ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
-EMERJ-
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A
CARREIRA DA MAGISTRATURA
PROGRAMA DO CURSO
CPIII C 2 2018 – TÉCNICA DE SENTENÇA
As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 23/8, 25/9 e
23/10.
SESSÃO III: Dia 25/9/2018 - 18h às 19h 50min
Prof. Dr. Octavio Chagas de Araujo Teixeira
TEMA: Direito Empresarial. Cheque. Discussão sobre prescrição. Ação de
enriquecimento contra emitente de cheque devolvido.
CASO CONCRETO:
Trata-se de ação de enriquecimento sem causa ajuizada por Maria
Letícia de Almeida em face de Banco Nacional de RH Ltda., em que a autora alega que é credora da ré da quantia de R$ 70.000,00, representada pelo cheque n. 0101, de emissão contra o Banco Santander, datado de 31 de agosto de 2014. Narra a autora que o cheque deveria ser apresentado no prazo de 30 dias, levando em consideração a data de sua emissão. Entretanto, a apresentação, que fora adiada em virtude de pedido do réu, apenas ocorreu em 19 de abril de 2015, quando o cheque foi devolvido pelo motivo 21 (contra ordem ou sustação do pagamento), conforme se vê no carimbo estampado em seu verso. Dessa forma, a autora procurou o réu inúmeras vezes, na esperança de receber amigavelmente, todavia não logrou resolver o impasse. Observa-se, portanto, que a situação de inadimplência gerou prejuízos de ordem material, além de um enriquecimento sem causa, que não pode permanecer no ordenamento jurídico. Tal fato é de gravidade suficiente para receber tipificação na esfera penal. A autora sustenta que a ação cambiária, cujo espeque reside na legislação específica, foi proposta tempestivamente, e a prova do prejuízo é feita pela simples exibição do título, de modo que será ônus do devedor demonstrar qualquer matéria ou fundamento em sentido contrário. Ademais, é necessário considerar que, conforme prevê o art. 395 do Código Civil, o devedor responde pelos prejuízos a que sua mora der causa, com juros e atualização monetária, a qual deve incidir a partir do vencimento do débito, uma vez que há, na lide, questão referente à dívida líquida e certa. Maria Letícia de Almeida, tendo em vista os fatos narrados e os fundamentos de direito invocados, pede que o réu seja condenado a pagar R$ 70.000,00, com juros e correção monetária, além de custas e honorários advocatícios. Em contestação, Banco Nacional de RH Ltda., previamente, suscita a existência de prescrição, uma vez que a demanda foi ajuizada em 3 de fevereiro de 2017, sem que fosse observado o prazo de dois anos. É certo que esse prazo bienal deve ser contado a partir da perda da força executiva, que, por sua vez, leva em consideração a emissão do cheque (art. 59 da Lei do Cheque), ocorrida em 10 de maio de 2014. A data que consta no título é, portanto, despicienda. Sustenta o réu que o cheque não foi apresentado no prazo de 30 dias, por isso, ao perder a força executiva, a demanda não poderá ter natureza cambiária, motivo pelo qual a apresentação do título não é suficiente para embasar o pedido autoral, haja vista que terá o imprescindível espaço a discussão referente à matéria fática que embasou a emissão do cheque. Dessa forma, o réu acredita que a autora não logrou demonstrar nenhum fato constitutivo de seu direito, ônus que lhe cabia, nos termos do art. 373, I, do CPC. Além disso, o réu alega já ter quitado qualquer débito contraído com a autora no passado, o que descaracteriza o enriquecimento sem causa, e, consequentemente, o direito em que se funda a ação. A imprescindibilidade no que tange à verificação da causa debendi retira a liquidez, a certeza e a exigibilidade do título, descaracterizando-o, além de impedir,por conseguinte, qualquer sucesso na cobrança almejada. A falta de documentos essenciais na presente ação ordinária de cobrança - já que não se vislumbra natureza cambiária no caso - retira do julgador a capacidade de conceber os fatos. Banco Nacional de RH Ltda., pelos motivos expostos, caso o mérito seja apreciado, manifesta-se pela improcedência do pedido. Requer, ainda, a condenação da autora em custas e honorários. A petição inicial se encontra instruída com o cheque mencionado, a fls 33. O réu não trouxe nenhuma prova acerca de uma possível quitação nem demonstrou documento referente a outro negócio jurídico. Enfrente as questões suscitadas e elabore a sentença. Não há necessidade de relatório.