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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos da minha família, a esposa Rosa, aos filhos Thais, Nadia e Karina e

netos Sthefani, Sergio, Lauren, Davi e Frederico e a Everton da Rosa, meu genro, que

formatou e ajudou na digitação e a todas as pessoas citadas em alguma passagem em

“Lembranças da Infância e Juventude em Imbituba”.

E também a todos os familiares daqueles que dessa vida partiram, mais que continuam

vivas e presentes, em minhas lembranças.

PERÍODO

Essas lembranças da infância e juventude na cidade de Imbituba, passam-se a partir do

inicio da década dos anos cinquenta, mais precisamente do mês de maio ano de 1.951,

ano em que nasci, até janeiro do ano de 1.970, quando de minha cidade natal parti para

servir ao Exército Brasileiro, no 14º BC- Batalhão de Caçadores, em Florianópolis.

PENSAMENTO

Nunca foi um sonho querer escrever um livro. O que me trouxe a escrever essas lem-

branças do passado, que de uma maneira ou de outra, fizeram e fazem parte da minha

vida, bem vivida, foi depois da constatação médica de que minha mãe tinha a doença de

o “Mal de Alzaímer”, quando ela começou a perder sua lucidez.


Indo eu para Imbituba, quase todas as semanas, passar com ela alguns dias na casa de

minha irmã Eliane, com quem minha mãe morava. Ficávamos nesses dias, horas

e horas conversando sobre a família, relembrando momentos de quando éramos em seis,

meu pai, minha mãe, a irmã de meu pai tia Lilina e de nós, quatro filhos quando ainda

éramos crianças.

LEMBRANÇAS DA INFANCIA E JUVENTUDE EM IMBITUBA

Tudo começa no início da década de cinquenta mais precisamente no dia 08 de maio de

1951 , quando do meu nascimento em Imbituba.

Antes do relato dos momentos que ficaram na lembrança da minha infância e juventude,

tenho de falar um pouco sobre a cidade onde nasci, como ocorreu seu crescimento, seu

desenvolvimento e falar também das pessoas que fizeram tudo isso acontecer.

A Vila de Imbituba, distrito de Laguna, no litoral sul do Estado de Santa Catarina, ban-

hada pelo oceano atlântico, começou a surgir com a construção de um trapiche, ancora-

douro, na ponta do cabo, onde formava uma pequena baia.

O trapiche servia de atracadouro, para embarque e desembarque de pescadores, tripulan-

tes de barco de pesca e de outras embarcações com destino ao Estado do Rio Grande do

Sul e Países da Bacia Platina, como Argentina, Uruguai e Paraguai.

Por ali chegaram também os primeiros açorianos, vindo das Ilhas dos Açores, com des-

tino a região da Vila Nova onde se fixaram fundando a Vila, pois ali a terra era boa pa-

ra o plantio e cultivo da mandioca.

A cidade começou a ter seu real desenvolvimento a partir do final do século XIX e co-
meço do século XX, com aquisição por parte das Organizações Lage do então donatário

Visconde de Barbacena, o direito de exploração do carvão mineral, que vinha sendo ex-

traído das minas de propriedade do Visconde, no pé da serra do Rio do Rastro, na região

de Lauro Muller no sul do estado, e que vinham trazendo prejuízo ao Visconde, pois es-

tava tendo ele, dificuldade para escoar o carvão extraído.

A partir do ano de 1.919, tendo a frente das Organizações Lage, Henrique Lage e seu fi-

el escudeiro Dr. Álvaro Catão, deu-se então o inicio da construção de um porto carvoei-

ro, começando assim o porto a virar realidade, um velho sonho das Organizações Lage e

de Henrique Lage.

O porto começa a ser construído nas proximidades do velho trapiche e ancoradouro.

A construção do porto iria servir de escoamento do carvão mineral que chegariam das

minas da região mineira no sul do estado, através da Estrada de Ferro Dona Tereza Cris-

tina, estrada essa construída no século XIX com finalidade principal escoar o carvão mi-

neral, com a descoberta dessas grandes jazidas, nessa região do estado.

A partir do ano de l.9l9 ao ano de l.942, Imbituba torna-se um grande canteiro de obras,

com o porto em construção.

Mesmo com o porto em uso desde o começo de sua construção, só foi inaugurado em

1.942 com seu grande idealizador Henrique Lage, já falecido um ano antes.

Com as obras da construção do porto pela Cia. Docas de Imbituba, empresa essa criada

especialmente para construir toda zona portuária e administrar todas as outras demais o-

bras, como a Usina Termoelétrica que gerava energia elétrica para todo o complexo por-

tuário, a Indústria Cerâmica Henrique Lage, a Granja Henrique Lage, o Hotel Henrique

Lage, a Caixa D’agua no morro do Mirim, vários chalés, casas residenciais de alto pa-
drão, de alvenaria, vilas de casas de madeira como as da Vila Operaria, com suas casas

geminadas, casas de madeira também em ruas inteira, como as da Rua Três de Outubro,

a mais famosa, construídos ainda o Estádio de Futebol do Imbituba Atlético Clube, todo

cercado em tábuas de madeira, os dois prédios idênticos, de dois andares, em frente ao

Estádio do Atlético e outras tantas obras espalhadas pela cidade.

No ano de 1.923, Imbituba então em desenvolvimento, passa a condição de município.

Em 1.930, com o grande desenvolvimento com as obras das Organizações Lage, a todo

vapor, Imbituba sofre um baque, acho eu, que por inveja politica de outros municípios,

volta a ser distrito de Laguna, como também pelo mesmo motivo, passou a administra-

ção da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, ao município de Tubarão.

O então, Distrito de Imbituba no ano de 1.949 passou a chamar-se Distrito de Henrique

Lage, como justa homenagem ao desbravador de Imbituba, penso que merecidamente, e

também achando, ter sido um pouco por pressão politica.

Como também por pressão politica no ano de 1.958 o Distrito de Henrique Lage passa à

município do mesmo nome Henrique Lage, e que só no ano de 1.959, o então município

de Henrique Lage, volta agora como município de Imbituba, para nunca mais mudar é o

que esperamos.

OS PERSONAGES DE IMBITUBA, NA MINHA INFANCIA E JUVENTUDE

Uma tia – Lilina Vizinhos – Seu Sadi e Dona Chica

Delegado – Seu Lopes Vovozona – Dona Cotinha

O Soldado – Pedro Bagunça Velha professora – Dona Etelvina


Um Bandeirinha – Milosa A viajante – Maria Paula

Porteiro do estádio do Atlético – Seu Maõzinha Velho do Armazém – Lauro Sena

Catador de tudo – Biléu Goleiro Gato – Seu Izaú

Lavadeira – Dona Ledora A invejada – Família Catão

Jogador abnegado - Mandico Amigo no Exercito - Mourão

Zelador Encarnado – Seu Vinoca Dama menininha - Mariquinha

Presidente Vila Nova Atlético Clube – Seu Galileu O sapateiro – Seu Carmo

Engenheiro de Pinguela – Zé Bota Tarrafeador – Seu Gois

Dono do Cine Marabá – Seu Ventura Eletricista – Seu Micuim

Cartomante – Dona Pedra Pé que estralava – Do seu Arlei

Compositor – Amauri Locutor - Pitiriba

Carnavalesco – Matias Briguento – João Catinga

Bom estudante – Jurandir Lanterninha - Quidinho

O gigante – Zé Pauzinho Eletricista Chefe – Seu Calafate

Folclórico – Pedro Coco Servente escolar – Seu Zacarias

Arbitro de futebol – Itamar Barcelos Fessora na Admissão – Dona Sonia

Benzedeira – Dona Graciosa Catequista – Dona Orentina

Orador eloquente – Padre Itamar Bodegueiro – Seu Arão

Encarregado na cerâmica – Seu Adelfo Jogador de sinuca – Coró

Engraçado – Manéca Bodinho Farmacêutico – Seu Manoel

Botava medo – Maria Marreca Dama do Araçá – Ximbica

Medico de tudo – Dr. Orlando Grande festeiro – Seu Romeu

Prefeito – Moacir Origem Comendador – João Rimsa


Pipoqueiro – Seu Ernesto Agente Sto. Anjo – Dona Izabel

Levava Atlético nas costas – Seu Filhinho Dono salão de baile – Licínio

Cristo da semana santa – Manoel Martins Mecânico de bicicleta – Seu Tatá

Chofer de Praça – Eduardo Elias Motorista Ambulância – Seu Pirão

Comerciante – João Raquel A sacana, só ria – Licinha

Nossa cantora – Tania Pacheco Pistonista – Maestro Jú

Treinador do Granja F.C.- Joãozinho Jogador estiloso – Nilson Martins

Inatingível – Vera Orige Guarda do Areal – Seu Vicente

Enfermeira – Dona Delicia Tinturaria – O Guarany

Jogador de bocha – Seu Hermínio|\Seu Benicio Só recordação – City Bar

Matador de coleirinha – Idenio Goleiro elástico – Lauro Avelar

Padeiro – Seu Osmar Cação Barbeiros – Seu Benoni| Janga

Professoras – Dona Jacy| Dona Aurea Dono snoocker – Seu Zoca

Diretora G. E. H. Lage – Dona Elisa A safadinha – Warley

Compravam tudo –Seu Astrogildo\Seu Maximinio Fiscal da Cerâmica – Seu Juarez

Posto Atlantic – do seu Joaquim Souza Uma namorada – Inácia

Quebra guarda chuva - Nilzinha Cartorários – Seu Villy\Dna Inez

Jogador exportação – Jurinho\ Lico Dono de barraquinha – Tiburcio

Fabricante de moveis – Luiz Amorim Bom hoteleiro - Moreira

Farmácias – N.S. Aparecida \ São Paulo Dupla metralha – Bena e Nino

Alguns bons amigos da Rua da Usina: Jair, Silas, Luiz, Juvenal, Paulo do Sadi, Vanio,

Paulo Figueiredo, Cabral, Zezé, Renato, Djair, Gulú, Vânio, Ricardo, Zezinho, Sergio,

Leo, Adílio, etc...


FORMAÇÃO FAMILIAR

Aos 08 de maio de 1.951, no estão Distrito de Henrique Lage, nascia eu, Estanislau Ar-

canjo de Amorim, filho de Joaquim Francisco de Amorim, nascido aos 16 de dezembro

de 1.926 em Garopaba, filho de Dorvalino Horácio Araújo de Amorim e de Estelita da

Silva de Amorim, minha mãe Benta Silveira de Amorim, nascida aos l6 de julho do ano

de 1.927 no bairro do Campo D’una, distrito de Henrique Lage, filha de Roldão da Sil-

veira e de Maria da Silveira, dessa união, meus pais tiveram outros três filhos, Evandro

Elias de Amorim, nascido aos 20 de julho do ano de 1.952, Eliane Maria de Amorim,

nascida aos 4 de outubro do ano de 1.954 e Evonete Dalva de Amorim, nascida aos 3 de

agosto do ano de 1.957. Essa união de meus pais, começou com o namoro deles na

Indústria Cerâmica Henrique Lage, onde trabalhavam, minha mãe admitida na empresa

em agosto do ano de 1.946, e meu pai em abril do ano de 1.949, recém chegado do Rio

de Janeiro, onde serviu ao Exercito Brasileiro, por dois anos. Assim que casaram, fo-

ram morar em uma casa alugada na única rua do Bairro Cantagalo, que ficava entre as

dunas do mar grosso e os trilhos da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina que passava

abaixo dos altos muros. nos fundos, da Indústria Cerâmica Henrique Lage. A casa que

moravam, e onde nasci era de madeira, como todas as outras casas do bairro, a casa era

pequena, com cozinha, sala e um quarto. A rua do bairro passava em frente de nossa

casa e de todas as outras, o fundo das casas, dava para as dunas dos combros de areia da

praia. A rua não era rua, pois só tinha um lado com casas, entre a cerca na frente das
casas no sentido norte\sul, até o barranco que descia até os trilhos da estrada de ferro era

um pasto e no meio dele um caminho de terra de chão batido afundado na grama do pas-

to, pelo uso diário dos pedestres, ciclistas, carroças puxadas por cavalos, e até carroções

puxados por bois. A rua do Bairro Cantagalo no sentido norte\sul, começava entre a

estrada de ferro e o lado esquerdo da casa do seu Lauro Avelar, passando em frente de

todas as outras casas da rua, e acabando em frente á casa do seu Bem-te-vi e a linha fér-

rea em direção ao Araçá.

TIA LILINA

Com minha mãe ainda em quarentena após meu nascimento, veio morar conosco tia Li-

lina, irmã de meu pai, é quem passaria a cuidar dos afazeres da casa e de mim também.

Enquanto era só eu, a vida de tia Lilina nos cuidados da casa era fazer o almoço, mesmo

meus pais almoçando em casa diariamente, era tranquilo, como dizia ela. Com o nas-

cimento de meu irmão Evandro, a dificuldade para nossa tia aumentou, pois crescíamos

rápido. Eu agora com mais de dois anos e meu irmão com mais de um, e já andando,

as brincadeiras e traquinagens eram frequentes e divertidas, ela tinha que ficar de olho.

Tia Lilina contava que de todas as nossas brincadeiras, a que mais cuidados exigia, era

quando os trens Maria Fumaça apitavam, saiamos correndo, estivéssemos onde estives-

semos, saíamos gritando em direção da sala, subíamos nas cadeiras e das cadeiras para

cima da mesa, para olhar através da janela, e ver os trens passar em direção a zona por-

tuária, puxando os vagões carregados de carvão, e as vezes também caulim, uma espécie
de barro branco, usado na cerâmica para a fabricação de louças e azulejos. Uma outra

brincadeira que mais gostávamos, contava tia Lilina, era correr um atrás do outro, ao re-

dor da casa. E que, em um dia desses, um correndo atrás do outro, ao redor da casa, o

meu irmão correndo na frente, e eu correndo atrás, ele veio a cair com o rosto num caco

de louça, de uma saboneteira quebrada, jogada em um canto do quintal, vindo ele a so-

frer um grande e profundo corte, foi uma correria dizia tia Lilina. Com o corte na face

curado, mas com uma bela cicatriz em forma de meia lua, resultado de nossas correrias

ao redor da casa. A cicatriz em forma de meia lua ficou até bem dizia tia Lilina, quan-

do contava nossas peripécias de criança, que a cicatriz no rosto de meu irmão em forma

de meia lua, dava-lhe um certo charme misterioso. Meu irmão ficava todo bobo e en-

rubescido.

A NOVA CASA

Em minhas lembranças com mais ou menos cinco anos, lembro de meus pais na obra de

construção de nossa casa. O que vem em minhas lembranças dessa construção da ca-

sa, é de estar nos primeiros degraus de uma escada de madeira, atrapalhando o meu pai,

carregando telhas escada acima, telhas do modelo francesa, da marca aranha, pois elas

tinham a figura de uma aranha, na face de baixo da telha. As telhas levadas escada a

cima por meu pai, eram entregues a uma pessoa em cima da casa, que à medida que ia

recebendo as telhas, mais rápido a casa ia ficando coberta. Outra coisa que lembro é

de minha mãe estar sentada em uma pedra, com uma criança no colo, que devia ser min-
ha irmã Eliane. Com nossa casa totalmente pronta para ser habitada nos mudamos.

Era uma casa de madeira, como a maioria das casas da rua, pequena 48 metros quadra-

do, com 6 metros de frente, por 8 metros de fundo, pintada na cor azul, com as janelas e

portas pintadas na cor branca. A casa tinha dois quartos, sala, ante sala, cozinha e pe-

quena despensa ao lado da cozinha. Na frente da casa tinha duas janelas, olhando pa-

ra a frente da casa, a janela da direita era da sala, já a da esquerda era do quarto de meus

pais, do lado direito da casa havia uma porta que dava para a sala, e duas janelas sendo

uma da ante sala, a outra da cozinha, no lado esquerdo da casa tinha duas janelas, uma

era do quarto dos meninos, outra do quarto das meninas e ainda uma janelinha basculan-

te, numa espécie de despensa, já no fundo da casa tinha uma porta de duas folhas na ho-

rizontal, a folha de cima aberta virava janela, com as duas folhas fechadas ou abertas vi-

rava uma porta.

O terreno nos fundos da casa tinha bastante espaço, onde meu pai plantava amendoim,

melancia (das amarelas) e aipim. Entre o terreno de nossa casa e o terreno do seu Sa-

di, nosso vizinho, nessa época tinha um caminho que dava passagem para a rua de cima,

à Rua Santa Catarina.

MINHA RUA

Nossa casa ficava na rua conhecida como Rua da Usina (Usina Termoelétrica) de cons-

trução imponente em seus três módulos, com seus dois enormes chaminés que diária-

mente jogavam no céu azul, uma fumaça negra resultado da queima de carvão mineral
em suas caldeiras. De uma das janelas, da frente de nossa casa, tínhamos diariamente

em nosso campo de visão, a grandeza dessa magnifica obra. A rua quando lá fomos

morar em 1.955, tinha o nome de Avenida Brasil, depois se passou a chamar-se Avenida

Dr. João Rimsa, nossa casa era a de numero 1.278. Nessa época a rua começava prati-

camente na zona portuária, nos fundos dos armazéns da Cia. Docas, onde havia combros

de areia, com densa vegetação nativa e arbustos, onde hoje estão as edificações, em rui-

nas, da Industria Carboquímica Catarinense S.A. O final da rua no seu lado sul, pra-

ticamente acabava no campinho do pastinho do Vinoca, a beira do banhado da Lagoa da

Bomba. Eu, meu irmão e amigos da mesma idade, passávamos boa parte do dia brin-

cando nesse pastinho, desse final de rua. No campinho do pastinho do Vinoca, joga-

vamos bola, no meio da rua brincávamos com bolinhas de vidro (as de gude), pião e car-

rinhos de latas, na lagoa, e nos riachos formados pelas águas que jorravam pelo enorme

cano da Usina, caçávamos de funda e pescávamos de caniço de bambus. Nesse can-

to de nossa rua, era onde e como passávamos os nossos dias brincando.

AS PELADAS DE FUTEBOL

No campinho do pastinho em frente a casa do seu Vinoca, vi ali na minha pouca idade a

primeira boa pelada de futebol. Era uma manhã de domingo, os rapazes eram maiores,

com idades variando entre os quatorze e dezesseis anos, formaram dois times equilibra-

dos para aquela partida de futebol. Em minhas lembranças alguns nomes de rapazes

no jogo daquele domingo ficaram, uns eram da nossa rua, outros da rua de cima e outros
ainda do Cantagalo. Os da nossa rua, lembro do Orlando (da dona Otilia), Maneca e

Paulo(do seu Zacarias), Nino e Jurandir (do Seu Crescencio), Pedrinho (do seu Rozeno),

Nengue (do seu Figueiredo) e Dorli (da dona Cotinha), já os da rua de cima lembro do

Irani e do Irmão, o Vilson (do seu Julio) e também do Miguel (da dona Martinha), os do

Bairro Cantagalo lembro dos irmãos Julião e Chapica (filhos do Bicho) e do Bena.

Quando acabou a pelada dos rapazes maiores, uns foram embora outros ficaram por ali

conversando. Começa então nossa pelada, a dos garotos do dia a dia e de toda hora no

Campinho do pastinho do seu Vinoca, era a turma da nossa rua, contra a turma da rua de

cima. Pela turma da nossa rua jogaram eu e meu irmão, Ricardo do Rozendo, os irmã-

os Milosa Jair e Luiz, Paulo do Sadi, Sergio do seu Nelson Figueiredo, Juvenal da dona

Cotinha, Zezé do seu Vinoca e o Zeca cachorro, pela turma da rua de cima, lembro que

estavam o Paulo Miguel, Ademir Raquel, Paulo Lombriga e o irmão Rato, João Catinga

e o Irmão, Luiz Piranha, Bento Pé Torto, Zézo, João Banana (da dona Martinha) , e o

Pita (do seu Julio), do Bairro Cantagalo estavam o Cabral e o irmão Adilio e o Deléo do

Bicho. O jogo daquele dia, era mais que especial, nós garotos querendo mostrar aos

rapazes maiores que tinham acabado de jogar, que ainda continuavam por ali conversan-

do, que também sabíamos jogar. O jogo estava bom, corria tranquilo, até que a bola

chutada pelo Zezé, “o perna de pau” no trato com a bola, foi parar no quintal do terreiro

da casa do pai, seu Vinoca. O seu Vinoca que estava na janela olhando o jogo, quan-

do viu que a bola tinha caído no seu quintal, quase que correndo saiu porta a fora, pegou

a bola levou para dentro de casa, antes que o seu filho, que já estava entrando pelo por-

tão do quintal a dentro, fosse pega-la para continuarmos jogando. O Seu Vinoca, não

quis nos devolver a bola, como de outras vezes, da janela ele gritava ameaçando cortar
a bola, mesmo tendo seu filho chutado a bola para o seu quintal seu Vinoca, se achava o

guardião do pastinho, também vamos e viemos ele como funcionário da Usina Termo-

elétrica, com um poste de luz em frente sua casa, quantas vezes deixamos sua casa e ou-

tras casas depois da dele, sem energia elétrica. Nosso jogo nesse dia acabou por ali,

mesmo com a insistência de todos, que nesse dia estávamos jogando bola no campinho

do pastinho do Vinoca. Cada um dos garotos que no campinho do pastinho jogaram

bola naquela época, tem uma historia para contar sobre seu Vinoca, o zelador do pastin-

ho.

AS CAÇADAS DE FUNDA

Dessas caçadas de funda lembro de uma até hoje. Depois de ficarmos por bom tempo

no banhado da lagoa da bomba, entre as taboas, caçando marrecas d’agua, mergulhões e

asinhas de seda, fomos para o campinho do pastinho do Vinoca, participar da pelada que

já estava rolando, quando de repente alguém gritou, olhem! Olhem! lá na beira da lagoa,

era uma marreca d’agua e das grandes, daquelas da cabeça vermelha. Como ninguém

mais tinha pelotas de barro seco ou bolinhas de vidro, que eram as principais munições

que usávamos nas fundas em nossas caçadas, saímos procurando alguma pedra, que pu-

déssemos usar para tentar matar a marreca d’agua. O Ricardo um dos amigos de caça-

das e de peladas, como não encontrou uma só pedra que pudesse usar como munição na

funda, pegou um pedação de cocô seco de cachorro, falando disse que iria usar o cocô

seco de cachorro. Agachado ele desceu a ribanceira que tinha no pastinho até a beira
da lagoa, procurando se esconder para chegar o mais perto possível da marreca d’agua,

enquanto no pastinho alguns de nós sentados, outros em pé, como expectadores olhando

para ver o desfecho do espetáculo. O caçador chegou por trás de um arbusto, o mais

perto que pôde de sua caça, puxou para traz o elástico da funda, retesou bem a forqueta

e largou, o cocô seco de cachorro, usado como munição na funda, não variou, foi direto

na cabeça vermelha da marreca, ela virou para o lado e deitou. Eu e os demais garotos

de onde estávamos no pastinho, fomos ao delírio, um gritava, corre pega a marreca, eu

desci correndo ladeira abaixo e fui logo entrando na lagoa, banhado a dentro, junto com

o Ricardo para pegar a caça caída em cima das folhagens aquática. Quando ele pegou

a marreca e a ergueu acima da cabeça como um troféu, não foi por tela matado, pois es-

távamos acostumados a matar passarinhos em nossas caçadas, o que levou o Ricardo a

toda aquela alegria, foi por ter acertado e derrubado a ave, com o cocô seco de cachorro.

Esse acontecimento me marcou muito, não sei se marcou também, aos demais garotos

que naquele dia estavam lá.

AS BRINCADEIRAS

A de bolinhas de vidro (de gude) que comprávamos no armazém do seu Lauro Sena, ou

na venda do seu Arão eram de varias cores, as mais procuradas eram as famosas olho de

gato. Com essas bolinhas entre o dedo indicador e o polegar, a brincadeira era jogar

uma bolinha na outra dentro de um circulo riscado no chão, quem conseguisse na batida

tirar a bolinha do circulo, ficava com a bolinha jogada para fora do circulo, podia parti-

cipar da brincadeira vários garotos ao mesmo tempo, obedecendo regras, cada um joga-
va na sua vez. A de pião também comprados nos mesmos lugares, a brincadeira era

jogar um pião sobre o outro, acertando no pião já rodando no chão dentro de um circulo,

o dono do pião acertador, tinha o direito de dar galadas ou ferroadas no pião acertado,

tentando deixar a sua marca no pião do adversário. A dos carrinhos de lata feito com

latas de leite ninho em pó como as de hoje, furava-se a lata dos dois lados bem no meio,

enchia de areia, transpassava um arame de um lado ao outro da lata, amarrava as duas

pontas do arame, e no arco formado pelas amarras das duas pontas do arame, amarrava

um cordão ( barbante), estava pronto o carrinho de lata, era só sair puxando.

Fazia carrinhos com uma ou varias latas, uma atrás da outra, formava uma tripa, até uma

ou duas em cima de outras colocava, tipo dois andares de latas. O jogo de figurinhas

no bafo ou tato dava até briga, o garoto com as mãos cheias delas trocando com outro

garoto, de repente, um terceiro garoto, vem e da um tapa na mão do garoto com as mãos

cheias de figurinhas, indo figurinhas para todo o lado. Eta brincadeira de mal gosto,

mais vai fazer o que, jogo é jogo. As pescarias de caniço, com linha e anzol, eram

feitas nos riachos das fontes das lavadeiras, na lagoinha e Lagoa da Bomba nos fundos

do terreno da casa do seu Milosa, ali também pescávamos de puçá, fundiado com bolas

de pirão escaldado, que usávamos como isca, para pegar tainhotas, que naquela época

tinha muito na lagoa.

O PASTINHO DO VINOCA

No campinho do pastinho do Vinoca, onde jogávamos bola, muitas recordações trazem

além das nossas peladas. Em um olhar de l80 graus, no horizonte em frente, via-se ao
longe as ilhas Araras e Itacolomí, deitadas nas águas azul do Oceano Atlântico camufla-

das pelo azul do céu. Ainda na mesma direção se vê as dunas de areia da praia, com a

caixa d’agua da estrada de ferro sobressaindo-se sobre elas, bem como os telhados das

casas do Araçá. Antecipando a estada de ferro, aparecia as calmas águas da lagoa da

bomba, com a casa dos pais do Tionás a beira da lagoa a direita, onde os adeptos da As-

sembléia de Deus, eram batizados mergulhando a cabeça em suas águas. Fiando des-

ses batizados uma frase que lembro até hoje, “mergulha Tionas, já mergulhei meu pai”.

A esquerda do campo de visão, aparecia imponente, tão perto a majestosa usina termo-

elétrica, a frente dela os trilhos da estrada de ferro por onde chegava o carvão, e abaixo

dessa linha férrea, sobressaiam a boca de dois tuneis, por onde eram retiradas as cinzas

do carvão queimado em suas caldeiras. E abaixo do túnel da direta destacava-se o de-

pósito de cinzas a beira da lagoa com sua vegetação aquática, com destaque para as ver-

des taboas, com suas altas astes amarronzadas parecendo espadas. Essas são minhas

lembranças que vejo, quando volto a minha infância, em pé no campinho do pastinho da

rua em morava.

O SOSSEGO DO ZELADOR

O seu Vinoca trabalhava na Usina Termoelétrica, o que ele fazia não sei, o que sei é que

ficava uma fera, em seu corpo “alemão” enorme, quando jogávamos bola no campinho

do pastinho em frente da sua casa e se ele estivesse em casa, tínhamos que ter muito cui-

dado com a bola. Quando a bola mal chutada, pegava na fiação elétrica da rede residen-

cial, num poste em frente da casa dele, o homem se transformava, ficava um bicho.
Como em frente a nossa casa, na mesma rua, tinha uma grande área plana, com grama e

vegetação rasteira, começamos a roçar o mato, deixando só a grama para fazer ali o nos-

so novo campinho, deixando assim de incomodar o seu Vinoca, por quanto tempo fica-

mos não sei. A área roçada, os buracos tampados e goleiras colocadas, começamos a

jogar ali as nossas peladas. Com a notícia do novo campo, varias turmas de guris de

outras ruas, queriam ali jogar conosco. Os primeiros como sempre, desde o antigo

campinho do pastinho do Vinoca, foi à turma da rua de cima, que jogavam sua bolinha

no meio da rua de terra de barro batido. A turma da rua de cima que sempre jogavam

ali conosco eram, o Paulo Miguel, Lombriga e o seu irmão Rato, Ademir Raquel, João

Banana, Pita, Luiz Piranha e o ZéZo, Ari, João Catinga e o seu irmão, dessa turma tin-

ha o Sergio Figueiredo que não sabia por quem jogar, se pela rua de cima ou por nós, da

Ru da Usina. Vieram também jogar no novo campinho, o Bento pé torto e o João seu

irmão, os irmãos vaca braba, o Nelo nariz amassado e o seu irmão desengonçado Alci, o

Mauricio fominha e os seus irmãos, todos esses do Bairro do Sete. Ali conosco joga-

ram também os irmãos coragem Ailton, Amilson e Arilton, Cateco, Ricardo siri Chita,

os dois Marcio( o Nunes e o outro), Almiro e outros, todos da Rua de Baixo.

Do centro da cidade também apareceram por ali alguns fominhas de bola, como o Adi-

lio, Gerinho, Lico e o seu irmão mais novo o Cinha, esse jogava mais que o irmão, in-

felizmente morreu afogado na Lagoa da Barra. Os da nossa turma, em sua maioria,

eram todos moradores da rua, Ricardo do seu Roseno, eu e meu irmão, Paulo do seu Sa-

di, Juvenal da dona Cotinha, Jair e o Luis do seu Milosa, Zezé do seu Vinoca, Silas do

seu Góis, Zézinho do seu Aniceto, Vanio Hipólito, Djair da Margarida, Paulo Figueire-

do, estavam sempre por ali também, o Deléu e o seu irmão Siri do seu Bicho, o Cabral e
o seu irmão, até o Piragibi e o seu irmão, que de vez em quando apareciam, eram todos

do Cantagalo. O campinho em frente de minha casa foi usado por pouco tempo, toda

grande enxurrada que dava, a água da chuva, descia as ruas trazendo todo entulho, prin-

cipalmente areia para dentro do nosso campo, que dava muito trabalho para limpar.

OS RIACHOS

Nas aguas dos riachos muito banho tomei, até pelado, para não chegar em casa com as

roupas molhada. Tomar banhos naqueles riachos, só depois que as lavadeiras deixas-

sem suas fontes onde lavavam suas roupas sujas, caso não, era corridão na certa, seja lá

quem fosse elas corriam atrás gritando, xingando, chamando de tudo quanto é nome fe-

io. Os banhos mais emocionantes não eram nos riachos, mais sim os tomados no bura-

co de agua quente saída do cano da usina. A agua quente que saia do cano de ferro de

diâmetro enorme, que vinha desde o interior da usina por baixo do pasto, jorrava com

grande volume d’agua dentro de um buraco. A força dessa água que caia dentro desse

buraco era tanta que o buraco dia a dia, ficava mais fundo e largo. Nos deslizávamos

por cima desse cano, num vão de dois metros até a borda, então nos equilibrando ficava-

mos em pé e nos jogávamos, mergulhando em suas aguas mornas. Nesses banhos to-

mados nesse buraco de agua morna, quando tinha dois ou três garotos podia ser demora-

do, mais quando o numero de banhistas era maior, e os mergulhos de cima do cano iam

acontecendo, o fundo e os lados do poço barrento iam sendo remexidos e a água ia fcan-

do suja. Como essa água descia ribanceira abaixo, quando chegavam nas fontes dos
riachos onde as lavadeiras lavavam em seus coxos as roupas sujas, elas vendo a água su-

já daquele jeito, já sabiam o que estava acontecendo. Elas deixavam os seus postos de

trabalho nas fontes, subiam a ribanceira em direção do buraco de água morna. Com a

água suja no poço, descendo ribanceira abaixo, já sabíamos que a qualquer momento, as

lavadeiras iam chegar, já nos preparávamos para sair correndo. Dito e feito, com seu

falatório de lavadeiras que eram lá vinham elas subindo a ribanceira, tendo a frente dona

Leodora. Aos berros elas gritavam, saiam da água seus moleques, estão sujando toda

água, não podemos lavar nossas roupas descansadas. Como os garotos eram quase

sempre os mesmos tomando banho no poço, elas roseavam: Dalzo, Vando seus safados

vou falar para a Lilina, Paulo, sem vergonha, vou contar para a Chica, Jair, Luiz vou fa-

lar para a Geralda, se pegarmos um de vocês, vamos levar pela orelha, anda peados, até

em casa. Depois de alguns dias, lá estávamos todos de novo tomando banho no bura-

co de agua morna saídas do cano de agua quente das caldeiras da usina.

Dávamos trabalho para as lavadeiras dos córregos, que sacanagem.

O BUNCKER

O Buncker, não sei do que chamo, se de fosso, deposito, abrigo ou esconderijo para al-

guém ou para alguma coisa, o que sei, é que essa edificação de alvenaria era enorme e

de forma arredondada era toda soterrada, só ficava de fora uma espécie de tampa, com

uma abertura quadrada, onde só poderia entrar e descer por ela uma pessoa de cada vez,

não sei se era rasa ou funda. Quando éramos criança, brincávamos sempre de nos es-

conder por ali, tínhamos um certo medo, mais a curiosidade de criança era maior.
Dona Leodora, a lavadeira, que morava ali perto em um barraco no meio da rua, próxi-

mo do Buncker, sempre nos chamava a atenção, por corrermos perigo brincando ali per-

to, pois poderíamos cair no buraco cheio d’agua, e não sabíamos a fundura exata do tal

Buncker. Como no final da rua Manoel Florentino Machado, naquela época dos me-

us sete, oito anos, onde estava edificado o Buncker, era um buraco, onde as mamoneiras

cresciam em abundancia, de um lado ao outro da rua, escondendo a buraqueira.

Quando chovia a agua descia rua abaixo, com tanta força, que a rua virava uma cachoei-

ra, levando tudo pela frente, principalmente areia, nem as mamoneiras escapava, eram

arrancadas com a raiz e tudo, em seu declive. Essa água com areia ia adentrando pe-

la abertura do Buncker, foi soterrando-o, e a medida que o tempo passava, deixou para

traz um ponto de interrogação e uma pergunta que sempre me faço. Por que aquela

espécie de Buncker, tão escondido e tão bem construído foi ali edificado, as vezes chego

a pensar que como a Usina Termoelétrica e a Industria Cerâmica, estão a mais ou menos

cinquenta metros do local, quem sabe aquele espécie de Buncker, não foi ali construído

como rota de fuga ou para esconderijo de alguém, só bastaria ter um túnel, entre as duas

empresas. Quem vai saber.

UMA LAGOA

A lagoa, que em poucos dias surgiu em nossa rua, foi uma surpresa. Um dia vindo da

zona portuária, desceram a nossa rua dois guindastes e logo atrás dois enormes camin-

hões “Euclides” na cor amarela. Os guindastes chegaram na beira do banhado e com

suas enormes patolas, que pareciam garras, começaram a cavar, revirar e retirar o lodo
pantanoso, com as plantas aquáticas e tudo mais, colocavam dentro das enormes caçam-

bas basculante dos caminhões Euclides, que depois de cheios desapareciam na alta lom-

bada da estrada. Para onde levavam todo aquele lodo pantanoso e mal cheiroso não

sei. Depois de alguns poucos dias trabalhando, revirando e retirando todo o lodo pan-

tanoso, foram embora e nunca mais apareceram, só o que deixaram para traz foi uma la-

goa que aos pouco foi surgindo com a retirada do lodo, e um pátio mais espaçoso para o

despejo da cinza, resíduo do carvão mineral queimado pelas caldeiras da usina.

Com o pátio do deposito de cinza mais espaçoso, ficou melhor para as manobras dos ca-

minhões da prefeitura, que chegavam para retirar a cinza, que eram espalhadas nas es-

tradas do município, tapando assim os buracos causados pela chuva. A cinza escura

espalhada nas estradas, com o tempo ela ficava tão compactada que deixava a estrada de

chão batido, dura, parecendo um asfalto.

A USINA

Na Usina Termoelétrica, com a grande quantidade de carvão mineral queimado em suas

caldeiras para a geração de energia elétrica, resultava numa grande quantidade de cinza.

Essa cinza era retirada do interior da usina vinte e quatro horas através de caçambas em-

purradas por homens em suas vestimentas pesadas, capacetes, luvas de lona e botinas

de couro. Esses homens em seus trajes escuros e pesados, quando saiam pela boca do

túnel empurrando as caçambas com o resíduo do carvão queimado “a cinza” ainda bem

quente esfumaçando, em brasa ainda vermelha, quem via pela primeira vez esses home-

ns saindo pela boca do túnel, empurrando essas caçambas, chegavam a ficar assustadas.
O trajeto das caçambas pelo túnel no subsolo desde as caldeiras no interior da usina, ate

a saída na boca do túnel, era um trajeto curto de mais ou menos cem metros, clareado e

ventilado por uma abertura, claraboia, no teto. Essa claraboia quadrangular, ficava

mais ou menos a um metro acima do solo, com mais ou menos um metro de abertura da

boca e um parapeito de mais ou menos trinta centímetros, onde nos debruçávamos para

olhar a passagem das caçambas, lá embaixo nos trilhos do túnel, a mais ou menos cinco

metros de profundidade, carregadas com a cinza ainda em brasa avermelhada ainda com

fogo, parecia o buraco do inferno, como dizem. A minha curiosidade era tão grande,

para ver de onde ver de onde vinham as caçambas, que cheguei aventurar-me junto com

outros garotos, pelo túnel a dentro, quanto mais avançávamos pelo interior do túnel ma-

is escuro ele ficava, só clareava quando nos aproximávamos da abertura no teto.

Chegamos tão longe caminhando pelo interior do túnel que víamos as caçambas paradas

embaixo das caldeiras, com a cinza do carvão em brasa caindo dentro dela. O nosso

medo era grande e o calor também, até que ouvimos vozes de pessoas conversando, saí-

mos todos correndo túnel afora gritando. Eram dois os tuneis, o da esquerda, olhando

da janela de nossa casa foi desativado, ficava na direção do chaminé menor, que coinci-

dentemente pouco tempo depois da desativação do túnel, o chaminé começou a ser de-

molido de cima para baixo, tijolo por tijolo. O desmanche do túnel era acompanhado

de camarote, por nós moradores da rua em frente da usina e também por curiosos de to-

da à cidade. Os trabalhadores pareciam formigas lá no topo do chaminé jogando os

tijolos para baixo. Quando o chaminé desapareceu no horizonte, além de terem tira-

do um pedaço da usina, parecia terem tirado também, um pedaço de mim, de tão acostu-

mado que estava com aquele chaminé, fazendo parte da paisagem.


A CERAMICA

Na cerâmica, empresa de azulejos em que meus pais trabalhavam, passávamos horas em

seus domínios, brincando ou vagabundeando, sempre procurando alguma coisa para fa-

zer. Como seus domínios não eram ainda murados, eram só cercaneados pelos altos

e velhos eucaliptos, entravamos por um lado e saíamos pelo outro. Na Cooperativa

da Cerâmica, administrada pelo seu Pedro Paulo era vendido de tudo, desde gêneros ali-

mentícios de primeira necessidade, que era o seu forte, até sapatos, tecidos, roupas mas-

culina, feminina e para criança. Quase que diariamente estávamos na cooperativa

para comprar alguma coisa, tudo que comprávamos era para desconto na folha de paga-

mento de meus pais. Nos domínios da cerâmica, no interior da plantação de eucalip-

tos, morava seu João Figueiredo e família, numa casa de propriedade da cerâmica.

No fundos do terreiro da casa, seu Figueiredo tinha uma estrebaria, onde mantinha um

cavalo, para uso em uma carroça, do lado da estrebaria tinha um rancho, tipo paiol, onde

eram armazenados vários cachos de banana e tonéis de cachaça. Em um daqueles dia

vagabundeando, eu, e o Ernani filho do seu Arão da venda e também um dos filhos do

seu Figueiredo, não lembro qual deles era, entramos no paiol para comer banana madu-

ra, depois tiramos a rolha que tapava o buraco de um dos tonéis de cachaça, então enfia-

mos uma mangueira, onde um de cada vez solvíamos a cachaça do tonel e engolia.

Em nossa tenra idade não precisou de muita cachaça para ficarmos bêbado, claro.

O que sei, é que fui levado para casa por meu pai, depois de muito terem me procurado,
me encontraram sentado aos pés da cerca viva de são joão, bem frente da venda do seu

Arão. Aos outros eu nunca soube o que aconteceu, também depois daquele dia nun-

ca mais tocamos no assunto, nem mais tomamos cachaça do tonel do paiol do seu João

Figueiredo. O que sei é que me custou um belo sermão, de meus pais, depois da be-

bedeira.

A QUADRA DA NOSSA RUA

A quadra de nossa rua, na época Av. Brasil era de um lado só, pois só tinha casas de um

lado, no lado direito. Do outro lado da rua que seria o lado esquerdo, dizer que não tinha

casas ,tinha, tinha uma, a da dona Cotinha, depois só o aterro do lixo da cerâmica, mato,

o deposito de cinza do carvão queimado pelas caldeiras da usina e o banhado da lagoa

em frente de nossas casas. Na casa de esquina da quadra da nossa rua, com a rua,

Manoel Florentino Machado, morava seu Vica, irmão do seu Sadi nosso vizinho, depois

comprada pelo João, da Nelci, a casa seguinte era a do seu Góis, da Maria Paula, então

vinham duas outras casas, sempre em rodizio de moradores, em uma delas moraram por

pouco tempo seu Aniceto a esposa e seu filho Zezinho, outros por essas casas passaram

como seu Marcolino sua esposa e seu filho Nelo “Arataca”, como também um casal da

Penha que tinha dois filhos, um de nome de Domingos o outro não lembro o nome.

Depois então vinha a casa de nossos eternos vizinhos, seu Sadi e dona Chica, depois da

nossa casa, vinha a casa do seu Chinês e dona Edite, nessa casa ainda passaram a dona

Custodia do Porquinho, uma família de Laguna, uma outra de Tubarão e depois seu Jua-

rez da Valdete filha do seu João Rachel, depois dessa casa vinha então as casas do seu
Crescêncio, a do seu Zacarias da dona Porcina, a do Seu Prachedes e família, três outras

casas eram num só terreno, a primeira era da irmã do seu Vinoca, dona Edvirges, a casa

do meio era a do seu Vinoca e a terceira casa era da sua filha mais velha Doraci e do seu

marido. No final do campinho do pastinho do Vinoca, vinham as quatro ultimas ca-

sas da rua, a dos parentes do seu Micuim, a do seu Milosa e dona Geralda sua esposa as

duas últimas casas ficavam em um terreno enorme, quase na beira do banhado da Lagoa

da Bomba, uma casa era de dona Pedra, velha benzedeira e cartomante, que veio à fale-

cer tão logo seu Bica, um parente vindo da Vila Nova, terminou de construir a casa para

morar no terreno da velha cartomante, com sua esposa dona Valdira e sua filha Tereza.

Essas eram as casas de nossa rua, à Avenida Brasil, depois, muito depois, Av. Dr. João

Rimsa, e muito depois ainda, já não morava mais em Imbituba, passei a chama-la carin-

hosamente de “ buraqueira da Maria Paula ”, pois nessa esquina de avenida em que mo-

rávamos, quando chovia, vinha água de todo quanto é lado, chegava a fazer um redemo-

inho, saía todo mundo de casa para a rua com enxadas, pás e picaretas, para cavar bura-

cos, abrir valas, colocar montes de areia por toda extensão das cercas, para poder desvi-

ar a água, para que não viesse a entrar nos quintais e muito menos dentro das casas.

A buraqueira que faziam para evitar que água entrasse nos quintais e mais o buraco, bu-

raco não, buracão que a correnteza fazia, que levou dona Maria Paula a fazer uma pare-

de de areia , que mais parecia um jardim suspenso , de tão alto que ficou , eram plantas

e flores de tudo quanto é espécie . Não era Zuneide?

OS AMIGOS
Os amigos de infância e juventude que moravam na minha rua e quadra que de uma for-

ma ou de outra em minhas lembranças ficaram, foram: A Tereza minha comadre filha

do seu Bica e dona Valdira, Jair, Luiz, Marlene e Sirlene filhos do seu Milosa e de dona

Geralda, Zezé e Nilzinha filhos de Seu Vinoca, Zé filho do seu Prachedes, Licinha, Ma-

neca e Zacarias filhos de seu Paulo Zacarias e dona Porcina, o Jurandir e Nino filhos do

seu Crescencio, Graciete filha da dona Custodia e do esposo Porquinho, Zezinho filho

do seu chinês e dona Edite, Paulo, Ziza, Maria e Vera filhos de seu Sadi e dona Chica,

Silas, Lourival e Zuleide filhos do seu Góis e dona Maria Paula, Nilceia filha do João e

dona Nelci, Dorli e Juvenal filhos da dona Cotinha, Ricardo, Pedrinho e Graça fllhos

do seu Rozeno, Vânio filho do seu Joãozinho, Ernani e Osvaldinho filhos do seu Arão,

Paulo, Nengue, Gloria e Nézia filhos do seu João Figueiredo, Orlando filho da dona Otí-

lia, Dejair filho do Sueco e dona Margarida, Renato e Rosa filhos do seu Bina, Detinha,

Varlene filhas do seu Canquiri e de dona Angélica, Rita e Regina filhas de dona Custo-

dinha, Quitéria, Julia e Carmem filhas da dona Leodora, Sergio filho de dona Alba e seu

Nelson Figueiredo, Zeca cachorro filho do seu Vica. Já da rua de cima eram, o Paulo

Lombriga e o Rato seu Irmão, Ademir e Valdete filhos do seu João Raquel, Pita filho do

seu Julio, Paulo Miguel, Balqueia e Zeca filho do seu Adelfo, João Catinga e o Irmão,

Luiz Piranha e o irmão Zézo, João Banana filho da dona Martinho e Ari. Do Bairro

Cantagalo eram o Leo, Chapica e Siri filhos do Bicho, Adilio e o irmão Cabral, Carlin-

ho, Laurinho, Vania, Vera, Vanda e Vanja filhas do seu Lauro Avelar e o Mario.

E tantos outros amigos que comigo estudaram, jogaram futebol nos campinhos dos ba-

irros ou nas peladas nas areias da praia da vila.


O CAVALO BAIO

O seu Arão que tinha sua venda no alto de nossa rua, tinha um cavalo baio, que normal-

mente era colocado para pastar, quase em frente nossa casa. Um dia à tarde, Eu, o

Ernani filho do seu Arão e outros amigos, conversávamos em frente á venda na sombra,

ao pé da cerca de são joão. Nisso chega o Osvaldinho um irmão mais velho do Ernani,

perguntou se algum de nós queria ir buscar o cavalo lá no pasto, me prontifiquei a ir e

já sai correndo estrada abaixo. O cavalo era manso e normalmente seu Arão o usava,

para puxar sua charrete em passeios pela cidade e outros afazeres. Quando cheguei no

pasto tirei o ferro fincado na grama com a corda que amarava no pescoço o cavalo, enr-

rolei a corda até o pescoço do animal, passei a mão no focinho do baio, pois já era acus-

tumado comigo, fiz um laço, tipo um buçal, no focinho e montei em seu lombo, ele saiu

trotando, até que de repente esticou as orelhas e disparou morro acima a todo galope.

O baio tinha escutado o assobio do Osvaldinho, pois sabia que era hora de comer ração

na estrebaria. Deixei de lado a corda que usava como rédea, e me segurei na crina do

pescoço, pensei, seja o que deus quiser, posso até cair, mais da crina do pescoço eu não

largo. O cavalo subiu a ribanceira que foi um foguete, passou pela turma, agora de pé

rindo, foi direto par a estrebaria, quando passou pela porta só deu tempo de abaixar -me

indo para o cocho da comida, baixando a cabeça, começou a comer. Eu ainda monta-

do e agarrado na crina, me recuperava do susto, aliviado desci do lombo do cavalo, com

as pernas ainda bamba, quase caindo, equilibrado sai andando caminhando devagar até a
frente da venda onde a turma conversava, entrei na conversa como se nada tivesse acon-

tecido. O Osvaldinho, ria olhando na minha cara, mas fiz que nada era nada.

Mais que o susto foi grande, foi. Até hoje, quando vejo um cavalo, logo vem à lem-

brança, eu montado no lombo do cavalo baio, do seu Arão.

O INICIO NA VIDA ESCOLAR

Em idade escolar com sete anos completo, e a completar oito anos no mês de maio, do

ano letivo de 1.959, junto com outros amigos iniciava o primeiro ano primário no Gru-

po Escolar Henrique Lage. Mesmo nossa escola ficando na mesma rua em que morava,

quem me levava até o portão da escola nos primeiros dias de aula era tia Lilina.

Como também outras crianças de nossa rua, e de outras ruas da cidade, que em pares ou

em grupo, eram também levadas pelos pais ou uma pessoa adulta. A preocupação ma-

ior dos pais em levar seus filhos até o portão da escola nos primeiros dias de aula, era a

travessia da estrada de ferro, que nós crianças tínhamos que atravessar duas vezes por

dia. A estrada de ferro passava por entre os combros de areia com seus arbustos, des-

de a zona portuária quando adentrava pelo meio da larga Avenida Brasil, naquela época,

depois Avenida Dr. João Rimsa de terra de chão batido, dividia à Avenida em duas mã-

os. A avenida desde seu inicio na sua parte norte, a mão de rolamento de veículos au-

tomotores e os de tração animal, ficava do lado esquerdo da estrada de ferro até mais ou

menos o final da cerca de madeira do Estádio do Imbituba Atlético Clube, quando então

a estrada de ferro cruzava a Rua Irineu Bornhausen. A estrada de rolamentos dos veí-
culos automotores e de tração da animal, à avenida Dr. João Rimsa, quando cruzava a

Rua Irineu Bornhausen, passa a ser no lado direito da estrada de ferro, até sua estrada

nos domínios da Industria Cerâmica, que por entre os eucaliptos ia até a Usina Termo-

elétrica. As crianças em direção ao grupo escolar eram obrigadas atravessar a linha

férrea em dois pontos, um na Rua Irineu Bornhausen, na parte norte da Vila Operaria, o

outro na parte sul da Vila Operária, em frente ao Posto de Saúde. A Avenida Dr. João

Rimsa, em sua parte sul , tinha seu fim no campinho do pastinho do Vinoca.

A IGUINORANCIA

Não poderia deixar de escrever, relatar, sobre uma terrível lembrança, já que todos tem

na primeira professora, a primeira namorada, comigo não foi assim. Quando eu estava

no primeiro ano primário no Grupo Escolar Henrique Lage, por mais que queira lembra,

não lembro o nome de minha primeira professora, em nosso grupo escolar no fim da dé-

cada de cinquenta as carteiras escolares eram de dois lugares, sentávamos nas carteiras

de dois em dois em sala de aula, as conversas entre alunos eram normais e frequentes.

Um dia de aula na classe, a professora vem do fundo da sala de aula, falando, explican-

do sobre o que tinha escrito no quadro-negro, sem esperar deu-me uma reguada nas cos-

tas, vindo a quebrar uma régua de madeira. Não sei se por ter quebrado a régua em

minhas costas ou se de raiva, a professora colocou-me de castigo fora da sala de aula, no

corredor, com a porta fechada. Ainda chorando, passa seu Paulo Zacarias servente do

grupo, me vendo ali no corredor chorando, perguntou-me o que tinha acontecido. - Nada

lhe respondi. Ele seguiu seu caminho desaparecendo na esquina do corredor.


Até que aparece tio Quedo, que também trabalhava de servente no grupo, perguntou-me

o que tinha acontecido, soluçando falei-lhe do ocorrido. Ele nem chegou a conversar

com a professora, me levou para a secretaria, para falar com a diretora, dona Eliza, que

deixou-me sentado na biblioteca, mandando chamar a professora. Ela deve ter feito o

relato a sua maneira, em fim era a palavra dela contra a minha, uma criança. Naquele

tempo o aluno não tinha voz mesmo. Eu ali na biblioteca sentado, chegou tio Quedo,

com dona Eliza, dizendo que já tinham conversado com a professora e que fato daquela

natureza não mais ia acontecer, mais que eu também procurasse não conversar tanto em

sala de aula. Nunca mais fui o mesmo aluno, tendo aquela senhora como professora,

até que me mudaram de turma, mais naquele ano fui reprovado. Desde que fui trans-

ferido de turma, nunca mais vi a professora, acho até que ela pediu transferência um ou

dois anos depois do ocorrido, para onde foi não sei, também nunca me interessou saber.

NO OSCIO

Eu e meu irmão, estudávamos no período matutino como outros amigos, e naquele dia

depois do almoço, como não tínhamos deveres a fazer, depois de breves recomendações

de tia Lilina, saímos em direção ao campinho do pastinho, para ver com resto da turma

o que rolaria naquela tarde já que eram inúmeras as coisas que inventávamos para fazer.

Quando chegamos, o Silas filho do seu Gois, já estava lá, não demorou muito chegaram

os irmãos Milosa Jair e o Luiz, nos convidando para caçar lebres nas dunas dos combros

da praia, já que alguém falou, que tinham visto lebres correndo nas areias das dunas dos
combros da praia. Nos armamos com fundas e pelotas de barro e levamos o cachorro

cinzento dos Milosas, o Lupí, um vira lata esperto. Então partimos em direção as du-

nas dos combros da praia da vila, atrás do Araçá, chegando nos combros das dunas de

areia da praia, decidimos ir em direção a barra da lagoa. Eu, meu irmão, o Luiz, o Jair

e o Silas, fizemos uma linha de mais ou menos cinco metros um do outro para poder co-

brir uma maior área. O Lupi farejara alguma coisa, de repente saia correndo, nós atrás

com paus fazendo barulho nos arbustos para espantar as lebres. O cachorro corria la-

tindo e nós correndo atrás subindo e descendo as dunas dos combros de areia, até que

chegamos a barra, então decidimos voltar mais próximo um do outro e do pé dos morros

de arbustos altos e das cercas nos fundos das casas do Araçá. O cachorro latindo cor-

ria na frente e nós atrás correndo também, sempre achando que o Lupi tinha visto uma

lebre. Nós todos já cansados com a correria, chegamos atrás das casas do Cantagalo

sem ver uma lebre. Como já estava anoitecendo resolvemos sair dos combros de are-

ia das dunas da praia, pela rua das casas dos funcionários da cerâmica, subimos a rua do

Cantagalo entre os trilhos da estrada de ferro e casa do seu Lauro Avelar e saímos no fi-

nal da rua, ao lado dos trilhos, em frente a casa do seu Bentevi. Depois de caminhar-

mos uma pequena distancia pelos trilhos da estrada de ferro saímos, contornando o ater-

ro do lixo da cerâmica, passamos ao lado da usina, chegamos ao campinho do pastinho

do Vinoca, dali cada um para suas casas. Ainda bem que nessa noite meus pais esta-

vam fazendo horas extras, mais um sermão de tia Lilina levamos, por ter chegado aque-

la hora. Já tinha anoitecido.


O ESTUDIOSO

Um vizinho, o Jurandir, filho do seu Crescencio, estudava o primário no Grupo Escolar

Henrique Lage, onde todas as crianças em idade escolar naquela época, a década de cin-

quenta estudaram. Em uma aula de Historia do Brasil, a professora dona Etelvina, fa-

lava sobre o descobrimento do Brasil, com a chegada dos Portugueses. A professora

caminhava pela sala de aula explicando sobre a matéria e de vez em quando de surpresa,

fazia uma pergunta a um aluno, para ver se ele estava prestando atenção no que ela esta-

va ensinado. A professora de surpresa faz uma pergunta clássica ao “estudioso” Ju-

randir. - Jurandir quem descobriu o Brasil? - O Jurandir pego de surpresa, pois era um

conversador em sala de aula e “baguncista”, respondeu. - Olha professora, não sei não,

o que sei é que lá de casa não foi ninguém, não! - Dona Etelvina não acreditando no que

estava escutando, passou lhe um sermão, dizendo que ele deveria estudar mais o livro de

história e que iria conversar os pais dele. Um dia dona Etelvina, caminhando na cida-

de encontrou seu Crescencio, interpelando-o, foi logo falando que ele deveria pedir mais

empenho do seu filho, o Jurandir, nas aulas e ler mais em casa os livros de história.

Seu Crescencio, com ar preocupado perguntou a professora, o que o filho Jurandir tinha

aprontado na escola, dessa vez. Seu Crescencio, falou a professora, o senhor acredita

que fiz uma pergunta fácil de história ao Jurandir, sobre quem descobriu o Brasil, ele te-

ve a coragem e a petulância de me dizer, que não sabia não e que da casa dele não tinha

sido ninguém, não. Seu Crescencio preocupado respondeu, olha dona Etelvina, a sen-

hora apura com ele, o Jurandir é um sem vergonha, se foi ele realmente, ele vai dizer.

Dona Etelvina deu uma rabanada, saiu apressada resmungando, deixando seu Crescen-
cio de boca aberta, de certo modo pensando que bicho tinha mordido a professora, para

ela sair daquele jeito, sem ao menos se despedir. O Jurandir não era fácil, tinha cada

uma, só se acertou quando casou com a Maria, filha do seu Sadi e dona Chica nossos vi-

zinhos.

.OS PREDIOS IRMÃOS

Os prédios gêmeos idênticos, que me parece terem sidos construídos na década de qua-

renta. O primeiro da esquerda olhando de frente era conhecido como o da sede social do

Imbituba Atlético Clube, que usava todo o andar superior, para seus grandiosos bailes e

festas em seu grandioso salão, também outras salas no andar térreo como a da secretaria

do clube a de um bar e dois banheiros, um masculino outro feminino. Numa das duas

salas do lado esquerdo do prédio, uma era usada pela Coletoria Estadual que tinha como

coletor o seu Dalbosco, a outra sala, uma menor, era usada pelo grupo de escoteiros da

cidade, na década de cinquenta. Nas salas do fundo, viradas para a praça da matriz,

funcionava a agencia dos Correios e Telégrafos. No segundo prédio, o da direita, o-

lhando também de frente, era conhecido como o prédio da radio, todo seu andar superior

era usado pela Radio Difusora de Imbituba, onde em seu auditório assisti alguns mara-

vilhosos shows. Já nas salas da frente, no andar térreo, funcionava os escritórios da

Emacobrás, já nas salas na parte de trás do prédio, viradas para os fundos da igreja ma-

triz, eram usadas como escritórios de desenho da Cia. Docas de Imbituba, tendo entre os

desenhistas seu Dauro, e o seu pai. Dizem que esses prédios, quando idealizados para

sua construção, foram inspirados por seus engenheiros ingleses, nas duas ilhas mais pro-
ximas de nossas praias, a Sant’Ana de Dentro e Sant’Ana de Fora. Se verdade não

sei, o que sei é que quando a boato, um fundo de verdade tem. Como diz nosso pintor

Pirajibe, o Picasso das coisas nossas de Imbituba.

O LARGO DA IGREJA

No largo da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em meados dos anos cinquenta,

havia no centro da praça da matriz, um chafariz. Para a minha pouca idade, o chafariz

era enorme em sua forma arredondada, com o jato d’água subindo alto e verticalmente.

Na rua entre o largo da praça do chafariz e o fundo dos dois prédios idênticos, conheci-

dos como, o prédio do Atlético e o prédio da Radio, assisti à um desfile pós carnaval de

carros alegóricos, não sei se vindos da vizinha cidade de Laguna ou se vieram da cidade

de Florianópolis. Para os meus curiosos olhos de criança, aqueles carros passando

eram fantásticos, com aquelas meninas moça, dançando em cima dos carros, evoluindo

em suas fases de mutação, verdadeiros transformes. Nessa mesma praça do largo da

matriz, em frente ao chafariz, havia dois mastros enormes, altos, onde em ocasiões espe-

ciais eram hasteadas as bandeiras do Brasil, a do Estado e do Município, e que ao pé de

um desses mastros, contava meu pai, que no final da segunda guerra mundial com a der-

rota da Alemanha, foi num desses mastros amarrada uma mulher seminua, depois de le-

vada a força até a praça, uma senhora alemã de família tradicional da cidade, que por fa-

natismo ao regime nazista.

Dizia ela à quem quisesse ouvir que, quando Hitler vencesse a guerra, ela montaria nos

Brasileiros, como se monta em cavalo. Que ousadia a dela, se foi assim mesmo, per-
deu de ficar com a boca fechada.

AS REVISTAS EM QUADRINHOS

No Cine Marabá com dez, onze anos, aos domingos à tarde, ia assistir no cinema do seu

Ventura, na Rua Ernani Cotrin, em frente da farmácia Nossa Senhora Aparecida do seu

Manoel, os seriados do Capitão América, que quase nos obrigavam a voltar no domingo

seguinte para ver como o mocinho tinha se safado da cena de perigo, do capitulo da ses-

são do domingo anterior. Chegávamos cedo em frente do cinema, para trocar com os

garotos os gibis já lidos, por outros ainda lidos. Os gibis que mais gostava de ler eram

os do Zorro “o mascarado vingador” , Buck Jones e Billy The Kid, todos do faroeste

americano. Gostava de ler também os gibis do, Fantasma “o espirito que anda” com

seus fieis amigos de aventura como, o lobo cinzento Capeto, Herói o cavalo Branco,

Guran, velho chefe dos pigmeus que vivem na misteriosa Floresta Negra de Bengala e

também guardiões da caverna em forma de caveira, onde mora o Fantasma, quando não

está em suas aventuras perseguindo bandidos e piratas, Mandrake “ o magico de xangri-

lá”, sua namorada Narda e o gigante e servo Lothar sempre em grandes aventuras, os do

Tarzan “ homem macaco” com sua mulher Jane e sua inseparável macaca chita, que de-

fendiam a selva Africana, dos aventureiros inescrupulosos. Também lia com minhas

irmãs as revistinhas, já coloridas, do Tio Patinhas, Mickey, Pato Donald e Zé Carioca

“malandro carioca”, da editora Walt Disney.


NO PALCO DO CINE MARABÀ

As Vedetes do Brasil com a maior das vedetes Virginia Lane, fizeram uma só apresenta-

ção, no palco do Cine Marabá, na Rua Ernani Cotrin. Na cidade o comentário era um

só, menores de dezoito anos não poderão entrar. No dia da apresentação o alvoroço

era grande nas imediações do cinema, o povo tomava toda rua, desde esquina da Aveni-

da Santa Catarina, até a esquina da Rua Nereu Ramos, todos querendo ver as vedetes do

Brasil. A fila para a compra de ingresso estava grande, dobrava a esquina na Rua Er-

nani Cotrin com a Rua Nereu Ramos, na esquina da livraria do seu João, pai do Taíco.

Já nós, a gurizada também curiosos, queríamos ver alguma coisa, estávamos ouriçados

para ver as vedetes peladas. Um garoto dizia uma coisa, outro dizia outra, até que um

outro que morava nas imediações do cinema, não sei se foi o Baco, ou se foi o Zé Tata,

que falou que tinha um lugar de onde poderíamos ver as vedetes no palco do cinema, já

que do lugar onde queria nos levar, ele assistia muitos filmes. Então seguimos o garo-

to, passando pelo lado da churrascaria do seu Tobias, pai da esposa do Alamiro, chega-

mos em uma porta de duas folhas, na parede lateral do cinema fechada com uma corren-

te grossa, transpassada através de um buraco, em cada folha da porta. Estávamos em

cinco garotos ali conversando, em voz baixa, para não sermos descobertos, de vez em

quando um olhava pelo buraco da porta, para ver se já tinha movimentação no palco do

cinema. Através do buraco na porta, se via bem o palco vazio, todo iluminado abaixo

da tela e também as pessoas caminhando apressadas procurando um bom lugar para sen-

tar, de onde poderia ver melhor o show das vedetes. Até que um dos garotos que na-
quele momento olhava pelo buraco da porta acorrentada, grita, elas vão entrar, um olha ,

outro olha, chega minha vez de olhar, então boto o olho no buraco e vejo o palco todo

iluminado com todas aquelas mulheres bonitas, louras, e seminuas, em seus maiôs bem

cavados, decotados, deixando a mostra parte dos seios. Algumas delas, em maiôs ver-

melhos com detalhes em preto e meias arrastão preta, outras em maiôs amarelo com de-

talhes em branco e meias arrastão vermelha, e outras mais em maiôs branco com deta-

lhes em vermelho e meias arrastão amarelo, todas com sandálias, com saltos bem altos e

finos. Eram todas de uma alegria contagiante, em seus sorrisos largos, nos seus lábi-

os de batom vermelho, cantando e dançando freneticamente ao som da musica alegre e

excitante tocada pela orquestra. O buraco naquele momento para olhar estava con-

corrido, até que alguém do lado de dentro no cinema, encostou-se na porta tampando o

buraco por onde expiávamos. Não podendo ver mais nada, o Baco pega um pedaço

de pau e enfia pelo buraco, cutucando a bunda do cara, que deve ter dado uma rabanada,

sem saber o que estava acontecendo, saímos todos correndo pelo mesmo caminho que

tínhamos feito, para chegarmos até ali naquela porta, na parede lateral do cinema.

Já na rua eu estava contente e eufórico por ter visto todas aquelas mulheres, seminuas

cantando e dançando, no palco do Cine Marabá, através de um buraco numa porta na la-

teral do Cine Marabá. Eu nunca esqueci das mais famosas vedetes do Brasil, tendo a

frente Virginia Lane, “A maior de todas as vedetes do Brasil”.

UM TIO
Tio Quedo, de nome Tancredo, um dos irmãos de meu pai, que em 1.959 trabalhava co-

mo servente no Grupo Escolar Henrique Lage, eu quando de castigo no corredor no lado

de fora da porta da sala de aula. Depois de ter levado de minha primeira professora, no

primeiro ano primário, uma reguada nas costas por estar conversando com um colega de

carteira, em sala de aula Foi então tio Quedo, o Quedinho, como meu pai o chamava,

que levou-me até à diretora do grupo escolar dona Eliza. Sendo ele servente do grupo

escolar e com estabilidade no emprego por ser servidor publico, depois de um ou dois a-

nos, ele deixou de trabalhar no Grupo Escolar Henrique Lage, para trabalhar no SAPS,

uma espécie de central de alimentos do governo, com venda no varejo ao povo.

Como tio Quedo, tinha confrontado com a professora em minha defesa, fiquei por mui-

to tempo pensando, se não tinha sido por minha causa que ele tenha pedido demissão ou

transferência do Grupo Escolar, para a central de abastecimento, que tinha como gerente

seu Avelino. Só depois de alguns anos em conversa com tio Quedo, na casa dele, sobre

ter- me defendido junto a diretora do grupo escolar, sobre a reguada de minha professo-

ra no primeiro ano primário. Ele então em conversa, confidenciou-me que já vinha cha-

teado, com varias coisas que vinham acontecendo inclusive com seu filho mais velho o

Wanderlei, que em sala de aula e nas brincadeiras no pátio da escola, era chamado pelo

apelido de Negão, que já tinha conversado com a professora sobre isso e que não estava

gostando. Depois desse dia então, foi que tirei um peso de cima de meus ombros, que

a muito tempo, carregava. O S.A.P.S. funcionava em seu atendimento na Rua Nereu

Ramos, em um prédio de propriedade, do seu Maximinio, que tinha sua residência em

frente, no outro lado da rua. Essa central de venda de produtos alimentícios à popula-

ção, não funcionou por muito tempo em Imbituba, fechou. Foi criada então pelo Go-
verno Federal, uma nova central de abastecimento, com o nome COBAL - Companhia

Brasileira de Alimentos, só que em Imbituba não foi aberta nenhuma unidade, o que na

época soube é que tinha sido aberta uma unidade da Cobal, na cidade de Laguna.

A Cobal começou de cara nova, com cara dos supermercados de hoje, que até então não

estávamos acostumados, de pegar as mercadorias que queria e paga-las num caixa.

Tio Quedo depois que o SAPS fechou em Imbituba, acho que se aposentou, não sei se

por tempo de serviço, ou se por invalidez, era esperto o homem.

HISTORIAS DE LILINA

Tia Lilina não tinha muito estudo, mais para a época, conhecia muitas histórias, como as

de Branca de Neve e os Sete Anões, Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau, Gata Borra-

lheira e as de Pedro Malazarte. As historias do Pedro Malazarte, ela nos contava de

tempos em tempo, não sei se para passar o tempo ou se para nos alertar para a vida.

Ela começava a contar as historias como todos começam, era uma vez, um cara esperta-

lhão que gostava de passar a perna em todo mundo, chamava-se Pedro Malazarte, como

o nome mesmo diz, ele só fazia safadeza. Um certo dia estava Pedro Malazarte de có-

coras à beira de uma estrada cozinhando uma buchada de boi, em uma panela de ferro.

Como ele sabia que por aquela estrada passavam tropeiros tocando boiada, o que não de

morou muito para que ele avistar ao longe, vindo pela estrada uma tropa de bois e cava-

los, tocada por alguns cavaleiros. Pedro mais que depressa apagou o fogo jogando are-

ia no fogo e com uma pá, jogou as brasas apagadas longe da estrada, no mato, a beira de
um riacho. Os tropeiros vendo Malazarte, ali acocorado manuseando a panela com a

buchada dentro borbulhando, perguntaram, como é que a comida fervia dentro da panela

de ferro, sem fogo. Pedro Malazarte mais que depressa, respondeu que era uma panela

magica. Os tropeiros se entre olharam, perguntaram se ele não queria vender a panela,

Malazarte espertalhão como era falou, vocês acham que vou vender minha panela magi-

ca, não, não vendo, não. Nós te damos uma vaca e um cavalo pela panela com a bucha-

da, afirmaram os cavaleiros, Pedro Malazarte pensou, tirou o chapéu da cabeça e disse,

vou aceitar, tá trocado, montou no cavalo e tocando a vaca, rápido desapareceu na estra-

da. Tia Lilina, contava uma outra historia de Pedro Malazarte, que vendeu uma vara de

porcos. Malazarte arrumou num matadouro vários rabos de porco e caminhando por

uma estrada viu um banhado e resolveu fazer uma das suas safadezas, enterrou os rabos

de porco no banhado, deixando só as pontas dos rabos de fora. Sentado na beira da es-

trada, passa um caipira tocando cabras, pergunta a Pedro, o que ele fazia ali sentado na

beira da estrada naquele sol alto. Malazarte respondeu, falando que estava cuidando

dos porcos comendo no banhado, estás vendo, estão só com os rabos de fora.

Estou engordando para vende-los por um bom dinheirinho, só que estou cansado de cui-

dar deles, se alguém quiser comprar, vou vende-los barato. O caipira pensando num

bom dinheiro que ganharia, fez uma proposta, dou duas cabras e um bode, pelos porcos,

Pedro Malazarte falou, até aceito, mais só se o senhor me der três cabras e um bode, fei-

to o negócio, Pedro Malazarte saiu dali rápido, tocando as cabras pela estrada.

O dia passava o caipira sentado na beira da estrada olhava o banhado e nada dos porcos

saírem, então resolveu entrar no banhado, para ver o porque dos porcos não saírem do

banhado, puxou um rabo, puxou o segundo e nada de porco. Parou para pensar, tirou
o chapéu de palha surrado da cabeça, brabo jogou-o no chão e sapateando em cima, gri-

tou, fui enganado pelo Malazarte safado.

O SACRIFICIO

Na cozinha, naquela época, da década cinquenta e começo da década de sessenta, cozin-

har dava trabalho, não era fácil não, tinha que ter muita paciência para ficar com a barri-

ga naqueles fogões com a chapa de ferro fundido, assentadas sobre a base da mesa de ti-

jolos. Naqueles tipos de fogão, entre a base da mesa de tijolos e a chapa de ferro fun-

dido com quatro furos, e com os aros também de ferro, reguláveis conforme o tamanho

da panela. A boca onde era colocado para queimar, no nosso caso, era o carvão mine-

ral que usávamos, até porque morávamos perto do depósito de carvão da Usina Termo-

elétrica, onde íamos pegar em latas. Outro produto que também usávamos era a lenha

de madeira em “achas” que comprávamos em metro cubico dos carreteiros vindos da lo-

calidade da Penha. Os carreteiros vendiam a lenha em metro cubico de porta em por-

ta, ou vendiam a carga toda, geralmente previamente encomendada. Na chapa de ferro

quente, tia Lilina, fazia um bolo de fubá assado em folha de bananeira, era muito bom.

Em nossa casa esse tipo de fogão foi usado por muito tempo, depois vieram os famosos

fogões “econômicos” de vários tipos e modelos, neles podiam ser usados, a lenha e tam-

bém o carvão. Algum tempo depois, mais ou menos em meados da década de sessen-

ta, vieram os fogões a gás, que naquela época houve muita resistência das famílias, na

compra desses fogões, por medo e pouca informação. As famílias achavam que os bo-
tijões de gás podiam explodir, pela proximidade deles, com o fogão. Lembro da com-

pra feita por meus pais do primeiro fogão a gás nas lojas Galeria Gigante na Rua Ernani

Cotrin, no prédio do seu Elói, na sala onde por muito tempo funcionou o Banco Inco ao

lado do City Bar, onde tio Nelo e o Jurandir filho do seu Crescencio, trabalhavam.

Quando da compra desses fogões a gás, lembro que vinha dois botijões, um cheio e ou-

tro vazio, para revezar na falta do gás. Ou seria para incentivar a compra dos fogões.

A MELHORA

No fogão a gás, comprado por meus pais, que surgiu para a venda no comercio da cida-

de no inicio dos anos sessenta, com a facilidade em seu manuseio e limpeza dos utensí-

lios nele usado, na cozinha, deixou tia Lilina, com mais tempo. Ela começou então a

ensinar minha irmã Eliane a fazer o almoço sagrado do dia a dia. Minha irmã bem ori-

entada por nossa tia, com mais ou menos dez, onze anos, já fazia na cozinha para o nos-

so almoço quase tudo, desde o arroz, macarrão, e os condutos como o bife acebolado de

carne de boi, bife de fígado de boi, frango frito e peixe frito, já as coisas mais elabora-

das, como o feijão e os condutos ensopados, tinha sempre a boa orientação da tia Lilina.

Ela além de ter ensinado minha irmã a cozinhar e cozinhar muito bem, ensinou também

eu e meu irmão a fazer massa para banana recheada e pasteis, “torradinha” de amendo-

im torrado e salgado, massa para orelha de gato e até puxa-puxa de melado, algumas gu-

loseimas dessas ela fazia para tomarmos o café das tardes. Aprendemos também com
ela a limpar “concertar” peixes, de tanto vê-la, fazer isso no dia a dia de criança atenta a

tudo. Ela nos ensinava tudo isso, de uma maneira tão sutil que não cansávamos, pare-

cia que fazia tudo isso propositadamente, nos preparando para a vida e para quando ela

tivesse que nos deixar. O que aconteceu algum tempo depois, quando ela teve que vol-

tar a morar com os pais, nossos avós, que precisavam dos serviços dela, pois sua irmã

Eugenia, já não mais estava dando conta dos afazeres da casa, já que estava muito doen-

te, com as pernas cansadas, já que era deficiente. Foi então que tia Lilina, depois de

mais ou menos, quatorze anos nos deixou, depois de criar-nos desde que nascemos.

O LEGADO

Tia Lilina entre tantas coisas que nos ensinou, com certeza o maior legado foi a educa-

ção religiosa, a religiosidade dela era grande, como também, à de todo resto da família.

Essa religiosidade, com certeza, não foi só transmitida a mim, mais também a todos os

meus irmãos, que desde bem pequenos, mesmo não sabendo ler ainda, ela nos ensinava

à rezar todas as noites na cama, antes de dormir. Rezávamos O Pai Nosso, Ave Ma-

ria , Santo Anjo, O Credo e o Pai Nosso Pequeninho, oração esta, que nunca vi alguém

rezar e nem estar escrita em nenhum lugar.

A oração do Pai Nosso Pequeninho, é assim:

Pai nosso pequeninho,

Deus me leve pelo bom caminho.

Fiz uma cruz adiante,


coisa ruim, não me atente,

nem de noite, nem de dia, nem um pingo do meio dia,

Pai Nosso e Ave Maria.

Esta oração, rezo até hoje, como todas as outras, mais essa em especial, me traz calma e

alívio, principalmente quando perco o sono e não consigo dormir. Não sei se meus ir-

mãos ainda lembram dessa oração, caso não lembrem, esta ai a oração não só para eles

voltarem a rezar, mas à todos os Cristãos.

AS VOLTAS À MANDO DE TIA LILINA

Quando criança volta e meia, Tia Lilina, me mandava ou o meu irmão, muitas vezes nós

dois, para que um cuidasse do outro, como dizia ela, quando tínhamos que ir mais longe

comprar ou pagar alguma coisa. Eram idas até a Granja Henrique Lage da família Ca-

tão, comprar ovos, galinha viva, legumes e verduras. Uma vez por mês, íamos nós do-

is até os escritórios da Cia. Docas, na Zona portuária, pagar a conta de energia elétrica,

consumida no mês em nossa casa. Na Cooperativa da Cerâmica, empresa onde meus

pais trabalhavam, íamos quase todos os dias, sempre tinha que comprar alguma coisa,

comprávamos tanto, que meu pai chegava a deixar o salario todo em compras na coope-

rativa. Uma outra volta, que de vez em quando fazia, era ir até a casa de dona Leono-

ra, abaixo do barranco da Av. Santa Catarina, no Bairro do Sete, comprar banha.

Dona Leonora, mulher alta e forte, matava o porco e carneava, já seu Lopes, o esposo e

também delegado, vendia a carne no comercio da cidade, tudo do porco era vendido, até
o berro vendia, dizia ele. O Gerônimo, um de seus filhos dizia que o pai falava que a

mulher Leonora, usava os braços fortes para trabalhar, enquanto ele, usava a cabeça pa-

ra pensar. Esse era o folclórico e esperto delegado, da cidade, o seu Lopes.

Essas voltas pela cidade eram aprendizados, conhecia-se os lugares e as pessoas que tin-

hámos contato, que iriam valer para toda a vida.

OS DONOS DA CIDADE

A família Catão e os amigos quando chegavam à cidade no verão, sempre depois do ré-

veillon, tomavam conta das ruas da cidade, quando à passeio, montados nos bonitos ca-

valos bem criados pela família Oliveira, na Granja Henrique Lage de propriedade da fa-

mília Catão. Na praia da Vila, desfilavam em seus trajes de banho, sempre da moda

dos grandes centros como, o Carioca onde residiam e o Paulista. Um outro dos passei-

os da família Catão, era dirigir Jipes e Buques sem capotas, da praia da Vila até o canto

da praia em Itapirubá. Dirigindo pela praia esses Jipes e Bugues, sem capotas, procu-

ravam os locais desertos e discretos da praia, para tomarem seus banhos de mar e de sol

deitadas em esteiras, na branca e quente areia da praia, onde adquiriam um lindo bron-

zeado. Nos bailes infantis de carnaval, no domingo e na terça feira à tarde, as meninas

e os meninos da família Catão e de outras famílias mais chegada a deles, eram de muito

glamour, não só eu que pensava assim, mas certamente outras crianças também. Elas

subiam em cima das mesas, vestidas em suas deslumbrantes fantasias de colombinas,

fadas, bailarinas e outras, os meninos vestidos de pierrôs, arlequins, piratas, eram todas,
de um colorido e beleza, de chamar atenção, nós do povo, lá embaixo na pista, como se-

us súditos e servos. Eles jogavam confetes, serpentinas e jatos de lança perfume, em

cima dos foliões mirins, que em longos cordões brincavam o carnaval, ao redor da pista

dança, ao som das músicas contagiante, tocadas pela orquestra do Maestro Jú.

Quando elas desciam das cadeiras e mesas, do lado esquerdo, no fundo, do salão, onde

sempre se posicionavam e tinham dali uma visão privilegiada, para participar da folia

na pista do salão de baile, no meio dos seus súditos, nós garotos, queríamos fazer parte,

do cordão, por elas puxado. No meu caso se ganhasse um olhar ou um sorriso gene-

roso, ficava gratificado deixando meu carnaval mais alegre e com certeza de muitos ou-

tros garotos.

A VILA

A Vila Operaria na Av. Dr. João Rimsa, onde moravam empregados da Companhia Do-

cas de Imbituba, tinha seu início na esquina da Rua Ernani Cotrin, até a esquina da Rua

Irineu Bornhausen. Essas casas de uma esquina a outra, em toda sua extensão, eram

de madeira, com quatro casa em cada bloco. Todas as casas tinham na frente amplo

varandão panorâmico, vazados através de sarrafos de madeira, varandões esses com um

portãozinho de madeira, as casas tinham uma porta, para o acesso dos moradores ao in-

terior dela e dois janelões um de cada lado da porta Esses Janelões guilhotinas eram

envidraçados com duas folhas de madeira inteira por fora, que cobriam a janela envidra-

çada â noite e da claridade do sol da manhã. Todas essas casas eram na cor marrom,

as portas, janelas e as vistas eram na cor cinza. As residências da ponta de cada bloco
além da entrada pela frente da casa, tinham também uma outra entrada, que dava para

um quintalzão na lateral de cada bloco que era dividido por uma cerca de sarrafo de ma-

deira, formando dois quintais, sendo um quintal para cada uma das casas da ponta de ca-

da bloco. Todas as casas, tanto as do meio, como as da ponta dos blocos, tinham um

quintal nos fundos. Nos varandões dessas casas, da Vila Operária, aos domingos e fe-

riados, pela manhã ou nas tardes noite, aconteciam verdadeiras reuniões em família, po-

is na rua em frente destas casas, passava duas estradas, a de chão batido e a de ferro, on-

de o vai e vem dos automóveis e de vez em quando os trens puxando os vagões em dire-

ção a usina, já nos domingos a noite era a passagem das pessoas passando conversando,

vindas da missa nas noites de domingo.

SEMANA SANTA

Na época de minha infância desde a quarta feira de cinzas, após o carnaval, pela religião

Católica Cristã, entravámos na quaresma, durante quarenta dias, devíamos jejuar. Em

nossa casa, procurávamos não comer carne, o que geralmente comíamos nas refeições

do dia a dia, eram os frutos do mar, principalmente o peixe. Quando chegava a Sema-

na, já na segunda feira, começava o preparo dos quitutes para à quinta e sexta feira santa

quee devíamos jejuar, não comia-se mais nada, a não ser essas iguarias. Tia Lilina tor-

rava amendoim, depois socava no pilão, para fazer a farofa de amendoim, fazia ainda o

cuscuz, bijú, bijajica, canjica de milho branco com côco, que ralávamos em casa.

Nesses dias, eu e meus irmãos, não saíamos de cima de tia Lilina, participávamos de to-
do esse preparativo, só para comer às guloseimas as escondidas. Na quinta feira santa

depois das quinze horas, ou três horas da tarde, até meia noite da sexta feira, não ouvia-

se rádio, não ouvia se música, não gargalhava-se, não martelava-se nada, não usava-se

o relho para açoitar animais, e não dizia-se palavrão. Nesses dois dias não se varria a

casa, nem o terreiro, para não trazer a praga das moscas para dentro de casa. Com a

chegada do sábado de aleluia, continuávamos comendo ainda, as iguarias dos dois dias

anteriores. Quando chegava o sábado começávamos a fazer tudo o que não fazíamos,

nos dois dias santos. A meia noite, na virada do sábado para o domingo de pascoa,

quem criava no terreiro galinhas, perus ou qualquer outra ave, tinha que cuidar trancan-

do-as, no galinheiro. Tinha família que chegava a colocar essas aves dentro de casa,

não é dona Geralda, para que não as roubassem, já que nesse dia a roubalheira era gran-

de, tudo em nome da tradição, comemorando a ressurreição de Cristo, Aleluia.

Geralmente, quem roubava essas aves no quintal, nessas noites de aleluia, eram as pes-

soas, da própria família, pois conheciam e sabiam onde as aves estavam escondidas.

Tempos bons. Tudo pela renovação.

A FAMILIA NA PRAIA

Meus pais, trabalhavam todos os dias, de segunda a sábado. De segunda à sexta feira

trabalhavam, das sete horas da manhã, às dezessete horas, com uma hora e meia, para o

almoço, e no sábado das sete horas da manhã, até o meio dia, e o dia de domingo de fol-

ga. Como meus pais só tinham os sábados à tarde e os domingos, para estarem comigo

e meus irmãos, quando criança no verão, nos sábados a tarde e domingos, aproveitavam
nos levar à praia, para tomar banho de mar e brincar. Juntávamos as tralhas, bolas, boi-

as infláveis, prancha de isopor e lá íamos nós, os filhos da família Joaquim e Bentinha.

Meu pai com a tarrafa nas costas e minha mãe com a Evonete, minha irmã caçula ainda

pequena pela mão, Eliane outra irmã, já maiorzinha, caminhava ao lado. Jà eu e meu

irmão sempre correndo na frente para tomar banho na lagoinha, no lado esquerdo da es-

trada de ferro. Quando nossos pais chegavam na lagoinha, saiamos da água e corría-

mos em direção da praia, por entre os combros das dunas de areia, na praia, parávamos,

jogando bola a espera de nossos pais. Quando meus pais e minhas irmãs chegavam,

escolhíamos um bom lugar na areia da praia para deixar, as roupas e os chinelos e cor-

ríamos em direção da água do mar, era um gritaria, uma festa dentro d’agua, com a boia

e a prancha de isopor pegando jacaré nas primeiras ondas do mar. Enquanto meu pai

tarrafeava, minha mãe com o gongá, espécie de bolsa de lona, embaixo do braço, trans-

passada no pescoço, pegava busélas, mais sempre de olho em minhas irmãs, mesmo de

olho nas meninas, minha mãe de vez em quando entrava dentro d’agua de vestido e tudo

tomava seu banho de mar. A tardinha, todos cansados de tomar banho nas aguas do

mar, com alguns peixes e busélas dentro do gongá, é hora de voltar para casa.

O trajeto era o mesmo, a mesma correria pelos combros das dunas de areia quente

pelo sol, até a lagoinha para tomar banho até meus pais e minhas irmãs chegarem, para

tirarem também a água salgada do mar, nas águas morna da lagoinha. Meu pai, antes

de irmos embora sempre lavava o pano da tarrafa nas águas da lagoinha, para tirar o sa-

litre da agua do mar, ele sempre fazia isso, era quase um ritual, depois das pescaria no

mar. Muitas vezes no verão, enquanto éramos crianças, durante anos fizemos com

nossos pais, essas idas à praia, sempre no mesmo pedaço de praia, à em frente do araçá.
Até hoje quando passo por esse pedaço de praia, vem à lembrança, meu pai e minha

mãe, alegres por estarem conosco, e transbordando de amor, um pelo outro.

UMA VIAGEM DE FÉRIAS

O ano ao certo não lembro, era criança, não devia ter mais que nove anos, meus pais, eu

e meus irmãos, não lembro da Evonete, minha irmã caçula, ter ido nessa viagem de féri-

as, na casa de uma das irmãs de minha mãe, que morava na cidade de Itajaí. Era final

dos anos cinquenta, de ônibus saímos de Imbituba até Florianópolis, de Florianópolis

até nosso destino, à cidade de Itajaí, naquele tempo era uma viagem longa e cansativa,

toda em estrada de chão batido, empoeirada e esburacada. Todo o transporte rodovia-

rio, do norte para o sul e do sul para o norte do estado, eram realizados através dessa es-

trada. A família de tia Otília, irmã de minha mãe, morava no centro da cidade, pertin-

ho da bela Igreja Matriz da cidade, tudo para mim era uma grande novidade. O esposo

de tia Otília, era marinheiro da Marinha Mercante, nos levava de taxi à passeio por vári-

os lugares da cidade, como a praia de Navegantes, que poucas casas tinha ao longo dela

na época, como também a praia de Camboriú, que pertencia a cidade do mesmo nome.

Não sei por quantos dias ficamos hospedados na casa de tio Manoel e tia Otília, o que

mais lembro é que era época de carnaval, pois ganhamos mascaras, bisnagas plásticas e

xeringas, que enchíamos com água para espirrar jatos nas pessoas. Já na volta para

casa, lembro de nós todos sentados num banco da Praça XV em Florianópolis, e meu o

pai agitado conversando com taxista, para nos levar para Imbituba, não sei se não tinha

mais passagem naquele dia para voltarmos para casa de ônibus, ou se meu pai não tinha
dinheiro suficiente, para pernoitarmos em um hotel e ter que comprar também as passa-

gens para retornarmos a Imbituba. O que sei é voltamos para casa, viajando confor-

távelmente de taxi.

O NOME LAGOA DA BOMBA

O nome “Lagoa da Bomba” ao certo não sei, se veio da bomba, que puxava a água da

lagoa, para uso nos trens “ Maria Fumaça” ou se da bomba que puxava agua da lagoa,

para uso na Usina Termoelétrica. A água da lagoa, para uso nos trens, era puxada a-

través de dois canos de ferro, não muito grosso, por uma bomba que ficava dentro da

casa de maquina abaixo da caixa d’agua, no lado esquerdo da estrada ferro.

A água da lagoa, usada pela Usina Termoelétrica, entrava por um canal de alvenaria, ao

lado de uma construção também de alvenaria, para que uso foi construída, não sei, o que

sei, é que as lavadeiras à utilizavam para guardar seus apetrechos usados diariamente na

lavação de suas roupas. O canal desde a lagoa, por onde a água entrava, tinha mais

ou menos, uns dez metros de comprimento, por um metro de largura, sua profundidade

não sei, o que sei, é que não era raso não. O canal desde a entrada d’água em direção

ao reservatório, era protegido por uma grade fina de ferro, para não entrar sujeira, essa

grade era constantemente limpa por funcionários da usina. Nesse canal de vez em

quando eu pescava, carás, de caniço com outros garotos, quando as lavadeiras não esta-

vam por ali em seus afazeres fervendo roupas. A água do reservatório devia ser bom-

beada, por um motor bomba grande e potente, haja visto o grande barulho que vinha de

dentro da casa de, e o grande volume de água retirada também, para ser conduzido pelos
grossos canos de ferro. A água levada através do grosso cano de ferro, desde o reser-

vatório abaixo da casa de maquina, seguia por um túnel de uns vinte cinco metros, a céu

aberto, construído todo de pedra, abaixo do solo, à uma profundidade de uns três metros

com uns dois metros de largura, com uns cinquenta centímetros acima do solo gramado,

com uns trinta centímetros de largura, de borda. No final do túnel tinha uma porta de

madeira por onde entrava o cano grosso de ferro, que levava à água, pelo mesmo túnel,

só que por baixo da terra, por mais ou menos, uns cinquenta metros, até os condensado-

res da usina para a geração de energia elétrica. A pergunta então é, qual das bombas

deu nome a “ Lagoa da Bomba”.

A CAIXA D’AGUA DA ESTRADA DE FERRO

A Estrada de Ferro, por muitos anos passou entre os muros da cerâmica e o barranco, da

rua acima, em frente às casas do Bairro Cantagalo, onde morávamos quando criança, e

meu irmão e eu, subíamos na cadeira e da cadeira para cima da mesa para ver através da

janela da sala, o trem passar, apitando, puxando os vagões. Mesmo nos mudando para

outra casa na rua da Usina, esse pedaço de Imbituba, era o chão que vivia, era caçando

de funda, pescando nas lagos e riachos ou jogando bola no campinho do pastinho do Vi-

noca, tudo girava perto dos trilhos da Estrada de Ferro. Indo em frente na direção sul,

os trilhos da Estrada de Ferro, passava entre a lagoinha e alagoa, conhecida como lagoa

da Bomba. No lado esquerdo dos trilhos da estrada de ferro, logo após a lagoinha, fi-

cava uma casa, e em seu interior, um motor bomba, que puxava água da lagoa, para uma
enorme caixa d’água, de madeira, que abastecia os trens. Não se tinha certeza, se era

em razão da bomba que puxava água dessa lagoa através de canos de ferro, que ela, a la-

goa, passou a ser chamada de “Lagoa da Bomba”. Com o caulim e o aterro do lixo da

cerâmica, apertando a estrada de ferro, entre o muro da cerâmica e o barranco, foi então

aberta uma nova estrada de ferro, agora entre o fundo das casas do bairro Cantagalo e os

combros das dunas de areia da praia do mar grosso. Foi então construída uma nova

casa, para o motor bomba e também uma nova caixa d’agua, no lado direito dos trilhos

da estrada de ferro, para abastecer os trens com à água retirada da lagoa da bomba.

Ficando a nova estrada de ferro, bem mais alta em relação a antiga, que ficava, pratica-

mente ao nível da Lagoa da Bomba.

A BODEGA DO SEU ARÂO

O seu Arão vendeu sua bodega, sua casa, e foi embora com a família, para onde ele foi

de muda não sei, só não lembro, se ele vendeu tudo antes ou depois da primeira barra-

quinha ser instalada na frente da cerâmica, ao lado do portal de entrada da fabrica.

As primeiras barraquinhas que foram surgindo, da noite para o dia, em frente dos euca-

liptos que cercavam a cerâmica. No começo seus barraqueiros só vendiam lanches,

aproveitando o grande número de pessoas, empregadas pela empresa. O numero de

barraquinhas foi aumentando, e vendendo de tudo, desde os lanches que no começo era

a finalidade principal, a partir de um certo momento até cachaça vendiam.

Até barraquinha peixaria e um açougue, que tinha como dono o seu Valcir, que solteiro
namorou a filha mais velha do seu Moacir, que morava numa casa em frente dessa bar-

raquinha açougue. As barraquinhas uma ao lado da outra, quase agarradinhas, desde

o lado direito do portão da cerâmica, até em frente da venda do seu Arão, onde começa-

va a estrada que levava em direção da Usina Termoelétrica. Tinha barraquinhas para

todos os gostos, as que vendiam lanches, a que vendia carne, a que vendia peixe, até te-

ve uma que construiu nos fundos, uma cancha de bocha. Nessa barraquinha em 1.962

no radio, alguns jogos da copa do mundo no chile, como a partida final entre Brasil 3 X

1 na Tchecoslováquia, gols de Amarildo, Zito e Vavá, na voz do locutor Fiori Gigliotti,

gritando, o Brasil é campeão, o Brasil é bi campeão mundial de futebol, com grandes

jogadores com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo, Nilton Santos, Didi, Zito, Pelé,

Zagalo, Vavá, Garrincha, Pepe, Coutinho, Altair, Amarildo, Djalma Dias, Bellini e ou-

tros tantos grandes jogadores. Nessas barraquinhas no final dos dias de trabalho,

principalmente dos empregados da cerâmica, era uma festa, antes de irem para suas ca-

sas, a parada nessas barracas era obrigatório, pois ninguém era de ferro.

Não é seu Milosa.

A LAGOA DA BOMBA E SEU CONTORNO

Em todo seu contorno a Lagoa, era de uma forma arredondada, desde os trilhos da estra-

da de ferro na sua parte leste, onde sua orla tinha menos vegetação, a não ser os peris de

onde tinha-se uma vista panorâmica, de toda sua extensão. Toda a sua orla pantaneira

era rica em uma vegetação nativa, diversificada, quase impenetrável, até para nós garo-
tos, que nos aventurávamos, com dez, onze anos, entrando nas águas da lagoa, para ca-

çar e também colocar arapucas com isca no anzol, para matar as marrecas d’agua e mer-

gulhões. O lado sul da lagoa começava ao lado dos trilhos da estrada de ferro, bem

em frente da casa da família dos Tionaz, onde iniciava a estrada de chão batido, que da-

va acesso aos bairros da Lomba e do Paes Leme, passando em frente das varias casas,

que tinham o fundo dos seus terrenos acabando na beira d’agua da Lagoa da Bomba.

A orla pantanosa de mata nativa e cerrada, na sua parte oeste, era contornada pela estra-

da geral, que saindo da cidade, dava acesso ao bairro do Paes Leme e outros bairros, da

parte sul, do município. Quando chovia, as águas da lagoa, invadiam essa estrada de

chão batido, tornando-a intransponível, para aqueles que a pé ou de bicicleta, usavam a

estrada, para irem dos bairros do sul, ao centro da cidade ou vice e versa.

Até os caminhões e ônibus, transportando passageiros, tinham dificuldade, ficando ato-

lados, na lama remexida, pelos primeiros veículos pesados que conseguiam passar.

Desde o começo do Bairro Paes Leme, até o inicio do Bairro Sete, toda a extensão do

leito dessa estrada, a vegetação era a mesma, cerrada e com árvores altas.

Essas árvores altas, nativas e diversificadas, só começavam a diminuir, quando em sua

parte norte onde passavam, então a ter essa vegetação mais baixa e densa com muito pe-

rís. Algumas ruas de bairros como o do Sete e Paes Leme e também da cidade, como

a Rua Nereu Ramos, Av. Santa Catarina e Av. Dr. Joao Rimsa, tinham seu final pratica-

mente na beira do banhado da Lagoa da Bomba. Finalizando então, seu contorno ar-

redondado da parte norte, praticamente no fundos da casa dos Milosa e do seu Bica, no

campinho do pastinho do seu Vinoca, no final da Av. Dr. João Rimsa, onde depois en-

tão, vinham os córregos, onde as lavadeiras lavavam suas roupas, depois vinha o aterro
de lixo, no fundos da Industria Cerâmica, que era cercado por arame farpado até a es-

trada de ferro, fechando assim o circulo, da forma arredondada da Lagoa da Bomba.

Nessa discrição de todo o entorno e contorno da área da Lagoa da Bomba, tento relatar

o que vi em minha infância e juventude, nos anos cinquenta e sessenta, o quanto ela era

importante, essa nossa lagoa.

Ela era majestosa, em seu tamanho e volume d’agua, sem aterro, sem lodo e sem esgoto.

O MURO DA INDUSTRIA CERAMICA

Os eucaliptos, eram o limite dos domínios da Industria Cerâmica mais a partir do mo-

mento que as barraquinhas tomaram conta de toda extensão da área em frente dos eu-

caliptos que demarcavam os domínios da ceramica, a empresa começou então a erguer

um muro de alvenaria . Muro esse de quase três metros de altura, a partir da primei-

ra casa de alvenaria de propriedade da cerâmica, onde nessa época morava seu Evaristo,

chefe do setor pessoal, pai do motorista do Dr. João Rimsa dono da cerâmica.

Entre essa casa, e de onde começou o muro, passava a linha férrea de manobras de trem,

que atravessava a rua, que ia em direção ao Cantagalo, cujo rua começava em frente as

casas da Vila Operaria, entre o Posto de Saúde e Cerâmica.

Essa primeira parte do muro foi até a linha férrea de entrada dos trens na empresa, ao la-

do esquerdo do portão principal, na Av. Dr. João Rimsa. O muro do lado direito do por-

tão, começou a ser levantado em frente dos eucaliptos e o fundo das barraquinhas, até a

outra passagem da linha férrea, nos fundos do prédio da oficina mecânica da cerâmica.

Essa linha férrea atravessava todo interior dos domínios da cerâmica, passando por entre
os eucaliptos, indo até a usina termoelétrica, onde descarregava o carvão mineral.

Ficando assim os domínios da cerâmica, todo murado, com três portões sobre os trilhos

da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, dificultando então nossa entrada na cerâmica,

onde brincávamos por ali diariamente, entravamos por um portão e saiamos pelo outro,

sempre a procura de alguma coisa para fazer.

AS BARRAQUINHAS

O numero de barracas em frente dos eucaliptos da cerâmica, cresceram tanto, que come-

çaram a incomodar, o comercio regular da cidade. A primeira barraca ali instalada

no lado direito do portal, Portal sim, pois nessa época os domínios da Industria Cerâmi-

ca ainda não eram murados, nem tinha a casa do guarda junto ao portão, nem sequer um

guarda, que cuidasse do bicicletario que ficava atrás do portal, no seu lado direito.

As barraquinhas no natal eram muito procuradas, pois vendiam de tudo e mais barato os

comerciantes da cidade começaram a incomodar-se com isso, pois pagavam seus impôs-

tos, enquanto os barraqueiros, não pagavam impostos para terem seu comercio ali insta-

lado. Os comerciantes do centro da cidade, revoltados foram às autoridades compe-

tentes para que eles tomassem uma providencia, brigaram tanto, incomodaram tanto a

Prefeitura, exigindo a saída das barraquinhas do local, que conseguiram.

Todas as barraquinhas foram fechadas e retiradas daquele local estratégico, do centro da

Cidade.
SEM OS O LHARES DA LILINA

Tia Lilina nos deixou e foi morar definidamente com os seus pais. Com a sua saída

de nossa casa, veio morar conosco o primo Maurino, filho de tia Candinha, uma das ir-

mãs, mais velha, de minha mãe. O nosso primo veio mais para nos olhar, cuidar e fa-

zer parte do almoço do dia à dia, já que nossa mãe deixava quase tudo pronto de um dia

para o outro, principalmente o feijão de todos os dias que era só esquentar, já o arroz e o

conduto, como os bifes de carne, frango ou peixe, era só fritar, pois era deixado tempe-

rado, de um dia para o outro. Os nossos dias com o Maurino morando em nossa casa

continuavam quase todos iguais aos passados com tia Lilina, principalmente o período

da manhã, já que eu e meu irmão estudávamos nesse período, já o período da tarde era

diferente e movimentado, pois ele sempre arrumava, alguma coisa para fazermos.

Como gostávamos de jogar sinuca, eu, ele e meu irmão, fizemos uma mesa de jogo, de

snooker, com tabelas de borracha e tudo, o pano era de lona, ate caçapas fizemos, as bo-

las eram os bolões de vidro de varias cores, os mesmos que usávamos em nossas brinca-

deiras de bolinha de (gude) vidro. Não era brincadeira, mais sim mais uma atividade,

nosso primo ainda nos ensinou a capinar e preparar a terra para o plantio, que nem nos-

so pai também chegou a nos ensinar, como o primo Maurino já fazia todas essas coisas

no terreno no bairro da Penha onde morava com a sua família e como tínhamos um bom

terreno no fundos de nossa casa, ali plantamos batata doce, amendoim, milho, melancia

(a das amarela) e aipim, até as nossas irmãs participavam, principalmente na hora boa, a

da colheita, eram espertas as meninas. Não fazia um ano que o primo Maurino mora-

va conosco, um dia apareceu em nosso portão em visita surpresa à minha mãe, uma das
suas irmãs mais velha, a tia Hortência e o seu filho Heitor, que moravam em Nilópolis,

uma cidade do Estado do Rio de Janeiro. Como o primo Maurino estava em idade

de alistar-se, foi convidado e convencido a ir morar com a tia Hortência a fazer o seu

alistamento militar na Aeronáutica na cidade do Rio de Janeiro.

E lá foi o Maurino, morar na Cidade Maravilhosa.

O JOGO DE BOLAS DE PAU

O pessoal que gostava de jogar bocha, bolas de pau, com o fechamento e retiradas das

barraquinhas da frente da cerâmica, ficaram sem canchas para jogar. Os aficionados,

pelo jogo passaram a jogar no pasto atrás do grupo Escolar Henrique Lage, em frente da

rinha de galo do tio Luiz, encostada no muro do grupo, nas proximidades da lagoa no pé

do barranco dos trilhos da estrada de ferro. Ali passaram a jogar bocha, seu Benicio, seu

Hermínio, seu Prada, seu Dozio, o Leotério e outros.

Seu Dozio, o açougueiro, que tinha passado o açougue para o filho e o genro, para não

caminhar tanto até o pasto em frente da rinha de galo, construiu no terreno, ao lado de

sua casa, na rua Nereu Ramos, em frente ao açougue, duas boas canchas de bocha.

As canchas eram cobertas, de bom piso para o jogo de bocha, no local tinha um bar e

banheiro, era completa, de primeira, bem no centro da cidade.

Lembro que, em uma partida de bocha, jogavam mano a mano, seu Hermínio e o seu

Benicio, aqueles dois, quando se pegavam para jogar, era o dia todo jogando numa jo-

gada do seu Benicio, o bolim espirrou, voando longe para fora da cancha, ninguém viu,

onde foi parar. Os garotos que estavam acompanhando o jogo, começaram a procu-
rar o bolim e nada de encontrar, o Leotério sempre peruando, e sacana como era, levan-

tou-se do banco onde estava sentado, falou para o Baco filho do seu Cação, o padeiro, e

apontando para o seu Prada, disse que o velho, tinha colocado o bolim no bolsoda calça.

O Baco que não tinha nada de ingênuo gritou. - Seu hermínio! Aquele senhor! – Apon-

tando para o seu Prada. – Ele escondeu o bolim! Olha só no bolso dele!

Seu Prada, levantou-se do banco onde estava sentado, falou. - O que é isso rapaz! Não

escondi bolim nenhum. - Escondeu sim! olha ali! - Retrucou Baco, o seu Prada homem

de muita idade, tinha seus testículos rendidos, enormes, muitas pessoas sabiam do seu

problema. Seu Prada quando jogava bocha e fazia uma jogada mais brusca, levava a

mão nas partes para acomodar os testículos no saco. A historia do bolim e do seu Pra-

da ter escondido o bolim no bolso da calça, foi verdadeira, nesse dia foi uma gargalhada

só, o Leotério, como sempre gozador, se mijou de tanto rir, gozando o Baco e o seu Pra-

da, coitado. Que sacanagem.

RIVALIDADE FUTEBOLISTICA

Meu pai contava que a rivalidade no futebol na cidade de Imbituba também existiu, co-

mo na maioria das cidades, onde tinha mais de um clube de futebol, a rivalidade era tão

grande, que filhas de funcionários da Companhia Docas, não casava com filhos de em-

pregados da Cerâmica.

Na cidade teve um jogo de futebol entre o Cerâmica Futebol Clube, versus o Imbituba

Atlético Clube, no estádio do Cerâmica no bairro da Vila Nova, que dividiu acidade.

Os torcedores chegavam do centro da cidade, ao bairro da Vila Nova, caminhando pela


estrada geral de chão batido, empoeirada, e também pelos trilhos da estrada de ferro, e

em carrocerias de caminhões, enfim vinham de qualquer jeito de todos os cantos do mu-

nicípio. Muitos torcedores do Atlético, os mais fanáticos, chegaram no bairro da Vila

Nova, nos vagões de passageiros, puxados pelo trem Maria Fumaça, que na frente trazia

colocado o desenho de um siri, charge do clube, com as guerras abertas. O Estádio do

Cerâmica não era tão grande como o do Atlético, mais tinha um diferencial, um túnel no

subsolo, onde os jogadores do Cerâmica caminhavam desde os vestiários por um corre-

dor até a boca do túnel na beira do gramado. Um túnel deste, para a época, só o Está-

dio do Maracanã tinha, diziam os torcedores ceramistas, na gozação.

A rivalidade era tanta, que nesse dia os jogadores do Atlético, não quiseram entrar pelo

portão principal do Estádio, entraram pelo quintal de um vizinho que trabalhava na Cia.

Docas, pularam uma cerca para entrarem no vestiário visitante.

Toda essa aventura foi porque algum torcedor ceramista comentou, que tinham contra-

tado uma macumbeira, para fazer um despacho, para os jogadores perderem o jogo.

O foguetório, quando os jogadores do Cerâmica Futebol Clube, saíram pela boca do tú-

nel em direção ao gramado, foi tanto, que o bambuzal ao lado do estádio ficou todo sa-

pecado. O estádio estava lotado com torcedores, meio a meio, dos dois clubes.

Nas duas equipes daquele jogo tinham grandes jogadores, com destaques para os golei-

ros, do lado do Cerâmica, Lauro, Lauro Avelar, magro, alto, veio do Clube de Regatas

do Flamengo do Rio de Janeiro, já pelo lado do Imbituba Atlético Clube, Isaú, esquio,

magro, não tão alto, mais sua elasticidade compensava a altura, era chamado de “Negro

Gato”. Concluindo um pensamento, ouso dizer que se o Cerâmica Futebol Clube não

tivesse acabado com seu futebol competição, talvez a cidade tivesse tido por muito tem-
po, dois bons times de futebol participando ativamente dos Campeonatos Estaduais, há-

ja visto que as duas empresas patrocinadoras, a Cia. Docas de Imbituba patrocinando o

Atlético, e a Industria Cerâmica de Imbituba patrocinando o Cerâmica, eram duas em-

presas solidas e de grande potencial financeiro.

TORCEDOR DO FLAMENGO

Meu gosto por futebol, vem desde muito pequeno, quando junto com meu pai, escutava

jogos de futebol, do Clube de Regatas do Flamengo, pelo Campeonato Carioca.

As quartas feiras a partir das vinte horas, o velho radio de válvulas de meu pai, era sin-

tonizado na Super Radio Tupi ou na Radio Globo, as duas do Rio de Janeiro.

Os jogos do Campeonato Carioca nas quartas feiras, sempre começavam as vinte e uma

horas, quando o jogo era entre o Clube de Regatas do Flamengo e o de Regatas do Vas-

co da Gama, a gente sabia que a cidade toda estava ligada nesse jogo de futebol.

Meu pai era Flamenguista roxo, não sei como ser tornou torcedor do clube carioca, mais

nunca lhes perguntei e também nunca me falou, conclui mais tarde que devia ser porque

tinha servido ao exercito na cidade do Rio de Janeiro e ter assistido algum jogo do clube

Rubro Negro. Como meu pai torcia pelo Flamengo, e só escutávamos jogos quando

o time Rubro Negro jogava, lá em casa todos nos tornamos flamenguistas, até o cachor-

ro que tínhamos se chamava flamengo, quando gritávamos “gol do Flamengo” o cachor-

ro começava a latir. Era fácil torcer para um time ganhador de títulos e tendo sempre

em seu plantel, jogadores de muita qualidade e rendimento como Jouber, Pavão, Jaime,
Dida, Baba, Doval, Reyjes, Raul, Zico, Junior, Leandro e muitos outro.

Até o Lico, o nosso manezinho conterrâneo de Imbituba, que jogava muito, foi um dos

grandes jogadores que passou pelo Clube de Regatas do Flamengo, campeão mundial

em 1.982, no Japão. “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.

O BARBEIRO

Nosso primeiro barbeiro, seu Benoni, que cortava meu cabelo quando garoto, tinha sua

barbearia na primeira esquina do lado direito da rua Ernani Cotrin, com a rua 3 de Outu-

bro. Meu pai contava que seu Benoni, além de barbeiro, gostava de caçar, ou melhor

procurar tesouros escondidos. Um dia de sábado, na barbearia, a conversa dos fregueses

que esperavam sua vez, para cortar o cabelo, falavam que no canto da praia da Vila, no

costão, em frente a ilha San’ Ana de dentro, piratas espanhóis tinham enterrado uma ar-

ca, com dobrões de ouro, pratarias e outras peças de valor, ao lado de uma pedra, que

tinha a forma de uma tampa de baú. E uma pedra média, parecendo com uma tampa

de baú, com outras pedras ao redor, no canto do costão da praia, amanheceram cavadas,

num buraco tão profundo, que um cabo de coca de pescar siri, foi pouco, de tão fundo

que foi cavado. Não sei se, o seu Benoni alguma vez encontrou algum tesouro, ou se

morreu tentando, porque rico não me pareceu ter ficado, pois ele nunca parou de cortar

cabelo em sua barbearia. O que nunca soube, è quem era o seu parceiro de caçada à

tesouros, que tinha um parceiro tinha, porque para cavar um buraco daquela fundura na

praias, um homem só, não cavou não.


O ANDARILHO

Seu Quintino parecia ser lelé da cuca, acho que não era não, parecia ser sim um visiona-

rio. O Quintino como era conhecido, era baixinho, franzino mais de saúde de ferro.

O homem andava muito, sempre era encontrado caminhando de costa na estrada de chão

batido, entre os eucaliptos nos domínios da Granja Henrique Lage e também na Estrada

Geral de chão batido empoeirada, entre o portão da Granja Henrique Lage e o bairro do

Sete. Como quase sempre andava de costa e em seu gesto parecendo dirigir um auto-

móvel, pois em gestos com as mãos e braços, parecia girar um volante de carro.

Falavam que ele devia ter algum trauma de não poder ter conseguido ser um motorista

de caminhão ou outro veiculo qualquer de transporte, e até quem sabe, um manobrista

de trator ou guindaste, por exemplo. Vai saber o que se passa na cabeça de uma pes-

soa desse jeito. O importante disso tudo é que sempre se tira alguma coisa boa.

Em sua caminha diária e silenciosa, no vai e vem, nas estradas Imbituba, o seu Quintino

nunca incomodou ninguém.

O VISIONARIO DA PEDRA FERRO

Seu Tertolino, conhecido por Terto, diariamente andava como um zumbi pela linha fér-

rea, não tinha hora, era pra baixo e pra cima. A garotada tinham medo dele, diziam

quando os viam nos trilhos da estrada de ferro, “ lá vai o Terto louco ou lá vem o Terto
louco”. O Seu Tertolino morava com sua família numa das casas do bairro Cantagalo,

como tantas outras famílias, que ali moravam, como a minha que ali também morei.

Meu pai contava, que seu Terto ficou “lelé” da cuca, porque dizia escutar a noite quan-

do deitado na cama dormindo, um canto de mulher, canto esse melodioso, vindo dos la-

dos das dunas da praia, que ficava a poucos metros das cercas, dos fundo das casas, do

Bairro Cantagalo. Quando ele já deitado na cama, escutava o canto melodioso de

mulher, saia pela porta a fora, não adiantava nada a esposa falar, nada o segurava, des-

calço, lá ia ele em direção da praia, sentava nos combros de areia, em frente à pedra fer-

ro, que aflorava à areia da praia, depois da ressaca da maré alta e ficava ali, sentado em

silêncio, até o amanhecer escutando o canto melodioso, que dizia ouvir.

Depois disso, lá ia ele caminhar entre os trilhos da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristi-

na, murmurando, parecendo falar alguma coisa sem nexo e sempre de cabeça baixa pen-

dendo para um lado do corpo. Diziam alguns, que a Pedra Ferro era mesmo encanta-

da, e que uma sereia, vinha mesmo até a praia cantar, e certamente deixava o seu Terto-

lino, daquele jeito, encantado. A Pedra Ferro que aflorava a areia da praia desapare-

ceu, o que houve não se sabe, mais que a Pedra Ferro, nunca mais aflorou a areia da pra-

ia, não mais aflorou.

A EMPREGADA

A Maria da Graça, filha do seu Benoni, nosso barbeiro, agora com sua barbearia, na Rua

da Cancha, sua filha mais velha Graça, com a ida de nosso primo Maurino para o Rio de

Janeiro, ela veio para nossa casa trabalhar como empregada em substituição a nosso pri-
mo. Ela fazia tudo, desde cuidar dos afazeres da casa, até o almoço do dia a dia, e de

nós tambem, enquanto nossos pais estavam trabalhando. Quem mais vivia o dia a dia

mais perto da Graça, eram minhas irmãs Eliane com mais ou menos onze anos e a Evo-

nete com mais ou menos oito anos, enquanto eu e meu irmão Evandro, vivíamos na rua

em brincadeiras com nossos amigos, ora jogando bola no campinho do pastinho do Vi-

noca, ora pescando numa das lagoas ou caçando de funda no banhado dos córregos.

Passado quase um ano da ida de nosso primo para a cidade maravilhosa, aparece um dia

em nosso portão, aquele cara fardado, em um uniforme azul, com emblemas lustrosos,

em forma de asa, era o Maurino, em sua farda de passeio da Aeronáutica, na sua primei-

ra visita a mãe, e a nós também. Maurino depois que tinha partido para Nilópolis pa-

ra morar na casa da tia e alistar-se na Aeronáutica, nunca mais tinha vindo em Imbituba.

Nesse dia em que chegou, ele dormiu em nossa casa, onde aproveitamos para relembrar

os dias, daqueles poucos meses, que conosco morou. No dia seguinte foi embora dei-

xando a Graça triste, pois tinha ficado interessada no primo, para um namoro, que não

deu certo. A Graça trabalhou conosco por mais alguns meses, nos deixou para traba-

lhar, com uma outra família, voltou a trabalhar conosco novamente, mais ficou por pou-

co tempo, com minhas irmãs, agora maiorzinhas, não havia mais necessidade de empre-

gadas, pois já nos virávamos sozinhos, já o primo Maurino só voltei a velo novamente,

alguns anos depois, já fora da Aeronáutica e morando no bairro de Campinas, em São

Jose, não era mais o mesmo cara alegre. Até da para entender, depois de morar por al-

guns anos, numa cidade como a do Rio de Janeiro, que a pouco tempo tinha deixado de

ser a Capital do Brasil, não é fácil não, adaptar-se a viver novamente numa cidade inte-

riorana.
OS AVENTUREIROS

Dois jovens, já não tão jovens, mais solteiros, acho eu, no começo da década de sessenta

onde muitos jovens queriam aventurar-se, como muitos se aventuraram, indo embora de

Imbituba, como os chamados “candangos” , que partiram para a nova capital que estava

sendo construída no centro do país, Brasília, a nova Capital do Brasil.

Só que, esses dois jovens “aventureiros” de Imbituba, um era padeiro na única padaria

da cidade, a do seu Osmar “cação”, o outro, um dos filhos de um encarregado da Com-

panhia Docas, foram para a maior cidade do país, São Paulo. Depois que partiram,

nunca mais tinha ouvido falar dos dois jovens aventureiros, não sei ao certo, por quanto

tempo durou a viagem dos dois jovens Imbitubense. O que soube é que quando vol-

taram, chegaram de taxi, já pensou quanto custava uma viagem de taxi da cidade de São

Paulo até Imbituba. O cochicho foi grande, corria de boca em boca, para quem tives-

se ouvido e quisesse escutar, que os dois “amigos aventureiros”, tinham dado o cano no

taxista. Um deles, certamente o padeiro, disse ser filho do maior empresário da cida-

de, dono da Cerâmica de Azulejos, o Dr. João Rimsa. Os dois malandros saltaram no

centro da cidade, em frente ao portão da cerâmica, dizendo que iam pegar o dinheiro da

corrida e desapareceram, deixando o motorista do taxi esperando. O taxista certamente

cansado de tanto esperar, começou a desconfiar que tinha alguma coisa errada, foi até o

escritório da empresa e começou a fazer pergunta. O taxista então ficou sabendo, que

tinha levado um blefe, quando lhe disseram que o Dr. Rimsa, dono da Cerâmica não tin-
ha filho e morava em São Paulo, o taxista Paulista foi até a delegacia e registrou queixa,

quando o delegado então ficou sabendo quem eram os dois passageiros.

Não sei ao certo, parece que foi feito uma vaquinha e das bem gorda, para arrecadar a

grana, para que o taxista pudesse retornar a cidade de São Pulo.

DINHEIRO PARA O LAZER

No lixo da oficina mecânica da cerâmica, os sábados eram concorridos, ali catávamos

vários tipos de metal usados na oficina, o ferro, o cobre, o alumínio e até chumbo, to-

dos esses metais, eram bem pesados e alcançavam bom preço na hora da venda.

Os carrinhos de mão do lixo da oficina mecânica, eram levados até o aterro, por um dos

irmãos Querino, o Maneca ou o Chico, filhos do seu Tobias, bom tarrafeador.

Como eles, conheciam todos os garotos que ali catavam lixo e sabiam o que estávamos

esperando, acho eu que, na real, sempre achei, que além do lixo normal da oficina, eles

colocavam nos carrinhos, só para nos ajudar, muito mais metais, que ainda não eram li-

xo, descarregando os carrinhos e ficavam ali olhando e conversando conosco, até que a

cirene do meio dia, tocasse avisando o encerramento do expediente, então eles voltavam

à oficina. No lixo da oficina da usina, também jogavam fora alguns bons metais mais

em pouca quantidade, esse lixo eram jogados quase que diariamente e não tinha horário.

As vezes eu ficava parado na frente da grande porta da Usina, olhando aqueles enormes

motores propulsores trabalhando gerando energia, uma outra coisa que também lembro,

e chamava minha atenção, era a limpeza na sala dos painéis de controles da Usina, não
tinha uma sujeirinha que se notasse. Todo dinheiro que arrecadava na venda dos me-

tais, bem como dos cascos de garrafas e litros que juntava, era para ir ao cinema e com-

prar gibis, na livraria do seu João pai do Taíco, era a única livraria da cidade, e ficava na

esquina das ruas Ernani Cotrim com a rua Nereu Ramos. Quase tudo acontecia ali na-

quela esquina, era o senadinho, a fofócolândia, do centro da cidade, principalmente nos

domingos pela manhã, quando o pessoal se reunia para engraxar seus sapatos, com os

garotos engraxates avulsos.

A ENGRAXATARIA

Na sapataria e engraxataria do seu Lauro Avelar, como eu era um dos amigos do Lauri-

nho filho dele, não saia da sapataria. O seu Lauro consertava os sapatos dos clientes

colocando saltos, meia solas e até solas inteira, dependendo da marca do sapato para va-

ler a pena, os sapatos depois de consertados eram engraxados, e as vezes quando neces-

sário, queimados com núbio e depois engraxados e lustrados. Quem normalmente fa-

zia esse trabalho de engraxar e dar cor nova aos calçados era o Laurinho, e a pedido do

seu Lauro quando tinha muito serviço, eu também os ajudava para colocar o serviço em

dia, só engraxar era um preço, pintar e engraxar era outro preço.

Já na engraxataria tinha os garotos engraxates da casa, que ganhavam um percentual por

cada par de sapato engraxado, eles engraxavam os sapatos dos fregueses, que já tinham

seus engraxates preferidos. Nunca trabalhei de engraxate fixo na engraxataria, mais

um dia pela manha, só estava o seu Lauro trabalhando nos concertos de calçados, eu por
ali conversando com ele, chega o Nicolau para engraxar o sapato.

Seu Lauro sabedor que o Nicolau era um freguês e dos chatos, disse que o engraxate fa-

vorito dele não estava, mas se ele tivesse pressa, eu poderia engraxar. - Tudo bem, só

não me suja a meia! – Falou o Nicolau. Ele sentado na cadeira, colocou os dois pés na

sapateira, eu com toda preocupação do mundo para não sujar a meia, coloquei os prote-

tores de meias em cada lado do pé, entre a meia e o sapato. Sujar a meia engraxando

sapato, era e sempre será o maior erro do engraxate. O Nicolau bem sentado, puxou

do bolso do paletó um monóculo, chamou seu Lauro e entregando a ele, o monóculo fa-

lou. - Olha o que tem dentro. – O seu Lauro levou ao olho o monóculo e ficou olhando

por alguns minutos, admirando o que estava vendo, depois retirando do olho o monócu-

lo, perguntou. - Quem é ela? – O Nicolau antes de responder falou. - Deixa o rapaz o-

lhar também! - Seu Lauro me entregou o monóculo, levei ao olho para ver o que tinha

de tão interessante dentro do monóculo, fiquei eufórico, era a foto de uma mulher nova,

morena, de frente totalmente nua, eu parado ali admirando, o Nicolau falou. - Chega pa-

ra a tua idade, já viste de mais! - entreguei o monóculo ao Nicolau, ele então responde a

pergunta que seu Lauro tinha feito. – Ela é lá da Fazenda São Paulo. Acabei de engra-

xar o sapato, ele pagou ao seu Lauro e foi embora. Alguns dias depois, na esquina do

prédio do seu Joãozinho do outro lado da rua onde ficava a sapataria e engraxataria, vai

passando o Nicolau abraçado com a mulher do monóculo, em direção da Agencia da

Santo Anjo, minutos depois entra na sapataria o Nicolau para engraxar o sapato, o seu

Lauro de supetão, pergunta se não era a mulher da foto no monóculo. – É sim! –respon-

deu o Nicolau e acrescentando falou. - Estou namorando, acho que vou casar com ela,

seu Lauro. - É mesmo Nicolau! - Exclamou seu Lauro admirado. O engraxate prefe-
rido acabou de engraxar o sapato, o Nicolau pagou e foi embora.

Assim que ele saiu porta afora, o seu Lauro olhou para mim, com um olhar de espanto,

como quem queria dizer, fique calado, não fale para ninguém, o que vimos no monócu-

lo. Não levou muito tempo o Nicolau apareceu na sapataria e engraxataria noivo e de

braço com a bonita mulher da foto no monóculo. Eu, me perguntei naquele dia, vai

entender o que se passa na cabeça desse solteirão, metidos a Don Juan.

AS FIGURINHAS

Os álbuns de figurinhas quando lançados na cidade, eram bem procurados, os mais con-

corridos inclusive por adultos, eram os de jogadores de times de futebol, ou os de sele-

ções mundiais de países, participantes de Copas do Mundo.

Os álbuns de figurinhas, de clubes brasileiros, de clubes catarinenses, e de clubes parti-

cipantes das ligas regionais, principalmente as ligas do sul do estado, onde o Imbituba

Atlético Clube, participava dos campeonatos, também eram bem colecionáveis como os

de Seleções Mundiais de Futebol dos países da Europa, como da Inglaterra, Iugoslávia,

Thecoslováquia, Alemanha Oriental, Alemanha Ocidental, França, Suécia, Bulgária, e

outras quando passava-se assim a conhecer um pouco de geografia, além dos seus joga-

dores, que deles não se conhecia nada. A atenção também aos álbuns de figurinhas

dos times de futebol dos grandes clubes Carioca e Paulista, era tão boa quanto aos álbu-

ns de figurinhas dos times dos clubes Catarinenses, como o Avaí, Figueirense, Interna-

cional, Paula Ramos, Barroso, Marcilio Dias, Carlos Renaux, Paissandu, Palmeiras, Ca-

xias e América. Já os álbum de figurinhas dos times dos clubes da região sul do nosso
Estado, como o Gerônimo Coelho, Barriga Verde, Metropól, Atlético Operário, Próspe-

ra, Barro Branco, Comerciário, Hercílio Luz, Ferroviário, Itaúna, Guatá e o do Imbituba

Atlético Clube com quem esses times vinham freguentemente jogar na cidade, eram tão

ou mais colecionadas, do que as de mais, pois jogavam nos times desses clubes, vários

jogadores de Imbituba. Um álbum de figurinhas muito colecionado foi um sobre a vi-

da animal, vegetal e mineral, tinha aves, animais, flores de beleza exótica e minerais ra-

ros, essas figurinhas para a década de sessenta, eram de um brilho e nitidez impressio-

nante. Como estudava nessa época, muito aprendi com as figurinhas desse álbum, te-

ve professora que chegou a recomendar aos seus alunos a coleção desse álbum, por ser

de grande aprendizado escolar.

O SALAO DE SINUCA

O salão de sinuca no meu tempo de garoto, no inicio da década de sessenta, ficava num

prédio da segunda esquina do lado esquerdo da Rua Ernani Cotrin, vindo da frente do

Portão da Cerâmica, no cruzamento com a rua Nereu Ramos. O salão de sinuca ocu-

pava quase toda à área física do prédio, menos uma sala de frente para a rua Nereu Ra-

mos, onde o seu Lauro tinha a sua sapataria e engraxataria bem ao lado do Posto de Ga-

solina Atlântic, cuja rampa de troca de óleo e lavação do posto, ficava quase grudada ao

lado de uma janela que não podia ser aberta, em razão da lavação de carros.

O prédio em razão do seu desgaste pelo tempo de construção, e pela precariedade de su-

as instalações, quando chovia as goteiras traziam prejuízos aos panos das mesas oficiais,

essas mesas oficiais, foram transferidas para uma enorme sala, num prédio que parecia
de propriedade do seu Elói, do outro lado da rua, agora bem em frente ao prédio de dois

andares, do posto de combustível Atlantic, do seu Joaquim Souza. O salão de sinuca

no novo endereço tinha como administrador o Carlinhos, filho mais velho, do seu Zóca.

O prédio do novo salão de sinuca ficava ao lado esquerdo de uma loja de confecções, e

tecidos, de propriedade do seu Elói. O prédio do salão de sinuca, do seu lado esquer-

do, tinha a entrada, para a fabrica café “SOLIMA”, de propriedade do seu Tomé Santos

que ficava num terreno nos fundos da residência do seu Nelson Souza, primeiro prefeito

da cidade e primeiro dono da fabrica de café, junto com o seu sócio Evaristo Lima, que

por muitos anos foi Chefe do Setor Pessoal da cerâmica, eles fundaram a fabrica de café

“SOLIMA” e emprestaram partículas de seus sobrenomes, ao nome do café.

O seu Nelson, deu o “ So”, do sobrenome Souza, seu Evaristo deu o “ Lima” do seu so-

brenome Lima. Por muitos anos o salão de snooker, ficou nesse novo endereço ao

lado da fabrica de café, que ali ficou por muito tempo. O cheiro gostoso do café tor-

rado, que era colocado para secar no pátio da fabrica, nos fundos do salão de sinuca, de-

pendendo do vento chegava até nossa casa. Era um café puro, forte e gostoso de be-

ber. Porque café puro hoje é difícil, como também é difícil um bom salão de sinuca,

com mesas oficiais.

OS AMIGOS DO CIRCO

Quando chegava circo na cidade se instalavam ao largo da matriz, no pasto em frente o

Grupo Escolar Henrique Lage. Dois circos mexeram muito comigo em minha infân-

cia e agora em minhas lembranças, um foi o dos “Irmãos Robatini”, com seus dois pica-
deiros, era um circo enorme, com muitos animais, cavalos, elefantes, leões, tigres, pône-

is, cachorros de varias raças , girafas, zebras, macacos, ursos, camelos, lhamas, etc...

A medida que os animais iam chegando na cidade, a aglomeração de pessoas em torno

das jaulas iam crescendo, para ver os animais. No segundo dia, à chegada dos pri-

meiros animais, depois da aula do horário matutino, junto com outros garotos estava o-

lhando os animais que já tinham chegado, chega um automóvel Dodge Dart, rebocando

um trailer e para próximo de onde estávamos, do banco de traz do automóvel saltam um

menino e uma menina, praticamente da nossa idade, pela porta da frente desce uma sen-

hora nova, bonita, já o motorista fazia manobra para estacionar o automóvel com o trai-

ler rebocado. No outro dia no Grupo Escolar, lá estavam no pátio, o garoto e a garo-

ta, encabulados, seguidos pelos olhares dos outros alunos. O sinal bateu, junto com

os demais colegas de turma, fui para a sala de aula, para minha surpresa e também da

nossa turma acredito, chega em nossa sala, o casal de crianças do circo que conosco iam

estudar, enquanto o circo permanecesse na cidade. A amizade de Antoni e Mariá,

agora nossos colegas de turma, se fez rápido, já no final da aula daquele dia com alguns

colegas de turma fomos até as dependências do circo, olhávamos tudo de perto em com-

panhia dos meninos do circo. Eu não queria mais ir embora, queria aproveitar bem

aquela nova amizade do garoto, de um mundo tão diferente, do nosso. A tarde indo a

Cooperativa da Cerâmica, passando pelos eucaliptos, estava ali o Antoni e um funciona-

rio do circo, lidando com três elefantes amarrados pelas patas, em correntes nos troncos

dos eucaliptos, comendo na sombra. Fui ficando por ali conversando, até que me dei

conta do que tinha que fazer, me despedindo sai dali correndo em direção a Cooperativa

comprar o que tia Lilina, tinha pedido. Em razão da amizade com o garoto, circulava
pelas dependências do circo, sem medo, olhando e acompanhando a movimentação dos

funcionários na armação do circo e dos ensaios, dos artistas circense, nos picadeiros, até

dentro do trailer da família do circo estive, em companhia de meu novo amigo.

Em uma noite de espetáculo, fui com meus pais e irmãos ao circo e vi que o domador de

elefantes e sua assistente, eram os pais do Antoni, um dos irmãos Robatini e um dos do-

nos do circo. Depois de algumas semanas na cidade, a lona foi arriada, levantaram

acampamento e foram embora, deixando boas lembranças e saudade de uma boa amiza-

de.

UM CICLISTA VIAJADO

Zeca Teca o atleta ciclista que rodou boa parte do mundo, essa era a propaganda do Me-

xicano fazendo apresentações montado numa bicicleta. O ciclista Zeca Teca propuse-

ra aos organizadores, permanecer montado em cima de uma bicicleta vinte e quatro ho-

ras, durante sete dias, conforme entrevista dada na época, na Radio Difusora de Imbitu-

ba, ao locutor e seus ouvintes. O inicio da maratona foi num domingo pela manhã,

com muitos curiosos cidadãos na calçada dos dois lados da Rua Ernani Cotrin, onde o a-

tleta, durante vinte quatro horas, por sete dias, circularia pela Rua Ernani Cotrin, desde a

esquina da Rua Nereu Ramos, com a esquina da Av. Santa Catarina.

Naquela parte da rua, desde a esquina da Rua Nereu Ramos, com a Av. Santa Catarina,

do lado direito da Rua Ernani Cotrin, na esquina era a livraria do seu João, depois o pré-

dio de dois andares onde até hoje tem no térreo a Farmácia São Paulo, no andar superior
na época era o instituto I.A.P.T.E.C, depois em um prédio as lojas Irmãos Candemil, o

Cine Marabá, a Churrascaria do seu Tobias e a Casa da Banha do seu Avelino.

No lado esquerdo da rua, ficava o prédio do seu Elói, com a sapataria do Chiquinho na

esquina, depois o City Bar, o Banco Inco, a casa do seu Nelson Souza, a Farmácia Nos-

sa Senhora Aparecida e a padaria do seu Osmar “cação” na esquina da Av. Santa Cata-

rina. No domingo, primeiro dia e primeira noite do Zeca Teca montado em sua bici-

cleta, levou muitas pessoas curiosas, além do policial designado para acompanhar e fis-

calizar o atleta, para ver se ele desceria da bicicleta. Na realidade as pessoas tinham

era curiosidade para saber, como o Zeca Teca, faria as necessidades fisiológicas, quando

tivesse vontade. A semana passou, chegou o sábado e sétimo dia de Zeca Teca mon-

tado na bicicleta conforme combinado, para permanência do Mexicano montado na bici-

cleta, circulando por parte da quadra da rua com canteiro no meio, dividida em duas mã-

os, como é ainda até hoje. A rua estava cheia de pessoas para ver a hora da parada do

atleta, as dez horas, mesma hora da subida na bicicleta no domingo, uma semana antes.

O Atleta Ciclista parou junto a seus ajudantes e ao aparato médico, montado com medi-

co, enfermeiros e uma ambulância do Instituto IAPETEC, com o motorista o seu Pirão,

de prontidão, caso Zeca Teca, precisasse ser removido para atendimento hospitalar.

Depois do atleta, ter sido examinado e bem avaliado pelo médico, em suas condições fí-

sicas, falou ao povo algumas palavras de agradecimento, o Prefeito lhe entregou o prê-

mio combinado, o povo o aplaudia, mais uma vez ele agradeceu os aplausos, e assim foi

a passagem do ciclista mexicano por Imbituba. Essa é mais uma de minhas boas re-

cordações.
O CICLISMO EM IMBITUBA

No dia do trabalhador, no primeiro dia de maio, eram organizadas varias atividades na

cidade desde torneios de futebol amador, até corridas de bicicletas.

Muitos trabalhadores da Companhia Docas e da Indústria Cerâmica, como também de

outras empresas, que usavam as bicicletas como meio de transporte para irem trabalhar.

Nessas corridas de bicicletas, nas ruas, realizadas anualmente, o numero de ciclistas que

participavam das corridas de bicicletas era grande, muitos inscreviam-se nessas provas

competitivas, confiando no preparo físico, que adquiriam no dia a dia, montado nas ma-

grelas. Teve um ano, uma corrida no dia do trabalhador, como todos os anos tinha,

só que nesse ano, a corrida em vez de ser nas ruas da cidade, como sempre eram, foi en-

tão proposto aos corredores, um novo trajeto, uma volta ao Morro do Mirim.

A Largada foi no centro da cidade em frente da Prefeitura, no cruzamento da Rua Nereu

Ramos, com a Rua Ernani Cotrin, seguindo em direção a Rua Duque de Caxias, no Ba-

irro da Cancha, entrando pela rua da praia, passando em frente ao Barracão da Baleia,

subindo pela estrada da Ribanceira, saindo em Nova Brasília, passando em frente ao Ba-

irro do Mirim, sempre por estrada de chão batido, subiram o Morro dos Pacheco, até o

encruzo da Vila, passando pela rua do centrinho da Vila Nova, seguindo em direção ao

Paes Leme, sempre pela estrada geral de chão batido, passando em frente ao clube Sete

de Setembro e do portão da Granja Henrique Lage, saindo ao lado da casa do seu João

Sampaio, até a esquina, na padaria do seu Osmar “ cação”, entrando pela Rua Ernani

Cotrim, toda de paralelepípedos, para então cruzar a faixa de chegada no mesmo lugar

da partida. Desde a largada da corrida de bicicletas, teve vários ciclistas na ponta, nas
retas um passava, quando chegava num morro, outro passava, e assim sucessivamente,

até a linha de chegada, ganha por um empregado da Cerâmica e morador do Bairro do

Mirim. A cidade tinha bons ciclistas como, o Cizo, o Tuna, o Maneca, o Nilton, o Pe-

dro Cesar, o Jaime, etc...

UM JOGO DE FUTEBOL

Muitos Jogos do Imbituba Atlético Clube, assisti em seu estádio, dois me trazem recor-

dações. Um foi contra o Botafogo Clube e Regatas do Rio de Janeiro, que fazia uma

excursão pelo sul do Brasil. Foi num dos primeiros anos da década de sessenta, pa-

rece-me que foi logo após a Copa do Mundo no Chile. Nesse time do Botafogo tinha

grandes jogadores como o Manga, Didi, Nilton Santos, Quarentinha, Garrincha, Amaril-

do e Zagalo, quase todos Campeões Mundiais, jogando pela Seleção Brasileira.

O locutor da Radio difusora de Imbituba, anunciava que, os ingressos nas bilheterias do

estádio, para o jogo, estavam esgotados, tinham sido todos vendidos.

Como a Companhia Docas, patrocinadora do jogo e do Imbituba Atlético Clube, colo-

cou a disposição dos empregados da empresa, ingressos para desconto em folha de pa-

gamento, tendo restado poucos ingressos para colocar a disposição do povo em geral.

Fui até ao estádio junto com outros garotos da nossa rua e muitos outros da cidade, que

já estavam lá para ver se conseguiriam entrar junto com um adulto, como era uma pra-

tica normal dos porteiros em dias de jogos. Nesse jogo crianças não poderão entrar

acompanhado de um adulto, dizia seu Mãosinha e o Quido os porteiros nesse dia, fazi-
am sinais que estavam sendo vigiados e instruídos, para não deixar ninguém entrar sem

ingresso. Era a primeira vez que estava sendo usado policiamento montado a cava-

lo, ao redor do Estádio, para que ninguém pudesse furar a cerca ou entrar de graça, sem

pagar. Eu e outros garotos começamos a rodar o estádio a procura de uma tabua sol-

ta, que pudéssemos entrar através dela, só encontramos um lugar favorável para entrar

no Estádio sem que fossemos notados, foi nos fundos do Estádio, perto dos vestiários

dos times visitantes, ali começamos a cavar por baixo das tabuas da cerca, como éramos

magrinhos, entramos pelo buraco cavado na areia mole, embaixo das tabuas.

O Estádio realmente estava lotado, como não tinha alambrado, era só uma cerquinha

baixa de madeira, onde os torcedores em pé se encostavam para melhor ver o jogo, pas-

sei agachado por entre as pernas dos torcedores e sentei-me no chão, do outro lado da

cerquinha, quase na risca do gramado, não tinha uma boa visão de todo o campo, mais

vi seu Milosa, o Bandeirinha, quase pular de contente pelo gol marcado pelo Quarentin-

ha, jogador do seu Botafogo. O seu Milosa era torcedor fanático do Botafogo, ele e

todos da sua família até o cachorro Lupi, era Fogão.

UM BOM TIME DE FUTEBOL

Um bom jogo de futebol que assisti, foi do Imbituba Atlético Clube contra o maravilho-

so time do Metropol Esporte Clube, no estádio do Atlético, o time Criciumense era um

timão, com grandes jogadores, a começar pelo ótimo goleiro Rubão, Ladinho, Madurei-

ra, Gibi, Edésio, Tenente, Galego etc... Esse grande time, tinha como presidente, Sr.
Dite Freitas um baluarte no futebol de Santa Catarina e do Sul do Brasil.

Esse time do Metropol, que no início da década de sessenta veio jogar em Imbituba, tin-

ha sido vice-campeão Brasileiro, da Copa do Brasil jogando contra, o também bom time

do Botafogo Clube e Regatas, que foi declarado campeão depois de grande confusão fo-

ra de campo, em virtude do Metropol Esporte Clube, não ter conseguido viajar a cidade

do Rio de Janeiro, para um terceiro jogo, em razão de atraso de voo, ou de não ter podi-

do viajar, em razão de mal tempo. O primeiro jogo foi no Estádio Mario Filho, o Ma-

racanã, na Cidade do Rio de Janeiro, o segundo jogo, foi no Estádio Metropolitano, na

cidade de Criciúma e caso tivesse um terceiro jogo seria no Rio de Janeiro.

Esse jogo amistoso e festivo em Imbituba, contra o Atlético, que tinha um bom time po-

is tinha contratado bons jogadores, vindo do futebol carioca, para participar do Campeo-

nato Catarinense daquele ano. O jogo nesse domingo a tarde, começou com um ven-

tinho sul, frio e gelado, o jogo estava bom, terminou o primeiro tempo zero a zero.

Na volta para o segundo tempo, além do vento frio que soprava, caia uma chuvinha fina

gelada, os jogadores do Atlético voltaram para o segundo tempo com o seu mesmo uni-

forme, em sua tradicional camisa azul, calção branco e meiões azul, já os jogadores do

Metropol, que tinham jogado o primeiro tempo de camisas branca,

com detalhes em verde na gola e mangas, calção e meiões verde, voltaram para o segun-

do tempo, em um uniforme totalmente branco, com camisas de manga comprida, que

até então, não tinha visto ainda, nenhum time jogar com camisas de manga comprida.

O jogo recomeçou com o trilar do apito do juiz, Itamar Barcelos, os jogadores do Atléti-

co pareciam tontos, perdidos em campo, seria o vento sul gelado.

Os jogadores do Metropol começaram a tocar a bola, a jogar e fazer gols, um a zero, do-
is...seis a zero, era inacreditável o que via naquele jogo, naquela tarde de domingo.

Será que a mudança de uniforme de um time de futebol de um tempo para outro, pode-

ria influenciar tanto na qualidade técnica dos jogadores de futebol e consequentemente

no resultado final de uma partida de futebol. Não que o bom time do Metropol Es-

porte Clube, não pudesse colocar seis ou mais gol no time do Imbituba Atlético Clube.

Até hoje lembro o olhar dos jogadores do time Imbitubense, para os jogadores do Me-

tropol entrando em campo, naquele domingo de chuva fria, em seu uniforme totalmente

branco, com sua camisa de mangas comprida. Era um timaço.

A MENINA DO CIRCO

Esse circo era de teatro, Circo Teatro Garcia, que acampou no pasto em frente ao Grupo

Escolar Henrique Lage, mesmo local em que todos os circos, e parques de diversão, ins-

talavam-se. Não lembro se foi o único, mais teve um circo, se não me engano, o Rus-

so, Circo Wostok que não se instalou no Largo da Matriz. Sua lona foi levantada num

terreno baldio, entre o Estádio do Imbituba Atlético Clube, e a Rua Irineu Bornhausen,

em frente a Casa Mariana. Num dia de sessão num sábado a noitinha, no circo Teatro

Garcia, fui assistir junto com amigos a peça “Entre a Cruz e a Espada” uma das mocin-

has que trabalhava na peça, tinha mais ou menos a minha idade, era a década de sessen-

ta, devia ter uns quatorze anos, durante todo o tempo que representava no palco, ficava

olhando na direção em que eu, estava sentado, junto com outros garotos.

Eu notando seu interesse em olhar em nossa direção, comecei a olhar fixo para ela, que
parecia corresponder. Acabou a sessão fui para casa pensando na menina do circo.

Na matine de domingo a tarde, lá estava eu novamente sentado no mesmo lugar da ses-

são do sábado, para assistir a peça “ O Lobo Mau e o Chapeuzinho Vermelho”, quem

fazia o papel do chapeuzinho vermelho era a mesma menina, que fiquei trocando olha-

res na sessão do sábado. Como a distancia do palco, até onde eu estava sentado era

pouca, o meu olhar em direção da garota ficou notório, e o dela também em minha dire-

ção, fiquei ouriçado, é para mim que ela esta olhando, pensei.

Acabou a sessão já era noitinha, fiquei ali pela frente da entrada principal do circo con-

versando com amigos, já tinha bastante gente esperando para entrar, para a próxima ses-

são, aparece saindo por de trás da lona do circo, vindo em direção da pipoqueira, a me-

nina da troca de olhares, ela olhou para mim e riu, eu ri também, fui até a pipoqueira e

comprei pipoca, lhes ofereci, ela aceitou, talvez por educação, ficamos ali conversando,

até que ela se despediu, dizendo que ia entrar, pois tinha que se preparar para a próxima

sessão, perguntei seu nome, ela respondeu. - Maria Luisa, com “S”! - Emendando per-

guntou ela. - E o teu? - Lhes respondendo falei. - É Dalzo, com ”L’. - Vem aqui no cir-

co amanhã a tarde. - Pediu ela. - Venho sim. - Lhes respondi, saindo dali radiante de

alegria. Na segunda feira depois da aula, voltei para conversar com a Maria Luisa co-

mo tinha prometido, voltei no outro e depois no outro, nos tornamos amigos, e namora-

dinhos, em nossos quatorze anos. Até que chegou o dia do Circo Teatro Garcia, se-

guir seu caminho em direção a outras cidades, e com ele foi junto, minha namoradinha.

Até chequei a Pensar em ir junto, não faltou convite, mais pensando bem, o que ia fazer

no circo em meus quatorze anos;


AS AVES E ANIMAIS NO TERREIRO

Os animais e aves, desde que morava no Bairro Cantagalo, sempre fizeram pare de min-

ha vida. As galinhas sempre tivemos em nosso terreiro, como também perus, patos e

marrecos, principalmente depois que mudamos para a nova casa em frente da usina, na

Av. Dr. João Rimsa, onde tinha lagoas e riachos. Animal como a Cabra, desde meu

nascimento sempre tínhamos uma, com cria e dando leite, pois tão logo findava a qua-

rentena gestativa de minha mãe, e com o retorno dela ao trabalho, nossa alimentação de

criança ficava prejudicada, onde era completada com o leite de cabra, que diziam ser o

leite de cabra, o leite que mais se aproximava, do leite materno.

Tia Lilina, que de mim cuidava desde que nasci e também de todos os meus irmãos, di-

zia que éramos saudáveis, e bonitos, graças ao leite de cabra. Um outro animal que

lembro e teve grande movimentação em nosso terreiro, foi a de um porco vermelho cria-

do de meia com tio Quedo, irmão de meu pai. O Suíno chegou para que fosse criado

em nosso quintal, filhote, bem pequeno, mas cresceu tanto, que parecia um terneiro.

O tio Quedo e meu pai, meeiro, resolveram matar o porco. Um domingo pela manhã,

chegou tio Quedo com a esposa tia Tereza, e a fila de filhos atrás, logo chegou tio Jóca,

outro irmão de meu pai, com a esposa tia Mariza, também com a fila de filhos, naquele

tempo não tinha televisão, o divertimento era fazer filho. Eram tantos primos, quase

todos da mesma idade, mais eu e meu irmão, dava um time de futebol, com dois pontei-

ros rápidos, os baixinhos, Catuta e Fedoca, fomos todos então para o campinho do pas-

tinho do Vinoca, jogar bola, era os Amorim, contra a gurizada da rua. Depois do

jogo, quando de volta para casa, o movimento em nosso quintal era grande, já tinham
matado o porco e à água para pelar o porco, fervia dentro de um latão. Com o porco

pelado com água fervendo, abriram-no pela barriga, desde o pescoço até o rabo, foi re-

tirado o miúdo do porco, o couro (pele) e o focinho, o restante carneado e separando os

perníls traseiros e dianteiros, costelas, lombo, etc..., as tripas foram levadas por tia Li-

lina e tia Tereza, até a lagoa para lavar as tripas e serem reviradas do avesso, com o pau

de virar tripas, para fazer a morcilhas, o couro com a gordura (toicinho) foi fervido para

fazer banha e torresmo.

No final da tarde de domingo, tudo acabado, a carne do porco dividida entre as três fa-

mílias, a nossa, a do tio Quedo e a do tio Jóca que matou o porco, homem bem carnicei-

ro, o tio Jóca. Etá porco para render, até a dona Chica, nossa vizinha, ganhou carne,

banha e torresmo, ela tinha que ganhar mesmo, pois volta e meia, o porco quando vivo,

estava no quintal dela, fuçando tudo. O berro do porco deve te ficado com o seu Vi-

noca, homem turrão.

A VENDA DE LANCHES

As aulas no ginásio à noite, no inicio da década de sessenta, era uma realidade na cidade

de Imbituba, principalmente para as pessoas que trabalhavam de dia, e o dia todo, mais

queriam fazer o curso ginasial. Como os alunos que estudavam a noite, em sua ma-

ioria, iam de seus empregos, diretos para as aulas, no colégio, eu e meu irmão, começa-

mos a vender lanche na hora do recreio aos alunos do período noturno do curso ginasial,

torrávamos amendoim para fazer torradinha salgada, nosso diferencial na venda da tor-
radinha era o tamanho maior da canequinha de medida, vendíamos tudo rapidamente.

Da torradinha passamos a vender outros produtos como a banana recheada, pastel de ba-

nana, feitas por mim, que também vendíamos rapidamente, pois colocávamos por cima,

depois de fritas, canela misturada ao açúcar. A puxa-puxa de melado que meu irmão

fazia, não ficava melequenta, nem vidrada, ficava sempre no ponto, só ele acertava esse

ponto da puxa-puxa, que também era vendida rapidamente, como também as orelhas de

gato, com canela misturada ao açúcar por cima, depois de fritas. Os outros garotos,

amigos e conhecidos, que também vendiam lanches, ficavam brabos, diziam que íamos

ter prejuízo vendendo, a canequinha da torradinha maior, as orelhinhas de gato e as ba-

nanas recheadas com canela misturada ao açúcar, e as puxa- puxa que vocês também

vendem, é maior que as nossas, assim não da. Na verdade eles tinham razão, já que

tudo que vendíamos, não era para ter grande lucro, o queríamos era vender tudo que le-

vávamos e rápido, já que comprávamos tudo na Cooperativa da Cerâmica, onde o custo

era menor e descontado na folha de pagamento do meu pai. O dinheiro da venda dos

produtos que vendíamos na hora do recreio dos alunos do ginásio a noite, era para irmos

ao cinema aos domingos, circos e parques de diversão quando chegavam na cidade.

Só vendíamos lanches na hora do recreio dos estudantes do ginásio, quando a grana em

nossa casa estava curta.

MEUS AVÓS E FILHOS

O total dos filhos de meus avós eram quatorze, todos nascidos na cidade de Garopaba.

O filho mais velho, tio Alcino casou com Pedrolina e tiveram treze filhos, sempre mora-
ram em areias do Macacú, em Garopaba, como o tio Zeca, este nunca quis casar, depois

de muito tempo, foi morar na cidade de Imbituba, como todos os outros irmãos.

Tia Lilina e tia Eugenia nunca quiseram casar, tia Dalila casou com o Paulo que era em-

barcado, era da Marinha Mercante e tiveram uma filha, tia Custodia casou com Antonio

pescador artesanal, tiveram cinco filhos, tio Abelardo casou com Sofia, tiveram dez fi-

lhos, tio Jóca casou com Mariza tiveram nove filhos, tio Quedo casou com Tereza, tive-

ram tantos filhos, que perdi a conta, eram uns dez, tio Luiz casou com Judite, tiveram

quatro filhos, Tio Valmo casou com Zair tiveram cinco filhos, tio Nelo casou com Olin-

da tiveram um filho, viúvo casou com Ruth tiveram dois filhos, meu pai Joaquim casou

com Benta tiveram quatro filhos, tio Osmar não conheci, só por uma foto num porta re-

trato amarelado, pendurado na parede da sala da casa de meus avós, morreu solteiro afo-

gado no cais do Porto Carvoeiro Henrique Lage-Silo Álvaro Catão, de propriedade da

Cia. Docas de Imbituba. Acho eu que, como tio Osmar trabalhava na Companhia Do-

cas, e solteiro, meus avós quando vieram de Garopaba, para morar em Imbituba, vieram

para a casa onde o filho morava na Rua 3 de Outubro, de propriedade da Companhia.

Meus avós por muitos anos moraram na Rua 3 de outubro, tinha como vizinhos do lado

esquerdo da casa seu Odócio, o vizinho do lado direito, não lembro o nome, o que lem-

bro é que ele tinha duas filhas muito bonitas, depois compraram uma casa na Av. Santa

Catarina para onde se mudaram. Na nova casa tinha como vizinhos do lado esquer-

do, seu Amâncio e família, pai do Joãozinho dos Clayton´s e da Elis que cantava muito,

o vizinho do lado direito, só lembro a fisionomia. Quando meus avós ainda vivos, a

casa deles nos sábados e domingos, vivia sempre cheia, pelos filhos e respectivos cônju-

ges e filhos. Quando um dos filhos não aparecia em um desses dias na casa dele, meu
avô Dorvalino, mandava alguém na casa daquele filho, que não tinha aparecido, para sa-

ber o que tinha acontecido, para o filho não ter aparecido. Nunca esqueci dessa filoso-

fia de família, de meus avós.

HISTORIAS DO AVÔ

Sobre meu avô, paterno, muitas histórias eram contadas, Lilina, uma de suas filhas con-

tava que, o pai ainda jovem, junto com o pai, avô dela e meu bisavô, no final do século

dezenove faziam regularmente de barco, travessia desde a ilha de Santa Catarina, Floria-

nópolis, até a localidade de Garopaba, costeando o litoral, vendendo mercadorias de to-

do tipo, enfim mascateando. Dizia tia Lilina, que seus avós paternos, parecia que mo-

ravam no bairro do Saco dos Limões em Florianópolis, segundo conversa que ela escu-

tava do pai, em proza com outras pessoas, no seu armazém na casa nos morrinhos, onde

moravam. Contava meu pai, que em meados da década de trinta do século passado,

ele fez uma viagem a cavalo, junto com o pai, meu avô, de Garopaba à Florianópolis e

vice-versa, costeando o mar por terra, passando por todos os vilarejos, para comprar

mercadorias para comercializar em seu armazém. Dizia também meu pai, que o pai

dele falava, que gostava dessas viagens a cavalo, porque podia passar por todas as loca-

lidades para conversar com os amigos e antigos compradores das mercadorias do pai de-

le, quando mascateavam juntos. Meu pai contava ainda, que meu avô, volta e meia,

reunia alguns peões e partiam como tropeiros, para comprar gado e cavalos no Planal-

to Serrano, na região de Lages e São Joaquim, eles saiam de madrugada da frente do ar-

mazém, seguiam por Paulo Lopes, Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz em direção ao
Planalto Serrano. Quando voltavam depois de muitos dias em viagem, era uma festan-

ça no terreiro da casa grande. A tia Pedrolina, esposa do tio Alcino, filho mais velho

de meu avô, contava que em uma dessas viagens ao Planalto Serrano para comprar gado

o marido contava que na volta da Serra Lageana, fizeram uma parada, das muitas, na re-

gião da Palhoça, como sempre faziam para pernoitar, descansar os animais e também os

peões. Nessa Pousada um rapaz fez uma proposta de compra de uma vaca, por quin-

hentos réis, ao peão responsável pelo rebanho, o peão disse que não, e que a vaca valia

pelo menos duas vezes mais, o rapaz insistiu tanto que o peão disse que ia falar da pro-

posta dele com o patrão, seu Dorvalino. O Meu avô perguntou ao peão, quem tinha

feito a proposta de quinhentos réis pela vaca, o peão deu o nome e apontou para o rapaz,

meu avô de longe olhou para o rapaz, mandou vender a vaca, conforme a proposta que

ele tinha feito. Depois vieram a saber que o rapaz era um filho dele fora do casamen-

to, das muitas viagens e paradas na Palhoça, sabe-se lá quantos filhos, meu avo deixou

por ai, eram tantas as paradas. A tia Lilina contava, que em uma dessas viagens do

pai, além de gado e cavalos ele comprou uma carga de feijão para vender em seu arma-

zém, era uma carga grande, estocou toda carga em sacos, no paiol da casa grande, espe-

rando a entre safra para vender o feijão por um preço melhor. Ele esperou tanto pa-

ra colocar o feijão a venda, que quando resolveu vender, estava apodrecendo, perdendo

quase toda carga do feijão, e consequentemente perdendo também muito dinheiro.

O prejuízo foi tanto, a decepção maior ainda, que decidiu não mais comercializar nada.

Com o tempo fechou o armazém, deixou Garopaba com a família vindo morar em Imbi-

tuba, ficando a casa grande nos morrinhos, aos cuidados de um filho solteirão, tio Zeca,

e de uma filha de um casamento anterior, tia Inocência, com seu marido e duas filhas,
cuidando do seu patrimônio.

A REVOLUÇAO DE “64”

No mês de abril de 1964, eu, meus irmãos e alguns primos, tivemos que deixar a cidade

de Imbituba as pressas, para passar um tempo na casa de nossos avós em Garopaba, co-

locamos roupas nas malas e sacolas, para ficar quanto tempo não sabíamos.

Com as malas prontas e cheias de roupas, saímos em direção a frente do portão da Cerâ-

mica, parada do “pica fumo”, nome carinhoso do ônibus do seu Pióca, que fazia a linha

de Imbituba a Garopaba, e vice versa. Nessa viagem, foram vários primos, filhos do

tio Joca, tio Quedo, tio Abelardo, tio Luíz e tio Valmo, nos acompanharam também a tia

Lilina, tia Dalila e nossos avós paternos. Ao certo não sabíamos muito bem o que es-

tava acontecendo, o que sabia é o que meu pai tinha nos contado, que deveríamos ir para

a casa do “dindinho”, em Garopaba, porque a cidade de Imbituba poderia ser invadida

pelos revolucionários vindos do sul. Era a revolução de “sessenta e quatro” e também

o começo da ditadura militar, embarcamos no velho ônibus, nos acomodamos nos ban-

cos ainda não ocupados, lotamos, agora era só esperar a hora da partida, para Garopaba.

O ônibus do seu Pióca, fazia duas viagens por dia, uma pela manhã, de Garopaba para

Imbituba, e outra de retorno a tarde, as dezesseis horas, de Imbituba para Garopaba.

A hora chegava, a ansiedade também, por já estarmos sentados a bastante tempo a espe-

ra do motorista, seu Pióca, ele chega, entra pela porta do ônibus, para no ultimo degrau

da escada, fica olhando para o interior do veiculo lotado, como se procurasse alguém, e

procurava sim, procurava seu filho o cobrador, que estava sentado no fundo do ônibus,
na cozinha conversando animadamente. Seu Pióca, fez um gesto com a cabeça e foi

sentando-se ao volante, enquanto seu filho ia para a frente, pegou o ferro da manivela,

ao lado do pai, desceu do ônibus para virar o motor, girou o motor uma vez, duas, o mo-

tor pegou, ele subiu, o motorista fechou a porta, então partimos. O ônibus desceu pe-

la Vila Operária, em direção a “Cancha” Av. Duque de Caxias, seguiu pela Rua da Praia

passou em frente do Barracão da Baleia, subiu a Ribanceira em direção a Nova Brasília,

onde embarcaram e desembarcaram passageiros, agora mais uma parada em Araçatuba,

na frente da Igreja, que serviu para descontrair os passageiros, alguns saltaram para to-

mar um café e fumar um cigarrinho, depois de tanta poeira da estrada de chão batido.

Todos embarcados, seguimos em frente, na direção do nosso destino por mais outro tan-

to de estrada empoeirada. Nova parada, agora em frente a casa do seu Pióca, ele des-

liga o motor, desce do ônibus, o filho na frente o pai atrás, entram na casa, ficam por al-

guns minutos, eles foram tomar um café com mistura, falou um dos passageiros, para

que todos escutassem, que nada foram tirar água do joelho, dizia outro, as insinuações

eram varias. No retorno do pai e do filho ao ônibus, todo o ritual da partida, seu Pióca

antes de sentar ao volante, olha para o interior do ônibus, como se contasse os passagei-

ros, o filho com a manivela na mão, sai para fazer o motor funcionar, gira uma, duas ve-

zes, o motor pega, o motorista coloca o veiculo em movimento, e diz, vamos em frente.

Na Palhocinha, já perto de Garopaba, o ônibus para, saltam bastante passageiros, agora

nova parada só em Garopaba, é o que esperávamos. Enfim foi assim, tia Lilina solici-

citou ao motorista que parasse na frente da casa do tio Biléca, descemos todos do ônibus

com nossas bagagem, o ônibus ficou quase vazio. Ao lado da casa que ficava na beira

da estrada, parado embaixo dos eucaliptos estavam dois carros de boi e ao lado deles tio
Zeca e um dos primos, o Osmar filho do tio Alcino e tia Pedrolina, que nos levariam até

nosso destino. Tia Olina esposa do tio Biléca com a mesa posta, fez todos nós entrar

para tomar um café reforçado, pois tínhamos mais uma hora de carro de boi pela praia,

até a casa grande de nossos avós, nos Morrinhos, do Siriú.

A CASA DE MEUS AVÓS

Depois de tomarmos um bom café na casa de tio Biléca e tia Olina, nos despedimos e

embarcando nos carros de boi todos os que vieram de Imbituba, com exceção dos filhos

de tio Abelardo e tia Sofia, que ficaram no centro da cidade de Garopaba, em uma casa

de uma prima ou irmã da mãe deles, não sei ao certo o grau de parentesco.

Seguindo pela praia os carros de boi cantavam com suas rodas afundadas na areia fofa,

era noite escura, quando chegamos na casa de nossos avos, onde meu pai e os demais ir-

mãos nasceram, pela primeira vez nos meus treze anos estava conhecendo a famosa casa

grande, a beira da estrada, quase no costão da praia do Siriú.

A casa era realmente bem grande para a época, era tipo os casarões dos coronéis, senho-

res donos de engenho e de escravos, no tempo do império, suas paredes grossas, foram

construídas com pedras natural, barro, argamassa misturada em óleo de baleia.

A casa e as terras eram administradas pelo tio Zeca, que lidava com o gado e à agricul-

tura, junto com tio Hermínio, marido de tia Zezé, que administrava a casa com ajuda das

duas filhas, Bilica e Gloria. Tia Zezé e dois outros irmãos, Anselmo e Clemente eram

filhos de um casamento anterior de meu avô. A casa ficava virada, para a estrada ge-

ral dos morrinhos, de chão batido e empoeirada, era caiada de branco, com as aberturas,
janelas e portas, quase na madeira pintada num azul, já gasto pelo tempo, na frente a ca-

sa, tinha três portas de duas folhas, na vertical, que no passado certamente serviram co-

mo entrada dos fregueses, para o sortido armazém, mantido por meu avô durante anos.

No seu lado esquerdo a casa tinha três janelões e uma porta que dava para o terreiro des-

cendo por uma escada de dois lados, no seu lado direito a casa tinha uma porta e quatro

janelões, onde eram os quartos, todos virados para o mar, com uma vista maravilhosa de

cartão postal, de parte da praia o Siriú e do costão que dividia a praia do Siriú da longa

praia de Garopaba, a do centro. Nos fundos da casa ficava a cozinha com seu enorme

fogão a lenha, que era mantido aceso praticamente o dia todo e parte da noite, onde um

bule cheio de café estava sempre bem quentinho, em cima da chapa quente de ferro com

varias bocas, onde eram colocadas as panelas para cozinhar, na cozinha ficava a dispen-

sa onde eram guardados os mantimentos, usados no dia a dia da casa. Uma porta de

duas folhas na horizontal, quando a porta de baixo fechada e a folha de cima aberta ser-

via como janela, tipos de porta essa muito usadas naquele época.

Essa porta de duas folhas na horizontal, na cozinha, dava para o quintal atrás da casa, e

ao terreiro do lado esquerdo da casa onde eram criadas as aves domesticas e ficava tam-

bém um porão onde eram guardadas as ferramentas usadas na lavoura, os arados, carros

de boi, enxadas e pás, etc...., no porão também eram guardados os produtos colhidos na

lavoura e a ração para os animais. Na noite do dia em que chegamos, praticamente

nada vimos, aja visto a escuridão, pois naquela época não tinha luz elétrica, era na base

das pombocas, lamparinas a querosene, depois do jantar cansados da viagem o melhor

negócio a fazer era dormir. Eu pelo menos consegui dormir, dormi que nem um an-

jo, nem mosquito senti, naquela noite.


NA CASA DO ENGENHO

Num dia do mês de abril, de nossa temporada “revolucionísta” em Garopaba, na casa

de tio Alcino e tia Pedrolina, nos morrinhos, o arado na lavoura, revirava a terra para re-

tirar a mandioca para à farinhagem. Enquanto na cozinha da casa, tia Pedrolina, Ma-

ria sua Filha mais velha e tia Lilina, preparavam o almoço do pessoal, que estavam na

lida, na lavoura, no engenho e na moenda da mandioca. As meninas, não só as filhas

de nossos tios, como a Antonia e a Leonilda, mais também as que vieram de Imbituba,

como as minhas irmãs Eliane e Evonete, e as primas como a Elizete, a Glorinha, a Tere-

zinha e outras sob os olhares de tia Dalila, debulhavam as espigas de milho, no interior

do paiol ao lado da casa, onde tinha uma moenda de cana de açúcar, com os cochos re-

pletos de melado, para fazer o açúcar grosso. Tia Lilina sempre alegre, tia Pedrolina

mais ainda, se davam tão bem que pareciam irmãs e não cunhadas, já tia Dalila uma sar-

gentona, sempre com ar de durona, mandona, de vez em quando saia do paiol e ia até a

cozinha, olhar a irmã e a cunhada tagarelando e rindo as gargalhadas, fazendo o almoço.

Com o almoço quase pronto, ao ponto de ser levado para a mesa, tia Lilina com minhas

irmãs e a Antonia pela mão, foram até o engenho de farinha, chamar todos que estavam

na lida, para almoçar. O almoço era galinha criada no terreiro, ensopada, arroz, ma-

carrão e pirão de feijão. Os adultos que não eram poucos foram sentando nas cadeiras

ao redor da mesa, outros se espalharam sentando em bancos com o prato no colo, as cri-

anças como eu, sentamos numa esteira esticada no chão do rancho, com seu prato de

barro avermelhado, tia Lilina colocava o pirão de feijão, a Maria colocava o arroz e o
macarrão, tia Pedrolina colocava o conduto, um pedaço de galinha ensopada e o molho,

teve gente que escondia, o naco de galinha no meio do pirão, para ganhar outro pedaço.

O Tião e o Dorval não eram fácil, pareciam estar sempre com fome.

Depois do almoço, não tinha descanso não, a volta a lida no engenho e na roça foi até a

noite, quando então de carro de boi, com tio Zeca na boleia, nos levou de volta a casa

grande.

A VOLTA PRA CASA

A casa grande que, quando chegamos já noite escura, muito escura, como ainda não tin-

ha luz elétrica e a iluminação era com lamparinas, as famosas pombocas, que queimava

um pavio de tecido torcido, feito corda, embebido na querosene dentro da lamparina e

os quartos que de dia já eram escuros a noite nem com as lamparinas iluminavam bem,

era quase um breu de escuro. Mas quando amanhecia, e na janela olhando o oceano

vendo os navios mercantes e até navios de guerra, passando no horizonte, tia Lilina fala-

va que o perigo era o mesmo, estando aqui em Garopaba ou em Imbituba apesar do por-

to, se um navio de guerra desse um tiro de canhão, mesmo atirando de alto mar, poderia

atingir nossa casa aqui na praia do Siriú. Os nossos dias eram passados, entre a casa

grande e a casa do engenho de nossos tios, que já íamos e voltávamos a pé e sozinhos,

caminhando pela estrada de chão batido e empoeirada ou pelo caminho entre as dunas,

dos combros de areia. A hora de voltarmos para nossa casa em Imbituba chegava e a

saudade começava a fazer cosquinha, abrindo um vazio no peito. Foi a primeira e ul-
tima vez que estive na casa do engenho de meus tios Alcino e Pedrolina, nas areias do

Macacú e também na casa grande de meus avós, na beira da praia do Siriú, ao lado do

costão, que dividia a praia do Siriú, da praia grande do centro de Garopaba.

Na volta para Imbituba no mesmo ônibus do seu Pióca, a mesma estrada, as mesmas pa-

radas. As coisas na cidade, quando desembarcamos estavam as mesmas, tudo estava

no mesmo lugar, igual como quando saímos, não teve invasão de revolucionários, a vida

continuava a mesma, até os brinquedos que escondemos embaixo da cama para que os

revolucionários não os encontrassem, estavam no mesmo lugar. Assim voltamos a fa-

zer parte novamente da cidade, só que agora o País não tinha uma democracia plena, e

sim uma ditadura, ferrenha e burra, com gente inocente presa, que diziam fazer parte do

“grupo dos onze”, que na verdade nunca ficamos sabendo, se realmente aquelas pessoas

faziam parte de tal grupo.

UMA FAMILIA

A casa dos Milosa, para mim e outros amigos, com certeza, era a extensão do campinho

do pastinho do seu Vinoca e também de minha casa. Tantas eram as horas que passa-

vamos no terreno de sua casa, horas brincando, outras embaixo das laranjeiras chupando

laranjas, apanhadas diretamente do pé ou trepados nas goiabeiras comendo goiabas, até

no bambuzal cortando bambus, para fazer arapucas, para pegar marrecas d’agua, mergu-

lhões e piriás de anzol no banhado, e principalmente pescar de caniço nas águas da La-

goa da Bomba, nos fundos do terreno da casa deles. Teve um ano que a tristeza aba-

teu-se sobre a família dos Milosa, seu filho mais velho, o Jair, amigão de todos os garo-
tos que jogavam bola no campinho do pastinho do Vinoca, foi mordido por uma cobra

jararaca, ao passar pelo caminho no meio do mato ao lado da cerca do quintal da casa do

seu Bica, quando levava uma trouxa de roupa suja para sua mãe dona Geralda, lavar nas

águas dos riachos das lavadeiras. Não vi estava na escola, mas disseram que foi uma

correria, levaram o Jair, as pressas para o hospital, para que aplicassem, uma vacina an-

ti ofídica. Como a vacina não fazia o efeito necessário, ele passou por maus momen-

tos, até que teve alta do hospital, para recuperar-se em casa. Lembro que nós os ami-

gos, fazíamos rodizio no quarto da casa dele, sentados na beira da cama.

Enquanto uns estavam na escola, outros lhes faziam-lhes companhia, só para não o dei-

xar sozinho e entediado. Jogávamos baralho, levávamos revistas de futebol e gibis,

era tempo de um álbum de figurinhas de futebol, seu Milosa, comprava pacotinhos das

figurinhas quase todos os dias, enchi um álbum, só com as figurinhas duplas do Jair.

Passou trabalho o mais velho dos filhos dos Milosa com promessa e tudo curou-se, mais

não come o peixe papa-terra até hoje, não importa sobra mais papa-terra, para nos, que

podemos come-la, fresquinha frita é muito boa.

PREPARAÇÂO EUCARISTICA

Como vínhamos de família tradicionalmente Católica Cristã e batizados que fomos, na

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, eu com onze e meu irmão com dez anos,

começamos à fazer os preparativos para a primeira eucaristia. Apesar de meu irmão

ser praticamente, da minha altura, embora eu fosse um ano mais velho, fizemos todas as
aulas do curso de catequese, com as catequistas, dona Orentina e dona Etelvina, da Con-

gregação, Filhas de Maria. As primeiras aulas de catequese começaram a ser minis-

tradas, na Casa Mariana, na Rua Irineu Bornhausen, depois essas aulas passaram a ser

ministrada, nos primeiros bancos da Igreja Matriz. Na catequese, além das orienta-

ções para a primeira eucaristia, tínhamos que decorar e aprender varias orações, como já

sabíamos algumas de cor, ensinadas por tia Lilina, ficou mais fácil aprendermos outras

orações mais complicadas, como a Salve Rainha. Em uma dessas idas para as aulas

de catequese, que eu e o Paulo, amigo de infância e nosso vizinho, tivemos uma dessa-

vença, ficamos por muitos anos sem nos falar, tudo porque indo para a catequese juntos

com outras crianças amigas da mesma rua, num dia de chuva e com as ruas empossadas

d’ água, em nossas brincadeiras, ele joga uma pedra dentro da poça d’ água vindo a mo-

lhar-me e a sujar minha roupa com água suja de barro, corri atrás dele, brigamos, enfim

ficamos de mau, nem nossos pais conseguiram fazer, nos falarmos.

Os trajes para nossa primeira comunhão tivemos que comprar em Laguna, meus pais, eu

e meu irmão embarcamos num vagão de passageiros, na estação ferroviária perto da Ca-

pela de São Pedro, na Zona Portuária e partimos para a cidade de Laguna, na época de

comércio muito mais forte do que, o de Imbituba. Esses vagões de passageiros eram

muito limpos e bancos confortáveis, paravam em todas as estações ferroviárias do traje-

to, desde a primeira na Vila Nova, Roça Grande, Barbacena e finalmente, na estação do

centro da cidade de Laguna, perto do Mercado Publico, a beira do cais da lagoa, chama-

do de, Mar de Dentro. O comercio de sapatos, roupas e outros produto s em Laguna,

era forte e concorrido, circulamos por diversas ruas e lojas, compramos tudo que preci-

sávamos, dois paletós, duas calças curta, na cor preta, duas camisas branca de mangas
comprida, duas gravatas borboletas, na cor preta, dois pares de sapato preto, dois pares

de meias branca, duas velas grandes e fina, dois livrinhos de catecismos e dois rosários,

enfim compramos tudo que era necessário para a cerimonia da nossa Primeira Comum-

hão, menos as fitas azul, que já tinham sido compradas no comercio de Imbituba.

Depois de tudo comprado para a nossa primeira comunhão, partimos para comprar para

meus pais, e minhas irmãs e tia Lilina que tinham ficado em casa, o que eles necessita-

vam para participarem, de nossa Primeira Comunhão, e da tradicional festa do dia oito

de dezembro, dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição. Tudo comprado, de volta

estação para pegar o trem, para voltarmos para casa, as mesmas paradas nas estações os

mesmos vendedores ambulantes, que ofereciam variadas guloseimas, como os cartuchos

com amendoim doce, maçãs do amor, cocadas branca, pipoca, bolinhos em forminha de

papel, que meus pais iam comprando, conforme o gosto de cada uma de minhas irmãs e

tia Lilina, que tinham ficado em casa. O difícil foi depois de ter acordado cedo para

a viagem à cidade de Laguna, e ter caminhado por todas aquelas ruas, era chegar na Es-

tação Ferroviária em Imbituba, e ter de caminhar desde a Estação na Zona Portuária, até

nossa casa, em frente a Usina Termoelétrica.

COMO CATOLICO

Na manhã do dia 08 de dezembro de 1.961, dia da nossa Primeira Comunhão, e dia de

Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade de Imbituba. Levantamos cedo,

pois tínhamos que nos preparar, para chegar com bastante antecedência na igreja, para a
missa festiva de primeira comunhão, às dez horas, banho tomado, tomamos nosso café,

nos vestimos, cabelos penteados, parecíamos dois noivos à caminho do altar.

A pé desde nossa casa, fomos em direção da igreja, nos encaminhamos para o fundo da

Igreja Matriz para um rápido ensaio, de todos os procedimentos do dia.

A hora chegava, a igreja estava lotada, o órgão toca uma musica, o coral começa a can-

tar, os coroinhas saem da sacristia acompanhados pelo Padre Itamar, em direção ao altar

em sua vestimenta branca, com detalhes em amarelo, os coroinhas tomam seus lugares

dois degraus abaixo, na frente do padre. O órgão agora toca uma outra musica, o co-

ral canta alto, desde o fundo da igreja entramos pelo corredor central caminhando em fi-

la dupla, meninos no lado direito, meninas do lado esquerdo, em direção aos primeiros

bancos, para tomar nossos lugares, bem em frente ao altar. Depois de todos sentados

em seus lugares, a missa tem seu inicio, no seu sermão, o celebrante da missa fala sobre

o valor eucarístico, diretamente a nós que pela primeira vez faríamos a comunhão.

Na hora da entrega da hóstia, era de um respeito que trago até hoje, recebi do Padre Ita-

mar, em minha boca, a hóstia, que representa o Corpo de Cristo, com um certo nervosis-

mo, de volta ao meu lugar no banco, fui me acalmando, fiquei tão tranguilo, que na ses-

são de fotos para recordação, ria toa, de todo o nervosismo que tive na hora da comum-

hão. Eu e o Evandro, meu irmão, nos posicionamos lado a lado, para o click, da má-

quina fotográfica, do fotógrafo, o seu Carlito, em nosso terno preto de calça curta, cami-

sa branca, gravata borboleta preta, meias branca, eu de sapato marrom escuro, e meu ir-

mão de sapato preto, na mão direita uma vela longa e fina com um laço de fita azul, um

livrinho de catecismo aberto, com um rosário pendurado passado no meio. Tenho até

hoje essa foto, que de vez em quando, passo os olhos nela, e sempre me vem as boas re-
cordações daquele dia, que infelizmente a maioria de todos nós, só vamos dando o devi-

do valor, a medida que o tempo vai passando.

A VACA HOLANDESA

Um animal que criamos em nosso quintal e que muito lembro, quando vejo um seme-

lhante, foi uma vaca holandesa. Tio Jóca, um dos treze irmãos de meu pai, comprou

uma vaca holandesa, em consignação na sua folha de pagamento, na Companhia Docas

de Imbituba, empresa em que ele trabalhava. Essa vaca e muitas outras, chegaram

em navio através do Porto de Imbituba, importadas da Holanda. As razões e os mo-

tivos desses animais terem chegado ao Porto da cidade de Imbituba, não sei.

Não sei se foram confiscadas pela Vigilância Sanitária Portuária, ou se foram compra-

das para a Granja Henrique Lage e oferecidas aos funcionários que quisessem comprar

algum desses animais, já que nessa época, a Granja não mais criava gado.

Como morávamos perto de boas pastagens, onde poderíamos criar essa vaca no pasto,

tio Jóca, pediu a meu pai, que ficássemos criando essa vaca, até que ele resolvesse o que

fazer, se vende-la ou carne-a-la. O que ninguém sabia, é que a vaca estava prenha e

assim ficamos, cuidando dela por mais tempo. Um dia depois do almoço fui buscar

a vaca que estava pastando, vinha eu na frente, trazendo a vaca presa, pela corda amar-

rada no pescoço, de repente ouvi gritos, olhando para onde vinha os gritos, vi meu pai

na janela de nossa casa, fazendo gestos, para que eu olhasse para trás.

Olhando para trás, vi a vaca holandesa no trote, correndo atrás de mim, soltei a corda e

corri, em direção de um poste que tinha no meio do pasto e parei atrás dele, a vaca cor-
rendo parou na frente do poste e ali parada ficou. O Meu pai que já tinha saído da já-

nela, vindo em minha direção, pergunta-me se estava tudo bem, disse-lhes que sim, ele

pega a corda, enrola até próximo do pescoço da vaca e puxando, leva até nosso quintal,

onde um coxo com ração a esperava. O susto que levei, foi grande, depois contando

dava até para rir, da corrida atrás de mim da vaca malhada, em preto e branco, Holande-

sa.

UMA VISITA DE DOMINGO

Com meus pais e meus irmãos, em um domingo pela manhã fomos até a casa de tio An-

tonio e de tia Custódia, irmã de meu pai, para passar o dia. A pé caminhando, saímos

cedo de casa, passamos por toda extensão da Vila Operaria e ao lado da Igreja Matiz on-

de pela parte de cima da Rua Dr. Álvaro Catão, chegamos à Zona Portuária, passamos

em frente a Estação de Trens de Passageiros, descemos a ladeira da rua, que começava

em frente da Capela de São Pedro, em direção da praia de pescadores.

A casa de meus tios ficava nos fundos do seu rancho de pesca, onde ele guardava as lan-

chás, e os apetrechos de pesca, bem em frente ao cais e silo do porto. Ao chegarmos

em frente ao rancho, fomos entrando pela enorme porta, o meu pai na frente, logo atrás

minha mãe e minhas irmãs, eu e meu irmão nem entramos, da frente do rancho mesmo,

saímos correndo em direção à praia, na beira do mar paramos, ali parado, junto com o

meu irmão, eu contemplava o cais do “ Porto Henrique Lage - Silo Álvaro Catão ”, tão

perto, e enorme, chamava mais atenção, pela cor escura da imensa “caixa de carvão” co-

mo era chamada. Nunca soube por que algumas décadas depois a caixa de carvão do
porto pegou fogo, queimou tão rápido o Monumento Histórico da cidade, que deu o que

pensar, pois eram tantos os boatos . Nós ali na praia brincando a beira do mar, chega

meu pai com minhas irmãs, o Adão e a Eva, filhos de tia Custodia e tio Antônio.

Nós todos juntos, começamos a caminhar pela praia, olhando as lanchas que chegavam

da pescaria em alto mar, até que a lancha de tio Antônio também chegasse.

Até que o Adão, filho de “Lobo do Mar” viu ao longe no horizonte, na virada do molhe

do cais do Porto, a lancha do pai, e gritou. - Lá vem a nossa lancha!

Aproximando-se da praia, já com o motor desligado, a lancha aproximava-se da areia

devagar, e o Adão ia colocando as toras de madeira embaixo da quilha, para que a lan-

cha deslizasse melhor até a praia. A lancha foi empurrada até onde à água das ondas

da maré não chegavam. A lancha já parada e calçada com cavaletes dos dois lados,

os pescadores começaram a tirar os peixes do fundo da lancha e colocar em balaios, tin-

ha vários tipos de peixe, cações, arraias, corvinas, violas e outros.

Tio Antônio que conversava com meu pai, foi até a lancha, tirou do fundo dela alguns

peixes para levar para casa, deu algumas instruções aos ajudantes de pescaria, e saímos

todos caminhando em direção do rancho e casa de meus tios.

Nós crianças estávamos em frente ao rancho brincando, chega tia Custodia e minha mãe

chamando para que fossemos almoçar. A tarde passou, cansados da volta a pé para

casa foi só tomar um bom banho, deitar para dormir e sonhar com os anjinhos, como di-

zia tia Lilina, mais não antes de rezar, pelo menos o “Pai Nosso Pequeninho”.

Tempo bom que jamais voltará, a não ser em minhas lembranças, como agora estou re-

latando.
BESTEIRA DE ADOLECENTE

O Paulo da Chica, nosso vizinho e amigo desde criança, mais que desde as aulas de ca-

tequese em preparação para a primeira comunhão, não nos falávamos em razão de ter-

me sujado com água de barro, depois de ter jogado uma pedra dentro de uma poça d’

água da estrada, em um dia de chuva, a caminho da Igreja Matriz.

Mesmo nossos pais terem tentado fazer nós ficarmos de bem e voltar a nos falar, conti-

nuávamos de mau e sem nos falar, mesmo fazendo a primeira comunhão juntos naque-

le ano. Jogávamos bola, tínhamos um time de futebol, conversávamos nas rodas de

amigos, saíamos junto com outros amigos, mais diretamente não nos falávamos.

Uma noite, na casa do seu Sadi, pai do Paulo, era um reboliço só, a choradeira e os gri-

tos da dona Chica era entristecedor. O Paulo ainda menor de idade, tinha sido balea-

do, quando se encontrava no forro, dentro das Lojas Irmãos Candemil, junto com um fi-

lho, de um dos donos, furtando, foi o que disseram, quando um policial o baleou.

Ele depois de ter sido baleado foi levado ao hospital São Camilo, onde não se atreveram

a retirar a bala pois tinha se alojado em um ponto critico da coluna cervical.

Levaram-no para São Paulo, também não deram jeito, voltou paraplégico, internado no

Hospital São Camilo ficou por vários anos, depois foi para casa, tentar ter uma vida tra-

talhando, trabalha hoje na Prefeitura Municipal, todos o conhecem em Imbituba.

Só para deixar registrado, eu já adulto, e meu pai internado no Hospital São Camilo

tentando amenizar sua doença incurável “um câncer”, a pedido de meu pai, fui até o

quarto do Paulinho, todos o tratavam assim, para mim Paulo, foi onde então conversa-

mos pela primeira vez diretamente, depois de muitos anos. Ao entrar no seu quarto,
quando lhes dirigi a palavra, olhando em seus olhos, as lagrimas vieram aos seus olhos e

aos meus também, voltamos a nos falar, para minha alegria e a de meu pai também, que

depois de algum tempo internado, veio a falecer, no mês de setembro do ano de1.972.

Algumas vezes antes de conversar novamente com o Paulo, cheguei a pensar, e as vezes

ainda penso que, se naquela época, não o tivéssemos deixado se afastar tanto da nossa

turma, a de infância, talvez o que aconteceu com ele, não tivesse acontecido.

Mais quem vai saber, o que o futuro reserva a cada um de nós.

NOSSA PRAIA

A nossa praia, desde que me entendo por gente e que nela tomava banho, jogava futebol

pescava de tarrafa, de espinhel ou de coca pegando siri, é a mesma desde o costão perto

da ilha Sant’Ana de Dentro, ao largo, até a Vila de Itapirubá, aos pés do costão que divi-

di a praia do Gí pertencente a Laguna, da praia de Imbituba.

A nossa praia daquela época de garoto, embora fosse uma só em toda a sua extensão, só

interrompida as vezes pelas águas da barra quando aberta, tínhamos varias praias sepa-

radas, por limites imaginários. A “praia do canto” começava no costão em frente da

Ilha Sant’ Ana de dentro, até a frente do Imbituba Hotel, desse ponto até a Pedra Ferro

era a ”praia do centro”, a “praia do Araçá” que normalmente frequentávamos para tomar

banho, jogar futebol ou pescar, ia da Pedra Ferro até o fundo das casas do Araçá, já dos

fundos dessas casas até a boca da barra, era chamada de “praia da barra”, depois da bar-

ra vinha a “praia da Vila”, “praia do Campo da Aviação”, “praia da Guaiuba”, “praia da

Roça Grande”, e a “praia de Itapirubá” . A Nossa praia, de varias praias de limites ima-
ginários do tempo de criança, hoje conhecida e reconhecida internacionalmente, em to-

da à sua extensão por “ Praia da Vila ”, desde o costão na praia do canto, até a praia de

Itapirubá no costão ao pé da vila do mesmo nome. Na hoje “praia da Vila” ou praia

do canto como por nós era conhecida, onde por alguns anos em suas reconhecidas ondas

até apouco tempo foram realizadas algumas etapas do campeonato mundial de surf.

Essa nossa praia ou “nossas praias” são de uma beleza e simpatia de ficar emocionado,

quando em suas areias caminho.

UMA PECARIA SINISTRA

Em uma pescaria de tarrafa com meu pai na Lagoa da Barra, à noite, foi misteriosa.

O verão já tinha ido embora, já estava frio, eu com um “gongá” no ombro na beira da la-

goa, acompanhava as tarrafadas, de meu pai. A cada tarrafada dada sempre vinha al-

guns camarões e tainhotas, nesse dia era mais camarão, depois de cada tarrafada ele vin-

ha até mim, com a tarrafa para tirar o que tinha pescado e colocar no gongá.

Meu pai tarrafeando chegou na parte mais funda da lagoa e também a mais escura, ao pé

do morro, ali tinha muita pedra e galhos de árvore caída. Ele tarrafeava bem, o pano

da tarrafa abria todo, num círculo quase perfeito como uma saia de baiana, na ala das es-

colas de samba, os peixes e os camarões, nessa noite, nem se batiam no pano da tarrafa.

Ele tarrafeava e vinha até mim, sempre com alguma coisa pescada, para tirar da tarrafa,

até que numa vinda dessas na beira da lagoa, veio só com a fieira esticada na mão, então

perguntei. - O que houve, quer um cigarro? - não! - Respondeu ele, e completando min-

ha pergunta respondeu. - É que a tarrafa ficou presa em alguma coisa no fundo, não sei
se é pedra ou se é em algum galho de arvore! - Falando a meu pai sugeri, amarrar a fiei-

ra numa pedra, com um chumaço de pirís, para servir como bóia e voltarmos no outro

dia cedinho, para então mergulhar e tentar tirar a tarrafa com segurança.

Ele concordando, falou. - É vamos fazer isso! Vou até lá dar mais uma tentada e ver se

consigo solta-la. Ele então foi até onde a tarrafa tinha ficado presa, a noite estava tão

escura que só via o vulto do meu pai, na água. Até que ele veio caminhando até onde

eu estava e com a tarrafa arrastando na água, falou. - Dalzo! Viste o cara que mergulhou

para tirar a tarrafa? - Eu nãopai! Pois não tinha mais ninguém pescando, além de nós! –

Lhes respondi. Ele retrucando falou. - Rapaz! O cara mergulhou na minha frente e

voltou a tona, com a tarrafa solta! Então agradeci, ele saiu caminhando na água como se

nada, fosse nada e desapareceu. Meu pai recolheu a tarrafa, ainda com alguns cama-

rões na malha e saímos rápido da lagoa em direção da praia, pela praia fomos direto pa-

ra casa, nem paramos para dar umas tarrafadas nas águas do mar, como meu pai sempre

fazia, das outras vezes, quando saiamos da Lagoa da Barra. Mistério.

IRMÃO SACANA

Na mesma Lagoa da Barra, eu não estava, quem me contou essa, foi meu irmão que, foi

pescar junto com meu pai e o tio Valmo irmão dele, de tarrafa na lagoa, na boca da noi-

te. Pescavam no canal a beira da lagoa, pois a correnteza era forte, já que a barra es-

tava aberta. Meu pai gozador, de vez em quando passava o pé por baixo d’agua, nos

pirís, de maneira que os pirís, surrassem na perna do irmão. O Tio Valmo muito me-
droso, reclamava do irmão falando. - Quinca, para com isso! - Quinca era o apelido do

meu pai. - Para de rossar os pirís, na minha perna! - O meu pai se fazendo de bobo per-

guntou ao irmão. - O que foi mesmo Valmo? - E já respondendo, falou que não estava

fazendo nada. - Estás sim! E não foi só uma vez, foi varias! Vou lá com o Vando fumar

um cigarrinho. – Falou o tio Valmo irritado. Na beira da lagoa com meu irmão, o tio

acendeu um cigarro, deu uma tragada e começou a conversar com meu irmão, falando

o que nosso pai estava fazendo. Meu irmão muito sacana e sabedor do medo do tio,

começou a contar uma historia sobre o que vinha acontecendo na lagoa.

Contou meu irmão que tinham visto uma cobra enorme passando entre os pirís para rou-

bar peixes, do balaio dos pescadores na beira da lagoa. Dizia meu irmão que tio Val-

mo, escutava serio a conversa, não dava uma palavra. Acabava de fumar o cigarro quan-

do meu pai andando por dentro d’agua, vinha até eles para tirar os camarões da tarrafa

e colocar no gongá, que meu irmão carregava e já aproveitar para fumar um cigarrinho

também. Conversa vai, conversa vem, tio Valmo falou para meu pai, que não ia pescar

mais na lagoa não, meu pai perguntou porque, já que estamos pegando bastante cama-

rão, só vou tarraf ear na praia, meu pai respondeu, então tá vamos para a praia tarrafear,

pegar umas papa terra. O tio Valmo andando na frente em direção a praia, meu pai e

meu irmão mais atrás conversando, meu pai exclama, que bicho tinha mordido o irmão,

para ele não querer mais pescar na Lagoa da Barra. Meu irmão rapidamente respon-

deu, não sei não pai. Bem sacana os dois, tanto meu irmão, quanto nosso pai, nunca

mais tio Valmo, que eu saiba, não mais voltou a pescar a noite na Lagoa da Barra, para

uns, ou na Barra da Lagoa, para outros. Medroso o homem, hein.


JOVEM GUARDA

No palco da Radio Difusora de Imbituba, nos sábados a tarde aconteciam bons shows de

calouros, apesentados pelo locutor Nilsomar Tavares ao vivo para toda a região da cida-

de Imbituba. O conjunto musical do Maestro Jú, com seu pistão, quando abria o show

era um delírio dos jovens, que lotavam o pequeno auditório da radio.

Os calouros eram apresentados pelo animador Chacrimar Tavares e cantavam acompan-

dos pelo conjunto musical do Jú, e só eram buzinados pelo apresentador, quando a pla-

teia, reagia com vaias, caso contrario, iam até o final da musica cantando.

O final de cada show aos sábados era encerrado com o conjunto do maestro Jú e seu pis-

Tão, e com a cantora da cidade, Tania Pacheco, que de caloura passou a ser, a cantora

oficial do conjunto musical, chegando a participar de shows de calouros nas cidades de

Curitiba e São Paulo. Tania Pacheco era uma cantora, a lá Wanderleia, com suas rou-

pas sex e insinuantes, expondo seu jovem corpo em mini saias, botas de cano longo, co-

locando suas bonitas pernas a mostra. Os rapazes como eu, ficávamos babando, pela

nossa cantora, maior, da época da jovem guarda, moradora de uma das casas da Vila o-

perária, mesma rua em que eu morava. Um dia nossa cantora partiu, não sei se para

casar ou para estudar, nunca mais vi nossa cantora dos “jovens guardas” de Imbituba.

Tenho saudade quando lembro dos shows, no auditório da Radio Difusora e também no

da casa Mariana, onde os shows de auditório passaram a ser apresentados, pois o da Ra-

dio tinha ficado pequeno, para tantos jovens, que iam participar desses shows.

Os shows de calouros da Radio Difusora de Imbituba.


A BARRA

Eu acho que, a Lagoa da Barra era formada por duas vertentes, olho d’agua, uma nascia

no pé do Morro do Mirim no Paes Leme, que por um riacho fino, a sua água descia, e ia

engrossando a medida que aproximava-se do mar, passando por baixo de duas pontes, a

da Estrada Geral de chão batido que levava em direção ao Bairro da Vila Nova, e a pon-

te da Estrada de Ferro. A outra vertente era na Lagoa da Bomba, que por um canal a

água passava também por baixo dos trilhos da estrada de ferro, entre o Araçá e a casa

dosTionaz, e seguindo por entre os perís ia em direção a Lagoa da Barra. A Lagoa

da Barra de tempos em tempo enchia, enchia tanto que suas águas, avançavam até perto

das casas do Araçá, mais próximas do seu leito, já em direção ao mar, suas águas chega-

vam tão perto da maré, que quando alta, entrava na lagoa, forçando sua abertura.

Teve uma época, que ela estava tão cheia, que eu, junto com outros garotos, que toman-

do banho na lagoa, resolvemos dar uma ajudinha a natureza, fizemos com um pedaço de

pau um risco generoso na areia, desde a orla da lagoa até primeira onda da maré do mar,

dava uns dez metros, a onda da maré subia e descia, adentrando pouco a pouco pelo ris-

co na areia. Cada uma das ondas da maré que subia alargava o risco na areia, quantas

subiram pelo risco até a beira da lagoa não sei, o que sei, é que a noitinha quando o meu

pai chegou em casa do trabalho, convidou eu e meu irmão para pescar na lagoa, dizendo

que a lagoa estava aberta, para alegria dos pescadores de tarrafa que na lagoa pescavam.

Nessas ocasiões da Barra da Lagoa aberta, o barranco de areia que formava dos dois la-
dos da lagoa chegava a quase um metro de altura, não permitindo a passagem pela praia,

de carros, que iam de Imbituba, em direção a Vila Nova e Itapirubá, ou vice versa.

Virava uma pororoca, quando as águas das marés altas do mar, se encontravam, com as

águas da Lagoa da Barra.

NA ILHA

Na ilha Sant’ Ana de Dentro , em uma tarde de maré, bem baixa, muitos rapazes como

eu, na época, com mais ou menos quinze anos, fiz junto com meu irmão, a travessia do

costão para a ilha com certa facilidade, nadando por poucos metros, o canal próximo a

ilha. Subindo e descendo pedra, por uma das trilhas, chegamos ao outro lado da ilha,

de onde se tem uma visão maravilhosa do mar aberto e de uma piscina natural de água

salgada, no meio das pedras. Nas pedras ao redor da piscina natural, tinham vários

degraus, que conforme a altura de onde saltava-se, para mergulhar em sua água salgada,

o grau de dificuldade era maior, pela grande quantidade de ouriços na areia, no fundo da

piscina. Quando o mergulhador era afoito em seu salto, e tocasse com a mão ou os

pés na areia no fundo da piscina, podia contar que iria subir chorando, com muito espin-

hos de ouriço, fincado em seus membros. Quando algum rapaz, se metido fosse, e

não avisado dos ouriços na areia no fundo da piscina, os demais garotos deixavam-no se

estrepar, só para ver a cara do sujeito chorando, com os espinhos dos crustáceos, finca-

dos em algum dos membros. Numa dessas idas a ilha, eu e meu irmão, cismamos de

tirar mariscos nas pedras, abaixo da linha normal da água, os mariscos eram enormes,

pegamos nossas camisetas amarramos as mangas e colarinho, fazendo delas um saco en-
chemos com mariscos. O problema agora era levar o saco de mariscos até a praia,

tendo que nadar os poucos metros do canal perto da ilha, que a correnteza já começava

a ficar forte. Eu perguntei ao Evandro, meu irmão. - Queres ser o primeiro a passar

a correnteza? - Não! Vai tu. - Respondeu ele. Fui entrando na água devagar, indo até

a pedra mais afastada da ilha e mais perto do costão, entrei na água com o saco nas cos-

tas e comecei a nadar em direção a praia, com dificuldade e cansado consegui chegar ao

ponto em que achei poder colocar os pés no fundo, com a água quase no peito, suspirei

aliviado. - ufa! Consegui. Agora era hora de meu irmão, como ele de onde estava,

viu que eu tinha conseguido, deve ter ficado mais tranquilo, só tinha que fazer o mesmo

trajeto que eu tinha feito. Com as mesmas dificuldades que eu tinha tido, ele também

começou a ter, vinha bem, até que o saco escorregou das costas, molhado e bem pesado

foi ao fundo como uma pedra, meu irmão mergulhou para tentar trazer para cima, mais

não conseguiu, pois a correnteza era forte, até o saco já não mais estaria no mesmo lugar

onde afundou. Então de onde eu estava gritei, não adianta tentar pega-lo, já não deve

estar maus ai, vem embora deixa pra lá, temos o meu. Ele perdeu os mariscos e a ca-

miseta, eu fiquei com o marisco, mais perdi a camiseta, pois ela ficou tão larga, que não

deu mais para usa-la, teria que engordar muito e não seria o marisco que levamos para

casa, que comendo engordaria, pois foi pouco para nós todos em casa.

Também os mariscos daquele tamanho e gostoso como eram, foi um toque só, que coisa

boa os mariscos das pedras da Ilha Sant’ Ana de Dentro.

NA OUTRA ILHA
Na segunda ilha mais próxima do costão do canto, a Ilha Sant’ Ana de Fora, quando se

vem caminhando pela praia no sentido sul, norte, chegando mais ou menos onde aflora-

va a Pedra Ferro, hoje quase em frente ao grande hotel na praia, olhando-se para o topo

da ilha, a olho nu, e com um pouco de atenção, deixando-se levar pela imaginação, ima-

gina-se ver numa pedra, o perfil de um gorila sentando, encostado no morro olhando sé-

rio na direção sul. A mesma direção, onde estão localizadas as ilhas de Itacolomí, em

sua forma oval e a das Araras, que mais parece uma tartaruga, nadando em alto mar.

Como o king kong, rei dos macacos, o gorila mais famoso das telas do cinema, apixona-

do pela mocinha, que as vezes ficava sério e tristonho, o nosso gorila de pedra, sentado

solitário, na parte sul da ilha, olhando com o seu olhar tristonho, em direção ao sul, será

que também tem a sua amada, será que com seu olhar sério, não procura olhando para o

sul a sua amada. Como a Ilha Sant’ Ana de Fora, fica na direção da desaparecida Pe-

dra Ferro, Pedra Ferro essa que em época de maré cheia aflorava as areias próximo aos

muitos combros altos da praia da vila, pois antigos já contavam ser ela encantada, quem

sabe o gorila de pedra, sentado em nossa ilha, com seu olhar serio ao sul não vigia algu-

ma coisa. Como dizia um amigo meu, quem duvida é louco, se já não ficou, ficará!

Como ficou o da sereia da “Pedra Ferro”.

NA FABRICA DE MOVEIS

Meu irmão começou a trabalhar novo, com treze anos, acho que era o ano de 1.965, na

fábrica de moveis do padrinho, o tio Luiz irmão do meu pai, no setor de envernizamento

de móveis, que ficava nos fundos da fabrica, quase em frente do portão acesso ao interi-
or da Granja Henrique Lage, na Estrada Geral de chão batido, que ligava o centro da ci-

dade ao Bairro do Sete e aos demais bairros do sul do município.

A frente da fabrica ficava na Av. Santa Catarina eo escritório em uma sala da frente da

casa onde residiam nossos tios e família na Rua Manoel Florentino Machado.

Em algumas tardes eu ia levar café e lanches para meu irmão no trabalho, na secção de

lustra moveis, que tinha como encarregado o tio Zeca outro irmão de meu pai, trabalha-

vam ainda no setor o Tibilo sempre muito engraçado, Orlando o gozador, e o Vando fi-

lho do tio Quedo. Quando eu ia lá, tio Luiz quase sempre estava no interior da fabri-

ca, na marcenaria acompanhando os marceneiros no corte da madeira, para a fabricação

de moveis, como guarda roupas, camas, armários, criados mudo, cristaleiras e as arma-

ções de madeira para os trios de sofás, bi camas e colchão de molas.

No setor de estofados trabalha um outro primo o Batista, filho do tio Jóca irmão do tio

Luiz, colocando molas de ferro nas armações de madeira das camas e sofás.

Nãos só da fabrica de moveis tenho grandes e boas recordações, mais também da paste-

laria, montada numa casa no interior da fabrica de moveis que tinha servido como mo-

radia da família, que era tocada e administrada pela tia Judite, mulher querida e engraça-

da. Na pastelaria trabalhou, um outro primo, o Aquino filho do tio Alcino, outro irmão

de meu pai, que morava em Garopaba. Veio morar com tio Luiz e família, para ajudar

na entrega dos pastéis nos bares da cidade, quando ia na fabrica levar o café para o meu

irmão sempre passava na pastelaria para pedir a benção da tia Judite, só para comer uns

pasteis, quentinho da hora. Bons tempos.

OS PRIMOS
Com os primos no final da década de cinquenta e início da de sessenta, que eram muitos

pois as famílias eram numerosas em quantidade de filhos, influencia de meus avós. Nos

finais de semanas, íamos todos para a casa de nossos avós paternos, enquanto os nossos

pais reunidos em torno de nossos avós, jogando conversa fora, contando cada um, o seu

problema, nós garotos nos embrenhávamos pela vegetação nativa dos morros e combros

de areia fina, no final da Rua Santa Catarina, ao lado da ultima casa da rua, nessa época,

a do tio Quedo, irmão do meu pai. Nossas brincadeiras giravam entre, as do faroeste

americano, com mocinhos, bandidos e índios, as de espada e escudos, armas usadas pe-

los soldados romanos, e a dos duelos de espadas, usadas pelos espadachins do reinado

Francês, Os Três Mosqueteiros. Nessa vegetação densa e arborizada com muitos ga-

lhos secos, quase sempre alguns de nós se machucava, então corríamos para a casa do

tio Quedo, para que tia Tereza colocasse mercúrio ou até ataduras de pano velho, para

que o corte em contato com areia, não viesse a infeccionar a área machucada, na volta

as brincadeiras. Essas nossas brincadeiras com os primos, iam a tarde toda, até que

viessem nos chamar para tomar um bom café com bolinho de chuva ou com fatia doura-

da ( pão passado no ovo batido) frita, preparados por Tia Eugenia.

Depois do café voltávamos ás brincadeiras, geralmente com nossas irmãs e primas, no

quintal ou na rua em frente da casa de nossos avós, eram brincadeiras de pega-pega, ca-

bra-cega, de se esconder e até as de roda, que as meninas gostavam de brincar, e que só

entravámos para acabar a brincadeira, para que elas viessem brincar conosco, as nossas

brincadeiras só acabavam, quando nossos pais, nos chamavam para irmos embora para

nossa casa. Família grande e com bastante primos, com idades diferenciada por pou-
cos anos, era uma festa.

NOVO CINE MARABÁ

O novo Cine Marabá, ainda do seu ventura e do seu sócio Sr. Abadi, um cinema moder-

no, em novo prédio e novo endereço, na Rua Nereu Ramos, em frente a marcenaria do

seu Tolentino, com fachada moderna, com marquise, que em dias de chuva protegia as

pessoas que iam até as duas bilheterias, para comprar o ingressos, para assistirem os fil-

mes. As vitrines, tanto as externas como as internas para expor os filmes em cartaz,

agora eram amplas e bem iluminadas. Uma porta larga dava entrada para uma sala

de espera espaçosa e bem arejada, com dois banheiros, um masculino, outro feminino e

uma bomboniér, com guloseimas para todos os gostos A grande sala de espetáculos,

com dois corredores dividindo em três as alas de poltronas, num declive, onde o expe-

ctador na fileira de poltronas da frente, não atrapalhava o expectador da fileira de pol-

tronas de trás, a tela era levemente côncava e panorâmica, especialmente para os filmes

em cinemascope, um palco espaçoso abaixo da tela, tomava toda a largura no fundo do

prédio do cinema. Abaixo, na frente da sala de projeção, tinha o coreto com varias

filas de poltronas, como um balcão a frente, de onde debruçado, tinha-se ampla visão da

tela e da plateia nas poltronas da grande sala de espetáculo abaixo. Não fui à inaugu-

ração do Cine Marabá, nesse novo endereço, pois ainda era de menor, o Ricardo um ga-

roto e amigo de turma, filho do seu Rozendo, junto com a família foi a inauguração e fi-

caram no coreto, na parte de cima em frente à sala de projeção. Ele debruçado no balcão

olhando para baixo, passava um conhecido careca da cidade, que deu vontade de cuspir
na cabeça do cara, conhecendo o Ricardo, eu acho que ele chegou a cuspir, mais errou o

alvo, ele era bom na funda, mais na cusparada nem nas brigas ele acertava.

OS ANOS SESSENTA

Nos anos sessenta, no auge da jovem guarda, cantores como Roberto Carlos, Wanderle-

Ia, Erasmo Carlos, Jerry Adriane, Martinha, Vanuza e muitos outros, eram ídolos da ju-

ventude dessa época e referência para a maioria desses jovens, influenciavam no com-

portamento, no vestir, no corte do cabelo, que de cabelo curto, passaram a ser usados os

cabelos comprido, como o usado por Roni Von ou o dos componentes de conjuntos mu-

sicais como ”The Beatles”. Em Imbituba, os irmãos gêmeos Ailton e Amilton, encar-

naram os jovens componentes, do conjunto Inglês, nos seus cabelos compridos de fran-

ja, nas camisas modelos camisolas com botões dourados, nas calças apertadas, os cintos

largos e botinha. Muitos garotos como eu, nessa época, além dos cabelos compridos,

usávamos as camisas, em estampas quadriculada, com gola alta tipo as usadas pelo can-

tor Americano Elvis Presley, calças apertadas com cintura baixa, os cinturões com five-

las enormes, botas de cano curto e salto carrapeta. Outra calça muito usada nessa é-

poca foram às chamadas, calças boca de sino, que abria uma boca, a partir do joelho pa-

ra baixo, muitos usavam três botões na vertical, parecia um sino quando a pessoa anda-

va, eram também apertadas, em tecido riscadinho, calças essas usadas por Giuliano Ge-

ma, o mocinho do filme “O Dólar Furado”, também por bandidos como Lee Van Cliff,

nos filmes de Django e também usadas pela maioria dos bandidos mexicanos que traba-
lhavam nesses filmes de faroeste. No final da década de sessenta e começo da de se-

tenta, as calças Jean Americanas em ”índigo blue” as famosas “ LEE ” e “ LEWIS ” que

quanto mais desbotadas, mais estavam na moda, era uma febre todo jovem homem ou

mulher, queriam ter uma dessas calças, jaqueta, camisa e até um macacão inteiro em Ín-

digo Blue. Vestimentas essas, usadas pelos trabalha dores rurais americanos, muito

vistas em filmes da época, e usadas por famosos cantores da jovem guarda, que influen-

ciaram os jovens no uso dessas calças, que quando começaram a chegar ao Brasil, eram

caras e vendidas em dólar. Virou Uniforme no Brasil, quem não tem, ou nunca teve

uma calça em, índigo blue, no guarda roupa.

UMA PESCARIA DE SIRI

Eu fiz algumas pescarias de siri, com coca e facho a noite na praia de Imbituba, sempre

da frente do Araçá, até a boca da barra e vice versa. Teve uma dessas pescaria de siri

que ficou em minha memória até hoje, essa foi na praia do Gi, em Laguna.

O meu pai num dia de semana chega em casa às dezessete horas do trabalho, e tomando

um café rápido, convida eu e meu irmão para ir pescar siri na praia de Itapirubá, pronta-

mente respondi, que iria, fui colocando o calção, camiseta, e uma blusa mais quente, já

preparando para a volta, fui com meu irmão até a dispensa, um quartinho, onde guarda-

vamos os apetrechos de pesca, pegamos as cocas, um cabo forte de madeira que usava-

mos para pendurar fachos, archote, de estopas embebidos em óleo, para iluminar a água
do mar a noite, na pesca de siri. Saímos os três de casa a passos largos, com as cocas

no ombro, em direção ao portão da Cerâmica de onde sairíamos em um caminhão as de-

zoito horas. O caminhão Mercedes Bens, de propriedade do seu Osni Souza, que era

usado para transportar azulejos da cerâmica de Imbituba, para a cidade de São Paulo.

Na primeira barraquinha ao lado do portão da Cerâmica, uns que iriam conosco, acaba-

vam de fazer lanche, outros conversando, esperavam o seu Adelfo chegar para assumir a

boleia do caminhão e então partirmos em direção a praia de Itapirubá.

Seu Adelfo, encarregado da secção de transporte, brincando, chegou falando alto no seu

vozeirão, vamos embora, que os siris estão nos esperando, subindo na boleia do camin-

hão. Subimos na carroceria do caminhão, eu, meu irmão, meu pai, o Osmar, o Tuna e

o Bolinha, na cabina, além do motorista estavam o Pedro Cezar e o Bodinho, todos em-

pregados da cerâmica. O caminhão partiu em direção da Rua de Baixo, por onde en-

tramos na praia, indo em direção do povoado de Itapirubá, e dali entramos na praia do

Gí. No trajeto, na carroceria do caminhão, íamos arrumando o picaré, verificando se

Tinha algum buraco nas malhas da rede e também amarrando, bem amarrado, os fachos

com arame e embebendo a estopa com gasolina, óleo queimado e graxa patente.

Passamos o povoado de Itapirubá, o caminhão entrou na praia do Gí, rodamos por uns

cento e cinquenta metros, ele parou, descemos todos da carroceria, cada um com o seu

apetrecho que iria usar. Era começo de noite de verão ainda estava claro para acender

os fachos, peguei uma das cocas e fui até a água, não caminhei muito e já vi siris daque-

les de garra azul, coquei um e mais outro, meu irmão cocando também pegava, cocando

caminhávamos em direção sul. Com as cocas cheias, íamos até à areia da praia, colo-

cavamos os siris no saco de linhagem, saco esse carregado pelo Osmar “ o Bolinha”.
Já estava escuro, o pessoal onde estava o caminhão parado, colocavam fogo na estopa

dos fachos, que depois de acesos, ao facheiros com ele amarrado na ponta do cabo de

madeira, seguiam para dentro do mar, andando na frente iluminando a água, enquanto

os cocadores, nos lados e atrás cocavam os siris, e bem mais atrás, vinha seu Adelfo e o

Pedro Cesar, arrastando o picaré. Eu, meu irmão e o Bolinha, a uns quinhentos metros,

esperávamos os facheiros para nos juntar a eles e cocar os siris na claridade dos fachos.

Pescamos por umas duas horas, o siri era tanto, que rapidinho enchemos quatro sacos

grande de linhagem, de siris, então paramos, o Pedro Cesar foi buscar o caminhão, en-

quanto ficamos ali esperando, e dividindo o quinhão que tocava para cada um.

O caminhão chegou subimos na carroceria, cada um com seu quinhão de siris, com seu

Adelfo ao volante, fez a volta e sequio em frente passando pelas casas da Vila de Itapi-

rubá, sempre pela praia quando chegou na entrada para o Bairro da Vila Nova, o camin-

hão entro para deixar o Pedro Cesar, o Osmar, o Tuna e o Bolinha, que moravam na Vi-

la Nova. Ficou no caminhão eu, meu irmão, meu pai, o Bodinho e seu Adelfo, que na

boléia do caminhão sequio em direção ao centro da cidade, pela estrada geral. Foi uma

pescaria e tanto, como tinha siri naquele tempo na praia do Gi.

UMA PESCARIA DE ESPINHEL

Uma outra pescaria boa e sempre lembrada, foi de espinhel na praia nos fundos do

Araçá, pela manhã de, num dia ensolarado de verão, do mês de janeiro.

Eu e o Silas, filho do seu Góes, combinamos no dia anterior, ir pescarmos de espinhel,


no outro dia pela manhã, cedinho já estava na casa dele, morávamos na mesma rua, qua-

tro casas antes da minha, ele já me esperava, pegou o balaio com o espinhel, o seu Góis,

tinha deixado os anzóis, todos espetados no vime, arrumadinhos dentro do balaio.

Saímos pelo portão da casa dele, conversando em direção da praia, já na praia fomos em

direção, da Pedra Ferro, caminhando pela beira d’agua, já catávamos tatuíras mole, para

colocar nos anzóis do espinhel, como isca. Com uma quantidade boa de tatuíras mole,

esticamos a linha do espinhel na areia da praia, começamos iscar os anzóis que eram em

torno de quarenta, terminado a iscagem das tatuíras nos anzóis, o Silas se encaminhou

para a poita, na ponta da linha do espinhel, eu encaminhei-me para a outra ponta, onde

estava o carretel com a linha enrrolada. O Silas levantou a ponta da linha com apoita,

eu levantei o carretel da outra ponta da linha, deforma que os anzóis não arrastassem na

areia, no chão da praia, para que as iscas não soltassem dos anzóis.

Meu amigo encaminhou-se em direção ao mar, entrando na água, e com a agua batendo

no peito, deu umas braçadas nadando, para largar a poita de ferro o mais longe possível,

após a arrebentação da última onda, bem no fundo, meu companheiro de pescaria já tin-

há largado a poita e já voltava nadando para a praia. Eu, entertido no andamento da

linha do espinhel dentro d’água, passa por trás de mim, um Jeep dirigido por um homem

com três mulheres de carona, e um Bugue dirigindo por uma mulher com um homem de

carona, em direção sul, como nós com o espinhel. Fiquei acompanhando os utilitari-

os, tanto o Jeep quanto o Bugue, pararam perto um do outro próximo as dunas de areia,

um pouco abaixo da reta dos fundos das casas do Araçá, saltaram todos os que estavam

nos utilitários, menos o homem que dirigia o Jeep que com o outro que estava no Bugue

partiram em direção de Itapirubá. O Silas saindo da água, chegou perto de onde eu


estava, perguntando quem eram que estavam no Jeep e no Bugue, falei que não conhe-

cia todos, mais um dos homens parecia ser o Checo as duas irmãs a Gladys e a Gláucya,

os demais deviam ser dona Lourdes Catão, seu filho e filha Bebel e uma amiga.

Enquanto conversávamos o espinhel descia devagar, já que o vento era fraco e as águas

não estavam puxando tanto, pensando alto falei, vamos tirar o espinhel da água lá perto

onde as mulheres estão, Silas mais que rápido falou, é vamos puxar lá perto elas devem

estar fazendo topless. O Meu amigo de pescaria tinha razão, puxando a linha do es-

pinhel da água, fui levando o carretel até onde o Bugue estava parado, as mulheres real-

mente faziam topless, ao sentirem nossa presença viraram de buços, procurando escon-

der seus seios, a mais mulher mais velha, virou-se para nos olhar e deve ter dito para as

moças, não se preocuparem que eram só dois garotos pescando.

Deixei ali perto do Bugue, o carretel da linha enrrolado, e fui recolher os peixes fisgado

nos anzóis do espinhel, com os peixes recolhidos dos anzóis e no balaio, voltei para pe-

gar o carretel de linha, o Silas pegou a poita de ferro, caminhando voltamos ao local da

primeira espinhelada, em frente da Pedra Ferro, já passava do meio dia, nós caminhando

acompanhando o espinhel na água, o Jeep agora de volta, chega e para ao lado do Bugue

e próximo das mulheres fazendo seu topless. As mulheres levantam de onde estavam

deitadas, e correndo vão até o mar, dão uns mergulhos e voltam aos carros, embarcam e

em poucos minutos o Bugue e o Jeep, passam por nós buzinado, gritando alguma coisa,

seguindo em frente. As mulheres dentro de seus biquínis, com os cabelos molhados

ao vento, só que mais bonitas e bronzeadas.

JUVENIL DO ATLETICO
Era o ano de 1.967, estudava no ginásio á noite, já tinha começado a trabalhar na Indus-

tria Cerâmica Imbituba S.A, com Carteira Profissional de Trabalho, de Trabalhador de

Menor, devidamente assinada, pelo empregador. Recentemente tinha chegado na ci-

dade, seu João Cunha, para trabalhar no I.N.P.S. Instituto Nacional de Previdência So-

cial, como gostava muito de futebol, em parceria com o Imbituba Atlético Clube, come-

ça a formar um time Juvenil, para o Imbituba Atlético Clube, que tinha como presiden-

te, o seu Filhinho. Num sábado à tarde, garotos da cidade, entre quinze e dezessete

anos que gostassem de jogar futebol e quisessem participar do time Juvenil do Atlético,

poderiam comparecer no campo do Estádio do Imbituba Atlético Clube, para participar

de uma peneira, para escolha de atletas juvenil. Seu João Cunha conversou com a ga-

rotada reunida no gramado, no centro do campo, depois de longa conversa colocou uma

bola no centro do gramado, e um goleiro de cada lado, dividiu os garotos em dois times,

apitou dando inicio ao jogo para a escolha dos garotos.

Nesse dia, em dois jogos treinos de quarenta e cinco minutos, o treinador escolheu de-

zessete garotos, eu ali no meio da garotada escolhida, para participar de treinos físicos e

técnicos nas terças feiras, quintas e sábados às dezesseis horas.

Nos dias da semana, marcado para os treinamentos eu estava lá, mais sempre chegando

atrasado, para os treinos físicos e as vezes com os treinos técnicos em andamento, pois

trabalhava e saia do trabalho as dezessete horas, mais mesmo assim fazia parte do grupo

até porque a maioria da garotada convocada, eram todos amigos, jogávamos nossas pe-

ladas e também estudávamos no mesmo colégio. Chegou o primeiro jogo do Juvenil

do Imbituba Atlético Clube, nesse dia participaram do jogo, garotos como o Pedro Lima
Paulo Roberto, Léo, Lico, André, Cateco, Cacá, Zé Duarte, Cação, Saci, Renato, eu e al-

guns outros. O time Juvenil do Atlético não teve vida longa, pois seu Filhinho, pre-

sidente do time profissional do Atlético e treinador, achou por bem, acabar com o time

juvenil, pois estava havendo preferência do seu João Cunha, por alguns garotos jogado-

res em detrimento de outros, que tinham melhor condição e rendimento técnico.

Na realidade, a verdade, nunca ficou bem esclarecida, ou ficou.

AS FESTAS DA PADROEIRA

As festas da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, no dia oito de dezembro

começavam uma semana antes, com as novenas á noite, era uma festa diferente. Os par-

ques de diversões chegavam à cidade uma semana antes, montavam seus aparelhos de

diversão como à roda gigante, chapéu mexicano, carrinhos de choque, o carrossel de ca-

valinhos e outros ao largo da matriz em frente do Grupo Escolar Henrique Lage, a espe-

ra da criançada e também dos adultos. A medida que fui crescendo, a diversão tam-

bém aumentava e diversificava, eram as barraquinhas das guloseima, a pipoca no carrin-

ho do seu Ernesto, a barraquinha da roleta de dinheiro vivo, do seu Romeu, andar atrás

da banda na rua de chão batido ao lado da Igreja. Quando mocinho, era tudo isso e

mais, como flertar com as meninas que passeavam na rua entre o lado da igreja e as bar-

raquinhas montadas para a festa ao longo dessa rua de chão batido.

As moças e mocinhas passeavam sem pressa, para baixo e para cima na rua, parecia um

desfile para mostrarem os seus dotes, aos moços e mocinhos, parados nos dois lados da

rua, no flerte a elas. Se esse flerte desse certo com a pretendida ou uma outra, o ca-
sal já saia lado a lado conversando, acertando um possível namoro, que podia virar noi-

vado e até casamento, como muitos casais casados em Imbituba, que começaram de um

namoro sem pretensão, no desfile na rua de chão batido, ao lado esquerdo da Igreja ma-

triz e das barraquinhas das festas da padroeira da cidade, a Nossa Senhora da Conceição

no dia oito de dezembro. Depois dizem que a Santa não é milagrosa, em Didi.

A NOSSA PASSARELA

Aos domingos na Rua Nereu Ramos, em frente ao Cine Marabá, depois da missa das

dezenove horas, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, os fiéis mais jovens, ho-

mens e mulheres, deixavam a igreja apressados em direção a rua em frente ao cinema.

Aquele pedaço de rua, onde tinha o cinema, naquela época, era concorrido. Como a ses-

são dos filmes no cinema no domingo a noite, tinha seu inicio marcado para as vinte ho-

ras e quarenta e cinco minutos, portanto quarenta e cinco minutos depois que acabava a

missa, salvo quando o Padre Itamar prolongava-se, em seu sermão.

As moças desfilavam na rua em frente ao cinema, que praticamente fechava para qual-

quer automóvel, no vai e vem, para cima e para baixo, sob os olhares dos moços que se

posicionavam, em pé, no canteiro central da rua de duas mãos, para eles acompanharem,

o vai e vem dessas moças. Esse vai e vem, para baixo e para cima, na rua do cinema sob

os olhares desses moços flertando com suas favoritas e pretendentes, na esperança que

desse flerte viesse a dar certo e pudesse acompanha-la ao cinema, para assistir o filme

daquela sessão de domingo e quem sabe engatar um namoro mais sério.

Como aconteceu com uma das minhas tias, que namorou um marinheiro, embarcado em
navio mercante de passagem pelo porto da cidade, engrenaram ali um namoro que os le-

vou ao casamento. Que tal menina, perguntar a sua mãe, se foi mais ou menos assim

mesmo, ou não.

OS CLUBES SOCIAIS

Os clubes sociais da cidade, mesmo pequena, eram bons clubes e em evidência, como o

do Imbituba Atlético Clube, que tinha em seu quadro associativo, na sua maioria funcio-

nários da Cia. Docas de Imbituba, que se consideravam a nata da sociedade Imbituben-

se. A Sociedade Recreativa Álvaro Catão, o clube dos negros como era chamado,

tinha no seu quadro associativo, na sua maioria, pessoas da raça negra, teve a sociedade

como presidente por muitos anos seu Romeu Pires, um dos negros mais ilustres da cida-

de. A Sociedade Recreativa Sete de Setembro tinha um quadro associativo bem e-

clético, batava só quere ser sócio contribuinte, no que me lembre nunca teve um grande

presidente. O Vila Nova Atlético Clube, o clube da Vila, que tinha em seu quadro

associativo, em sua maioria, os orgulhosos moradores do bairro da Vila Nova, e teve co-

mo o seu Galileu Olegário, um dos seus grandes presidentes, fui um dos sócios do Vila

Nova Atlético Clube por alguns anos, grandes bailes de carnaval e debutantes, ali no sa-

lão do clube foram realizados, nada devendo ao Imbituba Atlético Clube, na época.

Inclusive dois grandes bailes de debutantes participei ativamente, foram os que minhas

duas irmãs, nos seus quinze anos debutaram. Tinha ainda outros bons clubes ou sa-

lões de baile em minha juventude, que nos sábados à noite, eram muito procurados e vi-

viam sempre lotados. O do Licínio no encruzo da Vila Nova, o da Guaiuba bem no


trevo da Br 101 a esquerda, o da Roça Grande na margem direita da estrada Geral, no da

Caputétéra que todo sábado tinha briga, eta rapaziada ciumenta, tinha ainda outros bons

clubes como o da Nova Brasília, Arroio, Araçatuba e Palhocinha, já na Garopaba.

Os bailes nesses salões eram muito bons, bons demais, sem preconceito, conheci muitas

garotas em todos esses lugares em que fui dançar, só tinha moça bonita como a Antonia.

Ufa tempo bom, que saudade.

A BENZEDEIRA

A velha benzedeira Dona Graciosa, morava numa casa humilde, ao lado da estrada de

ferro, próximo as casas do Araçá, nos combros, das dunas, da praia. Ela de tão ve-

lha, dizia ter muito conhecimento das coisas da vida. Todos os dias ela descia a ri-

banceira ao lado, do túnel, onde as caçambas, saiam para descarregar as cinzas, resíduo

do carvão mineral, queimado pelas caldeiras da usina. Ela revezava durante os dias

da semana as casas que visitava para a benzedura das pessoas, muitas vezes eu e meus

irmãos, e quemlá em casa estivesse, éramos todos benzidos de mau-olhado e quebrante,

ela vivia repetindo que meninos e meninas bonitas, tem que ser benzidas de quebrante e

mau olhado sempre, para tirar o mau olhado e o quebrante dos feios. Quando a dona

Graciosa chegava ao portão, tia Lilina, já preparava um copo, dos grande, de água fresca

para ela beber e uma cadeira no quintal para ela sentar. Ela saciada da sede e descan-

sada da caminhada, passava então a nos benzer, um a um, com ramos de alguma planta

do nosso quintal, a medida que nos benzia, murmurava algumas palavras, com certeza
alguma oração. Ao termino da benzedura de cada um de nós, as folhas dos ramos das

plantas usadas ficavam murchas, ela então dizia, que o olho grande em cima daquela

pessoa era muito. Quando acabava de benzer a todos, tia Lilina, sempre dava alguma

coisa, era arroz, feijão, açúcar, farinha e as vezes dinheiro, que não era pagamento, era

doação, pois benzedura não se paga e nem se agradece, dizia dona Graciosa, pois era um

dom divino recebido, pela pessoa que benze. Vai nós pobres mortais, entender esses

dons recebidos por uma pessoa.

O BURRO RACISMO

Na sede do Imbituba Atlético Clube, em uma noite de baile de debutantes, foram com-

vidadas a festa, todas as autoridades da cidade. Os sócios e autoridades com sua res-

pectiva acompanhante, à medida que chegavam eram encaminhadas, as mesas ao redor

da pista de dança. No salão tudo transcorria normalmente, o que seria um grande bai-

le e uma grandiosa festa de aniversário do clube, tudo fica ofuscado com a chegada do

capitão, da Capitania dos Portos da cidade, Sr. Jonathan, e sua excelentíssima esposa,

elegantemente trajada, diga-se de passagem, barrados na porta do clube por um porteiro

desavisado, vamos colocar assim, por não conhecer o comandante da Capitania dos Por-

tos, que era negro como também a sua esposa. Armada a confusão, entra, não entra,

chama um, chama outro, as debutantes subindo as escadas para o inicio do desfile, para

apresentação das meninas moças a sociedade, com os padrinhos já perfilados, esperando

suas afilhadas. A banda tocando a musica de entrada das debutantes no salão, o capi-

tão da Marinha do Brasil, Sr. Jonathan e sua simpática esposa, voltam para casa, barra-
dos por racismo da sociedade atleticana, em um baile de debutantes, em que foram con-

vidados, em convite expresso. O baile a todo vapor, a banda tocando, a valsa dos na-

morados, chega em frente ao clube, um jipe da Marinha, com três marinheiros em suas

fardas de serviço, como batedores de um automóvel oficial, placa branca da Marinha do

Brasil. O Jipe para, em frente a entrada principal do clube Atleticano, descem dois,

dos três marinheiros, vão até o automóvel, que já esta com a porta aberta desce o capitão

e comandante da Capitania dos Portos de Imbituba, Sr. Jonathan em sua farda de gala da

marinha, vai até a portaria do clube, manda chamar o presidente e informa que o clube

fica fechado até segunda ordem, e que o baile pode continuar só que com a porta fecha-

da. O domingo amanhece, o burburinho na cidade era grande, isso é coisa de cidade

pequena, puro racismo, que vergonha, e com a esposa, tão educada junto, isso não vai

dar certo, e não deu. Na missa de domingo o Padre Itamar, comentou o ocorrido, su-

tilmente, dizendo que uma porta não deve ser fechada a quem quer que seja.

Sendo ele pobre ou rico, católico ou não, branco ou negro, somos todos filhos de Deus.

A Capitania dos Portos de Imbituba, do Capitão Comandante Jonathan, nomeado pelo

Ministério da Marinha do Brasil, depois de um certo tempo, não mais era em Imbituba,

foi transferida para a cidade de Laguna. Qual deve ter sido o motivo.

PRIMEIRO EMPREGO

Na Industria Cerâmica de Imbituba S.A, em l.967 ainda de menor, comecei a trabalhar

na secção de expedição de azulejos colorido, onde meu pai, era o encarregado.

Eu junto com colegas de trabalho , como o Tuna, Ailton, Zinho, Abobra, Bolinha e ou-
tros, nossa função era a escolha dos azulejos, separando os de primeira, segunda e os de

terceira qualidade. Os carrinhos vinham da boca dos fornos com os azulejos, que

eram empilhados na ponta das mesas de tabuas brutas de madeira, com uns oito metros

de comprimento, por mais ou menos um metro de largura, com uns quatro centímetro de

espessura, apoiadas em cavaletes, em forma de xis, um cavalete em cada ponta da mesa

e outros dois no meio. Os azulejos eram espalhados em cima das mesas, onde eram

classificados e separados, os de primeira segunda e terceira qualidade.

Os azulejos coloridos, que nos davam muito trabalho, e atraso em sua escolha, eram os

nas das cores azul e rosa, dependendo da fornada, esses azulejos quando espalhados nas

mesas, observava-se que tinham varias tonalidades, umas mais fortes, outras mais fraca,

então separávamos essas tonalidades, e quando colocados nos engradados de madeira,

era a cabeceira desses engradados, carimbados por exemplo:

Azulejo: Cor “Azul”, que era a cor normal, Azulejo: Cor Azul “A” ou Cor Azul “B” ou

se de primeira ou de segunda qualidade, já os de terceira qualidade eram vendidos com

as tonalidades todas misturadas. Uma outra serventia dessas mesas de classificação e

escolha de azulejos, que de vez em quando lembro, eram que em dia de pagamento dos

empregados no final do mês, os funcionários da tesouraria da empresa, requisitavam ao

encarregado da secção, uma dessas mesas e em cima dela eram colocados os envelopes

de pagamento dos empregados, em ordem alfabética, com dinheiro em espécie, não só

os de nossa secção, mais de outras também. Os empregados eram chamados nomi-

nalmente, um a um, pelos funcionários do escritório, recebido o envelope com o dinhei-

ro do pagamento do mês, assinava um canhoto destacado do envelope, que era a prova

do recebimento do pagamento. Nós da secção de expedição que trabalhávamos na


mesa ou nas mesas requisitadas para colocarem os envelopes de pagamento, íamos para

a secção de expedição de azulejo da cor branca, como em qualquer cerâmica da época,

eram esses azulejos eram os mais fabricados e procurados comercialmente, ajudávamos

as mulheres engradando os azulejos. Seu Tobias, encarregado dessa secção era um

felizardo, o que tinha de mulher bonita nessa secção era uma grandeza, até minha mãe

trabalhava nela, a dona Bentinha.

A MELHOR SECÇÃO

Na secção de expedição dos azulejos de cor branca, como em qualquer cerâmica da épo-

ca, esses azulejos na cor branca, eram os mais fabricados e também os mais procurados

comercialmente, como já falei em um outro capitulo. Essa secção tinha como encar-

regado seu Tobias, um felizardo, ser chefe e encarregado dessa secção onde trabalhava

além de minha mãe, mais noventa e cinco por cento de todas as mulheres da fábrica.

As mulheres bonitas da fábrica desde aquela época e de outras épocas mais atrás, traba-

lhavam nessa secção. Nós da secção de expedição dos azulejos coloridos, de certa

forma éramos felizardos e privilegiados trabalhando de frente para todas aquelas mulhe-

lheres bonita. Não só eu, mais também muitos outros empregados solteiros que tra-

balhavam na cerâmica, namoramos uma ou mais de uma garota da secção de expedição

de azulejos brancos, muitos desses namoros acabavam em casamento, como o de meus

pais. Quando o namoro não engrenava na fábrica, mais engrenava nos baile nos clu-

bes dançando e conversando, quando acertava ou dava certo o namoro, a primeira coisa
a fazer, era levar a moça até o portão de sua casa, ai o bicho pegava.

Mais também na segunda feira na fabrica, o comentário era geral, o fulano está namo-

rando à fulana, será que vai dá casamento ou é fogo de palha, na maioria das vezes era

fogo de palha, mesmo, fazer o que.

UMA SESSÂO DE CINEMA

Um filme em uma noite de aulas gazeada no ginásio foi um tormento, de todos os filmes

que fui assistir no novo Cine Marabá, um trousse medo, arrepios e vergonha também.

Matando duas aulas sai do colégio, na hora do recreio, para ver um filme do “ Drácula ”,

que tinha visto em cartaz e queria assistir, à sessão de cinema estava marcada para co-

meçar às vinte horas e trinta minutos, chequei atrasado, comprei o ingresso para entrar,

entreguei ao seu Nei, bilheteiro naquela noite, perguntei a ele se o filme já tinha come-

çado a muito tempo, ele respondeu que não, fui até o banheiro, na volta encontrei o seu

Quidinho, lanterninha, na sala de espera abrindo a porta, entrei no salão para assistir ao

filme. As luzes estavam todas apagadas, estava muito escuro, a legenda do filme era

em preto e branco e já estava rodando, o ator principal que fazia o papel do drácula, era

o Christóper Lee, melhor ator dos filmes do gênero. Eu encostei-me no balcão de en-

trada para as poltronas, para acostumar-me com a escuridão, o filme já rodando, uma

charrete preta e sem cocheiro, puxada por dois cavalos pretos em disparada, seguia por

uma estrada de terra, com arvores dos dois lados. A metade de uma lua cheia apare-

cia, enquanto a outra metade, estava encoberta pela torre de um sinistro castelo, no alto
de um monte ao longe. Eu continuava ainda ali encostado no balcão, que o separava

das poltronas do vão central, olhava as poltronas do vão central, não via ninguém, olha-

va para o vão de poltronas da direita também não via ninguém, para o da esquerda tam-

bém nada via, nem ao menos uma cabecinha por cima das poltronas aparecia, estava re-

almente muito escuro. A carruagem agora parava num pátio, em frente à porta do si-

nistro castelo, quando a porta do castelo abriu e ao mesmo tempo a da carruagem tam-

bém, um grito sinistro e ensurdecedor, ecoou por todo o interior da sala do cinema, me

assustei, de costa dei três passos em direção da porta por onde tinha entrado, me virando

abri e sai, fechando aporta atrás de mim. Na sala de espera parado conversando, esta-

vam seu Nei e o Quidinho, que pararam de conversar quando me viram caminhando pa-

ra a porta de saída do cinema, seu Nei, antes de abrir a porta pergunta, se não tinha gos-

tado do filme, respondi que não, e completando disse que é muito escuro e não tem nin-

guém. O Quidinho em seus setenta, oitenta centímetros de altura, falou. - Não! Não

está vazio não! Tem bastante gente! Mesmo assim sai porta a fora. A noite estava

fria e escura, típica noite de inverno, a rua estava deserta, era daquelas noites que podias

andar pelado pelas ruas da cidade, que não encontrarias uma viva alma, para te importu-

nar.

O MEDO FAZ COISA

Saindo do cinema, naquela noite do filme do “Drácula” sem assisti-lo, caminhando pela

Rua Nereu Ramos, apresado em direção de minha casa, o vento sul gelado arrepiava.

Passando em frente a “Tinturaria Guarany”, um gato cinzento, sai correndo pelo vão das
ripas de madeiras do portão, em direção ao outro lado da rua, que chegou a assustar-me.

Agora já em frente da casa do seu Quincas, o expedicionário, na esquina da Rua Nereu

Ramos com a Rua Manoel florentino Machado, para chegar até em casa teria que descer

o caminho ao lado da casa da dona Carmem, na outra esquina.

O caminho da rua era de uma descida, íngreme e esburacada, com pedras soltas no chão

de terra batida, quase encostada nas cercas das seis casas até a esquina da Av. Dr. João

Rimsa, avenida em que ficava minha casa. Eu desci o caminho sinuoso correndo, do

meu lado direito tinha a cerca das casas da rua, do outro lado, o esquerdo uma buraquei-

ra, buracos fundo, feitos pelas águas da chuva, encoberto pelas altas mamoneiras que to-

mavam conta daquele pedaço da rua, até a esquina da casa do seu João, da Nelci.

Ainda correndo e com os cachorros latindo, dobrei a esquina, sempre correndo, quando

chequei ao nosso portão, que nessa noite estava fechado, tentava levantar a tranca, ela

não levantava, dei um chute no portão, que a tranca voou longe, abrindo a folha do por-

tão para traz, subi a pequena ladeira até em casa ainda ofegante, só que agora mais cal-

mo, chequei na porta dos fundo da casa batendo, devo ter batido tão forte que meu pai

gritou lá de dentro de casa, perguntando quem era. Sou eu pai! Abre a porta, falei.

Quando meu pai abriu a folha de cima da porta e a claridade da lâmpada acesa da cozin-

ha veio até meus olhos, devo ter suspirado e respirado de alivio.

Meu pai perguntou-me o que estava acontecendo, lhes respondi mentindo, não foi nada

pai, é que estou apurado para ir ao banheiro, larguei a pasta do colégio em cima da mesa

da cozinha, e fui até a casinha, no fundo do quintal, mais não consegui fazer xixi.

Meu irmão levantou-se, pois já estava na cama, veio do quarto até a cozinha, para fechar

a porta novamente, e colocar no prumo as tramelas na folha do lado de cima, e na folha


do lado de baixo, a porta era daquelas de duas folhas que abriam na horizontal, muito

usadas antigamente. Era costume verdadeira mania do meu irmão colocar as tramelas

das portas e janelas bem no prumo, chegava a colocar uma colher, em cada tramela da

porta ou jánela, para que ela não abrisse com o vento batendo. Eu já bem recupera-

do do susto e dos medos, tomei um café com mistura, e fui para a cama, custei a dormir,

mas consegui depois de ter passado e reprisado todos os detalhes de terror, daquela noi-

te, desde que sai do cinema até a chegada em casa, depois que meu pai abriu a porta.

Ufa, que noite aquela.

O TIME DA SECÇÃO

O Expedição Futebol Clube, nosso time de futebol de empregados da Cerâmica da sec-

ção de expedição, jogavam o Evaldo, Zinho, Tuna, Abóbra, Bolinha, Eu, e o Cabral,

todos empregados da Cerâmica na época, jogavam também os não empregados da em-

presa o Sergio, Deléu, Evandro meu irmão, os irmãos “Milosas” Jair e Luiz, Ricardo,

Zequinha e o Paulo seu irmão. O nosso time jogava sempre aos domingos pela man-

hã, no campinho do Flamenguinho, no Bairro Paes Leme, a beira da Estrada Geral, de

chão batido, em frente à antena da Radio Difusora de Imbituba.

Quando chovia no dia anterior, não tinha jogo, o campo alagava, pois era invadido pelas

águas da Lagoa da Bomba, não permitindo jogo no gramado. O Expedição foi con-

vidado para participar em um domingo pela manhã de um festival, patrocinado pelo Vi-

la Nova Futebol Clube, no seu Estádio, participaram desse festival quatro agremiações,

não lembro os dois outros times participantes, espero não estar enganado, mais um dos
times era da Guaiúba, e o outro do encruzo da Vila Nova. Nós jogamos a primeira

partida e ganhamos de um a zero, ficamos então esperando o time ganhador do segundo

jogo, entre o segundo time do Vila Nova Futebol Clube e o time da Guaiúba.

O Vila Nova foi o ganhador dessa partida de futebol, dando-lhes o direito de jogar com

o nosso time o Expedição Futebol Clube, para ver quem iria levar o troféu de campeão.

O jogo foi duro, os dois times jogavam bem, ficou num empate de zero a zero, o troféu

de Campeão foi disputado nas penalidades, seriam três penalidades, batidas pelo mesmo

jogador. O jogador batedor dos três pênaltis do Vila Nova perdeu um, defendido pe-

lo nosso goleiro, o Evaldo nosso batedor, converteu as três penalidades, nos tornando

campeão do festival e com direito de levantar o troféu, de ganhador.

Foi o primeiro troféu ganho, pelo Expedição Futebol Clube, como capitão do time, levei

a taça para casa e na segunda feira, levei para a nossa secção de trabalho na Cerâmica, a

expedição O troféu ficava sempre em cima do armário do encarregado, na época meu

pai, se o time do Expedição ganhou outro troféu não sei, como também não sei, onde foi

parar o troféu por nós ganho, no festival no campo do Vila Nova futebol Clube.

OS TATUÍRAS

O bloco carnavalesco “Os Tatuíras”, fui naquele ano de 1.968, fundado ou criado, para

desfilar no carnaval de Imbituba, pela primeira vez.

Eu nunca tinha desfilado por bloco nenhum e nem muito menos tocado, qualquer instru-

mento musical, nossa turma toda da época iria desfilar pelo bloco no carnaval, então re-
solvi também desfilar, saindo na bateria tocando tamborim, como os demais amigos.

O ensaio dos componentes do bloco era no Bairro do Sete, em frente do Clube Recreati-

vo Sete de Setembro. O principal carnavalesco do bloco “Os Tatuíras”, era o senhor

Amaury, que além de compositor da música e de ter escrito a letra, era mestre de bateria

e organizador do bloco, fazia quase tudo. A letra da musica daquele ano, composta

pelo Amaury, versava sobre dois locutores da Radio Difusora, da cidade.

A letra da música era mais ou menos assim: O Pitiriba, queria ir na ilha, Manoel Marti-

ns, disse para ele não ir, Pedro Paulo “Bodinho” que tudo assistia, ficou aborrecido e foi

contar para o Moacir, o prefeito chamou o Zóca, e disse que não podia se incomodar...e

por ai, ia a letra da música. No dia e local da concentração no Bairro do Sete, para o

desfile, os componentes da bateria estavam bem vestidos, em suas camisas de estampas

bem coloridas, calça e conga na cor branca. As alas organizadas, o mestre Amaury,

com seu ajudante Matias no apito, deram início, direcionando a bateria do bloco, que to-

cando alto, iniciava a musica do samba enredo, com todos os componentes da bateria e

do bloco a toda, tocando e cantando. O bloco saiu em direção ao centro da cidade,

onde estava montado o palanque das autoridades, Rei Momo e jurados.

Quando adentramos a Rua Ernani Cotrin, na esquina da padaria do seu Osmar “cação”,

o movimento de pessoas era grande, para assistir ao desfile dos blocos de carnaval da-

quele ano, nosso bloco vinha firme, a bateria a tocava forte, os componentes das demais

alas cantavam alto e sambavam com alegria. Quanto mais próximo do palanque che-

gava, o povo nos dois lados da rua engrossava, aplaudia e gritava é campeão, é campeão

passamos em frente ao palanque com a corda toda, levantando a poeira do chão.

O bloco em direção à dispersão, em frente ao Portão da Cerâmica, ainda cantava e a ba-


teria tocava forte, com o povo cantando a musica, aplaudia e vibrava junto com o bloco.

Na mesma noite, era apurado os votos e declarado o bloco ganhador, o bloco ganhador

do Carnaval naquele ano foi, o bloco da Praia, o bloco Os Tatuíras, em segundo.

No final da apuração muitos foliões não achando o resultado justo, gritavam. – “É mar-

melada, quem devia ganhar era o Bloco dos Tatuíras” . Como em todas as apurações

de blocos ou de escolas de samba, no carnaval, sempre o Bloco ou a Escola do coração

é que deve ser a campeã. Vamos continuar, sambando e cantando, porque o negocio

mesmo é à alegria

O ARAÇÁ

No Araçá, algumas vezes fui à noite dar uma olhada nas mulheres, que naquela época,

trabalhavam, na serventia sexual. Nunca me atrevi a ir para o quarto com uma delas,

sempre arrumava um motivo, para não me envolver, não sei se era a quantidade de bebi-

da ingerida por elas ou se o cheiro forte do cigarro na boca, misturado ao perfume forte

por elas usados. Um dia à tarde depois do almoço, indo para à praia, resolvi passar

pelo campo do seu Zé Bota, para ver como estava o gramado, pois de vez em quando jo-

gava lá contra a turma deles, que ficava mais ou menos em frente da última casa do Ara-

çá, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro, na beira da Lagoa da Barra quase em frente a

pinguela, ponte construída pelo seu Zé Bota “grande engenheiro”, para travessia do pes-

soal da Lomba em direção ao campo, finalidade principal, e também para irem a praia

sem precisar contornar a lagoa. Quando eu passava, em frente da penúltima casa do


Araçá, uma moça na janela, morena de cabelo preto, cortado Chanél, pede-me um cigar-

ro, pois eu caminhava fumando, sai do caminho e fui até a moça na janela e lhes dei um

cigarro, ela pediu que acendesse, falei que não tinha fogo, ela rindo brincou perguntan-

do, não tem mesmo, saindo da janela, ela foi em direção ao interior da casa, saindo pela

porta ao lado, volta com o cigarro aceso fumando em minha direção, estava de short, em

suas pernas bonitas e roliças. Ficamos ali ao lado da casa, em pé conversando e fu-

mando, conversa vai, conversa vem, convidou-me para entrar, aceitei, ela entra na frente

eu entrei atrás. No interior da casa, numa sala, ela aponta para um sofá de vinil ver-

melho, de dois lugares, e fala. - Senta! - Sentei, ela sentou-se ao meu lado, conversando

perguntei, o que uma moça tão jovem e bonita, ela não tinha dezoito anos ainda, estava

fazendo ali naquela casa, ela respondendo, disse que a casa era da tia, que no momento

não estava em casa, pois tinha ida à Laguna pela manhã e só voltaria a noitinha.

Não respondeu minha pergunta, mais fiquei na minha, ela levantando-se, perguntou se

queria beber alguma coisa, disse que sim, tudo bem, entregou-me um copo com bebida,

tomei um gole, do Vermuth Uru, oferecido, sentando-se a meu lado, toquei na sua mão,

ela foi reciproca, nos beijamos, esquentando, toquei seus seios por cima da blusa, ela le-

vanta-se fecha a porta, tira a blusa, fica de sutien, tirei minha camiseta, ela levanta-se e

vai até o quarto, volta fecha a janela da sala, então fomos para o quarto, com uma cama

de casal espaçosa, com colchão de mola, uma penteadeira cheia de “babelaks” em cima,

sentados na beirada da cama nos beijamos, nos acariciando, depois deitados fizemos se-

xo, eu sem experiência, ela já tinha alguma, pois já não era mais, nenhuma virgenzinha.

Quando acabamos ela acendeu um cigarro, eu também, encostados nos travesseiros da

cabeceira da cama, ali fumando, ela me olhava, e eu a ela, então curiosamente ela per-
gunta-me. - Nunca tinhas trepado com uma mulher, né? - Eu nos meus dezessete anos

respondi. - Até então não! Por que? - Ela me olhando nos olhos, respondeu. - É que eu

não cheguei a ter prazer e tu tivesse! - Vamos fazer amor novamente, só que agora de-

vagar e sem pressa. - Ela chegou ao prazer, eu também, tudo diferente da primeira vez,

cansados extasiados, continuamos ali quietos por alguns minutos, até que ela levantando

foi colocando a calcinha, sutíen, blusa e o shorts, e falando disse que agora tinha valido

a pena, já que tinha tido prazer, mais de uma vez, antes de eu ter gozado junto com ela.

Eu levantado já colocava a cueca e a bermuda e saindo do quarto colocava a camiseta,

ela ficou ainda no quarto arrumando a cama, depois saiu sentou-se a meu lado no sofá

da sala. Conversamos mais um pouco ali sentados, fumando dividíamos um mesmo

cigarro, ela dava uma tragada passava para mim, eu dava uma tragada passava para ela,

agora com a janela já aberta perguntei o nome dela, ela falou. - Maria de Lourdes! Mais

me chamam de Lurdinha! - E o teu? – Perguntou. - Dalzo! Respondi.

Ela então perguntou, quase afirmando. - Esse não é teu nome? – É! - Na verdade não!

- Eu falando disse meu nome, ela então falou. - É muito comprido, vou ficar com Dalzo

Mesmo! Acendendo mais um cigarro foi em direção da porta abriu, e saiu para a rua

na minha frente, eu sai logo atrás dela, que ainda fumando me da um beijo, e nos despe-

dindo, ela entrou para dentro de casa e da janela dava tchau, eu sai caminhando, agora

não mais, em direção do campo do Zé Bota, que era meu destino antes de encontrar Lur-

dinha, mais sim em direção das casas do Araçá e pelos trilhos da estrada de ferro fui pa-

ra casa. Em outras tardes voltei ao campo do Zé Bota, o motivo não era para jogar bo-

la, mais sim para ver Lurdinha novamente, mais não à via. Como o filho do Zé Bota,

não saia do Áraça, um dia perguntei para ele, pela Maria de Lourdes que morava com a
tia na casa perto do campo do pai, ele pensou, pensou, e respondeu. - A sim, a Lurdin-

ha! - Rapidamente confirmei. - Sim, sim! - Como conheceste a Lurdinha? - Perguntou

ele, nem me deixou responder a pergunta, emendou. - A Lurdinha veio passar uns dias

com a tia, fugida da casa dos pais na Laguna, porque eles estavam pegando no pé, pois

tinham descoberto, que ela estava namorando um cara casado, como a tia não sabia de

nada o que acontecia, se mandou para Laguna, para conversar com irmão e receberem a

sobrinha em casa novamente e sem brigas. Foi então que ela voltou para a casa dos

pais em Laguna. - Contou o filho do Zé Bota. - Mais como conheceste a Lurdinha Dal-

Dalzo? - Perguntou o filho do Zé Bota novamente, respondendo falei, deixa pra lá, tá tu-

do certo, esquece. Eu de vez em quando lembro-me da Lurdinha, pelos meus primei-

ros momentos, sexualmente falando, com uma moça e mulher, e apesar da pouca idade,

uma grande professora.

OS EMBALOS DOS SABADOS

Os embalos de sábado à noite começavam, no Bar e Snooker do seu Zóca que era geren-

ciado pelo seu filho mais velho, o Carlinhos, baixinho, gordinho como o pai, gente boa

os dois. A partir das dezoito horas, nossa turma já começava a chegar para a concen-

tração, jogando fodinhas, jogo de sinuca, nas mesas oficiais de snooker.

Ali jogando, não só nossa turma, mais outras também, todos conhecidos, já combinava-

mos o melhor lugar para irmos dançar naquela noite.

Se o salão de baile escolhido naquela noite fosse, por exemplo, o do Licínio, no encruzo

da Vila ou o do Vila Nova Atlético Clube, no centrinho, todos já sabíamos que a nossa
condução eram as “kombis”, da famosa Empresa de Transporte Andorinhas, criada para

levar trabalhadores do bairro da Vila Nova, para as empresas no centro da cidade.

Se o salão de baile escolhido fosse mais longe como, os clubes dos bairros da Guaiúba,

Roça Grande, Nova Brasília, Araçatuba, Fazenda São Paulo de Imaruí e até Laranjeiras

da Laguna, tínhamos que alugar um taxi. Tinha motorista de taxi, que nesses sábados

ficavam nos esperando no ponto, com o preço da corrida e a hora da partida, previamen-

te combinada, para nos levarem a esses lugares mais longe.

Normalmente íamos em quatro passageiros, ás vezes estávamos em cinco, era uma briga

com o motorista do taxi para levar o quinto, tinha taxicista que não gostava de levar ma-

is de quatro passageiros, batia o pé, perdia a corrida mais não levava. O seu Ademar

pai do Ari “ Aribú ” e o Xuxu não ligavam não em andar com cinco passageiros no seu

taxi, principalmente na volta dos bailes na madrugada, eles diziam que não gostavam de

deixar ninguém na mão, mais tínhamos que pagar o passageiro extra. Hoje a gente

pensando, lá atrás, no final da década de sessenta, o taxi andando com mais de quatro

passageiros, naquelas estradas esburacadas, de terra de chão batido, era um sufoco, se

fossem os automóveis de hoje, não durariam muito tempo. Teriam vida curta.

NAMORO LEVADO A SERIO

O meu primeiro sério namoro, começou em plena praia do canto do costão, tinha de ser,

não saia daquela praia, principalmente no verão, era tomando banho, jogando bola, pes-

cando ou namorando. Eu e meu irmão caminhávamos pela praia em direção ao can-

to, para bater uma bolinha, já tínhamos passado do Restaurante Jangadeiro, caminhan-
do em nossa direção, sozinha, vinha à Rosa. Ela caminhava devagar, num biquíni

vermelho, no seu corpo moreno e bronzeado, cabelo curto, à Laiza Minelli, que tornava

o seu rosto jovial, mais jovem ainda, em seu sorriso largo.

Quando chegava mais perto acelerou o seu passo, quase correndo, abraçou-me em um a-

braço mais que apertado. Era um domingo do final de novembro do ano de 1.969,

como fazia algum tempo, que não nos víamos, perguntei por onde ela andava, pois fazia

tempo que não a via, desde o final do ano anterior, se não estava enganado.

Ela respondeu minha pergunta, dizendo que estava morando em Florianópolis, na casa

da tia, onde estudou, já aproveitando para fazer uma cirurgia, que a muito tempo queria

fazer. Eu surpreso perguntei espantado. - Que cirurgia guria? - Ela olhando-me nos

olhos, perguntou. - Não notasse nada? - Ficasse mais bonita, claro! - Respondi. - Dei-

xa de ser bobo, tirei o sinal de nascença, que tinha no rosto! - Eu então olhando com cu-

riosidade e atenção o rosto dela, falei. - É mesmo, tiraste o sinal!

O meu irmão notara que a conversa ia ser demorada, olhando para o rosto da Rosa, deu

tchau e seguiu em direção ao canto da praia. Eu e minha amiga ficamos ali parados

conversando, até que de supetão ela disse que tinha tirado o sinal, porque eu nunca quis

namorar com ela, pois tinham dito que eu não gostava daquele sinal no rosto, pois acha-

va feio. Que idiota fui, se realmente em conversa com alguém, homem ou mulher,eu

tenha falado, uma coisa dessas, falando mais disse que jamais deixaria de namorar uma

garota, se gostasse dela, por ela ter um sinal em qualquer parte do corpo , se nunca falei

em namoro contigo, foi porque podias não gostar, e não queria estragar nossa amizade,

que era tão legal. Completando falei ainda que, quem tinha falado uma besteira des-

sas é porque estava com ciúme em razão de te acompanhar todas as noites, até tua casa
depois das aulas, isso na época do ginásio. Olha, desculpa se te magoei, sem ter pen-

sado em te magoar, por uma coisa dessa nunca dita por mim, mais sim dita por uma ou-

tra pessoa. Nós dois agora caminhando na mesma direção em que ela vinha quando

nos encontramos e agora na frente do Jangadeiro, com as diferenças resolvidas, demos

meia volta, agora de mãos dadas, andando em direção ao canto do costão próximo a ilha

Sant’Ana de dentro. As pessoas que nos conheciam ficavam olhando admirados,

vendo-nos de mãos dadas, brincando e correndo por dentro d’água, pulando ondas na

beira da praia. Quando chegamos no canto da praia, meu irmão retornava, paramos

para conversar, a Rosa então nos convida para ir até o rancho da família, no pé do mor-

ro do costão, que o pai no inverno usava para guardar os apetrechos de pescaria e no ve-

rão virava uma casa de veraneio. Ao chegarmos de mãos dadas, adentrando a casa

de veraneio, todos pararam para nos olhar admirados, pois todos nos tinham como bons

amigos. A Rosa nos ofereceu suco gelado, de abacaxi, subimos para a parte de cima

do rancho, onde de uma janelinha, tinha-se uma vista panorâmica da praia.

Descemos os três de volta, a parte de baixo onde estavam agora toda família da Rosa, os

irmãos, os pais e uma tia, todos nos conheciam, pois morávamos na mesma rua.

Daquele encontro com a Rosa na praia, começamos a namorar.

UMA CAMINHADA

Em uma festinha americana, num sábado a noite na Rua de Baixo, na casa da namorada

do Guta e amiga da Rosa, foi combinado para o domingo pela manhã, fazermos uma ca-

minhada, até a praia da Guáda, na Ribanceira. O local de encontro marcado para a


saída de inicio da caminhada, foi da frente do Imbituba Hotel, na parte de cima da Rua

de Baixo. Quando chequei ao local combinado, já estavam lá o Guta e a namorada,

a Rosa e as duas irmãs gêmeas, suas amigas, que moravam em Tubarão e veraneavam

em nossa praia. Uma das irmãs gêmeas, tinha engrenado na festinha americana do

sábado, um namoro com o Jorge, a outra um namoro com o Joel, irmão do Guta.

Todos tinham chegado, éramos em oito os parceiros de caminhada, traçamos o caminho,

descemos pela rua de cima, da Rua De Baixo, em direção da praia dos pescadores em

frente ao Porto, passamos pela rua que descia em frente da Capela de São Pedro, na área

portuária, caminhamos por toda extensão da praia dos pescadores, até chegarmos a praia

Mole, para alguns, praia D’Agua, subimos o morro pelo costão até o Farol.

Depois do sobe e desce, descansando no alto do morro perto do farol, se via lá embaixo,

nas águas revoltas do oceano, a carcaça do velho navio da CSN- Cia. Siderúrgica Nacio-

nal, enferrujando, encalhado depois de uma saída errada do porto, então a poucos anos.

Todos nós ali sentados com a vista panorâmica de toda a praia, do complexo portuário,

e de parte da cidade, com todo o mar aberto em sua grandeza intrigante e até assustado-

ra, meus pensamentos vagavam. Eu e a Rosa, deitados um ao lado do outro de barri-

ga para cima, em silencio nos acariciávamos, cada um em seu pensamento, escutando o

barulho das ondas do mar, batendo forte nas pedras lá embaixo no costão.

Agora nós dois de bruços olhando o azul do céu, que no horizonte parecia tocar as águas

do oceano, no seu azul cristalino, e nós ali romanceando, nos acariciando, nos beijando,

parecendo o tempo, não querer passar. Todos descansados partimos para a praia da

Ribanceira de água gelada, com sua areia úmida e escura, na praia caminhando por den-

tro d‘água, de mãos dadas, não me atrevi a entrar no mar para tomar banho, todos os ou-
tros entraram no mar, a Rosa até arriscou uns mergulhos. Estava eu sentado a uns oi-

to metros, num degrau de areia, nos combros da praia, olhando meus companheiros de

caminhada, e uma em especial em seu corpo jovial, pulando as ondas com suas amigas.

Todos agora fora d’água, caminhando em direção de onde eu estava sentado, a Rosa to-

da molhada tremendo de frio, senta em meu colo, deixando minha bermuda toda molha-

da. Todos sentados, agora agasalhados, conversando traçamos o caminho da volta,

entraríamos por onde saímos, pegaríamos uma outra trilha costeando o morro pelo meio

do mato, saímos bem ao lado do olho d’água enferrujada. Na praia seguimos camin-

hando até a entrada da Cancha, passamos por toda sua extensão, saímos ao lado do Es-

tádio do Atlético na Rua Nereu Ramos, contornamos a cerca do Estádio, chegamos em

frente ao prédio da Radio, sentamos nos degraus da porta de entrada, cada casal conver-

sava sobre o que fazer a noite daquele domingo, eu e a Rosa, decidimos ir ao cinema.

Segui então para casa pela Vila Operária, os demais seguiram todos para a Rua de Bai-

xo, a Rosa teria que seguir ainda com as amigas gêmeas, até o canto da praia.

Foi uma caminhada e tanto, um grande passeio, enfim um domingo diferente.

OS PASSOS DO MEU PAI

Eu reservista, junto com alguns outros amigos, do dia à dia, de Imbituba, passamos nos

exames médicos, realizados no salão do Imbituba Atlético Clube, para irmos servir por

doze meses, ao Exercito Brasileiro, no14 BC- Batalhão de Caçadores, em Florianópolis.


Muitos foram declarados aptos, mais poucos foram realmente servir a pátria.

Os de Imbituba, que realmente conhecia eram, o Morão, negro baguncista, o seu nome

de guerra J. J. Santos, Joel Nogueira serviu por uns três meses dando baixa por ser arri-

mo de pai, acho que pediu baixa porque ficou com saudade, do amigo de quartel, Zanata

da cidade de Criciúma, filho de pai rico, conseguiu baixa antes do tempo, João Barreto

do Bairro do Mirim, sempre engomadinho, Ademir da “Cancha”, já foi servir ao Exerci-

to casado, chorava de saudade da namorada. Servir o Exército era uma vontade min-

ha, um desejo, até para ser solidário a meu pai, que tinha servido ao Exercito, na cidade

do Rio de Janeiro, no ano de 1.944, em plena segunda guerra mundial, guerra essa, que

teve seu término, no mês de maio do ano seguinte, com a rendição dos Nazistas do Dita-

dor Alemão, Adolf Hitler. O dia de meu embarque para apresentação no quartel em

Florianópolis foi num domingo, no início do mês de março de 1.970, em casa me despe-

di dos familiares, fui para a Agência de Ônibus da Santo Anjo, em meu embarque, só a

Rosa, minha namorada, acompanhada do irmão que servia na Marinha, também em Flo-

rianópolis. Eu fui para Florianópolis servir ao exército namorando a Rosa, depois de

alguns meses, em uma das poucas vindas em casa, terminamos nosso namoro de comum

acordo, sem constrangimentos ou ressentimentos pelo menos de minha parte, eu segui a

minha vida, ela seguiu a dela. Como experiência de vida, servir ao exército ou outra

arma, vale para a vida toda, se fores selecionado e escolhido, vá, não desista.

A partir dai a juventude, foi se esvaindo, vindo a responsabilidade de adulto.

REFLEXÃO
A minha infância e juventude em Imbituba, foi rica em quase tudo do que se pode levar,

para toda à vida. Das brincadeiras com os amigos aprendendo ter respeito um pelo

outro, da educação trago o respeito pelas pessoas, na religiosidade acreditando num ser

supremo, Deus, que ele existe, e na família que é o pilar de sustentação do ser humano.

Os amigos das brincadeiras da infância e juventude que ficaram para trás, de outros que

vieram, uns com verdadeira amizade, mais de irmãos, do que, de amigos, e outros mais

com amizade não verdadeiras. Na educação, a boa educação, não a curricular, mas

aquela adquirida lá atrás em família, no bom trato educado com as pessoas.

A religiosidade continua, só que com outros pensamentos, sem a inocência da catequese

da época da primeira comunhão. A boa convivência em família na infância e juven-

tude, foi de amor verdadeiro, o amor de família de sangue, de pais e irmãos.

Mais que vão diluindo a partir da união conjugal dos membros da boa família.

Formando novas famílias, começando então o afastamento um do outro, vindo as vezes

a discórdia, já que outros membros começam a fazer parte da então boa família, vindo

assim, o afastamento gradual do amor, do carinho e até da amizade fraterna, de verda-

deiros irmãos. Mesmo que não queiramos admitir é assim mesmo que acontece, in-

felizmente, com a maioria das boas famílias. Esse afastamento familiar se torna mai-

or ainda, quando os pilares da boa família, como pai e a mãe, que partem dessa vida, em

sua passagem pela terra. Que saudade da boa família.

Fim.
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