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Artigo Científico Original

PARA UMA SOCIOLOGIA


DAS AUSÊNCIAS DA DESCOLONIZAÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS: NOTAS INICIAIS SOBRE OS APORTES AFROS
César Augusto Baldi
PARA UMA SOCIOLOGIA TOWARD THE
DAS AUSÊNCIAS DA SOCIOLOGY OF
DESCOLONIZAÇÃO DOS ABSENCES OF
DIREITOS HUMANOS: DESCOLONIZING HUMAN
NOTAS INICIAIS SOBRE RIGHTS: NOTES ON
OS APORTES AFROS AMEFRICA DEBATES

César Augusto Baldi


Mestre em Direito (ULBRA/RS), doutorando Universidad Pablo Olavide (Espanha), servidor do TRF-4ª Região desde
1989,é organizador do livro “Direitos humanos na sociedade cosmopolita” (Ed. Renovar, 2004).

RESUMO ABSTRACT
Na discussão sobre descolonização dos On discussion on descolonizing huma
direitos humanos, os debates sobre as rights, the debates about the racial and
questões raciais e de gênero têm sido gender questions are só absenses. The
pouco intensos. O presente artigo busca present article try to feature some points
destacar alguns pontos sobre a questão on racial questions, specially: a) analising
racial, procurando: a) recuperar as vozes the voices of Caribe, who the decolonial
do Caribe, em especial de marxistas ne- discussion, in general, oblive the contribu-
gras, que foram ignorados na discussão tions of black marxism; b) the contribu-
descolonial; b) analisar alguns aportes tions of afrobrazilian to rethinking human
afrobrasileiros, que não vem merecendo rights in key of decolonial studies;c) the
atenção nos estudos descoloniais; c) dar originality of thought of Lelia Gonzalez
especial para a originalidade do pensa- and your conexion with other diasporican
mento de Lélia Gonzalez e suas conexões thinkers.
nos processos afrodiaspóricos. Keywords: descolonization, sociology of
Palavras-chave: descolonização, sociolo- absences, racial question.
gia das ausências, questão racial.

¿ Por qué me dicen morena? una historia pa’ contá


Si moreno no es color que rompiendo sus cadenas
yo tengo una raza que es negra alcanzó la libertá. 1
y negra me hizo Dios..
(…)
y de ella orgullosa estoy, para Santiago Arboleda Quiñonez, Nilma
de mis ancestros africanos Lino Gomes e William Mina Aragón, com
y del sonar del tambó admiração e reconhecimento por suas lu-
Yo vengo de una raza que tiene tas, conhecimentos, trajetórias e inspiração.

1 Mary Grueso Romero nasceu em Guapí, Cauca, na Colômbia e é uma das mais representativas vozes do Pacífico colombiano, tendo recebido, em 1997, reconhecimento
como “primeira mulher poeta consagrada do Pacífico caucano, tendo inúmeros trabalhos etnoeducacionais na região. Este poema “Negra soy” é de dos seus mais conhecidos
(OCAMPO & CUESTA, 2010, 155-160).

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Baldi

INTRODUÇÃO Said sobre o orientalismo, foi o egípcio


O repensar dos direitos humanos em Anouar Abdel-Malek quem, em 1963,
chave descolonial tem permitido a aber- em “Orientalism in crisis”, procurou des-
turas a outros saberes, que tinham sido tacar um projeto “civilizacional alterna-
silenciados, oprimidos, ocultados ou tidos tivo”. Para ele, é necessário destacar o
como inexistentes. Apesar das discussões “caráter insuficientemente universal e uni-
propiciadas pelas novas constituições do versalizante do aparato conceitual em
Equador e da Bolívia, insistindo na inter- crise” (ocidente-centrista), demonstrando
culturalidade e na descolonização dos que a “inserção do diferente, das dife-
conhecimentos e práticas, algumas ausên- renças, nos próprios corpos das teorias
cias continuam a ser sentidas nas discus- em curso encontra vivas resistências”, uma
sões: 1. A super visibilização das tradições repugnância de enfrentar “diretamente o
ameríndias, em especial nos dois países problema crítico, isto é, a reestruturação
citados, mas também no Brasil, não teria do próprio aparato conceitual” (ABDEL-
acarretado o silenciamento das episte- MALEK, 1975,44).
mologias negras por todo o continente? Ou seja: “noções e conceitos permane-
2. o “conhecimento outro” vem incluindo o cem, no essencial, fora do campo críti-
pensamento feminista, de gênero e mes- co” (ABDEL-MALEK, 1975, 44), porque
mo de sexualidades dissidentes? Aqui, o dado que informa a “teoria social mo-
o foco será dado para os aportes afros, derna” é europeu e ocidental, em razão
reconhecendo, contudo, a necessidade de da hegemonia da Europa e, mais tarde,
aprofundar a discussão sobre coloniali- da América do Norte, de tal forma que
dade de gênero e a própria questão da “a Ásia, a África e a América Latina- os
interseccionalidade das lutas. três quartos da humanidade- não são
levados em conta no momento em que o
Ocidente se preocupa em elaborar sua
DIVERSIDADE E DIREITOS HUMANOS: visão de mundo real na diversidade das
A POUCA ATENÇÃO DADA AOS teorias e das filosofias políticas” (ABDEL-
MALEK, 1975, 50).
APORTES AFROS E FEMINISTAS
Desta forma, os materiais dos países e
Immanuel Wallerstein (WALLERSTEIN, dos povos “dependentes têm sido par-
1999, 24-49), quando era presiden- cialmente integrados, enquanto objetos, e
te do ISA- Associação Internacional de nunca enquanto sujeitos” (ABDEL-MALEK,
Sociologia, destacava seis desafios para 1975, 50), e a introdução dos mundos até
as ciências sociais: a) o inconsciente, a então marginalizados “na normalidade
partir do pensamento de Freud; b) o científica está provocando uma profun-
eurocentrismo; c) a construção social do da inquietação teórica” (ABDEL-MALEK,
tempo, em especial a partir de Braudel; 1975, 60). Trata-se, pois, da visibilização
d) os estudos da complexidade; e) o de um intenso processo de injustiça cog-
feminismo; f) a noção de que moderni- nitiva, a não contar como sujeitos de co-
dade, no sentido de Bruno Latour, nun- nhecimento quase três quarto dos povos
ca existiu. Para os fins de análise aqui e países do mundo inteiro. É, portanto, o
propostos, o cerne se dará a partir dos reconhecimento deste processo de busca
pontos dois e cinco. de justiça social, lado a lado com o de
Apesar de a maior parte dos cientistas justiça cognitiva, que reforça a inquieta-
sociais destacar o trabalho de Edward ção teórica.
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Daí porque, para ele, é necessário acres- impossíveis em possíveis e com base neles
centar um “fio geográfico” ao histórico transformar as ausências em presenças”.
(ABDEL-MALEK, 1981,97), e o problema Mais que isso: reconhecer que os sujeitos
fundamental da teoria geral e epistemo- invisibilizados ou tidos como inexistentes o
logia passa a ser “aprofundar e definir são tanto como “sujeito de direitos” quan-
as relações entre o conceito de tempo e to como “sujeitos de conhecimento”: a
a constelação de noções que versam par- descolonização do conhecimento é, desta
ticularmente sobre a densidade do tem- forma, a outra forma da visibilização da
po no domínio da história das sociedades forma colonial que o direito se apresenta.
humanas” (ABDEL-MALEK, 1981, 156). A O outro desafio, destacado por
emergência do mundo não ocidental no Wallerstein, que aqui interessa, diz res-
campo de visão das ciências sociais, no peito aos distintos feminismos, que des-
último meio século, “diversifica considera- tacam que o mundo do conhecimento
velmente e enriquece o fundo dos mate- tem “ignorado as mulheres como sujeitas
riais que as investigações têm colocado do destino humano”, excluindo-as como
à sua disposição”, possibilitando uma “estudantes das realidades sociais”, ao
reconstrução crítica, com diferentes “tem- passo que sua inclusão tem a capacida-
pos” que são “diferentes modos através de de colocar, na agenda, como proble-
dos quais a temporalidade é manifes- máticas a periodização, as categorias
tada e capturada”, uma temporalida- de análise social e as teorias de mudan-
de determinada pelos “concretos ritmos ça social, por conta dos preconceitos que
sociais de uma específica história dentro afetam tanto as ciências sociais quanto
de quadros teóricos de diferentes círculos as ciências naturais, renunciando à divi-
geográficos e culturais” (ABDEL-MALEK, são “entre trabalho intelectual e emocio-
1981, 157). nal que mantém a ciência como âmbito
O desafio geográfico se converte, ao masculino” (WALLERSTEIN, 1999, 41) e
mesmo tempo, em conceito alternativo salientando a existência de conhecimen-
de tempo, este não visto como “mercado- tos situados e parciais.
ria”, mas sim como “amo da existência” Se é verdade que o autor usa o termo
(ABDEL-MALEK, 1981, 180-181) e coloca no singular, o importante a destacar é a
a questão de um desafio sobre a natu- existência de distintas formas de reava-
reza do tempo e, ao fim e ao cabo, de liar o machismo, o sexismo e a heteronor-
outras temporalidades, lógicas de exis- matividade que têm imperado no âmbito
tência e de epistemologias, cosmovisões tanto da divisão entre ciências naturais
que foram tidas como inexistentes. e ciências sociais, quanto na invisibliza-
Assim sendo, trata-se de um verdadeiro ção das cientistas sociais ou mesmo das
exercício de sociologia das ausências, problemáticas a serem analisadas. Não
no sentido de que “o que não existe é, à toa Wallerstein salienta o trabalho de
na verdade, ativamente produzido como Donna Haraway em mostrar as rupturas
inexistente, ou seja, como uma alternati- de fronteiras entre o animal e o huma-
va não credível ao que existe” e, assim, no, entre físico e o não físico, de modo a
torna-se “impossível para as ciências so- pensar que significado teriam tais ques-
ciais convencionais” e sua “simples for- tionamentos para ciência se fosse de ou-
mulação já representa uma ruptura com tro modo. E aqui a necessidade de novas
elas” (SOUSA SANTOS, 2002, 246). O formas de imaginação democrática, uma
objetivo, portanto, é transformar “objetos “democracia de todo tipo de vida”, como
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destaca Vandana Shiva, de modo a ter de um ponto de vista metodológico”,


uma “colaboração de memórias, legados, por outro, sua recomendação ia no sen-
heranças, uma heurística variada de re- tido de que “deixemos os métodos aos
solver problemas, onde um cidadão tenha botânicos e matemáticos”, pois “há um
tanto poder quanto conhecimento em suas momento em que os métodos se reabsor-
próprias mãos.” (VISVANATHAN, 2009). vem, se dissolvem”.
Daí se seguem dois pontos que Wallerstein O segundo, bem destacado por Butler,
não destaca adequadamente. O primei- vai no sentido de que “nós nos formamos,
ro diz respeito à necessidade de fazer nos constituímos, dentro de vocabulários
a crítica do método científico e também que não escolhemos e, muitas vezes, nós
das “visões de mundo” que, associando temos que rejeitar estes vocabulários, ou
ao privilégio do olhar e ao enfoque mas- ativamente desenvolver outros” (BUTLER,
culino, escondem outras “sensibilidades 2015). Como salienta Boaventura Santos
de mundo” (MIGNOLO, 2011)2, sendo (SOUSA SANTOS, 2010, 30-31), a teo-
necessário o abrir-se aos demais senti- ria crítica, atualmente, foi perdendo a
dos que foram hegemonizados (BALDI, primazia de denominação de suas di-
2014, 14-16). Talal Asad (ASAD, s.d) tem ferenças em relação às teorias tradicio-
salientado a necessidade de perguntar nais ou hegemônicas: foi perdendo os
quais atitudes particulares e sensibilida- “substantivos” (socialismo, luta de classes,
des dependem de determinados sentidos alienação, etc) e ficando com os “adje-
e como “novas percepções sensoriais to- tivos” (sustentável, subalterno, insurgente,
mam corpo e tornam irrelevantes velhos radical, participativa). Ou seja, entra no
modos de se relacionar com o mundo debate sem discutir os termos do deba-
(experiências mais antigas) e velhas for- te. O mesmo tem valido para a adjetiva-
mas políticas.” Os feminismos, neste pon- ção “descolonial” colocada para diversos
to, permitem a descolonização da visão, campos dos conhecimentos.
ampliando as “sensibilidades” do mundo Se, por um lado, as lutas indígenas vão
para além do privilégio epistemológico introduzindo novos vocabulários ou res-
concedido a ela. 3 Os aportes afros, por semantizando conceitos (pachakuti, suma
sua vez, podem salientar outras formas kawsay, território, pachamama, etc), as
de experienciar corporalidades e, por- lutas das feministas- negras, indígenas, is-
tanto, possibilidades mais amplas de en- lâmicas, não ocidentais- vão, de um lado,
tender os direitos humanos. “descolonizando” a linguagem (não mais
E, aqui, um ponto já destacado, sutilmen- somente o inglês, francês, espanhol, italia-
te, por Fanon ( FANON, 1952: 33), no no, alemão e português, mas fundamen-
sentido de que, por um lado, é “de bom talmente a recaptura de termos de suas
tom avançar, numa obra de psicologia, línguas nativas ou de seus bilinguismos),
e, por outro, recuperando tradições não
2 Encontra-se o mesmo tipo de preocupação explicitamente em MIGNOLO ocidentais que foram suprimidas, igno-
(2011): “Utilizo la expresión ‘sensibilidad del mundo’ en lugar de ‘visión del mundo’
porque ésta, restringida y privilegiada por la epistemología occidental, bloqueó radas ou silenciadas. Trata-se, portanto,
los afectos y los campos sensoriales que están más allá de la vista. Los cuerpos
que pensaron ideas independientes y que se independizaron de la dependencia
de reconhecer novas linguagens, outras
económica eran cuerpos que escribieron en lenguas modernas/coloniales. Por esa
razón, necesitaban crear categorías de pensamiento que no se derivaran de la
narrativas, outras práticas de lutas, outros
teoría política y de la economía europeas.”
3 Glissant já salientava este ponto, associando a oralidade ao movimento do
imaginários possíveis, a reinvenção dos
corpo, à preponderância do ritmo, à “renovação das assonâncias”, distinguindo,
contudo, a oralidade da “estandardização” e da “banalidade” daquela outra,
próprios termos de discussão.
“fremente e criativa”, que corresponde “àquela dessas culturas que surgem atual-
mente na ‘grande cena do mundo’ e que, por outro lado, não adotam, preferencial- Algo que Erich Fromm (FROMM, 1980,
mente,” o caminho de “utilização da escrita, mas que se utilizam também dos meios
oferecidos pelo cinema, pela criação plástica, etc”( GLISSANT, 2005, 47-48). passim), estudando o pensamento de
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Freud e de Spinoza, salientava: todo filósofo afro-judeu jamaicano: a deca-
pensamento inovador necessita ressignifi- dência disciplinária, ou seja, a reificação
car o vocabulário já existente, mas tam- de uma disciplina, de tal forma que “nós
bém reinventar conceitos, palavras e vo- tratamos nossa disciplina como pensada
cabulários que ainda não captam o que como se nunca tivesse nascido”, sempre ti-
está sendo desenvolvido. Passa, portanto, vesse “existido e nunca mudasse ou, em al-
pela necessidade de descolonizar a lin- guns casos, morresse”; em suma, “eterna”
guagem. Um pouco é o que se fará em (GORDON, 2013, 18). Um evidente “fe-
relação à recuperação de conhecimentos chamento epistêmico” e de crítico decai-
e cosmologias afros. mento dentro de um campo ou disciplina.
O aporte, neste ponto, não vai se con- O segundo conceito é dele: o apartheid
centrar na colonialidade de gênero- que epistêmico, ou seja, o reconhecimento de
necessita ser trabalhada de forma mais processos de racismo institucional e de
sistemática- mas, destaca, por sua vez, “racial colonização acadêmica ou de
também algumas pensadoras negras que quarentena conceitual do conhecimento,
estão fora do cânone. antiimperial pensamento, e/ou práxis
política radical produzida e apresenta-
da por não brancos”, que sejam ativistas
1. Apartheid epistêmico – as ausências intelectuais. Com isso, procura criticar as
dos aportes afros. distintas formas pelas quais o conheci-
W. E. B. Du Bois estabeleceu o primeiro mento é “conceitualmente colocado em
departamento de sociologia nos Estados quarentena ao longo de linhas racial-
Unidos, criou o primeiro laboratório mente estabelecidas em função de gê-
desta área, instituiu um programa siste- nero, religião, orientação sexual e clas-
mático de pesquisa, fundou dois jornais se econômica” (RABAKA, 2010, 15-19).
(Crisis e Phylon: a review of Race and Um processo de ativa produção de ine-
Culture), intentou organizar uma socieda- xistência, de tal modo que não brancos,
de sociológica em 1897 e, contudo, não mulheres e outros aparecem ligados a
consta no cânone entre os “fundadores” lugares, espaços e identidades perpé-
da disciplina. Este o mote para Reiland tua e involuntariamente designados e se
Rabaka (RABAKA, 2010, 3-5) realizar faz necessário reconhecer a “construção
um verdadeiro processo de “escavação”, social da segregação social envolvida e
verificando o que tem sido excluído e o as hierarquias sociais que (re)definem e
que tem sido incluído em relação às con- deformam raça, gênero e classe” na so-
tribuições deste autor para a sociologia, ciedade (RABAKA, 2010, 33). Trata-se,
concluindo pela sua incessante e insidiosa portanto, da profunda necessidade de
omissão na história da sociologia. Desta reavaliação e revisão da história intelec-
forma, é óbvio que nem os cânones so- tual da sociologia, do desenvolvimento
ciológicos nem a história da sociologia disciplinar, das formações discursivas e
são neutros, puramente “objetivos”, den- práticas discursivas, “oferecendo alterna-
tro de um vácuo social, político, histórico, tivas éticas e igualitárias e rompendo com
cultural, racial e sexual. a amnésia intelectual histórica” ( RABAKA,
Rabaka desenvolve seu argumento a par- 2010, 22-24).
tir de duas ideias interessantes (e aqui a Desde Quijano, os estudos têm salientado
reinvenção da linguagem joga um papel que a colonialidade é, ainda, o “modo
importante). A primeira é proveniente do geral de dominação atual, uma vez que o
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colonialismo, como ordem política explíci- cultural, portanto, assimétrico e instável,


ta, foi destruído” (QUIJANO, 2006, 419) que deve ser pensado sobre uma cultura
e que a emergência do sistema moderno- desenvolvida nos dois lados do Atlântico.
-colonial é, simultaneamente, a criação Paradoxalmente, o autor centra suas dis-
de uma nova identidade geocultural- a cussões em pensadores afros dos Estados
Europa- com sede do controle do merca- Unidos, o que implica reconhecer, pois,
do mundial, mas também o “deslocamento que o seu “Atlântico negro” produz duas
de hegemonia da costa do Mediterrâneo invisibilidades interessantes.
e da costa ibérica para as do Atlântico A primeira foi bem destacada pelo tra-
Norte-ocidental” (QUIJANO, 2005, 228). balho de Manuel Zapata Olivella, afro-
A emergência da ideia de “Europa” e colombiano pouco conhecido na América
de “ocidente” é a admissão de “diferen- Latina e menos ainda no Brasil. Para ele,
ças com outras culturas”, mas “admitidas como colombiano, é necessário pensar não
antes de tudo como desigualdades, no somente no Atlântico Negro, mas também
sentido hierárquico”: percebidas como no Pacífico Negro e nas diferenças entre
desigualdades de natureza, pois somen- as ilhas de San Andrés e Providência e o
te a cultura europeia é racional e pode litoral do Pacífico e Chocó, onde, ao invés
conter “sujeitos”, sendo as demais não de “aumentar a hibridação, a abolição
racionais. Desta forma, as “outras cul- da escravidão teve ali um resultado con-
turas são diferentes no sentido de ser trário”, e os brancos “se encerraram em
desiguais, na verdade inferiores, por compartimentos endogâmicos e os afros,
natureza” e, pois, “só podem ser ‘obje- disseminados por ribeiras, selvas e cos-
tos’ de conhecimento ou de práticas de tas perpetuaram, sem, assim propor-se, o
dominação”. A relação entre a cultura cadinho de sua própria etnia” (ZAPATA
europeia e as demais se estabeleceu e OLIVELLA, 1997, 21).
se mantém como relação entre sujeito e O mesmo pode ser em relação à expres-
objeto (QUIJANO, 2006, 421) são negredumbre, utilizada por Rogerio
A questão da descolonização dos direitos Velásquez, relacionando “negro” e “mu-
humanos, com a proeminência da discus- chedumbre”, esta última vista como aque-
são sobre a mudança do Mediterrâneo la formada por afrodescendentes coloca-
para o Atlântico como rota comercial, dos em situação de exclusão e margina-
acabou por incentivar as discussões so- lidade e que habitam territórios especí-
bre o “Atlântico Negro”, na linha de Paul ficos (rios, selva, mundo rural): com isto,o
Gilroy, para transcender “tanto as estru- autor se refere àquela “qualidade pela
turas do estado-nação como os limites qual o negro das terras do Pacífico sem-
da etnia e da particularidade nacional” pre se nos apresenta atuando de manei-
(GILROY, 2001,63), no sentido de escre- ra coletiva, como comunidade, e nunca,
ver histórias de uma “trans-cultura ne- ou quase nunca, de maneira individual”
gra”, que não leva só à terra, mas “ao (PATIÑO, 2010, 12)
mar e à vida marítima, que se movimenta Esta exclusão das análises envolvendo
e que cruza o Oceano Atlântico, fazendo as relações com o Pacífico, restou mais
surgir culturas planetárias mais fluidas e evidente- ainda que não tratando da
menos fixas”, aprofundando a compreen- questão afro- com os recentes estudos de
são sobre o “poder comercial e estatal Benedict Anderson (ANDERSON, 2007)
e sua relação com o território e o es- e Kiochi Hagimoto (HAGIMOTO, 2010),
paço” (GILROY, 2001, 15). Um conjunto ao mostrarem as intensas conexões en-
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tre os movimentos de independência de verno colonial espanhol, atualmente ca-
Cuba e das Filipinas, a partir do estudo pital da República Dominicana. Mas na
das intervenções de José Martí e José mesma ilha, está situada a antiga colônia
Rizal. Não é demais lembrar que 1898 é francesa, hoje Haiti. E exatamente no mo-
o ano da independência dos dois países mento em que se sucediam as revoluções
em relação à Espanha e da cessão de burguesas, era o Haiti a primeira nação
Guam, por parte desta, para os Estados negra, de escravos iletrados, a tornar-se
Unidos, marcando, também, uma fase de independente: daí C. L. R. James referir-
quase protetorado deste país sobre todo -se aos revolucionários como “jacobinos
o Caribe e, mais adiante, de seu predo- negros” (JAMES, 2007) . Mas não só isto.
mínio como potência imperial. A primeira Constituição do país, em 1805,
A segunda diz respeito justamente so- previa: a) abolição de todas as referên-
bre a centralidade do mar do Caribe, cias a “graduações de cor de pele”(EUA
que, alimentado pelas águas do Oceano manteve segregação racial até 1964); b)
Atlântico, tem, hoje, treze países indepen- direitos iguais para os filhos nascidos fora
dentes e dezessete territórios dependen- do matrimônio; c) inexistência de religião
tes. Ou seja: era e continua sendo o espa- predominante; d) garantia de igual aces-
ço do colonialismo dentro das Américas so à propriedade privada tanto a “an-
( recordando-se, ainda, que na América ciens libres” quanto a “nouveaux libres”
do Sul, a Guiana Francesa tampouco é (escravos libertos); e) abolição da escra-
independente). vatura “para sempre”(o primeiro país
do mundo); f) possibilidade de divórcio.
Aliás, a “cláusula de igualdade” aplica-
2. Recordando vozes do Caribe: o lócus va-se a “todos os mortais”, inclusive “mu-
inicial da colonialidade do poder. lheres brancas naturalizadas” (a Suíça
só concedeu voto feminino em 1960; o
Lewis Gordon destaca que o Caribe joga Brasil, oficialmente, em 1932), “seus filhos
um complexo papel no desenvolvimento atuais e futuros” e também aos “alemães
do pensamento de “estudos Africana” e poloneses que tivessem sido naturaliza-
(“africana philosophy”)4: a) foi o lugar dos pelo Governo”.
onde a moderna expansão capitalista foi
inaugurada em 1492; b) o movimento de Como destaca o cientista político gui-
pessoas e de ideias era muito rápido na neense Siba Grovogui, “ ao assumir-
constelação de ilhas e litorais continen- -se como humanos, os escravos haitia-
tais; c) foi o local do lucro e da experi- nos desafiavam as noções correntes
mentação que afetou grande parte das de homem e razão, e de seus acessos
aspirações e esperanças das nações no a capacidades e faculdades humanas.”
Atlântico e no resto do mundo (GORDON, (GROVOGUI, sd, 15). E mais ainda: op-
2008, 56). tou pela denominação indígena originá-
ria, da língua dos tainos, “Ahti” ( mon-
Não é demais lembrar que a chegada tanha), ao invés do nome “Hispaniola”,
de Colombo se dá na ilha de Hispaniola, dado por Colombo à ilha.
onde, em 1496, será fundada a cidade
No exato momento em que a Declaração
de Santo Domingo, primeira sede do go-
Universal dos Direitos Humanos salien-
tava a desumanidade do holocausto e
4 Para Gordon, “africana philosophy” significa “a exploração da vida moderna
como entendida através das contradições levantadas pela realidade vivida das do nazismo, os povos africanos, asiáti-
populações afrodiaspóricas”, envolvendo temas como antropologia filosófica, liber-
dade e libertação e metacríticas da razão ( GORDON, 2014, 87-88). cos e alguns do Caribe e da América
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do Sul- como recordava Abdel-Malek, 2007, 4); b) o reconhecimento de um plu-


os três quartos da humanidade- ainda ralismo jurídico ou mesmo de uma duali-
se encontravam sob domínio colonial. dade de poderes convivendo no mesmo
A própria Declaração dos povos colo- espaço geográfico, mas, por outro lado,
niais somente será firmada em 1960, e, a possibilidade de reconhecer, por par-
até então, os países europeus aplicavam te dos escravos, a existência, também, de
as disposições de direitos humanos “com idioma, regras e costumes próprios, ainda
a devida consideração, todavia, das que não reconhecidos pelo Estado; c) a
particularidades locais” (art. 63.3 da invisibilidade, por parte do colonizador,
Convenção para proteção dos direitos desta própria linha criada, mas, parado-
humanos e das liberdades fundamen- xalmente, reconhecida pelo colonizado,
tais, de 1950, firmada pelo Conselho numa verdadeira zona de “não ser”, an-
da Europa), ou seja, os direitos humanos tes da teorização de Fanon; d) a invisibi-
valiam para as metrópoles de forma in- lidade de outras formas de conhecimento
teira, mas não para as colônias. e de resistência, para além do poder civil
do Estado e suas formas de organização
Uma situação, aliás, salientada, nos
e, desta forma, experiências que podem
Estados Unidos, ainda durante a escravi-
ser acionadas em sentido de abordagens
dão, pelo relato de Frederick Douglass,
mais amplas de direitos humanos.5
que nascido escravo em Maryland em
1818, escreve em 1855 (DOUGLASS, Esta invisibilização do legado afro é a
1855,60-61): outra face, nos estudos descoloniais, da
hipervisibilidade do protagonismo indí-
gena.6 O que, em termos de direito in-
“ plantation é uma pequena nação em ternacional, é mais paradoxal: a Corte
si mesma, tendo seu idioma próprio, Interamericana apreciou, de forma ex-
suas regras, regulamentos e costu- pressa, o sistema de posse de terra dos
mes próprios. As leis e instituições do membros do povo afro Saramaka, resi-
Estado, aparentemente, não a afetam dente no Suriname, salientando, a partir
em parte alguma. As dificuldades que da produção de provas e declarações
surgem daí não são resolvidas pelo apresentadas para o julgamento, que:7
poder civil do Estado.”

Analisando o trecho acima, Gilroy “se extrae que los lös, o clanes, son
(GILROY, 2001, 132) entende que as las entidades propietarias primarias
memórias revelam que a “plantation” de las tierras dentro de la sociedad
Saramaka. Cada lö es autónomo y es
escravista “era uma instituição arcaica e
quien asigna los derechos de la tierra
deslocada do mundo moderno”.
y los recursos entre los bëë (grupos
Visto, contudo, pela ótica da perspectiva familiares extendidos) y sus miem-
aqui apresentada, ficam evidentes alguns bros individuales de conformidad
pontos: a) o estabelecimento de uma li- con la ley consuetudinaria Saramaka.
nha abissal entre as instituições de Estado
regido pelas leis europeias e o regime 5 Sobre outras narrativas de africanos ou afrodescendentes entre os séculos XVIII
e XIX, levando em conta o tráfico transatlântico, a escravidão perpétua e a inven-
escravista, ou seja, o que é liberdade, ção e uso do sofisma racial, tanto realizadas por homens quanto por mulheres,
vide: SILVA VASCONCELLOS, 2014. Sobre tradição afrocolombiana do Pacífico:
igualdade e fraternidade, nos termos eu- OCAMPO & CUESTA, 2010; FURTADO, 2010.
6 Os aportes de Catherine Walsh e de seu grupo junto ao Fondo Afro Andino são
ropeus, é, no lado colonial, de fato, apro- exceções que confirmam a regra.
7 Caso Saramaka vs. Surinam, sentencia de 28 de noviembre de 2007, § 100. Dis-
priação e violência (SOUSA SANTOS, ponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_172_esp.pdf .

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Conforme a dicha ley consuetudina- reducionismo europeu”, na busca de um
ria, los Capitanes o miembros de un “universalismo descarnado”, um univer-
lö no pueden afectar o enajenar de sal “depositário de todos os particulares,
modo alguno la propiedad comunal aprofundamento e coexistência de todos
de su lö y un lö no puede afectar o os particulares.” (CÉSAIRE, 2006, 30).
enajenar las tierras del conjunto co-
lectivo del territorio Saramaka. Sobre Também nas décadas de 1950-1960,
este último punto, el Capitán Jefe y outro antilhano, Frantz Fanon (1925-
Fiscali Eddie Fonkie explicó que “[s] 1961), que viveu bons anos na Argélia,
i un lö trata de vender su tierra, los então colônia francesa, preocupado com
otros lös tienen el derecho de objetar as consequências psicológicas do colo-
y detener dicha transacción porque, nialismo (era psiquiatra), vai destacar o
de lo contrario, se afectarían los de- fato de o racismo “se renovar, se mati-
rechos y la vida de todo el pueblo zar e mudar de fisionomia”, e de que a
Saramaka. Los lö son muy autónomos constelação social, o conjunto cultural, são
y […] no interfieren en los asuntos de “profundamente remodelados pela exis-
los demás a menos que se vean afec- tência do racismo.” (FANON, 1980, 36) A
tados los intereses de todo el pueblo necessidade que o opressor tem de “dis-
Saramaka”. Esto es porque el territo- simular as formas de exploração”, tam-
rio “pertenece a los Saramakas, en úl- pouco provoca “o desaparecimento des-
tima instancia. [Es decir] le pertenece ta última” (FANON, 1980, 40). Entende,
a los Saramaka como pueblo” desta forma, que a “universalidade resi-
de nesta decisão de assumir o relativismo
Recorde-se, novamente, que estando lo- recíproco de culturas diferentes, uma vez
calizados no Caribe 17 territórios não excluído irreversivelmente o estatuto co-
independentes, o processo de descolo- lonial.” (FANON, 1980, 48).
nização, nas Américas, ainda não fin- Édouard Glissant (1928-2011), por sua
dou. Diante desta situação, Aimé Césaire vez, também em Martinica, vai insistir na
(1913-2008), da Martinica, ainda hoje “poética da diversidade”, em que o di-
departamento ultramarino francês no verso não é o caótico ou o estéril, mas
Caribe, afirmava, em 1950, que a “co- “o esforço do espírito humano em dire-
lonização trabalha para descivilizar o ção a uma relação transversal”, da ne-
colonizador” e que o humanista burguês cessidade da “presença dos povos” como
do século XX levava, dentro de um si, um “projeto a por em relação” (GLISSANT,
Hitler: porque, em realidade, o que não sd, 1). Daí destacar que os povos que até
se perdoava, com seus atos, não era um então “povoavam a face escondida da
“crime contra o homem”, mas sim o fato de terra” tivessem que “nomear-se diante
“haver aplicado na Europa procedimen- do mundo totalizado”, pela necessidade
tos colonialistas que, até então, somente de não desaparecer da “cena do mun-
concerniam aos árabes da Argélia, aos do” e de contribuir, ao contrário, “à sua
coolies da Índia e aos negros da África” ampliação” (GLISSANT, sd, 2). O diver-
(CÉSAIRE, 2006, 15). so, diz ele, “é teimoso”: “nasce em toda
Contra a acusação de uma “negritude” parte” e, desta forma, o autor critica as
como forma de um “racismo inverso”, des- situações em que a língua materna oral
tacava a luta “contra o sistema de cul- é determinada ou oprimida por uma lín-
tura”, que criava e mantinha hierarquias: gua oficial, que se torna “língua natural”,
era, em verdade, uma “rebelião contra o de civilização e de prestígio, relegando
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à oralidade um caráter de “comunidade ele, capitalismo e racismo não rompem


presa” (GLISSANT, sd, 3 e 5). com o feudalismo, mas, antes, se retroa-
Trata-se, no seu caso, de resgatar a dig- limentam, produzindo um sistema que ele
nidade do “créole”, promovendo, portan- denomina de capitalismo racial, depen-
to, a descolonização linguística, que é a dente, portanto, da escravidão, violência,
outra face, portanto, da descolonização imperialismo e genocídio, realizando uma
epistêmica (GARCÉS V, 2009). Como re- “escavação” no sistema colonial, encon-
corda Fernando Garcés, a colonialidade trando a ideologia racial britânica que
linguística, por um lado, subalternizou de- se assentava, também, na classe obreira
terminadas línguas em favor de outras irlandesa, as tentativas de reconstrução
(inglês, alemão e francês são as línguas da cultura africana no “Novo Mundo”,
de “maior peso” na “alta modernidade” pois a construção do “negro” e, por con-
e continuam hegemônicas como língua de sequência, da “brancura” e de todas as
conhecimento e literatura mundial) e, por políticas de “fronteiras raciais”, requeria
outro, colonizou a língua dos falantes de “imensos gastos de energias psíquicas e
tais línguas: ou seja, “não se subalterniza- intelectuais do Oeste”. Racismo não é,
ram determinadas línguas, mas também simplesmente, “uma convenção para or-
a própria palavra e o dizer dos falantes denar as relações de Europa com povos
colonizados” (GARCÉS, 2007, 227). não europeus, mas tem sua gênese nas
‘internas’ relações dos povos europeus” e,
Para Glissant, o processo de crioulização deste modo, o racialismo, inevitavelmente,
é que exige “que os elementos hetero- permeia a “estrutura social que emerge
gêneos colocados em relação se ‘inter- do capitalismo” (ROBINSON, 20002-5,
valorizem’, ou seja, que não haja degra- 45-47). Antecipa, em alguns anos, a dis-
dação ou diminuição do ser nesse con- cussão sobre a colonialidade do poder.
tato e nessa mistura”, tanto de “dentro
para fora” quanto de “fora para den- Aqui, sua reflexão encontra eco, mais tar-
tro”. Utiliza “crioulização” como “mesti- de, no pensamento de Zapata Olivella,
çagem acrescida de uma mais-valia, que para quem o “marxismo latino-americano
é imprevisibilidade”: a crioulização é embebido na luta de classes, ainda não
imprevisível, ao passo que “poderíamos havia começado a compreender que, em
prever os efeitos de uma mestiçagem” nossa sociedade, nascida da opressão do
(GLISSANT, 2005, 22).8 índio e do negro, classe e raça são con-
ceitos inseparáveis, nós de uma mesma
Necessário, contudo, destacar um ponto cadeia opressora” (ZAPATA OLIVELLA,
que tem sido impressionantemente invi- 1997, 98), daí os conflitos do autor com
sibilizado: as contribuições marxistas ne- seus camaradas, “adormecidos pela alie-
gras do Caribe, em especial de Trinidad nação cultural”, somente vendo “opressão
e Tobago (REDDOCK, 2104), desde econômica”. Assim, tendo em vista a re-
C.L.R. James, passando por Eric Williams, lação íntima entre raça, colonialismo e a
Padmore e, para o ponto que aqui in- matriz contínua do poder, diversamente
teressa, Cedric Robinson (1940-).9 Para da perspectiva marxista de seu tempo,
Zapata Olivella podia “viabilizar a inter-
8 Max Hantel procura salientar a necessidade de interseção de lugar contra o
falocentrismo e a racialização, a partir de uma leitura descolonial de Glissant que
secção entre raça e classe e a pigmento-
considere a diferença sexual ( HANTEL, 2014). Para a recepção de Fanon entre
as feministas italianas, vide: BOHRER, 2015. Há toda uma discussão sobre Fanon e
cracia das sociedades latinoamericanas”
estudos feministas que não cabe aqui analisar. ressaltando, ainda, a violência “carnal
9 O mesmo pode ser dito, no âmbito brasileiro, do “esquecimento” do piauiense
Clóvis Moura (1925-2003) do cânone do pensamento social, sendo certo que tra- dirigida de maneira particular à mulher
balhou com as rebeliões escravas, quilombos, dentro de um perfil de crítica ao
capitalismo e ao racismo. indígena e negra” (WALSH, 2013, 58)
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Desta forma, cuida-se, portanto, a par- conserva cultural”, fazendo com que a
tir das temáticas afro, de indisciplinar formação do sociólogo latino-americano
(WALSH, SCHIWY, CASTRO-GOMÉZ, consistisse “num adestramento para o
2002, 14), no sentido de: a) fazer “evi- conformismo, para a disponibilidade da
dente o disciplinamento, a disciplina e as inteligência em face das teorias”, apren-
formações disciplinárias que se vem cons- dendo a “receber prontas as soluções.”
truindo nas ciências sociais, desde o século (GUERREIRO RAMOS, 1982, 107-108).
XIX”, ressaltando seu legado colonial; b) Criticava (1954) a ausência de uma ciên-
mais que ignorar ou desprezar as ferra- cia brasileira, porque o trabalho cientí-
mentas teóricas ou conceitos centrais das fico desenvolvido no país não “contribui
ciências sociais, fazê-las comunicarem-se para a autodeterminação da socieda-
entre si, para “repensar sua utilidade ou de”, carecendo de “autenticidade” e uti-
seus efeitos sobre as relações coloniais, lizando conceitos pré-fabricados e pobre
perguntando até que ponto estas ferra- de “experiências cognitivas genuinamen-
mentas perpetuam a lógica vigente”; c) te vividas”. A formação do sociólogo con-
buscar modificações e ajustes às ferra- siste, “via de regra, num adestramento
mentas e conceitos do pensar moderno e, para o conformismo”, e organização do
quando seja necessário, também alterna- ensino deve “obedecer ao propósito fun-
tivas frente ao mundo moderno-colonial; damental de contribuir para a emancipa-
d) reconhecer outras formas de conheci- ção cultural dos discentes”, capazes de
mento, “particularmente os conhecimentos “interpretar os problemas das estruturas
locais produzidos a partir da diferença nacionais e regionais a que se vinculam.”
colonial e os cruzamentos e fluxos dialó- (GUERREIRO RAMOS, 1995, 105-107),
gicos que podem ocorrer entre eles e os como instrumento de autodeterminação
conhecimentos disciplinários. (GUERREIRO RAMOS, 1995, 111-119).
As categorias da antropologia, por exem-
plo, eram “literalmente transplantadas de
3. A sociologia das ausências países europeus e dos Estados Unidos”,
afrobrasileiras: direitos humanos e constituindo um despistamento da “espo-
racialização. liação colonial.” (GUERREIRO RAMOS, sd,
Trata-se, pois, de des-aprender o que 2). Antecipava-se, pois, à discussão do
foi aprendido e voltar a aprender, uma colonialismo interno nas ciências sociais e
dupla ruptura epistemológica, teórica e buscava analisar o problema do negro,
prática. Necessário, pois, que se vença não a partir de valores da realidade eu-
esta gigantesca resistência. Destaquem- ropeia, mas sim da realidade brasileira,
se, no âmbito brasileiro, alguns silencia- como visão autóctone. 10
mentos. A descolonização do saber é, O Brasil, vendo-se como “uma sociedade
desde o início, um processo de pedago- europeizada”, não escapa de uma “pa-
gia de lutas. tologia cultural”: “o brasileiro em geral e,
O baiano Guerreiro Ramos (1915-1982), especialmente o letrado, adere psicologi-
descrito pelo regime militar como “mula- camente a um padrão estético europeu e
to, metido a sociólogo”, criticava a socio- vê os acidentes étnicos do país e a si pró-
logia “consular”, que era um “episódio da prio, do ponto de vista deste”, numa alie-
expansão cultural dos países da Europa
e dos Estados Unidos” e, pois, “enlata- 10 Um exercício interessante é feito por João Ehlert Maia, relacionando as dis-
cussões de Guerreiro Ramos, no Brasil, e Hussein Alatas, na Malásia, sobre indige-
da”, “consumida como uma verdadeira nização do conhecimento ( MAIA, 2014, 1097-1115).

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nação em que se “renuncia a indução de Defende, neste sentido, um “Estado


critérios locais ou regionais de julgamen- Nacional Quilombista”, com base “numa
to do belo, por subserviência inconscien- sociedade livre, justa, igualitária e so-
te a um prestígio exterior.” (GUERREIRO berano”, um igualitarismo quilombista
RAMOS, sd, 21-2). Esta identificação com “compreendido no tocante a sexo, so-
o padrão estético europeu seria a pato- ciedade, religião, política, justiça, edu-
logia social do branco. A sociologia no cação, cultura, condição racial, situação
Brasil, constituía uma “espécie de paióis econômica, enfim, a todas as expressões
ou dialeto da sociologia europeia ou de vida da sociedade.” (NASCIMENTO,
norte-americana.” Ou seja, eram estudos 2009,212). Alguns dos pontos: a) no qui-
sobre e não desde, junto ou com os negros lombismo, não haverá “ haverá religiões
no Brasil, o que garante ao autor uma e religiões populares, isto é, religião da
importância singular na sociologia bra- elite e religiões do povo”, porque “todas
sileira (FIGUEIREDO & GROSFOGUEL, as religiões merecem igual tratamento de
2007), pela insistência na revisão crítica respeito e garantias de culto”, reforçan-
da produção intelectual à luz da realida- do a denúncia da discriminação contra
de nacional. as religiões de matriz africana no país
Para o paulista Abdias do Nascimento (NASCIMENTO, 2009, 214); b) o “qui-
(1914-2011), por sua vez, na prática, lombismo” é essencialmente um defen-
tanto a Abolição quanto a Constituição sor da existência humana, colocando-se
de 1891, tinham fabricado “um cidadão contra a poluição ecológica e favorece
de segunda classe”, não fornecendo “ao todas as formas de melhoramento am-
negro os instrumentos e meios de usar as biental que possam assegurar uma vida
franquias legais”, de forma que as oli- saudável para as crianças, as mulheres
garquias republicanas atiraram quase e os homens, os animais, as criaturas do
metade da população “à morte lenta da mar, as plantas, as selvas, as pedras e
história, dos guetos, do mocambo, da fa- todas as manifestações da natureza
vela, do analfabetismo, da doença, do (NASCIMENTO, 2009, 214). Uma reinter-
crime, prostituição.”(NASCIMENTO, 1982, pretação das lutas a partir de cosmolo-
93-94). Miscigenação, para ele, não é gias negras, antecipando a presença da
sinônimo de ausência de preconceito e discussão da natureza.11
nem esta se identifica com inexistência Importante destacar que, em sua ativi-
de agressões violentas: “é como se se ra- dade parlamentar (1983-1987 e 1997-
ciocinasse: enquanto negro não é caça- 1999), apresentou diversos projetos,
do à paulada no meio da rua, não está destacando-se o de nº 1332, de 1983,
sofrendo nenhuma injustiça ou agressão”( que estabelecia, dentre outras: a) medi-
NASCIMENTO, 1982, 94-95) das concretas de “concretização compen-
O que se pratica no Brasil é “a negação satória” para isonomia de brasileiros de
dos princípios da verdadeira democracia ascendência africana; b) participação de
racial”, um “racismo sem apelo ou defesa 20% de homens negros e 20% de mulhe-
das vítimas” e, por isto, “não adianta a res negras, em todos os escalões de tra-
reiteração teórica de que cientificamente balho e de direção, em especial de me-
não existe raça inferior ou raça superior”:
o que vale é “conceito popular e social 11 Destaque-se, também, a contribuição da sergipana Beatriz Nascimento
(1942-1995), para quem o quilombo, a partir da década de 1970, volta-se como
de raça”, o “preconceito ornamental.” “código da reação ao colonialismo cultural, reafirma a herança africana e busca
um modelo brasileiro capaz de reforçar a identidade étnica”(NASCIMENTO, 2008,
(NASCIMENTO, 1982, 100). 88). Sobre as suas contribuições: RATTS, 2006.

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lhor qualificação e remuneração, na ad- Zapata Olivella.12 Para este autor colom-
ministração pública das três esferas, além biano, a crítica se dá ao branqueamento
das Forças Armadas, Poder Judiciário e que a Colômbia faz, porque a mestiça-
Poder Legislativo (e também na iniciati- gem deve ser vista a partir da negritu-
va privada e no Instituto Itamaraty!); c) de, como “consciência do violentado, do
comprovação dos resultados das políti- rechaçado, do heroísmo e da resistên-
cas, a cada cinco anos; d) incentivo fiscal cia total”, de tal forma que “América se
sobre a folha de pagamento, no imposto enegreceu com os africanos, não por sua
de renda, para empresas que adotem pele negra, mas sim por sua rebeldia, suas
políticas compensatórias; e) fiscalização lutas escravistas, sua união com o índio
para comprovar que negros e brancos para combater o opressor”. Fez-se, pois,
são igualmente remunerados por traba- “negra”, pela “fusão dos sangues consi-
lho equivalente; f) concessão de bolsas derados impuros”, porque a mestiçagem
de estudos de “caráter compensatório” colonial “igualou biologicamente a índia
para estudantes negros; g) incorporação e a negra com seu violador branco”.
ao conteúdo de história das “contribui- Associa, portanto, o processo de violência
ções positivas dos africanos”, sua “resis- sexual e racial do colonizador com o ca-
tência contra a escravidão, sua organi- pitalismo e a escravidão. Negritude, em
zação e ação”, através dos quilombos, suma, é “indianidade, africanidade, ame-
sua luta contra o racismo no período pós- ricanidade, todas estas conotações que
-abolição; h) incorporação ao conteúdo se queira dar, menos o de colonização”
dos cursos optativos de estudos religio- (ZAPATA OLIVELLA, 1990, 329-330).
sos dos “conceitos espirituais, filosóficos e
epistemológicos das religiões de origem Sua valorização da trietnicidade- as três
africana”; i) cursos de orientação antir- “etnias” da Colômbia- é realizada a par-
racista para treinamento da profissão de tir da negritude, “ao contrário do que tem
policial. Antes, portanto, da instituição de feito a ideologia da mestiçagem, que a
políticas de ações afirmativas, a partir valora a partir do branco” e, desta forma,
de 2003. “faz a todos iguais, ocultando, assim, os
desiguais e as desigualdades”(LOZANO
Daí sua denúncia do genocídio do negro LERMA, 2012, 212-213). Seu projeto,
brasileiro- questão mais que atual para portanto, é “pluriversal de mestiçagem-
o Brasil de hoje- através da liquidação -outra concebido, desde um pluriversal
física, inanição, doença e brutalidade que pretende” conduzir, criticamente, a
policial e, de forma mais sutil, pela “mis- uma “interculturalização e interversaliza-
cigenação compulsória”, a ideia de que o ção” (WALSH, 2013, 61).
cidadão atinge os “direitos civis e huma-
Para outro afrocolombiano, Santiago
nos” somente na medida em que atinja as
Arboleda Quiñonez, trata-se de uma
“características do branco, na cor da pele,
“mestiçagem radical”, como superação
nos traços somáticos e no comportamento
da “ideologia racista, pilar da explora-
social, não importando sua competência
ção da modernidade”, como experimen-
social ou inteligência.” (NASCIMENTO,
tação de “maneiras de abrir e transfor-
1982, 27; NASCIMENTO, 1978, 69-77 E mar as democracias, reavaliando suas
93-100). injustiças, tendo como opção indispensá-
Interessante seria uma análise da ques-
tão da miscigenação e da mestiçagem 12 Para uma análise do pensamento deste autor, vide: ARBOLEDA QUIÑONEZ,
2011; PALACÍOS, 2013, MINA ARAGÓN, 2014 e BALDI, 2014a (neste último caso,
em comparação com o pensamento de tendo em vista a temática de direitos humanos e interculturalidade).

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vel a construção e consolidação de ci- A questão racial vem sendo ocultada no


dadanias desracializadas” (ARBOLEDA interior das sociedades hierárquicas da
QUIÑONEZ, 2011, 250). Não nega, nem região, e a própria formação história
se pretende “homogeneizar” a especifici- ibérica silenciou o fato de a guerra entre
dade do “afrodiaspórico e do indígena mouros e cristãos não teve na dimensão
pela opressão, exclusão, escravidão de religiosa sua única força, mas na dimen-
séculos” e tampouco nega a “particula- são racial: “os mouros invasores eram
ridade de outros grupos étnicos”, mas, predominantemente negros”, e estas so-
ao contrário, cria “todo um novo sentido ciedades se estruturaram de forma “alta-
comum, para forjar um novo ser humano, mente hierarquizada, com muitas castas
partido do crisol americano”(ARBOLEDA sociais diferenciadas e complementárias”
QUIÑONEZ, 2011, 252-253). (GONZALEZ, sd, 5).. Numa estrutura onde
“tudo e todos tem um lugar determina-
do, não há espaço para a igualdade”
4. A contribuição original de Lélia e, racialmente estratificada, apresenta
Gonzalez: a amefricanidade. uma “espécie de continuum de cor que se
manifesta num verdadeiro arco-íris clas-
A mineira Lélia Gonzalez (1935-1994),
sificatório”, que torna “desnecessária a
criticou o “esquecimento”, pelo feminis-
segregação entre mestiços, indígenas e
mo, da questão do racismo, um “racismo
negros, pois as hierarquias garantem a
por omissão”, que se encontra em “uma
superioridade dos brancos como grupo
visão de mundo eurocêntrica e neo-co- dominante.” (GONZALEZ, sd, 5-6). Um
lonialista da realidade”, de tal forma racismo altamente sofisticado mantendo
que as mulheres não-brancas são “fala- negros e índios “na condição de segmen-
das”, ao mesmo tempo em que se “nega tos subordinados” graças ainda à ideo-
o direito de ser sujeitos não só do nosso logia do “branqueamento” (GONZALEZ,
próprio discurso, senão da nossa própria sd, 6), que faz com “as pessoas negras
história.” (GONZALEZ, sd, 3-4). O femi- (pretas ou mulatas, porque dá no mes-
nismo latino-americano perdeu muito de mo) internalizem tais valores e passam a
sua força ao abstrair o “caráter mul- se negar enquanto tais, de maneira mais
tirracial e pluricultural das sociedades ou menos consciente” (GONZALEZ, 1982,
dessa região”, e as intelectuais e ativis- 54), sentindo vergonha de “sua condição
tas tendem a “reproduzir a postura do racial” e “desenvolvendo mecanismos de
feminismo europeu e norte-americano”, ocultação de sua ‘inferioridade.” O ra-
minimizando ou deixando de reconhe- cismo “estabelece uma hierarquia racial
cer “a especificidade da natureza da e cultural, que opõe a ‘superioridade’
experiência do patriarcalismo por par- branca ocidental à ‘inferioridade’ ne-
te de mulheres negras, indígenas e de groafricana”, em que a África é o con-
países antes colonizados.”: a depen- tinente sem história própria (GONZALEZ,
dência cultural é “uma das característi- 1988, 77): “a razão é branca, enquanto
cas do movimento de mulheres em nos- a emoção é negra”. Explora, desta for-
so país” (GONZALEZ, 2008, 36). Deste ma, uma geografia da razão e uma geo-
modo, “se a gente não nasce mulher, é política do conhecimento que invisibiliza
porque a gente nasce fêmea, de acor- outros conhecimentos, destacando, ainda,
do com a tradição ideológica”, que tem o importante papel dos movimentos étni-
muito a ver “com os valores ocidentais” cos como movimentos sociais, em especial
(CARDOSO, 2014, 971). o indígena, “que se fortalece cada vez
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mais na América do Sul” e “propõe no- português em Angola; b) o símbolo é o
vas discussões sobre as estruturas sociais pássaro, porque, na tradição nagô, a
tradicionais” e a “busca da reconstrução “ancestralidade feminina é represen-
de sua identidade ameríndia e o resga- tada por pássaros”; c) as cores são o
te de sua própria história” (GONZALEZ, amarelo, relacionado à Oxum, e o roxo,
sd, 9). Antecipava, pois, toda a discussão ao movimento internacional das mulhe-
do protagonismo dos movimentos indíge- res. Esta solidariedade e irmandade
nas e da solidariedade com as comuni- também ficam evidentes quando: a) em
dades negras, porque, nos dois casos, “a 1984, o evento do coletivo organiza a
conscientização da opressão corre, antes comemoração conjunta do 8 de março
de qualquer coisa, pelo racial.” Critica, (dia internacional da mulher) e o 21 de
também, as práticas sexistas do patriar- março(dia internacional pela eliminação
cado dominante e as práticas de exclu- da discriminação racial)” (GONZALEZ,
são racista existentes também dentro do sd2, 15); b) recorda “que mulher negra
feminismo.13 não passou pela experiência de ver o fi-
lho, o irmão o companheiro (…) passar
Afirmando a existência de uma “divisão pela humilhação da suspeição policial,
racial do espaço” no país, salienta uma por exemplo”?, evidenciando uma dife-
segregação com acentuada polariza- rença específica do feminismo negro em
ção, “extremamente desvantajosa para relação ao feminismo ocidental: “a soli-
a população negra”, ou seja, quase dois dariedade, fundada numa experiência
terços da população branca concentra- histórica comum” (GONZALEZ, 2008, 38);
da na região mais desenvolvida do país, c) salienta que, em termos de Movimento
enquanto a população negra, “quase na Negro Unificado, “nós mulheres e nosso
mesma proporção (69%), concentra-se companheiros homossexuais conquistamos
no resto do país, sobretudo em regiões o direito de discutir, em Congresso, nos-
mais pobres.”(GONZALEZ, sd2, 1).. Ou sas especificidades”, quando parte das
seja, a população negra tem sido excluí- esquerdas eram receosas de discussões
da “dos projetos de construção da nação que “dividissem a luta do operariado”
brasileira”, por meio de um “colonialismo (GONZALEZ, 2008, 39). Uma forma, pois,
interno”, e as trabalhadoras negras es- de se reapropriar de distintas tradições
tão concentradas, predominantemente, culturais- sejam feministas, sejam eurocen-
em ocupações manuais ou em atividades tradas- e as ressignificar a partir do afro
de nível médio, sem contato direto com e das experiências de lutas antirracistas
o público “(questão de boa aparência). e anticoloniais (em sentido similar: RATTS
(GONZALEZ, sd2, 6). & RIOS, 2010, 212; CARDOSO, 2014,
Procurou criar, dentro do movimento ne- 981, associando com o womanism, de
gro, de coletivos feministas, tais como o Alice Walker). O que não impede o reco-
Zninga, marcado de “simbolismos”: a) o nhecimento do “caráter mais “acentuado
nome resgate o passado histórico recal- do machismo negro, uma vez que este se
cado por “uma história que só fala dos articula com mecanismos compensatórios
nossos opressores”, daí a escolha da rai- que são efeito direto da opressão racial”
nha Jinga14, que lutou contra o opressor (GONZALEZ, 2008, 38).
Sua produção textual era marcada pelo
13 Estas questões também podem ser vistas na sua análise das representações caráter coloquial (utilizava “sacar”, “lan-
das mulheres negras, veiculadas na sociedade: a mulata, a doméstica e a mãe
preta (GONZALEZ, 1983, 229-239). ce”, “mancada”, “cumé”, “papo”) e pela
14 Veja-se movimento similar realizada pela prosa do escritor angolano José
Eduardo Agualusa ( AGUALUSA, 2015). irreverência: “deve o negro assimilar e
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reproduzir tudo que é eurobranco? Ou só pois falta incluir “outro tipo de discrimina-
transar o que é afronegro?” (GONZALEZ, ção, tão grave como aquela sofrida pela
1982, 19). Salientava que a cultura brasi- mulher: a de caráter racial” (GONZALEZ,
leira “era uma cultura negra por excelên- sd2, 10)
cia” e até “o português que nós falamos Enquanto “descendentes de africanos, a
é diferente do português de Portugal”: o herança africana foi a grande fonte vivi-
nosso é um “pretuguês” (RATTS & RIOS, ficadora de nossas forças” e, “enquanto
2010, 72-73), como marca de “africa- amefricanos, temos nossas próprias con-
nização do português falado no Brasil” tribuições para o mundo panafricano”,
(GONZALEZ, 1988, 70). o que permite ultrapassar uma “imagem
Destaque-se sua ênfase na categoria imaginária ou mitificada da África e,
político-cultural da “amefricanidade,” um ao mesmo tempo, voltar os olhos para a
termo com implicações políticas e cultu- realidade em que vivem todos os amefri-
rais democráticas, procurando “ultrapas- canos do continente.” Uma ideologia da
sar as limitações de caráter territorial, libertação não pode ser externa, mas sim
lingüístico e ideológico, abrindo novas derivada da experiência histórica e cul-
perspectivas” para se entender esta tural, podendo, no caso deste continente,
parte do mundo onde ela se manifesta ser encontrada nas “revoltas, na elabo-
(a América). Para além do âmbito geo- ração de estratégias de organização so-
gráfico, a categoria “incorpora todo um cial livre, cuja expressão concreta se en-
processo histórico de intensa dinâmica contra nos quilombos, cimarrones, cumbes,
cultural (adaptação, resistência, reinter- palenques, marronages e marroon societies
pretação e criação de novas formas) que espraiadas” pelo continente. Em suma: é
é afrocentrada, isto é, referenciada em reconhecer um “trabalho gigantesco de
modelos como: a Jamaica e o akan, seu dinâmica cultural que não nos leva para
modelo dominante; o Brasil e seus mode- o lado do Atlântico, mas que nos traz de
los yorubá, banto e ewe-fon”. Encaminha, lá e nos transforma no que somos hoje:
pois, a questão para “toda uma identida- amefricanos” (GONZALEZ, 1988, 76-79).
de étnica”, um sistema”etnogeográfrico Uma unidade que, sem apagar as ma-
de referência”, uma “criação nossa e trizes africanas, resgata a experiência
de nossos antepassados no continente fora da África como central para as lutas
em que vivemos, inspirados em modelos contra o racismo e as distintas formas de
africanos.” Sua proposta, de forte cunho opressão. (DANIEL, 2009).15
epistemológico, propõe a abordagem Esta intersecção entre raça e gênero não
interligada de “racismo, colonialismo, im- está dissociada de um processo afrodias-
perialismo e seus efeitos” (GONZALEZ, pórico existente no continente. Pode-se
1988, 71), pretendendo “outra forma encontrar paralelos na obra de Claudia
de pensar, de produzir conhecimentos, a Jones (1915-1964), nascida em Trinidad,
partir dos subalternos, dos excluídos, dos que colocou os temas em debate no
marginalizados”, fazendo mulheres e ho- Partido Comunista dos Estados Unidos,
mens negras/os “sujeitos do conhecimento desafiando o partido a tomar interesse,
ao resgatar suas experiências no enfren- de forma mais séria, na causa das mu-
tamento do racismo e do sexismo”, a par-
tir da “memória ancestral” (CARDOSO, 15 Interessante sua leitura de “Nanny”, líder marroon da Jamaica, destacando:
2014, 972). No seu entender, o capita- a) regeneração e o papel de uma sociedade que “sob condições adverss, se
encontra numa luta constante pela sobrevivência”; b) a perspectiva feminista “no
lismo patriarcal não consegue explicar as desenvolvimento de táticas” inesperadas, cuja fonte “está no saber do próprio
grupo”; c) a profunda radicalidade de uma “posição anti-colonialista”(GONZALEZ,
construções de gênero das amefricanas, 1988a, 24-25).

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lheres negras “em todos os aspectos de -grafias e pedagogias da diferença.Uma
luta pela paz, direitos civis e segurança linha de pesquisa que, contudo, não vem
econômica”, sendo, neste sentido, pre- sendo explorada pelos estudos críticos de
cursora da noção de “super exploração” direitos humanos e descolonização.
das mulheres negras como trabalhado-
ras, como mulheres e como negras, na
mais baixa escala de pagamento de CONCLUSÕES PROVISÓRIAS –
salários (REDDOCK, 2014, 503-504;
BOYCE-DAVIES, 2008, 33-40). Também OU CAMINHOS AINDA POR TRILHAR.
pode ser associada com o trabalho de Contra a decadência disciplinária, Gordon
Oliver Crowell Cox (1901-1974), nascido sugere a suspensão teleológica da discipli-
em Trinidad, que procurou incorporar a naridade, ou seja, a disposição de ir além
questão racial dentro da teoria marxista, das disciplinas na produção do conheci-
numa época em que o termo “casta” aca- mento, revitalizando uma disciplina exis-
bava escondendo o racismo do sistema tente, ou gerando uma nova, como um ato
Jim Crow. Para ele, o termo “raça” não epistêmico descolonial, considerando que:
tinha conotação biológica, procurando-o a) a colonização envolve a eliminação da
associar ao sistema capitalista, de tal for- oposição discursiva entre os grupos domi-
ma que é tido como um dos precursores nantes e subordinados, com a eliminação
da teoria do sistema mundo e da depen- do discurso, pois as falas dos grupos colo-
dência ( CELARENT, 2010; COX, 1945). nizados “ não são transformadas em dis-
E já estaria levantada, a partir dos escri- curso e “alguns grupos, como negros e indí-
tos de Anna Julia Cooper (1858-1964), genas, são muitas vezes não reconhecidos
nascida escrava na Carolina do Norte como outros”; b) é necessária uma mais ra-
e que se tornou a quarta mulher afro- dical indagação sobre a “descolonização
-americana a se doutorar em Filosofia: as da vida normativa”; c) a mudança da geo-
mulheres negras, para ela, deveriam ser grafia da razão implica, também, a crítica
agentes de seus futuros e muita riqueza do “imperial significado dos parâmetros”
das comunidades estava jogada nos om- (“a simples demonstração de que um grupo
bros delas pelos fardos que carregavam, é tão humano quanto outro tem a conse-
pelo trabalho escravo, doméstico e cuida- quência de fazer um grupo o padrão do
do com as crianças. Em suma: o gênero e a outro”); d) recordar que “todo império tem
opressão sexual eram fundamentais para a um impacto geopolítico de pressionar as
constituição e manutenção dos sistemas de coisas para o seu centro”, questionando, ao
escravidão, de “plantation” e de segrega- mesmo tempo, o “inflado senso de impor-
ção do Jim Crow (MAY, 2007). tância” do próprio império; e) os sujeitos
Como se percebe, a crítica aos parâme- de instituições sociais desumanizantes so-
tros eurocentrados- brancos, masculinos e frem uma “melancolia paradoxal”: “vivem
eurocêntricos, em realidade- das ciências um passado pré-colonial mal-assombrado,
sociais, a defesa do “quilombismo” e a uma relação crítica relativamente ao mun-
categoria político-cultural de “amefrica- do colonial em que nasceram e um desejo
nidade” são algumas possibilidades para de um futuro no qual, embora hábeis para
novas gramáticas de direitos humanos, entrar, está ainda unido ao passado”, sen-
“em versões internas” brasileiras, a par- do necessária uma nova subjetividade; f)
tir das experiências afros, pelo viés da é preciso questionar a prioridade da ética
crítica à colonialidade de poder, saber sobre “outras formas de ação e organiza-
e ser, um verdadeiro exercício de afro- ção do conhecimento”; g) a atividade des-
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colonial impõe o Moses problem, ou seja, ABDEL-MALEK, Anouar. Civilizations and social
quem foi as pessoas ou grupos mais apro- theory. Vol. 1- Social dialetics. New York: State
University, 1981.
priados para a transição da colonização/
escravidão para o estágio da liberdade AGUALUSA, José Eduardo. A Rainha Ginga. Rio
inicial não necessariamente são os melhores de Janeiro: Foz, 2015.
para “o próximo e mais difícil estágio: vi-
ANDERSON, Benedict. Under three flags; anarchism
ver a prática da liberdade”. É por isso que and anti-colonial imagination. London: Verso, 2007.
ele recorda que “não é acidental que, em
lugar do fim da colonização, novas formas ARBOLEDA QUIÑONEZ, Santiago. Le han florecido
de colonização emergem”, de tal forma nuevas estrellas al cielo: suficiencias íntimas y clan-
que o compromisso é “sempre uma prática destinización del pensamiento afrocolombiano. San-
tiago de Cali: Tesis doctoral, Universidad Andina Si-
para outrem, outros e outras”(GORDON, món Bolívar-Ecuador, 2011. Disponível em: http://
2014, 88-91). repositorio.uasb.edu.ec/handle/10644/2816,
acesso em 10 de junho de 2015.
Uma situação que é reconhecida por
Boaventura Santos quando salienta que ASAD, Talal. Thinking about religions belief and
“escrever um livro teórico sobre a impos- politics. Disponível em: http://iah.unc.edu/ima-
sibilidade de separação teoria e práti- ges/events/EventDocuments/asadreligionpolitics,
acesso em 3 de junho de 2015.
ca e escrevê-lo em linguagem colonial,
mesmo reconhecendo que muitas formas BALDI, César Augusto. Descolonizando o ensino
de conhecimento não podem ser pronun- dos direitos humanos? Hendu 5(1): 8-18, 2014.
ciáveis em linguagem colonial” constitui Disponível em: http://www.periodicos.ufpa.br/
uma contradictio in adjecto, daí porque index.php/hendu/article/view/1913/2302.
sustente a necessidade de “contradições BALDI, César Augusto. Derechos humanos e
ativas”, admitindo “os limites do pensa- interculturalidad:una mirada desde Zapata Olivella.
mento ou ação em um dado período ou Homenaje Internacional a Manuel Zapata Olivella.
contextos, mas que recusem a vê-los com Popayán, Colombia. 19-21 Noviembre de 2014a.
distância ou com reverência”, em termos
BOHRER, Ashley. Fanon and feminism; the discour-
conformistas, procurando explorar os li- se of colonization in Italian feminism. International
mites e contradições tanto quanto possível Journal of Postocolonial Studies, vol. 17, issue 3,
(SOUSA SANTOS, 2014, 238-240). Esta 2015, p. 378-393.
denúncia das ontologias coloniais é que
BOYCE-DAVIES, Carole. Left of Karl Marx: the
pode ser buscada nas “epistemologias political life of Black Communist Claudia Jones.
do sul”16, aqui a partir das ausências da Durham: Duke University Press, 2008.
“Améfrica”. Uma tarefa ainda por desen-
volver, mas que aqui se buscou traçar al- BUTLER, Judith. Interview by Cristan Williams. Ju-
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16 No pensamento de Boaventura Santos, esta é vista desde a perspectiva dos bro-dezembro 2014.
excluídos e discriminados contra o registro histórico do capitalismo global, do colo-
nialismo e do patriarcado, partindo do pressuposto de que: a) o entendimento do
mundo excede- em muito- o entendimento ocidental do mundo; b) não há justiça CELARENT, Barbara. Caste, Class and Race by
social global sem justiça cognitiva global; c) as transformações emancipatórias do
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