Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Introdução
1
G.F. Meier, Anfangsgründe aller schönen Wissenschaften, Halle/ Magdeburg, C. H.
Hemmerde, 1748-1750.
“Prolegómenos” da Estética de Baumgarten 169
Prolegómenos. Prolegomena.
§ 1. § 1.
A ESTÉTICA (teoria das artes liberais, AESTHETICA (theoria liberalium artium,
gnoseologia inferior, arte do pensar gnoseologia inferior, ars pulcre
belamente, arte do análogo da razão) é a cogitandi, ars analogi rationis) est
ciência do conhecimento sensitivo. scientia cognitionis sensitivae.
§ 2. § 2.
O grau natural das faculdades Naturalis facultatum cognoscitivarum
cognoscitivas, promovido pela mera inferiorum gradus solo usu citra
prática e sem cultivo disciplinar, pode disciplinalem culturam auctus
ser chamado ESTÉTICA NATURAL, e AESTHETICA NATURALIS dici potest,
esta divide-se, de acordo com a lógica et distingui, sicuti logica naturalis solet,
natural, em inata – o belo talento inato – in connatam, ingenium pulcrum
e em adquirida, e esta, por sua vez, na connatum, et acquisitam, et haec denuo
que é ensinada e na que é praticada. in docentem et utentem.
§ 3. § 3.
O maior préstimo da estética artificial (§ Ad naturalem accedentis artificialis
1) para a acreção da natural, será entre aesthetices, §1, usus inter alios maior
outros 1) fornecer um material adequado erit 1) scientiis intellectu potissimum
às ciências que são sobretudo baseadas cognoscendis bonam materiam parare,
no conhecimento intelectual, 2) adaptar 2) scientifice cognita captui quorumvis
cientificamente os conhecimentos à accommodare, 3) cognitionis
capacidade de compreensão de qualquer emendationem etiam extra distincte
um, 3) ampliar a correcção do cognoscendorum a nobis pomoeria
conhecimento para lá ainda dos limites proferre, 4) bona principia studiis
daquilo distintamente conhecido por nós, omnibus mansuetioribus artibusque
4) ministrar princípios adequados para liberalibus subministrare, 5) in vita
todos os trabalhos mais delicados e para communi, caetera si paria fuerint, in
as artes liberáis, 5) no quotidiano, agendis rebus omnibus praestare.
oferecer maior vantagem na realização
de todas as coisas, mesmo se as demais
circunstâncias forem equivalentes.
§ 4. § 4.
Eis portanto alguns empregos Hinc usus speciales, 1) philologicus,
particulares: 1) o filológico; 2) hermeneuticus, 3) exegeticus,
2) o hermenêutico; 3) o exegético; 4) rhetoricus, 5) homileticus,
4) o retórico; 5) o homilético; 6) poeticus, 7) musicus e.c.
6) o poético; 7) o musical, etc.
“Prolegómenos” da Estética de Baumgarten 171
§ 5. § 5.
Pode ser objectado à nossa ciência Obici posset nostrae scientiae,
(§ 1): 1) que ela se revela demasiado §1, 1) eam nimis late patere, quam ut
abrangente para que possa ser uno libello, una acroasi possit
exaustivamente tratada num único exhauriri. Rsp. concedendo. Sed
opúsculo, numa só conferência. praestat aliquid nihilo, 2) eam eandem
Respondo que admito. Porém, é esse cum rhetorica et poetica. Resp.
preferível algo ao nada; 2) o facto de ela a) latius patet, b) complectitur his cum
ser idêntica à retórica e à poética. Resp.: aliis artibus, ac inter se communia,
a) é mais vasta, b) compreende as coisas quibus heic loco convenienti, semel
que estas artes têm em comum com perspectis quaelibet ars sine tautologiis
outras e entre si, pelas quais, depois de inutilibus suum fundum felicius colat.
aqui examinadas em seu devido lugar, 3) Eandem esse cum critica. Rsp. a) est
de uma vez por todas, qualquer arte, sem etiam critica logica, b) quaedam critices
tautologias inúteis, poderá granjear o seu species est pars aesthetices, c) huic
campo ditosamente. 3) Ela é idêntica à praenotio quaedam aesthetices reliquae
crítica. Resp.: a) existe também uma paene necessaria est, nisi velit in
crítica lógica, b) um certo tipo de crítica diiudicandis pulcre cogitatis, dictis,
faz parte da estética, c) para este tipo [de scriptis disputare de meris gustibus.
crítica], uma prenoção quanto à restante
estética é quase indispensável, a menos
que se queira discutir acerca de meros
gostos nos julgamentos das coisas
belamente pensadas, ditas e escritas.
§ 6. § 6.
Pode ser objectado à nossa ciência Obiici posset nostrae scientiae
4) que as percepções sensitivas, as 4) indigna philosophis et infra
imaginações, as fábulas, as perturbações horizontem eorum esse posita sensitiva,
afectivas, etc. são indignas para os phantasmata, fabulas, affectuum
filósofos e sitas abaixo do horizonte perturbationes e.c. Rsp. a) philosophus
deles. Resp.: a) o filósofo é um homem homo est inter homines, neque bene
entre os homens, e não julga bem se tantam humanae cognitionis partem
considerar alheia a si tamanha parte do alienam a se putat, b) confunditur
conhecimento humano, b) a teoria geral theoria pulcre cogitatorum generalis et
das coisas belamente pensadas praxis ac exsequutio singularis.
confunde-se com a prática e com a
execução singular.
§ 7. § 7.
Obj. 5) A confusão é a mãe do erro. Obi. 5) Confusio mater erroris.
Resp.: a) mas é condição, sine qua non, Rsp. a) sed conditio, sine qua non,
para a descoberta da verdade, lá onde a inveniendae veritatis, ubi natura non
172 Tradução
§ 8. § 8.
Obj. 6) O conhecimento distinto oferece Obi. 6) Cognitio distincta praestat.
mais vantagens [do que o confuso]. Rsp. a) Apud finitum spiritum tantum
Resp.: a) Para um espírito limitado, in gravioribus, b) unius positio non est
apenas quanto a coisas mais sérias, b) a alterius exclusio, c) ideo secundum
aprovação de um não implica a exclusão regulas distincte cognitas directum
do outro, c) por isso, segundo regras imus pulcre cognoscenda primum, ex
distintamente conhecidas, vamos de quibus eo perfectior aliquando surgat
modo directo primeiro para as coisas distinctio, § 3, 7.
belamente conhecidas, a partir das quais
a distinção surge por fim mais perfeita
(§§ 3, 7).
§ 9. § 9.
Obj. 7) Pelo cultivo do análogo da Obi. 7) Per cultum analogi rationis,
razão, deve temer-se que o território da verendum est, ne quid detrimenti capiat
razão e da solidez sofra dano. rationis et soliditatis territorium.
Resp.: a) este argumento pertence Rsp. a) hoc argumentum est in plus
àqueles que mais força probatória têm, probantibus, quia idem periculum est,
porque é este mesmo perigo, sempre que quotiescunque perfectio composita
é procurada uma perfeição compósita, a quaeritur, ad cautionem incitans, non
inspirar cautela e não recomendar a neglectum verae perfectionis suadens.
negligência da verdadeira perfeição. b) Incultum et corruptius analogon
b) Um análogo da razão não cultivado e rationis non minus officit rationi
funcionando corrompidamente não é severiorique soliditati.
menor entrave para a razão e para a mais
séria solidez.
§ 10. § 10.
Obj. 8) A estética é uma arte, não uma Obi. 8) Aesthetica ars est, non scientia.
ciência. Resp. a) Estas não são Rsp. a) Hi non sunt oppositi habitus.
disposições opostas. Quantas artes que Quot olim artes tantum iam sunt simul
“Prolegómenos” da Estética de Baumgarten 173
§ 11. § 11.
Obj. 9) Tal como no caso do poeta, os Obi. 9) Aesthetici nascuntur, non fiunt,
estetas nascem, não se fazem. Resp.: a) uti poetae. Rsp. Hor. A. Poet. v. 408.
Horácio, Ars Poetica, 408. Cícero, De Cic. de Or. l. II, c. 60. Bilfinger in
Oratore livro II, c. 60. Bilfinger em dilucidd. § 268. Breitinger von
Dilucidationes, § 268. Breitinger von Gleichnissen p. 6. Aestheticum natum
den Gleichnissen, p. 6. Uma teoria mais iuvat theoria completior, rationis
completa, mais recomendável pela auctoritate commendabilior, exactior,
autoridade da razão, mais exacta, menos minus confusa, certior, minus trepida.
confusa, mais certa e menos duvidosa §3
ajuda o esteta nato (§ 3).
§ 12. § 12.
Obj. 10) As faculdades inferiores, a Obi. 10) Facultates inferiores, caro,
carne, antes devem ser debeladas do debellandae potius sunt, quam
que encorajadas e consolidadas. excitandae et confirmandae.
Resp. a) Requer-se o domínio sobre as Rsp. a) Imperium in facultates
faculdades inferiores, não a tirania. inferiores poscitur, non tyrannis.
b) Para esse efeito, na medida em que b) Ad hoc, quatenus naturaliter
tal pode ser conseguido naturalmente, impetrari potest, manu quasi ducet
conduzir-nos-á a estética como que aesthetica. c) Facultates inferiores non,
pela mão. c) As faculdades inferiores, quatenus corruptae sunt, excitandae
na medida em que são corrompidas, confirmandaeque sunt aestheticis, sed
não devem ser encorajadas e iisdem dirigendae, ne sinistris exercitiis
consolidadas pelos estetas, mas devem magis corrumpantur, aut pigro vitandi
ser norteadas para que não se abusus praetextu tollatur usus concessi
corrompam mais ainda através de divinitus talenti.
exercícios impróprios ou para que não
se tolha o emprego do talento
divinamente concedido, como pretexto
indolente de ser evitado o mau uso.
174 Tradução
§ 13. § 13.
A nossa estética (§ 1), tal como a Aesthetica nostra § 1. sicuti logica,
lógica, sua irmã mais velha, é I) soror eius natu maior, est I)
TEÓRICA, doutrinal, genérica, Parte I, THEORETICA, docens, generalis, P. I.
prescrevendo 1) acerca das coisas e dos praecipiens 1) de rebus et cogitandis
pensamentos, Cap. I – HEURÍSTICA; HEURISTICE. C. I. 2) de lucido ordine,
2) acerca da ordem lúcida, Cap. II – METHODOLOGIA C. II. 3) de signis
METODOLOGIA; 3) acerca dos estilos pulcre cogitatorum et dispositorum,
do pensar e do dispor belamente, Cap. III SEMIOTICA, C. III. II) PRACTICA,
– SEMIÓTICA; II) PRÁTICA, aplicada, utens, specialis. P. II. Utrimque
específica, Parte II. Quanto a ambas
Que o tema seja para ti a primeira Res sit prima tibi, sit lucidus ordo
preocupação, a ordem lúcida a segunda secunda,
e a atenção aos signos seja a terceira, Signaque postremo tertia cura loco.
em último lugar.