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RESUMO
Ao lado da violência estrutural e social, manifesta-se nas relações familiares o fenômeno
da “violência doméstica contra crianças e adolescentes” (VDCCA), que se qualifica pelas
desigualdades de poder nas relações entre homens e mulheres e entre adultos e crianças.
Expressa-se através das violências física, psicológica, sexual, negligência e exploração,
que causam danos que afetam o desenvolvimento e a dignidade de crianças e
adolescentes. Alguns estudos identificam os efeitos da VDCCA entre adolescentes:
fracasso escolar, abuso de drogas, gravidez precoce, delinquência, comportamento
violento, depressão, prostituição e suicídio. As evidências demostram que a percepção
que o adolescente tem de si e do mundo pode ser afetada pela intensidade de violências a
que foi exposto. Atendendo jovens infratores, Welsh (1978) percebeu ser irrelevante o
número daqueles que não sofreram violência doméstica severa. O presente trabalho adota
a visão teórica que entende que a prática da chamada “educação punitiva” pode contribuir
para a delinquência adolescente. Seu objetivo é identificar as representações sociais
relacionadas à violência social e à violência doméstica, que levam algumas mães a
práticas violentas com seus filhos. Para tal, realizou 18 entrevistas com as responsáveis
por adolescentes infratores de Belém do Pará. Em suas respostas, essas mulheres
revelaram maior sensibilidade para a violência que impera fora de casa, que para a
violência doméstica da qual poderiam ser as autoras. Nenhuma se reconheceu como
agressora de seus filhos. Identificavam-se como vítimas da violência praticada por seus
companheiros, mas não incluíam no conceito de práticas violentas as modalidades de
1
Doutoranda de Política Social pelo Programa de Estudos Pós-Graduados de Política Social da Escola de
Serviço Social da UFF; Mestre em Planejamento para o Desenvolvimento pela UFPA e Assistente Social
pela UFPE; e-mail: samosi@uol.com.br.
educação punitiva às quais recorriam com suas crianças. Construíam uma escala subjetiva
e imprecisa de intensidade da violência da qual eram autoras, para fazer a distinção entre
“violência contra a criança” e “práticas educativas”. Serviam-se dessa escala para
diferenciar o “bater” socialmente aceitável, do “espancar” moralmente reprovável.
Visibilidade é conferida à importância das representações sociais dos diferentes atores
envolvidos. Fica evidente que um abismo separa as concepções dos profissionais que
reconhecem na VDCCA uma cultura perniciosa, das representações sociais das
entrevistadas. Conclui-se que, dificilmente, será possível reduzir a VDCCA prevalente
nas famílias dessas mulheres, sem antes aproximar esses dois universos diferenciados de
representações.
PALAVRAS-CHAVE: Violência doméstica. Adolescente infrator. Família.
EIXO TEMÁTICO: Fronteiras: Direitos Humanos e Identidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS