Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
O Brasil era alvo de disputas geopolíticas de EUA e URSS, não há dúvidas, era
Guerra Fria. CIA e KGB, STB, entre outras instituições eram responsáveis por
espionagem e infiltrações em regiões por todo o globo e o Brasil não era exceção.
A Revolução Cubana teve um impacto gigantesco na política externa estadunidense. O
Brasil era estratégico para ambos os lados. Se olharmos para os fatos a partir desta
premissa se desdobra um quadro geral aplicável a outros países também envolvidos
neste contexto internacional. Mas, apesar de dar um fundo para a tese de que os
comunistas estavam prontos para dar um golpe, os defensores da tese de que os
militares salvaram o país dos comunistas é frágil.
Faltam fontes que possibilitem identificar as manobras paramilitares neste
sentido durante o governo de Jango, sendo citados documentos da Tchecolosvackia
afirmando que a STB mandou 41 brasileiros para receber treinamento em Cuba. As
ligas camponesas, movimentos de trabalhadores sem acesso a terra, foram identificadas
como núcleos de guerrilha ligados a supostos agentes ligados a KGB. Desse modo, o
grande argumento foi a aproximação de Jango e seu ideário trabalhista com Cuba, China
e URSS, e as tais citadas guerrilhas.
As greves e movimentos de rua eram ainda mais ameaçadores aos olhos das
elites, EUA e exército do que as supostas guerrilhas, e havia muita dúvida sobre os
interesses de João Goulart em seus discursos de apoio à greves. Por outro lado sobram
fontes da manipulação feita pelos EUA para associar a imagem de Jango a de um
comunista perigoso, questão tratada de maneira tendenciosa na narrativa do
documentário.
De fato, mesmo que se justifique a tomada de poder como meio de frear as ações
da URSS, pela mesma impor regimes autoritários, os 21 anos posteriores a tal
Revolução Democrática de 64, como quer chamar o atual ministro da educação do
governo Bolsonaro, foram marcados por violações dos direitos humanos, torturas e
censura, e o documentário em questão não nega esses fatos.
A tese do golpe comunista se torna frágil quando levamos em conta a falta se
resistência dos tais comunistas frente tomada de poder do exército. Onde estavam?
Onde viviam? Tinham armas? Por que não foram presos e o plano do golpe exposto em
detalhes? Quais eram os líderes? Por fim, as motivações internas, como conter as
reformas de base e agrária de João Goulart, que ameaçavam os políticos e os mais ricos,
foram tão ou mais relevantes para o interesse dos empresários e parlamentares do que os
reflexos da Guerra Fria no apoio a tomada de poder pelos militares? Sem falar no
pagamento de grandes montantes provenientes dos EUA para comprar apoio no
congresso contra Jango? O povo foi às ruas na marcha da família, embebidos de
anticomunismo e falta de compreensão sobre os bastidores da disputa pelo poder
influenciados pela manipulação da propaganda financiada pelos EUA? O documentário
não enfrentou estas teses amplamente debatidas pela historiografia que acusam ser falsa.
Este documentário trata-se da velha e "boa arte" de estabelecer uma narrativa e
propaga-la para fins políticos de legitimação. Para os roteiristas e produtores do
documentário, a narrativa de esquerda foi construída em meio a infiltração do
gramscismo nas universidades, fazendo dos historiadores pesquisadores tendenciosos ou
sem compromisso.
O que salta aos olhos no documentário "1964 - Brasil entre armas e livros" é a
falta de confronto entre as diferentes interpretações e a omissão dos documentos
liberados pelo governo estadunidense em 2014. Acusam os trabalhos que ignoram as
fontes encontradas nos arquivos da Tchecolosvackia enquanto ignoram os estudos
pautados nos encontrados em Washington, chamando os mesmos de falsos. Meia
verdade é meia mentira.
Em uma das falas, um dos entrevistados enquanto especialistas no tema afirma
que 64 foi um golpe parlamentar inconstitucional e que a partir de 68 o Brasil se tornou
uma ditadura.
Os militares foram entrando lentamente, especialmente por conta do "doidão" general
Mourão Filho (fala do próprio Olavo de Carvalho).
Sobre tais documentos que Olavo de Carvalho diz serem falsos. Muitas destas fontes
estão disponíveis no link:
https://www.jfklibrary.org/search?search=jo%C3%A3o+goulart