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Resenha crítica do documentário “1964 - Brasil entre armas e livros”.

André Luiz da Silva


Doutor em História pela UNESP
Professor Universitário

O Brasil era alvo de disputas geopolíticas de EUA e URSS, não há dúvidas, era
Guerra Fria. CIA e KGB, STB, entre outras instituições eram responsáveis por
espionagem e infiltrações em regiões por todo o globo e o Brasil não era exceção.
A Revolução Cubana teve um impacto gigantesco na política externa estadunidense. O
Brasil era estratégico para ambos os lados. Se olharmos para os fatos a partir desta
premissa se desdobra um quadro geral aplicável a outros países também envolvidos
neste contexto internacional. Mas, apesar de dar um fundo para a tese de que os
comunistas estavam prontos para dar um golpe, os defensores da tese de que os
militares salvaram o país dos comunistas é frágil.
Faltam fontes que possibilitem identificar as manobras paramilitares neste
sentido durante o governo de Jango, sendo citados documentos da Tchecolosvackia
afirmando que a STB mandou 41 brasileiros para receber treinamento em Cuba. As
ligas camponesas, movimentos de trabalhadores sem acesso a terra, foram identificadas
como núcleos de guerrilha ligados a supostos agentes ligados a KGB. Desse modo, o
grande argumento foi a aproximação de Jango e seu ideário trabalhista com Cuba, China
e URSS, e as tais citadas guerrilhas.
As greves e movimentos de rua eram ainda mais ameaçadores aos olhos das
elites, EUA e exército do que as supostas guerrilhas, e havia muita dúvida sobre os
interesses de João Goulart em seus discursos de apoio à greves. Por outro lado sobram
fontes da manipulação feita pelos EUA para associar a imagem de Jango a de um
comunista perigoso, questão tratada de maneira tendenciosa na narrativa do
documentário.
De fato, mesmo que se justifique a tomada de poder como meio de frear as ações
da URSS, pela mesma impor regimes autoritários, os 21 anos posteriores a tal
Revolução Democrática de 64, como quer chamar o atual ministro da educação do
governo Bolsonaro, foram marcados por violações dos direitos humanos, torturas e
censura, e o documentário em questão não nega esses fatos.
A tese do golpe comunista se torna frágil quando levamos em conta a falta se
resistência dos tais comunistas frente tomada de poder do exército. Onde estavam?
Onde viviam? Tinham armas? Por que não foram presos e o plano do golpe exposto em
detalhes? Quais eram os líderes? Por fim, as motivações internas, como conter as
reformas de base e agrária de João Goulart, que ameaçavam os políticos e os mais ricos,
foram tão ou mais relevantes para o interesse dos empresários e parlamentares do que os
reflexos da Guerra Fria no apoio a tomada de poder pelos militares? Sem falar no
pagamento de grandes montantes provenientes dos EUA para comprar apoio no
congresso contra Jango? O povo foi às ruas na marcha da família, embebidos de
anticomunismo e falta de compreensão sobre os bastidores da disputa pelo poder
influenciados pela manipulação da propaganda financiada pelos EUA? O documentário
não enfrentou estas teses amplamente debatidas pela historiografia que acusam ser falsa.
Este documentário trata-se da velha e "boa arte" de estabelecer uma narrativa e
propaga-la para fins políticos de legitimação. Para os roteiristas e produtores do
documentário, a narrativa de esquerda foi construída em meio a infiltração do
gramscismo nas universidades, fazendo dos historiadores pesquisadores tendenciosos ou
sem compromisso.
O que salta aos olhos no documentário "1964 - Brasil entre armas e livros" é a
falta de confronto entre as diferentes interpretações e a omissão dos documentos
liberados pelo governo estadunidense em 2014. Acusam os trabalhos que ignoram as
fontes encontradas nos arquivos da Tchecolosvackia enquanto ignoram os estudos
pautados nos encontrados em Washington, chamando os mesmos de falsos. Meia
verdade é meia mentira.
Em uma das falas, um dos entrevistados enquanto especialistas no tema afirma
que 64 foi um golpe parlamentar inconstitucional e que a partir de 68 o Brasil se tornou
uma ditadura.
Os militares foram entrando lentamente, especialmente por conta do "doidão" general
Mourão Filho (fala do próprio Olavo de Carvalho).

Sobre os grupos de militantes, as guerrilhas urbanas, o documentário debanda


para uma análise que os coloca como terroristas. Já a tortura do Estado, o documentário
admite que existiu. Mas coloca que a mesma foi usada pelos guerrilheiros para justificar
o terrorismo como uma luta justa, em outras palavras, vitimização. Afirmam ainda que
os militantes comunistas se auto-exilavam e assumiam outras identidades, desse modo
muitos dos desaparecidos políticos não teriam sido vítimas do Estado, mas parte de uma
farsa que visava culpabilizar os militares. Neste ponto, citam os soldados que morreram
nos conflitos e atentados e denunciam a crueldade de grupos comunistas. Resumindo:
Não negam que foi golpe.
Não negam que foi ditadura.
Não negam que tenha ocorrido tortura.
Negam a participação dos EUA no processo.
Afirmam que existia uma revolução comunista em andamento.
Afirmam que os militantes contrários ao regime eram terroristas e também violaram os
direitos humanos com suas práticas.
Afirmam que a tortura em meio aos desvios da autoridade nos bastidores das lutas
contra o terrorismo, ou seja, não era uma prática aprovada pelas Forças Armadas.
Afirmam que a esquerda conseguiu implantar o "marxismo cultural", o gramscismo e a
Escola de Frunkfurt se infiltrou nas universidades.
O movimento da contracultura teria trazido uma visão de que era "descolado" ser contra
o governo militar e tudo seria parte deste projeto de dominação cultural da esquerda.
A revolução cultural gramsciniana teria gerado uma geração de historiadores marxistas
que escreveram as teses sobre a Ditadura Militar e estes trabalhos seriam pautadas em
uma visão tendenciosa sobre o período.
Afirmam que a historiografia é marxista, exclusivamente marxista, sobre o período e
por isso partidarista.
Negam que a censura era tamanha que qualquer um que criticasse o governo seria preso.
Mas admitem que houve censura quando havia transgressões a moral aos bons
costumes.
Negam que os militares eram a Direita, mas sim os revolucionários, deixando a
definição em aberto.
O PT seria o continuador do comunismo de Jango, dos terroristas, do gramscismo e da
contracultura.
Fica nas entrelinhas que Bolsonaro é herdeiro da revolução e os petistas, como
Lula, hoje preso, Dilma, alvo de um impeachment, são a prova que pensamento político
de esquerda é composto por corruptos e terroristas.
O documentário critica a maneira que o período que vai de 64 a 85 é abordado
pela historiografia, que para os autores do documentário, é marxista e partidarista.
Porém, acusando a esquerda de doutrinadora, se ausentam de realizar
metodologicamente um caminho de confronto entre teses, antíteses, trazendo apenas
uma leitura igualmente ideológica do período. Criam uma visão de continuidade entre o
comunismo da URSS e o PT, ignorando suas alianças com a direita e a adoção de
políticas neoliberais durante o período que estiveram no poder. Não abordam o tema
corrupção durante a ditadura. Ignoram os relatórios da Comissão da Verdade e
relativizam as críticas aos militares que marcaram a abertura como reflexo da
hegemonia cultural da esquerda. Para mim, a narrativa do documentário é tendenciosa e
cai na própria armadilha que tenta denunciar: que a história é manipulada por
ideologias.

Prof. Dr. André Luiz da Silva, historiador.

Sobre tais documentos que Olavo de Carvalho diz serem falsos. Muitas destas fontes
estão disponíveis no link:
https://www.jfklibrary.org/search?search=jo%C3%A3o+goulart

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