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OUTROS OLHARES SOBRE SÃO RAIMUNDO NONATO-PI: construção de

narrativas colaborativas e multivocais sobre o patrimônio cultural local.

Thor Gabriel Martins 1


Breno Reis Silva Lima 2
Davi Feitosa Ribeiro 3
Leandro Oliveira dos Santos4
Rafael Pereira Magalhães5
Alencar de Miranda Amaral6

1. INTRODUÇÃO
A promoção de atividades que visem o levantamento, valorização e divulgação de
bens patrimoniais considerados relevantes por pessoas normalmente excluídas dos
discursos acadêmicos e/ou oficiais é algo que vem sendo propagado por autores com
diferentes formações (ABREU, 2007; ALMEIDA, 2002; FUNARI, 2007; HORTA, 1999;
HODDER, 1999). Assim, no contexto de São Raimundo Nonato, urge a necessidade
de construção de novas narrativas sobre o passado e o patrimônio cultural local, que
não limitem-se à inquestionável importância do Parque Nacional Serra da Capivara.
Para tanto, reconhecer a potencialidade e relevância dos saberes e da memória das
comunidades locais é algo imprescindível, visto sua capacidade de catalisar meios e
ações que possam incentivar a articulação dos diferentes segmentos da população em
torno de “novos olhares” sobre nosso passado e patrimônio cultural.
Neste mister, o presente trabalho almeja discutir e fomentar “novos olhares” sobre o
passado e patrimônio cultural de São Raimundo Nonato. Deste modo, as narrativas a
serem construídas neste processo não necessariamente vinculam-se ao discurso
oficial e a produção acadêmica sobre a antiguidade do homem americano ou sobre a
importância das pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara. Mas sim
buscam perceber e divulgar o que a comunidade, não acadêmica, identifica enquanto
bens relevantes graças à sua ontológica e afetiva vinculação com a memória
(individual e coletiva) e a vida das pessoas que hoje vivem no município.
Deste modo, nosso interesse é oportunizar que novas interpretações, ou leituras,
sobre o passado e o patrimônio local sejam construídas e divulgadas, dando
visibilidade as identidades locais, bem como as narrativas e saberes tradicionais que
vem sendo historicamente negligenciados. Nesse movimento, serão discutidas e
promovidas diferentes ações visando um levantamento dos bens patrimoniais do
município, a partir das memórias e dos anseios da comunidade local. Para tanto serão
realizados levantamento de dados etnográficos junto aos moradores dos bairros
próximos ao Campus Serra da Capivara (em especial as comunidades dos bairros
Aldeia, Campestre, Ingazeira e Santo Antônio), oficinas de fotografia, exposição de
fotos e objetos escolhidos pela comunidade local.

1 Univasf, discente do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (Bolsista Proex),


Campus Serra da Capivara – São Raimundo Nonato, thorgabriel1997@gmail.com .
2Univasf, discente do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (voluntário),

Campus Serra da Capivara – São Raimundo Nonato, reis.breno@hotmail.com .


3 Univasf, discente do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (voluntário),

Campus Serra da Capivara – São Raimundo Nonato, davifr20@hotmail.com .


4 Univasf, discente do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (voluntário),

Campus Serra da Capivara – São Raimundo Nonato, leoujs65@hotmail.com .


5 Univasf, discente do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (voluntário),

Campus Serra da Capivara – São Raimundo Nonato, magalhaes.rafael@outlook.com .


6 Univasf, docente do Colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial (orientador),

Campus Serra da Capivara – São Raimundo Nonato, alencar.amaral@univasf.edu.br .


Apesar da Constituição brasileira promulgar que a “identidade, a ação, a memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (BRASIL, 2003, p.97) devem
ser considerados para a definição, preservação e divulgação do patrimônio cultural
nacional, diversos autores (ABREU, 2007; ALMEIDA, 2002; FUNARI, 2007, HORTA,
1999) tem discutido como ao logo dos últimos anos tem prevalecido uma perspectiva
elitista e limitada sobre este tema. Para superação desses problemas, acreditamos
serem necessárias ações que democratizem os parâmetros e mecanismos de
definição do que venha a ser o patrimônio cultural, ou os bens patrimoniais, de uma
determinada comunidade; estimulando assim a reflexão e o pensamento crítico sobre
esses conceitos.
Como discutido por Halbwachs (1990, p.51), construímos nossas lembranças e
representações sobre os fatos e objetos por intermédio das relações sociais e das
memórias das pessoas que nos cercam. Assim sendo, o nosso lembrar e as maneiras
como percebemos e vemos o que nos cerca se constituem a partir desse emaranhado
de experiências.
Portanto, acreditamos que nossa compreensão a respeito do passado e dos bens de
valor histórico, arqueológico e cultural, pode ser expandida quando nos predispomos a
valorizar o que a comunidade local tem a dizer sobre eles. Como discutido por Hodder
(1999), cada vez mais é preciso que a Arqueologia, e as ciências de modo geral,
abrace a diversidade metodológica e teórica; e permita que a “interpretação” do
passado esteja aberta para outras vozes, sem com isso abandonar a necessária
coerência e plausibilidade entre dados, contextos e interpretações.
Como discutido por Hodder (1999), cada vez mais é preciso que adotemos uma
postura reflexiva, relacional, interativa e multivocal, diante das demandas de diversos
grupos acerca do passado e do patrimônio. Este quadro exigiria o fomento de uma
Arqueologia reflexiva, relacional e interativa que tem como objetivo incorporar
múltiplas vozes no discurso produzido sobre os bens patrimoniais e sobre o passado.
Em outras palavras, sob a égide desta abordagem busca-se reconhecer que os relatos
a respeito do passado e do patrimônio desempenham um importante papel na
formação de identidades de grupos e indivíduos; e, assim sendo essas pessoas
devem ter direito de formular a sua interpretação alternativa sobre seu passado e
patrimônio cultural.
Para tanto, Hodder (1999) ressalta a necessidade envolver a comunidade local na
definição, preservação e divulgação do patrimônio cultural. De acordo com o autor,
este é um movimento decisivo na tentativa de inserir a produção do conhecimento em
estruturas mais democráticas e éticas. Ou seja, para se afastar dos perigos do
“eurocentrismo e do colonialismo” os cientistas devem incorporar em suas atividades
(práticas e teóricas), meios que promovam a multivocalidade e a valorização do
pluralismo, tornado possível assim uma abordagem inclusiva.

2. OBJETIVOS
Geral: Promover reflexões sobre a formulação e valorização do patrimônio cultural e
da memória no município de São Raimundo Nonato – PI através de uma perspectiva
multivocal pautada na colaboração e participação de docentes, discente e membros da
comunidade envolvente.
Específicos:
Identificar junto a comunidade envolvente do campus Serra da Capivara os bens
patrimoniais locais. Realizar o levantamento etnográfico nos bairros Aldeia,
Campestre, Santo Antônio e Ingazeira, com vistas a registrar as narrativas (memórias)
dos moradores locais a respeito do passado e do patrimônio cultural do município.
Estabelecer um trabalho colaborativo entre equipe técnica e comunidade. Promover
oficinas de fotografia. Criar um banco de dados com as informações coletadas ao
longo do trabalho.

3. METODOLOGIA
Na tentativa de alcançar os objetivos anteriormente expostos lançamos mão de duas
vertentes metodológicas a primeira embasada na pesquisa etnográfica e a outra
voltada à pesquisa-ação.
O levantamento etnográfico pode ser definido como a transcrição das culturas
possibilitada pela atividade de observação; é, antes de tudo, “escrever o que vemos”
(LAPLANTINE, 2004, p. 10). Praticar a Etnografia é elaborar uma descrição mais
densa sobre o que um grupo de pessoas faz e pensa, e analisar o significado que
determinados atos ou objetos tem para elas, considerando o contexto em que vivem
(GEERTZ, 1989).
Já a escolha pelos preceitos metodológicos da pesquisa-ação recai na convicção de
que produção acadêmica e comprometimento social podem caminhar juntos,
contribuindo para a transformação prática de uma dada realidade. Desta forma a
pesquisa-ação é entendida como: “um tipo de pesquisa social com base empírica que
é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da
situação ou problema esta envolvidos de modo cooperativo ou participativo”
(THIOLLENT, 1986, p.14).
Assim, acreditamos que o emprego destes preceitos teórico-metodológicos nos
permitem promover ações que contribuam para a valorização da memória e do
patrimônio cultural local; possibilitando a elaboração de discursos mais democráticos e
multivocais sobre o passado e sobre os bens patrimoniais do município de São
Raimundo Nonato. Do ponto de vista prático, com o intuito de fomentar atividades que
contribuam para a valorização da memória e do patrimônio cultural local,
oportunizando o protagonismo de diferentes atores sociais no processo de produção,
transmissão e divulgação do conhecimento sobre os bens patrimoniais, realizamos,
tanto as ações vinculadas ao levantamento etnográfico (entrevistas, formatadas na
forma de material audio-visual), quanto oficinas de fotografia e exposições temporárias
de fotos e objetos escolhidos pela comunidade local.

4. RESULTADOS
Inicialmente, foram realizados encontros o intuito de discutir as diretrizes teórico e
metodológicas que fundamentam as atividades previstas no projeto. Assim os
discentes realizaram leituras direcionadas e apresentaram seminários que versavam
sobre temas como patrimônio e metodologia para o levantamento e registro de dados
etnográficos. Também foram debatidos e redefinidos os procedimentos para
realização das oficinas de fotografia e registro das entrevistas. A partir de sugestões
formuladas pelos discentes definiu-se que as oficinas de fotografias, bem como o
registro fotográfico dos bens patrimoniais locais, deveriam ser realizadas com o uso de
telefones celulares e não com câmeras fotográficas. Esta mudança permitiu a
participação de um maior número de pessoas (visto que os laboratórios do campus
Serra da Capivara dispõe de poucas máquinas fotográficas), e maior liberdade e
tempo de duração na capitação das imagens. Deste modo, foram pensadas e
repassadas aos alunos algumas técnicas simples de fotografia que poderiam melhorar
a qualidade das imagens captadas por aparelhos celulares e que os discentes
deveriam repassar as pessoas da comunidade durante as oficinas de fotografia. Entre
essas técnicas as mais relevantes são controle da iluminação (opção pela iluminação
difusa, no qual objetos e/ou pessoas recebem luz de forma indireta; evitar contraluz,
uso de flash, claridade excessiva ou muito baixa) e aplicação da “regra dos terços”
para melhor disposição dos elementos em uma foto, de forma que eles fiquem mais
bem distribuídos (para isso, é preciso dividir a tela mentalmente em nove partes e
tentar enquadrar o elemento principal em um dos quatro pontos centrais. No caso dos
celulares é possível configurar os aparelhos para ativar as linhas na tela no momento
da foto; algo que foi realizado durante as oficinas de fotografia). Quanto ao registro
das entrevistas, optou-se na sobreposição de duas metodologias: inicialmente foram
realizadas entrevistas livres/informais, com o intuito de identificar os temas e objetos
considerados relevantes pelos moradores/colaboradores (patrimônio cultural local);
num segundo momento, foi realizado o registro audiovisual das entrevistas com o
objetivo de produzir alguns filmes de curta metragem. Neste segundo caso, os
discentes tiveram que assumir tanto o papel de “entrevistadores” (conduzindo a
conversa e realizando as perguntas) quanto a responsabilidade do registro
audiovisual.
No bairro Ingazeira, contamos com a colaboração da senhora Maria Vani da Silva e do
senhor Waldimir Ribeiro dos Santos, dois dos moradores mais antigos da localidade.
Além de concederem as entrevistas que deram origem aos curta metragens, ambos
foram responsáveis por selecionar uma série de objetos considerados importantes pra
sua história familiar e da localidade.

Também foi por intermédio da Sra. Vani e do Sr. Waldimir, que entramos em contato
com outros moradores da comunidade para a realização da oficina de fotografia.

Também ficou estabelecido que as pessoas que participaram das oficinas,


conversariam com outros moradores da localidade tanto para explicar as técnicas de
fotografia quanto para solicitar que os mesmos registrassem seus “olhares” sobre a
localidade. Sendo que essas fotografias, como vemos abaixo, vem sendo recolhidas
periodicamente (mensalmente) pelo bolsista e voluntários do projeto.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada vez mais os arqueólogos, especialmente os vinculados à chamada Arqueologia
Pública, vem ressaltando a necessidade de formularmos novas estratégias e
perspectivas não só para publicização do saber, como também para uma construção
mais democrática e multivocal do conhecimento e de nossas categorias de patrimônio.
Assim, poderemos contribuir não apenas para que a comunidade local tenha acesso
ao conhecimento produzido sobre o patrimônio cultural, mas também torná-la co-
partícipe no desenvolvimento de pesquisas que nos auxiliem a identificar e
compreender esse patrimônio. Deste modo, as atividades desenvolvidas além de nos
permitirem compartilhar algumas técnicas de fotografia e reflexões sobre a valorização
do patrimônio cultural, nos deram a oportunidade de conhecer um pouco mais da
história dos moradores do entorno do Campus Serra da Capivara, de ouvir os “causos”
de antigamente e ver os objetos que estão associados a esses acontecimentos, ou
que tem valor sentimental e simbólico para nossos interlocutores. Além disso, as fotos
enviadas pelos colaboradores locais tem reafirmado a necessidade de defendermos
um conceito polissêmico de patrimônio, bem como revelado a diversidade e beleza
que cercam nosso campus e que nem sempre percebemos quando nos limitamos
pelos “olhares” da academia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, R.M.R.M. Patrimônio cultural: tensões e disputas no contexto de uma nova
ordem discursiva. IN: Apostila Seminários Temáticos: Arte e Cultura Popular. 1º
Edição. Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, pág. 54-63. 2007.
ALMEIDA, Márcia Bezerra. O Australopiteco Corcunda: as crianças e a
arqueologia em um Projeto de Arqueologia Pública na Escola. 2002. Tese
(Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Arqueologia - Universidade de São
Paulo/USP, São Paulo, 2002.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988.
FETTERMAN, Davis M. Ethnography step by step. 2. ed. Londres: Sage Publication,
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia e Patrimônio. Erechim Habilis, 2007.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice. 1990.
HODDER, I. The Archeological Process: an introduction. Oxford: Blackwell
Publishers. 1999.
HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane
Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional/Museu Imperial, 1999.
LAPLANTINE, François. A descrição Etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004.
MATTOS, Carmen L.G. A abordagem etnográfica na investigação científica UERJ.
(2001).
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez: Autores
Associados, 1986. 108 p.

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