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ESTUDO DIRIGIDO
Resı́duos e Pólos
f (z) = 1/z
1
Orientações Gerais
Este estudo dirigido deve servir de material complementar a disciplina e
resolução das listas de exercı́cios propostos, bem como ao trabalho T3 Parte
1 no sistema Moodle. O minucioso estudo do conteúdo aqui presente também
irá auxiliá-lo nas demais avaliações da disciplina.
1 Singularidades
Um ponto z0 ∈ C é um ponto singular de uma função f se f deixa de ser
analı́tica em z0 , mas é analı́tica em algum ponto de toda vizinhança de z0 .
Um ponto singular z0 é isolado se, adicionalmente, existe uma vizinhança de
z0 através do qual f é analı́tica, exceto no próprio ponto z0 .
A função 1/z é um exemplo simples de uma função com uma singularidade
isolada em z = 0.
A função
z+1
,
z 3 (z 2 + 1)
tem três singularidades isoladas nos pontos z = 0 e em z = ±j .
A origem é uma singularidade da função log(z) que não é isolada pois
toda vizinhança da origem contém pontos do eixo real negativo e log(z) não
é analı́tica nestes pontos.
A função 1/sen(π/z) tem pontos singulares z = 1/n com n = ±1, ±2, ±3, · · ·
e z = 0, todos se encontrando sobre o eixo real entre os pontos −1 e 1. To-
dos esses pontos singulares são isolados, exceto o ponto z = 0 pois toda
vizinhança da origem contém algum dos outros pontos singulares. Desenhe
essa situação.
Quando z0 é um ponto singular isolado de f , existe um número positivo r1
tal que a função é analı́tica em cada ponto de z para o qual 0 < |z −z0 | < r1 .
Neste domı́nio a função é representada por uma série de Laurent
∞
X
cn (z − z0 )n (1.1)
n=−∞
2
onde 0 < |z − z0 | < r1 e
1 f (z)dz
Z
cn = ,
2πj C (z − z0 )n+1
para n = 0, ±1, ±2, ±3, · · · e C qualquer curva fechada simples em torno
de z0 , descrita no sentido positivo, tal que f seja analı́tica sobre C e em seu
interior, exceto possivelmente no próprio ponto z0 .
Em particular
1
Z
c−1 = f (z)dz,
2πj C
que é o coeficiente de 1/(z − z0 ) na expansão em séries de Laurent é cha-
mado de resı́duo de f na singularidade isolada z0 , denotado por Res[f, z0 ].
Exemplo:
A função
5z − 2
z(z − 1)
tem duas singularidades isoladas. Uma em z = 0 e outra em z = 1.
A Série de Laurent de f (z) em torno de z = 0 é obtida a partir da soma
da série geométrica
1
= 1 + z + z2 + z3 + z4 + · · ·
1−z
com |z| < 1.
Escrevendo
5z − 2 5z − 2 −1
1 2
= = 5− =
z(z − 1) z z−1 z 1−z
2
1 + z + z2 + z3 + z4 + · · · =
= −5 +
z
2
= − 3 − 3z − 3z 2 − 3z 3 − 3z 4 − · · ·
z
Portanto,
5z − 2 2
= − 3 − 3z − 3z 2 − 3z 3 − 3z 4 − · · ·
z(z − 1) z
3
para 0 < |z| < 1
Note que Res[f, 0] está destacado na Série de Laurent acima.
5z − 2
3 1
= 5+ =
z(z − 1) z−1 1 + (z − 1)
3
1 − (z − 1) + (z − 1)2 − (z − 1)3 + · · · .
= 5+
z−1
Portanto,
5z − 2 3
= + 2 − 2(z − 1) + 2(z − 1)2 − 2(z − 1)3 + · · ·
z(z − 1) z−1
para 0 < |z − 1| < 1.
Note que Res[f, 1] esta destacado na Série de Laurent acima.
2 O Teorema do Resı́duo
Teorema 1 (Teorema do Resı́duo) Seja C uma curva fechada simples
sobre a qual e em seu interior uma função f seja analı́tica, exceto em um
4
número finito de pontos singulares, z1 , z2 , · · · , zn , no interior de C . Então
Z X n
f (z)dz = 2πj Res[f, zk ],
C k=1
−1 1 1 1 1
= − = − =
(z − 1)(z − 2) z − 1 z − 2 z − 1 (z − 1) − 1
1 −1 1 1
= − = + =
z − 1 1 − (z − 1) z − 1 1 − (z − 1)
1
= + 1 + (z − 1) + (z − 1)2 + (z − 1)3 + (z − 1)4 + · · ·
z−1
para 0 < |z − 1| < 1. Daı́, Res[f, 1] = 1.
5
−1 −1 1 −1 1
= + = + =
(z − 1)(z − 2) z − 2 (z − 2) + 2 − 1 z − 2 1 + (z − 2)
−1
= + 1 − (z − 2) + (z − 2)2 − (z − 2)3 + (z − 2)4 − · · ·
z−2
para 0 < |z − 2| < 1. Daı́, Res[f, 2] = −1.
pois f é analı́tica sobre a curva |z| = 1/2 e em seu interior (desenhe!), e pelo
Teorema de Cauchy-Goursat, a integral é zero!
6
Figura 3: Curva |z| = 1/2
7
\ Exercı́cio. 1 Calcule a integral
5z − 2
I
dz,
C z(z − 1)
onde C é a circunferência |z| = 2 orientada no sentido anti-horário. Dica:
Este exercı́cio foi feito em sala!
3 Classificação de Singularidades
Vamos agora classificar as singularidades isoladas z0 , observando as séries de
Laurent (1.1) em torno deste ponto.
Exemplos:
A função
z 2 − 2z + 3 3
= 2 + (z − 2) + ,
z−2 z−2
com |z − 2| > 0, possui um pólo simples em z = 2 e seu resı́duo é 3.
A função
senh(z) 1 11 1 1
4
= 3+ + z + z3 + · · · ,
z z 3! z 5! 7!
com |z| > 0, possui um pólo de ordem 3 em z = 0 e seu resı́duo é 1/6.
A função
X +∞ −n
1 z 1 1 1 1
exp = =1+ + 2
+ 3
+ 4
+ ··· ,
z n=0
n! z 2!z 3!z 4!z
8
com |z| > 0, possui uma singularidade essencial em z = 0, com resı́duo
1.
A função
exp(z) − 1 z z2 z3
f (z) = = 1 + + + + ··· ,
z 2! 3! 4!
com |z| > 0, possui uma singularidade removı́vel em z = 0. Se fizermos
f (0) = 1, a função torna-se inteira.
4 Resı́duos e Pólos
Teorema 2 Dada uma função f suponha que para algum inteiro positivo m
a função
φ(z) = (z − z0 )m f (z)
possa ser definida em z0 de forma que ela seja analı́tica em z0 e φ(z0 ) 6= 0.
Então f tem um pólo de ordem m em z0 e seu resı́duo pode ser definido por
se m = 1 e
φ(m−1) (z0 )
Res[f, z0 ] = , (4.2)
(m − 1)!
se m > 1.
Temos que
φ0 (z) = −2e−2z ⇒
φ(2) (0)
Res[f, 0] = =2
2!
Exemplo 2:
A função
z+1
f (z) =
z2 + 9
possui um pólo simples em z = 3j e seu resı́duo é
Exemplo 3:
Para ilustrar o uso da fórmula
p(z0 )
Res[f, z0 ] = ,
q 0 (z0 ),
vamos considerar a função
f (z) = cotg(z).
10
Esta função tem pólos simples em z = nπ , com n = ±1, ±2, ±3, · · ·.
Escrevendo p(z) = cos(z) e q(z) = sen(z), obtemos
p(nπ) cos(nπ)
Res[f, nπ] = = =1
q 0 (nπ) cos(nπ)
Solução:
Se o número complexo z estiver sobre o eixo real, teremos
+∞ R
dx dz
Z Z
= lim . (5.1)
−∞ x2 + 1 R→∞ −R z 2+1
A função
1 1
f (z) == ,
z2
+ 1 (z − j)(z + j)
possui pólos simples nos pontos z = ±j .
Seja CR o semicı́rculo |z| = R do semiplano Im(z) ≥ 0, de centro na
origem e raio R. Assumindo R > 1, o contorno formado pelo segmento de
reta −R ≤ Re(z) ≤ R; y = 0, seguido de CR , contem o pólo simples z = j ,
cujo resı́duo é:
1 1
Res[f, j] = lim(z − j)f (z) = lim = .
z→j z→j z + j 2j
Pelo Teorema do Resı́duo, temos então
R
dz dz 1
Z Z
2
+ = 2πj · =π (5.2)
−R z + 1 CR z2 + 1 2j
Por outro lado, pela desigualdade triangular, |z 2 + 1| ≥ |z|2 − 1 implica
em
11
1 1
|f (z)| = ≤ ,
|z 2 + 1| |z|2 − 1
e assim, como sobre CR temos |z| = R,
Z
dz 1 πR
Z
≤ |dz| = 2 .
2 2
R − 1 CR R −1
CR z + 1
Isto mostra que
dz
Z
lim = 0;
R→∞ CR z 2 + 1
Definição:
Seja f uma função contı́nua. Dizemos que a integral imprópria
Z ∞
f (x)dx (5.3)
−∞
é convergente se existem os limites
Z 0 Z R
lim f (x)dx e lim f (x)dx. (5.4)
R→∞ −R R→∞ 0
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Neste caso, a integral converge para a soma dos limites acima e escrevemos
Z ∞ Z 0 Z R
f (x)dx = lim f (x)dx + lim f (x)dx.
−∞ R→∞ −R R→∞ 0
Definição:
Outro número associado a integral (5.3) é o Valor Principal de Cauchy,
denotado e definido por
Z ∞ Z R
V.P. f (x)dx = lim f (x)dx,
−∞ R→∞ −R
• Existem integrais (5.3) que não convergem, mas ainda assim possuem o
Valor principal de Cauchy. Por exemplo se f (x) = x, o valor principal é
zero, mas os limites em (5.4) não existem. Logo, a integral não converge,
embora exista o valor principal de Cauchy.
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Exercı́cios:
1. Use resı́duos para provar que as integrais abaixo convergem para os va-
lores indicados. Considere a > 0.
∞ ∞
dx π dx π
Z Z
(a) = (b) = √
0 x2 + 1 2 4
−∞ x + 1 2
∞ ∞
x2 dx π dx π
Z Z
(c) = (d) =
0 (x2 + 1)(x2 + 4) 6 0 (x2 + 1)2 4
∞ ∞
x2 dx π dx π
Z Z
(e) = (f) =
0 (x2 + 9)(x2 + 4)2 200 0 x6 + 1 6
∞ ∞
cos(ax)dx π −a xsen(ax)dx π −a
Z Z
(g) = e (h) = e sen(a)
0 (x2 + 1) 2 0 x4 + 4 2
∞ ∞
x2 dx xsenxdx
Z Z
(c) 2
(d) 2 2
−∞ (x + 1) −∞ (x + 1)(x + 4)
∞ ∞
senxdx cos xdx
Z Z
(e) 2
(f) 2 2
; com b > 0
−∞ x + 4x + 5 −∞ (x + a) + b
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3. Use resı́duos para estabelecer as seguintes fórmulas de integração.
Considere para os itens (b) e (d) que −1 < a < 1; no item (e), que
b > 1 e no item (f) que n ∈ N.
2π 2π
dθ 2π dθ 2π
Z Z
(a) = (b) =√ ;
0 5 + 4senθ 3 0 1 + a cos θ 1 − a2
2π π
cos2 (3θ)dθ 3π cos(2θ)dθ πa2
Z Z
(c) = (d) = ;
0 5 − 4 cos(2θ) 8 0 1 − 2a cos θ + a2 1 − a2
π π
dθ πa (2n)!π
Z Z
(e) = ; (f) sen2n (θ)dθ = .
0 (b + cos θ)2 (b2 − 1)3/2 0 22n (n!)
∞ ∞
2x2 − 1 π cos(x) π
Z Z
(a) dx = (b) dx =
0 x4 + 5x2 + 4 4 2
−∞ (x + 1)
2 e
Referências
[1] Ruel Vance Churchill;J. W. Brown & R. F. Verhey, Complex Varia-
bles and Applications - Third Edition - International Student Edition -
McGraw-Hill - 1974
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