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A produção cerâmica e a sua evolução na zona norte de Portugal

Conference Paper · June 2017

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Sara Moutinho Ana Velosa


University of Aveiro University of Aveiro
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A PRODUÇÃO CERÂMICA E A SUA EVOLUÇÃO
NA ZONA NORTE DE PORTUGAL
CERAMIC PRODUCTION AND ITS EVOLUTION
IN THE NORTHERN ZONE OF PORTUGAL
Sara Moutinho
Universidade de Aveiro, Portugal, sara.moutinho@ua.pt
Ana Velosa
Universidade de Aveiro, Portugal, avelosa@ua.pt

Resumo
Portugal é privilegiado nas suas matérias-primas para a produção de cerâmica, com
destaque nas regiões norte e centro [1]. A partir do século XVIII, torna-se pioneiro na
produção e exportação [2], iniciando o fabrico pelo grés e faiança comum [3].
Incentivado pelo período pombalino, o artesanato deu lugar a complexos fabris
proporcionando-se o aumento e variação da produção. Assim, ocorreu a expansão do
setor, existindo posteriormente quebra na produção devido às invasões francesas [4].
No século XIX assiste-se ao apogeu comercial, com disseminação das fábricas que
subsistiram gerando um amplo valor patrimonial cerâmico.
Neste contexto, a presente comunicação consiste num inventário atualizado das fábricas
existentes, tendo em conta o seu período de laboração. Este inventário foi efetuado
tendo como base uma compilação de informação documental, com o intuito de colmatar
as lacunas de informação encontradas. Esta base de dados expõe a data de fundação,
características das fábricas e da sua produção, criando uma base documental no âmbito
da produção cerâmica na região norte.

Palavras-chave

Património histórico; Indústria Cerâmica; Produção; Base de dados.

Abstract
Portugal is privileged in its raw materials for the production of ceramics, with emphasis
in the northern and central regions [1]. From the 18th century, it became a pioneer in the
production and export of ceramics [2], beginning with the manufacture of stoneware
and common earthenware [3]. Encouraged by the pombaline period, the handicraft gave
way to industrial complexes resulting in the increase and variation of the production.
Thus, an expansion of the sector occurred, and there was a subsequente drop in the
production due to the French invasions [4]. In the 19th century the comercial apogee
was observed, with dissimilarity of the factories that survived constituting a large
ceramic heritage value.
In this context, this communication consists of an up to date inventory of existing
factories, taking into account their working period. This inventory was carried out based
on a compilation of documentary information, in order to fill in the information gaps
found. This database sets out the date of foundation, characteristics of the factories and
their production, creating a documentary basis for the production of ceramics in the
northern zone.

Keywords

Historical heritage; Ceramics industry; Production; Database.

Enquadramento
O material cerâmico é muito utilizado para diversos fins quer na construção civil, quer
a nível decorativo e/ou utilitário, tendo registado uma evolução ao longo dos tempos no
que respeita à sua constituição, variedade e dependência de mercado, sendo este dado
importante tanto para o registo histórico como para atuação em diferentes obras de
construção.
Em tempos, o trabalho artesanal do barro vermelho ou branco era prática corrente,
dando posteriormente lugar à produção industrial, que surge no sentido de dar resposta
às necessidades da época. Todavia, é importante salientar que a industrialização não
conduziu ao término do artesanato, até porque muitas fábricas foram apenas vastas
oficinas que produziam de acordo com a sua potencialidade. A informação existente
relativa à indústria cerâmica portuguesa data o século XVIII, sendo obtida através da
Junta do Comércio – órgão que coordenava as atividades económicas da época – que
reuniu diferentes informações relativas à produção das fábricas existentes na altura
através da elaboração de estatísticas e inquéritos sobre a manufatura [5]. Deste modo,
foi possível analisar que a produção da cerâmica ascendeu a diferentes níveis em
Portugal, sendo a região Norte precursora do património cerâmico estrutural, utilitário
e decorativo, registando o concelho do Porto a fábrica mais antiga, a de Massarelos,
que iniciou o seu período de laboração em 1763.
Sabendo-se de antemão que o norte de Portugal assinalou a maior produção de material
cerâmico no país, é fundamental reunir e sistematizar os dados relativos a esta
produção. Assim, através da compilação de vários trabalhos já realizados sobre as
fábricas que produziram ao longo dos anos e da sua produção, como são exemplo a obra
“Itinerário da Faiança do Porto e Gaia”[4] e estudos de investigadores como Teresa
Soeiro, Inês Amorim, João Cordeiro, entre outros, que se dedicaram a esta temática
através de diversas abordagens.
Este artigo sistematiza informação, com base na consulta bibliográfica, relativa à
produção de cerâmica na região norte de Portugal, abordando-se quais as fábricas que
exerceram funções e, também, qual o tipo de material que produziram e a sua evolução,
para a execução de uma base de dados.

2
Cerâmica na zona norte de Portugal

Matérias-primas

A produção de cerâmica é condicionada pelas matérias-primas existentes em cada local;


neste contexto é evidente a variação da tipologia produtiva, uma vez que cada local
possui as suas características geológicas e, assim, diferenciação de matérias-primas. É
de realçar, que as olarias caracterizavam-se pela produção de cerâmica com a utilização
de argila como matérias-primas. Para pavimentos, revestimentos ou louças sanitárias as
matérias-primas cerâmicas mais utilizadas foram a argila comum, a areia, o caulino, o
feldspato e o calcário. A zona norte de Portugal destaca-se por um maior volume de
produção derivado à sua abundância de matérias-primas cerâmicas, principalmente no
litoral do país. Assim, Porto, Aveiro e Viana do Castelo, revelaram-se com melhores
condições de produção pela sua localização [6].
A cidade de Aveiro situa-se à beira-mar e, apesar de ser notória a carência de depósitos,
utilizava calcário e argila em materiais de construção [7]. Apresenta-se como uma
cidade característica na matéria-prima de argila, possuindo explorações a céu aberto
[6]. Em toda a zona litoral entre Viana do Castelo e Aveiro encontram-se depósitos de
caulino, com especial incidência na zona de Viana. Também na zona Norte, a área que
corresponde à de algumas das freguesias dos atuais concelhos de Barcelos, Vila Verde
e Braga aparece documentada como produtora de cerâmica também, desde o séc. X e,
ainda hoje, ocorre a extração do barro, que permite a produção na indústria de telha e
tijolo [8]. Os distritos de Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Porto são ainda abastados
em feldspatos, provenientes das explorações mineiras [6].

Das Olarias às Fábricas

Com análise de documentos que recuam a épocas passadas, sabe-se que entre os séculos
XII e XVIII, existiram várias olarias, em locais como Miranda do Corvo, Molelos, Vilar
de Nantes, Bisalhães, Ovar, entre vários outros locais, iniciando a sua decadência em
meados dos séculos XIX e XX [8].
Como a Olaria não foi vista como uma arte maior, a informação torna-se um pouco
escassa relativamente ao tipo de loiça que produziam e às técnicas que utilizavam.
Assim, apesar de cada vez mais investigadores se dedicarem a esta temática, pouco se
sabe para além da produção de louça preta em vários distritos nortenhos, como Viana
do Castelo, Braga, Bragança, Vila Real e Porto. Desde homens a mulheres, muitos se
dedicavam a este ofício, sendo evidente que algumas pessoas que praticavam a arte
deixavam o local onde cresceram e migravam para melhores condições, a nível de
trabalho ou até mesmo gerarem olarias onde não existiam [9]. Antes da decadência do
ofício, várias olarias produziram diferentes peças, estando localizadas em diferentes
freguesias no norte do país, como mostra a Tabela 1 [8].

Tabela 1. Diversas olarias que produziram no Norte de Portugal [8].

Distrito Freguesia Período


Prado Séc. X
Parada de Gatim Séc. X
Braga
Barcelos Séc. X
S. Vítor Séc. XIX

3
Distrito Freguesia Período
Calvelhe Séc. XIX
Bragança
Macedo de Cavaleiros Sec. XX
Telões Séc. XIII
Lordelo Séc. XVI
Vila Marim Séc. XVI
Vilar de Nantes Séc. XVIII
Parada de Cunhos Séc. XVIII
Vila Real
Samaiões Séc. XVIII
Agostém Séc. XVIII
Vidago Séc. XVIII
Selhariz Séc. XVIII
Alijó Séc. XIX
Gondar Séc. XVII
Gôve Séc. XVII
Padronelo Séc. XVIII
Santa Marinha Séc. XV
Bustelo Séc. XIX
Porto Carneiro Séc. XIX
Carvalho de Rei Séc. XIX
Ancede Séc. XIX
Santa Cruz do Douro Séc. XIX
Mafamude Séc. XIX
Madalena Séc. XIX
Vilar do Paraíso Séc. XIX
Valadares Séc. XIX
Canelas Séc. XIX
Pedroso Séc. XIX
Soalhães Séc. XIX

Apesar das olarias darem lugar a muitas fábricas, devido à necessidade de melhorar a
produção a nível da sua qualidade e quantidade, evoluindo para uma escala industrial,
o ofício dos oleiros é o mais antigo método de produção através do barro e da argila,
existindo ainda quem se dedique a este ofício.

Evolução da produção fabril

Fábricas cerâmicas

Existiram diferentes fábricas que produziram material cerâmico, sendo a primeira


fábrica a laborar a de Massarelos, no Porto. Na zona de Gaia, destacaram-se distintas
fábricas: a fábrica de Miragaia (1755), do Cavaquinho (uma de faiança comum, outra
de faiança fina ou pó-de-pedra, em 1780 e 1787, respetivamente), Santo António de
Vale de Piedade (1785) e Afurada (1789) [3]. Juntamente, surgiram mais algumas
fábricas, situadas em Ermesinde como a Empresa de cerâmica de Ermesinde e em

4
Matosinhos. Em 1824, iniciam a laboração a fábrica da Fervença e a fábrica do Monte
Cavaco e, posteriormente, entre 1835 até 1850 abrem várias fábricas, nomeadamente a
Fábrica da Bandeira, a Fábrica das Palhacinhas, a Fábrica do Alto da Fontinha, a
Fábrica da Rua do Sol, a Fábrica do Carvalhinho e a Fábrica da Torrinha [10].
A fundação das fábricas divide-se por quatro períodos: o período pombalino (1755 a
1776), perto da data de criação da junta do comércio, sendo a fábrica mais antiga a de
Massarelos, no Porto, em 1763. De 1777 a 1800, período da “viradeira”; de 1801 a
1810, primeira década do século XIX, até assinatura do tratado comercial com a
Inglaterra e também quando ocorreram as invasões napoleónicas que tiveram grande
impacto a nível da indústria; e, por fim, o período de 1811 a 1813, que envolve fábricas
licenciadas. Em 1813, existiam poucos estabelecimentos fundados ou licenciados no
período pombalino, apenas as fábricas de Massarelos e de Miragaia no que respeita a
louças e uma pequena fábrica de cola [5]. Estas fábricas registam até 1807 um período
próspero [10].
No ano de 1813, existiam quatro unidades fabris, sendo que três delas se localizavam
em Vila Nova de Gaia. Por esta altura as fábricas sofriam um declínio dada a
concorrência dos produtos provenientes do Reino Unido e a diminuição de exportações.
Assim, em decadência encontravam-se a fábrica de louça de Miragaia, a fábrica de
louça de Santo António de Vale de Piedade, a Fábrica de Massarelos e a fábrica do
Cavaquinho [5]. Em 1832 as unidades fabris eram pequenas na área dos têxteis, vinho,
ferrarias, chapelaria, cordoaria, curtumes e louças. Surge assim a introdução da
máquina a vapor no país, em 1835, que desencadeou um forte crescimento [10]. No
decorrer do século XIX, modernizaram-se mais fábricas de cerâmica com a produção
de azulejos, nomeadamente, no Porto e em Gaia foram fundadas as Fábricas do
Carvalhido em 1840 e das Devesas em 1865 (Figura 1), mantendo-se em laboração
fábricas mais antigas como a de Massarelos e Miragaia, que regressaram ao ativo entre
1830 e 1840. A fábrica das Devesas destaca-se como das mais inovadoras do setor, não
só pela sua capacidade de produção, como também pela qualidade do equipamento
industrial e qualificação dos operários [11]. Apesar de encerrada entre 1915 e 1920, a
sua laboração decorreu até fins do século XX, fornecendo durante o período de
encerramento muitos operários especializados a novas fábricas que abriram [10].
Em Aveiro, a produção inicia-se posteriormente em 1882 com a Fábrica da Fonte Nova,
à qual sucede a Fábrica Aleluia [5; 12], todavia regista-se a fundação da Fábrica de
Louça Fina do Côjo em 1774, em que se crê que seja resultado da melhoria de
instalações fabris já existentes [7]. No início do século XX, a cidade de Aveiro possuía
dois grandes complexos fabris em laboração, a Fábrica da Fonte Nova e a Fábrica
Aleluia, resistindo a primeira até 1937, ano em que ficou destruída depois da ocorrência
de um violento incêndio. No ano de 1923, o concelho de Aveiro contava já com nove
fábricas deste setor, produzindo cerâmica de construção, louça utilitária e decorativa e
azulejos [13].
Encontra-se assim na Tabela 2, a compilação das principais fábricas cerâmicas que
exerceram funções ao longo dos anos, na zona norte de Portugal, indicando o período
de tempo em que se mantiveram ativas e especificando a sua localização [3; 4; 5; 7; 10;
13; 14].

Tabela 2. Fábricas de cerâmica do norte de Portugal [3; 4; 5; 7; 10; 13; 14].

Designação Período de laboração Localização


Empresa Electro Cerâmica 1914-década de 40 Vila Nova de Gaia

5
Designação Período de laboração Localização
Empresa Industrial de Ermesinde 1910(?) Porto
Fábrica Aleluia 1917-(?) Aveiro
Fábrica Cerâmica de Valadares 1921-2012 Valadares
Fábrica Cerâmica de VianaGrés - Viana do Castelo
Fábrica Cerâmica do Douro
(Fábrica de Cerâmica Regional, 1989-Atualidade Vila Nova de Gaia
Lda.)
Fábrica Cerâmica do Fojo 1896-(200?) Vila Nova de Gaia
Fábrica da Bandeira 1844-(191?) Vila Nova de Gaia
Fábrica da Corticeira 1923-(?) Porto
Fábrica da Fervença 1826-1858 Porto
Fábrica da Fonte Nova 1882-1937 Aveiro
Fábrica da Junqueira 1900-1912 Vilar do Paraíso
Fábrica da Madalena 1919-(?) Madalena
Fábrica da Rasa 1808-(?) Porto
Fábrica da Rua do Sol 1838-(188?) Porto
Fábrica da Torrinha 1844-1912 Vila Nova de Gaia
Fábrica da Vista Alegre 1824-Atualidade Aveiro
Fábrica Darque ou de Viana 1774-(?) Viana do Castelo
1865-fim da década de
Fábrica das Devesas Vila Nova de Gaia
1980
Fábrica das Fontainhas 1807-(?) Porto
Fábrica das Palhacinhas 1835-1850 Porto
Fábrica das Regadas 1811-(?) Porto
Fábrica de Barros & Ventura 1910-(?) Vilar do Paraíso
Fábrica de Entre Quintas 1855-1857 Porto
Fábrica de Jerónimo Pereira de
1896-1923 Aveiro
Campos
Fábrica de Massarelos 1763-1936 Porto
Fábrica de Miragaia 1775-1854 Porto
Fábrica de Oliveira do Douro 1886-1901 Porto
Fábrica de Santo António do
1785-(193?) Vila Nova de Gaia
Vale da Piedade
Fábrica de Santo Ovídio 1893-1907 Vila Nova de Gaia
Fábrica de Soares dos Reis 1919-1964 Vila Nova de Gaia
Fábrica de Trás-os-Vales Década 1840 Vila Nova de Gaia
Fábrica de Vilar do Paraíso 1890-(?) Vilar do Paraíso
Fábrica do Alto da Fontinha 1837-1860 Porto
Fábrica do Candal 1858-(?) Vila Nova de Gaia
Fábrica do Carvalhido 1840-(?) Porto
Fábrica do Carvalhinho 1840-1923 Porto
Fábrica do Carvalhinho 1923-1974 Vila Nova de Gaia
Fábrica do Cavaco 1861-1874 Vila Nova de Gaia
Fábrica do Cavaquinho 1780-(inícios de 1900) Vila Nova de Gaia
Fábrica do Choupelo 1852-(?) Vila Nova de Gaia

6
Designação Período de laboração Localização
Fábrica do Côjo 1774-(?) Aveiro
Fábrica do Lazareto (Afurada) 1789-1866 Vila Nova de Gaia
Fábrica do Monte Cavaco 1824-(195?) Vila Nova de Gaia
Fábrica do Senhor d'Além 1861-1910 Vila Nova de Gaia
Fábrica Nova do Arnaud 1892-1895 Porto
Fábrica Pereira Valente 1884-(196?) Vila Nova de Gaia
Fábrica Santos Mártires
1905-1917 Aveiro
(posteriormente Fábrica Aleluia)

(a) (b)
Figura 1. (a) Fábrica do Carvalhido, Porto; (b) Fábrica das Devesas, Porto [15].

Efetivamente, várias unidades fabris contemplaram o Norte de Portugal com ilustres


peças, desde louças a porcelanas, sendo importante estabelecer o seu percurso.

Dados de produção

A partir do século XVII, a faiança nacional subsiste através de um vasto conjunto de


peças, sendo notória a sua evolução ao longo deste século. A maior produção registada
é na época pombalina, altura durante a qual Viana do Castelo, Porto e Gaia se
apresentaram como grandes centros produtores [4]. Entre o século XVII e XIX, a
produção azulejar caracteriza-se pela execução de lastras que eram cortadas nos
formatos pretendidos, depois seguia-se o processo de cozedura e, posteriormente, os
azulejos recebiam um vidrado. A decoração era realizada de forma manual, com pincel,
surgindo no século XIX a produção de peças seriadas e a técnica da estampilha [10].
No século XVIII predominava a faiança na produção Portuense, existindo pequenas
unidades de olarias [14]. Aveiro registou uma vasta atividade de produção para a
construção civil, em que se produziram tijolos, ladrilhos, telhas e, também, produtos
para uso corrente – objetos de cozinha, vasilhas para armazenamento e utensílios para
outros serviços. Nesta região do Norte presume-se que foram os fenícios, no século X
a.C. que trouxeram a técnica de modelar objetos de barro, sendo encontrado um forno
cerâmico romano em Vila de Eixo e que ao que tudo indica servia para fabrico de
produtos para a construção civil [16]. Segundo Inês Amorim [7], “Em Eixo (1722) é
conhecida a tradição do fabrico de telha e tijolo. Entre Sosa, Oiã, Mamarrosa e
Oliveira do Bairro adensam-se as unidades de exploração de barro, cal e fabrico de
telha e adobes.”. Em locais como Vagos, Ílhavo e Ovar existiram algumas olarias,
sendo Ovar um importante meio de produção, principalmente entre o século XVIII e
início do século XIX. Entre as várias fábricas cerâmicas que existiram em Aveiro,
destacam-se as fábricas da Vista Alegre e da Fonte Nova na sua produção. Da Fábrica

7
da Fonte Nova conhece-se a produção de vários géneros de louças e de inúmeros painéis
azulejares que embelezaram não só a cidade de Aveiro como outras cidades do país.
Durante o seu período de laboração conheceu quatro períodos, devido à alteração de
proprietários, havendo conhecimento do seu capital em 1891 de três mil e quinhentos
réis, sendo o único proprietário Carlos da Silva Melo Guimarães [13].
No núcleo de Porto e Gaia, acedendo a catálogos de fábricas no Banco de Materiais
situado no centro do Porto (Figura 2), permitiu concluir sobre algumas peças produzidas
nas unidades fabris, nomeadamente sobre a fábrica de Massarelos, que se caracteriza
por ser a unidade industrial mais antiga deste sector do país. Segundo algumas
informações, em 1804, a fábrica dispunha de sete rodas empregando diversos homens
para o efeito e outros tantos para a execução da pintura e cuidado dos fornos. Por certa
altura, empregava trinta pessoas, em que três se destinavam ao engenho de moer vidro.
Também, foi possível destacar informação sobre mais fábricas, como a Fábrica de
Miragaia, a fábrica Cerâmica do Douro, entre outras, de acordo com a análise da obra
“Itinerário de Faiança do Porto e Gaia” [4]. Ciente da sua importância, destacou-se a
fábrica de Miragaia que se distinguiu pela produção de faianças e introduziu inovações
como a produção de louça em formas. Em 1804 dispunha de doze rodas e empregava
um mestre, seis oficiais, quinze homens que laboravam na fábrica e dois no engenho de
moer. Também, trabalhavam na fábrica mais pessoas, a nível da pintura e dos fornos.
Devido aos ataques franceses (1812) a fábrica decaiu, todavia continuou o fabrico de
louças (quarenta a cinquenta fornadas) vendendo no Minho e exportando para a
América, tornando-se assim a maior fábrica de cerâmica do Porto nos inícios do século
XIX. Em 1819 trabalha a 25% da sua capacidade [10] e em 1829 e 1830 tinha empatado
em louças sem escoamento, mais de dezoito mil réis. Sobre a fábrica de cerâmica do
Douro sabe-se que se iniciou com um capital de cerca de quarenta mil contos e
empregava aproximadamente vinte pessoas, alguns deles jovens à procura de formação
profissional. Na base da sua produção estava porcelana, moldada, sendo o trabalho
realizado de forma manual inclusive a pintura. Dispunha de dois fornos, a gás propano,
havendo uma produção anual de cerca de dez mil peças, louça e azulejos. A louça
distribui-se por linhas desde a cerâmica utilitária à reprodução criativa de peças e à
porcelana decorativa [4]. Ainda nos dias de hoje, a fábrica de cerâmica do Douro resiste
na produção de louça, na zona de Vila Nova de Gaia [3].

(a) (b)
Figura 2. Catálogo disponível da fábrica das Devesas, em Gaia: (a)- Capa do catálogo;
(b)- Algumas peças cerâmicas disponíveis.

8
Conclusão
Este trabalho efetua uma síntese relativa às diferentes fábricas cerâmicas que laboraram
ao longo dos séculos, bem como a sua evolução desde as olarias às fábricas e as
principais características que estas apresentavam, englobando um estudo sobre as
matérias-primas cerâmicas existentes para o efeito, na zona norte de Portugal. É
incontestável a interligação entre a abundância de matérias-primas e a produção
cerâmica na zona norte de Portugal. É notório que Porto e Aveiro registam a maior
produção a nível de peças cerâmicas, devido à sua favorável localização na zona litoral.
Verifica-se que a industrialização fomentou o surgimento de cada vez mais unidades
fabris, aumentando a concorrência entre as mesmas. Este fator, entre outros, conduziu
ao término de algumas fábricas que deram lugar a outras com mais condições para
laboração, incluindo novas técnicas. No século XIX, a construção civil foi o principal
sector impulsionador das fábricas, existindo várias fábricas dedicadas ao fabrico de
telha, tijolo e elementos decorativos. Com o tempo, a produção dotou-.se de cada vez
mais trabalhadores e melhoramento de materiais e técnicas.
Com efeito, é possível analisar que as fábricas que acompanharam a evolução industrial,
melhorando o seu equipamento e zelando por operários qualificados, foram
permanecendo face a outras. As fábricas de Massarelos e das Devesas, no Porto, bem
como da Fonte Nova e da Vista Alegre, em Aveiro, resistiram a períodos de
instabilidade - dadas as várias dificuldades vividas na época - sendo indubitável a sua
distinção a nível de produção cerâmica.

Agradecimentos
Os autores agradecem à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) pelo
financiamento do Projeto DB-HERITAGE - Database of building materials with
historical and heritage interest (PTDC/EPH-PAT/4684/2014), no âmbito do qual foi
realizado este trabalho.

Referências
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