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ISSN 1646-6977
Documento publicado em 04.02.2018
UM ESTUDO EPISTEMOLÓGICO
SOBRE A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA
Pesquisa desenvolvida no âmbito acadêmico como prerrogativa para uma discussão ou abertura
para o estudo da Epistemologia na Psicologia
2017
Contacto:
alanfs1995@gmail.com
RESUMO
Copyright © 2018.
This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
A INSTITUIÇÃO E A ESPECIALIZAÇÃO
A especialização nas universidades brasileiras, se torna cada vez mais comum, seguindo
assim o ritmo global da escalonada, rumo ao afunilamento do conhecer. A especialidade acaba por
produzir campos teóricos que se legitimam, como sendo hegemônicos, não havendo possibilidade
de comunicação, a não ser dentro daquilo que é considerado como válido. O processo se perpetua
ramificando-se para as diversas esferas, a 1° seria a institucionalização desse saber na universidade,
na graduação e pós graduação. Nesse último caso, ocorre o advento das linhas de pesquisa, que
impele os indivíduos externos à aderirem caso queiram fazer um mestrado, em contrapartida não é
possível fazer pesquisas que estejam em dissonância com as linhas propostas. Com este fato o
sujeito tem algumas possibilidades (1) se enquadrar naquilo que é proposto, isto é, se submeter a
linha que não corresponde a sua predisposição inicial, e nesse sentido executar um mestrado,
doutorado e pós doutorado, prestar concurso docente e constituir uma linha de pesquisa própria,
tal percurso perfaz no mínimo 5 anos, pois o mestrado para a sua conclusão, o mínimo é de 1 ano,
doutorado 3 e pós, é 1.
Não obstante, quem fará mestrado de 1 ano? Doutorado de 3 e pós de 1? E o produto disso o
que será? Lembrando que a pesquisa em ciências humanas, é totalmente diferente das naturais. Por
outro lado se fizermos o percurso correto, que seria um Mestrado de 3 anos, Doutorado de 5 e Pós
Doutorado 1 à 5, concluiríamos o período em 8 à 13 anos, e o prestar concurso docente 1 ou 2 anos
a mais, ressaltando que estaríamos estudando algo que não corresponde ao nosso animo; (2)
pesquisar de modo independente (o que é impossível em ciências humanas, à respeito de algumas
disciplinas, como sociologia, antropologia e ciência política, por um aspecto puramente
econômico, pois não são todos que predispõem de um capital financeiro, que o permita ser
independente e pensar questões metafísicas sem financiamento) (Disponível em:
<www.unicamp.br> Acesso em: 12, de dezembro, de 2016).
Isto seria o panorama sobre o percurso da especialização, e que ocorre na maioria das
universidades, pois todo o processo é estabelecido por meio do órgãos estaduais e federais que
regulamentam o processo de pesquisa no país. Sabido que existem linhas de pesquisa e docentes
responsáveis o conhecimento é produzido, e reconhecido socialmente, sendo reproduzido na
graduação onde irá estimular os alunos a serem futuros investigadores. No geral, o que ocorre é
aceitação por parte de todos, desde da graduação existe o Programa de Iniciação Científica, o
sujeito é incumbido na especialidade desde do início, e quando for prestar mestrado, doutorado e
assim por diante, será no mesmo tema que pesquisou outrora, e irá concorrer à vaga com outros
concorrentes, caso queira trocar de tema, logo após ter concluído sua graduação e ter exercido
diversas atividades em solo único, é possível que as suas chances diminuíam com relação, à uma
vaga divergente do seu currículo, até pelo fato de que, existiram outras pessoas mais avançadas e
que passaram maior parte do seu tempo na vida universitária perscrutando tal assunto, que apenas
neste instante você vislumbrou como sendo de seu interesse, nada mais justo, do que ofertar à
aqueles a chance.
O conhecimento, portanto, é produzido na pós-graduação e reproduzido na graduação onde
irá estimular os alunos à fazer futuras pesquisas dentro do próprio campo, e caso o indivíduo não
se sinta estimulado, por aquilo que é oferecido, pode se utilizar das alternativas citadas no início
(1) e (2). Se o indivíduo seguir a primeira opção, existe a possibilidade de constituir o seu próprio
campo de pesquisa (o que ocorre muito). Geralmente, isto é muito comum nas ciências naturais,
nas humanas por conta da delimitação do objeto torna-se mais difícil, não obstante a tendência
contemporânea é a especialização, o que faz das ciências humanas de fácil enquadre nos modelos
teóricas.
CIÊNCIAS NATURAIS
Em vista disso, percebemos que a especialização nas ciências naturais, não é um problema
do ponto de vista epistemológico, ou seja, do conhecimento do objeto. Conhecer os seus mínimos
detalhes é a única coisa a ser fazer, tanto para o avanço do conhecimento, e este é uma prerrogativa
da especialização, quanto para a satisfação humana de ter conhecido algo e ir em direção à um
novo objeto. Nessa via não é possível reproduzir pesquisas que já foram feitas, simplesmente por
não haver sentido em redescobrir o descoberto, tanto que aquilo que foi amplamente pesquisado,
é repassado para as séries anteriores, graduação, ensino médio, ensino fundamental e assim
sucessivamente, permitindo abertura para investigação de fenômenos desconhecidos.
Uma outra característica, é que quando me debruço sobre uma parte do objeto, e tenho
conhecimento sobre esse aspecto de sua constituição, a impressão que tenho deste, não se sobrepõe
a sua composição geral, em outras palavras "a parte não se sobrepõe ao todo", "o específico não
torna-se o geral", "o caso particular, não torna-se universal". Em vista disso, um elemento
bioquímico é um componente do organismo, e não organismo em si, havendo uma relação
indissociável e distinguível, o organismo é algo e o elemento é outro. O microbiologista
compreende, o que é, e o que não é. Sendo inconcebível denominar um parasita, por meio, de uma
de suas moléculas unitariamente, pois o parasita só é, por conta determinadas estruturas que o
constituí, mas caso este fosse apenas uma molécula, já não seria um parasita, por que este é
constituído por uma complexidade de estruturas relacionais.
Nas ciências humanas por sua vez, é um pouco mais complicado, por conta de uma questão
ontológica e epistemológica. A concepção de ser (ontologia) frente à seu objeto, irá moldar o modo
pelo qual o conhece (epistemologia). Uma comparação pertinente é em relação a ciências naturais,
caso um biólogo tenha uma concepção da célula, que diverge do meio acadêmico, e que esteja
imbuída de misticismo ou de uma moralidade, não irá afetar a sua pesquisa laboratorial, pois o
modo de pensar não altera os elementos do objeto. E caso ainda esteja convicto de suas afirmações,
os componentes bioquímicos e as reações físico-químicas compareceram inalteradas, portanto as
ideias, não serão passíveis de modificação de um fenômeno. Isto seria a ontologia (concepção de
ser do objeto) que não afeta a sua epistemologia (modo de conhecer o objeto), dado que, a
investigação irá ocorrer no laboratório com determinados procedimentos e metodologia específica.
A origem sociocultural do investigador, seja ele do Brasil ou do Japão, sua condição
socioeconômica e até mesmo, caso tenha uma deficiência física, não irá influenciar os resultados
do experimento, caso se utilize dessa metodologia o resultado é invariavelmente idêntico, dentro
das condições controladas e dos instrumentos adequados, o experimento é replicável. Portanto, se
o biólogo não "crê" na profilaxia por meio da vacina, isto é irrelevante, persuadido, sim ou não, de
sua crença (mística ou moral), as consequências são invariáveis e caso ocorra a variação (pois
existe uma margem de erro) não será por conta do seu "ponto de vista", mas sim por outras
motivações.
O avanço exponencial da ciência natural, ocorre por conta do seu aspecto quantitativo de se
fazer ciência, o conhecimento torna-se cumulativo. Nesse sentido, o sistema nervoso é composto
por células nervosas (neurônios) e células de sustentação (células da glia). O primeiro é composto
por um corpo celular (pericário) e por duas formas de prolongamento: os dendritos e os axônios.
A neuróglia por sua vez, tem como função fornecer suporte, por meio de nutrição, defesa e
reparação aos neurônios (ANDRADE, 2004). Tal composição do cérebro, não é descrito de outro
modo, a não ser este, tanto que não existe afirmações do tipo "a composição do sistema nervosa
na perspectiva..." ou "a composição do sistema nervoso sobre o olhar..." e até "a composição do
sistema nervoso do ponto de vista...".
Nos dendritos por seu turno, é onde ocorre a transferência das informações provenientes de
outras células nervosas por meio de suas ramificações. As informações transmitidas de uma célula
para outra, ocorre por meio de impulsos nervosos, que são de natureza eletroquímica (ANDRADE,
2004). E mais uma vez, não se ouvirá "o funcionamento do cérebro na perspectiva..." e "a
representação do funcionamento do cérebro sobre o olhar". Portanto, não há modos de se pensar a
estrutura do cérebro, muito menos o seu funcionamento, "sobre um olhar", "ponto de vista" e "de
uma perspectiva", por isto, o avanço crescente da ciências naturais, dado que, quando surge um
problema os pesquisadores concentram-se em solucionar à adversidade, permitindo assim o
progresso do conhecimento. O que possibilita isto, é simplesmente não ter um "olhar",
"perspectiva" e muito menos, "pontos de vista", nessa via, o cientista se atém aos fatos, se
utilizando dos seus métodos de pesquisa e analisando os seus dados colhidos. Uma das implicações
da pesquisa em ciências naturais é a produção de tecnologia que beneficia a sociedade como um
todo, a objetividade é imprescindível, caso um estudante de medicina absorva a informação
incorreta advinda do docente, e produza uma solução equivocada, pode haver consequências para
o seu paciente, o equivalente serve a um estudante de engenharia que desenvolve um cálculo
inexato.
CIÊNCIAS HUMANAS
humana, podemos entender o universo, desde do sistema solar, as galáxias e até mesmo a matéria
escura, além disso é possível estudar a própria consciência, sobre a sua origem que é um fato não
desvendado.
Quanto maior a compreensão dos variados objetos, maior conhecimento o homem adquiri
sobre si próprio, da sua condição enquanto homem, dos seus objetivos ou finalidades. No entanto,
entender o universo por meio de sua extensão física ou através de um micro-organismo, não faz
que tenhamos a compreensão total do que é o próprio homem, mas fornece indicativos. Podemos
entender por exemplo, que existem espaços maiores do que, o da geofísica na qual estamos.
Entendemos também, que existem organismos menores, e que por uma faculdade cognitiva de
raciocínio comparativo, é possível supor outros maiores.
Dado essas características, vemos com isso que existe um universo de conhecimento, mas
quando nos deslocamos de uma sociedade de alta complexidade de técnica, e adentramos em uma
tribo indígena, percebemos que o conhecimento sobre o universo é diferente do referencial que
utilizávamos até então. É necessário se adequar a tais condições para que se possa explorar o novo
arsenal de informações, e veremos a manifestação de fenômenos não experienciados em ambientes
urbanos, exatamente por conta do adentrar em uma realidade por meio de uma percepção de
mundo, que é proveniente de uma maneira de pensar e que reflete nos costumes e no
comportamento. Egresso de tal sociedade adentramos em uma segunda e o mesmo ocorrerá, uma
cultura, comportamentos, linguagem, a maneira e os relacionamentos são divergentes.
meramente aos seus costumes, existindo uma esfera psicológica que irá estudar as manifestações
do psiquismo. Além do que existe o campo da biologia, pois o homem detém um sistema nervoso,
que permite os processos psicológicos básicos, do pensamento, da linguagem e da emoção
(MYERS, 2006).
Neste ponto inicia-se o problema das Ciências Humanas. Nas ciências naturais, não é
necessário compreender Filosofia ou Sociologia, para entender um patógeno, e é tal fato que
propicia a especialização de modo bem sucedido. Para ser mais específico, não entender Filosofia
ou Sociologia, não impede que o patologista investigue o seu objeto de modo preciso, caso o
investigador tenha conhecimentos filosóficos, o máximo que poderá fazer, é se enveredar para o
campo da Filosofia da Biologia, ter esse conhecimento amplia sua percepção sobre a vida, mas não
implica diretamente na precisão da pesquisa. O contrário ocorre nas humanidades, e principalmente
na Psicologia Social. Se o homem é constituído de uma fisiologia, em uma cultura e com
determinadas formas de pensamento, como posso compreende-lo em sua totalidade à não ser, por
meio dessas instancias em comunicação? Aqui diferente do patologista é necessário conhecer
Filosofia e Sociologia, a primeira ao que concerne a consistência lógica das teorias e a segunda,
sobre as dinâmicas que ocorrem no tecido social, e também a própria biologia. Por mais incrível
do que pareça, este é apenas, um dos nossos problemas quando se fala em ciências humanas. Nesse
estudo que pretendo desenvolver, demonstrarei de modo empírico o que ocorre na prática, quando
se expurga uma das dimensões de compreensão do ser.
Um segundo problema que deve ser exposto, é a questão de que nas ciências humanas ao
decorrer de um século para cá, por conta da especialização houve uma separação entre as ciências
humanas, exatas e naturais, para essas duas últimas não há problema ao que concerne a sua validade
científica, quanto mais específico, maior conhecimento, maior produção de técnica. Nas ciências
humanas por sua vez, é imprescindível o conhecimento de outras ciências, exatamente por estudar
um fenômeno, que resvala em todas as esferas. O que é o comportamento? O comportamento pode
ser visto, sem o biológico? Sem o aspecto cultural? Sem o aspecto psicológico? Evidentemente
que não. E o que seria a consciência? É possível estudar sem um sistema nervoso? Sem as
interações do ambiente? Sem as suas representações mentais? Evidentemente que não. A
Psicologia estuda um fenômeno complexo, que não se reduz ao social, ao biológico ou ao
psicológico, todas concepções que não englobem tais esferas, não é possível ser validada como
científica.
É de conhecimento de todos, que Freud foi, não só o maior Psicanalista, como também um
grande neurologista, que estudava Mitologia, Arqueologia, Antropologia, Filosofia e Sociologia, e
que tinha um conhecimento incomensurável sobre essas disciplinas (FREUD, 1910). É possível
afirmar que a Psicanálise hoje, não só se ramificou, adentrando as mais variadas disciplinas desde
da Pintura, passando por Cinema até a Política, como isto, só foi possível exatamente por conta
dessa multidisciplinaridade que Freud desde do início acatou, um avanço científico nesse sentido,
como jamais houve. Além disso, estou convencido e logicamente por conta do material recolhido
e analisado, que o conhecimento em Ciências Humanas desenvolve-se apenas por conta da
multiplicidade, que só é possível por meio da especificidade.
A descoberta do Inconsciente Coletivo e os Arquétipos, não seria possível, se não fosse por
meio do conhecimento múltiplo, é sabido também, que Jung discípulo de Freud, dispunha de um
enorme conhecimento sobre as mais variadas religiões, não só do ocidente, como também do
oriente. Jung do mesmo modo, fazia estudos experimentais sobre o sistema nervoso, mas num
intercambio voraz, entre Filosofia, Antropologia, Mitologia, Teologia e assim por diante, até
mesmo o conceito de Sincronicidade veio ter validação científica, por meio da Física (JUNG,
2011). Nesse sentido, se o conhecimento deu um salto inimaginável com Freud, com o Jung
alavancamos em direção ao norte.
E o que dizer de Marx? Um homem que descobriu os mais variados fenômenos, por meio do
conhecimento não só Filosófico, mas da Economia Política de sua época, dos achados da
Antropologia, constituindo aquilo que se denominou Antropologia Marxiana que concebe uma
nova ontologia, uma nova concepção de ser (MORIN, 1973). Poderia citar Lévi-Strauss com sua
antropologia imbuída de Psicanálise, Linguística e Matemática (LÉVI-STRAUSS, 1989). Como
também Gyorgy Lukács, que foi (sem a menor dúvida) o maior comentador de Marx, que
contribuiu para a Literatura, e para a tradição Marxista (LUKÁCS, 2015).
Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Ora é processo, ora é estrutura, ora
manifestação, ora relação, ora é conteúdo, ora é distúrbio, ora experiência. É interno, mas
com relação com o externo. É biológico, é psíquico e é social; é agente e é resultado; é
fenômeno humano, relacionado ao que denominamos “eu”. O fenômeno psicológico seja
lá qual for sua conceituação aparece descolado da realidade na qual o indivíduo se insere
e mais ainda, descolado do próprio indivíduo que o abriga (BOCK, 2004, p. 5).
Nesse sentido seria interessante trazer mais algumas definições que foram encontradas na
pesquisa e que são "descoladas da realidade, "seja lá qual for a conceituação":
Em seguida dirá, que alguns psicólogos afirmam a relação com o meio social e cultural,
necessária e importante, mas diz que há uma "naturalização" do fenômeno psicológico por parte
deles. Adiante se propõe defender a visão histórica do fenômeno psicológico, pois "se apresenta
desde seus primórdios como uma possibilidade de superação destas visões dicotômicas" (BOCK,
2004, p. 5). Nos fala, sobre a psicologia sócio-histórica e a sua possibilidade de "crítica", "não
apenas por uma intencionalidade de quem a produz, mas por seus fundamentos epistemológicos e
teóricos" (BOCK, 2004, p. 5). Além disso irá lançar alguns pressupostos, como:
Aponta ainda, para as diversas perspectivas, que dizem haver um "verdadeiro eu":
Porque tais perspectivas fazem uma psicologia descolada da realidade social e cultural
que é constitutiva do fenômeno psicológico. E isto é uma questão importante, porque é
desta “descolagem” que se constitui o processo ideológico da psicologia. Passamos a
contribuir significativamente para ocultar os aspectos sociais do processo de construção
do fenômeno psicológico em cada um de nós.Fazemos ideologia (BOCK, 2004, p. 6).
E segue dizendo que a Psicologia Sócio-Histórica tem como principal tarefa, fazer a crítica
às concepções naturalizantes, que o ser humano precisa ser pensando, a partir de uma perspectiva,
"que tenha a historicidade como uma de suas principais características" (BOCK, 2008, p. 4).
Como vimos no início deste tópico, a descrição do fenômeno psicológico, descrita a partir
dos profissionais, é identificada pela autora como "chavões". Seja fenômeno biopsicossocial ou
que se refere a relação de agente e sujeito. Outros termos como: Manifestação do aparelho psíquico,
o homem e a relação com o meio, individualidade, consciência, subjetividade, existência
intersubjetiva, eventos estruturantes, comportamento, motivação, habilidades e potencialidades,
são referidos, não como sendo "chavões", mas "seja lá como for" aparecem descoladas da realidade
na qual o indivíduo se insere e do próprio indivíduo, e que por parte dessas noções, existe uma
"naturalização" do fenômeno psicológico. Nesse sentido a Psicologia Sócio-Histórica, é uma
abordagem que se apresenta com a possibilidade de superação das visões dicotômicas, além de ser
"crítica" com relação a intencionalidade de quem produz e aos fundamentos epistemológicos e
teóricos. Segue adiante, lançando os pressupostos da "Perspectiva Crítica", sendo: O fenômeno
psicológico não é pertencente à natureza, não pré existe e reflete a condição social, econômica e
cultural do homem.
De início podemos perceber, uma concepção totalizante da realidade, vemos que existe uma
interação sujeito e ambiente que constituí a personalidade, mas como destacado pela autora, não
podemos negar alguns fatores. Se nos indagarmos sobre a constituição do sujeito,
compreenderemos que o mesmo, se produz nas relações com seu meio, numa determinada
sociedade e cultura, num processo histórico. O que não é novidade, como sabemos, Freud
desenvolvia pesquisas arqueológicas e histórico-sociais, desde dos assírios-babilônios aos egípcios
(FREUD, 1910). Isto é apenas para evidenciar o argumento implícito da Bock (2008) da
necessidade de uma abordagem que contenha em si, a característica da historicidade, além disso,
existe uma passagem que evidencia com clareza a questão, de modo pungente e que se coaduna
com a proposta da Profª Damergian:
Algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo, como um modelo,
um objeto, um auxiliar,um oponente, de maneira que, desde o começo, a psicologia
individual, nesse sentido ampliado, mas inteiramente justificável das palavras, é, ao mesmo
tempo, também psicologia social (FREUD, 1996/1921, p.81).
Mas ainda falta responder uma questão: o que vem a ser um sujeito? Além de ser constituído
por meio de suas interações sociais, poderíamos supor, que as suas emoções, afetos (sentimentos)
fantasias/devaneios e expectativas (formas de pensamento), coexistem invariavelmente? É o que
sugere a Profª Damergian, e mais adiante, dirá da necessidade desses fatores e que estejam
imbuídos na análise do social. Não obstante, não seria um tanto equivocado analisar sonhos, afetos,
expectativas, com relação ao social? Para responder esta questão é importante ressaltar dois fatores
(1) caso haja análise ou não, isto é um fato empírico (2) e por sua vez, é inerente a realidade e um
componente da mesma, se houver a subtração (negação) de tais fenômenos, a possibilidade desvio
da apreensão da sociabilidade é afirmada. Nesse sentido a interação humana não tem sido
considerada na sua complexidade, do mesmo modo que Freud considerou, porém um segundo
psicólogo social, tinha a mesma perspectiva deste último:
[...] a escola da Gestalt e Kurt Lewin nos leva de encontro ao indivíduo considerado em
sua totalidade. Neles, encontramos uma concepção de campo onde todos os elementos se
fazem presentes, os internos e os externos. Os conscientes e os inconscientes. Cada qual
com sua parcela de influência no comportamento psico-social (DAMERGIAN, 1991, p.
66).
[...] KOFFKA (1975) diz que a Psicologia Social pode ser perfeitamente
quantitativa sem perder seu caráter de ciência qualitativa, ou seja, de explicação
do fenómeno. Ao destacar a questão da qualidade, a Gestalt leva-nos a refletir
sobre a qualidade da interação psicológica, aspecto fundamental para a Psicologia
Social. Afinal, sobre qual qualidade se exerce a interação humana? Ela é saudável
ou não? A mera descrição de dados conscientes não pode dar conta desta questão
(DAMERGIAN, 1991, p. 67).
Nesse sentido, os autores Sigmund Freud (1856-1939), Kurt Koffka (1886-1941) e Kurt
Lewin (1890-1947), expõe uma concepção que corresponde aos avanços da ciência, no entanto é
importante explorar um pouco mais, vejamos:
KOFFKA diz também que a Psicologia da Gestalt é integradora e não pode ignorar
os problemas da interação mente-corpo e vida-natureza. Também não pode,
segundo ele, aceitar que tais domínios do ser estejam separados entre si por
abismos intransponíveis. A proposta integradora da Gestalt permite-nos
desenvolver a idéia de integração interno-externo e incluir o inconsciente em nossa
investigação acerca da interação humana (DAMERGIAN, 1991, p. 67).
A representante da Sócio-Histórica, disse alguma, e não apenas uma vez, sobre essas esferas
e sobre abandonar "definitivamente as visões naturalizantes de homem e de mundo, adotando
perspectivas históricas" (BOCK, 2004, p. 9) e que "O ser humano precisa ser pensado a partir de
outra perspectiva que tenha a historicidade como uma de suas principais características" (BOCK,
2008, p. 4), e adiante de forma irônica, e diria até caricatural diz:
[...] A respeito dessas forças subterrâneas [...] é verdade que esse tipo de ação
existe [...] Além disso, ela não pode ser explicada em termos de meio
comportamental e é tão semelhante ao resto do comportamento que necessita de
um conceito explicativo comum. Ou seja, uma coisa é o meio em que o organismo
se comporta, ou melhor, com o qual interage e outra coisa é o campo psicológico
que define esse organismo. Koffka assinala mesmo que a totalidade de nosso
comportamento não é explicável em termos do meio comportamental, quer dizer,
do externo ao organismo. Uma tal consideração torna possível incluir os aspectos
inconscientes como elementos a serem considerados por uma teoria que se ocupe
do campo psicológico (DAMERGIAN, 1991, p. 67).
Gostaria de explorar este ponto e produzir um link com a questão do inconsciente na Sócio-
Histórica. Se considerarmos que Koffka se refere, à forças que determinam o comportamento, mas
que nem sempre percebemos, e por conseguinte, diz não ser possível explicar a totalidade do
comportamento pelo campo/meio comportamental, e logo em seguida a Profª Damergian, sugere
a possibilidade de uma teoria que se ocupe do campo psicológico com aspectos inconscientes, é
possível deduzirmos disso (1) o campo comportamental determina o comportamento (2) mas nem
sempre, pois existem forças, que por sua vez, determina este também, mas que percebemos
sensorialmente sendo efeito do campo comportamental por atrelarmos a relação de causa e efeito,
e não considerarmos a reação do sujeito como possivelmente sendo de outra origem que não à
externa (pensamentos/sentimentos - expectativas, sonhos, projeções, fantasias, identificações e
temporalidade/passado) e portanto do campo psicológico (3) que por seu turno, é constituído pelo
Id e o Ego (aqui-e-agora) assinalado por Koffka.
A sociedade age inevitavelmente sobre os indivíduos em sua interioridade, até nas formas
mais íntimas de pensamento, de sentimento, de ações e reações e nesse permanente
processo de interação entre indivíduo e sociedade se constitui a substância da individuali-
dade humana, a personalidade como manifestação da interioridade do sujeito humano.
Nem sempre o problema da essência do indivíduo foi visto desta maneira. Neste aspecto
predominaram, frequentemente, “falsas antinomias” entre indivíduo e sociedade. Pois,
para Lukács "se é falso pensar que haja uma substância da individualidade humana fora
do espaço e do tempo, que as circunstâncias da vida podem modificar apenas
superficialmente, igualmente errado é conceber o indivíduo como um simples produto do
seu ambiente" (p.261 apud DA COSTA, 2007, p. 48).
sujeito é ativo, o trecho nos revela um indivíduo que constrói, mas de modo passivo. A antípoda é
justamente esta, se afirmar que o sujeito é ativo, esbarra na concepção liberal, e o que menos deseja
é isto "A Psicologia Sócio-Histórica não trabalha com a concepção liberal de homem e de
fenômeno psicológico. Acredita que o fenômeno psicológico se desenvolve ao longo do tempo
(BOCK, 2004, p. 6). Pois afirmar que o homem é ativo, é pressupor uma consciência da suas ações,
logo afirmando que ele é ativo e histórico, o homem perde sua autonomia (presente) e torna-se
construtor da realidade ao decorrer do tempo (ativo nesse sentido) mas sem ter consciência da suas
determinações materiais, pois desconhece sua realidade histórico material. A sócio-histórica "adota
o materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método. Nesse sentido, concebe o
homem como ativo, social e histórico (BOCK, 2004, p. 5).
Irei prosseguir com a possibilidade de uma resposta hipotética "mas o desconhecimento que
falamos não é análogo ao do inconsciente, é heterogêneo à isto, senhor". Vejamos a definição de
ideologia:
Ideologia como definida por Charlot é “um sistema teórico, cujas idéias têm sua
origem na realidade, como é sempre o caso das idéias; mas que coloca, ao
contrário, que as idéias são autônomas, isto é, que transforma em entidades e em
essências as realidades que ele apreende, e que, assim, desenvolve uma
representação ilusória ao mesmo tempo daquilo sobre o que trata e dele próprio;
e que, graças a essa representação ilusória, desempenha um papel mistificador,
quase sempre inconsciente (o próprio ideológico é mistificado, acredita na
autonomia de suas idéias): as idéias assim destacadas de sua relação com a
realidade servem, com efeito, para construir um sistema teórico que camufla e
justifica a dominação de classe. Ideológico não significa, portanto, errôneo (....).
Aliás, é porque uma ideologia é um sistema ilusório e não um sistema de idéias
falsas que é social e potencialmente eficaz (Charlot, 1979, p.32 apud BOCK, 2004,
p. 6-7).
Uma observação importante a se fazer (é não estar satisfeito), com tal parênteses me indago,
mas por que tamanha inconsistência teórica? Neste ponto a análise se torna mais profunda, e
devemos nos perguntar "da onde fala o sujeito que constitui uma teoria" e "quais são suas
motivações", eu sugiro nesse sentido, não uma "História da Psicologia" mas sim, uma "Psicologia
da História", o que isto quer dizer?
Quero dizer com o termo Psicologia da História, compreender os fatores históricos com viés
psicológico, entendendo de que maneira aspectos históricos-sociais influenciaram a constituição
psicológica/comportamental/motivacional da organização social do presente. Nesse sentido
pretendo fazer uma coleta de dados, com o intuito de obter informações para uma futura análise,
da estrutura constituinte da Sócio-Histórica por meio da Psicologia da História.
Comecemos com a primeira pergunta "Da onde fala o sujeito que constitui uma teoria", Ana
Mercês Bahia Bock, não foi só Presidente do Conselho Federal de Psicologia do Brasil, como
também é uma das maiores expoentes da Psicologia Social no país, Professora de PUC de São
Paulo que é um grande polo de pesquisas, e atualmente Presidente do Instituto Silvia Lane, esta
última, foi uma das pioneiras em Psicologia Social no Brasil. O currículo que não é pequeno, mas
que denota a grande influencia dentro dos centros acadêmicos e com a própria psicologia, torna-se
impossível estudar Psicologia Social na universidade, sem conhecer Silvia Lane e Bock. Com isto,
podemos perceber o do por que, não houve uma crítica desta abordagem até o momento (crítica
esta, que ainda não terminou), um sociólogo chamado Pierre Bourdieu (1930-2002) tem um
conceito denominado de "legitimidade" (MONTAGNER, 2011), que é descrito exatamente pelo
processo de que "não importa o que indivíduo fale, mas sim da onde" isto é "seja falso ou
verdadeiro, quem tá falando é a Presidente" ou "Não, mais foi ele que disse, é formado em
Harvard", nessa via, é indiferente se o sujeito proclama o correto ou errado, todos devem segui-lo
por que é uma "autoridade", e caso um indivíduo o "desautorize" é abandonado, mesmo que haja
uma certa veracidade do que diz, o conhecimento só é validado, se for legitimado, isto
principalmente em ciências humanas, pelo fato de que, não existem critérios de cientificidade
solidificados (discorrerei, mais a frente sobre isto). Portanto a legitimidade do porta voz é um
imperativo segundo Bourdieu. Nessa via compreendemos de modo descritivo o comportamento
manifesto da organização "a academia não é contrária ou crítica por conta da legitimidade do porta
voz".
Nesse sentido o "especialista", nunca está isento de "intencionalidades", de algum modo sua
"afetividade" será demonstrada, ora aqui, ora ali. Pois o momento de conhecimento do objeto
exterior é o momento de conhecimento de si próprio, mas que é bloqueado no momento descrição
em prol da objetividade, nesse sentido o teórico faz o movimento de deslocação da sua afetividade
de uma representação para outra (mais tarde veremos, aplicação dessas noções). O que se coloca é
uma questão ética:
Nesse sentido, Lourau (1990) destaca como podemos nos voltar a isso que os
sentimentos, percepções, ações, acontecimentos, trazem para o campo: “O útil ou
necessário para a ética, a pesquisa e a ética da pesquisa não é a implicação –
sempre presente em nossas adesões ou rechaços, referências e não referências,
participações e não participações, sobremotivações e desmotivações, investimentos
e desinvestimentos libidinais... mas a análise dessa implicação.” (LORAU, 1990: 4
apud LACAZ, 2013, p. 214).
Uma outra citação se faz necessária sobre a implicação, para denotar suas características:
Vemos, então, que as motivações são de diversas origens, que é possível um conhecimento
objetivo, mas que este não passa, se não houver uma "análise das implicações", o pesquisador deve
saber quais são suas implicações, políticas, econômicas, sociais e até mesmo "o do por que faz, o
que faz", todas suas intencionalidades se incluem nesta parte.
A psicologia não tem sido capaz de, ao falar do fenômeno psicológico, falar de
vida, das condições econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os
homens. A psicologia tem, ao contrário, contribuído significativamente para
ocultar estas condições. Fala-se da mãe e do pai sem falar da família como
instituição social marcada historicamente pela apropriação dos sujeitos; fala-se
da sexualidade sem falar da tradição judaico-cristã de repressão à sexualidade;
fala-se da identidade das mulheres sem se falar das características machistas de
nossa cultura; fala-se do corpo sem inseri-lo na cultura; fala-se de habilidade e
aptidões de um sujeito sem se falar das suas reais possibilidades de acesso à
cultura; fala-se do homem sem falar do trabalho; fala-se do psicólogo sem falar do
cultural e do social. Na verdade, não se fala de nada. Faz-se ideologia! (BOCK,
2004, p. 7).
Como o mundo psicológico tem destino traçado, porque está visto sob uma
perspectiva naturalizante, a prática profissional dos psicólogos surge como algo
que dá suporte a este desenvolvimento, reencaminhando para o “seu trilho”
quando algo provoca um desvio. Nossa missão é sublime! Temos uma missão que
conserta o que a natureza planejou e o que a sociedade desviou (BOCK, 2008, p.
3).
CATEGORIAS ANALÍTICAS.
As próximas categorias, foram identificadas diretamente por meio do texto da autora, quando
à mesma relata sobre a sua tese de doutorado:
Nesta parte será feita o empreendimento de compreender a lógica do pensamento que foi
utilizada no processo de produção do conhecimento, se intui nesse sentido entender a dinâmica
subjacente aos elementos constituintes da teoria da abordagem Sócio-Histórica, por meio da
representante estudada.
Além do mais, é importante se perguntar, o do por que a autora considera todas as abordagens
"dicotômicas", tendo em mente que demonstrei o contrário. E me pergunto novamente, por que
será que considerou dicotômico? A questão é a seguinte: Quando diz que essas abordagens são
dicotômicas não está se referindo, àquilo que expus como sendo "concepção de ser", muito pelo
contrário, quando diz dicotômico não é a teoria, e a pergunta deve ser reformulada do seguinte
modo: As abordagens são dicotômicas em relação, à que e a quem? E a resposta é: São dicotômicas
em relação ao Social. Mas como isto é possível? A resposta do enigma se encontra na resposta dos
profissionais, como identifiquei, existe ali psicólogos Cognitivos, Comportamentais, Reichianos,
Junguianos, Existencialistas, Fenomenológicos, Freudianos. Ora essa, esses psicólogos, não são
psicólogos sociais, são clínicos! Na perspectiva da autora eles são dicotômicos, por que são clínicos
"dividem o indivíduo e o social", não me parece que tenha feito uma análise da perspectiva teórica,
mas da profissão. São dicotômicos por que trabalham em clínicas, e por isto, do enquadramento de
todos "seja lá qual for a conceituação" como percebendo a "dificuldade no desenvolvimento
psicológico em relação ao meio". Esta pesquisa não foi feita com psicólogos comunitários, sociais,
hospitalares, que trabalham com saúde coletiva. Nessa via, generalizou o pensamento do psicólogo
no Brasil, por meio de uma pesquisa clínica, quantitativa, inferindo colocações qualitativas e ainda
se referindo à uma naturalização do psiquismo, por meio das respostas "vida mental, distúrbio,
loucura, conflitos pulsonais (BOCK, 2004, p. 4). É mais do que evidente que iriam responder isto,
trabalham com tratamento individual. Se objetivo fosse, compreender a noção dos psicólogos com
relação ao desenvolvimento social e cultural, deveria ter feito a pesquisa com psicólogos sociais
(pois como sabemos, existem modos de atuação e de se pensar determinado fenômeno, não se
pensa um paciente clínico, do mesmo modo que se pensa um adolescente em condição de
vulnerabilidade socioeconômica em alguma fundação de reabilitação ou reinserção psicossocial),
e evidentemente encontraria a maioria deles na perspectiva Sócio-Histórica ou com raciocínio
diferente do clínico, pois o Brasil é de tradição Social, e se não Sócio Histórico, de Psicologia
Tradicional Gestalt (O que não é, negativo). A validade científica da pesquisa é posta em questão
(e ainda não falamos das implicações sociais, no meio acadêmico de tais colocações), como
exposto a contradição é demonstrada por meio dessa análise textual. Nesse sentido, me pergunto,
será que tais psicólogos são sociais? Comportamentais, Cognitivistas, Existencialistas,
Psicanalistas? Talvez pesquisou alguns da categoria "construtivistas", mas ainda sim
"naturalizantes", como todos o são. Nessa via quando autora fez a pesquisa, será que não tinha
conhecimento, que caso pesquisa-se psicólogos sociais, iria se confrontar com a maioria
esmagadora de vertente Sócio-Histórica? E não iria fazer suposições como "As idéias
naturalizadoras do liberalismo serão responsáveis pela concepção de fenômeno psicológico que se
tornará dominante na Psicologia" (BOCK, 2004, p. 5). Me indago, se não havia ao menos um pouco
de conhecimento, haja vista a investigação foi feita em meados de 90, quando a Psicologia Social
está no auge, o pior disso é ao contrário (o que é pior). E se tivesse conhecimento, e ainda sim
prosseguiu com a pesquisa com psicólogos clínicos? Eu diria, que é melhor acreditarmos, que não
tinha.
É importante fazer uma observação não em relação a esta última hipótese de caráter, mas ao
menos, as pressuposições levantadas ao início sobre a consistência e coerência teórica do trabalho.
Pois, de acordo com o desvendado nessa análise textual, é perceptível incongruências não só
teóricas, mas até mesmo, de metodologia de pesquisa.
E aqui cabe falarmos da relação deste fenômeno psicológico com o meio social e
cultural. Esta relação é afirmada como necessária e importante por muitos
psicólogos; no entanto, é vista como uma relação na qual o “externo”(mundo
social) impede e dificulta o pleno e livre desenvolvimento de nosso mundo
“interno”(psicológico). O mundo social é um mundo estranho ao nosso eu. Um
lugar, no qual temos que estar e por isto nos resta a tarefa de nos adaptarmos. E a
história deste aparato psicológico passa a ser a história da sua adaptação ao
mundo social, cultural e econômico. Trabalhar, relacionar-se, aprender, fazer são
atividades desta adaptação. Amar, emocionar-se, perceber, motivar-se são vistas
também como possibilidades humanas que se desenvolvem, ou melhor, se
atualizam(pois já eram potencializadas) neste mundo externo. Um fenômeno
abstrato, visto como característica humana. Um fenômeno que existe em nós, como
estrutura, processo, expressão, ou qualquer de suas conceituações, porque somos
humanos e ele pertence a nossa natureza. Fica então naturalizado o fenômeno
psicológico. Algo que lá está como possibilidade, quando nascemos; algo que
deverá ser fertilizado por afeto, estimulações adequadas e boas condições de vida,
mas que lá está, pronto para desabrochar (BOCK, 2004, p. 5).
O sentido colocado da palavra "adaptação", é provável que seja referente "ao sujeito se
adequar ao meio", dadas as configurações sociais, nas quais vivemos, nada mais, do que necessário.
Mas é importante lembrar que adaptação não se refere apenas ao sujeito em relação ao meio, mas
também nessa dinâmica relacional, entre sujeito e meio, pois qualquer forma de deficiência, não é
individual, mas sim relacional (ROCHA, 1999). Nesse sentido, tal argumentação não foge a sua
coerência, mas ainda, é possível supor que "adaptação" à qual os psicólogos se referem, são de
demandas clínicas específicas, e não de saúde pública, e pergunta-se a um clínico "Qual sua
concepção de ambiente" e a resposta "propor condições, nas quais o sujeito possa se adaptar ao seu
meio", por sua vez quem pergunta é de abordagem Sócio-Histórica, nesse sentido, a resposta de
adaptação do clínico, não corresponde a concepção de quem pergunta (até por que, os propósitos
de um psicólogo clínico e social são diferentes), mas não por ser equívoca, mas sim pela inclinação
com relação a sua própria perspectiva, tendo como referencial apenas a si próprio, o outro se torna
incorreto, o que poderia assinalar o "encaixotamento" de todas abordagens como sendo
"naturalizantes".
A frase corrobora a hipótese inicial que apontamos, do sujeito como produto do meio, não
contendo em si próprio nada que o possibilite ter "alternativas". A questão da "potencialidade" é
óbvio que não podemos considerar, que o sujeito se desenvolverá, apenas por que existe um
ambiente propício, deve-se considerar outros fatores na constituição do sujeito. Nessa via, se não
devemos considerar que o ambiente "propício" é garantia de um pleno desenvolvimento, também
não podemos considerar o polo negativo, que o ambiente como um todo, isto é, nas condições
materiais impróprias, iram determinar o insucesso, por que como dito, existem outros fatores, que
não são apenas restrito ao ambiente ou a "condição histórico-material". Nesse sentido é
conveniente uma citação sobre a substancia de Lukács:
[...] agora já podemos registrar algo que, na verdade, não poderíamos deixar de
ter Indivíduo e Sociedade presente: o inevitável e ativo – justamente nas coisas
mais concretas – influxo do ser social sobre as mais íntimas, mais pessoais, formas
de pensamento, de sensibilidade, de ações e de reações de todo indivíduo humano
(LUKÁCS, p.260 apud DA COSTA, 2007, p. 47)
Do mesmo modo pelo qual o ser social se constrói com essas cadeias de decisões
alternativas, entrecruzadas de várias maneiras, assim também a vida singular do
indivíduo é composta pela sua sucessão e derivação uma da outra (LUKÁCS, 1981,
p.261 apud DA COSTA, 2007, 49-50).
Um projeto, por mais complexo e delineado com base em reflexos corretos, mas
que seja rejeitado, permanece um não existente (Nitchtsiendes), obstante esconde
em si a possibilidade de se tornar um existente (Seiendes). Em substância, portanto,
apenas a alternativa daquela pessoa (ou daquele coletivo de pessoas) que é
requerida para colocar em movimento o processo de realização material mediante
o trabalho, pode atualizar esta transformação da potencialidade em existente
(LUKÁCS, p. 47 apud DA COSTA, 2007, p. 50-51).
Dessa declaração deriva que a personalidade só pode ser concreta e, como tal,
socialmente posta, do ponto de vista que ela se revela nas decisões tomadas pelos
indivíduos. O indivíduo guarda em si um grande número de possibilidades que
podem ou não se tornar realizações, “mas o seu verdadeiro caráter se realiza, no
seu ser- precisamente-assim, justamente quando e porque traduz em ato uma certa
possibilidade, e não outra” (LUKÁCS, p.262 apud DA COSTA, 2007, p. 52).
As escolhas dos indivíduos são sempre respostas práticas aos desafios que a vida
social lhes impõe. Os próprios sentimentos e pensamentos que preparam as
decisões são também socialmente determinados pelas circunstâncias de classe,
estamento, família, das quais fazem parte. Tem-se, portanto, que a reprodução do
indivíduo é determinada pelas condições de sua existência desde o momento de seu
nascimento e ao longo de sua vida. As respostas elaboradas por ele se encontram
em íntima relação com as demandas que lhe são formuladas pelas circunstâncias
nas quais vive e age. Em consequência, o seu desenvolvimento individual e interior
é o resultado da trama de demandas e respostas que implica decisões ante as
alternativas socialmente determinadas (DA COSTA, 2007, p. 55)
Via de regra é incoerente dizer, que os processos psicológicos básicos são meramente "Um
fenômeno abstrato, visto como característica humana". Não apenas é uma característica humana,
como também é dos animais, haja vista que à destes, são tão complexas quanto, às dos seres
humanos. Tentei articular a questão com três ponto de vista, o leitor deverá concordar que as
articulações produzidas se complementam. Sendo uma visão da ciência psicológica, da
antropologia e biologia. Não são apenas "abstrações" ou "criações humanas", são processos que se
constituem, numa relação complexa entre aspectos socioculturais, psicológicos e biológicos. Cada
uma dessas instancias tendo uma função, pois se uma criança é abandonada à selva, como visto ao
longo da história alguns casos, por exemplo de Amala e Kamala (SQUIRES, 1927) na índia, onde
essas duas crianças, que deixada aos cuidados de lobos, passaram a ter comportamentos
semelhantes, como ausência de linguagem verbal e forte tendência a irrupção de emoções
agressivas, isto sem dúvida ocorreu por conta de um fator ambiental, tornaram-se lobos. Mas é
importante pensar pela negativa, geralmente o lobo em si, tem algumas características, como
"audição apurada" e "visão aguçada" (HECKLER, 2011). Suponhamos que fosse uma criança com
síndrome me down que até tempos atrás em 1950, a expectativa de vida era de 10 a 15 anos, hoje
a media chegando aos 50, por conta de diversos problemas fisiológicos como cardiovasculares,
indo até auditivos e de visão, como miopia (BUCKLEY, 2000). Esta criança se tornaria um "lobo"?
O caso é hipotético, mas é para ilustrar, que até mesmo para se tornar-se um "lobo" é necessário
um "aparato biológico", não torna-se lobo em "alguns anos em interação com o meio", é um
processo evolutivo de adaptação de milênios, não é apenas por fatores ambientais, são fatores
orgânicos em interação com o meio, que determinam o gene, e os genéticos determinam por sua
vez o meio novamente (caso das abelhas, que nascem sabendo fazer comeia), se reproduzindo na
espécie (filogeneticamente). Existe nesse sentido uma interação, entre os aspectos biológicos e
sociais, havendo uma inseparabilidade. Do mesmo modo, apenas torna-se "homem", se tiver um
aparato biológico de "homem", em outras palavras, um genoma humano, se não tiver, não é. Por
sua vez, torna-se golfinho se tiver aparato biológico de golfinho, este morre numa selva com leões,
e o leão da selva, morre no atlântico, pois sua fisiologia não corresponde ao biótopo marinho. É
necessário um ambiente que corresponda ao organismo, e que o organismo corresponda ao
ambiente, sem um, ou outro, é impossível o processo de constituição do ser, o aparato deve ser
correspondente ao ambiente, e o ambiente correspondente ao aparato. Os cães vivem conosco, a
milênios, desde da pré-história em constante interação não só com os instrumentos (arrastando
trenó), mas se relacionando-se afetivo-emocional (o cão melhor amigo do homem), nem por isto,
tornou-se homem, ainda que estivesse no mesmo ambiente. Tem de haver nesse sentido, "algo" no
homem, para tornar-se homem, o análogo ocorre com abelhas, tubarões, águias. O exemplo é muito
claro, o do cão (trenó), além disso é sabido na primatologia, que os símios constantemente se
utilizam de instrumentos, como varas e alguns afiam pontas, mas nem por isso, desenvolveram
consciência e tecnologia complexa (desenvolverei tal questão posteriormente com fundamentos
científicos), o que prova que o relacionamento com "instrumentos", não é unitariamente a causa da
cultura, muito menos ainda da consciência, como dito, existem outros fatores que serão discutidos.
Ana Mercês Bahia Bock irá produzir um artigo em 2004 chamado "A Perspectiva Sócio-
Histórica de Leontiev e a Crítica à Naturalização da Formação do Ser Humano: A Adolescência
em Questão". Irei me deter apenas à questão da formação do ser humano, que é no caso o mais
importante e pertinente aos meus objetivos. Retirei de modo semelhante, partes do texto, com as
quais irei discutir. Vejamos:
E:
Mas, mais ainda do que o fato de ser capaz de utilizar de forma elementar uma
linguagem não fonética e, evidentemente, não alfabética, verificou-se, pelo próprio
emprego dessa linguagem, que o chimpanzé jovem manifesta duas qualidades que
se julgavam firmemente dependentes da cultura e da inteligência humanas: a
consciência da sua própria identidade e o exercício da computação. Há um filme
rodado pelos Gardner que revela o primeiro aspecto, Washoe divertia-se muito
com um espelho; um dia, a assistente dos Gardner perguntou-lhe por gestos,
designando-lhe a imagem do espelho: “Quem é este?”, e Washoe respondeu: “Eu
(indicador apontado para o peito) Washoe (carícia numa das orelhas, significando
convencionalmente Washoe) (MORIN, 1973, p. 25).
E:
O homem nessa via, é concebido em sua totalidade e complexidade, afirmações do tipo que
a "sociedade é inventada" ou "criação humana", ou que a "genética é uma criação social", que a
"Psicologia Tradicional é Naturalizante", além de serem anticientíficas, é um desserviço para a
psicologia:
Tudo isto significa que a sociedade, concebida como organização complexa de
indivíduos diversos, baseada ao mesmo tempo na competição e na solidariedade,
comportando um sistema de comunicações rico, é um fenômeno extremamente
espalhado na natureza. Hoje já é possível conceber que a sociedade é uma das
formas fundamentais mais largamente espalhadas, desenvolvida de uma maneira
muito desigual mas muito variada, da auto-organização dos sistemas vivos. E,
assim, a sociedade humana surge como uma variante e um desenvolvimento
prodigioso do fenômeno o social natural e, assim, a sociologia - ciência humana -
perde a sua insularidade e passa a ser coroamento da sociologia geral - ciência
natural - (Moscovici, 1972 apud MORIN, 1973, p. 14)
Deste modo, as consequências da etologia e da sociologia animal são igualmente
mortais para o paradigma fechado do antropologismo. Chega-se à conclusão de
que nem a comunicação, nem o símbolo, nem o rito, são exclusividades humanas,
e de que têm raízes muito remotas na evolução das espécies.
Da mesma maneira que é bem evidente que a espécie humana não inventou os
comportamentos de namoro e de submissão, a estruturação hierárquica do grupo,
ou a noção de território (Cosnier, 1969), também não deixa agora de ser menos
evidente que a sociedade não é uma invenção humana. Digamos mesmo que certas
características próprias das sociedades humanas (ligação ambígua e complexa
entre conflitos e solidariedades, entre oposições e complementaridades,
combinação de indivíduos diferentes num sistema de comunicação-organização) já
emergem em muitas sociedades animais. Já não se pode opor a ordem social
humana à desordem dos comportamentos animais; já não se podem opor as
incertezas complexas que reinam no seio das sociedades humanas (a parte de
variabilidades, de conflitos e de tensões que elas pressupõem) ao constrangimento
mecânico que reinaria nos grupos animais. Já existe, nas sociedades animais, e
designadamente nos mamíferos, uma ordem complexa que pressupõe uma certa
desordem ou “ruído” como ingrediente indispensável à sua própria complexidade.
Tudo isto, que apenas se esboça na etologia animal, surge subitamente nos
magníficos trabalhos de primatologia dos últimos dez anos. Desta vez, não muda
só a ideia de sociedade, mas muda igualmente a ideia de símio e a ideia de homem
(MORIN, 1973, p. 14).
O homem não é uma construção social, muito menos a sociedade, é interessante como pode
ser localizada a abordagem sócio-histórica, em diversos discursos, que dizem "O homem é
machista", como se a mulher também não fosse. A mulher é tão machista quanto o homem, pois
se coloca na posição de aceitação por meio de pequenos atos, a mulher se submete ao "machismo",
o feminismo foi um movimento importante iniciado de reivindicação de direitos, mas que
conforme as décadas, criou-se segregações no grupo, tendo aquilo que se denomina feminismo
radical, que tem a noção de que, não diferente da abordagem sócio-histórica, que as coisas
aconteceram numa mesa de bar, os homens numa certa feita, resolveram criar como as coisas
deveriam ser, aí disseram "Vamos criar a mulher desse jeito, faremos com que elas se comportem
de tal modo, os homens por sua vez deverá se comportar de tal maneira, e não aceitaremos quem
não é da nossa etnia, e iremos assim dominar o mundo, por que somos maus". A explicação da
abordagem sócio-histórica reduz a realidade social, a um aspecto moral e alega que somos
destituídos de uma biologia, e que existe um culpado por todas as mazelas humanas, que é o
"Capital" e a "Sociedade Burguesa", além de ser um reducionismo grotesco da teoria de Marx, não
apenas nessa concepção de Capital e Sociedade Burguesa, como também da Antropologia
Marxiana. As doenças mentais, nesse sentido tornam-se "criações sociais", as relações entre
homem e mulher, tornam-se "invenções" e as dificuldades de aprendizagem ou distúrbios
neurológicos são considerados, noções "naturalizantes", isto ocorreu por um longo tempo na
história brasileira:
As ideias que demonstrei ao longo desse estudo, sobre a forte conotação moral das
colocações de Bock, sendo mais de opinião do que ciência, é um prejuízo:
A psicologia não tem sido capaz de, ao falar do fenômeno psicológico, falar de
vida, das condições econômicas, sociais e culturais nas quais se inserem os homens.
A psicologia tem, ao contrário, contribuído significativamente para ocultar estas
condições (BOCK, 2004, p. 7).
Depois de tudo que foi exposto, com relação as concepções da Bock, é importante revisarmos
algumas colocações. "A psicologia tem ocultado estas condições"? Qual psicologia? Sócio-
Histórica? "Na verdade, não se fala de nada. Faz-se ideologia! (BOCK, 2004, p. 7). Realmente não
se fala de nada, faz-se propaganda "Queremos, com a perspectiva histórica na Psicologia, reverter
esse processo e nos comprometermos com outros setores da população (BOCK, 2004, p. 10).
Compromisso? Com quem? Nem com a própria psicologia no sentido literal de ciência, imagina-
se com a população. A única maneira de ajudar a população de modo eficiente é compreendendo
a realidade, e não imiscuindo-a em narrativas verborrágicas:
Pensar desta forma a subjetividade nos coloca em uma outra relação com o mundo
social. Passamos a perceber a necessidade de nos posicionarmos sobre qual
homem e qual sociedade queremos estimular. Isto porque, passamos a pensar que
o mundo psicológico não está pronto e nem mesmo tem direção para seu
desenvolvimento dada naturalmente. Nossas intervenções profissionais são
portanto direcionamentos. Qual mundo queremos estimular? Qual sociedade?
Qual subjetividade? Qual homem? (BOCK, 2004, p. 10).
Considera-se as pessoas maleáveis a tal ponto? O que se oculta por de trás de tais "segredos"
ou "intenções" Bock? Voltarei agora, as questões mais científicas:
O trabalho e a vida em sociedade são duas características da vida humana que vão
permitir um salto de qualidade no desenvolvimento humano. O homem liberta-se
de suas limitações biológicas para “inventar” a condição humana. Queremos com
isso frisar a idéia de que as habilidades e os comportamentos humanos, a partir
daquele momento, não estavam mais previstos pelo código genético. Por isso
dizemos que o homem não estava mais submetido às leis biológicas e sim a leis
sócio-históricas (BOCK, 2004, p. 28).
Ainda que objeto de ciência e dependente dos métodos próprios às outras ciências,
o homem permanece insular e a filiação que o liga a uma classe e a uma ordem
naturais – mamíferos, primatas - nunca é concebida como afiliação. Pelo contrário,
o antropologismo define o homem como oposto de animal; a cultura como oposto
de natureza; o reino humano, síntese de ordem e de liberdade, opõe-se tanto às
desordens naturais (“lei da selva”, pulsões não controladas) como aos mecanismos
cegos do instinto; a sociedade humana, maravilha de organização, define-se por
oposição aos ajuntamentos gregários, às hordas e aos bandos.
Como acabamos de ver, não existe apenas a hierarquia coletiva de “classe”, mas
existe também a hierarquia individual de escalão, que se estabelece em função da
relação ameaça/evitação ou de servilismo, e, entre as fêmeas, em função do escalão
do respectivo macho. A cada escalão corresponde um estatuto, quer dizer, um
conjunto de direitos e de deveres: a cada escalão e estatuto corresponde um papel,
isto é, um estilo de conduta que não está imutavelmente ligado a um indivíduo, mas
que depende da posição ocupada no escalão e na “classe” social. Como diz Crook,
“pode-se descrever um comportamento social de primata em termos de estatuto de
idade e de sexo, de papel e de afiliação num grupo-tipo” (Crook, 1971, p. 39 apud
MORIN, 1973, p. 16).
Um cientista social que seja digno e no mínimo condizente, jamais dirá que não há
desigualdade social, e a questão a princípio não é esta, mas sim os pressupostos fundamentais de
como se pensar o fenômeno psicológico, que não esteja desenraizado da biologia, tanto quanto da
sociologia, e das noções fundamentais da psicologia. Sem isto, é impossível compreender não só
o social, como também a própria psicologia individual:
Afirmarei que a sociedade, não é um processo consciente, muito menos uma criação humana,
as relações sociais por sua vez também, apesar de haver os "oportunistas" que se valem do sistema
por ter uma consciência maior do que de outras pessoas, e ao invés de utilizar isto, a proveito do
bem comum, utilizam em proveito próprio, como Platão, que dizia ser necessário queimar os livros
de Demócrito (Atomista). O que se sabe, é que os discípulos de Platão disse à ele para não queimar,
não obstante, temos hoje todos os diálogos do filósofo e de Demócrito, nenhuma página se quer
dos seus, mais de 70 livros (VAN DOREN, 2013).
Realmente, mais de 2000 anos se passaram e ainda sim existem "Platões", grandes
autoridades da sociedade que acusam, mas é importante lembrar sempre, em nome da
"VERDADE". A maioria dos seguidores, tanto de Freud como de Marx expurgaram a dimensão
da biologia, de suas concepções:
Houve, no entanto, tentativas teóricas para firmar a ciência do homem sobre uma
base natural. Nas páginas fulgurantes do manuscrito de 1844, Marx colocava no
centro da antropologia não o homem social e cultural, mas o “homem genérico”;
longe de opor natureza e homem, Marx afirmava que “a natureza é o objeto
imediato da ciência que trata do homem”, visto que “o primeiro objeto do homem
- o homem- é natureza”, e enunciava o princípio básico: “As ciências naturais
englobarão em seguida a ciência do homem, assim como a ciência do homem
englobará as ciências naturais: apenas haverá uma única ciência.” (Segundo a
tradução Molitor.) Engels esforçou-se por integrar o homem na “dialética da
natureza” [...] O primeiro movimento de Marx e de Freud refluiu, não teve
continuação, por lhe ter faltado terreno propício, e foi classificado como um
engano do jovem Marx; depois, os epígonos da era estru-turalista fizeram tudo
para purificar as duas doutrinas de quaisquer resíduos “naturalistas”, ao mesmo
tempo que arrumavam no museu a embaraçosa “dialética da natureza”(MORIN,
1973, p. 4).
Então quer dizer que Marx, compreendia o ser humano, como ser biológico, social e
psicológico? Não havendo distinção entre ciências naturais e humanas? Nessa via, a abordagem
Sócio-Histórica que "Fundamenta-se no marxismo e adota o materialismo histórico e dialético
como filosofia, teoria e método (BOCK, 2004, p. 5). Rechaça a biologia, sendo que o próprio Marx,
considerava tais aspectos. Podemos considerar a Sócio-Histórica uma herdeira de Marx? E
Leontiev com o seu "construcionismo genético" onde o colocamos? A abordagem Sócio-Histórica
se diz de vertente Marxista, mas não é fundamentada no próprio Marx, e ainda se diz herdeira de
Marx? O que Marx diria disso? É bom salientar nas suas próprias palavras "Tout ce que je sais,
c'est que je ne suis pas Marxiste", isto é "Tudo o que eu sei é que não sou marxista!" (BARATA-
MOURA, 1982, p. 542). Que afirmação em! E com ponto de exclamação ainda "Tudo o que eu sei
é, que eu não sou marxista!". E realmente Marx é Marx, e não Sócio-Histórica. Devemos fazer
justiça a Marx, e no caso, o que eu me propus a fazer neste pequeno ensaio, é exatamente isto.
Separar Marx, disto que se diz Marxismo. A Psicologia Sócio Histórica, permanecerá muito tempo
na academia, mas isto não é Marx, muito menos ciência. Este último previa em sua época, como
os ditos "intelectuais" deturpava sua concepção de modo aberrante, que teve de anunciar que ele
próprio não era marxista. Que a Psicologia Sócio-Histórica continue com as suas concepções, mas
é imperativo dizer, não deturpe o nome Marx! Duas coisas que são totalmente diferentes, que não
se correlacionam, e que muito menos se dialogam é, o nosso barbudo alemão e a teoria Sócio-
Histórica. Repetindo mais uma vez, não se mistura água com óleo!
As afirmações proferidas por Bock, de que o homem "se libertou de sua natureza" (BOCK,
2004). Se refere a uma concepção, não só anticientífica, como também política no sentido mais
vulgar da palavra, de ludibriar de modo intencional:
Por fim, com tudo o que foi exposto vimos por meio de uma análise pormenorizada as
falácias da ciência psicológica contemporânea, e o modo pelo qual a mesma vem se desenvolvendo,
cito Morin:
É nessa lacuna que agora se pode ver um animal humano, uma sociedade natural,
uma elaboração cultural ligada a uma evolução biológica. É nessa lacuna que os
conceitos de vida, de animal, de homem, de cultura, perdem a sua suficiência e a
sua rigidez [...] A hominidade não é reintegrada no quadro do biologismo; não se
troca um conceito fechado por outro conceito fechado [...] Esta dupla ruptura (do
biologismo e do antropologismo) e dupla abertura (do conceito de vida e do
conceito de homem) tem para nós uma importância capital. A abertura da noção
de homem sobre a vida não é unicamente necessária à ciência do homem, também
é necessária ao desenvolvimento da ciência da vida; a abertura da noção de vida
é, por si mesma, uma condição para a abertura e para o desenvolvimento da ciência
do homem. A insuficiência de uma e de outra tem inevitavelmente de apelar para
um ponto de vista teórico que possa, ao mesmo tempo, uni-Ias e distingui-Ias, quer
dizer, permitir e estimular o desenvolvimento de uma teoria da auto-organização e
de uma lógica da complexidade. Assim, a questão da origem do homem e da cultura
não diz unicamente respeito a uma ignorância que é preciso reduzir, a uma
curiosidade a satisfazer. É uma questão com um alcance teórico imenso, múltiplo
e geral. É o nó górdio que sustém a soldadura epistemológica entre
natureza/cultura, animal/homem. É o local exato onde devemos procurar o
fundamento da antropologia (MORIN, 1973, p. 27-28).
Sendo mais política do que científica, nos resta perguntar: o que é ser mais político do que
científico? Que nem dito por Maquiavel em O Príncipe a política é a disputa de forças pelo
exercício do poder (MAQUIAVEL, 2010), não obstante, lutamos pelo o que? Pela soberania de
um partido político ou pela libertação da sociedade como um todo? Se for a segunda opção, as
ações da psicologia não corresponde ao seu desejo, pois se utilizando de um critério analítico
tendencioso "de como as coisas devem ser" e não "como são", deixa de perceber a objetividade,
reduzindo o sujeito concreto ao sujeito ideal inexistente ou a sociedade real à sociedade ideal, que
por sua vez, nunca existiu nos pressupostos epistemológicos de Marx, se a psicologia social diz
"se emparelhar nas bases marxistas", é bom salientar nas palavras de Marx "Tout ce que je sais,
c'est que je ne suis pas Marxiste", isto é "Tudo o que eu sei é que não sou marxista" (BARATA-
MOURA, 1982, p. 542). Pois bem, se uns dos maiores intelectuais da humanidade diz que não é
marxista, e se a psicologia diz se fundamentar nos pressupostos "marxistas", poderíamos concluir
então que Marx não tem, "nada vê" com o marxismo e por conseguinte que a psicologia social nada
com Marx? É plausível, não? As palavras do autor se dá, pelo fato que o mesmo já previa no que
daria os seus estudos, indivíduos se apropriando de suas concepções de modo indiscriminado e
sem atender as exigências necessárias, que dão suporte ao intelectual que pretenda se utilizar de tal
conhecimento, estas palavras se dirigiam aos marxistas franceses de 1870 (BARATA-MOURA,
1982).
Além disso, a psicologia atual não atende a uma exigência imprescindível que é, sem teoria
revolucionária, não há prática revolucionária:
A teoria não nasce da teoria, nasce das distintas práticas, individuais e sociais,
mas ela representa um momento específico de reflexão, de deciframento dos
mecanismos do concreto, de apreensão dos seus sentidos, das suas articulações
internas, da própria relação entre teoria e prática (SADER, Sem teoria
revolucionária, não há prática revolucionária, 2008).
E quando é científica, não é prática, pelo fato dos intelectuais não saírem da academia,
estando comprometidos apenas com o núcleo de aulas e palestras para outros intelectuais, salvo
uma minoria que tende a fazer o esforço de organização política em comunidades. No outro oposto,
há os que não são científicos, mas tendem a prática sem fundamentação teórica, o grande
historiador Hobsbawm (1917 - 2012) denomina essa influência "o grosso do que consideramos
como a influência marxista sobre a historiografia certamente foi marxista vulgar” (HOBSBAWN,
1998, p. 161). O marxismo denominado vulgar, é o marxismo tendencioso, que mais almeja poder
político do que a libertação da sociedade como um todo, mas o praticantes não percebem, pois
fazer das ideias de Marx que são conceituações extremamente complexas e dinâmicas algo
mecânico e desprovido de revisionismo teórico, é reprodução ideológica. Agora pensemos e
façamos um resumo até aqui. A psicologia Sócio- Histórica como demonstrado, é mais política do
que científica, por ser política, preza pelo exercício do poder, como foi definido por Maquiavel.
Quando científicas (teórico e não prático) não são práticas e quando práticas (desprovidas de teoria
fundamentada) não são científicas, portanto a única função que exercem socialmente é a
manutenção do status quo. Essa manifestação de retorno do reprimido (LAPLANCHE, 1967), por
conta da ditadura, fez com que os indivíduos que foram represados, emerge-se perante a sociedade
com traumas, tornando-se radicais idealistas e proferindo "a liberdade mais do que tudo", criou-se
representações sociais, onde a liberdade impera como imperativo categórico, com isto, elevou-se
os ideais de sujeito e de sociedade, perdendo-se a objetividade, onde o que se pensa é o ideal e não
o real. Tanto que as produções são puramente acadêmicas e se restringem apenas a este campo, do
mesmo modo que o sujeito traumatizado não se expõe ao estímulo traumático, o mesmo ocorreu
em nível social, pois o que vemos são os psicólogos, assistentes sociais, sociólogos, filósofos,
economistas que se dizem "marxistas", mas que não fazem a operação da segunda parte do
processo, que é a prática. Isto nada mais é do que o sintoma social, do medo e a da repressão, e
análogo ao sujeito traumatizado que por meio de tentativas sucessivas tenta superar seu trauma,
fazendo pequenas investidas, o mesmo também ocorre, só que dentro das universidades, a
universidade seria o consultório do psicanalista para o intelectual "marxista" onde ele pode proferir,
produzir e dizer tudo, esse é o seu porto seguro, mas nunca avançando para fora, pois o que é
externo à este, é o aspecto social dos traumas e das repressões. Se não houver a prática, isto é,
organização do proletariado, as greves necessárias, movimentos de reivindicações massivos,
concílio entre academia e o sindicato, não haverá revolução, pois:
Talvez pelo fato, dos "marxistas" que não conhecem Marx, já que Marx não era "marxista"
(segundos suas próprias palavras), tenham a concepção de que a história evolui, que estamos indo
em direção "alguma coisa", muito pelo contrário, a compreensão total da obra do autor, nos faz
perceber que a sua concepção de mundo, é que o homem faz a si próprio, e que a sociedade pode
transformar-se para melhor ou simplesmente se autodestruir. Nesse sentido percebemos como a
psicologia Sócio-Histórica, acomoda-se nas academias com tom messiânico do que devemos fazer,
quando nem ela própria produziu sua crítica e revisionou suas ações. A psicologia social exerce
função ideológica, por exercer mais ação política do que científica, preza mais pela manutenção da
sua classe social, de professores universitários que transmitem constantemente uma "imagem de
preocupação pela população", o problema de tudo isto, é que se enganam, mais do que tentam
enganar. Mas proferem em nome da população para produzir os seus discursos, ao invés disto, por
que não à ação conciliada a teoria fundamentada? Simplesmente por que não estamos preparados
e ainda não superamos nossos traumas da ditadura e não sabemos se realmente queremos uma
sociedade igualitária, pois o que produz o conforto é exatamente a condição de "não alteração"
como também o salário do Professor Universitário, o financiamento de pesquisa e reprodução
bibliográfica com dinheiro público (Conhecimento novo? Onde?). É exatamente "criticar o
Capital" que gera a sua renda, se não fosse isto, o que fariam de suas vidas? Enquanto isto, o
chamado do nosso grande Marx, confluí nas ondas do tempo e nas vozes mortas do passado
"Proletários de todos os países, uni-vos! (MARX, 2001, p. 84).
CONCLUSÕES PRELIMINARES
A Psicologia Sócio-Histórica irá persistir na universidade por muito tempo, não pelo fato de
ser científica, pois não é, ou até mesmo por se dizer originária de Marx ou do Marxismo, afirmo
que não há nenhuma correlação, não por mim, mas pelo próprio Marx em suas palavras, como
colocadas anteriormente e pela análise empreendida por mim. Mas permanecerá por longa data,
uma por conta da condição histórica em que vivemos no contemporâneo, por conta da
especialização do conhecimento que tende a se intensificar, mas não apenas por isto, mas também
por que nossa cultura gerou ao decorrer do último século XX, mais entretenimento do que houvera
até então, o conhecimento e estudo passaram a ser opções menores no arsenal de possibilidade de
divertimento, o entretenimento como foi em épocas passadas, onde lia-se um livro como novelas
das 6, já não existe, tem-se a TV! Não obstante, não são todos que tem um interesse profundo pelo
conhecimento e se dedica ao mesmo, pensando-o como uma coisa séria que acarreta em
consequências severas. Principalmente em alguns países que não se conserva uma cultura, diria
"intelectual" como no Brasil, ao contrário da França que há estímulo e investimento maciço por
parte do estado em fomento de cultura. Nessa via, os alunos de psicologia tendem aderir essa
abordagem por conta da questão da especialização, por que "deve-se ter" uma especialidade em
alguma coisa, segundo, a vertente é um reducionismo burlesco, decorrente disso não há a
necessidade de pré-requisito cognitivo para compreende-la, o que se coaduna com os fenômenos
contemporâneos do desinteresse pelo conhecimento e até mesmo diria em sentido psicológico, isto
permite, aquilo que se denomina a "lei do mínimo esforço possível", a teoria está posta, e é
legitimada como verdadeira. E o fator principal que seria, assim por dizer, o elemento que produz
a reação dos fatores anteriores, reagindo quimicamente como um cimento, é que a teoria é um polo
de concentração ou afluência, de toda identificação, projeção e resistência que o indivíduo tem em
relação à própria existência. Em síntese, poderia ser dito, que a conjugação da especialização, a lei
do menor esforço possível, o desinteresse pelo conhecimento, o processo de centralização e
concentração das projeções, resistências e identificações, por parte dos aderentes dessa concepção,
permitirá a sua permanência na academia até o início da aurora dos tempos, mesmo não sendo uma
ciência. A teoria sem dúvida consegue ser (não sem um certo magnetismo) a objetivação ou
realização concreta de todo anseio e esperança dos homens.
CONCLUSÃO FINAL
Sobre o ombro de Marx e Freud, é possível vislumbrar algo maior e dar continuidade àquilo
que Edgar Morin (1973) disse não ter havido âmbito propício que é exatamente a geração de
conhecimento, que vá além, e não se restrinja apenas aos ideias políticos, de uns, e de outros, ou
de uma minoria que se diz a favor da população ou da minimização da desigualdade, que proferem
um compromisso social, se nem ter, com os próprios de sua categoria. Fazem colocações em nome
da "verdade" ou do "bem da sociedade", esquecendo-se, que tal ato, é uma própria mentira. Se
valendo de tudo que é cabível, fazem do discurso uma retórica. Assim reduzem o conhecimento, à
uma porção de conceitos, que se ramificam no tecido social, ganhando legitimidade e
plausibilidade. A ciência pode avançar, ir além, e explorar horizontes inimagináveis até mesmo
por Freud ou Marx.
É importante ressaltar que isto é possível, e que a justiça ou igualdade social, será apenas
possível quando estivermos ciente, da nossa condição enquanto homens, que sendo defeituosos por
natureza ou "homens doentes" (NIETZSCHE, 2004) temos a condição e possibilidade de
transformação, é óbvio, que dentro de suas limitações. Se poderemos ou não, ir em direção a uma
sociedade igualitária, é uma questão que não foi respondida ainda, e que merece estudos, sobre, o
do por que, tendo conhecimento, tecnologia, ainda existe pobreza, e vivemos numa circularidade
banal de desprazer e prazer.
Material e vontade não me carece para seguir adiante nesta aventura intelectual, se terei
tempo para responder as minhas indagações, só os batimentos cardíacos de meu coração podem
me resguardar, pois a vida é determinada por condições fisiológicas e psicológicas, que
ultrapassam a minha própria vontade de continuar sendo. Uma coisa que me deixa contente, é a
possibilidade de poder pensar, e ter essa capacidade fenomenal de analisar, e observar a realidade
e logo em seguida descrever, conectar, produzir relações, é incrível esse processo de "pensamento",
que nos foi legado. É um consolo saber que é possível ser objetivo, sem ser neutro, e ao mesmo
tempo, ajudar algumas pessoas dentro do possível e cabível, sem retirar a liberdade e muito menos,
diluir em minhas expectativas ou projeções. No fim das contas, nós, temos o necessário para
produzir o conhecimento. O resto... nada mais é, do que mera covardia. E Nietzsche falou:
Nós, aeronautas do espírito! — Todos esses ousados pássaros que voam para
longe, para bem longe — é claro! em algum lugar não poderão mais prosseguir e
pousarão num mastro ou num recife — e ainda estarão agradecidos por essa mísera
acomodação! Mas quem poderia concluir que à sua frente não há mais uma imensa
via livre, que voaram tão longe quanto é possível voar? Todos os nossos grandes
mestres e precursores pararam, afinal, e não é com o gesto mais nobre e elegante
que a fadiga se detém: assim também será comigo e com você! Mas que importa a
mim e a você! Outros pássaros voarão adiante! Esta nossa idéia e crença porfia
em voar com eles para o alto e para longe, sobe diretamente acima de nossa cabeça
e de sua impotência, às alturas de onde olha na distância e vê bandos de pássaros
bem mais poderosos do que somos, que ambicionarão as lonjuras que
ambicionávamos, onde tudo é ainda mar, mar e mar! — E para onde queremos ir,
então? Queremos transpor o mar? Para onde nos arrasta essa poderosa avidez,
que para nós vale mais que qualquer outro desejo? Por que justamente nessa
direção, para ali onde até hoje todos os sóis da humanidade se puseram,
desapareceram? Dirão as pessoas, algum dia, que também nós, rumando para o
Ocidente, esperávamos alcançar as Índias — mas que nosso destino era naufragar
no infinito? Ou então, meus irmãos? Ou? (Nietzsche, 2004, p. 214).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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