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Estados Brasileiros
Baú, busão, tesourinha, véi, pardal, boto fé, cabuloso. A lista de
expressões e gírias brasilienses é extensa e conta com uma inusitada
dinamicidade. Se figuras como satélite, zebrinha ou pé de pano vão
caindo deuso devagarinho, outras tantas entram rapidinho na cena da
cidade. Chegam por meio de músicas, saltam dos aplicativos de
celular e de grupos feministas e LGBTs ou surgem na internet e
ganham o dia a dia da juventude do Distrito Federal. A lista, que se
transforma e cresce a cada dia, é o reflexo de uma capital
miscigenada, com gente vinda do Brasil inteiro. Não respeita fronteiras
e se expande como as gerações de filhos nascidos na cidade.
Identidade própria
Rapper, ativista social e líder da banda Viela 17, Marcos Vinícios de Jesus
Morais, o Japão, coloca a gíria como um código de comunicação. “As gírias
são faladas no DF em todo o Brasil. São um código, e não significa que a
pessoa que usa não teve educação. É apenas uma forma fácil e objetiva de se
expressar. Existem gírias universais e gírias locais”, defende. “Na cena do hip-
hop local, todo mundo fala „tamo junto‟. Trouxemos da cena paulista o
„mano‟, mas a nossa é o „véi‟. Isso nos fortalece regionalmente. Quando
falamos com amigos de outro estado, muitas vezes eles não nos entendem. Se
eu disser que vou dar uma volta de camelo, ninguém vai entender”, completa
o rapper.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Stella Maris Bortoni é professora e pesquisadora da Faculdade de
Educação da UnB
A gíria costuma ser restrita ao espaço social e é efêmera no tempo.
Normalmente, são palavras restritas a determinados grupos, e, por isso,
tendem a se perder. Mas, se ela se consolida ganha status de neologismo. Os
lexicógrafos, passam a registrá-la. Algumas (gírias), podem ser usadas de
forma mais ampla, regionalmente. „Tesourinha‟ é um exemplo. Para a pessoa
entender, precisa morar no DF, ou passar um tempo aqui. É restrita em termos
sociais e geográficos. Nem todos os termos usados na região vão sobreviver.
Parte das expressões e gírias que usamos nasceram na capital, e outras foram
trazidas com grupos regionais. A palavra „camelo' não é exclusiva de Brasília.
Pode ser que estivesse sendo muito usada na época que Renato Russo
escreveu Eduardo e Mônica, e acabou sendo impulsionada localmente. O
„véi‟, é uma palavra complicada para fazermos uma observação definitiva,
mas também pode ter vindo com jovens de outras regiões.
O sotaque de Brasília, por sua vez, não conserva traços típicos de outras
regiões. É uma tendência nossa. Estamos inseridos em Goiás, e não
conservamos e não adotamos traços goianos. Também fazemos fronteira com
Minas, mas não reconhecemos o sotaque na nossa região. Nosso modo de
falar é suprarregional, urbano e com grande influência da língua expressa. É
claro que a capital está com 57 anos e nossos modos de falar vem se
consolidando. Mas, a gíria é vocabulário, e não pronúncia.
GLOSSÁRIO
Baú Também conhecido como busão, é o ônibus do sistema público.
Bicho – Cara, véi, velho, mano, amigo. Mas, se for „o bicho‟, que dizer que é
fera, legal.
Boto fé – Tanto pode significar “acredito” quanto “apoio você”. Você pode
apoiar ou concordar inteiramente com alguém, botando muita fé, por exemplo.
Brother – Também pode ser simplificado para “brô”. Significa bicho, cara,
velho, véi, amigo...
Canal – Meio para conseguir algo. Pode ser “o canal” para entrar naquela
festa, por exemplo.
De boa – Evoluiu para “de boas”. Tranquilo. Também pode ser substituído
pela versão mais recente, a “suave”.
Esquema – Pode ser a programação, mas também a trama. Uma cadeia de
acontecimentos e significados que inclui alguém por quem se nutre afeto.
Exemplo: “você pode ser um pedacinho do meu esquema”, explica a cantora
Anitta.
Fera – Legal, massa, irado, cabuloso. Mas também pode ser usado no mesmo
contexto que bicho, véi, brother, brô.
Irado – Maneiro, massa, legal, fera, muito bom, que supre as expectativas.
Também pode ser usado como elogio a alguém, quando a pessoa é descolada,
interessante.
Papo reto – Quem manda um papo reto está sendo sincero, direto e
verdadeiro, embora a expressão seja mais agressiva que a explicação possa
sugerir. Provavelmente veio com os cariocas transferidos do Rio de Janeiro.
Pode crer – Nada de “pode acreditar”. Está mais para “concordo com você”,
“falou tudo”, “temos a mesma opinião”, ou “você me convenceu”.
Salve – Mandar um olá para todos os amigos. Pode ser por celular, no viva
voz, pode ser em vídeo ou pode ser só uma passadinha rápida mesmo.
Suave – Tranquilo. Feito sem pressa. Também pode ser substituído por
“sussa”.
Zebrinha – Não, não é o animal, mas foi extinto. Os ônibus que circulavam
nas asas Sul e Norte tinham esse nome pois eram listrados de vermelho e
branco, mas não existem mais.