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Economia Empresarial

SUMÁRIO

MÓDULO 1 – A CIÊNCIA ECONÔMICA E A TEORIA DA DEMANDA E DA OFERTA NA ÓTICA DE


UM MERCADO COMPETITIVO ......................................................................................................... 3
1.1 O QUE É ECONOMIA? ......................................................................................................................................................... 3
1.2 A TEORIA DA DEMANDA E DA OFERTA.............................................................................................................................. 6

MÓDULO 2 – MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO E MERCADOS NÃO COMPETITIVOS: MONOPÓLIOS E


OLIGOPÓLIOS ................................................................................................................................ 20
2.1 A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO .......................................................................................................................................... 20
2.2 O MERCADO FALHA ........................................................................................................................................................ 21
2.3 MONOPÓLIO ................................................................................................................................................................... 21
2.4 OLIGOPÓLIO .................................................................................................................................................................... 25
2.5 OS MACROMERCADOS.................................................................................................................................................... 28

MÓDULO 3 – O CONTROLE DA INFLAÇÃO E A POLÍTICA MONETÁRIA: A MENSURAÇÃO DA


ATIVIDADE ECONÔMICA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO......................... 32
3.1 INFLAÇÃO E POLÍTICA MONETÁRIA ................................................................................................................................ 32
3.2 A MENSURAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA ............................................................................................................... 39

MÓDULO 4 – A SUSTENTABILIDADE DAS CONTAS PÚBLICAS E OS INSTRUMENTOS DE


POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL .............................................................................. 46
4.1 A POLÍTICA FISCAL E A SUSTENTABILIDADE DAS CONTAS PÚBLICAS ........................................................................... 46
4.2 DE VOLTA À POLÍTICA MONETÁRIA ................................................................................................................................ 52

MÓDULO 5 – CICLOS ECONÔMICOS, POLÍTICAS CAMBIAIS E BALANÇO DE PAGAMENTOS .... 56


5.1 CICLOS ECONÔMICOS ..................................................................................................................................................... 56
5.2 O SETOR EXTERNO .......................................................................................................................................................... 60

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MÓDULO 1 – A CIÊNCIA ECONÔMICA E A TEORIA DA DEMANDA E DA OFERTA NA ÓTICA


DE UM MERCADO COMPETITIVO
1.1 O que é economia?
1.1.1 A ciência da alocação de recursos e das escolhas

Economia pode ser vista como uma ciência, dado que suas teorias são formuladas a partir do método
científico. Um físico ou um químico observam a natureza e formulam suas teorias. Depois de formuladas as
teorias, os físicos e químicos executam experiências para verificar se essas teorias são confirmadas ou não.

As teorias econômicas são formuladas a partir das observações que os economistas fazem do que acontece
na vida econômica nos diversos países. Por exemplo: muito do que se conhece atualmente como teorias
econômicas consagradas nasceu de observações e estudos da Grande Depressão de 1930. Quais foram as
causas e origens daquela catástrofe? Por que se aprofundou tanto? Por que foi tão longa? Quais foram os
principais equívocos dos governos? Quais foram os motores que finalmente tiraram o mundo daquela
terrível situação de profundo desemprego e sofrimento?

Assim como os físicos e químicos, os economistas formulam suas teorias a partir de observações e continuam
fazendo mais observações e modificando as teorias originais quando a realidade as confronta.

1.1.2 As escolhas e o conceito de custo de oportunidade

O que essa ciência chamada economia estuda? Ela estuda a escassez.

Uma medida importante da evolução de uma economia é o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB nada mais é do
que a produção de bens e serviços de uma economia em um determinado período de tempo. Para que
sejam produzidos bens e serviços são necessários fatores de produção, como tempo, capital e terra, e esses
fatores não são infinitos. Eles são limitados, escassos. Desse modo, os agentes econômicos estão sempre
escolhendo como alocar seus recursos limitados. Os agentes econômicos enfrentam trade offs (têm de abrir
mão de algo para obter outra coisa).

Imaginemos que um empresário, fornecedor de insumos para a construção civil, tenha obtido lucro na sua
empresa nos últimos tempos. Ele aplicou esse lucro em um banco e está sendo remunerado, após o
pagamento de impostos, com 10% a.a. de juros. Esse empresário otimista está cogitando utilizar esse capital
para implementar um projeto de ampliação de capacidade produtiva de sua empresa. Se ele optar pelo
projeto, abrirá mão da rentabilidade que está auferindo na aplicação financeira.

Dizemos que a rentabilidade sobre o capital de 10% a.a. que ele não terá mais, se optar pelo projeto, é o
custo de oportunidade do projeto. Por outro lado, se ele optar por não executar o projeto e deixar o
dinheiro aplicado no banco, ele deixará de ganhar a rentabilidade que o projeto lhe daria sobre o capital
aplicado. Esse é o custo de oportunidade de deixar o dinheiro aplicado no banco.

O custo de oportunidade é o que se abre mão de ganhar naquilo que não foi escolhido.

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Assim, como o capital dele obviamente não é infinito, nosso empresário tem de fazer uma escolha (ele
enfrenta um trade off): deixa o dinheiro no banco ou realiza o projeto? E, para decidir, ele compara os custos
de oportunidade: o que ele deixa de ganhar no banco quando escolhe o projeto e vice-versa?
Os agentes econômicos estão sempre enfrentando ‘trade offs’ na alocação dos seus recursos.

1.1.3 Como os agentes econômicos alocam seus recursos

Quem são os agentes econômicos em uma economia? Três tipos de agentes econômicos decidem a alocação
dos seus recursos escassos: as famílias, as empresas (o empresário) e o governo (todos os níveis: municipal,
estadual e federal).

A escolha das famílias

O recurso limitado da família é a sua renda (salários, lucros, aluguéis). A família escolherá consumir a
combinação de bens e serviços que maximiza a utilidade dessa renda para ela (no conceito de utilidade,
incluem-se as necessidade e preferências dessa família).

A escolha das empresas

O recurso limitado das empresas é o capital. A empresa escolherá como alocar seu capital visando a
maximizar seu lucro. O recurso limitado do governo é a carga tributária que a sociedade transfere para ele.
Ele tem de escolher a alocação desse recurso em serviços públicos, como segurança, saúde, educação,
programas sociais ou mesmo na construção de um novo porto ou estrada. Cada vez que o governo resolve
alocar capital em uma dessas importantes finalidades, esse capital não está mais disponível para as outras
finalidades também importantes. Qual o critério de escolha dos governantes? Os governantes escolhem
alocar os recursos que recebem da sociedade em uma combinação de finalidades que maximize o bem-
estar social...

Aí, chegamos a um impasse: é verdade que os governos visam a maximizar o bem-estar social, mas todo
governo também visa a apoio político e votos (no mundo democrático funciona assim). Frequentemente, a
decisão de alocação de recursos que será mais eficiente na construção de bem-estar social no médio e longo
prazo não é a mais eficiente para esse governo obter apoio político no curto prazo.

Esses conflitos são inerentes à situação básica da economia, que é a ciência das escolhas. Por isso mesmo, a
opinião unânime entre os economistas sobre algo jamais é alcançada. Essa impossibilidade de se alcançar
unanimidade se reflete nas infindáveis discussões entre economistas de diferentes linhas de pensamento
econômico.

1.1.4 Microeconomia e macroeconomia

A ciência economia é abordada em dois níveis:


microeconomia: é o estudo de como as famílias e empresas tomam suas decisões de alocação de
recursos e como interagem nas diversas estruturas de mercado;
macroeconomia: estuda a economia como um todo – o crescimento econômico, a inflação e a taxa
de desemprego.

Começaremos analisando a disciplina pela ótica da microeconomia.

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1.1.5 Estruturas de mercado: mercados competitivos e não competitivos

As estruturas de mercado são: concorrência, concorrência monopolística, monopólios e oligopólios. A teoria


econômica define as características de cada estrutura. Na vida real, com frequência, sentimos dificuldades em
determinar se um dado mercado está operando em uma estrutura ou em outra. É para isso que serve a
teoria. Verificamos se os mercados apresentam ou não as condições descritas na teoria e,
consequentemente, se estão mais próximos de uma estrutura ou de outra.

Basicamente, o número de empresas operando em um mercado é o determinante da estrutura vigente,


determinando o nível de competitividade. Contudo, existem características e nuances que discutiremos para
cada caso.

O esquema apresentado na Figura 1 abaixo nos auxilia no mapeamento das características de cada estrutura:

Figura 1: mercados competitivos e não competitivos

1.1.6 Fatores que promovem a concorrência

Concorrência perfeita

Um mercado nada mais é que um grupo de compradores e vendedores de um determinado bem ou serviço.

Em um mercado competitivo, o número de compradores e vendedores é grande o suficiente para que


nenhum deles individualmente consiga impactar o preço desse mercado.

Dizemos que, nesse mercado, cada participante é um price taker (tomador de preço). Isso significa que cada
vendedor ou comprador negocia o bem ou serviço ao preço que o mercado como um todo pratica, não
conseguindo interferir nesse preço.

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Para haver uma concorrência perfeita, as características seguintes devem acontecer:


Os compradores e vendedores são tão numerosos que nenhum comprador ou vendedor pode
influenciar o preço de mercado. Dizemos que os participantes são price takers (tomadores de
preço), pois devem aceitar o preço que o mercado lhes impõe.
Os produtos são idênticos.
Existe livre entrada e saída do mercado.
Não existe assimetria de informação.

Veremos, mais adiante, que barreiras à entrada de novos participantes são o fator-chave para a concorrência
não acontecer. Elas estarão presentes quando verificarmos as condições de monopólio.

Participantes de um mercado que tenham informações que os outros não possuem sobre condições desse
mercado não estariam competindo em igualdade de condições. Informações privilegiadas são, via de regra,
fontes de um lucro diferenciado para quem as possui. Em um mercado em concorrência perfeita, todos os
participantes possuem o mesmo nível de informação, isto é, não há assimetria de informação.

Concorrência monopolística

Em alguns mercados, apesar da presença de muitos vendedores, os produtos não são idênticos. Imagine
muitas sorveterias concorrendo em um mercado, mas cada uma tendo sabores e qualidades diferenciadas
dos seus sorvetes. Desse modo, até certo ponto, cada vendedor tem algum domínio sobre o preço de seu
produto. Diz-se que esse mercado é monopolisticamente competitivo.

Se formos olhar o mundo real, encontraremos uma diversidade de níveis de competitividade nos mercados.
Contudo, o que conseguimos apreender estudando como se forma a oferta, a demanda e
consequentemente o preço, em um mercado em concorrência perfeita, será de extrema utilidade para a
análise dos outros mercados. Dessa forma, começamos nosso estudo das estruturas de mercado analisando
como funciona um mercado no qual estão presentes as condições listadas acima para haver concorrência
perfeita.

1.2 A teoria da demanda e da oferta


1.2.1 A lei da demanda (o lado do consumidor)

Imagine que você vai ao supermercado e, na sua lista, está incluso o item sorvete. Vamos exemplificar com
um pacote de sorvete básico de creme da Kibon, por exemplo. A sua decisão de comprar ou não o sorvete e
quantos pacotes adquirir será baseada em diversos fatores, como, por exemplo:
no fato de você gostar ou não de sorvete;
no fato de estar ou não fazendo calor;
no fato de você estar ou não de dieta;
no fato de você possuir ou não um freezer para armazenar o produto;
no fato de você ter dinheiro ou não para comprar o sorvete e, muito importante...
no preço do sorvete.

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Digamos que um pacote básico de sorvete de creme custe em média R$ 20,00 em um supermercado. A
maioria das pessoas, se entrasse no estabelecimento e encontrasse o produto sendo vendido por R$ 100,00,
deixaria de comprá-lo. Por outro lado, se naquele dia, o supermercado estivesse fazendo uma promoção e
oferecendo o mesmo sorvete por R$ 5,00, muitos consumidores aproveitariam a oportunidade para adquirir
mais de um pacote.

Assim, a curva de demanda de um bem ou serviço diz a cada preço a quantidade demandada pelos
consumidores, como pode ser visto no Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1: curva da demanda

É importante compreender o que significa um ponto sobe a curva de demanda. Cada ponto é uma
combinação (P,Q), de um determinado preço do bem ou serviço e uma quantidade demandada desse bem
ou serviço.

No Gráfico 1 acima, se o preço do produto for P1, a quantidade que os consumidores demandarão desse
produto será Q1. Quais consumidores demandam esse produto ao preço P1? Todos aqueles que estão
dispostos a pagar por esse bem ou serviço de P1 para cima. Se o preço cair abaixo de P1, a quantidade
demandada aumentará, dado que, a um preço inferior, mais consumidores estarão dispostos a demandar o
produto. Se o preço subir acima de P1, ocorrerá o contrário, a quantidade demandada diminuirá, já que
alguns consumidores desistirão de demandar o produto.

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1.2.2 Outros importantes determinantes da demanda

Além do preço, podemos listar alguns outros fatores importantes na determinação da demanda por um bem
ou serviço.

Renda

Se em um país o crescimento da economia tem sido consistente, e a renda real (variação da renda
descontada da inflação) das famílias tem se expandido, a demanda pela maioria dos produtos aumentará.
Caso o país esteja passando por uma recessão, acontecerá o contrário. A Gráfico 2 abaixo mostra como essa
expansão ou contração de renda afeta a curva de demanda.

Gráfico 2: reflexos da expansão ou contração de renda na curva de demanda

No Gráfico 2 acima, suponhamos que a renda média da população seja R1 e a curva de demanda seja D1. Se o
preço do produto for 15, a quantidade demandada será 50. Se a renda se expandir para R2, maior do que R1, a
curva de demanda se deslocará para fora, representada por D2. Ao mesmo preço 15, a quantidade
demandada agora é 65. Caso a renda encolha para o nível R3 menor do que R1, a curva de demanda se
deslocará para dentro, representada por D3, o que significa que ao mesmo preço 15 a quantidade demanda
cai para 35.

Existem bens e serviços para os quais a lógica que acabamos de analisar se dá ao contrário. Isso significa que
esses bens ou serviços são mais demandados quando a renda da população encolhe e menos demandados
quando essa renda se expande.

Um exemplo seria o serviço de sapateiro, que é mais procurado quando a população demanda menos
sapatos novos porque sua renda encolheu; ou a compra de carne de segunda ou ovo, que substitui a carne
de primeira que ficou menos acessível, dada a redução de renda. Por apresentar esse comportamento,
denominamos esses bens ou serviços de bens inferiores. Obviamente, não é o que acontece com a
demanda da expressiva maioria de produtos que são denominados normais.

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Disponibilidade de crédito

Alguns produtos têm sua demanda muito afetada pela disponibilidade de crédito. Exemplos desse caso
seriam: eletrônicos, linha branca (geladeiras, máquinas de lavar e eletrodomésticos em geral), automóveis,
casas e apartamentos.

O advento do crédito consignado – regulamentado em lei no Brasil desde 2003, no qual as parcelas do
empréstimo são diretamente descontadas do salário ou da aposentadoria do cidadão – reduziu o risco de
inadimplência para as instituições financeiras instituições, diminuindo os juros pagos pelo consumidor e
deslocando para fora a curva de demanda desses produtos. Isto é, a demanda por esses produtos foi
expandida por haver mais crédito a juros menores.

Gostos e preferências

O fato de algum produto começar a ser, por algum fenômeno mercadológico, da preferência da população
também causa deslocamentos da curva de demanda.

Expectativas

As expectativas da população têm expressivas consequências na economia. Em períodos de expansão


econômica, com aumento da taxa de emprego e renda, as pessoas ficam mais confiantes, com boas
expectativas, e ousam consumir mais, ousam realizar sonhos de consumo, não somente com a renda
corrente, mas com a expectativa de rendas futuras, comprando a crédito. Esse cenário desloca as curvas de
demanda por bens e serviços para fora. O maior consumo cria mais empregos reforçando as boas
expectativas e a demanda. Infelizmente, em um período de recessão, toda lógica acima se dá ao contrário. A
confiança do consumidor se contrai, as expectativas são ruins e as curvas de demanda se deslocam para
dentro, reforçando as más expectativas.

Bens ou serviços complementares

Existem muitos bens e serviços que se complementam no consumo das pessoas e das famílias. Bens ou
serviços complementares são aqueles que, ao comprarmos um deles, temos a propensão de comprar o outro
também. Como exemplo, temos a complementaridade no consumo de arroz e feijão, ou seguros de
automóveis e automóveis. Podemos dizer a mesma coisa para o preço de passagens aéreas para o Rio de
Janeiro e a demanda por hospedagem na Cidade Maravilhosa. Se o preço da passagem aérea para o Rio
aumentar, certamente diminuirá a demanda por hotéis nessa cidade. De fato, em geral, diminui a demanda
por um bem se o preço de um bem complementar a ele aumentar. E o inverso acontece se o preço do bem
complementar diminuir.

Bens ou serviços substitutos

Quando acontecem variações de preços, os consumidores buscam substituir bens ou serviços por outros. Um
bem ou serviço é um substituto perfeito de outro quando o indivíduo troca um pelo outro, por menor que
seja a variação relativa de preços, guardando o mesmo nível de satisfação. Quando ocorre um aumento do
preço da maçã, a demanda por peras aumenta, pois são bens substitutos próximos, quase perfeitos.
Certamente, se a Coca-Cola aumentar de preço, a demanda por outros refrigerantes e similares aumentará.

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Ceteris Paribus – uma observação

Vimos que, quando o preço de um bem e serviço varia, a quantidade demandada se move sobre a curva de
demanda. Os outros fatores, quando variam, deslocam a curva, como vimos no caso de variação da renda.
Mas, para analisarmos como uma dessas variáveis afeta a demanda, temos de isolar o efeito das outras.

Se o preço do bem ou serviço sobe, a quantidade demandada cai? Depende, pois se ao mesmo tempo a
renda aumentou, não sabemos o resultado final dos dois efeitos. Contudo, se imaginarmos que tudo ficou
inalterado (usa-se o termo ceteris paribus, que, em latim, que significa “tudo o mais constante”). Ceteris
paribus quer dizer que a renda e todos os outros fatores que afetam a demanda não mudaram. Podemos
agora afirmar que se o preço subiu a quantidade demandada do bem ou serviço em questão caiu.

1.2.3 Elasticidade-preço da demanda

Os compradores reagem, em termos das quantidades adquiridas, quando os preços se alteram. Avaliar
quantitativamente a reação é fundamental para a tomada de decisão sobre preços dos empresários ou
gerentes. Como a receita total das vendas resulta da multiplicação das quantidades adquiridas pelos preços
de mercadorias e serviços, (Receita = Q x P), a reação dos consumidores altera o faturamento da empresa.

As medidas para essas variações são chamadas de elasticidade-preço da demanda. As elasticidades-preço


da demanda quantificam a variação das quantidades compradas pelos consumidores como resposta às
oscilações de preços.

A elasticidade-preço da demanda (Epd) é definida como a razão entre a variação percentual na quantidade
demandada e a variação percentual do preço do bem ou serviço. É uma razão entre a causa e o efeito, ambos
medidos em termos percentuais, onde o efeito é o numerador da razão, e a causa é o denominador: Epd =
Δ%Qd / Δ%P.

Como a curva de demanda é uma relação inversa entre a quantidade demandada e o preço, o sinal
encontrado da elasticidade-preço da demanda é negativo. Como isso pode levar a erros de interpretação, o
sinal não será considerado. É comum apresentar a elasticidade-preço da demanda em valor absoluto.

Embora os compradores sempre reajam às oscilações de preços, tais reações podem ser mais ou menos
intensas, dependendo das características do bem ou serviço em questão. A seguir, analisamos alguns fatores
determinantes da elasticidade-preço da demanda.

Necessidades versus supérfluos

Quando um bem ou serviço é necessário para um consumidor, ele tende a acomodá-lo dentro do seu
orçamento, apesar de uma subida de preço. A maioria das pessoas deixaria de adquirir algum outro bem
para continuar a comprar um remédio necessário, apesar de ele estar mais caro. Dizemos que o remédio tem
uma demanda inelástica, o que significa que a elasticidade-preço é menor do que 1 (Δ%Qd / Δ%P < 1). A
quantidade demandada caiu percentualmente menos do que o aumento do preço. Se, por outro lado, o bem
ou serviço em questão fosse supérfluo, isto é, o consumidor pudesse deixar de consumi-lo sem grandes
prejuízos de sua qualidade de vida ou conforto, provavelmente um aumento de preço teria como
consequência uma queda de quantidade demandada percentualmente maior do que o aumento de preço.

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Esse bem ou serviço teria uma demanda elástica, o que significa que a elasticidade – preço é maior do que 1
(Δ%Qd / Δ%P >1).

Disponibilidade de substitutos próximos

No exemplo acima, a existência de um genérico para o remédio em questão provavelmente faria com que
sua elasticidade-preço aumentasse. Isso quer dizer que, dado que o consumidor tem outra opção, um
aumento do preço do remédio provocaria uma queda de quantidade demandada maior no que na situação
em que não existisse o genérico.

Horizonte temporal

A elasticidade dos bens tende a aumentar em horizontes de tempo mais longos. Se o preço de gasolina
aumentar consideravelmente (como na década de 1970, nos choques de petróleo, quando a organização de
países exportadores de petróleo (OPEP) restringiu a oferta, forçando uma repentina e aguda alta do preço do
produto). A demanda inicialmente cai pouco, dado que é um bem muito necessário. Com o passar do tempo,
os consumidores tenderão a comprar carros mais econômicos, a tentar trabalhar mais próximo da sua
moradia ou se mudar para perto do trabalho, e a demanda por gasolina cairá bem mais. Isto é, a reação dos
consumidores ao aumento de preço fará com que a resposta da quantidade demandada se intensifique no
horizonte de tempo.

Participação do bem no orçamento do consumidor

Bens ou serviços que representam um percentual muito pequeno no orçamento do consumidor tendem a
ter a demanda mais inelástica do que bens que representem um percentual maior. Se o preço de uma
caixinha de fósforo aumentar 30%, a quantidade demandada por caixinhas de fósforo cai menos do que a
quantidade demandada de filé mignon, se este sofrer um aumento de preço dos mesmos 30%.

Exemplo de demanda inelástica

Admita que o preço de certo bem aumente 20% (Δ%P) e a quantidade demandada caia 5% (Δ%Qd). Qual é a
elasticidade-preço e o que acontece com a receita de vendas e o gasto do comprador quando o preço sobe?

Epd = Δ%Qd/Δ%P = (5 /100) / (20/100) = 0,05/0,20 = 0,25

Um aumento de preço de 1% leva à redução de 0,25% na quantidade consumida. O aumento de preço


resulta em um aumento da receita de vendas e do gasto do consumidor. Provavelmente, o consumidor tem
poucas opções de substituir esse bem. Ele continua comprando quase a mesma quantidade, apesar da
subida do preço. A demanda é inelástica. Como exemplo, considere a demanda por um remédio único,
especial. Podemos observar que um bem que tenha uma demanda inelástica favorece ao produtor em
detrimento ao consumidor.

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Exemplo de demanda elástica

Admita que o preço de certo produto aumente 10% (Δ%P) e a quantidade demandada caia em 22% (Δ%Qd).
Qual é a elasticidade-preço da demanda por esse produto?

Epd = Δ%Qd / Δ%P = (22/100) / (10/100) = 0,22/0,10 = 2,20

Assim, para cada aumento de preço de 1% ocorre uma queda de 2,2% na quantidade demandada. Em outras
palavras, se o preço subir, haverá uma queda percentual maior ainda na quantidade comprada. Os gastos do
consumidor e a receita de vendas cairiam. Para os consumidores, esse produto provavelmente não é
essencial ou tem substitutos próximos, pois há uma forte redução de sua demanda devido ao aumento de
preço. A demanda é dita elástica.

Podemos observar que um produto que tenha uma demanda elástica favorece o consumidor em detrimento
do produtor. Quanto mais flexibilidade de escolha existe para o consumidor, seja porque o produto não é
necessário ou porque existem bens substitutos próximos, a demanda será mais elástica.

Exemplo de demanda unitária

Admita que o preço de certo bem aumente 10% (Δ%P) e a quantidade demandada caia 10% (Δ%Qd). Neste
caso, a elasticidade-preço é unitária, e o gasto do consumidor e a receita do vendedor com o bem é
constante, pois

Epd = Δ%Qd / Δ%P = (10 / 100) / (10 / 100) = 0,10 / 0,10 = 1.

Para cada aumento de preço de 1% ocorrerá uma redução de 1% na quantidade comprada. A decisão de
aumentar os preços não irá modificar o gasto do consumidor e a receita de vendas. O consumidor reduz as
quantidades na mesma proporção da subida dos preços. A demanda desse bem apresenta elasticidade
unitária.

O Gráfico 3 a seguir apresenta o conceito de elasticidade-preço da demanda. Quanto maior for a


elasticidade-preço mais horizontal será a curva de demanda1, ou seja, as variações das quantidades serão
mais que proporcionais às variações dos preços (Gráfico A). Quando o bem tem demanda inelástica, a curva é
mais vertical, pois as variações das quantidades demandadas são menos intensas que as variações dos
preços (Gráfico C). Se a elasticidade é unitária, as variações percentuais nas quantidades compradas são
iguais às dos preços (Gráfico B).

1
Associar a elasticidade-preço da demanda à inclinação da curva de demanda não é totalmente preciso. As elasticidades estão
relacionadas também com o nível de preço e de consumo. Isso significa que as curvas de demanda não são retas como estão sendo
representadas nesta apostila por simplificação. Aqui, faremos essa associação para melhor explicar visualmente o conceito de
elasticidade.

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Gráfico 3: Elasticidade-preço da demanda

1.2.4 A lei da oferta (O lado do produtor)

Imaginemos um produtor de maçãs e diversos mercados nos quais ele pode ofertar seu produto. Em uma
determinada feira, o quilo do produto está sendo negociado a R$ 8,00. Se, depois de fazer seus cálculos,
verificar que está tendo lucro a esse preço, o produtor, provavelmente, colocará sua maçã para vender nessa
feira. Talvez um produtor que tenha custos mais altos, como, por exemplo, transporte, não se interesse por
vender suas maçãs nessa feira. Se o preço da maçã subir, a quantidade ofertada tende a subir, já que isso
incentivará novos produtores a vender seu produto. Se, ao contrário, o preço da maçã cair, alguns produtores
sairão do mercado, e a quantidade ofertada se reduzirá.

A lei da oferta diz que, ceteris paribus (tudo o mais constante), quanto maior o preço a quantidade ofertada
aumentará, e quanto menor o preço a quantidade ofertada diminuirá, como pode ser visto no Gráfico 4 a
seguir.

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Gráfico 4: Lei da Oferta

É importante compreender o que significa um ponto sobe a curva de oferta. Cada ponto é uma combinação
(P,Q) de um determinado preço do bem ou serviço e uma quantidade ofertada desse bem ou serviço.

No Gráfico 4 acima, se o preço do produto for P1, a quantidade que os produtores ofertarão desse produto
será Q1. Quais produtores ofertam esse produto ao preço P1? Todos aqueles que estão dispostos a vender
esse bem ou serviço de P1 para baixo. Se o preço subir acima de P1, a quantidade ofertada aumentará, dado
que, a um preço superior, mais produtores estarão dispostos a ofertar o produto. Se o preço cair abaixo de
P1, ocorrerá o contrário, a quantidade ofertada diminuirá, já que, alguns produtores desistirão de ofertar o
produto.

1.2.5 Principais determinantes da oferta

Além do preço, podemos listar alguns outros fatores que determinam a oferta de um bem ou serviço.

Preço dos insumos

Os custos dos fatores de produção influenciam a oferta. Para um mesmo nível de preço, aumentos nos custos
reduzem margem de lucro e a viabilidade do negócio. As empresas são desestimuladas a produzirem. Haverá
uma redução nas quantidades ofertadas, deslocando, no Gráfico 5 abaixo, a curva de oferta de OA para OB, e
do ponto A para B se o preço se mantiver em R$ 15,00.

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Economia Empresarial

Gráfico 5: Relação entre preço e oferta

Tecnologia

Toda produção usa certa tecnologia específica, e as atualizações tecnológicas tornam os processos mais
eficazes, elevando a produtividade dos recursos usados, reduzindo os custos e aumentando a oferta. Um
bom exemplo é o que aconteceu nas últimas três décadas com a oferta de serviços de telefonia. Outro
exemplo: a tecnologia desenvolvida pela Embrapa aumentou significativamente a oferta do setor agrícola
brasileiro.

Expectativas

Se existem boas expectativas para algum mercado, mais empresários decidirão produzir o bem ou serviço, e
a oferta aumentará. Se as expectativas forem ruins, empresários abandonarão o setor, e a oferta diminuirá.

Preços de bens ou serviços concorrentes

A oferta é influenciada pelos preços dos bens e serviços concorrentes. Se o preço do milho aumentar, a oferta
de soja tende a diminuir. Tal fato ocorre devido à migração do produtor da cultura de soja para a de milho,
pois este se tornou mais rentável. Dessa forma, quando os preços dos bens concorrentes sobem, a produção
de soja diminui, há um deslocamento da curva de oferta de soja para a esquerda, na direção de menores
quantidades. A queda dos preços dos bens concorrentes leva ao deslocamento oposto.

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1.2.6 Elasticidade-preço da oferta

Assim como acontece com as quantidades demandadas, as quantidades ofertadas variam quando o preço
do bem ou serviço se altera. A intensidade dessa reação depende do tempo de resposta da produção da
empresa. Na maioria das cadeias produtivas, a oferta tende a ser mais elástica (mais sensível a preço) no
longo prazo. No curto prazo, podem ocorrer dificuldades no fornecimento de matérias-primas e, sobretudo,
de equipamentos; ou ainda dificuldades em contratar mão de obra especializada, dependendo da
especificidade do processo produtivo.

Se a elasticidade-preço da oferta for maior que 1, trata-se de uma oferta elástica; se for menor que 1, a oferta
é inelástica.

Exemplo de oferta elástica

Suponha que o preço de uma mercadoria aumente 15% (Δ%P) e a quantidade ofertada aumente 20%
(Δ%Qo).

Epo = Δ%Qo / Δ%P = (20 / 100) / (15/ 100) = 0,20 / 0,15 = 1,33

Para cada aumento de preço de 1% ocorrerá uma elevação da quantidade ofertada de 1,33%. Isso mostra
que a estrutura produtiva dessa mercadoria tem poucas restrições e é capaz de responder prontamente ao
estímulo de preço.

Exemplo de oferta inelástica

Suponha agora que o preço de outro bem aumente igualmente 15% (Δ%P) e a quantidade ofertada aumente
apenas 5% (Δ%Qo).

Epo = Δ%Qo/Δ%P = (5/100) / (15/100) = 0,05/0,15 = 0,33

Para cada aumento de preço de 1% ocorrerá uma elevação da quantidade ofertada de 0,33%. A estrutura
produtiva responde com dificuldade ao estímulo de preço.

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Economia Empresarial

Gráfico 6: Elasticidade-preço da oferta

O Gráfico 6 acima apresenta três curvas com inclinações distintas, representando curvas de oferta (elástica,
unitária e inelástica). A oferta representada pela curva OA (Gráfico A) é a mais horizontal (elástica em relação
preços), quando comparada às ofertas nos Gráficos B e C. A reação da quantidade ofertada no Gráfico A, à
variação do preço, tende a ser maior que nos Gráficos B e C.

1.2.7 O Mercado – Os opostos se encontram

O Gráfico 7 abaixo mostra ao mesmo tempo as curvas de demanda e oferta.

Gráfico 7: Equilíbrio de mercado

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Economia Empresarial

As duas curvas se cruzam em um ponto chamado equilíbrio do mercado. Ao preço de equilíbrio, e somente a
esse preço, a quantidade demandada pelos consumidores é igual à quantidade ofertada pelos produtores.
Esse equilíbrio funciona como um centro de gravidade para o mercado. Isso quer dizer que se o preço
estiver fora do de equilíbrio ele se ajustará para equilibrar a quantidade ofertada à quantidade
demandada.

Se o preço estiver acima do de equilíbrio, aparecerá um excesso de oferta no mercado. Esse excesso de oferta
fará o preço cair, diminuindo a quantidade ofertada e aumentando a quantidade demandada. O preço cairá
até alcançar o preço de equilíbrio quando o excesso de oferta terá desaparecido. Essa situação está
representada no Gráfico 8 a seguir.

Gráfico 8: Excesso de oferta

Se o preço estiver abaixo do de equilíbrio aparecerá um excesso de demanda no mercado. Esse excesso de
demanda fará o preço subir, aumentando a quantidade ofertada e diminuindo a quantidade demandada. O
preço subirá até alcançar o preço de equilíbrio quando o excesso de demanda terá desaparecido. Essa
situação está representada no Gráfico 9 a seguir.

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Economia Empresarial

Gráfico 9: Excesso de demanda

1.2.8 O preço como bússola

Um ponto importantíssimo que acabamos de observar é que o preço se ajusta para equilibrar o mercado.

Para que a economia funcione é preciso que os preços sinalizem onde há abundância e onde há
escassez, que indiquem o que está sobrando e o que está faltando.

Os agentes econômicos tomam suas decisões de alocação de seus recursos, suas decisões de consumo e de
produção, olhando o preço. Quando o governo interfere no sistema de preços ele faz com que os agentes
econômicos tomem suas decisões olhando para um preço que não foi definido pelo mercado, mas
artificialmente. Isso, via de regra, acaba criando distorções sérias na economia.

Quando o governo, por exemplo, abaixa ou congela, por decreto, o preço de energia, ele cria problemas
financeiros para as empresas geradoras que param de investir e de ampliar a capacidade de fornecimento.
Do lado do consumidor, um preço congelado pelo governo fará com que este não se preocupe em
racionalizar a utilização de energia. Isto é, tanto do lado do produtor como do consumidor haverá distorções
de alocação de recursos porque o preço não é o correto e no caso do mercado de energia cria-se um cenário
que claramente pode levar a um apagão.

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Economia Empresarial

MÓDULO 2 – MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO E MERCADOS NÃO COMPETITIVOS:


MONOPÓLIOS E OLIGOPÓLIOS
2.1 A maximização do Lucro
2.1.1 A equação do lucro

A empresa aloca seu capital visando maximizar seu lucro.

LUCRO = RECEITA TOTAL – CUSTO TOTAL

Receita total é: o preço do produto vezes a quantidade = PQ


Os custos totais de uma empresa são a soma dos custos fixos e dos custos variáveis.

Consideremos uma empresa fabricante de bolos vendidos nos supermercados: os custos fixos dessa empresa
independem da quantidade produzida. Para defini-los, vamos imaginar que o empresário, por algum motivo,
decida suspender por alguns poucos meses a produção dos bolos. Diversas despesas, como matéria-prima,
embalagens e serviços terceirizados desaparecerão dos custos da empresa. Contudo, alguns custos
permanecem, como por exemplo, o aluguel da fábrica e os salários dos funcionários com carteira assinada.
Esses custos, que permanecem mesmo que a empresa não produza nada, são os seus custos fixos.

Já os custos variáveis dependem da quantidade produzida como a matéria-prima e a embalagem utilizada


na confecção de cada bolo. Dizemos que o custo variável é função da quantidade produzida.

Desse modo, a equação do lucro de uma empresa é:

Lucro = Receita total – Custo total


Lucro = PQ – (Custo fixo + custo variável (Q))

O lucro depende de dois valores que podem variar (duas variáveis): a quantidade que ele vende (Q) e o preço
que ele cobra por unidade vendida (P). Para maximizar o lucro, o empresário escolhe a dupla (P,Q) que
maximiza o valor da equação do lucro.

O preço que ele pratica vai depender da estrutura de mercado na qual sua empresa está inserida. Isto é, vai
depender, principalmente, se ele sofre concorrência e quão numerosa é essa concorrência.

Vimos no capítulo 1 que, no caso de concorrência perfeita, quando muitas empresas atuam no segmento, o
preço é imposto pelo mercado e prevalece aquele de equilíbrio o preço que faz a quantidade demandada
ser igual à quantidade ofertada.

Se nosso fabricante de bolos sofrer a concorrência de muitas fábricas semelhantes à dele, ele venderá seus
bolos ao preço que estiver sendo praticado pelo mercado. Ele somente escolherá a quantidade que
maximiza seu lucro. Isso é o que significa ser tomador de preço (price taker).

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Economia Empresarial

2.1.2 Lucro econômico versus lucro contábil

Uma empresa tem custos explícitos que implicam desembolso de recursos, como a compra de matéria-
prima, e também custos implícitos (também denominados de custos de oportunidade), como a rentabilidade
que seria obtida caso o capital da empresa fosse aplicado de outra forma (por exemplo, em títulos públicos).
O conceito de lucro contábil, em geral, não leva em consideração os custos implícitos, apenas os custos que
geram efetivos desembolsos. Mas o conceito de lucro econômico inclui todos os custos, explícitos e
implícitos.

Como exemplo, um empresário poderia ter aplicado, alternativamente, o capital investido em sua firma em
títulos públicos, obtendo uma rentabilidade de 10% a.a. Este é o custo de oportunidade de seu capital (o que
obteria se aplicasse seus recursos na melhor alternativa possível).
Se sua empresa tiver uma rentabilidade sobre o capital de 7% a.a., ele tem lucro contábil, mas
prejuízo econômico.
Se a rentabilidade for de 13% a.a., ele tem lucro contábil e lucro econômico.
Se a rentabilidade for de 10% a.a., ele tem lucro contábil positivo, mas lucro econômico zero.

2.2 O mercado falha


Adam Smith, o autor do famoso livro A Riqueza das Nações, no século XVIII, usou a imagem da mão invisível
do mercado, a qual faria com que os indivíduos, perseguindo os seus interesses individuais, promovessem
eficiência e o bem-estar social. Os recursos escassos da sociedade seriam utilizados do modo mais eficiente
possível se os mercados funcionassem em competição perfeita. Contudo, a realidade pode afastar-se desse
modelo de competição. Essas situações são denominadas falhas de mercado e justificariam a atuação do
governo em busca do aumento da eficiência na alocação dos recursos da sociedade e na promoção do bem-
estar social.

2.2.1 Exemplos de falha de mercado

Um exemplo clássico de falha de mercado seria uma fábrica de algum bem que provocasse poluição do ar ou
de rios prejudicando a saúde da população. O governo vai fiscalizar e eventualmente aplicar uma multa ou
até mesmo fechar a empresa em casos extremos. Essa eventual multa ou punição induzirá a empresa a
investir em tecnologias menos poluentes e a reparar danos causados ao ambiente.

Outra situação que demanda atuação do governo são mercados que não acontecem, pois não são lucrativos,
não atraindo produtores. Uma cidade pode não ter um tamanho de população suficiente para que uma
empresa privada de ônibus ali se instale, deixando seus moradores sem esse serviço essencial. Normalmente,
o governo criará uma empresa estatal para ofertar o serviço. Outra solução possível é oferecer algum
subsídio ao setor privado.

2.3 Monopólio
2.3.1 O peso morto do monopólio

Uma possibilidade de falha de mercado ocorre quando há somente um produtor de determinado bem ou
serviço e não existe substituto próximo para esse bem. Esse produtor é monopolista daquele bem ou
serviço.

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Economia Empresarial

Uma empresa pode ser a única que faz o trajeto de ônibus do Rio de Janeiro para Belo Horizonte e vice-versa.
Contudo, existe a possibilidade de o consumidor ir de avião ou dirigindo seu próprio carro. Se a empresa
aumentar muito o preço da passagem de ônibus, certamente perderá clientes para o avião ou para o carro
particular.

Um ponto a observar é que não existe curva de oferta de monopólio. Vimos no Capítulo 1 que a curva de
oferta de um mercado diz que se o preço de bem sobe novos produtores estão dispostos a vendê-lo e a
quantidade ofertada aumenta. Se o preço cair, alguns produtores desistem de vender o bem, e a quantidade
ofertada cai. Se estamos analisando um monopólio, existe somente um produtor e consequentemente não
faz sentido falar de curva de oferta.

Mas a curva de demanda existe e é a mesma vigente se o mercado fosse de concorrência. A curva de
demanda, como também foi visto no Capítulo 1, depende da disposição dos consumidores de comprar o
bem a cada preço, independentemente de o mercado ter muitos produtores ou somente um. Ela diz a cada
preço a quantidade demandada pelos consumidores.

O monopolista, como qualquer outro produtor, tem como objetivo maximizar seu lucro. Apesar do seu poder
de mercado, o monopolista não pode vender o produto ao preço que quiser. Se a curva de demanda de um
determinado produto indicar que, ao preço de R$ 100,00, a quantidade demandada é de 10.000 unidades,
mesmo sendo monopolista o produtor não pode decidir vender as 10.000 unidades ao preço de R$ 150,00,
pois a esse preço haverá menos consumidores dispostos a adquirir o produto. Contudo, o monopolista tem
mais liberdade que o produtor que atua em um mercado em competição perfeita. Ele pode escolher sobre a
curva de demanda a combinação preço-quantidade que maximize o seu lucro. Como vimos, o produtor
em concorrência perfeita é um tomador de preço e só escolhe a quantidade, pois o preço é determinado
pela interação da demanda e da oferta no mercado como um todo.

Qual é a combinação preço-quantidade representada por um ponto sobre a curva de demanda que o
monopolista vai escolher? Ele vai escolher a combinação (P,Q) que maximiza seu lucro:

Lucro = PQ – (Custo Fixo + Custo Variável(Q)).

Quando o monopolista encontra, sobre a curva demanda, a combinação preço-quantidade que maximiza
seu lucro, ele ajusta a produção para essa quantidade para poder cobrar esse preço. Desse modo, dizemos
que o monopolista é um fazedor de preço (price maker).

O monopolista, ao ajustar sua produção para a quantidade que maximiza seu lucro, está no melhor dos
mundos. Mas, para a eficiência de alocação dos recursos da sociedade, para o bem-estar social e
consequentemente para o consumidor, existe uma perda se compararmos com o resultado que seria obtido
se houvesse concorrência. Isso acontece porque o monopolista maximiza seu lucro produzindo uma
quantidade menor do que seria produzida em um mercado em concorrência perfeita e cobrando mais caro.
Assim, a produção do monopolista é menor do que aconteceria se houvesse concorrência, e menos
consumidores consomem o bem ou serviço. Essa perda de eficiência e bem-estar é denominada peso morto
do monopólio.

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Economia Empresarial

Essa comparação entre o que acontece se o mercado for de concorrência ou se houver um monopólio
aparece no Gráfico 10 a seguir, que compara para um determinado mercado qual a combinação de preço-
quantidade prevaleceria no caso de haver concorrência e no caso em que há somente um produtor,
configurando-se um monopólio.

Gráfico 10: Competição perfeita versus monopólio

2.3.2 Barreiras à entrada e o monopólio natural

O monopólio acontece quando existe alguma barreira que impeça novas empresas a atuarem naquele
segmento de mercado. Os principais tipos de barreiras à entrada a novos produtores, propiciando a
manutenção dos monopólios, são:
O monopólio instituído por lei, como acontecia em diversos serviços de utilidade pública no Brasil
até alguns anos atrás. É o chamado monopólio legal.
A concessão de uma patente. A patente dá ao inventor de uma inovação tecnológica ou um novo
remédio, por exemplo, o direito exclusivo de produção ou de venda da licença de produção, por um
determinado tempo. Os inventores necessitam de incentivo para continuar inovando e, se o
governo não conceder e defender as patentes, a inovação dificilmente acontece.
A propriedade exclusiva de um insumo essencial para algum setor. Esse fato impossibilita a entrada
de outra empresa.
Algumas empresas podem executar estratégias para barrar novos entrantes e manter seu poder de
mercado. Uma estratégia possível seria uma política de preços predatória. A empresa já instalada
poderia, por algum tempo, trabalhar com prejuízo, mantendo preços baixos, na intenção de
desencorajar novos entrantes. Essa prática é considerada ilegal, sendo motivo de diversas ações em
tribunais. Alguns casos são controversos, pois a empresa alega (e às vezes prova) que os preços
baixos não são predatórios, mas consequência das inovações tecnológicas ou da escala de
produção. Outra estratégia possível seria a empresa manter certo grau de capacidade ociosa,
sinalizando aos potenciais entrantes a sua habilidade de aumentar a produção e derrubar os preços.
Essa situação pode desencorajar os concorrentes.

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Economia Empresarial

Monopólio natural

O monopólio pode ser também o resultado do tamanho do mercado e dos altos custos fixos de um setor.
Imagine uma cidade pequena na qual se instale um hipermercado. Esse estabelecimento, por operar em
escala ampla e ter custos mais baixos, pode levar à falência todos os mercados tradicionais da cidade. Na
verdade, só há espaço para uma empresa de porte naquela cidade, dado o número de consumidores
limitado. Essa estrutura de mercado é conhecida como monopólio natural.

Os serviços de distribuição de água ou de energia elétrica em uma cidade seriam casos típicos de monopólio
natural. Se mais de uma empresa atuasse em algum desses setores, os custos altos decorrentes da escala
menor de produção fariam com que, para que as empresas atuassem sem prejuízo, o preço para o
consumidor fosse mais caro do que se houvesse uma única empresa.

2.3.3 O papel do Estado

Principalmente no caso de empresas de serviços públicos, o Estado terá de atuar no caso do monopólio
natural, como, por exemplo, nos setores de aeroportos, estradas, distribuição de energia e fornecimento de
água. São bens essenciais e, pela sua estrutura de custos fixos altos, não comportam concorrência.

Uma maneira de o Estado atuar é criar empresas estatais que se ocupem desses setores. Um segundo modo
de atuação do Estado é a realização de leilões de concessão do serviço ao setor privado. Um exemplo de
concessão: uma empresa privada terá a concessão de um determinado aeroporto por 30 anos.

Nesse segundo caso, o Estado atua como regulador, criando agências reguladoras para cada setor, como a
ANEEL para o setor de energia ou a ANATEL para telecomunicações. As agências reguladoras precisam zelar
para que os contratos sejam cumpridos adequadamente. As concessionárias têm obrigações com o nível de
qualidade dos serviços prestados ao público e com os prazos para realizarem os investimentos definidos nos
contratos de concessão.

Essas duas hipóteses de lidar com o monopólio natural são motivos de intermináveis discussões entre os
economistas. Alguns preferem as estatais, outros preferem as concessões ao setor privado.

No caso das concessões, a regulação governamental deve ter o objetivo de fazer com que o mercado sem
competição, ou no qual a competição seja restrita, funcione o mais próximo possível da situação de
concorrência. O regulador deve também preservar a rentabilidade do capital investido pelo concessionário e
zelar pela qualidade do serviço prestado. Alguns modelos de regulação utilizados dão garantia de retorno
mínimo para o investimento da empresa. O problema que pode ocorrer nesses casos é a garantia de retorno
induzir a investimentos maiores que o necessário por parte da concessionária, de modo a contabilizar um
capital maior e, portanto, aumentar o que recebe.

Outro modelo, utilizado nas privatizações das estradas brasileiras, é aquele no qual o governo define a tarifa
máxima a ser paga pelos consumidores às empresas. Os participantes do leilão oferecem descontos sobre
essa tarifa. Quem oferecer o maior desconto ganha a concessão.

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Economia Empresarial

As agências reguladoras precisam zelar para que os contratos sejam cumpridos adequadamente. As
concessionárias têm obrigações com o nível de qualidade dos serviços prestados ao público e com os prazos
para realizarem os investimentos definidos nos contratos de concessão. Uma crítica comum feita à regulação
é que os reguladores, indicados pelo governo, podem distanciar-se do interesse da população, sendo
cooptados pelas próprias empresas que deveriam regular. Essa dificuldade é conhecida como o problema da
captura.

Como os investimentos em setores de infraestrutura são elevados, um país que necessite atrair capital
privado para sua infraestrutura deve ter um ambiente regulatório previsível e confiável. O setor privado, para
investir, precisa ter confiança de que os contratos firmados serão cumpridos. Enfim, o risco regulatório e o
respeito aos contratos são pontos sensíveis nas decisões de investimento do setor privado. Incertezas nessas
áreas afugentam potenciais investidores.

A realidade é que temos exemplos de eficiência e má gestão tanto em casos de concessões ao setor privado
e como em estatais. As estradas principais francesas são privatizadas e figuram entre as melhores do mundo.
As estradas alemãs também figuram entre as melhores do mundo e são gerenciadas pelo Estado. Ambas as
soluções para se lidar com o monopólio natural apresentam suas vantagens e desvantagens.

2.4 Oligopólio
Diversos mercados operam com poucas empresas, isto é, ao menos duas, mas não muitas. São os oligopólios.
Nessa estrutura de mercado normalmente também encontramos a existência de barreiras à entrada. Quando
o produto ofertado pelas empresas que operam em oligopólio é bastante semelhante, diz-se que o
oligopólio é homogêneo. Nesse caso, os preços das empresas não podem ser muito diferentes, sob pena de a
empresa que cobrar mais caro perder fatia de mercado. Quando há uma diferenciação maior entre os
produtos das empresas, o oligopólio é chamado de diferenciado.

A questão da estratégia se faz presente nessa estrutura de mercado, pois, devido ao porte das poucas
empresas, o que uma decide em relação a produção e preços afeta o resultado das outras. Se uma Empresa A
de transporte aéreo lançar promoções nos preços de suas passagens, ela estará conquistando passageiros da
Empresa B. As empresas reagem às estratégias das concorrentes. A Empresa B possivelmente lançaria
promoções semelhantes para não perder sua fatia de mercado. Essa concorrência entre os participantes do
oligopólio é benéfica para o consumidor porque baixa os preços ou melhora o produto ou o serviço.
Contudo, essa concorrência nem sempre acontece. As empresas que formam o oligopólio podem agir em
conluio, formando um cartel. Nesse caso, essas empresas tomam a decisão de ofertar uma quantidade em
bloco, como se fossem um monopolista, combinando quanto cada uma irá produzir. Esta situação é
prejudicial ao consumidor, sendo a formação de cartel ilegal na maioria dos países, inclusive no Brasil.

2.4.1 Teoria dos Jogos

O cartel é lucrativo para as empresas que atuam em oligopólio, mas a própria cooperação em si não é trivial.
A Teoria dos Jogos, desenvolvida pelo matemático John Nash, analisa essa dificuldade de o cartel ser bem-
sucedido. A teoria demonstra que é necessário haver uma combinação entre os participantes, e essa
combinação tem de ser cumprida por todos. O que fica claro no trabalho de John Nash é que, se um
participante fizer o combinado, e os outros não, ele ficará em uma situação pior do que se ele também não
fizer o combinado. Assim, se não houver uma confiança entre os participantes de que todos cumprirão o
que foi combinado, a tendência é que todos quebrem o acordo, e isso será prejudicial para o grupo. A

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Economia Empresarial

palavra em inglês para cartel é trust (confiança). John Nash ganhou o prêmio Nobel de economia por seu
trabalho, e sua vida virou um filme – Uma mente brilhante – que, por sinal, levou o Oscar de melhor filme.

A teoria dos jogos se dedica a estudar situações nas quais a ação de cada agente envolvido afeta os ganhos
ou as perdas obtidas por ele e por todos os demais. A Teoria dos Jogos não se limita à análise da interação
entre empresas. Ela estuda, entre outras situações, a interação de equipes dentro de uma mesma empresa,
entre negociadores de um contrato, entre o conselho de administração e a diretoria executiva em uma
sociedade anônima, entre países discutindo diminuições de barreiras alfandegárias, limitações no
desenvolvimento de armas nucleares, acordos de reduções de emissões de gases para atenuar o efeito
estufa, e assim por diante.

Para entender e analisar os oligopólios usando a Teoria dos Jogos, considere inicialmente uma situação
imaginária clássica, conhecida como o Dilema dos Prisioneiros.

Suponhamos que duas pessoas foram presas e acusadas de terem cometido um crime juntas. Cada uma é
colocada em uma cela própria, separada da outra, e precisa decidir se confessa ou não o crime, sem saber se
o outro prisioneiro confessou ou vai confessar. As penas aplicadas são as seguintes:
Caso ambos os suspeitos confessem o crime, serão condenados a uma pena de três anos de prisão
cada um.
Caso um confesse e o outro não, aquele que confessou será libertado imediatamente como prêmio
e incentivo às confissões. O suspeito que não confessou será punido com cinco anos de detenção.
Caso nenhum dos dois confesse, eles permanecerão apenas um ano na prisão, durante as
investigações, pois, sem confissões, as provas para condená-los a uma pena maior são insuficientes.

A Tabela 1 a seguir resume o dilema dos prisioneiros. Os números entre parênteses nas células da tabela
representam as penas aplicadas em cada caso (o número da esquerda é a pena do Prisioneiro A; e o da
direita, a do Prisioneiro B). Os números têm sinais negativos, indicando que cada ano na prisão é um custo
(uma perda).

Tabela 1: Dilema dos prisioneiros

Prisioneiro B
confessa não confessa

confessa (-3 ; -3) (0 ; -5)


Prisioneiro A
não confessa (-5 ; 0) (-1 ; -1)

A Tabela 1 mostra que, para o conjunto dos dois prisioneiros, a cooperação seria o melhor resultado.
Nenhum deles deveria confessar, a fim de receber a menor pena, de um ano de prisão cada um. A pena total
dos dois seria de dois anos, menor que em qualquer outra célula. Contudo, nenhum deles não pode ter a
certeza do que o outro vai fazer (mesmo que tenham combinado mutuamente não confessar, antes de entrar
nas suas celas separadas). Individualmente, o pior resultado para cada prisioneiro seria ser o único que não
confessou, pois ficaria cinco anos na prisão. Assim, se nenhum prisioneiro tem certeza do que o outro vai
fazer, ele pode preferir confessar, pois esse jogo possui o que se denomina uma estratégia dominante para
cada jogador.

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Economia Empresarial

Uma estratégia dominante de um jogador é aquela que é sempre a melhor para ele, quaisquer que
sejam as estratégias escolhidas pelos demais jogadores. Tal estratégia pode existir ou não.

Imagine o Prisioneiro A, sozinho na sua cela, decidindo se confessa ou não. Ele sabe que o resultado final
depende do que ele decidir, combinado com o que Prisioneiro B decidir. Suponha que ele raciocine do
seguinte modo: “Não sei com certeza o que B fará. Mas, se ele confessar, o melhor para mim será confessar
também, pois fico três anos preso, em vez dos cinco anos se eu não confessar. E se ele não confessar? O
melhor para mim também será confessar, pois serei libertado imediatamente, em vez de ficar preso um ano,
o que ocorreria se eu não confessasse”.

Logo, em todos os casos possíveis de comportamento de B, seria melhor para A confessar. Como a tabela é
simétrica, o mesmo raciocínio, com os mesmos resultados, pode ser feito para o Prisioneiro B. Confessar é,
portanto, uma estratégia dominante para cada jogador individualmente, e é o que pode acabar
acontecendo, ficando, cada um, três anos preso. Se nenhum dos dois confessar, eles ficariam apenas um ano
na cadeia. Assim, a cooperação seria melhor para ambos os prisioneiros, mas, como não pode ser garantida,
as ações individuais independentes levam a um resultado pior para ambos.

Para utilizarmos o dilema de prisioneiros na análise dos oligopólios, imagine um mercado no qual existam
apenas duas empresas: A e B, produzindo um bem padronizado. Elas devem decidir as quantidades que irão
produzir. Suponha que essas empresas escolham apenas entre dois níveis de produção: 1 e 2, ou seja, cada
uma tem duas estratégias possíveis. Os resultados para as firmas, em termos de lucros, estão resumidos na
Tabela 2 a seguir.

Tabela 2: Lucro das empresas em R$ milhões

Empresa B

nível 1 nível 2

nível 1 (9 ; 9) (13 ; 6)
Empresa A
nível 2 (6 ; 13) (12; 12)

O nível 1 de produção é o nível mais elevado. Se ambas produzissem no nível 1, obteriam R$ 9 milhões de
lucro cada uma, pois a maior produção resultaria em maior oferta, e o preço de venda do produto cairia. Elas
poderiam formar um cartel e combinar para que cada uma produza a nível 2, menor, restringindo a oferta e
cobrando mais caro. As duas empresas obteriam então o lucro de R$ 12 milhões cada uma (se formassem um
cartel, comportando-se como um monopólio único, obteriam um lucro total de R$ 24 milhões).

Contudo, como são duas empresas, é preciso combinar produzir a nível mais baixo e, além disso, é necessário
que ambas cumpram o combinado. Se não houver maneira de verificar e obrigar que cumpram o combinado
– como no dilema dos prisioneiros –, as empresas são tentadas a desrespeitar o acordo. A Empresa A, por
exemplo, raciocinaria que, se B respeitasse o acordo, produzindo no menor nível 2, seria melhor para ela que
a Empresa A produza o nível 1, pois obteria um lucro de R$ 13 milhões em vez de R$ 12 milhões. Se a
Empresa B desrespeitasse o combinado, produzindo a nível 1, de maior oferta, também seria melhor para A
que produzisse a nível 1, pois o lucro de R$ 9 milhões é maior que o de R$ 6 milhões.

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Economia Empresarial

O mesmo raciocínio valeria para a Empresa B, por simetria. Em consequência, a estratégia produzir a nível 1,
não cumprindo o combinado, é uma estratégia dominante para ambas as empresas.

O pior dos mundos para um participante de cartel ocorreria se fosse o único a fazer o combinado. Note que,
se A não cumprir o combinado e B cumprir, A obtém o melhor resultado, R$ 13 milhões, e B lucra somente R$
6 milhões. Assim, a tendência deste jogo é que ambas as empresas quebrem o acordo e produzam no maior
nível, obtendo o resultado de R$ 9 milhões para cada, o qual não é o melhor resultado para a dupla – mas é
certamente bom para o consumidor.

Apesar dessa dificuldade de cooperação das empresas que operam na estrutura de oligopólio, em diversos
setores da economia se formam cartéis bem-sucedidos, possivelmente porque conseguem verificar e policiar
o cumprimento dos acordos feitos, ou porque esses acordos são de longo prazo. Um dos motivos para a
cooperação prevalecer é que um oligopolista geralmente permanece no mercado muitos anos. Isso significa
que o jogo vai repetir-se várias vezes, e cada empresa sabe que pode esperar retaliação das outras, sofrendo
prejuízos se não cumprir o combinado. Logo, a melhor estratégia passa a ser a de cooperação. Em alguns
casos, pode existir uma organização zelando pelo cartel, que aplique uma punição naquela empresa que não
cooperar, como no clássico caso do cartel de postos de gasolina em algumas cidades.

Assim como os monopólios, os oligopólios introduzem ineficiência na economia e prejudicam os


consumidores, pois cobram preços superiores ao custo marginal de produção. Além do possível conluio de
oligopolistas, práticas restritivas como acordos de exclusividade, vendas casadas e criação injustificada de
dificuldades de licenciamento inibem a concorrência, criando ineficiências na economia. As fusões e as
aquisições, que ganharam impulso nas últimas décadas, com a formação de grandes grupos econômicos,
tendem a distanciar a economia de uma estrutura de concorrência perfeita com muitas empresas
independentes. Além das agências reguladoras mencionadas, outros órgãos públicos, como o CADE, têm a
tarefa de zelar pela defesa da concorrência, inibindo a concentração de poder de mercado e de práticas
restritivas.

2.5 Os macromercados
A macroeconomia estuda a economia como um todo. Apesar de não estarmos focando um mercado
específico, continuaremos a lidar com demanda, oferta e formação de preços, agora nos três macromercados
de uma economia: o macromercado de bens e serviços, o macromercado de moeda, e o macromercado
de câmbio. Como em qualquer mercado, cada qual tem seus compradores (demanda), os seus vendedores
(oferta) e a formação do preço. O padrão de atuação do governo em cada um desses macromercados é
denominado respectivamente de política fiscal, monetária e cambial, e o conjunto dessas políticas é o
tripé macroeconômico do país.

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Economia Empresarial

2.5.1 O macromercado de bens e serviços

Os bens e serviços ofertados e demandados em uma economia são considerados como se fossem um
produto.

Demanda

Os compradores (demandantes) de bens e serviços de uma economia são: as famílias, as empresas, o


governo (municipais, estaduais e federal) e o resto do mundo (as exportações de bens e serviços). O conjunto
da demanda desses agentes econômicos é denominado Demanda Agregada por bens e serviços.

Oferta

Os vendedores (ofertantes) de bens e serviços de uma economia são: as empresas, o governo e o resto de
mundo (as importações de bens e serviços). O conjunto da oferta desses agentes econômicos é denominado
Oferta Agregada de bens e serviços.

Vimos nos capítulos de microeconomia que, quando em um mercado a demanda supera a oferta, o preço se
ajusta – no caso para cima – para equilibrar a quantidade ofertada e demandada. E, se o contrário acontece, a
oferta supera a demanda, o preço se ajusta para baixo, buscando o equilíbrio.

Em um macromercado de bens e serviços, quando a demanda agregada supera a oferta agregada de


bens e serviços, os preços de bens e serviços sobem, e isso se reflete nos índices de inflação.

O governo está presente tanto do lado da demanda como no lado da oferta agregada e pode atuar
aumentando ou contraindo seus gastos ou mesmo cortando impostos para incentivar o consumo das
famílias. Como exemplo dessa atuação, podemos citar o corte do IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados) sobre carros e eletrônicos ocorrido em 2008 após uma forte contração da demanda das
famílias, como resposta à crise mundial deflagrada pela falência do então terceiro maior banco de
investimentos dos Estados Unidos, Lehman Brothers.

Ao variar seus gastos e/ou impostos, o governo está interferindo no seu orçamento seja do lado da receita
(impostos) ou do lado da despesa (gastos). Essa atuação, que responde a decisões do Ministério da Fazenda,
é denominada política fiscal.

2.5.2 O macromercado de moeda

Em uma economia atuam os agentes econômicos que ofertam e demandam moeda.

Oferta

Quando pensamos nos ofertantes de moeda em uma economia, é comum nos lembrarmos dos bancos. Na
verdade, os bancos atuam, principalmente, como intermediários. Os principais ofertantes de moeda em uma
economia são as famílias que poupam. É importante salientar que, quando mencionamos a poupança das
famílias não estamos nos referindo à caderneta de poupança. A poupança de uma família é o que resta de
sua renda após os gastos com consumo e pagamentos de impostos. Ao aplicar esse dinheiro no mercado
financeiro, seja comprando um certificado de depósito bancário (CDB) de um banco, um título público,

29
Economia Empresarial

aplicando em um fundo de investimentos ou mesmo na caderneta de poupança, essa família está ofertando
moeda.

Se agregarmos o que todas as famílias que possuem poupança aplicam, temos a oferta de moeda das
famílias. Assim como as famílias, as empresas que estão com dinheiro em caixa acima da sua necessidade de
capital de giro também aplicarão esse excesso no mercado financeiro, ofertando moeda. O governo também
oferta moeda por meio, por exemplo, dos empréstimos concedidos pelo BNDES ou dos financiamentos do
programa Minha Casa Minha Vida, concedidos pela Caixa Econômica Federal. Os poupadores do exterior
também podem ingressar com capital no país, ofertando moeda no mercado financeiro interno.

Demanda

As famílias que recorrem ao mercado financeiro buscando crédito para financiar o seu consumo ou mesmo o
investimento em uma casa ou apartamento são demandantes de moeda. As empresas também buscam
financiamento para seus projetos no mercado financeiro ou em bancos. O governo geralmente gasta mais
do que arrecada e busca suprir esse déficit de receita pedindo emprestado por meio do lançamento, no
mercado financeiro, de títulos da dívida pública.

Os juros pagos ou recebidos são o preço desse mercado de moeda e se formam nas diversas modalidades de
financiamento em uma economia. O governo, por meio da atuação da autoridade monetária, o Banco
Central (BACEN), interfere nesse mercado, como por exemplo, definindo a taxa básica de juros do país (SELIC)
nas reuniões periódicas do Comitê de Política Monetária (COPOM). A atuação do Banco Central no mercado
de moeda é denominada política monetária.

2.5.3 O macromercado de câmbio

No Brasil, o mercado de câmbio é o ambiente em que se realizam as operações de câmbio entre os agentes
autorizados pelo Banco Central e entre estes e seus clientes. O mercado de câmbio é regulamentado e
fiscalizado pelo Banco Central e compreende as operações de compra e de venda de moeda estrangeira,
sendo a referência o dólar americano. A cotação do dólar será determinada pelo equilíbrio da quantidade
transacionada pelos ofertantes e demandantes.

Oferta

Os agentes econômicos que trazem dólares para o país são os principais ofertantes. Como exemplos,
podemos citar:
empresas brasileiras exportadoras que recebem em dólar o valor das exportações;
investidores residentes no exterior que ingressam com capital para aplicar no mercado financeiro
brasileiro;
empresas que ingressam com capital para montar ou comprar uma empresa no Brasil. Esse tipo de
ingresso é denominado Investimento Direto;
empresas brasileiras que captam empréstimos no exterior. Residentes no exterior pagando pacotes
turísticos no Brasil;
especuladores que vendem dólares apostando em uma queda da cotação.

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Economia Empresarial

Demanda

Os agentes econômicos que saem com dólares do país são os principais demandantes. Como exemplos de
demandantes de dólares, podemos citar:
importadores que compram dólares para quitar suas dívidas no exterior;
investidores residentes no exterior que estão com capital aplicado no mercado financeiro do país e
decidem retornar com esse capital para o exterior;
empresas multinacionais que remetem lucro para o exterior;
empresas brasileiras pagando principal e juros devidos ao exterior;
residentes no país pagando viagens internacionais e pacotes turísticos no exterior;
especuladores que compram dólares apostando em uma alta da cotação.

O preço que se forma nesse mercado é a cotação do dólar. Como em outros mercados, o preço será aquele
que equilibra a quantidade ofertada e quantidade demandada de dólares. O Banco Central pode atuar nesse
mercado comprando ou vendendo dólares e, consequentemente, interferindo no valor da moeda. O padrão
de atuação do Banco Central no mercado de câmbio é a política cambial do país.

As três políticas que formam o tripé macroeconômico serão o objeto do nosso estudo de macroeconomia e,
como observaremos, a atuação do governo em cada um desses mercados tem consequências nos outros
dois.

31
Economia Empresarial

MÓDULO 3 – O CONTROLE DA INFLAÇÃO E A POLÍTICA MONETÁRIA: A MENSURAÇÃO


DA ATIVIDADE ECONÔMICA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO
3.1 Inflação e política monetária
A Inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços. Ela mede a perda do
poder aquisitivo da moeda. A inflação descontrolada pode ser considerada uma séria doença da moeda.

Diversos países sofreram processos agudos de inflação no século XX, denominados de hiperinflação. Na
Alemanha, depois da Primeira Guerra Mundial, um jornal teve seu preço aumentado de 30 centavos de
marco em 1922 para 70 milhões de marcos em 1924, apenas dois anos depois.

Medidas de inflação

Frequentemente, as pessoas argumentam que a taxa de inflação declarada pelo governo não é verdadeira,
pois seu custo de vida tem aumentado acima da taxa de inflação divulgada. Isso ocorre porque a cesta de
bens e serviços consumida por uma família não é idêntica à cesta de outras famílias. Porém, para a
mensuração da variação contínua dos preços, é preciso definir uma cesta de bens e serviços que represente a
média do consumo das famílias de certa região, por faixa de renda.

Sendo assim, a percepção da variação dos preços tem estreita relação com os itens da cesta de bens e
serviços que uma pessoa ou família consome todos os meses. Um exemplo seria a inflação sentida pela
terceira idade (medida pela FGV) que sofre uma importante influência dos preços dos medicamentos em
geral.

Em especial, as pessoas que pertencem a diversas faixas de renda não percebem a mesma inflação, porque a
cesta de bens e serviços consumida por pessoas de nível de renda diferentes não são iguais. Em um período
no qual alimentos são os bens que mais sobem de preço, as classes D e E sentem uma inflação maior que as
classes A e B, porque alimentos têm um peso maior na cesta consumida por pessoas com menor renda.
Quando serviços sofrem uma maior variação de preços, acontece o contrário. Serviços estão muito mais
presentes e representam um peso maior na cesta consumida pelas classes A e B.

3.1.1 Como se mede a inflação

A inflação é medida utilizando-se um índice de preços. Para se criar um índice de preços, deve-se definir o
conjunto ou a cesta de bens e serviços e suas proporções na composição de tal cesta. Existem vários índices
de preços, e cada um deles mede a variação de um determinado conjunto (cesta) de bens e/ou serviços.

Qualquer pessoa ou entidade pode criar um índice que reflita a variação ocorrida em um conjunto de bens
e/ou serviços de seu interesse. A Tabela 3 abaixo mostra os principais índices de preços utilizados no Brasil.

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Economia Empresarial

Tabela 3: Principais índices de preços utilizados no Brasil

faixa de
data ano de
renda em área data de
responsável índice componentes de início da
salários- geográfica divulgação
coleta série
mínimos
IPCA-15 dia 15 até dia 25 2000
1 a 40 SM 11 Regiões
IBGE IPCA não há
Metropolitanas dia 30 até dia 15 1979
INPC 1 a 6 SM
IPA-10
O IPC da FGV é
IGP-10 IPC-10 dia 10 até dia 20 1994
calculado em
INCC-10 O IPC da
12 regiões
FGV é até dia 30,
IPA-M metropolitana
calculado com
FGV IGP-M IPC-M s (além das 11 dia 21 1989
para a prévias nos
INCC-M pesquisadas
faixa entre dias 10 e 20
pelo IBGE,
IPA-DI 1 e 33 SM.
inclui também
IGP-DI IPC-DI dia 30 até dia 10 1944
Florianópolis).
INCC-DI
cidade de São
Fipe-USP IPC-Fipe não há 1 a 20 SM dia 30 até dia 10 1939
Paulo

A Fundação Getulio Vargas (FGV) é um dos órgãos mais tradicionais no Brasil no levantamento de toda uma
série de indicadores econômicos. Ela é responsável pelo cálculo dos Índices Gerais de Preços (IGPs). O mais
antigo deles é o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), cuja série surgiu em 1944 como
parte dos esforços do governo brasileiro de gerar indicadores com base em metodologias padronizadas
internacionalmente. Assim, o IGP-DI brasileiro, por seguir normas internacionais, pode ser comparado com os
IGPs de outros países. Esse é um índice composto da média ponderada de outros três: o Índice de Preços no
Atacado (IPA), com ponderação de 60%; o Índice de Preços ao Consumidor Brasil (IPC-Br), com 30% de peso;
e o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), com 10% de peso. Essas ponderações são padronizadas
em todo o mundo no cálculo dos IGPs.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é responsável pelo cálculo dos dois principais
indicadores de inflação no varejo. Como esses índices refletem a inflação sentida pelos consumidores ao
gastarem sua renda no dia a dia, são geralmente usados como base nas reivindicações dos sindicatos para a
reposição das perdas salariais frente à inflação.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mede a inflação com base nos hábitos de consumo de
famílias com renda mensal entre um e seis salários-mínimos. O levantamento de preços é realizado em 11
regiões metropolitanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife,
Fortaleza, Belém, Goiânia e Brasília. Depois de calcular o indicador em cada uma dessas regiões, o INPC é
gerado ponderando-se cada cidade pelo peso de sua população na faixa de renda considerada.

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Economia Empresarial

O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) também é calculado pelo IBGE. Ele reflete a inflação baseada
no padrão de consumo das famílias com renda entre um e 40 salários-mínimos, e a pesquisa também é feita
nas mesmas regiões-alvo da pesquisa do INPC.

3.1.2 A hiperinflação brasileira e o Plano Real

Entre julho de 1964 e julho de 1994, quando foi lançado o Plano Real, os preços no Brasil, medidos pelo IGP-
DI da FGV subiram inacreditáveis 1.302.442.989.947.180,00%. Isso significa mais de 1 quatrilhão e 302 trilhões
por cento de inflação em três décadas.

Em especial, durante a década de 1970, a inflação começou a subir e, em 1986, os governos militares
deixaram para o Governo Sarney, primeiro governo civil desde 1964, uma inflação que alcançava 20% ao
mês. O novo governo implementou, ainda em 1986, o primeiro plano de estabilização da economia,
conhecido como Plano Cruzado. A moeda mudou de Cruzeiro para Cruzado, e 1.000 cruzeiros passaram a
valer um cruzado. Isto é, cortaram-se três zeros de todos os preços e valores. O ponto mais importante do
plano foi o congelamento de preços. Era proibido subir qualquer preço. Inicialmente, a inflação caiu
bastante, mas, com o tempo, o congelamento se mostrou insustentável, com o desabastecimento ocorrendo
em diversos setores da economia. Quando o congelamento foi cancelado, a inflação voltou ainda mais forte
do que antes.

Entre 1986 e 1994, diversas tentativas foram feitas para domar a inflação, sendo a mais conhecida o Plano
Collor, em 1990, quando a maior parte do dinheiro da população depositada nos bancos foi bloqueada por
um período de tempo. Como o Gráfico 11 abaixo demonstra, cada plano funcionava por um curto período de
tempo e, quando falhava, a inflação reaparecia com mais força. Em julho de 1994, o Plano Real finalmente
conseguiu trazer a inflação para padrões bem menores.

Gráfico 11: Inflação (1969-2002)

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Economia Empresarial

Plano Real

Em julho de 1994, no Governo Itamar Franco, tendo Fernando Herique Cardoso como Ministro da Fazenda, o
Brasil fez um nova tentativa de controlar a hiperinflaçao, dessa vez com sucesso.

O Plano Real, diferentemente dos planos que o precederam e falharam, não tentou congelar preços ou
segurar o dinheiro da população. Por outro lado, agiu na origem da doença e não cuidou somente da febre.

Invariavelmente, se formos procurar a origem de um processo hiperinflacionário, encontraremos um


governo que gasta muito mais do que arrecada e, para cobrir essa diferença, emite moeda. A hiperinflação
faz a moeda não valer nada. E o que não vale nada? O que tem demais. Se em um ano acontecer uma
supersafra de maçã, o preço dessa fruta despenca devido ao excesso de oferta. Se tiver excesso de moeda em
circulação, esta não valerá muito. Seu poder aquisitivo será corroído pela inflação descontrolada. A origem
da hiperinflação alemã pós-Primeira Guerra, mencionada anteriormente, foi justamente a emissão
desenfreada de moeda para financiamento da guerra e do pós-guerra.

Em 1993, ano que precedeu o Plano Real, o governo aumentou impostos, aumentou a arrecadação e vendeu
estatais para não necessitar mais emitir dinheiro para se financiar. Isso não ocorreu nos planos anteriores,
que, invariavelmente, voltavam à emissão desenfreada e, consequentemente, à inflação.

Outro fator importante do Plano Real foi a utilização do que chamamos de âncora cambial para a inflação. O
Real nasceu no dia 1º de julho de 1994, valendo US$ 1,00, e o governo, por meio do Banco Central,
comprometia-se a manter esse valor fixo.

O Câmbio fixo auxilia no controle da inflação porque todos os preços cotados em dólar como insumos,
produtos finais ou mesmo commodities – que são cotadas em dólares, como soja – terão seus preços estáveis
em moeda nacional (no caso brasileiro, em reais). Se um supermercado importar uma manteiga
dinamarquesa por US$ 4,00, e a cotação do dólar ficar fixa em R$ 1,00, o preço da manteiga fica estacionado
em R$ 4,00. Quanto mais uma economia for integrada ao comércio internacional, mais efeito tem o câmbio
fixo no controle da inflação.

Para manter a cotação fixa, o Banco Central do Brasil necessitava ter reservas razoáveis de dólares. Qualquer
movimento dos investidores ou agentes econômicos em geral buscando comprar dólares exigia que a
autoridade monetária (Banco Central) vendesse dólares para equilibrar o mercado e não permitir o aumento
da cotação, o que traria mais inflação via aumento dos preços dos importados.

No início de 1999, depois de muitas crises externas e internas que enfrequeceram as reservas de dólares
brasileiras, o Banco Central desistiu de manter a cotação da moeda americana e parou de vender dólares. A
cotação do dólar dobrou rapidamente, pressionando a inflação via aumento dos importados e bens e
serviços cotados na moeda americana. O Brasil precisava de um nova ferramenta para o controle do
aumento dos preços e foi então implementado o regime de metas de inflação.

35
Economia Empresarial

3.1.3 O regime de metas de inflação

Segundo a definição do próprio Banco Central, o regime de metas de inflação é um regime monetário no
qual essa instituição se compromete a atuar de forma a garantir que a inflação esteja em linha com uma
meta preestabelecida, anunciada publicamente.

Esse regime, que foi utilizado pela primeira vez pela Nova Zelândia em 1989, caracterizando-se por quatro
elementos básicos:
conhecimento público da meta de médio prazo para a inflação;
o comprometimento do banco central com a estabilidade de preços é o objetivo primordial da
política monetária;
a estratégia da atuação do banco central é comunicada de uma forma transparente e clara ao
público;
existem mecanismos que tornam as autoridades monetárias (banco central) responsáveis pelo
cumprimento das metas de inflação.

Esses elementos listados acima significam que o regime de metas de inflação é mais do que o anúncio
público das metas, mas envolve também transparência de atuação e prestação de contas regulares à
sociedade.

O regime de metas de inflação no Brasil

No início de 1999, o real sofreu uma forte desvalorização. Isso significava não contar mais com o câmbio fixo
que desde a implementação do Plano Real em julho de 1994 atuava como uma âncora cambial para a
inflação. O forte aumento do dólar provocou pressão nos preços internos via aumento dos preços dos
importados e outros preços cotados na moeda americana e contração de importações. Em março de 1999, o
governo brasileiro anunciou a intenção de passar a conduzir a política monetária com base nas
características do regime de metas de inflação.

Os vários anos de hiperinflação legaram um quase consenso para a sociedade brasileira sobre as vantagens
da estabilidade de preços, que é considerada uma condição necessária para o crescimento econômico. Os
brasileiros aprenderam, de uma maneira dolorosa, que maior inflação não gera maior crescimento, mas, pelo
contrário, desestimula investimentos e penaliza as camadas mais pobres da sociedade, promovendo
concentração de renda.

As camadas mais ricas da população possuem instrumentos para se defender da inflação e frequentemente
lucrar com ela por meio de aplicações no mercado financeiro. Esses instrumentos não estão ao alcance das
camadas menos favorecidas que viam diariamente os preços subirem e corroerem o poder aquisitivo do seu
salário. Segundo estudos da Fundação Getulio Vargas, o sucesso do Plano Real reduziu em 18% a extrema
pobreza no país.

A escolha do índice da inflação para o regime de metas no Brasil

No Brasil, a meta para a inflação é definida em termos da variação anual do Índice de Preços ao Consumidor
do país (IPCA). A maioria dos países que utilizam o regime de metas adota um índice ao consumidor, pois é a
medida mais adequada para avaliar a evolução do poder aquisitivo da população.

36
Economia Empresarial

Na maioria dos países que utilizam esse regime, a meta é definida pelo banco central. No Brasil, essa
definição é feita pelo Conselho Monetário Nacional composto do Ministro da Fazenda – que preside o
conselho –, do Presidente do Banco Central e do Ministro do Planejamento.

Dentro do conjunto de índices de preços ao consumidor, o IPCA foi escolhido por ser o de maior
abrangência: ele mede a inflação para domicílios com renda entre um a 40 salários-mínimos em 13 cidades
ou regiões metropolitanas.

A meta definida para a inflação medida pelo índice escolhido pode ser pontual ou utilizar um intervalo. No
caso de a meta ser definida por um intervalo ou banda, existe ainda a alternativa de haver ou não a meta
central.

No Brasil, foi escolhida a modalidade que utiliza uma meta central dentro de uma banda de tolerância. Por
exemplo, em 2014, a meta era de 4,5% de inflação com um intervalo de tolerância de 2% para cima (6,5%) e
para baixo (2,5%).

Os motivos que justificam a existência dessa banda são:


Nenhum banco central tem total controle sobre a variação de preços. O que ele faz é,
principalmente, mover a taxa de juros básica da economia (a Selic, no caso brasileiro) que afeta, por
vários mecanismos indiretos, a evolução dos preços. A inflação é afetada por vários fatores que não
estão sob domínio da autoridade monetária, e os próprios mecanismos que ele utiliza possuem uma
defasagem no tempo na sua eficácia.
A existência de intervalos de tolerância permite ao banco central acomodar parcialmente eventuais
choques inflacionários. Uma quebra severa de safra ou um aumento expressivo do preço do
petróleo, decorrentes de problemas climáticos ou crises internacionais, criariam pressões
inflacionárias. Mesmo com a pronta resposta do banco central a um choque, haverá um aumento da
inflação no curto prazo. Por outro lado, uma banda de tolerância muito ampla pode criar uma
sensação de falta de comprometimento com a meta. A utilização do intervalo de tolerância deve
seguir um critério de parcimônia. Caso isso não aconteça, existe o risco de o regime de metas perder
a credibilidade, deteriorando as expectativas de inflação.
O horizonte temporal em regimes de metas para a inflação é a especificação do período em que se
verificará o cumprimento da meta. No Brasil, utilizamos o ano-calendário que vai de janeiro a
dezembro.

A atuação do Banco Central na busca do cumprimento da meta

A maior parte dos bancos centrais utiliza a taxa de juros de curto prazo como instrumento principal de
política monetária. O regime brasileiro de metas de inflação utiliza a taxa Selic. A taxa Selic é a taxa de juros
média que incide sobre os financiamentos diários no mercado interbancário (empréstimos entre bancos)
com prazo de um dia útil (overnight) lastreados por títulos públicos, no Sistema Especial de Liquidação e
Custódia (Selic). Isso significa que a taxa Selic é a taxa que equilibra o mercado de reserva bancárias.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) estabelece, em reuniões pré-agendadas que
acontecem de seis em seis semanas, a meta para a taxa Selic. O Banco Central vai, se necessário, intervir no
mercado interbancário, para manter a taxa Selic diária próxima da meta.

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Economia Empresarial

A taxa básica de juros-Selic atua na inflação, e os principais mecanismos para isso são:
Atuação na demanda agregada com ênfase no consumo das famílias e investimentos que
respondem ao custo do crédito e financiamentos.
A taxa de juros tem atuação na taxa de câmbio, já que a entrada de capital do exterior responde ao
diferencial da taxa de juros interna e externa. Por sua vez, o valor do dólar tem efeito sobre a
inflação.
A taxa de juros afeta as expectativas dos agentes econômicos. Por exemplo, ao elevar a taxa de juros
de curto prazo para evitar o surgimento da inflação, o Banco Central pode restabelecer a confiança
no desempenho futuro da economia. A queda da taxa de juros durante uma recessão pode significar
que tempos melhores virão, estimulando o consumo da população.

Quando a meta não é cumprida, o que, no caso brasileiro, significa a inflação ficar fora do intervalo de
confiança, o presidente do Banco Central publica uma carta aberta, em seu site, dirigida ao Ministro da
Fazenda, que preside o Conselho Monetário. Nessa carta, são explicitadas as razões para o descumprimento
da meta e as providências tomadas para o retorno à trajetória que leva à meta. No Brasil, desde 1999, cartas
foram escritas em 2001, 2002, 2003 e 2015, anos em que o limite de tolerância foram rompidos, as quais
estão disponíveis no site do Banco Central.

O papel das expectativas e a autonomia do Banco Central

O regime de metas de inflação tem como objetivo central ancorar as expectativas do mercado. A
transparência da comunicação da autoridade monetária da sua estratégia para o controle da inflação é um
fator de suma importância para o sucesso do regime de metas. Os movimentos da política monetária passam
a ser mais previsíveis no médio prazo, atuando na formação das expectativas de inflação. A credibilidade
dessa política é essencial para os reajustes de preços tenderem a ser próximos da meta estabelecida e
divulgada.

Para que essa credibilidade ocorra, é necessário que os agentes econômicos tenham a percepção de que o
Banco Central possui autonomia operacional para gerenciar a política monetária e perseguir a meta. Na
esmagadora maioria dos países que utilizam o regime de metas, a autonomia da autoridade monetária é
garantida na lei. Não é o caso do Brasil. Contudo, a percepção da autonomia dos bancos centrais dos
governos Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva foi bastante consistente. Durante o Governo
Dilma Rousseff, a percepção de autonomia do Banco Central foi debilitada, com consequência nos resultados
da inflação, principalmente entre 2012 e 2015. Podemos dizer que as expectativas de inflação dos agentes
econômicos durante esse período foram desancoradas da meta anunciada. Isso quer dizer que a meta se
tornou menos crível.

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Economia Empresarial

O Gráfico 12 abaixo mostra e a evolução da inflação medida pelo IPCA e a Selic, entre 1999 e 2015.

Gráfico 12: Séries históricas – Taxa Selic e IPCA acumulado 12 meses

3.2 A mensuração da atividade econômica


Como avaliamos o sucesso da economia, cujo objetivo é melhorar o padrão de vida do cidadão de uma
determinade sociedade? Não existe uma única medida, mas tudo começa medindo a produção total da
economia: O Produto Interno Bruto (PIB).

3.2.1 O Produto Interno Bruto

Em uma economia, produzem-se literalmente milhões de bens e serviços diferentes. Necessitamos de uma
medida que sintetize toda a produção. Mas como somar sapatos, aulas de economia, carros, soja, sorvete,
consultas médicas, etc.? Na primeira aula de matemática da vida de qualquer criança, ela aprende que não se
somam coisas diferentes. Obtemos essa síntese somando o valor monetário de bens e serviços finais
produzidos.

Produto Interno Bruto (PIB)

É o valor monetário total de todos os bens e serviços finais produzidos dentro das fornteiras nacionais
durante um certo período – geralmente um ano.

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Economia Empresarial

Bens e serviços finais

A tarefa de medir a produção de uma economia não é trivial, e um dos problemas é a diferenciação entre bens e
serviços intemediários e finais. Se um cidadão consome um suco de laranja industrializado, o que entra na medida
do PIB é o produto final que é o suco. Logicamente, ao tomar o suco ele está consumindo a laranja, mas o valor
monetário da laranja já está incluso no valor do produto final, que é o suco industrializado. Se incluirmos no PIB o
suco e a laranja, estaríamos contando a laranja duas vezes, mas ela só foi produzida uma vez. Se o cidadão
consumir a laranja e não o suco, o que entra na medida do PIB é o valor da laranja.

Desse modo, no cálculo do PIB, o que será somado é o valor monetário dos bens e serviços produzidos,
segundo seus usuários finais. Assim, se um carro é produzido, o que entra na medida do PIB é o valor
adicionado de todos os componentes (bens e serviços) que entraram na fabricação do carro e compõem o
preço final para o consumidor.

PIB Nominal e PIB Real

Outro problema que surge ao medirmos a evolução do PIB de um ano para o outro é a variação de preços.
Normalmente, os bens e serviços ficam mais caros de um ano para o outro. Corte de cabelos, chocolates,
carros e pães frequentemente sobem de preço de um ano para o outro. Quando medimos o PIB, estamos
medindo os bens e serviços a preços vigentes ou correntes. Esse valor encontrado é denominado PIB
nominal.

A varição do valor do PIB nominal de um ano para o outro retrata o efeito da variação de produção de bens e
serviços e o efeito da variação de preços. O que importa e queremos medir é a variação de produção. Assim,
precisamos descontar a inflação de um período para o outro. O resultado que obtemos ao fazer isso é o PIB
real. Sempre que a mídia, ou qualquer veículo de comunicação fala sobre o crescimento do PIB, está se
referindo ao PIB real, mesmo que isso não esteja explícito no comunicado. Os economistas dizem que o PIB
real é o PIB nominal deflacionado.

Produto Nacional Bruto (PNB)

O PIB mede o valor monetário dos bens e serviços produzidos dentro do território nacional. Assim, o que
uma empresa multinacional produz no Brasil é PIB brasileiro. Por exemplo a BMW, alemã, montou uma
fábrica para produzir carros em Santa Catarina. O valor dessa produção é incluído no PIB brasileiro. Já a Vale,
brasileira, possui operação de mineração de níquel no Canadá. O valor da produção de níquel é contabilizado
no valor do PIB do Canadá.

A parcela de lucro da operação dessas multinacionais, fora dos seus países de origem, pode ser enviado aos
seus acionistas. Assim, a BMW pode enviar o lucro da operação no Brasil para a Alemanha, e a Vale pode
enviar seu lucro da operação no Canadá para o Brasil. Nesse caso, a BMW estaria enviando um pouquinho do
valor do PIB brasileiro para a Alemanha, e a Vale estaria enviando um pouquinho do valor do PIB canadense
para o Brasil.

O Produto Nacional Bruto (PNB) leva em conta a renda que foi enviada ao exterior e recebida do exterior
no período:

PNB = PIB – Renda Enviada ao Exterior + Renda Recebida do Exterior

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Economia Empresarial

3.2.2 O diagrama do fluxo circular de renda

O PIB de uma economia mede simultaneamente duas coisas: a renda total e a despesa total. Na verdade, são
dois lados da mesma moeda: não é possível alguém comprar e alguém não receber e vice-versa. Essa
equivalência fica evidente no modelo a seguir. Esse modelo é denominado Diagrama do Fluxo Circular de
Renda e possui duas hipóteses simplificadoras:
essa economia é fechada, isto é, não se comunica com o resto do mundo;
somente dois dos três agentes econômicos atuam nessa economia: famílias e empresas. Isso
significa que essa economia não tem governo.

As empresas dessa economia (consideramos um profissional liberal, como um dentista, uma empresa)
produzem e ofertam bens e seviços no mercado de bens e serviços. As famílias demandam bens e serviços
nesse mercado. Para produzir bens e serviços, as empresas necessitam adquirir fatores de produção no
mercado de fatores de produção. Esses fatores são trabalho, capital e terra.

Quem fornece esses fatores de produção para as empresas são as famílias. Os membros das famílias de uma
economia trabalham nas empresas em troca de salário. Os acionistas, donos e credores investem capital nas
empresas em troca de lucro ou juros. E, finalmente, as famílias alugam terra (o local que a empresa se instala)
para as empresas, em troca de aluguel. Nessa economia, como mostra a Figura 2 a seguir, a moeda flui das
famílias para as empresas e das empresas para as famílias.

Figura 2: Fluxo circular de renda

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Economia Empresarial

Obviamente, a realidade é mais complicada do que esse modelo mostra, pois:


as famílias poupam parte da sua renda para investimentos e gastos futuros;
parte da renda das famílias vai para o governo em forma de impostos;
o governo e as empresas compram parte dos bens e seviços.

Tudo isso não invalida que, qualquer que seja o comprador ou vendedor de bens e serviços, em qualquer
transação, o que um paga é o que o outro recebe. Assim, podemos afirmar que a economia como um todo,
despesa e renda são sempre iguais.

O PIB de uma economia pode ser calculado sob a ótica da despesa ou pela ótica da renda. Em especial, será
muito importante para o nosso desenvolvimento teórico do crescimento da economia, o PIB pela ótica da
despesa.

PIB pela ótica da despesa

Consideraremos agora uma economia completa com famílias, empresas e governo que transaciona com o
resto do mundo. Quem compra bens e serviços em uma economia?

Consumo das famílias – C

As famílias adquirem bens e serviços para o seu consumo.

Investimento das empresas – Ipriv

Empresas adquirem equipamentos, máquinas novas fábricas, estoques. Obs.: moradias novas também são
incluídas no investimento privado e não no consumo das famílias.

Investimento do Governo – Igov

Todas as obras de infraestrutura adquiridas pelos governos federal, estaduais e municipais.

Aquisições do governo – G

Todas as aquisições de bens e serviços do governo, excluindo-se os investimentos em infraestrutura que


estão incluídas no investimento.

Exportações Líquidas – Exportações de bens e serviços menos as importações de bens e servicos (X-M).
X representa as Exportações; e M, as Importações de bens e serviços.

Assim, o PIB pela ótica da despesa é:

PIB = C + IPRIV + IGOV + G + X - M

Uma parte dos bens e serviços que uma economia produz é demandada pelo exterior, assim como parte do
que é adquirido dentro de uma economia é ofertada pelo exterior. Se uma família adquire um carro
produzido no Brasil por R$ 60.000,00, esse valor aparecerá no item C – consumo das famílias. Vamos supor

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Economia Empresarial

que R$ 20.000,00 do preço desse carro seja de peças importadas. Essa parte do valor do carro não foi
produzida em território nacional e, portanto, não faz parte do PIB do Brasil. Os R$ 20.000,00 serão subtraídos,
na equação do PIB, no item M, que representa as importações.

3.2.3 A produtividade e o crescimento de longo prazo

Se compararmos o padrão de vida médio de um cidadão americano no final século XIX e atualmente,
encontraremos diferenças marcantes. Em 1900, por exemplo, a expectativa de vida e o consumo médio do
cidadão eram bem inferiores do que atualmente. Muito bens e serviços disponíveis atualmente, como
celulares, computadores e Internet, simplesmente não existiam. Essa melhoria de vida é consequência do
crescimento econômico – isso significa que vivemos melhor porque conseguimos produzir mais bens e
serviços que nos proporcionam padrões de vida superiores e mais conforto. O crescimento econômico deriva
de um aumento de estoque de capital da economia – máquinas e instalações, do aumento da força de
trabalho e de inovações tecnológicas que modificam e tornam mais eficientes o modo que produzimos bem
e serviços.

A taxa de crescimento do produto total de uma economia é a soma de dois fatores: taxa de aumento das
horas trabalhadas + taxa de aumento do produto por hora trabalhada.

O aumento do número de horas trabalhadas é o resultado do aumento da força de trabalho, seja por um
aumento da taxa de natalidade ou por imigração ou por um aumento da jornada de trabalho média de horas
trabalhadas por dia por trabalhador. O aumento do produto por hora de trabalho, que chamamos de
produtividade, é o mapa do tesouro para o aumento do padrão de vida.

A fonte do aumento da produtividade

Mede-se a produtividade de uma economia pela divisão do PIB e a população economicamente ativa dessa
economia (PEA). Chega-se no valor médio da produção por trabalhador. Os fatores que aumentam a
produtividade de uma economia são:
Capital físico
Trabalhadores produzirão mais por hora trabalhada, quando tiverem mais equipamentos e
estruturas utilizadas na produção de bens e serviços.
Capital humano
Trabalhadores produzirão mais por hora trabalhada quando possuirem mais
conhecimentos e habilidades adquiridos por meio do ensino, do treinamento e da
experiência.
Recursos naturais
São insumos fornecidos pela natureza como terra fértil, água, jazidas minerais. Esses
recursos podem ser renováeis como uma floresta ou não renováveis como um jazida de
minério de ferro.
Conhecimentos tecnológicos
Melhores e mais eficiente formas de produzirmos bem e serviços. Um exemplo de como a
tecnologia afeta a produtividade seria a enorme revolução que as inovações desenvolvidas
pela Embrapa produziram no setor agrícola brasileiro nas décadas recentes.

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Economia Empresarial

3.2.4 Poupança e investimento

O crescimento de longo prazo de uma economia depende do aumento da produtividade. O aumento da


produtividade necessita de investimentos em capital físico, capital humano e inovações tecnológicas.
Acontece que qualquer investimento necessita ser financiado. Os recursos disponívies para o financiamento
do investimento é a poupança.

Geralmente, quando falamos em poupança, pensamos na caderneta de poupança. Em um curso de


economia, poupança normalmente se refere ao que sobra da renda de uma família após seus gastos com
consumo e pagamento de impostos. Eventualmente, essa família pode aplicar sua poupança na caderneta
de poupança, mas ela tem diversas outras opções.

Imaginemos uma médica que possui um consultório próprio. Ela, por meio de suas consultas, obtém uma
renda média mensal bruta de R$ 30.000,00. A médica despende R$ 15.000,00 por mês em consumo. Os
impostos pagos ao governo consomem outros R$ 5.000,00. O valor restante, R$ 10.000,00 é a sua poupança.

Imaginemos que essa médica queira ampliar sua renda investindo em um aparelho de raios-X que lhe
permitirá prestar outros serviços além das consultas. Ela usa os R$ 10.000,00 que poupou para dar entrada no
aparelho. Nesse caso, ela financiará o seu investimento com sua própria poupança. O investidor e o
poupador são a mesma pessoa. Uma boa parcela dos investimentos das empresas é financiada pelos
próprios sócios que reinvestem parte dos lucros.

Imagine agora que nossa médica não esteja interessada em comprar o aparelho, mas decida aplicar sua
poupança comprando ações no lançamento de uma empresa (os famosos IPOs – Initial Public Offerings). Por
exemplo, uma companhia aérea lança ações na bolsa de valores. Nesse caso, a poupança da médica estará
financiando o crescimento da produção da companhia aérea lançadora das ações. Ao comprar uma ação, a
pessoa se torna sócia da empresa.

Outro modo de financiar uma empresa é comprar um título emitido por essa empresa. A diferença entre
comprar uma ação ou um título é que, neste segundo caso, a médica estaria emprestando sua poupança
para a empresa, e não entrando de sócia. Ao comprar um título, ela se torna credora da empresa. Em ambos
os casos, porém, a poupança dessa pessoa está financiando os investimentos da empresa.

Uma terceira hipótese seria a nossa médica aplicar em um CDB de um banco. O Certificado de Depósito
Bancário (CDB) é um título emitido por um banco. A médica estaria emprestando dinheiro ao banco, que
poderia por sua vez utilizar esse dinheiro para financiar o investimento de uma empresa.

O mercado financeiro com suas diversas modalidades faz o meio-campo entre poupadores e investidores em
uma economia. É um mercado no qual o produto que está sendo negociado é moeda, os ofertantes são os
poupadores na economia e os demandantes são os que buscam crédito ou financiamento para
investimentos em capacidade produtiva. Nesse mercado, o preço que se forma são os juros, cobrados em
todas as modalidades de financiamento.

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Economia Empresarial

3.2.5 As fontes de poupança e o papel do governo

A poupança disponível para financiar o investimento de uma economia tem três origens:
poupança do setor privado da economia: as famílias que consomem e pagam impostos em um valor
inferior ao da sua renda;
poupança externa: uma pessoa residente no exterior pode entrar com capital no país com a
finalidade de montar ou comprar uma empresa (investimento direto) ou investir em títulos ou ações
(investimento de portfólio);
poupança do governo: o governo pode gastar menos do que arrecada e também financiar o
investimento.

Geralmente, os governos são depoupadores. Isso significa que governos, via de regra, gastam mais do
arrecadam e necessitam financiar esse déficit, que é denominado de déficit fiscal. Para isso, o governo lança
no mercado financeiro os títulos da dívida pública. A médica do exemplo anterior pode comprar títulos
públicos com sua poupança, tornando-se credora do governo. Se ela decidir pelos títulos públicos, sua
poupança não estará mais disponível para financiar empresas do setor privado. O governo está na verdade
disputando a poupança disponível com o setor privado. O governo tem uma vantagem nessa disputa, pois
geralmente se tem a percepção de que financiar o governo é mais seguro do que financiar uma empresa.

Se o governo tiver uma necessidade de financiamento de seu déficit que consuma a maior parte da
poupança disponível, restará bem menos volume de recursos para financiar as empresas. Essa escassez de
capital se refletirá em juros mais altos para o setor privado, que investirá pouco. Isso prejudicará o
crescimento de longo prazo do país, principalmente se o déficit do governo tiver como origem gastos de
custeio e não investimentos.

Quando o governo impede o investimento do setor privado, consumindo a maior parte da poupança
disponível, diz-se que ele está expulsando o setor privado, e se usa o termo crowding out (expulsando em
inglês) para expressar essa situação.

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MÓDULO 4 – A SUSTENTABILIDADE DAS CONTAS PÚBLICAS E OS INSTRUMENTOS DE


POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL
4.1 A política fiscal e a sustentabilidade das contas públicas
Quando o governo gasta mais do que arrecada, ele necessita financiar essa diferença denominada déficit
fiscal. Uma maneira perversa de o governo financiar seu déficit é por meio da emissão de moeda. O Banco
Central emite moeda para financiar o governo. Nessa situação, dizemos que o Banco Central é fiscalmente
dominado. Esse fato fará com que haja mais dinheiro em circulação e, portanto, a demanda agregada se
elevará continuamente, causando um aumento do nível de preços (inflação).

O outro modo de o governo financiar seu déficit é pedir emprestado por meio da venda de títulos públicos
no mercado financeiro. Se o governo brasileiro lançar títulos no mercado mundial em moeda estrangeira
(principalmente dólares), ele captará dólares e ficará devendo em dólares. Esses títulos fazem parte da dívida
externa do país. Porém, também existe a possibilidade de lançamento de títulos em reais. Nesse caso, o
governo capta reais e fica devendo em reais. Esses títulos compõem a dívida interna do país. A dívida pública
é a soma da dívida pública externa e a dívida pública interna.

Normalmente, os governos têm déficits anuais e ofertam títulos no mercado financeiro para financiá-los,
formando a dívida pública. Geralmente, o estoque de títulos devidos cresce em valor no tempo. Os
investidores externos ou internos que adquirem os títulos públicos estão sempre atentos à sustentabilidade
dessa dívida. Isso quer dizer que os investidores estão atentos à possibilidade de essa dívida se tornar
impagável e eles levarem um calote.

O principal indicador de solvência da dívida pública é a relação Dívida %/PIB. O numerador é o valor de todos
os títulos do país a pagar no futuro; o denominador é o PIB, que é o valor da renda produzida pelo país
anualmente. Quando falamos de qualquer conta pública, o que importa não é o seu valor monetário, mas o
quanto ela representa em percentual do PIB. Fazendo a analogia com uma pessoa, se soubermos que esse
indivíduo deve R$ 30.000,00, não conseguimos analisar a sua situação financeira somente com essa
informação. Para saber se ele corre o risco de não conseguir pagar essa dívida, precisamos perguntar, por
exemplo, qual a sua renda mensal. Se sua renda mensal for de R$ 50.000,00, a dívida será paga facilmente, se
por outro lado, ele ganha R$ 1.500,00 por mês, a chance de se tornar inadimplente é altíssima.

O crescimento da dívida pública não é problema, o perigoso é quando essa dívida começa a crescer em um
ritmo bem maior que o PIB, entrando no que os economistas chamam de uma trajetória explosiva, que pode
levar ao calote. Essa trajetória fará com que cada vez que o país precise colocar novos títulos no mercado
para se financiar menos investidores (externos e internos) queiram correr o risco. Isso significa que o país terá
de pagar juros mais altos para atrair capital e também que seus títulos precisarão ter prazos mais curtos para
serem aceitos. Juros mais altos farão a dívida crescer ainda mais, acelerando a deterioração financeira do país
em um processo que se realimenta.

O pequeno poupador compra títulos públicos, financiando o governo, quando realiza, por exemplo,
aplicações em fundos de renda fixa. O regulamento desses fundos – o qual o poupador normalmente não lê
– diz explicitamente que a maior parte do dinheiro aplicado ali tem como destino a compra de títulos
públicos, ou seja, ser emprestado para o governo. Outro caminho para o pequeno poupador comprar títulos
públicos é o Tesouro Direto, pelo qual o cidadão compra ou vende títulos pela Internet, negociando
diretamente com o Tesouro Nacional (a instituição que lida com o dinheiro do governo Federal – podemos

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dizer que é o caixa do governo). Todo pequeno poupador deveria estar bastante interessado na solvência do
setor público, isto é, na trajetória da relação Dívida%/PIB ao longo do tempo.

4.1.1 As agências de risco e o grau de investimento

Os investidores que adquirem títulos da dívida de países, denominados títulos soberanos, ou títulos de
dívidas de empresas buscam orientação para conhecer o risco que estão correndo. Um sinalizador
importante é a avaliação feita pelas agências de risco ou empresas de rating. Essas agências têm a função
básica de atribuir notas para determinar em qual classe de risco o país ou a empresa se encontra.

Essas empresas avaliam e atribuem notas classificatórias de acordo com a situação dos países ou das
empresas analisadas, verificando a confiança que o país ou a empresa possui no compromisso de pagar suas
dívidas no prazo acordado. As agências mais famosas e respeitadas nessa área são: Moody’s, Fitch Ratings e
Standard & Poor’s.

Cada uma dessas agências de rating possui seu próprio método de avaliação e classificação de notas para
atribuir, de acordo com o resultado da apuração financeira do país ou da empresa. Essas avaliações são
realizadas principalmente em bancos, grandes empresas e países, sendo que nos dois primeiros ela estipula
notas para as emissões de dívidas da empresa, que é quando uma empresa precisa de dinheiro e emite
títulos de dívidas (debêntures) a fim de arrecadar este dinheiro.

As empresas de rating ou agências de risco classificam qual é o risco de um comprador desse título receber o
pagamento no final do prazo acordado com os juros estabelecidos na emissão da dívida. Já para países, a
classificação é realizada para mensurar qual o risco de um país não honrar seus pagamentos de títulos
lançados no mercado interno e externo, denominados títulos soberanos. O principal indicador examinado é
a trajetória da relação Dívida %/PIB que sinaliza a qualidade de solvência do país.

As agências de risco classificam os países de acordo com a qualidade de se investir nele, atribuindo notas que
sinalizam para o potencial investidor o grau de risco a que ele se submete ao comprar cada título ofertado.

As notas se dividem em dois grupos: o grau de investimento, sinalizando os títulos mais seguros; e o grau
especulativo, indicando o grupo de títulos que representam maior risco. Dentro de cada grupo as notas mais
altas representam menor risco.

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A Tabela 4 a seguir mostra as notas de risco concedidas pelas três principais agências. A linha pontilha que
aparece na tabela separa as notas inferiores consideradas grau especulativo das notas superiores,
consideradas grau de investimento.

Tabela 4: Notas de risco

escala de longo prazo


risco
Fitch Moody’s S&P
AAA Aaa AAA melhor avaliação/menor risco
AA+ Aa1 AA+
AA Aa2 AA avaliação alta/risco baixo
AA- Aa3 AA-
A+ A1 A+
A A2 A avaliação ótima/risco médio-baixo
A- A3 A-
BBB+ Baa1 BBB+
BBB Baa2 BBB avaliação média/risco médio
BBB- Baa3 BBB-
BB+ Ba1 BB+ avaliação baixa/risco médio-alto
BB Ba2 BB
avaliação bem baixa/cap. especulativo
BB- Ba3 BB-
B+ B1 B+
B B2 B aval. muito baixa/altamente especulativo
B- B3 B-
Caa1 CCC+
Caa2 CCC aval. extremamente baixa/altamente especulativo
CCC Caa3 CCC-
CC
Ca mais baixa aval./altamente especulativo
C
DDD C D falência

Depois de ter ascendido em 2008 ao grupo grau de investimento, o descontrole das contas públicas
brasileiras, ocorrido a partir de 2013, fez com que, em 2015, as três principais agências rebaixassem a nota do
Brasil para a segunda nota mais alta do grupo especulativo.

Ao perder o grau de investimento, o país deixa de receber, entre outros, os investimentos dos grandes
fundos de pensão do mundo, que nos seus estatutos são proibidos de aplicar em países que não possuem
grau de investimento. A menor oferta de dinheiro para o país o obriga a pagar juros mais altos e a se
comprometer com prazos mais curtos para a quitação dos títulos. O custo mais alto para financiar sua dívida
deteriora cada vez mais a condição financeira do país, em um processo perverso que se realimenta. O Gráfico
13 a seguir mostra a evolução da Dívida%/PIB bruta do país. A deterioração da dívida e as projeções de piora
desse indicador estão no centro da perda de credibilidade e da profunda crise econômica vivida pelo país a
partir de 2014.

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Gráfico 13: Dívida pública (%PIB)

4.1.2 Conceitos de déficits públicos

Toda vez que o total de gastos do setor público supera a arrecadação tributária, dizemos que o governo
possui um déficit no seu orçamento. A dívida pública (externa + interna) se forma a partir do financiamento
dos déficits públicos anuais. É como uma pessoa que todo mês gasta mais do que arrecada e vai financiando
essa diferença tomando empréstimos e formando uma dívida. Essa pessoa se tornará insolvente se o
crescimento dessa dívida superar o crescimento de sua renda. No caso de um país, sua solvência se deteriora
se, para financiar seu déficit anual, o país se endividar em um ritmo que supere o crescimento do PIB.

O problema que leva à eventual insolvência de uma nação, como ocorreu recentemente com a Grécia, não é
a existência de um déficit, mas o tamanho excessivo do rombo que impulsiona o crescimento da dívida em
um ritmo incompatível com o crescimento da riqueza produzida pelo país: o PIB. Os países da Zona Euro
assinaram um acordo antes de adotarem a moeda comum, segundo o qual cada participante teria um déficit
anual no orçamento de no máximo 3% do PIB. A obediência desse limite garantiria uma estabilidade da
relação dívida %/PIB de cada participante. Quando a Grécia, após a crise de 2008, tornou-se insolvente,
verificou-se que seu déficit fiscal superava 13% do PIB, o que colocou a relação Dívida %/PIB desse país em
uma trajetória denominada explosiva.

Dois conceitos diferentes de déficit são utilizados para o resultado das contas públicas: Resultado fiscal
nominal e resultado fiscal primário. Uma observação importante é que, quando estamos falando das contas
de um país, estamos nos referindo às contas consolidadas de todas as esferas governamentais: federal,
estadual e municipal.

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Resultado nominal:

A receita anual do governo (o que ele tem para gastar) é a arrecadação tributária que chamaremos de T. As
despesas do governo são: os investimentos do governo (IGOV), os gastos de custeio e os gastos financeiros do
governo (G), e os juros sobre a dívida pública (J). O resultado nominal das contas públicas compara a
arrecadação com todas as despesas:

T - (IGOV + G + J)

Resultado primário:

O resultado primário das contas públicas compara a arrecadação com todas as despesas, exceto os gastos
financeiros (J):

T - (IGOV + G)

Durante o primeiro Governo FHC (1995-1998), as contas públicas apresentaram déficit primário. Isso significa
que, mesmo antes de pagar os juros sobre sua dívida, o governo já tinha necessidade de se financiar. Esse
fato fez com que a relação Dívida %/PIB se deteriorasse rapidamente, minando a credibilidade do país junto
aos investidores. Em 1998, durante a crise da Rússia, as reservas brasileiras de dólar chegaram a um ponto
criticamente baixo, e o país precisou recorrer ao Fundo Monetário Internacional-FMI. O Brasil obteve, na
ocasião, um empréstimo de US$ 40 bilhões, e o Fundo exigiu como contrapartida a esse empréstimo um
ajuste fiscal: o governo brasileiro deveria apresentar um superávit primário anual de 3,75% do PIB nas suas
contas, com a finalidade de reverter a tendência de crescimento da relação Dívida %/PIB e recuperar a
credibilidade do país.

Esse ajuste foi realizado com alguns cortes de gastos, algumas privatizações e principalmente com aumento
de impostos. Essas medidas de austeridade fiscal prosseguiram no Governo Luiz Inácio Lula da Silva. A
consequente expressiva queda da relação Dívida %/PIB aumentou a credibilidade do país que, em 2008,
recebeu o grau de investimentos das principais agências de risco. Em 2014, o país voltou a apresentar déficits
primários, as agências de risco retiraram o grau de investimento do país, levando à necessidade de medidas
de austeridade e reformas para novamente controlar o crescimento explosivo da dívida.

A seguir, um texto sobre a crise grega e as tristes consequências de um endividamento descontrolado.

Case: A crise da dívida grega

Depois que a profunda crise econômica Grega eclodiu em 2009, muitas vozes de intelectuais se levantaram
buscando culpados externos, como a União Europeia e o FMI, pelo sofrimento dos cidadãos daquele país. A
Grécia é vista por diversas correntes basicamente como vítima.

No entanto, foram os próprios gregos que trilharam, com determinação, o caminho para essa difícil situação
em que se encontram. Essa caminhada rumo ao abismo começou algumas décadas atrás. Sem o
reconhecimento das implicações e consequências de suas opções econômicas equivocada essa sociedade
estará condenada a revisitar seus pesadelos.

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Economia Empresarial

Entre 1929 a 1980, a Grécia viveu um período político extremamente conturbado, com golpes de estado,
ditadores de direita e esquerda que governaram por curto prazo e um impacto severo da Segunda Guerra
Mundial. Contudo, com todo esse quadro adverso, o PIB grego se expandiu nesse período a uma espantosa
média anual de 5,2%, superando inclusive a média japonesa, nos mesmos anos, que foi de 4,9%.

A Grécia foi aceita na União Europeia em 1981 (European Community – EC), e no mesmo ano subiu ao poder
o partido socialista PASOK, que pregava, entre outras coisas, a saída da Grécia da União Europeia (não
tiveram a coragem de cumprir essa promessa). Com o novo governo, o ambiente econômico grego mudou
rapidamente, e a triste situação em 2009 tem suas raízes nessa guinada.

A política econômica do partido no poder PASOK criou um Estado de bem-estar social (Welfare State) inflado
e ineficiente e com excesso de regulação e intervenção restritiva no setor privado. Visando ao apoio eleitoral,
essas políticas foram imitadas pelo partido mais conservador (Nova Democracia), que tem alternado o poder
com outros partidos que desde então continuaram na mesma linha.

Essa disputa pelo voto criou um ambiente onde o dinheiro público foi usado para comprar apoio político de
setores poderosos e para programas de bem-estar de cunho populistas acompanhados de uma estatização
predatória da economia.

Desde 1974, mesmo antes de o PASOK chegar ao poder, partidos ditos mais conservadores haviam
nacionalizado bancos e corporações, subsidiado empresas e expandido os programas de bem-estar social.
Depois de 1981, o governo levou essa política ao extremo, e a intervenção do Estado na economia, sem levar
em conta a meritocracia, virou regra na economia grega.

O aumento dos gastos em programas de bem-estar social angariava apoio político e votos, enquanto
subsídios a setores escolhidos asseguravam o apoio dos mais poderosos. Qualquer político que não seguisse
essa cartilha simplesmente não era eleito.

A pergunta que não quer calar é: de onde veio o dinheiro para financiar essa gastança, com o agravante de
que a Grécia tem uma das maiores taxas de evasão de impostos do planeta? A resposta é: o país recebeu
transferências de União Europeia e se endividou a juros baixos principalmente junto aos seus pares da Zona
Euro. Essa política populista e irresponsável prosseguiu até 2009, quando a crise internacional interrompeu o
fluxo de empréstimos baratos para a Grécia e a realidade chegou: o país estava quebrado. Mais cedo ou mais
tarde a realidade sempre chega!

Ao contrário de uma família que, quando se endivida, sabe que quem pagará é ela, e se programa para isso,
políticos no poder pedem emprestado em nome da população (a dívida pública é da população!). Os
governantes se beneficiam com os votos e o apoio político angariados com os gastos públicos e, quando
essa dívida tiver de ser paga (ou não puder ser paga por ser eventualmente grande demais, levando à
bancarrota do país), eles não estarão mais no governo, o problema será de outros ou outro partido. O
cidadão, que está recebendo os benefícios, acha que o governo é que está pagando, sem se dar conta de que
o dinheiro sai do seu bolso (ou do bolso de outro cidadão) por meio dos impostos pagos hoje, ou sairão
amanhã para quitar dívida pública.

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Economia Empresarial

O ponto crítico no caso grego é que o dinheiro tomado emprestado por três décadas foi usado para financiar
consumo e não investimento, infraestrutura e desenvolvimento econômico. Esse subsídio ao consumo
dos gregos iludiu a população que achava que esse bem-estar, financiado com o dinheiro dos outros, duraria
para sempre. A renda média dos gregos (obtida principalmente por transferências do governo) chegou a
subir mais que a dos seus pares da Zona Euro, mas a dívida grega também subia muito mais rápido... A renda
do povo grego tinha origem, na sua maior parte, em dinheiro emprestado e não na produção!

O retrato da economia grega que emergiu dessas últimas décadas de populismo não é bonito. A Grécia exibe
a maior ineficiência, burocratização e intervencionismo estatal da Zona Euro. Essas características levaram ao
aumento intolerável da corrupção. Tudo isso deságua no maior nível de economia informal da região.

Ensinaram ao cidadão grego a considerar todos os benefícios e transferências recebidas do governo como seus
direitos sociais. O cidadão não se pergunta de onde vem o dinheiro que financia esses direitos. Em 2012, o
governo grego gastava € 10.600,00 por cidadão em benefícios sociais, mas só tinha receitas de € 8.300,00 por
cidadão em impostos, o que significa € 2.300,00 de déficit por pessoa! O rombo foi coberto com endividamento.

Os funcionários públicos (a Grécia exibe o maior percentual sobre a população de funcionários públicos da
Zona Euro) receberam aumentos generosos acima da inflação de 1996 a 2009. Esse funcionário público, se
trabalhou por 35 anos, tinha o direito de se aposentar aos 58 anos. Se for mulher, mais cedo ainda. O alemão
se aposenta aos 67 (funcionário público ou não), e atualmente a Alemanha estuda ampliar essa idade de
aposentadoria para 69 anos em 2040.

Apesar de imensos gastos sociais, o ensino gratuito grego é de péssima qualidade, e as famílias têm de gastar
em ensino privado se quiserem dar uma educação razoável aos filhos. A mesma coisa ocorre com a saúde.

Com a crise de 2009, no auge da crise internacional, o dinheiro fácil e barato sumiu. Os gregos se viram falidos,
tendo de recorrer ao FMI e à União Europeia para sobreviver. Essa ajuda obviamente veio junto com exigência de
mudanças duras na condução da economia do país. As exigências necessárias de cortes nessa abundância de
gastos públicos são politicamente muito difíceis e dolorosas. As aposentadorias já concedidas tiveram de ser
reduzidas, e a nova geração grega está desempregada, pagando pelos excessos de seus pais e avós.

4.2 De volta à política monetária


No Capítulo 3, vimos como funciona o regime de metas de inflação e a atuação do Banco Central, que, ao
perseguir a meta estabelecida, define a taxa básica de juros (Selic) nas reuniões periódicas do Comitê de
Política Monetária (Copom). Porém, o Banco Central possui outros instrumentos para intervir no mercado
financeiro e na oferta de moeda na economia. Analisaremos a seguir esses instrumentos.

4.2.1 O que é moeda?

Quando uma pessoa vai a uma loja e compra algo, por exemplo, uma bolsa de couro, ela obtém algo de
valor. Para pagar por esse produto, o cidadão ou cidadã pode dar à dona da loja vários pedaços de papel
decorados com símbolos, prédios do governo, retratos de pessoas famosas já falecidas, ou mesmo animais.
Ou a pessoa pode entregar um pedaço de papel com o nome de um banco com sua assinatura, ou, bastante
frequentemente, por meio de um cartão plástico, transferir um número para a conta da loja. A proprietária da
loja fica feliz por receber esses papéis ou números em troca de seu produto. A aceitação da parte dela vem
da confiança de que futuramente uma terceira pessoa aceite os papéis ou números em troca de algo que
tem valor para ela.

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Economia Empresarial

O uso social da moeda nas transações é extremamente útil em sociedades grandes e complexas. Imagine,
por um instante, que não existisse qualquer item na economia que não fosse amplamente aceito em troca de
bens e serviços. Para comprar a bolsa, a pessoa deveria oferecer loja algo em troca. Por exemplo, essa pessoa
poderia oferecer uma aula de matemática. E se a dona da loja não estivesse interessada em aprender
matemática? Não haveria negócio. Essa seria uma economia que dependeria do escambo e teria enormes
dificuldades para alocar eficientemente seus recursos escassos. Exatamente pelo fato de o valor do dinheiro
estar associado à confiança que as pessoas têm nele – e não aos valores intrínsecos, como é o caso de metais
preciosos como ouro – é que se diz que o sistema financeiro é composto de Moeda Fiduciária (fé).

4.2.2 A moeda e suas funções

A moeda exerce três funções essenciais:


a) Meio de troca: é aquilo que os compradores dão aos vendedores em troca de bens e serviço.
b) Unidade de conta ou Padrão de Referência: são instrumentos que as pessoas usam para anunciar
preços e registrar débito. Quando vai às compras, você pode observar que uma camisa custa R$
150,00 e um hambúrguer custa R$ 15,00. Mesmo se é exato dizer que uma camisa custa 10
hambúrgueres e um hambúrguer custa 1/10 camisas, os preços nunca são cotados dessa forma. Da
mesma forma, quando você toma um empréstimo no banco, o montante de suas prestações futuras
será medido em reais, e não em quantidade de bens e serviços.
c) Reserva de valor: é aquilo que as pessoas podem usar para transferir poder aquisitivo do presente
para o futuro. Quando aceita moeda hoje em troca de um bem ou serviço, o vendedor pode guardar
o dinheiro e tornar-se comprador de um bem ou serviço mais adiante. Obviamente, a moeda não é a
única reserva de valor da economia. Uma pessoa pode transferir poder aquisitivo do presente para o
futuro guardando títulos, ações, objetos de arte, etc..
d) Liquidez: é um termo utilizado para descrever a facilidade com que um ativo pode ser convertido
no meio de troca da economia. Como a moeda é o meio de troca da economia, ela é o mais líquido
dos ativos disponíveis. Outros ativos variam amplamente quanto à liquidez. Muitos títulos e ações
podem ser vendidos rapidamente, com pequeno custo, de modo que são ativos relativamente
líquidos. Já a venda de uma casa, um quadro ou uma joia exige mais tempo e esforço.

A moeda é o ativo mais líquido, mas é uma reserva de valor imperfeita. Quando os preços sobem, o valor
da moeda cai. Essa relação entre o nível de preços e o valor da moeda é importante para entender como a
moeda afeta a economia. A inflação descontrolada destrói o valor da moeda, pois impede que esta cumpra
as suas funções. Durante o período de hiperinflação ocorrido no país, observaram-se alguns fatos:
Qualquer cidadão que guardasse moeda em conta-corrente ou na carteira corria o risco de, em
pouco tempo, não conseguir comprar mais nada. A moeda perdia rapidamente a capacidade de
transferir consumo no tempo (ser reserva de valor).
Para se ter noção do que se gastava em uma compra mensal de supermercado, era necessário
“dolarizar“ o dispêndio. A moeda nacional se desvalorizava tão rapidamente que não conseguia
mais ser referência de valor (unidade de conta).
A moeda, em geral, perde credibilidade e pode ser rejeitada como meio de troca nos processos
agudos de inflação. No caso brasileiro, como havia as aplicações no overnight que corrijam
monetariamente o dinheiro, a moeda não foi rejeitada. A população mais pobre, que não tinha
normalmente acesso a esse tipo de aplicação, tinha como única defesa contra a desvalorização
acelerada fazer suas compras de supermercado imediatamente após receber o seu salário.

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Economia Empresarial

O Banco Central é o guardião da moeda, isso significa que ele deve manter a moeda do país capaz
de cumprir suas funções.

4.2.3 Instrumentos de controle da oferta de moeda na economia – Política Monetária

Redesconto

Diariamente, as instituições financeiras emprestam reservas entre si no mercado interbancário. Se por acaso
algum banco não conseguir financiar-se com seus pares, ele recorrerá ao Banco Central para realizar uma
operação de antecipação de títulos públicos de propriedade do banco. O Banco Central cobrará uma taxa de
juros por essa antecipação chamada de taxa de redesconto. O Banco Central atua como emprestador de
última instância.

Depósito compulsório

Os bancos comerciais mantêm reservas fracionárias. Isso significa que, de cada depósito de seus correntistas,
os bancos deixam como reserva um percentual desses depósitos, utilizando o restante na oferta de crédito
na economia. O motivo que permite aos bancos fazerem isso é que, quando correntistas fazem retiradas,
outros correntistas estão realizando depósitos. A instituição utiliza os depósitos desses para honrar as
retiradas dos primeiros.

Essas operações fazem surgir recursos nas contas desses tomadores de crédito, “criando moeda”. As
instituições nas quais esses tomadores de crédito têm conta, novamente vão manter como reserva uma
fração desses recursos emprestando o restante, em um processo em cadeia. Esse aumento de quantidade de
moeda (escritural) em circulação se chama de multiplicador bancário. Para controlar a quantidade de moeda
“criada” nesse processo, cabe ao Banco Central determinar qual o percentual que os bancos devem deixar
como reserva. Esse percentual se chama depósito compulsório.

Durante um processo de aceleração de inflação, o Banco Central pode, além de aumentar a taxa básica de
juros da economia, aumentar o percentual do depósito compulsório, restringindo a oferta de crédito pelo
sistema financeiro. Isso aumentaria os juros nas diversas modalidades de financiamento, restringindo a
demanda agregada e, consequentemente, ajudando no controle da inflação. Por outro lado, em um processo
de recessão e aumento de desemprego, o Banco Central pode, além de baixar a taxa básica de juros da
economia, diminuir o percentual do depósito compulsório, ampliando e barateando a oferta de crédito,
impulsionando a demanda agregada.

Operações de mercado aberto (Open Market)

Ao determinar a taxa de juros básica da economia (a Selic, no caso brasileiro), o Banco Central está
fornecendo uma referência para a taxa de juros utilizada pelas instituições financeiras para se financiarem no
mercado interbancário. O Banco Central atua nesse mercado de modo que a taxa utilizada pelos bancos nos
empréstimos entre si se mantenha bem próxima ao valor da Selic definido pelo Copom. Para isso, a
autoridade monetária utiliza as operações de mercado aberto (operações de Open Market).
O Banco Central realiza leilões de compra e venda de títulos públicos, injetando ou retirando dinheiro do
mercado interbancário. A mesa de Open Market monitora diariamente o mercado interbancário. Se a taxa de
juros desse mercado começar a subir acima da Selic, isso sinaliza para a mesa que falta liquidez no mercado.

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Economia Empresarial

O volume demandado de moeda está maior que o volume ofertado. A mesa realiza então um leilão de
recompra de títulos públicos em poder dos bancos, injetando moeda no mercado, fazendo com que os juros
do interbancário baixem até o valor da Selic, quando o leilão é interrompido. Se, ao contrário, a mesa verifica
que os juros do interbancário estão caindo abaixo da Selic, isso sinaliza para os operadores que está havendo
um excesso de liquidez no mercado. O volume de oferta de moeda está superando a demanda, puxando os
juros para baixo. A mesa de Open Market realiza um leilão de oferta de títulos públicos, retirando moeda do
mercado, até que os juros do interbancário fiquem novamente próximos do valor da Selic.

Corridas bancárias

Os bancos trabalham com reservas fracionárias. Isso significa que nenhum banco suportaria que a maioria de
seus correntistas resolvesse retirar seus depósitos simultaneamente. Se um boato maldoso espalhasse a
notícia que algum banco está insolvente, poderia levar essa instituição, mesmo que saudável, à falência. É o
que chamamos de boato autorrealizável. Se essa corrida se tornasse generalizada, a oferta de moeda na
economia encolheria rapidamente, já que o multiplicador bancário deixaria de funcionar.

Em 1933, após diversas corridas bancárias ocorridas durante a Grande Depressão, o governo americano criou
o Federal Deposit Insurence Corporation (FDIC), um fundo que garante aos correntistas seus depósitos até
um determinado valor (atualmente, US$ 250.000,00). No Brasil, temos o Fundo Garantidor de Crédito, que
garante os depósitos em conta-corrente, caderneta de poupança, certificados de depósitos bancários, letras
de crédito imobiliárias e letras de crédito agrárias em um montante, atualmente, de R$ 250.000,00. Como os
depósitos têm garantia até esse valor, a probabilidade de ocorrerem corridas bancárias originárias de boatos
diminui.

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Economia Empresarial

MÓDULO 5 – CICLOS ECONÔMICOS, POLÍTICAS CAMBIAIS E BALANÇO DE PAGAMENTOS


5.1 Ciclos econômicos
A atividade econômica flutua de um ano para o outro. Geralmente, ela se expande devido ao aumento na
força de trabalho, investimentos em bens de capital e novas tecnologias. A economia produz mais ao longo
do tempo. Contudo, em alguns anos isso não acontece. A demanda por bens e serviços encolhe, e as
empresas sem clientes diminuem a produção dos bens e serviços. Trabalhadores são demitidos, e as firmas
trabalham com ociosidade. A renda encolhe. Esses períodos de queda de renda e aumento de desemprego
são denominados recessões, se relativamente moderados, e depressões, se mais intensos como em 1930.

O Brasil, entre 2014 e 2016, passou pela pior recessão em mais de um século, com chances de entrar para a
história como uma depressão. O número de trabalhadores desempregados alcançou a marca de 12 milhões
no final de 2016.

A maioria dos economistas analisa a demanda e a oferta agregada para entender as causas dessas
flutuações. O fato é que elas sempre ocorrem.

5.1.1 Dois pontos importantes sobre as flutuações

As flutuações econômicas são irregulares

Também denominadas ciclos de negócios, frequentemente essa expressão leva à errônea ideia de que as
flutuações do PIB são regulares e previsíveis, como os ciclos da Lua. Isso não ocorre. O Gráfico 14 a seguir
mostra a evolução da economia americana (PIB real) nas três últimas décadas do século XX. As faixas escuras
representam períodos de recessão. Podemos observar que esses períodos têm duração diferente e ocorrem
em espaçamentos irregulares.

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Economia Empresarial

Gráfico 14: Evolução da economia americana (1965-1995)

Muitas variáveis econômicas flutuam ao mesmo tempo

Diversas variáveis econômicas, como a renda das famílias, a despesa ou a produção, flutuam praticamente
em conjunto. Contudo, algumas variáveis apresentam ritmos diferentes de flutuação. Normalmente, o
investimento das empresas encolhe rapidamente no início de uma recessão e é um dos últimos a se
recuperar. As empresas precisam ter certeza da recuperação da economia para retomar seus projetos de
investimento. Já o desemprego demora a aumentar, já que as empresas investiram em treinamento dos
funcionários, e os custos de demissão são geralmente altos. Contudo, uma recessão profunda e longa, como
a brasileira entre 2014 e 2016, acaba resultando em forte aumento de desemprego, o que aprofunda ainda
mais a crise econômica. A recuperação desses postos de trabalho normalmente se dá lentamente, à medida
que a economia começa se recuperar.

5.1.2 Origem das flutuações

Flutuações da Demanda Agregada

A equação do PIB pelo lado da despesa que vimos no Capítulo 3 representa a Demanda Agregada: PIB = C +
Ipriv + Igov + G + X - M. A demanda agregada flutua quando seus elementos flutuam.

Flutuações do consumo das famílias (C)

Em 2008, como decorrência da crise que atingiu em cheio os preços dos imóveis nos EUA, o consumo das
famílias encolheu rapidamente. A família americana, altamente consumidora e endividada, viu sua principal
referência de riqueza, seus imóveis, desvalorizar-se. Para recompor sua situação financeira, essa família

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Economia Empresarial

aumentou sua taxa de poupança e consequentemente encolheu o consumo. Olhando do ponto de vista de
uma família em particular, essa atitude é perfeita. Contudo, quando a maioria das famílias do país consome
menos, empresas não vendem, empregos são perdidos e a economia afunda em uma recessão. Essa situação
se mostra mais dramática quando lembramos que o consumo das famílias americanas responde pela
demanda de 70% do PIB do país.

Sendo os Estados Unidos a maior economia do mundo e grande importadora de bens e serviços de outras
economias, uma recessão americana contamina as outras economias via encolhimento de suas importações.
Uma melhora das expectativas da família americana ou mesmo um corte de impostos tende a impulsionar o
seu consumo com efeito relevante na economia local e mundial.

Flutuações do investimento do setor privado

Qualquer situação que interfira na disposição das empresas investirem terá efeito na demanda agregada. Se
as empresas estão pessimistas ou inseguras quanto às condições da economia futuras, elas adiam
investimentos. Por outro lado, uma onda de novas inovações tecnológicas e boas expectativas quanto ao
futuro da economia pode levar o setor privado a investir mais.

Flutuações dos gastos e investimentos do governo

A redução ou expansão dos gastos de custeio e investimentos do governo tem um impacto importante nas
flutuações econômicas. O aumento ou não no número de concursos públicos, a decisão de investir ou não
em obras de infraestrutura e os gastos sociais têm reflexo direto na demanda de bens e serviços.

Flutuações das exportações líquidas (exportações menos importações de bens e serviços)

Quando os Estados Unidos entram em uma recessão, a economia americana importa menos, e isso afeta as
exportações líquidas mexicanas negativamente. Quando a economia americana se expande, ocorre o
oposto.

Flutuações da oferta agregada

A oferta agregada é a quantidade de bens e serviços que as empresas vendem a um nível de preço.

Flutuações decorrentes da força de trabalho

Uma economia que registrar uma entrada massiva de imigrantes teria uma expansão na produção e oferta
de bens e serviços decorrente do aumento do número de trabalhadores. A peste negra (Peste Bubônica) que
dizimou grande parte da população da Europa na Idade Média teve o efeito de contrair a oferta de bens.

Flutuações decorrentes da variação de bens de capital

Um aumento do estoque de máquinas, fábricas e infraestrutura aumenta a produtividade da economia e, por


consequência, a oferta de bens e serviços.

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Economia Empresarial

Flutuações decorrentes da variação de recursos naturais

A produção de uma economia depende de recursos naturais. A descoberta do petróleo no pré-sal ou de uma
nova jazida de minério tem efeito direto na oferta de bens e serviços. Uma modificação no clima afeta a
produtividade do setor agrícola.

Flutuações decorrentes da variação de inovações tecnológicas

As inovações da Embrapa revolucionaram a produtividade do setor agrícola brasileiro, expandindo a oferta


de grãos. O desenvolvimento da tecnologia de informação revolucionou a produtividade de praticamente
todos os setores da economia mundial.

5.1.3 Lidando com as flutuações econômicas no curto prazo

O Gráfico 15 a seguir representa o PIB de uma economia hipotética crescendo no tempo. A linha reta
representa a expansão do PIB potencial dessa economia (o que essa economia tem capacidade de produzir
de bens e serviços), que, como vimos, depende do aumento da produtividade, que por sua vez depende da
taxa de investimento. A linha sinuosa representa o PIB verificado no tempo, que não necessariamente é igual
ao PIB potencial. As flutuações de curto prazo fazem com que, no tempo, a economia alterne períodos
trabalhando com ociosidade, abaixo do seu potencial com aumento do desemprego, com outros períodos
em que a demanda agregada começa a ultrapassar a oferta agregada, fazendo a economia trabalhar acima
do seu potencial com pressões inflacionárias.

Gráfico 15: Crescimento do PIB

O governo deve atuar no curto prazo buscando suavizar essas flutuações.

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PIB abaixo do Potencial: pressão por desemprego

O Governo deve implementar políticas expansionistas da demanda agregada.

Política Fiscal Expansionista (decisões do Ministério da Fazenda)

Aumento de gastos públicos e/ou corte de impostos. Isso faria com que as famílias ampliassem seu consumo
e os gastos governos ampliam a demanda por bens e serviços na economia aproximando o PIB verificado ao
PIB potencial.

Política Monetária Expansionista (decisões do Banco Central)

O banco central pode promover cortes da taxa básica de juros da economia (Selic no Brasil) e diminuir o
percentual do depósito compulsório dos bancos comerciais, diminuindo os juros dos créditos e
financiamentos visando ampliar o consumo das famílias e investimentos das empresas.

PIB acima do Potencial: pressão inflacionária

O Governo deve implementar políticas contracionistas da demanda agregada.

Política Fiscal Contracionista (decisões do Ministério da Fazenda)

Corte de gastos públicos e/ou aumento de impostos. Isso faria com que as famílias diminuíssem seu
consumo e os menores gastos governos contraem a demanda por bens e serviços na economia
aproximando o PIB verificado ao PIB potencial.

Política Monetária Contracionista (decisões do Banco Central)

O Banco Central pode promover aumento da taxa básica de juros da economia (Selic no Brasil) e aumentar o
percentual do depósito compulsório dos bancos comerciais, aumentando os juros dos créditos e
financiamentos visando contrair o consumo das famílias.

5.2 O setor externo


5.2.1 O balanço de pagamentos

As relações econômicas de um país com o resto do mundo envolvem um conjunto muito grande e variado
de transações. O estudo dessas relações torna-se muito mais fácil quando dispomos ferramenta contábil
adequada: o Balanço de pagamentos.

Quando um país se comunica com o resto do mundo, ele o faz por dois canais:
O canal comercial: compra e venda de bens e serviços – denominamos esse canal de transações
correntes.
Exemplo: Quando um país exporta, envia mercadorias para o exterior e recebe um
pagamento que é registrado positivamente em sua conta-corrente.

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Economia Empresarial

O canal de capital e financeiro – conta capital financeira.


Exemplo: Quando uma empresa estrangeira decide instalar uma filial no país, esse
investimento é registrado positivamente na conta de capitais.

O Balanço de Pagamentos é o registro contábil e sistemático de todas as transações econômicas de um


país com o exterior, sejam elas comerciais, financeiras ou de qualquer outra natureza.

Esse registro é feito em dólares pelo Banco Central. O que traz dólares para o país é lançado a crédito, e o que
faz sair dólares do país é lançado a débito

O que é registrado nas transações correntes:


Balança comercial:
exportações de bens (crédito);
importações de bens (débito).

Note que somente o valor dos bens importados e exportados deve ser contabilizado na balança comercial.
Nenhum tipo de serviço (tais como fretes marítimos) deve ser incluído. Esses serão lançados na balança de
serviços.

Balança de serviços:
Viagens, transportes, fretes, seguros, construção civil, financeiros, governamentais (como
embaixadas), manutenção e reparos, aluguéis de equipamentos, propriedade intelectual
(marcas, patentes, royalties), advocatícios, culturais, telecomunicação, computação e
informações, audiovisuais, saúde, etc.
A Balança de rendas
Primária
Salários, ordenados (diplomatas, burocráticos), honorários, remessas de lucros, dividendos,
juros, etc.

Secundária (transferências unilaterais)


Governos (bolsas de estudos), donativos, ajudas humanitárias, transferências pessoas físicas,
etc.

O que é registrado na conta capital-financeira:


Conta Capital: Ativos não financeiros, passes de atletas, direitos sobre recursos naturais, marcas,
logotipos, domínios, etc.
Conta financeira: investimentos diretos no exterior e no país, empréstimos, financiamentos,
créditos, ações negociadas em bolsas de valores no Brasil e no exterior, aplicações em títulos
públicos e privados, amortizações de compromissos externos, fundos de investimentos, etc.

Alguns exemplos de transações entre residentes no exterior e residentes no Brasil são apresentados a seguir:
Um residente no exterior compra uma fábrica, de um residente no Brasil. O residente no exterior
obtém um título de propriedade transferido do residente no Brasil. Tal transação é registrada na
Conta de Capital do Balanço de Pagamentos brasileiro, como uma entrada de capital.
Um residente no exterior compra, de residentes no Brasil, ações de uma empresa, ou empresta
recursos financeiros para essa empresa, ou compra uma debênture emitida por ela, ou compra um

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Economia Empresarial

título público emitido pelo governo brasileiro. O comprador (ou emprestador) recebe um
documento que estabelece o direito que adquiriu de residentes no Brasil. O registro dessa transação
se dá na conta financeira do balanço de pagamentos brasileiro, como entrada de capital.
Uma empresa russa compra grãos de produtores brasileiros na Alemanha, para beneficiamento. A
empresa levou a mercadoria, e a transação se encerrou. Os russos não adquiriram direitos no Brasil,
nem os produtores brasileiros ficaram com qualquer obrigação futura. No Brasil, a transação deve
ser registrada na conta Transações Correntes do Balanço de Pagamentos, como uma exportação; e
no Balanço de Pagamentos da Rússia, como uma importação.
Um turista residente no exterior vem para as Olimpíadas no Rio de Janeiro e incorre em gastos no
Brasil: hospedagem, alimentação, entradas para os jogos, passeios, presentes para a família, etc. Ele
recebeu diretamente as mercadorias (alimentos, presentes) e os serviços (hospedagem, concertos
musicais, passeios); não adquiriu direitos de futuros recebimentos sobre residentes no Brasil. Assim,
o que gastou deve ser registrado na conta Transações Correntes do Balanço de Pagamentos
brasileiro, na rubrica “Viagens”, como ingresso de divisas estrangeiras.
Uma empresa residente no Brasil envia pagamentos de juros a um banco no exterior, o qual lhe
havia concedido um financiamento. Esses juros são considerados pagamentos pelos serviços do
capital emprestado e, em consequência, devem ser registrados na conta Transações Correntes do
Balanço de Pagamentos, como pagamento pela importação de serviços. O mesmo acontece com a
remessa de lucros e dividendos para o exterior, e também com os pagamentos de royalties, seguros,
fretes, aluguéis, etc. Correspondem a serviços importados e devem ser registrados na conta
Transações Correntes do Balanço de Pagamentos.
Uma empresa residente no Brasil amortiza parte de sua dívida com um banco no exterior. Nesse
caso, a empresa não pagou pelos serviços do capital financeiro, mas pagou parte do próprio valor
que tomou emprestado, ou seja, comprou de volta o título ou o direito que o banco possuía. A
transação é então registrada na Conta Financeira do Balanço de Pagamentos, como saída de capital
do Brasil. O mesmo aconteceria se a empresa recomprasse suas próprias ações ou cotas em mãos de
estrangeiros; o registro seria na Conta Financeira do Balanço de Pagamentos.
As doações que um residente no exterior faz a um residente no Brasil – denominadas “Rendas” –
também são registradas na conta Transações Correntes do Balanço de pagamentos, pois, em
princípio, não geram obrigações futuras do residente do Brasil com o doador. O residente no
exterior não adquire direitos a serem cobrados no futuro. Assim, por exemplo, muitos brasileiros que
moram e trabalham no exterior remetem recursos financeiros para seus familiares no Brasil. Os
descendentes de japoneses que vivem em São Paulo e vão trabalhar no Japão enviam dinheiro para
o Brasil. Essas transferências são registradas na conta Transações Correntes do Balanço de
Pagamentos – na rubrica “Rendas Secundárias” também conhecida como transferências unilaterais
para residentes no Brasil.

Quando somamos o resultado anual dos dois canais – as Transações Correntes e a Conta Capital e Financeira –,
temos o resultado do Balanço de Pagamentos. Se o Balanço de Pagamentos for deficitário, significa que
naquele período saíram mais dólares do que entraram, e o país tende a perder reservas internacionais que
estavam à disposição de seu banco central. Se o país tiver um Balanço de Pagamentos superavitário, ele
acumulará reservas. Países que não disponham de reservas para “fechar” o Balanço de Pagamentos podem
recorrer a organismos internacionais como o FMI. Foi o caso do Brasil em 1998, que obteve, na ocasião, um
empréstimo de US$ 40 bilhões do FMI e do governo americano. Os aportes desses organismos são, por
convenção, registrados fora da conta de capitais em contas que aparecem lado a lado com a conta de reservas.
Caso esses aportes fossem registrados na conta de capitais, poderíamos ter a impressão (errada) de que o
Balanço de Pagamentos está em equilíbrio.

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Economia Empresarial

Se um país não obtém apoio dos organismos internacionais para “fechar” o Balanço de Pagamentos e as
reservas internacionais atingem um nível muito reduzido, ele pode entrar em moratória. Em 1986, o Brasil se
viu com reservas muito baixas, mas não conseguiu aporte do FMI. Isto é, o país precisou dar calote na sua
dívida em moeda estrangeira. Essas dívidas foram posteriormente renegociadas e pagas. No final de 2016, o
Brasil possuía reservas em nível confortável (cerca de US$ 380 bilhões em dezembro de 2016).

5.2.2 O mercado de câmbio e a política cambial

A moeda estrangeira (contabilizada em dólares) que entra e sai do país por meio das movimentações
registradas no Balanço de Pagamentos formam o mercado de câmbio. Como todo mercado, os agentes
econômicos demandam e ofertam dólares e o preço se dá pelo equilíbrio. A entrada de dólares no Balanço
de Pagamentos configura a oferta e a saída de dólares configura a demanda.

Por exemplo, um exportador, ao trazer suas receitas em dólar norte-americano do exterior, oferece essa
moeda no mercado cambial; um importador, para poder comprar mercadorias ou serviços no exterior,
demanda dólares norte-americanos no mercado cambial; um estrangeiro que resolve comprar um terreno no
Brasil oferece dólares norte-americanos no mercado cambial (para adquirir reais e comprar o terreno). Eles
querem trocar dólares norte-americanos por reais ou vice-versa, e assim formam a demanda e a oferta de
dólares norte-americanos no mercado de câmbio.

Fatores que afetam a entrada e saída de dólares:

Diversos fatores afetam o balanço de pagamentos e o mercado de câmbio. A seguir, alguns exemplos:
Se o PIB brasileiro cresce mais rapidamente, isso amplia a demanda por dólares, pois o país
importará mais insumos para crescer.
Se há uma crise de confiança sobre a sustentabilidade da dívida brasileira, o investidor que trouxe
dólares para cá ofertou no mercado e aplicou reais em títulos brasileiros ou mesmo em ações, vai
tirar o seu capital do país, comprando dólares.
Se a China cresce mais fortemente e consequentemente os preços dos grãos e do minério de ferro
sobem no mercado internacional, o volume e valor das exportações brasileiras crescem, refletindo-
se em maior oferta de dólares no mercado de câmbio.
O diferencial de juros pagos pelos títulos da dívida interna brasileira (a Selic) com os juros pagos por
títulos de outros países (principalmente os juros americanos) também influenciam o mercado de
câmbio. A oferta tende a aumentar quando esse diferencial aumenta e a demanda tende a aumentar
quando esse diferencial encolhe.

Os regimes cambiais

Além dos compradores e vendedores de moeda estrangeira no mercado de câmbio, o banco central também
pode atuar nesse mercado ofertando ou demandando reservas e interferindo na cotação.

O banco central pode querer conter uma alta excessiva ou uma baixa excessiva da cotação do dólar ou
mesmo tentar suavizar uma forte volatilidade do valor do câmbio:
Quando o real se desvaloriza (a cotação do dólar sobe), as importações de bens e serviços e tudo o
que é cotado em dólares fica mais caro em reais, com impactos inflacionários. Por outro lado,

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quando há a desvalorização do real, os bens e serviços brasileiros ficam mais baratos em dólar,
beneficiando a balança comercial do país.
Quando o real se valoriza (a cotação do dólar cai, as importações de bens e serviços e tudo o que é
cotado em dólares fica mais barato em reais, ajudando no controle da inflação. Por outro lado,
quando acontece a valorização do real, os bens e serviços brasileiros ficam mais caros em dólar,
prejudicando a balança comercial do país.

O padrão de comportamento do banco central no mercado de câmbio, em um período de tempo, é


denominado regime cambial do país. O dólar é a moeda reserva do mundo, e a cotação das moedas é dada
em relação à moeda americana. A seguir, vamos analisar as características principais dos diversos regimes:

Regime de câmbio flutuante puro

No regime de câmbio flutuante puro, o banco central não interfere no mercado de câmbio, e a cotação da
moeda estrangeira (dólar) é dada puramente pelo equilíbrio das forças de mercado. Na prática, os bancos
centrais das moedas consideradas mais fortes, como o euro, a libra inglesa, o yen do Japão raramente
interferem no mercado de câmbio. Podemos dizer que o mercado de câmbio nessas economias opera
praticamente o tempo todo no regime de câmbio flutuante puro.

Regime de câmbio flutuante sujo (dirty floating)

No regime de câmbio flutuação sujo, o banco central deixa o mercado flutuar e eventualmente atua no
mercado para interferir na cotação se considerar necessário. É importante salientar, porém, que o banco
central não define nenhuma regra da sua atuação no mercado. Ele age totalmente a seu critério e não dá
explicações sobre sua atuação. Nos mercados de câmbio dos países emergentes, como o brasileiro, a
flutuação é geralmente suja.

Regime de câmbio fixo

No regime de câmbio fixo, o banco central fixa uma cotação e atua no mercado para mantê-la. Isso quer dizer
que o banco central, para evitar a queda da cotação, comprará a moeda estrangeira (dólares) se houver
excesso de oferta no mercado e venderá a moeda estrangeira, para evitar a alta da cotação se houver excesso
de demanda no mercado.

Uma variante desse regime é a banda cambial na qual o banco central se compromete a manter a cotação
da moeda estrangeira dentro de um intervalo fixado. Esse era o regime quando o plano Real foi
implementado em julho de 1994. Inicialmente, era uma cotação e mais tarde evolui para uma banda cambial.
O regime de câmbio fixo é conhecido como uma âncora cambial para a inflação. No Plano Real, a cotação
fixa tornava os preços de importados e bens serviços cotados em dólares estáveis em reais.

Ataque especulativo à moeda

Se o banco central se compromete a vender moeda estrangeira para impedir a alta da cotação, é
imprescindível que o país tenha reservas robustas de moeda estrangeira (dólares). Caso haja a percepção de
que as reservas cambiais não são suficientes para o banco central ser capaz de manter a cotação fixada, o
país pode sofrer um ataque especulativo à moeda.

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Os investidores percebem que o Banco Central não tem reservas cambiais suficientes para impedir a
desvalorização da moeda nacional. Acontece então uma forte pressão de compra de dólares que enfraquece
mais ainda as reservas e eventualmente obriga o Bacen a deixar a moeda nacional se desvalorizar. Isso traz
lucros para aqueles que compraram dólares antes da desvalorização da moeda nacional (no caso brasileiro, o
Real).

O Brasil sofreu um ataque especulativo a sua moeda em janeiro de 1999, que obrigou o Banco Central a
abandonar o câmbio fixo, que vigorava desde julho de 1994, adotando a partir dessa data o regime de
câmbio flutuante sujo. Na ocasião, a moeda americana dobrou de cotação em um mesmo dia, trazendo
fortes prejuízos a todos os que detinham dívidas em dólares.

Conclusão

Com o mercado de câmbio, analisamos a terceira perna do tripé macroeconômico que compreende a
política monetária, fiscal e cambial do país.

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