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Lettres de cachet e os infames

Um crescente número de decisões em setores cada


vez mais numerosos da vida social e pessoal são
tomadas a partir de avaliações técnico-cientificas
produzidas por peritos competentes. Sem dúvida não
é possível estabelecer limite para esse progresso. Mas
seria o mínimo ousar perguntar "quem te fez rei?" a
quem te faz sujeito-submisso.
Robert Castel

Peço-vos perdão por vos cansar com tantos


detalhes, mas o governo dos indigentes, dos
criminosos e dos loucos não exige menos atenção do
que o dos ricos e dos sábios, eis o que fui obrigado a
aprender através de uma fastidiosa experiência. O
bem público e o prazer de vos relatar o que se passa
aliviarão esse fardo”

Procurador Geral de Aguesseau Carta de 6 de janeiro de 1701

Figuras da infâmia

Debochado, imbecil, pródigo, enfermo, espírito arruinado, libertino, filho


ingrato, pai dissipador, prostituta, insano (louco)

Lógica correcional da infâmia

Um recenseamento de 1690 enumera mais de 3000 pessoas em Salpêtrière, grande parte


constituída por indigentes, vagabundos e mendigos. Mas nos “quartéis” há elementos
diversos cujo internamento não se explica, ou não se explica apenas pela pobreza: Saint-
Théodore há 41 prisioneiras por cartas régias; 8 “ pessoas ordinárias”, na casa de detenção;
“mulheres caducas” em Sant-Paul; Madeleine contém 91 “ velhas senis ou enfermas”; o
de Sainte-Geneviève, 80 “ velhas infantis”, o de Saint-Levège, 72 pessoas epiléticas, Saint-
Hilaire. 80 mulheres senis; Saint- Catherine, 69 “inocentes malformados e disformes [...] Essa
enumeração é apenas exemplificativa. A população de Bicêtre é igualmente variada, a
ponto de 1737, tentar-se uma divisão racional em 5 “empregos”:

1º a casa de detenção, os calabouços, as celas de loucos e as celas para os internados


por cartas régias.
2º e 3º são reservados aos “pobres bons” e aos “grandes e pequenos paralíticos”
4º alienados e louco
5º grupo de doentes venéreos
(FOUCAULT, 2013, p. 82)
Modelos de sequestração
1

As "ordens de justiça" consistiam em embargos ou sentenças de


sequestração, em geral de duração ilimitada, dadas por uma das
numerosas jurisdições competentes (parlamentos, tribunais de bailiado,
prebostados, tribunal do Chatelet em Paris, etc). As vezes o
enclausuramento era decidido por uma "ordem particular" de
magistrado, porém, essa medida, suspeita de comportar riscos de
arbítrio, tendeu a cair em desuso no fim do Antigo Regime. p. 22
2
Os outros enclausuramentos, isto e, a maioria dentre eles, eram
efetuados a partir de uma "ordem do rei" ou lettre de chachet. Essa
ordem era outorgada por intermédio do ministro da Casa real, por
iniciativa da autoridade pública ou por iniciativa das famílias. Desta
forma, quando um insano perturbava a ordem pública, os serviços da
chefia de polícia de Paris e os intendentes, nas províncias, podiam
solicitar uma ordem de internação ao rei. Eles podiam até apoderar-se
do louco, mas a sequestrarão provisória só passava a ser legal após a
obtenção da lettre de cachet. p. 23

Lettres de cachet e o poder judiciário: práticas de reclusão

Primeiro caso: a família assume totalmente a tarefa de manutenção e de


neutralização do louco. Este caso faz parte, avant la lettre, da categoria
dos "alienados intratáveis" que os psiquiatras construirão quando um
sistema unificado de assistência for instaurado na primeira metade do
século XIX. Por enquanto, trata-se de um anacronismo: esses "alienados
intratáveis" são de fato, normalmente assistidos ou pelo menos tolerados
por seus grupos primários de participação, família e circuitos de
vizinhança; eles escapam melhor a um "encargo" pelo exterior quanto
mais rica for a família e/ou mais integrada, quanto maior número de
redes de clientelas e de linhas de conivência existirem em torno dela.
Donde esta implicação decisiva: pretendendo propor uma política
global e "democrática" de assistência; sob a forma de um serviço público,
a medicina mental, de fato, visara prioritariamente categorias
particulares da população: os indigentes mais do que os ricos, os errantes
mais do que os integrados, os urbanos mais do que os rurais. p. 26

Segundo caso: a família não quer ou não pode assumir essa função de
vigilância porque a presença do louco lhe coloca problemas demasiado
difíceis em função de seus meios de controle (caso dos "furiosos", por
exemplo), ou então porque as iniciativas irresponsáveis do insano
ameaçam a salvaguarda do patrimônio familiar. Ela tem, então, a
escolha entre duas possibilidades que são de fato dois modos de
delegação de seu poder, mas, através de procedimentos dentro dos
quais ela conserva a iniciativa. Pode dirigir-se a autoridade judiciaria para
obter uma ordem de internação, e mesmo solicitar a interdição. Esse
procedimento leva a uma situação clara de tutelarização do louco pela
qual a gestão de seus bens cabe a família. Essa solução era escolhida,
de preferência, pelas famílias mais ricas e era até necessária quando o
objetivo consistia em obter uma tutelarização civil do louco sem
sequestração, pois a interdição não impunha a internação fora da
família. Segunda possibilidade: a "ordem do rei" permitia obter a
sequestração através de um processo mais sumario. Em sua solicitação,
a família propunha em geral o lugar da internação, em função sobretudo
do total da pensão que ela consentia em pagar. Através desse
procedimento a família se poupava da "desonra" (e dos custos) de um
processo de interdição. Mas a lettre de cachet representava o contrário
de um ato arbitrário já que era requisitado pelos parentes, juízes naturais
dos interesses familiares. p. 26
Terceiro caso: o louco escapava completamente ao controle familiar, ou
porque não possuísse família, ou porque fosse surpreendido a "vagar" fora
do seu âmbito de vigilância. Neste caso a iniciativa da repressão
incumbia as autoridades responsáveis pela manutenção da ordem
pública. Estas (em Paris e nas grandes cidades, os serviços de polícia; em
outros lugares, os dos intendentes) podiam solicitar uma "ordem do rei". O
mais frequente e que interviessem primeiro e, em seguida, solicitassem a
ordem que legalizava sua intervenção. Isto, em princípio. De fato, a
legalização dessas internações compulsórias precoces, através do
recurso direto a autoridade real não parece ter sido a norma. Por
exemplo, Piersin, "guarda dos loucos" em Bimestre, em uma carta a
Comissão das Administrações Civis e dos Tribunais que inquiria (10
primário, ano III) sobre as modalidades de internações dos insanos
detidos desde o Antigo Regime, constata somente vinte e três, em
duzentos e sete, admitidos por "ordem do tirano" (e somente cinco por
"decreto do ex-parlamento"). A maior parte dos outros insanos era
internada por iniciativa dos administradores da polícia ou dos
estabelecimentos hospitalares. Mas não existe aí nada de escandaloso:
sob o Antigo Regime, frequentemente, os agentes do executivo
assumiam, através de delegação implícita, as prerrogativas do poder
real. O importante e a legitimidade que essas intervenções extraem da
antiga síntese entre o administrativo e o judiciário. Isso está claro em Des
Essarts: "Deve-se distinguir, no chefe de polícia, o magistrado e o
administrador. O primeiro e homem da lei, o segundo e homem do
governo". Antes que a revolução denuncie, nesta justaposição, o
escândalo do despotismo, ela funda em direito as práticas de reclusão
dos loucos no Antigo Regime. p. 27-8

Apressado em abolir as lettres de cachet, Luís XVI dirige-se aos Estados


Gerais em 23 de junho de 1789 nos seguintes termos: "O Rei, desejoso de
assegurar a liberdade pessoal de todos os cidadãos, de maneira solida e
durável, convida os Estados Gerais a procurar e proporcionar-lhe os meios
mais convenientes para conciliar a abolição das ordens conhecidas pelo
nome de lettres de cachet, com a manutenção da segurança pública e
com as precauções necessárias, seja para poupar em certos casos a
honra das famílias, seja para reprimir com presteza inícios de sedição, seja
para defender o Estado contra os efeitos de uma coalisão criminosa com
as potencias estrangeiras" O problema e, portanto, efetivamente
colocado: não, suprimir o conjunto das práticas repressivas cobertas pelo
poder real com sua legitimidade, mas contornar a suspeita de arbítrio
que, a partir daí, recai sobre as formas empregadas.
Além disso, o artigo 1º da lei que decreta a supressão das lettres de
cachet permanece bem restritivo quanto as categorias de "vítimas do
despotismo" que libera pura e simplesmente: "No espaço de seis semanas
após a publicação do presente decreto, todas as pessoas detidas nas
fortalezas religiosas, casas de detenção, de polícia ou quaisquer outras
prisões, através das lettres de cachet ou por ordem dos agentes do poder
executivo, a menos que sejam legalmente condenadas ou sentenciadas
de aprisionamento, que tenha havido queixa contra elas na justiça por
crimes passiveis de pena de mortificação, ou que seus pais, mãe, avos,
ou outros parentes reunidos tenham solicitado e obtido sua detenção de
acordo com solicitações e relatos apoiados em fatos graves, ou enfim
que elas sejam enclausuradas por loucura, serão colocadas em
liberdade". p. 32
Referências bibliográficas

CASTEL, Robert. O desafio da loucura In: A ordem psiquiátrica: a idade


de ouro do alienalismo. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978, p. 21 – 54
FOUCAULT, Michel. O mundo correcional In: História da loucura. São
Paulo: Perspectiva, 2013, p. 79 - 110

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