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O PROBLEMA DA RACIONALIDADE DAS CRENÇAS RELIGIOSAS: EM


BUSCA DE UM MODELO EPISTÊMICO A PARTIR DAS CIÊNCIAS
COGNITIVAS DA RELIGIÃO1

José Aristides da Silva Gamito2


Resumo

As discussões sobre a racionalidade da fé ganharam força nova com o advento da


Epistemologia Reformada. Alvin Plantinga, o principal epistemólogo desta corrente,
defende que existe uma faculdade especial humana para produção de crenças religiosas.
A contribuição recente das Ciências Cognitivas da Religião (CCRs) salienta outros
dados do processo, demonstrando o fundamento biológico da produção de crenças. As
suas correntes podem fornecer dados teóricos para um modelo de compreensão da
racionalidade da fé.

Palavras-chave: Crenças teístas. Deus. Epistemologia Reformada. Ciências Cognitivas


da Religião.

Abstract

Discussions about the rationality of faith gained new relevance with the advent of
Reformed Epistemology. Alvin Plantinga, the main epistemologist of this school, argues
that there is a special human faculty for producing religious beliefs. The recent
contribution of the Cognitive Sciences of Religion (CSR) highlights other data from the
process, demonstrating the biological basis of belief production. Their currents can
provide theoretical data for a model of understanding of the rationality of faith.

Key-words: Theistic beliefs. God. Reformed Epistemology. Cognitive Sciences of


Religion.

1. Introdução

A discussão sobre a racionalidade da fé voltou a ocupar a atenção de acadêmicos


e da sociedade em geral. Um fenômeno popular recente é a literatura. Em 2013, Rice
Broocks lançou o livro “Deus não está Morto”, provocando muito entusiasmo em
muitos católicos e evangélicos. Em 2016, foi publicado o segundo volume da obra. A
proposta dos livros se tornou filme. O conjunto da obra funcionou como uma forte
campanha apologética cristã frente ao ceticismo da sociedade contemporânea. Este

1
Comunicação apresentada no I Seminário de Epistemologia da Religião realizado no dia 21 de junho de
2019, no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário, Caratinga, MG.
2
Licenciado e bacharel em Filosofia, especialista em Docência do Ensino Básico, Docência do Ensino
Superior, Língua Latina e Filologia Românica e mestre em Ciências das Religiões. E-mail:
joaristides@gmail.com.
2

acontecimento dentre outros, como o avanço do neopentecostalíssimo no Brasil, nos


mostra que esta preocupação é muito atual. Porém, muitas vezes as abordagens fora da
academia se encerram num fideísmo ingênuo.
Queremos nos aproximar de algumas respostas que a academia nos dá no terreno
da Teoria do Conhecimento. Este é o objeto da Epistemologia da Religião como
subdisciplina da Teoria do Conhecimento. A Epistemologia da Religião é um campo
interdisciplinar da filosofia que debate a produção e a justificação das crenças e do
conhecimento religioso. A preocupação que move esta área do saber é a verificar se a
crença religiosa é racional ou não. Sendo sua principal tarefa a discussão de como pode
ser justificado o conhecimento religioso.
A crença na existência de Deus é a primeira destas crenças a serem debatidas. A
partir do debate epistemológico da crença em Deus se justifica as demais crenças
porque a maioria dos sistemas religiosos constrói suas crenças a partir da admissão da
existência de uma divindade. O caso parece não se aplicar ao budismo, por exemplo,
mas se trata de uma exceção rara.
Embora, a Epistemologia da Religião seja uma área nova no campo da filosofia.
A discussão sobre a relação entre fé e razão teve início logo no início do cristianismo.
Quando houve o encontro entre filosofia e fé cristã surgiu a necessidade de explicar a
racionalidade da fé. O período medieval aprofundou o debate e o início da modernidade
o relegou, colocando-o em segundo plano por causa da supervalorização da razão.
Depois do domínio do pensamento positivista, ocorreu na segunda metade do século
XX um retorno ao estudo acadêmico da fé na academia.

2. O status da questão

A relação entre fé e razão sempre ocorreu em desequilíbrio. Os medievais


privilegiaram a fé e puseram a razão a seu serviço. A modernidade decretou a
irracionalidade da fé, entronizou a razão e reduziu o conhecimento religioso à simples
argumentação. Ao longo do tempo, foram surgindo as mais diversas posições sobre esta
relação. Existem várias posições epistemológicas para situar esta proposição. Vamos
apontar as três básicas: O fideísmo, o evidencialismo e a Epistemologia Reformada.
O fideísmo se apresenta como uma posição que não enfrenta ou não se preocupa
com as teses contrárias à racionalidade da fé. Segundo esta perspectiva, o crente está
moralmente justificado a sustentar as crenças teístas na contramão de evidências ou sem
3

qualquer apoio empírico. Stephen Evans apresenta uma versão moderada do fideísmo
chamado de “fideísmo responsável”. Ele argumenta que o raciocínio humano tem a
tendência em falhar como resultado do pecado e que a fé pode melhorar esta condição.
Sendo assim, as crenças teístas diante de um descrente parecem irracionais, mas, de
fato, não são.3
O evidencialismo afirma que a crença em Deus estará racionalmente justificada
se houver uma boa evidência para isso. Esta abordagem considera que só podemos
admitir alguma asserção como conhecimento se houver evidência. Considerando que a
regra vale para todos os campos, então, é aplicável também à crença na existência de
Deus. Portanto, os evidencialistas procuram formular provas da existência de Deus e
argumentam sobre seus atributos. Eles utilizam também argumentação para se
defenderem das objeções mais comuns contra a existência de Deus como o problema do
mal e a ocultação da divindade.4
A partir da publicação de Faith and Rationality, em 1983, de Alvin Plantinga e
Nicholas Wolterstorff, acontece uma retomada de um debate racional para as crenças
religiosas no campo da filosofia. Tomaremos este fato como um marco histórico para o
atual debate da Epistemologia da Religião. Esta corrente ficou conhecida como
Epistemologia Reformada. Segundo estes epistemólogos, algumas crenças teístas são
propriamente ou imediatamente básicas. Elas não dependem de outros argumentos ou
evidências para serem justificadas.5 Esta epistemologia procura afirmar que a crença em
Deus é racional mesmo se ela não for inferida a partir de nenhuma outra crença.6
Uma crença é considerada básica quando “ela dispensa o uso de argumentação
para ser justificada epistemicamente. Em outras palavras, ela não necessita ser inferida
de outras verdades para que seja racional, seja razoável ou justificada, porque é
justamente básica. Ela não é justificada por evidências (no sentido de outras verdades ou
crenças), mas, ao contrário, é evidência ou premissa para outras crenças.” 7 Esta é a via
de solução encontrada pela Epistemologia Reformada para a garantia da racionalidade
da fé.

3
DOUGHERTY, Trent; TWEEDT, Chris. Religious Epistemology. Philosophy Compass, 10 (8), 2015, p.
547-559.
4
DOUGHERTY; TWEEDT, 2015, p. 547-559.
5
DOUGHERTY; TWEEDT, 2015, p. 547-559.
6
MCALLISTER, Blake; DOUGHERTY, Trent.Reforming reformed epistemology: a new take on the
sensus divinitatis. Religious Studies: 1-21, 2018, p. 1-38.
7
OLIVEIRA, Rogel Esteves. A racionalidade da crença religiosa, um mapa do debate filosófico atual.
Revista Batista Pioneira, v. 2, n. 2, 2013, p. 265-288.
4

Alvin Plantinga elaborou o modelo Aquino-Calvino para justificar a sustentação


das crenças religiosas como básicas. A existência de Deus já pressupõe a existência de
uma faculdade específica para identificá-lo. Plantinga considera que temos uma
faculdade específica para a crença em Deus. Esta faculdade é o sensus divinitatis. As
crenças religiosas produzidas pela mente humana são básicas e têm sua justificação
garantida.8 As crenças do cristianismo funcionariam corretamente dentro de um
ambiente epistêmico, ou seja, não viola nenhum princípio racional, e preenche os
requisitos de verdade.
O sensus divinitatis serve para sustentar que todas as culturas possuem crenças
religiosas por causa de uma faculdade natural. Mas ela não se desenvolve com os
mesmos conteúdos em todas as pessoas porque depende de circunstâncias específicas.
Como funciona, então, o sensus divinitatis? De acordo com a concepção de Plantinga,
ele funciona como um dispositivo de entradas (inputs) e saídas (outputs). As
circunstâncias como um pôr-do-sol, um campo florido, um céu estrelado, entram na
mente e o dispositivo as processa gerando crenças teístas como saídas. Deste modo, as
circunstâncias precisam ser favoráveis para a produção de crenças teístas.9
Por sua vez, outro representante da Epistemologia Reformada, William Alston,
não recorre à existência de uma faculdade específica, seu foco de atenção é a
experiência. Ele defende que algumas formas de experiência justificam imediatamente a
crença em Deus. As crenças surgem a partir da percepção que as pessoas têm de Deus.
Então, a crença na existência de Deus é considerada uma crença perceptiva. Muitas
pessoas, presumivelmente, percebem Deus e suas experiências místicas são tomadas
como fonte de justificação.10
A alegada consciência direta de Deus é fonte de muitas crenças religiosas.
Muitas crenças não decorrem diretamente de um raciocínio, mas da percepção de algo
identificado como divino que se manifesta à consciência do indivíduo.11 A percepção
mística difere da percepção sensorial que pode ser privada, com acesso restrito e fornece
poucas informações. A percepção mística é admitida por Alston como um tipo
específico de percepção. Uma grande quantidade de religiões se fundamenta e se
8
MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
9
MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
10
JÄGER, Christoph. Religious experience and epistemic justification: Alston on the reliability of
mystical perception. In: MOULINES, Carlos Ulises; NIEBERGALL, Karl-Georg (ed.). Argument und
Analyse. mentis. 2003, p. 403-423.
11
SILVEIRA, Rodrigo Rocha. Práticas doxásticas, experiência mística e crenças originárias: um problema
na epistemologia de William Alston. Fundamento - Revista de Pesquisa em Filosofia, n. 13, 2016, p. 95-
105.
5

sustenta a partir de experiências místicas. Dentro desses espaços sociais, essas práticas
doxásticas são consideradas confiáveis e se tornam base de justificação.12
A percepção mística é encontrada nos grandes monoteísmos. No cristianismo,
uma rede de crenças é sustentada na percepção mística. O aparecimento do anjo Gabriel
a Maria é uma experiência fundante para a crença na encarnação de Jesus. Paulo teve
uma experiência a caminho de Damasco. A visão da sarça ardente é fundamento de
muitas crenças judaicas. Maomé fundamenta sua crença na unicidade de Deus a partir
de uma revelação do anjo Gabriel. Portanto, a própria crença em Deus se fundamenta
nesse tipo de experiência.
Na teoria de Alvin Plantinga, as experiências místicas funcionam como
princípios estimuladores do sensus divinitatis. Mas a percepção não é a fonte produtora
das crenças religiosas. Já para William Alston, a percepção é fonte deste tipo
conhecimento. Mas, é claro, trata-se de um tipo particular de percepção, que é a
percepção mística. Os dois recorrem a mecanismos e a experiências diferenciadas para
garantir a excepcionalidade das crenças religiosas. O mesmo não ocorre com as teorias
das Ciências Cognitivas das Religiões.

3. A resposta das Ciências Cognitivas da Religião à Epistemologia Reformada

As Ciências Cognitivas da Religião partem dos pressupostos de que os conceitos


religiosos devem ser investigados a partir das mesmas restrições e dos mesmos
procedimentos dos demais conceitos. Esses conceitos não constituem um domínio
específico.13Os defensores do sensus divinitatis explicam a presença de crenças
religiosas em todas as culturas dizendo que há uma faculdade na mente humana
específica para a produção delas. Neste caso, os cognitivistas buscam nos mecanismos
da evolução pistas para compreender a universalidade deste fenômeno. É um tratamento
natural e não excepcional.
De acordo com esta abordagem, o sistema cognitivo humano desenvolveu-se por
seleção natural. As funções cognitivas adaptativas têm sido utilizadas pelas Ciências
Cognitivas da Religião para explicar a presença de crenças religiosas na pluralidade das
culturas. Há uma crença primária que pode ser observada em vários povos que é a

12
SILVEIRA, 2016, p. 95-105.
13
BOYER, Pascal, RAMBLE, Charles. Cognitive Templates for Religious Concepts. Cognitive Science,
v. 25, n. 4, p. 535-564, 2001.
6

crença em agentes sobre-humanos. Esta crença está no fundamento da produção das


demais crenças religiosas. Ela se desenvolveu a partir de um comportamento natural do
ser humano.
A contribuição para entender este fenômeno vem da psicologia evolutiva.
Algumas funções cognitivas originais podem ser adaptadas para outras finalidades
gerando um subproduto. Apresentaremos três propostas gerais: a) a do Dispositivo de
Agência Hiperativa (DDAH) de Justin Barrett e de Scott Atran e Aran Norenzayan; b)
dos conceitos minimamente contraintuitivos de Pascal Boyer e de Charles Ramble, c) e
da tendência animista e antropomórfica de Stewart Guthrie. Este último pode
classificado também como uma forma de DDAH.
Justin Barrett cunhou o termo Dispositivo de Detecção de Agência Hiperativa
(DDAH) para designar uma função cognitiva humana. Para Barrett, a maioria das
pessoas acredita em agentes sobrenaturais a partir do desenvolvimento deste
dispositivo.14O nosso dispositivo cognitivo da detecção de agentes na natureza sofre de
uma hiperatividade, que o faz tender a encontrar agentes ao nosso redor. Eles são
desenvolvidos a partir da percepção de um barulho à noite, de objetos que se movem
sozinho, de vestígios nas plantações. A resposta a estas percepções é a detecção de um
super-agente que foi tomada na forma de um gnomo, espírito ou de um deus.15
Para Scott Atran e Aran Norenzayan, as crenças religiosas se originaram a partir
da detecção de agentes contraintuitivos ou contrafactuais. Eles denominam o DDAH de
Sistema de Detecção de Agência (SDA). De modo similar ao DDAH, SDA funciona a
partir da atribuição de super-agentes a percepções de rostos nas nuvens, de pontos se
movendo, das formas geométricas na natureza e plantas sendo movimentadas pelo
vento. As emoções e atribuições das pessoas diante destes fatos geram a crença em
agentes sobre-humanos.16
Pascal Boyer e Charles Ramble consideram que o conhecimento religioso é
formado por conceitos com violações de expectativas. São crenças em espíritos que
atravessam os corpos sólidos e estão presentes simultaneamente em dois lugares. Há
alterações do ciclo da vida como seres eternos, virgens-mães, ressurreições. Há violação

14
LISDORF, Anders. What’s HIDD’n in the HADD? – A cognitive conjuring trick? Journal of Cognition
and Culture, 7(3-4), 2007, p. 341-353.
15
LISDORF, 2007, p. 341-353.
16
LISDORF, 2007, p. 341-353.
7

da noção de tempo com a previsão de fatos futuros. Ou a animação de estátuas que


ganham poderes de ouvir preces.17
A violação das propriedades físicas envolve a rupturas das leis naturais, da
gravidade, da propriedade dos sólidos, do ciclo da vida. Há a formação de crenças em
seres invisíveis, que atravessam paredes, aparecem e desaparecem, conhecem o futuro e
alteram as relações de causa e efeito. Os milagres são quebras de expectativa, nas quais
a relação de causa e efeito é alterada. A toxina das cobras danifica os tecidos e provoca
a morte de um homem. Mas quem recorre a um ritual xamânico para salvar alguém de
picada de cobras considera que esta relação de causa e efeito pode ser desfeita.
As crenças religiosas se desenvolvem a partir da violação de expectativas e de
conceitos contraintuitivos. São constituídas por experiências que envolvem seres ou
eventos que não seguem as leis da natureza, rompendo com suas propriedades e com a
relação de causa e efeito. São conceitos contraintuitivos porque fogem à intuição do que
seria um comportamento normal da natureza ou das coisas.Asfunções cognitivas
comuns de contato com o ambientesão superativadas e geram produtos como seres e
eventos sobrenaturais.
Stewart Guthrie também defende um tipo de detecção de agentes. Ele o toma
não como uma função cognitiva, mas somente perceptiva. Conforme a teoria de
Guthrie, os seres humanos tendem a olhar para a natureza como coisa viva (olhar
animista). Além de animar a natureza, eles atribuem intencionalidade às formas que
vêem. A atribuição de intencionalidade para a maior das coisas na natureza era uma
estratégia de defesa de nossos ancestrais. A atitude de que tudo dentro de uma floresta
pode estar à espreitado homem, permite-lhe redobrar atenção e se defender dos casos
em que realmente o predador estava em ação. Neste ponto, entra em ação o dispositivo
de detecção de agentes (DDA) de Justin Barrett.18
Portanto, para as teorias do DDAH e do DAS, a religião é um subproduto das
funções cognitivas humanas. As crenças são produzidas naturalmente, mas não há uma
faculdade específica para a produção delas. Todo o sistema cognitivo está envolvido
neste processo. Sendo que, inicialmente, os comportamentos possuem uma finalidade de
adaptação ao ambiente e que são readaptados para uma função religiosa. Em outras

17
BOYER; RAMBLE, p. 535-564, 2001, p. 535-564..
18
EYGHEN, Hans Van. Religious Cognition as Social Cognition. Studia Religiologica 48 (4) 2015, p.
301–312.
8

palavras, a função inicial da detecção de agentes é identificar predadores na natureza e


como subproduto desta atividade desenvolveu-se a crenças em seres sobrenaturais.19
Se formos considerar os resultados das CCRs a partir da teoria de William
Alston, diríamos que a crença em Deus surge da percepção em situação de
hiperatividade ou de intensificação. Uma experiência mística seria uma percepção direta
de um fenômeno natural com a consciência intensificada de modo a admitir uma quebra
de expectativa sobre a realidade. As principais crenças religiosas foram formadas a
partir deste processo, mas toda experiência como essas resulta em crença religiosa.

4. Aproximação de um modelo a partir do encontro entre Epistemologia


Reformada e as Ciências Cognitivas da Religião

A Epistemologia Reformada e as Ciências Cognitivas da Religião podem juntas


formular respostas adequadas ao problema da racionalidade das crenças religiosas.
Porém, isso implica o abandono de algumas incompatibilidades. As CCRs rejeitam a
faculdade especial de Alvin Plantinga. Mas elas podem dialogar com algumas propostas
de revisão do Modelo Aquino-Calvino. Blake Mcallister e Trent Dougherty
desenvolveram o modelo redutivo. Eles rejeitaram a existência de uma faculdade
especial para se conhecer a divindade. O sensus divinitatis é reduzido a uma subfunção
das faculdades cognitivas fundamentais.20
Mcallister e Dougherty consideram o sensus divinitatis como um mecanismo
cognitivo que produz aparências teístas que, por sua vez, fornecem evidências para
crenças teístas. Os dois pesquisadores retiram a ideia de faculdade especial e debruçam
como as crenças das aparências são formadas. O sensus divinitatis é uma sub-função das
faculdades cognitivas. Ele operado pela racionalidade.21 Neste ponto, há possibilidade
de convergência já que as CCRs consideram a detecção de agentes sobrenaturais como
uma função da mente.
Segundo as CCRs, os fenômenos que envolvem estas crenças religiosas podem
ser concebidos como modelos. As crenças religiosas possuem as seguintes
características gerais: a) elas possuem propriedades físicas contraintuitivas; b) elas
adaptam comportamentos de detecção de predadores a sentimentos religiosos; c) elas

19
LISDORF, 2007, p. 341-353.
20
MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
21
MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
9

atribuem formas e comportamentos humanos à natureza (antropomorfismo). Este


conjunto pode ser aproximado das conclusões da Epistemologia Reformada.

01 – Quadro sintético das teorias em discussão


AUTOR TEORIA FONTE DA CRENÇA RELIGIOSA
Alvin Plantinga Epistemologia Reformada Modelo Aquino-Calvino: Sensus divinitatis
William Alston Epistemologia Reformada Percepção Mística
Mcallister e Epistemologia Reformada Modelo Tuck-Mcallister-Dougherty
Dougherty
Justin Barrett Dispositivo de Detecção de Hiperativação de agentes violadores
Agente
Pascal Boyer Conceitos minimanente Conceitos contraintuitivos
contraintuitivos
Atran e Norenzayan Conceitos minimanente Conceitos contraintuitivos
contraintuitivos
Stewart Guthrie Antropomorfismo Animação e intencionalidade da natureza

A Epistemologia da Religião e as Ciências Cognitivas da Religião fornecem


princípios teóricos para uma compreensão geral da produção de crenças religiosas. A
sustentação de uma faculdade específica para o conhecimento de Deus não é viável. Os
diferentes tipos de conhecimento que temos não possuem faculdades específicas, a não
ser aquelas fontes comuns a todo o processo cognitivo. A percepção, a intuição e a
razão atuam conjuntamente na produção de crenças religiosas.
A percepção é quem capta as entradas de circunstâncias passíveis de produzir
crenças religiosas (Alston). A experiência é fonte dessas crenças. A detecção de agentes
na natureza, a percepção de rostos na nuvem, a atribuição de intencionalidade, a
observação de comportamentos contraintuitivos e contrafactuais (Boyer, Barrett,
Norenzayan), o assombro diante da grandeza arrebatadora e a grandeza destruidora da
natureza (Plantinga), funcionam como entradas (inputs) de experiências que são
convertidas em conceitos como a crença em agentes invisíveis e sobre-natureza.
Os conceitos contraintuitivos e contrafactuais geram, por sua vez, com o auxílio
da imaginação e da razão as saídas (outpusts) como a crença em Deus, em espíritos, em
milagres e no mundo sobrenatural. Essas crenças são os fundamentos dos sistemas
religiosos que se desenvolvem pela cooperação social e a propagação cultural. Portanto,
cada teoria pode contribuir para a formação deste modelo.

5. Considerações finais
10

Neste levantamento de teorias, unimos a Epistemologia da Religião do campo da


Teoria do Conhecimento com as Ciências Cognitivas da Religião que é uma área
interdisciplinar reunindo psicologia e antropologia evolutivas para abordar o problema
do conhecimento religioso. A primeira preocupa-se com a justificação das crenças
religiosas, a segunda procura explica a origem biológico-cultural dessas crenças.
As crenças religiosas apresentam uma racionalidade na sua justificação, mas
caracterizam um tipo de conhecimento específico. Não podem ser ditas como racionais.
A característica mais distinta desse tipo de conhecimento é salientada pelas CCRs: a
admissão de conceitos contraintuitivos. Os conceitos contraintuitivos rompem com as
leis da natureza e com os resultados racionais esperados para os conceitos e
comportamentos mais básicos.
Portanto, o conhecimento religioso é próprio da percepção mística não pode ser
reduzido à racionalidade e nem a outro tipo de conhecimento. As considerações
extremas como fideísmo ingênuo ou o olhar suspeito do iluminismo são vias que
abordam o conhecimento religioso com métodos e instrumentos inadequados.

Referências

BOYER, Pascal, RAMBLE, Charles. Cognitive Templates for Religious Concepts.


Cognitive Science, v. 25, n. 4, p. 535-564, 2001.

DOUGHERTY, Trent; TWEEDT, Chris. Religious Epistemology. Philosophy


Compass, 10 (8), p. 547-559, 2015.

EYGHEN, Hans Van. Religious Cognition as Social Cognition. Studia Religiologica 48


(4), p. 301–312, 2015.

JÄGER, Christoph. Religious experience and epistemic justification: Alston on the


reliability of mystical perception. In: MOULINES, Carlos Ulises; NIEBERGALL, Karl-
Georg (ed.). Argument und Analyse. Mentis, p. 403-423, 2003.

LISDORF, Anders. What’s HIDD’n in the HADD? – A cognitive conjuring trick?


Journal of Cognition and Culture, 7(3-4), p. 341-353, 2007.

MCALLISTER, Blake; DOUGHERTY, Trent. Reforming reformed epistemology: a


new take on the sensus divinitatis. Religious Studies:1-21, 2018.

OLIVEIRA, Rogel Esteves. A racionalidade da crença religiosa, um mapa do debate


filosófico atual. Revista Batista Pioneira, v. 2, n. 2, p. 265-288, 2013.
11

SILVEIRA, Rodrigo Rocha. Práticas doxásticas, experiência mística e crenças


originárias: um problema na epistemologia de William Alston. Fundamento - Revista de
Pesquisa em Filosofia, n. 13, p. 95-105, 2016.
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