O caráter é a expressão do funcionamento do individuo tanto no âmbito psíquico,
quanto no somático: sua compreensão exige um conhecimento exaustivo do ego
(ALEXANDER LOWEN). O ego é, fundamentalmente, uma percepção subjetiva do self, enquanto que o caráter e a personalidade são apreciações objetivas (Alexander Lowen). O indivíduo neurótico se identifica com seu caráter, do qual o ego ideal também faz parte. O sorriso encobre uma camada bastante profunda de negativismo e ressentimento. Nem o bom menino, nem o mau menino conseguem ter êxito na vida adulta. O que precisamos é do homem. Uma pessoa se identifica com seu caráter e não o questiona enquanto este o habilita a funcionar de modo não muito conflituoso em seu meio social. Se o caráter não consegue assegurar esse funcionamento, ela questionará primeiramente as exigências de seu ambiente. É somente um fracasso repetido e uma profunda insatisfação que farão com que o indivíduo duvide de seu modo de ser e agir. O caráter oral é caracterizado pelo desejo e prazer de falar. Essa necessidade de expressão verbal é acompanhada de um alto grau de inteligência verbal.Sua habilidade intelectual não é refletida em nenhuma realização concreta, mas a despeito disso, o oral tem uma imagem egóica exagerada de si mesmo. A nível mais profundo é difícil a percepção de um desejo. O caráter oral dirá frequentemente: " não sei o que eu quero". Desejos materiais são raramente importantes. São relutantes em aceitar a realidade e a necessidade de luta pela vida. O oral espera alcançar o que deseja, de certo modo, sem precisar se esforçar por isso; assim consegue evitar a temida decepção. Outra característica do caráter oral são sentimentos de vazio interior. Um urgência obstinada em falar, esforço intenso, hostilidade, impaciência, e finalmente, um apetite morbidamente intenso por comida e um inclinação por várias formas de perversões orais. Infelizmente, muito desses traços não são típicos do puro caráter oral mas, sim, devidos a uma mistura de supressão e frustração com uma privação precoce e severa. A própria estrutura do caráter oral deriva de uma imobilização do impulso agressivo. Qualquer criança que chore ao ponto da exaustão, só para porque a agonia e a dor se tornam intoleráveis. O choro reprimido é experienciado como uma tensão insuportável na barriga. A criança que se esvai no choro, aos poucos vai enrijecendo seu desejo de ter a mãe. A neurose não se desenvolve a partir de uma única experiência traumática, sim de um padrão de repetidas privações. Desenvolve-se o caráter oral quando a necessidade de ter a mãe é reprimida antes que as necessidades orais sejam satisfeitas. O ego desistiu de sua demanda consciente por mais suprimentos. Mas as necessidades orais insatisfeitas ainda estão ativas, ao nível inconsciente. A repressão da vontade de ter a mãe produz uma criança prematuramente independente. Essas crianças jamais terão segurança nas pernas. É precário seu senso de equilíbrio. Suas mães se queixam de que caem frequentemente e estão sempre tropeçando em objetos bem visíveis. Se parecer que um indivíduo é fixado no estágio oral por superindulgência, investigações adicionais muitas vezes revelarão uma falta severa de apoio maternal inicial. Não há quantidade de brinquedos, roupas ou atenção a vontades matérias que possam substituir para uma criança a ausência de contato físico e de afeto com a mãe. Poderia dar a impressão de que conseguem tudo o que querem e que nunca estão satisfeitos. O que realmente querem, contato com o corpo da mãe, foi negado; sendo reprimido tal desejo nada os fará felizes. Não se pode proporcionar o amor da mãe ou mesmo um substituto adequado para ele. Mas mesmo que isso fosse possível, não resolveria o problema. Esses pacientes não são mais crianças e é necessário um padrão adulto de funcionamento. Devem ser desenvolvidas e fortalecidas raízes que permitam o funcionamento integral de uma existência independente. Isso é realizado em dois níveis. Psicologicamente, as resistências devem ser analisadas e eliminadas de modo que o paciente possa formar relacionamentos adequados no trabalho e no amor. O medo da rejeição, do abandono, da dor física é real. Um desmame precoce ou tardio gera oralidade. Um bloqueio ocorrido durante a fase oral torna o indivíduo dependente e sempre com medo da perda. O oral admite a dependência ou a compensa na fantasia. Um tipo de resistência oral é a resistência intelectual. Uma avidez por conhecimento enganadora. Suas teorias são vazias. Contrastam frases complexas com significados limitados. Apenas aqueles que trituram seu alimento mental tão completamente a ponto de apreender todo seu valor serão capazes de assimilar e colher o benefício de uma idéia ou situação difícil. Todos aumentarão muito mais o seu conhecimento e sua inteligência lendo um bom livro seis vezes do que lendo seis bom livros ao mesmo tempo. A mastigação se aplica igualmente à crítica: se alguém é sensível e sua agressão dental projetada toda crítica é experienciada como um ataque. Quando, entretanto, a agressão dental está funcionando biologicamente, a crítica é bem vinda. O desejo de nos controlarmos resulta da cooperação insuficiente entre organismo e função egóica. Se alguém, por exemplo, decide que a defecação é um incômodo e seus intestinos tem que fazer o que ele quer, essa atitude controladoraé uma má aplicação das funções egoicas. A vontade se origina da negação.