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Os debates são, também, as mais legítimas oportunidades para que todos os candidatos
que não estiverem liderando a disputa possam tentar “virar” o jogo. Justamente por
estas características, os debates se constituem na mais perigosa armadilha, dilema e
derradeiro obstáculo que separa os candidatos ditos favoritos da vitória final.
O maior dilema para um candidato bem posicionado numa eleição está em escolher o
risco de ser considerado autoritário, presunçoso ou covarde e o risco de submeter-se a
uma batalha verbal onde tem muito pouco ou nada a ganhar e tudo a perder, contra
vários adversários, que não têm nada a perder e tudo a ganhar.
O fato é que os fatores que determinam o que se pode ganhar ou perder num debate
tem muito pouco ou nada a ver com o desempenho dos protagonistas e tudo a ver com a
estratégia pós debate, da correlação de força dos meios de comunicação envolvidos ou
alinhados a favor ou contra, além dos fatores conjunturais normais em todo período
eleitoral, tais como posicionamentos dos candidatos, erros, etc. Assim, é muito
improvável que um candidato com 1% chegue a 10% após uma brilhante performance
num debate, mas um franco favorito pode perder 10 pontos se sair-se muito mal, ou
consolidar seu favoritismo se sair-se muito bem ou se o seu principal concorrente se sair
mal.
Para não cansar nem subestimar a inteligência dos meus caros leitores, não descerei a
detalhes falando sobre como devem agir os que estão na dianteira (vidraça) e também
os que estão na posição de estilingues. Mesmo que interesse a ambos os lados saber o
que cada parte pode fazer ou manobrar seu jogo, as variáveis são tantas quantas são as
conjunturas que cercam cada situação de debate e cada leitor adaptará os princípios
segundo a situação em que se encontrar.
Cada leitor terá seus exemplos tanto dos inúmeros os casos de candidatos que
ampliaram sua vantagem ao participarem de debates, assim como dos que sepultaram
suas candidaturas ao participar deles.
Também não faltarão exemplos de candidatos que perderam eleições ou saíram muito
prejudicados, justamente por decidirem não participar de um debate, como ocorreu,
por exemplo, com Francisco Rossi na disputa pelo governo do estado de São Paulo em
1998, abrindo espaço para a reeleição do então Governador Mário Covas.
A decisão de ausentar-se daquele debate acentuou seu declínio na disputa, que chegou a
liderar e onde mantinha a 3ª colocação na época do debate. Sua equivocada decisão de
apoiar Paulo Maluf no 2º turno, depois de tê-lo criticado duramente no 1º, afetou
profundamente a imagem e sua carreira política promissora e obrigou Rossi a adiar,
por tempo indefinido, qualquer pretensão sua de chegar ao governo estadual.
Diante das invariáveis recusas de Pitta de participar de seu debate, a Rede Globo jogou
todo o peso da emissora e marcou, mesmo sem contar com a anuência do candidato
malufista, a data para um debate entre ele e sua adversária Luíza Erundina. A emissora
usou todos os seus espaços diários nos programas de jornalismo e em anúncios durante
a programação da emissora, para insistir no convite a Pitta, reafirmando que, caso este
insistisse em sua recusa ou não comparecesse, o evento se daria sob forma de entrevista
com a adversária Luiza Erundina.
Sua principal adversária, a ex-prefeita petista Luíza Erundina, que tentava reaver a
prefeitura perdida para Maluf 4 anos antes, desperdiçou uma magnífica oportunidade
que lhe ofereceu a Rede Globo de televisão para tentar reverter o resultado ou, pelo
menos, reduzir a distância que a separava do franco favorito na disputa.
Luíza Erundina perdeu o debate (monólogo) e sua oportunidade de ouro, por recusar-se
a reconhecer o que todas as pesquisas e o próprio bom senso evidenciavam: ao invés de
concentrar suas críticas ao candidato que representava risco para ele e disputava as
preferências dos eleitores da capital, Erundina desafogou suas mágoas e centrou suas
críticas no então prefeito, que nem era candidato e gozava de altos índices de
popularidade e aprovação.
O melhor conselho é que um candidato favorito use todo o seu estoque de ardis para
escapar ao confronto aberto que representa um debate. Se o risco for muito grande, que
não se poupem esforços nem habilidade de negociação com o veículo que transmitirá o
debate, para estabelecer regras que, no mínimo, o deixem em situação menos
desfavorável.
Como candidato favorito, você não está totalmente indefeso e tem considerável poder de
retaliação para desgastar o veículo que tentar coagi-lo a participar de um debate em
condição desfavorável. Contudo, para não ficar isolado, deve procurar articular uma
reação conjunta com outros adversários, os que também não passariam de massa de
manobra para legitimar vantagem que seria de outro concorrente e que não os
beneficiaria em nada.
Se você não teve a competência de articular-se com nenhum veículo, ainda que seja uma
emissora de rádio e nenhum aliado e nem o seu assessor de imprensa tem amizade com
nenhum jornalista respeitado, que possa ser indicado como moderador do debate,
desculpe-me, mas foi incompetente ao escolher sua equipe que merece a saia justa em
que se meteu.
Caso uma detalhada analise de todos os pós e contras de sua participação resulte na
avaliação que os riscos de sua participação são inaceitáveis, conforme-se, pois você
precisará de toda sua serenidade para preparar-se para vencer o debate.
Chegou a hora de revisar tudo o que sabe sobre as vulnerabilidades pessoais e as das
propostas dos seus adversários; preparar defesas e versões atenuantes para cada uma
de suas próprias vulnerabilidades e cuidar de cada detalhe, como reunir estatísticas,
“bolar” frases de impacto e testar posicionamentos (pesquisa) que possam produzir
efeitos favoráveis ou reforçar suas teses.
Mais uma vez, ter presente que “o detalhe é a obra do capeta”, atentando para as
pequenas coisas que você possa usar contra seus adversários ou que eles possam usar
contra você (chegando a detalhes tais como preço de um pãozinho, de uma passagem de
ônibus, o significado de uma sigla ou o valor de um imposto, etc.).
Mesmo que seja impossível para qualquer candidato saber todas as respostas, sempre é
possível preparar uma saída honrosa caso algum de seus adversários tente acuá-lo com
uma pergunta deste tipo durante o debate, respondendo, por exemplo, com outra
pergunta travessa.
A resposta seria mais ou menos assim: terei satisfação em responder a esta questão
capciosa, assim que o nobre concorrente, que tem todas as respostas para todos os tipos
de questões, me responder... e sapecar-lhe uma pergunta que devolva a saia justa ao
adversário, de preferência uma que revele seu desconhecimento sobre algo que afeta a
vida dos mais pobres, extraída dos emaranhados estatísticos que ninguém lê, tipo:
Sabe qual é o gasto médio de um aposentado com remédios?
Quanto uma família com renda de até três salários mínimos gasta com
transporte ou aluguel, etc.;.
Outras questões que podem ser fatais são aquelas que se referem a episódios pessoas ou
situações do passado remoto, que o oponente não quer lembrar ou usou sua memória
seletiva para esquecer. (são os ex-sócios, ex-credores, ex-amantes, ex-amigos e outros
tipos de ex, que protagonizaram situações que depõem contra o candidato)
Enquanto o adversário que lhe fez a pergunta pensa o que vai responder na réplica,
trate de usar o seu tempo precioso para falar de outro tema que você sabe que poderá
render-lhe mais votos.
Agendada a data do debate, nos dias que o antecedem, o candidato deve preparar-se
para andar sobre o fio da navalha: cada ação deve ser planejada para produzir efeitos e
desdobramentos positivos se usados durante o debate; sem esquecer das estratégias e
ações destinadas a desinformar e até repercutir no ânimo dos adversários mais fortes,
desestabilizando-os no campo emocional e desorganizando-os no campo psicológico.
Mesmo que você tenha se saído mal em algum momento do debate, o que vai contar
mais é a guerra de versões divulgadas por todos os “vencedores” do confronto, Com
sorte, se a confusão entre as versões for grande, a tendência é que cada eleitor acredite
no que já acreditava antes do debate, ou seja: que o seu candidato é, de fato, o melhor.
Se você é o favorito, comemore: Para quem já tinha vantagem sobre os concorrentes,
não poderia haver resultado melhor do que zero a zero.
Mas se você era o desafiante e precisava tirar vantagem, tem obrigação de tentar
ampliar o desgaste de seu maior adversário: sua versão dos melhores momentos deve
priorizar a exposição dos piores momentos do principal rival e ser usado na cobertura
jornalística dos veículos que o apóiem, na sua propaganda eleitoral; na orientação e
instrução do discurso de seus cabos eleitorais e simpatizantes.
OS DEBATES “FECHADOS”
Não pode haver melhor exemplo do que o ocorrido com o candidato à presidência da
Bolívia, pela coalizão formada entre o NFR - Nueva Fuerza Republicana e o MUP -
Movimiento Unidad y Progreso. O carismático e jovem ex-alcalde de Cochabamba, o
candidato à presidência Manfred Reyes Villa, era tido na época (2.002) como um
fenômeno eleitoral, graças ao seu vertiginoso crescimento nas pesquisas, que o levou ao
franco favoritismo na disputa em apenas 30 dias de disputa.
Nem é preciso dizer que, ao passar adiante de todos os demais postulantes (que só
tinham a ganhar ao debater com ele), choveram os desafios para que Manfred aceitasse
participar de debates.
O primeiro convite de emissora veio de rede televisiva que dava apoio ostensivo a um
dos adversários e, obviamente, foi recusado. Como a assessoria de Manfred não
articulou nenhuma estratégia antes dele negar-se a debater em território “inimigo”, sua
recusa foi a senha para uma persecutória campanha onde todos os demais concorrentes
o acusavam, ora de covardia, ora de arrogância e menosprezo à Opinião Pública
boliviana.
Porque você foge? O que você tem a esconder? Não fuja, debata Manfred... Estes foram
alguns dos motes dos anúncios patrocinados por seus concorrentes.
Mas o pior de deu em outro momento daquele evento, quando se falava da origem dos
seus bens e Manfred foi argüido por um de seus adversários (Da UCS, aliado do ex-
presidente Gonzalo Sanches de Lozada – Goni, candidato do MNR - Movimiento
Nacionalista Revolucionário) sobre suas ligações e negócios na área imobiliária com seu
sogro havia 16 anos atrás.
Atordoado pela pergunta e sem perceber aonde seu rival queria chegar, Manfred
titubeou e caiu numa armadilha que marcou o início de sua derrocada. Sua resposta
ficou entre a negação e a não lembrança do que se tratava e a que se referia a pergunta.
Foi, então, impiedosamente lembrado que a referida pessoa era seu sogro e confrontado
com um documento que comprovava sua ligação societária com ele.
Toda a imprensa repercutiu a notícia negativa e no mesmo dia do debate, os veículos
aliados de seus adversários, em seus noticiários, se referiram ao episódio de forma
irônica, e agressiva, onde frases como Manfred mentiu, esqueceu seu sogro e ex-sócio
eram o mote principal. Já no dia seguinte, seu adversário Goni veiculou uma forte e
agressiva campanha publicitária, em todas as emissoras de rádio e de televisão do País,
acusando Manfred de ser mentiroso e dissimulado.
Manfred não perdeu apenas por causa dos debates, mas saiu muito desgastado da
maioria deles e os erros que ele cometeu nos debates minaram e tornaram sua
candidatura mais vulnerável, criando flancos que permitiram que outros meios e forças
mais perversas e arbitrárias lhe desferissem o golpe final.
Para dar uma breve idéia de como Manfred foi ingênuo e escolheu mal sua assessoria, o
coordenador de sua campanha tornou-se um dos principais conselheiros (conhecido
como o monge negro) de Carlos Meza, vice-presidente de Goni, maior inimigo de
Manfred, durante o período em que ele assumiu a presidência após a queda do titular.
A melhor coisa a fazer é acertar a data para um debate com um veículo aliado e que
este convide os adversários para debater, convite este que, provavelmente será recusado
por eles e lhes tira o direito de serem impertinentes e acusá-lo de fugir ao debate.
Estimado Raúl:
Sempre que o debate for inevitável e a legislação assegurar que todos os concorrentes
tenham direito a participar dele, chegou o momento de fazer as composições que
normalmente você só faria com os adversários derrotados, no 2º turno.
Como o debate ficou para a reta final da eleição, altura em que os candidatos realistas
já sabem que serão derrotados fica mais fácil articular uma aliança, já no primeiro
turno, com os candidatos que tenham maior afinidade com o favorito na disputa ou que
sejam inimigos políticos de um de seus principais concorrentes.
Nesta fase inicial, ainda não foi sorteada a ordem entre os questionadores e os
respondentes (quem vai perguntar para quem) e é aconselhável que a equipe do
candidato favorito prepare todas as formulações possíveis para cada hipótese ou
resultado do sorteio.
Também é recomendável ouvir tudo o que os aliados sugerem e não sugerir nada, para
impedir que suas estratégias e questões vazem. É melhor dizer a eles que é muito cedo e
que só vão tratar seriamente do assunto após a definição do sorteio.
Esta precaução é necessária, pois nesta fase, a campanha tem que se “abrir” para
abrigar novas forças políticas, o que torna muito fácil para os principais concorrentes
infiltrarem espiões travestidos de aliados para tentar monitorar os movimentos do
maior rival.
Se a busca for bem feita, é provável que se consiga, ao menos um fato que interessa ao
adversário ocultar, ou embaraçá-lo. Ninguém é perfeito.
Se não encontrar nada, deixe seus assessores espalhem o boato que descobriram uma
“bomba” contra o adversário, um trote do tipo: eu vi o que você fez e sei quem você é...
Enquanto seu adversário perde o sono, tentando adivinhar qual de seus erros passados
você teria descoberto, estenda a investigação ao passado das pessoas mais ligadas ao
adversário, até achar algo que possa ser um trunfo para “trocar” com seus principais
adversários pelo que eles possam ter contra você, garantindo, assim, um debate limpo e
sem ataques e baixarias.
A análise do discurso dos adversários – Para aproveitar a grande oportunidade que cada
debate representa talvez a grande oportunidade, para você destacar-se e ainda
desmontar o seu adversário, não esteja no passado dele e sim no presente. Exatamente
embaixo do seu nariz, o tempo todo.
Antes mesmo de pensar no que você tem a dizer, é preciso pensar que o seu principal
objetivo não é este. O debate é a sua chance sonhada de mostrar-se melhor do que o
adversário. E você não vai conseguir isto apenas repetindo as mesmas propostas que
você já vem fazendo ou idéias que defende desde o início de sua campanha.
O bem mais precioso que um candidato tem e deve preservar a qualquer custo é a sua
credibilidade, pois sem ela não existe proposta e tudo o que você falar ou benefícios que
prometer cairão no “limbo” mental coletivo, no vazio. Assim, o alvo número um de
qualquer debatedor é a credibilidade de seu principal(is) oponente(s).
E o golpe mais mortal que você poderia desferir contra a candidatura de seu(s)
adversário(s) seria conseguir provar que ele mente, cai em contradição ou que alguma
de suas propostas é inconsistente.
Imaginem se, durante o debate, com base em afirmações anteriores que conflitam com
as afirmações de agora, um candidato perguntar ao seu oponente: O Sr. mentia antes,
quando dizia aquilo, ou está mentindo agora? Lembre-se nobre Fulano, que qualquer
seja a sua resposta, o sr. comprova o fato de que mente ou que já mentiu, por isto, será
que as suas respostas merecem a confiança dos eleitores? (ou o Sr. acha que alguém que
reconheça ter mentido antes, merece credibilidade agora?)
Se o debate ocorre no meio ou no final do período eleitoral, já se sabe tudo o que cada
candidato propõe e, principalmente, como apresenta suas propostas, que argumentos
usa para ilustrá-las ou defendê-las e quais são as prioridades ou a hierarquia que cada
oponente dá ao seu plano de governo ou plataforma eleitoral.
Você já tem em mãos tudo o que precisa para fazer uma detalhada e exaustiva análise
de cada palavra e figura de retórica usada por cada concorrente e sabe, exatamente, o
que ele responderá ou como defenderá suas idéias ao longo do debate.
Recomendo fortemente aos meus leitores que adquiram o livro intitulado “ Como
vencer um debate sem precisar ter razão – em 38 estratagemas” onde o filósofo Olavo
de Carvalho faz uma excelente análise dos rascunhos da obra do também filósofo
alemão Arthur Schopenhauer no século XIX. São tão pertinentes ao tema que
mereceriam, todos, serem adaptados e transcritos neste capítulo, mas não seria justo
com o meu colega escritor e nem com o editor dele. Assim, convido meus leitores a
enfiar a mão nos seus bolsos e comprar o livro. Vale a pena.
Peço a Deus que perdoe a este autor, mas acho que nós criamos, eu ao recomendar aqui
aquele livro e o autor Olavo de Carvalho ao traduzi-lo e decodificá-lo, alguns milhares
de monstros!...
Porém, meu consolo, álibi e esperança, é que estes ensinamentos sirvam para
instrumentar novos líderes, para que possam enfrentar com menor desvantagem as
armadilhas ou ardis empregados pelas velhas raposas e caciques políticos e, assim,
promover uma renovação na classe política brasileira. Pior do que está eu sei que não
vai ficar...
Comece pensando como poderá desacreditar; distorcer ou contestar a lógica de cada
conceito e palavra do discurso de cada oponente. E analise o discurso dos adversários
sob a luz de cada um dos 38 estratagemas apresentados naquela obra.
Ah! Não se esqueça que os seus adversários também sabem tudo o que precisam para
demolir a sua imagem, pelos mesmos 38 caminhos, e trate de estudar as respostas e
atitudes para corrigir deficiências de seu programa, sua postura e o seu vocabulário,
defendendo sua reputação e suas propostas das investidas dos seus adversários.
Seleção criteriosa da equipe que vai prepará-lo para o enfrentamento – Todos os detalhes
devem ser encarados com segredos de estado e tomadas todas as providências para
impedir que vaze qualquer informação sobre o que se prepara para utilizar no debate.
Nenhum detalhe do que se pretenda falar ou usar é de pouca importância.
Isto porque os escolhidos para prepará-lo terão que saber todos os “podres” do passado
para fortificar as vulnerabilidades do debatedor e terão que ser sinceros e ter a
liberdade de falar a verdade ao candidato, mesmo que esta seja dolorosa.
Além de tocar todas as feridas e exercer pressão sobre o candidato, para que ele possa
testar seu equilíbrio e reações diante dos ataques, ironias e colocações dos oponentes
que serão simulados, este grupo de “sparrings” do candidato terão as seguintes tarefas
pela frente:
Encontrar saídas para todas as armadilhas e ardis que os adversários possam
utilizar;
Preparar as armadilhas e ardis que serão utilizados contra os concorrentes;
Buscar “furos” ou inconsistências nas propostas feitas pelos adversários, para
depreciá-las nas comparações com as de seu candidato;
Buscar “furos” (inconsistências) nos temas, idéias e propostas que o candidato
fará no debate, para fundamentá-las, listar todos os benefícios secundários e
torná-las mais atraentes do que as dos adversários;
Testar a convicção e desenvoltura do candidato, corrigindo qualquer vício de
postura ou tique nervoso.
Busque encontrar, em cada proposta dos adversários, quais são os interesses e/ou
minorias prejudicadas ou menos favorecidas, use o nome destas minorias esquecidas ou
prejudicadas ao criticar as propostas do adversário, cobrando propostas mais justas e
menos discriminatórias. Não se coloque contra as maiorias beneficiadas, mas aponte as
deficiências e pontos “cegos” para depreciar cada proposta e, de quebra, ganhar a
simpatia das minorias prejudicadas ou esquecidas.
Abuse do seu senso crítico e subjugue a sua vaidade – Não tenha preguiça de ensaiar seu
script, tantas vezes quantas forem necessárias. A simulação de um debate costuma ser
uma experiência chata, desgastante e, chega a beirar o ridículo: é como se uma porção
de adultos resolvesse, de repente, brincar de faz-de-conta ou interpretar papéis teatrais,
fingindo-se de atores.
Contudo, é uma experiência importantíssima e deve ser ensaiada até o candidato atinja
sua melhor performance, sem embaraçar-se diante de questões delicadas; não perder as
estribeiras ou a calma diante de ironias, ataques ou réplicas mordazes e puder rechaçar,
de pronto e sem demonstrar desconcerto, intimidação ou surpresa, a quaisquer
colocações inusitadas ou insinuações sobre seu passado.
Negociação das regras do debate – Muitos candidatos acabam prejudicados por não ter
feito boa escolha dos assessores que irão representá-lo nas negociações das regras que
regerão o debate do qual vai participar.
Se são dois candidatos polarizando a disputa, e nenhum deles tem nítida vantagem na
cooptação de apoios dos candidatos menos competitivos, antes da reunião com a
emissora é melhor promover uma reunião entre as assessorias, para colocarem-se em
acordo quanto às exigências que ambas farão para proteger ambos os candidatos do
desgaste que serão alvo pelos demais oponentes.
Todo candidato que não está em primeiro lugar nem divide a primeira colocação tem
interesse em regras menos rígidas e restritivas. Assim, deve procurar articular-se com
os demais candidatos mal posicionados, para exercer pressão em bloco e compensar,
assim, a maior força de negociação que terá o favorito, combinando estratégias para
desgastar os líderes da disputa caso imponham restrições e “engessem” o debate, ou
para roubar a cena e diminuir a expressão do(s) favorito(s) durante o programa.
Os favoritos devem articular-se entre si para exigir, aí, que a emissora obrigue os
demais participantes a assinarem um termo de responsabilidade pela não edição e uso
indevido das imagens do debate, além de comprometer-se, ela também, a não pinçar
imagens e declarações fora de contexto ou desabonadoras dos candidatos para usar em
seus espaços jornalísticos.
O exemplo da guerra fria – Estar bem armado ou, pelo menos aparentar estar bem
municiado pode ser a melhor maneira para não ter que disparar um único tiro. Uma
estratégia testada com bons resultados já nos idos de 1988 e empregada diversas outras
vezes, com o mesmo êxito, ocorreu na seguinte situação e nos seguintes lances:
Um dos candidatos que assessorava estava certo de que o debate seria pesado e
agressivo. Um ex-amigo e ex-advogado de nosso candidato passou para o grupo
adversário e tínhamos informação segura que um dos seus oponentes pretendia
fazer pesadas insinuações sobre o passado dele;
Embora tivéssemos dossiês sobre todos os debatedores, não havia nada realmente
pesado, que pudesse ser utilizado como instrumento de retaliação e tudo parecia
perdido.
Aí surgiu a inspiração e o candidato foi à imprensa e deu declarações sobre a sua
expectativa de que o debate transcorresse em níveis civilizados, mas que embora
abominasse a “baixaria” estava muito bem preparado para responder à altura
qualquer calúnia ou ataque que pudesse tê-lo como alvo.
Paralelamente, os coordenadores políticos do candidato “confidenciaram” a
interlocutores nada confiáveis, que tínhamos feito uma pesquisa completa no
passado de cada adversário. Foram encontrados fatos escabrosos no passado do
candidato que se preparava para nos demolir (e no de outro dos concorrentes,
que também era ligado ao desafeto do nosso) e que, dependendo da postura deles
o debate seria o túmulo da postulação e da carreira política dos rivais. O recado
era do tipo: eu seu o que você fez e sei quem você é...
No dia do debate, nosso candidato apresentou-se munido de grandes e vistosas
pastas rotuladas “Dossiê Fulano; Beltrano e Sicrano”; todas recheadas por
recortes de jornal e folhas em branco, acompanhadas de fitas de videocassete
(virgem) que conteriam, segundo a boataria, provas irrefutáveis de desvios de
conduta dos adversários.
Durante todo o debate que, diga-se de passagem, transcorreu dentro dos mais
altos padrões de civilidade, os “perigosos” adversários olhavam de soslaio os
dossiês sobre a mesa de nosso candidato e nenhum deles se atreveu a assumir
posições de confronto direto.
Na dúvida, você correria o risco de bater de frente com um adversário que pareça tão
bem municiado? Nem eu.
Aprender a expressar-se curta, direta e objetivamente – Quem está no calor do debate não
sente o tempo passar, pois a sorte de todo o seu empreendimento pode estar sendo
decidida ali: sentidos em alerta, tudo é vibrante, a adrenalina sobe a mil.
Para quem assiste “in loco”, a emoção é a mesma, afinal, todos os presentes tem um
interesse acima da média por política e torce por um dos contendores. Contudo, entre
quem interessa de fato aos debatedores, os que premiarão sua performance com seus
preciosos votos, não tem a mesma motivação e os estudos de várias pesquisas feitas pela
Brasmarket com telespectadores que assistiram a debates mostram que:
Os eleitores que gostam do candidato “a”, “b” e “c”, salvo quando algum deles
comete algum erro muito grave, continuam achando que seu candidato foi o que
se saiu melhor;
Contudo, quando perguntados qual foi o segundo melhor debatedor, fica evidente
que os candidatos que tiveram bom desempenho causaram impressão positiva e,
se ocorrer qualquer “vacilo” por parte do titular, podem ganhar a preferência dos
eleitores e ocupar o espaço de seus rivais na preferência deles.
O melhor debatedor só vai aparecer, de fato, na análise mais fria e desapaixonada
dos eleitores indecisos ou nos que dizem rejeitar todos os candidatos (mas não
deixam de assistir aos debates, para poder criticá-los melhor).
As atitudes que mais irritam os telespectadores (TV) e ouvintes (rádio) são, pela
ordem:
1. Os candidatos que sempre fogem ou não respondem às perguntas que
lhes são feitas;
2. Os candidatos que seguidamente não respeitam o tempo acertado para
exporem suas propostas ou sempre extrapolam seu tempo;
3. Os candidatos que divagam demais, ou que abusam dos termos
incompreensíveis e os que não conseguem formular com clareza e
objetividade as suas idéias e propostas;
4. Os candidatos que demonstram arrogância, os que posam com ar de
desinteresse, superioridade ou que abusam da ironia (uma pitada de
ironia tem efeito oposto e agrada a audiência) e os destemperados, que
agridem os seus interlocutores;
5. Dos embates destemperados ou muito agressivos, entremeados de
ameaças (mas perdoam e justificam a indignação quando um dos
protagonistas é o candidato que já escolheram);
Na outra ponta, os eleitores gostam:
1. De ver o candidato que rejeitam em saia justa;
2. De candidatos que se expressam bem e dão resposta a todas as perguntas,
ainda que seja de forma curta e grossa;
3. De ver o candidato que gostam se sair bem numa intervenção;
4. Das controvérsias e acirramentos civilizados de posições (embate de
idéias);
5. De respostas elegantes e ferinas aos ataques diretos e grosseiros;
6. Das tiradas bem humoradas e dos candidatos que se mostram mais
simpáticos e espirituosos
Responder o que realmente interessa aos eleitores, sem fugir da resposta à pergunta que
lhe foi dirigida – Independente da importância que dêem à pergunta ou à resposta, o
eleitor se sente incomodado quando os debatedores se furtam a responder as questões
feitas a ele. Por princípio, qualquer candidato deve ter em mente que qualquer
pergunta que lhe faça um oponente é sinal que ele calculou os efeitos, como poderá
faturar mais na réplica dele, etc. Resumindo: se o adversário for inteligente, tanto a
questão dele como a resposta que você dará, por mais brilhante que você seja,
provavelmente interessarão mais a ele do que a você.
Lembre-se, sempre, que o verdadeiro jogo é com a platéia e que cada debatedor faz o
lance dele, mas quem sai jogando é você. Assim, antes de esgotar o seu tempo de
resposta, arremate seu lance fazendo-lhe uma pergunta do seu interesse, para que ele
gaste pelo menos parte do tempo de réplica dele defendendo-se do seu ataque. Com esta
estratégia, você assume o controle do tempo dos dois contendores e ainda desarma a
jogada que o adversário tinha em mente para faturar no seu tempo e mais no dele.
Se a pergunta do seu oponente exigir uma resposta muito complexa ou se ele usar o
estratagema inteligente de fazer várias perguntas no espaço de tempo dele (que você
deve imitar quando chegar a sua vez de dirigir a pergunta), comece a resposta com uma
estocada leve ou ironia fina, do tipo “pelo que vejo, o debatedor tem mais dúvidas que
certezas, mas vou procurar esclarecê-las todas, se o tempo me permitir...”
Você também pode aproveitar a “deixa” para chamar audiência para o seu programa
eleitoral, dizendo: “esta questão é complexa e merece mais do que dois ou três minutos
para abordá-la. Assim, Convido os telespectadores e aos meus concorrentes a assistirem
meu programa eleitoral nesta X feira, quando abordarei este assunto...”.
Nunca deixar uma agressão pessoal sem resposta – Cada vez que você encurralar um dos
seus adversários ou estiver em situação de nítida vantagem sobre ele, o risco de sofrer
um ataque pessoal, contra em sua honra e moral, crescem.
Não importa o quanto haja de verdade ou de mentira nos insultos, calúnias ou nas
insinuações capciosas que algum de seus adversários lhe dirija durante um debate.
Instaurou-se um dilema e três coisas são certas:
A primeira, é que não lhe interessa nem um pouco falar nelas ou gastar seu
tempo alongando-se num lodaçal que só servirá para enlamear sua reputação;
Independente do que você possa responder um estrago já foi feito: todos os
eleitores que já não gostam de você se sentirão respaldados. Insultos e calúnias,
ao mesmo tempo fornecem:
o Munição para cabos eleitorais e simpatizantes dos seus adversários;
o Nutrição que fomenta a antipatia irracional contra você.
Os que já são seus eleitores e os preciosos indecisos que poderiam se somar a
eles, esperam que você se defenda:
o Os seus eleitores e cabos eleitorais precisam que você lhe forneça: 1 -
Munição, para reagir aos argumentos dos simpatizantes dos seus
adversários e também 2 - Nutrição, para fortalecer sua admiração e o
respeito que tem por você.
o Já os indecisos que assistem ao debate, só se transformarão em seus
eleitores se convencidos que suas propostas oferecerem mais benefícios
ou você provar ser melhor em algo (objetivamente) ou se a eles lhes
parecer que você é mais (sensível, capaz, inteligente, simpático, etc.) ou
se saiu melhor do que os seus adversários (subjetivamente).
Paradoxalmente, apesar de ser uma situação de alto risco e o terreno movediço onde
menos lhe interessa duelar, dependendo da sua reação ao ataque, este pode ser o ponto
culminante de sua campanha: o momento onde você pode mudar os rumos da disputa,
virar o jogo ao seu favor ou consolidar de vez a sua vantagem.
E melhor ainda, caso você sobreviva aos ataques ou vença o debate, sempre poderá
ressaltar a “baixaria” ofuscou a comparação das propostas e o embate das idéias, como
razão para cancelar a sua participação em debates futuros, postergando-os à última
semana do segundo turno e condicionando-o a adoção de regras que mantenham o
debate em termos civilizados, para respeitar os eleitores...
Como as variantes dos contra-ataques são quase infinitas, e como cada caso particular
de ataque recomenda uma graduação ou estilo diferente de reação, este autor citará
apenas algumas.
Se você for uma mulher, uma lágrima de indignação, seguida da recuperação do seu
autocontrole e de uma defesa brilhante, independente da “contundência” do
contragolpe poderá transformar seu agressor numa figura abjeta e monstruosa aos
olhos da audiência.
Davi & Golias (evidenciar a covardia do oponente) & A outra face (evidenciar a
prepotência e a brutalidade do oponente)
O maniqueísmo é uma das mais poderosas armas da semântica. Todos os povos têm, em
suas raízes culturais, forte formação maniqueísta, porque a redução dos conceitos em
dois extremos é a base que permite a transmissão de ensinamentos tais como conceitos
morais (o certo e o errado), fundamentais (punição e recompensa; amor e ódio, etc.) e
espirituais (o bem e o mal) para suas crianças.
Um toque de fina ironia (bem dosada para não parecer arrogância) pode ampliar a
percepção da audiência que, apesar de sua indignação, o ataque não conseguiu atingi-lo
a ponto de transtorná-lo nem roubou o seu equilíbrio e bom humor. Os seguidores do
atacante o acharão um cínico, mas os seus - e os eleitores indecisos - acharão o máximo,
uma atitude típica de quem é inocente.
Afinal, como já disse Che Guevara: “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura
jamás…”
A indignação contida
O tom de toda resposta à uma agressão pessoal deve ser o da indignação contida pela
solidez de uma boa formação cultural e moral. Independente da estratégia e conteúdo
de seu contra-ataque
Quando tudo lhe parecer perdido, você descobre que não estava tão bem preparado
quanto pensava e não consegue enxergar nenhuma saída, aí é você quem não tem nada
mais a perder. A onça (adversário) acuou o incauto Tamanduá (você) e só lhe resta
retribuir-lhe o golpe (ao menos seu oponente não se “alimentará” dos votos que o
ataque dele lhe custou).
Mas esta estratégia só lhe valerá se você tiver um trunfo com potencial destrutivo para
demolir seu agressor. A alternativa que lhe restou foi a de tentar dividir o desgaste entre
ambos, mesmo sabendo que o único beneficiário desta estratégia será o terceiro
colocado na disputa, que teve a sorte de ficar fora e vai faturar o desgaste (e os votos)
que você e seu atacante perderão.
Esta estratégia é o último recurso que só pode salvá-lo caso o debate tenha ocorrido
poucos dias antes da eleição, quando o candidato está bem posicionado na disputa. O
objetivo deixou de ser vencer o debate e passou a ser restringir a sua repercussão: não
interessa nem a você e nem ao oponente direto dar ênfase ao debate, pois ambos sairiam
igualmente prejudicados.