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6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

Pesquisa pers

Luiz Marques é professor


livre-docente do
Departamento de História do
IFCH /Unicamp. Pela editora
da Unicamp, publicou Giorgio
Vasari, Vida de Michelangelo
(1568), 2011 e Capitalismo e
Colapso ambiental, 2015, 3a
edição, 2018. Coordena a
ÁREA DE SAÚDE FACULDADES E INSTITUTOS
coleção Palavra da Arte,
INGRESSO INFORMAÇÕES PARA...

dedicada às fontes da
historiogra a artística, e
participa com outros colegas
do coletivo Crisálida, Crises
SocioAmbientais Labor
Interdisciplinar Debate &
Atualização (crisalida.eco.br).

QUA, 05 JUN 2019 | 14:02

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 1/22
O ‘marxismo cientí co’
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp
Pesquisa pers

TEXTO: LUIZ MARQUES FOTOS: WILSON DIAS | AGÊNCIA BRASIL


EDIÇÃO DE IMAGEM: LUIS PAULO SILVA

Uma das

bandeiras mais aguerridas do bolsonarismo é o


combate ao “marxismo cultural”, o que não deixa de
ser duplamente intrigante, porque o rebanho de
Bolsonaro nunca leu Marx e, obviamente, não faz a
ÁREA DE SAÚDE
menor ideia do queINGRESSO
FACULDADES E INSTITUTOS
seja cultura. Na realidade,
INFORMAÇÕES PARA...

ninguém sabe muito bem o que é esse bicho-papão


que os assombra. Segundo o verbete do Wikipedia:

“Marxismo cultural é uma teoria da conspiração


difundida nos círculos conservadores e de extrema-
direita estadunidense desde a década de 1990.
Refere-se a uma suposta forma de marxismo,
alegadamente adaptada de termos econômicos a
termos culturais pela Escola de Frankfurt, que teria
se in ltrado nas sociedades ocidentais com o
objetivo nal de destruir suas instituições e valores
tradicionais através do estabelecimento de uma
sociedade global, igualitária e multicultural”.
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 2/22
O atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, Pesquisa pers
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Ernesto Araújo, bate-se renhidamente contra o


“marxismo cultural globalista”. Ele inicia seu artigo,
intitulado “Trump e o Ocidente”,  [I] com as
seguintes palavras:

“O presidente Donald Trump propõe uma visão do


Ocidente não baseada no capitalismo e na
democracia liberal, mas na recuperação do
passado simbólico, da história e da cultura das
nações ocidentais”.

Trump é um homem de negócios cercado de


pessoas às voltas com 16 inquéritos criminais e
não exonerado, ele próprio, de crime de obstrução à
justiça.  [II]O emprego sistemático da mentira pelo
presidente do EUA tem suscitado preocupação
entre psiquiatras de que seus padrões de
ÁREA DE SAÚDE
comportamento
FACULDADES E INSTITUTOS
sejam típicos de
INGRESSO
um psicopata. [III]
INFORMAÇÕES PARA...

Mas Araújo obstina-se em ver nele um alter Steve


Bannon, isto é, alguém que se importa com
ideologias. Não percebe que Trump se desfez de
Bannon justamente por isso. A apologia que Araújo
faz do Trump “ideólogo” que ele inventa é de matriz
nitidamente fascista. Ela ecoa, quase com as
mesmas palavras, por exemplo, o discurso de
Benito Mussolini, pronunciado na data fatídica de
1933: “Hoje podemos a rmar que o modo de
produção capitalista está superado e com ele a
teoria do liberalismo econômico que o ilustrou e
dele fez apologia”.  [IV] Impregnado dessa retórica
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 3/22
pseudo-anticapitalista, Araújo parte de lança em Pesquisa pers
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riste contra o moinho de vento do “marxismo


cultural”:

“A partir dos anos 90 foi‑se vendo que o niilismo


(alimentado pelo marxismo cultural) tinha‑se
substituído ao inimigo comunista. Na verdade,
pode‑se argumentar que o comunismo soviético
era apenas uma entre tantas máscaras desse
niilismo fundamental que precede Lênin e  Stálin,
precede Marx, precede Nietzsche, que vem
dos philosophes ateus anticristãos que prepararam
a revolução francesa”.

Não apenas Trump veio para salvar o capitalismo


de si mesmo, mas Stalin, como todos sabem, é
descendente direto de d’Alembert e Diderot,
fabricantes daquela maçã do paraíso que causou a
ÁREA DE SAÚDE
queda da humanidade...
FACULDADES E INSTITUTOS
Araújo INFORMAÇÕES
INGRESSO
é, em suma,PARA...
apenas
uma mistura pretensiosa, mal digerida e
regurgitada de Spengler, Mussolini e Plínio Corrêa
de Oliveira (1908-1995), fundador da Sociedade
Brasileira de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade (TFP), que tinha na Revolução francesa
sua bête noire.

O “marxismo cientí co”

Ocorre que o “marxismo cultural”, não contente de


corroer o Ocidente, parece ter infectado a própria
ciência, que se tornou agora vítima de algo que
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 4/22
poderíamos chamar, por extensão, de “marxismo Pesquisa pers
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cientí co”. Os ministros de Bolsonaro competem


em denúncias de que o marxismo “vampiriza” a
ciência. Para Ernesto Araújo, a esquerda “perverteu”
a causa ambiental e a transformou na “ideologia da
mudança climática”.  [V] Na semana passada, ele
instruiu os cientistas do mundo todo de que “não
há um termostato que meça a temperatura global.
Existem vários termostatos locais”.  [VI]
Demonstrando seu total analfabetismo cientí co, o
ministro confundiu termostato com termômetro, na
mesma linha das pérolas “kaftianas” de Abraham
Weintraub. Seria ótimo, de resto, se pudéssemos
regular a temperatura do planeta através de vários
termostatos... Infelizmente, os únicos termostatos
de que dispomos são a descontinuação da queima
de combustíveis fósseis, o desmatamento zero, o
ÁREA DE SAÚDE
reFACULDADES
orestamento
E INSTITUTOS
em grande
INGRESSO
escala e o m de nossa
INFORMAÇÕES PARA...

dieta baseada em carne.

Ricardo de Aquino Salles foi condenado em 19 de


dezembro de 2018 por fraudar o processo do Plano
de Manejo da Área de Proteção Ambiental da
Várzea do Rio Tietê, em 2016, quando estava à
frente da pasta do Meio Ambiente do ex-governador
Alckmin. Além disso, de acordo com a promotora
de justiça Miriam Borges, Salles é suspeito de
participar, nesse período, como interlocutor de
interesses de empresas, tendo sido investigado em
inquéritos policiais por enriquecimento ilícito e
advocacia administrativa. [VII] Um antigo artigo seu
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 5/22
na Folha de S. Paulo termina com a seguinte Pesquisa pers
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referência: “Ricardo Salles, 36, mestre em direito


público pela Universidade Yale”. Só que a University
of Yale a rmou, num email enviado a Leandro
Demori: “A Faculdade de Direito não conseguiu
localizar nenhum registro indicando que Ricardo de
Aquino Salles frequentou a Faculdade de Direito de
Yale”. [VIII]

Em suma, Ricardo Salles reúne todas as condições


para ser ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro,
Ministério que ele se encarregou de transformar em
força subalterna do agronegócio. O ministro não
ca atrás de Araújo em sua galeria de despautérios
e de exibições despudoradas da mais crassa
ignorância, igualmente insultuosa à inteligência e
aos cientistas. Declarou não saber quem era Chico
ÁREA DE SAÚDE
Mendes, gura de renome
FACULDADES E INSTITUTOS INGRESSO
nacional e internacional,
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agraciado com o prêmio Global 500, oferecido pela


ONU por sua luta em defesa do meio ambiente. E
arrematou, em defesa própria: “O fato é que é
irrelevante. Que diferença faz quem é Chico
Mendes neste momento?”. Tão irrelevante, para ele,
quanto as mudanças climáticas, uma vez que as
considera um tema “acadêmico” e uma
preocupação “para daqui a 500 anos”. [IX] De onde
se conclui que a Convenção-Quadro da ONU sobre
Mudanças Climáticas (UNFCCC), o IPCC, 50 anos
de pesquisas internacionais sobre o aquecimento
global, o Acordo de Paris e todos os esforços
internacionais, nacionais e subnacionais para
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 6/22
conter a aceleração em curso da crise climática Pesquisa pers
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são pura perda de tempo. Vamos tratar de coisas


mais imediatas e deixar essa questão para 2400...
Por essa razão, Salles cancelou o encontro em
Salvador da “Semana Climática” América Latina e
Caribe, evento da UNFCCC, com a alegação de que
este seria apenas uma oportunidade para que os
participantes zessem turismo em Salvador e
comessem acarajé.  [X] Levou um pito de gente
grande e, garoto obediente que é, engoliu o choro e
retrocedeu.

Algo mais sério...

Outro ministro, esse de verdade, a detectar essa


epidemia de “marxismo cientí co” foi o general
Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro-chefe do
ÁREA DE SAÚDE
Gabinete de Segurança
FACULDADES E INSTITUTOS INGRESSO
Institucional da Presidência
INFORMAÇÕES PARA...

da República (GSI). Dando sua pequena


contribuição ao ódio aos fatos e à evidência
cientí ca pelo qual se pauta o governo Bolsonaro,
ele atacou o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), ligado ao CNPq e, portanto, ao
Ministério da Ciência e Tecnologia. O INPE é uma
instituição que goza da mais irrestrita credibilidade
nacional e internacional e presta uma gama de
serviços de inestimável importância ao país, entre
os quais o monitoramento por satélites da perda de
cobertura orestal, trabalho que seus cientistas
desenvolvem há mais de quarenta anos, conforme
se lê no histórico da instituição em sua página na
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 7/22
internet.  [XI]   Todo esse patrimônio nacional Pesquisa pers
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acumulado de conhecimento, que envolveu


diversas gerações de estudiosos formados com os
recursos do povo brasileiro, é desquali cado pelo
ministro com a seguinte declaração à
GloboNews: [XII]

“Esses dados do desmatamento eu coloco muito


em dúvida. Se nós somarmos o percentual de
desmatamento que anualmente aparece no jornal,
o Brasil já estava sem uma árvore. Isso também é
muito manipulado”.

Com que autoridade, baseado em que dados, o


ministro se permite insultar a ciência brasileira?
Eleito à base de fake & hate news, o governo de que
o general é peça central nutre um ódio pueril à
complexidade do real, baseado na simples e pura
ÁREA DE SAÚDE
negação de tudo o INGRESSO
FACULDADES E INSTITUTOS
que não INFORMAÇÕES
couber PARA...
no vaso de
formol em que se conservam suas fobias e suas
xações. Ocorre que os números do INPE são reais.
E por serem reais, são trágicos. Quais são os dois
números essenciais do INPE sobre as orestas
brasileiras, que o general permite-se pôr em
dúvida? Todos sabemos quais são, e Carlos Nobre,
cientista sênior do próprio INPE, resume o primeiro
numa frase: “ A Amazônia já tem 20% de área
desmatada, equivalente a 1 milhão de km2.” [XIII] O
segundo número diz respeito ao Cerrado, o bioma
mais ameaçado do Brasil atualmente: 50% de sua
área já foi arrasada pelo agronegócio, segundo o
Prodes-Cerrado, também do INPE. Essas duas
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 8/22
regiões são as que abrigam os principais Pesquisa pers
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mananciais da malha hidrográ ca brasileira e


ninguém ignora que sem essa vegetação não há
chuva, nem lá, nem cá na parte sul do continente. E
contudo apenas 8% da área do Cerrado está
protegida pela legislação.

Já se aniquilou, repita-se, um quinto da área


original da oresta amazônica, “a mais exuberante,
colorida e diversa expressão da natureza que
encheu de graça a face desse planeta em muitos
milhões de anos” (Norman Myers). Apenas nos
últimos três anos (2016-2018), o desmatamento da
Amazônia supera 20 mil km2, ou seja, os níveis
mais altos por triênio do segundo decênio do
século, sendo que 95% dessa destruição vem
sendo feita ilegalmente pelo agronegócio ou em
ÁREA DE SAÚDE
seu benefício. E aquiINGRESSO
FACULDADES E INSTITUTOS
estamosINFORMAÇÕES
falandoPARA...
apenas de
desmatamento por corte raso, não de degradação.
Já em 2013, mais de um quarto da área de oresta
da Amazônia brasileira – cerca de 1,2 milhão de
km2 – era então considerado degradado e
fragmentado, conforme dados aportados por
Antônio Donato Nobre, também do INPE [XIV]:

“Até 2013 a área total degradada pode ter


alcançado 1.255.100 km2. Somando com a área
mensurada de corte raso, o impacto cumulativo no
bioma pela ocupação humana pode ter atingido
2.018.079 km2. Mas a área de impacto no sentido
ecológico pode ser ainda maior, porque orestas
contíguas a áreas de degradação ou corte raso
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 9/22
sofrem indiretamente dos efeitos das mudanças Pesquisa pers
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biogeofísicas e biogeoquímicas vizinhas. No


processo de degradação, a destruição do dossel,
frequentemente superior a 60% da cobertura, muda
as características estruturais, ecológicas e
siológicas da oresta, comprometendo suas
capacidades ambientais”.

Os números fornecidos pelo INPE são, segundo o


general Heleno, “manipulados”. Quem os manipula?
Os cientistas, cujas frágeis mentes terão talvez sido
sequestradas pelo “marxismo cientí co”? Ou
estariam eles mancomunados com as potências
estrangeiras, tais como a Noruega e a Alemanha,
que, em seus malignos desígnios, conspiram para
impedir que, através da liquidação nal da oresta
amazônica e do Cerrado, conquistemos nosso
ÁREA DE SAÚDE
“desenvolvimento”?
FACULDADES E INSTITUTOS
Não. OsINFORMAÇÕES
INGRESSO
cientistas
PARA...
estão
apenas descrevendo a realidade com os seus
instrumentos de mensuração. E é isso que apavora,
porque, como se sabe, nada há de mais
insuportável que a rigorosa descrição da realidade.

Os militares dos EUA e do Brasil

Os Ricardo Salles, os Ernesto Araújo, os Weintraub


et caterva são casos perdidos. Mas o alto comando
militar não é composto de ignorantes. Ao contrário.
Recebem uma educação técnica aprimorada. O que
os impede de ver a gravidade extrema das crises
climáticas e do colapso da biodiversidade não pode
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 10/22
ser, portanto, uma de ciência de formação Pesquisa pers
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intelectual. O que os está impedindo de


compreender o que está em jogo é o anacronismo
dos paradigmas sobre os quais se assenta seu
ideário: segurança territorial, percepção dos povos
indígenas, sobretudo os de fronteira, como
potenciais ameaças a essa segurança e a ideia – a
mais equivocada e desastrosa de todas – de que a
Amazônia é um espaço desabitado a conquistar.
Desmatar é intensi car em todos os sentidos as
mudanças climáticas e as mudanças climáticas
são uma ameaça existencial gravíssima e iminente
ao Brasil e ao mundo. Se os militares duvidam dos
cientistas e dos ambientalistas, que ouçam então
os militares do Pentágono e do Ministério da
Defesa dos EUA, por certo menos in uenciados
pelo “marxismo cientí co”...  Leiam o relatório de 13
ÁREA DE SAÚDE
deFACULDADES
outubro de 2014,INGRESSO
E INSTITUTOS
“Climate INFORMAÇÕES
ChangePARA...
Adaptation
Roadmap”, que a rma logo em sua abertura: [XV]

“As mudanças climáticas afetarão a capacidade do


Departamento de Defesa de defender a Nação e
coloca riscos imediatos para a segurança dos EUA”.

Os militares norte-americanos não embarcam na


estupidez de seu presidente, quando este a rma
que as mudanças climáticas são “a hoax” (um
embuste), apenas uma ideologia, como repete,
entre nós, Ernesto Araújo. Sabem que se trata de
um problema de extrema gravidade e imediato, isto
é, não para daqui a 500 anos, como a rma Salles,
mas para o segundo quarto deste século. O
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 11/22
Departamento de Defesa dos EUA a rma estar Pesquisa pers
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empenhado em adaptação e mitigação das


mudanças climáticas. E as Forças Armadas do
Brasil, como estarão elas respondendo a essa
ameaça real e iminente ao país? Há vários
trabalhos mostrando a vulnerabilidade do Brasil às
mudanças climáticas, inclusive de cientistas
brasileiros. O mais recente deles é o livro
organizado por Carlos Nobre, José A. Marengo e
Wagner R. Soares, Climate Change Risks in Brazil,
Springer, 2019. No prefácio, esses autores voltam a
alertar o que já demonstraram em trabalhos
anteriores: “Num cenário de altas emissões de
gases de efeito estufa [e esse é precisamente
nosso cenário atual], o país tem uma alta
probabilidade (acima de 70%) de sofrer um
aumento de temperatura maior que 4oC antes do
ÁREA DE SAÚDE
m do século”.
FACULDADES E INSTITUTOS INGRESSO INFORMAÇÕES PARA...

Juntamente com o Mediterrâneo, os Estados


Unidos e o Brasil compõem três das regiões do
planeta mais particularmente vulneráveis às
mudanças climáticas. Sonia Seneviratne,
Professora titular na ETH de Zurique, e colegas
publicaram em 2016 um artigo na Nature  [XVI] no
qual demonstram que: “O limite de 2oC das
temperaturas médias em relação ao período pré-
industrial pode ser cruzado em 2030 no
Mediterrâneo, na região central do Brasil e nos
EUA”. Eis, no mapa abaixo, as regiões em questão.

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 12/22
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp
Pesquisa pers

As três regiões que podem sofrer já por volta de 2030 um aquecimento


médio anual de 2oC acima do período pré-industrial. Fonte: Sonia
Seneviratne et al., “Allowable CO2 emissions based on regional and impact-
related climate targets”. Nature, 529, 28/I/2016

No Brasil, a forma mais direta, imediata e e caz de


mitigação e adaptação é reduzir a zero o
desmatamento e passar a um re orestamento com
ÁREA DE SAÚDE
espécies nativas INGRESSO
FACULDADES E INSTITUTOS
em grande escala. O
INFORMAÇÕES PARA...

desmatamento é, no Brasil, como mostra o SEEG, o


maior responsável pelas emissões de gases de
efeito estufa (GEE). Por causa do desmatamento, o
Brasil é o sétimo maior emissor de GEE do mundo.
Defender as orestas é o maior serviço que os
militares brasileiros podem e têm o dever de
prestar ao país, de hoje e de amanhã. Até quando
nossos militares se obstinarão em não perceber a
importância estratégica, em todos os sentidos, das
orestas brasileiras? Até quando persistirão no
absurdo preconceito geopolítico oitocentista de que
ela é um obstáculo ao desenvolvimento do país? A
oresta amazônica é o que o Brasil tem de mais
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 13/22
importante! É o que faz do Brasil uma singularidade Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

planetária. Os biólogos e ecologistas consideram a


oresta amazônica (mas até quando?) o lar de 10%
das espécies conhecidas do planeta,  [XVII] sendo
que 75% das espécies vegetais que aí se encontram
são únicas dessa região. A maior oresta tropical
do mundo é também, com suas três mil espécies
de peixes, o maior viveiro de espécies de peixe de
água doce do mundo.

A Amazônia está por um o

Embora imenso, esse conjunto de ecossistemas é


muito vulnerável, pois uma pequena alteração dos
parâmetros climáticos e/ou de precipitação na
oresta pode representar seu desmantelamento. É
o que já está começando a acontecer! Uma equipe
ÁREA DE SAÚDE
deFACULDADES
158 pesquisadores
E INSTITUTOS
de 21 INFORMAÇÕES
INGRESSO
países, PARA...
coordenada
por Hans ter Steege, publicou uma avaliação dos
riscos atuais de extinção dessa oresta: [XVIII]

“Ao menos 36% e até 57% de todas as espécies de


árvores da Amazônia devem provavelmente ser
consideradas como globalmente ameaçadas
segundo os critérios da União Internacional de
Conservação da Natureza (IUCN). Esses resultados,
se con rmados, aumentariam em 22% o número de
espécies vegetais ameaçadas no planeta”.

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 14/22
De seu lado, repercutindo o editorial da revista Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

Science Advances, de 28 de Fevereiro de 2018,


escrito por Thomas Lovejoy e Carlos Nobre, o
Centro de Ciência do Sistema Terra (CCST) do INPE
divulgou uma informação que deve suscitar um
sobressalto das consciências: o “desmatamento na
Amazônia está prestes a atingir um limite
irreversível”: [XIX]

“Nas últimas décadas, outros fatores além do


desmatamento começaram a impactar o ciclo
hidrológico amazônico, como as mudanças
climáticas e o uso indiscriminado do fogo por
agropecuaristas durante períodos secos – com o
objetivo de eliminar árvores derrubadas e limpar
áreas para transformá-las em lavouras ou
pastagens. A combinação desses três fatores
ÁREA DE SAÚDE
[desmatamento,
FACULDADES E INSTITUTOS
mudanças
INGRESSO
climáticas e incêndios]
INFORMAÇÕES PARA...

indica que o novo ponto de in exão a partir do qual


ecossistemas na Amazônia oriental, Sul e Central
podem deixar de ser oresta seria atingido se o
desmatamento alcançar entre 20% e 25% da
oresta original”.

A Amazônia, ou ao menos toda a sua porção sul,


central e leste, está quase ultrapassando seu limiar
de resiliência, isto é, sua capacidade de resistir ao
desmatamento e aos incêndios perpetrados por
fazendeiros. As secas de 2005, 2010 e 2015/2016
são sintomas inequívocos dessa crescente
desestabilização. Não sabemos quando a grande
oresta cruzará esse ponto crítico, além do qual ela
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 15/22
transitará, mais ou menos rapidamente (e não se Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

exclui uma transição abrupta) para uma vegetação


de savana e em direção a uma sempre maior
aridez. De uma coisa, em todo o caso, sabemos:
essa é a maior ameaça, real e iminente, à nação,
que as Forças Armadas se dizem empenhadas em
defender. O Ministro Augusto Heleno deveria ser o
primeiro a se preocupar com isso. Mas, como
a rma o excelente site ClimaInfo, “frente à febre, o
general ataca o termômetro”.

Recapitulemos. A maior ameaça à segurança


nacional não são os cientistas. Eles estão
cumprindo seu dever de clamar aos quatro ventos
que estamos nos aproximando celeremente de um
colapso socioambiental. É melhor ouvir a
mensagem, por sombria que seja, que atirar no
ÁREA DE SAÚDE
mensageiro. 
FACULDADES E INSTITUTOS
Tampouco
INGRESSO
as INFORMAÇÕES
naçõesPARA...indígenas
constituem uma ameaça à segurança nacional. Ao
contrário, cientistas e indígenas são parte essencial
da solução. A maior ameaça à segurança nacional
é o agronegócio brasileiro, peça local da grande
engrenagem global corporativa que controla o
sistema alimentar e energético. Essa engrenagem
global, motor decisivo do desmatamento, inclui as
megacorporações agroquímicas, os grandes
traders, o sistema nanceiro, a especulação com as
soft commodities nos mercados futuros, as
mineradoras, as empreiteiras e, não por último, os
economistas e demais ideólogos do
“desenvolvimentismo”, que continuam a rmando
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 16/22
que desenvolvimento é um conceito indissociável Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

do crescimento do PIB. A destruição da oresta


levada a cabo por essa grande coalizão já tem, e
terá cada vez mais, consequências funestas para a
sociedade brasileira e para o planeta. No espaço de
uma geração, provavelmente menos, ela destruirá
os alicerces de nossa agricultura.

A visão da ciência para a Amazônia

Os militares continuam a propor hoje o que


propunham nos anos 1960: cegados por um
anacrônico conceito de desenvolvimento, propõem,
ou toleram como um mal menor, desmatar,
queimar, devastar esse conjunto único de
ecossistemas. O que propõem, ao contrário, os
cientistas? [XX]
ÁREA DE SAÚDE FACULDADES E INSTITUTOS INGRESSO INFORMAÇÕES PARA...

“Propomos um novo paradigma de


desenvolvimento (...) no qual pesquisamos,
desenvolvemos e conferimos escala a uma
abordagem de inovação high-tech que vê a
Amazônia como um bem público global de ativos
biológicos, capacitando a criação de produtos
inovadores de alto valor, serviços e plataformas,
pela combinação das tecnologias digitais,
biológicas e materiais da Quarta Revolução
Industrial em curso”.

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 17/22
A proposta dos cientistas representa um passo de Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

gigante na superação do vandalismo ecocida e


suicida que caracteriza a atual devastação da
cobertura vegetal brasileira pelo agronegócio. Eis
sua mensagem essencial: é preciso admitir a
premissa de que, mantida a via atual, nosso único
destino é o colapso socioambiental. Admitida essa
premissa, um futuro diferente de um colapso
terminal para a civilização ainda é possível.

[I] Publicado em Cadernos de Política Exterior, ano


III, 6, 2º semestre, 2017.

[II] Cf. Garrett M. Graff, “Trump’s world still faces 16


ÁREA DE SAÚDE known criminal
FACULDADES E INSTITUTOSprobes”. Wired, 30/IV/2019.
INGRESSO INFORMAÇÕES PARA...

[III] Cf. Charles M. Blow, “Trump Isn’t Hitler. But the


Lying...”. New York Times, 19/X/2017; Glenn Kessler,
Meg Kelly, Nicole Lewis, “President Trump has
made 1,628 false or misleading claims over 298
days”. The Washington Post, 14/XI/2017; Bandy X.
Lee (org.), The Dangerous Case of Donald Trump: 27
Psychiatrists and Mental Health Experts Assess a
President, Nova York, Thomas Dunes Books, 2017;
Bandy X. Lee, “Psychiatrists Warn About Trump’s
Mental State”. New York Times, 30/XI/2017; Ben

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 18/22
Kentish, “Donald Trump is a psychopath, suffers Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

psychosis and is an ‘enormous present danger’,


says psychiatrist”. The Independent, 30/IX/2017.

[IV] Cf. Benito Mussolini, “Il discorso dello Stato


Corporativo”, Il Popolo d’Italia, n. 271, 15/XI/1933.
Versão impressa do discurso pronunciado no dia
anterior na reunião do Consiglio Nazionale dele
Corporazioni: “Oggi possiamo affermare che il
modo di produzione capitalistica è superato e con
esso la teoria del liberalismo economico che lo ha
illustrato ed apologizzato”.

[V] Cf. Raphael Di Cunto, Carla Araújo e Carolina


Freitas, “Novo chanceler diz que esquerda criou
‘ideologia da mudança climática'”. Valor,
15/11/2018.

ÁREA DE SAÚDE
[VI] Cf. Denise Chrispim
FACULDADES E INSTITUTOS INGRESSO
Marin,INFORMAÇÕES
“Chanceler
PARA...
atribui
aumento da temperatura da Terra a asfalto quente”.
Veja, 30/V/2019: Ernesto Araújo questiona
aquecimento global: "Não há um termostato que
meça a temperatura global. Existem vários
termostatos locais".

[VII] “Justiça de SP condena futuro ministro do


Meio Ambiente por improbidade administrativa”. G1,
19/XII/2019.

[VIII] Cf. Leandro Demori, “Quem inventou a mentira


de que o Ministro Ricardo Salles estudou em Yale?”.
The Intercept, 23/II/2019.

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 19/22
[IX] Cf. Claudio Angelo, “A ignorância de Ricardo Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

Salles, Ministro do Meio Ambiente, sobre Chico


Mendes”. Época, 15/II/2019.

[X] “Em recuo, Ministério do Meio Ambiente


con rma reunião da ONU em Salvador”. Folha de
São Paulo, 19/V/2019.

[XI]
http://www.inpe.br/institucional/sobre_inpe/historia.php>.

[XII] Citado por Bernardo Mello Franco,


“Desmatamento sobe e ministro briga com os
números”. Globo, 26/V/2019

[XIII] “Desmatamento na Amazônia está prestes a


atingir limite irreversível”. CCST/INPE, 22/II/2018.

Carlos Nobre a rma que 15% dessa área  está em


ÁREA DE SAÚDE
recuperação, mas se
FACULDADES E INSTITUTOS
trata deINFORMAÇÕES
INGRESSO
uma PARA...
recuperação
espontânea, em terras abandonadas, após serem
desmatadas e poluídas por agrotóxicos que
empobrecem os solos. O Brasil não está honrando
seu compromisso de re orestar 12 milhões de
hectares, assumido no Acordo de Paris.

[XIV] Cf. Antônio Donato Nobre, “O futuro climático


da Amazônia”. Relatório de Avaliação para a
Articulación Regional Amazônica (ARA), 2014, p.
25.

[XV]
https://www.acq.osd.mil/eie/downloads/CCARprint_wForward

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 20/22
[XVI]Sonia Seneviratne et al., “Allowable Pesquisa pers
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp

CO2  emissions based on regional and impact-


related climate targets”. Nature, 529, 28/I/2016.

[XVII] Dados de “Amazon deforestation”. WWF.

[XVIII] Cf. Hans ter Steege et al. “Estimating the


global conservation status of more than 15,000
Amazonian tree species”. Science Advances, 1, 10,
20/XI/2015.

[XIX] “Desmatamento na Amazônia está prestes a


atingir limite irreversível”. CCST/INPE, 22/II/2018

[XX] Cf. Carlos A. Nobre Gilvan Sampaio Laura S.


Borma Juan Carlos Castilla-Rubio José S. Silva, and
Manoel Cardoso, Land-use and climate change
risks in the Amazon and the need of a novel
sustainable development paradigm”. Proceedings of
ÁREA DE SAÚDE
the National Academy
FACULDADES E INSTITUTOS
of Sciences,
INGRESSO
113, 39, 27 de
INFORMAÇÕES PARA...

Setembro de 2016: “We argue for a new


development paradigm—away from only attempting
to reconcile maximizing conservation versus
intensi cation of traditional agriculture and
expansion of hydropower capacity—in which we
research, develop, and scale a high-tech innovation
approach that sees the Amazon as a global public
good of biological assets that can enable the
creation of innovative high-value products, services,
and platforms through combining advanced digital,
biological, and material technologies of the Fourth
Industrial Revolution in progress”.
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/o-marxismo-cientifico 21/22
 
6/26/2019 O ‘marxismo científico’ | Unicamp
Pesquisa pers

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