ) − 9 = 2 x + 3 y − 9

f ( x, y ) − 9 = 2 x − 6 + 3 y − 3

f ( x, y ) − 9 = 2( x − 3) + 3( y − 1)

f ( x, y ) − 9 ≤ 2 x − 3 + 3 y − 1

f ( x, y ) − 9 ≤ 5 ( x − 3) 2 + ( y − 1) 2

f ( x, y ) − 9 < 5  ,

uma vez que x − 3 ≤ ( x − 3) 2 + ( y − 1) 2 e y − 1 ≤ ( x − 3) 2 + ( y − 1) 2

 
Portanto, se tomarmos  = , obteremos que f ( x, y ) − 9 < 5 ⋅ = 
5 5
sempre que ( x − 3) 2 + ( y − 1) 2 <  .

Assim, de acordo com a definição de limite, demonstramos que


lim (2 x + 3 y ) = 9 .
( x , y ) → (3,1)

Exemplo 1.13. Usando a definição, mostre que

2 xy
lim = 0.
(x , y )→(0,0 ) x2 + y 2
Solução. Devemos mostrar que, ∀ > 0 , ∃ > 0 tal que, se

2xy
x 2 + y 2 <  , então < .
x2 + y 2

Como x ≤ x 2 + y 2 e y ≤ x 2 + y 2 , para ( x, y ) ≠ (0, 0) , temos

2 xy 2x y 2 x2 + y 2 ⋅ x2 + y 2
= ≤ = 2 x2 + y 2 .
2 2 2 2 2 2
x +y x +y x +y

 2 xy 
Assim, tomando  = , temos que ≤ 2 x2 + y 2 < 2 ⋅ =
2 2
x +y 2 2

sempre que x2 + y 2 <  .

2 xy
Logo, lim = 0.
(x , y )→(0,0 ) x2 + y 2

32
Observamos que, nesse exemplo, o ponto (0, 0) não pertence ao
domínio da função. Porém, (0, 0) é um ponto de acumulação do
domínio da função, conforme exigido na definição de limite.

D aqui pra frente, sempre que nos referir-


mos ao limite , fica explícito que
é um ponto de acumulação do domínio de f.

Para que o limite de f ( x) exista, f ( x) deve-se aproximar do mes-


mo valor b, seja qual for a forma pela qual nos aproximarmos de
x0 através de pontos de A. Temos a seguinte proposição:

Proposição 1. (Existência do Limite) Sejam A1 e A2 dois subcon-


juntos distintos de A, ambos tendo x0 como ponto de acumulação.
Se f ( x) tem limites diferentes quando x tende a x0 através de
pontos de A1 e de A2 , então lim f ( x) não existe.
x → x0

Demonstração. Essa demonstração será feita por contradição.

Suponhamos que exista um número real b tal que lim f ( x) = b .


x → x0
Então ∀ > 0 , ∃ > 0 tal que se x ∈ A e x − x0 <  , então
f ( x) − b <  .

Resulta daí que o limite de f ( x) é igual ao valor b quando x ten-


de a x0 através de pontos de A1 e através de pontos de A2 . Isso
contraria a hipótese que f ( x) possui limites diferentes quando x
tende a x0 através de pontos de A1 e de A2 .

Portanto, concluímos que lim f ( x) não existe se f ( x) possui li-


x → x0

mites diferentes quando x tende a x0 através de pontos distintos


do domínio A.

2 xy
Exemplo 1.14. Mostre que lim não existe.
( x , y ) → (0,0) x + y 2
2

Solução. Vamos nos aproximar do ponto (0, 0) ∈  2 através de


pontos do eixo x e através de pontos da reta y = x .

Nos aproximando pelo eixo x, temos

2 xy 2x ⋅ 0 0
lim 2 2
= lim 2 2
= lim 2 = lim 0 = 0 ,
x →0
y →0
x +y x →0 x + 0 x →0 x x →0

33
e nos aproximando pelos pontos da reta y = x , temos

2 xy 2x ⋅ x 2x2
lim = lim = lim = lim1 = 1 .
x →0
y →0
x 2 + y 2 x →0 x 2 + x 2 x →0 2 x 2 x →0

2 xy
Logo, lim não existe.
(x , y )→(0,0 ) x + y 2
2

x2 ⋅ y
Exemplo 1.15. Seja f ( x, y ) = 4 uma função definida em to-
x + y2
dos os pontos do  2 , exceto em (0, 0) . Mostre que lim f ( x, y )
( x , y ) → (0,0)
não existe.

Solução. Vamos nos aproximar do ponto (0, 0) ∈  2 através de


pontos do eixo x e através de pontos da parábola y = x 2 .

Nos aproximando pelo eixo x, temos

x2 y 0
lim 4 = lim 4 = 0 ,
x →0 x + y 2 x →0 x
y →0

e nos aproximando pelos pontos da parábola, temos

x2 y x2 ⋅ x2 x4 x4 1
lim 4 2
= lim 4 2
= lim 4 4
= lim 4
= .
x →0
y →0
x +y x → 0 x + ( x ²) x →0 x + x x →0 2 x 2

x2 ⋅ y
Logo, lim f ( x, y ) não existe, para f ( x, y ) = .
(x , y )→(0,0 ) x4 + y 2

Para que possamos operar com limites, é necessário conhecer al-


gumas propriedades. Nesse sentido, temos o seguinte resultado:

Proposição 1.2. (Propriedades do Limite) Sejam f , g : A ⊂  n → 


e x0 ∈ A ' . Se lim f ( x) = b e lim g ( x) = c , então:
x → x0 x → x0

a) lim[ f ( x) + g ( x)] = b + c ;
x → x0

b) lim  ⋅ f ( x) =  ⋅ b ;
x → x0

c) lim f ( x) ⋅ g ( x) = b ⋅ c ;
x → x0

f ( x) b
d) lim = , desde que c ≠ 0 ;
x → x0 g ( x) c

34
e) lim[ f ( x)]n = b n , para qualquer inteiro positivo n;
x → x0

f) lim n f ( x) = n b , se b ≥ 0 e n inteiro positivo, ou b qualquer se


x → x0

n inteiro positivo ímpar.

Demonstração. Demonstraremos o item (a) desta proposição com


o sinal positivo.

Sejam lim f ( x) = b e lim g ( x) = c , e  > 0 arbitrário. Va-


x → x0 x → x0

mos mostrar que existe  > 0 tal que f ( x) + g ( x) − (b + c) < ,

sempre que x ∈ A e x − x0 <  .



Como lim f ( x) = b , ∃1 > 0 tal que f ( x) − b < , sempre que
x → x0 2
x ∈ A e x − x0 < 1 . Também, como lim g ( x) = c , ∃2 > 0 tal
x → x0

que g ( x) − c < , sempre que x ∈ A e x − x0 < 2 .
2
 
Seja  = min{1 , 2 } . Então, f ( x) − b < e g ( x) − c < , se
2 2
x ∈ A e x − x0 <  . Logo,

 
( f ( x) + g ( x)) − (b + c) ≤ f ( x) − b + g ( x) − c ≤ + =  ,
2 2
sempre que x ∈ A e x − x0 <  .

Dessa forma, lim [ f ( x) + g ( x)] = b + c .


x → x0

A aplicação desta proposição nos permite


transformar o limite de uma função de
várias variáveis em uma expressão envolvendo
limites de uma variável.

Exemplo 1.16. Calcule lim f ( x, y ) , para f ( x, y ) = x 2 y 3 − 2 xy + 4.


( x , y ) → (2, −1)

Solução. Podemos escrever

lim ( x 2 y 3 − 2 xy + 4) = lim x 2 ⋅ lim y 3 − 2 lim x ⋅ lim y + 4 = 4 ⋅ (−1) − 2 ⋅ 2 ⋅ (


x→2 x→2 y →−1 x→2 y →−1
y →−1

lim ( x 2 y 3 − 2 xy + 4) = lim x 2 ⋅ lim y 3 − 2 lim x ⋅ lim y + 4 = 4 ⋅ (−1) − 2 ⋅ 2 ⋅ (−1) + 4 = 4 .


x→2 x→2 y →−1 x→2 y →−1
y →−1

35
Falaremos agora do limite de funções compostas. Sejam
f : A ⊆  n →  e g : B ⊂  →  com f ( A) ⊂ B , duas funções.
Para que possamos calcular lim( g  f )( x) , é necessário supor
x → x0

uma condição a mais sobre a função g.

Proposição 1.3. Suponha que g seja uma função de uma va-


riável contínua num ponto a, e suponha que f seja uma fun-
ção tal que lim f ( x) = a , então lim( g  f )( x) = g (a ) , ou ainda,
x → x0 x → x0

lim g ( f ( x)) = g (lim f ( x)) , onde ( g  f )( x) é a função composta de


x → x0 x → x0

g e f, isto é, ( g  f )( x) = g ( f ( x)) .

Demonstração. Seja  > 0 . Como g é contínua em A, existe


1 = 1 ( ) , 1 > 0 , tal que

u ∈ D( g ) e u − a < 1 ⇒ g (u ) − g (a ) <  . (1)

Como lim f ( x) = a e 1 > 0 , ∃2 > 0 tal que x ∈ D( f ) e


x → x0

x − x0 < 2 implica que f ( x) − a < 1 .

Assim, se x ∈ D( f ) e x − x0 < 2 , temos que u = f ( x) satisfaz a


condição dada em (1) e, conseqüentemente, g ( f ( x)) − g (a ) <  .
Portanto, lim( g  f )( x) = g (a ) .
x → x0

Exemplo 1.17. Calcular lim sen( x + y ) .


x →0

y→
2

Solução. Usando a proposição anterior, podemos escrever


 
  
lim sen( x + y ) = sen  lim( x + y )  = sen   = 1 .
x →0

x →0
 y→   2
y→
2  2 

Passaremos agora a trabalhar o conceito de continuidade de fun-


ções de várias variáveis.

Definição 1.8. Sejam f : A ⊂  n →  e x0 ∈ A ∩ A ' . Dizemos que f


é contínua em x0 se lim f ( x) = f ( x0 ) . Mais precisamente, f é con-
x → x0

36
tínua em x0 , se para todo  > 0 , existe  = ( x0 , ) tal que, se x ∈ A
e x − x0 <  então f ( x) − f ( x0 ) <  .

N otamos que o número , da definição


de continuidade, depende de e possi-
velmente de . Observamos que, pela defini-
ção de continuidade, uma função f será con-
tínua se o limite de existir quando x se
aproximar de algum ponto de acumulação
e se esse limite for igual a . Isto significa
que o limite de , em todas as direções e
através de qualquer curva, é sempre o mesmo,
e igual a .

Ainda observamos que se x0 ∈ A \ A' , isto é, x0 é um ponto isolado


de A, então também se diz que f é contínua em x0 .

Exemplo 1.18. Verificar se é contínua em (0, 0) a função


 2 xy
 , ( x, y ) ≠ (0, 0)
f ( x, y ) =  x 2 + y 2 .
0, ( x, y ) = (0, 0)

2 xy
Solução. No exemplo 1.12, mostramos que lim = 0.
(x , y )→(0,0 ) x2 + y 2
Logo, a função dada é contínua em (0, 0) , pois

2 xy
lim = f (0, 0) .
(x , y )→(0,0 ) x2 + y 2

Das propriedades sobre limites decorrem algumas propriedades


das funções contínuas, que são dadas no seguinte resultado:

Proposição 1.4. Sejam f , g : A ⊂  n →  duas funções contínuas


em x0 ∈ A , e seja  ∈  . Então:

a) f ± g é contínua em x0 ;

b) f ⋅ g é contínua em x0 ;

37
c) f é contínua em x0 e

f
d) é contínua em x0 , desde que g ( x0 ) ≠ 0 .
g
Esta proposição permite-nos concluir que uma função polino-
mial de n variáveis é contínua em  n , isto é, toda função que
possa ser expressa como soma de termos da forma cx1m1 x2m2  xnmn ,
onde c ∈  e mi , i = 1, 2, , n , é um inteiro não negativo.

Proposição 1.5. Sejam f : A ⊂  n →  e g : B ⊂  →  tais que


f ( A) ⊂ B . Seja x0 ∈ A , e suponhamos que f seja contínua em x0 e
que g seja contínua em f ( x0 ) . Então, a função composta ( g  f ) é
contínua em x0 .

Demonstração. Como g é contínua em f ( x0 ) , dado  > 0 existe


1 = 1 ( ) , 1 > 0 , tal que

y ∈ B e y − f ( x0 ) < 1 ⇒ g ( y ) − g ( f ( x0 )) <  . (2)

Como f é contínua em x0 , para esse 1 existe  > 0 tal que

x ∈ A e x − x0 <  ⇒ f ( x) − f ( x0 ) < 1 . (3)

Usando (2) e (3), podemos escrever

x ∈ A e x − x0 <  ⇒ g ( f ( x)) − g ( f ( x0 )) <  .

Assim ( g  f ) é contínua em x0 .

Exercícios
1) Calcular o limite que se pede:
ex − e y
a) lim (3 x 2 + xy − 2 y 2 ) . b) lim .
( x , y ) → (2,3) ( x , y ) → (0,0) cos x + sen x

3x − 2 y
c) lim .
( x , y ) → (2, −1) x + 4 y

2) Encontrar um  > 0 correspondente a qualquer  > 0 , de for-


ma que a definição de limite seja válida:

a) lim (3 x − 4 y ) = 1 . b) lim ( x 2 + y 2 ) = 2 .
( x , y ) → (3,2) ( x , y ) → (1,1)

c) lim (4 x 2 y − 3 xyz 2 + 7 y 2 z 2 ) .
( x , y , z ) → ( −2,1,4)

38
3) Mostrar que os seguintes limites não existem:
x2 + y
a) lim .
( x , y ) → (0,0) x 2 + y 2

x3 + yz 2
b) lim .
( x , y , z ) → (0,0,0) x 4 + y 2 + z 4

4) Determinar todos os pontos onde a função é contínua:


x2
a) f ( x, y ) = .
y2 −1

 y
b) f ( x, y ) = sen   .
x
c) f ( x, y ) = x 2 y − x 3 y 3 − x 4 y 4 .

x−2
d) f ( x, y ) = .
( xy − 2 x − y + 2)( y + 1)

5) Verificar se as funções dadas são contínuas nos pontos indi-


cados:
 1
 x sen   , y ≠ 0
a) f ( x, y ) =   y , P (0, 0) .
0, y = 0

3 x − 2 y, ( x, y ) ≠ (0, 0)
b) f ( x, y ) =  , P (0, 0) .
1, ( x, y ) = (0, 0)

x 3 − 3 xy 2 + 2
c) f ( x, y ) = , P (1, 2) .
2 xy 2 − 1

6) Calcular o valor de a, para que a função dada seja contínua


em (0, 0) . Qual o domínio de f ?

 x2 y 2
, y≠0
a) f ( x, y ) =  y 2 + 1 − 1 .

a − 4, y = 0

 sen(x 2 + y 2 )
 , ( x, y ) ≠ (0, 0)
b) f ( x, y ) =  x 2 + y 2 .
a , ( x, y ) = (0, 0)

39
1.5 Derivadas parciais
Apresentamos aqui o conceito de derivada parcial para uma fun-
ção com mais de uma variável. A idéia é considerar apenas uma
variável por vez, deixando as outras fixas, ou seja, tratamos uma
função de n variáveis como uma função de uma só variável, n ve-
zes, considerando a cada vez uma variável diferente. Desse pro-
cedimento resulta a definição de uma derivada para cada uma
das variáveis independentes. Essas derivadas são chamadas de
derivadas parciais.

Definição 1.9. Seja


f : A ⊆ n → 
x  z = f ( x)
uma função de n variáveis, e seja x = ( x1 , x2 , , xn ) ∈ A . Definimos
a derivada parcial de f no ponto x em relação a xi por

∂f  f ( x1 , , xi + h, , xn ) − f ( x1 , , xi , , xn ) 
( x) = lim  
∂xi h → 0
 h 

quando esse limite existir.

∂f ∂f
Exemplo 1.19. Aplicar a definição para achar e para
2 ∂x ∂y
f ( x, y ) = 3 x − 2 xy .

Solução.

∂f f ( x + h, y ) − f ( x , y ) 3( x + h) 2 − 2( x + h) y − 3 x 2 + 2 xy
= lim = lim =
∂x h→0 h h →0 h
3 x 2 + 6 xh + 3h 2 − 2 xy − 2hy − 3 x 2 + 2 xy 6 xh + 3h 2 − 2hy
= lim = lim =
h →0 h h →0 h

= lim 6 x + 3h − 2 y = 6 x − 2 y
h →0

∂f f ( x, y + h ) − f ( x, y ) 3 x 2 − 2 x( y + h) − 3 x 2 + 2 xy
= lim = lim =
∂y h→0 h h →0 h

3 x 2 − 2 xy − 2 xh − 3 x 2 + 2 xy
= lim = lim − 2 x = −2 x .
h →0 h h →0

∂f ∂f
Assim, obtemos que = 6x − 2 y e = −2 x .
∂x ∂y
40
Definição 1.10. Seja
f : A ⊂ n → 
x  z = f ( x)
uma função de n variáveis e seja B ⊆ A o conjunto formado por
∂f
todos os pontos x tais que ( x) existe. Definimos a função deri-
∂xi
vada parcial de 1ª ordem de f em relação a xi como a função que
∂f
a cada x ∈ B associa o número ( x) dado por
∂xi

∂f  f ( x1 , , xi + h, , xn ) − f ( x1 , , xi , , xn ) 
( x) = lim  .
∂xi h →0
 h 

Observamos que outras notações costumam ser usadas para


as derivadas parciais de 1ª ordem. É comum representar a de-
∂f ∂f
rivada ( x) também por , Dxi f ( x) , Di f ( x) , f xi ( x),
∂xi ∂xi
∂z
∂ xi f , Dxi f e se z = f ( x).
∂xi

Observação 1.2. Na prática, podemos obter as derivadas parciais


usando as regras de derivação das funções de uma variável. Des-
∂f
se modo, para calcularmos consideramos as outras variáveis
∂xi
como se fossem constantes. Os exemplos que se seguem ilustram
esse procedimento.
 5 xy
 , se ( x, y ) ≠ (0, 0)
Exemplo 1.20. Seja f ( x, y ) =  2 x + 3 y ,
∂f ∂f 
calcular e . 0, se ( x, y ) = (0, 0)
∂x ∂y
Solução. Nos pontos ( x, y ) ≠ (0, 0) , podemos aplicar as regras de
derivação. Assim, temos

∂f 5 y ⋅ (2 x + 3 y ) − 5 xy ⋅ (2) 10 xy + 15 y 2 − 10 xy 15 y 2
= = =
∂x (2 x + 3 y ) 2 (2 x + 3 y ) 2 (2 x + 3 y ) 2

∂f 5 x ⋅ (2 x + 3 y ) − 5 xy ⋅ (3) 10 x 2
= = .
∂y (2 x + 3 y ) 2 (2 x + 3 y ) 2

Para calcularmos as derivadas de f na origem, usamos a definição


de derivada parcial, como no exemplo 1.18.

41
 5h ⋅ 0 
∂f  f (0 + h, 0) − f (0, 0)   2h − 0 
(0, 0) = lim   = lim  =0
∂x h →0
 h  h →0  h 
 

 5⋅0⋅ h 
 −0
∂f  f (0, 0 + h ) − f (0, 0)  3h
(0, 0) = lim   = lim   = 0.
∂y h → 0
 h  h → 0
 h 
 

Assim, obtivemos as derivadas parciais da função f com relação a x


e com relação a y em todos os pontos ( x, y ) do domínio.

Exemplo 1.21. Achar f x ( x, y ) e f y ( x, y ) para

f ( x, y ) = 3 x 2 − 4 x 2 y + 3 xy 2 + sen( xy 2 ) .

Solução. Tratando f como uma função de x e mantendo y constan-


te, obtemos f x ( x, y ) = 6 x − 8 xy + 3 y 2 + y 2 cos( xy 2 ) .

Considerando f como uma função de y e mantendo x fixo, temos


f y ( x, y ) = −4 x 2 + 6 xy + 2 xy cos( xy 2 ) .

Gostaríamos agora de obter uma visualização do comportamento


das derivadas parciais, isto é, gostaríamos de propor uma inter-
pretação geométrica das derivadas parciais. Para isso, nos atere-
mos ao caso n = 2 .

Suponhamos que
f : A ⊂ 2 → 
( x, y )  z = f ( x, y )

possua derivadas parciais em ( x0 , y0 ) ∈ A . O gráfico dessa função


é uma superfície cuja equação é z = f ( x, y ) .

Se y for mantido constante, digamos y = y0 , então f ( x, y0 ) é uma


função de uma variável cujo gráfico é uma curva C y0 , contida no
plano  y0 : y = y0 . Logo, a curva C y0 pode ser representada pelas
equações y = y0 e z = f ( x, y ) .

Desse modo f x ( x0 , y0 ) é a inclinação da reta tangente à curva C y0


no ponto P ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) , e é dada por ∂f ( x0 , y0 ) = tg() , onde
 pode ser visualizado na figura 1.17. ∂x

42
z

Cx 0 Cy
0

y0
y
β
x0

x α

Figura 1.17

De maneira análoga, a inclinação da reta tangente à curva Cx0


resultante da intersecção da superfície do  3 , z = f ( x, y ) com o
∂f
plano  x0 : x = x0 , é dada por tg = ( x0 , y0 ) , onde  também
∂y
pode ser visualizado na figura 1.17.

Exercícios
1) Calcular as derivadas de 1ª ordem, usando a definição:
a) f ( x, y ) = 5 xy − x 2 .

b) f ( x, y ) = x 2 + y 2 − 10 .

c) z = xy .

2) Encontrar as derivadas parciais de 1ª ordem:


a) f ( x, y ) = 2 x 2 + 3 xy 2 − 4 x .

b) g ( x, y ) = x 2 + y 2 − 2 .

c) h( x, y ) = sen(2 x + y ) .

43
 2 xy
, se ( x, y ) ≠ (0, 0)
3) Calcular
∂f
e
∂x ∂y
∂f 
para f ( x, y ) =  3 x 2 + 5 y 2 .
0, se ( x, y ) = (0, 0)

4) Calcular a derivada que se pede:


2
a) f ( x, y ) = e x y , f x ( x, y ) .

b) f ( x, y ) = x cos( y − x), f x ( x, y ) .

c) z = ( x + y )e x + 2 y , z y ( x, y ) .

5) Determinar a inclinação da reta tangente à curva de intersec-


ção da superfície z = x 2 + y 2 com o plano y = 1 , no ponto (2,1,5 ) .
Faça um esboço do gráfico.

Resumo
Vimos, neste capítulo, o importante e delicado conceito de limi-
te de uma função real de várias variáveis. Conceito este que dá
origem a um outro importante conceito, o de derivada parcial de
uma função real de várias variáveis com consequências significa-
tivas e variadas aplicações.

44
2 Diferenciabilidade de
Funções de Várias Variáveis
2 Diferenciabilidade de Funções
de Várias Variáveis

Neste capítulo estudaremos a noção de diferenciabilidade


de funções reais de várias variáveis, com a qual está re-
lacionada a existência de um plano tangente à superfície
definida por tal função. Essa noção tem conseqüências im-
portantíssimas tanto no cálculo de várias variáveis como
na diferenciação de sistemas dados implicitamente, assim
como nas aplicações ao cálculo de máximos e mínimos lo-
cais de funções de várias variáveis.

2.1 Aproximação linear


Vamos iniciar o estudo da diferenciabilidade das funções reais de
n variáveis, isto é, funções f : A ⊂  n →  . Entretanto, para uma
melhor visualização das aplicações geométricas, de início nos ate-
remos ao caso n = 2 . Para isso, precisamos entender o significado
geométrico das derivadas parciais de uma função de duas variá-
veis. Assim, suponha que

f : A ⊆ 2 → 
( x, y ) → z = f ( x, y )
possua derivadas parciais em ( x0 , y0 ) ∈ A .

Para y = y0 , f ( x, y ) é uma função de uma variável cujo gráfico é


uma curva C y0 , resultante da intersecção das superfícies do  3 ,
S : z = f ( x, y ) e o plano  y0 : y = y0 .

A inclinação ou coeficiente angular da reta tangente à curva C y0


no ponto P ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) é dado por

∂f
t g ( ) = ( x0 , y0 ),
∂x
onde α pode ser visualizado na figura 2.1

47
z

Cy0: z = f (x ,y0)

P
S : z = f (x ,y)
Cx0: z = f (x0 ,y)

y0 y
x0

x Figura 2.1

De maneira análoga, a inclinação da reta tangente à curva Cx0 ,


resultante da intersecção da superfície S : z = f ( x, y ) com o plano
 x0 : x = x0 , é
∂f
t g ( ) = ( x0 , y0 ) .
∂y
Intuitivamente, percebemos que as retas tangentes às curvas Cx0
e C y0 no ponto P ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) devem estar contidas no plano
tangente à superfície S nesse ponto P.

Assim, se o plano
 : z = h ( x, y ) (1)

tangente à superfície S no ponto P, for dado por

z = ax + by + c ,

conforme a equação geral de um plano, deveremos ter que:

a) a inclinação do plano tangente na direção do eixo x coincida


com a inclinação da reta tangente à curva C y0 , isto é,

∂f
a= ( x0 , y0 ) ; (2)
∂x
b) a inclinação do plano tangente na direção do eixo y coincida
com a inclinação da reta tangente à curva Cx0 , isto é,

48
∂f
b= ( x0 , y0 ) ; (3)
∂y

c) o ponto P ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) satisfaça, simultaneamente, a


equação do plano tangente (1) e a equação da superfície S,
uma vez que P ∈ S ∩  , ou seja,

h( x0 , y0 ) = f ( x0 , y0 ) . (4)

Agora, substituindo (2) e (3) em (1), obtemos

∂f ∂f
h ( x, y ) = ( x0 , y0 ) x + ( x0 , y0 ) y + c . (5)
∂x ∂y

Aplicando em ( x, y ) = ( x0 , y0 ) e usando (4), temos

∂f ∂f
f ( x0 , y0 ) = ( x0 , y0 ) x0 + ( x0 , y0 ) y0 + c ,
∂x ∂y
ou ainda,
∂f ∂f
c = f ( x0 , y0 ) − ( x0 , y0 ) x0 − ( x0 , y0 ) y0 (6)
∂x ∂y

Finalmente, substituindo (6) em (5), resulta que

∂f ∂f
z = h( x, y ) = f ( x0 , y0 ) + ( x0 , y0 ) ⋅ [ x − x0 ] + ( x0 , y0 ) ⋅ [ y − y0 ]. (7)
∂x ∂y

Assim, se existir um plano tangente à superfície S no ponto


P ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) , ele será dado pela equação (7).

Exemplo 2.1. Determine o plano tangente ao parabolóide elíptico


z = 2 x 2 + y 2 no ponto (1,1,3) .

Solução. Seja f ( x, y ) = 2 x 2 + y 2 . Então,

f x ( x, y ) = 4 x ⇒ f x (1,1) = 4 ,

f y ( x, y ) = 2 y ⇒ f y (1,1) = 2 .

Portanto, por (7) temos que a equação do plano tangente no ponto


(1,1,3) é dada por

z = 3 + 4( x − 1) + 2( y − 1)

z = 4x + 2 y − 3 .

49
Assim, a função linear de duas variáveis g ( x, y ) = 4 x + 2 y − 3 é uma
boa aproximação de f ( x, y ) quando ( x, y ) está próximo de (1,1) .
Por exemplo, no ponto (1,1;0,95) a aproximação linear fornece

g (1,1;0,95) = 4(1,1) + 2(0,95) − 3 = 3,33

que é bastante próximo do valor verdadeiro de f, que é

f (1,1;0,95) = 2(1,1) 2 + (0,95) 2 − 3 = 3,3225 .

Convém observar que g ( x, y ) é uma boa aproximação de f ( x, y )


apenas para ( x, y ) próximos de (1,1) . Se tomarmos um ponto lon-
ge de (1,1) , como (2,3) , teremos g (2,3) = 11 e f (2,3) = 17 , ou seja,
g não é mais uma boa aproximação de f.

2.2 Diferenciabilidade
Introduzimos, agora, o conceito de função diferenciável. Uma
função f será diferenciável em ( x0 , y0 ) quando o plano tangen-
te, dado pela equação (7), nos propiciar uma “boa aproximação”
para f ( x, y ) em uma “vizinhança” de ( x0 , y0 ) . Temos, então, a
seguinte definição.

Definição 2.1. Diremos que a função f ( x, y ) é diferenciável em


∂f ∂f
( x0 , y0 ) , quando as derivadas parciais ( x0 , y0 ) e ( x0 , y0 ) exis-
∂x ∂y
tirem e se

 ∂f ∂f 
f ( x, y ) −  f ( x0 , y0 ) + ( x0 , y0 ) ⋅ ( x − x0 ) + ( x0 , y0 ) ⋅ ( y − y0 ) 
 ∂x ∂y 
lim =0
x → x0
y→ y
( x, y ) − ( x0 , y0 )
0

onde ( x, y ) = x 2 + y 2 representa a norma euclidiana e


( x, y ) − ( x0 , y0 ) representa a distância de ( x, y ) a ( x0 , y0 ) .

Diremos que f é diferenciável num conjunto A ⊂ D( f ) , se f for


diferenciável em todos os pontos de A . Temos que o conceito de
diferenciabilidade caracteriza funções que possuem gráfico sua-
ve. Isto pode ser visto na seguinte proposição:

50
Proposição 2.1. Se f é diferenciável em ( x0 , y0 ) , então f é contí-
nua nesse ponto.

Demonstração. Mostraremos que lim f ( x, y ) = f ( x0 , y0 ) .


( x , y ) → ( x0 , y0 )

Com efeito, da definição de diferenciabilidade, seque que

 ∂f ∂f 
lim  f ( x, y ) − f ( x0 , y0 ) − ( x0 , y0 ) ⋅ ( x − x0 ) − ( x0 , y0 ) ⋅ ( y − y0 )  = 0
( x , y ) → ( x0 , y0 )
 ∂x ∂y 

e daí resulta que lim


( x , y ) → ( x0 , y0 )
( f ( x, y ) − f ( x0 , y0 )) = 0 , uma vez que

lim ( x − x0 ) = lim ( y − y0 ) = 0 .
( x , y ) → ( x0 , y0 ) ( x , y ) → ( x0 , y0 )

Exemplo 2.2. Provar que a função f ( x, y ) = x 2 + y 2 é diferenciável


em  2 , usando a definição.

Solução. A função dada possui derivadas parciais em todos os


pontos ( x0 , y0 ) ∈  2 , e elas são dadas por

∂f ∂f
( x0 , y0 ) = 2 x0 e ( x0 , y0 ) = 2 y0 .
∂x ∂y
Assim, para mostrarmos que f é diferenciável em  2 , basta veri-
ficar, para qualquer ( x0 , y0 ) ∈  2 , se o limite dado na equação (8)
é zero. Temos

x 2 + y 2 − ( x02 + y02 + 2 x0 [ x − x0 ] + 2 y0 [ y − y0 ])
lim =
x → x0
y → y0 ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2

x 2 − 2 xx0 + x02 + y 2 − 2 yy0 + y02


= lim =
x → x0
y → y0 ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2

( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2
= lim =
x → x0
y → y0 ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2

= lim ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2 = 0 .
x → x0
y → y0

Logo, f é diferenciável em  2 .

51
Exemplo 2.3. Verifique se a função f ( x, y ) = x 2 + y 2 é diferenci-
ável na origem.

Solução. Vamos verificar se a função dada tem derivadas parciais


na origem. Usando a definição de derivada parcial, vamos verificar
f ( x, 0) − f (0, 0) x2
se existe o limite lim = lim , usando os limi-
x →0 x x →0 x
tes laterais. Temos que

x2 x2
lim+ = 1 e lim− = −1 ,
x →0 x x →0 x
∂f
ou seja, o limite não existe. Concluímos então que (0, 0) não
∂x
existe, logo f não é diferenciável na origem.

Exercícios
1) Determinar a equação do plano tangente à superfície no pon-
to indicado.

a) z = y 2 − x 2 , (−4,5,9) .

b) z = 9 x 2 + y 2 + 6 x − 3 y + 5 , (1, 2,18) .

c) f ( x, y ) = sen( x + y ) , (1, −1, 0) .

2) Usando a definição de diferenciabilidade, verificar que as


funções dadas são diferenciáveis em  2 , usando a definição.

a) f ( x, y ) = x 2 − 2 y 2 .

b) f ( x, y ) = 4 xy .

3) Verificar se as funções dadas são diferenciáveis na origem:


 x6
 , ( x, y ) ≠ (0, 0)
a) f ( x, y ) =  x 2 + y 2 .
0, ( x, y ) = (0, 0)

b) f ( x, y ) = 2 x + y .

52
 2 y 4 + 3 x 2 y 2 + yx 3
 , ( x, y ) ≠ (0, 0)
c) f ( x, y ) =  ( x 2 + y 2 )2 .
0, ( x, y ) = (0, 0)

4) Identificar a região do  2
onde as funções dadas são diferen-
ciáveis:
2
a) z = e x y .

x2 y
b) z = .
x2 + y 2

2
c) z = .
( x − 2) + ( y − 2) 2
2

2 x + y − 6, se x = 2 ou y = 2
5) Dada a função f ( x, y ) =  :
0 se x ≠ 2 e y ≠ 2
∂f
a) calcular (2, 2) .
∂x
∂f
b) calcular (2, 2) .
∂y
c) f é diferenciável em (2, 2) ?

53
2.3 Condição de suficiência para
diferenciabilidade
Observamos, da definição de diferenciabilidade, que não é su-
ficiente a existência das derivadas parciais de uma função para
garantir a sua diferenciabilidade. A proposição seguinte nos dará
tal condição de suficiência.

Proposição 2.2. Seja ( x0 , y0 ) ∈ A , sendo A aberto. Se f possui de-


∂f ∂f
rivadas parciais e em A e se essas derivadas parciais são
∂x ∂y
contínuas em ( x0 , y0 ) , então f é diferenciável em ( x0 , y0 ) .

Demonstração. Mostraremos que o limite em (8) existe e é zero.


Com efeito, como A é aberto e ( x0 , y0 ) ∈ A, existe r > 0 tal que
a bola aberta B = Br (( x0 , y0 )) está contida em A. Seja ( x, y ) ∈ B ,
temos que

f ( x, y ) − f ( x0 , y0 ) = f ( x, y ) − f ( x0 , y ) + f ( x0 , y ) − f ( x0 , y0 ) . (9)

Agora, fixando y e aplicando o Teorema do Valor Médio para fun-


ções de uma variável, concluímos que existe x entre x0 e x tal
que
∂f
f ( x, y ) − f ( x0 , y ) = ( x , y ) ⋅ ( x − x0 ) . (10)
∂x
Analogamente, existe y entre y0 e y tal que

∂f
f ( x0 , y ) − f ( x0 , y0 ) = ( x0 , y ) ⋅ ( y − y0 ) . (11)
∂y
Usando (10) e (11) podemos reescrever (9) como

∂f ∂f
f ( x, y ) − f ( x0 , y0 ) = ( x , y ) ⋅ ( x − x0 ) + ( x0 , y ) ⋅ ( y − y0 ) . (12)
∂x ∂y
Reescrevendo o limite (8), utilizando (12), obtemos

∂f ∂f ∂f ∂f
( x , y ) ⋅ ( x − x0 ) + ( x0 , y ) ⋅ ( y − y0 ) − ( x0 , y0 ) ⋅ ( x − x0 ) − ( x0 , y0 ) ⋅ ( y − y0 )
∂x ∂y ∂x ∂y
lim
( x, y ) → ( x0 , y0 ) ( x, y ) − ( x0 , y0 )

ou ainda,

54
 ∂f ∂f   ∂f ∂f 
 ( x , y ) − ( x0 , y0 )  ⋅ ( x − x0 ) +  ( x0 , y ) − ( x0 , y0 )  ⋅ ( y − y0 )
 ∂x ∂x   ∂y ∂y 
lim
( x , y ) → ( x0 , y0 ) ( x, y ) − ( x0 , y0 )

Mas,

x − x0 x − x0
= ≤1
( x, y ) − ( x0 , y0 ) ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2
e

y − y0 y − y0
= ≤ 1.
( x, y ) − ( x0 , y0 ) ( x − x0 ) 2 + ( y − y0 ) 2

∂f ∂f
Agora, da continuidade de e em (x0 , y0 ) , temos que
∂x ∂y

 ∂f ∂f 
lim 
(x , y )→(x0 , y0 ) ∂x
( x , y ) − (x0 , y0 ) = 0 ,
 ∂y 

 ∂f ∂f 
lim 
(x , y )→(x0 , y0 ) ∂y
( x0 , y ) − (x0 , y0 ) = 0
 ∂y 

e, portanto, concluímos que o limite em (8) é zero.

Observação 2.1. Gostaríamos de observar que, ao contrário do


que acontece com as funções de uma variável, a simples existên-
cia das derivadas parciais de primeira ordem em um ponto não
implica na continuidade da função nesse ponto.

Exemplo 2.4. Mostrar que f ( x, y ) é diferenciável em todos os


pontos de  2 , exceto na origem, para f ( x, y ) = x 2 + y 2 .

Solução. As derivadas parciais da função f são dadas por

∂f x ∂f y
= e = ,
∂x x2 + y 2 ∂y x2 + y 2

e existem para todos os pontos ( x, y ) ∈  2 , ( x, y ) ≠ (0, 0) . Tam-


bém, são contínuas em todos os pontos de  2 , exceto na origem.
Logo, f é diferenciável em  2 − {(0, 0)} .

55
V ale a pena notar que existem funções di-
ferenciáveis com derivadas não contínuas.
Observamos também que a definição 2.1 de di-
ferenciabilidade pode ser estendida de modo
análogo para uma função f de n variáveis.

Passamos agora ao conceito de diferencial de uma função de n


variáveis. A diferencial ou derivada de uma função de n variáveis
é uma transformação linear que melhor aproxima o acréscimo
∆z da variável dependente z = f ( x). Por exemplo, no caso n = 3 ,
∆z = f ( x, y, z ) − f ( x0 , y0 , z0 ) com ( x, y, z ) e ( x0 , y0 , z0 ) ∈  3 . Temos a
seguinte definição:

Definição 2.2. Seja f ( x1 , x2 , , xn ) um função diferenciável no


ponto ( x10 , x20 , , xn0 ). A diferencial de f em ( x10 , x20 , , xn0 ) é defini-
da pela transformação linear

T : n →  ,
dada por

T ( x1 − x10 , x2 − x20 , , xn − xn0 ) =

∂f 0 0 ∂f 0 0
= ( x1 , x2 , , xn0 )  x1 − x10  +  + ( x1 , x2 , , xn0 )  xn − xn0  . (13)
∂x1 ∂xn

Para o caso n = 3 , podemos escrever

∂f ∂f ∂f
T (h, k , l ) = ( x0 , y0 , z0 )h + ( x0 , y0 , z0 )k + ( x0 , y0 , z0 )l ,
∂x ∂y ∂z

onde h = x − x0 = ∆x , k = y − y0 = ∆y e l = z − z0 = ∆z , ou ainda,

h 
 ∂f ∂f ∂f  
T (h, k , l ) =  ( x0 , y0 , z0 ) ( x0 , y0 , z0 ) ( x0 , y0 , z0 )   k  .
 ∂x ∂y ∂z  l 
 

No caso n = 3, denotaremos a diferencial T de f em ( x0 , y0 , z0 ) por


Df ( x0 , y0 , z0 ). Em nosso caso, a matriz que representa T é uma
matriz 1×3 dada por:

 ∂f ∂f ∂f 
 ∂x ( x0 , y0 , z0 ) ∂y
( x0 , y0 , z0 )
∂z
( x0 , y0 , z0 )  .
 

56
Os elementos dessa matriz são as componentes do vetor que cha-
mamos de gradiente e, em alguns contextos, ela é chamada de deri-
vada da função f no ponto ( x0 , y0 , z0 ) . Observamos que no caso de
n qualquer, a definição de diferencial se dá de maneira análoga.

Observação 2.2. Numa notação clássica, definimos a diferencial


das variáveis independentes x, y e z por dx = ∆x , dy = ∆y , dz = ∆z
e, assim, a diferencial de f em ( x, y, z ) , relativa a esses acréscimos,
é indicada por dw ou df, onde

∂f ∂f ∂f
df = ( x, y, z )dx + ( x, y, z )dy + ( x, y, z )dz . (14)
∂x ∂y ∂z
A expressão (12) é também denominada diferencial total de
f ( x, y , z ) .

2.4 Plano tangente

V imos na seção 2.1 que o plano tangente ao


gráfico de uma função f é dado pela equa-
ção (7), quando o mesmo existir. No entanto,
nem sempre o plano tangente dado por (7)
existe e, mesmo que exista, poderá não ser tan-
gente ao gráfico de f. Uma condição suficiente
para que o plano tangente exista e, de fato, tan-
gencie a superfície S é que f seja diferenciável.

Assim, temos a seguinte definição:

Definição 2.3. Seja f :  2 →  diferenciável em ( x0 , y0 ) . Chama-


mos de plano tangente ao gráfico S de f no ponto ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 ))
ao plano dado pela equação:

∂f ∂f
T : z − f ( x0 , y0 ) = ( x0 , y0 )( x − x0 ) + ( x0 , y0 )( y − y0 ) . (15)
∂x ∂y

Exemplo 2.5. Determinar, se existir, o plano tangente ao gráfico


da função f ( x, y ) = 2 + x 2 + y 2 no ponto P (0, 0, 2) .

Solução. O gráfico de f é a superfície de um parabolóide circular


com vértice em (0, 0, 2) e concavidade para cima. A função f é

57
diferenciável em  2 e suas derivadas parciais são dadas por

∂f ∂f
= 2x e = 2y .
∂x ∂y
Substituindo as coordenadas do ponto P (0, 0, 2) na equação (1),
obtemos z − 2 = 0 , que é a equação do plano tangente ao gráfico
de f no ponto P (0, 0, 2) .

2.5 Regra da cadeia


Vamos agora nos dedicar a calcular a derivada de uma função
composta.

A regra para derivar funções compostas é


tradicionalmente denominada Regra da
Cadeia, embora em português fosse mais intui-
tivo a denominação regra da corrente, tendo-se
em vista a analogia da regra com a composição
dos elos que formam uma corrente.

De início, trabalharemos com um caso mais simples e, depois, com


um caso geral. Assim, sejam A ⊂  2 e B ⊂  conjuntos abertos,
f : A ⊂  2 →  uma função com derivadas parciais de 1ª ordem
contínuas em A, x : B ⊂  →  e y : B ⊂  →  funções diferen-
ciáveis em B tais que ( x(t ), y (t )) ∈ A , para todo t ∈ B .

Podemos, então, enunciar o seguinte resultado:

Proposição 2.3. Considere a função composta


h:B ⊂  → 
t  h(t ) = f ( x(t ), y (t )).
Então, a função composta h é diferenciável em B e sua derivada
dh
é dada por
dt
dh ∂f dx ∂f dy
= ⋅ + ⋅ ,
dt ∂x dt ∂y dt
ou ainda,
dh
= ∇f ⋅ g '(t ) , (16)
dt

58
 dx dy   ∂f ∂f 
onde g '(t ) =  ,  e ∇f =  ,  é o vetor gradiente de f,
 dt dt   ∂x ∂y 
sendo as derivadas parciais de f calculadas no ponto ( x(t ), y (t )) .
Aqui g : B ⊂  → A ⊂  2 é a função dada por g (t ) = ( x(t ), y (t )) .
Denota-se h = f  g .

Demonstração. Seja t0 ∈ B , temos que

dh h(t ) − h(t0 )
(t0 ) = lim .
dt t → t 0 t − t0
Mas,
h(t ) − h(t0 ) f ( x(t ), y (t )) − f ( x(t0 ), y (t0 ))
= =
t − t0 t − t0

f ( x(t ), y (t )) − f ( x(t0 ), y (t )) f ( x(t0 ), y (t )) − f ( x(t0 ), y (t0 )) . (17)


= +
t − t0 t − t0

Aplicando o teorema do valor médio para f como uma função de x,


existe x entre x0 = x(t0 ) e x = x(t ) tal que

∂f
f ( x(t ), y (t )) − f ( x0 , y (t )) = ( x , y (t )) ⋅ ( x(t ) − x0 ) . (18)
∂x
Analogamente, considerando f como uma função de y, existe y
entre y0 = y (t0 ) e y = y (t ) tal que

∂f
f ( x0 , y (t )) − f ( x0 , y0 ) = ( x0 , y ) ⋅ ( y (t ) − y0 ) . (19)
∂y
Agora, usando (18) e (19) em (17), obtemos

h(t ) − h(t0 ) ∂f ( x(t ) − x(t0 )) ∂f ( y (t ) − y (t0 ))


= ( x , y (t )) + ( x(t0 ), y )
t − t0 ∂x t − t0 ∂y t − t0

Mas, quando t → t0 temos que x → x0 e y → y0 e, além disso, as


derivadas parciais de f são contínuas em

( x0 , y0 ) = ( x(t0 ), y (t0 )) ∈ A .

Portanto, fazendo t → t0 em (20), obtemos

h(t ) − h(t0 )  ∂f  ( x(t ) − x(t0 ))  ∂f  ( y (t ) − y (t0 ))


lim = lim  ( x , y (t ))  ⋅ lim + lim  ( x(t0 ), y )  ⋅ lim ,
t → t0 t − t0 t →t0 ∂x
  t → t0 t − t0 t →t0 ∂y
  t → t0 t − t0

59
ou ainda,

dh ∂f dx ∂f dy
(t0 ) = ( x0 , y0 ) ⋅ (t0 ) + ( x0 , y0 ) ⋅ (t0 ) .
dt ∂x dt ∂y dt
Assim,
dh ∂f dx ∂f dy
= ⋅ + ⋅ ,
dt ∂x dt ∂y dt
para todo t ∈ B , uma vez que t0 foi escolhido arbitrariamente.

O caso geral da Regra da Cadeia para funções compostas pode


ser assim formulado:

Proposição 2.4. (Regra da Cadeia) Seja A ⊂  n , um conjunto aber-


to, e g : A →  m que a cada x ∈ A associa g ( x) = ( g1 ( x), , g m ( x)) , A demonstração dessa
proposição pode ser vista
sendo gi : A →  , que a cada x ∈ A associa yi = gi ( x) , para em Marsden & Hoffman,
i = 1, , m . Suponha que g seja diferenciável em x0 ∈ A e 1993, p. 371.
B ⊂  m , um aberto, com g ( A) ⊂ B e f : B →  diferenciável
em g ( x0 ) . Então, a composta f  g , que a cada x ∈ A associa
( f  g )( x) = f ( g ( x)) = f ( g1 ( x), , g m ( x)) , é diferenciável em x0 e
D( f  g )( x0 ) = Df ( g ( x0 ))  Dg ( x0 ) .

Observação 2.3. A composição de duas transformações lineares


corresponde ao produto de duas matrizes que as representam.
Assim, a regra da cadeia pode ser reformulada dizendo que “a
matriz 1× n que representa a diferencial D ( f  g ) , matriz Jaco-
biana de f  g no ponto x = ( x1 , , xn ) , é o produto da matriz
1× m que representa a diferencial Df aplicada em g ( x) com a
matriz m × n que representa a diferencial Dg aplicada em x, nesta
ordem.” Desse modo, se h = f  g e y = g ( x) , então

 ∂g1 ∂g1 
 ∂x ( x)  ∂x ( x) 
 
1 n
 ∂f ∂f ∂f
Dh( x) =  ( g ( x)) ( g ( x))  ( g ( x))      
 ∂y1 ∂y2 ∂ym   ∂g 
 m ( x)  ∂g m ( x) 
 ∂x ∂xn 
 1 

∂h m
∂f ∂g j
Desenvolvendo esse produto, obtemos que =∑ , onde
∂xi j =1 ∂y j ∂xi

∂f ∂g j
é aplicada em y = g ( x) , enquanto que é aplicada em x.
∂y j ∂xi

60
Agora veremos a regra da cadeia em uma situação prática. Ilus-
traremos isso com o exemplo de uma função w = f ( x, y, z ) , onde
f ( x, y, z ) = x 2 + y 2 + z 2 ; e x, y, z são dadas por suas coordenadas
esféricas. Assim, temos

w = x2 + y 2 + z 2 , e

(22)

Calculando as derivadas parciais de 1ª ordem da função w em


relação a r,  e  , aplicando a regra da cadeia (21), da proposição
4, obtemos:
∂w ∂w ∂x ∂w ∂y ∂w ∂z
= ⋅ + ⋅ + ⋅
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r ∂z ∂r

∂w ∂w ∂x ∂w ∂y ∂w ∂z
= ⋅ + ⋅ + ⋅
∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z ∂

∂w ∂w ∂x ∂w ∂y ∂w ∂z
= ⋅ + ⋅ + ⋅ ,
∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z ∂

ou ainda, na forma matricial


 ∂x ∂x ∂x 
 ∂r ∂ ∂ 

 ∂w ∂w ∂w   ∂w ∂w ∂w   ∂y ∂y ∂y 
= . (23)
 ∂r
 ∂ ∂   ∂x ∂y ∂z   ∂r ∂ ∂ 
 ∂z ∂z ∂z 
 
 ∂r ∂ ∂ 

De (22), calculando as derivadas parciais e substituindo em (23),


obtemos
 cos()sen( ) −rsen()sen( ) rcos()cos( ) 
 ∂w ∂w ∂w 
 ∂r  = [2 x 2 y 2 z ]sen()sen( ) rcos()sen( ) rsen()cos( )  t
 ∂ ∂ 
 cos( ) 0 −rsen( ) 

o que resulta em

∂w ∂w ∂w
= 2r , =0 e = 2r 2 (cos 2 ( )(cos() + sen() − cos( )sen( )) .
∂r ∂ ∂
Assim, para uma função composta

w = w( x(r , , ), y (r , , ), z (r , , )) ,

61
calculamos, utilizando a regra da cadeia, suas derivadas parciais
∂w ∂w ∂w
, e .
∂r ∂ ∂

Exemplo 2.6. Considere a função f ( x, y ) = x 2 y − x 2 + y 2 , onde


∂f ∂f
x = r cos() e y = r sen(). Encontrar as derivadas parciais e .
∂r ∂
Solução. Usando a regra da cadeia (21) dada na proposição 4,
temos

∂f ∂f ∂x ∂f ∂y
= ⋅ + ⋅ = (2 xy − 2 x) cos() + ( x 2 + 2 y ) sen()
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r
e

∂f ∂f ∂x ∂f ∂y
= ⋅ + ⋅ = (2 xy − 2 x)(−r sen()) + ( x 2 + 2 y )r cos() .
∂ ∂x ∂ ∂y ∂

Exercícios
1) Verificar a regra da cadeia dh ∂f dx ∂f dy
= ⋅ + ⋅
dt ∂x dt ∂y dt
para as fun-
ções:

a) f ( x, y ) = cos(3 x − 2 y ) , x = sen(t ) , y = cos(t ) .


2
b) f ( x, y ) = ye3 x y , x = 3t , y = 2t + 1 .

2) Determinar dzdt , usando a regra da cadeia.


a) z = e 2 x ( y ) , x = t 2 , y = t 3 . b) z = xy , x = t 2 − 1 , y = cos(t ) .

3) Determinar as derivadas parciais ∂z


∂u
e
∂z
∂v
, usando a regra
da cadeia.

a) z = x 3 − y 2 , x = u 2 − 1 , y = v3 .

b) z = ln( x 2 − y 2 ) , x = cos(u ) cos(v) , y = sen(u ) cos(v) .

4) Determinar as derivadas parciais ∂f


∂r
e
∂f
∂
, para a função
y
f ( x, y ) = − x 2 − y 2 , com x = r cos() e y = r sen() .
x

62
2.6 Derivadas parciais de ordem superior
Se z = f ( x) , x = ( x1 , x2 , , xn ) ∈  n , é uma função de n variáveis
reais, possuindo derivadas parciais de 1ª ordem em todas as suas
variáveis, então, em geral, essas derivadas são também funções
de n variáveis. Se, por sua vez, as derivadas parciais dessas deri-
vadas existirem, elas serão chamadas de derivadas parciais de 2ª
ordem de f.

No caso de uma função z = f ( x, y ) , definida no  2 , possuir de-


rivadas parciais de 2ª ordem, teremos quatro derivadas parciais,
quais sejam:
∂  ∂f  ∂ 2 f ∂  ∂f  ∂ 2 f
  = ,  = ,
∂x  ∂x  ∂x 2 ∂y  ∂x  ∂y∂x

∂  ∂f  ∂ 2 f ∂  ∂f  ∂ 2 f
  = ,  = .
∂x  ∂y  ∂x∂y ∂y  ∂y  ∂y 2

Exemplo 2.7. Dada a função f ( x, y ) = x 3 y 4 + cos( x + 2y ) , determi-


∂f ∂ 2 f ∂f ∂2 f
nar , , e .
∂x ∂y∂x ∂y ∂x∂y

Solução. Temos, aplicando as regras de derivação,

∂f
= 3 x 2 y 4 − sen( x + 2y ) ,
∂x

∂f
= 4 x 3 y 3 − 2sen( x + 2y ) ,
∂y

∂2 f ∂  ∂f  ∂
=   = (3 x 2 y 4 − sen( x + 2y )) = 12 x 2 y 3 − 2cos( x + 2y ) ,
∂y∂x ∂y  ∂x  ∂y

e por sua vez,

∂2 f ∂  ∂f  ∂
=   = (4 x3 y 3 − 2sen( x + 2y )) = 12 x 2 y 3 − 2cos(x + 2y ) .
∂x∂y ∂x  ∂y  ∂x

∂2 f ∂2 f
Observando as derivadas parciais de 2ª ordem, e , que
∂x∂y ∂y∂x
são chamadas mistas, vemos que as mesmas são iguais. Isso é uma
conseqüência do Teorema de Schwarz que enunciaremos no con-
texto do espaço  2 . Antes porém, damos a seguinte definição:

63
Seja A ⊂  n, um aberto, dizemos que f ∈ C p ( A) , com p ∈ , p ≥ 1,
quando todas as derivadas parciais de f até a ordem p forem con-
tínuas em A . Dizemos, neste caso, que f é de classe C p em A .

Teorema 2.1 (Teorema de Schwarz). Seja A ⊂  2 , um aberto, e


z = f ( x, y ) , com f ∈ C 2 ( A) . Se isto acontece, então

∂2 f ∂2 f
( x0 , y0 ) = ( x0 , y0 ) ,
∂x∂y ∂y∂x
para todo ( x0 , y0 ) ∈ A .

Demonstração. Seja B = B (( x0 , y0 ), r ) ⊂ A uma bola aberta com


centro em ( x0 , y0 ) e raio r > 0 . Sejam h ≠ 0 e  ≠ 0 tais que
( x0 + h, y0 + ) ∈ B . Agora, definamos a função

F (h, k ) := f ( x0 + h, y0 + ) − f ( x0 , y0 + ) − f ( x0 + h, y0 ) + f ( x0 , y0 )

e, para  fixado, definamos ainda a função

p ( x) := f ( x, y0 + ) − f ( x, y0 ) . (25)

Assim, temos
F (h, k ) = p ( x0 + h) − p ( x0 )

e como, no intervalo [ x0 , x0 + h] , a função p é contínua e dife-


renciável no aberto, então, pelo Teorema do Valor Médio, existe
1 ∈ ( x0 , x0 + h) tal que

p ( x0 + h) − p ( x0 ) = p '( 1 )h

e, portanto,
F (h, k ) = p '( 1 )h .

Calculando a derivada p '( 1 ) , de (25), e a substituindo, resulta

 ∂f ∂f 
F (h, k ) =  ( 1 , y0 + ) − ( 1 , y0 )  h . (26)
 ∂x ∂x 
∂f
Desse modo, consideremos a função ( 1 , y ) . Como f possui
∂x
derivadas parciais de 2ª ordem contínuas em A, temos, pelo Teo-

64
∂f
rema do valor Médio aplicado aplicado à função no intervalo
∂x
[ y0 , y0 + ] , que existe 1 ∈ ( y0 , y0 + ) tal que

∂f ∂f ∂2 f
( 1 , y0 + ) − ( 1 , y0 ) = ( 1 , 1 )  . (27)
∂x ∂x ∂y∂x

Substituindo (27) em (26), temos

∂2 f
F (h, ) = ( 1 , 1 )h  . (28)
∂y∂x

Retornando à (24), para h fixado, definimos

q ( y ) := f ( x0 + h, y ) − f ( x0 , y ) , (29)

e, portanto, reescrevemos

F (h, k ) = q ( y0 + ) − q ( y0 ) .

Aplicando o Teorema do Valor Médio à função q ( y ) no intervalo


[ y0 , y0 + ] , temos que existe  2 ∈ ( y0 , y0 + ) tal que

q ( y0 + ) − q ( y0 ) = q '(  2 )  ,

e, assim,
F (h, k ) = q '(  2 )  .

Calculando a derivada q '(  2 ) , de (29), e a substituindo na expres-


são acima, obtemos

 ∂f ∂f 
F (h, k ) =  ( x0 + h,  2 ) − ( x0 ,  2 )   . (30)
 ∂y ∂y 
∂f
Aplicando novamente o Teorema do Valor Médio para a função
∂y
no intervalo [ x0 , x0 + h] , obtemos; que existe 2 ∈ ( x0 , x0 + h) tal
que:

∂f ∂f ∂2 f
( x0 + h,  2 ) − ( x0 ,  2 ) = ( 2 ,  2 )h . (31)
∂y ∂y ∂x∂y

Assim,
∂2 f
F (h, k ) = ( 2 ,  2 )h . (32)
∂x∂y

65
Agora, de (28) e (32), para h e  ≠ 0 , resulta que

∂2 f ∂2 f
( 1 , 1 ) = ( 2 ,  2 ) .
∂y∂x ∂x∂y

Fazendo (h, k ) → (0, 0) , temos que 1 e 2 → x0 e 1 e  2 → y0 ,


∂2 f ∂2 f
e como e são contínuas em ( x0 , y0 ) , resulta que
∂y∂x ∂x∂y

∂2 f ∂2 f
( x0 , y0 ) = ( x0 , y0 ) .
∂y∂x ∂x∂y

2.7 Diferenciação implícita


Um dos teoremas mais importantes do Cálculo Diferencial no  n
é o Teorema da Função Implícita que tem grandes consequências
na Análise, na Geometria Diferencial e no estudo das Equações
Diferenciais. Para enunciarmos o Teorema da Função Implícita,
consideremos uma função

F : A ⊂ n × m → m
( x, y )  F ( x, y ) = ( F1 ( x, y ), , Fm ( x, y ))

onde x = ( x1 , , xn )e y = ( y1 , , ym ) , tal que F ( x, y ) = 0 , para al-


gum ( x, y ) ∈ A , ou seja,

 F1 ( x1 , , xn , y1 , , ym ) = 0

 
 F ( x , , x , y , , y ) = 0
 m 1 n 1 m

Nosso objetivo é resolver este sistema de m equações para


as m incógnitas y1 , , ym em termos de x1 , , xn , isto é,
yi = yi ( x) = yi ( x1 , , xn ), 1 ≤ i ≤ m .

Passamos agora ao enunciado do teorema:

Teorema 2 (Teorema da Função Implícita). Sejam A um aberto de


 n ×  m e F : A →  m uma função de classe C p ( A) com p ≥ 1 , e
suponha que F ( x0 , y0 ) = 0 para algum ( x0 , y0 ) ∈ A . Se ∆( x0 , y0 ) ≠ 0 ,
onde

66
∂F1 ∂F1

∂y1 ∂ym
 ∂F   ∂ ( F1 , , Fm ) 
∆( x, y ) = det  ( x, y )  = det  ( x, y )  =   ,
 ∂y   ∂ ( y1 , , ym )  ∂F
m ∂Fm

∂y1 ∂ym ( x, y )

então existem U ⊂  n , vizinhança aberta de x0 , V = f (U ) vizi-


nhança aberta de y0 em  m e uma única função f : U → V , que
a cada x ∈ U associa y = f ( x) ∈ V ⊂  m , tal que

F ( x, f ( x)) = 0 , para todo x ∈ U ,

e, além disso, f ∈ C p (U ) .

Demonstração. Você pode encontrar a demonstração deste Teo-


rema em [16], p. 425.

Observação 2.4. À guisa de informação sobre a necessidade da


 ∂F 
hipótese det  ( x0 , y0 )  ≠ 0 , vamos considerar a seguinte fun-
 ∂y 
ção F :  →  , ( x, y )  F ( x, y ) , dada por F ( x, y ) = x 2 + y 2 − 1 ,
2

e a equação F ( x, y ) = 0 que descreve o círculo unitário C1 (0, 0) ,


dado por C1 (0, 0) : x 2 + y 2 − 1 = 0 . Se tentarmos explicitar y em fun-
ção de x, encontraremos duas possibilidades, que são y = ± 1 − x 2
. Assim, y = f ( x) não é unicamente determinada. Por quê? Qual
o problema? Investigando os pontos ( x0 , y0 ) que estão sobre o cír-
culo unitário C1 (0, 0) , verificamos que y = f ( x) é diferenciável e

unicamente determinada quando x < 1 . Neste caso, f ( x) = 1 − x 2

se y > 0 , ou f ( x) = − 1 − x 2 se y < 0 . No entanto, derivando essas


x
funções, verificamos que f '( x) = ± , x ≠ ±1 . Assim per-
1 − x2
cebemos que, qualquer que seja uma das expressões de f ( x) ,
f não é diferenciável em x = ±1 . Por outro lado, analisando os
∂F
pontos em que = 0 , encontramos 2 y = 0 , o que nos dá y = 0 e
∂y
F ( x, 0) = x 2 − 1 = 0 , nos fornece x = ±1 . Portanto, os pontos em que
∂F
= 0 nos fornece os pontos “ruins” em que f não é diferenciá-
∂y
vel e na vizinhança dos quais f não é unicamente determinada.

67
∂F
Logo, se não queremos os pontos “ruins”, devemos exigir ≠ 0,
∂y
o que justifica de algum modo a hipótese feita no Teorema da
Função Implícita. Uma outra razão para tal hipótese pode ser vis-
ta, quando consideramos o caso em que m = 1 , F :  n ×  →  e
F ( x1 , , xn , y ) = 0 . Derivando esta equação em relação a xi , com
∂F ∂F ∂y
o auxílio da regra da cadeia, obtemos + ⋅ = 0 e, por con-
∂xi ∂y ∂xi
∂F

∂y ∂xi ∂F
seguinte, = , o que nos impõe ≠ 0.
∂xi ∂F ∂y
∂y

No caso geral, temos m equações da forma

Fj ( x1 , , xn , f1 ( x), , f m ( x)) = 0 com 1 ≤ j ≤ m .

Derivando em relação a xi , com auxílio da regra da cadeia, obte-


mos
∂Fj ∂Fj ∂f1 ∂Fj ∂f m
+ ⋅ + + ⋅ = 0 , ou ainda
∂xi ∂y1 ∂xi ∂ym ∂xi

∂Fj ∂f1 ∂Fj ∂f m ∂Fj


⋅ + + ⋅ =− .
∂y1 ∂xi ∂ym ∂xi ∂xi

∂f j
Considerando as derivadas parciais , 1≤ j ≤ m e 1≤ i ≤ n ,
∂xi
como funções incógnitas, isto dá ocasião ao seguinte sistema:

 ∂F1 ∂F1   ∂f1 ∂f1   ∂F1 ∂F1 


 ∂y   
∂ym   ∂x1 ∂xn   ∂x ∂xn 
 1     1 
   ⋅    = −   
     
 ∂Fm 
∂Fm   ∂f m

∂f m   ∂Fm 
∂Fm 
 ∂y ∂ym   ∂x1 ∂xn   ∂x ∂xn 
 1  n

ou ainda, se ∆ ≠ 0
−1
 ∂f1 ∂f1   ∂F1 ∂F1   ∂F1 ∂F1 
 ∂x    ∂y  
∂xn ∂ym   ∂x1 ∂xn 
 1   1   
    = −    ⋅   ,
     
 ∂f m 
∂f m   ∂Fm 
∂Fm   ∂Fm

∂Fm 
 ∂x ∂xn   ∂y ∂ym   ∂xn ∂xn 
 1  1

68
onde ( ) −1 denota a matriz inversa. Essa expressão nos dá as deri-
vadas parciais das m funções componentes dadas implicitamente.

Damos agora quatro situações particulares que ilustram o Teore-


ma da Função Implícita.

1) Caso m = n = 1
∂F
Se F ( x, y ) = 0 , para algum ( x0 , y0 ) ∈ A ⊂  ×  , e
≠ 0 nes-
∂y
se ponto, então existirá uma única função y = f ( x) definida
∂F

dy
numa vizinhança U de x0 em  tal que = ∂x .
dx ∂F
∂y

2) Caso n = 2, m = 1

Se F ( x, y ) = F ( x1 , x2 , y ) = 0, para algum ( x0 , y0 ) ∈ A ⊂  2 × ,
∂F
e ≠ 0 nesse ponto, então existirá uma única função
∂y
y = f ( x1 , x2 ) numa vizinhança U de x0 = ( x01 , x02 ) em  2 tal
que
∂F ∂F
− −
∂y ∂x1 ∂y ∂x2
= , = .
∂x1 ∂F ∂x2 ∂F
∂y ∂y

3) Caso n = 1 , m = 2

Se F1 ( x, y1 , y2 ) = 0 e F2 ( x, y1 , y2 ) = 0 , para algum
∂F1 ∂F1
 ∂F  ∂ ( F1 , F2 ) ∂y1 ∂y2
( x0 , y0 ) ∈ A ⊂  ×  2 , e det  = = ≠ 0,
 ∂y  ∂ ( y1 , y2 ) ∂F2 ∂F2
∂y1 ∂y2
nesse ponto, então existirão únicas funções componentes
y1 = f1 ( x) e y2 = f 2 ( x) numa vizinhança U de x0 em  tal
que
 ∂ ( F1 , F2 )   ∂ ( F1 , F2 ) 
det   det  
dy1  ∂ ( x , y2 )  dy2  ∂ ( y1 , x) 
=− , =− .
dx  ∂ ( F1 , F2 )  dx  ∂ ( F1 , F2 ) 
det   det  
 ∂ ( y1 , y2 )   ∂ ( y1 , y2 ) 

69
4) Caso n = m = 2

Se F1 ( x1 , x2 , y1 , y2 ) = F1 ( x, y ) = 0 e F2 ( x1 , x2 , y1 , y2 ) = F2 ( x, y ) = 0,

 ∂F  ∂ ( F1 , F2 )
para algum ( x0 , y0 ) ∈ A ⊂  2 ×  2 , e det  = ≠ 0,
 ∂y  ∂ ( y1 , y2 )
nesse ponto, então existirão únicas funções componen-
tes y1 = f1 ( x1 , x2 ) e y2 = f 2 ( x1 , x2 ) numa vizinhança U de
x0 = ( x01 , x02 ) em  2 tal que

O Teorema da Função Implícita pode ser


usado para justificar a existência de solu-
ção para um sistema de equações (ver [14]).

Exercícios
1) Dado o sistema  xy −− u2uv− =v 0= 0 , determinar:
2 2


a) As condições para que se tenha u = u ( x, y ) e v = v( x, y ) defi-
nidas implicitamente e calcular suas derivadas parciais.

b) As funções u e v definidas implicitamente pelo sistema.

2) Se xu 2
+ v = y 3 , 2 yu − xv 3 = 4 x , calcular:

∂u
a) . b) ∂v .
∂x ∂y

70
3) Calcular det  ∂∂((Fu,, Gv))  , se
 
F (u , v) = 3u 2 − uv e G (u, v) = 2uv 2 + v3 .

4) Se F = x + y 2
− z 3 , G = 2 x 2 yz e H = 2 z 2 − xy, calcular

 ∂( F , G, H ) 
det   no ponto (1, −1, 0) .
 ∂ ( x, y , z ) 

2.8 Extremos locais de funções de várias


variáveis
Sabemos do cálculo diferencial de funções de uma variável que
uma função f :] a, b [ →  diferenciável, com um máximo ou mí-
nimo local em x0 satisfaz a condição f '( x0 ) = 0 . Além disso, se
f for duas vezes continuamente diferenciável e f ''( x0 ) < 0 , então
x0 é um máximo local, e se f ''( x0 ) > 0 , então x0 é um mínimo
local. Esses resultados podem ser generalizados para uma função
f : A ⊂ n →  .

Definição 2.4. Sejam A um aberto de  n e f : A →  uma função.


Se existir uma vizinhança do ponto x0 ∈ A , Vx0 , em que f ( x0 ) é
um máximo, isto é,
f ( x0 ) ≥ f ( x) , ∀x ∈ Vx0 ,

dizemos que x0 é um ponto de máximo local e f ( x0 ) é um valor


máximo local. Similarmente, podemos definir um mínimo local
de f. Um ponto é chamado de extremo se ele é ou um máximo lo-
cal ou um mínimo local para f. Um ponto x0 é um ponto crítico se
f é diferenciável em x0 e Df ( x0 ) = 0 (“0” é a transformação linear
nula representadada pelo vetor gradiente nulo do  n ). Se f não é
diferenciável em x0 também se diz que x0 é ponto crítico de f .

Teorema 2.3. Seja um aberto A ⊂  n , f : A →  diferenciável e


x0 ∈ A um ponto extremo de f, então Df ( x0 ) = 0 , isto é, x0 é um
ponto crítico.

A demonstração se faz utilizando-se a definição de diferencial e


as propriedades da diferencial como uma transformação linear, e

71
supondo-se que a Df ( x0 ) ≠ 0 . Isto acarretará que x0 não pode ser
nem um máximo local nem um mínimo local, ou seja, que x0 não
pode ser um extremo de f.

Observação 2.5. A recíproca do teorema não é verdadeira.

Exemplo 2.8.

a) f :  →  com f ( x) = x 3 , então x = 0 é um ponto crítico


visto que f '(0) = 0 . No entanto, x3 > 0 para x > 0 e x 3 < 0
para x < 0 . Portanto, x = 0 não é extremo de f.

b) f :  2 →  com f ( x, y ) = x 2 − y 2 cujo gráfico é o pa-


rabolóide hiperbólico (sela de cavalo). A diferencial
Df (0, 0)h = ∇f (0, 0) ⋅ h = (2 x, −2 y ) (0,0) ⋅ h = (0, 0) , ∀h ∈  2 .
Logo, Df (0, 0) = 0 .

Assim, (0, 0) é ponto crítico de f, entretanto em qualquer vizi-


nhança V(0,0) do ponto (0, 0) pode-se encontrar pontos em que
f > 0 e f < 0 . Portanto, (0, 0) não é ponto de extremo local. Por
exemplo, f (0, y ) = − y 2 < 0 e f ( x, 0) = x 2 > 0 .

Definição 2.5. Um ponto crítico que não é um ponto extremo


local é chamado de ponto de sela.

Observação 2.6. Embora a recíproca do Teorema não seja verda-


deira, queremos encontrar condições suficientes para a obtenção
de extremos locais. Para isso, nos inspiramos nas funções de uma
variável. Sabemos que se x0 é um ponto crítico tal que f '( x0 ) = 0
e f ′′( x0 ) < 0 , então f ( x0 ) é um valor máximo local o que significa
que o gráfico de f é côncavo para baixo em uma vizinhança Vx0 ,
ou ainda, que as inclinações f '( x) são decrescentes nessa vizi-
nhança. Necessitaremos de algumas definições.

Definição 2.6. Seja A ⊂  n , aberto, x0 ∈ A , e g : A →  de clas-


se C 2 . A Hessiana de g em x0 é definida como a forma biline-
ar H x0 ( g ) :  n ×  n →  , dada pela diferencial segunda de g, ou Matriz Hessiana de uma
função de n variáveis é
seja, a matriz quadrada n×n
das derivadas parciais de
H x0 ( g )( x, y ) = D 2 g ( x0 )( x, y ) . segunda ordem da função.

72
Assim, a Hessiana representada como uma matriz é a matriz das
derivadas parciais de segunda ordem, qual seja,

 ∂2 g ∂2 g 
  
 ∂x1∂x1 ∂x1∂xn 
H x0 ( g ) =    
 2 2

 ∂ g  ∂ g 
 ∂x ∂x ∂xn ∂xn 
 n 1

onde as derivadas parciais de segunda ordem são todas calcula-


das em x0 .

Definição 2.7. Uma forma bilinear B :  n ×  n →  é chamada de


positiva definida se B ( x, x) > 0 para todo x ≠ 0 em  n , e é cha-
mada de positiva semidefinida se B ( x, x) ≥ 0 para todo x ∈  n .
Formas bilineares negativas definidas e negativas semidefinidas
são definidas de maneira análoga.

Teorema 2.4. Sejam A um aberto de  n , x0 ∈ A e f : A →  de


classe C 2 . Temos que:

i) Se x0 é um ponto crítico de f tal que H x0 ( f ) é negativa defi-


nida, então f possui um máximo local em x0 .

ii) Se f possui um máximo local em x0 , então H x0 ( f ) é negativa


semidefinida.

No caso de um mínimo local em x0 , existe a versão análoga desse


teorema apenas trocando-se a forma bilinear negativa por positi-
va. Observamos ainda que min( f ) = max(− f ) .

Quando n = 1 , o teorema anterior se reduz ao teste da segunda


derivada para funções de uma variável, f ''( x0 ) < 0 . Se f ''( x0 ) = 0 ,
o teste falha, pois nesse caso pode-se ter um máximo ou mínimo
local ou até mesmo um ponto sela.

Por exemplo, f ( x) = − x 4 tem um máximo local em x0 = 0 ,


f ( x) = x 4 tem um mínimo local em x0 = 0 , e f ( x) = x 5 tem um
ponto de sela em x0 = 0 , embora f ''(0) = 0 para todas essas fun-
ções. Daí a importância da forma bilinear ser negativa definida
(estritamente).

73
Exemplificaremos esse resultado considerando o caso n = 2 , isto
é, o caso em que f : A ⊂  2 →  . Nesse caso, a matriz Hessiana
H x0 ( f ) toma a forma:
 ∂2 f ∂2 f 
 
 ∂x12 ∂x1∂x2 
H x0 ( f ) =
 ∂2 f ∂2 f 
 
 ∂x2 ∂x1 ∂x2 2 

Para efeito de simplificação de notação consideremos a matriz


a b
simétrica B =   , devido ao teorema de Schwarz, uma vez
b d 
que f ∈ C 2 ( A) . Temos que, uma matriz Bn×n é associada a uma
n
forma bilinear B , da seguinte maneira: se x, y ∈  n , x = ∑ xi ei ,
n i =1
y = ∑ y j e j , onde {ei }in=1 é a base canônica do  n , então
i =1

 n n  n n
B( x, y ) = B  ∑ xi ei , ∑ y j e j  = ∑∑ xi B (ei , e j ) y j .
 i =1 j =1  i =1 j =1

Fazendo B(ei , e j ) = bij , onde bij são as entradas da matriz Bn×n .


Assim, teríamos que

n
 b11  b1n  y1 
  
B( x, y ) = ∑ xi bij y j = ( x1  xn )       ,
i , j =1  b  b  y 
 n1 nn  n 

 y1 
 
ou seja, B ( x, y ) = ( x1  xn ) B    = xByT .
y 
 n

Assim, dizer que uma forma bilinear é positiva definida corres-


ponde a dizer que a matriz Bn×n que a representa satisfaz:

xBxT > 0 , ∀x ∈  n , x ≠ 0 .

Portanto, em nosso caso, temos que mostrar que a matriz B, que


representa a matriz Hessiana de f, para um vetor ( x, y ) ∈  2 com
( x, y ) ≠ (0, 0) , satisfaz
 a b  x 
( x y)    > 0 ,
b d  y 
 x
isto é, (ax + by bx + dy )   = ax 2 + 2byx + dy 2 > 0 .
 y
74
Supondo isto verdadeiro para todo ( x, y ) ≠ (0, 0) , tomamos x = 1 e
y = 0 , e obtemos que a > 0 , e agora tomando y = 1 , obtemos que
ax 2 + 2bx + d > 0 , ∀x ∈  . Esse trinômio do 2º grau possui um mí-
b
nimo visto que a > 0 , quando 2ax + 2b = 0 , isto é, quando x = − .
2 a
 b  b
Assim, impondo que a  −  + 2b  −  + d > 0 , obtemos que
 a  a
2
ad − b > 0 . Deste modo demonstramos que a matriz B é positiva
definida quando a > 0 e o seu determinante ∆ = ad − b 2 > 0 .

Podemos agora enunciar o seguinte resultado, para o caso em que


n = 2.

Teorema 2.5. Seja A um aberto de  2 , x0 ∈ A e f : A →  de clas-


2
2 ∂2 f ∂2 f  ∂2 f 
se C , sendo x0 um ponto crítico de f e ∆ = 2 − 
∂x1 ∂x2 2  ∂x1∂x2 
calculado em x0 . Então,

∂2 f
i) Se ∆ > 0 e > 0 (isto é, H x0 ( f ) é positiva definida), f pos-
∂x12
sui um mínimo local em x0 .

∂2 f
ii) Se ∆ > 0 e < 0 (isto é, H x0 ( f ) é negativa definida), f pos-
∂x12
sui um máximo local em x0 .

iii) Se ∆ < 0 , f possui um ponto de sela em x0 .

Exercícios
1) Investigar a natureza dos pontos críticos das seguintes funções:
a) f ( x, y ) = x 2 − xy + y 2 .

b) f ( x, y ) = − x 2 + xy − y 2 .

c) f ( x, y ) = ( x − y ) 2 .

2) Achar os máximos e mínimos relativos de


1 1
f ( x, y ) = x 3 + y 3 − x − 4 y + 20.
3 3
75
3) Uma caixa retangular sem tampa deve ter 4m . Quais devem
3

ser suas dimensões, para que sua superfície total seja mínima?

4) Achar os extremos de z( x, y) , na superfície


1 2 3 2
x + y + z 2 − 6 xy + 2 xy = 16 .
2 2

5) Achar três números positivos tais cuja soma seja no máxi-


mo 12 e o produto do primeiro pelo quadrado do segundo e pelo
cubo do terceiro seja máximo.

Resumo
Acabamos de ver, neste capítulo, que a diferencial de uma função
real de várias variáveis pode ser representado por uma matriz
de ordem 1×n. Vimos condições suficientes para a sua existência,
como também, o importantíssimo Teorema da Função Implícita
com suas poderosas aplicações. Por fim, vimos as aplpicações da
diferencial de uma função no cálculo de máximos e mínimos lo-
cais, utilizando-nos da matriz Hessiana.

76
3 Integrais Duplas e Triplas
3 Integrais Duplas e Triplas

Neste capítulo apresentaremos as noções de integral dupla


e tripla com suas aplicações ao cálculo de área e volume.
Apresentaremos também a noção de mudança de variável
que nos permite deformar regiões possibilitando-nos rea-
lizar a integração sobre novas regiões relacionadas com as
regiões originais através do determinante Jacobiano que
nos dá a medida de deformação da região.

3.1 Integral dupla


3.1.1 Definição
Consideremos uma função contínua de duas variáveis reais
f : R ⊂  2 →  , onde o domínio R é um retângulo com lados pa-
ralelos aos eixos coordenados. O retângulo R é descrito em ter-
mos de dois intervalos fechados [a, b] e [c, d ] , representando a
projeção dos lados de R sobre os eixos x e y, respectivamente. Nes-
te caso, dizemos que R é o produto cartesiano de [a, b] e [c, d ] que
representamos por R = [a, b] × [c, d ] .

Suponha que f ( x, y ) > 0 em R e que o


z
gráfico de z = f ( x, y ) seja uma super-
fície contínua acima do retângulo R.
graf (z) Essa superfície, o retângulo R e os pla-
nos x = a , x = b , y = c e y = d formam
uma região limitada V.

Definição 3.1. O volume da região aci-


c d
y ma do retângulo R e abaixo do gráfico
a de f é chamado de integral dupla de f
R sobre R o qual é denotado por
b
x
∫∫
R
f ( x, y )dxdy ou ∫∫
R
f ( x, y )dA .
Figura 3.1

79
Exemplo 3.1. Seja f ( x, y ) = 1 − x e R = [0,1] × [0,1] , então

1
∫∫R
f ( x, y )dxdy =
2
,

onde a integral é igual ao volume do sólido triangular mostrado


na figura 3.2.

Considere a região sólida abaixo do gráfico de z = f ( x, y ) , defi-


nida na região [a, b] × [c, d ] , onde f é contínua e maior que zero.
Temos dois cortes transversais a considerar: um obtido através da
intersecção dessa região com um plano perpendicular ao eixo x e
outro obtido através da intersecção dessa mesma região com um
plano perpendicular ao eixo y, conforme ilustrado na figura 3.3.

z z

(0,0,1)

z = 1−x

(0,1,0) c y0 d
y y
(1,0,0) a
x0 R
(1,1,0)
b A
x
x
Figura 3.2 Figura 3.3

Quando fixamos x = x0 , obtemos uma função y  f ( x0 , y ) , que


é contínua em [c, d ] . A área A( x0 ) dessa seção é, portanto, igual
d
à integral ∫
c
f ( x, y )dy . Então a função área do “corte seccional” A
d
tem domínio [a, b] e é definida por A : x  ∫ f ( x, y )dy . A idéia
c

intuitiva que se tem aqui é que ao somar todas as áreas dos cortes
seccionais se obtenha o volume do sólido. A soma é em x ∈ [a, b] ,
uma “soma contínua” infinita. Tal soma deve ser a integral em
[a, b] . Assim, o volume V da região abaixo do gráfico de z = f ( x, y ) ,
utilizando-se o princípio de Cavalieri descrito acima é dado por

V = ∫ A( x)dx = ∫  ∫ f ( x, y )dy  dx .
b b d

a  c
a  

80
 d f ( x, y )dy  dx é chamada de integral iterada, e é
b
A integral ∫a  ∫c 
obtida integrando-se primeiro com respeito à variável y, e depois
integrando o resultado obtido com respeito à variável x. Uma vez
que o volume V é igual à integral ∫∫ f ( x, y )dA , temos que
R

f ( x, y )dA = ∫  ∫ f ( x, y )dy  dx .
b d
∫∫R  c
a  
(33)

Analogamente, se usarmos planos perpendiculares ao eixo y, ob-


temos

f ( x, y )dA = ∫  ∫ f ( x, y )dx  dy .
d b
∫∫R c  a 
(34)

A expressão (34) é a integral iterada obtida através da integração


com respeito à variável x e da integração do resultado obtido com
respeito à variável y.

Exemplo 3.2. Calcule o valor da integral dupla ∫∫ cos( y ) ⋅ sen(x)dxdy ,


S
   
onde S é definida no quadrado 0,  × 0,  , conforme a figura
abaixo:  2  2

(0, π/2, 1)

z = cos(x).sen(y)

(0, �/2, 0)
y
(π/2, 0, 0)
(π/2, π/2, 0)
x
Figura 3.4

Solução. Pela equação (34), temos

∫∫S cos( y) ⋅ sen( x)dxdy = ∫0  ∫0 cos( y) ⋅ sen( x)dx  dy =∫0 cos( y)  ∫0 sen( x)dx
   
2 2 2 2

∫∫S cos( y) ⋅ sen( x)dxdy = ∫0  ∫0 cos( y) ⋅ sen( x)dx  dy =∫0 cos( y)  ∫0 sen( x)dx  dy =∫0 cos( y)dy = 1
    
2 2 2 2 2

81
Vamos agora trabalhar apenas com integrais duplas sobre retân-
gulos. Queremos dar a definição de integral dupla como sendo o
limite de uma seqüência de somas. Vamos, para isso, utilizar a de-
finição de volume de uma região abaixo do gráfico de uma função
z = f ( x, y ) . Não precisamos impor que f ( x, y ) ≥ 0 , apenas que
quando f ( x, y ) < 0 interpretaremos a integral com sinal negativo,
como no caso de integrais de uma função de uma variável real.

Consideremos um retângulo fechado R ⊂  2 , isto é, R é um


produto cartesiano do tipo R = [a, b] × [c, d ] . Tomemos, agora,
uma partição regular de R obtida por duas coleções de pontos
{x j }nj =0 e { yk }mk =0 igualmente espaçados entre si, isto é, respectiva-
mente n + 1 e m + 1 pontos satisfazendo a = x0 < x1 <  < xn = b e
b−a d −c
c = y0 < y1 <  < ym = d e x j +1 − x j = , e yk +1 − yk = , con-
n m
forme a figura 3.5, onde m = n = 3 .

d = y3

y2

y1

c = y0

a = x0 x1 x2 x3 = b x

Figura 3.5

Uma função f ( x, y ) é limitada se existe um número M > 0 tal


que − M ≤ f ( x, y ) ≤ M , para todo∀( x, y ) no domínio da f.

Seja R jk o retângulo [ x j , x j +1 ] × [ yk , yk +1 ] , e seja c jk algum ponto


em R jk . Suponha que f : R →  seja uma função real limitada.
Então temos
n −1 m −1 n −1 m −1
S N = ∑∑ f (c jk )∆x ⋅ ∆y =∑∑ f (c jk )∆A , (35)
j =0 k =0 j =0 k =0

82
onde N = #{R jk } = nm , é o número de subretângulos R j ,k da par-
tição regular do retângulo R,

b−a d −c
∆x = x j +1 − x j = , ∆y = yk +1 − yk = ,
n m
e
∆A = ∆x ⋅ ∆y .

Essa soma é dada sobre todo j e todo k, com j variando de 0 até


n − 1 e k variando de 0 até m − 1 . Uma soma desse tipo é chamada
soma riemanniana de f.

Definição 3.2. (Integral Dupla) Se a seqüência {S N } converge


para um limite S quando N → ∞ , e o limite S é o mesmo para
qualquer escolha de pontos c jk ∈ R jk , dizemos que f é integrável
sobre R e chamamos esse limite de integral dupla de f sobre R.
Denotamos o número S por:

∫∫R
f ( x, y )dA , ∫∫R
f ( x, y )dxdy ou ∫∫ R
fdxdy .

n −1 m −1
Então, podemos escrever ∫∫ fdxdy = lim ∑∑ f (c jk )∆x∆y .
R N →∞
j =0 k =0

Um resultado importante nas aplicações é apresentado na pela


proposição seguinte:

Proposição 3.1. Qualquer função contínua definida em um retân-


gulo fechado R é integrável.

Se f ( x, y ) ≥ 0 , a existência do limite lim S n tem uma interpretação


n →∞

geométrica bastante fácil e clara, similar ao que ocorre com a inte-


gração de funções de uma variável real.

Considere o gráfico de z = f ( x, y ) como sendo o topo de um sóli-


do que tem por base o retângulo R. Se cada c jk é um ponto onde
f ( x, y ) tem um valor mínimo sobre R jk , então f (c jk )∆x∆y repre-
senta o volume de um cubo de base R jk . Assim, a soma
n −1 m −1

∑∑ f (c
j =0 k =0
jk )∆x∆y (36)

é igual ao volume de um sólido inscrito no sólido original.

83
Da mesma forma, se c jk é um ponto onde f ( x, y ) assume valor
máximo em R jk , então a soma (36) é igual ao volume de um sóli-
do circunscrito ao sólido original.

Portanto, se lim S N existe e é independente de c jk ∈ R jk , segue


N →∞

que os volumes dos sólidos inscrito e circunscrito são os mesmos


quando N → ∞ . Esse limite será o volume exato do sólido com
topo em z = f ( x, y ) e base em R.

Conclusão. A definição de integral por limite de somas de Rie-


mann coincide com a definição de volume quando f é contínua.

Proposição 3.2. (Integrabilidade de funções limitadas) Seja


f : R ⊂  2 →  uma função real, limitada, em um retângulo R.
Suponha que o conjunto dos pontos onde f é descontínua esteja
em uma união finita de gráficos de funções contínuas no retân-
gulo R . Então, f é integrável em  .

Da definição da integral como sendo um limite de somas, e dos te-


oremas de limite, podemos deduzir algumas propriedades da in-
tegral ∫∫ f ( x, y )dA . Essas propriedades são basicamente as mes-
R
mas que para integrais de funções de uma única variável real.

Proposição 3.3. Sejam f e g funções integráveis no retângulo R, e


seja c uma constante. Então, f + g e cf são integráveis, e

a) ∫∫ [ f ( x, y) + g ( x, y)]dA = ∫∫
R R
f ( x, y )dA + ∫∫ g ( x, y ) dA ;
R

b) ∫∫R
cf ( x, y )dA = c ∫∫ f ( x, y )dA ;
R

c) se f ( x, y ) ≥ g ( x, y ) , então ∫∫ R
f ( x, y )dA ≥ ∫∫ g ( x, y )dA ;
R

d) Se Ri , i = 1, , m , são retângulos dois a dois disjun-


tos tais que f é limitada e integrável sobre cada Ri e se
Q = R1 ∪ R2 ∪  ∪ Rm é um retângulo, então f : Q →  é in-
m
tegrável sobre Q e ∫∫ f ( x, y )dA = ∑ ∫∫ f ( x, y )dA .
Q Ri
i =1

Observamos que ∫∫R


dA = área (R) , o que se dá quando f ≡ 1, em
R.

84
O Teorema de Fubini, que será enunciado a seguir, estabelece a
redução de uma integral dupla a integrais iteradas.

Proposição 3.4. (Teorema de Fubini) Seja f uma função con-


tínua em um domínio retangular R = [a, b] × [c, d ] . Então
b d d b
∫∫R
f ( x, y )dA = ∫
a ∫
c
f ( x, y )dydx = ∫
c ∫a
f ( x, y )dxdy .

Demonstração. Vamos mostrar primeiro que


b d
∫∫ a c
f ( x, y )dydx = ∫∫ f ( x, y )dA .
R

Seja c = y0 < y1 <  < ym = d a partição de [c, d ] em m partes


d
iguais. Definamos F ( x) = ∫ f ( x, y )dy . Então:
c

m −1 yk +1
F ( x) = ∑ ∫ f ( x, y )dy .
yk
k =0

Usando o Teorema do Valor Médio para integrais de funções con-


tínuas, para cada x fixado e para cada k, temos

onde o ponto yk ( x) ∈ [ yk , yk +1 ] depende de x e de k. Assim mos-


tramos que

. (37)

Agora, da definição de integral de uma função de uma variável


real como um limite de uma soma riemanniana, obtemos que

n −1

∫a  ∫c f ( x, y)dy  dx = ∫a F ( x)dx = lim


b d b

n →∞

j =0
F (  j )( x j +1 − x j ) ,

onde a = x0 < x1 <  < xn = b é uma partição do intervalo [a, b]


em n partes iguais e  j é um ponto qualquer de [ x j , x j +1 ] .

Substituindo x por  j na equação (37) e fazendo


, obtemos que
m −1
F (  j ) = ∑ f (c jk )( yk +1 − yk ) .
k =0

85
Portanto,
b d n −1

∫∫ f ( x, y )dydx = lim ∑ F (  j )( x j +1 − x j ) =
a c n →∞
j =0

n −1 m −1
= lim ∑∑ f (c jk )( yk +1 − yk )( x j +1 − x j ) = ∫∫ f ( x, y )dA
n →∞ R
j =0 k =0

pela definição de integral por soma de Riemann. Desse modo, aca-


bamos de provar que
b d
∫∫
a c
f ( x, y )dydx = ∫∫ f ( x, y )dA .
R

Raciocinando da mesma forma, podemos mostrar que


d b
∫ ∫
c a
f ( x, y )dxdy = ∫∫ f ( x, y )dA .
R

Assim, a demonstração desta proposição está concluída.

O Teorema de Fubini pode ser generaliza-


do para o caso quando f não é necessaria-
mente contínua. A proposição abaixo apresen-
ta uma versão mais geral.

Proposição 3.5. (Teorema de Fubini) Seja f uma função limita-


da num domínio retangular R = [a, b] × [c, d ] . Suponhamos que as
descontinuidades de f estejam em uma união finita de gráficos
d
de funções contínuas contidas em R . Se a integral ∫ c
f ( x, y )dy
b d
existe para cada x ∈ [a, b] , então ∫∫
a c
f ( x, y )dydx , existe, e
b d
∫∫ R
f ( x, y )dA = ∫
a ∫
c
f ( x, y )dydx .

b
De forma análoga, se ∫a
f ( x, y )dx existe para cada y ∈ [c, d ] , então
d
 f ( x, y )dx  dy existe, e
b d b
∫c  ∫a  ∫∫ R
f ( x, y )dA = ∫
c ∫
a
f ( x, y )dxdy .

Exemplo 3.3. Calcular ∫∫ R


( x 2 + y )dA , onde R = [0,1] × [0,1] .

86
Solução. Pelo Teorema de Fubini, temos que
1
1 1 1
∫∫ ( x 2 + y )dA = ∫ ∫ ( x 2 + y )dxdy = ∫ [ ∫ ( x 2 + y )dx]dy .
R 0 0 0
0

Pelo Teorema Fundamental do Cálculo, a integração com relação


a x fornece
1
1  x3  1
∫0 ( x + y) =  3 + xy  = 3 + y .
2

1
1  1 1 y2  5
Então, ∫∫ ( x + y )dA = ∫  + y  dy =  y +  = .
2
0 3
R
  3 2 0 6

Vamos agora trabalhar com integrais sobre regiões fechadas e li-


mitadas do  2 . Basicamente, podemos dividi-las em três tipos de
regiões:

Tipo 1. Sejam 1 :[a, b] →  e 2 :[a, b] →  duas funções contí-


nuas que satisfaçam 1 ( x) ≤ 2 ( x) , ∀x ∈ [a, b ]. Seja D o conjunto
do plano formado pelos pontos da forma ( x, y ) tal que x ∈ [a, b ] e
1 ( x) ≤ y ≤ 2 ( x) . Esta é uma região do tipo 1 (ver figura 3.6).

y
y = φ2(x)

y = φ1(x)

a b x
Figura 3.6

As curvas e os segmentos de reta que limitam a região D consti-


tuem a fronteira de D, denotada por ∂D .

Tipo 2. Sejam 1 e 2 duas funções contínuas definidas em [c, d ]


e D o conjunto formado pelos pontos ( x, y ) do plano satisfazendo
y ∈ [c, d ] e 1 ( y ) ≤ x ≤ 2 ( y ) , onde 1 ( y ) ≤ 2 ( y ) , ∀y ∈ [c, d ] (ver
figura 3.7).

87
y

x = ψ 2(y)
x = ψ 1(y) D

x
Figura 3.7

Tipo 3. Esse tipo de região é ao mesmo tempo uma região do tipo


1 e 2, ou seja, uma região desse tipo pode ser descrita como uma
região do tipo 1 ou como uma região do tipo 2. Um disco unitário
é um exemplo de uma região do tipo 3.

Chamamos as regiões do tipo 1, 2 e 3 de regiões elementares.

Definição 3.3. (Integral dupla sobre um região elementar) Se D


é uma região elementar em um plano, podemos tomar um retân-
gulo R contendo a região D. Dada f : D →  , onde f é contínua (e,

portanto, limitada), definimos ∫∫D


f ( x, y )dA , a integral de f sobre
o conjunto D, como segue:

Estendemos f a uma função f definida em todo o retângulo R


por:
f ( x, y ) =  f ( x, y ), se ( x, y ) ∈ D .
0, se ( x, y ) ∈ R \ D

Como f é limitada, f também o é. f é também contínua, exceto,


talvez, na fronteira de D. A fronteira de D é formada por uma
união finita de curvas contínuas e nesse caso pode ser mostra-
do que f é integrável sobre R [15] e, portanto, podemos escrever

∫∫ f ( x, y )dA = ∫∫ f ( x, y )dA .
D R

88
Salientamos que a escolha do retângulo R não influencia no valor

de ∫∫
D
f ( x, y )dA , desde que tenhamos D ⊂ R .

Proposição 3.6. (Redução a integrais iteradas – caso 1) Se D é


uma região do tipo 1, então
b 2 ( x )
∫∫D
f ( x, y )dA = ∫
a ∫
1 ( x )
f ( x, y )dydx . (38)

Demonstração. De fato, seja R = [a, b] × [c, d ] um retângulo que


contém a região D, então:
b d
∫∫ f ( x, y )dA = ∫∫ f ( x, y )dA = ∫ ∫ f ( x, y )dydx ,
D R a c

R = [a, b] × [c, d ] onde f = f em D e f = 0 em R\D (ver figura


3.8).

d
R

D
D y=φ2(x)

y=φ1(x)
c

a x b x
Figura 3.8

Como D é do tipo 1, existem funções 1 :[a, b] →  e


2 :[a, b] →  tais que 1 ( x) ≤ 2 ( x) , ∀x ∈ [a, b] , e D pode ser
descrita como D = {( x, y ) ∈  2 ; a ≤ x ≤ b e 1 ( x) ≤ y ≤ 2 ( x)} .

Assim, da definição de f , tem-se que f ( x, y ) = 0 , se y < 1 ( x)


ou y > 2 ( x) , e daí resulta que:
d
f ( x, y )dy = 1 (x ) f ( x, y )dy + 2 (x ) f ( x, y )dy + d f ( x, y ) dy =
∫c ∫ c ∫ 1 (x ) ∫ 2 ( x )

2 ( x )
=∫ f ( x, y )dy = 2 ( x ) f ( x, y )dy .
1 ( x ) ∫ 1 ( x )

89
Portanto, temos que:
b 2 ( x )
∫∫ D
f ( x, y )dA = ∫
a ∫
1 ( x )
f ( x, y )dydx .

∫∫ ( x y + cos( x))dA , onde T é o triângulo


3
Exemplo 3.4. Calcular
T

formado pelos pontos ( x, y ) tais que 0 ≤ x ≤ e 0≤ y ≤ x.
2
Solução. Usando a fórmula (38), temos
x
 x 
 x3 y 2 
∫∫ ( x y + cos( x))dA = ∫ ∫ ( x y + cos( x))dydx = ∫
3 3
 2 + y cos( x)  dx =
2 2

T 0 0 0
 0

 x5   x6 
2
 

=∫  + x cos( x)  dx =   + ∫0 ( x cos( x))dx =


2 2

0
 2   12  0
6  6 
= + ( x sen( x) + cos( x)) 0 =
2
+ −1
(12)(64) 768 2

Proposição 3.7. (Redução a integrais iteradas – caso 2) Suponha


que D seja uma região do tipo 2. Então,

f ( x, y )dA = ∫  ∫ f ( x, y )dx  dy .
d 2 ( y )
∫∫D c  1 ( y ) 
(39)

A demonstração dessa proposição é análoga a da Proposição 6.

Proposição 3.8. (Mudança na ordem de integração) Suponha que


D seja uma região do tipo 3. Então, para o conjunto dos pontos
( x, y ) ∈ D , temos que a ≤ x ≤ b , 1 ( x) ≤ y ≤ 2 ( x) , ou c ≤ y ≤ d ,
1 ( y ) ≤ x ≤ 2 ( y ) , e valem as igualdades
b 2 ( x ) d 2 ( y )
∫∫a 1 ( x )
f ( x, y )dydx = ∫∫ f ( x, y )dA = ∫
D c ∫
1 ( y )
f ( x, y )dxdy .

A demonstração dessa proposição é análoga a da Proposição 6.

Exemplo 3.5. Calcular, fazendo mudança na ordem de integração


1
a (a 2
− x2 ) 2

∫∫
1
(a 2 − y 2 ) 2 dydx .
0 0

Solução. Note que na região de integração x varia entre 0 e a, e


1
para x fixado, temos 0 ≤ y ≤ (a 2 − x 2 ) 2 . Temos também que essa

90
∫∫
1
integral iterada é equivalente à integral dupla (a 2 − y 2 ) 2 dydx ,
D

onde D é o conjunto de pontos ( x, y ) tais que 0 ≤ x ≤ a e


1
0 ≤ y ≤ (a 2 − x 2 ) 2 . Mas esse conjunto representa o primeiro qua-
drante do disco de raio a, logo, D pode ser descrito como um conjun-
1
to de pontos ( x, y ) satisfazendo 0 ≤ y ≤ a e 0 ≤ x ≤ (a 2 − y 2 ) 2 .

Então,

 ( a2 − y2 ) 2 2 
1 1
a ( a2 − x2 ) 2 a
∫∫ (a − y ) dydx = ∫  ∫0
2 2 1 1
2
(a − y 2 ) 2 dx  dy =
0 0 0
 
1
a ( a2 − y2 ) 2
a 
= ∫  x(a − y )  dy = ∫ (a 2 − y 2 )dy =  a 2 y
2 2 1
2

0 0 0

1 a
a ( a2 − y2 ) 2
a  y3  2a 3
= ∫  x(a − y )  dy = ∫
2 2 1
2
(a − y )dy =  a 2 y −  =
2 2
.
0 0 0
 3 0 3

Proposição 3.9. (Teorema do Valor Médio para integrais duplas)


Suponhamos que f : D →  seja contínua e D uma região ele-
mentar. Então, para algum ponto ( x0 , y0 ) ∈ D , temos

∫∫ D
f ( x, y )dA = f ( x0 , y0 ) A( D) ,

onde A( D) denota a área de D.

Demonstração. Vamos dar as idéias gerais desta demonstração.


Como f é contínua em D, f assume um valor máximo M e um valor
mínimo m. Então,
m ≤ f ( x, y ) ≤ M , (40)

para todo ( x, y ) ∈ D . Vamos considerar f ( x1 , y1 ) = m e


f ( x2 , y2 ) = M , para ( x1 , y1 ) e ( x2 , y2 ) ∈ D . Da inequação (40),
temos que

mA( D) = ∫∫ mdA ≤ ∫∫ f ( x, y )dA ≤ ∫∫ MdA = MA( D ) .


D D D

Dividindo por A( D) , obtemos

1
A( D) ∫∫D
m≤ f ( x, y )dA ≤ M . (41)

Como uma função contínua sobre D toma seus valores entre o mí-
1
A( D) ∫∫D
nimo e o máximo, e uma vez que o número f ( x, y )dA ,

91
dado na inequação (41), está entre esses valores, temos que existe
1
A( D) ∫∫D
( x0 , y0 ) ∈ D tal que f ( x0 , y0 ) = f ( x, y )dA , que é a con-
clusão da proposição.

Exercícios
1) Calcular os valores das integrais iteradas:
1 1
∫ ∫ (x
4
a) y + y 2 )dydx .
−1 0

1 1
∫ ∫ ( xye
x+ y
b) )dydx .
0 0

2) Calcular as integrais duplas, com R = [0, 2] × [−1, 0] :


a) ∫∫ R
( x 2 y 2 + x)dydx .

  1 
b) ∫∫ R  y cos  4 x   dydx .
  

3) Calcular o volume do sólido limitado pelos planos xy, xz e yz,


pelos planos x = 1 e y = 1 , e pela superfície z = x 2 + y 4 .

4) Calcular o valor das seguintes integrais iteradas, e descrever


a região D, mostrando seus limites:
1 x2 2 3 x +1
a) ∫∫
0 0
dydx .

b) ∫∫
1 2x
dydx .
1 ex
c) ∫∫
0 1
( x + y )dydx .

5) Usar uma integral dupla para calcular a área de um círculo


de raio r.

6) Seja D a região limitada pelo eixo y e pela parábola x = −4 y 2


+ 3.
∫∫
3
Calcular ( x y )dxdy .
D

7) Calcular o volume do tetraedro limitado pelos planos coorde-


nados z = 0, y = 0, x = 0 e pelo plano x + y + z = 1 .

92
3.1.2 Mudança de variáveis na Integral Dupla
(coordenadas polares)
Suponha que queiramos calcular a integral dupla ∫∫ f ( x, y )dA ,
D
onde D é uma das regiões das figuras abaixo. Em qualquer dos
casos, a descrição de D é complicada em coordenadas retangula-
res, mas se torna simples usando-se coordenadas polares.

y y
x² + y² =1 x² + y² = 4
x² + y² = 1
D
0 D
x
0 x

D = {(r, θ); 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π}. D ={(r, θ); 1 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ π}.

Figura 3.9 Figura 3.10

As coordenadas polares (r , ) de um ponto estão relacionadas com


as coordenadas retangulares ( x, y ) pelas equações r 2 = x 2 + y 2 ,
x = r cos() , y = r sen() . Isto pode ser visualizado na figura 3.11.

y
P (r,θ) = P (x,y)

r
y

θ
x x
Figura 3.11

As regiões das figuras 3.9 e 3.10 são casos particulares do retân-


gulo polar
R = {(r , ); a ≤ r ≤ b,  ≤  ≤ } ,

que é mostrado na figura 3.12.

93
y
θ=β
r =b

r =a R

β
θ=α
α
x

Figura 3.12

Para calcular a integral dupla ∫∫ R


f ( x, y )dA , onde R é o retângulo

polar, dividimos o intervalo [a, b] em m subintervalos [ri −1 , ri ] de


(b − a )
larguras iguais ∆r = , e dividimos o intervalo [ , ] em n
m
(  − )
subintervalos [ j −1 ,  j ] de larguras iguais ∆ = . Então, os
n
círculos r = ri e os raios  =  j dividem o retângulo polar R nos
retângulos polares menores mostrados na figura 3.13.

(ri*, θj*)
y
R ij
θ = θj
θ = θj-1
∆r
∆θ

r=r i
r=r i-1

x
Figura 3.13

O “centro” dos sub-retângulos polares

Rij = {(r , ); ri −1 ≤ r ≤ ri ,  j −1 ≤  ≤  j }

tem coordenadas polares

1 1
ri∗ = (ri −1 + ri ) , ∗j = ( j −1 +  j ) .
2 2

94
Temos o seguinte teorema sobre mudança de variável:

Teorema 3.1. (Mudança para coordenadas polares na integral


dupla) Se f é contínua no retângulo polar R dado por 0 ≤ a ≤ r ≤ b ,
 ≤  ≤  , onde 0 <  −  < 2  (ver fig. 3.12), então
 b
∫∫R
f ( x, y )dA = ∫
 ∫
a
f (r cos(), r sen())rdrd  .

Em outras palavras, podemos converter uma integral dupla de


coordenadas retangulares para coordenadas polares, escrevendo
x = r cos() e y = r sen() , usando os limites de integração ade-
quados para r e  e substituindo dA por rdrd .

Exemplo 3.6. Calcular a integral dupla ∫∫R


(3 x + 4 y 2 )dA , onde R é

a região no semiplano superior limitada pelos círculos x 2 + y 2 = 1

e x2 + y 2 = 4 .

Solução. A região R pode ser descrita como

R = {( x, y ) ∈  2 ; y ≥ 0 e 1 ≤ x 2 + y 2 ≤ 4}

e representa a metade do anel ilustrado na figura 3.10. Em coor-


denadas polares, R é dado por 1 ≤ r ≤ 2 e 0 ≤  ≤  . Portanto, da
equação (42), segue que
 2  2
∫∫R
(3 x + 4 y 2 )dA = ∫
0 ∫
1
(3r cos() + 4r 2 sen 2 ())rdrd  = ∫
0 ∫
1
(3r 2 cos() + 4r

 2  2
∫∫R
(3 x + 4 y 2 )dA = ∫
0 ∫
1
(3r cos() + 4r 2 sen 2 ())rdrd  = ∫
0 ∫
1
(3r 2 cos() + 4r 3 sen 2 ())drd  =

 r =2 
= ∫  r 3 cos() + r 4 sen 2 ()  d  = ∫ (7 cos() + 15sen 2 ())
0 r =1 0

 r =2   15
= ∫  r 3 cos() + r 4 sen 2 ()  d  = ∫ (7 cos() + 15sen 2 ())d  = ∫ 7 cos() + (1 − cos(2))
0 r =1 0 0
 2
 r =2   15 
= ∫  r 3 cos() + r 4 sen 2 ()  d  = ∫ (7 cos() + 15sen 2 ())d  = ∫ 7 cos() + (1 − cos(2)) d  =
0 r =1 0 0
 2 

 15 15  15 
= 7 sen() + − sen(2)  =
 2 4 0 2

95
O que fizemos até aqui pode ser estendido para tipos de regiões
mais complicadas. Temos:

Teorema 3.2. Se f é uma função contínua numa região polar na


forma D = {(r , );  ≤  ≤ , h1 () ≤ r ≤ h2 ()} , com h1 e h2 funções
contínuas, então
 h2 (  )
∫∫D
f ( x, y )dA = ∫
 ∫
h1 (  )
f (r cos(), r sen())rdrd  . (42)

Exemplo 3.7. Usar a integral dupla para determinar a área conti-


da em um laço da rosácea de 4 pétalas com equação r = cos(2) ,
ilustrada na figura 3.14.

y
θ = π/4

θ = −π/4

Figura 3.14

Solução. Do esboço da curva, vemos que um laço da rosácea de


quatro pétalas corresponde à região

   
D = (r , ); - ≤  ≤ , 0 ≤ r ≤ cos(2) 
 4 4 .

Sua área é

cos(2  )
4 1  1 4
 cos(2  ) 

A( D) = ∫∫ dA = ∫ ∫ rdrd  = ∫   r 2  d = ∫ cos 2 (2)d  =


4

−4 2 2 4
D − 4 0
 0 − 


1 4 1 1 4 
= ∫  (1 + cos(4))d  =   + sen(4)  = .
4 4
− 4 4  − 4 8

96
Exercícios
1) Determinar o volume do sólido limitado pelo plano z=0 e
2 2
pelo parabolóide z = 1 − x − y .

2) Determinar o volume do sólido que está abaixo do parabolóide


z = x 2 + y 2, acima do plano xy, e dentro do cilindro x 2 + y 2 = 2 x .

3) Calcular a integral dada utilizando coordenadas polares:


a) ∫∫ R
xdA , onde R é o disco com centro na origem e raio 5.

b) ∫∫ R
ydA , onde R é a região do primeiro quadrante limitada

pelo círculo x 2 + y 2 = 9 e pelas retas y = x e y = 0 .

4) Calcular a integral iterada colocando-a antes na forma de co-


ordenadas polares.
1 1− x 2
∫∫
2
+ y2
a) ex dydx
0 0

a a2 − x2
∫ ∫
3
b) ( x 2 + y 2 ) 2 dxdy
−a 0

5) Calcular o volume do sólido limitado pelos planos z = 0, z = 4


e pelo cilindro x 2 + y 2 = 4 .

6) Calcular o volume do sólido acima do plano z = 0 e abaixo do


cone z 2 = x 2 + y 2 , com z ≤ 2.

7) Calcular o volume do sólido entre os planos z = 0 e z = 2 , e


acima do cone z 2 = x 2 + y 2 .

97
3.1.3 Cálculo de áreas e volumes
Sabemos que, para f ( x, y ) ≥ 0 , a integral dupla sobre a região R
tal que

V = ∫∫ f ( x, y )dA (43)
R

nos dá o volume V do sólido delimitado superiormente pelo gráfi-


co de z = f ( x, y ) , inferiormente pela região R e lateralmente pelo
cilindro cuja base é o contorno de R, isto é:

V = {( x, y, z );( x, y ) ∈ R, 0 ≤ z ≤ f ( x, y )}.

Exemplo 3.8. Calcular o volume do sólido acima do plano xy de-


limitado por z = 4 − 2 x 2 − 2 y 2 .

Solução. A figura 3.15 mostra um esboço do sólido.

2 y
2

x
Figura 3.15

Usando (43), podemos calcular o volume do sólido dado,


onde f ( x, y ) = 4 − 2 x 2 − 2 y 2 e R é a região do plano xy de-
limitada pela circunferência x 2 + y 2 = 2 . Temos então que
V = ∫∫ (4 − 2 x 2 − 2 y 2 )dxdy .
R

Considerando a forma arredondada da região R, va-


mos usar coordenadas polares para calcular essa inte-
gral. Em coordenadas polares essa região é descrita por R:
0 ≤  ≤ 2 , 0 ≤ r ≤ 2. Assim,
2
2 2 2  r2 r4  2
V =∫ ∫ (4 − 2r )rdrd  = ∫
2
4
 2 − 2  d  = ∫ 2d  = 4  unidades de volume.
0 0 0
 4 0 0

98
Se na expressão (43) fizermos f ( x, y ) = 1 , obtemos

∫∫R
dA , (44)

que nos dá a área da região de integração R.

Exemplo 3.9. Calcular a área da região R delimitada por x = y 2 + 1


e por x + y = 3 .

Solução. A região pode ser vista na figura 3.16.

3
2

1 3 5
x

-2

Figura 3.16

Essa região é do tipo 2, isto é, R : −2 ≤ y ≤ 1, 1 + y 2 ≤ x ≤ 3 − y.


Assim,
1 3− y 1
A( R) = ∫ ∫ dxdy = ∫ [3 − y − (1 + y 2 )]dy =
−2 1+ y 2 −2
1
1 y 2 y3
= ∫ [2 − y − y ]dy = 2 y − − 2
=
−2 2 3 −2

 1 1  8  27
=  2 − −  −  −4 − 2 +  = .
 2 3  3 6

Teorema 3.3. (Mudança de variável geral) Sejam R e R´ duas re-


giões elementares do  2 do tipo 1 ou tipo 2 e a transformação
T : R′ → R, (u , v)  ( x(u , v), y (u, v)) . Suponha que T seja injetiva
em R ' e R = T ( R ') , com as funções x = x(u, v) e y = y (u, v) com
derivadas parciais contínuas em R′ . Então, se f : R →  for inte-
grável, temos:

99
∫∫R
f ( x, y )dxdy = ∫∫ f ( x(u, v), y (u, v)) J(u, v) dudv ,
R′

∂x ∂x
∂ ( x, y ) ∂u ∂v
onde J(u , v) = = é o determinante Jacobiano das
∂ (u , v) ∂y ∂y
∂u ∂v
variáveis x e y em relação às variáveis u e v .

Exemplo 3.10. Calcular I = ∫ ( y − x)dxdy onde R é a região do


R
1 7
plano limitada pelas retas y = x + 1 , y = x − 3 , y = − x + e
3 3
1
y = − x+5.
3

Solução. Fazer a mudança de variáveis natural:

1
u = y−x e v= y+ x.
3

Com isso a região R é transformada na região R ' limitada pe-


7 5 1
las retas u = −3 , u = 1 , v = e v = 5 . Então I = ∫7 ∫ u J dudv ,
3 3 −3

onde J(u , v) é o determinante jacobiano.

Calculando J e substituindo em I , tem-se que I = −8 . Obser-


var que é preciso obter-se x = x(u, v) , y = y (u , v) para calcular-se
J(u , v) .

100
Exercícios
1) Calcular a área da região delimitada por y = x3 ; y = − x e
2 20
y= x+ .
3 3

2) Calcular a área da região no primeiro quadrante limitada por


xy = 4 , xy = 8 , xy 3 = 5 , xy 3 = 15 .

3) Calcular o volume do tetraedro delimitado pelos planos xy,


x y z
yz e xz, e pelo plano + + = 1 . Fazer um esboço do gráfico da
2 1 3
função z = f ( x, y ) .

4) Calcular o volume abaixo do plano xy delimitado por


z = x + y2 − 9 .
2

5) Calcular o volume da parte da esfera x 2


+ y 2 + z 2 = 9 , que está
entre os planos z = 0 e z = 2 .

6) Determinar a área da região R delimitada pelas curvas y = x , 3

x + y = 2 e y = 0.

7) Calcular a área da elipse x 2


+ 4 y2 − 4x = 0 .

8) Seja a região R delimitada pelas retas y = x + 1, y = x −1,


y = − x + 2 , y = − x − 2 . Calcular a área da região R usando mudan-
ça de variável.

9) x2 y 2
Calcular a área da elipse 2 + 2 = 1 em termos da área de
a b
um círculo de raio 1.

101
Exercícios gerais de fixação
1) Determinar a região de integração e troque a ordem de inte-
gração:
4 2 1 1− x 2
a) ∫∫
1 x
f ( x, y ) dydx . b) ∫ ∫
−1 − 1− x 2
f ( x, y ) dydx .

2 2− x a 2 ay − y 2
c) ∫ ∫
−6
x2 − 4
4
f ( x, y ) dydx . d) ∫∫
0 0
f ( x, y ) dxdy, a > 0.

2) Usando integral dupla, calcular o volume do:


a) Tetraedro determinado pelos planos coordenados e o plano
x + y + z =1.
1 1− x 1
Resposta: V = ∫ ∫ (1 − x − y ) dydx = .
0 1 6
b) Tetraedro limitado pelos planos coordenados e o plano
x y z
+ + = 1 , a , b, c > 0 .
a b c
bx
a b−  cx cy  abc
Resposta: V = ∫ ∫ a
 c − −  dydx = .
0 1
 a b  6

c) Sólido limitado acima pelo plano z = x e abaixo pelo para-


bolóide z = x 2 + y .


Resposta: .
32
d) Sólido limitado acima pelo plano z = x + y , abaixo pelo pla-
no xy , nos lados pelo cilindro x 2 + y 2 = a 2 e pelos planos
x=a e y =a.

a3
Resposta: .
3
e) Volume da região limitada pela esfera x 2 + y 2 + z 2 = 4a 2 ,
a > 0 , e pelo cilindro ( x − a ) 2 + y 2 = a 2 .

16 3
Resposta: a (3 − 4) .
9

102
3) Calcular as integrais usando coordenadas polares:
a a2 − x2
a) ∫∫
0 0
a 2 − x 2 − y 2 dydx .

 3
Resposta: a .
6
2a 2 ax − x 2 a a2 − y2
b) ∫ ∫
0 0
dydx . c) ∫∫
0 0
( x 2 + y 2 ) dxdy .

a 2 a 4
Resposta: . Resposta: .
2 8

4) Calcular as integrais:
a 2y
a) ∫∫
0 y −a
xy dxdy .

4
11a
Resposta: .
24
a x x
b) ∫∫
0
x
a x + y2
2
dydx .

Mudar a ordem de integração para confirmar o resultado.

5) Calcular a área das regiões do plano limitadas por:


a) lemniscata r 2 = a 2 cos 2 , a > 0 .

Resposta: a 2 .

b) r = asen(2) , a > 0 .
a 2
Resposta: .
8

c) x + y = a , a > 0 , eixos coordenados.

a2
Resposta: .
6

d) Circunferências: ( x − 4) 2 + y 2 = 16 e ( x − 6) 2 + y 2 = 36 . Usar
coordenadas polares.

Resposta: 20 .

103
3.2 Integral Tripla
3.2.1 Definição de Integral Tripla
Vamos agora definir integrais triplas para funções de três variá-
veis f ( x, y, z ) sobre um paralelepípedo retangular (uma caixa) A integral de Riemann,
B = [a, b] × [c, d ] × [ p, q] . Procedendo como no caso das integrais criada por Bernhard
duplas, fazendo uma partição de B considerando agora três lados, Riemann, foi a primeira
definição rigorosa de uma
com cada lado dividido em n partes iguais vamos formar a soma integral de uma função em
tripla de Riemann um intervalo.

n −1 n −1 n −1
S n = ∑∑∑ f (cijk )∆V ,
i =0 j =0 k =0

onde cijk é um ponto do paralelepípedo retangular Bijk obtido pela


partição de B, e ∆V é o volume de Bijk , dado por ∆V = ∆x ⋅ ∆y ⋅ ∆z .
A figura 3.17 mostra a partição de B em subparalelepípedos com
faces paralelas aos planos coordenados.

Bijk

Figura 3.17

Definição 3.4. Seja f uma função limitada de três variáveis, de-


finida sobre uma região B. Se lim S n = S existe e independe da
n →∞

escolha de cijk , então f é dita integrável e a integral tripla de f sobre

B é esse número S que é denotado por

∫∫∫ B
fdV , ∫∫∫
B
f ( x, y, z )dV ou ∫∫∫
B
f ( x, y, z )dxdydz .

104
S abemos que funções contínuas definidas
em um paralelepípedo retangular fechado
B são integráveis. Além disso, funções limita-
das, com descontinuidades na união finita de
gráficos de funções contínuas contidos em B,
são integráveis. As outras propriedades básicas
para integrais duplas continuam valendo para
as integrais triplas (ver [15]).

O método prático para calcular-se uma integral tripla consiste em


expressá-la como uma integral iterada, como segue:

Proposição 3.10. (Redução a integrais iteradas) Seja f ( x, y, z ) uma


função contínua sobre o paralelepípedo B = [a, b] × [c, d ] × [ p, q] .
Então existe a integral tripla de f em B e é dada por qualquer
uma das seguintes integrais iteradas:
q d b
∫∫∫
B
f ( x, y, z )dxdydz = ∫
p ∫ ∫
c a
f ( x, y, z )dxdydz
q b d
∫∫∫
B
f ( x, y, z )dxdydz = ∫
p ∫∫
a c
f ( x, y, z )dydxdz
b q d
∫∫∫
B
f ( x, y, z )dxdydz = ∫
a ∫∫
p c
f ( x, y, z )dydzdx .

As outras três possíveis ordens também são válidas.

Observação 3.1: Um exemplo interessante de que nem sempre a


mudança de ordem de integração é possível encontra-se em (Spie-
gel, M.; Cálculo Avançado, Editora Mc Graw-Hill do Brasil Ltda,
1971, p.244, exercício 17), onde tem-se uma região simples como o
quadrado [0,1]x[0,1], porém com a função do integrando não sendo
contínua em um ponto da região. Uma condição suficiente para a
permuta das integrais é que as três integrais iteradas existam.

 1   1
Exemplo 3.11. Seja B = [0,1]×  − , 0  × 0,  . Calcular
2
 2   3
∫∫∫ ( x + 2 y + 3z ) dxdydz .
B

Solução. De acordo com o princípio de redução a integrais itera-


das, esta integral pode ser calculada como

105
1
1 0 1 1 0  ( x + 2 y + 3 z )3 
∫ ∫ ∫ ( x + 2 y + 3z ) dxdydz = ∫ ∫− 12 
2
 dydz =
3 3

0 − 12 0 0 3  x =0
1 0 1 1
3 1
=∫ ∫ ( x + 2 y + 3 z )3 − (2 y + 3 z )3 dydz = ∫ ( x + 2 y + 3z ) 4 − (2 y + 3z
3

0 −1 2 3 0 24 

1 0 1 1
3 1 4 0
=∫ ∫− 12 3 
 ( x + 2 y + 3 z ) 3
− (2 y + 3 z ) 3
dydz = ∫0 24   ( x + 2 y + 3 z ) 4
− (2 y + 3 z )  1 dz =
3

0  y =− 2

1
1 1
=∫ (3 z + 1) 4 − 2(3 z ) 4 + (3 z − 1) 4  dz = (3 z + 1)5 − 2(3 z )5 + (3 z − 1)5
3

0 24 24 ⋅15
1
1 1 1

=∫ (3 z + 1) 4 − 2(3 z ) 4 + (3 z − 1) 4  dz = (3 z + 1)5 − 2(3 z )5 + (3 z − 1)5  =


3 3

0 24 24 ⋅15 z =0

1 1
= (25 − 2) = .
24 ⋅15 12

Como no caso de duas variáveis, definimos a integral de uma


função f, limitada sobre uma região W, definindo antes uma nova
função f ∗ , igual a f em W e zero em B\W, e então escrevemos

∫∫∫ W
f ( x, y, z )dxdydz = ∫∫∫ f ∗ ( x, y, z )dxdydz ,
B

onde B é um paralelepípedo contendo a região W.

Vamos concentrar nossa atenção em regiões elementares do  3 .


As regiões elementares no espaço tridimensional são definidas
com uma das variáveis variando entre duas funções das variáveis
restantes. O domínio dessas funções são regiões elementares do
tipo 1 ou do tipo 2 no plano  2 .

Assim como fizemos para o cáculo de integrais duplas sobre uma


região do tipo 1 ou do tipo 2 do  2 , faremos para o cálculo de
uma integral tripla de uma função f = f ( x, y, z ) que seja contí-
nua em uma região W do  3 . Argumentos semelhantes aos uti-
lizados para a integral dupla mostram que uma integral tripla
sobre uma região elementar pode ser reescrita como uma integral
iterada em que os limites de integração são funções das outras va-
riáveis. Para isto consideraremos uma região W do  3 dada por,

W = {( x, y, z ) ∈  3 ; 1 ( x, y ) ≤ z ≤ 2 ( x, y ), com ( x, y ) ∈ R} ,

106
onde 1 e 2 são funções contínuas definidas em uma região R
do plano  2 , sendo R uma região do tipo 1 ou do tipo2, isto é,

R = {( x, y ) ∈  2 ; a ≤ x ≤ b, 1 ( x) ≤ y ≤ 2 ( x)}

ou

R = {( x, y ) ∈  2 ; c ≤ y ≤ d , h1 ( y ) ≤ x ≤ h2 ( y )} ,

com 1 , 2 , h1 , h2 funções contínuas. Então valem as seguintes fór-


mulas para as integrais iteradas:

Proposição 3.11. (Integrais iteradas) Suponha que W é uma re-


gião elementar descrita como acima. Temos, então, que
b 2 ( x ) 2 ( x , y )
∫∫∫ W
f ( x, y, z )dxdydz = ∫
a ∫
1 ( x ) ∫ 1 ( x , y )
f ( x, y, z )dzdydx ,

se R for uma região do tipo 1 e


d h2 ( y ) 2 ( x , y )
∫∫∫ W
f ( x, y, z )dxdydz = ∫
c ∫ h1 ( y ) ∫ 1 ( x , y )
f ( x, y, z )dzdxdy ,

se R for uma região do tipo 2.

Exemplo 3.12. Encontrar o volume de uma esfera de raio 1 do  3.

Solução. Descrevemos essa esfera como x 2 + y 2 + z 2 ≤ 1 .

Primeiro, vamos escrever a fórmula de integração iterada, que é


1 1− x 2 1− x 2 − y 2
∫ ∫
−1 − 1− x 2 ∫ − 1− x 2 − y 2
dzdydx .

Fixando x e y e integrando com respeito a z, obtemos

1− x 2
 z 1− x2 − y 2 dydx = 2 1  1− x (1 − x 2 − y 2 ) 12 dy  dx .
2
1
∫ ∫
−1 − 1− x 2 
 − 1− x − y 
2 2
∫−1  ∫− 1− x2 

Mantendo x fixado para integrar em relação a y, vamos fazer


1
a = (1 − x 2 ) 2 . Assim, podemos expressar
a
1
2 a2
∫−a
(a 2 − y 2 ) dy =
2
.

107
Então,
1
1− x 2 2
1 − x2

2 2
(1 − x − y ) dy = 
− 1− x 2
2
e daí, temos
1
1 1− x 2 (1 − x 2 ) 1 1  x3  4
2∫ ∫ (1 − x − y ) dydx = 2 ∫  dx =  ∫ (1 − x )dx =   x − 
2 2 1 2
2
= 
−1 − 1− x 2 −1 2 −1
 3  x =−1 3

4
Logo, o volume dessa esfera é  , como já esperávamos.
3

Exemplo 3.13. Calcular ∫∫∫ ydV


W
onde W é a região limitada pelo

tetraedro formado pelo plano 12 x + 20 y + 15 z = 60 e os planos co-


ordenados.

Solução. Notamos que

 60 − 20 y − 12 x 
W =  ( x, y , z ) : 0 ≤ z ≤ , ( x, y ) ∈ R  ,
 15 

sendo R a região do plano xy dada por

0 ≤ x ≤ 5

R: 3
0 ≤ y ≤ 3 − 5 x
Assim,
3 60 − 20 y −12 x
5 3− x
∫∫∫ ydV = ∫ ∫
W
0 0
5
0 ∫15
ydzdydx = 10 .

Exercícios
1) Calcular o valor de ∫ ∫ ∫ 1

0 0
x 2

x2 + y 2
dzdydx .

2) Efetuar a integração nas regiões indicadas:


a) ∫∫∫ B
x 2 dxdydz , B = [0,1] × [0,1] × [0,1] .

b) ∫∫∫ (2 x + 3 y + z )dxdydz , B = [0, 2] × [−1,1] × [0,1] .


B

108
3) Calcular o volume de:
a) Um sólido limitado por x 2 + 2 y 2 = 2 , z = 0 e x + y + 2 z = 2 .

b) Um sólido limitado pelo parabolóide z = x 2 + y 2 e pelo plano


z = 1.

c) Um sólido limitado pelo cone z 2 = x 2 + y 2 e pelo plano z = 1.

d) Um sólido limitado inferiormente pelo plano z = 1 e supe-


riormente pela esfera x 2 + y 2 + z 2 = 4 .

4) Calcular a integral de ∫ ∫ ∫1

0 0
2 y

0
( y + xz )dzdydx .

3.2.2 Mudança de variáveis (Coordenadas


cilíndricas e esféricas)
Algumas integrais triplas são mais fáceis de serem calculadas se
usarmos coordenadas cilíndricas ou esféricas. Isso acontece se a
região S ⊂  3 que se pretende integrar tem simetria em relação a
um eixo (usar coordenadas cilíndricas) ou a um ponto (usar coor-
denadas esféricas).

Vamos trabalhar primeiro com coordenadas cilíndricas. Suponha


que E seja uma região do tipo 1 cuja projeção D no plano xy tenha
uma representação conveniente em coordenadas polares (ver fi-
gura 3.18).

z
z=µ2(x,y)

y
z=µ1(x,y)

r=h1(θ)
D

x r=h2(θ)

Figura 3.18

109
Em particular, suponha que f seja contínua no conjunto

E = {( x, y, z ) ∈  3 ;( x, y ) ∈ D, 1 ( x, y ) ≤ z ≤ 2 ( x, y )} ,

onde D é dado em coordenadas polares por

D = {(r , );  ≤  ≤ , h1 () ≤ r ≤ h2 ()} .

Sabemos que

f ( x, y, z )dV = ∫∫  ∫ f ( x, y, z )dz dA ,


2 ( x , y )
∫∫∫E D
 1 ( x, y )
 
(45)

e também sabemos calcular integrais duplas em coordenadas po-


lares. Então, combinando as equações (42) e (45), obtemos

 h2 ( ) 2 ( r cos(  ), r sen(  ))
∫∫∫
E
f ( x, y, z )dV = ∫
 ∫ ()∫
h1  1 ( r cos(  ), r sen(  ))
f (r cos(), r sen(), z )rdzdrd  (46)

A fórmula (46) é a fórmula para integração tri-


pla em coordenadas cilíndricas. Ela nos diz
que podemos converter uma integral tripla em
coordenadas cartesianas para coordenadas ci-
líndricas escrevendo x = r cos() , y = r sen() ,
deixando z como está, utilizando limites ade-
quados de integração para z, r e , e trocando
dV por . É recomendável a utilização
dessa fórmula quando E é uma região sólida
cuja descrição é mais fácil em coordenadas
cilíndricas, e especialmente quando a função
envolve expressões do tipo .

O exemplo seguinte dá uma aplicação física da integral tripla.

Exemplo 3.14. Um sólido E está contido no cilindro x 2 + y 2 = 1,


abaixo do plano z = 4 e acima do parabolóide z = 1 − x 2 − y 2 . A
densidade em qualquer ponto é proporcional à distância do pon-
to ao centro do cilindro. Determinar a massa de E.

Solução. Em coordenadas cilíndricas o cilindro é representado por r = 1


e o parabolóide por z = 1 − r 2 , e podemos descrever o sólido E por

E = {(r , , z );0 ≤  ≤ 2 , 0 ≤ r ≤ 1;1 − r 2 ≤ z ≤ 4} .


110
Como a densidade em ( x, y, z ) é proporcional à distância do ponto
ao eixo z, a função densidade é f ( x, y, z ) = k x 2 + y 2 = kr , onde
k é a constante de proporcionalidade. A massa de E é
m = ∫∫∫ f ( x, y, z )dV
E
assim:
2 1 4 2 1
m = ∫∫∫ k x 2 + y 2 dV = ∫ ∫∫ 2
(kr )rdzdrd  = ∫ ∫ kr [4 − (1 − r
2 2
)]drd 
E 0 0 1− r 0 0

2 1 4 2 1
m = ∫∫∫ k x 2 + y 2 dV = ∫ ∫∫ 2
(kr )rdzdrd  = ∫ ∫ kr [4 − (1 − r
2 2
)]drd  =
E 0 0 1− r 0 0
1
2  1 r 5  12 k
= k ∫ d  ∫ (3r + r )dr = 2 k  r 3 +  =
2 4
0 0
 5 0 5
1
2 1  r 5  12 k
= k ∫ d  ∫ (3r 2 + r 4 )dr = 2 k  r 3 +  =
0 0
 5 0 5 .

Vamos trabalhar agora com coordenadas esféricas. As relações


entre coordenadas esféricas e retangulares, de um ponto P, são
dadas pelas seguintes equações (ver figura 3.19):
z
x =  sen( ) cos(), y =  sen( ) sen() e z =  cos( ). (47)
P
Nesse sistema de coordenadas, o equivalente à caixa
φ retangular é uma cunha esférica
ρ ∆Vijk ≈ (∆)( i ∆)( i sen( k )∆) = i2 sen( k )∆∆∆ ,
y
onde a ≥ 0 ,  −  ≤ 2  e d − c ≤  . Dividiremos E em
θ
pequenas cunhas esféricas Eijk por meio de esferas
x igualmente espaçadas  = i , semiplanos  =  j e se-
micones  = k . Eijk , assim, é aproximadamente uma
Figura 3.19
caixa retangular com dimensões ∆ , i ∆ (arco de circunferên-
cia de raio i e ângulo ∆ ) e i sen k ∆ (arco de circunferência
de raio i sen k e ângulo ∆ ). Logo, uma aproximação do volu-
me Eijk é dada por

∆Vijk ≈ (∆)( i ∆)( i sen( k )∆) = i2 sen( k )∆∆∆ .

De fato, com a ajuda do Teorema do Valor Médio pode ser mostra-


do que o valor exato do volume Eijk é dado por

∆Vijk =  )∆∆∆
i2 sen(  k ,

onde ( 
i , j , 
) é um ponto interior de E . Fazendo mais alguns
k ijk

111
desenvolvimentos, chegamos à seguinte fórmula para integração
tripla em coordenadas esféricas:
d  b
∫∫∫e
f ( x, y, z )dV = ∫
c ∫ ∫
 a
f (  sen( ) cos(),  sen( ) sen(),  cos( )) 2 sen( ) d d d  (48)

onde E é uma cunha esférica dada por

E = {( , , ); a ≤  ≤ b,  ≤  ≤ , c ≤  ≤ d } .

A equação (48) nos diz que podemos converter uma integral tri-
pla dada em coordenadas retangulares em uma integral tripla
dada em coordenadas esféricas, escrevendo x =  sen( ) cos() ,
y =  sen( ) sen() , z =  cos( ) , utilizando limites de integra-
ção apropriados e substituindo dV por 2 sen( )d d d  , onde
2 sen( ) é o módulo do determinante Jacobiano da transforma-
ção, ou seja, J = 2 sen( ) .

Podemos esperar que essa equação inclua regiões esféricas mais


gerais, como

E = {( , , );  ≤  ≤ , c ≤  ≤ d , g1 (, ) ≤  ≤ g 2 (, )} .

Nesse caso, a equação fica a mesma que em (48), exceto os limites


de integração para  que agora serão g1 (, ) e g 2 (, ) .

N ormalmente, o uso de coordenadas esfé-


ricas é recomendado em integrais triplas
quando as superfícies de fronteira da região de
integração têm formas cônicas ou esféricas.

3
(x 2
+ y2 + z2 ) dV , onde B é a esfera unitária
2

Exemplo 3.15. Calcular ∫∫∫ B


e

B = {( x, y, z ) ∈  3 ; x 2 + y 2 + z 2 ≤ 1} .

Solução. Como a fronteira de B é uma superfície esférica, utiliza-


remos coordenadas esféricas:

B = {( , , );0 ≤  ≤ 1, 0 ≤  ≤ 2 , 0 ≤  ≤ } .

Além disso, coordenadas esféricas são convenientes, pois


x 2 + y 2 + z 2 = 2 . Então, de (48), temos

112
3 3
(x 2
+ y2 + z2 ) 2  2 1 ( )
2 2  2 1
∫∫∫
B
e dV = ∫
0 ∫ ∫
0 0
e 2 sen( )d d d  = ∫ sen( )d ∫ d  ∫
0 0 0

3 3
(x 2
+ y2 + z2 ) dV =  2  1 e( ) 2 sen( )d d d  =  sen( )d  2  d  1 2 e  d  =
2 2 2

∫∫∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫
3
e
B 0 0 0 0 0 0

1
1 3  4
= [− cos( ) ]0 (2 )  e   =

(e − 1) .
 3 0 3

Exemplo 3.16. Calcular ∫∫∫


S
zdV , onde S é a região do semi espa-

ço z ≥ 0 , formada pela intersecção da esfera x 2 + y 2 + z 2 ≤ 16 com


o interior do cone z = x 2 + y 2 .

Solução. Uma visualização da região de integração aparece na fi-


gura 3.20:
z

Figura 3.20

A projeção dessa região sobre o plano yz aparece a seguir:

y=z
y2 + z2 =16 ϕ0
4

-2 2 2 2 y

Figura 3.21

113

Observe que 0 = . Assim, em coordenadas esféricas essa região
4
é representada por
0 ≤  ≤ 4

 
S : 0 ≤  ≤ .
 4
0 ≤  ≤ 2 

Logo, usando a fórmula de mudança de variável em coordenadas


esféricas, temos

2  4
∫∫∫ zdv = ∫ ∫ ∫
4
 cos( ) 2 sen( ) d d d  =
0 0 0
S
 4
 4 sen 2 ( ) 4 4
= 2  ∫ sen( ) cos( ) d ∫
4 3
 d  = 2 = 32 .
0 0 2 0
4 0

Exercícios
1) Utilizar coordenadas esféricas para determinar o volume de
um sólido que está acima do cone z = x 2 + y 2 e abaixo da esfera
x2 + y 2 + z 2 = 4 .

2) Fazer o esboço do sólido cujo volume é dado pela integral e


calcule essa integral:
3  3
∫∫ ∫ rdzd dr ;
2
a)
1 0 r

 2 sec(  )
∫ ∫ ∫ 2 sen( )d d d  .
3
b)
0 0 0

3) Determinar a massa da esfera B dada por x + y 2 + z 2 ≤ a 2 , se 2

a sua densidade em qualquer ponto for proporcional à distância


desse ponto ao eixo z.

4) Utilizar coordenadas cilíndricas para calcular ∫∫∫ E


ydV , onde

E é o sólido que está entre os cilindros x 2 + y 2 = 1 e x 2 + y 2 = 4 ,


acima do plano xy e abaixo do plano z = x + 2 .

114
3.2.3 Cálculo de volumes
Já vínhamos, nos exemplos, exercícios e problemas anteriores,
solicitando que fossem calculados volumes através da integral
tripla. Basta, portanto, fazermos apenas alguns comentários para
formalizarmos esse procedimento.

Vamos para isto considerar o caso em que f ( x, y, z ) = 1 , para to-


dos os pontos de E. Neste caso, a integral tripla sobre E represen-
ta o volume de E , e escrevemos

V ( E ) = ∫∫∫ dV .
E

Como ilustração, citamos o exemplo 3.11 onde utiliza-se a integral


tripla para achar o volume de uma esfera do  3 de raio 1.

Mudança de variável na integral tripla– caso geral:


Sejam R e R ' duas regiões elementares do  3 e T uma transfor-
mação bijetora contínua,

T : R'→ R
(u , v, w)  ( x(u, v, w), y (u, v, w), z (u, v, w)),

tal que as funções x = x(u, v, w) , y = y (u , v, w) e z = z (u , v, w) te-


nham derivadas parciais contínuas em R ' . Suponha que o jaco-
biano J dessa transformação T (mudança de variável) seja dife-
rente de zero em R ' , isto é,
∂x ∂x ∂x
∂u ∂v ∂w
∂ ( x, y, z ) ∂y ∂y ∂y
J = J(u , v, w) = = ≠0,
∂ (u , v, w) ∂u ∂v ∂w
∂z ∂z ∂z
∂u ∂v ∂w
para todo (u , v, w) ∈ R ' .

Nessas condições vale o seguinte teorema:

Teorema 3.4. (Mudança de Variável) Sejam R e R′ duas regiões


elementares do  3 , como acima. Então, se f é contínua e limita-
da em R′ , temos

115
∫∫∫
R
f ( x, y, z )dxdydz = ∫∫∫ f ( x(u , v, w), y (u, v, w), z (u, v, w)) J(u, v, w) dudvdw
R′

onde J(u , v, w) é o módulo do determinante Jacobiano de x, y, z


em relação a u, v e w.

Exemplo 3.17. Calcular o volume da região limitada pela esfera


x 2 + y 2 + z 2 = 4a 2 e o cilindro ( x − a ) 2 + y 2 = a 2 .

Solução:
y
y
r = 2a cos(θ)

r
a a 2a x
2a x

Figura 3.22 Figura 3.23 - Intersecção com plano xy

V = 2 ∫∫∫ dv , onde V + é a parte do sólido acima do plano xy .


V+
Descrição de V + em coordenadas cilíndricas:

  
− 2 ≤  ≤ 2

V + : 0 ≤ r ≤ 2a cos()
 2 2
0 ≤ z ≤ 4 a − r

Logo,
 2 a cos(  ) 4 a2 −r 2
V = 2∫ ∫ ∫ r dzdrd  =
2

− 2 0 0

2 a cos(  )
 2 a cos(  ) 
1
= 4∫ ∫ r 4a 2 − r 2 drd  = 4 ∫ (4a 2 − r 2 )3 d =
2 2

0 0 0 3 0
2 a cos(  ) 3

1 
8a
= 4∫ d  = 4∫
3 3
(4a 2 − r 2 ) 2 [1 − (1 − cos 2 ()) 2 ] d  =
2 2

0 3 0
0 3
32 3 2 32 
a ∫ 1 − sen 3 ()  d  = a 3 ( − ∫ sen 3 () d ) =

=
2

3 0 3 2 0

116

32   cos3 () 2
= a3 ( −  − cos()  ) =
3 2  3 0
16 3 32  1  16 2 32 3 16a 3
= a  + a 3  − 1 = a 3  − a = [3 − 4].
3 3 3  3 3 3 9

Exemplo 3.18. Calcular o volume da região limitada pelas esferas



concêntricas  = a e  = b , 0 < a < b , e pelo cone  =  , 0 <  < .
2
As equações dessas superfícies estão em coordenadas esféricas.

Solução.
 b a3 
3
2  b
V =∫
0 ∫0 ∫a ∫0  3 3  sen() d d  =
2
 sen( ) d  d  d  = 2  −

 b3 − a 3  b3 − a 3
= 2  [− cos( ) ] = 2  [1 − cos( ) ].
 3  0
3

Exercícios
1) Calcular ∫∫∫ f ( x, y, z)dxdydz , sendo R a região do  3
limita-
R

da pelas superfícies
 xy = 4
 xy = 6

 xy 3 = 3
R: 3
 xy = 5
 xz = 2

 xz = 4

e contida no primeiro octante.

Sugestão: Fazer xy = u , xy 3 = v , xz = w .
∂ ( x, y , z )
Não esquecer de calcular o jacobiano J = , depois de re-
∂ (u , v, w)
solver o sistema acima para x, y, z em termos de u , v, w .

2) Calcular o volume do elipsóide ax


2
y2 z2
2
+ + = 1 ; a , b, c > 0 .
b2 c2
117
x y z
Sugestão: Fazer a mudança de variáveis u = , v= e w= .
a b c
4
Notar, neste caso que J = abc . A resposta é V = abc .
3

3) Usar a integral tripla para determinar o volume do sólido dado:


a) O sólido limitado pelo cilindro elíptico 4 x 2 + z 2 = 4 e os pla-
nos y = 0 e y = z + 2 .

b) O sólido limitado pelo cilindro parabólico x = y 2 e os planos


z = 0 e x + z = 1.

4) Utilizar coordenadas cilíndricas para determinar o volume da


região E limitada pelos parabolóides z = x 2 + y 2 e z = 36 − 3 x 2 − 3 y 2.

5) Utilizar coordenadas esféricas para determinar o volume do


sólido que está no interior da esfera x 2 + y 2 + z 2 = 4 , acima do pla-
no xy e abaixo do cone z = x 2 + y 2 .

Exercícios gerais de fixação


1) Usar coordenadas cilíndricas para calcular:
a) Volume do sólido limitado pelo parabolóide z = 1 − x 2 − y 2 e
o plano xy .

Resposta: .
2
b) Volume do buraco cilíndrico de raio a , a > 0 , furado através
do centro da esfera sólida de raio 2a .
4
Resposta: (8 − 3 3 ) a 3 .
3

2) Usar coordenadas esféricas para calcular:


a) Volume do “toro”  = 2a sen( ) .

Resposta: 2  2 a 3 .

b) Volume de uma cunha retirada de uma esfera sólida de raio


a , a > 0 , formada por dois planos que se interceptam so-

118
bre um diâmetro, sendo  o ângulo entre esses dois planos,
0< < .
2
Resposta: a 3 .
3
c) Volume do sólido limitado pela esfera x 2 + y 2 + z 2 = a 2 e pelo
cone z =  cotg( ) .
2
Resposta: a 3 (1 − cos( )) .
3
d) Volume da “maçã” cuja equação em coordenadas esféricas é
 = 2 − cos( ) .
z

a y
ρ = 2 − 2cos(ϕ)
x
Figura 3.24

2  2 − cos(  )
Resposta: V = ∫ ∫ ∫ 2 sen( ) d d d  =
0 0 0

 (2 − cos( ))3 27
= 2∫ sen( ) d  = .
0 3 2

Resumo
Neste capítulo, vimos os conceitos de integral dupla e tripla para
uma função real de várias variáveis, o Teorema de Fubini para a
permutação da ordem de integração e os teoremas de mudança
de variável no caso geral, com destaque para as coordenadas ci-
líndricas e esféricas e o Jacobiano dessas transformações.

119
4 Funções Vetoriais
4 Funções Vetoriais

Neste capitulo estuda-se as funções vetoriais, suas pro-


priedades de limite, continuidade, derivação e integração.
Caracterizamos subconjuntos do espaço tridimensional,
chamados de curvas em certo sentido, e aos quais possam
ser aplicados os métodos do cálculo diferencial. Desenvol-
vemos a geometria de superfícies observadas como gráficos
de funções ou como curvas de nível. São também introdu-
zidos os conceitos de derivada direcional, gradiente, planos
tangentes e áreas de superfícies. Finalmente ingressamos
ao fantástico mundo das equações diferencias lineares.

4.1 Situações Reais com Funções Vetoriais


Um dos feitos científicos mais importantes do século XVII foi o
de Isaac Newton (1642-1727), que estabeleceu a conexão entre as
leis empíricas de Kepler para o movimento planetário e a lei do
inverso do quadrado da distância para a gravitação universal.

Podemos reparar que o movimento de uma partícula no plano


é também um caso de aplicação real onde é possível aplicar as
idéias matemáticas sobre funções vetoriais e com isto demonstrar
famosos teoremas como propostos por Newton. Portanto, existem
aplicações na geometria e na física para as funções vetoriais.

4.1.1 Definição e exemplos


Nesta seção introduzimos algumas noções de geometria básica e
métodos de cálculo para funções vetoriais.

Intuitivamente, quando nos indagamos sobre uma curva, a pri-


meira situação que imaginamos é a de um desenho de uma cur-
va no papel, na louça ou em alguma superfície plana e que pode
ser uma reta, uma circunferência ou até mesmo uma curva do
cosseno.

123
A qui pensaremos sobre uma curva em ter-
mos matemáticos e isto nos leva a pensar
sobre uma curva como um conjunto de valores
de uma função que aplica um intervalo de nú-
meros reais no plano, espaço ou num espaço
de dimensões maiores do que três. Chamamos
a dita aplicação como função vetorial e deno-
tamos por f. A imagem desta função se denota
por Imf = C e corresponde à curva que obser-
vamos no papel ou qualquer outro meio de re-
presentação.

Muitas vezes utilizamos a variável t como variável independente


imaginando ser o tempo, de forma que f (t ) é a posição no tempo
t de uma partícula em movimento que descreve a curva quando
a variável t muda. Também dizemos que f parametriza C .

Definimos a reta no espaço  3 que passa pelo ponto P0 e é parale-


la ao vetor v como o conjunto {Po + tv : t ∈ } . Nesta determinação
de uma reta, para cada numero real t corresponde o ponto Po + tv
de  3 . A dita correspondência se chama de função vetorial de
uma variável real. Se denotarmos a esta função por f , então a
sua regra de correspondência é

f (t ) = Po + tv = ( x0 + tv1 , y0 + tv2 , z0 + tv3 )

onde P0 = ( x0 , y0 , z0 ) e o vetor v = (v1 , v2 , v'3 ) .

O domínio de f é o conjunto de todos os números reais e a ima-


Neste capítulo
gem de f é a reta que passa pelo ponto P0 e é paralela ao vetor v . estudaremos funções deste
Qualquer função que possui um conjunto de números reais como tipo e consideraremos para
estas funções os conceitos
domínio e um conjunto de vetores (ou pontos) como sua imagem
de limite, continuidade,
se chama de função vetorial de uma variável real. derivada e integral.

Se a função se denota por f , então seu domínio e a sua imagem


será denotada por D f e Im f respectivamente. Além disso, f (t ) de-
nota o elemento de Im f que corresponde ao elemento t de D f ; o
símbolo f (t ) é chamado de valor de f em t . Em geral uma função
se determina fornecendo seu domínio e uma regra de correspon-
dência; isto é, uma regra para determinar f (t ) para cada t ∈ D f .

124
Como exemplo temos a função f com domínio  e a regra

f (t ) = (1,5, 2) + t (2, 2,1) = (1 + 2t ,5 + 2t , 2 + t ), t ∈ D f = .

Ela descreve uma função vetorial de variável real. A imagem des-


ta função é uma reta no  3 e a função é uma correspondência ou
transformação de pontos sobre a reta real  em pontos sobre a
reta que passa por (1,5, 2) e é paralela a (2, 2,1) .

C
f

0 y

a b x

Figura 4.1

Escrevendo f (t ) em termos de suas componentes temos que

f (t ) = ( f1 (t ), f 2 (t ), f3 (t ))

onde f1 (t ) = 1 + 2t , f1 (t ) = 5 + 2t e f1 (t ) = 2 + t . As funções f1 , f2 e f3
são chamadas de funções componentes de f ; estas funções são
funções reais de uma variável real.

Em geral, se a imagem de f é um conjunto de vetores em  n ,


podemos escrever,
f = ( f1 , f 2 , , f n ) ,

onde f k representa a k -ésima componente da função vetorial f .


A função real f k com domínio D f se chama a k -ésima compo-
nente da função vetorial f . Desta forma, uma função vetorial f
com imagem em  n define n funções reais f1 , f 2 , , f n todas as
quais possuem D f como domínio.

125
4.2 Funções Vetoriais de uma Variável
Considere a seguinte função, f : I ⊆  →  n , cujo domínio é I
e imagem um subconjunto de  n , definida pela regra de corres-
pondência,

f (t ) = ( f1 (t ),..., f n (t )) t ∈ I.

A função anterior é conhecida como função vetorial de uma vari-


ável real e cada uma das funções

f i : I ⊂  → , (i = 1,..., n)

são chamadas de funções coordenadas de f . Com essas defini-


ções previas poderemos escrever sem cair em confusões a função
vetorial da seguinte maneira,

f = ( f1 , f 2 ,..., f n ) .

C oncluindo, uma função vetorial em


uma aplicação
função vetorial no plano se
; é uma
e é uma fun-
é

ção vetorial no espaço se . A coleção C de


pontos quando é chamado de uma
curva e e são seus pontos extremos.
A função f parametriza a curva C. Também
dizemos que descreve C quando t varia no
intervalo.

Exemplo 4.1. Encontre o gráfico da imagem de f se ela possui a


seguinte lei de correspondência f (t ) = (cosh(t ), senh(t )) .

Solução. Temos que ( x, y ) ∈ Im f se e somente se


x = cosh(t ), y = senh(t) para todo t ∈ I ⊆  .

Assim ( x, y ) ∈ Im f ⇔ x 2 − y 2 = cosh 2 (t ) − senh 2 (t ) = 1 . Logo o


gráfico da Im f está sobre uma hipérbole de equação x 2 − y 2 = 1 .
Precisamente ( x, y ) está no ramo direito da hipérbole, pois
x = cosh(t ) > 0, t ∈  . Veja a figura:

126
y
f

0 0 x

Figura 4.2

Exemplo 4.2. Esboce o gráfico da imagem das seguintes funções:

a) f (t ) = (t , t , t 2 )

b) g (t ) = (cos(t ), sen(t ), t ) ∀t >0

c) h(t ) = (cos(t ), sen(t ), 1)

Solução. Resolveremos item a item, como segue:

a) O ponto ( x, y, z ) ∈ Im f se e somente se x = t , y = t , z = t 2 logo


x = t e z = x 2 . Isso indica que o gráfico da imagem de f é uma
curva que resulta da interseção do plano y = x com o cilindro
parabólico z = x 2 . Ver a figura

z
z = x2
f

f (t) =(t,t,t2)

0 � 0 y

y =x
x

Figura 4.3

b) O ponto ( x, y, z ) ∈ Im g ⇔ x = cos(t ), y = sen(t ), z = t , ∀ t > 0 ,


logo a curva (t ) = (cos(t ), sen(t), 0) percorre uma circunfe-
rência de raio um ( x 2 + y 2 = sen 2 (t ) + cos 2 (t ) = 1) no plano xy.
Portanto se, z = t a curva g (t ) ascende a uma taxa constante
sobre um cilindro circular reto x 2 + y 2 = 1 . Ver figura 4.4.

127
z

g
g (t)

0 �+ y

x
Figura 4.4

O gráfico desta função vetorial g (t ) é determinado pela hélice


circular reta.

c) Por um procedimento equivalente temos que se ( x, y, z ) ∈ Im h


então x = cos(t ), y = sen(t ), z = 1 com t ∈  . Logo o gráfico
da imagem da função h é a curva que esta na interseção do
cilindro x 2 + y 2 = cos 2 (t ) + sen 2 (t ) = 1 e o plano z = 1 . Ver a
figura
z

h
1 h (t)

0 �+ y

x
Figura 4.5

4.2.1 Propriedades das Funções Vetoriais


As operações usuais podem ser utilizadas para combinar funções
vetoriais ou uma função vetorial com uma função de variável
real.

128
Definição 4.1. Sejam f , g :  →  n funções com D f e Dg seus do-
mínios, respectivamente, e seja  :  →  função real com domí-
nio D . Definimos as novas funções f + g , f − g , f e f .g por
intermédio das seguintes regras de correspondência.

i) ( f ± g )(t ) = f (t ) ± g (t ), D f ± g = D f ∩ Dg .

ii) ( f )(t ) = (t ) f (t ) = (t )( f1 (t ),..., f n (t )), Df = D ∩ D f .


n
iii) ( f ⋅ g )( f ) = f (t ) ⋅ g (t ) = ∑ fi (t ) gi (t ), D f ⋅ g = D f ∩ Dg .
i =1

iv) Se n = 3 isto é, f , g :  →  3 , a função produto vetorial


f × g está dado por:

( f × g )(t ) = f (t ) × g (t ), D f × g = D f ∩ Dg .

v) A função composta de  :  →  com f :  →  n é dada


pela regra de correspondência,

( f  )(t ) = f ( (t )) = ( f1 ( (t )),..., f n ( (t ))).

 t2 t3 
Exemplo 4.3. Sejam f (t ) = (t , t , t 2 ) e g (t ) =  t , ,  funções veto-
riais. Encontre  4 9

a) ( f ⋅ g )(1)

b) ( f × g )(2)

Solução. Será resolvido item a item.

a) Avaliando as funções f e g em t = 1 temos

 1 1
f (1) = (1,1,1) e g (1) = 1, , .
 4 9
Logo calculando o produto obtemos

 1 1 1 1 49
( f ⋅ g )(1) = f (1) ⋅ g (1) = (1,1,1) ⋅ 1, ,  = 1× 1 + × 1 + × 1 = .
 4 9 4 9 36

b) Avaliando individualmente cada função obtemos

 8
f (2) = (2, 2, 4) e g (2) =  2, 1, .
 9

129
Construindo o produto vetorial, se obtem

i j k
 20 56 
f × g (2) = f (2) × g (2) = 2 2 4 =  − , , −2 
 9 9 
8
2 1
9

Exercícios
1) Esboce o gráfico da imagem das seguintes funções:
a) f (t ) = (cos(t ), sen(t )) .

b) f (t ) = (3cosh(t ), 5senh(t )) .

 1− t 2t 
c) f (t ) =  2
, 2 
.
 1+ t 1+ t 
d) f (t ) = (7t , t 2 ) .

e) f (t ) = (t , t , sen(t )), t ∈ [0, 4 ] .

 t2 t3 
f) f (t ) =  t , ,  .
 4 9
g) f (t ) = (a cos(t ), b sen(t ), bt ), a > 0 .

 3t 3t 2 
h) f (t ) =  3
, 3 
.
 1+ t 1+ t 
i) f (t ) = (t 2 , t + 1) .

2) Encontrar o ponto de interseção da reta


f (t ) = (9 + 3t , − 10 − 4t , 7 + 2t ) com o plano YZ .

3) Encontre uma reprsentação paramétrica das seguintes curvas:


a) x 2 + y 2 = 9, z = 0 .

b) x 2 + y 2 − 6 x − 4 y + 12 = 0, z = 0 .

c) y = 3 x 2 , z = 0 .

d) ( x − 1) 2 + ( y − 2) 2 = 4, z = 0 .

130
4) Considere as seguintes funções definidas em  ,
e g (t ) = (sen(t ), − cos(t ), 0) . Calcular as seguin-
tes operações:

a) f (a + b) .

b) g (t − 3) .

c) f (sen(t )) × g (t 2 + 1) .

5) Definir uma função do intervalo [a, b] sobre o segmento de


reta de extremos P0 e P1 em  n .

6) Defina uma função do intervalo [−2, 2] em  n cuja ima-


gem seja o triângulo de vértices P1 = (3, 2 − 1) , P2 = (2, 0,1) e
P3 = (1, −2,1) .

7) Considere as seguintes funções definidas em I ⊂  ,

e . Calcular as se-
guintes operações e seus domínios de definição.

a) f ± g .

b) f ⋅ g .

c) f × g .

d) 4 f − 2 g .

8) Considere as seguintes funções definidas em I ⊂  ,


1
f (t ) = (t + 4, sen(t ), a 2t ) , g (t ) = (ln(t ), t , t g(t )) e (t ) = t 2 + cos(4t ) .
4
Calcular as seguintes operações e seus domínios de definição.

a) f + g .

b) f ⋅ g .

c) f × g .

d) 2 f × g.

e) f ⋅ g .

131
4.2.2. Limite de uma Função Vetorial
Seja f : I ⊆  →  n função vetorial dada por f (t ) = ( f1 (t ), , f n (t )).
A definição de limite de uma função vetorial de variável real é
semelhante ao caso de uma função real.

Definição 4.2. Seja f : I ⊂  →  n função. Seja to um ponto de


acumulação do intervalo I . Diz-se que o limite da função f
quando t se aproxima de to é o vetor C ∈  n se, para cada  > 0 ,
existir um número  > 0 tal que

f (t ) − C <  sempre que t − to < , t ∈ I .

Se isso ocorre denota-se


lim f (t ) = C.
t → t0

Uma proposição interessante que relaciona o limite de uma função


a valores reais com uma função a valores vetoriais é a seguinte

Proposição 4.1. O vetor C = (c1 ,..., cn ) ∈  n é o limite de f quando


t → t0 , se e somente se

lim fi (t ) = ci para cada i = 1, 2,  , n .


t → t0
Isto é,

lim f (t ) = C ⇔ lim fi (t ) = ci ∀ i = 1,..., n .


t → t0 t → t0

Exemplo 4.4. Encontre o lim f (t ) (se existir) das seguintes fun-


t → t0
ções nos pontos dados:
 1− t +1 t 
a) f (t ) =  , , 1 , t0 = 0.
 1− t t +1 

 et − e ln(t ) 
b) f (t ) =  , , 2, t0 = 1.
 t −1 1− t 

 1 − cos(sen(t )) cos(t ) − cos(sen(t )) 1 


c) f (t ) =  2
, 2
, , t0 = 0.
 sen (sen(t )) t t+

Solução. Cada função componente possui limite em to , portanto


existem os limites de cada função vetorial:

132
 1− t +1 t  L ' Hospital
a) lim f (t ) =  lim
 , lim , 1 = (0, 0, 1) .
t →0

t →0 1− t t →0 t + 1

 1 
 et − e ln(t )  L ' hospital  et 
b) lim f (t ) =  lim , lim , 2  =  lim , lim t , 2  = (e, -1, 2)
t →1
 t →1 t − 1 t →1 1 − t  
t →1 1 t →1 −1

 
 1 
 t
e −e ln(t )  L ' hospital  e t
t 
lim f (t ) =  lim , lim , 2 =  lim , lim , 2  = (e, -1, 2) .
t →1 t →1 t − 1 t →1 1 − t t →1 1 t →1 −1
   
 

 1 − cos(sen(t )) cos(t ) − cos(sen(t )) 1   1 1


c) lim f (t ) =  lim 2
, lim 2
,  =  , 0, 
t →0
 t →0 sen (sen(t )) t →0 t  2 
 1 − cos(sen(t )) cos(t ) − cos(sen(t )) 1   1 1
(t ) =  lim 2
, lim 2
,  =  , 0, 
 t →0 sen (sen(t )) t →0 t  2 

4.2.3 Propriedades dos Limites


Sejam f , g :  →  n funções vetoriais tais que

lim f (t ) = B e lim g (t ) = A e seja  :  →  função real tal que


t → t0 t → t0

lim (t ) =  . Então,


t → t0

i) .

ii) .

iii) .

iv) ,

somente quando n = 3.

Exemplo 4.5. Para as seguintes funções vetoriais

 sen(t ) 1   1 + cos(t ) 1 
f (t ) =  , cos(t ),  e g (t ) =  , , sen(t ) + t 
 t t+  sen(t ) cos(t ) 

Encontre:

a) lim [ f (t ) ⋅ g (t )] b) lim [ f (t ) × g (t )]
t → t0 =  t → t0 = 

133
Solução. Como o limite de cada função componente existe a ima-
gem de cada função e é um subconjunto de  3 . Então é possível
calcular os limites com ajuda das propriedades acima citadas.
L ' hospital
 1  -sen(t )  3
a) lim f (t ) g (t ) = lim f (t ) lim g (t )
t → t → t → =  0, − 1,

  lim
2    t →  cos(t )
, − 1,   =
 2
L ' hospital
 1  -sen(t )  3
lim f (t ) g (t ) = lim f (t ) lim g (t )
t → t → t → =  0, − 1,

  lim
2   t →  cos(t )
, − 1,   = .
 2
 1 
b) lim[ f (t ) × g (t )] = lim f (t )  × lim g (t )  =  0, −1,  × (0, −1, )
t →  t →   t →   2 

 1 
f (t ) × g (t )] = lim f (t )  × lim g (t )  =  0, −1,  × (0, −1, )
 t →   t →   2 
ik j
1  1 − 22 
= 0 −1 = , 0, 0  .
2  2 
0 −1 

Exercícios
1) Determinar o limite das seguintes funções vetoriais, no ponto
to indicado, sempre que exista:

a) .

 3t 
b) f (t ) =  ln(t ), 1 + t 2 ,  , to = 2 .
 4 − t2 

 t 3 + 5t 
c) f (t ) =  2
, 2 , 5t 2  , to = 3 .
 4+t t 
 sen(7t ) sen(5t ) tan(3t ) 
d) f (t ) =  , ,  , to = 0 .
 t sen(3t ) sen(2t ) 
 t t 2 −1 2 
e) f (t ) =  e , , t + 1  , to = 1 .
 t −1 

f) .

134
 t 
2) Considere a seguinte função 
f (t ) =  t +   , t + 4, 7  . Encon-
  3 
tre seus limites laterais no ponto t0 = 6 . (Utilizar o mesmo con-
ceito de limites laterais na reta para cada componente da função
f e o símbolo  representa a função maior inteiro definida em
cálculo elementar).

3) Considere a seguinte função


 t +1 2t − 4 + 8 − t 
f (t ) =  , 5 − 4t , .
 5 + 2t  64 sen(t − 6) − t 2 
 
Encontre seus limites laterais no ponto to = 8 , onde a função sinal
é definida por

 1 se x > 0

s e n( x) =  0 se x = 0
−1 se x < 0

4.2.4 Continuidade de uma Função Vetorial
Definição 4.3. Uma função vetorial f : I ⊆  →  n é contínua em
t0 ∈ I se para cada  > 0 existe um número  > 0 tal que se

t − to < , t ∈ I ⇒ f (t ) − f (t0 ) <  .

Se t0 é um ponto de acumulação de I , então a definição anterior


é equivalente a: A função f é continua no ponto t0 ∈ I se,

lim f (t ) = f (t0 ) .
t → t0

Observação 4.1. Observe que se I é um intervalo então t0 ∈ I é


sempre um ponto de acumulação de I .

Proposição 4.2. Uma função vetorial f : I ⊆  →  n é contínua


em t0 ∈ I se e somente se as funções coordenadas fi : I ⊆  → 
são contínuas em t0 , ∀ i = 1, 2,3,..., n .

4.2.5 Propriedades de Funções Vetoriais Contínuas


Sejam f , g : I ⊆  →  n funções vetoriais contínuas em t0 ∈ I e 
uma constante real. Então

135
i) f ± g é contínua em t0.

ii) f é contínua em t0.

iii) f ⋅ g é contínua em t0.

iv) f × g é contínua em t0 , é válido quando n = 3 .

Observação 4.2. Uma função vetorial f :  →  n é contínua no


conjunto I ⊂  , se a função f , restringida ao intervalo I é con-
tínua em cada ponto de I .

Exemplo 4.6. Verificar se as seguintes funções são contínuas em


cada ponto to dado.

 sen(t ) ln(t + 1) cos(t ) − 1 


a) f (t ) =  , , , t0 = 0.
 t 1− t t 
b) g (t ) = (t ,1 − t , t ), t0 = 1.

 et − 1 sen(t ) 
c) h(t ) =  , ,1 , t0 = 0.
 t t 

Solução. Será resolvido cada item separadamente.

sen(t )
a) A função coordenada f1 (t ) = , não é contínua em t0 = 0 ,
t
pois f1 (0) não está definida, logo a função vetorial f não é
contínua, isto é, não é satisfeita a relação,

lim fi (t ) = fi (t0 ), i = 1, 2,3,..., n.


t → t0

b) A função g (t ) é contínua em t0 = 1 , pois


f1 (t ) = t , f 2 (t ) = 1 − t , f3 (t ) = t são contínuas em t0 = 1 .

et − 1
c) A função h1 (t ) = , não está definida em t0 = 0 logo h(t )
t
não é contínua em t0 = 0 , embora o limite, lim h(t ) = (1, 1, 1) ,
t →0
exista.

136
Exercícios
1) Estudar a continuidade das seguintes funções vetoriais nos
intervalos que se indicam

a) .

 2arcsen(t )    sen(2t ) 
 , t sen   ,  se, t ∈]0,1[
  3t  t  t 

b) f (t ) =  .

 2 
 , 0, 2  se, t ∈ [1, 2]
 3 

 t 
 sen (t ), 1 − t , 2t  se, t ∈ [0,1[
 
c) f (t ) =  .
 (−1, 0,3) se, t ∈ [1, 2]



2) Estudar a continuidade das seguintes funções no ponto t0


dado:

a) .

 4 arcsen(t ) 1
 4t + 5, , sen(t )sen    se, t ≠ 0
 t  t 

b) f (t ) =  .
 (5, 0, 0) se, t = 0



3) Encontre os pontos (se existirem) onde as seguintes funções


não são contínuas:

a) f (t ) = (et , t , senh(t )), D f = [0, 4] .

 sen(t ) 
 t ,  se, t ∈]0, ] .
b) f (t ) =  t 
 (0, 1) se, t=0

137
c) .

 (−t , − 2t , t ) se, t ∈ [−2, 0]


 1
d) f (t ) =  3 2
t 2
.
 t (t − 2) 3
, 2
, t  se, t ∈ ]0, 2]
 1+ t 

  1 2
t +3 
  (t + 3) 3
(t − 2) 3
, 2
, 2t + 6  se, t ∈] − ∞, −3]
  2 + t 
 2  .
t + 2t − 3
e) f (t ) =  2 , (t − 1) ln(t + 4), 5 (t − 1)(t + 3) 4  se, t ∈] − 3,1]
 t + 1 
 t
(3t − 3, e − e, sen( t )) se, t ∈]1, ∞[



4) Mostre que se f : I ⊂  →  n e′ uma função vetorial contí-


nua em I então f também é contínua em I .

4.2.6 Derivada de uma Função Vetorial


Seja f : I ⊆  →  n função vetorial definida pela seguinte relação
f (t ) = ( f1 (t ),..., f n (t )) , onde I é um intervalo aberto.

Definição 4.4. Dizemos que a função f é derivável em t0 ∈ I se o


seguinte limite,
f (t0 + h) − f (t0 )
lim
h →0 h
existe como um elemento de  n . Neste caso o denotamos por:

d f (t0 ) f (t0 + h) − f (t0 )


f '(t0 ) = = lim .
dt h →0 h

Observação 4.3. O vetor f '(t0 ) de  n é chamado de “vetor de


velocidade” da curva  dada pela imagem de f no ponto t0 ∈ I .
A norma f '(t0 ) é chamada de “velocidade escalar” de f no
ponto t0 .

Para uma função descrever o movimento em linha reta, o vetor


velocidade deve ser constante. Em geral o vetor velocidade é a
função vetorial v = f '(t ) que depende da variável t . A derivada

138
dv
do vetor velocidade, a = = f ''(t ) é chamada de aceleração da
dt
curva. Se a curva esta dada por ( f1 (t ), f 2 (t ), f3 (t )) então a acelera-
ção no tempo t , a (t ) é dada por,
  
a (t ) = f1 ''(t )i + f 2 ''(t ) j + f3 ''(t )k

Observação 4.4. O vetor f '(t0 ) ≠ 0 determina uma reta tangente à


curva  no ponto f (t0 ) , isto é, a reta Lt = { f (t0 ) + t f '(t0 ) : t ∈ }.

y
γ

f ’(t0) Lt

f (t0)

0 x
Figura 4.6

Definição 4.5. A derivada em qualquer ponto t ∈ I ⊆  da função


f : I ⊆  →  n , é uma função vetorial f '(t ) dada por:

f (t + h) − f (t )
f '(t ) = lim
h →0 h
com domínio, o conjunto de números reais t ∈ I , para os quais o
limite anterior existe.

Uma função f : I →  n é dita ser diferenciável em I se ela for


derivável em cada ponto do intervalo I .

Observação 4.5. Seja a função f (t ) = ( f1 (t ),..., f n (t )) . Então sua


derivada é dada por f '(t ) = ( f1 '(t ),..., f n '(t )) onde seu domínio é
n
dado por D f ' =  D fi ' .
i =1

Observação 4.6. Para se calcular f '(t ) pode se aplicar as proprie-


dades de derivação nas componentes de f .

Exemplo 4.7. Seja f :  →  2 função vetorial tal que


f (t ) = (3cos(t ), 3sen(t )) . Encontre o vetor velocidade e a veloci-
dade escalar.

139
Solução. O gráfico da imagem da curva f é um círculo de raio 3,
isto é, o círculo x 2 + y 2 = 9 . Ver figura abaixo. Para todo t ∈  o
vetor velocidade de f é f '(t ) = (−3sen(t ), 3cos(t )) . A velocidade
escalar pela definição é dada por

f '(t ) = 9sen 2 (t ) + 9 cos 2 (t ) = 9 = 3 .

y
f ´(t)

f (t)

-3 0 3 x

Figura 4.7

Exemplo 4.8. Encontre a derivada f '(t ) das seguintes funções ve-


toriais

 2 
a) f (t ) =  t 3 , (t + 1) 2 , sen(t ) 
 
b) f (t ) = (cos(t ), sen(t ), t )

Solução. Aplicando as propriedades de derivação em cada compo-


nente obtemos a seguinte resposta para

 2 −1 
a) f '(t ) =  t 3 , 2(t + 1), cos(t )  .
3 
De maneira análoga

b) f '(t ) = (−sen(t ), cos(t ), 1) .

Exemplo 4.9. Encontre o vetor tangente e a reta tangente à curva


f (t ) = (4 cos(t ), 3sen(t )) para todo t ∈ [0, 2  ], nos pontos (0,3) e
 3 2
 2 2, .
 2 

140
Solução. Derivando obtemos f '(t ) = (−4sen(t ), 3cos(t )) ; por
  
outro lado as imagens dos pontos e são f   = (0,3) e
2 4 2
  3 2
f   =  2 2,  . Logo no ponto (0, 3) : VT = f '( 2 ) = (−4, 0)
4  2 
é o “vetor tangente”. A reta tangente é dada por

   
Lt =  f   + t f '   : t ∈   = {(0,3) + t (−4, 0): t ∈ } = {(−4t , 3) : t ∈ }.
 2 2 

 3 2
No ponto  2 2,  o vetor tangente e a reta tangente são
 2 
dados por
  3 2
VT = f '   =  −2 2, 
4  2 

 3 2  3 2 
Lt =  2 2,  + t  −2 2,  : t ∈   .
 2   2  
Ver figuras abaixo:

y y
Lt
Vt
Vt (0,3) Lt 2√2, 3√2
2

(-4,0) 0 x 0 x

Figura 4.8

4.2.7 Propriedades das Derivadas


Sejam f , g : I ⊆  →  n funções vetoriais diferenciáveis e
 : I ⊆  →  função real diferenciável. Então as funções
f ± g , f ⋅ g , f e f × g (n = 3) são diferenciáveis e as regras de
derivação são:

i) .

ii) .

141
iii) .

iv) .

v) se .

Proposição 4.3. Seja f : I ⊆  →  n função vetorial diferenciável


tal que f (t ) = c (constante). Então o vetor velocidade f '(t ) é per-
pendicular ao vetor posição f (t ) para todo t no intervalo I .

Demonstração. Pela definição de norma temos que


2
f (t ) = f (t ) ⋅ f (t ) derivando a ambos lados utlizando a hipótese
que f (t ) = c temos

d
0= [ f (t ) ⋅ f (t )] = f '(t ) ⋅ f (t ) + f (t ) ⋅ f '(t ) = 2 f (t ) ⋅ f '(t ) ;
dt
assim f (t ) ⋅ f '(t ) = 0 , isto é, f '(t ) é perpendicular a f (t ) .

�3
z
f ’ (t)

f (t) Im(f (t))

0 � 0 y

x
Figura 4.9

Exemplo 4.10. Seja f :  →  2 função tal que


f (t ) = (cos(t 2 ), sen(t 2 )) . Mostre que os vetores f ' e f são per-
pendiculares.

Solução. A derivada de f é dada por


f '(t ) = (−2t sen (t 2 ), 2t cos(t 2 )) . Logo, somente precisamos de
2
f (t ) = cos 2 (t 2 ) + sen 2 (t 2 ) = 1 . Assim resulta que f (t ) = 1 = c .

142
Portanto f '(t ) = (−2t sen (t 2 ), 2 t cos(t 2 )) é perpendicular a
f (t ) pela observação anterior.

Para verificar a afirmação, calculamos o produto interno,

f '(t ) f (t ) = (−2t sen(t 2 ), 2t cos(t 2 ))(cos(t 2 ), sen (t 2 ))


.
= −2t sen(t 2 ) cos(t 2 ) + 2t cos(t 2 )sen(t 2 ) = 0

Assim, eles são perpendiculares, pois seu produto interno é nulo.

Observação 4.7. Seja f : I ⊆  →  n função diferenciável. Quan-


do f ' é contínua, dizemos que f é uma curva de classe C1 . Em
geral se a função f (k ) : I ⊆  →  n (derivada de ordem k de f ), é
contínua dizemos que f é uma curva de classe C k .

Exemplo 4.11. Para qualquer número k ≥ 0 , considere a função


vetorial f :  →  2 definida por . Mostre que f
k
é de classe C .

Solução. Exercício, fazer para o caso particular k = 3 ≥ 0 .

Teorema 4.1. (Regra da Cadeia) Seja  : I ⊆  →  função dife-


renciável em I e f : J ⊆  →  n função vetorial diferenciável tal
que ( I ) ⊆ J onde ( I ) = {( I ) : t ∈ I } . Então f   é diferenci-
ável sobre I e
d
[ f  (t )] = f '( (t ))  '(t ), ∀ t ∈ I .
dt

Demonstração. Pela observação anterior e propriedades das de-


rivadas

d d d d 
[ f  ] = [ f ( (t ))] =  f1 ( (t )),..., f n ( (t )) 
dt dt  dt dt 
= ( f1 '( (t ))  '(t ),..., f n '( (t ))  '(t ))

onde a conclusão anterior é resultado da regra da cadeia do cálcu-


lo elementar. Logo

d
[ f  (t )] = f '( (t ))  '(t ) .
dt

143
Exemplo 4.12. Considerar as seguintes funções vetoriais

 1 3
f (t ) =  t , t 2 , t , t ∈]0, +∞ [
 3 

g (t ) = (cos(t ), sen(t ), t ), t ∈ R

Calcular as seguintes expressões:


a) f '(0) + g   .
2
d
b) f (t ) .
dt

d
c) [ f ( (t ))] .
dt

Solução. Calculando a derivada em cada uma das componentes e


avaliando em cada valor fornecido, obtemos,


a) f '(0) + g '   = (1, 0, 0) + (−1, 0,1) = (0, 0,1) .
2
1
t + 2t 3 + t 5
d f (t ) ⋅ f '(t ) 3 t 4 + 6t 2 + 3
b) f (t ) = = = , ∀ t > 0.
dt f (t ) 1 4 2
t + 9t + 9
t2 + t4 + t6
9
d
c) [ f ( (t ))] = f '( (t ))  '(t ) = (1, 2e − t , e −2 t )(− e − t ) = − e − t (1, 2e − t , e −2 t )
dt
)  '(t ) = (1, 2e − t , e −2 t )(− e − t ) = − e − t (1, 2e − t , e −2 t ) .

A aceleração e a Lei de Newton


O movimento em linha reta pode ser estudado por meio da lei de
Newton. Obtemos resultados interessantes ao formularmos a lei
de Newton para o movimento num plano. Seja F (t ) a força total
atuando sobre uma partícula no instante t ; a força age com certa
intensidade numa certa direção, de maneira que F é uma função
vetorial. A lei de Newton diz que

F = (mv) '

144
onde m é a massa da partícula e v sua velocidade. Agora, a força
F e a velocidade v são funções vetoriais. Em muitas situações a
massa m pode ser considerada independente de t , logo a lei se
simplifica para F = m v ' . A derivada v ' que ocorre na fórmula
será chamada de aceleração, representada por a;

a = v ' = f '' .

Assim quando a massa é constante, a lei de Newton toma a forma


simples,
F = m a.
a
Geralmente aplicamos esta última fórmula para deduzir a acele-
ração e portanto o vetor posição f a partir de forças conhecidas.
Pode também, naturalmente, ser usada em sentido contrário.

Exemplo 4.13. Seja a função vetorial f (t ) = f (0) + t C , com C um


vetor constante. Calcular a sua velocidade e aceleração respecti-
vamente.

Solução. Calculando a derivada temos f '(t ) = C e sua aceleração


f ''(t ) = 0 . Observamos que não há aceleração e, portanto nenhu-
ma força. Na ausência de qualquer força ou qualquer mudança de
massa, a partícula se moverá sobre uma linha reta com velocidade
constante.

Exemplo 4.14. Consider a função vetorial f (t ) = (r cos(t ), r sen(t )) .


Calcular a velocidade e acelaração, respectivamente.

Solução. Aplicando a derivada de uma função vetorial obtemos o


vetor velocidade,
v(t ) = f '(t ) = (−r sen(t ), r cos(t )) .

A velocidade do movimento é o comprimento do vetor velocidade

v(t ) = r 2 cos 2 (t ) + r 2sen 2 (t ) = r ,

que é uma constante. Mesmo se o caminho é percorrido a uma


velocidade constante, o vetor velocidade não é constante; sua di-
reção está sempre mudando. Repare que neste caso, v foi obtido a

partir de f por uma rotação de um ângulo de radianos.
2

145
Com relação a aceleração encontramos que f ''(t ) = − f (t ) , de ma-
neira que a aceleração é diretamente oposta ao vetor posição. O
vetor posição aponta para fora do círculo, enquanto que o vetor
aceleração está dirigido para o centro do círculo; esta aceleração é
chamada aceleração centrípeta.

Observação 4.8. Uma curva que é formada por um número finito


de curvas suaves ou lisas colocadas juntas de maneira contínua é
chamada de suave ou lisa por partes.

Quando f '(t ) ≠ 0 , a derivada modela a velocidade de uma partí-


cula conforme esta se move ao longo da curva espacial definida
por f (t ) . A derivada aponta na direção e sentido do movimento
e dá a taxa de variação da posição em relação ao tempo. Para uma
curva suave, a velocidade nunca é zero; a partícula não pára ou
inverte o sentido do movimento.

Observação 4.9. Se considerarmos f como vetor posição de uma


partícula que se move ao longo de uma curva suave ou lisa no
espaço, então em qualquer instante t as definições a seguir se
aplicam,

df
• v(t ) = , a derivada de posição, é o vetor de velocidade da
dt
partícula e é tangente à curva.

• v(t ) , a norma de v , é o módulo da velocidade, ou velocida-


de escalar, da partícula.

dv d 2 f
• a (t ) = = 2 , a derivada da velocidade e derivada segun-
dt dt
da da posição, é o vetor aceleração da partícula.
v
• , um vetor unitário, é o versor do movimento.
v

Com essas definições podemos escrever a velocidade de uma par-


tícula em movimento como o produto do módulo de sua veloci-
dade e seu versor,
 v 
v = v   .
 v 

146
Exercícios
1) Considere as seguintes funções f (t ) = (t , t , t 2 ) ,
g (t ) = (cos(t ), sen(t ), t ) e (t ) = e − t . Encontre:

a) a) g ′′(t ) . b) f ′′(t ) .

b) c) ( f ⋅ g ) ' . d) [ f × g ]' .

c) e) [ f ]' . f) [ f ( (t ))]' .

d) g) . h) [ g (t 2 )]' .

e) i) . j) ( f (t ) + g (t )) ' .

2) Considere o arco C da hélice descrita pela função


f (t ) = (cos(t ), sen(t ), t ), t ∈ [0,  / 2] .

Mostre que em nenhum ponto de C , a derivada f ′(t ) é paralela à



corda de f (0) a f   .
2

3) Seja (t ) o vetor posição de uma partícula em movimento,


onde t ≥ 0 é o tempo. Descrever a forma geométrica da trajetória
e encontrar o vetor velocidade, aceleração e velocidade escalar do
movimento de:

a) (t ) = (4t , − 4t , 2t ) .

b) (t ) = (1 + t 3 , 2t 3 , 2 − t 3 ) .

c) (t ) = (10 cos(2 t ),10sen(2 t )), t = .
4
d) (t ) = (2 + 3cos(2t ), 4 − 3sen(2t )) .

e) (t ) = (cos(t 2 ), sen(t 2 ), 2sen(3t )) .

4) Para as seguintes curvas dadas, encontre as equações das


retas tangentes horizontais calculando os valores de t para os
quais y′ = y′(t ) = 0 e obtenha equações das retas tangentes ver-
ticais calculando os valores de t para os quais x′ = x′(t ) = 0 onde
f (t ) = ( x(t ), y (t ))

147
a) f (t ) = (t 2 + t , t 2 − t )

b) f (t ) = (4t 2 − 4t , 1 − 4t 2 )

 3at 3at 2 
c) f (t ) =  3
, 3 
 1+ t 1+ t 

d) f (t ) = (4sen(t ), 7 cos(t )), t =
2
e) f (t ) = (t + 1, −t 2 ,1 − 2t ), t = 0

5) Encontrar f ′(t ) e f ′′(t ) das seguintes funções vetoriais espe-


cificando seus domínios

a) f (t ) = (arcsen(t ), ln(1 + 5t ), t 2 )

b) f (t ) = (e5t , ln(1 + t ), arctan(t + 1))

 1 − t 2 2t 
c) f (t ) =  2
, 2 
 1+ t 1+ t 
d) f (t ) = (cos(t ), sen 2 (t ), sen(2t ), tan(t ))

e) f (t ) = (arcsen(t ), arccos(t ))

f) f (t ) = (cosh(t ), senh(t ), e −5t )

 1 
g) f (t ) =  ln(1 + t 2 ), 2
, arctan(t ) 
 1+ t 
h) f (t ) = (| t | t , | t |, 1 − ln(4 + t 2 ))

6) Seja  a função vetorial dada por;


 2t 1 − t 2 
(t ) =  2
, 2
, 1 .
 1+ t 1+ t 
Mostre que o ângulo formado por (t ) e ′(t ) é constante, isto é
independente do parâmetro t .

7) Se (t ) = (4t, −16t ) 2


descreve a queda de uma bola, calcular
e desenhar (t ) , v = ′(t ) e a = v′(t ) para os tempos t = 0 , t = 1
e t = 2.

8) Se (t ) = (e , sen(t )), t = s


t 2
. Calcular
d  d  dt
,
dt ds
e
ds
.

148
9) No tempo t uma partícula tem o vetor posição:
(t ) = (t + cos(t ), t + sen(t )) .

a) Mostre que o vetor a possui uma magnitude constante, com


a =  ''(t ) .
b) Esboçar o gráfico correspondente a t em [0, 4 ] .

10) Calcular a derivada, se existir, de cada uma das seguintes


funções vetoriais em t0 = 0 ,
 3  1  t 
 t sen   , 1/2 
se, t ≠ 0
a) f (t ) =   t  1+ e  .
 (0, 0) se, t = 0

 2  1  2
 t sen   , 1 + t  se, t ≠ 0
b) g (t ) =  t   .
 (0,1) se, t = 0

 2t 2  1  
 e , t sen    se, t ≠ 0
c) h(t ) =   t  .
 (1, 0) se, t = 0

11) Seja f :  →  n uma função vetorial, tal que existem as de-


rivadas f ′ , f ′′ e f ′′′ . Mostre que:

d d
a) ( f , f ′, f ′′) = ( f ′, f ′′, f ′′′) b) f  f ′ = f f
dt dt

12) Seja f :[a, b] ⊂  →  tal que f = k onde k e′ constante.


3

Mostre que f e f ′ são perpendiculares.

149
4.3 Integração de Funções Vetoriais
Definição 4.6. Uma função vetorial f :[a, b] ⊆  →  n é integrá-
vel à Riemann em [a, b] se e somente se suas funções coordena-
das fi :[a, b] ⊆  →  são integráveis à Riemann em [a, b] e nesse
caso define-se

b
A integral ∫a
f existe sempre que cada uma de suas integrais
b
∫ a
f i com i = 1, n existe. Em particular se f é contínua em [a, b]
b
então ∫a
f existe.

Exemplo 4.15. Seja f :[0,1] ⊆  →  2 a função vetorial definida


1
por f (t ) = (t , t 2 ) . Encontre ∫ f (t )dt .
0

Solução. Aplicando a definição e integrando cada função compo-


nente

4.3.1 Propriedades de Integração de Funções Vetoriais


Sejam f , g :[a, b] ⊆  →  n funções vetoriais integráveis então a
função f (t ) ± g (t ), ,  ∈  é integrável em [a, b] e
b b b

∫ [ f (t ) ± g (t )]dt = ∫ f (t )dt ±  ∫ g (t )dt .


a a a

Seja f :[a, b] ⊆  →  n função vetorial integrável e


C = (c1 , c2 ,..., cn ) ∈  um vetor constante, então,
n

b b
∫a
C ⋅ f (t )dt = C ⋅ ∫ f (t )dt
a

e
b b

a
[C × f (t )]dt = [C × ∫ f (t )dt ] em  3 .
a

Se f :[a, b] →  n e f são integráveis em [a, b] , então,

b b

a
f (t )dt ≤ ∫
a
f (t ) dt .

150
Teorema 4.2 (1º Teorema Fundamental do Cálculo). Seja
f :[a, b] ⊆  →  n função vetorial contínua em [a, b] então a
função F definida por:
t
F (t ) = ∫ f (  )d  , a≤t ≤b
a

é derivável e F '(t ) = f (t ) ∀ t ∈ [a, b] .

Demonstração. A prova se obtem pela aplicação do primeiro teo-


rema fundamental do cálculo a cada uma de suas componentes.

Teorema 4.3 (2º Teorema Fundamental do Cálculo). Seja


f :[a, b] ⊆  →  n função vetorial com derivada integrável.
Então
b
∫ f '(t )dt = f (b) − f (a) .
a

Demonstração. De maneira análoga a prova é uma aplição a cada


componente do segundo teorema fundamental do cálculo, e dei-
xamos para o leitor.

Exemplo 4.16. Seja a função vetorial contínua,

 t 
f (t ) =  2
, 1 + t 2 , 4t 3  ∀t ∈ [4t 3 ] ⊆  .
 1+ t 
4
Calcular ∫2
f (t )dt .

Solução. Pela definição, integrando cada função componente,


obtem-se
4 4 4 4

∫ f (t )dt = (∫ f (t )dt , ∫ f (t )dt , ∫ f (t )dt )


2 2
1
2
2
2
3

 Usar substituição
t=tg 
4 t 4 4 
= ∫ dt , ∫ 1 + t ² dt , ∫ 4t ³dt 
 2 1+ t² 2 2 
 
 
 1  17  1   4 + 17   
=  ln   ,  4 17 − 2 5 + ln  
  , 240 
 .
 2  5  2   2 + 17   

Utilizamos para a integral de f 2 a substituição trigonométrica



t = tg () quando 0 ≤  < e t ≥ 0 .
2
151
Como o Torema fundamental do cálculo pode ser extendido para
funções vetoriais, a equação diferencial y ' = f pode ser resolvida
na forma convencional.

Teorema 4.4. Se a função f é contínua em um intervalo I , se


t0 ∈ I e se y0 é um vetor qualquer, então existe uma e somente
uma solução em I da equação diferencial,

y'= f

que satisfaz y (t0 ) = y0 . A solução é


t
y (t ) = y0 + ∫ f (  ) d  .
t0

Observação 4.10. Seja y (t ) o vetor posição de uma partícula P


de massa m , a velocidade de P é v(t ) = y '(t ) e a (t ) = v '(t ) a acele-
ração de P no instante t . Se a força que atua sobre P no instante
t é F (t ) , então, pela segunda lei de Newton, y deve satisfazer a
equação
ma = m y '' = F .

Portanto a trajetória de uma partícula P está determinada por


essa equação diferencial junto com outras condições iniciais.

Exemplo 4.17. Supondo a fricção e força gravitacional constantes,


forneça uma descrição do movimento de uma partícula de massa
m cuja velociadde inicial é v0 e cuja posição inicial é y0 .

Solução. Seja a força constante dada por m g . Então temos que


a aceleração é
a = v' = g.

Logo podemos integrar de 0 ate t e obter,


t
v(t ) = v0 + ∫ g d  = v0 + gt
0

e portanto teremos que o deslocamento é dado por,


t gt 2
y (t ) = y0 + ∫ (v0 + g  ) d  = y0 + v0t + .
0 2

152
Exercícios
1) Calcular a seguintes integrais:
1  /2
∫ (t , t , et ) dt . ∫
1/2
a) b) (sen(t ), cos(t ), t g(t )) dt .
0 0

1
∫ (te , t e , te
t 2 t −t
c) ) dt .
0

2) Calcular A ⋅ B se A = (2, −4,1) e


1
B = ∫ (te 2t , t cosh(2t ), 2te −2t ) dt .
0

3) Uma função vetorial f satisfaz a equação tf ′(t ) = f (t ) + tA


para t ≥ 0 , onde A é um vetor fixo. Encontre f ′′(1) e f (3) em
função de A sempre que f (1) = 2 A .

4) Encontre uma função vetorial f , contínua no intervalo ]0, ∞[


tal que:
1 x
x ∫0
f ( x) = xe x A + f (t ) dt , x > 0 ,

sendo A um vetor fixo não nulo.

5) Considerar uma função vetorial f , não nula e com derivada


contínua f ′(t ) . Supor que f é paralela à sua derivada, f ' . Mos-
trar que existe um vetor constante A e uma função real positiva
 tal que; f (t ) = (t ) A, t ∈  .

6) Se f , g :[a, b] →  n são funções vetoriais de classe C1 , então


mostre que
b b b
∫a
f (t ) ⋅ g ′(t ) dt = [ f (t ) ⋅ g (t )] a − ∫ f ′(t ) ⋅ g (t ) dt .
a

7) Dados o vetor v ≠ 0 e uma função vetorial f tal que


f (t ) ⋅ v = t , ∀ t ∈  e tal que o ângulo formado por f ′(t ) e v é
constante. Mostre que f ′′(t ) e′ perpendicular a f ′(t ) .

153
4.4 Parametrização de Curvas
De maneira simplificada a geometria de curvas e superfícies é
estudada pela geometria diferencial clássica que estuda as pro-
priedades locais de curvas e superfícies. Em geral, tal estudo é
iniciado numa disciplina de cálculo diferencial. Entendemos por
propriedade local aquela que depende do comportamento da cur-
va ou superfície na vizinhança de um ponto. Os métodos apro-
priados para o estudo de ditas propriedades são os métodos do
cálculo diferencial. Por esta razão, as curvas e superfícies conside-
radas em geometria diferencial serão definidas por funções que
podem ser diferenciáveis várias vezes.

Provavelmente, a parte mais importante e representativa da geo-


metria diferenciável clássica é o estudo de superfícies. Entretanto
algumas propriedades locais de curvas aparecem de uma manei-
ra natural no estudo das superfícies e dedicaremos esta primeira
seção a um tratamento esquemático das curvas.

4.4.1 Curvas Parametrizadas


Nosso objetivo principal é caracterizar alguns subconjuntos de
 3 (chamados de curvas) que são unidimensionais (em certo sen-
tido) e aos quais possam ser aplicados os métodos do cálculo di-
ferenciável.

Uma maneira natural de definir tais subconjuntos é por meio de


funções diferenciáveis. Dizemos que uma função vetorial de vari-
ável real é diferenciável ou suave (smooth) se ela possui, em todos
os pontos derivadas de todas as ordens (que são automaticamente
contínuas).

Definição 4.7. Uma curva diferenciável parametrizada é uma


aplicação diferenciável
 : I ⊆  → n .

A imagem ( I ) ⊂  n é chamada traço de  . Devemos ter cuida-


do ao referirmos ou ao distinguir uma “curva parametrizada”,
que é uma aplicação, de seu traço, o qual é um subconjunto de  3 .
Tal conjunto é denotado por ( I ) = C com I =]a, b[ . A variável t é
chamada de “parâmetro” da curva.

154
Exemplo 4.18. A curva parametrizada diferenciável dada por
(t ) = (a cos(t ), b sen(t ), bt ) , t ∈  , tem traço uma hélice de passo
2 b sobre o cilindro x 2 + y 2 = a 2 . O parâmetro t mede o ângulo
que faz o eixo x com a reta de origem zero que passa pela proje-
ção do ponto (t ) sobre o plano xy . Ver a figura abaixo:

f ´(t)

0
y

x t

Figura 4.10

Exemplo 4.19. Seja  uma aplicação de  em  2 tal que


(t ) = (t 3 , t 2 ) , t ∈  . Trata-se de uma curva diferenciável cujo
traço é dado pelas equações paramétricas

x = t3, y = t2 .
3
Logo fazendo y = t temos a equação cartesiana dada por x = y 2.

0 x
Figura 4.11

Observamos que:  '(0) = (0, 0) , isto é, o vetor velocidade se anula


para t = 0 .

Exemplo 4.20. Seja (t ) = (t 3 − 4t , t 2 − 4) , t ∈  , a curva parame-


trizada diferenciável cujo traço é dado na seguinte figura,

155
y α (t) = (3t2 - 4, 2t)
α (0) = (0, - 4)
α

0 0 x

-4

Figura 4.12

Observamos que (2) = (−2) = (0, 0) , isto é, a aplicação ou fun-


ção  não é biunívoca. Essa curva apresenta uma auto-interseção
no ponto (0, 0) . Escrevendo x = t 3 − 4t = t (t 2 − 4) e y = t 2 − 4 obte-
D izemos que uma
função é biunívoca
quando ela é ao mesmo
mos x = y + 4 y ou x 2 = y 3 + 4 y 2 que é a equação cartesiana des- tempo intetiva (injetora) e
sobrejetiva (sobrejetora).
sa curva.

Exemplo 4.21. A função não é uma curva para-


metrizada diferenciável, pois t não é diferenciável para t = 0 . O
gráfico dessa curva aparece na seguinte figura:

0 0 x

Figura 4.13

 t 
Notamos que  '(0) não existe pois  '(t ) = 1,  , t ≠ 0 . Escre-
 t 
vendo x = t e y = t obtemos que y = x é a equação cartesiana

dessa curva em  2 .

Exemplo 4.22. As duas curvas parametrizadas distintas,

(t ) = (cos(t ), sen(t ))

156
e (t ) = (cos(2t ), sen(2t ) ), t ∈]0 − , 2  + [,  > 0 ,

tem o mesmo traço, o círculo x 2 + y 2 = 1 . Observa-se que o vetor


velocidade da segunda curva tem o dobro da amplitude do vetor
velocidade da primeira curva. Ver a seguinte figura

α
β`(t)

0 0 x
α`(t)

Figura 4.14

Exemplo 4.23. Considerar a curva parametrizada  :  →  2


dada por
(t , t ) se t≤0
(t ) =  2 .
(t , t ) se t > 0
Encontre seu traço.

Solução. Notamos que essa curva tem equação cartesiana dada por

 x, se x ≤ 0
C : y = f ( x) =  2 .
 x , se x > 0
Veja a seguinte figura,

α
y = x2

0 0 x

y =x

Figura 4.15

157
Exemplo 4.24. Considere uma curva cujo traço é formado pela
interseção da esfera x 2 + y 2 + z 2 = R 2 com o plano z = a onde
0 < a < R . Esse traço pode ser representado por uma curva para-
metrizada (t ) ?

Solução. Projetando no plano xy obtém-se: C0 : x 2 + y 2 = R 2 − a 2 ,


uma circunferência no plano. Escrevendo x(t ) = R 2 − a 2 cos(t ) e
yy(t()t )== RR2 2−−aa2 sen(
2
sen(t ),t ),, t ∈
t ∈[0,
[0,22] ,] obtemos que (t ) = ( x(t ), y (t ))
parametriza essa circunferência. Portanto a parametrização reque-
rida é dada por

O gráfico esta dado na seguinte figura,

α
a C0 = traço

R
0 0 y

x
Figura 4.16

Definição Geral 4.1. Dizemos que um subconjunto C ⊆  n é o


traço de uma curva parametrizada diferenciável se existe uma
função vetorial  : I ⊆  →  n tal que ( I ) = C . O subconjunto
C é chamado de traço da curva .

4.4.2 Classificação de Curvas


Seja C ⊂  n traço de uma curva parametrizada, isto é, existe
 : I ⊆  →  n tal que ( I ) = C . Então acontecem os seguintes
casos:

i) Dizemos que C é um traço com pontos duplos se (t1 ) = (t2 ),


para algum t1 ≠ t2 Ver o exemplo 3, anterior. Também temos
o seguinte exemplo:

158
Exemplo 4.25. A curva parametrizada diferenciável

(t ) = (t 3 + 2t , t 3 − t )

tem traço com pontos duplos, pois,

são tais que


 9 −7 + 13 
(t1 ) =  ,  = (t2 ) e t1 ≠ t2 .
8 16 

ii) Dizemos que C é um traço simples se não possui pontos


duplos. Ver qualquer um dos exemplos 1, 2, 5, etc.

iii) Dizemos que C é um traço regular se

 (t ) ∈ C1 ( I ) e  '(t ) ≠ 0 ∀ t ∈ I .

iv) Dizemos que C é um traço fechado se  (a ) =  (b) onde


I = [ a, b] .

Exemplo 4.26. A curva parametrizada diferenciável


 :[0, 2 ] →  2 definida por (t ) = (4 cos(t ), 2sen(t )) fornece um
traço C fechado, pois (0) = (2 ) = (4, 0) . Ver a figura 4.17.

α
(0,2)
(4,0)
0 2π x
C = traço

Figura 4.17

Exemplo 4.27. Considere a curva parametrizada diferenciá-


vel  :  →  3 definida por (t ) = (a cos(t ), a sen(t ), b t ) onde
a > 0, b > 0 . Mostre que fornece um traço regular.

159
Solução. Será que a função  é de classe C1 ? A resposta é sim,
pois  '(t ) = (−asen(t ), a cos(t ), b),  '(t ) ≠ 0 ∀ t ∈  . Notamos
também que a derivada também é contínua. Assim ela possui tra-
ço regular.

Definição 4.8. (Reparametrização de uma Curva regular) Seja


C ⊂  n traço de uma curva regular parametrizada, isto é, existe
uma função vetorial  : I ⊆  →  n tal que ( I ) = C e  '(t ) ≠ 0
em I = [a, b] . Uma reparametrização de  é uma outra curva da
forma  =    :[c, d ] = J →  n , onde  :[c, d ] → [a, b] é uma fun-
ção diferenciável com  '(u ) ≠ 0, ∀ u ∈ J e  é sobrejetiva, além
disso:
(u ) = (   )(u ) = ( (u )) para todo u ∈ [c, d ] .

Ver o gráfico a seguir

ϕ α
C = traço

c u d a t b y
x

γ = α° ϕ

Figura 4.18

Observação 4.11. Acontecem os seguintes casos:

• Se  '(u ) > 0 , então  conserva a orientação original da cur-


va  .

• Se  '(u ) < 0 , então  inverte a orientação da curva  .

Observação 4.12. Se a reparametrização  =    : J ⊂  →  n é


contínua então a curva  :[a, b] ⊂  →  n é também contínua.

Exemplo 4.28. Considere a curva parametrizada regular


 :[0, 2 ] ⊂  →  n tal que (t ) = (cos(t ), sen(t )) . Encontre repa-
rametrizações da curva  de maneira que ilustre as observações
anteriores.

160
Solução. A função  :[0,1] → [0, 2 ] definida por
u  (u ) = 2 u é sobrejetiva e  '(u ) ≠ 0 . Seja
 =   [0,1] ⊂  2 tal que

(u) =   (u ) = (cos(2 u ), sen(2 u )) ∀ u ∈ [0,1] .

Como  '(u ) = 2  > 0 então  conserva a mesma direção de  .

Seja  :[0, 2 ] → [0, 2 ] definida por (u ) = 2  − u .


Então  é sobrejetiva e  '(u ) ≠ 0 , logo

(u ) =   (u ) = (cos(2  − u ), sen(2  − u ))

é reparametrização de  . Como  '(u ) = −1 < 0 então  inverte a


orientação de  .

4.4.3 Equações Paramétricas da Reta Tangente


No plano, uma reta é determinada por um ponto e um número
fornecendo o coeficiente angular dela. De maneira semelhante,
no espaço, uma reta é determinada por um ponto e um vetor for-
necendo a direção da reta.

Suponha que L seja uma reta  no espaço  passando por um ponto


P0 paralela a um vetor v = v1 i + v2 j + v3 k 
. Então o conjunto L esta
formadopelos pontos P para os quais P0 P é paralelo ao vetor v .
Assim P0 P = t v para algum parâmetro escalar t . O valor de t
depende da localização do ponto P ao longo da reta, e t se en-
contra no intervalo ] − ∞, ∞[ . A forma expandida da equação da
reta será,

P = P0 + t v ⇔ ( x, y, z ) = ( x0 , y0 , z0 ) + t (v1 , v2 , v3 ) .

Se f (t ) é o vetor posição de um ponto P sobre a reta e f 0 é o ve-


tor posição do ponto P0 então temos a seguinte equação de uma
reta no espaço,
f (t ) = f 0 + t v, t ∈] − ∞, ∞[ .

Igualando as componentes correspondentes dos dois lados da


equação acima temos três equações escalares envolvendo o parâ-
metro t :
x = x0 + tv1 , y = y0 + tv2 , z = z0 + tv3 .

161
Essas equações nos dão a parametrização natural da reta para o
intervalo do parâmetro t no intervalo ] − ∞, ∞[ .

Exemplo 4.29. Encontre equações paramétricas para reta que pas-


sa por (−2, 1, 4) e é paralela ao vetor v = (1, 4, −2) .

Solução. Identificando os pontos dados com os da definição temos


que P0 = (−2, 1, 4) e (v1 , v2 , v3 ) = (1, 4, −2) . Logo subs-
tituindo nas equações paramétricas acima obtemos,

x = x0 + tv1 = −2 + t , y = y0 + tv2 = 1 + 4t

e z = z0 + tv1 = 4 − 2t com t ∈  .

Exemplo 4.30. Encontre equações paramétricas para a reta que


passa pelos pontos (−5, 2, −5) e (1, −1, 4) .

Solução. Formando o vetor FP ,

FP = P − F = (1, −1, 4) − (−5, 2, −5) = (6, −3, 9)

que é paralelo à reta, e as equações paramétricas com


P0 = (−5, 2, −5) fornecem

x = x0 + tv1 = −5 + 6t , y = y0 + tv2 = 2 − 3t

e z = z0 + tv1 = −5 + 9t com t ∈  .

Poderíamos ter utilizado o outro ponto Q0 = (1, −1, 4) como


ponto base e ter escrito,

x = x0 + tv1 = 1 + 6t , y = y0 + tv2 = −1 − 3t

e z = z0 + tv1 = 4 + 9t com t ∈  .

Essas equações assim com as primeiras estão corretas, a diferença


é que mostram um ponto distinto sobre a reta para um valor dado
da variável t .

Observação 4.13. No caso de uma reta ligando dois pontos, pri-


meiro parametrizamos a reta que passa pelos pontos. A seguir
encontramos valores do parâmetro t para os extremos e restrigi-
mos t ao intervalo fechado e limitado por esses valores. As equa-
ções da reta junto com essa restrição parametrizam o segmento
em questão.

162
Exemplo 4.31. Parametrize o segmento de reta que liga os pontos
(−5, 2, −5) e (1, −1, 3) .

Solução. Iniciamos construindo as equações paramétricas da


reta que passa pelos pontos dados, e para isto usamos as mesmas
idéias
 do exemplo anterior, onde agora o vetor paralelo à reta será:
FP = (1, −1, 3) − (−5, 2, −5) = (6, −3, 8) , logo as equa-
ções paramétricas serão,

x = x0 + tv1 = −5 + 6t , y = y0 + tv2 = 2 − 3t

e z = z0 + tv3 = −5 + 8t com t ∈  .

A seguir observamos que o ponto,

( x, y, z ) = (−5 + 6t , 2 − 3t , −5 + 8t )

passa por (−5, 2, −5) quando o variável t toma o valor de zero


e passa por (1, −1, 3) quando a t = 1 . Incrementamos a restri-
ção t ∈ [0,1] para parametrizar o segmento pedido, isto é,

x = −5 + 6t , y = 2 − 3t e z = −5 + 8t com t ∈ [0, 1] .

Se a curva C é uma curva descrita por f : I ⊆  →  n , função


vetorial, e se o vetor derivada f ' existe e é distinto de zero, então
f ′ se chama de vetor tangente à curva C no ponto f (t ) e a reta
tangente à curva C em um ponto f (t ) é definida como a reta que
passa pelo ponto e é paralela a f '(t ) , logo,

L = { f (t ) + rf ′(t ) : r ∈ } .

Em tudo isto, é necessário que a f '(t ) ≠ 0 , para uma curva suave,


para termos certeza de que a curva tem uma tangente que gira
em cada ponto. Sobre uma curva suave ou regular não existem
cantos (esquinas) ou vértices.

O vetor tangente f ′(t ) aponta na direção da curva correspon-


dente ao crescimento de t . A equação anterior se mostrará mais
reveladora se pensarmos em uma reta como a trajetória de uma
partícula saindo da posição f (t ) e movendo-se na direção e no
sentido do vetor velocidade v = f '(t ) . Reescrevendo a equação da
reta tangente temos,
f '(t )
f (t ) + r f '(t ) = f (t ) + r f '(t )
f '(t )

163
onde f (t ) indica a posição inicial, f '(t ) módulo da velocidade e
f '(t )
fator fornece a direção e sentido.
f '(t )
Se a curva C se encontra em particular em  3 podemos escrever
a reta tangente em termos de suas funções componentes forman-
do as seguintes equações

x(t ) = f1 (t ) + rf1′ (t ), r ∈ 
y (t ) = f 2 (t ) + rf 2′ (t ), r ∈ 
z (t ) = f3 (t ) + rf3′ (t ), r ∈ 

chamadas de equações paramétricas da reta tangente à curva C .

O seguinte exemplo mostra que a definição de reta tangente a


uma curva é uma extensão do conceito de reta tangente ao gráfico
de uma função real de variável real.

Exemplo 4.32. Se C é gráfico da função real g , mostre que g ′( x)


é a inclinação da reta tangente no ponto ( x, g ( x)) de C .

Solução. Se C é a curva descrita pela função f ( x) = ( x, g ( x)) .


Então a sua derivada será f ′( x) = (1, g ′( x)) e, portanto a reta tan-
gente no ponto ( x, g ( x)) de C é

L = {( x, g ( x)) + r (1, g ′( x)) : r ∈ } .

Com isto concluímos que a inclinação de L esta dada por g ′( x) .

Introduzimos agora outra notação para a derivada. Se a cur-


va é descrita pela transformação f do intervalo I , então
C = {x : x = f (t ), t ∈ I } e dizemos que C é descrita pela equação
paramétrica x = f (t ) .

O seguinte símbolo é usado para a derivada de f :

dx
= f ′(t ).
dt
Se C é uma curva do espaço tridimensional, então possui uma
equação da forma,
w = ( x, y, z ) = f (t )

164
e a correspondente derivada será,

dw  dx dy dz 
=  , ,  = f ′(t ) .
dt  dt dt dt 

4.4.4 Função Comprimento de Arco


Até agora consideramos o movimento que ocorre basicamente ao
longo de uma linha reta. Para examinar o movimento ao longo de
outras curvas suaves, precisamos ter um comprimento mesurável
ao longo da curva. Isso nos permite localizar pontos ao longo des-
sas curvas dando sua distância orientada s , ao longo da curva, a
partir de algum ponto base, da mesma maneira que encontramos
pontos sobre os eixos coordenados dando suas distâncias orienta-
das a partir da origem.

O tempo é o parâmetro natural para descre-


ver a velocidade e a aceleração de um cor-
po em movimento, mas s é o parâmetro natural
para estudar o formato de uma curva. Ambos
os parâmetros são úteis para estudar curvas no
espaço, como logo será visto.

Para desenvolver a
disciplina de Cálculo III Seja f : I ⊂  →  n→curva parametrizada diferenciável. Para cada
é essencial a existência t ∈ I , onde f '(t ) ≠ 0 , fica definida uma única reta na direção de
de uma tangente em
todos os pontos. f '(t ) (vetor tangente em t ).

Convém →
chamar de ponto singular de f a um ponto t ∈ I onde
f '(t ) = 0 e restringirmos as nossas considerações às curvas sem
pontos singulares.

Definição 4.9. Uma curva parametrizada diferenciável  : I →  3


com →' contínua em →I , é dita regular ou suave (lisa) se
 '(t ) ≠ 0 ∀ t ∈ I , onde 0 indica a origem de  n .

Observação 4.14. Daqui em diante estudaremos curvas parame-


trizadas regulares ou suaves e omitiremos, por comodidade, o
adjetivo “diferenciável”.

A fórmula a seguir define como medir a distância ao longo de


uma curva suave (lisa) no espaço.

165
Definição 4.10. Seja  : I ⊆  →  n , uma curva parametrizada re-
gular (suave). Sejam P = (t1 ) e Q = (t2 ) . Então o comprimento de
arco do traço da curva  do ponto P até o ponto Q é dado por,

 ) = t2  '(t ) t2
L ( PQ ∫ t1  n
dt = ∫
t1
[ 1 '(t )]2 + [ 2 '(t )]2 +  + [ n '(t )]2 dt

Q = α(t2)

P = α(t1)

Figura 4.19

Em geral o comprimento total do traço da curva suave C = ([a, b])


é dado por
b
L(C ) = ∫  '(t ) dt com t ∈ I = [a, b] .
a

A expressão no integrando da formula ante-


rior é conhecida como o módulo do vetor
velocidade . Logo, podemos escre-
ver a fórmula para o comprimento de maneira
abreviada,
.

Definição 4.11. A função comprimento de arco de uma curva su-


ave (regular)  : I ⊂  →  3 , definida por
  
(t ) =  1 (t )i +  2 (t ) j +  3 (t ) j ,

a partir de uma origem t0 ∈ I , é por definição:


t
s (t ) = ∫  '(u ) du , ∀ t ∈ I ,
t0

onde  '(t ) 3 = [  '1 (t )]2 + [  '2 (t )]2 + [  '3 (t )]2 é o módulo do vetor
 '(t ) . Como  ' ≠ 0 e contínua em I , então s (t ) é uma função di-
ds
ferenciável de t e, portanto =  '(t ) .
dt
166
Exemplo 4.33. Encontre o comprimento de arco das seguintes
curvas parametrizadas regulares:

a) (t ) = (a cos(t ), a sen(t ), bt ) desde t1 = 0 até t2 = 2  .

 t 1 1 
b) (t ) =  ,1, t 3 , t −1  desde t1 = 1 até t2 = 3 .
 2 6 2 
c) (t ) = (3t cos(t ), 3t sen(t ), 4t ) desde t1 = 0 até t2 = 4 .

Solução. Temos que


2
a)  '(t ) = (−a sen(t ), a cos(t ), b) com módulo '(t ) = a 2 + b 2 .
Então
2 2
L(C ) = ∫  '(t ) dt = ∫ a 2 + b 2 dt = 2  a 2 + b 2 .
0 0

 1 1 1 
b) Temos que  '(t ) =  , 0, t 2 , − t −2  . Então
 2 2 2 

2 1 1 4 1 −4 1 1 4 −4
 '(t ) = + t + t = + (t + t )
2 4 4 2 4
ou
2 1 1 4 −4 1 1 1
 '(t ) = + (t + t ) = (t 4 + t −4 + 2) = (t 4 + t −4 + 2t −2t 2 ) =
2 4 4 4 4

2 1 1 4 −4 1 1 1
 '(t ) = + (t + t ) = (t 4 + t −4 + 2) = (t 4 + t −4 + 2t −2t 2 ) = (t 2 + t −2 ) 2
2 4 4 4 4
ou
1 2 2 2 1 2 −2
 '(t ) = (t + t ) = t + t .
4 2
3 3 1 2 −2 14
Assim, L(C ) = ∫  '(t ) dt = ∫ (t + t )dt = .
1 1 2 3

c) Aqui temos  '(t ) = (3cos(t ) − 3t sen(t ), 3sen(t ) + 3t cos(t ), 4) .


2
Logo é fácil verificar que  '(t ) = 25 + 9t 2 .

25
Portanto  '(t ) = 3 t 2 + .
9
Assim
resolver a integral
por substituição
4 4 25 trigonométrica
25
L(C ) = ∫  '(t ) dt = 3∫ t2 + dt = 26 + ln(5) .
0 0 9 6

167
4.4.5 Comprimento de Arco como Parâmetro em
Representação de Curvas
Dizemos que uma curva parametrizada regular  :[a, b] ⊂  →  n
é parametrizada pelo comprimento de arco, quando para todo t
em [a, b] tem-se,
t
L( 
AB) = ∫  '(u ) du = t − a .
a

Isto é, para caminhar de (a ) para (t ) ao longo da curva 


AB se
percorre uma distância igual a t − a . Ver a figura abaixo.

α
B= α(t)

D= α(s)
a s t b A= α(a)

Figura 4.20

t
Em geral se s < t e s ∈ [a, b] , então L( 
AB) = ∫  '(u ) du = t − s .
s

Comentário 4.1. Se escolhermos um ponto base P (t0 ) numa cur-


va suave (regular) C parametrizada por t , cada valor de t deter-
mina um ponto Q(t ) em C e uma distância orientada dada por,
t
s (t ) = ∫ v(  ) d  ,
t0

medida ao longo de C a partir do ponto base. Se o parâmetro


t > t0 , então o valor s (t ) é a distância de P (t0 ) a o ponto Q(t ) . Se
ocorrer que t < t0 , então o valor s (t ) é o oposto da distância. Cada
valor de s determina um ponto em C e isso parametriza C em
relação a s . Chamamos a variável s de um parâmetro de com-
primento de arco para a curva. O valor do parâmetro aumenta na
direção de t crescente. A utilidade do parâmetro comprimento de
arco é particularmente eficaz para estudar a natureza da rotação
e da torsão de uma curva.

Observação 4.15. Se uma função vetorial f for dada em ter-


mos do parâmetro t e se s (t ) for a função comprimento de arco,
t
s (t ) = ∫ v(  ) d  , então possivelmente sejamos capazes de encon-
t0

168
trar t como função da variável s , isto é, t = t ( s ) . Então a cur-
va pode ser reparametrizada em termos de s substituindo-se t :
f (t ( s )) . Isto será ilustrado no próximo exemplo.

Teorema 4.5. Uma curva regular  :[a, b] →  n é parametrizada


pelo comprimento de arco se e somente se  '(t ) = 1 para todo t
em [a, b] . Isto é, o vetor velocidade tem módulo constante e igual
a um.

Demonstração. Será feito nos dois sentidos:

( ⇒) Se  é curva regular parametrizada pelo comprimento de


t
arco então ∫  '(u ) du = t − a, ∀ t ∈ [a, b] .
a

d  t d
Então  '(t ) = ∫  '(u ) du  = {t − a} = 1 .

1º T . F .C
dt  a  dt

t t
( ⇐) Se  '(t ) = 1, ∀ t ∈ [a, b] ⇒ ∫  '(u ) du = ∫ 1 du = t − a .
a a

Exemplo 4.34. Seja a curva  :[0, 2 ] ⊆  →  2 definida por


(t ) = (cos(t ),sen(t )) é parametrizada pelo comprimento de arco?

Solução. A resposta é afirmativa pelo Teorema anterior, pois,

 '(t ) = (−sen(t ), cos(t )) = sen 2 (t ) + cos 2 (t ) = 1 .

Exemplo 4.35. Seja a curva  :[0, r ] →  3 com k > 0, t ≥ 0 defini-


da por
(t ) = (a cos(kt ), a sen(kt ), bk t ) ,

e uma função  :[0, w] → [0, r ] . Calcular

a) s = L(t ) b) ( s )

c) Reparametrizar  por intermédio do comprimento de arco.

Solução. Faremos item a item. Assim para t ∈ [0, r ]


t t
a) s = L(t ) = ∫  '(u ) du = ∫ k a 2 + b 2 du = k a 2 + b 2 t .
0 0

b) Para encontrar ( s ) temos que aplicar ( L  )( s ) = s logo pela


definição de composta L( ( s )) = s e substituindo obtemos

169
k a 2 + b 2 ( s ) = s, ∀ s ≥ 0 de onde concluímos

s s
( s ) = = , ∀s≥0 e c = a 2 + b2 .
2
k a +b 2 kc

ϕ s


0 γ 0 t ω

s°ϕ
Figura 4.21

c) A parametrização de  é,

 s   s  s  bs 
( s ) = ( ( s )) =    =  a cos   , asen   ,  , ∀s ≥ 0.
 kc   c c c 

Observação 4.16. Convém estabelecer uma convenção.


Dada a curva  parametrizada pelo comprimento de arco
s ∈] − a, b[, a > 0, b > 0 . Podemos considerar a curva (− s ) , defi-
nida em ]a, − b[ , que possui o mesmo traço que a primeira, per-
corrido, porém em sentido contrário. Dizemos então que as duas
curvas diferem por uma mudança de orientação.

De outra forma:

Seja  curva parametrizada pelo comprimento de arco s ∈]a, b[ ,


podemos considerar a curva  :] − b, − a[→  n , n ≥ 2 , tal que,
(− s ) = ( s ) que possui o mesmo traço, porém, de sentido con-
trário.

Exemplo 4.36. Considere a curva  definida por

(t ) = (cos(t ), sen(t )), t ∈ [0, 2 ] .

Descreva uma outra curva com o mesmo traço e de sentido con-


trário.

170
Solução. Calculando a função comprimento de arco temos,
t t
s = L(t ) = ∫ cos 2 (  ) + sen 2 (  ) d  = ∫ d  = t
0 0

Como L  ( s ) = s ⇔ L( ( s )) = s ⇔ ( s ) = s .

Logo ( s ) = ( ( s )) = ( s ) = (cos( s ), sen( s )), s ∈ [0, 2 ] , assim


podemos definir a curva,  :[−2 , 0] →  2 tal que (− s ) = ( s ) .

Comentário 4.2. É muito útil parametrizar a curva pelo compri-


mento de arco, pois o comprimento de arco resulta de forma na-
tural da configuração do traço da curva e não depende de um
sistema particular de coordenadas.
t
Se s = L(t ) = ∫  '(u ) du onde o parâmetro é t e L(t ) é a função
0
comprimento de arco, estão podemos resolver para t em função
de s tal que t = t ( s ) = t ( L) .

Então a curva pode ser reparametrizada em termos de s () subs-


tituindo t .
 = (t ( L)) = (t ( s )) .

Assim, se s = 3 , logo (t (3)) é o ponto do vetor posição a três uni-


dades do ponto de início na curva.

171
4.5 Parametrização de Superfícies
Vamos desenvolver a geometria de superfícies. Anteriormente vi-
mos que as superfícies podem ser observadas como gráficos de
funções ou como curvas de nível.

Nem toda superfície é gráfico de uma função de várias variáveis.


Por exemplo, se S = {( x, y, z ) : x − z + z 3 = 0} . Trata-se de uma fo-
lha que se dobra em relação ao plano x y e, portanto não é gráfico
da função z = f ( x, y ) .

Outro exemplo é o toro, ou superfície de uma rosca, pelo raciocí-


nio anterior não pode ser o gráfico de uma função diferenciável
de duas variáveis.

z z

(x0, y0, 0)

0 y 0 y

x x
Figura 4.22 - Superfície que não é Figura 4.23 - O toro não é gráfico
gráfico de uma função z = f (x,y) . da função z = f (x,y) .

4.5.1 Superfícies Parametrizadas


Uma superfície parametrizada é uma função vetorial,
Φ : D ⊆  2 →  3 , onde D é algum subconjunto aberto e conexo
em  2 . A superfície geométrica S que corresponde à função Φ é
sua imagem Φ ( D) = S . Podemos escrever a lei de correspondên-
cia dada pela função vetorial como,

Φ (u , v) = ( x(u, v), y (u, v), z (u, v)), ∀(u, v) ∈ D .

Intuitivamente Φ atua de forma que a região D em  2 é torcida


e dobrada para fornecer a superfície S , veja a figura 4.24.

Portanto cada ponto (u , v) ∈ D é um rótulo ou etiqueta para um


ponto ( x(u , v), y (u, v), z (u, v)) sobre S .

172
z

v 0 y
D
u x
Figura 4.24

Observação 4.17. Se a função Φ é diferenciavel ou de classe C1 ,


equivalente a afirmar que as funções componentes x(u , v) , y (u , v)
e z (u , v) são diferenciáveis ou de classe C1 nas variáveis (u , v) ,
dizemos que a superfície S é diferenciavel ou de classe C1 .

Exemplo 4.37. Mostre que o gráfico de z = f ( x, y ) é a imagem de


uma superfície parametrizada.

z Solução. Se z = f ( x, y ) é a superfície fornecida e f está


(u,v, f (u,v))
definida em D ⊆  2 , então se constrói a função vetorial,
Φ : D ⊆  2 →  3, definida por Φ (u , v) = (u , v, f (u, v)) .
Em outras palavras x = x(u, v) = u , y = y (u , v) = v e
z = z (u , v) = f (u, v) . Assim, cada ponto Φ (u , v) está so-
bre o gráfico de f e temos construído o gráfico como a
y =v
(u,v) imagem de uma superfície parametrizada.
D
x=u O gráfico é a imagem de uma superfície parametrizada;
seu domínio é D e Φ ( D) é o gráfico de f .
Figura 4.25

Exemplo 4.38. Encontre a representação paramétrica do cilindro


circular x 2 + y 2 = b 2 e −1 ≤ z ≤ 1 .
z
Solução. O cilindro está dado por x 2 + y 2 = b 2 , −1 ≤ z ≤ 1 e, por-
tanto possui raio b , altura 2 e o eixo do cilindro coincidindo com
o eixo z . A representação paramétrica é:

v Φ (u , v) = (b cos(u ), b sen(u ), v) , (u , v) ∈ R onde

y R = {(u , v) : 0 ≤ u ≤ 2 , − 1 ≤ v ≤ 1} é um retângulo.
u
As curvas v = constante são circunferências paralelas. As curvas
x u = constante são segmentos de retas verticais.
Figura 4.26

173
Exemplo 4.39. Encontre a representação paramétrica da esfera.

Solução. Uma esfera, x 2 + y 2 + z 2 = b 2 pode ser representada


z
usando coordenadas esféricas, por

Φ (u , v) = (b cos(v) cos (u ), b cos(v) sen(u ), b sen (v)) v


onde os parâmetros (u , v) ∈ R no plano  2 tal que
u y
  
R = (u, v) : 0 ≤ u ≤ 2 , − ≤ v ≤ 
 2 2
x
é um retângulo. As componentes de Φ são
Figura 4.27
x(u , v) = b cos(v) cos (u ),,

y (u , v) = b cos(v) sen (u ) ,

z (u, v) = b sen (v) .

As curvas u = constante e v = constante são os meridianos e pa-


ralelos, respectivamente, sobre S . O que acontece
quando u = constante e
Temos outra representação paramétrica da esfera utilizada em ma- v = constante? Como
exercício fazer um esboço.
temática dada por:

(u , v) = (b cos(u ) sen(v), b sen (u ) sen (v), b cos(v)) .

onde o retângulo é: R = {(u , v) : 0 ≤ u ≤ 2 , 0 ≤ v ≤ } .

Exemplo 4.40. Encontre a representação paramétrica de um cone


circular.

Solução. Um cone circular é dado por z = x 2 + y 2 para


0 ≤ z ≤ M . Podemos representar, usando coordenadas cilín-
dricas, por Φ (u , v) = (u cos(v), u sen (v), u ) , onde (u , v) ∈ R e
R = {(u , v) ∈  2 : 0 ≤ u ≤ M , 0 ≤ v ≤ 2 } .

Portanto as componentes de Φ (u , v) são x = x(u , v) = u cos(v) ,


y = y (u , v) = u sen(v) e z = z (u , v) = u .
A modalidade anterior
2 2 2
Podemos verificar que x + z = z . é utilizada na geografia
para medir a latitude e
longitude de pontos sobre
o globo.

174
4.6 Derivada Direcional e Campo Gradiente
Definição 4.12. Considere f : Ω ⊆  3 →  função escalar e Ω
conjunto aberto. Um vetor P ∈ Ω e um vetor direção unitário U
que inicia em P . Seja L uma semi-reta, cuja origem é P e na di-
reção do vetor unitário e cuja distância de P para Q ∈ L é repre-
sentado por s . Se existir o limite

∂f f (Q) − f ( P)
( P, U ) = lim ,
∂s s → 0 s
ele é chamado de derivada direcional de f em P na direção do
vetor U .

f (Q) − f ( P)
Observação 4.18. O quociente é a taxa média de va-
s
riação de o campo escalar f , por unidade de comprimento, na di-
∂f
reção escolhida. Assim, ( P, U ) é a taxa de variação da função
∂s
f , na direção de U no ponto P .

z Q s
U

O y

x
Figura 4.28

Existe um número infinito de derivadas direcionais de f em P .

∂f ∂f ∂f
As derivadas parciais de f, , , em P . São derivadas di-
∂x ∂y ∂z
  
recionais de f nas direções i , j e k respectivamente.

Exemplo 4.41. Calcular a derivada direcional do campo   escalar


x+ y
f ( x, y ) = e em P = (0,1) e na direção do vetor V = i + j .

Solução. O vetor unitário U na direção de V é ilustrado na figura


4.29:

175
Observando o gráfico anterior temos y
Q
 1   
PN = = MN e PM = 1 = U .
2 s
Logo normalizando o vetor V ,
M
V (1,1)  1 1  U
U= = = , .
V 2  2 2 R
(0,1) = P
N
Logo o triângulo ∆QRP é semelhante ao triângulo

∆MNP . Portanto PR = s PN e QR = s MN O 1 s x
1 1 √2
onde s = PQ , PR = s , QR = s .
2 2 Figura 4.29

Agora as coordenadas de Q são obtidas observando a projeção do


segmento PR no eixo x e a outra componente é distância |QR|
incrementada em um. Assim o ponto Q é,

 s s 
Q= ,1 + .
 2 2
Aplicando a definição, temos

∂f f (Q) − f ( P)
( P, u ) = lim =
∂s s →0 s
 s s 
f ,1 +  − f (0,1)
 2 2
= lim
s →0 s
1  
s s
+1+
= lim e 2 2
− e1 
s →0 s 
 
1
= lim {e s 2 +1
− e}
s →0 s

L ' Hospital es 2 +1
2
= lim = e 2.
s →0 1

Exemplo 4.42. Determinar a derivada direcional do campo esca-

lar f ( x, y, z ) = 4 x ² + 5 y ² − 2 z ² em P = (1, 2,1) na direção do vetor


  
V =i+2j+k.

176
Solução. Utilizamos um procedimento alternativo, para o calculo
da derivada direcional. Considere uma parametrização de L pelo
comprimento de arco.

c
1 ) V Q = (x,y,z)
,1
P (1,2

2 y
1

x
Figura 4.30

A idéia é encontrar as coordenadas do ponto Q ∈ L , para isto,


procuramos a equação parametrizada da reta L ;



PQ = tV
 (t ) = r (t ) = 1 + t , 2t + 2,1 + t ), t ≥ 0
`x − 1, y − 2, z − 1 = t 1, 2,1) 

x = 1+ t 

y = 2t + 2  Q = ( x, y, z ) = (1 + t , 2t + 2,1 + t ) .
z = 1 + t 

Parametrizando L pelo comprimento de arco s a partir do ponto


P , obtemos,
t t
s (t ) = ∫ r '(u ) = ∫ 1, 2,1 du =
0 0

t t
= ∫ 1 + 4 + 1du = ∫ 6du = 6t
0 0

s
Disto encontramos que s = 6t logo t = ( s ) = .
6
Portanto,

 s  s s s
h( s ) = (r  )( s ) = r ( ( s )) = r   = 1+ ,2 + 2,1 + s ≥ 0.
 6 6 6 6
177
Logo as coordenadas do ponto Q são:

 s s s 
1 + ,2 + 2,1 + 
 6 6 6 .

Aplicando a definição:
2 2 2
 s   s   s 
4 1 +  + 5 2 + 2  − 2 1 +  − 22
∂f f (Q) − f ( P)  6  6   6
( P) = lim = lim
∂s s →0 s s →0 s
2 2 2
 s   s   s 
4 1 +  + 20 1 +  − 2 1 +  − 22
 6  6  6
= lim
s →0 s
2
 s   2s 
22 1 +  − 22 22  s 2 + 
6 6  22
= lim  = lim  = .
s →0 s s →0 s 3

4.6.1 Gradiente de um Campo Escalar


Definição 4.13. Seja f : Ω ⊆  3 →  onde Ω é um domínio aberto.
Se existirem as derivadas parciais de primeira ordem de f neste
domínio Ω elas formam as componentes do vetor gradiente de f .

Assim, o gradiente da função escalar f , denotado grad ( f ) , é um


vetor tal que,
∂f ∂f ∂f
∇f = i+ j+ k
∂x ∂x ∂x .

Exemplo 4.43. Seja V volts o potencial elétrico em qualquer pon-


1
to ( x, y, z ) no espaço tridimensional e V ( P) = . En-
x² + y ² + z ²
contre ∇V .

Solução. Segundo a fórmula de gradiente,

devemos calcular todas suas componentes, utilizando a derivada


parcial,

∂V ∂  − 
1
1 −
3
x
= ( x 2 + y 2 + z 2 ) 2  = − ( x 2 + y 2 + z 2 ) 2 (2 x) = − 3
∂x ∂x   2 V
178
∂V y ∂V z
= − 3 e finalmente =− 3 .
∂y V ∂z V
Portanto a expressão requerida é obtida substituindo as derivadas
na fórmula do gradiente.

4.6.2 Propriedades do Gradiente


Definição 4.14. Sejam f e g funções escalares tais que existem ∇f
e ∇g e seja d uma constante real qualquer. Então:

a) ∇( f + g )( x) = ∇f ( x) + ∇g ( x) .

b) ∇(df )( x) = d ∇f ( x) .

c) ∇( f ⋅ g )( x) = f ( x)∇g ( x) + g ( x)∇f ( x) .

 f  g ( x)∇f ( x) − f ( x)∇g ( x)
d) ∇   ( x) = 2
sempre que g ( x) ≠ 0 .
g g ( x)

Como ilustração mostramos duas das provas destas propriedades:

Supondo f : Ω ⊆  3 → , g : Ω ⊆  3 →  . Temos que

∂f ∂f ∂f
∇f = i+ j+ k,
∂x ∂y ∂z
assim o diferencial é dado por,

∂f ∂f ∂f
d ∇f = d i+d j+d k . (1.1)
∂x ∂y ∂z
Por outro lado

∂ (df ) ∂ (df ) ∂ (df )


∇(df ) = d i+d i+d k
∂x ∂y ∂z
(1.2)
∂f ∂f ∂f
∇(df ) = d i + d i + d k
∂x ∂y ∂z

Igualando ambas as expressões e obtemos

∇[df ]( x) = d ∇f ( x) .

179
Seguindo desta maneira a propriedade quarta também resulta de
forma análoga, por exemplo,

 f  ∂  f  ∂  f  ∂  f 
∇  =  i +   j +   k
 g  ∂x  g  ∂y  g  ∂z  g 

Logo, desenvolvendo cada derivada parcial dos quocientes, temos

 f  1
∇   = 2 {g ∇f − f ∇g}, g ≠ 0.
g g

4.6.3 Interpretação Geométrica do Gradiente


Seja f : Ω ⊆  3 →  tal que f ( x, y, z ) = c representa uma su-
perfície no espaço. Mudando os valores de c , criamos uma famí-
lia de superfícies de nível da função f , pois o gráfico da função
f se encontra em  4 . Isto é,

Graf ( f ) = {( x, y, z , w) : w = f ( x, y, z )} ⊆  4 .

Afirmação 4.1. Seja P ∈  3 e ∇f ( P ) ≠ 0 , então o vetor ∇f ( P ) é


normal a uma superfície de nível que passa por P .

Prova. Considere a Γ como uma superfície de nível da função f


e seja C uma curva contida em Γ , tal que

f ( x(t ), y (t ), z (t )) = c .
Onde

C : r (t ) = x(t ), y (t ), z (t ) .

A tangente à superfície Γ em P é:

r ' = x '(t ), y '(t ), z '(t ) .

Por outro lado o gradiente da função f é dado pela fórmula,

∂f ∂f ∂f
∇f ( x , y , z ) = , ,
∂x ∂y ∂z .

Devemos mostrar a relação ∇f ( P ).r '(t ) = 0 . Para este fim deriva-


mos a equação f ( x, y, z ) = C em relação a variável t , e ob-
temos,
∂f dx ∂f dy ∂f dz
+ + =0
∂x dt ∂y dt ∂z dt

180
de onde obtemos, após avaliar em P ,

∇f ( P ).r '(t ) = 0 .

Agora fazendo variar C numa superfície de Γ , concluímos que


∇f ( P) é normal à superfície de nível Γ .

Exemplo 4.44. Determinar o vetor normal à curva,

4 x 2 + 6 y 2 = 16

dada no ponto P = (1, 2) .

y
8
3
P (1,√2)
√2

-2 -1 1 2 x

- 8
3
Figura 4.31

Solução. A curva 4 x 2 + 6 y 2 = 16 pode ser escrita como,


f ( x, y ) = 0 onde f ( x, y ) = 4 x ² + 6 y ² − 16 .

Calculando o gradiente em P , obtemos,

∂ ∂
∇f ( P ) = f ( P), f ( P) = 8 x, 12 y = 8, 12 2 .
∂x ∂y P

A seguir devemos parametrizar a curva fornecida. Neste sentido


após multiplicação e simplificação temos,

x2 y2
+ = 1.
4  8 2
 
 3
De onde a parametrização é dada por

8
r (t ) = 2 cos(t ), sen(t ) , t ∈ [0, 2 ] .
3

181
Conseqüentemente, a sua derivada será,

8
r ′(t ) = −2sen(t ), cos(t ) , t ∈ [0, 2 ] .
3

Cada componente da parametrização é dada por

8
x(t ) = 2 cos(t ), y (t ) = sen(t ), t ∈ [0, 2 ] .
3
Em P temos os seguintes resultados

8
1 = 2 cos(t ), 2= sen(t ) .
3
Portanto

sen(t) 32
tg(t) = = = 3.
cos(t ) 2 1
Finalmente calculamos o produto para verificar que o produto se
anula,

onde radianos. O que confirma o resultado de-


sejado.

4.6.4 O Gradiente como Direção de Máxima Variação


Existe a seguinte fórmula alternativa em função do gradiente para
calcular a derivada direcional,

∂f
( P, U ) = U ∇f ( P) = U ∇f ( P) cos()
∂s
ou, devido a que o vetor U é unitário,

∂f
( P, U ) = U ∇f ( P ) = ∇f ( P ) cos()
∂s
onde  =é 0o ângulo entre os vetores ∇f ( P ) e U . Logo, na expres-
são anterior o valor máximo é alcançado quando cos() = 1 . Então
resulta que o ângulo é nulo, isto é,  = 0 radianos. Portanto


max
 f ( P ) = ∇f ( P ) .
U ∂s

182
Isto é, a direção de máxima variação de f no ponto P é U = ∇f ( P) .

Exemplo 4.45. Um potencial elétrico é dado por:

12
( x, y, z ) = .
x² + y ² + z ²
a) Determinar o campo elétrico ;

b) Em que direção a taxa de variação do potencial  , no ponto


 3 4
 0, ,  , é máxima.
 6 6
c) Calcular a derivada direcional

onde .

Solução. Temos a função  : Ω ⊆  3 →  . Portanto pela defini-


ção de campo:

a)

24
= x, y, z .
( x + y 2 + z 2 )2
2

b) Quando resolvemos este item devemos levar em conta que

DU ( x, y, z ) = ∇( x, y, z ) .

O vetor gradiente deve ser paralelo ao vetor U . Então temos

 3 4 24 3 4 24 25 24 ⋅36
∇  0, = 0, , = = = 34,56
 6 6   25  2 6 6 2
 25  36 25
   
 36   36 

c) Neste item utilizamos o seguinte procedimento

24 24 24 2 2 12 12
DU (1,1,1).U = , , . , 0, = 2− 2
9 9 9 2 2 9 9

183
Exemplo 4.46. Usando o gradiente, encontrar uma equação para a
reta tangente à curva x 2 − y 2 = 1 , no ponto .

Solução. Considere a função f ( x, y ) = x 2 − y 2 − 1 . Então o gra-


diente no ponto dado é dado por

.

O produto interno do segmento PQ com o vetor gradiente é dado
por
 
PQ ⋅ 2 2, −2 = 0 onde PQ = x − 2, y − 1 .
y
Para encontrar a equação correspondente faze-
mos o cálculo, Q (x,y)

 1
PQ. 2, −2 = x − 2, y − 1 . 2, −2 = 0 P

2 2( x − 2) − 2( y − 1) = 0 √2 x
2 2x − 4 − 2 y + 2 = 0

2 2x − 2 y − 2 = 0

Finalmente, obtemos 2x − y −1 = 0 .
Figura 4.32

Antes de iniciar a próxima seção devemos definir as derivadas


parcias de campos vetoriais.

Definição 4.15. Seja a função Φ : Ω ⊆  2 →  3 , onde o conjunto


Ω é algum domínio em  2 . Então se escrevemos a função,

Φ (u , v) = ( x(u , v), y (u , v), z (u , v))


∂Φ ∂Φ
e denotamos a suas derivadas parciais por Φ u = e Φv =
∂u ∂v
tal que,

∂Φ  ∂x ∂y ∂z  ∂Φ  ∂x ∂y ∂z 
Φu = = , ,  ; Φv = = , , .
∂u  ∂u ∂u ∂u  ∂v  ∂v ∂v ∂v 

184
4.7 Plano Tangente e Vetor Normal num ponto
de uma Superfície
Um vetor normal à uma superfície S no ponto Q é um ve-
V tor perpendicular ao plano tangente de S em Q , o plano
que contém todos os vetores tangentes a curvas sobre S
através de Q .
Φv
Como S é dada por Φ (u , v) = ( x(u, v), y (u, v), z (u, v)) e te-
Φu Q
mos curvas C sobre S , tomamos um par de funções con-
tínuas (não ambas constantes), u = u(t), v = v(t) de maneira
s
que formamos a função (t ) = Φ (u (t ), v(t )) .
Figura 4.33
Supondo que u(t) e v(t) sejam diferenciáveis e aplicando a regra da
cadeia, temos o vetor tangente à C dado por:

d ∂Φ ∂Φ
(t ) = (t ) = u '+ v '.
dt ∂u ∂v

∂Φ ∂Φ
Como as derivadas parciais e são tangentes à S no pon-
∂u ∂v
to Q , e supondo que elas sejam linearmente independentes, ge-
ram um plano tangente à S em Q . Portanto seu produto vetorial
produz um vetor normal N a S em Q , representado por,

N = Φu × Φv ≠ 0 .

O vetor correspondente normal unitário  à S em Q é:

Observação 4.19. Quando S é representada por g(x,y,z) = 0, te-

mos que o vetor normal unitário é, .

Teorema 4.6 (Plano Tangente e Superfície Normal). Se uma su-


perfície S é dada por Φ (u , v) = ( x(u , v), y (u, v), z (u, v)), ∀(u, v) ∈ D
com Φ u e Φ v satisfazendo Φ u × Φ v ≠ 0 em todo Φ (u , v) ∈ S . En-
tão S possui em todo ponto Q um único plano tangente passan-
do por Q e gerado por Φ u , Φ v e uma curva normal cuja direção
depende continuamente dos pontos sobre S .

185
O vetor normal unitário  de S é dado por

Observação 4.20. Uma superfície S que satisfaz o teorema ante-


rior é chamada de superfície regular (ou suave).

Uma superfície S é regular por partes (ou suave por partes) se ela
está formada por um número finito de superfícies suaves (regula-
res). Por exemplo, uma esfera é regular e a superfície de um cubo
é regular (suave) por partes.

Exemplo 4.47. Encontre o vetor normal unitário da esfera


x2 + y 2 + z 2 − b2 = 0 .

Solução. Podemos escrever g ( x, y, z ) = x ² + y ² + z ² − b² = 0 . Logo,


podemos aplicar a fórmula
∇g
v= .
∇g
Substituindo o gradiente da função g e seu modulo na relação
anterior, resulta
1
= 2( x, y, z )
4( x ² + y ² + z ²)
1
 = ( x, y , z )
b

1
= 2( x, y, z ) .
2 b²
Assim obtemos,
1
 = ( x, y , z ) .
b
Exemplo 4.48. Encontre o vetor normal unitário de um cone.

Solução. A equação do cone, com vértice na origem, é z = x 2 + y 2 .


Tomamos g ( x, y, z ) = − z + x ² + y ² = 0 . No ápice, o vetor  não
pode ser calculado.

186
Portanto, usando a mesma fórmula que no exemplo anterior te-
mos

Suponhamos que Φ (u , v) = ( x, y, z ) é diferenciável em


(u0 v0 ) ∈ Ω ⊆  2 . Fixando u = u0 , temos Φ (u0 , v) cuja imagem
é uma curva na superfície e, portanto, o vetor tangente a essa
curva no ponto Φ (u0 , v0 ) é:

∂Φ ∂x ∂y ∂z
= (u0 , v0 )i + (u0 , v0 ) j + (u0 , v0 )k .
∂ ∂ ∂ ∂
Similarmente se fixamos v = v0 e consideramos a curva Φ (u , v0 ) ,
obtemos o vetor tangente à curva em Φ (u0 , v0 ) dada por:

∂Φ ∂x ∂y ∂z
= (u0 , v0 )i + (u0 , v0 ) j + (u0 , v0 )k .
∂u ∂u ∂u ∂u
Como os vetores Φ u e Φ v são tangentes às duas curvas na su-
perfície no ponto Φ (u0 , v0 ) , eles determinam o plano tangente
à superfície neste ponto, assim Φ u × Φ v será o vetor normal à
superfície.

Definição 4.16. Se uma superfície parametrizada Φ : D ⊆  2 →  3


é suave em Φ (u0 , v0 ) , isto é, Φ u × Φ v ≠ 0 em (u0 , v0 ) , definimos o
plano tangente à superfície no ponto Φ (u0 , v0 ) como sendo o pla-
no determinado pelos vetores Φ u e Φ v .

Assim N = Φ u × Φ v é um vetor normal e a equação do plano tan-


gente no ponto ( x0 , y0 , z0 ) = Q , sobre a superfície, é dada por

( x − x0 , y − y0 , z − z0 ). N1 , N 2 , N 3 = 0

onde N = N1 , N 2 , N 3 é avaliada em (u0 , v0 ) .

Exemplo 4.49. Considere a superfície dada pelas equações:

x = x(u , v) = u cos(v) , y = y (u , v) = u sen(v)

e z = z (u , v) = u , u ≥ 0.

Mostre que não é suave em (0,0,0). Encontre o plano tangente em


Q = Φ (1, 0) com Φ = ( x, y, z ) .

187
Solução. Essas equações descrevem a superfície, z 2 = x 2 + y 2 ,
que é um cone, com vértice em (0,0,0). É uma superfície dife-
renciável, pois cada x(u,v), y(u,v) e z(u,v) é diferenciável. Porém a
superfície não é suave em (0,0,0). Para ver isso, calculamos, Φ u e
Φ v em (0, 0) ∈  ² .

∂x ∂y ∂z
∂Φ u = (0, 0)i + (0, 0) j + (0, 0)k ,
∂u ∂u ∂u
Φ u = cos(0)i + sen(0) j + 1k e Φ u = i + k ;

∂x ∂y ∂z
∂Φ v = (0, 0)i + (0, 0) j + (0, 0)k , z
∂v ∂v ∂v
Φ v = −u sen v i + u cos v j + 0 k e Φ v = 0 .

Pois Φ v = u sen(v)i + u cos(v) j.

Assim Φ u × Φ v = 1, 0,1 × 0, 0, 0 = 0 e pela definição a superfí- 0 y


cie não é suave em (0,0,0). x
Figura 4.34
A superfície z = x 2 + y 2 é um cone.

Exemplo 4.50. Seja Φ :  2 →  3 tal que Φ = ( x, y, z ) com


x(u , v) = u cos(v) , x(u , v) = usen(v) , z (u, v) = u 2 + v ² . Encontre a
equação do plano tangente no ponto Φ (1, 0) = (1, 0, 1) .

Solução. Assim, segundo a definição tem-se que calcular,

∂x ∂y ∂z
Φu = i+ j + k , logo após substituição temos
∂u ∂u ∂u
Φ v = cos(v)i + sen(v) j + 2uk ∀(u , v) .

∂x ∂y ∂z
De maneira análoga a partir de Φ v = i+ j + k obtemos a
∂v ∂v ∂v
segunda expressão Φ v = −usen(v)i + −u cos(v) j + 2vk .

Assim Φ u × Φ v = (−2u ² cos(v) + 2vsen(v) − 2v cos(u ), u ) sempre


que Φ u × Φ v ≠ 0 .

Estudando a identidade anterior em (u , v) = (0, 0) , temos


Φ u × Φ v = 0 . Assim não existe plano tangente em:

Φ (0, 0) = (0, 0, 0).

188
Contudo, a equação do plano tangente em outros pontos onde
Φ u × Φ v ≠ 0 pode ser construida. De fato, N = Φ u × Φ v = (−2, 0,1)
para (u,v) = (1,0), onde N é vetor normal no ponto (1, 0,1) ∈ S .

Portanto ( x − 1, y, z − 1).(−2, 0,1) = 0 é o plano requerido. Isto é,


−2( x − 1) + ( z − 1) = 0 . Simplificando, chegamos a z = 2 x − 1 .

Exemplo 4.51. Seja S o gráfico de uma função g :  2 →  , di-


ferenciável. Então mostrar que a superfície é suave em todos
os pontos (u0 , v0 , g (u0 , v0 )) ∈  3 e encontrar o plano tangente em
(u0 , v0 , z0 ) com z0 = g (u0 , v0 ) .

Solução. Para isto, escrevemos S na forma paramétrica,

x = x(u, v) = u , y = y (u , v) = v z = z (u , v) .

Considere a função,

Φ :  2 → 3
(u , v)  Φ (u , v) = ( x,
y, z ) .
Então, calculando as derivadas parciais e subtituindo, obtemos,

∂g ∂g
Φu = i + 0 j + (u0 , v0 )k , Φ v = 0i + j + (u0 , v0 )k ,
∂u ∂v
para (u0 , v0 ) ∈  2 . Assim a normal

∂g ∂g
N = Φu × Φv = − (u0 , v0 )i − (u0 , v0 ) j + k ≠ 0 ,
∂u ∂u
pois o coeficiente de k é 1 (um) ≠ 0 .

Assim, a superfície parametrizada (u , v)  (u , v, g (u , v))


é suave em todos os pontos. O plano tangente em
( x0 , y0 , z0 )  (u0 , v0 , g 0 (u0 , v 0 )) é dado pela equação

 ∂g ∂g 
( x − x0 , y − y0 , z − z0 ).  − (u0 , v0 ), − (u0 , v0 ),1 = 0 .
 ∂u ∂v 
Portanto,

∂g ∂g
− (u0 , v0 )( x − x0 ) − (u0 , v0 )( y − y0 ) + ( z − z0 ) = 0 .
∂u ∂v
Assim, a equação do plano tangente é

∂g ∂g
z − z0 = (u0 , v0 )( x − x0 ) + (u0 , v0 )( y − y0 ).
∂u ∂v
189
4.8 Área de Superfícies
Nesta seção vamos examinar o problema de calcular a área de
uma superfície para depois estudar a integral sobre uma superfí-
cie que será algo equivalente ao processo de estudar o cálculo do
comprimento de arco de uma curva para depois estudar a inte-
gral sobre a curva.

Anteriormente, definimos uma superfície parametrizada S como


sendo a imagem da função vetorial Φ : Ω ⊂  2 →  3 definida por
Φ (u , v) = ( x(u, v), y (u, v), z (u, v)) . A aplicação Φ foi chamada de pa-
rametrização de S e dizemos que a supericie S é suaveou regu-
lar no ponto Φ (u , v) ∈ S se o produto vetorial Φ u × Φ v ≠ 0 onde
  
Φ u = ∂ u x(u , v)i + ∂ u y (u , v) j + ∂ u z (u, v)k

e
  
Φ v = ∂ v x(u , v)i + ∂ v y (u , v) j + ∂ v z (u , v)k .

Uma superfície (regular) suave ou lisa é aquela que, a grosso


modo, não possui esquinas nem fraturas ou saltos.

No que segue vamos considerar unicamente superfícies suaves


por partes, que são formadas pela união de superfícies parame-
trizadas Φ i : Ωi ⊆  2 →  3 onde,

a) O conjunto Ωi é uma região do plano.

b) Φ i é de classe C1 e injetiva exceto na fronteira de Ωi repre-


sentada por ∂Ωi = Γi .

c) Si , a imagem de Φ i é suave, exceto possivelmente num nú-


mero finito de pontos.

Definição 4.17. Definimos a área da superfície parametrizada, de-


notada por A(S), pela seguinte expressão;

A( S ) = ∫ Φ u × Φ v dudv .

Se S é a união de superfícies Si , sua área será a soma das áreas


das superfícies Si .

190
Observação 4.21. Calculando o produto vetorial e tomando mó-
dulo obtemos uma expressão equivalente.

Temos os seguintes cálculos,

i j k ∂y ∂z ∂x ∂z ∂x ∂y
∂x ∂y ∂z ∂u ∂u ∂u ∂u ∂u ∂u
Φu × Φv = = i− j+ k
∂u ∂u ∂u ∂y ∂z ∂x ∂z ∂x ∂y
∂x ∂y ∂z ∂v ∂v ∂v ∂v ∂v ∂v
∂v ∂v ∂v

∂ ( y , z ) ∂ ( x, z ) ∂ ( x, y )
= , ,
∂ (u , v) ∂ (u, v) ∂ (u, v)
e
2 2 2
 ∂ ( y , z )   ∂ ( x, z )   ∂ ( x, y ) 
Φu × Φv =   +  + 
 ∂ (u , v)   ∂ (u, v)   ∂ (u, v) 
onde
∂ ( y, z ) ∂ u y ∂ v y
=
∂ (u , v) ∂ u z ∂ v z

e assim por diante com os outros somandos.

Assim, a fórmula dada na definição pode ser escrita da seguinte


maneira.
2 2 2
 ∂ ( y , z )   ∂ ( x, z )   ∂ ( x, y ) 
∴ A( S ) = ∫  ∂ (u , v)  +  ∂ (u , v)  +  ∂ (u, v)  dudv .

     

Para detalhes desta Podemos justificar essa definição analizando a integral


justificativa veja a
referência Marden e ∫Ω Φu × Φ v du dv em termos de somas de Riemann assumindo
Tromba (1996) [15]. por simplicidade que Ω seja um retângulo.

Exemplo 4.52. Sejam Ω = {(, v) : 0 ≤  ≤ 2 , 0 ≤ v ≤ 1} e


Φ : Ω ⊂  2 →  3 uma função com componentes,

x(v, ) = v cos(), y (v, ) = vsen(), z (v, ) = v .

Esta parametrização é de um cone, pois reescrevendo de maneira


simples chegamos a equação cartesiana do cone. Encontrar a área
desse cone.

191
Solução. Utilizamos a definição de área de uma superfície e para
isso calculamos

i j k
i j k
∂x ∂y ∂z
Φv × Φ = = cos() sen() 1 .
∂v ∂v ∂v
−vsen() v cos() 0
∂x ∂y ∂z
∂ ∂ ∂
Desse modo

Logo,

= −v cos i + vsenj + (v cos ²  + vsen² )k

ou
.

Assim,
Φu × Φv = v 2 .

Portanto,

Para confirmar que isto é a área de Φ (Ω) , devemos verificar que


Φ é injetora (para pontos que não estão na fronteira de Ω ). Seja

Ω0 = {(v, ) : 0 <  < 2 , 0 < v < 1}

onde Ω = Ω ∪ ∂Ω . Para ver que a função Φ : Ω →  3 é injetora


devemos ver que se

Φ (r , ) = Φ (r ',  ') então r ' = r e ∀(v, ), (v ',  ') ∈ Ω .

Isto não é difícil de ser verificado.

Exemplo 4.53. Uma helicóide (figura 4.34) é definida por


Φ : Ω ⊂  2 → 3 onde D = {(v, ) : 0 ≤ v ≤ 1 0 ≤  ≤ 2 } e
x(v, ) = v cos() , y (v, ) = v sen() e z (v, ) =  . Encontrar a área
do helicóide. Figura 4.34

192
Solução. Utilizando a fórmula de área

A( S ) = ∫ Φ v × Φ  dvd 

e substituindo na expressao do integrando da fórmula acima,

ou

= sen i − cos j + (v cos ²  + v sen² )k

Assim

Logo, a superfície é regular (ou suave). A área do helicóide é:

A( S ) = ∫ Φ v × Φ  dvd  =

Para o cálculo acima usamos a seguinte integral indefinida

Observação 4.22. Uma superfície S dada na forma z = f (x, y) com


( x, y ) ∈ Ω admite uma parametrização,

x = u, y = v, z = f (u , v), (u , v) ∈ Ω .

Quando f é de classe C1 , esta parametrização é suave e a fórmu-


la para a área da superfície fica reduzida a,

193
A( S ) = ∫∫ ( (∂ x f ) 2 + (∂ y f ) 2 + 1) dA

após substituir as seguintes fórmulas na definição inicial,


   
Φu = i + ∂u f k , Φv = j + ∂ v f k

e
     
Φ u × Φ v = −∂ u f i − ∂ v f j + k = −∂ x f i − ∂ y f j + k .

Observação 4.23. No exemplo anterior utilizamos a notação de


derivada parcial,
∂ ∂ ∂
∂x = , ∂ y = , ∂z = .
∂x ∂y ∂z

Exemplo 4.54. Encontre a área da superfície da esfera S descrita


por x 2 + y 2 + z 2 = 1 .

Solução. Precisamos apenas calcular a área do hemisfério superior


S+, onde S + : x 2 + y 2 + z 2 = 1, z ≥ 0 e o resultado multiplicar por
2. Assim,

Seja o conjunto Ω = {( x, y ) : x 2 + y 2 ≤ 1}

1
A( S + ) = ∫ [∂ x f ]2 + [∂ y f ]2 + 1 dA = ∫ dxdy .
Ω Ω 1 − x2 − y 2

Colocando os extremos das integrais,

y = (1− x 2 )1/2
1 (1− x 2 )1/2 1  1  y 
A( S + ) = ∫ ∫ dydx = ∫ arcsen  2 1/2   dx
−1 − (1− x 2 )1/2
1 − x2 − y 2 −1
  (1 − x )   y =− (1− x2 )1/2
Assim após a integração corrspeondente obtemos
1
A( S + ) = ∫  dx = 2  .
−1

Logo,

A( S ) = 2 A( S + ) = 2[2 ] = 4  .

194
Em cálculo elementar se mostra que a área da superficie lateral
gerada ao girar o gráfico da função y = f ( x) ao redor do eixo x
é dada por,
b
A1 = 2  ∫ f ( x) 1 + [ f '( x)]² dx .
a

Se o gráfico da função y = f(x) gira ao redor do eixo y , temos a


fórmula,
b
A2 = 2  ∫ x 1 + [ f '( x)]² dx .
a

A seguir deduziremos essas fórmulas com as ferramentas desen-


volvidas nesta seção. Com efeito, para obter a primeira fórmula
acima devemos fornecer uma parametrização da superfície S .
Definimos dita parametrização por

x = u, y = f (u ) cos(v), z = f (u )sen(v), (u , v) ∈ Ω

sobre a região Ω = {(u , v) : a ≤ u ≤ b e 0 ≤ v ≤ 2 } .

Isto é uma parametrização de S , pois para u fixado, a terna,

(u , f (u ) cos(v), f (u )sen(v))

descreve uma circunferência de raio f (u ) com centro (u , 0, 0) .

Utilizando a fórmula

A( S ) = ∫∫ Φ u × Φ v dudv
D

devemos calcular
i j k
f '(u ) cos u f '(u )senv 1
u × v = 1 f '(u ) cos v f '(u )senv = i −
−senvf (u ) f (u ) cos v 0
0 −senvf (u ) f (u ) cos v
i j k
f '(u ) cos u f '(u )senv 1 f '(u ) cos v
u × v = 1 f '(u ) cos v f '(u )senv = i − k.
−senvf (u ) f (u ) cos v 0 −senvf (u )
0 −senvf (u ) f (u ) cos v
Isto resulta em

u × v = f '(u ) f (u )i − ( f (u ) cos v)i + (−senvf (u ))k .

195
Logo,

u × v = ( f '(u ) f (u ))² + f (u )² cos v + sen² vf (u )²

u × v = f '(u )² f (u )² + f (u )² .

Assim, A( S ) = ∫∫ Φ u × Φ v dudv = ∫∫ f (u ) 1 + [ f '(u )]2 dudv


Ω Ω
b 2
=∫ ∫ f (u ) 1 + [ f '(u )]2 dv du
a 0

Logo obtemos a primera fórmula, após integrar na variável v ,


b
A( S ) = 2  ∫ f (u ) 1 + [ f '(u )]2 du .
a

Para obter a segunda fórmula dada na afirmação inicial se pro-


cede de maneira equivalente e deixamos como exercício para o
leitor.

Observação 4.24. Se S é uma superfície de revolução, então


2  f ( x) é a circunferência de direção transversal à S no ponto
x . Observe que se pode escrever,
b
A( S1 ) = ∫ 2  f ( x) 1 + [ f ′( x)]2 dx = ∫ 2  f ( x) ds
a C

onde a curva C esta dada na forma paramétrica,


C : r (t ) = t , f (t ) , t ∈ [a, b] . Logo temos a fórmula,

∴ A( S1 ) = ∫ 2  f (t ) ds
C
2π[ f (x)]
onde a integral da direita é a integral sobre a curva de y
2  f ( x) ao longo da curva ou trajetória determinada pela
curva C :[a, b] →  2 , t  (t , f (t )) . Consequentemen-
te, a área da superfície lateral de um sólido de revolução é
a x b x
obtida integrando a circunferência transversal ao longo da
curva determinada pela função dada.

Figura 4.35

196
Resumo
Neste capítulo estudamos as funções vetoriais e as aplicações do
calculo diferencial sobre elas. Isso nos motiva para compeender
melhor as aplicações físicas e da engenharia que estão relaciona-
das com o movimento e forças. A utilização de funções vetoriais
no espaço possui a vantagem de ter interpretações geométricas
de conceitos e relações. Por todas essas razões as funções vetorias
são muito utilizadas na matemática aplicada. Também estudamos
o problema de calcular a área de uma superfície que por analogia
é encontrar a solução do problema de encontrar o comprimento
de uma curva.

197
5 Equações Diferenciais
Lineares
5 Equações Diferenciais Lineares

Ao longo deste capítulo estudaremos as equações diferen-


ciais ordinárias, muitas vezes  conhecidas ou chamadas
de EDO’s. Abordaremos o caso linear de primeira e se-
gunda ordem com coeficientes constantes. Resolveremos
os problemas que se apresentam neste contexto: problema
de valor incial e o caso geral. Métodos apropriados serão
fornecidos para  as soluções  dos problemas anteriormen-
te citados.

As equações diferenciais ocupam um lugar de destaque e impor-


tância na solução de muitos problemas encontrados quando se
modela fenômenos físicos. A grande maioria das disciplinas nas
ciências físicas, cada uma com suas próprias necessidades, exige
que o estudante esteja em condições de construir e propor uma
grande variedade de situações físicas e que possa resolvê-las.

Ao longo deste texto vamos considerar muitas situações físicas


que levam para equações diferenciais e apresentaremos ferra-
mentas teóricas e práticas para obter suas soluções.

As equações diferenciais têm muitas aplicações na resolução de


problemas complicados sobre movimento, crescimento, vibra-
ções, eletricidade e magnetismo e todo tipo de fenômeno físico
que inclua taxas de variação de funções.

A nomenclatura equações e diferencial induzem a pensar sobre


alguma espécie ou classe de equações que possua derivadas. As-
sim como nas disciplinas elementares de álgebra e trigonometria,
empregamos um bom esforço para resolver equações de tipo po-
linomial para uma incógnita independente, nesta disciplina uma
de nossas tarefas será resolver equações diferenciais para uma
função incógnita.

201
5.1 Definições e Nomenclatura
Uma equação que contém as derivadas ou diferenciais de uma ou
mais variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis
independentes é chamada de equação diferencial, abreviadamente
denotada por ED. Se nas equações existem diferenciais totais, de-
rivadas totais ou ambas e não existem derivadas parciais, então se
chama equação diferencial ordinária, (EDO); se aparecem deriva-
das parciais se denomina equação em derivadas parciais. (EDP).

Uma equação diferencial ordinária, de forma abreviada EDO,


é uma equação diferencial onde a variável dependente, função
incógnita e suas derivadas, são funções de uma única variável
independente, quantidade da qual dependem as variáveis depen-
dentes. Em outras palavras uma EDO é uma equação envolvendo
uma função de uma variável e suas derivadas até uma determi-
nada ordem.

Assim as seguintes relações

dy
= x2 + 7 (1.3)
dx

d2y dy
x3 2
+ 4x + y = x2 + 4 (1.4)
dx dx
2 3
 d3y  d 2 y dy 2 dy 
 3  +4 2 + x   = 0 (1.5)
 dx  dx dx  dx 

(1.6)

dy
( x + y 2 − 5 y) + ( x2 + 5x + y) = 0 (1.7)
dx

são equações diferenciais ordinárias (EDO), enquanto,

∂z
= y (1.8)
∂x

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
+ + = 0 (1.9)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

202
∂ 2u ∂ 2u ∂u
= −4 (1.10)
∂x 2 ∂t 2 ∂t

são equações em derivadas parciais (EDP).

Observação 5.1. A partir deste momento, ao longo deste texto,


as derivadas ordinárias serão escritas com a notação de Leibnitz,
quociente de diferenciais, dy/dx , d 2 y/dx 2 , que explicita clara-
mente as variáveis dependentes e independentes ou a notação po-
tência de linhas, y′ , y′′ e y′′′ , usada para denotar as três primei-
ras derivadas. A partir da quarta derivada muda de configuração,
y (4) , y (5) , .

Existe uma terceira alternativa para representação das derivadas,


as vezes usada em Física e Engenharia, chamada de notação pon-
to de Newton (conhecida como sujeira de mosca), assim y , y,
denotam derivadas com relação a variável tempo.

As derivadas parciais as vezes são denotadas em notação subes-


crito indicando as variáveis independentes, isto é, u x , u xt , .

Classificação. Classificaremos as equações diferenciais ordiná-


rias pela ordem e pelo grau.

• A ordem de uma equação diferencial (EDO ou EDP) é a or-


dem da derivada de maior ordem que aparece na equação.
Dentre as equações enumeradas anteriormente, são de pri-
meira ordem as equações (1.3) e (1.7), de segunda ordem são
as equações (1.4) e (1.6) e de terceira ordem a equação (1.5).

• O grau de uma equação diferencial ordinária algébrica com


relação a suas derivadas é o grau algébrico de sua derivada
de maior ordem.

Considere a seguinte equação,


2 2
 d2y   dy 
3
 2  = 1+   . (1.11)
 dx   dx 

Neste caso, a derivada de maior ordem é d 2 y/dx 2 , portanto a or-


dem da equação diferencial é dois. Elevando a sexta potência am-
bos membros da equação anterior (1.11), temos

203
4 3
 d 2 y    dy  
2

 2  = 1 +    . (1.12)
 dx    dx  

Assim quatro, é o grau de d 2 y/dx 2 , logo é o grau da equação di-


ferencial (1.11).

As equações diferenciais (1.3), (1.4) e (1.7) são de primeiro grau; as


equações diferenciais (1.5) e (1.6) são de segundo grau. A equação
(1.6) é de segundo grau, pois d 2 y/dx 2 aparece elevado ao quadra-
do após eliminar a raiz quadrada.

De maneira mais geral podemos expressar uma equação diferen-


cial ordinária de ordem n pela seguinte relação

F ( x, y, y′, y′′, , y ( n ) ) = 0, (1.13)

onde F é uma função a valores reais de n + 2 variáveis.

Observação 5.2. Em adição a sua ordem e grau, é útil classificar


uma equação diferencial ordinária como uma equação diferen-
cial linear e não linear de acordo com a seguinte definição,

Linearidade. Uma equação diferencial ordinária (1.13) de ordem


n é linear se F for linear em y , y′ , y′′,, y ( n −1) , y (n ) . Isso signi-
fica que deve ser da forma

bn ( x) y ( n ) + bn −1 ( x) y ( n −1) +  + b1 ( x) y '+ b0 ( x) y − h( x) = 0

ou
dny d n −1 y dy
bn ( x) n
+ bn −1 ( x ) n −1
+  + b1 ( x) + b0 ( x) y = h( x) . (1.14)
dx dx dx
Na equação diferencial (1.14) reparamos que a variável dependen-
te e todas as suas derivadas são de primeiro grau. Cada coefi-
ciente depende no máximo da variável independente. Essas são
características de uma equação diferencial ordinária e linear.

Uma situação particular acontece quando h( x) ≡ 0 , a equação di-


ferencial ordinária dada em (1.14) é chamada de homogênea.

Uma equação diferencial ordinária não linear é aquela que não


pode ser escrita como a relação (1.14). Funções não lineares na va-

204
riável dependente ou suas derivadas, como por exemplo, cos( y )
ou exp( y′) , não podem aparecer em uma equação linear. Assim
sendo,

(1 − y ) y′ + 4 y = e x (1.15)

d2y
+ cos( y ) = 0 (1.16)
dx 2

d3y
3
+ y3 = 0 (1.17)
dx
são equações diferenciais ordinárias não lineares de primeira, se-
gunda e terceira ordem respectivamente. A equação (1.15) possui
o primeiro termo com coeficiente que depende da variável depen-
dente, a segunda equação (1.16) possui um termo onde existe fun-
ção não linear em y e finalmente a terceira equação (1.17) possui
um termo onde a potência da variável dependente é diferente de
um. Todos os termos mencionados em cada equação são termos
d5y
não lineares. Tambem as equações yy ''− 3 y ' = x e 5
+ y 2 = 0 são
dx
equações diferenciais ordinárias não lineares de segunda e quinta

ordens, respectivamente.

Soluções de uma Equação Diferencial. Nosso objetivo é resolver


equações diferenciais e encontrar suas soluções, portanto defini-
mos a seguir o que entendemos por solução.

Definição 5.1. Qualquer função g a valores reais, definida em


algum intervalo I ⊂  , quando substituída na equação diferen-
cial, reduz a equação a uma identidade, é denominada solução da
equação no intervalo I .

Em símbolos, podemos escrever do seguinte modo: uma solução


para a equação diferencial

F ( x, y, y′, y′′, , y ( n ) ) = 0, (1.18)

é uma função g que possui pelo menos n derivadas e satisfaz a


equação,

F ( x, g ( x), g ′( x), g ( x)′′, , g ( n ) ( x)) = 0, (1.19)

205
para qualquer x ∈ I , onde I pode representar um intervalo aber-
to, fechado, infinito e assim por diante, segundo o contexto onde
se esteja considerando a equação diferencial.

Exemplo 5.1. A função de variável real definida em  por


f ( x) = sen( x) é uma solução da equação diferencial linear,

y′′ + y = 0, x ∈ I = .

Solução. Para verificar a afirmação proposta, calculamos as deri-


vadas da relação y = f ( x) ,

d d
y′ = sen( x) = cos( x) e y′′ = cos( x) = −sen( x).
dx dx

Substituindo na equação diferencial obtemos

para qualquer x ∈  .

x3/2
Exemplo 5.2. Verificar que a função y = f ( x) = é uma solu-
1− x
ção da equação diferencial não-linear

no intervalo ]0,1[ .

Solução. Procedemos de maneira semelhante ao exemplo anterior.


Derivando a relação y = f ( x) uma vez, e substituindo na equação
diferencial, obtemos

 3 x1/2 x3/2  x3/2  x3 


2 x3 y′ − y ( y 2 + 3x 2 ) = 2 x 3  + 3/2 
−  + 3x 2 
 2 1 − x 2(1 − x)  1− x 1 − x 
3 x 7/2 x 9/2 x 9/2 3x 7/2
= + 3/2
− − = 0.
1 − x (1 − x) (1 − x)3/2 1− x

para todo x no intervalo ]0,1[ .

Observação 5.3. Nos dois exemplos anteriores, a função constan-


te nula, ( f ≡ 0 ), também é solução. Estas soluções são conhecidas
como soluções triviais.

206
Nem toda equação diferencial que escrevemos possui necessaria-
mente uma solução, por exemplo, a seguinte equação diferencial,

( y '') 2 + ( y ') 2 = 1.

Curva Integral. O gráfico de uma solução g de uma equação


diferencial ordinária, é chamado de Curva Integral. Já que g é
uma função diferenciável, então ela é contínua em seu intervalo
de definição I . Com isto podemos perceber que pode existir uma
diferença entre o gráfico da função g e o gráfico da solução g .
Isto é, o domínio da função g não deve ser igual ao intervalo I
de definição da solução g .

1
Exemplo 5.3. Verificar e discutir se a função y = g ( x) = é solu-
Será que o domínio da x
função g coincide com o
ção da equação diferencial,
intervalo da definição da
solução?

1
Solução. A função g ( x) = , está definida para todos os números
x
reais exceto o zero. Isto é, ela é descontínua no zero e também não
é diferenciável no mesmo ponto, pois o eixo y com equação x = 0
se comporta como uma assíntota vertical do gráfico.

Também a função g é uma solução da equação diferencial dada,


isto se verifica por simples derivação, mas quando dizemos que
se trata de uma solução estamos admitindo que ela é definida,
diferenciável num intervalo I e satisfaz a equação diferencial. De
modo mais claro, a função g é uma solução da equação diferen-
cial em qualquer intervalo que não contenha o zero, embora ela
esteja definida em todo x ≠ 0 .

Tomando I tão grande quanto possível, podemos ter ] − ∞, 0[ ou


]0, ∞[ , assim temos intervalos de definição apropriados para a
solução g . Isto nos diz que o domínio de definição não necessa-
riamente coincide com o intervalo de definição. Assim y = g ( x) é
solução da EDO no intervalo I =] − ∞, 0[ ou ]0, ∞[ .

Soluções Explícitas e Implícitas. Estes conceitos são os mesmos


de função explícita e implícita fornecidos no cálculo elementar.
Uma solução na qual a variável dependente é expressa explici-
tamente em termos da variável independente e das constantes é
chamada de solução explícita.

207
Quando resolvemos uma equação diferencial os métodos de solu-
ção nem sempre nos levam para uma solução explícita, y = g ( x) .
Em particular, isso é verdadeiro quando se resolve equações dife-
renciais não-lineares de primeira ordem. Em geral obtemos uma
relação ou expressão G ( x, y ) = 0 , que define implicitamente uma
solução y = g ( x) .

Para averiguar as condições sob as quais a relação G ( x, y ) = 0 de-


fine uma solução diferenciável g , temos que consultar o Teorema
da função implícita nas referencias no final deste texto. Supondo
que essas condições estejam satisfeitas, se a implementação for-
mal de um método de solução levar a uma relação G ( x, y ) = 0 ,
haverá pelo menos uma função g que satisfaça tanto a relação,
G ( x, g ( x)) = 0 , quando a equação diferencial num intervalo I . Se
a solução implícita G ( x, y ) = 0 for bem simples, podemos resolver
y em termos de x e obter uma ou mais soluções explícitas.

Família de Soluções. A solução g as vezes é chamada de Inte-


gral da equação diferencial. Quando resolvemos uma equação
diferencial de primeira ordem F ( x, y, y′) = 0 , obtemos em geral
uma solução contendo uma única constante arbitrária ou parâ-
metro k . Uma solução dependendo de uma constante arbitrária
representa um conjunto G ( x, y, k ) = 0 de soluções chamada famí-
lia de soluções a um parâmetro.

Ao resolver uma equação diferencial de ordem n ,


F ( x, y, y′, , y ( n ) ) = 0 , encontraremos uma família de soluções a
n parâmetros G ( x, y, k1 , , kn ) = 0 . Isto nos diz que uma equação
diferencial possui infinitas soluções correspondentes a quantida-
de ilimitada de opções dos parâmetros. A família de soluções a n
parâmetros é também conhecida como solução geral, ou comple-
ta, para a equação diferencial.

A solução de uma equação diferencial que não dependa de parâ-


metros arbitrários é denominada de solução particular.

Existem situações onde a equação diferencial possui solução que


não é membro de uma família de soluções da equação diferencial.
Esta solução não é obtida atribuindo-se valores particulares aos
parâmetros na família de soluções. Tal solução adicional é deno-
minada de solução singular.

208
5.2 Sistemas de Equações Diferenciais
Nas aplicações e na teoria, nos defrontamos também com sistemas
de equações diferenciais. Num sistema de equações diferenciais
ordinárias aparecem duas ou mais funções, e suas derivadas, in-
cógnitas de uma única variável independente. Um sistema de duas
equações diferenciais ordinárias de primeira ordem é dado por

dx
= f (t , x, y ) (1.20)
dt

dy
= g (t , x, y ) (1.21)
dt
onde as funções incógnitas são x = x(t ) e y = y (t ) e t é a variável
independente.

Uma solução do sistema (1.20) e (1.21) é um par de funções dife-


renciáveis x = h1 (t ) , y = h2 (t ) , definidas num intervalo comum I ,
que satisfazem cada equação do sistema no intervalo I .

É difícil estudar a equação (1.13) diretamente em casos gerais, por


isso nos restringiremos às hipóteses do Teorema da função implí-
cita, de maneira que se possa aplicar à (1.13). Isto significa que nes-
se, sempre será possível resolver a equação diferencial ordinária
dada por (1.13), de forma única, para que a derivada mais alta y ( n )
se escreva em termos das n + 1 variáveis restantes, a fim de obter

y ( n ) = f ( x, y, y′, y′′, , y ( n −1) ) (1.22)

onde f é uma função contínua de valores reais. A equação dife-


rencial (1.22) é conhecida por forma normal da equação (1.13).

Devemos destacar que toda equação da forma normal (1.22) pode


ser reduzida ao estudo de uma equação diferencial de primeira
ordem.

209
Exercícios
1) Encontre a ordem e determine qual das seguintes equações
são lineares e quais são homogêneas:

y'
a) = 1+ t
y
b) y ' y = 1 + t

c) sen( y ') = y

d) y '' = y

e) y '' = t 2

f) ( y 2 ) ' = − y + 1

2) Fazer o mesmo que no exercício anterior com as seguintes


equações diferenciais:

a) b)

3) Encontre uma família de soluções de cada equação diferen-


cial a seguir:

a)

b)

c)

d)

e) y ( ) = t 2 .
3

f) y ( ) = t − 2.
4

4) Mude a variável dependente de maneira que cada problema


abaixo se transforme num problema de valor inicial com sua con-
dição inicial dada em t = 0 .

a) b)

c)

210
5.3 Equações Diferenciais de Primeira Ordem
Denotamos por  o conjunto dos números reais e Ω um domí-
nio, isto é, um subconjunto aberto conexo e não vazio de  2 . Con-
sidere uma função f com valores reais definida e contínua em Ω .
Considere a seguinte equação diferencial de primeira ordem

dy
= f ( x, y ) (1.23)
dx
onde f é uma função de duas variáveis.

Por solução da equação diferencial (1.23) num intervalo aberto


Ι ⊂  entendemos como uma função a valores reais continuamen-
te diferenciável , definida em I , tal que os pontos
para todo x ∈ I e se satisfaça,

 '( x) = f ( x, ( x)), x ∈ I .

Ocasionalmente, será conveniente denotar uma solução pelo sím-


bolo alternativo y ( x) .

O intervalo I da definição anterior é também conhecido por inter-


valo de definição, intervalo de existência, intervalo de validade ou
domínio da solução e pode ser um intervalo aberto (a, b) , um in-
tervalo fechado [a, b] , intervalo infinito ]a, ∞[ , e assim por diante.

Nosso problema é encontrar se tais funções existem e, em caso


afirmativo, desenvolver métodos para encontrá-las. Infelizmente,
para uma função arbitrária f , não existe método geral para resol-
ver a equação em termos de funções elementares.

Dado o ponto ( t, ) ∈ Ω , o problema de valor inicial para equa-


ção diferencial (1.23) é

y′ = f ( x, y ),, y (t ). = x (1.24)

Uma função  é solução de (1.24) se  é uma solução da equação


diferencial (1.23) em algum intervalo I contendo t e .

Geometricamente, procuramos o gráfico de uma solução definida


em algum intervalo I para uma equação diferencial, que passa
pelo ponto fornecido.

211
Uma solução típica de um problema de valor inicial esta represen-
tada na seguinte figura

(ζ,ξ) L
ξ ϕ(t)
m

a ζ b t

Figura 5.1

onde o intervalo de existência está representado por I = ]a,b[ e o


símbolo m representa a inclinação da reta L que é igual ao valor
f ( t, ( t )) .

5.3.1 Existência e Unicidade


Duas perguntas fundamentais aparecem quando tratamos um
problema de valor inicial: a solução desse problema existe? Se
existir, será que é única?

Em nosso problema de valor inicial particular (1.24), a questão


sobre existência será formulada da seguinte maneira: a equação
diferencial y′ = f ( x, y ) possui solução? Alguma curva integral
passa pelo ponto ? Sobre a unicidade podemos inquirir:
quando podemos ter certeza que existe uma única curva integral
passando pelo ponto ?
O Teorema de Picard
estabelece algumas
Em geral, desejamos saber, antes de resolver um problema de va- condições suficientes, mas
não necessárias, para a
lor inicial, se uma solução existe e se é a única solução para o pro- existência e unicidade da
blema. Segundo o Teorema de Picard temos condições suficientes solução.
para garantir existência e unicidade de solução.

Teorema 5.1. Seja R uma região retangular no plano xy defi-


nida por [a, b] × [c, d ] , que contém o ponto em seu interior.
Considere f ( x, y ) e ∂ y f ( x, y ) contínuas em R , então existe um
intervalo I centrado em t e uma única função definida em
I que satisfaz o problema de valor inicial (1.24).

212
d
R
(ξ,ζ)
ξ

0 a ζ b

Figura 5.2

Dado que as condições ou critérios de continuidade de f ( x, y )


e ∂ y f ( x, y ) são fáceis de ser verificados, então o Teorema 3.1 é
muito utilizado para se verificar a existência e unicidade. Sobre o
intervalo I no qual está definida a solução, teremos uma infor-
mação precisa quando é resolvida a equação diferencial.

Exemplo 5.4. Considere o seguinte problema,


1
y'= y , 3
y ( t ) = 0.

Verificar se as hipóteses do Teorema são satisfeitas.


1
Solução. Como f ( x, y ) = y 3 então é contínua, f satisfaz a hipó-
tese de continuidade do Teorema 3.1. Também existe uma solução
(que pode ser obtida pelo método de separação de variáveis). Po-
demos verificar que a função,
3
 2(t − t )  2
(t ) = 
 3 
é uma solução. Porém esta solução não é única pois (t ) ≡ 0 é
também solução. Isto acontece porque a função f(x,y) não possui
continuidade em sua derivada parcial com relação a variável y .
Assim, não existe uma única solução para esse problema.

Exemplo 5.5. Consideremos a seguinte função,

y ' = − s ( y ), y ( t ) = 0, t ≥ t

onde a função s ( y ) possui a seguinte lei de correspondência

213
 1, se y≥0
s( y) =  .
−1, se y<0

Esta equação não possui solução continuamente diferenciável,


isto é, não é de classe C1 , pois a função s ( y ) é descontínua. Neste
caso a solução pode ou não existir no sentido como temos defini-
do a solução de um PVI. Por outro lado se modificamos a equação
diferencial para seguinte expressão

y ' = s ( y ), y ( t ) = 0, t ≥ t

obtemos que esse problema de valor inicial possui uma única so-
lução (t ) = t − t para cada .

Observação 5.4. Devemos distinguir entre a existência de uma


solução e poder mostrar ou exibir tal solução. Isto não é contrário
ao fato de encontrar uma solução exibindo-a, logo dizer que exis-
te, mas por outro lado uma solução pode existir e não ser possível
expressá-la.

As condições dadas no Teorema 3.1 são chamadas de suficientes,


mas não de necessárias. Quando f ( x, y ) e ∂ y f ( x, y ) são contí-
nuas numa região retangular R , segue-se que existe uma única
solução para o problema de valor inicial quando é um ponto
interior a R . Porém se uma das condições não é satisfeita, então o
problema de valor inicial ainda pode ter ou não solução, ter mui-
tas ou uma única solução.

No caso de não estarmos interessados na unicidade, o Teorema


de Peano, ver Sotomayor [25], diz que a continuidade de f ( x, y )
em R é suficiente para garantir a existência de pelo menos uma
solução para o problema de valor inicial passando pelo ponto
interior a R .

Podemos apresentar o problema de valor inicial (1.24) equivalen-


temente por uma equação integral da forma

. (1.25)

Para provar a equivalência, suponhamos primeiro que  seja um


solução do PVI (1.24). Disto decorre que e

214
.

Integrando de  até x , obtemos,

logo é uma solução da equação integral .

Reciprocamente, agora vamos a supor que seja solução da


equação integral (1.25). Decorre por simples inspeção que .
A seguir derivamos ambos os lados da equação (1.25) com relação
a x para obter

portanto,  é também uma solução do problema de valor inicial


(1.24).

Observação 5.5. As demonstrações dos Teoremas de existência e


unicidade para o problema de valor inicial (1.24), em geral, utiliza
a formulação integral (1.25) desse P.V.I.

5.3.2 Equações Lineares de Primeira Ordem


Consideremos a equação diferencial ordinária de primeira ordem

y′ + p ( x) y = q ( x), ∀ x∈I ,

onde p e q são funções contínuas definidas em I . Chamamos


a q como função forçante ou externa. Se a função forçante, q , é
zero, então a equação diferencial homogênea associada é:

y′ + p ( x) y = 0, ∀ x∈ I,

que também é chamada de equação complementar da equação


não-homogênea.

Equações Homogêneas
A seguir vamos calcular a solução da equação homogênea. Escre-
vemos a equação homogênea da seguinte forma

215
dy
= − p ( x)dx.
y
Integrando indefinidamente temos

ln y = − ∫ p ( x) dx + K

onde K é uma constante arbitrária. Logo, de modo equivalente


K
y ( x) = exp{− ∫ p( x)dx + K } = e exp{− ∫ p( x)dx}.

Se colocamos
P ( x) = ∫ p ( x) dx

então podemos escrever a solução procurada assim

y ( x) = Ce − P ( x )

onde C = e K e P ( x) é uma primitiva de p ( x) e não contém a cons-


tante de integração.

Exemplo 5.6. Encontre as soluções da equação diferencial com


coeficientes constantes

y′ + py = 0

onde p é uma constante.

Solução. Resolvemos a seguinte equação desprezando a constante


de integração
P ( x) = ∫ pdx = p ∫dx = px.

Logo a solução procurada será,

y ( x) = Ce − px

onde a constante C é arbitrária.

Baseados nos exemplos anteriores podemos considerar o proble-


ma de valor inicial

y′ + p ( x) y = 0, y ( xo ) = b ∀ x, xo ∈ I ,

onde p é uma função contínua em I , b ∈  e x0 é um ponto fi-


xado de I .

216
Enunciamos o seguinte resultado fundamental: para qualquer
constante real b , o problema de valor inicial

y′ + p ( x) y = 0, y ( xo ) = b ∀ x, xo ∈ I ,

possui uma única solução

y ( x) = be − P ( x )

onde
x
P( x) = ∫ p ( s ) ds .
x0

Exemplo 5.7. Encontre a solução do problema de valor inicial com


coeficiente variável

y′ + 8 x y = 0, y (0) = 13 ,

onde p ( x) = 8 x é uma função linear e contínua.

Solução. De acordo ao resultado mostrado, teremos que calcular


a seguinte integral
x
P( x) = ∫ 8sds = 4 x 2
0

O intervalo considerado dever conter o zero. Identificando que


b = 13 podemos concluir que,
2
y ( x) = 13e −4 x

é a solução do problema de valor inicial fornecido.

Exercícios
1) Encontre a solução única de cada um dos seguintes proble-
mas de valor inicial associados com equações diferenciais:

a) y ' = 10 y, y (0) = 1.

b)

c)

d)

217
e)

f)

2) Encontre a família de soluções da equação diferencial


onde p é uma constante, que satisfaz y (0) = 1.

3) Encontre uma família de soluções da equação diferencial


Porque to = 0 é uma escolha não conveniente para
um PVI associado?

4) Considere a equação diferencial (1 − t ²) y '(1 − t ²) y '+ y = 0 e a


família de soluções dada por
1/2
1− t
y (t ) = M .
1+ t
Verifique que y (t ) é uma solução em cada intervalo que não con-
tem os pontos t = 1 e t = −1 .

5) Mostre que a função 1 − t e a função − t4


2
são duas soluções do
problema de valor inicial

( y ')² + ty '− y = 0, y (2) = −1.

5.3.3 Equações Não-homogêneas


Consideremos a equação diferencial linear geral não-homogênea
de primeira ordem
y′ + p ( x) y = q ( x).

Suponhamos que yc seja a solução geral da equação homogênea


associada L[ y ] = y '+ p( x) y = 0 e y p uma solução particular da
equação diferencial não-homogênea. Vamos a fazer a seguinte
afirmação, a função,
y = y p + K yc

é uma solução da equação não-homogênea para qualquer escolha


da constante K .

Com efeito, substituindo y e y′ na equação diferencial

218
y '+ p ( x) y = y p '+ Kyc '+ p ( x)[ y p + Kyc ]
 
= y p '+ p ( x) y p + K  yc '+ p ( x) yc  = q ( x)
     
= q (x )  =0 

Com isto provamos a nossa afirmação.

A importância da dedução acima é que podemos encontrar fa-


mílias de soluções da equação não-homogênea incrementando
uma solução específica para a equação não homogênea com a so-
lução geral da equação diferencial homogênea. Por isso primeiro
encontraremos a solução geral da equação homogênea e dedica-
mos nosso esforço para as soluções particulares da equação não-
homogênea. Existem muitos métodos que podem ser utilizados
pare este fim.

Exercícios
1) Encontre a solução geral das seguintes equações diferenciais
ordinárias. Em alguns problemas será necessário expressar a res-
posta em termos de integrais.

a) y '+ y = 2.

b) y '+ 2 y = 2t.

c)

d)

e)

f)

2) Encontre as soluções dos problemas de valor inicial:


a) y ' = 2 y − 1, y (0) = 2 .

b)

c) ty '+ y = 2t y (1) = 10, t > 0.

d) (1 + t ²) y '+ 2ty = 2t , (0) = 1.

219
5.4 Método de Variação de Parâmetros
Escolhemos um método para resolver problemas não homogêne-
os, que possa ser generalizado para equações diferenciais ordi-
nárias de ordem superior e para sistemas lineares de equações
diferenciais. Este método é chamado de Variação de Parâmetros.
A seguir vamos enunciar alguns procedimentos deste método in-
teressante.

1) Encontre a solução de equação diferencial homogênea asso-


ciada e substitua a constante arbitrária K por uma função
 . Defina a seguinte função,

onde P ( x) = ∫ p ( x) dx . O nome deste método se origina neste


passo, pois esta construída a partir da solução da equação
homogênea, substituindo o parâmetro K pela função  ( x) .

2) Encontre a função  ( x) de maneira que y p , dada no primei-


ro passo seja solução da equação diferencial não-homogê-
nea. Executamos isto substituindo y p e y′p na equação dife-
rencial geral linear não-homogênea, levando em conta que
P '( x) = p ( x) . Assim obtemos o seguinte raciocínio

y′p = v 'exp{− P( x)} − v P '( x) exp{− P( x)}


= v 'exp{− P( x)} − v p ( x) exp{− P( x)}
= v 'exp{− P( x)} − p ( x) y p

Isso mostra que y′p + p ( x) y p = v′ exp{− P( x)} . De maneira que


y p é solução se e somente se,

Finalmente, integramos a relação aciam para obter a função v

3) Formar y p a partir de sua definição utilizando a expressão


explícita de  ( x) obtida no passo anterior.

Este é o método de variação de parâmetros para equações dife-


renciais ordinárias de primeira ordem lineares.

220
Exemplo 5.8. Utilize o método de variação de parâmetros para
encontrar a solução geral de

y′ + 2 y = 4.

Solução. A solução da equação homogênea pode ser obtida facil-


mente. Primeiro encontramos a solução da equação homogênea,
utilizando a discussão anterior,

yc ( x) = Ce −2 x

onde C é uma constante arbitrária.

Agora procuramos uma solução particular da equação não homo-


gênea, segundo o método de variação de parâmetros. Temos

onde a constante de integração se toma zero, pois necessitamos


somente uma solução particular.

Finalmente, a solução procurada é da seguinte forma

y ( x) = yc ( x) + y p ( x) = Ce −2 x + 2.

onde a constante C é arbitrária.

Exercícios
1) Encontre a solução geral das seguintes equações:
a) xy′ + 2 y = 0 .

b) (1 − x 2 ) y′ − y = 0 .

c) .

d) 3 y′ + ky = 0 , k é constante.

e) 2 y′ + 3 y = e − x .

f) 3 xy′ + 3 y = ln x + 1 .

di
g) L + Ri = E , L,R,E constantes L,R ≠ 0 i = i (t ) .
dt
h) (3 x 2 + 1) y′ − 2 xy = 6 x .

221
i) ( x 2 + 1) y′ − (1 − x 2 ) y = xe − x .

j) ( x 2 + 1) y′ + xy = (1 − 2 x) x 2 + 1 .

2) Encontre uma solução particular da equação xy′ − ( x) y = 0 no


intervalo ]0, +∞[ que passa pelo ponto (1, −1) .

3) Encontre a curva solução da equação: dy


dx
+ y = e − x /2 , que
x
2

passa pelo ponto (2, −3) . Qual é a ordenada do ponto da curva


solução correspondente ao ponto x = 1 ?

4) Encontre a inclinação da curva solução do exercício (1.c) no


ponto (2, −3) .

222
5.5 Equações Diferenciais Lineares de segunda
ordem com coeficientes constantes
Estudaremos agora como obter soluções para equações diferen-
ciais lineares de ordem dois. Ainda que possamos resolver algu-
mas equações não lineares de primeira ordem pelas técnicas da
seção anterior, as equações não lineares de segunda ordem resis-
tem à solução, pois não existem métodos pelos quais se possa ob-
ter a solução em termos de funções elementares ou outros tipos.

Começamos esta seção examinando a teoria correspondente às


equações diferenciais lineares e colocamos condições na equação
diferencial sob as quasis podemos obter sua solução geral. Recor-
demos que uma solução geral contém todas as soluções para a
equação em algum intervalo. A seguir desenvolvemos métodos
para obter uma solução geral para uma equação linear com coefi-
cientes constantes. Notamos que a nossa habilidade para resolver
uma equação diferencial de segunda ordem (ou n -ésima ordem)
com coeficientes constantes depende de como lidamos para resol-
ver uma equação característica (equação algébrica associada) de
grau n . Finalmente abordamos métodos para obter uma solução
particular para uma equação diferencial linear não homogênea.

5.5.1 Introdução e definições


Uma equação diferencial ordinária linear de segunda ordem é
uma equação diferencial da forma

b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y '+ b0 (t ) y = f (t ) . (1.1)

Sempre assumimos que b2 (t ), b1 (t ), b0 (t ) e f (t ) são funções contí-


nuas em um intervalo I e o coeficiente principal .

O intervalo I é chamado de intervalo de definição da equação di-


ferencial. Quando f ≡ 0 , dizemos que (1) é homogênea. Quando
f ≡/ 0 então (1) é chamada de não-homogênea.

Se os coeficientes b2 (t ), b1 (t ) e b0 (t ) são constantes, dizemos que a


equação (1.1) é uma equação diferencial linear com coeficientes
constantes; caso contrário equação diferencial linear com coefi-
cientes variáveis.

223
Exemplos de equações diferenciais lineares:

• ty '− 2 y = t 3 , t ≠ 0 (ordem 1, linear,


coeficientes variáveis e não-homogênea). (2)

• y ''+ 2 y '+ 3 y = cos t (ordem 2, coeficientes constantes,


não-homogênea e linear). (3)

• y ''− y = 0 (ordem 2, coeficientes constantes,


linear e homogênea). (4)

O termo linear se refere ao fato que cada termo na equação dife-


rencial é de grau um ou grau zero nas variáveis y, y ', y '' .

Exemplos de equações diferenciais não lineares são:

• y ''+ y 2 = sen t (pelo termo y 2 ).

• y ''+ yy ' = t (por causa do termo yy ' ).


  y3   y5  
• y ''+ sen y = 0  sen y = y −   +   −   .
  3!   5!  

Definição de Solução 5.2. Uma função a valores reais y = g (t )


definida em algum intervalo I ⊂  é solução de uma EDO linear
de segunda ordem, no intervalo I , se ela satisfaz a EDO para
todo t em I .

O principal objetivo nesta seção é desenvolver elementos da teoria


de soluções de equações diferenciais lineares e discutir métodos
para obter sua solução geral.

Aplicações: As equações diferenciais lineares aparecem em mui-


tos modelos da vida real. A segunda lei de Newton do movi-
mento, por exemplo, envolve a segunda derivada (aceleração) e
conseqüentemente a equação diferencial de segunda ordem é de
interesse primário em problemas de movimento.

5.5.2 Independência linear e Wronskiano


Uma questão importante é saber sobre o número de soluções de uma
equação diferencial linear e a forma de encontrar ditas soluções.
Nesta seção e nas próximas estudaremos como responder a questão:
Quantas soluções pode ter uma equação diferencial linear?

224
Definição 5.3. Uma coleção de funções f1 , f 2 , , f n , definidas
e contínuas em a ≤ t ≤ b é linearmente dependente (l.d), em
a ≤ t ≤ b , se existem constantes c1 , c2 , , cm , não todas nulas,
tais que c1 f1 + c2 f 2 +  + cn f n = 0 ∀t ∈ [a, b] . Caso contrário às
funções são chamadas de linearmente independentes (l.i) nesse
intervalo.

Dito de outra maneira, um conjunto de funções é linearmente inde-


pendente (l.i) num intervalo se as únicas constantes para as quais,

c1 f1 ( x) + c2 f 2 ( x) +  + cn −1 f n −1 ( x) + cn f n ( x) = 0

para todo x no intervalo, são c1 = c2 =  = cn = 0 .

Em um caso particular, para explicitar os conceitos acima ver-


tidos para o caso de duas funções f1 e f 2 . Se as funções são li-
nearmente dependentes (l.d) num intervalo, então existem duas
constantes c1 e c2 , que não são ambas nulas, tais que, para todo x
no intervalo c1 f1 ( x) + c2 f ( x) = 0 .

Portanto, se supomos que c1 ≠ 0 , segue-se que

c2
f1 ( x) = − f 2 ( x);
c1
isto é, se duas funções são (l.d), então uma é uma constante múl-
tipla da outra. Reciprocamente, se f1 ( x) = c2 f 2 ( x) para alguma
constante c2 , então

(−1) f1 ( x) + c2 f 2 ( x) = 0, x ∈ I .

Logo as funções são (l.d), pois pelo menos uma das constantes,
c1 = −1 não é nula. Concluímos que duas funções são (l.i) quando
nenhuma delas é múltipla da outra em um intervalo.

Exemplo 5.9. Em cada situação mostre que as funções

 12 
a) f1 (t ) = 3t +   e f 2 (t ) = 5t + 4 são (l.d) em  ;
 5
b) f1 (t ) = t e f 2 (t ) = t ² são (l.i) em −1 ≤ t ≤ 1 .

Solução. Para mostrar (que ambas as funções do item a) são line-


armente dependentes (l.d), devemos mostar que pelo menos uma

225
das duas constantes são não nulas. Isto é, as funções f1 e f 2 são
linearmente dependentes em  , pois

 12 
c1 f1 (t ) + c2 f 2 (t ) = c1  3t +  + c1 (5t + 4) = 0
 5
é satisfeita para todo t real se c1 = 5 e c2 = −3 . (Lembre-se de
substituir estes valores na equação acima).

No caso (das funções do item b) no intevalo [−1, 1] inspecionan-


do seus gráficos, a reta diagonal de −1 ate 1 e a parábola nesse
intervalo, convencemo-nos de que nenhuma função múltipla da
outra. Logo para ter

c1 f1 (t ) + c2 f 2 (t ) = c1 (t ) + c1 (t ²) = 0, t ∈ [−1, 1]

devemos escolher c1 = 0 e c2 = 0 . Concluimos assim que as fun-


ções f1 (t ) = t e f 2 (t ) = t 2 são linearmente independentes (l.i).

Observação 5.6. Na determinação de dependência e independen-


cia linear, o intervalo dado no qual as funções estão definidas é
muito importante. As funções g1 (t ) = t e g 2 (t ) = t definidas em
 são linearmente independentes (l.i) porém são linearmente de-
pendentes (l.d) no intervalo ]0, ∞ [ pois

c1 g1 (t ) + c2 g 2 (t ) = c1 (t ) + c2 ( t ) = 0, t ∈]0, ∞ [ ,

é satisfeita se, por exemplo, as constantes assumem os valores


c1 = 1 e c2 = −1 .

Nota 5.1. Se as funções f1 , , f n são soluções de uma equação


diferencial linear homogênea, existe um teste simples para deter-
minar quando elas são (l.i) ou não.

Definição 5.4. Sejam f1 , , f n , “n” funções junto com suas n − 1


primeiras derivadas contínuas em [a,b]. O wronskiano de
f1 , f 2 , , f n avaliado em t, é denotado por eé
definido como o determinante

Cada função que aparece neste determinante é avaliada em t .

226
Exemplo 5.10. Dado f1 (t ) = t ² , f 2 (t ) = cos(t ) . Encontre W [ f1 , f 2 ; t ] .

Solução. Utilizando a definição de Wronskiano,

t2 cos t
W t 2 , cos t ; t  = = −t 2 sen t − 2t cos t
2t − sen t
obtemos o valor do determinante.

5.5.3 Critério de Independência Linear de Funções


Fornecemos uma ferramenta de natureza suficiente para a inde-
pendência linear de n funções num intervalo. Com as mesmas
hipóteses sobre as funções dadas pela definição anterior temos o
seguinte Teorema,

Teorema 5.2. Se o Wronskiano, W [ f1 , f 2 , , f n −1 , f n ] for diferente


de zero em pelo menos um ponto do intervalo I , então as funções
f1 , f 2 , , f n −1 , f n serão linearmente independentes no intervalo.

Demonstração. Mostraremos por contradição para o caso de


n = 2 . Suponhamos que o Wronskiano, W [ f1 ( x1 ), f 2 ( x1 ) ] ≠ 0 para
algum x1 fixado no intervalo I e que f1 e f 2 sejam linearmente
dependentes no intervalo. Isto significa que existem constantes k1
e k2 , não ambas nulas, para as quais

k1 f1 ( x) + k2 f 2 ( x) = 0

para todo x em I . Derivando essa combinação membro a mem-


bro obtemos o seguinte sistema
k1 f1 ( x) + k2 f 2 ( x) = 0
k1 f1 '( x) + k2 f 2 '( x) = 0.
Mas a dependencia linear das funções f1 e f 2 implica que o
sistema acima possui solução não trivial para cada x ∈ I . Logo,
W [ f1 ( x), f 2 ( x)] = 0 para todo x em I . Isto é uma contradição
a suposição W [ f1 ( x1 ), f 2 ( x1 )] ≠ 0 . Concluímos que f1 e f 2 são
linearmente independentes.

Corolário 5.1. Se as funções a valores reais f1 , f 2 , , f n −1 , f n pos-


suem pelo menos n − 1 derivadas e são linearmente dependentes
em I , então
W [ f1 ( x), f 2 ( x), , f n −1 ( x), f n ( x)] = 0, x ∈ I .

227
5.5.4 Soluções para Equações Diferenciais Lineares
Equações Homogêneas: Consideremos a equação diferencial de
n -ésima ordem homogênea

bn ( x) y ( n ) + bn −1 ( x) y ( n −1) +  + b1 ( x) y '+ b0 ( x) y = 0 .

A palavra homogênea neste contexto não se refere aos coeficientes


como sendo funções homogêneas. Os coeficientes são contínuos
em algum intervalo I ; e a função bn é não nula para todo x no
intervalo.

Princípio de Superposição – Equações Homogêneas


Para o caso das equações diferenciais homogêneas, vemos que a
soma, ou superposição, de duas ou mais soluções é também uma
solução e é isto que o próximo terema afirma.

Teorema 5.3. Sejam y1 , y2 , , yn −1 , yn soluções de uma equação di-


ferencial linear de n -ésima ordem homogênea num intervalo I .
Então, a combinação linear,

y = k1 y1 + k2 y2 +  + kn −1 yn −1 + kn yn

onde k j são constantes arbitrarias, é também uma solução no in-


tervalo I .

A demonstração deste teorema é simples, pode verificar o leitor


para o caso n = 2 .

Observações 5.7.

• Uma equação diferencial linear e homogênea sempre possui


a solução trivial, y = 0 .

• Um múltiplo y = k5 y5 de uma solução y5 de uma equação


diferencial linear homogênea é também uma solução.

Soluções Linearmente Independentes


Nosso interesse está agora em determinar quando n soluções
para uma equação diferencial homogênea são linearmente inde-
pendentes. Para surpressa geral temos uma condição necessaria e
suficiente na qual intervem o Wronskiano.

228
5.5.5 Critério para testar independência linear
de soluções
Teorema 5.4. Sejam y1 , y2 , , yn −1 , yn n soluções para a equação
diferencial homogênea de n -ésima ordem num intervalo I . En-
tão o conjunto de soluções é linearmente independente em I se e
somente se W [ y1 , y2 , , yn −1 , yn ; x] ≠ 0, x ∈ I .

Demonstração. Consideremos o caso n = 2 . Assim suponhamos


que W [ y1 , y2 ] ≠ 0 para todo x ∈ I , segue-se imediatamente pelo
Teorema 1. que y1 e y2 são linearmente independentes.

Agora supondo que se y1 e y1 são soluções linearmente indepen-


dentes de uma equação diferencial linear homogênea de segunda
ordem, então W [ y1 , y2 ; x] ≠ 0, x ∈ I .

Exemplo 5.11. Considere a equação diferencial linear homogênea


y ''+ y = 0 e as funções y 1 = cos(t ) , y 1 = sen(t ) soluções da mesma.
Mostre que são l.i.

Solução. Aplicando o wronskiano

Utilizando o teorema anterior, obtemos que as duas soluções for-


necidas são linearmente independentes, l.i.

Exemplo 5.12. Considere a equação diferencial y ''− y = 0 e


y1 (t ) = e − t , y2 (t ) = et duas de suas soluções. Mostre que são l.i.

Solução. Aplicando o wronskiano

Pelo mesmo argumento do exemplo anterior temos que y1 e y2


são linearmente independentes.

Nota 5.2. Uma propriedade interessante do wronskiano, das so-


luções de uma equação diferencial, é que ele satisfaz uma equa-
ção diferencial linear de primeira ordem. Assim, temos que o
wronskiano é nulo ou nunca se anula, pois a solução de uma

229
equação diferencial dessa forma é a função nula ou uma função
que nunca se anula.

Teorema 5.5. Se cada uma das funções y1 , y2 são soluções da


equação diferencial linear homogênea, b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y '+ b0 (t ) y = 0,
então para cada escolha de constantes c1 e c2 a combinação linear
c1 y1 + c2 y2 é também uma solução.

A demonstração desse teorema é imediata.

Definição 5.5. Suponhamos que y1 e y2 são duas soluções da


equação diferencial

b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y '+ b0 (t ) y = 0

e suponhamos que essas soluções são l.i no intervalo de defini-


ção da equação diferencial. Dizemos que essas funções formam
um conjunto fundamental (ou sistema fundamental) de soluções
para essa equação diferencial.

Exemplo 5.13. Considere as equações diferenciais y ''+ y = 0 e


y ''− y = 0 . Exiba um conjunto fundamental de soluções para cada
uma dessas equações.

Solução. Listando o primeiro conjunto temos

, ,

e logo o segundo conjunto

y1 = e − t , y2 = et , → {e − t , et }

obtendo-se assim as duas listas pedidas.

Nota 5.3. Descobrir um conjunto fundamental de soluções de


uma equação diferencial homogênea é importante, porque qual-
quer solução dela é combinação linear das soluções do conjunto
fundamental.

Mais precisamente, se y1 e y2 formam um conjunto fundamental


de soluções para uma equação diferencial homogênea de segun-
da ordem, então,
y = c1 y1 + c1 y2

230
onde c1 e c2 são constante arbitrárias, é a solução geral da equa-
ção diferencial em questão. Por solução geral se entende como o
conjunto de todas as soluções da equação diferencial.

Definição de Solução Geral 5.6. Sejam y1 , y2 , , yn −1 , yn n solu-


ções lineramente independentes para a equação diferencial ho-
mogênea de n -ésima ordem num intervalo I . A solução geral
para a equação diferencial no intervalo I é definida por

y = k1 y1 + k2 y2 +  + kn −1 yn −1 + kn yn

onde os k j são constantes arbitrarias.

5.5.6 Existência e Unicidade de Soluções


É animador saber que existe solução (existência) da equação dife-
rencial que tentamos resolver. A situação é ainda melhor quando
existe uma única solução (unicidade) para a equação diferencial.

O resultado principal está resumido num teorema, que estabelece


condições nos coeficientes que garantem a existência e unicidade
de soluções do problema de valor inicial, PVI, associado à uma
equação diferencial linear de segunda ordem.

Teorema 5.6. (Existência e Unicidade): Sejam b0 (t ) , b1 (t ) , b2 (t )


e f (t ) definidas em a ≤ t ≤ b com b2 (t ) ≠ 0 para a ≤ t ≤ b . Con-
sidere t0 tal que a ≤ t0 ≤ b e sejam y0 , y1 constantes quaisquer.
Então existe uma única função y satisfazendo o problema de valor
inicial, PVI,
b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y '+ b0 (t )= f (t )

y (t0 ) = y0 , y '(t0 ) = y1. .

Além disso, a solução y está definida em todo o intervalo a ≤ t ≤ b .

Exemplo 5.14. Considere o problema de valor inicial, PVI,


y ''− y '− 2 y = 0

y (0) = 1, y '(0) = 8 .

a) Mostre que as funçõesy1 (yt )1 (=t )e=− t e − t ee ey2 (yt2)(=t )e=2t eformam
2t
um
conjunto fundamental de soluções;

231
b) Encontre a solução geral;

c) Encontre a solução única do PVI;

d) Verifique as condições do teorema anterior para afirmar a


existência e unicidade.

Solução. Verificamos somente o item d); Identificando os elemen-


tos do teorema vemos que neste caso os coeficientes b2 (t ) = 1 ,
b1 (t ) = −1 , b0 (t ) = −2 e f (t ) = 0 , são constantes definidas em 
com b2 (t ) ≠ 0 .

Também t0 = 0 ∈  e y0 = 1 , y1 = 8 . Pelo Teorema da Existência e


Unicidade existe uma única função y satisfazendo o problema de
valor inicial, PVI, dado.

As outras questões são aplicações diretas da definição e, portanto


ficam como exercício para o leitor, o qual poderá verificar facil-
mente que a solução única é y = −2e − t + 3e 2t .

Exercícios
1) Encontre o Wronskiano de soluções das seguintes equações
diferenciais:

a) b)

c) d)

e) f)

2) Se as funções y1 e y2 formam um conjunto fundamental de


soluções da equação diferencial ordinária, y′′ + p ( x) y′ + q ( x) y = 0
mostre que os seguintes pares de funções y1 + y2 , y1 − y2 e y1 ,
y1 + y2 também formam um conjunto fundamental de soluções
da equação diferencial.

3) Mostre que duas soluções da equação diferencial


y′′ + p ( x) y′ + q ( x) y = 0 formam um conjunto fundamental se e
somente se elas não são proporcionais, isto é, y1 ≠ Ky2 para toda
constante K .

232
4) Uma solução da equação diferencial y′′ + 2a y′ + a 2 y = 0 é a
função e − at . Encontre a segunda solução linearmente indepen-
dente utilizando a definição e propriedades do Wronskiano.

5.5.7 Equações diferenciais não-homogêneas


A equação geral diferencial linear não homogênea de segunda
ordem possui a forma

b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y ' + b0 (t ) y = f (t ) . (1)

A função f é chamada de termo não homogêneo da equação dife-


rencial (1).

Definição 5.7. Para a equação diferencial (1), a equação diferencial


homogênea associada é definida por

b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y ' b0 (t ) y = 0 . (2)

Definição 5.8. Se duas funções y1 e y2 constituem o conjunto


fundamental da equação diferencial homogênea (2), então a fun-
ção yh definida por y h = k1 y1 + k2 y2 , onde k1 e k2 são constantes
arbitrárias, é chamada de solução homogênea para equação dife-
rencial (1). Algumas vezes a solução yh é chamada solução com-
plementar yc .

Equações Lineares Homogêneas com Coeficientes


Constantes
Quando resolvíamos uma EDO linear de primeira ordem com co-
eficientes constantes homogênea encontrávamos que a sua solu-
ção possui uma função exponencial em  . Portanto será natural
procurar por soluções exponenciais em ] − ∞, ∞ [ para equações
diferenciais de maior ordem. O fato interessante é que todas as
soluções para equação diferencial

bn y (n ) + bn −1 y (n −1) +  + b1 y '+ b0 y = 0

são funções exponenciais ou construídas a partir de funções ex-


ponenciais. Iniciamos considerando o caso especial da equação
diferencial de ordem dois

b2 y ''+ b1 y '+ b0 y = 0 .

233
Equação Característica
Se tentarmos uma solução da forma y = e x e subtituirmos ela e
suas derivadas na equação diferencial de ordem dois obtem-se,

e x [b2 2 + b1  + b0 ] = 0 .

Por outro lado sabemos que e x não se anula para todos os valores
x ∈  , então a única maneira de fazer essa função exponencial
satisfazer a equação diferencial proposta é escolher  de tal ma-
neira que ela seja raiz da equação quadrática,

b2 2 + b1  + b0 = 0 .

Esta ultima equação é chamada de equação característica da


equação diferencial dada. Consideramos três casos: as soluções
para a equação característica correspondem a raízes reais distin-
tas, raízes reais iguais e raízes compexas conjugadas.

Caso 1: Raízes Reais Distintas. Quando a equação característica


possui duas raízes reais distintas 1 e 2 , encontramos duas so-
luções
y = e 1x e y = e 2 x .

Vimos que essas funções soluções são linearmente independentes


em  e formam um conjunto fundamental. Segue-se que a solu-
ção geral para a equação diferencial linear homogênea de ordem
dois é,
y = k1e 1x + k2 e 2 x .

Caso 2: Raízes Reais Iguais. Quando 1 = 2 , obtemos somen-


te uma solução exponencial y1 = e 1x . Porém podemos obter a se-
gunda solução fazendo,
b1
− x
b2
e
y2 = e 1x ∫ 2 1 x
dx = e 1x ∫ dx = xe 1x .
e

A solução geral para a equação diferencial linear homogênea


dada será:
y = k1e 1x + k2 xe 1x .

Caso 3: Raízes Complexas Conjugadas. Se as raízes 1 e 2 são


complexas, então podemos escrever,

234
1 =  + i  e 2 =  − i 

onde  ∈  ,  ∈  e i 2 = −1 . Formalmente não existe diferença


com relação ao caso 1, logo podemos escrever,

y = k1e(+  ) + k2 e(−  ) .
i x i x

Porém, na pratica é melhor trabalhar com funções reais em vez


de exponenciais complexas, para este fim utilizamos a formula
de Euler,
ei  = cos() + i sen()

onde  é qualquer numero real. Logo após uma contabilidade fá-


cil temos que as funções e x cos( x) e e x sen( x) são soluções para
equação diferencial linear homogênea de ordem dois. Aplicando
o wrosnkiano para esas funções obtemos e 2 x ≠ 0 se  > 0 e daí
podemos concluir que formam um conjunto fundamental de so-
luções para a equação diferencial em ] − ∞, ∞[ . Pelo princípio de
superposição, a solução geral é,
y = k1e x cos( x) + k2 e x sen( x)
= e x [k1 cos( x) + k2sen( x)] .

Exemplo 5.15. Encontre a solução geral homogênea para a equa-


ção diferencial y ''− 3 y '+ 2 y = cos x .

Solução. Utilizando e resolvendo a equação característica,

2 − 3  + 2 = (  − 1)(  − 2) = 0

obtemos raízes reais distintas. Então um conjunto fundamental é:

{e 1t , e 2t } = {et , e 2t }


Logo,
yh = c1et + c2 e 2t .

Se por algum outro meio, encontramos uma função que satisfaz


a equação diferencial linear não homogênea, então a função so-
lução é chamada de solução particular y p da equação diferencial
linear não homogênea.

Teorema 5.7. Se y1 e y2 formam um sistema fundamental para a


equação diferencial

235
b2 y ''+ b1 y + b0 y = 0 ,

e se y p é qualquer solução particular da equação diferencial

b2 y ''+ b1 y + b0 y = h(t ) ,

então a solução geral da equação diferencial linear não homogê-


nea pode ser escrita na forma:

y = yh + y p = [k1 y1 + k2 y2 ] + y p .

A partir do teorema anterior e das discussões sobre o sistema


fundamental de soluções da equação diferencial linear homogê-
nea, precisamos nos concentrar sobre métodos associados para
encontrar uma solução particular y p .

Existem essencialmente dois métodos populares para encontrar a


solução particular:

• O método dos coeficientes a determinar;

• O método da variação de parâmetros.

Na próxima seção estudaremos esses dois distintos procedimen-


tos para calcular a solução particular.

Exercícios
1) Dada a solução y p (1) = 1 da equação diferencial
encontre a solução geral dessa equa-
ção.

2) Utilize a resposta do problema anterior para encon-


trar a solução dos seguintes problemas de valor inicial para
, com:

a) b)

c) d)

e)

236
3) Suponhamos que y (t ) é uma solução da equação diferencial
p
com a propriedade que
Suponhamos que { y1 (t ), y2 (t )} é um conjunto fundamental de
soluções de sua equação homogênea associada. Mostre que
y (t ) = y p (t ) + b1 (t ) y1 (t ) + b2 (t ) y2 (t ) é solução com a propriedade
que y (t0 ) = b1 , y '(t0 ) = b2 .

4) Encontre a solução geral das seguintes equações diferenciais


a)

b)

c)

d)

e)

f)

5.5.7 Método dos Coeficientes a Determinar


É utilizado para calcular uma solução particular para a equação
diferencial
b2 (t ) y ''+ b1 (t ) y '+ b0 (t ) y = f (t ) . (1)

onde b2 (t ) = b2 , b1 (t ) = b1 e b0 (t ) = b0 são constantes e f(t) é uma


combinação linear de funções dos seguintes tipos:

1) t  ,  ∈  + = {0,1, 2,...} ;

2) e  t, com constante;

3) cos(  t ) com constante;

4) sen (  t ) com constante;

5) um produto (finito) de dois ou mais funções dos tipos 1 a 4.

Exemplo 5.16. A função


é uma combinação linear de funções do tipo (1) – (5). Por outro
1
lado as funções e ln t não são desses tipos.
t

237
Observação 5.8. A observação principal que faz com que o méto-
do dos coeficientes a determinar funcione, está no fato de que não
somente f(t) como também qualquer derivada de qualquer termo
de f(t) é uma combinação linear de funções do tipo (1) – (5).

Por exemplo, qualquer derivada de 3x 2 é uma combinação linear


de funções x 2 , x e 1, as quais são funções do tipo (1).

Utilizamos ou simbolizamos 3 x ² → {x ², x,1} para denotar que


qualquer derivada da função 3x 2 é combinação linear das fun-
ções x 2 , x e 1 no lado direito. Também dizemos que as funções x 2 ,
x e 1 geram as derivadas da função 3x 2 .

Mais ilustrações, temos:

Falando a grosso modo, uma solução particular da equação dife-


rencial (1) é uma combinação linear das funções do tipo (1) – (5)
que geram todas as derivadas de f(t). Os coeficientes destas combi-
nações lineares são os coeficientes a determinar (nome do método) e que
serão calculados substituindo a solução particular suposta na equação
diferencial (1) e igualando coeficientes de termos semelhantes.

O seguinte exemplo possui as características típicas do método de


coeficientes a determinar, e sugerimos ao leitor estudar o exemplo
com muito cuidado.

Exemplo 5.17. Calcular a solução particular da EDO

y ''− y = −2t 2 + 5 + 2et . (2)

Solução. Os coeficientes da equação dada são b2 (t ) = 1 , b1 (t ) = 0 ,


b0 (t ) = −1 e f (t ) = −2t ² + 5 + 2et onde f é uma combinação linear
de funções t 2 , 1, et (dos tipos (1), (1) e (2), respectivamente).

238
Primeiro calculamos as funções que geram as derivadas de cada
um dos três termos da função f. Com as notações prévias, temos
−2t ² → {1, t ², t}
5 → {1}
2et → {et }
(derivadas de 2et ).

Assim, as derivadas de f são geradas pelas funções nos conjuntos


{t ², t ,1} e {et } . O conjunto {1} é omitido pois ele está contido no
conjunto {t ², t ,1}.

Agora se nenhuma das funções nos conjuntos {t ², t ,1} e {et } é


uma solução da equação diferencial homogênea associada à equa-
ção diferencial, ( y ''− y ') , então a solução particular da equação
diferencial (2) é da forma

y p = At 2 + Bt + C + Det .

onde A, B, C e D são coeficientes a determinar.

Por outro lado se qualquer uma das funções em qualquer dos con-
juntos {t ², t ,1} e {et } é uma solução da equação diferencial asso-
ciada homogênea, então todos os elementos de tal conjunto devem
ser multiplicados por uma mesma potência inteira de t, de maneira
que o novo conjunto resultante não contenha qualquer função que
seja solução da equação diferencial homogênea associada à equa-
ção diferencial (2).

Porém, no conjunto {t ², t ,1} nenhuma função é solução de


y ''− y = 0 e, portanto, o conjunto permanece da mesma forma.

Porém, o conjunto {et } possui a função et que é solução de


( y ''− y ' = 0) , e por isso devemos multiplicar a função neste con-
junto pela menor potência inteira de t, de maneira que a função
resultante não seja solução da equação y ''− y = 0 . Como et é so-
lução, tet não é solução de y ''− y = 0 , multiplicaremos t por et
obtendo {tet } .

Assim a solução particular da equação diferencial (2) é a combi-


nação linear das funções nos conjuntos {t ², t ,1} e {et } , isto é, da
forma:
y p = At 2 + Bt + C + tDet .

239
Para obter os coeficientes A, B, C e D calculamos que

y ' p = 2 At + B + Det + Dtet


e

y '' p = 2 A + Det + Det + Dtet = 2 A + 2 Det + Dtet .

Substituindo esses resultados na equação diferencial (2) obtemos

(2 A + 2 Det + Dtet ) − ( At ² + Bt + C + Dtet ) = −2t ² + 5 + 2et .

Igualando os coeficientes de termos semelhantes, obtemos o siste-


ma de equações:

2A − C = 5

2D = 2

−B = 0

− A = −2 .

Assim, A = 2 , B = 0 , C = −1 , D = 1 e a solução particular da


equação diferencial (2) é:

y p = 2t 2 − 1 + tet .

Nota 5.4. No método anterior assumimos uma forma adequada


como solução particular ( tet em vez de et ). Se assumirmos uma
forma não adequada como solução particular, uma contradição
pode acontecer no sistema resultante de equações quando tenta-
mos calcular os coeficientes indeterminados. Além disso, pode
suceder que coeficientes desnecessários sejam nulos.

Solução abreviada. A procura da solução particular da equação


y ''− y = −2t 2 + 5 + 2et pode ser abreviada de acordo com o se-
guinte formato:
−2t ² → {t ², t ,1}
5 → {1}
2et → {et } → {tet }

( et é solução da associada homogênea e tet não é).

Então y p = At 2 + Bt + C + Dtet é a forma correta para a solução


particular da equação diferencial (2).

240
Exemplo 5.18. Encontre a forma de uma solução particular da
equação diferencial,

y ''+ 2 y '− 3 y = 3t 2 et + e 2t + t sen t + 2 + 3t .

Solução. Como et é solução da homogênea associada porém tet


não é, temos:

Assim, a forma da solução particular é:

Exemplo 5.19. Calcular a solução geral da equação


.

Solução. A solução geral da equação diferencial não homogênea


é y = yh + y p .

Primeiro calculamos a solução homogênea yh asso-


ciada à y ''− y '− 2 y = 0 . A equação característica é
² −  − 2 = 0 ⇔ (  − 2)(  + 1) = 0 , onde as raízes são e
. Logo,
yh = c1e 2t + c2 e − t .

Para calcular y p , observamos que:

e como nenhuma das funções é solução da equação diferencial


associada homogênea, segue que a solução particular é da forma

Substituindo y p na EDO dada e igualando coeficientes de termos


1
semelhantes, encontramos A = 0 e B = , logo
10
.

241
Portanto, a solução geral da equação diferencial dada é:

Exemplo 5.20. Calcular uma solução particular da equação


y ''− 2 y '+ y = 2et − 3e − t .

Solução. Temos que

2et → {et } → {t ²et } (pois et , tet são soluções da


EDO homogênea e t 2 et não é)

3e − t → {e − t } .
Assim,
y p = At 2 et + Be − t .
Logo,
y ' p = 2 Atet + At 2 et − Be − t

y '' p = 2 Aet + 4 Atet + At 2 et + Be − t .

Substituindo y p , y ' p e y '' p na EDO dada, temos

2 Ae3t + 4 Atet + At ²et + Be − t ) − 2(2 Ae3t + At ²et − Be − t ) + ( At ²et + Be − t ) =

= 2et − 3e − t ⇒ 2 Aet + 4 Be − t = 2et − 3e − t .

Igualando os coeficientes de et e igualando os coeficientes de e − t ,


3
obtemos A = 1 e B = − ; assim,
4
3
y p = t 2 et − e − t .
4
Exemplo 5.21. Resolver o problema de valor inicial

y (0) = 0, y '(0) = 1, y ''(0) = −1 .

Solução. A solução geral é dada pela expressão

y = yn + y p
.
Aqui o polinômio característico é:

P( ) = 3 +  = ( 2 + 1) = (  + i )(  − i ) .

242
Então as raízes são 1 = 0 , 2 = i e 3 = −i . Logo a solução ho-
mogênea é dada por,

yh = c1e0t + c2 e 2t + c3e 3t

Utilizando a fórmula de Euler, a solução homogênea pode ser es-


crita da seguinte maneira,

yh = c1t + c2 cos(t ) + c3sen(t ) .

No lado direito da equação diferencial, o termo 2 + sen t fornece


os seguintes conjuntos:

2 → {1} → {t} (pois 1 é solução da homogênea associada)

(pois, sen(t ) e cos(t ) são soluções da homogênea associada).

Conseqüentemente, tomamos y p da forma,

Logo,

Substituindo y ' p e y ''' p na equação diferencial, obtemos:

1
Então A = 2 , B = − , C = 0 e
2
.

Então a solução geral da equação diferencial é

Finalmente, usamos as condições iniciais para calcular c1 , c2 e c3 .

243
Derivando a solução geral

Agora

y (0) = 0 ⇒ c1 + c2 = 0

y '(0) = 1 ⇒ c3 + 2 = 1

y ''(0) = −1 ⇒ −c2 − 1 = −1 .

Assim, c1 = 0 , c2 = 0 , c3 = −1 , e a solução única do problema de


valor inicial, PVI, é:

Exercícios
1) Encontre uma solução particular para cada equação diferencial
a) . b) .

c) . d) .

e) . f) .

2) Encontre a solução de cada problema de valor inicial


a) y ''+ 4 y '+ 4 y = t ², y (0) = 0, y '(0) = 1/ 2 .

b) .

c) y ''+ 4 y '− 5 y = 2 − 25t ², y (0) = 0, y '(0) = 0 .

d) .

e) .

244
5.5.8 Método de Variação de Parâmetros
É utilizado para calcular a solução particular da equação diferen-
cial não-homogênea
y ''+ a1 y '+ a0 y = f (t )

onde a1 e ao são constantes.

O método é aplicado quando não podemos aplicar o método dos


coeficientes indeterminados.

Este método na teoria “sempre funciona” e é construído seguindo


o seguinte raciocínio: suponhamos que já conhecemos a solução
homogênea
yh = c1 y1 + c2 y2

da equação diferencial homogênea associada

y "+ a1 y '+ a0 y = 0 .
É possível tratar as constantes ci como funções ui e impor con-
dições apropriadas sobre essas funções de maneira que a expres-
são u1 y1 + u2 y2 seja uma solução particular da equação diferencial
não-homogênea?

A pergunta da questão anterior nos leva para um resultado signi-


ficativo e é exposto no seguinte teorema.

Teorema 5. 8. Se y1 e y2 são soluções para a equação y "+ a1 y '+ a0 y = 0


e se as funções u1 e u2 satisfazem o sistema de equações:

y1 u1 '+ y2 u2 ' = 0 (3)



y1 ' u1 '+ y2 ' u2 ' = f (t ).

Então y = u1 y1 + u2 y2 é uma solução particular da equação


y1 '''+ a1 y '+ a0 y = f (t ) .

Método (Algoritmo):
1) Encontre a solução geral da equação diferencial homogênea
associada;

2) Usando as funções yi , monte e resolva o sistema (3) para u '1


e u '2 ;

245
3) Integre cada função u '1 e u '2 para encontrar u1 e u2 (nestas
integrações não perdemos em generalidade se as constantes
de integração são nulas) e finalmente y p = u1 y1 + u2 y2 é a so-
lução particular desejada.

Nota 5.5. Podemos aplicar o método de variação de parâmetros


para equações diferenciais não-homogêneas não importando a
natureza dos coeficientes a 1 a0 e f(t).

A razão para introduzir o método de coeficientes indeterminados


é que ele é fácil e rápido de aplicar. O método de coeficientes in-
determinados envolve a diferenciação e o método de variação de
parâmetros envolve integração e, em alguns, casos diferenciar é
mais fácil que integrar.

Exemplo 5.22. Resolver a equação diferencial linear de segunda


ordem y ''+ y = cosec(t ) .

Solução. Considere o polinômio característico P ( ) = ² + 1 e suas


raízes que são os números complexos ±i . Então a solução geral da
equação diferencial homogênea é yh = c1 sen t + c2 cos t .

As funções u1 e u2 são calculadas do sistema

Utilizando propriedade de derterminantes podemos resolver o sis-


tema anterior para calcular em termos de u1 e u2 .

cos(t )
Assim temos as soluções u1 ' = cos(t ) cosec(t) = e u2 ' = −1
sen(t)
e integrando temos que u1 = ln sen(t ) e u2 = −t .

Logo, a solução particular:

e a solução geral é:

246
Exercícios
1) Utilizando o método de variação de parâmetros obtenha uma
solução particular de cada equação diferencial ordinária abaixo

a)

b)

c)

d)

e)

f)

g)

Resumo
Abordamos principalmente as equações diferenciais ordinárias
de primeira o ordem homogêneas e não homogêneas com coefien-
tes constantes e variáveis. Também estudamos as equações dife-
renciais ordinárias de segunda ordem homogêneas e não homo-
gêneas. Em todos os casos se fornecem métodos para resolvê-las.

247
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